Privacidade 404
De Filipe Cruz
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Sobre este e-book
Num futuro distópico não muito longínquo perdemos o nosso direito à privacidade digital. Como é que a sociedade se adaptará? Este livro inclui uma introdução ao tema, dois contos de ficção científica especulativa, e um guia de boas práticas correntes.
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Privacidade 404 - Filipe Cruz
Privacidade 404
Filipe Cruz
Introdução
"Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei." Artº 12º, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
O direito à privacidade está previsto na declaração dos direitos humanos. A importância da privacidade está documentada cientificamente. A sua inexistência afecta as pessoas ao nível físico, psicológico e emocional. Ter acesso a um espaço que consideramos seguro promove a auto-confiança e capacidade emocional para lidar com a sociedade.
Traçando o paralelo para um mundo cada vez mais conectado: o sigilo e a privacidade digital são essenciais para manter a confiança em serviços críticos para a vida em comunidade: educação, apoio médico, acessos monetários…
No entanto, a tecnologia permite mais do que nunca vigiar e identificar tudo e todos.
A vídeo vigilância tem vindo a ser cada vez mais institucionalizada pelos governos para nossa protecção
. Quase um século após os avisos de Orwell, a sociedade no geral continua a caminhar nessa direcção. Sendo vendido ao público como Só se importa com isso quem tem algo a esconder.
e com vários exemplos de ladrões, terroristas e pedófilos que só poderão ser capturados quando todas as ruas e pessoas estiverem a ser constantemente vigiadas.
Fica sempre por responder quem vigia os vigiantes para evitar os abusos de poder? Quem garante que a informação privada que está a ser recolhida será devidamente encriptada em segurança, ou protegida de acessos indevidos ou apagada quando não for necessária. Haverá sempre acessos indevidos e os dados privados tem grande valor comercial.
Por outro lado temos as redes sociais, que aliciam à partilha pública de informação que deveria em muitos casos ser privada. Há falta de consciência, interesse e cuidado em evitar as partilhas de informação privada em redes públicas por parte dos utilizadores. Porque é conveniente, porque a partilha cria laços relacionais, porque precisamos da validação pública, porque é publicamente que agora tratamos dos assuntos privados, porque vamos ser influencers
milionários, porque todos os outros também partilham. Em contrapartida, as empresas vendem os nossos dados privados a terceiros e qualquer pessoa consegue saber facilmente a nossa informação privada, das nossas famílias e amigos. De repente já ninguém quer saber dos ladrões, terroristas e pedófilos que se podem aproveitar dessa informação para causar dano, porque é mais importante os seguidores saberem que eu hoje comi a melhor panqueca de todo o sempre neste local e a estas horas com