Batalha
Batalha
Batalha
Mrio Otvio Batalha Antnio Mrcio Buainain Hildo Meirelles de Souza Filho RESUMO Parece inquestionvel que um dos importantes entraves competitividade dos agricultores familiares a utilizao de tecnologias inadequadas. Neste contexto, existe um esforo considervel - embora no suficiente - de desenvolvimento de tecnologias voltadas para os agricultores familiares. Grande parte deste esforo est sendo dedicado ao desenvolvimento e difuso de tecnologias de processo, de materiais e de produtos e servios. No entanto, pode-se notar que os esforos voltados para as tecnologias de gesto e de informao so ainda incipientes e, via de regra, incuos. Este artigo argumenta que as tecnologias de gesto so fundamentais para a competitividade da agricultura familiar brasileira e que, portanto, no devem ser negligenciadas. O artigo apresenta e contextualiza a gesto agroindustrial no mbito dos empreendimentos rurais, particularizando-a em relao a agricultura familiar. O artigo pretende ainda traar um rpido panorama da utilizao das tecnologias de gesto pelos agricultores familiares brasileiros. Desta breve anlise nasce a constatao que os desafios da aplicao de tecnologias de gesto adequadas agricultura familiar no Brasil encontram-se em duas diferentes esferas de aplicao: a gesto da propriedade rural e a gesto de formas associativas de produtores rurais familiares. O artigo conclui apontando a necessidade de ampliarem-se esforos no sentido de as ferramentas mais clssicas (marketing, logstica, qualidade, custos, etc) da gesto agroindustrial serem adaptadas realidade da agricultura familiar brasileira. Finalmente, o artigo aponta, nas suas concluses, que um empreendimento rural, seja ele familiar ou no, deve ser gerido eficientemente como forma de garantir sua insero no mercado e, por conseqncia, sua sustentabilidade.
Palavras-chave: agricultura familiar, agronegcio, gesto agroindustrial 1. INTRODUO O baixo nvel tecnolgico dos agricultores familiares brasileiros no pode ser explicado apenas pela falta de tecnologia adequada; ao contrrio, em muitos casos, mesmo quando a tecnologia est disponvel, esta no se transforma em inovao devido falta de capacidade e condies para inovar. O reconhecimento de que o desempenho e a viabilidade dos agricultores dependem de um conjunto de fatores e agentes que formam um sistema, mais ou menos integrado ou harmnico, desloca a anlise para a cadeia agroindustrial e requer um enfoque sistmico. Segundo Pedroso (1999) a tecnologia pode ser visualizada segundo trs nveis de anlise: (1) nvel macro anlise dos sistemas internacionais e nacionais de P&D e I; (2) nvel mesoanaltico estuda a tecnologia no mbito dos setores industriais; (3) nvel micro-analtico estuda a tecnologia no contexto das firmas e arranjos empresariais. Ainda segundo este mesmo
autor, a tecnologia pode ser classificada em cinco categorias: (1) tecnologia de processos; (2) tecnologia de materiais; (3) tecnologia de produtos e servios; (4) tecnologia da informao; (5) tecnologia de gesto. Todas as categorias so relevantes, interagem entre si e so condicionadas e tm efeitos por fatores macro, meso e micro. Estas classificaes so teis para avaliar a tecnologia de gesto para a agricultura familiar. Em primeiro lugar, preciso reafirmar a importncia do nvel micro e das aplicaes das unidades produtivas da tecnologia de produto, processo e gesto que as coloquem em condies de competir nos mercados em que atuam. Em se tratando da agricultura cada vez mais integrada a uma complexa cadeia que atravessa os trs setores tradicionais ganha importncia o domnio de todas as tecnologias que implicam em melhor coordenao dos sistemas produtivos (p.ex. a tecnologia da informao). A identificao das tecnologias de gesto como parte fundamental dos conhecimentos e tcnicas que uma empresa, rural ou no, deve dominar para obter sucesso no seu negcio. No mbito dos sistemas agroindustriais, o sentido mais imediato atribudo ao termo tecnologia aquele vinculado s tecnologias de produto e processo. A esmagadora maioria das atividades de pesquisa e desenvolvimento realizadas no Brasil, para a agropecuria em geral e para a agricultura familiar em especfico, preocupa-se com aspectos ligados a processos de produo e, secundariamente, ao desenvolvimento de novos produtos. A tecnologia de gesto, que deveria formar ao lado das tecnologias de produto e processo um trip fundamental para a competitividade sustentada das cadeias agroindustriais nacionais, muitas vezes mal compreendida e negligenciada quanto a sua importncia . Em que pese o esforo de pesquisa mencionado, preciso reconhecer que muito pouco tem sido feito em termos de desenvolvimento de tcnicas de gesto que contemplem as particularidades da agricultura familiar e as formas pelas quais ela pode inserir-se de forma competitiva e sustentada no agronegcio nacional. Embora inseridas em lgicas produtivas locais, circunscritas a territrios determinados, a agricultura familiar v-se exposta a paradigmas competitivos que so globais. Assim, independente dos mercados aos quais destinam a sua produo ou dos canais de comercializao que utilizam, pelo menos o segmento de agricultores familiares muito integrados e integrados devem poder contar com ferramentas de apoio deciso adequados sua cultura organizacional e limitaes em termos de educao formal e condies gerais do meio no qual esto inseridos. Essas ferramentas no so apenas teis, mas cada vez mais indispensveis para a competitividade sustentada dos seus empreendimentos. Este artigo tem como objetivo principal apresentar as caractersticas gerais do que convencionouse chamar gesto agroindustrial e critic-las no que se refere ao seu uso pelos agricultores familiares. O artigo argumenta que a falta de pesquisas sobre o tema, aliada a baixa capacidade de absoro e utilizao de ferramentas gerenciais modernas pelos agricultores familiares um entrave importante competitividade deste importante segmento da agropecuria nacional. Para tanto, o artigo divide-se em cinco partes principais. A primeira parte, alm de introduzir o artigo, contextualiza a tecnologia de gesto frente a outros contedos tecnolgicos (processos, produtos e servios, materiais e tecnologia da informao). A segunda seo apresenta as caractersticas gerais da gesto agroindustrial, ao passo que a seo subseqente particulariza estas caractersticas para a agricultura familiar. A quarta parte do artigo pretende traar um rpido panorama da aplicao da tecnologia de gesto agricultura familiar brasileira. Este panorama dividido em duas esferas de anlise. A primeira delas est relacionada a gesto da propriedade
rural e a segunda a gesto de formas associativas de produtores agrcolas familiares. A parte final, seguida da bibliografia utilizada, apresenta algumas consideraes finais sobre o assunto. 2. GESTO AGROINDUSTRIAL: ALGUMAS CARACTERSTICAS GERAIS Ao longo dos ltimos anos, tem se tornado claro para a comunidade acadmica, empresarial, e para formuladores e gestores das polticas pblicas, que a competitividade da agropecuria nacional at mesmo da agricultura familiar somente poder ser construda, em bases sustentveis, por meio da adoo de prticas que estimulem a cooperao entre os agentes econmicos de uma cadeia produtiva e, complementarmente, entre estes e os poderes governamentais. No suficiente lograr resultados expressivos isoladamente em um elo da cadeia; a elevao da produtividade por ser facilmente anulada pelo manuseio inadequado do produto por parte do empacotador, reduzindo seu preo e afetando a competitividade de toda a cadeia. No suficiente alguns produtores vacinarem contra aftosa, pois parte e caso para contaminar a imagem e preo de todos na regio. Coloca-se aqui dois problemas, o da gesto vertical e horizontal. Como considerar as aes individuais para obter resultados consistentes? crucial, portanto, desenvolver a capacidade de mecanismos de coordenao do sistema como um todo, respeitando e levando em conta as especificidades do conjunto de agentes envolvidos. O problema de encontrar mecanismos, pblicos e privados, que auxiliem na operacionalizao da coordenao da cadeia agroindustrial e que permitam a incluso da agricultura familiar nestes sistemas. Admitir que a competitividade sustentada de uma dada empresa rural, familiar ou patronal, est relacionada com a competitividade do sistema no qual est inserida significa mudar, s vezes, profundamente a maneira desta empresa visualizar e gerenciar seus negcios. Confrontadas com a j difcil tarefa de gerir sua realidade individual marcada, como vimos, pela adversidade as unidades agrcolas familiares so agora compelidas pela