Jurisprudencia Busca e Apreensão de Veículo
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AO DE BUSCA E APREENSO. RESPOSTA DO MUTURIO COM CONTESTAO E RECONVENO. REVISO DE CONTRATO. POSSIBILIDADE. PROCEDNCIA PARCIAL DA RECONVENO E EXTINO DA BUSCA E APREENSO. INSURGNCIA RECURSAL DO BANCO. REVISO DO CONTRATO. AFASTAMENTO AUTOMTICO DA MORA. INOCORRNCIA. PROPOSITURA DA REVISIONAL QUE, PER SE, NO IMPEDE A BUSCA E APREENSO DO VECULO. NECESSIDADE DE ANLISE DAS CLUSULAS CONTRATUAIS. APLICAO DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ABRANDAMENTO DO PACTA SUNT SERVANDA. JUROS REMUNERATRIOS. ENUNCIADO I DO GRUPO DE CMARAS DE DIREITO COMERCIAL. COMPARAO COM A MDIA DE MERCADO DIVULGADA PELO BACEN. ABUSIVIDADE CONSTATADA. MANUTENO DA LIMITAO SOBREDITA TAXA. TAXA DE ABERTURA DE CRDITO (TAC) E TAXA DE EMISSO DE CARN (TEC). ILEGALIDADE. REPETIO DO INDBITO NA FORMA SIMPLES. COMPENSAO. CABIMENTO. MORA CONTRATUAL. EVIDENTE EXISTNCIA DO DBITO. AUSNCIA DE DEPSITO INCIDENTAL. MORA CONSTATADA. REFORMA DA SENTENA NESSE PARTICULAR. NUS SUCUMBENCIAIS. ADEQUAO S MODIFICAES PROMOVIDAS NA SENTENA. SUCUMBNCIA RECPROCA RECONHECIDA. DIVISO PROPORCIONAL. COMPENSAO DE HONORRIOS VEDADA. SENTENA EXTINTIVA CASSADA. APLICAO DO ARTIGO 515, 3, DO CPC. JULGAMENTO IMEDIATO DA AO. AO DE BUSCA E APREENSO. PROPOSITURA DE AO REVISIONAL QUE, PER SE, NO TEM O CONDO DE AFASTAR A MORA CONTRATUAL. MORA NO PURGADA. NOTIFICAO EXTRAJUDICIAL VLIDA. BUSCA E APREENSO POSSVEL. NECESSIDADE DE ADEQUAO DO SALDO DEVEDOR. PROCEDNCIA
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n. 2009.064711-1, da comarca de Itaja (1 Vara Cvel), em que apelante Aymor Crdito Financiamento e Investimento S/A, e apelado Valmir Martins:
ACORDAM, em Segunda Cmara de Direito Comercial, por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso para reconhecer a mora contratual e declarar a sucumbncia recproca entre as partes; para cassar parte da sentena, e, com fulcro no 3 do artigo 515 do Cdigo de Processo Civil, julgar parcialmente procedente o pedido de busca e apreenso do bem. Custas legais. RELATRIO Aymor Crdito, Financiamento e Investimento S.A. props ao de busca e apreenso contra Valmir Martins para reaver automvel gravado com alienao fiduciria, em razo do inadimplemento das parcelas mensais do contrato de financiamento. Concedida a liminar, a r apresentou contestao em que refutou os argumentos de fato e de direito, e postulou a improcedncia da busca e apreenso e reviso do contrato. Citado, o ru apresentou constestao, em que refutou os argumentos de fato e de direito, e postulou a improcedncia do pedido. Igualmente, em pea separada, apresentou reconveno ao pleito, em que postulou a reviso do contrato para limitar os juros e vedar a capitalizao, expurgar as tarifas TAC e TEC, descaracterizar a mora, repetir o indbito, condenar o Banco ao pagamento de indenizao por danos morais e reintegrar o reconvinte na posse do veculo. Intimado, o Banco reconvindo apresentou resposta reconveno.
