Trypanosoma Cruzi

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 3

Trypanosoma cruzi O Trypanosoma cruzi o agente etiolgico da doena de Chagas (tripanossomase americana).

. Milhes de pessoas esto infectadas em toda a Amrica Latina. Segundo dados recentes da OMS, a doena de Chagas atinge 16 a 18 milhes de habitantes em 18 pases, causando 21.000 mortes anuais e uma incidncia de 300.000 novos casos por ano. No Brasil, a doena atinge cerca de oito milhes de habitantes, principalmente populaes pobres que residem em condies precrias. O T. cruzi possui em seu ciclo biolgico - nos hospedeiros vertebrado e invertebrado - vrias formas evolutivas: 1. Epimastigota - forma alongada com cinetoplasto (=mitocndria especializada rica em DNA) justanuclear e anterior ao ncleo; possui pequena membrana ondulante lateralmente disposta; 2. Tripomastigota - forma alongada com cinetoplasto posterior ao ncleo; o flagelo forma uma extensa membrana ondulante e toma-se livre na poro anterior da clula; ao longo da infeco h formas delgadas, intermedirias ou largas; 3. Amastigota - forma arredondada ou oval, com flagelo curto que no se exterioriza; 4. Esferomastigota - forma arredondada, com flagelo circundando o corpo.

1 Nos hospedeiros vertebrados so encontradas

3 as

4 formas amastigotas e,

intracelularmente

extracelularmente, as formas tripomastigotas, que esto presentes no sangue circulante. O tripomastigota metacclico (=tripomastigota) constitui a forma mais natural de infeco para o hospedeiro vertebrado. No hospedeiro invertebrado so encontradas inicialmente as formas esferomastigotas, no estmago e intestino do triatomneo (barbeiro), formas epimastigotas, em todo o intestino, e tripomastigotas, no reto. O ciclo biolgico do T. cruzi do tipo heteroxnico, passando o parasito por uma fase de multiplicao intracelular no hospedeiro vertebrado (homem e mamferos pertencentes a sete ordens diferentes) e extracelular no inseto vetor (triatomneos). 1) penetrao do tripomastigota metacclico em uma clula (*) 2) transformao do tripomastigota em amastigota 3) amastigota multiplica-se intensamente por diviso binria dentro da clula 4) rompimento da clula parasitada, liberando
(a)

Mamfero

tripomastigota 5) forma tripomastlgota no sangue circulante pode penetrar em outra clula (a) (**) ou ser ingerida pelo triatomneo (b) 6) forma tripomastigota no estmago do triatomneo 7) transformao da forma tripomastigota em

(b)

epimastigota no intestino posterior do inseto (***) 8) forma epimastigota em multiplicao por diviso binria 9) forma epimastigota transforma-se em forma tripomastigota metacclico no reto do inseto 10) forma tripomastigota metacclico, nas fezes do triatomneo, apta a penetrar em clulas do hospedeiro

