Hans Staden

Mercenário alemão
 Nota: Se procura filme com esse nome, veja Hans Staden (filme).

Hans Staden (Homberg, c. 1525 – Wolfhagen, c. 1576) foi um aventureiro mercenário alemão do século XVI. Por duas vezes, Staden esteve no Brasil, onde participou de combates nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente contra navegadores franceses e seus aliados indígenas e onde passou nove meses escravo dos índios tupinambás. De volta à Alemanha, Staden escreveu "História verdadeira e descrição..." (Marburgo, 1557): um relato de suas viagens ao Brasil que se tornou um grande sucesso da época.

Hans Staden
Hans Staden
Retrato de Hans Staden feito por
H. J. Winkelmann, em 1664.
Nascimento 1525
Homberg, Hesse
Morte 1576 (51 anos)
Wolfhagen. Hesse
Nacionalidade alemã
Cidadania Alemanha
Ocupação Soldado e explorador
Obras destacadas Duas Viagens ao Brasil
Movimento estético Renascimento na Alemanha

A primeira viagem ao Brasil

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Ataque dos índios caetés à vila de Igarassu em Pernambuco, 1549. Gravura de Theodor de Bry.

Partindo de Bremen, na atual Alemanha, passou pelos Países Baixos e chegou a Portugal. De Portugal, partiu para a capitania de Pernambuco em um navio. Avistou o cabo de Santo Agostinho em 28 de janeiro de 1549, desembarcando no porto de Pernambuco (porto do Recife).[1] A embarcação portuguesa em que estava tinha o objetivo principal de recolher pau-brasil (Caesalpinia echinata), mas também deveria combater quaisquer navios franceses que estivessem a negociar com os nativos, bem como deveria também transportar degredados portugueses remetidos para povoar a colônia; estes degredados e ladrões eram pessoas que cometeram crimes mas que a justiça – que os julgou – do Reino de Portugal tinha permitido que fossem colocados para viver no mesmo local por ter uma pena menor em que se permitiu povoar o lugar até mesmo para se ajudar a população a crescer.

O governador de Pernambuco, Duarte Coelho, que enfrentava uma revolta indígena na ocasião; em que foi ocasionada pela revolta dos tribais da região e negros escravizados que se revoltaram contra a conquista das terras e a escravização, pediu ajuda aos recém-chegados. Hans Staden e os demais rumaram para Igarassu, próximo a Olinda, em um navio para auxiliar na luta. Igarassu era, então, defendida por aproximadamente 120 pessoas (90 homens e mulheres livres e 30 escravos), às quais se uniram os cerca de quarenta recém-chegados, incluindo Hans Staden. Enfrentaram 8 000 indígenas e mais ou menos 37 escravizados. Depois de uma renhida luta e de um cerco muito disputado a ponto do bloqueio de busca de mantimentos, acabaram por derrotar os indígenas. Os quarenta marinheiros ganharam algumas tais recompensas como medalhas do governador da capitania.

Dias depois, enfrentaram um navio francês e ficaram destruídos e sem nada a que comer; logo depois, foram para Portugal, aportando em Lisboa no dia 8 de outubro.

A Segunda Viagem ao Brasil

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Ilustração mostrando Hans Staden (de barba, ao fundo) observando os índios tupinambás praticando antropofagia, em uma aldeia situada entre Bertioga e Rio de Janeiro.

Em sua segunda viagem, Staden partiu de Sevilha rumo ao Rio da Prata em um navio espanhol em 1549, mas o navio veio a naufragar no ano seguinte, no litoral do atual estado brasileiro de Santa Catarina. Os integrantes da expedição, depois de passarem dois anos na região, decidiram rumar para a cidade de Assunção: uma parte deles iria por terra e outra parte, por mar. Staden juntou-se ao segundo grupo e rumou para a cidade de São Vicente, onde tentaria fretar um navio capaz de chegar a Assunção.

