Anos de alegria
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Anos de alegria - Laura Ingalls Wilder
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2024 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
Elaborado por Lucio Feitosa - CRB-8/8803
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantil 82-93
Versão digital publicada em 2024
www.cirandacultural.com.br
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Esta obra reproduz costumes e comportamentos da época em que foi escrita.
SUMÁRIO
Nota da tradução
Laura vai embora
O primeiro dia de aula
Uma semana
Sinos de trenó
Determinação
Controlando
Uma faca na escuridão
Uma viagem gelada
A visita do superintendente
Almanzo diz adeus
Bate o sino
Não há lugar como nosso lar
Primavera
Mantendo uma propriedade
Mary volta para casa
Dias de verão
Domando os potros
A escola nova
A popelina marrom
Nellie Oleson
Barnum e Skip
A escola de canto
Barnum começa a andar
Almanzo vai embora
A véspera de Natal
As provas
O fim da escola
O chapéu creme
Tempestade de verão
Pôr do sol na colina
Planos para o casamento
Lá vem a noiva
A casinha cinza no Oeste
Nota da tradução
Anos felizes, de 1932, é o penúltimo livro da série autobiográfica Little House, que deu fama à escritora Laura Ingalls Wilder. A série, iniciada em 1930 com Uma casa na floresta, quando a autora já estava com sessenta e três anos, foi traduzida para mais de quarenta idiomas e se tornou um clássico da literatura infanto-juvenil norte-americana.
A história de cunho autobiográfico de Anos felizes se passa ainda antes, a partir dos anos 1870, quando a família da autora viveu em diferentes partes do interior dos Estados Unidos.
Tendo se passado cento e cinquenta anos desde então, os jovens leitores de hoje sem dúvida vão estranhar alguns pontos da narrativa da autora. Por exemplo, que castigos físicos fossem livremente praticados nas escolas: quando se torna professora, Laura lamenta não ser grande o bastante para dar em um aluno a surra que ele merecia
, convencida de que é disso que ele precisa
. Ou que o preconceito contra pessoas não brancas fosse tão declarado: Grace alerta Laura para usar sua touca, ou, como Ma diz, […] vai ficar morena como um índio
; tio Tom conta sem constrangimentos sobre como invadiu território indígena para garimpar ouro e depois foi expulso pelo governo.
O que talvez mais chame a atenção em Anos felizes, no entanto, é a questão da mulher. Embora ao longo da série a protagonista pareça não se contentar com os papéis de gênero predefinidos, ajudando Pa em seu trabalho na propriedade, preferindo brincar com os meninos a passar o recreio dentro da escola e até mesmo expressando o desejo de permanecer solteira, ela abandona os estudos antes de concluí-los para se casar, e o trabalho de professora também. De fato, todos esperam que o faça.
Laura chega a dizer ao futuro marido que não prometerá obedecê-lo, mas logo em seguida, quando ele lhe pergunta espantado se ela é uma defensora dos direitos das mulheres – como Eliza
, personagem que é retratada de maneira negativa ao longo da série –, ela diz: Não […] Não quero votar
. Como se os direitos das mulheres se restringissem ao voto e ao desejo pessoal de exercê-lo ou não, e fazendo questão de se afastar da imagem do que hoje chamamos de feminista.
A primeira convenção pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos ocorreu em 1848, mas o direito ao voto só foi garantido constitucionalmente em 1920. Anos depois, a explosão do movimento feminista na década de 1960 culminou em transformações culturais profundas e em conquistas importantes para as mulheres americanas na educação, no mercado de trabalho e no âmbito pessoal e político.
Importante lembrar, no entanto, que as mulheres não só têm um longo caminho a percorrer para atingir a tão sonhada igualdade como ainda travam uma luta constante para manter suas conquistas históricas, que estão sempre sob ameaça, não só nos Estados Unidos, mas no Brasil e no mundo. Como disse a filósofa francesa Simone de Beauvoir: Nunca se esqueça de que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados
.
Laura vai embora
O céu estava aberto naquela tarde de domingo, e a pradaria coberta de neve cintilava ao sol. Uma leve brisa soprava do sul, mas estava tão frio que as lâminas do trenó faziam barulho ao deslizar sobre a neve compactada. Os cascos dos cavalos produziam um baque surdo, clop, clop, clop. Pa não dizia nada.
