Apostila Pedologia
Apostila Pedologia
Apostila Pedologia
CONTEDOS BSICOS DE
GEOLOGIA E PEDOLOGIA
PARA AS DISCIPLINAS DE SOL 213, SOL 215 e SOL 220
CONTEDOS BSICOS DE
GEOLOGIA E PEDOLOGIA
PARA AS DISCIPLINAS DE SOL 213, SOL 215 e SOL 220
Cristine Carole Muggler* Irene Maria Cardoso* Mauro Resende Maurcio Paulo Ferreira Fontes* Walter Antnio Pereira Abraho* Anr Fiorini de Carvalho*
* Professores do Departamento de Solos da UFV
A VIDA E A TERRA
"As ilhas de coral de Belau, no Pacfico, mostraram quo intimamente trabalham em conjunto os elementos da Terra. Estas ilhas foram originalmente criadas por vulces, que se ergueram do solo martimo. Em seguida, os cumes vulcnicos foram batidos pelas ondas do oceano. Enquanto isso, os animais de coral fizeram construes sobre os negros cumes dos vulces. Enquanto estes lentamente iam afundando no mar, as colnias de coral cresciam firmemente para cima, mantendo as ilhas prximo do nvel do mar. A vida, conclui-se, evitou que as ilhas afundassem. Os recifes de coral e os atis transformaram-se num paraso para uma variedade desconcertante de seres vivos. Em Belau, a vida no se limita a subir para o planeta como um lquen para uma rocha. A vida e a Terra esto numa espcie de simbiose; rocha, mar, ar e vida colaboram. Este arquiplago no existiria sem os vulces da litosfera, as ondas da hidrosfera, o calor e os ventos da atmosfera e as criaturas da biosfera. Por quase todo o lado para onde olhamos neste planeta, a biosfera alterou o mundo to profundamente que difcil dizer onde termina a vida e comea a Terra. Isto no significa que a vida seja sempre criadora. Tal como o vulco, a vida tanto cria como destri. Em Belau, certas espcies de pequenos moluscos, chamados qutons, tm dentes metlicos que so suficientemente fortes para corroer o coral. Estas vorazes criaturas, na verdade, comem as ilhas: cortam por baixo um banco de coral da ilha at que ele tomba tal como uma rvore abatida por castores. O que os corais erguem, estes moluscos derrubam. O papel da espcie humana, flutuando numa pequena ilha no espao, est ainda em questo. At agora nossa espcie foi criadora e destruidora, coral e molusco. Nosso carter final pode ser decidido por esta gerao e pela prxima."
(Weiner, J. Planeta Terra)
NDICE
1. INTRODUO Aula de campo: Serra de So Geraldo 2. A TERRA: ESPAO E TEMPO Caractersticas do Globo Terrestre Tempo Geolgico Tectnica de Placas Processos Geolgicos O Ciclo das Rochas 3. MINERAIS Propriedades fsicas dos minerais Classificao qumica dos minerais Minerais petrogrficos 4. ROCHAS GNEAS O magma Plutonismo Vulcanismo Classificao e identificao de rochas gneas 5. ROCHAS SEDIMENTARES Ciclo sedimentar Classificao e identificao de rochas sedimentares 6. ROCHAS METAMRFICAS Metamorfismo Perturbaes das rochas Classificao e identificao de rochas metamrficas 7. INTEMPERISMO Tipos e processos de intemperismo Atributos das rochas e intemperismo Aula de campo: arredores de Viosa 8. MINERAIS SECUNDRIOS Minerais Argilosos Silicatados xidos de Fe e Al Cargas eltricas 9. FORMAO DO SOLO Fatores de formao do solo Processos gerais de formao do solo Processos especficos de formao do solo 10. PAISAGEM DE VIOSA Aula de campo: Arredores de Viosa 11. INTRODUO AO ESTUDO DE MAPAS GEOLGICOS Estratigrafia Classificao estratigrfica Mapas geolgicos Interpretao de mapas geolgicos 12. ASPECTOS GERAIS DA GEOLOGIA DO BRASIL 13. BIBLIOGRAFIA BSICA 1 4 5 8 12 15 16 19 19 21 23 27 27 28 30 32 36 36 37 40 40 41 43 45 45 49 52 56 56 59 62 66 66 68 69 73 73 78 78 80 82 85 86 88
Geologia e Pedologia
1. INTRODUO
Os fatores de formao dos solos so: Material de Origem, Organismos, Clima, Relevo e Tempo. Ou seja: Solo = f (Material de Origem, Organismos, Clima, Relevo, Tempo) O Material de Origem do solo, , principalmente, a rocha. Geologia (do grego Geo = Terra; logos = cincia) a cincia da Terra. A Petrologia e a Mineralogia so ramos da Geologia que estudam respectivamente as rochas e minerais. Os minerais constituem as rochas. No solo h minerais provenientes das rochas (minerais primrios) e minerais formados a partir da alterao dos minerais primrios (minerais secundrios). A Pedologia consiste no estudo do Solo (Pedo = solo) e considerada uma cincia, no sendo portanto um ramo da Geologia. Vivemos em um planeta chamado Terra. Este planeta dinmico, ou seja, possui ciclos de criao e recriao contnuos. As atividades humanas exercem influncia sobre estes ciclos. Necessrio se faz ento, conhecer e entender os processos que nele ocorrem, para que nossas atitudes frente a este planeta sejam mais consequentes. Esta apostila tem o objetivo de orientar o estudo inicial da Geologia e da Pedologia. Ela no esgota portanto o contedo do curso. necessria a complementao com a leitura de outros materiais. As referncias bibliogrficas so indicadas no final da apostila, ou ao final de cada captulo quando necessrio. Alm disso encontra-se disponvel um volume de Textos complementares contendo textos selecionados complementares a esta apostila.
Geologia e Pedologia
Conceitos bsicos Esta disciplina , para a maioria da turma, o primeiro contato cientfico com o solo, j que de resto a nossa vida est intimamente relacionada a ele, pois dele que retiramos os nossos alimentos, sobre ele que construmos as nossas casas e desenvolvemos as nossas atividades. O solo consiste de um corpo complexo cuja origem e desenvolvimento so determinados pelos chamados fatores de formao do solo. Um destes o material de origem; este geralmente um material slido, compacto de origem mineral, que vai se transformando at resultar no solo, que solto e incoerente. Estes materiais slidos so as rochas, que de modo geral, imprimem diversas caractersticas ao solo, mesmo em solos j muito envelhecidos (intemperizados). Uma rocha definida como uma associao natural de minerais que se formam sob condies fsico-qumicas especficas e obedecem a determinadas leis de associao, constituindo parte essencial da crosta terrestre. Roteiro Viosa (do campus at a rodoviria): nvel no mais inundvel (terrao). Estrada Viosa-Juiz de Fora: toda a estrada est praticamente ao longo de cortes profundos at prximo ao aeroporto. Depois segue ao longo de cortes nas elevaes, aterros e terraos at Coimbra (cuja parte central est em um terrao). O limite entre a Bacia do Rio Doce (foz em Regncia no ES) e a Bacia do Rio Paraba do Sul (foz em Campos - RJ) quase imperceptvel e est prximo escarpa da Serra de So Geraldo. Serra de So Geraldo: apresenta afloramentos de rochas, quedas dgua, eroso, uso agrcola, etc. Observaes A regio de Viosa (Planalto de Viosa no vale do Rio Doce) apresenta um relevo acidentado e fundos de vale em dois nveis: um no mais inundvel (por exemplo, campus da UFV; centro de Viosa) e outro mais prximo ao rio, periodicamente inundvel, em pocas de enchentes (por exemplo, Rua Dona Gertrudes). As pedras (rochas) usadas em construes nesta regio apresentam em geral faixas claras e faixas escuras. As faixas claras so formadas por minerais claros (quartzo e feldspato) e as escuras por minerais escuros (biotita e anfiblio). As rochas, por desagregao e decomposio, se transformam dando origem ao solo. Este constitudo de horizontes (camadas) denominados de A, B e C. O horizonte A consiste dos primeiros centmetros do solo, tem cor escurecida, sendo mais rico em matria orgnica. O horizonte B, com espessura de poucos metros, tem cor amarelada, conferida pela presena do mineral goethita (FeOOH), e em geral mais resistente eroso. O horizonte C muito profundo, tem cor rsea quando seco e avermelhada quando mido, devido presena do mineral hematita (Fe2O3), sendo muito suscetvel eroso. Em alguns locais este horizonte est muito prximo superfcie. Os afloramentos de rochas so raros, mas em alguns locais observam-se seixos e cascalhos brancos (mineral quartzo, SiO2) dispostos em linhas, apresentando-se por vezes arredondados, como os materiais que ocorrem no fundo
Geologia e Pedologia
dos rios. Algumas rochas, no entanto, afloram, como ocorre na escarpa da Serra de So Geraldo, de onde se desce para outro nvel topogrfico geral - o de Ub/Rio Branco. Na escarpa h muitos afloramentos de rocha, solos com horizonte B vermelho e horizonte C plido, bastante uso agrcola -mesmo nas reas acidentadas-, e presena de quedas dgua. A paisagem que se vislumbra da escarpa da serra bastante caracterstica e comum na regio sudeste do Brasil e conhecida como Mar de Morros.
Geologia e Pedologia
O planeta no qual vivemos mudou continuamente atravs de sua longa histria. Para entender o que a Terra e como ela funciona, necessrio combinar observaes diretas dos processos atuantes em sua superfcie com medidas indiretas de foras que atuam em seu interior. Deste conhecimento podemos deduzir como o planeta evoluiu dos seus primrdios at o seu presente estado. Nos ltimos anos mudou tambm a abordagem que fazemos do planeta: j no estudamos separadamente os processos e partes do nosso planeta. Hoje vemos e estudamos o nosso planeta como um todo, global e integrado, em uma abordagem sistmica: o Sistema Terra. Um sistema composto de vrios subsistemas que interagem continuamente: atmosfera, hidrosfera, litosfera, manto, ncleo, biosfera e esfera social. Formada h quase cinco bilhes de anos, de uma massa de poeira girando ao redor do recm nascido Sol, a Terra se tranformou no planeta que conhecemos hoje, ric em recursos naturais, e com a sua atmosfera hospitaleira. Um planeta ainda ativo por dentro - evidenciado pelos terremotos, vulces, bacias ocenicas que se expandem ou desaparecem e continentes que se separam. A evoluo da Terra tem sido determinada por dois mecanismos principais. O primeiro o calor interno produzido pela radioatividade na Terra. O segundo o calor externo fornecido superfcie pelo sol. O calor interno derrete rochas, produz vulces e eleva montanhas. O calor externo influencia a atmosfera e os oceanos e causa a eroso das montanhas e a transformao de rochas em sedimentos. A Terra um lugar muito especial - no somente porque ns humanos a habitamos. Mais de um milho de formas de vida se desenvolveram nesta parte nica-do sistema solar. Homo sapiens, a espcie com a capacidade da razo, at bastante recente na Terra. No estudo da geologia ns no exploramos a Terra somente como ela hoje; ns tambm procuramos respostas para questes de como ela se formou, de como ela era no incio, e como ela evoluiu para o que hoje, e, talvez, mais importante do que tudo, o que a fez capaz de dar suporte vida. A Terra um dos planetas do Sistema Solar, o qual parte da Via Lctea, uma entre milhes de galxias que compem o Universo. Considera-se que h vinte bilhes de anos, toda a matria do Universo se encontrava concentrada num pequeno e nico ponto, que explodiu no chamado "Big Bang" (grande exploso). Ento, uma vasta nuvem de p espalhou-se em todas as direes. Ao se dispersar, partes da nuvem reuniram-se em aglomerados. Estes evoluram dando origem s estrelas. O Universo est repleto de grupos de bilhes e bilhes de estrelas, e a estes grupos que denominamos de galxias. A Via Lctea uma destas galxias.
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Acredita-se que devido fora primordial do "Big Bang" as galxias se encontram separadas e afastando-se uma das outras. A Via Lctea surgiu h cerca de 12 bilhes de anos. Aps a sua formao nasceram algumas de suas estrelas e outras desapareceram, por vezes em sbitas exploses, liberando energia e matria. Considera-se que o Sol, uma destas estrelas, era envolto por uma nebulosa constituda de gases e diminutas partculas slidas, no seu estgio primitivo. No interior dessa massa surgiram movimentos que concentraram a matria. Surgiram, desse modo, ncleos slidos cercados por envoltrios gasosos. Os ncleos maiores evoluram para os protoplanetas e os menores para componentes de pequeno tamanho do Sistema Solar (satlites, meteoritos e planetides). Posteriormente graas radioatividade, desenvolveu-se calor interno no ncleo dos protoplanetas. Um desses protoplanetas evoluiu para a Terra. Isso se deu h 4,6 bilhes de anos. Quando o Sol adquiriu o brilho e a energia radiante de agora, os gases mais leves (hidrognio e hlio) que envolviam os planetas comearam a desprender-se. A Terra graas a seu tamanho e localizao pde reter parte do envoltrio gasoso primitivo. Esta a hiptese nebular e , hoje, uma das teorias mais aceitas para explicar a origem dos planetas e da Terra.
Geologia e Pedologia
todas as direes. Dentre os diversos tipos de ondas ssmicas, interessam ao estudo do interior da Terra, as ondas P e as ondas S. As ondas P so ondas longitudinais do tipo das ondas sonoras que se propagam atravs de compresses e distenses do meio material. Sua velocidade cresce com o aumento da densidade e diminui bruscamente ao passar para um meio lquido. As ondas S so ondas transversais cuja velocidade aumenta com a densidade do meio no se propagando em meios lquidos. Atravs do estudo do comportamento dessas ondas, observouse que: - A velocidade das ondas P aumenta gradualmente at + 35 km de profundidade, a partir de onde aumenta rapidamente at atingir 2870 km de profundidade, quando ento sofre uma brusca diminuio e mantm-se mais ou menos constante. - A velocidade das ondas S se comporta de forma anloga s ondas P, desaparecendo entretanto a 2870 km de profundidade e reaparecendo a 5100 km de profundidade. Tais variaes mostram que h diferenas na composio do material atravessado pelas ondas, da sendo inferidas zonas distintas no interior do Globo. A meteortica fornece informaes sobre as geosferas internas da Terra, considerando que os meteoritos sejam pedaos de planetas que iniciaram a sua evoluo mesma poca da Terra, mas no a completaram, tendo se desintegrado. Em termos de composio qumica so reconhecidos os meteoritos metlicos (sideritos e siderlitos), compostos por Fe (~92%) e Ni (~8%), e os meteoritos rochosos (condritos e acondritos), de composio muito similar s rochas terrestres bsicas e ultrabsicas. Os primeiros correspondem a 1/3 e os ltimos a 2/3 dos meteoritos encontrados na Terra, sugerindo que o ncleo desse proto-planeta era menor que o seu manto, o que tambm observado na Terra. As camadas do globo terrestre so denominadas crosta, manto e ncleo (Figura 2.1): Ncleo: a poro mais interna do globo terrestre, sendo composto por uma parte interna slida e uma parte externa lquida. A sua densidade inferida de 10.7, sendo composto de Fe (90.5%), Ni (8.5%) e Co (0.6%). Manto: a mais espessa das zonas internas do planeta, sendo provavelmente constitudo de silicatos magnesianos ou sulfetos e xidos. A sua densidade mdia de 4.5. O manto est separado do ncleo pela descontinuidade de Wiechert-Gutemberg e da crosta pela descontinuidade de Mohorovicic. Crosta: a zona mais externa do globo, apresentando uma espessura mdia de 35 km. A sua densidade mdia 2.76 e sua composio qumica bsica (% em peso): O - 45.2; Si - 27.2; Al - 8.0; Fe - 5.8; Ca - 5.1; Mg - 2.8; Na - 2.3; K - 1.7 Atualmente so tambm utilizados os termos Litosfera, Astenosfera e Mesosfera, onde a primeira rgida e consiste da crosta e uma poro do manto superior variando de 50 a 150 km, a segunda plstica e compreende a parte do manto superior abaixo da litosfera, se situando entre 50 e 250 km de profundidade, e a ltima rgida (pela maior presso a despeito da temperatura) e compreende o manto inferior. H controvrsia sobre a natureza fsica da astenosfera. Para alguns o material slido, mas se comporta como lquido no decorrer do tempo geolgico; para outros um fludo de caractersticas no determinadas. Admite-se, entretanto,
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que o material possui uma viscosidade tal que permite o movimento das placas tectnicas. A crosta terrestre diferenciada em crosta continental e crosta ocenica (Figura 2.2). A crosta continental a capa superior do planeta, coincidindo com os continentes. A crosta ocenica a parte da capa superior do planeta presente sob os oceanos. A parte superior da crosta continental constituda principalmente por granitos e granodioritos, rochas ricas em Si e Al. A crosta ocenica, assim como a parte inferior da crosta continental composta essencialmente por gabros e basaltos, rochas ricas em Si, Mg e Fe. Devido a estas diferenas de composio as partes da crosta so tambm conhecidas como Sial (crosta continental superior) e Sima (crosta ocenica e crosta continental inferior).
Figura 2.1. Zoneamento interno do Globo Terrestre (SBPC, 2000. Cincia Hoje na Escola, vol.
10: Geologia)
Figura 2.2. Corte esquemtico da crosta, mostrando a diferena de espessura entre crosta ocenica e continental (Leinz et alii,1975. Geologia Fsica, Geologia Histrica, pg. 5).
