O contínuo e o descontínuo em Lévi-Strauss: Torções ameríndias
De Pedro Lolli
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O contínuo e o descontínuo em Lévi-Strauss - Pedro Lolli
O contínuo e
o descontínuo
em lévi-strauss
O contínuo e
o descontínuo
em lévi-strauss
TORÇÕES AMERÍNDIAS
Pedro Lolli
logo_colecao_aracy_lopeslogo_edufscar_30_preto_cidade© 2023, Pedro Lolli
Capa
Marcela Rauter de oliveira
Imagens da capa
Reprodução/Unsplash
Projeto gráfico
Vitor Massola Gonzales Lopes
Preparação e revisão de texto
Marcelo Dias Saes Peres
Andresa Ferreira
Isabela Freitas
Michele Veloso
Editoração eletrônica
Alyson Tonioli Massoli
Editoração eletrônica (eBook)
Maria Fernanda Borges
Coordenadoria de administração, finanças e contratos
Fernanda do Nascimento
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar
Lolli, Pedro.
L836c O contínuo e o descontínuo em Lévi-Strauss: torções amerindias / Pedro Lolli. -- Documento eletrônico. -- São Carlos: EdUFSCar, 2023.
ePub: 5 MB.
ISBN: 978-85-7600-607-7
1. Estruturalismo. 2.Antropologia. 3. Lévi-Strauss, Claude, 1908-2009. 4. Etnologia Ameríndia. I. Título.
CDD – 306.4 (20a)
CDU – 39
Bibliotecário responsável: Luciana T.R.V. Sebin – CRB/8 6031
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À memória de Antonio Sérgio de Oliveira Lolli
Sumário
PREFÁCIO - Mauro W. B. Almeida
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
PARTE I
Antropologia e Linguística
Sistema simbólico e Diferença
Diferença e Descontinuidade
Conclusão da Parte I
PARTE II
A vida social dos signos
Sistemas Totêmicos
Metáfora e Metonímia
Descontínuo e Contínuo
Sistemas de Classificação
Totemismo e Sacrifício
História
Conclusão parte II
PARTE III
Mitológicas
O CRU E O COZIDO
Afirmação da descontinuidade
Dialética dos pequenos e grandes intervalos
O mel e a dialética invertida
O tema da boa distância
Afirmação dos pequenos intervalos
Reafirmação da descontinuidade
Conclusão parte III
PARTE IV
Epílogo
Referências
PREFÁCIO
por Mauro W. B. Almeida
Este é um livro de grande importância para a compreensão do estruturalismo de Lévi-Strauss e terá lugar assegurado nos cursos de teoria antropológica. Uma primeira razão para isso é seu caráter acadêmico modelar: nos limites de um trabalho originalmente concebido como dissertação de mestrado, soube selecionar um tema condutor e central, mas relativamente ignorado na obra do grande antropólogo, evitando assim a dispersão e o risco concomitante de superficialidade. Aliou a esta estratégia o procedimento de leitura interna e rigorosa dos textos no original sem desprezar a indicação de traduções para o vernáculo, lembrando que à época não dispúnhamos do corpo completo das mitológicas em português – falha corrigida com as excelentes traduções de Beatriz Perrone-Moisés, aliás sua orientanda em seus estudos posteriores de doutorado, que para o qual este livro constituiu uma etapa propedêutica
.
Mas não é só isso. Pois Pedro Lolli afirma no livro uma importante tese, a saber, o abandono da imagem de um Lévi-Strauss binarista e estático
, apoiada na verificação da presença da oposição entre o contínuo e o discreto – que na matemática são propriedades topológicas, mas que em Lévi-Strauss metaforizam a oposição entre natureza e cultura – como ideia que percorre sob formas diferentes as sucessivas fases do pensamento de Lévi-Strauss. O resultado é, de um lado, a desconstrução definitiva de uma presumida visão estática e irênica (Skubla), substituída pela noção de dualismo em desequilíbrio, no qual toda oposição dual é instável e sujeita a uma replicação recursiva que reitera o desequilíbrio de partida. Isso é o dualismo designado por Lévi-Strauss como desequilíbrio dinâmico
. Note-se que a replicação do dualismo que subdivide um intervalo recursivamente é o procedimento matemático para construir o contínuo, enquanto o método dos mitos segue a direção oposta, visando desconstruir o contínuo e reduzindo-o a diferenças discretas, como explica Lolli. Penso contudo que a principal contribuição do livro está em mostrar que essa visão dinâmica do dualismo já estava presente nas análises do dualismo n’As estruturas elementares do parentesco e nos ensaios sobre dualismo da Antropologia estrutural; que essa visão é refinada na teoria das classificações em Totemismo hoje e n’O pensamento selvagem e explode com plena clareza nas Mitológicas e nas pequenas
Mitológicas, em particular na História de Lince, em que a noção de desequilíbrio dinâmico
é nomeada explicitamente.
