Contos de Fadas de Andersen Vol. II
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Sobre este e-book
Hans Christian Andersen
Hans Christian Anderson (1805–75) was a Danish writer, best known for his universally recognised children’s fairy tales, of which there are over 150. He also wrote plays, novels, poems and travel essays.
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Contos de Fadas de Andersen Vol. II - Hans Christian Andersen
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2020 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Título original
Hans C. Andersen’s Fairy Tales
Texto
Hans Christian Andersen
Tradução
Karla Lima
Revisão
Casa de Ideias
Produção editorial e projeto gráfico
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Gluiki/Shutterstock.com;
johavel/Shutterstock.com;
Voropaev Vasiliy/Shutterstock.com;
Creative Thoughts/Shutterstock.com;
standa_art/Shutterstock.com;
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
A544c Andersen, Hans Christian
Contos de Fadas de Andersen Vol. II [recurso eletrônico] / Hans Christian Andersen ; traduzido por Karla Lima. - Jandira, SP : Principis, 2020.
176 p. ; ePUB ; 3,7 MB. – (Literatura Clássica Mundial)
Tradução de: Hans Christian Andersen’s Fairy Tales
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-036-1 (Ebook)
1. Literatura infantil. 2. Contos de fadas. 3. Hans Christian Andersen. I. Lima, Karla. II. Título. III. Série.
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantil 82-93
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada em sistema de busca ou transmitida por qualquer meio, seja ele eletrônico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização do detentor dos direitos, e não pode circular encadernada ou encapada de maneira distinta daquela em que foi publicada, ou sem que as mesmas condições sejam impostas aos compradores subsequentes.
GRANDE CLAUS E
PEQUENO CLAUS
Era uma vez uma aldeia onde viviam dois homens que tinham o mesmo nome. Ambos se chamavam Claus. Porém, como um deles possuía quatro cavalos e o outro só tinha um, as pessoas chamavam o que
tinha quatro cavalos de Grande Claus, e o que só possuía um, de Pequeno Claus. Agora, vou contar a vocês o que aconteceu a cada um deles; ouçam com atenção, pois é uma história real.
Todos os dias de semana, Pequeno Claus era obrigado a lavrar para Grande Claus e a emprestar para ele seu único cavalo; depois, uma vez por semana, aos domingos, Grande Claus ajudava Pequeno Claus com seus quatro cavalos, mas sempre no dia santo.
– Urra! – comemorava Pequeno Claus, estalando o chicote nos cinco animais, que faziam em um só dia o mesmo trabalho que seu único cavalo levava todos os demais dias para fazer.
O Sol brilhava, os sinos da igreja badalavam alegremente e as pessoas passavam vestindo suas melhores roupas, com a Bíblia debaixo do braço, a caminho da igreja, aonde estavam indo para ouvir o sermão do clérigo. Elas olhavam para o Pequeno Claus lavrando a terra com cinco cavalos, e ele se sentia tão contente e orgulhoso que estalava o chicote e gritava:
– Vamos, meus cavalos!
– Você não deve dizer isso – repreendeu-o Grande Claus –, pois apenas um deles é seu.
Mas Pequeno Claus logo esquecia o que ele não podia dizer e, quando alguém passava, se empolgava de novo e gritava:
– Vamos lá, meus cavalos!
– Vou insistir com você: peço que não diga isso de novo – Grande Claus falou, quando viu a cena. – Se você falar isso mais uma vez, eu vou dar um golpe no seu cavalo, ele vai cair duro e será o fim dele.
– Eu não vou falar de novo, prometo – Pequeno Claus respondeu.
No entanto, assim que uma pessoa se aproximou e acenou dando bom-dia, ele ficou de novo muito contente e envaidecido por ter cinco cavalos arando seu campo, e mais uma vez gritou:
– Eia, meus cavalinhos!
– Acabou para você – Grande Claus anunciou, e nisso pegou um martelo, deu um golpe na cabeça do cavalo e o animal caiu morto no chão.
– Ah, não! Agora eu fiquei sem nenhum cavalo! – Pequeno Claus gritou, e começou a chorar.
Pequeno Claus tirou a pele do cavalo e pendurou-a para secar ao vento. Depois, guardou o couro desidratado em uma trouxa, pendurou-a no ombro e partiu para uma cidade vizinha, para tentar vendê-la.