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Temperatura A temperatura da Terra aumenta com a profundidade. Denomina-se Grau Geotrmico, a profundidade em metros, necessria para aumentar a temperatura em 1o C. O Grau Geotrmico varivel de regio para regio, sendo que o valor de 30 m tomado como valor mdio mundial.
LEITURA COMPLEMENTAR: Viagem ao Centro da Terra, pg. 29-53, em: Da Pedra Estrela, Claude Allgre, Coleo Cincia Nova, n. 4, Publicaes Dom Quixote, Lisboa, Portugal, 1987. (Textos Complementares, texto n.1)
TEMPO GEOLGICO
O conceito de tempo central para a geologia. A maioria dos processos geolgicos que modelam a superfcie da Terra e conferem estrutura ao seu interior, operaram ao longo de um tempo muito longo, da ordem de milhes e bilhes de anos. As rochas expostas superfcie so os registros visveis dos processos geolgicos passados. Das relaes de tempo e espao traduzidas pelas rochas, os gelogos construram a escala de tempo geolgico, que usada para ordenar os eventos geolgicos da histria da Terra. O tempo geolgico entendido como o tempo decorrido desde a formao da Terra at os nossos dias, isto , aproximadamente 4,6 bilhes de anos.
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constante para toda a Terra. Quando este oceano se retirou da superfcie terrestre deixou todas as rochas em sua atual configurao, assim como as grandes feies dos continentes atuais. O uniformitarismo s volta a ser considerado no sculo XIX, com o lanamento do livro Principles of Geology por Charles Lyell. Lyell reescreve e complementa as idias de Hutton com as suas prprias observaes. Lyell estabelece uma srie de princpios baseados em observaes diretas da natureza, onde os processos geolgicos do passado podem ser interpretados e compreendidos com base naqueles que esto ocorrendo no presente. A apropriao deste novo paradigma promoveu uma revoluo cientfica, marcada com o nascimento da geologia como cincia. Estabelecida ento a magnitude do tempo geolgico restava defin-la quantitativamente. Para isso, era necessrio se determinar um processo irreversvel governado pelo tempo, e que tivesse taxa conhecida. Foram feitas vrias tentativas, baseadas em taxas de decomposio de rochas e correspondente aumento da salinidade dos mares, taxas de acumulao de camadas sedimentares com o tempo, etc.. Obviamente as estimativas do tempo geolgico assim obtidas variavam muito e no ofereciam qualquer referncia confivel. Nesse meio tempo, a partir da aceitao generalizada de um tempo geolgico extremamente longo, seno infinito, Charles Darwin estabeleceu a Teoria da Evoluo. A Teoria da Evoluo tem como base o prncipio da seleo natural: um processo de seleo que atua em um tempo muito longo de modo a promover mudanas no sentido de maior aperfeioamento e complexidade dos organismos. A Teoria da Evoluo significou uma revoluo sem precedentes no pensamento cientfico e filosfico humano. Em um primeiro momento provocou debates apaixonados entre defensores e opositores, levando a um interesse ainda maior na real magnitude do tempo geolgico. A aplicao de mtodos fsicos e matemticos ao clculo da idade da Terra teve grande aceitao ao final do sculo XIX, uma vez que tais mtodos requeriam poucas premissas e pareciam irrefutveis. Enorme controvrsia foi causada pelas estimativas de perda de calor da Terra e da idade do Sol estabelecidas por Lord Kelvin, que resultavam em idades inferiores a 100 milhes de anos, insuficientes portanto para a evoluo orgnica postulada por Darwin. A descoberta da radioatividade no final do sculo XIX e incio do sculo XX modificou a trajetria dos clculos da idade da Terra, mostrando inclusive que as premissas nas quais Kelvin se baseara estavam erradas. A energia dissipada em forma de calor pelas substncias radioativas explica a persistncia do calor da Terra e tambm do Sol. tambm compatvel com a evoluo de Darwin e modifica o uniformitarismo de Hutton e Lyell estabelecendo uma idade limite para o incio da histria da Terra e dos processos geolgicos. Mtodos de datao radiomtrica foram logo estabelecidos e possibilitaram o estabelecimento do tempo geolgico como sendo de 4,6 bilhes de anos.
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Geologia e Pedologia
Datao absoluta
A atribuio de idade aos eventos geolgicos ocorridos ao longo da histria da Terra constitui a cronologia geolgica. Esta tanto pode ser relativa, como absoluta. A cronologia relativa bastante utilizada em trabalhos de estratigrafia e se baseia em princpios simples que sero discutidos no captulo 12. A cronologia absoluta (datao absoluta) se fundamenta principalmente nos mtodos radiomtricos desenvolvidos no sculo XX. Tais mtodos se baseiam na desintegrao radioativa espontnea para um estado de menor energia que ocorre com tomos de elementos radioativos. Como a desintegrao radioativa envolve apenas o ncleo de um tomo pai, a taxa independente da presso e da temperatura. Existem elementos que se desintegram em fraes de segundo, enquanto outros levam milhares de anos para se transformar, estes ltimos interessando particularmente Geologia. Quando um tomo radioativo pai se desintegra, ele se transforma em um outro tipo de tomo, denominado filho. Assim, os mtodos de datao radiomtrica so baseados na acumulao de filhos atmicos produzidos por um pai radioativo. Quando se formou a rocha ou gro mineral contendo o nucldeo radioativo, no existia qualquer filho radiognico. A razo filho/pai era zero e a idade indicada era zero. Com o tempo, a desintegrao progressiva de tomos pais (radioativos), produziu tomos filhos (radiognicos) no mineral. Conhecendo-se a constante de desintegrao do pai radioativo, necessita-se apenas medir a proporo de filhos e pais no sistema de modo a se calcular o tempo, em anos antes do presente, gasto na transmutao de um elemento em outro. A taxa de desintegrao ou meia-vida constante e define-se como sendo o tempo necessrio para que metade da quantidade inicial do elemento radioativo pai tenha se transformado no elemento filho. Os diferentes elementos do origem a diversos mtodos, que comumente so utilizados em pares, para aferio. Os radionucldeos mais usados so: Istopo-pai (anos) Istopo-filho Meia-vida
potssio-40 argnio-40 1.39 x 109 rubdio-87 estrncio-87 48.80 x 109 urnio-235 chumbo-207 0.71 x 109 urnio-238 chumbo-206 4.51 x 109 trio-232 chumbo-208 13.90 x 109 samrio-147neodmio-143 106.00 x 109
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Perodo
Quaternrio (Q) Tercirio (Terc)
Principais Eventos
Idade do homem Surgimento dos primatas e carnvoros. Elevao das grandes cadeias de montanhas Extino dos dinossauros Aparecimento das aves Aparecimento dos mamferos primitivos Extino em massa de invertebrados marinhos Idade dos anfbios. Primeiros rpteis Idade dos peixes. Aparecimento dos anfbios Primeiras plantas vasculares Primeiros peixes primitivos Idade dos invertebrados marinhos
Mesozica
Paleozica
Cretceo (K) Jurssico (J) Trissico (TR) Permiano (P) Carbonfero (C) Devoniano Siluriano (S) Ordoviciano (O) Cambriano (Cb)
Proterozica1 Arqueana1
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Geologia e Pedologia
LEITURA COMPLEMENTAR: Evoluo dos Conceitos, pg. 2-35, em: Tempo Geolgico, D. L. Eicher, Srie de Textos Bsicos de Geocincias, Ed. Edgard Blucher, So Paulo, 1969, 173p. (Textos Complementares, texto n. 2)
TECTNICA DE PLACAS
Ao longo dos anos, novos mtodos de estudo de como as foras internas e externas moldam a Terra, tem gerado abundantes novas informaes e excitantes questes. Nas trs ltimas dcadas do sculo XX, gelogos desenvolveram uma nova teoria unificadora que relaciona os processos dinmicos da Terra aos movimentos de grandes placas que constituem a capa externa do planeta, teoria esta chamada de Tectnica de Placas. Esta teoria oferece um modelo abrangente para explicar como a Terra funciona.
Figura 2.3. Distribuio dos continentes h 250 milhes de anos atrs, segundo A. Wegener.
Inicialmente esta idia, que revolucionava os conceitos geolgicos, foi pouco aceita, at que a intensa explorao do fundo ocenico, a partir da 2a Guerra Mundial, trouxe novas descobertas. Constatou-se a existncia de uma cadeia
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montanhosa de 73000 km de extenso ao longo do Oceano Atlntico (sentido N-S), com altitudes de at 3000 m e um vale central. Na amostragem dessas montanhas foram obtidas rochas com idades inferiores a 150 milhes de anos, quando acreditava-se que ali se encontrariam as rochas mais antigas da Terra. Da surgiu a idia de que o vale central do Atlntico pudesse ser uma imensa fenda de onde surgia rocha em fuso, formando e expandindo o assoalho ocenico. Com o estudo das propriedades magnticas das rochas (paleomagnetismo) constatou-se que os basaltos do assoalho ocenico mostram um padro de magnetizao em bandas, revelador das j conhecidas inverses ocorridas com o campo magntico terrestre, padro este que simtrico em relao cadeia mesoocenica. Alm disso, com o aperfeioamento dos mtodos radiomtricos, ao final dos anos 60, pde-se constatar que o fundo ocenico tanto mais velho quanto mais afastado estiver da cadeia meso-ocenica, confirmando dessa forma a idia da Expanso do Assoalho Ocenico. Estas observaes e as teorias a elas associadas da Deriva Continental e da Expanso do Assoalho Ocenico- forneceram o arcabouo para a elaborao da Teoria da Tectnica de Placas. Esta teoria considera a Litosfera como sendo composta por vrios pedaos, que se encontram em movimento. Estes pedaos so denominados Placas Tectnicas. Atualmente consistem de 7 grandes placas e outras tantas menores (Figura 2.4). Elas se comportam como blocos rgidos que se movem por correntes de conveco existentes na astenosfera. As placas se movimentam de 3 a 11 cm por ano em diferentes direes e apresentam tipos de contatos distintos. Os contatos entre placas tectnicas so reas extremamente instveis da litosfera, a se concentrando episdios vulcnicos e terremotos.
Figura 2.4. Principais placas tectnicas que formam a crosta terrestre (SBPC, 2000. Cincia
Hoje na Escola, vol. 10: Geologia, pg. 20).
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Os diferentes tipos de contatos entre placas tectnicas so resultantes de esforos distintos e so descritos a seguir (Figura 2.5): - Zonas de subduco: zonas onde uma placa mergulha sob outra, resultando em esforos compressivos, formando assim tanto fossas ocenicas, como a fossa das Filipinas, como cadeias de montanhas, tais como a Cordilheira dos Andes; - Zonas de expanso: zonas onde h formao e expanso da litosfera, caracterizadas por esforos de tenso, formando as cadeias meso-ocenicas, como a cadeia meso-Atlntica, e mesmo reas continentais como a rea do Golfo da Califrnia. - Zonas de falhas transformantes: zonas onde foras atuando em planos distintos, e em sentidos contrrios, causam deslocamento relativo entre os blocos adjacentes. Este o caso da Falha de Santo Andr, na costa oeste da Amrica do Norte.
Figura 2.5 Bloco diagrama ilustrativo do movimento e dos tipos de contatos entre as placas tectnicas, mostrando as principais feies geolgicas associadas. (Pipkin, B. W. and Trent, D.
D., 1997, Geology and the environment, pg. 59).
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PROCESSOS GEOLGICOS
Ah! No so as tremendas catstrofes do mundo, no so as inundaes que arrastam as aldeias, os terremotos que subvertem as cidades, o que me comove. O que me sensibiliza o corao a fora destrutiva encerrada no interior da Terra, fora que nada constri sem destruir o que est prximo, e que por fim em si prpria efetua uma formidvel destruio. E assim cambaleio angustiado! Cu e Terra e suas foras ao redor de mim... (adaptado de Goethe, 1774)
Denominam-se Processos Geolgicos ou Dinmica, o conjunto de aes que promovem modificaes da crosta terrestre, seja em sua forma, estrutura ou composio. A energia necessria a tais aes provm do sol ou do interior da Terra. Processos geolgicos endgenos ou dinmica interna So processos que ocorrem utilizando a energia proveniente do interior da Terra, formando e modificando a composio e estrutura da crosta. So processos geolgicos endgenos: vulcanismo, terremotos, plutonismo, orognese (formao de montanhas), magmatismo, metamorfismo, etc. Os processos geolgicos no ocorrem isoladamente, eles esto interligados: Os sedimentos (areias, cascalhos, etc) quando depositados podem se consolidar formando as rochas sedimentares. Ocorrendo aumento de presso e temperatura (metamorfismo) estas rochas se transformam em rochas metamrficas. Aumentando-se ainda mais a presso e a temperatura estas rochas podem fundirse originando um magma, iniciando o magmatismo. No seu movimento no interior da crosta, o magma pode atingir a superfcie (vulcanismo) onde se resfria rapidamente formando as rochas vulcnicas, ou no, se resfriando em profundidade (plutonismo) com a conseqente formao de rochas plutnicas (Figura 3.4). As rochas existentes podem sofrer perturbaes, devido a esforos que ocorrem no interior da crosta, deformando-se ou quebrando-se, originando dobras (dobramentos) e falhas (falhamentos). Esforos do mesmo tipo, ao provocarem reacomodaes de partes da crosta terrestre, produzem vibraes que se propagam em forma de ondas constituindo os terremotos. Processos geolgicos exgenos ou dinmica externa So processos impulsionados pela energia proveniente do exterior da Terra, consistindo basicamente da energia solar que atua direta ou indiretamente sobre a superfcie da Terra. So processos geolgicos exgenos, o intemperismo e a ao de guas superficiais e subterrneas, do vento, do gelo e dos organismos. Os processos de desagregao e decomposio de rochas por ao da gua, vento, gelo e organismos constituem o intemperismo.
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O intemperismo e a fotossntese so dois processos fundamentais para a vida no planeta, pois sem o intemperismo no haveria a destruio das rochas e a formao dos solos, originando assim os minerais secundrios que esto associados com a CTC (Capacidade de Troca Catinica); e sem a fotossntese no haveria fixao de energia solar, vital ao ciclo da vida na Terra. A gua atua tanto na superfcie como na subsuperfcie, tendo ao intemprica - o principal agente de intemperismo qumico-, e transportadora. Ao percolar, a gua transporta solutos (lixiviao) para o lenol fretico; estes solutos ao atingir o mar ou outro ambiente de sedimentao, podem se precipitar e formar rochas sedimentares qumicas. Ao escoar pela superfcie, a gua transporta sedimentos (eroso), depositando-os com a diminuio de sua energia (sedimentao), formando depsitos que originaro solos ou rochas sedimentares clsticas. O vento e o gelo so agentes intempricos e transportadores. O intemperismo se d pela ao abrasiva de partculas por eles transportadas. Os organismos atuam amplamente sobre a crosta terrestre desde o microorganismo que se fixa na rocha at o homem que a fragmenta para comercializ-la. As duas fontes de energia principais envolvidas nos processos geolgicos so independentes entre si, apresentando entretanto efeitos recprocos. Por exemplo, a formao de montanhas em uma determinada rea independente dos processos exgenos que estejam porventura ocorrendo, no entanto, ela vai gerar uma nova condio de atuao da eroso sobre as montanhas surgidas, o que um processo exgeno. As foras exgenas tendem a destruir a superfcie dos continentes, transportando os materiais que vo se depositando. Por este processo, a tendncia o aplainamento total da superfcie terrestre. No entanto, embora estes processos ocorram desde o incio da existncia da Terra, o aplainamento jamais se completou. Isto se deve s foras endgenas que agem, em parte, em sentido contrrio ao da eroso. A matria proveniente do interior da Terra continuamente impulsionada rumo superfcie, formando novas rochas, acentuando as diferenas do relevo e evitando que seja atingido o aplainamento, o equilbrio da superfcie. A modelagem da crosta terrestre objeto de estudo da Geomorfologia.
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Figura 2.6. O Ciclo das Rochas: a figura mostra as interaes materiais e energticas e nos processos geolgicos que formam e destroem as rochas da litosfera (Pipkin, B. W. and Trent, D.
D., 1997, Geology and the environment, pg. 35).
O Ciclo das Rochas compreende os processos geolgicos exgenos e endgenos que atuam continuamente sobre a crosta terrestre. A Figura 2.6 ilustra este ciclo. Iniciando-se o ciclo, por exemplo, com o intemperismo, temos a destruio das rochas expostas na superfcie pela influncia de agentes qumicos e fsicos. O material resultante ento transportado por diversos meios a um local de deposio (uma depresso marinha ou continental), onde se acumula. No empilhamento sucessivo destes materiais, ocorre que as pores mais profundas sofrem maior compactao, por ser maior o pacote de sedimentos sobrepostos, consolidando-se e formando as rochas sedimentares. As rochas sedimentares podem ser novamente expostas ao intemperismo por levantamentos parciais da crosta. Outro ciclo possvel pode ser iniciado nos processos de transformao de uma rocha submetida a aumentos de temperatura e presso no local (metamorfismo), levando a formao de rochas metamrficas. Este material pode sofrer ascenso e ser novamente exposto ao intemperismo, ou pode sofrer refuso (magmatismo) podendo ascender e se derramar como produto vulcnico (vulcanismo) ou permanecer no interior e se consolidar como um produto plutnico (plutonismo). As rochas assim formadas podem ser novamente expostas eroso, e assim sucessivamente.
