Memórias de dois peregrinos
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Sobre este e-book
Por meio de relatos vívidos e emocionantes, o livro revela os desafios e as bênçãos experimentadas pelos autores enquanto seguiam o chamado de Deus. Desde os primeiros anos de trabalho missionário até as lições aprendidas em comunidades afastadas, o casal relata como a graça divina guiou cada passo de sua peregrinação. Com uma escrita íntima e reflexiva, eles convidam os leitores a acompanhá-los em histórias de fé inabalável, superação de dificuldades e incontáveis milagres ao longo de sua missão.
Além de ser um tributo à fidelidade de Deus, o livro também é uma celebração da vida em família e do papel fundamental que Margarida desempenhou como esposa, mãe e colaboradora incansável. Memórias de Dois Peregrinos não é apenas um livro de recordações, mas um testemunho vivo do poder transformador do evangelho.
Se você busca um relato profundo e tocante sobre o que significa confiar em Deus e servir ao próximo, este livro vai desafiar, inspirar e fortalecer sua fé. É um convite a refletir sobre como podemos encontrar propósito e significado ao longo de nossa própria jornada espiritual, onde quer que Deus nos leve.
Prepare-se para ser impactado por uma história de perseverança e obediência a Deus, narrada por aqueles que dedicaram sua vida à missão de espalhar o amor de Cristo no mundo.
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Memórias de dois peregrinos - Francisco Schalkwijk
Memórias de dois peregrinos, de Francisco e Margarida Schalkwijk © 2024, Editora Cultura Cristã. Todos os direitos são reservados.
1ª edição – 2024
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S297m
Schalkwijk, Francisco
Memórias de dois peregrinos / Francisco Schalkwijk, Margarida Schalkwijk. - São Paulo: Cultura Cristã, 2024.
Recurso eletrônico (ePub)
ISBN 978-65-5989-337-9
1. Biografia. 2. Vida cristã. I. Schalkwijk, Margarida. II. Título.
CDU-929
Sueli Costa - Bibliotecária - CRB-8/5213
(SC Assessoria Editorial, SP, Brasil)
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus símbolos de fé
, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e seus catecismos, o Maior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.
Rua Miguel Teles Júnior, 394 – CEP 01540-040 – São Paulo – SP
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Superintendente: José Inácio Ramos
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Dedicado à minha esposa, Margrietha, muito grato pelo fato de que, pela graça de Deus, pudemos andar juntos por setenta anos servindo ao Senhor.
SOLI DEO GLORIA!
Sumário
Introdução
Memórias dos lares paternal e pastoral (-1959)
Pais tementes a Deus
Guerra
Estudos
É ela!
Noivos
Hoek, 1954-57
No serviço da Missão (1957-1991)
Memórias dos anos paulistas (1959-1961)
São Paulo
Campinas
Viagem a Goiás
Memórias dos anos em Carambeí (1961-1966)
Colônias holandesas
Alfredinho
João de Jesus
Deus é fiel
Para o interior do município
Fogo!
Cercado
Um visitante japonês
Dona Margarida
Dom de curar?
Ronda
Batismos
A Revolução de 1964
Revista
Memórias dos anos em Cascavel (1966-1972)
Go West
Dona de casa em Cascavel
O irmão Leendert Oranje
Plano de trabalho
Viagens missionárias
Herança do Senhor
Chácara Ebenezer
Advertências
Oposição e aprovação
A RORIP e a Escola Timóteo
Alto Alegre
Guaporé
Instrumentos de conversão?
Espiritismo
Punhal
Mato Grosso
Ordem eclesiástica
O Senhor providenciará
Mudança?
Memórias dos anos no Recife (1973-1988)
Moradia no Recife
Tia Minka
Versículos Obadias
Falta de professores no Seminário
Igreja e Estado no Brasil Holandês
Propaganda política
Adoção
Mudança na Teologia
Caixa Zacarias
A ALEM
Aposentadoria
Memórias dos anos em Viçosa (1989-1995)
Um Instituto bíblico em Rondônia?
Oma Hanskamp
Down Under
Indonésia
Matrimônios
Voltar para a Holanda?