(*) Os tripomastigotas metacclicos eliminados nas fezes e urina do vetor, durante ou logo aps o repasto sanguneo, penetram pelo local da picada e interagem com clulas do sistema mononuclear fagocitrio (SMF) da pele ou mucosas. (**) Quando os tripomastigotas caem na corrente circulatria, atingem outras clulas de qualquer tecido ou rgo para cumprir novo ciclo celular ou so destrudos por mecanismos imunolgicos do hospedeiro (***) Outros estudos revelaram que os tripomastigotas sangneos ingeridos se transformariam no estmago do vetor em esferomastigotas, e que tm um importante papel no ciclo biolgico do vetor. Estes esferomastigotas poderiam se transformar em tripomastigotas metacclicos infectantes ou em epimastigotas de dois tipos: epimastigotas curtos, que se multiplicam por diviso binria simples e se transformam em esferomastigotas que originariam os tripomastigotas metacclicos, ou epimastigotas longos, que no se multiplicam e nem se diferenciam para tripomastigotas metacclico. No incio da infeco do vertebrado (fase aguda), a parasitemia (=carga parasitria no sangue) mais elevada, podendo ocorrer morte do hospedeiro, principalmente em crianas. Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune eficaz, diminui a parasitemia e a infeco tende a se cronificar (fase crnica). A evoluo e o desenvolvimento das diferentes formas clnicas da fase crnica da doena de Chagas ocorrem lentamente, aps 10 a 15 anos de infeco ou mais. As vias de transmisso so: 1) transmisso pelo vetor (mecanismo com maior importncia epidemiolgica), 2) transfuso sangunea (segundo mecanismo de importncia epidemiolgica), 3) transmisso congnita (ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberariam tripomastigotas os quais chegariam circulao fetal), 4) acidentes de laboratrio (pode ocorrer entre pesquisadores e tcnicos que trabalham com o parasito, seja no sangue de animais, de pessoas infectadas, meios de cultura ou vetor), 5) transmisso oral (leite materno, ingesto de triatomneos infectados, canibalismo entre diferentes espcies de animais, pessoas ingerindo alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomneos infectados; a penetrao do parasito, em todos estes casos, pode ocorrer pela mucosa da boca ntegra ou lesada); 6) transplante (pode desencadear fase aguda grave, pois o indivduo que recebe um rgo transplantado infectado, toma drogas imunossupressoras e, conseqentemente, toma-se menos resistente a infeco). Apesar de que em cidades possa ocorrer transmisso atravs de transfuso sangunea, a transmisso pelos dejetos do triatomneo que tem maior importncia epidemiolgica. Dessa forma, vemos que o T. cruzi circula entre os mamferos passando obrigatoriamente pelos triatomneos. Assim sendo, a existncia desse protozorio est intimamente relacionada com a presena e os hbitos desses insetos. A doena de Chagas era uma doena exclusivamente de animais e triatomneos silvestres. Posteriormente, passou para os humanos, na medida em que esses modificaram ou destruram o ciclo silvestre natural e construram a cafua (=choupana de pau-a-pique e barro, coberta de sap) na zona rural. Nessa cafua, alguns triatomneos adaptaramse e colonizaram-se. Da zona rural passaram para as zonas periurbana e urbana. Os principais elos da cadeia epidemiolgica so os mamferos silvestres, os ninhos, os triatomneos silvestres, o T. cruzi, a cafua, os mamferos domsticos, os triatomneos domiciliados, os humanos. Os tatus, os gambs, os roedores e seus respectivos ninhos fornecem abrigo e alimentos para os triatomneos silvestres, enquanto que o co, o gato, os humanos e as frestas da cafua fornecem abrigo e alimento para os barbeiros sinantrpicos. Dessa forma, o protozorio circula entre humanos e animais, desde o sul dos EUA ( unicamente silvestre) at a Argentina, inclusive. Como algumas espcies de triatomneos se adaptaram perfeitamente a novos ambientes (cafua, galinheiros e chiqueiros) e os colonizaram, formou-se, ento, um ciclo domstico e peridomstico "independente" do ciclo silvestre. O alimento fcil, pela presena de moradores (humanos, co, gato), e uma proteo tima (as frestas do barro ressequido) facilitaram a procriao, permitindo a existncia de centenas de barbeiros numa s parede. Hoje, j se sabe que sete ordens de mamferos (marsupiais - gambs; desdentados - tatu; quirpteros morcegos; roedores - ratos; primatas - macacos; lagomorfos - coelho; e carnvoros - co e gato) apresentam espcies que foram encontradas infectadas pelo T. cruzi, das quais dez so espcies domsticas e 71 silvestres, sendo o maior nmero de roedores, quirpteros e marsupiais de ambientes silvestres. De todos eles, os reservatrios silvestres mais importantes so o tatu e o gamb e entre os domsticos destacam-se o co, o rato e o gato (alm dos prprios humanos).

Figura 1. Distribuio geogrfica da infeco humana pelo Trypanosoma cruzi nas Amricas (OMS, 2000).

Figura 2. Distribuio geogrfica das principais espcies de triatomneos vetores do Trypanosoma cruzi.

No Brasil, a doena de Chagas humana encontrada nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina e Paran, So Paulo, Minas Gerais (exceto o sul), Gois, Tocantins e estados do Nordeste. No Esprito Santo, recentemente foram diagnosticados dois casos. Na Amaznia, a doena de Chagas humana rara, mas muito comum entre os animais silvestres. Atualmente, as medidas preventivas que podem ser sugeridas so: 1) melhoria das habitaes com adequada higiene e limpeza (casas rebocadas e caiadas, eliminao do lixo e de esconderijos, melhoria dos galinheiros, chiqueiros, paiis, currais), 2) combate ao barbeiro (por meio de inseticidas e controle biolgico), 3) controle do doador de sangue (seleo dos doadores por exames sorolgicos e excluso dos positivos ou suspeitos), 4) controle de transmisso congnita (recm-nascido de me com sorologia positiva para T. cruzi deveria ser examinado imediatamente aps o nascimento e, se caso positivo, tratado), 5) vacinao (em fase de estudo). A profilaxia da doena de Chagas deve ser feita integrando-se vrios dos mtodos acima citados.

Você também pode gostar