Manual de análise das demonstrações contábeis
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Manual de análise das demonstrações contábeis - Alessandra Zucco
PARTE I
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA
Para conduzir o negócio e produzir resultados, é indispensável para as empresas informações cada vez mais rápidas e precisas com intuito de analisar, controlar e elaborar estratégias para atingir metas e objetivos organizacionais, e de ordem econômica e social. Para tal, a compreensibilidade das informações contábeis é um dos atributos essenciais para a contabilidade no processo decisório, uma vez que fornece elementos relevantes possibilitando aos stakeholders realizarem análises e projeções precisas sobre a viabilidade do negócio.
Diante disso, a contabilidade é a ciência que tem por objeto o patrimônio, o qual é integrado pelo conjunto de bens, direitos e obrigações, e tem como objetivo o estudo das variações patrimoniais, sejam elas quantitativas ou qualitativas. Assim, a contabilidade fornece informações estruturadas, acerca da situação econômica e financeira da entidade, possibilitando inferências sobre tendências futuras. Portanto, os indicadores econômico-financeiros podem propiciar resultados satisfatórios para as organizações, pois são fundamentais no processo decisório, independentemente do seu porte (REGERT et al., 2018).
Um dos principais objetivos da análise econômico-financeira é o fornecimento de subsídio para a tomada racional de decisão de concessão de crédito e de investimento, a partir de informações de boa qualidade (SILVA, J., 2017). Dessa forma, para se obter uma análise concreta e confiável faz-se necessário verificar um conjunto de indicadores econômicos e financeiros e interpretá-los de forma correta, além de ser crucial considerar os acontecimentos no ambiente externo que podem causar grandes impactos em uma organização (IUDÍCIBUS, 2017a).
Com a análise minuciosa das demonstrações contábeis e indicadores, é possível elaborar comparativos entre períodos, estimar os fatos ocorridos no passado e projetar ações futuras, sendo de grande relevância para a avaliação das empresas. Iudícibus (2017a) reforça que a análise das demonstrações contábeis é a arte de saber extrair relações úteis para o objetivo econômico dos relatórios contábeis tradicionais e de suas extensões de detalhamento.
Dessa forma, este estudo traz à pauta os aspectos relevantes acerca da análise econômico-financeira e sua importância para a manutenção das empresas, destacadas por Diehl e Duarte (2021) por avaliar os pontos fortes e fracos, além de servir de base para a tomada de decisão garantindo a continuidade das suas atividades, sendo imprescindível que os gestores, comunidade acadêmica e sociedade em geral tenham conhecimento dos impactos positivos que o planejamento e controle apropriados dos recursos geram para o desenvolvimento econômico e social da região.
Para uma maior compreensão, este estudo desenvolve a análise das demonstrações contábeis, avaliando os principais indicadores econômico-financeiros que constituem o instrumento básico da análise de balanços, demonstrando sua fórmula, função e interpretação. Para exemplificar os cálculos e análise de forma prática, foram utilizados os dados dos anos de 2018 a 2022 de uma indústria de abate de suínos.
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo introduz o leitor ao estudo da importância da contabilidade e da análise gerencial como instrumento de planejamento e controle das operações internas, bem como, o desenvolvimento acerca do Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e das Demonstrações dos Fluxos de Caixa. Em seguida, apresenta-se os conceitos dos principais indicadores econômico-financeiros para avaliação do desempenho empresarial, para que se possa estabelecer relações mais consistentes nas análises.
1.1 A CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO
A contabilidade existe desde os primórdios da civilização e durante um longo período, o homem primitivo já utilizava métodos específicos de registro para a contagem e controle de seus rebanhos e ferramentas de caça e pesca. Entretanto, a preocupação com as propriedades e a riqueza era contínua (como hoje também o é), e à medida que as atividades foram se desenvolvendo em dimensão e em complexidade, também foi aperfeiçoando seu instrumento de avaliação da situação patrimonial (IUDÍCIBUS, 2021b).
Hendriksen (2018) afirma que não sabemos quem inventou a contabilidade. Porém, sabemos, que sistemas de escrituração por partidas dobradas começaram a surgir gradativamente nos séculos XIII e XIV em diversos centros de comércio no norte da Itália, e floresceu em solo fertilizado por séculos de aprendizagem, evoluindo até os dias atuais.
Conforme o estudo sobre a Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade, desenvolvido no início da década de 1980, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (IPECAFI), a contabilidade constitui, objetivamente, um sistema de informação e avaliação designado a fornecer aos seus usuários, demonstrações e análises de natureza econômica, financeira, física e de produtividade, com relação à empresa objeto de contabilização (MARION; RIBEIRO, 2018).