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O inter-relacionamento geral existente entre os processos geolgicos tal que os ndios que vivem da pesca na Amaznia, tm uma profunda ligao com a orognese responsvel pela elevao dos Andes, que hoje, por intemperismo, alimentam de sedimentos ricos as guas dos rios da Amaznia tornando-os mais piscosos.
Isto sabemos: a terra no pertence ao homem; o homem pertence a terra. Isto sabemos: todas as coisas esto ligadas como o sangue que une uma famlia. H uma ligao em tudo. O que ocorre com a Terra recair sobre os filhos da Terra. O homem no tramou o tecido da vida; ele simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, far a si mesmo.
(Carta do Cacique Seathl ao Presidente dos EUA, 1855)
H alguns autores que consideram os Processos Geolgicos Endgenos como sendo construtivos e os Processos Geolgicos Exgenos como destrutivos. O que voc acha disso? Leia de novo o que disse Goethe, no incio deste captulo. Pense em processos tais como eroso e formao de solos aluviais (s margens dos rios); vulcanismo e formao de rochas bsicas, que podem se transformar em solos ricos em nutrientes, etc.
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3. MINERAIS
Os MINERAIS so as unidades constituintes das rochas e so definidos como sendo slidos homogneos, naturais, que apresentam arranjo atmico ordenado e composio qumica definida. Assim, cada espcie mineral se caracteriza por apresentar quantidades definidas e proporcionais de determinados elementos qumicos. Estes elementos, por sua vez, se arranjam no espao de uma maneira organizada e regular, que se constitui no chamado arranjo cristalino. O arranjo atmico ordenado e a composio qumica definida conferem a um mineral a sua homogeneidade, ou seja, fsica e quimicamente ele se constitui em uma nica fase, possuindo um conjunto diagnstico de propriedades. Assim, a forma, a clivagem e a absoro seletiva da luz, entre outras, so propriedades fsicas dos minerais e refletem a sua estrutura interna regular, enquanto a dissoluo em cidos reflete a composio qumica dos minerais.
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A lmina de ao de um canivete e o vidro riscam minerais com dureza at 5, inclusive. A unha risca minerais de dureza 2. Na prtica ns fazemos apenas a determinao qualitativa da dureza usando a unha e o prego (ou qualquer ponta de ao), caracterizando assim intervalos de dureza. Forma (hbito) e agregado: a configurao externa do mineral (forma) ou do conjunto de indivduos da mesma espcie mineral (agregado). A forma de um mineral funo de sua estrutura cristalina. Alguns minerais apresentam formas e agregados muito caractersticos tais como as micas (lminas), a pirita (cubos), os asbestos (forma capilar, agregado fibroso), etc. Para que um mineral desenvolva faces, so necessrias algumas condies, como por exemplo, tempo e espao para crescer. Isso explica porque os minerais nas rochas normalmente apresentem formas irregulares e raras faces planas. Como? Clivagem: a propriedade que alguns minerais apresentam de se partir segundo superfcies planas e paralelas, relacionadas sua estrutura cristalina (normalmente planos de fraqueza na estrutura). Pode ocorrer segundo uma ou vrias direes e gerar superfcies de qualidade varivel (mais, ou menos lisas). Destacam-se a clivagem excelente em uma direo da muscovita (mica branca), a clivagem perfeita em trs direes no ortogonais da calcita, a clivagem boa em duas direes e m em uma direo dos feldspatos. Denomina-se fratura maneira irregular de um mineral se quebrar. Alguns minerais tm fraturas muito caractersticas, como o caso da fratura conchoidal do quartzo. Faces de clivagem so diferenciadas de faces de crescimento por se repetirem vrias vezes no espcime mineral, e por se apresentarem em geral mais lisas e brilhantes (so faces mais recentes, decorrentes da quebra do mineral). Cor e Brilho: Estas duas propriedades esto relacionadas absoro e/ou reflexo da luz pelos minerais. A cor resulta da absoro seletiva de comprimentos de onda da luz branca pelos minerais. Normalmente a cor varivel para uma mesma espcie mineral, sendo entretanto uniforme e diagnstica para alguns minerais (pex. sodalita: azul). A cor varivel, em alguns casos, d origem a variedades do mineral, tais como as variedades azul (safira) e vermelha (rubi) do corndon. O brilho est relacionado com a quantidade de luz que o mineral reflete. O brilho determinado de forma descritiva, caracterizando-se dois grupos principais: os minerais que apresentam brilho de metal (brilho metlico), e aqueles que no o apresentam (brilho no metlico). Neste segundo grupo, que engloba a maior parte dos minerais, o brilho descrito por analogia a substncias comuns: vtreo (do vidro), adamantino (do diamante), resinoso, sedoso, gorduroso ou graxo, nacarado (da prola), ceroso, terroso, etc. Trao: a cor do mineral reduzido a p. muito caracterstico em algumas espcies minerais, como o caso dos xidos hematita (avermelhado), goethita (amarelado) e magnetita (preto). O trao determinado utilizando-se a parte fosca de uma placa de porcelana branca, sobre a qual fricciona-se o mineral e observa-se
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a cor do p (o trao). Considerando-se que a porcelana tem dureza 6, no se determinam os traos de minerais com dureza 6.
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isomrficas ou sries de solues slidas como a srie das olivinas, dos plagioclsios clcio-sdicos, etc. Nesses casos h uma variao contnua e recproca nas propores de um par, ou mais de um par, de elementos da sua composio qumica. tambm importante em alguns minerais como os feldspatos e os minerais de argila silicatadas, onde nos primeiros explicam a sua presena dentro do grupo dos tectossilicatos, e nos segundos explicam as suas cargas de superfcie. As substituies mais comuns envolvendo elementos maiores, so Al3+ por Si4+ em altas temperaturas, e Fe2+ por Mg2+; Fe3+, Al3+ e Cr3+ entre si, em qualquer temperatura.
Nesossilicatos (neso=ilha)
Sorossilicatos (soro=par)
Ciclossilicato (ciclo=crculo)
Filossilicato (filo=lmina)
Figura 3.1. Representao esquemtica das estruturas das classes de silicatos. (Klein, C. and
Hurlbut, C. S., 1993, Manual of Mineralogy, pg. 442-443).
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Ciclossilicatos
Anis
1:3
2 Inossilicatos 2,3
Cadeias simples
1:3
Cadeias duplas
4:11
Filossilicatos
Folhas, lminas
2:5
Tectossilicatos
1:2
MINERAIS PETROGRFICOS
Existem cerca de 2000 espcies minerais conhecidas, sendo que apenas algumas dezenas contribuem efetivamente na formao das rochas. Esses minerais so denominados minerais petrogrficos (formadores de rochas). O Quadro 3.2 apresenta as propriedades fsicas mais utilizadas na identificao macroscpica de alguns desses minerais, muito comuns e que nos interessam diretamente. O objetivo possibilitar a identificao destes minerais nas rochas. A chave simplificada dos minerais petrogrficos mais comuns, da calcita e da hematita (Fig. 3.3) auxilia a identificao dos minerais em rochas.
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Quadro 3.2: Propriedades fsicas dos minerais petrogrficos mais comuns, da calcita e da hematita.
Mineral Quartzo Feldspato Muscovita (mica branca) Biotita (mica preta) Piroxnio Anfiblio Calcita Hematita castanha, preta preta preta branca cinza metlico 3.0 2.5 3 laminar 1 direo branco cor comum densidade incolor, branca branca, rsea incolor 2.65 2.57 2.82 dureza 7 6 6.5 2 2.5 forma irregular, prismtica prismtica, tabular laminar clivagem no tem; fratura conchoidal 2 (ou trs) direes 1 direo trao no tem branco branco
Observaes: - Toda rocha apresenta uma associao de minerais diagnstica. A presena de quartzo em uma rocha indica que os minerais escuros que o acompanham so provavelmente hornblenda e/ou biotita. - A distino entre hornblenda (anfiblio) e biotita feita pela principalmente pela forma (a biotita se apresenta em lminas que podem ser facilmente destacadas com a ponta de um canivete) e pela dureza (a biotita riscada pelo canivete e a hornblenda no).
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8. O fsforo (P) e o boro (B) so elementos importantes na nutrio de plantas. Em qual(is) mineral (is) o P encontrado? E o B? Qual a classe qumica a que pertencem estes minerais? 9. Faa a correspondncia: ( ) goethita (F) xido de ferro ( ) gibbsita (A) xido de alumnio ( ) hematita 10. Qual o elemento qumico responsvel pela diferena de cor entre as micas muscovita e biotita? Dica: compare a frmula qumica dos dois minerais (abaixo): Muscovita (mica branca) KAl2(AlSi3O10)(OH)2 Biotita (mica preta) K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2 11. Onde haver mais desgaste dos implementos agrcolas por atrito: em um solo rico em micas ou em quartzo na frao areia? Por qu? 12. O que pior para a sade humana: poeira rica em quartzo ou em asbestos (amianto)? Por qu? 13. Como diferenciar superfcies de crescimento, de clivagem e de fratura? 14. Por qu no se deve dar nfase na forma dos minerais ao identific-los na rocha? Voc achou interessante este assunto? Voc se interessa por minerais? Quer saber mais? Faa ento uma visita ao Museu Alexis Dorofeef, Museu de Minerais, Rochas e Solos, situado na Vila Gianeti, casa no 31. L voc encontrar um roteiro de observao dos mostrurios, monitores para tirar dvidas, e muito mais!
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MINERAL ???
Escuro
Claro
Trao vermelho
Macio
Duro
Macio
Duro
Rocha escura
Rocha clara
Fratura
Figura 3.2. Chave simplificada de identificao dos minerais petrogrficos mais comuns, da calcita e da hematita, em rochas.
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4. ROCHAS GNEAS
O MAGMA
As rochas gneas so formadas pela consolidao do magma. O magma consiste de uma fuso predominantemente silicatada, mvel, de alta temperatura, proveniente do interior do globo terrestre. As lavas so magmas que atingem a superfcie atravs de cavidades vulcnicas. Do ponto de vista fsico-qumico, o magma um sistema multicomponental, constitudo por: - uma fase lquida composta predominantemente por agrupamentos tetradricos de SiO4 e AlO4 acompanhados de ctions livres (Ca2+, Mg2+, Na+, K+); - vrias fases slidas, que consistem dos cristais de minerais que esto se formando; - uma fase gasosa composta principalmente por H2O acompanhada de pequenas quantidades de CO2, HCl, HF, H2S, SO2, etc. Tipos fundamentais de magma A partir da determinao da composio do conjunto das rochas gneas existentes na poro superficial da crosta terrestre ficou evidenciada a existncia de dois grupos composicionais principais indicando a existncia de dois tipos fundamentais de magmas: cidos (granticos) e bsicos (baslticos). Os magmas granticos so produzidos por fuso de rochas pr-existentes em profundidades que variam de 7 a 15 km. Os magmas bsicos se originam na parte superior do manto, em profundidades de 40 a 100 km, por fuso de rochas bsicas e ultrabsicas. Temperatura e viscosidade do magma A temperatura dos magmas varia de 600 a 1200oC, podendo chegar a 1700oC. Os magmas cidos tm temperaturas mdias de 700oC, enquanto os bsicos variam de 900 a 1200oC. A viscosidade (resistncia ao escoamento) determina a maior ou menor fluidez do magma, sendo funo de sua composio, temperatura e presso a que est submetido. Como a viscosidade vai variar com: a) a temperatura? b) a presso no ambiente? c) o contedo em elementos volteis (gases) do magma? Cristalizao do magma O magma ao se resfriar, possibilita a cristalizao de diferentes minerais, cujo conjunto constitui a rocha gnea. Inicialmente cristalizam-se grande parte dos silicatos, obedecendo a uma seqncia determinada pela temperatura e composio do magma, conhecida como Srie de Bowen (Figura 4.1). Bowen mostrou que os silicatos comuns das rochas gneas se cristalizam segundo uma ordem, em duas sries distintas: uma srie de reao contnua e uma srie de reao descontnua. Na primeira, os minerais mudam ininterruptamente de composio, reagindo continuamente com a fuso, e na segunda, um mineral pr-formado reage com a
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fuso, formando um novo mineral com composio e estrutura cristalina diferentes. A cristalizao dos minerais da Srie de Bowen se d entre 1700C (olivina) e 600C (quartzo). Acompanhando a srie de Bowen (Figura 4.1), h um aumento da complexidade das estruturas a medida que a temperatura decresce, isto , aumenta o nmero de oxignios compartilhados entre os tetraedros de slica. Dentre os silicatos presentes na Srie de Bowen, as olivinas so nesossilicatos; os piroxnios, inossilicatos de cadeia simples; os anfiblios, inossilicatos de cadeia dupla; a biotita e muscovita (micas), filossilicatos; e os plagioclsios, feldspatos e quartzo, tectossilicatos.
Srie Descontnua
Srie Contnua
Olivina (Mg,Fe)2SiO4 Piroxnios (Mg,Fe)2Si2O6 e CaSi2O6 Anfiblios Ca2Na(Mg,Fe)(Si,Al)4O11(OH)2 Biotita K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2 Feldspato potssico KAlSi3O8 Muscovita KAl2(AlSi3O10)(OH)2 Quartzo SiO2
Figura 4.1. Ordem de cristalizao dos minerais silicatados no magma (Srie de Bowen).
PLUTONISMO
Plutonismo o conjunto de fenmenos magmticos que ocorrem em regies profundas da crosta terrestre. Os corpos rochosos assim formados so chamados pltons ou plutonitos, ou ainda rochas plutnicas ou intrusivas. As rochas prexistentes que envolvem o corpo plutnico so ditas rochas encaixantes. De uma maneira geral as rochas plutnicas so cidas (granitos e granodioritos). Isto consequncia das caractersticas fsicas e qumicas dos magmas cidos, que fazem
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com que estes tenham maiores possibilidades de se cristalizar em profundidade do que superfcie. Devido ao fato de serem resultantes de massas magmticas que se consolidam no interior da Terra, os pltons apresentam uma grande variabilidade de formas e dimenses, assim como distintas relaes com as rochas encaixantes. De acordo com as suas relaes com as rochas encaixantes, os plutonitos so divididos em concordantes e discordantes. Corpos plutnicos concordantes so aqueles que concordam, que acompanham a estrutura das rochas encaixantes, adquirindo ento uma forma determinada pela disposio destas rochas. As formas concordantes mais comuns so as Soleiras ou sills. So corpos extensos, pouco espessos de forma tabular quando vistos em corte. Estes corpos foram formados a partir de um magma de baixa viscosidade, o qual pode se intrometer entre planos da rocha encaixante. (Figura 4.2). So muito comuns as soleiras de diabsio (rocha bsica) nas bacias sedimentares paleozicas do Brasil (Paran, Maranho e Amazonas). A cidade de Piracicaba (SP) est sobre um sill de diabsio. Outros tipos de corpos plutnicos concordantes (Laclitos p.ex.) esto ilustrados na Figura 4.2.
Figura 4.2. Principais tipos de corpos plutnicos e vulcnicos (Briggs, D. et alii, 1997.
Fundamentals of the Physical Environment, 2nd ed., pg. 94).
Corpos plutnicos discordantes so aqueles que cortam, que truncam a estrutura das rochas encaixantes. Estes corpos geralmente obedecem a outros elementos estruturais desenvolvidos nas rochas, tais como diclases, falhas, fendas ou aberturas produzidas por exploses vulcnicas. As formas discordantes mais comuns so os diques. Diques so corpos magmticos de forma tabular que preenchem fendas nas rochas pr-existentes (Figura 4.2). Tm largura e
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comprimento muito varivel ocorrendo desde microdiques at diques com vrios metros de largura e quilmetros de extenso. Os diques podem formar conjuntos (sistemas) nos quais se dispem em direes paralelas ou cruzadas, ou podem ser radiais, orientando-se radialmente a partir de uma regio central. Os diques podem tambm se formar em conseqncia de esforos de tenso provocados pela ascenso de um corpo magmtico, chamados ento de anelares, ou ainda de fendas produzidas ao redor de um foco vulcnico, quando do abatimento (colapso) do edifcio vulcnico. Os diques so muito comuns no Brasil, ocorrendo em vrios tipos de rochas e com composio varivel. Nas bacias sedimentares Paleozicas so comuns diques de diabsio, e em regies de Minas Gerais e no nordeste do Brasil, ocorrem diques de pegmatitos mineralizados em pedras semi-preciosas e outros minerais de interesse econmico (wolframita, tantalita etc). Tambm em Viosa ocorrem diques de diabsio, que sero vistos na aula prtica prxima ponte do bairro Silvestre. Batlitos so corpos magmticos de grandes dimenses (rea de afloramento superior a 100 km2) que no tm, aparentemente, delimitao em profundidade (Figura 4.2).
