Joana d'Arc

Santa da Igreja Católica e heroína da França
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 Nota: Para outros significados, veja Joana d'Arc (desambiguação).

Joana d’Arc (em francês: Jeanne d’Arc, IPA: [ʒan daʁk]; em francês médio: Jehanne Darc, IPA: [ʒəˈãnə ˈdark]; Domrémy-la-Pucelle, ca. 1412Ruão, 30 de maio de 1431) foi uma camponesa e santa francesa canonizada pela Igreja Católica, considerada uma heroína da França pelos seus feitos durante a Guerra dos Cem Anos. Nasceu filha de Jacques d’Arc e Isabelle Romée, numa família camponesa, em Domrémy no nordeste da França. Joana alegava receber visões divinas do arcanjo Miguel, de Santa Margarida e da Santa Catarina, que a instruíram a ajudar as forças de Carlos VII e livrar a França do domínio da Inglaterra. O não coroado Carlos VII enviou Joana junto com um exército para tentar solucionar o Cerco de Orleães.[8] Após apenas nove dias de ação, a batalha terminou com um resultado favorável aos franceses e Orleães foi libertada, elevando assim a reputação de Joana a condição de heroína nacional aos olhos do povo francês. Seguiu-se uma série de vitórias militares para as forças de Carlos VII, que permitiram sua coroação como rei na Catedral de Reims. Como resultado, a moral da população francesa melhorou e a maré da Guerra dos Cem Anos começou a virar em favor dos franceses.

Joana d’Arc
Joana d'Arc
Miniatura (século XIX ou XX)[1]
Virgem d'Orleães e Mártir
Nascimento c. 1412 (612 anos)[2][3][4][5]
Domrémy-la-Pucelle, Lorena, Reino da França[6]
Morte 30 de maio de 1431 (19 anos)
Ruão, Alta Normandia
Reino da França (sob domínio inglês)
Progenitores Mãe: Isabelle Romée
Pai: Jacques d'Arc
Veneração por Igreja Católica
Comunhão Anglicana[7]
Beatificação 18 de abril de 1909
Notre Dame de Paris
por Papa Pio X
Canonização 16 de maio de 1920
Basílica de São Pedro, Roma
por Papa Bento XV
Festa litúrgica 30 de maio
Atribuições armadura, bandeira, espada
Padroeira França; mártires; cativos; pessoa militar; pessoas ridiculizadas por sua piedade; prisioneiros e soldados
Portal dos Santos

Após o fracassado Cerco de Paris, contudo, a popularidade de Joana dentre a nobreza francesa despencou. Em 23 de maio de 1430, ela foi capturada em Compiègne pelos Borguinhões, um grupo de franceses que apoiavam os ingleses. Eles a entregaram nas mãos do governo da Inglaterra,[9] que colocaram seu julgamento nas mãos do bispo Pierre Cauchon, jogando contra ela diversas acusações de cunho religioso.[10] Cauchon a declarou culpada e ela foi sentenciada à morte na fogueira. Joana foi executada em 30 de maio de 1431, aos 19 anos de idade. Sua morte, contudo, a elevou aos status de mártir e fez aumentar o fervor patriótico francês contra os ingleses.[11]

Em 1456, um tribunal inquisitorial foi autorizado pelo Papa Calisto III para examinar seu julgamento, esmiuçando suas acusações e proclamando sua inocência, formalmente declarando Joana como uma mártir da igreja.[11] No século XVI ela foi usada como símbolo pela Liga Católica contra os protestantes e, em 1803, Joana foi oficialmente declarada como um símbolo nacional da França por decisão do imperador Napoleão Bonaparte.[12] Ela foi beatificada em 1909 e canonizada em 1920 pelo Vaticano.

Joana d'Arc é atualmente uma dos nove padroeiros da França. Ela permanece uma figura popular no país e pelo mundo, sendo retratada em inúmeras peças de literatura, pinturas, esculturas e outras formas de arte, sendo figura central no trabalho de vários escritores, artistas, cineastas e compositores famosos.