necessidade a participar e gerenciar um espao de decises e de aes muito mais complexo do que o lote ou imvel de cada produtor: o sistema agroindustrial no qual elas esto inseridas. Longe de ser uma especulao terica, ou um cenrio hipottico para um futuro longnquo, esta situao j uma realidade cada vez mais presente para um grupo importante de agricultores familiares. Especialistas das mais diversas correntes de pensamento admitem que uma das maneiras de fortalecer a agricultura familiar agregar valor aos seus produtos. Esta agregao de valor pode ocorrer de vrias formas. As principais esto relacionadas ao desenvolvimento e comercializao de produtos que destaquem caractersticas como: o carter social da agricultura familiar; a territorialidade do local onde esses produtos so fabricados; o sabor diferenciado originado de alguma caracterstica artesanal do processo produtivo; a justia social implcita em produtos que aumentem a renda dos pequenos agricultores; etc. Estas oportunidades esto longe de viabilizar a agricultura familiar tradicional, e dependem, todas elas, de capacidade de inovao dos produtores e de condies para superar as restries da produo individual. De um lado, essas formas de agregar valor e explorar vantagens potenciais da agricultura familiar requerem a superao da restrio de escala imposta pela pequena rea. De outro lado, requer articulaes e coordenao dos produtores, j que superar a restrio de escala e agregar valor passa pela formao de redes de pequenos agricultores que organizados de forma associativa possam estabelecer mecanismos de certificao, rastreabilidade, monitoramento e punio para
aqueles que desrespeitem as regras definidas pelo grupo. Essas redes so tambm essenciais para aumentar a escala de produo, ganhar poder de barganha e atingir mercados que individualmente seriam inacessveis; sua operacionalizao demanda atividades de articulao e gerenciamento que extrapolam em muito as fronteiras das unidades individuais de produo agropecuria. O lanamento recente do programa de agroindustrializao do Pronaf, que estimula a formao destas redes, mostra claramente que este um dos caminhos que o atual Governo Federal pretende trilhar para fortalecer a agricultura familiar. Desta forma, s dificuldades de gerenciamento da sua unidade de produo os agricultores familiares devem somar aquelas ligadas s redes das quais participam. Alm disso, deve-se ainda considerar que estes mesmos agricultores devem ser capazes de gerenciar suas relaes a montante e a jusante da cadeia produtiva. Comprar bem e vender bem to importante quanto produzir bem. Esta afirmao no vale apenas para os agricultores patronais, mas ainda mais verdadeira para os familiares, os quais enfrentam maiores restries de recursos e por isto mesmo devem utilizar os disponveis da melhor maneira possvel. Os ganhos de produtividade originados em anos de investimentos em tecnologias de processo podem ser perdidos se o agricultor no conseguir acessar mercados que remunerem adequadamente os seus produtos. Pode-se dizer que os desafios gerenciais da agricultura familiar situam-se em dois nveis diferentes de atuao: gesto de sistema e da propriedade. O primeiro nvel diz respeito necessidade de desenvolver capacidade e ferramentas para abordar as relaes sistmicas dos agricultores familiares com os outros agentes das cadeias agroindustriais, at e talvez particularmente as relaes entre os prprios agricultores familiares. A necessidade de promover capacidade de articulao entre os prprios agricultores coloca-se como um desafio maior e mais estratgico, uma vez que sem isto os agricultores familiares ficariam dependentes de outros agentes comerciantes e indstrias que em geral tem maior liderana e capacidade para promover a articulao e coordenao das atividades em torno de projetos economicamente viveis. Ocorre que esses agentes no esto presentes em todas as reas de concentrao de agricultores familiares e, mesmo quando esto no significa que tenham interesse/condies de articular-se com pequenos produtores; na prtica, cada vez mais a prpria insero dos familiares nestas cadeias/sistemas depende de organizao prvia entre eles. O segundo nvel diz respeito gesto individual das propriedades. As dificuldades neste nvel esto ligadas a alguns aspectos fundamentais: inadequao das ferramentas gerenciais existentes realidade da agricultura familiar; baixo investimento em P&D nesta rea; descapitalizao dos pequenos agricultores que no podem ter acesso e beneficiar-se das modernas tecnologias de informao; baixo nvel de educao formal dos agricultores familiares; falta de uma cultura que crie um ambiente propicio adoo de novas tecnologias de gesto e, finalmente, falta de capacitao adequada dos tcnicos responsveis pela assistncia tcnica aos produtores. A utilizao de ferramentas gerenciais aplicadas tanto gesto de redes de agricultores como s propriedades coloca-se como condio para os agricultores familiares explorarem novas oportunidades que se abririam a partir da formao das redes e da aplicao de tecnologias e prticas que requerem um nvel de gesto da produo mais sofisticado. De fato, a aplicao dessas ferramentas poderia permitir aos agricultores familiares atender condies essenciais para ter acesso a canais importantes de distribuio de produtos alimentares. Alm disso, o desenvolvimento da capacidade de gesto coloca-se como condio para reduzir ou anular
vantagens competitivas adquiridas por outros grupos em reas tradicionais dos agricultores familiares. Muitas vezes o principal problema dos agricultores familiares no se encontra nas tcnicas agropecurias que, dentro da realidade de cada produtor, esto plenamente disponveis. Ele reside, sobretudo, na compreenso do funcionamento dos mercados, que impe articulao com os segmentos pr e ps-porteira, novas formas de negociao e prticas de gesto do processo produtivo. Alm disso, necessrio encontrar um ponto de equilbrio entre a articulao com os agentes da cadeia de produo e a conseqente perda de poder decisrio, em troca da maior rentabilidade e estabilidade. 3. PARTICULARIDADES DA GESTO AGROINDUSTRIAL E DA AGRICULTURA FAMILIAR A inadequao de grande parte das ferramentas modernas de gesto, desenvolvidas para setores outros que o agroindustrial, tem como origem as especificidades que particularizam os sistemas agroindustriais de produo, nos quais encontra-se inserida a agricultura familiar. Algumas destas particularidades, bem como seus impactos sobre a agricultura familiar, so conhecidas e esto destacadas abaixo.
3.1. Sazonalidade da produo agropecuria.
Grande parte das matrias-primas da chamada agroindstria de primeira transformao obtida diretamente da atividade agropecuria. Esta condio faz com que o aprovisionamento destas matrias-primas esteja sujeito a regimes de safra e entressafra. Esta caracterstica introduz dificuldades importantes para a rentabilizao dos capitais investidos e para o planejamento e controle da produo agroindustrial. Desta forma, a indstria e os consumidores finais tendem a atribuir maior valor aos produtos vendidos em perodos de entressafra. Alm disso, pode-se pensar tambm em aproveitar o perodo de entressafra em outros pases para melhor colocar os nossos produtos no mercado internacional. Isto j vem acontecendo, com relativo sucesso, com algumas frutas brasileiras. Em algumas regies do pas os agricultores j vm se organizando em rede para poderem fornecer para a indstria ao longo do maior perodo do ano possvel. Estas providncias demandam um conhecimento aprofundado do mercado e de mecanismos contratuais que garantam relaes de troca adequadas tanto para os agricultores como para os seus clientes. Nestes casos, ganham importncia os chamados sistemas gerenciais de informao (SIG), com especial ateno para as informaes ligadas ao marketing. Os agricultores familiares, que produzem em volume mais baixo e na maioria dos estados esto dispersos geograficamente, dispem de pouco capital de giro e tm dificuldades para obteno de crdito, enfrentam maiores dificuldades tanto para lidar com o problema da sazonalidade da produo como para dela tirar proveito. Exceto naqueles ramos nos quais a sazonalidade menos intensa e nos quais possvel estabelecer processo de produo continuada (aves, sunos, leite e hortalias, por exemplo), a agroindstria tem preferncia em estabelecer contratos com produtores de maior porte, com maior capacidade para de armazenagem e de ampliar a oferta em resposta a condies favorveis de mercado. Uma das sadas para os agricultores familiares a
construo de capacidade de armazenagem associativa, o que pressupe um certo grau de organizao e coordenao que no trivial alcanar.
