Edukators - Análise Crítica Do Filme
Edukators - Análise Crítica Do Filme
Edukators - Análise Crítica Do Filme
É indiscutível que os três ativistas no filme têm como grande inspiração a sociologia de Marx,
como a questão da alienação do trabalho, já que o magnata afirma que trabalhava até 15 horas
por dia, o trabalho o dominava, já que ele mal tinha contato com a família. A acumulação de
riquezas também é dita, uma vez que o magnata admitiu que não sabia mais o que fazer com
os seus bens e, além disso, ele afirma que não usava muito seus bens, uma vez que se via
sempre sem tempo. Pode-se dizer que o magnata não se identificava muito com o seu
trabalho, pois o filme não fala em nenhum momento o que ele fazia. A questão da necessidade,
do fetichismo da mercadoria, também é levantada pelo filme, já que mostra a acumulação de
bens feita pelo magnata e até mesmo por toda a sociedade no sistema capitalista.
Sobre a questão da eficácia da norma, pode-se dizer que as normas jurídicas não são eficazes
no caso tratado, já que o principio da dignidade da pessoa humana, da saúde – pois o trabalho
a que se submetem e desgastante – da igualdade entre todos os cidadãos, enfim, boa parte
dos princípios constitucionais não são respeitados, portanto, as normas são ineficazes.
O acesso à Justiça também não é garantido a todos os cidadãos, já que a menina não teve,
talvez, como entrar com um recurso de apelação contra a decisão do tribunal, que a obrigou a
pagar pelo acidente do carro, sendo que era nítido que o magnata tinha condições muito
maiores de reparar o dano.
O filme pode ser relacionado com o Estado no sentido de que é o Estado que mantém a
sociedade do jeito que ela está. Assim como na teoria marxista, pode-se dizer que a trama
tenta mostrar, que o poder é detido pela classe dominante com o intuito de manter uma ordem
sistemática que permita que essa classe continue dominando. Assim, o Direito também seria
uma forma pela qual essa classe – a burguesia – busca manter o poder. E é também o Estado
que poderia mudar a ordem vigente, que poderia amenizar ao menos os problemas sociais,
porém, é esse mesmo Estado que não faz políticas públicas, que não defende seus cidadãos
como um todo, mas somente a parcela social que lhe traz benefícios.
A respeito do filme em relação à sociedade, pode-se dizer que esta é a principal culpada pelos
atos que acontecem no filme e por todo o desenrolar do longa-metragem, porque é ela que
segue as regras, que estipula quem será o opressor e quem será o oprimido, quanto que se
deve trabalhar para garantir a subsistência. É também a sociedade que permite que a diferença
de classes se torne cada dia mais acentuada, que se cala diante das perversidades que vê, e
que não cobra dos governantes a criação de políticas públicas, enfim, é a sociedade como um
todo que deveria se rebelar contra o sistema capitalista, e não apenas algumas pessoas dela,
porém, não é o que vemos acontecer e, a cada dia, as desigualdades crescem e as
oportunidades para todos diminuem.
O filme ainda discute vários valores capitalistas que estão penetrados em nossa sociedade, tais
quais a felicidade com o material, que é uma das maiores questões levantadas, já que o
magnata aparentemente tinha um relacionamento superficial com sua esposa (isso porque ele
conversou somente uma vez com ela após ser raptado). Além disso, trabalhava tantas horas
diárias que não tinha vida fora do trabalho. Tudo indica uma vida infeliz. No entanto, tinha
diversos bens materiais. O culto à propriedade, o egoísmo e a ganância do sistema capitalista,
já que todo mundo só pensa em si mesmo, em acumular bens e no caso concreto do filme, é
importante, mais uma vez ressaltar que o magnata tinha plenas condições de arcar com o ônus
da batida de carro, enquanto que para a ativista esse prejuízo era muito significante. E também
a desordem como uma inimiga do sistema capitalista de sociedade, que é mostrada no filme
através da re-disposição dos móveis feita pelos “edukators” em sua manifestação, onde
mostram que o sistema capitalista pode ser facilmente enfraquecido, uma vez que grande parte
de sua base, se concentra em determinados centros de poder. Tudo isso culmina com a atitude
dos jovens de destruírem as torres de transmissão.
A partir da análise do filme pode-se ver que ele é mais do que uma simples narrativa, ele se
torna um filme político quando mostra as contradições da sociedade capitalista em que vivemos
e coloca a ideologia dos jovens na cena principal, mostrando a importância de se discutir e de
se lutar pela própria vida e pela defesa da dignidade humana alheia.
Coloca-nos em questionamento sobre o sistema atual e nos permite pensar que a igualdade
entre todos pode ser a melhor saída, porém, não temos resposta para o modo de como agir
para atingir esse fim, uma vez que a saída encontrada pelos jovens como uma possível
resolução foi o seqüestro, a ameaça, enfim, não agiram de maneira pacífica quando foram
descobertos.
A sociedade em que vivemos é bastante contraditória já que sempre vemos nos jornais que
muitos bancos batem recordes de arrecadação, enquanto a realidade social é, para muitos,
aquela de Sandro do Ônibus 174; enquanto milionários brasileiros concentram meio PIB,
muitos não têm o que comer, o que mostra o contra senso do capitalismo; enquanto a riqueza
de poucos aumenta, a quantidade de marginalizados e excluídos também é maior.