VULCANISMO
O vulcanismo abrange todos os processos que permitem e provocam a ascenso de material magmtico do interior para a superfcie terrestre. O magma pode extravasar superfcie atravs de dois tipos de aberturas: fissuras, que so extensas fendas que colocam a cmara magmtica (cavidade onde se aloja o magma) em contato com a superfcie, ou orifcios. O vulcanismo de fissura atualmente observado ao longo das cadeias meso-ocenicas. O vulcanismo de orifcios o tipo mais comum de vulces atuais, sendo o magma ejetado por uma abertura circular em torno da qual se acumulam os materiais produzidos pela atividade vulcnica, constituindo assim o edifcio ou cone vulcnico. O orifcio chamado de cratera, e o canal por onde ascende o magma se denomina conduto ou chamin vulcnica. Devido a remoo intensa de material subjacente ao cone vulcnico comum que ocorra o abatimento (destruio) total ou parcial do foco vulcnico. O conjunto de montanhas com disposio circular que comumente envolvem um foco vulcnico abatido conhecido como caldeira. A cidade de Poos de Caldas (MG) envolvida por uma caldeira, com um dimetro aproximado de 30 km, considerada a maior do mundo. A grande maioria dos vulces acha-se agrupadas em zonas, principalmente ao longo de costas ocenicas, destacando-se a costa do oceano Pacfico, formando o chamado crculo do fogo. Tal distribuio de vulces est estreitamente relacionada com os contatos entre placas tectnicas (vide captulo 2). No interior dos continentes as atividades vulcnicas so mais raras.
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Atividades vulcnicas Segundo a sua natureza e modo de ocorrncia, as atividades vulcnicas podem ser explosivas (extravasamento violento do magma, comum em magmas viscosos, cidos) ou efusivas (extravasamento calmo, sem exploses). A seqncia das atividades vulcnicas pode ser assim descrita: - Instalao de um foco vulcnico: tremores de terra, formao de fendas, exalao de gases e vapores, seguindo-se a abertura e limpeza da chamin vulcnica; - Ejeo e derramamento de lava: derramamento de lava propriamente dito, podendo ser explosivo durante todo o perodo vulcnico ou apenas no incio; - Exalaes gasosas: fumarolas, solfataras e mofetas, recebendo tais denominaes em funo da temperatura em que ocorrem. Materiais produzidos pela atividade vulcnica Lavas: so as massas magmticas parcial ou totalmente fundidas. As lavas bsicas so mais quentes e menos viscosas do que as cidas, estas ltimas tendendo a promover um vulcanismo mais explosivo. (basicidade ou acidez aqui no se refere a pH, mas sim ao teor de slica: vide pgina 31). Materiais piroclsticos: so fragmentos ejetados na atividade vulcnica que tanto podem ser derivados do prprio magma, como das rochas encaixantes. Normalmente predominam nas fases iniciais do vulcanismo, podendo ser os nicos materiais produzidos. Em funo de seu tamanho e forma so classificados como blocos (angulosos e com dimetro > 5 cm), bombas (arredondados e com dimetro > 5 cm), lpili (arredondados e com D < 5 cm) e cinzas (fragmentos finos com dimetro < 4 mm, que ao se consolidarem formam os tufitos ou tufos vulcnicos). Exalaes: vapores e gases produzidos ao longo de todas as atividades vulcnicas. Vulcanismo no Brasil Atualmente no existem vulces ativos no Brasil; contudo isto j ocorreu intensamente em pocas geolgicas passadas. Restaram, porm, poucos testemunhos dessas atividades vulcnicas, j que os produtos vulcnicos so facilmente erodidos. H cerca de 130 milhes de anos o Brasil foi palco de uma das maiores atividades vulcnicas que se conhece. Foram atingidos todo o Sul do Brasil e parte dos estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, alm do Maranho e Amazonas. O magmatismo mais intenso foi no Sul do Brasil, Argentina e Uruguai, na rea da Bacia do Paran, onde o vulcanismo do tipo fissura, de carter bsico cobriu cerca de 1.200.000 km2. Este vulcanismo constituiu-se de sucessivos derrames de lava basltica e intruses de diabsio em forma de diques e soleiras. Em alguns locais estes derrames ultrapassam a espessura de 1000 m, tendo sido observadas seqncias de at 32 derrames individuais. Os solos desenvolvidos sobre estas rochas, so em grande parte Latossolos Roxos, que apresentam boas qualidades fsicas e qumicas. So solos porosos, de boa drenagem, que permitem bom desenvolvimento radicular. Possuem entretanto pouca coerncia entre as partculas, tornando-os muito suscetveis a eroso quando mal manejados.
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H cerca de 70 milhes de anos, reas do sul e sudeste do Brasil foram afetadas por atividades plutnicas e vulcnicas de carter alcalino-sdico. Os edifcios vulcnicos no foram conservados, mas observam-se com freqncia depsitos piroclsticos consolidados associados. No Planalto de Poos de Caldas (MG) observa-se o contorno circular de uma caldeira de cerca de 30 km de dimetro, relacionada a este episdio vulcnico. Incluem-se tambm neste ciclo as ocorrncias de Lages (SC), Jacupiranga, So Sebastio, Ipanema (SP), Arax (MG), Itatiaia, Mendanha, Tingu, Cabo Frio (RJ) e Ipor (GO). O vulcanismo mais recente ocorrido no Brasil foi responsvel pela formao de diversas ilhas do Atlntico brasileiro, entre elas Fernando de Noronha, Trindade, Rochedos de So Pedro e So Paulo e Abrolhos, as quais se formaram entre 1,7 a 11,8 milhes de anos atrs.
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Teor de SiO2 um critrio qumico relacionado com a quantidade de slica total na rocha. Por este critrio as rochas gneas so classificadas em: - cidas: SiO2 > 65%. Tais rochas sempre contm uma proporo expressiva do mineral quartzo, de forma que ele pode ser facilmente identificado na rocha. Ex: granito. - Intermedirias: 54% < SiO2 < 65%. So rochas ricas em silicatos, havendo porm pouco ou nenhum quartzo. Ex: sienito. - Bsicas: 45% < SiO2 < 54%; e Ultrabsicas: SiO2 < 45%. So rochas que no contm quartzo. Ex: basalto (bsica); peridotito (ultrabsica). O Quadro 4.1 contm anlises qumicas de rochas gneas cidas, intermedirias, bsicas e ultrabsicas. Entre as diferenas de composio ressaltam-se o comportamento da slica, alumnio, ferro ferroso, magnsio, clcio, sdio e potssio.
Quadro 4.1: Composio qumica de rochas gneas comuns.
Composio (xidos) SiO2 Al2O3 Fe2O3 FeO MgO CaO Na2O K2O % Granito (cida) 72.08 13.86 0.86 1.67 0.56 1.33 3.08 5.46 Diorito (intermediria) 54.86 16.40 2.73 6.97 6.12 8.40 3.36 1.33 Basalto (bsica) 49.50 13.00 3.90 7.92 8.06 11.07 2.26 0.56 Dunito (ultrabsica) 40.16 0.84 1.88 11.87 43.16 0.75 0.33 0.14
Cor ou percentagem de silicatos ferromagnesianos A presena de Fe e Mg na composio dos silicatos faz com que eles tenham coloraes escuras. A maior ou menor presena destes silicatos faz com que a rocha seja mais escura ou mais clara. Assim, temos: - Flsicas ou leucocrticas: rochas de cores claras. Ex: granito, riolito. - Mficas ou melanocrticas: rochas de cores escuras. Ex: basalto, gabro. - Mesocrticas: rochas de cores intermedirias. Ex: sodalita-sienito. Composio Mineralgica o critrio fundamental para a denominao da rocha. Os minerais mais importantes para a classificao so: feldspatos potssicos, plagioclsios (feldspatos clcico-sdicos), quartzo, biotita, anfiblios (hornblenda, por exemplo), piroxnios, olivinas e os feldspatides. Feldspatides so minerais, semelhantes aos feldspatos, mas com menos slica em sua composio, pois os mesmos se formam quando no h, no magma, slica suficiente para formar feldspatos (Ex. nefelina). A identificao e denominao da rocha so feitas atravs da avaliao das propores mdias dos minerais petrogrficos contidos na rocha. Isto normalmente feito com o auxlio de esquemas (quadros, tabelas) de composio mineralgica das principais rochas gneas (Figura 4.3). Tais esquemas tm a
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vantagem adicional de conter e sintetizar os demais critrios de classificao das rochas gneas vistos acima.
H entre as pedras e as almas afinidades to raras. Como vou dizer? Elas tem cheiro de gente. Queira ou no queira se sente. Tem esse poder. Pedra e homem comovem. Sobem e descem. E somem. Ningum sabe bem.
Joo Bosco; Granito
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Afanticas vulcnicas
Traquito
Riolito
Dacito
Andesito
Basalto
Olivina basalto
Fanerticas plutnicas
Sienito
Granito
Granodiorito
Diorito
Gabro
Peridotito
Dunito
100
quartzo
80
(ricos em Ca)
feldspatos plagioclsios
60
40
piroxnios
20
olivina
Aumenta o teor
Figura 4.3. Composio mineralgica aproximada das principais rochas gneas.
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5. ROCHAS SEDIMENTARES
CICLO SEDIMENTAR
As rochas sedimentares so formadas atravs da deposio e consolidao de sedimentos. Sedimentos so materiais originados da destruio e alterao de rochas pr-existentes. Assim, a formao de uma rocha sedimentar decorre de uma sucesso de eventos, que constituem o chamado ciclo sedimentar. As etapas bsicas do ciclo sedimentar so: - Decomposio de rochas (intemperismo) - Remoo e transporte dos produtos do intemperismo - Deposio dos sedimentos - Consolidao (endurecimento) dos sedimentos Intemperismo O intemperismo consiste da transformao das rochas em materiais mais estveis em condies fsico-qumicas diferentes daquelas em que elas se originaram. A natureza e efetividade dos processos de intemperismo dependem principalmente de trs grupos de variveis: condies climticas, propriedades dos materiais e variveis locais (vegetao, vida animal, lenol fretico, etc). O intemperismo pode ser causado por processos fsicos (desgaste e/ou desintegrao) e/ou qumicos (decomposio), onde muitos desses processos so causados por fatores biolgicos, sendo comumente caracterizados como intemperismo biolgico. Os produtos de intemperismo qumico consistem de solutos e resduos. Os solutos incluem principalmente Na, K, Mg e Ca, que so lixiviados, atingindo por fim os oceanos, onde podem se precipitar e formar rochas sedimentares qumicas. Os resduos so dificilmente solveis em gua e compem-se principalmente de quartzo e outros minerais primrios resistentes (tambm chamados de minerais detrticos). Nessa frao incluem-se tambm os produtos que se formam nos processos de intemperismo qumico, ou seja os minerais secundrios. Transporte A segunda etapa do ciclo sedimentar a remoo, ou seja, a ao de processos naturais que promovem o transporte dos produtos do intemperismo. O transporte pode se dar por soluo, suspenso e trao. Os solutos so transportados em soluo, enquanto fragmentos finos so transportados em suspenso, e fragmentos grosseiros so transportados por trao. Denomina-se eroso quando a remoo desses produtos se d pela superfcie do solo e lixiviao quando a remoo se d em soluo, no interior do solo. Os principais agentes transportadores so a gravidade, gelo, gua e vento. Estes agentes tm importante papel na separao de sedimentos, avaliado pelos parmetros de competncia e poder de seleo. A competncia relativa ao tamanho e quantidade de fragmentos que o agente pode transportar, enquanto o poder de seleo consiste na capacidade de separao de fragmentos por tamanho. Meios mais viscosos como a gravidade e o gelo tm maior competncia, enquanto
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meios menos viscosos, como o vento e a gua corrente tm maior poder de seleo. Deposio e consolidao A deposio dos sedimentos ocorre tanto pela diminuio da energia do agente transportador como pela reao qumica e conseqente precipitao de substncias dissolvidas. A deposio dos sedimentos ocorre em locais favorveis, geralmente depresses, como oceanos e lagos, ou plancies de inundao, desertos e pntanos. A consolidao (litificao ou diagnese) consiste dos processos fsicos (compactao) e/ou qumicos (cimentao) que promovem o endurecimento dos sedimentos depositados, dando origem s rochas sedimentares.
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Quadro 5.1: Rochas clsticas, segundo a classe de tamanho (granulometria). dimetro da partcula (mm) >2,0 0,05 - 2,0 0,002 - 0,05 < 0,002
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termo textural genrico (rocha) rocha pseftica rocha psamtica rocha peltica rocha peltica
o conglomerado possui pelo menos um de seus minerais detrticos arredondado, enquanto a brecha apresenta todos os cascalhos angulosos. 2 o argilito no possui estratificao, enquanto o folhelho bem estratificado.
Rochas sedimentares qumicas e orgnicas As rochas sedimentares qumicas so formadas por minerais quimicamente precipitados, tais como a calcita e dolomita (calcrios), a slica (cherts), a halita e silvita (evaporitos). As rochas orgnicas so formadas pela precipitao e/ou acmulo de materiais orgnicos animais ou vegetais, tais como carapaas silicosas de algas diatomceas (diatomitos), fragmentos de conchas (coquinas), carapaas (exoesqueletos) carbonticos de algas e celenterados (recifes de coral), e restos vegetais continentais e subaquticos (carvo).
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7. O mesmo gro mineral que esteja hoje em uma determinada rocha pode ter pertencido a outras rochas sedimentares? 8. Comparando-se um argilito, um arenito e um conglomerado o que pode ser dito sobre a competncia e o poder de seleo do agente transportador? E sobre a energia do ambiente de deposio? 9. Qual arenito teria os gros de quartzo de tamanho mais uniforme: o originado de areias de depsitos elicos ou o de depsitos fluviais? Considerando-se solos formados a partir dos dois arenitos acima, qual solo teria maior reteno de gua? 10. Que mineral voc espera ser bastante comum nos arenitos e conglomerados? Por qu? Entre um conglomerado e uma brecha, qual voc espera ser mais rico em minerais facilmente intemperizveis? 11. Por que os fsseis (restos ou vestgios de antigos organismos presentes nas rochas) so encontrados essencialmente nas rochas sedimentares? 12. Sabendo-se que algumas rochas sedimentares apresentam os seus fragmentos cimentados entre si por algum material (cimento) que percolou e precipitou nos vazios existentes e que existem cimentos de diversas natureza (silicoso, fosftico, carbontico, ferruginoso etc) voc esperaria diferenas na resistncia a alterao (intemperismo) destas rochas? De que tipo? E no solo, voc esperaria alguma diferena em termos de fertilidade?
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6. ROCHAS METAMRFICAS
METAMORFISMO
As rochas sedimentares so formadas, de modo geral, pela desintegrao e/ou decomposio de rochas pr-existentes, com posterior transporte dos detritos ou fragmentos, culminando o processo com a deposio ou sedimentao dos produtos da eroso, prximo ou distante da rea fonte que forneceu o material. Assim, as condies de presso e temperatura em que se formam as rochas sedimentares aproximam-se ou so idnticas s da superfcie terrestre. Por outro lado, as rochas gneas derivam-se da solidificao do magma e se cristalizam em temperaturas entre 1700C e 600C, sob condies de presso variando desde atmosfricas (caso das lavas) at alguns milhares de atmosferas (em profundidades de at 20 km; caso das rochas plutnicas). As rochas sedimentares, bem como as magmticas, quando soterradas em profundidades de 3 a 20 km, em ambientes geolgicos onde atuam altas presses e temperaturas (que oscilam entre 100C e 600C), tornam-se instveis. Os minerais originais tendem a se transformar, formando novos minerais atravs de reaes mtuas ou mudanas no sistema de cristalizao, ou modificam a sua forma e/ou tamanho por recristalizao. Assim, a rocha passa a ter uma nova composio mineral e novas texturas e estruturas se desenvolvem. Uma rocha metamrfica ento, resultante da transformao de rochas prexistentes, sob a influncia de agentes de origem interna, tais como presso, temperatura e fluidos gasosos (CO2 e H2O, principalmente). Esse conjunto de transformaes constitui o metamorfismo. O metamorfismo se d, dessa forma, em um intervalo relativamente amplo de presses e temperaturas de tal forma que as rochas podem ser mais, ou menos metamorfizadas. Para possibilitar a diferenciao dessas rochas, o intervalo de presses e temperaturas, no qual se d o metamorfismo dividido em graus metamrficos denominados incipiente, fraco, mdio e forte, conforme a atuao das presses e temperaturas sejam mais ou menos intensas. Geralmente, com o aumento do grau metamrfico ocorrem mudanas na mineralogia e aumento na granulometria (tamanho dos gros minerais) das rochas. Rochas de grau metamrfico incipiente mostram poucas diferenas em relao s originais, enquanto as rochas de alto grau metamrfico guardam poucas ou nenhuma feies da rocha original. Em condies de presso e temperatura mais intensas do que aquelas correspondentes ao grau metamrfico forte, comea a ocorrer a refuso parcial da rocha (uma vez que os minerais tm diferentes pontos de fuso) e formam-se rochas de natureza hbrida (metamrfica/gnea), como o caso dos migmatitos. Uma seqncia tpica de grau metamrfico crescente : ardsia
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Devido ocorrncia comum de presses cizalhantes (orientadas) nos ambientes metamrficos, estas rochas, mostram comumente uma estrutura denominada xistosidade. A xistosidade consiste na orientao de minerais que tm formas passveis de orientao (planares e/ou alongadas) em direes ou planos paralelos. medida que cresce a proporo de minerais no orientveis (quartzo e feldspato, por exemplo) a xistosidade d lugar a uma segregao de minerais em bandas, conhecida como foliao gnissica.