Gabinete Des. Jorge Schaefer Martins
Irresignado, o Banco autor apelou e requereu a reforma da sentena para: manter a pactuao realizada entre as partes; no limitar juros remuneratrios; permitir a cobrana da TAC e TEC; vedar a repetio do indbito; declarar a no purgao da mora e dar procedncia ao pedido de busca e apreenso. Sem as contrarrazes, os autos ascenderam a esta Corte. VOTO Inicialmente, destaca-se que no h bice propositura de reconveno em ao de busca e apreenso, mormente quando o objeto do contra-ataque a reviso do contrato que fundamenta a alienao fiduciria do veculo. So pedidos conexos, que esto ligados por uma mesma causa petendi, constituda pela relao jurdica de prestao de servios bancrios, por meio de
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A jurisprudncia desta Corte, por seu turno, igualmente no observa impeditivo para a propositura de reconveno, ainda que a ao seja afeita ao rito especial:
APELAO CVEL. AO DE BUSCA E APREENSO -ALIENAO FIDUCIRIA -RECONVENO PROMOVIDA PELO DEVEDOR POSTULANDO A REVISO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. COMPATIBILIDADE ENTRE OS DOIS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS. SENTENA ACOLHENDO PARCIALMENTE O PEDIDO REVISIONAL E EXTINGUINDO, SEM RESOLUO DO MRITO, A AO DE BUSCA E APREENSO. [...] Nada impede - e at mesmo salutar do ponto de vista processual - o cabimento de reconveno ao de busca e apreenso decorrente de alienao fiduciria, para pleitear a reviso do contrato, bem como a devoluo de quantias pagas a maior (REsp 801374 / RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. em 06.04.2006) (Apelao Cvel n. 2006.002431-4, de So Jos. Rel. Des. Cludio Valdyr Helfenstein. Data do Julgamento: 12-03-2010).
Outrossim, entende-se que a mera existncia de ao de reviso de contrato bancrio no prejudica a promoo de busca e apreenso para reaver o automvel objeto do contrato bancrio inadimplido, conforme est consolidada a
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A relao entre as duas aes , em verdade, de prejudicialidade externa, visto que o destino da ao de busca e apreenso ser traado a partir do resultado obtido na ao de reviso do contrato que fundamenta a alienao fiduciria do bem. Isso porque, em razo da reviso da pactuao, a mora contratual depender da anlise sobre as abusividades nos encargos impugnados e da efetiva existncia de mora dentro da relao bancria vigente entre as partes. Por isso, antes de discorrer sobre a busca e apreenso do veculo, aprecia-se a reconveno para analisar os acertos e desacertos na reviso dos encargos contratuais. Inicialmente, salienta-se que a relao jurdica em enfoque encontra-se submetida Lei n. 8.078/1990, conforme dispe o seu artigo 3, 2. Realmente, o Superior Tribunal de Justia j homologou a Smula 297, na qual confirmou que "o Cdigo de Defesa do Consumidor aplicvel s instituies financeiras". Dessa forma, no procede a pretenso de incidncia pura e simples das disposies do contrato firmado entre as partes, j que no regime da Lei n. 8.078/1990 mitiga-se a aplicao do princpio pacta sunt servanda, conforme a
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redao do seu artigo 6, V. Sobre os juros remuneratrios, aplica-se o entendimento do Enunciado I do Grupo de Cmaras de Direito Comercial:
Nos contratos bancrios, com exceo das cdulas e notas de crdito rural, comercial e industrial, no abusiva a taxa de juros remuneratrios superior a 12 % (doze por cento) ao ano, desde que no ultrapassada a taxa mdia de mercado poca do pacto, divulgada pelo Banco Central do Brasil.
Portanto, a limitao dos juros remuneratrios em 12% (doze por cento) ao ano no mais subsiste, e a taxa contratada deve ser respeitada, desde que no seja abusiva em comparao com a taxa mdia divulgada pelo Banco Central do Brasil para o mesmo tipo de contrato e perodo. Na hiptese, a taxa de juros remuneratrios foi pactuada em 32,77% (trinta e dois vrgula setenta e sete por cento) ao ano, enquanto a taxa mdia divulgada para o perodo e mesma espcie contratual foi de 29,80% (vinte e nove vrgula oitenta por cento). Logo, fica constatada a abusividade da contratao e a correio da sentena em limitar os juros. Por sua vez, a tarifa de anlise de crdito (TAC) e a tarifa de emisso de carn (TEC) so ilegais, j que, a despeito da previso contratual para sua cobrana, no h especificao dos seus contedos e da sua origem, o que caracteriza abuso. Nesse diapaso: Apelao Cvel n. 2007.016390-1, de Joinville, rel. Des. Subst. Roberto Lucas Pacheco, Segunda Cmara de Direito Comercial, j. em 15-10-2007. No que concerne repetio do indbito, entende-se que a existncia de controvrsia sobre a validade das clusulas contratuais elide a repetio em dobro, pois caracteriza engano justificvel, o que enseja a restituio na forma simples. Do Superior Tribunal de Justia, colhe-se: AgRg no REsp. n. 701406/RS, rel. Ministro Jorge Scartezzini, Quarta Turma, j. em 20-4-2006. Nesse sentido: Apelao Cvel n. 2007.018977-8, de So Jos, rel. Des. Ricardo Fontes, Primeira Cmara de Direito Comercial, j. em 16-8-2007.
