Imitation of Life (1934)
Imitation of Life (bra: Imitação da Vida; prt: Espelho da Vida)[2][3][4] é um filme estadunidense de 1934, do gênero drama romântico, dirigido por John M. Stahl, estrelado por Claudette Colbert, e co-estrelado por Warren William, Louise Beavers, Rochelle Hudson, Ned Sparks, Henry Armetta e Fredi Washington. O roteiro de William J. Hurlbut foi baseado no romance homônimo de 1933, de Fannie Hurst.[1]
Imitation of Life | |
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Cartaz promocional do filme. | |
No Brasil | Imitação da Vida |
Em Portugal | Espelho da Vida |
Estados Unidos 1934 • p&b • 111–116 min | |
Gênero | drama romântico |
Direção | John M. Stahl |
Produção | Carl Laemmle, Jr. |
Roteiro | William J. Hurlbut |
Baseado em | Imitation of Life romance de 1933 de Fannie Hurst |
Elenco | Claudette Colbert |
Música | Heinz Roemheld |
Cinematografia | Merritt B. Gerstad |
Direção de arte | Charles D. Hall |
Efeitos especiais | John P. Fulton |
Edição | Philip Cahn Maurice Wright |
Companhia(s) produtora(s) | Universal Pictures |
Distribuição | Universal Pictures |
Lançamento |
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Idioma | inglês |
O filme foi originalmente lançado pela Universal Pictures em 1934, mas foi relançado em 1936. A história foi refilmada em 1959 como uma produção homônima, dirigida por Douglas Sirk, e estrelada por Lana Turner, Juanita Moore e John Gavin.
A produção, ultrassentimental e datada, concentra-se no essencial do romance de Hurst, ao conjugar racismo, autoimposto sacrifício e amor materno.[5][6][7]
Em 2005, "Imitation of Life" foi selecionado para preservação no National Film Registry, seleção filmográfica da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, como sendo "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo".[8][9][10] Em 2007, a produção foi nomeada pela Time como um dos "25 filmes mais importantes sobre raça", como parte da celebração do Mês da História Negra da revista.[11]
Sinopse
editarBeatrice "Bea" Pullman (Claudette Colbert), branca e viúva, contrata a mulher negra Delilah Johnson (Louise Beavers) para trabalhar como empregada doméstica em sua casa. Elas acabam por montar um negócio juntas e, graças à receita de panquecas de Delilah, ficam ricas depois de dez anos. Entretanto, Bea arranja problemas com sua filha Jessie (Rochelle Hudson) quando as duas começam a disputar o coração do mesmo homem – Stephen "Steve" Archer (Warren William). Já os problemas de Delilah são outros: não bastasse toda a discriminação de que é vítima, ainda tem de se entender com a filha Peola (Fredi Washington), que não tolera a cor de sua pele e procura passar-se por uma mulher branca.
Elenco
editar- Claudette Colbert como Beatrice "Bea" Pullman
- Warren William como Stephen "Steve" Archer
- Louise Beavers como Delilah Johnson
- Rochelle Hudson como Jessie Pullman (aos 18 anos)
- Ned Sparks como Elmer Smith
- Henry Armetta como Pintor
- Fredi Washington como Peola Johnson (aos 19 anos)
- Dorothy Black como Peola Johnson (aos 9 anos)
- Marilyn Knowlden como Jessie Pullman (aos 8 anos)
- Juanita Quigley como Jessie Pullman (aos 3 anos)
- Alan Hale como Martin, o homem dos móveis
- Wyndham Standing como Jarvis, o mordomo de Beatrice
- Alma Tell como Sra. Craven (não-creditada)
- Franklin Pangborn como Sr. Craven (não-creditado)
Notas do elenco:
- A atriz-mirim Jane Withers teve um pequeno papel como uma colega de classe de Peola, em sua quinta aparição cinematográfica.
- Clarence Wilson aparece em um papel não-creditado como o proprietário do restaurante que Bea aluga.
