Bete Mendes
Bete Mendes, nome artístico de Elizabeth Mendes de Oliveira (Santos, 11 de maio de 1949), é uma atriz e política brasileira. Iniciou a carreira artística na TV Tupi, até ir para a Rede Globo, onde atuou em diversos papéis de destaque como em O Rebu (1974), O Casarão (1976) e Sinhazinha Flô (1977). Em 2007, interpretou a personagem Dona Benta na última temporada do seriado infantil Sítio do Picapau Amarelo.
Bete Mendes | |
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Beth Mendes na pré-estreia do filme Divinas Divas de Leandra Leal em 2017. | |
Nome completo | Elizabeth Mendes de Oliveira |
Nascimento | 11 de maio de 1949 (75 anos) Santos, SP |
Nacionalidade | brasileira |
Cônjuge | Dennis Carvalho (1970–75) |
Ocupação | atriz e política |
Período de atividade | 1966–presente |
Biografia
editarFilha do suboficial da Aeronáutica Osmar Pires de Oliveira e de Maria Mendes de Oliveira, não concluiu o curso de Sociologia na Universidade de São Paulo (USP) pois foi proibida de frequentar qualquer universidade durante três anos (conforme o Decreto-lei 477 então vigente), em razão do seu envolvimento com a organização de extrema esquerda Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).[1] Posteriormente formou-se em artes cênicas, também pela USP.[2]
Apresentou-se pela primeira vez no teatro em 1968, na peça A Cozinha, de Arnold Wesker, com tradução do Millôr Fernandes e direção de Antunes Filho.[3][4] Já foi casada com o ator e diretor Dennis Carvalho.
Militância política
editarEm 1970 foi presa pela primeira vez, pelo DOI-CODI (Departamento de Operações Internas - Centro de Operações para Defesa Interna, órgão encarregado, durante a ditadura militar, de proceder o combate aos grupos de esquerda), ficando quatro dias detida. Entre setembro e outubro foi novamente presa, ocasião em que foi torturada pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra,[5] o qual negou as acusações.[6] Absolvida pelo Superior Tribunal Militar, foi solta após trinta dias de cárcere - mas foi obrigada a abandonar o curso de Sociologia.[2]
Participou ativamente de diversos movimentos sociais e sindicais, como a campanha pela regulamentação profissional de artistas e técnicos em espetáculos de diversões (conquistada em 1978), o apoio às greves dos Metalúrgicos do ABC paulista e o movimento pela Anistia.[2] É associada ao Movimento Humanos Direitos.[7]
Carreira política e atuação parlamentar
editarAo longo da carreira artística, voltada principalmente para a televisão, Bete Mendes teve também uma relevante atuação na política. Foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores, pelo qual se elegeu deputada federal pela primeira vez, na legislatura 1983-1987.[2] Na Câmara dos Deputados foi terceira suplente do Secretário da Mesa Diretora. Foi titular na Comissão de Transportes e suplente em várias outras comissões. Em 1985, foi autora de projeto que criava uma comissão encarregada da elaboração de projeto de Constituição - arquivado por prejudicialidade, pois foi decidido posteriormente que a Constituição seria elaborada pelos deputados eleitos.[8] Foi expulsa do partido por haver votado, ainda no regime de eleições indiretas, em Tancredo Neves para presidente da República.[4] Elegeu-se novamente, desta feita pelo PMDB, para a legislatura seguinte (1987-1991), tendo participado da Constituinte de 1987. Além do mandato eletivo, foi Secretária Estadual de Cultura de São Paulo, no período de 15 de março de 1987 a 21 de dezembro de 1988. Presidiu a Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro, Funarj, em 1999, durante o governo Anthony Garotinho.[2]
O rompimento com o PT não a impediu de apoiar as candidaturas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive a de 2006, quando muitos artistas retiraram seu apoio a ele, após o desgaste que o partido sofrera com o escândalo do mensalão.[9][10]
Em setembro de 2007, Bete Mendes foi homenageada em Santos, sua cidade natal, onde teve seu nome inscrito na "calçada da fama" - criada em frente ao Cine Roxy, no bairro do Gonzaga - ao lado de Pelé e do compositor Gilberto Mendes.[11]
O caso Brilhante Ustra
editarQuando exercia o seu segundo mandato, sendo presidente José Sarney, Bete Mendes integrou a comitiva presidencial em visita oficial ao Uruguai. No dia 17 de agosto de 1985 Bete reconheceu o adido militar da embaixada brasileira em Montevidéu, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, como sendo o seu antigo torturador, na prisão do Doi-Codi. O episódio ganhou ampla repercussão no país, reacendendo os debates sobre a amplitude da Lei da anistia, promulgada em 1979, discutindo-se se tal anistia de fato atingiria os envolvidos em crimes de tortura.