Antes de chegar a São Vicente, porém, o navio de Staden naufragou próximo a Itanhaém. Seus ocupantes conseguiram nadar até a praia. De lá, foram a pé até São Vicente, onde Staden foi contratado como artilheiro pelos colonos portugueses para defender o Forte de São Filipe da Bertioga, que se localizava nas proximidades da cidade. Enquanto Staden procurava um tal escravo indígena de sua guarda, entranhou-se às matas sendo aprisionado pela Tribo Indígena Tupinambá (Uwattibi, no texto original do relato de Staden[2]), que ficaria localizada em algum ponto entre Bertioga e Rio de Janeiro.[3]

Desde o início, ficou claro que a intenção dos seus captores era devorá-lo. Pouco tempo depois, os tupiniquins, aliados dos portugueses e inimigos dos tupinambás que eram, por sua vez, aliados dos franceses, atacaram a aldeia onde ele era mantido prisioneiro. Obrigado pelos tupinambás, Staden lutou ao lado destes contra os tupiniquins. Seu desejo era tentar fugir para unir-se aos atacantes. Mas, estes, vendo que a resistência dos defensores era muito forte, desistiram da luta e se retiraram.[4]

Pediu ajuda a um navio português e a outro francês. Ambos recusaram-se a ajudá-lo por não desejarem entrar em conflito com os índios. Foi, enfim, resgatado pelo navio corsário francês Catherine de Vatteville, comandado por Guillaume Moner, depois de mais de nove meses aprisionado, voltou à Europa e seguiu caminho à sua terra natal.

 Ver artigo principal: Duas Viagens ao Brasil

De volta à Europa, redigiu um relato sobre as peripécias em suas viagens e aventuras no Novo Mundo, uma das primeiras descrições para o grande público acerca dos costumes dos indígenas sul-americanos.

O livro, intitulado "História Verdadeira e Descrição de uma Terra de Selvagens, Nus e Cruéis Comedores de Seres Humanos, Situada no Novo Mundo da América, Desconhecida antes e depois de Jesus Cristo nas Terras de Hessen até os Dois Últimos Anos, Visto que Hans Staden, de Homberg, em Hessen, a Conheceu por Experiência Própria e agora a Traz a Público com essa Impressão",[5] também conhecido pelo nome "Duas Viagens ao Brasil", foi publicado em Marburgo, na Alemanha, por Andres Colben em 1557 e "Impresso em Marburgo em papel quadrifólio de Andres Kolben na terça-feira de carnaval de 1557"[6] m

Tal livro conheceu sucessivas edições (inclusive falsificadas), constituindo-se num sucesso editorial devido às suas ilustrações de animais e plantas, além de descrições de rituais antropofágicos e costumes exóticos. Sendo, assim, um dos primeiros Best-Sellers da história em toda a Europa.

Para os estudiosos, a obra contém informações de interesse antropológico, sociológico, linguístico e cultural sobre a vida, os costumes e as crenças dos indígenas do litoral brasileiro na primeira metade do século XVI.

Imagens

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Tupinambás em gravura do século XVI.
 
Relevo de Staden em Homberg, sua cidade natal

Ver também

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Referências

  1. Hans Staden. «Duas Viagens ao Brasil». L&PM. Consultado em 19 de abril de 2019 
  2. STADEN, H. Duas viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p.162
  3. NAVARRO, E. A. Brasil - um História. Segunda edição. São Paulo: Ática, 2003. p. 46
  4. «Educaterra: HISTÓRIA - por Voltaire Schilling - As aventuras de Hans Staden». Dezembro de 2008. Consultado em 18 de dezembro de 2008 
  5. STADEN, H. Duas Viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 9
  6. STADEN, H. "Duas viagens ao Brasil". Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 181
  7. Brasiliana da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2001.

Bibliografia

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  • STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1974. 218 p. il.
  • Véritable histoire et description d'un pays habité par des hommes sauvages, nus, féroces et anthropophages: situé dans le Nouveau monde nommé Amérique, avant et depuis la naissance de Jésus-Christ, jusqu'à l'année dernière; Por Hans Staden, Johann von Staden; Publicado por A. Bertrand, 1837; 335 páginas
  • Viagem ao Brasil - Rio de Janeiro : Academia Brasileira, 1930. - 186 p. http://purl.pt/151
  • William Arens, The Man-Eating Myth: Anthropology & Anthropophagy (Oxford University Press, 1979), 22-31; Michaela Schmolz-Haberlein and Mark Haberlein, “Hans Staden, Neil L. Whitehead, and the Cultural Politics of Scholarly Publishing,” Hispanic American Historical Review 81, no. 3-4 (2001): 745-751.
  • Monteiro Lobato - As Aventuras de Hans Staden Companhia Editora Nacional · Editora Brasiliense · Editora Globo; Monteiro Lobato conta a aventura de Hans Staden narrada por Dona Benta.

Ligações externas

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