Honoré de Balzac - Uma Paixão No Deserto
Honoré de Balzac - Uma Paixão No Deserto
Honoré de Balzac - Uma Paixão No Deserto
E" #AU$I%A" & '()) & "*+ #AU$+. ,-nero: .onto. Di/italizao e correo: 0era $1cia 2i/ueiredo. Estado da o3ra: corri/ida. %umerao de p4/ina: rodap. Esta o3ra 5oi di/italizada sem 5ins comerciais e destina&se unicamente 6 leitura de pessoas portadoras de de5ici-ncia 7isual. #or 5ora da lei de direitos de autor8 este ar9ui7o no pode ser distri3udo para outros 5ins8 no todo ou em parte8 ainda 9ue /ratuitamente. H+%+:; DE BA$<A. Uma paixo no deserto =.ontos> Traduo do 5ranc-s $1cia ?ac@ado de Almeida EDI !E" #AU$I%A" Dia/ramao e capa #aulo Bernardo 2erreira 0az EdiAes #aulinas :ua Dr. #into 2erraz8 ')B CD''E & "o #aulo & "# =Brasil> End. tele/r.: #AU$I%+" EdiAes #aulinas & "o #aulo8 '()) I"B% )F&CF&CC)CC&G Apresentao A3rir camin@os: esta a proposta 5undamental da .oleo A"A&DE$TA. .amin@os rumo 6 a7entura8 6 7ia/em8 ao alar/amento dos limites8 ao eterno son@o @umano: o 7Ho li7re. :etomar percursos: o 9ue A"A&DE$TA procura o5erecer. + mito do desinteresse dos Io7ens pela leitura dos /randes autores de todas as pocas e lu/ares picada a3erta para a literatura ac@atada8 simplista8 di/esti7a8 apenas. Insistir no mito 3anir das pu3licaAes destinadas a Io7ens a literatura8 esta 5ora capaz de conduzir o leitor 6 3eira do imenso a3ismo8 para saltar no 74cuo prote/ido apenas por um par de asas. =Um li7ro com suas p4/inas a3ertas asa&delta e todo leitor8 Jcaro em situao>. Em 9uase todos os cantos & e o canto escolar ocupa um /rande espao na 7ida Iu7enil & 5oram aceitos os percursos do empo3recimento da inteli/-ncia8 da sensi3ilidade8 da emoo8 da ima/inao. :es/atar: 7er3o 9ue se impAe a 9uem esteIa interessado em repensar os limites do uni7erso cultural dos Io7ens. A3rir portas F para a criao8 a experi-ncia e a a7entura de8 em tempos e espaos di7ersos8 soltar as rdeas para a 3usca da HistKria 9ue se esconde so3 as estKrias contadas
desde sempre: eis am3io 9ue parece salutar em poca de todas e de poucas memKrias8 como a nossa. Interro/ar8 insti/ar8 desa5iarL 5azer rir8 c@orar8 pensar8 ima/inarL MdeslocarML conduzir a no7o local8 no7os patamares & so estas al/umas das preocupaAes 9ue esto na 3ase da .oleo A"A&DE$TA. A expectati7a 7er o p13lico Iu7enil crescendo no apenas em idade8 mas tam3m em experi-ncia de si e do mundo8 em sa3edoria: %a .oleo A"A&DE$TA esto reunidos tra3al@os de escritores uni7ersais8 o5erecidos8 de pre5er-ncia8 em 7erso inte/ral. AdaptaAes8 desde 9ue elas mesmas a3ram camin@os8 podem & de7idamente indicadas & ca3er na lista de ttulos. #or outro lado8 a direo editorial procura sempre propor textos capazes de serem a3sor7idos por leitores Io7ens8 7alendo&se8 para tanto8 de al/uns recursos 6 sua mo: textos no excessi7amente lon/os8 tramas 3em delineadas8 @umor8 mistrio8 pro3lemas existenciais e a5eti7os8 con5litos extremos entre o amor e o desamor8 a 7ida e a morte8 a aceitao e a recusa. Toda7ia8 o recurso maior o talento da9ueles G a 9uem o tempo incum3iu&se de nomear & /randes escritores. "eIa a A"A&DE$TA 7eculo e impulso8 desa5io e proteo para os 9ue son@am com as mais 3elas 7ia/ens8 com os /randiosos 7Hos li7res 9ue @omens e mul@eres realizaram desde sempre na e pela literatura. Edmir #errotti E U?A #AIN*+ %+ DE"E:T+ Oue o Io7em leitor da era do 4tomo e do computador no se assuste diante do estilo prolixo8 minucioso8 com 9ue Honor de Balzac apresenta seus persona/ens e a atmos5era 9ue os rodeia. #ouco a pouco ir4 sendo en7ol7ido pela 5ascinao 9ue emana da 3eleza8 por 7ezes terr7el8 destes contos de um dos maiores escritores 5ranceses de todos os tempos. Essas p4/inas representam um mer/ul@o pro5undo na alma @umana 9ue desperta re5lexAes e pro3lemas de consci-ncia especialmente li/ados ao tema da morte. "o tr-s @istKrias dram4ticas 3aseadas em casos reais8 acontecidos em pleno sculo dezeno7e8 tendo a /uerra como pano de 5undo Em MUma #aixo no Deserto8 considerado uma o3ra&prima8 o Autor comea e termina o conto por um di4lo/o entre uma mul@er no identi5icada e o narrador. De tcnica muito especial a en/en@osa no7ela PA Estala/em 0ermel@aP8 na 9ual a @istKria contada atra7s do relato8 entremeado de di4lo/os e interrupAes8 de certo con7i7a de um Iantar8 9ue participara da tra/dia. + conto M+ .arrascoML tal7ez o mais pun/ente dos tr-s8 desa5ia o leitor para 9ue o leia sem experimentar sensao de @orror. ( A tradutora 5ez o poss7el para ser 5iel ao colorido e 3elo estilo de Honor de Balzac =Tours8 2rana8 'E((&')FC>8 tam3m autor de Eu/nie ,randet8 $e #Qre ,oriot8 $e $is dans la 0ale e de outros li7ros 9ue compAem a srie de narrati7as intituladas MA .omdia HumanaM. A Tradutora 'C ?as 9ue espet4culo assustadorR & exclamou ela8 saindo do circo do "r. ?artin. Aca3a7a de 7er a9uele ousado domador de 5eras... Mtra3al@andoM com sua @iena8 para usarmos lin/ua/em de cartaz. & .omo ser4 9ue ele conse/uiu domesticar seus animais e estar certo de sua a5eio a ponto de...
& Esse 5ato8 9ue l@e parece um pro3lema & respondi8 interrompendo&a & 8 no entanto8 uma coisa muito natural. & +@R & exclamou ela8 sorrindo com incredulidade. & 0oc- ac@a ento 9ue os animais so inteiramente despro7idos de paixAesS & per/untei&l@e. & #ois 5i9ue sa3endo 9ue nKs l@es poderemos atri3uir todos os 7cios de nossa ci7ilizao. Ela ol@ou&me com espanto. & ?as & continuei eu & ao 7er o "r. ?artin pela primeira 7ez8 con5esso 9ue deixei tam3m escapar uma exclamao de surpresa. Eu me ac@a7a ento perto de um anti/o militar 9ue tin@a a perna direita amputada8 e 9ue entrara Iunto comi/o. "ua 5i/ura me impressionou. Tin@a uma dessas 5isionomias destemidas8 '' marcadas pelo selo da /uerra e so3 as 9uais esto /ra7adas as 3atal@as de %apoleo. Esse 7el@o soldado possua so3retudo a9uele ar de 5ran9ueza e de 3om @umor 9ue sempre me predispAe 5a7ora7elmente. Ele seria com certeza um desses 7eteranos 9ue no se surpreendem com coisa al/uma8 9ue ac@am moti7os para rir diante da derradeira careta de um camarada8 enterram&no ou sa9ueiam&no ale/remente8 intimam a responder as 3alas com autoridade8 en5im8 cuIas deli3eraAes so r4pidas e capazes de con5raternizarem at com o prKprio dia3o. Depois de ol@ar atentamente o dono do circo 9uando ele saa de sua 3arraca8 meu compan@eiro 5ranziu os l43ios8 mostrando um zom3eteiro desprezo atra7s dessa espcie de si/ni5icati7o muxoxo a 9ue se permitem os @omens superiores para se di5erenciarem dos tolos. Assim sendo8 9uando me espantei da cora/em do "r. ?artin8 ele sorriu e me disse com ar su5iciente8 a3anando a ca3ea: & Isso no nadaR & %ada8 comoS & retru9uei. & "e 9uiser explicar&me esse mistrio8 eu l@e 5icarei muito /rato. Depois de al/uns instantes durante os 9uais tra7amos relaAes8 5omos Iantar no primeiro restaurante 9ue encontramos. T so3remesa uma /arra5a de c@ampan@a de7ol7eu 6s lem3ranas desse curioso soldado toda a sua nitidez. .ontou&me sua @istKria e eu recon@eci 9ue ele tin@a razo 9uando exclamara: MIsso no nadaMR 'U 0oltando para casa8 ela 5ez&me tantos a/rados e promessas8 9ue eu concordei em redi/ir&l@e as con5id-ncias do soldado. %o dia se/uinte ento ela rece3eu este episKdio de uma epopia 9ue se poderia c@amar M+s 2ranceses no E/itoM. V.V. Ouando da expedio realizada no Alto E/ito pelo ,eneral Desaix8 um soldado pro7enal8 tendo cado em poder dos 3er3eres8 5oi le7ado por estes a um deserto situado alm das cataratas do %ilo. A 5im de colocar entre eles e o exrcito 5ranc-s um espao su5iciente para sua tran9Wilidade8 os 4ra3es empreenderam uma marc@a 5orada da 9ual sK pararam 6 noite. Acamparam em torno de um poo dis5arado entre palmeiras8 Iunto das 9uais @a7iam anteriormente enterrado al/umas pro7isAes. %o ima/inando 9ue a idia de 5u/ir pudesse ocorrer a seu prisioneiro8 eles se limitaram a amarrar&l@e as mos. E todos dormiram depois de comerem al/umas tXmaras e dado ce7ada a seus ca7alos. Ouando 7iu 9ue seus inimi/os no esta7am em condiAes de o 7i/iar8 o ousado pro7enal usou os dentes para se apoderar de uma cimitarra. Ento8 7alendo&se