Memórias dos anos em Apeldoorn (1995-2021)
Cingapura
Ministério itinerante
Ministério via internet
Duas surpresas (2003)
Cinquenta anos juntos servindo ao Senhor (25/11/2004)
Até à vossa velhice (...) eu vos carregarei
Morar onde?
Memórias dos anos em Itajubá (2021-)
Volta para o Brasil
Setenta anos juntos servindo ao Senhor
Olhando para frente e para cima
Introdução
Muitas vezes meu pai cantava uma estrofe adaptada e rimada do salmo 77 que dizia: Vou com gratidão dizer, do meu Deus o bem-fazer; e em vez de me queixar, vou seu nome exaltar!
(Sl 77.10-11).1 E é isso o que queremos fazer neste livrinho: simplesmente relatar as muitas bênçãos que Deus derramou sobre nós durante a nossa peregrinação, a esta altura quase chegando na casa do nosso Pai Celestial. Os teus decretos são motivo dos meus cânticos na casa da peregrinação
(Sl 119.54). Amém!
Todas as histórias são verídicas, mas menciono apenas poucos nomes para evitar constrangimentos. Não é sempre um relato sistemático, mas mais contos respondendo às perguntas como: "Opa, Oma, pastor, irmão, pode contar como foi...".
Nota
1 ‘k Zal gedenken hoe voor dezen / ons de
Heer
heeft gunst bewezen! / En in plaats van bitt’re klacht, / daarvan spreken dag en nacht! (Salmos 77. 7 estrofe adaptada rimada 1773).
Memórias dos lares paternal e pastoral (-1959)
1. Pais tementes a Deus
Pela graça de Deus, tanto eu quanto minha esposa, Margrietha/Margarida tivemos pais cristãos.2 Meus pais se conheceram servindo ao Senhor, pois ambos ensinavam na Escola Dominical. Quando quiseram se casar, a situação econômica era difícil e meu pai tinha muito serviço a terminar na firma de contadores na qual trabalhava em Amsterdã. Eles se encontravam semanalmente para leitura da Bíblia e oração. Numa dessas ocasiões, a leitura foi Provérbios 24.27: Cuida dos teus negócios lá fora (…) e, depois, edifica a tua casa
. Então, entenderam que deveriam esperar um pouco, mas assim que tudo foi resolvido, uniram-se em matrimônio, uma união muito abençoada na qual lhes nasceram cinco filhos: Jan, Alida, Tineke, Frans e Leo.
Papai e mamãe sempre evangelizavam. Minha mãe ganhava pessoas para Cristo e meu pai as preparava para profissão de fé. Também tinham muito interesse em missões, especialmente dos moravianos. Certa vez, quando eu deveria ter por volta de 6 anos, pois já sabia ler, visitamos minha tia E (Eelkje). Na sua casa havia um cesto no chão com alguns jornais e, sobre eles, uma revista missionária, De Macedoniër. Na capa havia a ilustração de um homem na praia acenando e gritando alguma coisa para outro homem em pé num navio. Acredito que o Senhor tenha usado isso para me chamar para o campo missionário.
Da esquerda para a direita em pé atrás: Jan, Alida, Frans, Tineke. Sentados à frente: Mamãe Fokjelina, Leo, Pai Leonard
Em casa guardávamos até o papel de alumínio das barras de chocolate para angariar fundos para missões. Certo dia algo engraçado aconteceu. Jan, meu irmão mais velho, estava fazendo uma bola com esses papéis e gritou: Também os dentes de mamãe para a missão?
. É que minha mãe tinha perdido uma das suas chapinhas que então fora achada na caixa de coleta desse material . Sim, nascer numa família temente a Deus é a primeira grande bênção que alguém pode receber.