Produção
editarA inspiração de Fannie Hurst para escrever seu romance "Imitation of Life" foi uma viagem ao Canadá que ela fez com sua amiga, a contista e folclorista negra Zora Neale Hurston. O título do romance era originalmente "Sugar House", mas foi alterado pouco antes de sua publicação.[12] Molly Hiro, da Universidade de Portland, escreveu que o roteiro do filme "seguiu de perto" o enredo do romance original.[13]
O roteiro, apesar de ter somente William J. Hurlbut creditado, recebeu a contribuição de outros oito escritores adicionais, entre eles Preston Sturges e Finley Peter Dunne.
A Universal conseguiu Warren William emprestado da Warner Bros. para o papel principal masculino, embora Paul Lukas tenha sido a primeira escolha.[14] Os pais da criança que fazia o papel de Jessie aos 3 anos de idade mudaram seu nome de "Baby Jane" para "Juanita Quigley" durante a produção do filme.[14] Claudette Colbert foi emprestada pela Paramount.[15]
A Universal também teve dificuldade em receber a aprovação dos censores do Código de Produção para o roteiro original do filme.[1] Joseph Breen se opôs aos elementos de miscigenação na história, o que "não apenas viola o Código de Produção, mas é muito perigoso do ponto de vista tanto da indústria quanto da política pública".[14] Ele rejeitou o projeto, escrevendo: "O romance de Hurst que trata de uma garota parcialmente negra que quer se passar por branca viola a cláusula que cobre a miscigenação em espírito, se não de fato!"[16] Os censores da Administração do Código de Produção (PCA) tiveram dificuldade em "negociar como os limites da diferença racial deveriam ser construídos cinematograficamente para serem vistos e acreditados na tela".[16]
A preocupação deles era a personagem Peola, cuja miscigenação era representada por uma jovem considerada negra, mas com suficiente ascendência branca para se passar por uma pessoa branca e que deseja fazer isso. Susan Courtney afirmou que o PCA participou "da vontade contínua de Hollywood de refazer o desejo interracial, um fato histórico, já que isso sempre foi um tabu".[16] Além disso, ela explicou o dilema imaginado pelos censores: "o PCA interpreta a pele clara de Peola e sua passabilidade como algo significante da 'miscigenação'. Ao fundir miscigenação e passabilidade desta forma, os censores tentam efetivamente estender a proibição do Código ao desejo através das fronteiras raciais de negros e brancos para incluir também uma proibição de identificação através dessas fronteiras".[16]
Eles também se opuseram a certas palavras presentes no roteiro e a uma cena em que um jovem negro é quase linchado por se aproximar de uma mulher branca que ele estar flertando com ele. Breen continuou a se recusar a aprovar o roteiro até 17 de julho, quando o diretor já estava filmando o filme há duas semanas.[14] Em última análise, o final do filme foi diferente do romance. Enquanto na história original Peola sai de sua cidade para nunca mais voltar, no filme ela retorna para casa e demonstra remorso. Uma cena declarada por Hiro como "virtualmente idêntica" foi usada na segunda adaptação cinematográfica.[13]
"Imitation of Life" esteve em produção de 27 de junho a 11 de setembro de 1934, e foi lançado em 26 de novembro daquele ano.[17]
Todas as versões do filme lançadas pela Universal após 1938, incluindo versões para TV, VHS e DVD, apresentam títulos refeitos no lugar dos originais. Faltando em todas essas impressões está um título com um breve prólogo, que foi incluído no lançamento original. Nele dizia:
"Atlantic City, em 1919, não era apenas um calçadão, cadeiras de rodas e hotéis caros onde casais de noivos passavam a lua de mel. A poucos quarteirões da alegria do famoso calçadão, cidadãos permanentes da cidade viviam, trabalhavam e criavam famílias exatamente como as pessoas em cidades menos glamorosas".[18]
A cena em que Elmer aborda Bea com a ideia de vender a receita de panquecas de Delilah para clientes de varejo refere-se a uma lenda sobre as origens do sucesso da Coca-Cola. A cena ficou conhecida por fortalecer a lenda urbana sobre o segredo do sucesso da Coca-Cola – isto é, "engarrafá-la".[19]
Temas
editarJeff Stafford, do Turner Classic Movies, observou que este filme "estava à frente de seu tempo ao apresentar mulheres solteiras como empreendedoras de sucesso em um negócio tradicionalmente administrado por homens".[12]
Os temas do filme, aos olhos modernos, tratam de questões muito importantes – a passabilidade, o papel da cor da pele na comunidade negra e as tensões entre seus membros de pele clara e de pele escura, o papel de trabalhadores negros em famílias brancas, e carinho materno.