O nome de Joana d'Arc foi escrito de várias maneiras. Não há uma grafia padrão para seu nome antes do século XVI; seu sobrenome era geralmente escrito como "Darc" sem apóstrofo, mas há variantes como "Tarc", "Dart" ou "Day". O nome de seu pai foi escrito como "Tart" em seu julgamento.[13] Ela era chamada de "Jeanne d'Ay de Domrémy" em uma carta de Carlos VII, de 1429, concedendo-lhe um brasão.[14] Joana pode nunca ter ouvido ser chamada de "Jeanne d'Arc". O primeiro registro escrito de que ela foi chamada por esse nome é de 1455, 24 anos após sua morte.[13]

Ela não foi ensinada a ler e escrever na infância[15] e suas cartas foram todas ditadas para uma outra pessoa escrever.[16] Mais tarde, ela pode ter aprendido a assinar seu nome, já que algumas de suas cartas são assinadas e pode até ter aprendido a ler.[17] Joana referia-se a si mesma nas cartas como Jeanne la Pucelle ("Joana, a Donzela") ou la Pucelle ("a Donzela"), enfatizando sua virgindade, e ela assinou "Jehanne". No século XVI, ela ficou conhecida como a "Donzela de Orleans".[16]

Primeiros anos

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Pintura da aparição de São Miguel Arcanjo e de Santa Catarina de Alexandria à jovem Joana d'Arc

Joana nasceu em Domrémy, em uma pequena vila na região do vale de Meuse, na região de Lorena, no leste da França. Posteriormente a cidade foi renomeada como Domrémy-la-Pucelle em sua homenagem (pucelle sendo traduzido como "donzela" em português). A data de seu nascimento é imprecisa; de acordo com seu interrogatório em 24 de fevereiro de 1431, Joana teria dito que na época tinha 19 anos portanto teria provavelmente nascido em 1412 (não se sabe a idade correta de Joana pois naquela época não se importavam com a idade exata, por isso o termo certo a usar seria "mais ou menos". Joana declarou uma vez que, quando perguntada sobre sua idade, "tenho 19 anos, mais ou menos").[18]

Filha de Jacques d'Arc e Isabelle Romée, tinha mais quatro irmãos: Jacques, Catherine, Jean e Pierre, sendo ela a mais nova dos irmãos. Seus pais eram agricultores e de vez em quando artesãos. Joana também era muito religiosa, ia muito à igreja e frequentemente fugia do campo para ir orar na igreja de sua cidade.

Em seu julgamento, Joana afirmou que desde os treze anos ouvia vozes divinas. Segundo ela, a primeira vez que escutou a voz, ela vinha da direção da igreja e acompanhada de claridade e uma sensação de medo. Dizia que às vezes não a entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu estavam conselhos para frequentar a igreja, que deveria ir a Paris e que deveria levantar o domínio que havia na cidade de Orléans. Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.

A Guerra dos Cem Anos

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 Ver artigo principal: Guerra dos Cem Anos

Desde que o Duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, se apoderou da Inglaterra em 1066, os monarcas ingleses passaram a controlar extensas terras no território francês. Com o tempo, passaram a ter vários ducados franceses: Aquitânia, Gasconha, Poitou, Normandia, entre outros. Os duques, apesar de vassalos do rei francês, acabaram tornando-se seus rivais.

Quando a França tentou recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra, originou-se um dos mais longos e sangrentos conflitos da história da humanidade: a Guerra dos Cem Anos, que durou na realidade 116 anos, e que provocou milhões de mortes e a destruição de quase toda a França setentrional.

O início da guerra aconteceu em 1337. Os interesses mais que evidentes de unificar as coroas concretizaram-se na morte do rei francês Carlos IV em 1328. Filipe VI, sucessor graças à lei sálica (Carlos IV não tinha descendentes masculinos), proclamou-se rei da França em 27 de maio de 1328.

Felipe VI reclamou em 1337 o feudo da Gasconha ao rei inglês Eduardo III, e no dia 1 de novembro este responde plantando-se às portas de Paris mediante ao bispo de Lincoln, declarando que ele era o candidato adequado para ocupar o trono francês.

A Inglaterra ganharia batalhas como as de Crécy (1346) e Poitiers (1356). Uma grave enfermidade do rei francês originou uma luta pelo poder entre seu primo João I de Borgonha ou João sem Medo, e o irmão de Carlos VI, Luís de Orléans.

No dia 23 de novembro de 1407, nas ruas de Paris e por ordem dos Borguinhões, se comete o assassinato do Armagnac Luís de Orléans. A família real francesa estava dividida entre os que davam suporte ao duque de Borgonha (Borguinhões) e os que o davam ao de Orléans e depois a Carlos VII, Delfim de França (Armagnacs ligados à causa de Orléans e à morte de Luís). Com o assassinato do Armagnac, ambos os bandos se enfrentaram numa guerra civil, onde buscaram o apoio dos ingleses. Os partidários do Duque de Orléans, em 1414, viram recusada uma proposta pelos ingleses, que finalmente pactuaram com os Borguinhões.