A contabilidade, portanto, é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação, controle e de registro relativas à administração econômica. Onde, a orientação tem a função de informar o que ocorre no patrimônio (SANDE; NEIVA, 2021). Nesse contexto, Monteiro (2013) elenca que a contabilidade é o único instrumento capaz de traduzir com fidelidade o passado e o presente da empresa ao mesmo tempo em que traz um prelúdio do futuro, visando obter o conhecimento da situação real da entidade.
Partindo dessa premissa, observa-se que a contabilidade é definida como um sistema de informações, o qual, controla o patrimônio das entidades, coletando dados econômicos e mensurando-os monetariamente em forma de relatórios, cujo objetivo é dar subsídio para tomada de decisões. Dessa forma, enquanto ciência, a contabilidade vem sendo estudada a partir de diferentes visões e áreas de conhecimento, tornando-se cada vez mais especializada. Dentre estas áreas, está a contabilidade gerencial que exerce papel de extrema relevância para organizações (AMORIM, 2015; MATTES; DALONGARO; WESZ, 2018; PEREIRA, J., 2021).
1.2 CONTABILIDADE GERENCIAL
A contabilidade gerencial pode ser entendida como o conjunto de técnicas e procedimentos contábeis que propicia a visão geral acerca da entidade, fornecendo informações relevantes para a tomada de decisões. De acordo com Iudícibus (2020, p. 4c) a contabilidade gerencial tem em seu cerne única e exclusivamente a finalidade interna de atender à administração da empresa, com informações úteis, tempestivas e confiáveis para um processo de decisão assertivo do gestor
.
Com base nas informações geradas pela contabilidade gerencial, é possível formular estratégias e traçar metas e objetivos a curto, médio e longo prazo. Jiambalvo (2013) salienta que seu objetivo é fornecer as informações necessárias para o planejamento, controle e tomada de decisão. Sendo assim, a contabilidade gerencial pode ser entendida como um processo de identificação e análise de dados financeiros para o planejamento e monitoramento das operações. Moura, Pereira e Rech (2016) contribuem que a contabilidade gerencial traz informações contábeis que permitirão uma tomada de decisão precisa e com um alto grau de assertividade na otimização dos resultados, conforme o objetivo da empresa.
Dessa forma, a contabilidade gerencial contribui para o processo decisório por se aprofundar nas informações contábeis, olhando para o passado, para o presente e para o futuro, realizando a avaliação cronológica da gestão organizacional e sua influência no desenvolvimento e manutenção do crescimento da entidade (ATKINSON et al., 2008).
Diante disso, compreende-se que por meio da contabilidade gerencial os gestores podem coordenar e otimizar o desempenho econômico, visando o crescimento da riqueza da empresa, encontrando maneiras de reduzir custos e maximizar resultados com a otimização dos recursos disponíveis e, consequentemente aperfeiçoar o planejamento empresarial para obtenção de melhores resultados financeiros (GARCIA; BEZERRA, 2020; MACHADO; RAPÉ; SOUZA, S., 2019; REINALDI et al., 2022).
1.2.1 Contabilidade Gerencial e Contabilidade Financeira
Os métodos da contabilidade gerencial e da contabilidade financeira foram desenvolvidos para diferentes propósitos e para diferentes usuários das informações contábeis. Há, contudo, numerosas similaridades e áreas de aplicação entre os métodos da contabilidade gerencial e a financeira. A contabilidade gerencial é relacionada com o fornecimento de informações para os administradores, ou seja, aqueles que estão dentro da organização e que são responsáveis pela direção e controle das operações. Nesse entendimento, a contabilidade gerencial pode ser contrastada com a contabilidade financeira, pois é responsável por fornecer informações para os acionistas, credores e outros stakeholders (PADOVEZE, 2010a).
A contabilidade financeira propicia informações acerca do desempenho da entidade, onde a comparação com expectativas de desempenho oferece a oportunidade para os gestores avaliarem as variações e tomarem decisões precisas. Já a contabilidade gerencial tem o propósito de atender os usuários internos da organização para que estes executem ações que levem ao melhor desempenho futuro (MEGLIORINI, 2011).
Dessa forma, entende-se que a contabilidade financeira gera relatórios com informações monetárias de natureza econômica, financeira e patrimonial, já a contabilidade gerencial supre os usuários internos não só de informações extraídas dos relatórios decorrentes da contabilidade financeira, mas também de informações de natureza física, de produtividade e outras de natureza operacional, que os auxiliam nas suas tomadas de decisões sobre o melhor aproveitamento dos recursos (MARION; RIBEIRO, 2018).
Ante o exposto, entende-se que a contabilidade gerencial e financeira serve para propósitos específicos, porém, são complementares sendo de grande préstimo para a organização utilizá-las em conjunto da análise gerencial e econômico-financeira para o melhor