3.2. Variaes de qualidade do produto agropecurio
A qualidade da matria-prima e produto final agropecurio est sujeita s variaes climticas e s tcnicas de cultivo e manejo empregadas. Por sua vez, as caractersticas da matria-prima afetam a qualidade final dos produtos transformados, em particular, a padronizao e a regularidade de padres de qualidade do produto acabado. Por isso, indstrias e fornecedores vm impondo padres tecnolgicos cada vez mais rgidos aos produtores primrios. A superao nas variaes das caractersticas dos produtos um dos principais pontos considerados pelos clientes (consumidores finais ou industriais) no julgamento da qualidade de um produto, o qual normalmente implica em critrios de remunerao diferentes.1 Este um desafio importante para os agricultores familiares, uma vez que a estabilizao de padres de qualidade exigidos pelos mercados relevantes pressupe a adoo de tecnologias e procedimentos que em muitos casos no so compatveis, pelo menos no curto prazo, com as condies gerais dos agricultores familiares. Essas condies podem referir-se tanto capacidade financeira para adotar e manter processos produtivos mais custosos como exigncia de experincia e capacidade de gesto da propriedade que a maioria dos produtores no tm. Pode tambm se referir escala insuficiente para justificar a incorporao de equipamentos necessrios para assegurar a qualidade e estabilidade do padro do produto. Desta maneira, para os agricultores familiares, trata-se de adotar tecnologias de produto, processo e gesto que reconheam esta variabilidade e a valorizem da melhor forma possvel no mercado. Ferramentas apropriadas de gesto da qualidade e de planejamento e controle da produo, que padronizem normas e procedimentos intra e inter propriedades de uma dada rede de produo (se for o caso) e abram canais de comunicao com os clientes e fornecedores, so fundamentais para diminuir a variabilidade da quantidade e da qualidade da produo. Neste campo a informao um insumo essencial, e escasso, no meio dos agricultores familiares.
3.3. Perecibilidade da matria-prima.
Uma outra faceta importante que afeta a gesto das unidades agroindustriais e da produo agropecuria em geral a perecibilidade dos produtos e das matrias-primas. Grande parte das agroindstrias trabalha com produtos perecveis que no podem ser estocados e devem ser transformados rapidamente aps a colheita ou to logo chegue instalao industrial. Esta caracterstica tambm afeta de maneira importante a produo agropecuria, especialmente aquela ligada a agricultura familiar. Ela introduz problemas importantes de logstica de aprovisionamento e de planejamento da produo. Muitas vezes, a opo de reter a matria-prima no campo como forma de otimizar a produo industrial pode significar perdas de qualidade e/ou financeiras para os agricultores. Assim, mais uma vez, importante que o agricultor possa dispor de um mnimo de planejamento na sua produo para que este problema seja minorado.
1
Obviamente que as prprias caractersticas da produo agropecuria impedem uma padronizao total do produto obtido. No entanto, tcnicas de produo adequadas podem diminuir substancialmente esta variabilidade.
A perecibilidade particularmente relevante no caso da agricultura familiar, uma vez que a maioria dos produtores no logra produzir em escala suficiente para justificar a aquisio e manuteno de infra-estrutura de conservao da produo. Alm disso, uma parte est isolada, longe dos mercados, sem vias de acesso adequadas, e at mesmo ilhados durante parte do ano. Como foi visto atrs, a maioria no dispe de energia eltrica, e por isto no podem utilizar armazenamento frio para reduzir a perecibilidade. Esses fatores excluem os agricultores familiares de mercados relevantes e limitam suas opes a produtos mais resistentes ao tempo. No um simples acaso, ou simples atraso, a presena da produo de mandioca e da farinha entre os agricultores familiares das regies mais pobres e distantes do mercado. Por isso importante desenvolver tecnologias de conservao de produtos mais adequadas s condies brasileiras, e introduzir tcnicas e meios para o desenvolvimento da pequena indstria rural. Neste caso, tecnologia de gesto de redes de produtores pode contribuir para a articulao dos agricultores e a formao de associaes e consrcios locais com maior possibilidade de superar as restries impostas pela perecibilidade dos produtos nas condies efetivas do Brasil rural.
3.4. Sazonalidade de consumo
Algumas agroindstrias esto sujeitas a importantes variaes de demanda segundo datas especficas ou segundo as variaes climticas ligadas s estaes do ano. O consumo de chocolates na pscoa e o consumo de cervejas, picols e sorvetes nas estaes quentes do ano so bons exemplos destas particularidades. O impacto destas variaes de demanda no planejamento e no controle da produo agroindustrial extremamente importante e afeta os agricultores. vital que o agricultor familiar possa dispor de informaes a respeito destas variaes. Informaes pblicas sobre a dinmica de funcionamento e de consumo dos principais mercados brasileiros de alimentos so extremamente raras e, quando existentes, desatualizadas. Somente a partir do conhecimento do mercado o agricultor poder planejar a sua produo. Mas a experincia mostra que a existncia da informao no implica necessariamente no seu aproveitamento pelo agricultor. fundamental que as ferramentas de planejamento sejam capazes de traduzir estas informaes em um plano de produo, individual ou coletivo, conseqente.
3.5. Perecibilidade do produto final
A maioria dos produtos agropecurios, processados ou no, apresenta um alto grau de perecibilidade. Na maioria destes casos, a qualidade do produto final est largamente associada velocidade com que o produto disponibilizado ao consumidor. Tambm neste caso questes ligadas logstica de distribuio assumem uma importncia vital. O pequeno valor unitrio dos produtos transformados tambm acentua a importncia de uma logstica eficiente e eficaz. Este aspecto coloca duas questes importantes para a gesto da agricultura familiar. A primeira delas est ligada logstica de distribuio. Produtos perecveis, que representam grande parte da produo agropecuria familiar, demandam operaes logsticas mais geis, com ciclos logsticos mais curtos. As implicaes desta caracterstica para a gesto logstica da distribuio so importantes e imediatas. O segundo aspecto est ligado logstica de armazenagem. Um
adequado dimensionamento da capacidade de armazenagem e uma gesto adequada de estoques podem permitir aos agricultores trabalhar com a perecibilidade do produto a seu favor.