Com a morte de Carlos VI, em 1422, Henrique VI da Inglaterra foi coroado rei francês, mas os Armagnacs não desistiram e mantiveram-se fiéis ao filho do rei, Carlos VII, coroando-o também em 1422.

Encontro com Carlos

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Joana reconhece o rei Carlos VII em Chinon

Aos 16 anos, Joana foi a Vaucouleurs, cidade vizinha a Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt, capitão da guarnição de Armagnac, estabelecida em Vaucouleurs, para lhe ceder uma escolta até Chinon, onde estava o delfim, já que teria que atravessar todo o território hostil defendido pelos ingleses e Borguinhões. Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la escoltada até o delfim. A escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de fevereiro de 1429. Entre os seis homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont (conhecido como Jean de Metz). Jean esteve presente em todas as batalhas posteriores de Joana d'Arc.

Portando roupas masculinas até sua morte, Joana atravessou as terras dominadas por Borguinhões (um ducado francês simpático aos ingleses), chegando a Chinon, onde finalmente iria se encontrar com Carlos, após uma apresentação de uma carta enviada por Baudricourt.

Chegando a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém o delfim tinha ainda desconfianças sobre a moça. Decidiram passá-la por algumas provas. Segundo a lenda, com medo de apresentar o delfim diante de uma desconhecida que talvez pudesse matá-lo, eles decidiram ocultar Carlos em uma sala cheia de nobres ao recebê-la. Joana então teria reconhecido o rei disfarçado entre os nobres sem que jamais o tivesse visto antes. Joana teria ido até ao verdadeiro rei, se curvado e dito: "Senhor, vim conduzir os seus exércitos à vitória". A reunião entre ela e Carlos teria acontecido entre fevereiro e março de 1429, sendo que na época Joana tinha por volta de 17 anos de idade.[19][20]

Sozinha na presença do rei, ela o convenceu a lhe entregar um exército com o intuito de libertar Orléans. Porém, o rei ainda a fez passar por provas diante dos teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers submeteram-na a um interrogatório, averiguaram sua virgindade e suas intenções. Convencido do discurso de Joana, o Delfim entrega-lhe às mãos uma espada, um estandarte e a autorizou a acompanhar as tropas francesas que seguiam rumo à libertação da cidade de Orléans, que havia sido invadida e cercada pelos ingleses havia oito meses.

Campanhas militares

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Pintura romântica de Joana D'Arc na Batalha de Orleães

Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orleães em 29 de abril de 1429. O nível de participação dela nas campanhas ou em decisões de comando é motivo de debate entre os historiadores. Segundo relatos de oficiais franceses da época, Joana não teria lutado pessoalmente mas havia ficado muito próximo de onde a batalha acontecia, encorajando os homens. Ela também participava dos conselhos de guerra dos generais, que frequentemente ouviam o que ela tinha a dizer (possivelmente acreditando que suas instruções tinham origem divina). Sob seu estandarte, o exército de 4 000 homens derrotaram os ingleses em batalha e romperam o cerco a Orleães a 8 de maio de 1429. A presença de Joana é creditada como fundamental para a vitória, dando coragem e força aos soldados. Os franceses estavam pressionando Orleães havia quase oito meses e não conseguiam superar as defesas inglesas. Porém, com Joana ao seu lado, o fervor religioso e patriótico reascendeu nas tropas e os conduziu a vitória.[21]

Existem histórias paralelas a esta que informam que a figura de Joana era diferente. Ela teria chegado para a batalha em um cavalo branco, armadura de aço e segurando um estandarte com a cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus e Maria. Segundo esta outra versão, Joana teria sido apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural de seus sonhos e proposta de missão a cumprir segundo a vontade divina e sem saber nada sobre arte de guerra comandou os soldados rudes, com ar angelical e, em sua presença, ninguém se atrevia a dizer ou praticar inconveniências. Ela apresentava-se extremamente disciplinada.[22]

Após a vitória em Orleães, os ingleses pensaram que os franceses iriam tentar reconquistar Paris ou a Normandia, mas ao invés disto, Joana convenceu o Delfim a iniciar uma campanha ao longo do rio Loire. Isso era uma estratégia de Joana para conduzir o Delfim a cidade de Ruão.[23]

