Liberdade e Informação
()
Sobre este e-book
José Manuel Fernandes
José Manuel Fernandes nasceu em Lisboa em 1957. Estudou no Liceu Pedro Nunes, envolveu-se no movimento associativo dos estudantes ainda antes do 25 de Abril e começou a trabalhar como jornalista em 1976. Frequentou entre 1978 e 1984 o curso de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Depois de uma passagem pelo semanário A Voz do Povo, trabalhou na década de 1980 no semanário Expresso, de onde saiu em 1989 para fundar o jornal Público, cuja direcção integrou durante 20 anos, onze dos quais como director, até Outubro de 2009. Jornalista freelancer desde 2010, é autor de vários livros sobre património cultural e ambiental e sobre temáticas políticas. É ainda professor convidado da Universidade Católica e do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM). É casado e tem dois filhos.
Relacionado a Liberdade e Informação
Ebooks relacionados
Qualidade da Democracia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Governo da Justiça Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Sociedade Civil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA rede da desinformação: Sistemas, estruturas e dinâmicas nas plataformas de mídias sociais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação e Liberdade de Escolha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutoridade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFacebook: um estudo sobre a influência das redes sociais no exercício de cidadania e soberania Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLegislação Do Jornalismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDemocracia Participativa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Liberdade de Expressão em Tribunal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilosofia em Directo Nota: 4 de 5 estrelas4/5Política e Conflitos: O que Maquiavel nos Ensina? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeorias E Técnicas Do Jornalismo E Da Comunicação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Direito à Liberdade de Expressão Eleitoral em Tempos de Fake News Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFake News: A Liberdade de Expressão nas Redes Sociais na Sociedade da Informação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnciclopédia discursiva da COVID-19: o primeiro ano da pandemia no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJobs for the boys? As nomeações para o topo da administração pública Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSexualidade e Reprodução em Portugal: Os tempos de pandemia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Televisão e o Serviço Público Nota: 0 de 5 estrelas0 notasForças Armadas em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Democracia Local em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNós e os outros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPortugal e o Atlântico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Envelhecimento da Sociedade Portuguesa Nota: 4 de 5 estrelas4/5Portugal, um Perfil Histórico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsaio Respublicano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Investimentos Públicos em Portugal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGoverno Digital Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPropriedade Privada Nota: 1 de 5 estrelas1/5
Ciências Sociais para você
Tudo sobre o amor: novas perspectivas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um Poder Chamado Persuasão: Estratégias, dicas e explicações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pele negra, máscaras brancas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coragem é agir com o coração Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Segredos De Um Sedutor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Detectando Emoções: Descubra os poderes da linguagem corporal Nota: 4 de 5 estrelas4/5Manual das Microexpressões: Há informações que o rosto não esconde Nota: 5 de 5 estrelas5/5Apometria: Caminhos para Eficácia Simbólica, Espiritualidade e Saúde Nota: 5 de 5 estrelas5/5As seis lições Nota: 3 de 5 estrelas3/5Coisas que a Gramática Não Explica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContabilização Da Folha De Pagamento Nota: 5 de 5 estrelas5/5O que é o luto: Como os mitos e as filosofias entendem a morte e a dor da perda Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Criação do Patriarcado: História da Opressão das Mulheres pelos Homens Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres que escolhem demais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os homens explicam tudo para mim Nota: 5 de 5 estrelas5/5Psicologia Positiva Nota: 4 de 5 estrelas4/5O sentido da liberdade: e outros diálogos difíceis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA ralé brasileira: Quem é e como vive Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mulheres e deusas: Como as divindades e os mitos femininos formaram a mulher atual Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor que lutamos? Nota: 4 de 5 estrelas4/5Anseios: Raça, gênero e políticas culturais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Como Melhorar A Sua Comunicação Nota: 4 de 5 estrelas4/5Hermenêutica e ciência social: Abordagens da compreensão Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Liberdade e Informação
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Liberdade e Informação - José Manuel Fernandes
Introdução
O nosso conhecimento só pode ser finito, enquanto a nossa ignorância tem necessariamente de ser infinita.
KARL POPPER
Não há sociedade livre sem uma imprensa livre. Não há democracia aberta sem liberdade de expressão e liberdade de imprensa. Poucos contestarão estes axiomas. Mas o consenso termina por aqui.
Estará a liberdade de imprensa a corromper as nossas democracias? É tolerável o poder sem escrutínio democrático dos media? Estaremos a entrar numa era em que a democracia é substituída pela demagogia e a representatividade por uma forma iníqua de participação directa? Terá deixado de haver limites para a intrusão na vida privada dos cidadãos? Estará a governabilidade em causa numa época em que parece ter deixado de ser possível guardar segredos? Haverá espaço para o exercício da Justiça quando a exposição mediática dos acusados se transforma em condenação extrajudicial?