3.6. Qualidade e Vigilncia
A importncia de assegurar populao alimentos em quantidade e qualidade aceitveis faz com que este setor seja objeto de uma vigilncia acentuada do governo. Esta vigilncia est relacionada em especial ao controle sanitrio dos alimentos disponibilizados populao, que devem ser adequados para consumo humano e animal. Critrios de segurana dos alimentos devem ser respeitados. crescente o nmero de normas para controlar o processo de produo e a qualidade do produto levado ao mercado e/ou utilizado como insumo. Essas exigncias sanitrias afetam, tambm de forma crescente, o gerenciamento dos sistemas produtivos. Alm de toda a legislao sanitria vigente, a regulamentao recente sobre o uso da metodologia de garantia e controle de qualidade baseado no modelo APPCC (anlise de perigos em pontos crticos de controle) um bom exemplo deste fato. Questes de sade pblica relacionadas aplicao inadequada de defensivos agrcolas tambm so fatores que podem afetar a produo e a comercializao de produtos oriundos da agricultura familiar. Em ambos os casos a utilizao de ferramentas adequadas de gesto da qualidade fundamental. Vrios estudos sobre a competitividade de diferentes cadeias agroindustriais, especialmente aquelas que envolvem um grande nmero de pequenos produtores, tem apontado a legislao (fiscal, sanitria, ambiental e trabalhista) como um dos principais entraves competitividade destes sistemas (Batalha, 2002; 2003). Estudos deveriam ser conduzidos no sentido de que estas legislaes pudessem, na medida do possvel, serem adaptadas realidade dos pequenos produtores rurais. 3.7 Outras particularidades e consideraes Uma outra questo importante que afeta sobremaneira o consumo de alimentos e, desta forma, a gesto das unidades de produo e distribuio de produtos alimentares, est ligada a aspectos do que poderia ser chamada de sociologia dos alimentos. Aspectos culturais ligados especialmente noo de que ns somos o que comemos faz que esta produo esteja sempre sujeita realidade cultural da sociedade. Assim, as rpidas mudanas sociais e culturais que a sociedade brasileira vm atravessando tendem a influenciar fortemente a produo de alimentos no Brasil. A emergncia de uma sociedade mais plural e, ao mesmo tempo, mercadologicamente mais segmentada, impe s firmas agroindustriais esforos importantes de diferenciao de produtos. Inquestionavelmente este esforo de diferenciao se traduz na necessidade de sistemas de gesto especialmente adaptados esta nova problemtica. A agricultura familiar no exceo a esta realidade. Aspectos socioeconmicos ligados produo agropecuria familiar tm levado o Estado a utilizar instrumentos de poltica pblica que viabilizem a competitividade sustentada destes empreendimentos. Entre estas aes encontra-se, principalmente, a concesso de crdito em condies facilitadas. Outras aes situam-se no mbito da utilizao de canais privilegiados para o escoamento da produo agrcola familiar (caso da compra de produtos originrios da agricultura familiar para a merenda escolar, por exemplo). Existem ainda aes que visam gerar informaes sobre os mercados reais ou potenciais para produtos da agricultura familiar e
capacitar gerencialmente os agricultores familiares para que eles possam inserir-se adequadamente nas cadeias agroindustriais do agronegcio nacional. No entanto, tem-se dado menor nfase do que a necessria neste ltimo aspecto. Inmeros estudos tm apontado deficincias gerenciais nos negcios da agricultura familiar e reduzindo ganhos que poderiam advir da superao destas deficincias (Batalha&Scarpelli, 2002; Lourenzani et al., 2003; Batalha&Sproesser, 2002) . interessante destacar o impacto que algumas tecnologias ditas transversais podem ter no gerenciamento dos sistemas agroindustriais em agricultura familiar. Entre estas tecnologias podese destacar a biotecnologia e a chamada tecnologia da informao. A biotecnologia coloca as empresas do sistema agroindustrial em face de alternativas estratgicas importantes. Existe a promessa de que a biotecnologia pode influir decisivamente nos sistemas produtivos atuais. Alm disso, a aplicao de tcnicas biotecnolgicas modernas podem resultar em produtos ainda mais diferenciados. Este o caso, por exemplo, da produo do que pode ser chamado de alimentos funcionais. Para a agricultura familiar esta tendncia, se bem gerenciada, pode representar alternativas interessantes de desenvolvimento. Unidades de produo agrcola familiar, normalmente de pequeno porte, podem explorar melhores nichos baseados em apelos na produo de produtos mais naturais e saudveis e ecologicamente corretos. A produo orgnica, como forma de diferenciao de produtos oriundos da agricultura familiar, segue esta linha de raciocnio. No entanto, como em qualquer processo de diferenciao de produtos, necessrio que o produtor seja capaz de garantir, via normas e procedimentos pr-estabelecidos, que esta produo mantenha os atributos de qualidade vendidos ao consumidor. Nenhum apelo mercadolgico sustentvel sem correspondncia objetiva que sustenta a subjetividade do consumidor. A explorao desta possibilidade demanda mais do que o voluntarismo dos produtores ou de suas associaes. necessria, antes de qualquer coisa, a capacidade de inovao. Ao contrrio do que defende o senso comum, a produo de orgnicos ou a agroecologia, est longe de ser uma volta natureza, explorao elementar da terra. Ao contrrio, um processo de produo que adota pressupostos rgidos, e at mais difceis na medida em que no permite o uso de meios artificiais, em particular os qumicos, facilitadores e estimuladores. Neste sentido, adquire relevncia a utilizao de tcnicas de gerenciamento que permitam com que estes produtos sejam disponibilizados ao consumidor final no tempo e na forma adequadas, com sustentabilidade econmica. Para isso absolutamente vital que o agricultor possa contar com ferramentas de gesto da qualidade, planejamento e controle da produo, logstica de aprovisionamento e de distribuio, anlise e controle de custos, marketing, etc. As tecnologias de informao (TI) tambm podem afetar de forma substancial a gesto dos negcios agroindustriais. Alm de facilitar a busca, acesso, armazenamento e disseminao de informaes, as modernas TI devero cada vez mais servir como instrumento de comunicao e coordenao entre os agentes de um dado sistema agroindustrial. Neste ltimo caso, tecnologias de troca informatizada de dados devero assumir um aspecto vital nos anos vindouros. Sob este aspecto, as TI so instrumentos importantes no aumento da eficincia e da eficcia das cadeias agroindustriais. Por outro lado, tambm podem levar a excluso de pequenos produtores que no tenham acesso a esta tecnologia.