Algumas cenas parecem ter sido filmadas para destacar a injustiça fundamental da posição social de Delilah – por exemplo, enquanto morava na fabulosa mansão de Bea em Nova Iorque, Delilah descia escadas sombrias até o porão onde ficava seu quarto. Bea, vestida com as últimas tendências da moda, sobe as escadas até seu quarto, cujo luxo foi construído a partir do sucesso da receita de Delilah. Outras destacam as semelhanças entre as duas mães, que adoram as filhas e ficam tristes com suas ações irresponsáveis. Algumas cenas parecem zombar de Delilah, por sua suposta ignorância sobre seus interesses financeiros e sua disposição em desempenhar um papel coadjuvante, mesmo que as duas mulheres tenham construído juntas um negócio independente. Ao morrer e após sua morte – especialmente com a longa procissão retratando dignamente a comunidade negra – Delilah é tratada com grande respeito.
De acordo com Jean-Pierre Coursodon em sua resenha sobre John M. Stahl em "American Directors":
"Fredi Washington ... supostamente recebeu uma grande quantidade de cartas de jovens negros agradecendo-lhe por ter expressado tão bem suas preocupações e contradições íntimas. Pode-se acrescentar que o filme de Stahl foi um tanto único ao escalar uma atriz negra para esse tipo de papel – que se tornaria uma espécie de estereótipo em Hollywood".[12]
Filmes posteriores que retrataram mulheres negras, incluindo a refilmagem homônima de 1959, muitas vezes escalaram mulheres brancas para esses papéis.[12]
Recepção
editarApós seu lançamento, a revista Variety observou: "[A] parte mais cativante da produção e que ofusca o romance convencional ... é a tragédia da filha de Delilah, nascida de pele branca e sangue negro. Este assunto nunca foi tratado na tela antes ... Parece muito provável que o filme ligeiramente contribua na promoção de maior tolerância e humanidade na questão racial".[1] "A produção é roubada por uma mulher negra, Beavers, cuja atuação é magistral. Esta senhora sabe atuar. Ela abrange toda a gama de emoções humanas, da alegria à angústia, e nunca soa falsa".[20]
A revista Literary Digest notou: "Em Imitation of Life, a tela é extremamente cuidadosa ao evitar seu tema mais dramático, obviamente por temer suas implicações sociais ... A verdadeira história [é] ... a da bela e rebelde filha da leal amiga negra ... Obviamente, ela é a pessoa mais interessante do elenco. Eles [os produtores] parecem gostar da mãe dela, porque ela é do tipo dócil dos negros à moda antiga, que, como dizem, 'conhecem o seu lugar', mas a filha é muito amarga e desprovida de resignação para eles".[1]
Molly Hiro escreveu que o filme serviu "como um melodrama clássico" que usava um "modo melodramático" e por isso ganhou a reputação de que na cena final "todo mundo chora".[21]
Jeff Stafford, do Turner Classic Movies, observando que "Imitation of Life é certamente uma das melhores performances [de Beavers] e deveria ter sido indicada ao Oscar", relembrou que, quando a produção foi lançada, "O colunista Jimmy Fiddler [sic] foi um dos muitos que se opuseram a esse descuido e escreveu: 'Lamento também o fato da indústria cinematográfica não ter deixado de lado o preconceito racial ao indicar atrizes. Não vejo como é possível ignorar a magnífica atuação da atriz negra Louise Beavers, que interpretou a mãe em Imitation of Life. Se a indústria decidir ignorar o desempenho da Srta. Beavers, por favor, deixe este repórter, nascido e criado no sul, oferecer um prêmio especial de elogios a Louise Beavers pelo melhor desempenho de 1934".[12]
No Rotten Tomatoes, site agregador de críticas, o filme detém uma classificação média de 88%, baseada em 56 críticas. O consenso geral do site diz: "Imitation of Life nem sempre é sutil, mas mesmo que toque as cordas do coração, este melodrama socialmente consciente explora efetivamente os tabus raciais da era Jim Crow".[22]
Prêmios e homenagens