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Falhas So fraturas, nas quais houve deslocamento relativo entre os blocos rochosos, sendo que este deslocamento se d ao longo do plano de fratura (Figura 6.2a). De acordo com o tipo de deslocamento entre os blocos rochosos, as falhas podem ser de gravidade, de empurro ou de deslocamento horizontal. Sistemas de falhas so conjuntos de falhas associadas que se dispem paralela ou obliquamente entre si gerando conformaes rebaixadas, denominadas fossas tectnicas ou grabens, e conformaes elevadas denominadas muralhas ou horsts (Figura 6.2b). um tipo de estrutura muito propcia para a acumulao de petrleo, como o caso da jazida de petrleo do Recncavo Bahiano, prximo cidade de Salvador (BA).
Diclases, juntas ou fraturas So rupturas que separam ou tendem a separar duas partes de um bloco rochoso, inicialmente inteiro. Neste caso no h deslocamento entre os blocos. As fraturas podem ocorrer isoladas ou em sistemas. Sistemas de fraturas podem apresentar arranjos caractersticos tais como fraturas paralelas, cruzadas, radiais, etc.
Figura 6.2. (a) Representao esquemtica de uma falha; (b) sistema de falhas.
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7. INTEMPERISMO
Os materiais que encontramos na superfcie da Terra so, em sua maior parte, produto das transformaes que a litosfera sofre na sua interao com a atmosfera, com a hidrosfera e com com a biosfera, ou seja so produtos do intemperismo. Esses materiais constituem a base de muitas atividades humanas, tais como a agricultura, a construo de cidades, etc. A explorao sustentvel desses recursos depende do conhecimento da sua natureza e da compreenso da sua gnese, o que constitui o objetivo deste captulo.
Intemperismo fsico
Constitui o conjunto de processos que resultam na desagregao fsica das rochas. Nesses caso altera-se apenas a unidade fsica da rocha e no a sua composio qumica. De acordo com os fatores atuantes, o intemperismo fsico pode ser subdividido em termal e mecnico. Intemperismo fsico termal o mais comum dos processos intempricos de natureza fsica. So processos de desagregao mecnica devidos variao de temperatura nos corpos rochosos. Todos os corpos se expandem quando aquecidos e se contraem quando resfriados. Desta forma, rochas submetidas a processo contnuo de expanso e contrao, tendem a se fragmentar pelo enfraquecimento da sua estrutura. Alm disso as rochas so formadas, em sua maioria, por diferentes minerais que tm coeficientes de dilatao volumtrica diferentes, ampliando assim os esforos destrutivos sobre as rochas, que ao se repetirem continuamente durante sculos e sculos, provocam a fragmentao da rocha. Alm da composio mineralgica, tm influncia no intemperismo termal a cor e a granulometria da rocha. Assim, rochas mais escuras se aquecem mais, e desagregam mais facilmente. Do mesmo modo rochas de cor uniforme so menos susceptveis de se fragmentarem do que rochas de colorao variada. Rochas grosseiras se desintegram mais facilmente do que rochas de gros pequenos. O intemperismo fsico observado em quaisquer ambientes, embora seja favorecido em ambientes onde ocorrem fortes variaes de temperatura, de clima seco e pouca ou nenhuma vegetao, ou seja, em ambientes ridos ou semi-ridos.
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Intemperismo fsico mecnico Neste tipo de intemperismo, os fatores atuantes so diversos e imprimem esforos mecnicos s rochas levando a sua fragmentao. O processo consiste na presena de um agente qualquer em fendas das rochas, o qual se expande e contrai, pressionando a rocha at a sua ruptura. De acordo com o agente, temos os seguintes processos: Congelamento de gua: consiste no congelamento da gua inclusa em fraturas nas rochas. Ao se congelar a gua aumenta em 9% o seu volume exercendo presses da ordem de centenas de kg/cm2 sobre as paredes envolventes, podendo fragment-las, principalmente se houver uma repetio contnua do processo. Para que este processo ocorra, devem ser satisfeitas condies como a presena de poros e fendas na rocha, presena de gua e temperaturas caractersticas de climas frios. Cristalizao de sais e crescimento de cristais: so processos anlogos onde um a continuao do outro. A cristalizao de sais ocorre quando os sais no so lixiviados, e sim solubilizados na gua existente. Ao se dar a evaporao da gua os sais se precipitam, e pressionam as paredes envolventes, se estiverem em fissuras rochosas. As condies favorveis a estes processos so a existncia de pouca gua e evaporao intensa, caractersticas de climas ridos e semi-ridos.
Intemperismo qumico
O principal agente de intemperismo qumico a gua, que infiltra e percola as rochas, sendo o seu efeito mais intenso na medida em que ela se acidifica devido dissoluo de CO2 da atmosfera e presena de cidos orgnicos. A gua da chuva dissolve o CO2 da atmosfera, onde uma parte desse CO2 se combina com a gua formando cido carbnico, que fcilmente dissociado: H2O + CO2 H2CO3 H+ + HCO3-; HCO3- H+ + CO32Na decomposio qumica das rochas observa-se que a taxa de mobilidade relativa dos principais elementos qumicos decresce a partir do clcio e sdio para magnsio, potssio, silcio, ferro e alumnio. Por isso as rochas que esto se decompondo tendem a perder principalmente os primeiros, e mostram um relativo enriquecimento nas propores de xidos de ferro, alumnio e silcio. Em termos mineralgicos isso significa que esses aspectos qumicos controlam a seqncia de intemperismo dos minerais petrogrficos. Essa seqncia essencialmente inversa ordem de cristalizao de Bowen (capitulo 5). Assim, de modo geral, os minerais mais susceptveis ao intemperismo so aqueles que se situam no topo da srie, enquanto os mais resistentes situam-se gradativamente mais abaixo na srie. O quartzo extremamente resistente ao intemperismo ( o mineral comum mais resistente que h). O intemperismo qumico compreende a decomposio qumica dos minerais primrios das rochas, e a sntese (neoformao) de minerais secundrios. A decomposio dos minerais primrios das rochas resulta da ao separada ou simultnea de vrias reaes qumicas: oxidao, hidratao, dissoluo, hidrlise e acidlise.
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Oxidao: consiste na mudana do estado de oxidao de um elemento, normalmente atravs de reao com o oxignio. Essa reao produz a destruio da estrutura cristalina do mineral, afetando comumente rochas cujos minerais contm ferro ferroso (Fe2+), que se oxida em ferro frrico (Fe3+). Diz-se que tais rochas "enferrujam" na presena de umidade, j que a reao acompanhada por uma mudana de cor das superfcies alteradas para avermelhado ou amarelado. Fe2SiO4 (Fe-olivina) + 1/2O2 + 2H2O Fe2O3 (hematita) + H4SiO4 Hidratao: consiste na incorporao de gua estrutura mineral, formando um novo mineral. A hidratao dos minerais ocorre pela neutralizao das superfcies das partculas dos minerais pelas cargas eltricas das molculas de gua (dipolos). Fe2O3 + H2O 2FeO(OH)
Hematita
(vermelha)
goethita
(amarela)
Dissoluo: consiste da solubilizao completa de alguns minerais por cidos. Os carbonatos, por exemplo, so minerais muito susceptveis a esse tipo de reao. Em se tratando de gua pura, a dissoluo dos carbonatos mnima. Entretanto, se houver CO2 dissolvido na gua, ocorre a seguinte reao: CaCO3 (calcita) + H+ + HCO3- Ca(HCO3)2 (bicarbonato de clcio) O bicarbonato de clcio cerca de 30 vezes mais solvel em gua do que o carbonato de clcio (calcita), intensificando dessa forma a dissoluo dos carbonatos. Esse tipo de reao ocorre mais comumente em terrenos calcrios, levando formao de relevos crsticos. Hidrlise (quebra pela gua): uma reao qumica entre ons H+, provenientes da ionizao da gua, e ctions do mineral. O on H+ entra nas estruturas minerais, deslocando principalmente os ctions alcalinos (K+ e Na+) e alcalino-terrosos (Ca2+ e Mg2+), que so liberados para a soluo. A estrutura do mineral na interface slido/soluo de alterao acaba sendo rompida, liberando Si e Al na fase lquida. Esses elementos podem recombinar-se, resultando na neoformao de minerais secundrios. A hidrlise ocorre sempre na faixa de pH de 5 a 9. Se h maior ou menor percolao de gua, os componentes solveis so eliminados completa ou parcialmente, resultando, respectivamente, na hidrlise total ou parcial. No caso dos feldspatos potssicos, temos: KAlSi3O8 (K feldspato) + H+ + OH- H(AlSi3O8) + K+ + OHNa superfcie do mineral, os ons H+ substituem os ons K+. O restante do mineral no mais estvel depois desta substituio, resultando na continuao da sua decomposio hidroltica. Na hidrlise parcial, em condies de drenagem menos eficientes, parte da Si permanece no ambiente de intemperismo; o K pode ser total ou parcialmente eliminado. Esses elementos reagem com o Al formando
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aluminossilicatos hidratados (argilominerais), como, por exemplo, a caulinita, no caso de remoo total do K: 2H(AlSi3O8) + 5H+ + 5OH- Al2Si2O5(OH)4 (caulinita) + 4H2SiO3 Na hidrlise total, 100% da Si e do K so eliminados. A Si, embora seja pouco solvel nesta faixa de pH, pode ser totalmente eliminada em condies de pluviosidade alta e drenagem eficiente: Al2Si2O5(OH)4 (caulinita) + 5H+ + 5OH- 2Al(OH)3 (gibbsita) + 2H4SiO4 Acidlise: a reao de decomposio de minerais que ocorre em ambientes de clima frio, onde a decomposio da matria orgnica incompleta, formando-se cidos orgnicos que diminuem muito o pH das guas (pH < 5), complexando e solubilizando o Fe e o Al. Em condies de pH < 3, a acidlise total: KAlSi3O8 (K feldspato) + 4H+ + 4H2O 3H4SiO4 + Al3+ + K+ Nestas condies formam-se solos constitudos praticamente apenas dos minerais primrios mais insolveis como o quartzo. A acidlise parcial ocorre quando as solues de ataque apresentam pH entre 3 e 5 e, nesse caso a remoo do Al apenas parcial.
Intemperismo biolgico
So chamados de intemperismo biolgico, os processos de intemperismo de rochas causados por fatores biolgicos. O papel dos organismos determinado pela sua capacidade de assimilar vrios elementos da rocha em processo de alterao e, de produzir em seu metabolismo agentes qumicos, como por exemplo os cidos orgnicos. Tais processos podem ser tanto de natureza fsica como qumica. So processos de natureza fsica causados por organismos, entre outros, a presso de crescimento de razes, no caso destas estarem ocupando fendas de rochas. Assim tambm animais escavadores tm papel importante ao facilitarem a remoo de materiais alterados. Entretanto os processos de natureza qumica so muito mais importantes, destacando-se processos no quais vegetais superiores promovem a dissoluo qumica das rochas atravs de substncias cidas produzidas pelas suas razes, e assimilam elementos tais como K, Na, Ca, Al, Fe, etc, existentes nos minerais das rochas. Os primeiros estgios da decomposio biolgica de rochas so associados com microrganismos (fungos e bactrias) que "preparam" a rocha para o ataque qumico seguinte promovido por lquens, algas e musgos, sendo os ltimos estgios associados com vegetais superiores.
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d) Considerando as respostas anteriores, discuta a susceptibilidade do granito e do basalto ao intemperismo fsico. Que caractersticas em cada uma das rochas favorecem ou no a sua desintegrao fsica? 3. Voc acha que na Amaznia o intemperismo fsico termal favorecido? Por qu? E no serto nordestino? Por qu? 4. Do intemperismo fsico termal de um granito pode se formar um depsito sedimentar com que caractersticas granulometricas e mineralgicas? E do intemperismo qumico? 5. Em que ambientes se formam os barreiros de sal, em regies de clima seco ou mido? Por qu? 6. Que tipo de minerais voc espera encontrar nas fraes argila e areia de solos desenvolvidos respectivamente sobre granito e gabro? Qual a tendncia da cor dos solos desenvolvidos sobre uma e outra rocha, considerando-se regies no Sudeste (clima tropical mido) e Nordeste (clima semi-rido)? 7. Em reas de rochas clcarias o relevo apresenta formas muito caractersticas que so conhecidas em seu conjunto como Karst. Nestas reas so comuns a presena de relevos ruiniformes, dolinas (depresses), sumidouros e cavernas. Esse tipo de relevo observado prximo a Belo Horizonte, na regio de Lagoa Santa e aeroporto de Confins. Qual o processo essencial para esculpir o relevo krstico (relevo tpico das regies calcrias)? 8. Considere reas de rochas calcrias na Bahia (Irec), em Minas Gerais (Lagoa Santa) e em So Paulo (Vale da Ribeira). Onde voc acha que o relevo krstico est sendo esculpido mais efetivamente, nas condies atuais? 9. Por que em regies calcrias as panelas de cozinha apresentam crostas de CaCO3? 10. Como se explica a existncia de solos desenvolvidos sobre calcrio, se os produtos do intemperismo de carbonatos (pex.: calcita, CaCO3) so solutos? 11. Na maioria das jazidas de bauxita (minrio de alumnio) dos trpicos o principal mineral a gibbsita (Al(OH)3). Sabendo-se que existem numerosas jazidas de bauxita no sudeste do Brasil, o que se pode concluir das condies de clima e topografia vigentes a poca de formao destas jazidas? 12. A concentrao de alumnio a ponto de formar uma jazida essencialmente relativa ou absoluta? Neste processo est ocorrendo um empobrecimento ou enriquecimento qumico? Qual o significado ento, de solos muito gibbsticos? 13. Em que continentes e/ou pases voc espera que estejam ocorrendo processos de alterao similares aos que ocorrem no Brasil? Por qu?
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Os minerais apresentam diferenas quanto resistncia ao intemperismo, e assim tambm as rochas de diferentes composies apresentaro diferenas. Como regra geral, a resistncia alterao inversa ordem de cristalizao da srie de Bowen (captulo 5). Assim, por exemplo, os silicatos ferromagnesianos so mais susceptveis alterao do que os demais silicatos. Por qu ? O tamanho dos minerais na rocha (textura) tambm influencia a sua resistncia ao intemperismo, uma vez que quanto mais grosseira a granulometria da rocha, mais facilmente ela se intemperizar, se os demais atributos forem similares. A presena de estruturas tais como, xistosidade, foliao gnissica, estratificao, vesculas, etc, tende a facilitar o intemperismo de uma rocha em relao quelas que tenham estrutura homognea. Esfoliao esferoidal As rochas tendem a se desagregar segundo suas isotermas (linhas de igual aquecimento), ou isolinhas de fraqueza. Assim se a rocha tiver inicialmente uma forma polidrica qualquer (situao comum, devido ao fraturamento generalizado de grande parte das rochas), ela tende a se intemperizar primeiro nos vrtices, seguidos das arestas, e ento no restante das faces, assumindo assim uma forma arredondada. Esse slido arredondado por sua vez, tende a se descamar em cascas concntricas tal como se verifica numa cebola. Esta feio recebe o nome de esfoliao esferoidal. A esfoliao esferoidal comumente observada em rochas de estrutura macia e granulao uniforme. As rochas constituem o material de origem, um dos fatores de formao do solo. A influncia do material de origem nos solos muito importante. Assim, solos jovens mostram, entre outros atributos, minerais primrios provenientes da rocha de origem, guardando de forma inequvoca as caractersticas desta. Mesmo em solos muito intemperizados ("velhos"), persistem heranas da rocha de origem, como demonstrado pelos Latossolos Roxos desenvolvidos sobre rochas gneas bsicas. O intemperismo atuando continuamente sobre os solos tende a homogeneiz-los com o tempo. Desse modo rochas diferentes podem originar solos semelhantes, assim como podem originar solos diferentes, mesmo em seu estgio mais avanado de intemperismo. A trajetria dessa tendncia homogeneizao depende dos fatores de formao do solo, podendo a homogeneizao nunca ser atingida. Por exemplo:
Gnaisse Granito Basalto LV (Latossolo Vermelho-Amarelo) LR (Latossolo Roxo) (1) (2)
Nos exemplos anterirores observamos que rochas diferentes podem originar solos semelhantes como em (1), mas podem tambm resultar em produtos finais que jamais sero iguais (1 e 2) por mais intenso que seja o intemperismo. Sendo assim, considerando as diferenas e similaridades entre rochas e seus produtos de intemperismo, Resende et al. (1983) propuseram um reagrupamento dos tipos comuns de rochas, adaptado para a pedologia. Estes autores propem
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grupos de rochas que guardam uma relao de causa e efeito mais direta entre os atributos da rocha de origem e as caractersticas e comportamento do solo resultante. Os grupos propostos so os seguintes: G1 - Rochas granticas (granitos, granodioritos, gnaisses claros) G2 - Rochas mficas (basaltos, diabsios, gabros) G3 - Rochas pelticas e metapelticas (argilitos, folhelhos, siltitos, ardsias, filitos, micaxistos) G4 - Rochas psamticas e metapsamticas (arenitos, quartzitos) G5 - Rochas calcrias (calcrios, mrmores, dolomitos, margas) G6 - Rochas ferruginosas (itabiritos, concrees ferruginosas) G7 - Depsitos aluviais G8 - Gnaisses (biotita-gnaisses, biotita-xistos) G9 - Rochas psefticas (conglomerados, brechas) G10 - Depsitos orgnicos
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- gnaisse leucocrtico ou gnaisse mesocrtico? 6. Entre as seguintes rochas: granito, sienito, gabro, arenito, argilito, qual originar um solo: - mais arenoso? - mais rico em K? - mais rico em Mg? - com maior deficincia em P? - mais argiloso? 7. Qual solo ser em geral mais arenoso, o originado de uma rocha peltica ou o de uma rocha psamtica? 8. As rochas pelticas intemperizam-se facilmente? Por qu? 9. Rochas de difcil intemperismo tendem a produzir solos rasos ou profundos? 10. As rochas pelticas tendem a produzir solos mais pobres em nutrientes. Por qu? 11. As rochas mficas produzem em geral solos fertis. Por qu? O que se entende por um solo frtil? So solos rasos ou profundos? Por qu? 12. As rochas ferruginosas produzem em geral solos pobres. Por qu? De que composto o Itabirito? 13. O qu voc espera de um solo derivado do quartzito, no que se refere a fertilidade e profundidade? Por qu?