Em resposta à acusação de Bete Mendes, Ustra publicou um livro intitulado Rompendo o Silêncio, onde nega que a atriz tenha sofrido qualquer tipo de tortura e a acusa de ter montado um "teatro" para promover sua reeleição.[12] Contra o coronel Ustra pesavam diversas outras acusações de ex-presos políticos, por prática de tortura, assassinatos e desaparecimentos de presos que estavam sob a guarda do DOI-Codi paulistano, além de ações judiciais movidas por familiares de ex-presos e pelo Ministério Público Federal.[13] Em 2008, a família de Luiz Eduardo da Rocha Merlino moveu uma ação para que a Justiça reconhecesse o papel de Ustra na morte do ex-preso, em decorrência de tortura, ocorrida no mês de julho de 1971. Em 2012, Ustra foi condenado a indenizar a família Merlino por danos morais. Ele recorreu da decisão. Morreu em 2015, antes do novo julgamento.[14]
Carreira
editarTelevisão
editarAno | Título | Personagem | Nota | Emissora |
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1966 | Águias de Fogo | -
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Episódio: "Operação Tatu" | Rede Tupi |
1968 | Beto Rockfeller | Renata Lins | ||
1969 | Super Plá | Albertina Guimarães (Titina) | ||
1970 | O Meu Pé de Laranja Lima | Glória da Silva (Godóia / Glorinha) | ||
Simplesmente Maria | Angélica Rios | |||
1971 | Nossa Filha Gabriela | Rosana | ||
1972 | A Revolta dos Anjos | Estela Borges Mourão | ||
Na Idade do Lobo | Carina Veloso | |||
1973 | As Divinas... e Maravilhosas | Carolina Junqueira | ||
A Volta de Beto Rockfeller | Renata Lins | |||
1974 | O Rebu | Sílvia Mahler | Rede Globo | |
1975 | Bravo! | Lia Di Lorenzo | ||
1976 | O Casarão | Vânia Lins | ||
1977 | Sinhazinha Flô | Flora Meirelles (Sinhazinha Flô) | ||
1978 | Sinal de Alerta | Vera Bastos | ||
1980 | Pé de Vento | Teresa Horta (Terezinha) | Rede Bandeirantes | |
Dulcinéa, Vai à Guerra | Jerusa Vaz | |||
1981 | Floradas na Serra | Elza Maia | TV Cultura | |
1982 | Caso Verdade | Roselí | Episódio: "Por uma Fresta de Sol" | Rede Globo |
1985 | O Tempo e o Vento | Maria Valéria Terra | ||
De Quina pra Lua | Patrícia Oliveira Santana (Paty) | |||
1989 | Tieta | Aída Pires | ||
1990 | Lua Cheia de Amor | Emília Amoedo | ||
1992 | Anos Rebeldes | Carmen[15] | ||
Você Decide | Beatriz Leite | Episódio: "Romance Moderno"' | ||
1993 | Gilda Sabino | Episódio: "Relação Delicada" | ||
O Mapa da Mina | Carmem Simeone Rocha | |||
1994 | Memorial de Maria Moura | Antônia Moura | ||
Pátria Minha | Zuleica Trindade Ribeiro | |||
Quatro por Quatro | Fátima de Almeida (Dona Fátima) | |||
1996 | Você Decide | Clarisse Nunes | Episódio: "Pobre Menina Rica" | |
O Rei do Gado | Donana da Silva Jatobá (Donana) | |||
1997 | Conto de Natal | Especial de fim de ano | ||
1998 | Brida | Diva Teixeira | Rede Manchete | |
1999 | Terra Nostra | Ana Splendore | Rede Globo | |
2000 | Aquarela do Brasil | Olga Duarte | ||
2003 | A Casa das Sete Mulheres | Ana Joaquina da Silva Gonçalves (Dona Ana Joaquina) | ||
2004 | Seus Olhos | Edith Garcia Machado | SBT | |
2005 | América | Fátima Carvalho Ramos | Rede Globo | |
Malhação | Filomena Barbosa (Tia Filó) | |||
2006 | Páginas da Vida | Natércia do Cordeiro de Sousa (Irmã Natércia) | ||
2007 | Sítio do Picapau Amarelo | Benta Encerrabodes de Oliveira (Dona Benta) | ||
2008 | Casos e Acasos | Hilda Ferreira | Episódio: "O Colchão, a Mala e a Balada" | |
Angelina Munhoz | Episódio: "O Parto, O Batom e o Passaporte" | |||
2009 | Caras & Bocas | Maria da Piedade Batista Azevedo Conti (Piedade)[16] | ||
2011 | Insensato Coração | Zuleica Alencar | ||
2012 | Gabriela | Florinda Reis (Florzinha) | ||
2013 | Flor do Caribe | Olívia Soares | ||
2017 | Os Dias Eram Assim | Ela Mesma | ||
Tempo de Amar | Irmã Imaculada | |||