dos Ioel@os para 5ixar a lXmina8 cortou as cordas 9ue l@e impediam o uso das mos e 5icou li7re. Em se/uida apoderou&se de uma cara3ina e de um pun@al8 5ez uma pro7iso de tXmaras secas8 de um sa9uin@o de ce7ada8 de pKl7ora e de 3alas. .in/iu a cimitarra8 montou a ca7alo e disparou na direo onde supun@a 'B ac@ar&se o exrcito 5ranc-s. Impaciente por a7istar al/um acampamento8 ele 5orou de tal modo o ca7alo8 9ue este I4 exausto8 e com as entran@as dilaceradas8 aca3ou morrendo e deixando o 5ranc-s no meio do deserto. Depois de ter andado al/um tempo na areia com toda a cora/em de um 5orado 9ue 5o/e8 o soldado 5oi o3ri/ado a parar8 pois o dia I4 5inda7a. Apesar da 3eleza do cu durante as noites do +riente8 ele no te7e 5oras para continuar seu camin@o. #or sorte pudera alcanar um lu/ar mais ele7ado no 9ual @a7ia palmeiras cuIa 5ol@a/em8 perce3ida antes8 l@e despertara no corao as mais doces esperanas. "eu cansao era to /rande 9ue ele se deitou so3re uma pedra de /ranito capric@osamente tal@ada em 5orma de cama8 e adormeceu sem tomar nen@uma precauo relati7a 6 prKpria de5esa durante o sono. "acri5icara sua 7ida. "eu 1ltimo pensamento ao adormecer 5oi de arrependimento. Arrependimento de ter a3andonado os 3er3eres8 cuIa 7ida errante comea7a a sorrir&l@e depois 9ue se ac@a7a lon/e deles e sem recursos. 2oi despertado pelo sol8 cuIos raios implac47eis8 caindo diretamente so3re o /ranito8 produziam um calor insuport47el. +ra8 o 5ranc-s ti7era a m4 idia de colocar&se em sentido in7erso ao da som3ra8 proIetada pelos 7erdeIantes e maIestosos /al@os das palmeiras. +l@ou para a9uelas 4r7ores solit4rias e estremeceu: lem3raram&l@e os 5ustes ele/antes e coroados de lon/as 5ol@as8 caractersticos das colunas sarracenas 'D da catedral de Arles. ?as 9uando8 depois de contemplar as palmeiras8 ele ol@ou em torno de si8 o mais terr7el desespero tomou conta de sua alma. 0ia um oceano sem limites. As areias escuras do deserto se estendiam a perder de 7ista em todas as direAes8 e 3ril@a7am como uma lXmina de ao 3atida por luz 5ortssima. Ele no sa3ia se era um mar de /elo ou la/os unidos como um espel@o. $e7ado por ondas8 um 7apor de 5o/o tur3il@ona7a acima da9uela terra mo7edia. + sol tin@a um 3ril@o oriental de uma pureza desesperadora8 9ue nada deixa7a deseIar 6 ima/inao. .u e terra esta7am em 5o/o. + sil-ncio amedronta7a por sua sel7a/em e terr7el maIestade. + in5inito8 a imensidade oprimiam a alma de todos os lados: nem uma nu7em no cu8 nem um sopro no ar8 nen@uma desi/ualdade no seio da areia a/itada por 7a/as mi1das. En5im8 o @orizonte termina7a8 como no mar 9uando 5az 3om tempo8 por uma lin@a luminosa to 5ina 9uanto o 5io de um sa3re. + pro7enal a3raou o tronco de uma palmeira como se 5osse o corpo de um ami/o8 e depois8 a3ri/ado pela som3ra t-nue e reta 9ue a 4r7ore risca7a so3re o /ranito8 ele c@orou8 sentou&se8 e assim 5icou8 contemplando com pro5unda tristeza a cena 9ue se o5erecia a seus ol@os. ,ritou como 9ue para desa5iar a solido. "ua 7oz8 perdida nas ca7idades da colina8 deu ao lon/e um som 5raco e sem eco: o eco esta7a dentro 'F de seu corao. + pro7enal tin@a 7inte e dois anos e armou sua cara3ina. & %unca ser4 tardeR & disse ele para si mesmo8 colocando em terra a arma li3ertadora.
+l@ando alternadamente o espao escuro e o cu azul8 o soldado son@a7a com a 2rana. "entia com delcia as 4/uas de #aris8 lem3ra7a&se das cidades pelas 9uais @a7ia passado8 das 5isionomias de seus camaradas8 das menores circunstXncias de sua 7ida. En5im8 sua ima/inao meridional lo/o l@e 5ez 7er as pedras da sua 9uerida #ro7ena no espet4culo do calor 9ue ondula7a so3re a toal@a estendida no deserto. :eceando os peri/os de to cruel mira/em8 ele desceu pelo lado oposto ao 9ue na 7spera su3ira. "ua ale/ria 5oi enorme8 desco3rindo uma espcie de /ruta8 ca7ada nos imensos 5ra/mentos de /ranito 9ue 5orma7am a 3ase da9uele monte. +s 5arrapos de uma esteira re7ela7am 9ue a9uele a3ri/o 5ora anteriormente @a3itado. Em se/uida8 pouco adiante8 ele 7iu tamareiras carre/adas de 5rutos. Acordou ento8 em seu corao8 o instinto 9ue nos prende 6 7ida. Esperou 7i7er o su5iciente para a/uardar a passa/em de al/uns 3er3eres ou tal7ez & 9uem sa3eS & ou7ir em 3re7e o 3arul@o de can@Aes8 pois Bonaparte esta7a na9uele momento passando pelo E/ito. :eanimado por esse pensamento8 apan@ou al/umas pencas de 5rutas maduras a cuIo peso as tamareiras pareciam 7er/ar8 e8 diante da9uele inesperado man48 te7e a certeza 9ue o @a3itante da /ruta @a7ia culti7ado as 4r7ores: 'G a polpa sa3orosa das tXmaras re7ela7a realmente os cuidados de seu predecessor. + pro7enal passou su3itamente de um som3rio desespero a uma ale/ria 9uase louca. Tornou a su3ir at o alto da colina e passou o resto do dia cortando uma das palmeiras estreis 9ue na 7spera l@e @a7ia ser7ido de teto. Uma 7a/a lem3rana o 5ez pensar nos animais do deserto8 e pre7endo 9ue eles poderiam 7ir 3e3er na 5onte perdida nas areias 9ue aparecia ao p das roc@as8 resol7eu se prote/er contra 7isitas8 le7antando uma 3arreira 6 porta de sua ermida. Apesar de seu empen@o e das 5oras 9ue l@e deu o medo de ser de7orado durante o sono8 5oi&l@e imposs7el cortar a palmeira em pedaos a9uele dia. .onse/uiu derru34&la 5inalmente. Ouando 6 noitin@a caiu a9uela rain@a do deserto8 o 3arul@o de sua 9ueda ecoou ao lon/e e ou7iu&se uma espcie de /emido lanado pela solido. + soldado estremeceu como se ti7esse escutado al/uma 7oz a l@e predizer des/raas. ?as8 assim como um @erdeiro 9ue no lamenta por muito tempo a morte de um parente8 ele despoIou a 3ela 4r7ore de suas lar/as e lon/as 5ol@as 7erdes8 9ue eram seu potico ornamento8 e usou&as para consertar a esteira na 9ual iria se deitar. .ansado pelo calor e pelo tra3al@o8 adormeceu so3 o 5orro 7ermel@o de sua 1mida /ruta. %o meio da noite8 seu sono 5oi pertur3ado por um rudo extraordin4rio. Er/ueu&se8 e o sil-ncio pro5undo 9ue ali reina7a permitiu&l@e recon@ecer o ritmo alternado de uma respirao8 'E cuIa sel7a/em ener/ia no podia pertencer a uma criatura @umana. Um medo pa7oroso8 aumentado pela escurido8 pelo sil-ncio e pelas 5antasias do acordar8 /elou&l@e o corao. Ouase nem sentiu a dolorosa contrao de seu couro ca3eludo8 9uando8 de tanto dilatar as pupilas dos ol@os8 ele perce3eu na som3ra dois clarAes amarelos e 5racos. De incio8 atri3uiu a9uelas luzes a al/um re5lexo da menina de seus ol@os. $o/o8 no entanto8 como a claridade da noite o aIudasse a distin/uir /radati7amente os o3Ietos 9ue se ac@a7am na /ruta8 perce3eu um enorme animal deitado a dois passos dele.