Laura tampouco dizia, sentada ao lado dele na tábua colocada sobre o trenó. Não havia nada a dizer. Ela estava a caminho da vizinhança onde lecionaria.
No dia anterior, Laura era uma estudante; agora, era uma professora. Tudo havia acontecido repentinamente. Ela preferiria ir para a escola com Carrie, sua irmã mais nova, no dia seguinte, e se sentar com Ida Brown. Mas, no dia seguinte, ia dar aula.
Na verdade, nem sabia como fazê-lo. Nunca tinha dado aula. Nem havia completado dezesseis anos, e era pequena para uma garota de quinze. Agora, sentia-se ainda menor.
O terreno coberto de neve e levemente ondulado em volta estava vazio. O céu parecia distante e vazio também. Laura não olhou para trás, mas tinha certeza de estar a quilômetros da cidade, que não devia passar de uma manchinha escura na branquidão da pradaria. Ma, Carrie e Grace estavam longe, sentadas na sala quentinha.
O assentamento de Brewster ficava mais à frente, a vinte quilômetros da cidade. Laura não sabia como era o lugar. Não conhecia ninguém ali. Havia visto o senhor Brewster apenas uma vez, quando ele fora contratá-la para lecionar na escola. Era um homem magro e moreno, como qualquer outro proprietário; ele não tinha muito a dizer sobre si mesmo.
Pa mantinha os olhos à distância enquanto segurava as rédeas nas mãos enluvadas e de tempos em tempos incentivava os cavalos. Sabia como Laura se sentia. Finalmente, ele virou o rosto para ela e falou, como se respondesse aos medos da filha em relação ao dia seguinte:
– Muito bem, Laura! Agora você é uma professora! Já sabíamos que seria, não é? Só não esperávamos que acontecesse tão cedo.
– Acha que vou conseguir, Pa? – Laura respondeu. – Talvez… talvez as crianças não se importem quando virem que sou pequena.
– Claro que vai conseguir – Pa garantiu a ela. – Você nunca fracassou em nada que tentou, não é?
– Bem, não – Laura admitiu. – Mas nunca tentei ser professora.
– Você deu conta de todos os trabalhos que se apresentaram – Pa disse. – Nunca se esquivou, e sempre se manteve firme até terminar o que tinha se proposto a fazer. O sucesso se torna um hábito, como tudo em que uma pessoa insiste.
De novo, fez-se silêncio, a não ser pelo barulho das lâminas do trenó e pelo clop-clop-clop dos cascos dos cavalos sobre a neve dura. Laura se sentia um pouco melhor. Era verdade, ela sempre continuara tentando; sempre teve de fazer. E agora precisava trabalhar como professora.
– Lembra daquela vez no riacho Plum, quando Ma e eu tínhamos ido para a cidade e começou uma nevasca, canequinha? – Pa perguntou. – Você conseguiu levar a pilha toda de lenha para casa.
Laura deu risada. O riso de Pa soou como sinos na quietude fria. Ela era pequena e ficara muito assustada e atrapalhada naquele dia, tanto tempo atrás!
– É assim que devemos enfrentar as coisas – Pa disse. – Confie em si mesma e dará conta de tudo. Ter confiança em si mesma é a única maneira de fazer com que outras pessoas confiem em você. – Ele parou por um momento, depois disse: – Mas há algo a que deve se atentar.
– O quê, Pa? – Laura perguntou.
– Você é muito rápida, canequinha. Costuma agir ou falar primeiro, e pensar depois. Agora, deve pensar primeiro e falar depois. Se conseguir se lembrar disso, não terá nenhum problema.
– Farei isso, Pa – Laura disse, sincera.
Fazia frio demais para conversar. Aconchegados debaixo de cobertores e colchas pesados, eles seguiram em silêncio na direção sul. O vento frio batia em seus rostos. Rastros leves de um trenó se estendiam à frente. Não havia mais nada para ver além do chão branco infinito e o imenso céu pálido, e as sombras azuis dos cavalos borrando o brilho da neve.
O vento mantinha o grosso véu de lã que Laura usava ondulando diante de seus olhos. Sua respiração se transformava em um pedaço que gelo no véu que continuava, frio e úmido, batendo contra sua boca e o nariz.
Finalmente, ela viu uma casa à frente, a princípio bem pequena, mas que foi aumentando de tamanho conforme se aproximavam. A menos de um quilômetro havia outra, menor, e mais além uma terceira. Então, mais uma apareceu. Eram quatro casas, nada mais. Distantes e pequenas na pradaria branca.