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das camadas claras do saprolito mais grosseira. Ela tende a ser mais arenosa que as camadas avermelhadas ou amareladas devido a presena do quartzo em partculas de tamanho areia. Com o intemperismo mais intenso, a textura passa de arenosa a siltosa. A textura argilosa s atingida quando o saprolito j foi bastante pedogenizado, normalmente nos horizontes B dos solos. Alm do quartzo e caulinita ocorrem tambm, a goethita (xido de ferro hidratado) e/ou hematita (xido de ferro no hidratado), e em alguns casos, gibbsita. O saprolito do gnaisse, na regio de Viosa, est freqentemente associado ao saprolito do diabsio, rocha mfica muito similar ao basalto, porm de textura um pouco mais grosseira (fanertica fina, por ser hipabissal). As caractersticas deste saprolito so visivelmente diferentes daquelas do saprolito do gnaisse. um material que tambm herdou caractersticas da rocha que o originou, sendo, portanto, macio e mais uniforme. Apresenta textura fina, variando entre siltosa e argilosa. Os minerais presentes so caulinita e xidos de ferro (hidratados ou no), podendo tambm ocorrer a gibbsita. O diabsio encontra-se normalmente subdividido em blocos, devido ao intenso fraturamento (vide captulo 7) a que a rocha foi submetida. A alterao da rocha ento resulta em sua esfoliao esferoidal (vide captulo 6), produzindo as cebolinhas. Esta feio preservada no saprolito da rocha, podendo ser facilmente observada nos horizontes C dos solos. Estes so os aspectos gerais dos saprolitos do gnaisse e diabsio. Em muitos casos os dois saprolitos foram expostos durante a construo de estradas. Em outros casos eles foram expostos pelos efeitos da eroso do material sobrejacente, com abertura de sulcos. Objetivos Esta aula tem como objetivo geral a observao dos saprolitos e solos dos arredores de Viosa. Saprolitos como os aqui existentes so ideais para se estudar o nascimento (gnese) de um solo, no caso, a partir de duas rochas diferentes. So materiais ricos em informaes bsicas de importante significado pedolgico, principalmente no que se refere gnese do solo. Objetivos especficos consistem em observar as relaes entre solo (manto de intemperismo) e a rocha, interpretar as inter-relaes existentes, e refletir sobre os processos transformadores j ocorridos e em curso. Roteiro e observaes Seguindo a estrada Viosa-Ponte Nova, em vrios locais pode ser observado o manto de intemperismo que se desenvolve sobre o gnaisse, no qual bem visualizada a estrutura da rocha. Os cortes das estradas nas elevaes mostram os horizontes A, B e C desenvolvidos predominantemente sobre gnaisses. Como j observado na primeira aula prtica, o horizonte A formado pelos primeiros centmetros e tem cor escurecida, sendo, portanto, mais rico em matria orgnica. O horizonte B tem espessura varivel, em geral poucos metros, tem cor amarela (goethita) e bastante resistente eroso. O horizonte C muito profundo, em geral tem cor rsea (hematita + caulinita) sendo facilmente erodvel. Em alguns locais este horizonte est muito prximo superfcie. Procure observar a ocorrncia destas diferenas de espessuras dos horizontes B e C ao longo do percurso.
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Ao atravessar a ponte de Silvestre podemos observar o rio correndo sobre rochas (cachoeira do Silvestre): isso indica o nvel de base da eroso neste local. Na antiga entrada para a escola (ex-Funabem), direita, aps a curva, observa-se um perfil (barranco) no qual so comuns blocos de rochas arredondados. Neste local tem-se um dique de diabsio. A presena dos blocos no perfil uma indicao de que esta rocha est resistindo mais ao intemperismo, do que o gnaisse adjacente. O solo desenvolvido sobre o diabsio vermelho no horizonte B e amarelado no horizonte C, sendo atrado pelo magneto. O horizonte C do diabsio mais resistente a eroso do que o horizonte C do gnaisse, sendo tambm mais argiloso. No asfalto, prximo ao acesso principal da escola (ex-Funabem), tm-se um corte com caractersticas distintas: a espessura dos horizonte A + B maior do que nos cortes vistos anteriormente.
LEITURA COMPLEMENTAR: Paisagem de Viosa, 1997. Cardoso, I. M. e Fernandes, R. B. A. Jard, Viosa, 20p. Cartilha do Museu Alexis Dorofeef.
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encontrar no horizonte C do gnaisse? Qual horizonte tem maior teor de argila, o B ou C? 12. A rocha fresca observada prximo a escola, gnea, sedimentar ou metamrfica? O resfriamento foi rpido ou lento? 13. Qual mineral se intemperiza mais facilmente: um mfico ou flsico? 14. Como se explica a presena e permanncia de blocos da rocha mfica, enquanto o gnaisse da regio est quase todo decomposto? Compare a susceptibilidade ao intemperismo do gnaisse e diabsio, considerando os aspectos relacionados composio mineralgica x estrutura e textura. 15. Por que h o arredondamento dos blocos de diabsio? (dica: intemperismo funo de superfcie exposta. A esfera tem a maior superfcie para um mnimo de volume). Em que outras rochas voc esperaria uma tendncia ao arredondamento? 16. Que mineral(is) est(o) sendo atrado(s) pelo im? 17. Nos solos vermelhos onde voc esperaria ter maior concentrao de elementos traos: na frao argila ou na frao silte e argila? (consulte o quadro a seguir).
Mineral Augita (piroxnio) Hornblenda (anfiblio) Olivina Biotita Nontronita (argilom. 2:1) Glauconita Goethita Hematita Magnetita
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Fe2O3 (%) 8.21 20.19 8.64 18.68 13.10 23.57 88.69 96.67 74.36 M = soma de Mn, Cr, V, Ni, Co, Cu e Zn
(milimoles) 7.08 0.94 7.48 8.26 0.61 1.22 1.42 1.58 29.60
Observao: Credita-se tambm ao fenmeno de substituio isomrfica (vide captulos 3 e 8) a localizao, grande parte das vezes, dos elementos menores que ocorrem em uma srie de minerais. Como exemplo a presena de V, Cr, Co, Mn, etc, na magnetita, com grande importncia para a fertilidade de solos derivados de rochas bsicas, e a presena de Rb em minerais potssicos, Sr em minerais clcicos, etc.
18. Se voc fosse comprar terras em um lugar onde s houvesse cerrado e todos os solos fossem vermelhos e distrficos (pobres em Ca, Mg, etc), mas um deles fosse originado de rochas mficas, qual voc compraria? Por qu? Como identificar o solo mais rico em elementos traos?
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8. MINERAIS SECUNDRIOS
Os minerais secundrios so aqueles formados pela desintegrao e alterao dos minerais primrios atravs do intemperismo. Nesse processo existe a formao de novos minerais, normalmente de tamanho menor e mais ajustados s novas condies de equilbrio que so bem diferentes daquelas da formao das rochas. Os minerais secundrios constituem praticamente a totalidade da frao mais fina do solo, ou seja, a frao de tamanho denominada de argila). A denominao minerais argilosos ser a forma genrica de denominao dos minerais secundrios silicatados e dos minerais secundrios oxdicos de Fe e Al que designam os xidos (O), hidrxidos (OH) e oxihidrxidos (O,OH) de Fe e Al. Alm da conciso e brevidade que esses termos permitem, procura-se tambm evitar o uso de termos obsoletos como, por exemplo, sesquixidos de Fe e Al. Os minerais argilosos silicatados so essencialmente silicatos de alumnio hidratados com magnsio ou ferro substituindo total ou parcialmente o alumnio e podem apresentar elementos alcalinos ou alcalinos-terrosos como constituintes. Os principais exemplos so: caulinita, montmorilonita, vermiculita, etc. Os minerais argilosos oxdicos de Fe e Al ocorrem em formas cristalinas ou amorfas, sendo as formas cristalinas representadas principalmente pela goethita (FeOOH) hematita (Fe2O3) e gibbsita [Al (OH)3]. A presena dos diferentes tipos de minerais secundrios na frao argila do solo depende de fatores como relao Si:Al no meio, presena ou no de alcalinos e alcalinos-terrosos, balano precipitao x evapotranspirao, etc., ou seja, basicamente do grau de evoluo do solo. A frao argila dos solos apresenta grande importncia por ser a frao ativa do solo e que participa de praticamente todas as reaes fsico-qumicas que ocorrem nos solos. Em geral os minerais da frao argila possuem tamanho reconhecido como da frao coloidal (de tamanho muito pequeno) com a presena de cargas de superfcie, o que possibilita a adsoro de ons; promove a reteno de gua e alm disso esses minerais apresentam plasticidade e pegajosidade; so susceptveis de disperso e floculao; exibem dureza e tenacidade no estado seco; variam de volume conforme a umidade e desempenham papel importante na cor e agregao dos solos minerais.
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De acordo com o arranjo dessas lminas no sentido de formar as unidades cristalogrficas caractersticas, so distinguidos os seguintes grupos de minerais importantes em solos brasileiros. Grupo de minerais 1:1 Grupo da Caulinita So chamados de minerais 1:1 porque so formados pelo empilhamento de uma lmina de tetraedros de Si e uma lmina de octaedros de Al, uma no topo da outra. A ligao entre essas duas lminas uma ligao inica entre o oxignio apical da lmina de tetraedros e o Al da lmina octadrica.
As unidades 1:1 so seguras por pontes hidrogeninicas entre os oxignios da camada tetradrica e hidroxilas da camada octadrica. Essas pontes hidrogeninicas promovem uma forte ligao entre as unidades 1:1, o que confere a este tipo de minerais uma caracterstica de no expansibilidade e tambm da inexistncia de troca de materiais entre as unidades 1:1.
As distncias entre os planos atmicos que se repetem de 0,72 nm e esta no se modifica sob tratamentos comuns, o que importante na identificao desse mineral no solo. A frmula ideal da caulinita Al2Si2O5(OH)4. um mineral argiloso silicatado de ocorrncia extremamente grande em solos brasileiros. Normalmente tem uma morfologia hexagonal, superfcie especfica bastante baixa na faixa de 10 20 m2/g e uma CTC que varia na faixa de 3 10 meg/100g. A CTC altamente dependente do pH, o que parece mostrar que, predominantemente, as cargas da caulinita so desenvolvidas em funo do pH e no so o produto de substituies isomrficas na estrutura. Essas cargas se desenvolvem nas bordas quebradas do mineral. A caulinita , em geral, uma argila de atividade bastante baixa, em termos de atividade coloidal. Assim ela apresenta baixa plasticidade e pegajosidade e tambm baixa capacidade de expanso e contrao.
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Grupo de minerais 2:1 Grupo de Esmectitas (montmorilonita) So minerais chamados 2:1 porque so formados pelo empilhamento de duas lminas tetradricas, fazendo um sanduche com a lmina octadrica. As ligaes dentro da unidade 2:1 que mantm as lminas juntas so ligaes inicas dos oxignios apicais ligados aos Si dos tetraedros com o Al da lmina dos octaedros como nas unidades 1:1.
As unidades estruturais 2:1 no tem a presena das pontes hidrogeninicas entre elas por apresentarem planos de oxignios entre uma unidade cristalogrfica e outra, e por isso mesmo elas so expansveis, ou seja, a distncia entre elas no fixa.
Os principais minerais 2:1 apresentam cargas eltricas de superfcie que so originrias, principalmente, de substituies isomrficas nas camadas tetradricas ou octadricas. As esmectitas, que tem a montmorilonita como principal exemplo, tem suas cargas desenvolvidas a partir de substituies isomrficas, principalmente na lmina octadrica. Nessa camada o Mg substitui isomorficamente o Al e causa um desbalano de carga, o que possibilita a atrao de ctions para neutralizar a carga desenvolvida. Entretanto, quando comparada com outras argilas 2:1 (exemplo: vermiculitas), a montmorilonita tem baixa densidade de cargas na superfcie entre as unidades cristalogrficas (planos basais). Assim, a fora de atrao entre os planos basais permite que, alm dos ctions, a gua e outras substncias penetrem e provoquem uma grande expanso do material. A frmula tpica da montmorilonita com Na como ction trocvel : Na0,67 Si8 (Al3,33Mg0,67) O20 (OH)4 Devido expanso das lminas, a montmorilonita apresenta uma alta superfcie especfica na faixa de 600-800 m2/g na maioria, devido as superfcies internas. A CTC varia na faixa de 80-120 cmolc/Kg e praticamente independente do pH, ou seja, a maioria das cargas originria da substituio isomrfica (carga
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permanente). Por estas caractersticas, a montmorilonita uma argila de atividade alta, apresentando alta plasticidade e pegajosidade e uma capacidade muito grande de expanso e contrao, o que provoca muitas rachaduras no solo quando seco. Grupo das Vermiculitas So tambm minerais do tipo 2:1 e so produtos de alterao direta das micas. Tem sido demonstrado que a estrutura da vermiculita consiste de lminas de mica separadas por camadas de molculas de gua ocupando um espao definindo de aproximadamente 0,498 nm. Na sua forma mais expandida, a vermiculita tem, ento, aproximadamente 1,4 nm.
A carga lquida negativa da estrutura produto da substituio do Si pelo Al na camada de tetraedros e essa uma alta carga. Essas cargas so neutralizadas pelos ctions que esto entre as camadas em conjunto com as molculas de gua. Devido densidade de carga, a vermiculita no se expande vontade e chamada de mineral de expansibilidade limitada. A vermiculita tambm argila de alta atividade, apresentando uma CTC de 100-160 cmolc/Kg que maior que da montmorilonita pela densidade de cargas maior. A superfcie especfica semelhante da montmorilonita na faixa de 600800 m2/g. A vermiculita expande menos que a montmorilonita e praticamente no expande se saturada com K+ ou NH4+. Isso ocorre devido alta especificidade das posies internas das camadas por esses tipos de ctions. Eles so fixados pela vermiculita e no so trocados facilmente. Outros minerais silicatados como micas hidratadas, cloritas, etc. tem importncia relativamente menor na frao argila dos solos brasileiros.
XIDOS DE Fe e Al
Os xidos de Fe e Al, so minerais secundrios de importncia muito significativa nos solos de regies tropicais em geral, e dos solos brasileiros em particular. A presena desses na frao argila dos solos mencionados quase obrigatria e sua influncia nas propriedades dos solos muito sentida.