"eria um leo8 um ti/re8 ou um crocodiloS + pro7enal no tin@a su5icientes con@ecimentos para sa3er em 9ue su3/-nero estaria classi5icado o seu inimi/o. "eu terror 5oi ainda mais 7iolento8 por9ue a i/norXncia 5azia&o ima/inar todos os males ao mesmo tempo. Ele suportou o cruel suplcio de escutar e captar os capric@os dessa respirao8 sem perce3er nada e sem ousar permitir&se o mnimo mo7imento. Um c@eiro to 5orte como o exalado pelas raposas8 mas mais penetrante8 mais /ra7e por assim dizer8 enc@ia a /ruta8 e 9uando o pro7enal o de/ustou com as narinas8 seu terror c@e/ou ao au/e8 pois no podia @a7er mais d17idas 9uanto 6 exist-ncia do terr7el compan@eiro cuIo antro real l@e ser7ia de acampamento. Em 3re7e os re5lexos da lua 9ue saa rumo ao @orizonte8 clareando a toca8 5izeram insensi7elmente resplandecer a pele mal@ada de uma pantera. ') Esse leo do E/ito dormia enroscado como um /rande co8 calmo dono de um nic@o suntuoso8 6 porta de uma /rande @ospedaria. "eus ol@os8 a3ertos durante um momento8 se @a7iam 5ec@ado de no7o. Tin@a a 5ace 7oltada para o 5ranc-s. ?il pensamentos con5usos passaram pela alma do prisioneiro da pantera. De incio pensou em mat4& la com um tiro de cara3ina8 mas perce3eu 9ue no @a7ia espao su5iciente entre am3os para o aIuste8 pois o cano teria ultrapassado o corpo do animal. E se ele acordasseS Essa @ipKtese imo3ilizou&o. +u7indo seu corao 3ater no meio do sil-ncio8 ele amaldioa7a as pulsaAes demasiado 5ortes 9ue a a5lu-ncia do san/ue produzia8 temendo pertur3ar a9uele sono 9ue l@e permitia procurar al/um expediente sal7ador. Duas 7ezes ele tocou na cimitarra com a tentao de cortar a ca3ea de sua inimi/a8 mas a di5iculdade de 5erir um p-lo raso e duro o o3ri/ou a desistir do ousado proIeto. ME se 5al@asseS "eria morte certaM & pensou ele. E pre5eriu arriscar um com3ate8 esperando o dia. Este no se 5ez esperar por muito tempo. + 5ranc-s pHde ento examinar a pantera8 cuIo 5ocin@o esta7a suIo de san/ue. MEla de7e ter&se alimentado 3emRM & pensou sem inda/ar se o 5estim constara de carne @umana. & %o de7er48 portanto8 ter 5ome ao acordar. Era uma 5-mea. + p-lo do 7entre e das coxas resplandecia de 3rancura. 04rias pe9uenas '( manc@as 9ue pareciam de 7eludo8 5orma7am lindos 3raceletes em torno das patas. A cauda musculosa era i/ualmente 3ranca e termina7a por anis pretos. A parte de cima da pele8 amarela como ouro 5osco8 mas 3em lisa e sua7e8 apresenta7a essas manc@as caractersticas em 5orma de rosas 9ue ser7em para distin/uir as panteras de outras espcies de 5elinos. Essa tran9Wila e tem7el @Kspede ronca7a numa atitude to /raciosa como a de uma /ata deitada numa almo5ada. "uas patas san/rentas8 ner7osas e 3em armadas esta7am 6 5rente da sua ca3ea8 9ue so3re elas pousa7a8 e da 9ual partiam essas 3ar3as raras e retas8 semel@antes a 5ios de prata. "e ela esti7esse assim em uma Iaula8 o pro7enal teria certamente admirado a /raa da 5era e os 7i/orosos contrastes das cores 7i7as 9ue da7am a sua8 di/amos8 7estimenta8 um 3ril@o imperial. ?as nesse momento8 ele sentiu a 7ista tur7ada pela sinistra 7iso. A presena da pantera8 mesmo adormecida8 o 5azia experimentar o e5eito 9ue8 dizem8 os
ol@os ma/nticos das serpentes produzem no rouxinol. A cora/em do soldado aca3ou por desaparecer um instante diante do peri/o en9uanto8 sem d17ida8 ela se teria exaltado ante a 3oca dos can@Aes 7omitando a metral@a. %o entanto8 sur/iu&l@e na alma um pensamento coraIoso8 9ue 5ez secar na 5onte o suor 5rio 9ue l@e escorria pela testa. A/indo como os @omens 9ue8 le7ados ao extremo pela des/raa8 c@e/am a desa5iar a morte e se o5erecem a seus /olpes8 ele sem perce3er 7iu uma tra/dia UC nessa a7entura e resol7eu desempen@ar seu papel com @onra at a cena 5inal. MAnteontem tal7ez os 4ra3es me ti7essem matadoRM & pensou ele. .onsiderando&se como morto8 ele esperou coraIosamente8 e com in9uietante curiosidade8 o despertar de sua inimi/a. Ouando o sol apareceu8 a pantera su3itamente a3riu os ol@os. Depois estendeu 7iolentamente as patas como 9ue para as desentorpecer e des5azer as ci3ras. 2inalmente 3oceIou8 mostrando o assustador aparel@o de seus dentes8 e sua ln/ua 5endida8 to dura 9uanto uma lima. MEla como uma pe9uena mul@erRM & pensou o 5ranc-s8 7endo&a rolar&se e 5azer os mo7imentos mais sua7es e mais co9uetes. Ela lam3eu o san/ue 9ue tin/ia suas patas8 o 5ocin@o8 e coou a ca3ea com /estos c@eios de /raa. MBem8 5aa um pouco a sua toalete...M & disse o 5ranc-s para si mesmo8 recuperando seu 3om @umor e reco3rando a cora/em. MA/ora 7amos nos dar 3om&diaM. E ele se/urou o pe9ueno pun@al curto. %esse momento a pantera 7oltou a ca3ea para o soldado e ol@ou&o 5ixamente8 sem a7anar. A se7eridade de seus ol@os met4licos e sua insuport47el claridade 5izeram estremecer o 5ranc-s8 so3retudo 9uando a 5era se encamin@ou para ele. ?as ele ol@ou&a com um ar carin@oso8 e mirando&a como se 9uisesse ma/netiz4&la8 U' deixou&a se aproximar dele. Em se/uida8 com um mo7imento to doce8 to amoroso8 como se esti7esse acariciando a mais linda mul@er8 passou&l@e a mo so3re todo o corpo8 da ca3ea 6 cauda8 roando com suas un@as as 7rte3ras 9ue di7idiam o dorso amarelo da pantera. A 5era er/ueu 7oluptuosamente a cauda8 e seus ol@os se amansaram. E 9uando8 pela terceira 7ez8 o 5ranc-s executou esse /esto adulador8 ela deixou escapar um da9ueles ronrons 9ue os /atos soltam 9uando sentem prazer. ?as esse murm1rio partia de uma /oela to poderosa e pro5unda8 9ue ecoa7a na /ruta como se 5ossem os 1ltimos acordes de um Kr/o numa i/reIa. + 5ranc-s8 compreendendo a importXncia de suas carcias8 redo3rou&as8 de modo a atordoar8 entorpecer a imperiosa cortes. Ouando se sentiu se/uro de ter dominado a 5erocidade de sua capric@osa compan@eira8 cuIa 5ome 5ora to oportunamente aplacada na 7spera8 ele se le7antou e 9uis sair da /ruta. A pantera deixou&o partir8 mas 9uando ele /al/ou a colina8 ela saltou com a rapidez dos pardais8 pulando de um /al@o a outro e 7eio se es5re/ar contra as pernas do soldado8 ar9ueando o dorso 6 moda das /atas. Depois8 contemplando seu @Kspede com um ol@ar cuIo 3ril@o se tornara menos a/ressi7o8 soltou esse /rito sel7a/em 9ue os naturalistas comparam ao rudo de um serrote. & Ela exi/enteR & exclamou o 5ranc-s sorrindo. Tentou 3rincar com suas orel@as8 acariciar&l@e UU o 7entre8 e coar&l@e a ca3ea com as un@as. #erce3endo seu -xito8 5ez&l@e cKce/as no crXnio com a ponta do pun@al8 esperando o momento de mat4&laL mas a dureza dos ossos 5ez&l@e temer um 5racasso. A sultana do deserto apro7ou os talentos de seu escra7o8 er/uendo a ca3ea8 esticando o pescoo8 re7elando sua em3ria/uez pela tran9Wilidade de sua atitude. "u3itamente