Pa fez os cavalos pararem. A casa do senhor Brewster parecia duas cabanas unidas, compondo um telhado pontiagudo. O papel de alcatrão ficava aparente, e a neve derretida formara pingentes de gelo mais grossos que os braços de Laura ao longo do beiral. Pareciam dentes enormes e afiados. Alguns mordiam a neve, outros tinham quebrado. Os pedaços de gelo quebrado se acumulavam na neve perto da porta, onde a água da louça havia sido jogada. A cortina não tinha janela, e saía fumaça da chaminé presa ao telhado com arame.
O senhor Brewster abriu a porta. Uma criança estava gritando dentro da casa, de modo que ele precisou falar alto para ser ouvido.
– Entre, Ingalls! Entre e se esquente.
– Obrigado – Pa disse. – Mas é uma viagem de quase vinte quilômetros até a casa, então é melhor eu ir embora.
Laura saiu de debaixo das cobertas rapidamente, para não deixar o frio entrar. Pa lhe entregou a mala de Ma, na qual havia uma troca de roupas de baixo, seu outro vestido e seus livros.
– Adeus, Pa – ela disse.
– Adeus, Laura – ele respondeu, e seus olhos azuis pareceram sorrir de maneira encorajadora. Mas vinte quilômetros de distância era longe demais para fazer a viagem com frequência. Ela ficaria dois meses sem ver Pa.
Laura entrou depressa na casa. Ao sair da claridade, não conseguiu ver nada por um momento. O senhor Brewster anunciou:
– Esta é a senhora Brewster. E Lib, esta é a professora.
Havia uma mulher carrancuda no fogão, mexendo alguma coisa na frigideira. Um menininho se segurava à saia dela, chorando. Seu rosto estava sujo e o nariz precisava de um lenço.
– Boa tarde, senhora Brewster – Laura disse, com toda a animação que conseguiu.
– Tire o casaco no outro cômodo – a senhora Brewster disse. – Pendure atrás da cortina, onde está o sofá.
Ela deu as costas para Laura e continuou a mexer o molho.
Laura não soube o que pensar. Não era possível que já tivesse ofendido a senhora Brewster. Ela passou ao outro cômodo.
Havia uma divisão bem no meio da casa, separando-a em duas partes iguais. As vigas e o telhado iam descendo dos dois lados até as paredes. As paredes de tábuas eram bem protegidas, mas não tinham acabamento por dentro, de modo que se viam os pregos. Era como a casa que Pa construíra em sua propriedade, mas era menor e não tinha forro, o telhado era aparente.
O outro cômodo estava bastante frio. Tinha uma janela que dava para a pradaria vazia e coberta de neve. O sofá ficava sob ela, junto à parede. Era do tipo que se comprava pronto, com encosto curvo de madeira e uma ponta curvada para cima, e estava arrumado para alguém dormir. Havia uma cortina de chita marrom pendurada a uma corda que ia de um lado a outro da parede e escondia o sofá quando fechada. Do outro lado, havia uma cama encostada à parede, e ao pé dela cabiam apenas uma escrivaninha e um baú.
Laura pendurou o casaco, o véu e o gorro nos pregos atrás da cortina de chita e deixou a mala de Ma ao lado, no chão. Ela ficou ali, tremendo de frio, sem querer voltar para o cômodo aquecido em que a senhora Brewster se encontrava. Mas precisava voltar, e o fez.
O senhor Brewster estava sentado perto do fogão, com o menininho no colo. A senhora Brewster estava passando o molho para uma tigela. A mesa estava posta, os pratos e facas jogados de qualquer maneira sobre uma toalha branca manchada, toda torta.
– Posso ajudar, senhora Brewster? – Laura criou coragem para perguntar.
A mulher não respondeu. Passou as batatas para um prato, brava, e depois colocou na mesa, com um baque. O relógio na parede fez barulho, preparando-se para bater, e Laura viu que eram cinco para as quatro.
– Temos tomado café tão tarde que só temos feito duas refeições ao dia – o senhor Brewster explicou.
– E de quem é a culpa? – a senhora Brewster soltou. – Como se eu não fizesse o bastante, escrava da manhã até a noite desse…
O senhor Brewster ergueu a voz.