As TI podem afetar de duas maneiras importantes a gesto dos agronegcios e, conseqentemente, a agricultura familiar. A primeira delas relaciona-se a utilizao das TI para gerenciamento de redes de pequenos agricultores familiares, sejam eles responsveis ou no por empreendimentos agroindustriais. Nestes casos as TI viabilizam o planejamento e o controle da produo, aes de logstica de distribuio e aprovisionamento, a anlise e o controle de custos de produo e comercializao, a gesto dos canais de comercializao, etc. Por outro lado, crescente a utilizao de TI para o gerenciamento das relaes produtor de insumos/produtor agrcola e produtor agrcola/distribuio ou produtor agrcola/agroindstria. Cada vez mais os agentes de distribuio (particularmente hiper e supermercados de grandes redes) esto recorrendo troca informatizada de dados (EDI) para comprar produtos e gerenciar estoques. Embora esta tendncia esteja ocorrendo mais fortemente em categorias de produtos no ligadas diretamente a agropecuria, algumas redes j vm exigindo dos seus fornecedores de hortifrutigranjeiros a utilizao desta tecnologia. Esta uma tendncia que deve ganhar importncia no futuro prximo. Agricultores familiares isolados, no organizados em alguma forma associativa, dificilmente tero condies de cumprir estas exigncias, o que poder exclulos destes canais de distribuio. No parece haver dvidas de que tanto as ferramentas de gesto como a aplicao da moderna biotecnologia e das TI afetaro, de forma profunda, a viabilidade e sustentabilidade da agricultura familiar. De um lado, como indicado por Buainain, Sousa e Silveira (2002), a difuso dessas tecnologias pode tanto potencializar como reduzir as vantagens dos agricultores familiares nos mercados nos quais se inserem. Isto pode ocorrer tanto por meio do impacto sobre os concorrentes, como a reduo do custo de monitoramento da mo-de-obra possibilitado pelas novas tecnologias o que reduz a desvantagem das grandes empresas em relao aos familiares em ramos intensivos de mo de obra como pelo impacto sobre os prprios agricultores familiares que poderiam se beneficiar das TI para conformar redes de produtores e assim reduzir as desvantagens associadas escala. 4. TECNOLOGIA DE GESTO E AGRICULTURA FAMILIAR: A SITUAO BRASILEIRA Um dos problemas observados na curta experincia de aplicao de modernos instrumentos de gesto no agronegcio brasileiro, e que em muitos casos explica resultados abaixo dos prometidos ou esperados pelo usurio a falta de aderncia do instrumento realidade brasileira. No caso da agricultura familiar fundamental levar em conta a heterogeneidade que os caracteriza, tornando ainda mais necessria e complexa a adequao dos instrumentos s caractersticas do setor e dos produtores. Como visto anteriormente, esta heterogeneidade o resultado de mltiplos fatores, que incluem desde a formao histrica e cultural, as condies ambientais at as polticas pblicas. O desenho e o desenvolvimento de instrumentos de gesto para a agricultura familiar no pode, portanto, ignorar as condies de infra-estrutura atual, a disponibilidade de energia, a situao das estradas vicinais, a disponibilidade de assistncia tcnica para equipamentos e assim por diante. Conforme foi discutido at este momento, a aplicao das tecnologias de gesto no mbito da agricultura familiar pode se dar, principalmente, em duas esferas. A primeira est relacionada s organizaes associativas das quais grande parte dos agricultores familiares participa (cooperativas e associaes) e a segunda est associada prpria gesto da propriedade rural
familiar. Em ambos os casos, como ser visto a seguir, o Brasil tem dificuldades enormes a superar. 4.1 Gesto da propriedade rural A gesto do empreendimento rural, que compreende a coleta de dados, gerao de informaes, tomada de decises e aes que derivam destas decises, no tratada de forma satisfatria na literatura nacional e internacional. Os trabalhos existentes nesta rea esto quase sempre restritos aos aspectos financeiros e econmicos da gesto do empreendimento rural (custos, finanas e contabilidade). Tradicionalmente a questo da gesto na propriedade rural, especialmente aquela de menor porte, abordada de forma muito compartimentada e especfica. Assim, quando existem, os modelos disponveis so, por exemplo, para controle de custos na produo leiteira ou para programao da produo pecuria bovina. So incipientes os esforos dedicados a outras ferramentas de gesto, tais como critrios de definio do produto e do processo de produo que ultrapassem a viso de curto prazo das margens de contribuio, sistemas de gesto da qualidade, sistemas de planejamento e controle da produo, sistemas de gesto logstica, entre outras. Alm disso, os mecanismos de difuso tecnolgica no so suficientes e adequados para capacitar o produtor na implementao e utilizao das tcnicas disponveis. Com raras excees, a incorporao de prticas gerenciais e a plena integrao da produo rural s necessidades do processo de transformao industrial ou de distribuio esto longe de serem usuais. Noes como planejamento e controle da produo, gesto da qualidade e reduo de desperdcios, logstica, desenvolvimento de embalagens adequadas e outras tcnicas so em geral ainda vistas de forma limitada e preconceituosa em relao a sua importncia frente s atividades de produo propriamente ditas. A falta de ateno e sensibilizao do agricultor e de parte importante dos tcnicos responsveis pela assistncia rural tem contribudo para a sobrevivncia da idia equivocada de que o bom agricultor aquele que cuida bem das tarefas exercidas na sua propriedade. Qualquer atividade diretamente vinculada aos trabalhos agropecurios significaria perda de tempo para o agricultor. Esta viso reflete at mesmo na prpria caracterizao dos agricultores familiares e no peso que atribui s tarefas de campo em detrimento das funes de gesto. O estudo realizado por Pavarina et al (2003) analisou atividades administrativas (planejamento, organizao, direo e controle) e atividades estratgicas e operacionais (finanas, comercializao, recursos humanos e produo) de 132 produtores agrcolas da Cooperativa Tritcola Mista Alto Jacu (COTRIJAL) no Rio Grande do Sul e apontou diferenas significativas de opinio entre produtores rurais e tcnicos no que diz respeito ao desempenho das atividades administrativas numa empresa rural.. O trabalho identifica a falta de sintonia entre tcnicos e produtores no que tange a importncia e a operacionalizao de atividades ligadas organizao e ao planejamento. Isto se reflete na nfase dos cursos tcnicos em aspectos produtivos e na menor ateno dada capacitao.. O resultado desta situao explica tcnicas de gerenciamento, por debilidade que em muitos casos compromete o resultado das tecnologias de produo para estas atividades por parte dos agricultores. Estudiosos da agricultura familiar so unnimes em constatar a baixa eficincia gerencial destes empreendimentos. Rezende e Zylbersztajn (1999), em estudo realizado com produtores agropecurios do Estado de Gois, constataram que os aspectos relacionados produo (assistncia tcnica, nvel dos funcionrios e mecanizao), so, em geral, considerados como
parte da rotina operacional das propriedades rurais. Constatarem que a utilizao rotineira de instrumentos de gesto (aspectos comerciais e contbeis, planilhas de resultados etc) era exceo no conjunto das propriedades analisadas, embora fosse muito mais freqente junto aos grandes produtores que aos pequenos. Alm disso, vale destacar que as ferramentas de gesto citadas foram somente quelas relacionadas com aspectos financeiros e econmicos, no envolvendo gesto de informao e mercados. Assim, mesmo junto a produtores que possuem alto grau de tecnificao produtiva, pobre a utilizao de tcnicas adequadas de gerenciamento. Este o caso, por exemplo, dos produtores de sunos da regio do Vale do Piranga em Minas Gerais. Os produtores desta regio tm buscado eficincia tecnolgica para elevar a produtividade e a qualidade da carne suna. As tecnologias de produo utilizadas por estes produtores permitem classific-los como de alta tecnologia. No entanto, a preocupao com a parte administrativa fica muito aqum daquela dispensada aos aspectos tecnolgicos de produto e processo. Neste sentido, Salgado et al. (2003) salientam que necessria a adoo de praticas administrativas nas suinoculturas, de forma a possibilitar ao produtor um melhor gerenciamento da atividade, para que decises sejam tomadas com base em informaes que demonstrem os reais resultados da explorao, permitindo um acompanhamento gerencial e consolidado do negocio. Queiroz e Batalha (2003), em estudo realizado na regio de Araraquara e So Carlos, no estado de So Paulo, tambm revelam a fragilidade do gerenciamento das pequenas propriedades agrcolas familiares. Este estudo analisou 33 propriedades com rea mdia de 16,5 hectares. Como no podem competir em escala, resta para estes produtores explorao de atividades onde a escala de produo no seja atributo essencial de competitividade. So exemplos destas atividades as culturas consorciadas de hortalias e leite, aves e hortalias, bem como milho e hortalias, ou apenas hortalias. A pesquisa mostrou um longo perodo de experincia na atividade (mdia aproximada de 15 anos). Este um fator relevante, pois se sabe que as atividades agrcolas e em particular as familiares so fortemente influenciadas por fatores culturais e pela hereditariedade da empresa e do conhecimento acerca da atividade, gerando path dependence. Os dados levantados pela pesquisa indicam que os produtores analisados no utilizam ferramentas adequadas s chamadas prticas gerencias modernas. No se constatou o uso significativo pelos produtores de coleta, registro, controle e aplicao das informaes referentes s atividades produtivas. Alm disso, vrios fatores internos (baixa qualificao, formao escolar deficitria, acesso restrito informtica, entre outros) e externos (concentrao monopsnica do setor de hortalias, alm de pouco acesso a crdito e grandes mercados etc.) atuam negativamente sobre a gesto das empresas agrcolas familiares, e prejudicam o seu desenvolvimento. Ainda, no tocante s prticas de gesto adotadas pelos proprietrios/gerentes, v-se que a impercia e a falta de prticas formais de controle prejudicam a implementao de um sistema de melhoria gerencial. A pesquisa constatou que apesar da maioria (cerca de 61%) dos produtores analisados alegarem fazer coleta e registro de dados referentes atividade produtiva, esta , quando realizada, sofrvel, e em rarssimos casos se revertem em anlises teis ao gerenciamento do negcio. Para os 39% dos entrevistados da amostra que afirmaram no fazer coleta e registro de dados, os motivos mais importantes apontados foram: a) falta de tempo (35,7%), b) acredita que isto no
seja importante para a gesto da atividade (21,4%) e c) falta de hbito para a realizao de coleta e registro (14,3%). Os dados para se tornarem teis s prticas gerenciais necessitam passar pelas etapas de coleta, registro, anlise e correo de desvios significativos. Para aqueles que realizam tais procedimentos, nota-se que estes esto em patamares rudimentares e ainda distantes do aceitvel e til, tanto no que diz respeito aos itens levantados, quanto ao meio utilizado para o registro destas informaes. Os principais dados coletados e registrados so: (a) quantidade e valor da venda de seus produtos e (b) despesas com fornecedores. O meio predominante utilizado para registrar as informaes so os registros em papel (90% dos casos encontrados). No entanto, a pesquisa apontou que a maioria absoluta (95%) dos produtores que faz algum registro formal sobre a rotina operacional da propriedade no utiliza estes dados para nenhum tipo de anlise que leve a melhorias nos mecanismos de tomada de deciso.2 Os meios utilizados pelos produtores para o registro das informaes so: registros em papel, uso de planilha eletrnica e at mesmo de cabea, como citado por um dos entrevistados. O uso predominante dos registros em papel em detrimento do uso de planilhas eletrnicas pode ser explicado pelos seguintes motivos:
Em 66,7% dos casos estudados nenhum membro da famlia ou funcionrio relacionado atividade sabe utilizar o computador; 90,9% dos produtores no possuem computador em sua propriedade.; 66,7% dos proprietrios/gerentes no possuem segundo grau completo, sendo que nenhum dos produtores declarou ter curso universitrio.