Porém, nem sempre eu reconheci isso. Quando meu irmão Leonardo e eu estávamos estudando no Instituto bíblico em Beatenberg, Suíça, um dos nossos amigos na escola era Theo Dikkes (já com o Senhor). Quando jovem, tinha vivido longe de Deus, mas passou por uma conversão súbita. Um dia, eu disse a ele: Theo, gostaria de ter me convertido assim como você, de repente
. Mas ele respondeu: Está doido, rapaz! Você nem sabe o que está dizendo. O Espírito Santo trabalhou no seu ‘quintal’ por muitos anos, limpando-o calmamente. Mas ele tinha de mandar um trator para arrancar os tocos do meu. Não, irmão, seja grato!
.
Sim, eu era grato, mas assim mesmo havia um problema. Um dia, sentados à mesa para o almoço no Instituto Bíblico, a conversa girou ao redor do novo nascimento. Cada um dos oito rapazes naquela mesa contou sua história e mencionou até uma data. Quando chegou a minha vez, fiquei desconcertado, pois não sabia o que responder. Isso me incomodou por algumas semanas até que o Senhor me consolou. Pensei: Se minha mãe não me tivesse contado o dia do meu nascimento, como eu poderia saber a data do meu aniversário? Mas eu estaria vivo assim mesmo, porque posso andar e falar. Muito obrigado, Senhor, por meu pai e minha mãe; muito obrigado por eu ter nascido numa família evangélica.
Leonard Theodoor Schalkwijk, Fokjelina Trijntje Schalkwijk-Bloemendaal
A luz do evangelho brilhava para o mundo ao redor da casa dos meus pais. Um dia (eu tinha cerca de 12 anos), a companhia em que meu pai trabalhava como contador-mor (Heybroek-Zélander, hoje Technische Unie), organizou uma festinha para comemorar os 25 anos de serviço fiel e produtivo prestado por papai. O diretor fez um pequeno discurso e, de repente, olhando para nós, os cinco filhos, disse: Filhos Schalkwijk, como vocês são felizes com um pai assim!
(e mãe! Pv 20.7). Lembro-me disso porque mamãe repetia a frase de vez em quando. E quanto mais amadureço, mais reconheço como isso é verdadeiro neste mundo tão longe de Deus. Quando o Senhor o transferiu para a glória, foi com muita convicção que colocamos na sua sepultura Provérbios 10.7: A memória do justo é abençoada
. Sim, Senhor, muito obrigado porque tanto minha esposa quanto eu nascemos numa família cristã. Filhos amam sua mãe por natureza, e uma mãe deve ensinar seus filhos a amar o pai. E como eu amava meu pai! Queria ser como ele, mas depois descobri que minha personalidade era diferente, e que eu deveria ser como Deus me havia feito, mas imitando papai na sua dedicação ao Senhor.
2. Guerra
A Segunda Guerra Mundial irrompeu em setembro de 1939 e a Holanda foi invadida pelos exércitos alemães no dia 10 de maio de 1940.3 Morávamos em Bloemendaal, perto da estação ferroviária em que papai diariamente tomava o trem para ir ao trabalho em Amsterdã. Na esquina da nossa rua tinha um canhão antiaéreo e achamos bonito quando vimos as balas pipocando lá no alto, mas nenhum avião alemão foi atingido.
Depois do bombardeio do centro de Roterdã, a Holanda se rendeu e a rainha Guilhermina fugiu para Inglaterra. Então papai, sem dúvida sabendo que enfrentaríamos tempos perigosos sob um governo nazista, leu 2Coríntios 6.4-10, (…) nada tendo, mas possuindo tudo
. Minha irmã Ali descobriu por acaso que morávamos entre duas famílias do partido nazista na Holanda (NSB), o que levou meus pais a se mudarem para uma casa um pouco maior sob o pretexto de abrigar três senhoras idosas, nossas duas avós e uma costureira que se auto sustentava. No entanto, logo depois tivemos de nos mudar outra vez por ordem alemã, pois estavam construindo o muro atlântico
e nossa moradia se encontrava perto do litoral em que o muro seria edificado. Dessa vez fomos para Amsterdã,4 onde ficamos até o final do conflito mundial.
À medida que a guerra avançava, a escassez aumentava e tínhamos de apertar o cinto.5 Os alimentos eram racionados e ganhávamos cupons para os gêneros básicos como batatas, açúcar, manteiga, etc.