O caminho era muito longo e passava pelo meio de uma floresta grande e sombria. Caiu um temporal fortíssimo. Ele se perdeu, e, antes que conseguisse se localizar de novo, a noite já se aproximava. Era tarde demais para chegar à cidade e tarde demais para voltar para casa antes que ficasse totalmente escuro.
Perto da estrada, havia uma fazenda. As janelas estavam fechadas, mas pelas frestas e pela parte de cima saía um pouco de luz, e ele pensou: Talvez eles me deixem passar a noite aqui
. Então Pequeno Claus foi até a porta e bateu. A esposa do fazendeiro abriu, mas, quando ele explicou o que desejava, ela o mandou embora, dizendo que o marido não estava em casa e que ela não podia deixar um estranho entrar.
– Então eu vou ter que me deitar aqui fora mesmo – ele falou sozinho, enquanto a esposa do fazendeiro batia a porta na cara dele.
Perto da casa havia uma pilha bem alta de feno, e entre o feno e a casa havia um pequeno abrigo com telhado de sapê. Quando Pequeno Claus viu o telhado, disse para si mesmo:
– Posso pernoitar aqui. Uso a palha para fazer uma bela cama e passo a noite. Só espero que a cegonha não desça para bicar minhas pernas.
No telhado da casa havia um ninho e a cegonha estava de pé ao lado, cuidando de seus ovos. Então Pequeno Claus subiu no telhado do abrigo e começou a ajeitar. Quando se virou para se acomodar, ele descobriu que as janelas da casa não chegavam até o alto do batente e que pela fresta dava para enxergar lá dentro. Na sala, havia uma grande mesa posta com vinho, rosbife e peixe. A esposa do fazendeiro e o sacristão estavam sentados à mesa sozinhos; ela estava despejando vinho na taça dele e o garfo dele estava espetado no peixe, que parecia ser seu prato favorito.
Ah, se eu tivesse só um pouquinho daquilo também
, Pequeno Claus pensou; ao esticar um pouco mais o pescoço em direção à janela, entreviu um bolo enorme e muito apetitoso. Jesus! Mas que banquete eles tinham diante de si.
Nesse momento, alguém surgiu descendo a estrada em direção à fazenda. Ora, mas se não era o próprio fazendeiro voltando para casa! Ele era um bom homem, mas tinha um preconceito muito estranho: não suportava sacristãos, e, se por acaso encontrava um, tinha um ataque de raiva. Essa era a razão pela qual o sacristão tinha ido visitar a senhora enquanto o marido estava fora de casa, e o motivo pelo qual a esposa do fazendeiro havia lhe servido o melhor que tinha.
Quando eles ouviram que o fazendeiro se aproximava, ficaram muito assustados, e a senhora pediu ao sacristão que se escondesse dentro de um grande baú que ficava no canto da sala. Ele obedeceu mais do que depressa, pois bem conhecia os sentimentos que o fazendeiro tinha pelos sacristãos. A senhora escondeu o vinho e todas as comidas dentro do forno, pois, se o marido visse tudo aquilo, certamente iria perguntar para quem tinha sido providenciado.
– Puxa vida! – suspirou Pequeno Claus, no abrigo, enquanto observava o desaparecimento daquelas delícias todas.
– Tem alguém aí? – o fazendeiro perguntou, olhando para o local onde Pequeno Claus estava. – O que está fazendo aí em cima? É melhor vir comigo para dentro de casa.
Então Pequeno Claus contou a ele que tinha se perdido e perguntou se poderia se abrigar ali por uma noite.
– Claro – respondeu o fazendeiro –, mas a primeira coisa é comermos algo.
A esposa os recebeu de modo muito amigável, e com toda a simpatia pôs a mesa e serviu mingau. O fazendeiro estava faminto e comeu com grande apetite. Mas Pequeno Claus não conseguia parar de
pensar no rosbife, no peixe e no bolo que ele sabia que estavam escondidos
no forno.
Ele havia colocado a trouxa perto dos pés, debaixo da mesa; afinal, como sabemos, estava a caminho da cidade para vender o couro do cavalo. Como ele não estava gostando nadinha do mingau, pisou na trouxa de modo que o couro rangesse.