Joana dirigiu-se a vários pontos fortificados sobre pontes ao longo do rio Loire. Em 11 e 12 de junho de 1429 participou da vitória francesa na batalha de Jargeau. No dia 15 de junho, foi a vez da batalha de Meung-sur-Loire ser travada. A terceira vitória foi em Beaugency, nos dias 16 e 17 de junho do mesmo ano. Um dia após sua última vitória se dirigiu a Patay, onde sua participação foi pouca. A luta na região, única batalha em campo aberto, já se desenrolava sem a presença de Joana d'Arc.[21]

Coroação de Carlos

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Coroação de Carlos VII

Cerca de um mês após sua vitória sobre os ingleses em Orleães, ela conduziu o Delfim Carlos VII à cidade de Reims, onde foi coroado rei da França em 17 de julho de 1429. A vitória de Joana d'Arc e a coroação do rei acabaram por reacender as esperanças dos franceses de se libertarem do domínio inglês e representaram a virada da guerra.

O caminho até Reims era considerado difícil, já que várias cidades estavam sob o domínio dos Borguinhões. Porém, a fama de Joana tinha se estendido por boa parte do território e fez com que o exército Armagnac do delfim fosse temido. Assim, Joana passou sem problemas por sucessivas cidades como Gien, Saint Fargeau, Mézilles, Auxerre, Saint Florentin e Saint Paul.

Desde Gien, foram enviados convites a diversas autoridades para assistir à consagração do delfim. Em Auxerre chegou-se a pensar em resistência por parte de uma pequena tropa inimiga que se encontrava na cidade. Após três dias de negociação foi possível por lá passar sem qualquer problema. O mesmo aconteceu em Troyes, onde as negociações duraram cinco dias. A chegada a Reims foi em 16 de julho.

Sabe-se que o dia da consagração definitiva do rei francês na Catedral de Reims foi em 17 de julho e não foi a cerimônia mais esplêndida do momento, já que as circunstâncias da guerra impediam que o fosse. Joana assistiu à consagração de uma posição privilegiada, acompanhada de seu estandarte.

 
Estátua de Joana d'Arc na Catedral de Notre-Dame de Paris

Teoricamente Joana já não tinha mais o que fazer no exército, já que havia cumprido sua promessa perfeitamente e havia seguido corretamente as ordens que, segundo ela, as vozes lhe haviam dado. Mas Joana, como muitos outros, viu que enquanto a cidade de Paris estivesse tomada pelas tropas inglesas, dificilmente o novo rei poderia ter claramente o controle do Reino da França.

No mesmo dia da coroação, chegaram emissários do Duque de Borgonha e se iniciaram as negociações para se chegar a paz, ou a uma trégua, que foi finalmente o que se pactuou. Não foi a paz que Joana desejava, mas pelo menos ela houve durante quinze dias. Entretanto a trégua não foi gratuita, já que houve interesses políticos por trás desta. Carlos VII necessitava tomar Paris para exercer sua autoridade de rei mas não queria criar uma imagem ruim com uma conquista violenta de terras que passariam a ser seu domínio. Foi isto que o motivou a firmar a trégua com o Duque de Borgonha, como uma necessidade de ganhar tempo.[24]

Durante a trégua, Carlos VII levou seu exército até Ilha de França (região francesa que abriga Paris). Houve alguns enfrentamentos entre os Armagnacs e a aliança inglesa com os Borguinhões. Os ingleses abandonaram Paris, dirigindo-se a Ruão (ou Rouen em francês). Restava então derrotar os Borguinhões que ainda ficaram em Paris e nas regiões vizinhas.

Joana foi ferida por uma flecha durante uma tentativa de entrar em Paris. Isto acelerou a decisão do rei em bater em retirada no dia 10 de setembro de 1429. Com a parada, o rei francês não expressava a intenção de abandonar definitivamente a luta, mas optava por repensar sua estratégia e defender a opção de conquistar a vitória mediante a paz, tratados e outras oportunidades no futuro.