o 5ranc-s lem3rou&se de 9ue8 para assassinar de um sK /olpe a9uela 5eroz princesa8 de7eria apun@al4&la na /ar/anta. Y4 ia er/uendo a lXmina8 9uando a pantera8 certamente saciada8 7eio se deitar /raciosamente a seus ps8 lanando&l@e8 de tempos em tempos8 ol@ares nos 9uais8 apesar de um ri/or nati7o8 se desen@a7a con5usamente a 3ene7ol-ncia. + po3re pro7enal comeu suas tXmaras8 apoiado a uma das palmeiras8 lanando alternadamente um ol@ar in7esti/ador para o deserto8 procurando li3ertadores8 e mirando sua terr7el compan@eira esperando uma incerta clem-ncia. A pantera ol@a7a para o lu/ar onde os caroos caam8 cada 7ez 9ue ele Io/a7a um8 e seus ol@os exprimiam uma incr7el descon5iana. Examina7a o 5ranc-s com uma prud-ncia comercial8 mas esse exame l@e 5oi 5a7or47el8 pois to lo/o ele aca3ou sua ma/ra re5eio8 ela comeou a lam3er&l@e os sapatos8 e8 com sua ln/ua rude e 5orte8 retirou mila/rosamente a poeira ali incrustada. UB M?as... e 9uando ela ti7er 5omeS...M & pensou o pro7enal. Apesar do arrepio 9ue l@e causou essa idia8 o soldado se pHs a medir curiosamente as proporAes da pantera8 certamente um dos mais 3elos exemplares da espcie8 pois ela tin@a tr-s ps de altura e 9uatro ps de comprimento8 sem contar a cauda. Essa poderosa arma8 redonda como um 3ordo8 media cerca de tr-s ps. A ca3ea8 to /rossa como a de uma leoa8 distin/uia&se por uma rara expresso de 5inura. A 5ria crueldade dos ti/res predomina7a nela sem d17ida8 mas @a7ia tam3m uma 7a/a semel@ana com a 5isionomia de uma mul@er arti5iciosa. En5im8 a 5ace dessa rain@a solit4ria re7ela7a8 nesse momento8 uma espcie de ale/ria semel@ante 6 de %ero em3ria/ado8 saciado de san/ue e 9uerendo 3rincar. + soldado tentou andar de um lado para outro. A pantera deixou&o li7re8 contentando&se em se/ui&lo com os ol@os8 lem3rando assim menos um co 5iel do 9ue um /rande an/or48 in9uieto com tudo8 at com os mo7imentos de seu dono. Ouando ele se 7oltou8 7iu8 ao lado da 5onte8 os restos de seu ca7alo8 pois a pantera tin@a arrastado o cad47er at ali. .erca de dois teros I4 @a7iam sido de7orados. Esse espet4culo tran9Wilizou o 5ranc-s. 2oi&l@e 54cil ento explicar a aus-ncia da pantera e o respeito 9ue ela ti7era por ele durante o sono. .omo essa 3oa sorte o animasse a desa5iar o 5uturo8 ele alimentou a louca esperana de 7i7er 6s 3oas com a pantera durante a9uele dia UD todo8 sem ne/li/enciar nen@um meio de aprision4&la e de conse/uir suas /raas. 0oltou para Iunto dela e te7e a ine547el 5elicidade de 7-&la a/itar a cauda num mo7imento 9uase insens7el. Ento8 sem medo8 ele sentou&se perto dela e os dois puseram&se a 3rincar: ele pe/ou&l@e as patas8 o 5ocin@o8 re7irou&l@e as orel@as8 deitou&a de costas e arran@ou 5ortemente seus 5lancos8 9uentes e sedosos. Ela prestou&se a tudo e8 9uando o soldado tentou alisar&l@e o p-lo das patas8 ela encol@eu cuidadosamente suas un@as cur7as como al5anIes. + 5ranc-s8 9ue mantin@a seu pun@al numa das mos8 ainda pensa7a em o mer/ul@ar no 7entre da demasiado con5iante pantera8 mas te7e receio de ser estran/ulado na con7ulso 5inal 9ue a a/itasse. E8 de resto8 sentiu no corao uma espcie de remorso a 3radar&l@e 9ue respeitasse uma criatura ino5ensi7a. Tin@a a sensao de ter encontrado uma ami/a nesse deserto sem limites.
E in7oluntariamente pensou em sua primeira amante8 a 9uem apelidara de ?imosa por ant5rase8 e cuIo ci1me era to 5eroz 9ue8 durante todo o tempo 9ue durou sua paixo8 ele 7i7ia apa7orado8 receando o pun@al com 9ue ela o ameaa7a. Essa lem3rana de sua Iu7entude su/eriu&l@e 9ue desse esse nome 6 Io7em pantera8 da 9ual admira7a8 a/ora com menos receio8 a a/ilidade8 a /raa e a lan/uidez. %o 5im do dia8 ele I4 esta7a 5amiliarizado com sua peri/osa situao8 9uase at /ostando da an/1stia. 2inalmente sua compan@eira aca3ara UF por se @a3ituar a ol@4&lo8 9uando ele /rita7a com 7oz de 5alsete: M?imosaRM Ao pHr&do&sol8 ?imosa por 74rias 7ezes soltou um /rito pro5undo e melancKlico. MEla 3em educadaRM & pensou o soldado contente. & MEst4 5azendo suas oraAes8 com certezaM. ?as essa 3rincadeira mental sK l@e 7eio depois 9ue notou a atitude pac5ica de sua camarada. & Anda8 min@a loirin@a8 7ou te deixar deitar em primeiro lu/ar & disse&l@e ele8 contando com a a/ilidade de suas pernas para 5u/ir o mais depressa poss7el8 to lo/o ela dormisse8 a 5im de procurar outro a3ri/o durante a noite. + soldado esperou com impaci-ncia a @ora de 5u/ir8 e8 9uando esta c@e/ou8 ele camin@ou rapidamente na direo do %ilo. %o andara um 9uarto de l/ua pelas areias8 9uando sentiu a pantera8 saltando atr4s dele8 soltando8 a espaos8 a9uele /rito de serrote8 mais assustador 9ue o 3arul@o pesado de seus pulos. & +ra8 7amosR & disse ele. & Ela simpatizou comi/oR Esta Io7em pantera tal7ez ainda no ten@a encontrado nin/um8 e lisonIeiro ser o seu primeiro amorR %esse momento o 5ranc-s caiu numa dessas areias mo7edias to temidas pelos 7iaIantes e das 9uais imposs7el al/um sair. "entindo&se preso8 ele soltou um /rito de alarme. A pantera a/arrou&o com os dentes pela /ola8 e8 saltando UG 7i/orosamente para tr4s8 tirou&o do precipcio como 9ue por ma/ia. & A@R ?imosaR & exclamou o soldado8 acariciando&a com entusiasmo. & A/ora entre nKs para a 7ida e para a morteR ?as... nada de 3rincadeirasR E 7oltou para tr4s. + deserto 5icou desde ento como 9ue po7oado. Encerra7a um ser a 9uem o 5ranc-s podia 5alar8 e cuIa 5erocidade se a3randara para ele8 sem 9ue atinasse com as razAes da9uela incr7el amizade. #or mais 5orte 9ue 5osse o deseIo do soldado de 5icar em p8 de /uarda8 ele adormeceu. Ao acordar8 no 7iu mais ?imosa. "u3iu a colina e8 ao lon/e8 7iu 9ue ela 7in@a correndo aos saltos8 con5orme @43ito entre esses animais8 aos 9uais a marc@a interdita8 de7ido 6 extrema 5lexi3ilidade de sua coluna 7erte3ral. ?imosa c@e/ou com o 5ocin@o ensan/Wentado8 e rece3eu as carcias 9ue l@e 5ez o compan@eiro8 testemun@ando atra7s de 74rios ronrons o 9uanto esta7a 5eliz. "eus ol@os8 c@eios de lan/uidez8 se 7oltaram ainda com mais doura para o pro7enal8 9ue l@e 5ala7a como a um animal domstico: & A@R A@R sen@orita8 7oc- uma 3oa mocin@a8 no S +ra 7eIa sK. Bem 9ue /osta de uns carin@os8 @eimS %o tem 7er/on@aS 04 7er 9ue 7oc- andou comendo al/um 3er3ereR Bem8 esses so animais8 como 7oc-. ?as pelo menos no me 74 masti/ar os 5ranceses. %esse caso8 eu no /ostaria mais de 7oc-R Ela 3rincou tal 9ual um cac@orrin@o 3rinca UE com seu dono8 deixando&se rolar8 3ater e acariciar alternadamente. Ts 7ezes pro7oca7a o soldado8 atirando para ele a pata num /esto de solicitao.