– Psss – ele fez para a sacola, ao mesmo tempo que pisoteava de novo, para provocar um rangido ainda mais alto.
– Uau, mas o que você tem aí? – o fazendeiro perguntou.
– Ah, nada de mais, é só um mágico – Pequeno Claus respondeu.
– Ele está dizendo que não precisamos jantar mingau, porque ele fez um encanto e lotou o forno de rosbife, peixe e bolo.
– O quê?
O fazendeiro saiu em disparada em direção ao forno e lá encontrou todas as delícias que a esposa havia escondido, mas que ele acreditou serem agradinhos que o mágico tinha preparado especialmente para os dois.
A esposa não disse uma palavra; simplesmente pegou a comida e pôs diante deles na mesa, e ambos fizeram uma refeição maravilhosa à base de peixe, carne e bolo. Então Pequeno Claus esfregou os pés na
trouxa de novo, e o rangido se repetiu.
– O que ele está dizendo agora? – o fazendeiro quis saber.
– Ele disse que fez três garrafas de vinho surgirem no canto ali perto do forno.
Assim, a senhora foi obrigada a trazer o vinho que tinha escondido antes, e o fazendeiro e Pequeno Claus ficaram mais do que contentes. Será que o fazendeiro não gostaria de possuir um mágico como aquele que Pequeno Claus carregava na trouxa?
– Ele consegue fazer aparecer o Diabo? – perguntou o fazendeiro.
– Eu não me importaria de vê-lo agora, visto que estou de bom humor.
– Consegue sim, ele faz tudo que eu peço – e, dizendo isso, Pequeno Claus esfregou a trouxa mais uma vez, e quando o couro fez barulho ele continuou: – Você ouviu a resposta, ele falou que o Diabo é tão feio que é melhor nem ver.
– Ah, mas eu não tenho medo. Como ele é?
– Bem, ele vai se mostrar para você com a aparência de um sacristão.
– Não, de jeito nenhum. Você precisa saber que eu não suporto sacristãos. Por outro lado, eu vou saber que é o Diabo e não um sacristão de verdade, então não tem problema. Minha coragem está com força total, manda vir. Só que ele não deve chegar muito perto.
– Vou perguntar sobre isso – respondeu Pequeno Claus, baixando a cabeça para aproximar a orelha da trouxa.
– Então, o que ele falou?
– Falou que você pode ir até o canto e abrir o baú, e que lá dentro você vai encontrar o Diabo encolhido no escuro. Mas segure a tampa com força, para que ele não escape.
– Você me ajuda a segurar a tampa? – o fazendeiro perguntou, e sem esperar resposta foi na direção do baú onde a esposa tinha escondido o sacristão, que estava tremendo de medo.
Ele abriu a tampa um pouquinho, espiou lá dentro e deu um berro:
– Argh! Eu vi, vi o Diabo, ele é exatamente igual ao nosso sacristão. Que visão chocante!
Depois disso, ambos precisaram de uns goles, e ficaram sentados conversando até bem tarde da noite.
– Você precisa me vender este seu mágico – o fazendeiro disse.
– Peça quanto quiser por ele. Melhor ainda: eu vou lhe dar um barril cheio de dinheiro.
– Não, eu não posso fazer isso – Pequeno Claus replicou. – Imagine só quanto posso me beneficiar por ter um mágico assim.
– Ah, mas eu queria muito tê-lo para mim – e o fazendeiro continuou pedindo e negociando.
– Bem – Pequeno Claus disse, por fim –, já que você foi tão gentil e me deu abrigo por uma noite, não vou negar. Aceito um barril cheio de dinheiro, mas tem que ser cheio até a borda.
– Assim será – concordou o fazendeiro –, mas leve o baú embora com você. Não quero aquela coisa dentro da minha casa nem por mais uma hora. Vai que o Diabo escapa...
Assim, Pequeno Claus entregou ao fazendeiro a trouxa contendo o couro do cavalo e recebeu um barril de dinheiro cheio até a borda, e mais um carrinho de mão para transportar tanto o barril quanto o baú.
– Adeus – Pequeno Claus se despediu, e foi-se embora levando o dinheiro e o baú com o sacristão dentro.