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No que concerne anlise da mora contratual e, em consequncia, possibilidade de manuteno da busca e apreenso, percebe-se que os argumentos da contestao no tem como prevalecer. Efetivamente, aps a sentena e o presente acrdo, observa-se que houve o expurgo de TAC e TEC e a limitao dos juros remuneratrios mdia de mercado, mas essa limitao no foi, nem perto, a pretendida pelo muturio. Alm disso, no foram sequer consignadas as parcelas mensais tidas como incontroversas pelas partes no transcurso da demanda. Diante desse quadro, mesmo com o expurgo dos valores indevidamente cobrados, conclui-se que h um evidente saldo devedor pendente de pagamento, o qual implica no necessrio reconhecimento da mora contratual por culpa da empresa r. A propsito, j decidiu esta Corte: Apelao Cvel n. 2007.040413-7, de Itapo, rel. Des. Jos Carlos Carstens Khler, Quarta Cmara de Direito Comercial, j. em 3-6-2008; e Apelao Cvel n. 2006.048524-4, de Correia Pinto, rel. Des. Subst. Paulo Roberto Camargo Costa, Terceira Cmara de Direito Comercial, j. em 21-8-2008. Nesse sentido, ainda, mencionam-se os seguintes precedentes deste Relator: Apelao Cvel n. 2008.029981-4, de Itaja, julgada pela Segunda Cmara de Direito Comercial, em 16-12-2008, e Apelao Cvel n. 2008.0701137, de Blumenau, Segunda Cmara de Direito Comercial, j. em 24-4-2009. Portanto, no h falar em eliso da mora, razo porque a sentena deve ser reformada nesse particular. Quanto busca e apreenso, tendo em vista que no persiste mais o impedimento superveniente de purgao da mora em razo da reviso, no se observa bice anlise sobre a procedncia do pedido. Nesse diapaso, aplica-se o 3 do artigo 515 do Cdigo de Processo Civil, para apreciar diretamente o pedido nesse grau de jurisdio, haja vista a desnecessidade de dilao probatria para o deslinde do feito.
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Dessa forma, ao compulsar os autos, percebe-se que houve a notificao extrajudicial regular do ru, que constituiu em mora o devedor antes da propositura da ao (fl. 15 verso). Por outro lado, no houve purgao da mora com o depsito dos valores devidos e a reviso dos encargos contratuais, tal como acima descrito, no obrou xito em afastar a mora contratual. Assim, conclui-se que a procedncia parcial do pedido medida que se impe, para determinar a busca e apreenso do automvel (ou consolidao da posse), aps a adequao do salvo devedor aos dispositivos do acrdo e da sentena, com a notificao prvia do devedor para o pagamento do dbito. Finalmente, em razo das reformas promovidas na sentena, impe-se a modificao dos nus sucumbenciais, tendo em vista que o Banco agora vencedor de parte substancial do pleito. Firma-se isso porque, aps julgamento deste recurso, percebe-se que o Banco foi vencedor em configurar a mora contratual e, consequentemente, obter o xito parcial no pleito de busca e apreenso do veculo. Essa modificao , na verdade, parte substancial do pleito principal; o qual visa, especificamente, reaver o automvel gravado com alienao fiduciria em garantia. Nesses termos, h que reconhecer a existncia de sucumbncia recproca, em que os nus sucumbenciais devem ser divididos na proporo de 60% (sessenta por cento) do total a ser suportado pelo Banco autor e os 40% (quarenta por cento) restantes para o ru reconvinte. Em relao condenao aos honorrios advocatcios, tendo em visto a ausncia de recurso, fica mantido o quantum arbitrado na sentena, conquanto agora dividido na proporo acima estabelecida, vedada a compensao de honorrios advocatcios. Nesses termos, h que prover o recurso para cassar a parte da sentena que faz referncia extino da busca e apreenso e, ao aplicar o 3 do artigo 515 do CPC, impe-se o julgamento imediato da ao, para julgar parcialmente procedente o pedido contido na exordial e com isso determinar a busca e apreenso do automvel (ou consolidao da posse), aps a adequao
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do salvo devedor aos dispositivos do acrdo e da sentena, com a notificao do devedor para o pagamento do dbito. O montante do dbito deve ser quantificado com base no valor contratual j vencido, e no pago, expurgados os encargos considerados abusivos. Outrossim, os nus sucumbenciais foram adequados s modificaes promovidas na sentena, com reconhecimento da sucumbncia recproca entre as partes, conforme a diviso proporcional acima estabelecida. DECISO Ante o exposto, d-se provimento parcial ao recurso para reconhecer a mora contratual e sucumbncia recproca entre as partes; cassa-se parte da sentena, e, com fulcro no 3 do artigo 515 do CPC, julga-se parcialmente procedente o pedido de busca e apreenso do bem. Participaram do julgamento, realizado no dia 4 de abril de 2011, o Excelentssimo Desembargador Jorge Luiz de Borba e o Excelentssimo Desembargador Substituto Robson Luz Varella. Florianpolis, 11 de abril de 2011.