2024 | Garota do Momento | Arlete[17] |
Cinema
editarFonte: Coleção Aplauso[18]
Ano | Título | Personagem |
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1974 | As Delícias da Vida | Eva [19] |
1980 | Amantes da Chuva | Isabel [20] |
J. S. Brown, o Último Herói do Gibi | Cris | |
1981 | Eles não Usam Black-tie | Maria |
1982 | Insônia | — |
2002 | A Cobra Fumou | Narradora |
2004 | Vestido de Noiva | Dona Lígia |
2006 | Brasília 18% | Francisca Gonzaga |
2010 | Aparecida - O Milagre | Julia Resende |
2013 | Vazio Coração | Luiza Alves |
2017 | Introdução a Música do Sangue | Ernestina |
Teatro
editarFonte: Coleção Aplauso[18]
- 1968 - A Cozinha, direção de Antunes Filho
- 1974 - Desgraças de uma Criança
- 1975 - Gota d'Água, direção de Gianni Ratto
- 1977 - A Morte de Danton, direção de Aderbal Freire Filho
- 1979 - A Calça, direção de Maurice Vaneau
- 1981 - Patética, direção de Celso Nunes
- 1982 - Pegue e Não Pague, direção de Gianfrancesco Guarnieri e Renato Borghi
- 1991 - Ária de Serviço, direção de M. A. Braz
- 1993 - As Primícias
- 1995 - À Luz da Lua, direção de Ítalo Rossi
- 2000 - Momentos, Beijos, direção de Nelson Rodrigues Filho
- 2001 - Bárbara do Crato, direção de Wilma Ducetti
Referências
- ↑ «O relato tocante de Bete Mendes sobre a tortura». Brasil 247. 26 de maio de 2013. Arquivado do original em 13 de abril de 2015
- ↑ a b c d e Câmara dos Deputados. Currículo.
- ↑ MENEZES, Rogério. Bete Mendes: o cão e a rosa. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura - Fundação Padre Anchieta, 2004. 272p.: Coleção Aplauso. Série Perfil (livro depoimento da atriz)
- ↑ a b VIDAL, Alexandre. EP News (3 de junho de 2007). «Bete Mendes assume condição de vovó fora do 'sitio do Pica-pau Amarelo'». Arquivado do original em 28 de junho de 2009
- ↑ Bete Mendes: Minha História: Fui torturada em 1970 e denunciei o coronel Ustra. Depoimento a Eleonora de Lucena. Folha de S. Paulo, 26 de maio de 2013.
- ↑ Pereira, Cleidi (25 de março de 2014). «Ex-presos rebatem declarações do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra sobre repressão durante o regime militar». Zero Hora. Consultado em 21 de fevereiro de 2017
- ↑ «Humanos direitos». Arquivado do original em 25 de dezembro de 2007
- ↑ Proposições da deputada Bete Mendes (página acessada em 16 de fevereiro de 2008).
- ↑ Sem Chico e Caetano, Lula encontra artistas no Rio. Por Beatriz Coelho Silva. O Estado de S. Paulo, 22 agosto de 2006
- ↑ Lula afirma a artistas que elite quis fazê-lo "sangrar". Por Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 22 de agosto de 2006
- ↑ «Bete Mendes na calçada da fama de Santos». Arquivado do original em 15 de outubro de 2007
- ↑ Carlos Alberto Brilhante Ustra (1987). Rompendo o Silêncio. [S.l.]: Editerra Editorial. 345 páginas. ISBN 9780002295109
- ↑ Acusado de torturas na ditadura, coronel Ustra morre aos 83. Valor Econômico, 15 de outubro de 2015.
- ↑ Sem condenação, morre o torturador da ditadura brasileira Carlos Brilhante Ustra. Por Patricia Faermann. GGN, 15 de outubro de 2015.
- ↑ Rede Globo, Memória Globo Anos Rebeldes
- ↑ Adoro Cinema (1 de agosto de 2014). «Elenco Caras & Bocas - Maria da Piedade Batista Azevedo - Personagens - Caras & Bocas». Personagens > Caras & Bocas. Consultado em 23 de dezembro de 2014
- ↑ «Garota do Momento: veja imagens inéditas da nova novela das 6». gshow. 4 de outubro de 2024. Consultado em 8 de outubro de 2024
- ↑ a b «Bete Mendes: o cão e a rosa» (PDF). Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. pp. 267–271. Consultado em 2 de outubro de 2022
- ↑ Cinemateca Brasileira, As Delícias da Vida [em linha]
- ↑ Cinemateca Brasileira, Os Amantes da Chuva [em linha]
Ligações externas
editar- Bete Mendes. no IMDb.
- Bete Mendes em Memória Globo