Estas informaes do idia da dimenso do desafio. Qualquer sistema de gerenciamento demanda um mnimo de formalizao no registro das informaes, o que pressupe um nvel educacional mnimo. Mesmo entre aqueles com melhor nvel educacional, o fato de no possurem a cultura da elaborao de registros escritos comum entre os agricultores familiares dificulta em muito a implantao de prticas gerenciais modernas. Alm disso, deve-se ainda indicar a inexistncia de computadores em praticamente todas as propriedades. Esta condio dificulta sobremaneira a utilizao de tecnologias de gesto por parte dos agricultores. Pode-se supor que esta situao, encontrada no interior do estado de So Paulo, ainda mais grave em regies menos desenvolvidas do pas. Esta constatao, mais do que apontar para dificuldades conhecidas refora o argumento que sustentamos sobre a necessidade de desenvolver tecnologias de gesto adequadas aos agricultores familiares. Existe uma outra caracterstica do agronegcio brasileiro que merece destaque como fator explicativo da baixa intensidade na utilizao de ferramentas gerenciais pelos agricultores familiares. Esta caracterstica est ligada insero de grupos de agricultores familiares a algumas as cadeias agroindustriais dinmicas e competitivas. Normalmente estas cadeias tm como agentes coordenadores outros atores e no os agricultores familiares. Este o caso, por
No fato de a maior parte dos produtores (54,5% da amostra) tratarem os gastos com a atividade produtiva e os gastos pessoais/famlia de maneira agregada alerta para um detalhe a ser abordado por um sistema de custeio dirigido para a agricultura familiar. Uma ferramenta para este propsito dever considerar e analisar os gastos com a "manuteno" da famlia, alocando-os ou no ao custo produtivo, de acordo com anlises mais criteriosas. Deve-se atentar para o fato de que a famlia pode ser entendida ao mesmo tempo como recurso produtivo e tambm como um "centro de custos", onde a mo-deobra de seus membros far parte dos recursos humanos destinados produo e as despesas para manuteno destes comporo um centro de custos "famlia" ou "gastos pessoais".
exemplo, de parte dos produtores de sunos e aves de Santa Catarina e Paran, dos criadores de camaro do Rio Grande do Norte ou dos produtores de tomates de Gois. Produtores agrcolas familiares inseridos nestas cadeias produtivas tendem a beneficiar-se da assistncia tcnica do agente coordenador da cadeia, que na maioria das vezes constitui-se em grandes unidades de transformao industrial. Alguns destes agentes exigem que haja um mnimo de controle gerencial nas propriedades agrcolas integradas ao sistema. Nestes casos, pode ser constatada a utilizao de ferramentas gerenciais tais como tcnicas de planejamento e controle da produo, de gesto da qualidade, de controle de custos, etc. No entanto, estas ferramentas so concebidas pelo agente coordenador como forma de controlar e viabilizar sua marca e insero no mercado. Na maioria das vezes o agricultor sequer consegue compreender a utilidade e a importncia estratgica das informaes que repassa ao integrador. Alm disso, como o agricultor tem a compra da sua produo garantida pelo integrador, ele tende a negligenciar informaes e tcnicas de marketing que poderiam ser teis caso ele decidisse abandonar este sistema de produo integrado ou ento diversificar os seus canais de comercializao. Pode-se dizer, em resumo, que o agricultor no utiliza as informaes que se originam destas tcnicas de gerenciamento para a sua prpria tomada de deciso. Na verdade, se dispusesse de conhecimentos suficientes, o agricultor poderia utilizar as informaes oriundas destes sistemas de informao para aumentar o seu poder de barganha frente ao integrador. Existe, porm, um ponto bastante positivo nesta prtica. No caso destes agricultores abandonarem os sistemas de integrao, eles tero, pela cultura organizacional adquirida no seio de um sistema integrado, maiores facilidades na implementao e manuteno de sistemas gerenciais. A cultura organizacional adquirida tambm pode ser extremamente til na criao e operacionalizao de estruturas associativas de produo, industrializao, comercializao e distribuio. Duas iniciativas de transferncia de tecnologias de gesto a agricultores familiares, entre outras, merecem ser apresentadas. A primeira delas esta relacionada ao trabalho de transferncia de tecnologia de gesto por uma cooperativa aos seus cooperados. Neste caso, a cooperativa adquiriu um software de gesto empresarial, adaptado produo agropecuria, e disponibilizouo aos seus cooperados. Cumpre destacar que a pesquisa realizada com os cooperados que utilizaram o software no se restringiu a pequenos produtores. Segundo os responsveis pela implementao do projeto, a idade avanada e o baixo nvel educacional dos agricultores que aderiram iniciativa da cooperativa comprometeram substancialmente a utilizao efetiva do software (Castro et al., 2003). Assim, a existncia e a disponibilidade das ferramentas de gesto para os agricultores est distante de significar que esses vo utilizar essas ferramentas. necessrio, em grande parte, mudar a prpria cultura dos agricultores e dos tcnicos que os assistem. Isto no se logra de um dia para outro, exige uma combinao de polticas sustentveis, incentivos adequados e presso. A segunda iniciativa est ligada ao Programa de Gesto Agrcola implantado pelas empresas oficiais de extenso rural de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina o programa iniciou em 1984 e no Rio Grande do Sul em 1998. Lunardi (2000) analisou os resultados da implantao deste programa a partir da perspectiva dos agricultores familiares que participaram da iniciativa. O programa consiste numa estratgia de trabalho na rea de administrao e gerenciamento por meio da contabilidade agrcola das propriedades rurais. Segundo a autora, o programa teve que passar por vrias adaptaes para acoplar-se cultura do agricultor. Embora o Programa tenha encontrado dificuldades na sua implementao, trata-se de uma experincia que mereceria ser estudada com mais detalhes.