O fim de Joana d'Arc

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A captura

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Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne. Durante um ataque ao campo de Margny, controlado pelos Borguinhões, franceses aliados dos ingleses, Joana acabou sendo presa em 23 de Maio de 1430. Entre os dias 23 e 27 foi conduzida ao castelo de Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias 27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha, Filipe III. Naquele momento Joana era propriedade do Duque de Luxemburgo. Ela foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque de Luxemburgo negociava sua venda. Ao vendê-la aos ingleses, Joana foi transferida a Ruão.[25]

O processo em Ruão

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Pintura histórica por Paul Delaroche mostrando o cardeal Henrique Beaufort interrogando Joana d'Arc na prisão

Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera em sua primeira prisão, Joana agora vivia seus piores tempos.

O processo contra Joana teve início no dia 9 de janeiro de 1431, sendo chefiado pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon. Foi um processo que passaria à posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se desenvolveu e trouxe o final da jovem, e da lenda que ainda nos dias de hoje mescla realidade com fantasia.

Dez sessões foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

No dia 21 de fevereiro, Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela se negou a fazer o juramento da verdade, mas logo o fez. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos. No dia 27 e 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, e que depois foram resumidos a 12, mais precisamente no dia 5 de abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a Donzela buscando sua condenação.

No mesmo dia 5, Joana começou a perder saúde por causa de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planejavam executá-la.

Durante a visita do médico, Jean d’Estivet acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometer suicídio. No dia 18 de abril, quando finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar.

Os ingleses impacientaram-se com a demora do julgamento. O conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava demorando muito. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar por sua liberdade se ela prometesse não atacar mais os ingleses. A partir do dia 23 de maio, as coisas se aceleraram, e no dia 29 de maio, ela foi condenada por heresia.

 
Joana d'Arc sendo queimada viva

Joana foi queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos. A cerimónia de execução aconteceu na Praça do Velho Mercado (Place du Vieux Marché), às 9 horas, em Ruão.

Antes da execução ela se confessou com Jean Totmouille e Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de pessoas, e foi colocada na plataforma montada para sua execução. Após lerem o seu veredito, Joana foi queimada viva. Suas cinzas foram jogadas no rio Sena, para que não se tornassem objeto de veneração pública.[26]

Após a morte de Joana d'Arc

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A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o processo que a condenou foi considerado inválido, e em 1909 a Igreja Católica autoriza sua beatificação. Em 1920, Joana d'Arc é canonizada pelo Papa Bento XV.

Uma outra versão informa que vinte anos após a sua condenação à fogueira, a mãe[27] de Joana d'Arc pediu que o papa da época, Calisto III, autorizasse uma comissão que, numa pesquisa serena e profunda, reconheceu a nulidade do processo por vício de forma e de conteúdo. Joana d´Arc desta maneira teve sua honra reabilitada, e o nome feiticeira, e bruxa foi apagado para que ela fosse reconhecida por suas virtudes heroicas, provenientes de uma missão divina.

Ela foi proclamada Mártir pela Pátria e da Fé.[28]

Santa Joana é sincretizada nas religiões afro-brasileiras com a orixá Obá.[29]

Legado

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Uma gravura de Joana d'Arc, de 1903

Joana d'Arc se tornou uma figura semilendária nos quatro séculos após sua morte. As principais fontes de informação sobre ela eram crônicas. Cinco manuscritos originais de seu julgamento de condenação surgiram em arquivos antigos durante o século XIX. Logo, os historiadores também localizaram os registros completos de seu julgamento de reabilitação, que continha testemunho juramentado de 115 testemunhas, e as notas originais em francês da transcrição do julgamento de condenação em latim. Várias cartas contemporâneas também surgiram, três das quais carregam a assinatura Jehanne na mão instável de uma pessoa aprendendo a escrever. Essa riqueza incomum de material de fonte primária é uma das razões pelas quais DeVries declara: "Nenhuma pessoa da Idade Média, homem ou mulher, foi objeto de mais estudos".

Joana d'Arc veio de uma vila obscura e ganhou destaque quando adolescente, e o fez como camponesa sem instrução. Os reis franceses e ingleses justificaram a guerra em andamento através de interpretações concorrentes da lei de herança, primeiro a respeito da reivindicação de Eduardo III ao trono francês e depois da de Henrique VI. O conflito havia sido uma disputa legalista entre duas famílias reais relacionadas, mas Joana o transformou em linhas religiosas e deu sentido a recursos como o do escudeiro Jean de Metz quando perguntou: "O rei deve ser expulso do reino; e somos nós ser inglês?".[30] Nas palavras de Stephen Richey, "ela transformou o que havia sido uma disputa dinástica seca que deixou as pessoas comuns indiferentes, exceto por seu próprio sofrimento, em uma apaixonadamente popular guerra de libertação nacional".[31] Richey também expressa a amplitude de seu apelo subsequente:

 
Estátua de Joana d'Arc em Orléans, por Denis Foyatier, 1855
As pessoas que a perseguiram nos cinco séculos desde sua morte tentaram fazer de tudo: ferramenta fanática demoníaca, mística espiritual, ingênua e tragicamente mal utilizada do poderoso, criador e ícone do nacionalismo popular moderno, heroína adorada, santa. Ela insistiu, mesmo quando ameaçada de tortura e confrontada com a morte pelo fogo, que era guiada por vozes de Deus. Com vozes ou sem voz, suas realizações deixam qualquer um que conhece sua história balançando a cabeça com espanto espantado.

De Christine de Pizan até o presente, as mulheres olham para Joana como um exemplo positivo de uma mulher corajosa e ativa.[32] Ela operava dentro de uma tradição religiosa que acreditava que uma pessoa excepcional de qualquer nível da sociedade poderia receber um chamado divino. Parte de sua ajuda mais significativa veio de mulheres. A sogra do rei Carlos VII, Yolande de Aragão, confirmou a virgindade de Joana e financiou sua partida para Orléans. Joana do Luxemburgo, tia do conde do Luxemburgo que a mantinha sob custódia depois de Compiègne, aliviou suas condições de cativeiro e pode ter adiado sua venda para os ingleses. Finalmente, Ana da Borgonha, a duquesa de Bedford e esposa do regente da Inglaterra, declarou Joana virgem durante as investigações pré-julgamento.[33]

Três navios separados da Marinha Francesa foram nomeados em homenagem a ela, incluindo um porta-helicópteros que foi retirado do serviço ativo em 7 de junho de 2010. Atualmente, o partido político de extrema-direita francês Front National realiza comícios em suas estátuas, reproduz sua imagem em publicações do partido, e usa uma chama tricolor parcialmente simbólica de seu martírio como seu emblema. Às vezes, os oponentes deste partido satirizam sua apropriação de sua imagem. O feriado cívico francês em sua homenagem, estabelecido em 1920, é o segundo domingo de maio.[34]

As músicas da Primeira Guerra Mundial incluem "Joana d'Arc, estão chamando você" e "Canção de resposta de Joana d'Arc".[35]

Relíquias

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Jeanne d'Arc, autor desconhecido, c. 1580

As chamadas relíquias de Joana d'Arc são mantidas no museu de arte e história Chinon. Propriedades do arcebispado de Tours, eles foram depositados neste museu em 1963. O frasco de vidro que os contém foi descoberto em Paris, em 1867, no sótão de uma farmácia, localizada na rue du Temple, de um estudante de farmácia, M. Noblet. O pergaminho que fechava a abertura do frasco trazia a menção: "Restos encontrados sob a pira de Joana d'Arc, virgem de Orleães".

A jarra contém uma costela humana de dez centímetros de comprimento, coberta por uma camada enegrecida, um pedaço de tecido de linho com cerca de quinze centímetros de comprimento, o fêmur de um gato e fragmentos de carvão.

Uma análise microscópica e química do fragmento de costela mostra que ela não foi queimada, mas impregnada com uma planta e um produto mineral de cor preta. Sua composição é mais parecida com a de betume ou piche do que com resíduos orgânicos de origem humana ou animal, reduzidos ao estado de carbono por cremação.

Os “narizes” de grandes perfumistas (Guerlain e Jean Patou) detectaram notavelmente no pedaço de costela um cheiro de baunilha. Agora, este perfume pode ser produzido pela "decomposição de um corpo", como no caso da mumificação, mas não pela sua cremação.

Vestuário

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Joana d'Arc na coroação de Carlos VII, de Ingres (1854), é um exemplo notável das tentativas para feminilizar sua aparência. No trabalho, observa-se os cabelos longos e a saia em torno da armadura

Joana d'Arc usava roupas masculinas desde o momento da sua partida de Vaucouleurs até sua abjuração em Rouen.[36] Isto motivou debates teológicos em sua própria época e levantou outras questões também no século XX. A razão técnica para a sua execução foi uma lei sobre roupas bíblicas.[37] O segundo julgamento reverteu a condenação em parte porque o processo de condenação não tinha considerado as exceções doutrinárias referentes a esse texto.