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xidos de Ferro Atravs do intemperismo de minerais primrios, principalmente os ferromagnesianos, h a liberao do Fe atravs de uma reao hidroltica e oxidativa: Fe2SiO4 Faialita Em termos pedogenticos essa uma reao praticamente irreversvel. Dependendo das condies do meio onde o mineral primrio est sendo intemperizado, tem-se a formao de uma das formas de xidos de Fe como hematita, goethita, lepidocrocita, maghemita, ferridrita, etc. Uma boa informao sobre o estdio de intemperismo dos solos pode ser obtida ao se comparar o teor total de Fe de um solo como o teor de Fe na forma de xidos. Teores totais de Fe maiores que teores de xidos de Fe nos solos indicam solos mais jovens ao passo que teores semelhantes dessas duas quantidades significa a presena de solos mais velhos. O que faz os xidos de Fe importantes como indicadores de pedognese no apenas a sua presena, mas tambm a forma mineral presente e as suas caractersticas. Assim, mesmo em concentrao baixa no solo, os xidos de ferro tem alto poder pigmentante e influem na colorao dos solos de maneira bem ntida. As cores vermelhas, impressas pela hematita, as amarelas, caractersticas da goethita e as intermedirias entre as duas, derivadas da atuao conjunta da hematita e da goethita, que so tpicas da maioria dos solos brasileiros, expressam bem essas afirmativas. Particularmente a hematita tem o mais alto poder pigmentante como se pode deduzir pelas informaes de campo que demonstram que solos amarelos normalmente no contm nenhuma hematita ao passo que solos vermelhos, ainda que de colorao intensa, geralmente possuem alguma goethita. O Fe um elemento muito afetado pelas condies de oxi-reduo do meio e est presente nos principais xidos, como hematita e goethita, na forma de Fe3+. Assim, se houver condies redutoras no meio no qual ele se encontra, ele pode ser reduzido a Fe2+ que uma forma bem mais solvel de Fe. O alagamento, por exemplo, a condio mais comum de reduo do solo causando a destruio da hematita ou goethita, retirando com isso as coloraes amareladas, alaranjadas ou avermelhadas tpicas desses xidos. Nesses locais os solos ficaro com coloraes esbranquiadas ou acinzentadas dependendo do tipo de argila silicatada e/ou do teor de matria orgnica. Os xidos de ferro afetam a estrutura dos solos ajudando na formao de agregados pequenos e extremamente estveis como na estrutura latosslica, tpica dos Latossolos brasileiros. Estrutura latosslica aquela na qual as partculas de argila, normalmente caulinita e xidos de Fe e Al, se renem para formar agregados que por sua estabilidade se comportam como se fossem partculas de areia. Isso gera uma massa de material muito frivel que se esboroa muito facilmente e que recebe a denominao comum de p de caf. Geralmente os xidos de Fe tm superfcie especfica alta e devido sua natureza qumica, podem adsorver nions e ctions. nions como o fosfato, o que os torna de importncia agrcola grande e ctions como os principais metais + O2 + 3H2O 2 FeOOH + goethita H4SiO4
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pesados (Cd, Cr, Cu, Ni, Pb, Zn, etc) o que os torna importantes em estudos de proteo ao meio ambiente. Alguns xidos de Fe podem ter estruturalmente elementos com Cu, Zn, V, Cr, Co, Ni, etc. Alguns desses elementos so nutrientes essenciais s plantas e podem ser lentamente liberados na soluo dos solos. Assim, uma vez que os solos tropicais tm uma tendncia ao acmulo residual de xidos, os minerais argilosos oxdicos influenciam sobremaneira as propriedades dos solos brasileiros. Hematita (Fe2O3) Nos solos a hematita d a cor caracterstica vermelha e tem um poder pigmentante bastante grande e mesmo a baixas concentraes, ela consegue imprimir a sua cor caracterstica. Posies mais elevadas na paisagem, solos derivados de rochas ricas em minerais ferromagnesianos, regies mais quentes, so algumas situaes que favorecem esse xido de Fe. Goethita (FeOOH) Goethita a mais freqente forma de xido de ferro nos solos brasileiros. Ela ocorre em quase todos os tipos de solos e condies climticas e responsvel pelas cores amarelas e bruno-amareladas to espalhadas em solos brasileiros. Juntamente com a hematita ela se faz presente em quase todos os solos das regies tropicais e sub tropicais, mostrando que as duas tem uma estabilidade termodinmica semelhante. Magnetita (Fe3O4) e Maghemita (Fe2O3) Magnetita normalmente aparece como mineral acessrio em algumas rochas gneas e presena quase obrigatria na frao areia de alguns solos brasileiros que so, em geral, derivados de rochas bsicas ou ultrabsicas. Maghemita ocorre freqentemente em solos de regies tropicais e subtropicais, parte das vezes associada s rochas bsicas, como nos Latossolos Roxos, onde ela presena quase obrigatria na frao argila. Magnetita e maghemita so xidos de Fe com alta susceptibilidade magntica, o que permite separar os Latossolos Roxos de outros solos semelhantes na regio apenas com um pequeno m de mo. xidos de Alumnio Os xidos de Al so tambm importantes minerais secundrios nos solos brasileiros. Eles podem estar presentes em solos jovens como produto do intemperismo intenso e rpido de minerais primrios em rochas aluminosas ou o mais usual que os xidos de Al predominem em solos que j perderam, por lixiviao, quase todos os seus constituintes. Nessa segunda forma aos xidos de Al estariam entre os ltimos minerais na escala do intemperismo e, por isso mesmo, presentes nos solos mais antigos da crosta terrestre. Apesar de existirem vrios xidos de Al, apenas um deles importante nos solos, que o mineral chamado gibbsita. constitudo de alumnio e de hidroxilas, tem como frmula Al(OH)3 e sua estrutura mostrada a seguir.
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CARGAS ELTRICAS
As cargas eltricas nos minerais argilosos so chamadas de cargas permanentes e cargas dependentes conforme o seu modo de origem. Cargas permanentes So aquelas originrias da substituio isomrfica dentro da estrutura dos argilominerais e so preferencialmente negativas. Elas aparecem pela substituio de certos ctions dentro da estrutura por outros de valncia menor, causando um dficit de carga positiva e consequentemente uma sobra de carga negativa na estrutura. Essas cargas negativas se manifestam na superfcie do mineral. Exemplo: a entrada de um ction Al3+ na camada de tetraedros no lugar de um Si4+ causa um dficit de 1 (uma) carga positiva na estrutura e por conseguinte existir um supervit de 1 (uma) carga negativa que se manifestar na superfcie do mineral. De modo semelhante tem-se o Al3+ sendo substitudo por um Mg2+ no octaedro, gerando uma carga negativa. Esse tipo de carga extremamente importante nos argilominerais 2:1 e de importncia relativamente menor nos minerais tipo 1:1. Cargas dependentes So aquelas originrias da presena de bordas quebradas nos argilominerais que causam o aparecimento de cargas eltricas que podem ser negativas ou positivas. Os argilominerais apresentam bordas laterais e nessas bordas existem grupamenttos tipo Al-OH ou Si-OH em funo da sua estrutura formada pela repetio de lminas de tetraedros de Si e octaedros de Al. Esses grupamentos so passveis de sofrerem protonao ou desprotonao conforme o pH do meio, originando assim cargas positivas ou negativas, conforme esquema a seguir:
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Essas cargas so chamadas dependentes do pH porque variam conforme a concentrao hidrogeninica do meio. medida que se aumenta o pH, maior nmero de cargas negativas so formadas pela desprotonao ao passo que com a diminuio do pH so formadas cargas positivas pela protonao dos grupamentos funcionais da superfcie dos minerais. Essas cargas so extremamente importantes nos argilominerais tipo 1:1, como a caulinita, e, consequentemente, em fenmenos que influenciam de modo decisivo no comportamento dos solos. As cargas eltricas nos xidos de Fe e Al so tambm cargas dependentes de pH, ou seja, causadas pela protonao ou desprotonao dos grupamentos OH existentes em toda a superfcie desses xidos. Um ponto importante a ser salientado que qualquer mineral argiloso do tipo xido de Fe e Al, mesmo os anidros, tendem a apresentar a sua superfcie hidroxilada em condies naturais no solo. Isso permite haver a protonao ou desprotonao desses grupamentos conforme o pH. Eles so chamados de colides com carga varivel caracterizada por uma interface com carga reversvel. Assim, a natureza e a densidade de cargas, medida pelo excesso ou dficit de prtons na superfcie do colide, se modifica com o pH. O mecanismo de formao de cargas eltricas na superfcie dos xidos de Fe e Al pode ser vista como uma protonao ou desprotonao dos grupamentos situados na parte mais superficial das partculas como se segue:
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Assim, para qualquer mineral que apresente carga dependente, existe um valor de pH onde a quantidade de prtons adsorvidos, gerando carga positiva, igual ao nmero de hidroxilas ou oxignios, gerando cargas negativas. Esse pH onde a carga superficial do colide zero recebe a denominao de PONTO DE CARGA ZERO, simbolizado por (PCZ) que especfico para os diferentes tipos de minerais. O quadro abaixo ilustra as tendncias gerais de formao de argilominerais e desenvolvimento de caractersticas do solo em funo do clima.
Quadro 8.1: Tipo de minerais de argila e caractersticas dos solos formados sob diferentes climas.
Climas frios e secos Argila 2:1. Solos eletronegativos (alta CTC). Solos rasos com minerais primrios facilmente intemperizveis (ricos em nutrientes).
Climas quentes e midos Argilas 1:1 e xidos de Fe e Al; areias com minerais resistentes ao intemperismo. Remoo acentuada da slica e completa dos ctions bsicos (solos pobres em nutrientes). Aumento do carter eletropositivo do solo com a idade (baixa CTC e possvel CAA). Solos profundos.
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9. FORMAO DO SOLO
FATORES DE FORMAO DO SOLO
A pedognese ou formao do solo estudada pela Pedologia, cujas noes bsicas e conceitos fundamentais foram definidos em 1877, pelo cientista russo Dokuchaev. At esta poca, prevaleceu a viso geolgica que considerava o solo apenas como sendo um manto de fragmentos de rocha e produtos de alterao, que reflete unicamente a composio da rocha que lhe deu origem. Com a constatao da existncia de solos diferentes desenvolvidos a partir de uma mesma rocha de origem, a concepo sobre o que o solo passou a ter uma conotao mais gentica, onde o solo identificado como um material que evolui no tempo, sob a ao dos fatores naturais ativos na superfcie terrestre. Em 1898, Dokuchaev consolidou a concepo de que as propriedades do solo so resultado dos fatores de formao do solo que nele atuaram e ainda atuam, a saber: material de origem, clima, organismos, topografia(relevo) e tempo. Assim, temos que clima e organismos, controlados pelo relevo, atuando sobre um material de origem, ao longo do tempo, geram uma situao de desequilbrio que resulta em intemperismo e formao de solos (pedognese). Dentre os fatores de formao do solo, o material de origem e o tempo so considerados fatores passivos, clima e organismos so fatores ativos, e o relevo fator controlador. Fator passivo de formao do solo aquele que no adiciona e no exporta material, nem gera energia que possa acelerar os processos de intemperismo e pedognese. Aos fatores ativos, se atribue o provimento de energia e compostos qumicos que promovem os processos de formao do solo.
Material de Origem
O material de origem de um solo pode ser uma rocha ou um sedimento inconsolidado, aluvial (depsito de rio), ou coluvial (depsito de material no sop das elevaes). A influncia do material de origem nos solos discutida com detalhe nos tpicos anteriores desse captulo.
Tempo
A rigor, o incio da formao de um solo ocorre quando uma rocha s comea a ser alterada, ou um evento de sedimentao se encerra, e a partir da comeam a ocorrer os processos de formao do solo. Mas como existe a eroso atuando em sentido contrrio pedognese, difcil precisar o incio exato da formao do solo. Embora a sucesso de eventos modeladores da superfcie do planeta, estudados pela geomorfologia, nos d uma idia de seqncia temporal dos materiais de solos dispostos na paisagem, no comum se pesquisar a idade de um Latossolo ou de um Cambissolo, at porque provavelmente esses solos j passaram por vrias fases de pedognese, considerando a dinmica da superfcie do planeta. O uso do termo tempo/idade em pedologia normalmente est relacionado maturidade, ao grau de desenvolvimento de um solo, e no ao tempo cronolgico. Assim, quando se diz que um solo jovem, isto significa que a pedognese foi
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pouco intensa (condies de relevo plano, clima frio ou seco), ou que a taxa de eroso foi maior que a taxa de pedognese (relevo acidentado), formando um solo pouco espesso, podendo apresentar minerais ainda passveis de intemperizao. Ao contrrio, a referncia a um solo velho, indica tratar-se de um solo espesso, quimicamente pobre, com minerais profundamente intemperizados e acmulo de xidos.
Organismos
Compreende os vegetais, animais, bactrias, fungos, liquens, os quais tm influencias dinmicas nos processos de formao do solo. Estes organismos exercem aes fsicas e qumicas sobre o material de origem e continuam a atuar no perfil do solo. Estas aes podem ser classificadas como conservadoras e transformadoras. Aes conservadoras so por exemplo, a interceptao da chuva pela parte area dos vegetais, o sombreamento da superfcie (diminuindo a amplitude trmica), assim como a reteno de solo pelas razes das plantas. Entre as aes transformadoras se destacam a ao dos organismos no intemperismo fsico e qumico das rochas, a mobilizao de slidos (minerais e orgnicos) por animais, e a reciclagem de nutrientes e incorporao de matria orgnica pelos vegetais.
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Topografia (relevo)
A topografia regula a velocidade do escoamento superficial das guas pluviais (o que tambm depende da cobertura vegetal) e, portanto, controla a quantidade de gua que se infiltra nos perfis, de cuja eficincia depende o fluxo vertical de solutos e colides, assim como o fluxo lateral de partculas slidas pela eroso. Dessa forma o intemperismo se acentua quanto mais a gua se infiltrar pelo perfil do solo, levando os produtos mais solveis do intemperismo. Por outro lado, se as partculas slidas da superfcie do solo forem arrastadas pelo escorrimento lateral (eroso), o equilbrio pedognese/eroso se deslocar no sentido de manter o solo com menor espessura, ou seja, mais prximo do material de origem. Alm do controle do fluxo de gua, o relevo tambm exerce um importante papel no controle da intensidade de insolao das encostas. Dessa forma, no hemisfrio sul, a face de uma encosta que estiver voltada para o norte recebe maior quantidade de energia incidente tambm durante o inverno, produzindo maior aquecimento, e resultando em um intemperismo maior do que na face voltada para o sul.
Adio
Compreende qualquer contribuio externa ao perfil do solo. Entre estas, consideram-se a adio de matria orgnica (restos orgnicos de animais e vegetais), poeiras e cinzas trazidas pelo vento, materiais depositados tanto por enchentes como por movimentos de massa nas encostas, gases que entram por difuso nos poros do solo (CO2, O2, N2), adubos, corretivos, agrotxicos, adio de solutos pela chuva, etc. Remoo ou perda Compreende as perdas de gases, lquidos ou slidos sofridas por uma determinada poro de solo, podendo ser em superfcie ou em profundidade. As primeiras compreendem a exportao de nutrientes pelas colheitas, perdas de compostos volteis por queimadas, perdas por eroso hdrica ou elica, etc. As perdas em profundidade compreendem lixiviao de solutos pelo lenol fretico, perdas laterais de solues com ons reduzidos (Fe, Mn), etc.
Translocao
caracterizada pelo movimento de materiais de um ponto para o outro dentro do perfil do solo. So processos de translocao, entre outros, o movimento de argilas e/ou solutos de um horizonte para o outro no perfil, o preenchimento de
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espaos deixados por razes decompostas, cupins, minhocas, formigas, etc., o movimento de materiais promovido pela atividade agrcola, e o preenchimento de vazios provocados pela contrao de solos ricos em argilas expansivas, como a montmorilonita).
Transformao
So processos que consistem na transformao fsica, qumica ou biolgica dos constituintes do solo, envolvendo sntese e decomposio. Tranformaes fsicas incluem quebras de minerais e rochas, umedecimento e secagem do solo com quebra de agregados, compresso provocada pelo crescimento de razes, etc. Transformaes qumicas consistem dos processos de intemperismo qumico j conhecidos, assim como a neoformao de minerais da frao argila do solo.
Latossolizao
o processo especfico de formao dos latossolos, no qual sobressaem os processos gerais de remoo e transformao. Nesse processo, os fatores ativos de formao do solo (clima e organismos) apresentam uma ao intensa por um longo tempo, em uma condio de relevo que propicia a remoo de sais solveis e a transformao acentuada de minerais, em busca de uma condio de equilbrio, resultando no acmulo de minerais mais estveis como argilominerais 1:1 (caulinita) e xidos de Fe e Al. No processo de latossolizao, com a perda de sais bsicos (mais solveis), o solo vai se tornando mais cido, aproximando o seu pH ao pH onde ocorre a neutralidade de carga das argilas. Esta aproximao da neutralidade de cargas no solo diminui o movimento das argilas, provocado pela repulso entre cargas de igual sinal, leva floculao, e em seguida formao de agregados pequenos e de forma granular, que passam a ser fortemente cimentados por xidos de Fe e Al. Esta estrutura permite que os latossolos apresentem uma alta permeabilidade e arejamento, semelhante a solos arenosos, mesmo que contenham elevados teores de argila. Os latossolos ocupam extensos chapades planos onde a gua em abundncia se infiltrou profundamente, causando intensa lixiviao e acentuado intemperismo. Estas condies podem no mais existir atualmente, fazendo com que se encontrem latossolos associados a relevo acidentado em condies climticas que favorecem menos a latossolizao. Sendo estes solos muito intemperizados, as evidncias do material de origem so mais difusas do que em solos jovens. O material intemperizado foi intensamente revolvido pelos organismos vivos (formigas, cupins, razes mortas etc) e transportados a grandes distancias na
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Geologia e Pedologia
paisagem por ao dos agentes erosivos (vento, chuvas, cursos dgua etc.). Esses agentes promovem mistura de substratos de diferentes origens.
Podzolizao
Este processo especfico caracterizado pela translocao de argila e de compostos organo-minerais dentro do perfil. Mesmo que a translocao seja um processo de destaque, os processos de adio, perda e transformao tambm ocorrem. Dois grandes grupos de solos apresentam a podzolizao: os Argissolos (antigos podzlicos)1, Espodossolos (antigos Podzis). Alm destes temos os Luvissolos (antigos Bruno no clcicos) e Planossolos. Nos Espodossolos notvel a translocao de complexos de matria orgnica e xidos de ferro e/ou alumnio de um horizonte eluvial (E) para um horizonte espdico (Bhs) onde estes complexos se precipitam. Estes solos so formados a partir de material arenoso e sob condies que facilitam o acmulo superficial de matria orgnica e a acidlise (baixas temperaturas ou hidromorfismo acentuado). Os solos Argissolos apresentam translocao de argila dos horizontes mais superficiais para um horizonte mais profundo (horizonte de acumulao de argila translocada, Horizonte B Textural Bt). So bem mais argilosos do que os podzis e so formados em condies de alternncia de ciclos de umedecimento e de secagem (clima com estaes seca e mida definidas, ou posio na paisagem que permita tal alternncia, tal como sop de encostas). O movimento descendente da argila no perfil, leva ao entupimento de macroporos no horizonte Bt, facilitando a eroso no horizonte superficial.