Para concluir esta seo pode-se dizer que a utilizao pelos agricultores familiares brasileiros de tcnicas de gesto altamente insatisfatria, o que pode comprometer a sustentabilidade e competitividade destes empreendimentos. Esta situao deve-se a pouca cultura (formal e informal) do agricultor no assunto, ao baixo nvel de qualificao dos tcnicos extensionistas em tecnologias de gesto, inadequao das ferramentas disponveis na literatura, descapitalizao dos agricultores (que impede a contratao de tcnicos efetivamente qualificados no assunto) e s polticas pblicas de estimulo ao setor que no privilegiam os aspectos de gesto. 4.2. Gesto de formas associativas de produtores agrcolas familiares No contexto atual, a sobrevivncia sustentvel da agricultura familiar brasileira, assentada em imveis de pequeno e mdio, depende da capacidade de intensificar a gerao/agregao de valor. A maior parte das estratgias de agregao de valor passa, necessariamente, pela criao e gesto de formas associativas que congreguem um conjunto de agricultores familiares. Estas instituies associativas podem ter formas e objetivos diferentes. Quanto forma, podem se traduzir em associaes ou cooperativas com alcance, estratgias e objetivos muito diversificados. Existem evidncias de que os agricultores no conhecem as vantagens e desvantagens da escolha da forma associativa (associao ou cooperativa), que depende dos objetivos e do grau de capital social dos agricultores. Em alguns casos o objetivo aumentar o poder de barganha frente a fornecedores de insumos ou clientes. Em outros, tambm se trata de alcanar escalas de produo que permitam o acesso a canais de distribuio nos quais os agricultores familiares isolados no poderiam participar. O trabalho de Lourenzani e Silva (2003) que estudou os pequenos produtores de tomates das regies de Itapetininga, Mogi-Mirim e Campinas salienta a importncia da escala de produo para o acesso dos produtores distribuio via super e hipermercados. Os autores tambm destacam que a ausncia de controle financeiro, a ineficincia dos sistemas de gesto da qualidade e a falta de planejamento da produo nas propriedades rurais dificultam sobremaneira a participao destes produtores e suas associaes em canais de distribuio mais dinmicos como os super e hipermercados. Estas deficincias gerenciais, presentes nas pequenas propriedades agrcolas, tambm se refletem e caracterizam associaes de pequenos produtores agrcolas familiares que buscam, precisamente, romper as restries impostas pelos contratantes ao acesso individual e de produtores com baixa capacidade de gesto. Vrios autores consideram como sucesso de um empreendimento cooperativo uma gesto profissionalizada das atividades da cooperativa. Em (2003), em estudo realizado com cooperativas do Rio Grande do Sul, tambm chega a esta concluso (Ew, 2003). Do ponto de vista da gesto, formas associativas de produtores agrcolas familiares enfrentam dois desafios diferentes. O primeiro est ligado a tecnologias de gesto que permitam gerenciar fluxos comerciais eficientes a montante e a jusante da cadeia produtiva. O segundo deles est associado com a gesto interna da rede de produtores rurais que formam a associao ou a cooperativa. Para que uma determinada rede de pequenos proprietrios rurais seja capaz de explorar eficientemente as externalidades positivas desta rede, absolutamente fundamental que ela disponha de uma organizao interna eficiente. A figura 2 apresenta esquematicamente as relaes comerciais de pequenos e grandes produtores ao longo de uma cadeia agroindustrial.
O espao aberto pela incapacidade de algumas associaes de pequenos produtores de atenderem as expectativas dos consumidores tem sido ocupado por empresas privadas que cumprem este papel. Estas empresas, embora no utilizem tcnicas sofisticadas de gesto, tem conseguido planejar a produo e garantir, com regularidade, qualidade e volume, a oferta de produtos s grandes redes supermercadistas. O stio Boa Terra, localizado na cidade de Itobi no interior do estado de So Paulo, trabalha com uma rede de pequenos produtores agrcolas, coordenando em grande parte a produo destas propriedades. Esta empresa, em anos anteriores, comercializava, particularmente, parte expressiva da prpria produo com grandes redes de supermercados. As exigncias, em termos de preo, prazo e qualidade, levaram-na a buscar alternativas, e hoje, comercializa seus produtos e de um grupo de pequenos agricultores que atendam o padro de exigncia somente via a distribuio de cestas de produtos diretamente ao consumidor final. A confeco destas cestas, que variam segundo o perfil do consumidor, demanda uma capacidade de organizao gerencial que grande parte das associaes de pequenos produtores agrcolas no tm. Quando vendia para supermercados, a empresa utilizava a Internet para o recebimento dos pedidos (utilizao de tecnologia da informao).
Formas associativas
Pode-se ainda identificar, no universo da agricultura familiar brasileira, associaes que prestam assessoria tcnica a grupos de produtores. Algumas destas associaes no promovem a compra de insumos ou a comercializao de produtos de forma conjunta. Elas limitam-se a prestar assistncia tcnica e, eventualmente, desenvolver selos de qualidade que diferenciem os produtos dos seus associados e proporcionem agregao de valor a estes mesmos produtos. Um bom exemplo deste tipo de iniciativa a APACO (Associao de Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense). A APACO uma organizao no governamental sem fins lucrativos, fundada em 1989, e que tem como objetivo assessorar o desenvolvimento da agricultura de grupo na regio oeste de Santa Catarina. A APACO, que atende cerca de 1400 famlias, trabalha em oito frentes diferentes: gesto agrcola associativa, agroecologia, agroindstria familiar associativa, comercializao, assessoria tcnica, crdito solidrio, formao e intercambio e desenvolvimento rural sustentvel. Neste tipo de associao, a questo da organizao da rede produtiva menos pertinente do que naquelas onde a comercializao da produo feita de forma conjunta. Um bom exemplo de associao que realiza a comercializao conjunta dos produtos dos seus associados a AGRECO (Associao dos Agricultores Ecolgicos das Encostas da Serra Geral), localizada em Santa Rosa de Lima, no estado de Santa Catarina. Esta associao, que produz e industrializa produtos orgnicos, tem como caracterstica o fato de que ela congrega no somente
produtores orgnicos, mas tambm uma rede de cerca de 20 pequenas agroindstrias de propriedade e gerenciadas pelos prprios agricultores. Esta caracterstica adiciona questes gerenciais importantes aos agricultores participantes da associao. Estas questes derivam do fato de que, nesta forma associativa, os agricultores se vem responsveis no somente pela gesto das suas propriedades, da rede na qual esto inseridos, mas tambm pelas agroindstrias. Cumpre esclarecer que o gerenciamento de uma unidade agroindustrial demanda conhecimentos e habilidades que diferem substancialmente daqueles necessrios ao gerenciamento da propriedade agrcola. Assim, os agricultores so lanados em uma lgica de negcios que difere da agrcola. Embora a AGRECO colecione sucessos em vrias reas, ela encontra atualmente dificuldades em vrias reas gerenciais. Entre elas, destacam-se questes ligadas com a logstica de distribuio. A estes problemas, devem ser somados aqueles originados na gesto das prprias agroindstrias. Finalmente, pode-se dizer que a baixa cultura gerencial dos agricultores familiares compromete no somente a competitividade da propriedade agrcola familiar, mas tambm das associaes e atividades por ela gerenciadas. Vale dizer que a complexidade gerencial de redes de empresas, cristalizadas em associaes ou cooperativas, ainda maior do que aquela das propriedades agrcolas isoladas. 5. CONSIDERAES FINAIS A questo da gesto de negcios complexa, pois envolve muitas reas relevantes da logstica, gesto da qualidade, apurao e controle de custos ao marketing que afetam o resultado do esforo de produtores, inseridos formalmente ou no em cadeias produtivas e/ou sistemas de produo contemporneos. Os mtodos de gesto empregados pelos agentes econmicos afetam, de forma direta, os resultados obtidos e a sustentabilidade do negcio. Deve-se ter claro que tanto o sucesso do agronegcio brasileiro como a viabilidade futura da agricultura familiar passa, necessariamente, pelo desenvolvimento de capacidade para administrar de forma eficiente a explorao de atividades cuja complexidade e grau de exigncias vm aumentando. Deve-se insistir que a agricultura familiar, mesmo se fosse protegida pelo setor pblico coisa que no ocorre no Brasil, e nem dever ocorrer de forma substantiva nos prximos anos, seja em razo do nmero de agricultores familiares seja por causa das restries fiscais no foge a este condicionante. Eficincia no uso dos recursos cada vez mais uma pr-condio necessria para a sustentabilidade dos agricultores, familiares ou no. Aqui necessrio um enorme esforo de pesquisa e capacitao dos agricultores familiares em gesto. De sua unidade de produo, de suas associaes e de sua integrao com a cadeia produtiva. A observao do estado da arte da gesto das chamadas cadeias agroindustriais permite destacar a inadequao da maioria dos sistemas de planejamento disponvel para lidar com o setor agropecurio e cadeias agroindustriais. Tambm revela o pequeno esforo que vem sendo dedicado ao planejamento dos empreendimentos rurais, menor ainda quando se tratam de empreendimentos agropecurios familiares e de redes (associaes, cooperativas etc.) de pequenos agricultores. Quais adaptaes so necessrias nas ferramentas de gesto disponveis para que elas possam ser usadas adequadamente pela agricultura familiar? Quais mecanismos podem ser utilizados para que os agricultores familiares sejam estimulados a utilizarem estas ferramentas?