editarAno | Cerimônia | Categoria | Indicado | Resultado |
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1935 | Oscar[23][24] | Melhor filme | Carl Laemmle, Jr. (para a Universal Pictures) | Indicado |
Melhor diretor assistente | Scott R. Beal | |||
Melhor som | Theodore Soderberg | |||
2005 | National Film Preservation Board | National Film Registry | Introduzido |
Bibliografia
editar- Rodríquez-Estrada, Alicia I. (2003). «De Peola a Carmen: Fredi Washington, Dorothy Dandridge e o retrato da mulata trágica em Hollywood». In: Taylor, Quintard; Moore, Shirley Ann Wilson. African American Women Confront the West, 1600–2000. Norman: University of Oklahoma Press. pp. 230–247. ISBN 978-0-8061-3524-3
- Hiro, Molly (inverno de 2010). «"Tain't no tragedy unless you make it one": Imitation of Life, Melodrama, and the Mulatta». Arizona Quarterly: A Journal of American Literature, Culture, and Theory. 66 4 ed. Johns Hopkins University Press. pp. 93–113
Referências
- ↑ a b c d e «The First 100 Years 1893–1993: Imitation of Life (1934)». American Film Institute Catalog. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ «Imitação da Vida (1934)». Brasil: CinePlayers. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ «Espelho da Vida (1934)». Portugal: SapoMag. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ «Espelho da Vida (1934)». Portugal: Público. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ MALTIN, Leonard. Classic Movie Guide, segunda edição, Nova Iorque: Plume, 2010 (em inglês)
- ↑ HIRSCHHORN, Clive. The Universal Story, Londres: Octopus Books, 1986 (em inglês)
- ↑ Gomes de Mattos, Antonio Carlos (1991). Hollywood Anos 30. Rio de Janeiro: EBAL
- ↑ «Librarian of Congress Adds 25 Films to National Film Registry». Library of Congress. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ «Complete National Film Registry Listing». Library of Congress. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ Petty, Miriam J. (10 de janeiro de 2023). «Imitation of Life: On Passing Between». The Criterion Collection (em inglês). Consultado em 11 de setembro de 2023
- ↑ «The 25 Most Important Films on Race». Internet Archive. Time. Consultado em 8 de setembro de 2023
- ↑ a b c d e Jeff Stafford. «Imitation of Life». Turner Classic Movies. Atlanta: Turner Broadcasting System (Time Warner). Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ a b Hiro, p. 94.
- ↑ a b c d Jeff Stafford. «Imitation of Life – Notes». Turner Classic Movies. Atlanta: Turner Broadcasting System (Time Warner). Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ QUINLAN, David, The Illustrated Guide to Film Directors, Londres: Batsford, 1983 (em inglês)
- ↑ a b c d Courtney, "Picturizing Race: Hollywood's Censorship of Miscegenation and Production of Racial Visibility through Imitation of Life" Arquivado em 2013-05-30 no Wayback Machine, Genders, Vol. 27, 1998. Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ Jeff Stafford. «Imitation of Life – Overview». Turner Classic Movies. Atlanta: Turner Broadcasting System (Time Warner). Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ Butler, Jeremy (27 de abril de 2006). «Imitation of Life (1934)». tvcrit.org. Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ Mikkelson, Barbara; Mikkelson, David (10 de outubro de 2005). «Did a Stranger Sell Coca-Cola the Idea to Bottle Their Drink?». Snopes. Consultado em 9 de setembro de 2023
- ↑ «Imitation of Life (1934)». Variety (em inglês). 1 de janeiro de 1934. Consultado em 11 de setembro de 2023
- ↑ Hiro, p. 96.
- ↑ «Imitation of Life (1934)». Rotten Tomatoes. Fandango Media. Consultado em 11 de setembro de 2023
- ↑ «The 7th Academy Awards (1935) | Nominees and Winners». Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Consultado em 11 de setembro de 2023
- ↑ «7.º Oscar - 1935». CinePlayers. Consultado em 11 de setembro de 2023