1 Antigos nomes referem-se aos termos utilizados em verses anteriores do Sistema Brasileiro de Classificao de Solos.
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Hidromorfismo
Neste processo especfico de formao de solos, alguns horizontes do solo esto sujeitos submerso contnua ou durante a maior parte do tempo. Os processos gerais de formao do solo que mais se destacam so a transformao de minerais passveis de reduo, e a adio de matria orgnica, que se acumula devido menor taxa de decomposio. A menor quantidade de oxignio do solo, causada pelo excesso de gua, permite a proliferao de organismos anaerbicos que, neste ambiente de baixo potencial de oxi-reduo, reduzem o Fe3+ dissolvido na soluo do solo, usando-o como receptor de eltrons no processo de oxidao dos compostos de carbono. Essa forma solvel do Fe est em equilbrio qumico com os xidos de ferro (Fe(OH)3 Fe3+ + 3OH-) e, uma vez consumida na soluo, desloca a reao para dissoluo das formas minerais cristalizadas (hematita e goethita). Assim, as argilas oxdicas ferruginosas vo sendo consumidas e o solo vai perdendo as cores vivas (vermelha e amarela) dessas argilas. A cor esbranquiada e acinzentada dos solos hidromrficos reflete a reduo do ferro frrico presente nos xidos. Estes solos so freqentemente escurecidos pela pigmentao da matria orgnica que se acumula, uma vez que os organismos anaerbicos so menos eficientes na mineralizao da matria orgnica, do que os aerbicos. Os solos onde o hidromorfismo marcante so denominados Organossolos, Gleissolos e Planossolos Hidromrficos. Os Neossolos Flvicos, formados pela deposio de sedimentos ao longo das margens dos rios, e por isso denominados sedimentos aluviais antigos, esto muito freqentemente associados na paisagem a esses solos hidromrficos. Entretanto, eles no so considerados solos hidromrficos por terem melhor drenagem ao longo do perfil (geralmente arenoso), e apresentarem horizonte A sobre uma sucesso de camadas de sedimentos que no tm relao pedogentica entre si.
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14. Em condies tropicais e material de origem similar, onde se esperam solos mais profundos, relevo plano ou acidentado? Se o material de origem for diferente, qual solo ser mais profundo, sobre quartzito ou basalto? 15. Em baixadas sob clima tropical mido, os solos tendem a ter que cor(es)? Por que? Mais ricos ou pobres em nutrientes? Por que? 16. Baixadas so essencialmente reas de acmulo ou de remoo? 17. O que lixiviao? Como ela se diferencia da eroso? 18. Se houver remoo em reas de baixadas, ela se dar preferencialmente por eroso ou por lixiviao? 19. possvel a formao de argilominerais 2:1 em baixadas? Por que? Em que condio de clima, mais seco ou mais mido, voc esperaria encontrar mais minerais 2:1? Por que? 20. Os solos aluviais (Neossolos) esto freqentemente associados a solos hidromrficos, mas no so considerados hidromrficos. Por que? 21. Relacione de forma generalizada os processos especficos de formao de solos com tipos de clima e/ou posio na paisagem.
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ainda preserva a estrutura do gnaisse (foliao). As bandas de maior concentrao de feldspato no gnaisse original, podem ser identificadas pela colorao esbranquiada. As bandas originalmente escuras, so avermelhadas, dado que a biotita e os anfiblios ao se intemperizarem do origem a um material caulintico, colorido por xidos de ferro. Estas partes do horizonte C so mais resistentes eroso do que as lminas esbranquiadas. A espessura do horizonte B muito sensvel qualquer modificao na paisagem (pedoforma). A uma pedoforma mais energtica (mais acidentada) corresponde um solum (horizonte A e B) mais estreito. Com o entalhamento produzido pelos rios, a paisagem est se rejuvenescendo e, assim, os solos tendem a se tornar mais rasos. Esboo da paisagem regional A regio de Viosa apresenta as seguintes unidades de paisagem (Figura 10.1):
A. Leito menor: ocupado pelo crrego, ininterruptamente; B. Dique aluvial ou pestana: formado por depsitos grosseiros, que se depositam primeiro, quando as guas das enchentes ocupam o leito maior (B e C); C. rea rebaixada aps o dique aluvial, e que juntamente com este forma o leito maior. Nesta posio se acumulam os sedimentos mais finos. D. Terrao fluvial: j foi um leito maior no passado, atualmente no mais inundvel; E. Elevaes.
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O leito menor (A) se movimenta vertical e horizontalmente, mantendo as mesmas caractersticas relativas dos compartimentos B e C, da resultando a heterogeneidade vertical e horizontal dos depsitos aluviais.
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21. A presena de blocos arrendondados nos topos das elevaes indica que a regio anterior ao chapado era plana ou acidentada? 22. Escreva uma redao (ou poesia, carta, etc) sobre a paisagem de Viosa usando as seguintes palavras: chapado; aplainamento; cascalho arredondado; clima mido; clima seco; leito maior; leito menor; terrao; canyon; hematita; caulinita; feldspato; colmatagem.
LEITURA COMPLEMENTAR - Corra, G. F., 1984. Modelo de evoluo e mineralogia da frao argila de solos do planalto de Viosa-MG. Viosa, UFV, 87p. (Tese M.S.). - Cardoso, I.M., e Fernandes, R. B. A., 1997. Paisagem de Viosa. Jard, Viosa, 20p. Cartilha do Museu Alexis Dorofeef.
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O Chapado de Outrora1
Dri Fernandes
Nessa terra de vermelha poeira, tem feldspato e camadas de biotita. No sei se a denomino primeira, mas o escarlate natural da hematita. Do chapado os pequenos canyons rasgados, concernentes com a terra no cio. No pice dos morros quartzos arredondados, mostram que l j passou um rio. As guas no mais inundam o terrao, calmas correm no leito menor. Quando caudalosas invadem o espao, ocupado pelo dito leito maior. A alternncia seco-mido do clima, transformou deveras o chapado. O aplainamento que outrora em cima, hoje jaz em ravina de monto. Grande parte da slica perece, alto teor caulinita portanto. E um velho solo que se rejuvenesce, como se fosse milagre de santo.
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houve sedimentao, podendo ter havido ou no, eroso. Significa tambm, que pode ter ocorrido uma total mudana no ambiente quando a deposio recomeou, ambiente este que est registrado nos estratos acima da superfcie de discordncia (uma vez que as rochas sedimentares so indicadoras paleoambientais). As discordncias podem ser de 4 tipos (Figura 11.1):
- Discordncia angular: superfcie que separa seqncias de rochas com inclinaes diferentes; - Discordncia litolgica: superfcie que separa sequncias de rochas de tipos diferentes, por exemplo uma seqncia de rochas estratificadas que repousa discordantemente sobre rochas no-estratificadas, ou seja, rochas gneas ou metamrficas; - Discordncia erosiva: superfcie ondulada que separa unidades de rochas estratificadas paralelas, caracterizando-se uma antiga superfcie de eroso; - Discordncia paralela: superfcie que separa seqncias sedimentares com contedos fossilferos de idades distintas. Est interposta entre duas sequncias paralelas entre si e s pode ser identificada com preciso por mtodos paleontolgicos.
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Correlao A correlao consiste em encontrar elementos comuns em grupos de rochas no contnuos lateralmente (compara seqncias estratigrficas em dois ou mais locais distantes entre si). A correlao se baseia em uma srie de critrios litolgicos e paleontolgicos, a saber: - Litologia: este critrio se baseia no tipo de rocha, sendo aplicvel s em reas limitadas, j que a maioria das rochas sedimentares cai dentro de poucos tipos repetitivos e, em locais distantes podem surgir dvidas; - Estratigrafia: a superposio de camadas gera uma seqncia bem definida que pode ser reconhecida em outros locais. As discordncias ou superfcies de eroso so feies que podem ser reconhecidas em diferentes locais, assim como a presena de "camadas-guia"; - Paleontologia: este critrio baseia-se no contedo fossilfero dos estratos, sendo a correlao feita por biozonas, baseada na lei da Sucesso Orgnica.
CLASSIFICAO ESTRATIGRFICA
As classificaes tm a finalidade de comparar observaes atravs do estabelecimento de unidades convencionais que enquadrem resultados e interpretaes. Na estratigrafia este procedimento se torna um pouco mais complexo por se ter ao mesmo tempo parmetros diferentes: litologias, fsseis e tempo. Assim, a classificao na estratigrafia feita usando-se unidades litoestratigrficas, bioestratigrficas, cronoestratigrficas ou geocronolgicas. Unidades Litoestratigrficas Referem-se corpos rochosos que apresentam um tipo predominante de litologia. So produtos de um ambiente deposicional particular ou de uma alternncia de ambientes deposicionais relacionados entre si. So limitadas por mudanas verticais na litologia ou por discordncias, e podem ser estendidas geograficamente at onde forem reconhecveis. A sua hierarquia consiste de GrupoFormao-Membro-Camada. A Formao a unidade litoestratigrfica fundamental, sendo definida como uma unidade litolgica homognea, mapevel na escala 1:20.000. Ex.: Formao Botucatu (ou Arenito Botucatu) Unidades Cronoestratigrficas Correspondem a corpos rochosos formados durante intervalos bem delimitados do tempo geolgico. Em tese deveriam ter extenso mundial, pela prpria definio, o que s ocorre com as unidades de posio hierrquica superior. Para estabelecer-se a posio hierrquica necessrio se conhecer a amplitude de tempo envolvido, havendo correspondncia entre unidades cronoestratigrficas e geocronolgicas.
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Unidades Geocronolgicas Referem-se s divises do Tempo Geolgico, sendo assim unidades puramente temporais. As categorias hierrquicas de unidades geocronolgicas so Eon-Era-Perodo-poca-Idade-Crono, sendo o eon, a unidade de mais alta hierarquia. So admitidos dois eons: Criptozico (cripto= escondido, zico= vida), e Fanerozico (faneros= aparente, zico= vida). O eon Criptozico compreende as eras Arqueana e Proterozica, as quais so comumente referidas como Prcambriano, e o eon Fanerozico abrange as eras Paleozica (paleo= antigo), Mesozica (meso= intermedirio), e Cenozica (ceno= recente). Os perodos, subdivises das eras, e respectivas idades esto apresentados no Quadro 3.1 (captulo 3, pg. 17). Coluna Estratigrfica Atravs da interpretao de mapas geolgicos e da observao de interrelaes espaciais e temporais entre unidades rochosas de uma determinada rea (unidades litolgicas), torna-se possvel reconstituir a evoluo geolgica desta rea. Empilhando-se sucessivamente as unidades litolgicas da mais velha (base) para a mais nova (topo), obtm-se uma coluna estratigrfica que registra a diferente natureza das vrias unidades e sua ordem de formao ou aparecimento no tempo. Na coluna estratigrfica hipottica ilustrada na Figura 11.2, pode-se reconhecer a seguinte seqncia de eventos: - Sobre rochas gneas e metamrficas Proterozicas depositou-se uma seqncia sedimentar Paleozica composta por conglomerado, arenito e argilito, formados respectivamente nos perodos Ordoviciano, Devoniano e Permiano; - Posteriormente sobre tal pacote sedimentar ocorreu um derrame de lava bsica (basalto), no perodo Jurssico da era Mesozica. E no Cretceo, formou-se o arenito que est sobreposto ao basalto; - No topo da coluna encontram-se sedimentos inconsolidados do perodo Tercirio.
ERA Cenozica Mezozica PERODO Tercirio Cretceo Jurssico Paleozica Permiano Devoniano Ordoviciano Proterozica LITOLOGIA Sedimentos inconsolidados Arenito Basalto Argilito Arenito Conglomerado Granitos e Gnaisses
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MAPAS GEOLGICOS
Um mapa a representao em superfcie plana de uma rea. Os objetos representados so aqueles de interesse especfico, ou seja diferenas de nvel (mapa topogrfico), vegetao, solos (mapa pedolgico), etc. Os mapas geolgicos representam a geologia (litologias e relaes entre as rochas- estrutura) de uma determinada rea. Para a pedologia, os mapas geolgicos assumem particular interesse, uma vez que as rochas so o principal material de origem dos solos. Entretanto, de modo geral os mapas geolgicos so muito genricos para os estudos pedolgicos. Isso leva necessidade de reconhecimento das litologias a campo, j que muitas vezes a escala do mapa no permite a representao de associaes de rochas de ocorrncia mais localizada. Ainda assim, o entendimento e interpretao de mapas geolgicos tem grande utilidade para o estudo e conhecimento dos solos. Escala A escala a relao existente entre o objeto real e o objeto representado. A escala pode ser grfica ou numrica. Uma escala de 1:500.000, equivale a dizer que 1 cm no mapa corresponde a 5 km ou 5000 m (500.000 cm) no campo. Diz-se que uma escala pequena quando o seu divisor grande. Quanto menor a escala, menos detalhado ser o mapa. Legenda A legenda contm a identificao e explicao do conjunto de convenes utilizado no mapa, sendo fundamental para o entendimento e interpretao de um mapa. Legendas de mapas geolgicos so estruturadas segundo as unidades estratigrficas adequadas a cada caso. Normalmente so utilizadas unidades cronoestratigrficas, que so dispostas em ordem crescente de idade ou seja das mais novas (Cenozicas) para as mais velhas (Arqueanas ou Pr-cambrianas). Subordinadamente s unidades cronoestratigrficas so representadas e explicitadas as unidades litoestratigrficas. As convenes da legenda de um mapa geolgico consistem basicamente de smbolos, cores e abreviaturas. Exemplo: p = Pr-cambriano (era, unidade cronoestratigrfica) b = Grupo Bambu (unidade litoestratigrfica) pbptm p = Formao Paraopeba (unidade litoestratigrfica) tm = Formao Trs Marias (unidade litoestratigrfica) Comumente, para facilitar a visualizao de estruturas geolgicas, acompanham o mapa, sees ou perfis geolgicos, que so cortes verticais que representam as rochas e estruturas em profundidade (Figura 11.3). Estes perfis normalmente podem ser confeccionados a partir do mapa com as informaes que ele traz. H casos em que se deseja uma pronta visualizao tridimensional, e so ento utilizados blocos-diagrama (Figura 11.4). Com estas noes bsicas possvel a interpretao de um mapa geolgico, extraindo-se dele as informaes desejadas. Para o estudo dos solos,por exemplo, tem-se que, em regies onde predominam basaltos, esperam-se solos de boa
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fertilidade natural, j que o basalto uma rocha rica em minerais ferromagnesianos, ricos em elementos essenciais para as plantas, inclusive micronutrientes como Cu e Zn. Arenitos por sua vez, originaro solos de textura grosseira, cuja fertilidade estar na dependncia do tipo de cimento existente na rocha. Rochas pelticas, por sua pobreza qumica e resistncia ao intemperismo, indicam solos provavelmente pouco profundos, pobres, etc. Alm disso podem-se obter outras informaes importantes, tais como aspectos da rede de drenagem, relevo, etc. Por outro lado, a pedologia tambm pode ser bastante til geologia, possibilitando inferncias sobre a rocha subjacente a partir do solo. Isso tem grande impacto, especialmente em um pas tropical como o nosso, onde o manto de intemperismo normalmente espesso e no h muitos afloramentos de rochas.
Figura 11.3. Perfil geolgico mostrando rochas e estruturas pertencentes a diferentes eventos geolgicos.
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As perguntas feitas a seguir se referem sempre ao trecho compreendido ao longo da linha AB. 3. Qual a unidade mais antiga encontrada? 4. Qual a unidade mais nova? 5. Que tipo de rochas constituem o Pr-cambriano (p; Complexo Cristalino), e qual a sua idade? 6. A Serra do Mar (conjunto de elevaes que acompanha o litoral brasileiro do RS at o ES) constituda por rochas de que idade e tipo? 7. Que processo geolgico est representado por pA? 8. Que processo geolgico ficou registrado pela Formao Campo Alegre, eca? 9. Que Formao representada por JKsg, de que composta, qual sua idade e relao com as camadas paleozicas? 10. Sabendo-se que a Bacia Sedimentar do Paran Paleozica, por qual Formao a mesma se inicia? Qual a natureza e idade dessa Formao? 11. Observar, a partir da Formao Itarar (Ci), a sucesso de outras indo-se para oeste. O que acontece com a idade dessas formaes quando se caminha naquele sentido? 12. Que ambiente propiciou, de maneira genrica, a formao do pacote rochoso constitudo pelas formaes Ci, Pg, Pi, Pen e TRr? possvel encontrar fsseis nessas unidades? 13. Explicar a presena das jazidas abaixo listadas nas respectivas unidades: Caulim......................eca Calcrio....................Pg e Pen Carvo......................Ci 14. O que representa a sigla Q? Por qu estes materiais so inconsolidados? Pode haver algum material com magnetita (Fe3O4) e ilmenita (FeTiO3)? Por qu? 15. Supondo-se iguais os outros fatores de formao do solo e considerando-se o trecho representado por AB no mapa, onde se esperam solos de melhor qualidade: nas unidades Pr-cambrianas, paleozicas ou mesozicas? Por qu?
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Recncavo Bahiano, Sergipe, Potiguar, Santos, etc. Alm destas existem tambm bacias interiores de menor extenso como o caso da Bacia do Araripe, conhecida pelos seus ictilitos (fsseis de peixes), localizada na Chapada de mesmo nome, entre os estados do Cear e Pernambuco.
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CIO DA TERRA Debulhar o trigo Recolher cada bago do trigo forjar no trigo o milagre do po e se fartar de po Decepar a cana recolher a garapa da cana roubar da cana a doura do mel se lambuzar de mel Afagar a terra conhecer os desejos da terra cio da terra, propcia estao de fecundar o cho
Chico Buarque de Hollanda e Milton Nascimento