Poderíamos multiplicar as perguntas que o tom não se modificaria. Em muitos países, a liberdade de imprensa tem sido associada a excessos que podem minar os sistemas democráticos (noutros nem se chega a esse ponto, pois em nome dos interesses do Estado nem há liberdade de imprensa).
A verdade é que esta discussão é muito menos recente do que parece. A relação entre os poderes – ou entre as maiorias conjunturais – e a liberdade de expressão e de imprensa nunca foi fácil. Desde, pelo menos, a condenação à morte de Sócrates pela democracia ateniense que se sabe que a convivência entre a liberdade e o poder político não é fácil. Mesmo no mais livre dos países, e berço da moderna liberdade de imprensa, a Inglaterra, o aparecimento dos primeiros jornais coincidiu com as primeiras perseguições a jornalistas.
Ao longo dos séculos, a necessidade de conciliar o direito a expressar as suas opiniões e ter uma imprensa livre andou sempre em conflito permanente com outros direitos ou alegados direitos. As queixas sobre o poder, tido por excessivo, dos media têm registos com mais de três séculos, não apareceu com a rádio, ou com a televisão, ou com a Internet, ou com as teleobjectivas dos paparazzi.
Muitas destas questões não têm uma resposta simples, mas ao longo deste ensaio defenderemos que a melhor resposta está no regresso permanente ao que defenderam os filósofos liberais clássicos, que entendiam a liberdade de expressão e imprensa como um direito natural em cujo exercício os Estados não deveriam interferir. Isso não implica que não estejamos conscientes de alguns dos problemas suscitados pelas questões que enunciámos – apenas parte da convicção de que os remédios geralmente propostos para os corrigir criam males maiores.
Da mesma forma, defenderemos que o exercício da liberdade de expressão e de informação implica deveres, mas que o cumprimento desses deveres deve ancorar na promoção de virtudes sociais e não em leis que, também elas, acarretam uma intervenção dos poderes públicos.
Democracia mediática?
Sempre que um jornalista decide publicar uma notícia em vez de outra, optar por um determinado título, dar-lhe mais ou menos destaque numa página de um jornal ou no alinhamento de um telejornal, está a fazer uma escolha que reflecte o seu sistema de valores e tem objectivos que podem não ser apenas jornalísticos mas também comerciais ou outros. Naturalmente que, ao fazê-lo, goza de um grau de autonomia e de liberdade que, mesmo passando pelo crivo de uma redacção e enquadrado na missão de uma empresa de media, é muito grande. Não existem regras universais, e ainda bem, que determinem, em nome de uma falsa objectividade, que essas escolhas seguissem um tal padrão que dois jornalistas, possuindo a mesma informação, produzissem sempre notícias iguais ou mesmo idênticas. Não é fácil por isso determinar a «verdade do jornalismo», da mesma forma que temos dificuldade em estabelecer uma «verdade histórica» ou uma «verdade sociológica».
No espaço público há pois que lidar com as muitas e diferentes escolhas que, a cada momento, estão a ser feitas por jornalistas. Dessas escolhas nem sempre resulta uma visão equilibrada ou mesmo aproximada da realidade. É frequente ocorrer uma espécie de «efeito de manada» e a maioria dos jornalistas começarem a copiar-se uns aos outros. É indesmentível que muitas vezes essas versões da realidade foram influenciadas por factores externos à própria vontade do jornalista, como resulta de ter de lidar com factos e elementos que nem sempre são fáceis de abarcar, até porque múltiplos actores – dos políticos às agências de comunicação – procuram apresentá-los da forma que lhes é mais conveniente. É natural que ao estabelecer uma agenda de prioridades informativas um jornalista atenda mais aos seus interesses do que ao interesse público, ou então siga sem sequer dar por isso o seu instinto sobre o que é o interesse público. É da natureza de uma actividade que tem de encontrar meios financeiros para se sustentar que muitas escolhas jornalísticas sejam determinadas apenas pelo «interesse do público», isto é, por aquilo que é susceptível de suscitar mais interesse (logo mais vendas ou maiores audiências) ou, como se costuma dizer, «vende mais».
Estas escolhas influenciam, quando não determinam, o que se debate e como se debate no espaço público. Daí derivou um conceito muito comum em França, o de «democracia de opinião». De acordo com Jacques Julliard, a democracia de opinião «é uma democracia mediática, é uma democracia directa e é uma democracia permanente». É mediática porque parte da proliferação de meios de informação para «tornar obsoleto o modelo de representante único do eleitorado, omnisciente, omnicompetente, omnipresente, que é a figura de proa da democracia representativa». É directa porque põe em causa os princípios do sufrágio universal, dos partidos e do parlamento, substituindo-os por um «governo pela emoção» no qual a racionalidade é cada vez mais um bem escasso. Finalmente, é permanente pois ilude o carácter cíclico da escolha dos representantes, substituindo-o por sondagens constantes (ou programas em que o público participa sem qualquer edição prévia) destinadas a determinar, sem interrupção, o que o povo