Al/uns dias se passaram assim. Essa compan@ia permitiu ao pro7enal admirar as mara7il@as do deserto. ?as en9uanto tin@a @oras de medo e de tran9Wilidade8 alimentos8 e uma criatura na 9ual pensa7a8 ele sentiu sua alma a/itada por contrastes. Trata7a&se de uma 7ida c@eia de coisas opostas. A solido re7elou&l@e todos os seus se/redos8 en7ol7endo&o com seus encantos. Desco3riu no nascer e no pHr&do&sol espet4culos descon@ecidos pelo mundo. E sou3e estremecer8 sentindo acima de sua ca3ea o doce ru5lar das asas de um p4ssaro & raro passa/eiroR & e 7endo as nu7ens se con5undirem & 7iaIantes coloridos e mutantesR Ele estudou durante a noite os e5eitos da lua no mar das areias8 nas 9uais o 7ento simum desen@a7a 7a/as8 ondulaAes e r4pidas mudanas. 0i7eu com o dia do +riente8 e admirou&l@e as mara7il@osas pompas. E 5re9Wentemente8 apKs ter /ozado o terr7el espet4culo de um 5uraco na9uela plancie onde as areias le7antadas produziam ne3linas 7ermel@as8 secas8 e nu7ens mort5eras8 ele 7ia c@e/ar a noite com delcia8 pois era 9uando se espal@a7a o 3en5azeIo 5rescor das estrelas. E escuta7a m1sicas ima/in4rias nos cus. Depois8 ento8 a solido l@e ensinara a explorar os tesouros do son@o. #assa7a @oras inteiras lem3rando&se de pe9uenos nadas8 a comparar sua 7ida passada com U) o presente. En5im8 ele se apaixonou por sua pantera8 pois 3em 9ue precisa7a de uma a5eio. "eIa por9ue sua 7ontade 5ortemente proIetada ti7esse modi5icado o car4ter de sua compan@eira8 seIa por9ue ela ti7esse ac@ado alimento a3undante8 /raas 6s 3atal@as 9ue ento se tra7a7am na9ueles desertos8 o 5ato 9ue ela respeitou a 7ida do 5ranc-s8 9ue aca3ou perdendo o medo8 7endo&a to 3em domesticada. Ele passa7a a maior parte do tempo dormindo8 mas era o3ri/ado a 7i/iar8 assim como uma aran@a no meio de sua teia8 a 5im de no deixar escapar o momento de sua li3ertao8 caso al/um passasse na es5era do @orizonte. Y4 tin@a sacri5icado a camisa para 5azer uma 3andeira er/uida no alto de uma palmeira sem 5ol@as. Aconsel@ado pela necessidade8 encontrou um meio de mant-&la des5raldada8 esticando&a com 7arin@as8 pois o 7ento poderia no a/it4&la no momento em 9ue o esperado 7iaIante sondasse o deserto. Era durante as lon/as @oras8 em 9ue a esperana o a3andona7a8 9ue ele mais se di7ertia com a pantera. Aca3ou por con@ecer as di5erentes in5lexAes de sua 7oz8 a expresso de seus ol@ares8 e estudar os capric@os de todas as manc@as 9ue matiza7am o ouro de seu p-lo. ?imosa nem mesmo ru/ia 9uando ele pe/a7a no tu5o pelo 9ual termina7a sua tem7el cauda8 a 5im de contar&l@e os anis pretos e 3rancos 9ue8 de lon/e8 3ril@a7am ao sol como pedras preciosas. Ele sentia prazer em ol@ar as lin@as sua7es e 5inas de seus contornos8 a 3rancura do 7entre8 a /raa U( da ca3ea. ?as era so3retudo 9uando 3rinca7a 9ue ele a ol@a7a com mais complac-ncia. A a/ilidade8 a Iu7entude de seus mo7imentos sempre o surpreendiam e ele admira7a a sua le7eza 9uando ela se pun@a a saltar8 a rasteIar8 a escorre/ar8 a rolar8 a se encol@er8 a se lanar por todos os lados. #or mais r4pido 9ue 5osse o seu impulso8 por mais escorre/adio 9ue 5osse um 3loco de /ranito8 ela para7a de repente ao c@amado de M?imosaM. %um dia de sol 3ril@ante um p4ssaro imenso pairou nos ares. + pro7enal lar/ou sua pantera para examinar o no7o @Kspede. ?as depois de um momento de espera8 a
sultana a3andonada ru/iu surdamente. & 0al@a&me DeusR Ela ciumentaR & exclamou ele8 notando 9ue aos ol@os da pantera 7olta7a a anti/a dureza. & .om certeza a alma de 0ir/nia passou por esse corpo... A 4/uia desapareceu nos ares8 en9uanto o soldado admira7a o tal@e arredondado da pantera. ?as 9ue /raa e Iu7entude @a7ia em seus contornosR Eram 3elos como os de uma mul@er. + loiro p-lo das costas com3ina7a muito 3em8 atra7s de 5inas tonalidades8 com os tons de 3ranco&5osco de suas coxas. A luz pro5usamente Io/ada pelo sol 5azia 3ril@ar esse ouro 7i7o8 essas manc@as pardas8 de maneira a l@e dar um encanto inde5in7el. + pro7enal e a pantera ol@a7am um para o outro com ar inteli/ente. A 5aceira estremeceu 9uando sentiu as un@as do ami/o arran@ando&l@e o crXnio. "eus ol@os 3ril@aram BC como relXmpa/os8 depois se 5ec@aram 5ortemente. & Ela tem uma almaR & disse ele8 estudando a tran9Wilidade da9uela rain@a das areias8 dourada como elas8 3ranca como elas8 solit4ria e ardente como elas... & E ento & disse&me ela & li a sua de5esa em 5a7or dos animais. ?as como teriam aca3ado essas duas pessoas to 5eitas uma para a outraS & A 9ue est4. Elas aca3aram assim como aca3am as /randes paixAes. #or um mal& entendido. Acredita&se8 de um lado e de outro8 em al/uma traio. %in/um se explica por or/ul@o e am3os rompem por pura teimosia. & E 6s 7ezes8 nos mais 3elos momentos & disse ela. & Basta um ol@ar8 uma exclamao... #ois 3em8 aca3e a @istKria. & ; terri7elmente di5cil8 mas 7oc- compreender4 o 9ue I4 me @a7ia con5iado o 7eterano8 9uando8 terminando sua /arra5a de c@ampan@a ele exclamou: & %o sei 9ue mal eu l@e 5iz8 mas ela se 7irou como se esti7esse rai7osa e8 com seus dentes a/udos8 me mordeu a coxa8 le7emente8 sem d17ida. E eu8 pensando 9ue 9uisesse de7orar&me8 mer/ul@ei o pun@al em seu pescoo. Ela rodou e soltou um /rito 9ue /elou meu corao. Eu a 7i de3ater&se8 e ol@ando&me sem rai7a. Eu deseIaria por tudo no mundo8 pela cruz8 9ue eu B' ainda no tin@a8 5az-&la 7oltar 6 7ida. 2oi como se eu ti7esse assassinado uma pessoa. E os soldados 9ue @a7iam 7isto min@a 3andeira e 9ue 7ieram em meu socorro8 encontraram&me em prantos. & #ois 3em8 meu sen@or8 & continuou ele8 apKs um momento de sil-ncio. & Eu continuei depois a /uerra na Aleman@a8 na Espan@a e :1ssia8 em 2rana. #asseei 3astante o meu cad47er8 mas no 7i nada parecido com o deserto. .omo a9uilo era lindoR & .omo 9ue o sen@or se sentiaS & +@R Isso no se 5ala8 meu rapaz. Ali4s8 eu no lamento sempre o meu /rupo de palmeiras e a min@a pantera... Isso sK acontece 9uando estou triste. %o deserto8 como 7oc- 7-8 @4 tudo8 e no @4 nada. & ?as ainda assim8 expli9ue... & #ois 3em & disse ele8 deixando escapar um /esto de impaci-ncia. & ; Deus sem os @omens... #aris8 ')BU BU + .A::A".+ + campan4rio da pe9uena cidade de ?enda aca3ara de dar meia&noite. %esse momento um Io7em soldado 5ranc-s8 apoiado no parapeito de um comprido terrao 9ue contorna7a
os Iardins do castelo de ?enda8 parecia mer/ul@ado numa contemplao mais pro5unda do 9ue se poderia esperar da despreocupao tpica da 7ida militar. Di/a&se8 no entanto8 9ue nunca @ora8 lu/ar e noite 5oram mais ade9uados 6 meditao. + 3elo cu da Espan@a estendia uma a3K3ada azul por cima da ca3ea da9uele Io7em. + 3ril@o das estrelas e a doce luz do luar ilumina7am um 7ale delicioso 9ue se desenrola7a /raciosamente a seus ps. Apoiado numa laranIeira em 5lor8 o c@e5e do 3atal@o podia 7er8 a cem ps a3aixo8 a cidade de ?enda8 9ue parecia a3ri/ada dos 7entos do norte8 aos ps do roc@edo so3 o 9ual 5ora construdo o castelo. Ao 7irar a ca3ea8 ele 7ia o mar8 cuIas 4/uas 3ril@antes emoldura7am a paisa/em por um lar/o 5riso de prata. + castelo esta7a iluminado. + ale/re tumulto de um 3aile8 os sons da or9uestra8 o riso de al/uns o5iciais e de seus pares c@e/a7am at ele8 misturados com o lon/n9uo murm1rio das ondas. A 5rescura da noite da7a uma espcie de BB ener/ia a seu corpo cansado pelo calor do dia. %o Iardim esta7am plantadas 4r7ores to odor5eras8 e de 5lores to sua7es8 9ue o Io7em se sentiu mer/ul@ado num 3an@o de per5umes. + castelo de ?enda pertencia a um /rande de Espan@a8 9ue nele mora7a com sua 5amlia. Durante toda essa noite8 a mais 7el@a das 5il@as ol@ou para o o5icial com um interesse impre/nado de tal tristeza8 9ue o sentimento de compaixo re7elado pela espan@ola poderia 3em despertar o de7aneio do 5ranc-s. .lara era 3ela8 e se 3em 9ue ti7esse tr-s irmos e uma irm8 os 3ens do ?ar9u-s de $e/anes eram su5icientemente consider47eis para 5azerem 0ictor ?arc@and acreditar 9ue a Io7em teria um rico dote. ?as como ousar crer 9ue a 5il@a do ancio mais or/ul@oso de suas /randezas existente na Espan@a poderia ser dada ao 5il@o de um simples merceeiro de #arisR Alm disso8 os 5ranceses eram odiados. + /eneral ,...t...r8 9ue /o7erna7a a pro7ncia8 suspeitou 9ue o ?ar9u-s preparara uma su3le7ao em 5a7or de 2ernando 0II. Diante disso8 o 3atal@o comandado por 0ictor ?arc@and 5ora acantonado na pe9uena cidade de ?enda8 para conter os destacamentos 7izin@os8 9ue o3edeciam ao ?ar9u-s de $e/anes. Uma recente mensa/em do ?arec@al %eZ pro7ocou receios de 9ue os in/leses desem3arcassem 3re7emente na costa e denunciou o mar9u-s como a pessoa 9ue mantin@a entendimentos com o /a3inete de $ondres. Assim sendo8 apesar da 3oa acol@ida BD 9ue o espan@ol dera a 0ictor ?arc@and e a seus soldados8 o Io7em o5icial continua7a em /uarda. Ao diri/ir&se para o terrao de onde examina7a o estado da cidade8 das compan@ias e do campo con5iados a sua /uarda8 a si mesmo ele per/unta7a como de7eria interpretar a amizade 9ue o ?ar9u-s no cessara de l@e testemun@ar8 e como a tran9Wilidade do pas podia se conciliar com as in9uietudes de seu /eneral. ?as pouco depois esses pensamentos 5oram expulsos do esprito do Io7em comandante8 por um sentimento de prud-ncia e por uma curiosidade 3em le/tima. Ele aca3a7a de perce3er na cidade uma /rande 9uantidade de luzes. Apesar da 5esta de "o Tia/o8 @a7ia ordenado na9uela mesma man@ 9ue as mesmas se apa/assem na @ora prescrita
pelo re/ulamento. Apenas o castelo 5izera exceo a essa medida. Ele 3em 7iu as 3aionetas de seus soldados 3ril@arem a9ui e ali nos postos @a3ituais. ?as o sil-ncio era solene e nada indica7a 9ue os espan@Kis esti7essem entre/ues 6 em3ria/uez de uma 5esta. ApKs ter procurado explicar&se pela in5rao de 9ue os @a3itantes da cidade eram culpados8 ele encontrou nesse delito um mistrio incompreens7el8 pois @a7ia deixado al/uns o5iciais encarre/ados do policiamento noturno e das rondas. .om a impetuosidade da Iu7entude8 desceu apressado por uma 7ereda para atin/ir rapidamente os roc@edos8 c@e/ando8 assim8 mais depressa do 9ue se passasse pelo camin@o normal8 BF at um pe9ueno posto situado na entrada da cidade ao lado do castelo. E 5oi 9uando um rudo 5raco o dete7e em sua carreira. Yul/ou ter ou7ido a areia das alamedas crepitar so3 os le7es passos de uma mul@er. 0oltou a ca3ea e no 7iu nada8 mas seus ol@os 5oram surpreendidos pelo extraordin4rio 3ril@o do oceano. De repente 7iu um espet4culo to desastroso 9ue 5icou imo3ilizado pela surpresa8 Iul/ando 5osse um en/ano de seus prKprios sentidos. +s raios es3ran9uiados da lua permitiram&l@e 7er al/umas 7elas de na7ios a uma /rande distXncia. Ele estremeceu e tratou de con7encer&se de 9ue a9uele espet4culo era uma iluso de Ktica8 pro7ocada pelas 5antasias das ondas e da lua. %esse momento8 uma 7oz rouca pronunciou o nome do o5icial8 9ue ol@ou em direo da 7ereda & e 7iu lentamente se er/uer a ca3ea do soldado 9ue o acompan@ara ao castelo. & ; o sen@or8 comandanteS & "im. + 9ue @4S & disse&l@e em 7oz 3aixa o rapaz8 a 9uem uma espcie de pressentimento a7isou 9ue a/isse com mistrio. & A9ueles pati5es se mexem como 7ermes e eu me apresso8 se o sen@or o permite8 em transmitir&l@e min@as 3re7es recomendaAes. & 2ale & respondeu 0ictor ?arc@and. & Aca3o de se/uir um @omem do castelo 9ue se diri/ia para a9ui8 com uma lanterna na mo. $anterna uma coisa muito suspeitaR %o acredito 9ue esse cristo ten@a necessidade de BG acender crios numa @ora como esta... M+ 9ue eles 9uerem nos comerM8 disse eu para mim mesmo. E pus&me a examinar&l@e os calcan@ares. Assim sendo8 meu comandante8 eu desco3ri8 a tr-s passos da9ui8 num 3loco da roc@a8 um 5eixe de len@a mi1da. "13ito um /rito terr7el repercutiu na cidade8 interrompendo o soldado. Um claro inesperado iluminou o comandante. + po3re /ranadeiro le7ou uma 3ala na ca3ea e caiu. Um 5o/o de pal@a e de len@a seca 3ril@ou como um inc-ndio a dez passos do rapaz. +s instrumentos e os risos cessaram na sala do 3aile. Um sil-ncio de morte8 interrompido por /emidos8 su3stituiu de repente os rumores e a m1sica da 5esta. Um tiro de can@o repercutiu so3re a plancie l9uida do oceano. Um suor 5rio escorreu pela testa do Io7em o5icial8 9ue esta7a sem espada. Ele perce3eu 9ue seus soldados tin@am perecido8 e 9ue os in/leses iriam desem3arcar. 0iu&se desonrado se 7i7esse8 e le7ado a um consel@o de /uerra. ?ediu8 ento8 a pro5undeza do 7ale8 e ia atirar&se nele8 9uando sentiu a mo de .lara se/urando a sua. & 2uIaR & disse ela. & ?eus irmos esto me se/uindo para mat4&lo. Ao p da roc@a8 por ali8 7oc- encontrar4 o ca7alo andaluz de Yuanito. 04R
Ela empurrou&o. + rapaz8 estupe5acto8 5itou&a por um momento. ?as em se/uida8 o3edecendo ao instinto de conser7ao 9ue nunca a3andona o @omem8 mesmo o mais 5orte8 ele se arremeteu BE pelo par9ue8 tomando a direo indicada. E correu atra7s da9ueles roc@edos 9ue apenas as ca3ras 5re9Wenta7am. +u7iu .lara /ritar a seus irmos 9ue o perse/uissem. +u7iu o passo de seus assassinos8 e escutou nos ou7idos o si3ilar de 74rias descar/as de 3alas. ?as conse/uiu alcanar o 7ale8 encontrou o ca7alo8 montou&o e desapareceu com a rapidez de um relXmpa/o. #oucas @oras depois8 o Io7em o5icial c@e/ou ao 9uartel do /eneral ,...t...r8 9ue encontrou Iantando com seu estado&maior. & Tra/o&l@e min@a ca3eaR & exclamou o c@e5e do 3atal@o8 9ue esta7a p4lido e des5eito. "entou&se e contou a @orr7el a7entura. Um sil-ncio apa7orante acompan@ou o seu relato. & 0oc- mais in5eliz do 9ue criminoso & respondeu 5inalmente o terr7el /eneral. & %o respons47el pela ao 7er/on@osa dos espan@Kis8 mas8 a menos 9ue o marec@al decida de outra 5orma8 eu o a3sol7o. Essas pala7ras deram pouco consolo ao in5eliz o5icial. & Ouando o imperador sou3er dissoR & exclamou o o5icial. & Ele capaz de mandar 5uzil4&lo & disse o /eneral. & ?as 7eremos. En5im8 no 5alemos mais nisso & acrescentou em tom se7ero & a no ser para tirarmos uma 7in/ana 9ue pro7o9ue um terror salutar neste pas8 onde se 5az /uerra 6 moda dos sel7a/ens. Uma @ora depois8 um re/imento inteiro8 um B) destacamento de ca7alaria e um com3oio de artil@aria I4 se ac@a7am a camin@o. + /eneral e 0ictor marc@a7am 6 5rente dessa coluna. +s soldados8 sa3endo do massacre de seus camaradas8 esta7am dominados por um 5uror sem i/ual. A distXncia 9ue separa7a a cidade de ?enda do 9uartel&/eneral 5oi percorrida com uma rapidez 9uase mila/rosa. A camin@o8 o /eneral encontrou 7ilas inteiras armadas. .ada um desses miser47eis po7oados 5oi cercado e seus moradores dizimados. #or uma dessas 5atalidades inexplic47eis8 os na7ios in/leses so5reram pane e no a7anaram. "ou3e&se mais tarde 9ue sK transporta7am a artil@aria8 e 9ue eles 5oram mais r4pidos do 9ue o resto dos transportes. Assim sendo8 a cidade de ?enda8 pri7ada dos de5ensores 9ue espera7a8 e 9ue a apario das 7elas in/lesas l@e prometia8 5oi cercada por tropas 5rancesas sem resist-ncia. +s @a3itantes8 tomados de terror8 renderam&se discretamente. #or um desses de7otamentos8 9ue no 5oram raros na pennsula8 os assassinos dos 5ranceses8 pre7endo8 de7ido 6 crueldade do /eneral8 9ue ?enda seria tal7ez incendiada e toda a populao passada a 5io de espada8 propuseram denunciar&se eles prKprios ao /eneral. Este aceitou o o5erecimento8 pondo8 porm8 uma condio: os @a3itantes do castelo8 desde o 1ltimo lacaio at o mar9u-s8 de7eriam l@e ser entre/ues. Aceita essa capitulao8 o /eneral prometeu B( perdoar o resto da populao e impedir 9ue seus soldados sa9ueassem a cidade ou a incendiassem. Uma enorme contri3uio 5oi exi/ida e os mais ricos @a3itantes 5oram 5eitos prisioneiros para /arantirem o pa/amento8 9ue de7eria ser e5etuado dentro de 7inte e 9uatro @oras.