Se a tese de Lolli é válida, pode-se dizer que Lévi-Strauss sempre foi pós-estruturalista, desde que entendamos o estruturalismo como uma visão dos fatos simbólicos sujeitos a limitações estruturais de ordem algébrica (grupos, simetrias), de ordem classificatória (redes, hierarquias, rizomas) e de ordem topológica (cilindros que com extremidades fechadas se convertem em pizzas); fitas de Möbius e garrafas de Klein; toros (roscas) e outras metáforas topológicas amplamente exploradas nas Mitológicas. Mas não é preciso recorrer às metáforas matemáticas, porque basta mostrar, como o faz Lolli com maestria, que a noção de desequilíbrio dinâmico de dualismo percorre toda a obra de Lévi-Strauss como um estrato geológico subterrâneo que explica as variações da superfície.
Esta tese contribui para a reavaliação da importância do maior antropólogo do século XX. Esta reavaliação é importante porque Lévi-Strauss, depois de ter sido o autor mais citado na disciplina nas décadas de 1960 e 1970, tornou-se o cachorro morto de vários pós-estruturalismos que o acusaram entre outros males terminais de excluir a historicidade de sociedades sem escrita, de negar o papel de sujeitos na história, de ignorar o sentido vivido na vida social, de rejeitar o papel da dialética em lugar de uma razão analítica e, finalmente, de reduzir a cultura a um conjunto de oposições binárias.
Pedro Lolli descontrói essa visão em termos lógicos mostrando que, em vez de uma lógica binária que aprisiona oposições numa eterna repetição de termos iniciais – nos termos da razão analítica –, segundo Lévi-Strauss, o pensamento mítico, como obra coletiva produzida ao longo da história de migrações, transforma-se de tal modo que encontra seus limites. A leitura do trabalho de Lévi-Strauss neste livro, portanto, ressalta que a propagada oposição entre sujeito e estrutura é dissolvida sob a noção de que transformações estruturais se dão no plano da história, e a história se reduz a atos individuais que se compõem em redes de comunicação e de transmissão, resultando em obras com autoria propriamente coletiva. Assim, em carta inédita datada de 1972, em que Lévi-Strauss reage ao texto de Manuela Carneiro da Cunha sobre a conexão entre a estrutura de mitos amazônicos e a história real da resistência indígena à invasão portuguesa, Lévi-Strauss afirma que ele mesmo havia pensado ao longo dessas linhas em sua conferência (até então inédita) sobre Como morrem os mitos
.
Esta atualização do pensamento de Lévi-Strauss tem importantes consequências para a atualidade do pensamento desse autor em vários domínios, que vão da crítica radical à destruição da diversidade natural, ao biocentrismo e ao reconhecimento da importância filosófica do pensamento indígena destacada por Viveiros de Castro.
O reconhecimento se justifica porque a persistência da oposição entre o contínuo e o discreto na obra de Lévi-Strauss, demonstrada por Lolli, significa que retoma o problema metafísica que remonta ao pensamento grego, mostrando que ele é retomado pelo pensamento ameríndio. Nos dois casos, trata-se de oposições que o pensamento humano tenta conciliar em vários planos da experiência – seja como conciliar a oposição entre números racionais (discreto) e razões irracionais (contínuo), ou entre ontologias atomísticas (Demócrito) e contínuas (Parmênides), ou, nas ciências modernas, entre natureza e cultura, entre espécies naturais e entre variedades culturais. Em todos esses casos, a oposição supõe ao mesmo tempo a unificação de termos opostos em uma categoria subordinante e ao mesmo tempo a partição de cada termo em subdivisões subordinadas.
Pedro Lolli mostra que a oposição entre contínuo e discreto aparece sob dois modos na obra de Lévi-Strauss. Inicialmente como estratégia metodológica derivada do estruturalismo linguístico de Roman Jakobson, que separa o domínio da fonética (estudo físico do espectro sonoro como contínuo) da esfera da linguística entendida como estudo das diferenças percebidas por falantes-ouvintes no espectro sonoro, situadas, portanto, no âmbito da cultura. Mas, conforme Pedro Lolli assinala, Lévi-Strauss descortinou também no interior do pensamento mitológico ameríndio uma reflexão interna aos mitos sobre a relação entre continuidade e descontinuidade. Isto é: os povos indígenas refletem sobre a oposição entre o contínuo da natureza e o descontínuo da cultura. Ou seja: os mitos pensam sobre os fundamentos do pensamento mítico.
Essa mudança de perspectiva, na qual a antropologia reconhece o alcance reflexivo e filosófico do pensamento indígena americano e seu efeito sobre a antropologia, foi