– Eu só quis dizer que os dias estão mais curtos…
– Então diga o que quer dizer!
A senhora Brewster arrastou o cadeirão até a mesa, pegou o menino e o sentou em seu colo, com firmeza.
– A comida está servida – o senhor Brewster disse a Laura.
Ela se sentou no lugar vago. O senhor Brewster passou-lhe as batatas, o porco salgado e o molho. A comida estava boa, mas o silêncio da senhora Brewster era tão desagradável que Laura mal conseguia engolir.
– A escola fica longe daqui? – ela perguntou, tentando ser simpática.
O senhor Brewster explicou:
– Fica a menos de um quilômetro, em uma antiga cabana. O antigo ocupante do terreno foi embora. Largou tudo e voltou para o Leste.
Depois disso, ele ficou em silêncio também. Com medo, o menino se esforçava para alcançar tudo na mesa sozinho. De repente, ele deixou o prato de lata cheio de comida cair no chão. A senhora Brewster bateu nas mãos do filho, que gritou. E continuou gritando, enquanto chutava a perna da mesa.
Finalmente, a refeição terminou. O senhor Brewster pegou o balde de leite pendurado em um prego na parede e foi para o estábulo. A senhora Brewster sentou o menino no chão, e aos poucos ele parou de chorar, enquanto Laura tirou a mesa. Então ela pegou um avental da mala de Ma, amarrou-o sobre o vestido marrom e pegou um pano de prato para secar a louça que a senhora Brewster lavava.
– Qual é o nome do menino, senhora Brewster? – ela perguntou, torcendo para que a mulher fosse um pouco mais agradável.
– John.
– É um belo nome – Laura disse. – Dá para chamá-lo de Johnny quando pequeno, e depois que crescer John será um bom nome. A senhora o chama de Johnny?
A senhora Brewster não respondeu. O silêncio foi ficando cada vez mais incômodo. Laura sentiu o rosto queimar, mas continuou secando a louça. Quando acabaram, a senhora Brewster jogou fora a água e pendurou a bacia no prego. Ela se sentou na cadeira e ficou se balançando preguiçosamente, enquanto Johnny entrou debaixo do fogão e puxou o rabo do gato. Ele berrou quando o gato o arranhou. A senhora Brewster continuou se balançando.
Laura não ousou interferir. Enquanto Johnny gritava sem parar e a senhora Brewster se balançava, carrancuda, ela se sentou em uma cadeira à mesa e ficou olhando para a pradaria. A estrada seguia reta pela neve até sumir de vista ao longe. Ela estava a vinte quilômetros de casa. Ma devia estar preparando o jantar; Carrie já devia ter chegado da escola; as duas deviam estar rindo e conversando com Grace. Pa chegaria e pegaria Grace em seus braços, como costumava fazer com Laura quando ela era pequena. Eles continuariam conversando durante o jantar. Mais tarde, iam se sentar à luz da lamparina para ler enquanto Carrie estudava. Depois, Pa tocaria a rabeca.
O cômodo foi ficando cada vez mais escuro. Laura não conseguia mais ver a estrada. Finalmente, o senhor Brewster voltou com o leite. Só então a senhora Brewster acendeu a lamparina. Ela coou o leite e deixou a leiteira de lado, enquanto o senhor Brewster se sentava e abria o jornal. Nenhum dos dois falou. Um silêncio desagradável e pesado voltou a se instalar.
Laura não sabia o que fazer; era cedo demais para ir dormir. Não havia outro jornal ou qualquer livro ali. Então ela pensou nos livros da escola. Foi para o outro cômodo, frio e escuro, abriu a mala de Ma e tateou até encontrar seu livro de História. Então, levou-o até a cozinha e se sentou à mesa para estudar.
Pelo menos não há o que atrapalhe meus estudos, Laura pensou. Estava triste e sentia-se tão dolorida como se tivesse levado uma surra, mas gradualmente esqueceu onde estava, mantendo a mente fixa em História. Finalmente, ouviu o relógio bater oito horas. Então se levantou e deu boa-noite, com educação. A senhora Brewster não respondeu, mas o senhor Brewster sim:
– Boa noite.
Laura tirou o vestido e a anágua no outro cômodo, morrendo de frio, para colocar a camisola de flanela. Ela entrou debaixo das cobertas do sofá e fechou a cortina de chita. O travesseiro era de penas e havia lençóis e muitas colchas,