No mbito dos empreendimentos rurais, necessrio mudar o conceito que vem sendo utilizado pela literatura e por setores que se consideram os defensores da agricultura familiar. No possvel seguir pensando ideologicamente a agricultura familiar em contraposio forma patronal como se fosse uma forma de produo superior, mais pura, sustentvel, amigvel em relao ao meio ambiente e assim por diante. Ainda que expresse uma forte herana cultural, a agricultura familiar reflete um conjunto de restries, e no h qualquer evidncia de que caso fossem superadas essas restries os produtores manteriam a mesma forma familiar de organizao. Independente, portanto, da utilizao de trabalho familiar, e das opes produtivas particulares que levam os agricultores familiares a adotarem sistemas de produo mais diversificados que os patronais, os agricultores familiares buscam, tanto quanto os demais, maximizar os benefcios que podem ser gerados a partir dos seus recursos, e que podem se beneficiar da adoo de tcnicas de planejamento estratgico e de novas tecnologias de produo e de gesto. Obviamente que, para grande parte dos empreendimentos ligados com a agricultura familiar, este deve ser um objetivo de mdio e longo prazo. Durante muito tempo este importante segmento da agropecuria nacional no recebeu, especialmente por parte do poder pblico, a ateno que merecia. Desta forma, deve esperar-se que este enorme contingente de agricultores encontre dificuldades para inserir-se nesta lgica. Isto no deve esconder o fato de que este deve ser um objetivo a ser perseguido. Na verdade, esta situao ressalta a importncia de que esforos devam ser empreendidos no sentido de que estes conhecimentos sejam gerados e repassados adequadamente aos agricultores familiares. Somente desta forma estes empreendimentos podem ganhar competitividade sustentada. Nesta direo, necessrio ampliar os esforos de desenvolvimento e aplicao de modelos de pesquisa operacional, tcnicas de gerenciamento e sistemas de planejamento rural visando, sobretudo, a integrao das tecnologias de produo e gesto. O principal objetivo destes esforos deve ser a promoo de um maior alinhamento deste segmento produtivo dentro das cadeias, de modo a agregar valor de mercado aos produtos e melhor equilibrar os ganhos em cada elo das cadeias. Por fim, para este segmento, necessrio integrar as diferentes disciplinas agronmicas de modo a se ter os subsdios necessrios aos processos de tomada de deciso. Desta forma, uma agenda nacional de pesquisa e desenvolvimento em agronegcio deve contemplar, obrigatoriamente, aspectos ligados gesto agroindustrial em todos os elos das cadeias agroindustriais. No entanto, nfase especial deve ser dada ao segmento agropecurio. neste elo da cadeia que as carncias tornam-se mais expressivas e as aes mais prementes. Dentro do segmento agropecurio, no existem dvidas que a agricultura familiar aquela que dispe de instrumentos de gesto menos adequados. Neste caso, os ganhos potenciais que podem ser visualizados a partir da utilizao de ferramentas gerenciais adequadas so altamente expressivos. O sucesso de aes que visem atender esta necessidade depender da formao e apoio a equipes multi e interdisciplinares. Conforme foi amplamente discutido neste texto, as especificidades dos negcios agroindustriais e da agricultura familiar, alm das dificuldades que os agricultores familiares encontram nesta rea, justificam largamente estas iniciativas. 6. BIBLIOGRAFIA ASSUMPO, M.R. Integrao da cadeia produtiva do acar rede de suprimentos da industria alimentcia. Tese de doutorado; rea de engenharia de produo, 288 p. So Paulo,
2001. Escola Politcnica/USP). BATALHA, M. O. et.al. Plantas medicinais e aromticas: um estudo de competitividade no estado de So Paulo. So Paulo: SEBRAE SP, 2003. v. 1. 240 p.; BATALHA, M. O. et al. Maricultura no Estado de So Paulo. So Paulo: SEBRAE SP, 2002. v. 1. 297 p. BATALHA, Mario Otavio; SCARPELLI, Moacir. Gesto da cadeia agroindustrial. In: WORKSHOP O GRONEGCIO NA SOCIEDADE DA INFORMAO, 2002, Braslia. Anais do Workshop O agronegcio na sociedade da informao. Braslia DF: Programa Sociedade da Informao - MCT, 2002. BATALHA, Mario Otavio; SPROESSER, Renato Luiz. Quality labels for food products: an option for differentiation in the Brazilian agribusiness. In: PALOMAR, Angel Alique; FERREIRA, Clodeinir Ronei Peres; GUERRA, Rodolfo Elias Haber; VALENCIA, Maritza Correa; CHUZEL, Gerard; PIACENTINI, Ruben. (Org.). Competitive growth in the global environment. Madrid, 2002, v. 5, p. 102-112.. CASTRO, C.C.; QUADROS, G.A.S.; DIAS, M.C. Avaliao do uso de um sistema de gerenciamento de propriedades rurais: estudos de casos na regio de Carazinho (RS). Anais do XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Juiz de Fora. Julho de 2003. EW, A.R. Consideraes sobre fatores determinantes do desempenho empresarial de cooperativas agropecurias do Rio Grande do Sul. Anais do XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Juiz de Fora. Julho de 2003. LOURENZANI, A.E.B.S.; SILVA, A.L. Gesto da propriedade rural e seus impactos acerca dos canais de distribuio: um estudo exploratrio sobre o tomate in natura. Anais do XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Juiz de Fora. Julho de 2003. LOURENZANI, W. L.; BANKUTI F. I., SOUZA FILHO, H. M. Farm management: a systemic approach. Documento preliminar para discusso. GEPAI/DEP/UFSCar. Mimeo 2003. LUNARDI, S.M. Administrao da unidade familiar: uma anlise do programa de gesto agrcola da extenso rural do Rio Grande do Sul e Santa Catarina na perspectiva dos agricultores. Dissertao de mestrado. DEA-UFLA, 2000. PAVARINA, P.R.J.P.; CELLA, D.; PERES, F.C. A percepo das atividades administrativas: produtores rurais e profissionais da assistncia tcnica. Anais do XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Juiz de Fora. Julho de 2003. PEDROSO, M.C. Uma metodologia de anlise estratgica da tecnologia. Gesto & Produo. V. 6, n 1, p. 61-76, abr. 1999. So Carlos REZENDE, C. & ZYLBERSZTAJN, D. Uma anlise da complexidade do gerenciamento rural. IV Seminrios em Administrao da FEA-USP, out. 1999. SALGADO, J.M.; REIS, R.P.; FIALHO, E.T. A suinocultura da zona da mata de Minas Gerais: perfil gerencial e tcnico na regio do Vale do Piranga em 2001. Anais do XLI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Juiz de Fora. Julho de 2003.