Do lado oposto da floresta, havia um rio largo e profundo, com uma correnteza tão forte que era praticamente impossível nadar contra ela. Uma grande ponte tinha sido construída sobre a água pouco tempo antes. Quando chegou ao meio dela, Pequeno Claus falou, com uma voz bem alta, para que o sacristão escutasse:
– Ah, o que devo fazer com esta porcaria de baú velho? Está tão pesado que parece cheio de paralelepípedos. Estou cansado de carregar isto, vou jogar na água. Se boiar e voltar para a minha casa, muito que bem; do contrário, eu não me importo. Não é grande coisa mesmo.
Então ele pegou o baú e suspendeu um pouquinho, como se fosse levantar o objeto todo para atirar no rio.
– Não! Não! – o sacristão berrou, em pânico. – Me deixa sair!
– Ah! – Pequeno Claus exclamou, fingindo estar com medo. – Ora, o Diabo ainda está aí dentro! Agora é que eu preciso jogar na água mesmo, para afogar o danado.
– Não! Ah, não, não! – o sacristão berrou. – Eu lhe dou um barril cheio de dinheiro se você me deixar sair.
– Bom, assim o caso muda de figura.
Dizendo isso, Pequeno Claus levantou a tampa. Ele empurrou o baú para o rio e acompanhou o sacristão até em casa, para pegar seu barril de dinheiro. Ele já tinha recebido um do fazendeiro, como vocês bem se lembram, de modo que o carrinho de mão ficou bastante pesado.
– No final, preciso admitir que até que consegui um bom preço pelo cavalo – ele murmurou de si para si, quando chegou em casa e despejou todo o conteúdo dos dois baús no meio do chão da sala. – Que raiva Grande Claus vai sentir quando souber como enriqueci com meu único cavalo; só não vou contar a ele como as coisas aconteceram – e então chamou um menino de recados e o mandou ir à casa de Grande Claus pedir um barril emprestado.
Para o que será que ele quer um barril?
, Grande Claus se questionou, e esfregou um pouco de sebo no fundo; assim, uma pequena parte da mercadoria que Pequeno Claus pusesse lá dentro ficaria grudada, e acabaria nas mãos de Grande Claus quando o barril fosse devolvido.
E foi o que aconteceu: quando o barril voltou, três moedas de prata estavam coladas ao sebo.
– Mas o que é isto? – Grande Claus se espantou, e foi correndo até Pequeno Claus. – Como foi que você conseguiu todo este dinheiro?
– Ah, foi com o couro do meu cavalo. Eu vendi ontem de manhã.
– Conseguiu um bom preço, sem dúvida.
Grande Claus então correu para casa, pegou um bastão e golpeou seus quatro cavalos na cabeça; depois retirou o couro dos animais mortos e levou até a cidade para vender.
– Couro! Vendo couro! Quem quer couro de cavalo? – ele saiu anunciando pelas ruas.
Os sapateiros e os curtidores de couro chegaram correndo e perguntaram quanto ele estava pedindo.
– Um barril de dinheiro para cada pele – Grande Claus informou.
– Você é doido? Acha que temos dinheiro nessa quantidade? – foi a reação deles.
– Couro! Vendo couro de cavalo! – ele retomou os gritos, e nisso os fabricantes de sapato pegaram suas correias, e os donos dos curtumes tiraram seus aventais, e juntos começaram a bater em Grande Claus.
– Vendendo couro? – eles imitaram Grande Claus. – Nós vamos é arrancar o seu! Fora da cidade já! – mandaram, aos gritos.
E Grande Claus se apressou em fugir dali, pois nunca tinha apanhado do jeito que estava apanhando dos sapateiros e curtidores.
– Pequeno Claus me paga – ele disse, chegando em casa. – Vou matar aquele tratante!
Enquanto isso, a avó de Pequeno Claus tinha acabado de falecer. Em vida, ela tinha sido severa e rude com o neto muitas vezes, mas agora que tinha morrido ele estava triste de verdade. Tomou o corpo da avó, acomodou na cama e ficou esperando para ver se ela não voltaria à vida. Decidiu ficar sentado no canto do quarto a noite toda; já tinha dormido desse jeito outras vezes.
Enquanto ele dormia na poltrona no canto, a porta se abriu e Grande Claus entrou carregando um machado. Ele sabia onde ficava a cama de Pequeno Claus, foi até lá e golpeou a avó morta na cabeça, achando que era Pequeno Claus.
– Quero ver você me