Em termos de doutrina, ela era prudente ao se disfarçar como um escudeiro durante uma viagem através de território inimigo, e era cautelosa ao usar armadura durante a batalha. O Chronique de la Pucelle afirma que isso dissuadiu abuso sexual, enquanto ela estava acampada nas batalhas. O clérigo que testemunhou em seu segundo julgamento afirmou que ela continuava a vestir roupas do sexo masculino na prisão para deter molestamentos e estupro.[38] A preservação da castidade foi outro motivo justificável para travestir-se: suas roupas teriam atrasado um assaltante, e os homens estariam menos propensos a pensar nela como um objeto sexual em qualquer caso.[a]

A espada

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A espada que acompanhou Joana d'Arc durante todas as suas batalhas foi descoberta sob sua indicação sob as lajes da igreja de Sainte-Catherine-de-Fierbois (Indre-et-Loire), entre outras espadas enterradas por soldados de passagem. Esta espada muito antiga foi decorada com cinco cruzes. A ferrugem que a cobria desapareceria assim que Joana d'Arc tivesse a espada na mão.

Jean Chartier, no Journal of the seat e Chronicle of the Maid, menciona a espada e as circunstâncias de sua aquisição pela empregada doméstica: o rei queria lhe dar uma espada, ela perguntou a Sainte-Catherine-de-Fierbois, perguntamos a ela se ela queria e disse que não. Um ferreiro foi enviado de Tours e descobriu a espada entre várias ofertas votivas depositadas ali, aparentemente em um baú atrás do altar. Joana quebrou esta espada nas costas de uma prostituta, em Saint-Denis, segundo o duque de Alençon, provavelmente depois da tentativa fracassada contra Paris. Parece que ela costumava golpear com essa espada as costas das garotas que se prostituíam, sendo esses incidentes mencionados em Auxerre pelo colunista Jean Chartier e por sua página, Louis de Coutes, por o estágio Château-Thierry. Carlos VII estava muito insatisfeito com a quebra da espada. Na verdade, este havia assumido a aparência de uma arma mágica entre os companheiros de Joana, e sua destruição passou por um mau presságio. Não temos ideia do que aconteceu com as peças.[40][41]

Ver também

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Notas

  1. De acordo com o perito em roupas medievais Adrien Harmand, ela usou duas camadas de calças ligadas à parelha com vinte grampos. As calças exteriores eram feitas de couro semelhante ao de botas.[39]

Referências

  1. (em francês) Philippe Contamine, « Remarques critiques sur les étendards de Jeanne d’Arc », Francia, Ostfildern, Jan Thorbecke Verlag, n° 34/1,‎ 2007, p. 199-200[ligação inativa].
  2. Marius Sepet, « Observations critiques sur l'histoire de Jeanne d'Arc. La lettre de Perceval de Boulainvilliers », Bibliothèque de l'École des chartes, Paris, Librairie Alphonse Picard et fils, t. 77,‎ 1916, p. 439-447.
  3. Colette Beaune, Jeanne d'Arc, Paris, Perrin, 2004, p. 26-30.
  4. Olivier Bouzy, Jeanne d'Arc en son siècle, Paris, Fayard, 2013, p.91-93
  5. Gerd Krumeich, « La date de la naissance de Jeanne d'Arc », dans Catherine Guyon et Magali Delavenne, De Domrémy... à Tokyo : Jeanne d'Arc et la Lorraine : actes du colloque universitaire international, Domrémy et Vaucouleurs, 24-26 mai 2012, Nancy, Presses universitaires de Nancy, coll. « Archéologie, espaces, patrimoines », 2013, p. 21-31.
  6. «Chemainus Theatre Festival - The 2008 Season - Saint Joan - Joan of Arc Historical Timeline» (em inglês). Chemainustheatrefestival.ca. Consultado em 30 de novembro de 2012. Arquivado do original em 2 de junho de 2013 
  7. "Joan of Arc: Why Is She A Saint?". Página acessada em 1 de outubro de 2019.
  8. M. A., Medieval Studies; B. A., Medieval Studies. «Joan of Arc, Was She a Visionary Leader or a Mentally Ill Puppet?». ThoughtCo (em inglês). Consultado em 5 de outubro de 2020 
  9. «Le procès de Jeanne d'Arc» 
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Bibliografia

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Fontes

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Livros
Artigos de periódicos, dissertações e teses
Fontes online
Fontes primárias
Transcrições do julgamento de Joana d'Arc e do julgamento de reabilitação

Ligações externas

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