+ /eneral tomou todas as precauAes relati7as 6 se/urana de suas tropas8 pro7idenciou a de5esa da re/io8 e recusou aloIar os soldados nas casas. Depois de os ter acampado8 su3iu ao castelo e tomou posse dele militarmente. +s mem3ros da 5amlia $e/anes e os criados 5oram cuidadosamente 7i/iados8 amarrados e encerrados no salo onde se realizara o 3aile. Das Ianelas dessa sala8 podia&se 5acilmente 7er o terrao 9ue domina7a a cidade. + estado&maior instalou&se numa /aleria 7izin@a8 onde o /eneral lo/o con7ocou um consel@o para decidir so3re as medidas a serem tomadas8 a 5im de impedir o desem3ar9ue. Depois de ter mandado um aIudante de campo ao ?arec@al %eZ e de ter dado ordens para a instalao das 3aterias na costa8 o /eneral e seu estado&maior se ocuparam dos prisioneiros. Duzentos espan@Kis 9ue os @a3itantes tin@am entre/ado8 5oram imediatamente 5uzilados. ApKs essa execuo militar8 o /eneral ordenou 9ue 5ossem er/uidas no terrao tantas 5orcas 9uantas 5ossem as pessoas 9ue esti7essem na sala do castelo. E 9ue 7iesse o carrasco da cidade. 0ictor ?arc@and apro7eitou o tempo antes do Iantar para ir 7er os prisioneiros. E 7oltou lo/o para o /eneral. DC & 0en@o & disse ele com 7oz como7ida & pedir&l@e /raas. & 0oc-R & replicou o /eneral com amar/a ironia. & Ai de mimR & respondeu 0ictor. & E peo tristes /raas. + mar9u-s8 7endo as 5orcas serem er/uidas8 mani5estou a esperana de 9ue o sen@or mudasse esse tipo de suplcio para sua 5amlia8 e l@e suplica 9ue mande decapitar os no3res. & "eIa & disse o /eneral. & Eles pedem ainda 9ue l@es seIam concedidos os socorros da reli/io8 e 9ue os li3ertem de suas cordas. #rometem no procurar 5u/ir. & .onsinto & disse o /eneral. & ?as 7oc- 5icar4 respons47el por eles. & + 7el@o o5erece&l@e tam3m toda a sua 5ortuna se o sen@or consentir em perdoar seu 5il@o moo. & +ra essaR & respondeu o c@e5e. & +s 3ens dele I4 pertencem ao rei Yos. Dito isso8 ele se calou. Um pensamento de desprezo 5ranziu&l@e a testa8 e ele acrescentou. & Irei alm dos deseIos dele. Bem adi7in@o a importXncia de seu 1ltimo pedido. ?uito 3em: 9ue ele compre a eternidade de seu nome8 mas 9ue a Espan@a se lem3re para sempre de sua traio e de seu suplcioR Eu deixo sua 5ortuna e a 7ida 69uele de seus 5il@os 9ue desempen@ar o o5cio de carrasco... "aia e no me 5ale mais nisso. D' Esta7a ser7ido o Iantar. +s o5iciais sentados 6 mesa satis5aziam um apetite 9ue a 5adi/a a/uara. Um 1nico entre eles8 0ictor ?arc@and8 no compareceu ao 3an9uete. Depois de ter @esitado muito tempo8 ele entrou no salo onde /emia a or/ul@osa 5amlia de $e/anes8 e lanou um ol@ar triste so3re o espet4culo 9ue a/ora apresenta7a a9uela sala8 na 9ual na ante7spera 7ira rodopiar8 ao som de uma 7alsa8 as ca3eas de duas moas e tr-s rapazes. Ele estremeceu8 pensando 9ue8 dali a pouco8 elas rolariam decepadas pelo sa3re do carrasco. Amarrados a suas poltronas douradas8 o pai8 a me8 os tr-s 5il@os e as duas 5il@as permaneciam totalmente imK7eis. +ito criados esta7am de p8 com as mos atadas atr4s8 nas costas. Essas 9uinze pessoas ol@a7am&se /ra7emente e seus ol@os traam apenas os sentimentos 9ue os anima7am. $ia&se em suas 5aces uma resi/nao pro5unda e o pesar por terem 5racassado os seus planos. "oldados imK7eis
/uarda7am&nos8 respeitando a dor desses cruis inimi/os. Um mo7imento de curiosidade animou os rostos8 9uando 0ictor apareceu. Deu ordem para 9ue desamarrassem os condenados8 e 5oi ele prKprio desatar as cordas 9ue mantin@am .lara presa na sua cadeira. Ela sorriu tristemente. + o5icial no pHde deixar de roar o 3rao da moa e de admirar sua ca3eleira ne/ra e seu tal@e es3elto. Trata7a&se de uma 7erdadeira espan@ola: .lara tin@a a tez espan@ola8 os ol@os espan@Kis8 DU lon/os clios recur7ados e pupilas mais ne/ras do 9ue a asa de um cor7o. & 0oc- conse/uiuS & disse ela8 com um sorriso 51ne3re8 no 9ual ainda existia al/o da mocin@a. 0ictor no pHde deixar de /emer. +l@ou para os tr-s irmos de .lara. Um8 o mais 7el@o8 tin@a trinta anos. #e9ueno e mal 5eito8 ar arro/ante e desden@oso8 no deixa7a de ter certa no3reza nas maneiras. E no parecia al@eio a esta delicadeza de sentimentos 9ue tornou cle3re outrora a /alanteria espan@ola. .@ama7a&se Yuanito. + se/undo8 2ilipe8 teria cerca de 7inte anos e parecia&se com .lara. + 1ltimo tin@a oito anos. Um pintor teria encontrado nos traos de ?anuel um pouco dessa constXncia romana 9ue Da7idV empresta7a 6s crianas em suas p4/inas repu3licanas. + 7el@o mar9u-s tin@a uma ca3ea co3erta de ca3elos 3rancos8 e parecia ter sado de um 9uadro de ?urillo. Ante tal aspecto8 o Io7em o5icial meneou a ca3ea8 sem esperana al/uma de 7er aceita por um desses persona/ens a proposta do /eneral. Entretanto ousou con5i4&la a .lara. A espan@ola estremeceu de incio8 mas recuperou su3itamente um ar calmo. E 5oi aIoel@ar&se ante seu pai. & +@R & disse ela. & 2aa Yuanito Iurar 9ue o3edecer4 5ielmente 6s ordens 9ue o sen@or 7ai l@e dar8 e 5icaremos contentes. A mar9uesa estremeceu de esperana. ?as 9uando8 inclinando&se para o marido8 ou7iu a V $ouis Da7id ='ED)&')UF> 5oi pintor do tempo da :e7oluo 2rancesa e 5oi pintor de %apoleo. DB @orr7el con5id-ncia de .lara8 a po3re me desmaiou. Yuanito compreendeu tudo e pulou como um leo enIaulado. 0ictor c@amou a si a responsa3ilidade de 5azer os soldados se retirarem8 depois de ter o3tido do mar9u-s a promessa de o3edi-ncia total. +s criados 5oram le7ados e entre/ues ao carrasco 9ue os en5orcou. Ouando a 5amlia 5icou sK com 0ictor8 como /uarda8 o 7el@o pai se le7antou. & YuanitoR & disse ele. Yuanito respondeu apenas por uma inclinao de ca3ea e9ui7alente a uma recusa. Tornou a cair na cadeira e 5itou os pais com um ol@ar seco e terr7el. .lara 7eio sentar&se em seus Ioel@os8 com ar ale/re. & ?eu 9uerido Yuanito8 & disse ela8 passando&l@e o 3rao em 7olta do pescoo e 3eiIando&l@e as p4lpe3ras & se sou3esse como a morte dada por 7oc- me seria doceR %o terei de so5rer o contato odioso das mos de um carrascoR 0oc- me li7rar4 dos males 9ue me esperam8 e...8 meu 3om Yuanito8 7oc- no 9uereria me 7er pertencer a nin/um8 pois ento... "eus ol@os a7eludados lanaram um ol@ar de 5o/o para 0ictor como para acordar no corao de Yuanito o @orror aos 5ranceses. & Ten@a cora/em & disse&l@e o irmo 2ilipe. & De outro modo nossa estirpe8 9uase real8 5icaria extinta. "u3itamente .lara se le7antou e o /rupo 9ue DD
se 5ormara em torno de Yuanito se des5ez. E a9uele 5il@o to Iustamente re7oltado8 7iu8 em p8 6 sua 5rente8 o 7el@o pai8 9ue8 em tom solene8 exclamou: & Yuanito8 ordeno&l@eR Tendo o Io7em conde 5icado imK7el8 seu pai aIoel@ou&se a seus ps. Insensi7elmente8 .lara8 ?anuel e 2ilipe o imitaram. Todos estenderam as mos para a9uele 9ue de7eria sal7ar a 5amlia do es9uecimento8 e como 9ue repetiram as pala7ras paternas. & ?eu 5il@o8 ser4 9ue l@e 5alta ener/ia espan@ola e sensi3ilidade 7erdadeiraS Ouer me deixar por muito tempo aIoel@ado e de7e considerar sua 7ida e seus so5rimentosS E ele o meu 5il@o8 sen@oraS & acrescentou o ancio8 7irando&se para a mar9uesa. & Ele consenteR & exclamou a me8 desesperada8 7endo Yuanito 5azer um mo7imento de so3rancel@as cuIo si/ni5icado sK ela con@ecia. ?ari9uita8 a se/unda 5il@a8 continua7a de Ioel@os8 apertando a mo com seus 3racin@os 5racos. E como c@orasse l4/rimas sentidas8 seu irmozin@o ?anuel 7eio ral@ar com ela. %esse momento o capelo do castelo entrou e 5oi lo/o rodeado por toda a 5amlia 9ue o le7ou a Yuanito. 0ictor8 no podendo suportar por mais tempo esta cena8 5ez um sinal a .lara e apressou&se a 5azer uma 1ltima tentati7a Iunto ao /eneral. Encontrou&o de 3om @umor8 em pleno 5estim8 3e3endo com seus o5iciais e trocando com eles ditos picantes. DF Uma @ora depois8 cem dos mais importantes @a3itantes de ?enda c@e/aram ao terrao para serem8 se/undo ordens do /eneral8 testemun@as da execuo da 5amlia $e/anes. Um destacamento de soldados 5oi colocado para conter os espan@Kis8 9ue 5oram alin@ados em3aixo das 5orcas nas 9uais tin@am sido en5orcados os criados do mar9u-s. As ca3eas desses 3ur/ueses 9uase se encosta7am nos ps da9ueles m4rtires. A trinta passos er/uia&se um cepo e 3ril@a7a uma cimitarra. + carrasco ali esta7a para o caso de uma recusa de Yuanito. $o/o os espan@Kis ou7iram8 no meio do mais pro5undo sil-ncio8 os passos de 74rias pessoas8 o som ritmado da marc@a de um pi9uete de soldados e o le7e tinido de seus 5uzis. Esses di7ersos rudos 7in@am misturados com as 7ozes ale/res do 5estim dos o5iciais8 assim como @4 pouco as danas de um 3aile tin@am dis5arado os preparati7os da san/renta traio. Todos os ol@ares se 7oltaram para o castelo8 e eles 7iram a no3re 5amlia 9ue camin@a7a com incr7el se/urana. Todas as 5isionomias esta7am calmas e serenas. Um sK @omem8 p4lido e des5eito8 se apoia7a no padre8 9ue prodi/aliza7a todos os consolos da reli/io ao 1nico dentre eles 9ue de7eria 7i7er. + carrasco compreendeu8 como todos8 9ue Yuanito tin@a aceitado tomar o seu lu/ar por um dia. + 7el@o mar9u-s e a mul@er8 .lara8 ?ari9uita e seus irmos 7ieram aIoel@ar&se a al/uns passos do lu/ar 5atal. DG Yuanito 5oi le7ado pelo padre. Ouando c@e/ou ao cepo8 o carrasco8 puxando&o pela man/a8 c@amou&o 6 parte8 e deu&l@e pro7a7elmente al/umas instruAes. + con5essor colocou as 7timas de modo 9ue no pudessem 7er o suplcio. ?as eram 7erdadeiros espan@Kis8 e 5icaram de p8 sem 5ra9ueza. .lara 5oi a primeira a diri/ir&se ao irmo: & Yuanito & disse&l@e ela & ten@a piedade de min@a pouca cora/em e comece por mimR %esse momento8 os passos precipitados de um @omem ressoaram. 0ictor c@e/ou ao lu/ar da9uela cena. .lara I4 esta7a aIoel@ada8 e seu pescoo
al7o como 9ue c@ama7a a cimitarra. + o5icial empalideceu8 mas te7e 5oras para 7ir 6s pressas. & + /eneral concede&l@e a 7ida se 9uiser casar comi/o & disse&l@e em 7oz 3aixa. A espan@ola lanou ao o5icial um ol@ar de desprezo e or/ul@o. & 0amos8 YuanitoR & disse ela num tom de 7oz pro5undo. "ua ca3ea rolou aos ps de 0ictor. A mar9uesa de $e/anes deixou escapar um mo7imento con7ulsi7o ao escutar o 3arul@o. 2oi o 1nico sinal de sua dor. & "er4 9ue estou 3em assim8 meu caro YuanitoS & 5oi a per/unta 9ue o pe9ueno ?anuel 5ez a seu irmo. & A@R Est4 c@orando8 ?ari9uitaR & disse Yuanito a sua irm. & +@R sim8 replicou a menina. #enso em 7oc-8 DE meu po3re Yuanito. 0ai ser muito in5eliz sem nKsR $o/o apareceu a /rande 5i/ura do mar9u-s. +l@ou o san/ue dos 5il@os8 7irou&se para os espectadores8 mudos e imK7eis8 estendeu as mos para Yuanito e disse com 7oz 5orte: & Espan@KisR Dou a meu 5il@o min@a 3-no paterna. A/ora8 mar9u-s8 5ira sem medoR 0oc- est4 impec47elR ?as 9uando Yuanito 7iu se aproximar sua me8 sustentada pelo con5essor8 ele /ritou: & Ela amamentou&meR "ua 7oz arrancou um /rito de @orror da assist-ncia. + rudo do 5estim e os risos dos ale/res o5iciais cessaram diante do @orr7el clamor. A mar9uesa compreendeu 9ue a cora/em de Yuanito esta7a es/otada. #recipitou&se com um salto por cima da 3alaustrada e 5oi esma/ar a ca3ea so3re os roc@edos. +u7iu&se um /rito de admirao. Yuanito cara desmaiado. & ?eu /eneral8 & disse um o5icial meio em3ria/ado & ?arc@and aca3a de contar&me al/uma coisa desta execuo. Aposto como o sen@or no a ordenou... & Es9uecem&se 7oc-s & /ritou o /eneral ,...t...r8 & de 9ue dentro de um m-s 9uin@entas 5amlias 5rancesas estaro em l4/rimas8 e 9ue nKs estamos na Espan@a. Esto 9uerendo deixar a9ui os nossos ossosS ApKs esta alocuo8 no @ou7e nin/um8 D) nem mesmo um se/undo&tenente8 9ue ousasse es7aziar seu copo. Apesar do respeito de 9ue cercado8 apesar do ttulo de .arrasco8 9ue o rei de Espan@a deu8 como ttulo de no3reza8 ao mar9u-s de $e/anes8 ele est4 consumido pelo des/osto8 7i7e solit4rio e aparece raramente. Aca3run@ado so3 o 5ardo de seu admir47el crime8 ele parece esperar com impaci-ncia 9ue o nascimento de um se/undo 5il@o l@e d- o direito de ir Iuntar&se 6s som3ras 9ue o acompan@am incessantemente. #aris8 outu3ro de ')BC D( A E"TA$A,E? 0E:?E$HA Introduo %o me lem3ro 3em em 9ue ano8 certo 3an9ueiro de #aris8 9ue tin@a relaAes comerciais muito intensas na Aleman@a8 5esteIa7a um desses ami/os 9ue os ne/ociantes 5azem num e noutro lu/ar8 mas 9ue sK se con@ecem por correspond-ncia. Esse ami/o8 c@e5e no me recordo de 9ue casa importante em %urem3er/8 era um 3om e /ordo alemoL @omem de erudio e /osto8 @omem8 so3retudo8 de cac@im3o com seu 3elo e lar/o rosto nurem3er/u-s8 de testa 9uadrada 3em
desco3erta e en5eitada de al/uns raros ca3elos louros. Ele representa7a o tipo dos 5il@os dessa pura e no3re ,ermXnia8 to 5rtil em caracteres @onrados e cuIos @43itos pac5icos nunca 5oram desmentidos8 mesmo apKs sete in7asAes. + estran/eiro ria com simplicidade8 escuta7a com ateno8 3e3ia razoa7elmente 3em e parecia /ostar de c@ampan@a tanto 9uanto dos 7in@os 3rancos de Yo@annis3er/. .@ama7a&se Hermann8 como 9uase todos os alemes citados pelos autores. .omo @omem 9ue nada 5az com li/eireza8 ele se ac@a7a comodamente instalado na mesa do 3an9ueiro8 comia com a9uele apetite tedesco to cle3re na Europa e da7a um F' consciencioso adeus 6 cozin@a do /rande .ar-me. #ara @omena/ear seu @Kspede8 o dono da casa con7idou al/uns ami/os ntimos8 capitalistas ou comerciantes8 74rias sen@oras am47eis8 3onitas8 cuIo ta/arelar /racioso e maneiras 5rancas se @armoniza7am com a cordialidade /ermXnica. :ealmente8 9uem pudesse 7er & como eu ti7e esse /osto & a ale/re reunio de pessoas 9ue tin@am recol@ido suas /arras comerciais para especularem so3re os prazeres da 7ida8 ser&l@e&ia di5cil odiar os descontos usur4rios ou amaldioar as 5al-ncias. + @omem no pode 5azer sempre o mal. Assim sendo8 mesmo na sociedade dos piratas8 ele de7e se dar doces momentos durante os 9uais acreditaramos estar no seu sinistro 3arco como so3re um 3alano. & Antes de nos deixar8 o sen@or Hermann 7ai nos contar uma @istKria alem 9ue nos d- muito medo. Estas pala7ras 5oram pronunciadas 6 so3remesa8 por uma Io7em p4lida e loura8 9ue certamente tin@a lido os contos de Ho55mann e os romances de [alter "cott. Trata7a&se da 5il@a 1nica de um 3an9ueiro8 criatura encantadora8 cuIa educao esta7a se concluindo no ,Zmnase8 e 9ue adora7a as peas ali representadas. %esse momento os con7idados se ac@a7am na9uela 5eliz disposio de pre/uia e sil-ncio em 9ue uma re5eio deliciosa nos deixa8 9uando a7aliamos FU demasiadamente nossa capacidade di/esti7a. .om as costas apoiadas na cadeira8 os pulsos le7ementes sustentados na 3eira da mesa8 cada con7idado 3rinca7a indolentemente com a lXmina dourada de sua 5aca. Ouando um Iantar c@e/a a esse ponto de declnio8 certas pessoas mexem nas sementes de uma p-raL outros 5azem 3olin@as de po entre o pole/ar e o indicadorL os namorados riscam letras dis5ormes com restos de 5rutaL os a7arentos contam caroos e os en5ileiram em seu prato8 assim como os dramatur/os dispAem seus comparsas no 5undo da cena. "o essas pe9uenas 5elicidades /astronHmicas 9ue Brillat "a7arin8 ali4s8 to completo8 no re/istrou em seu li7ro. +s criados tin@am desaparecido. A so3remesa lem3ra7a uma es9uadra apKs o com3ate8 completamente desar7orada8 sa9ueada8 a3atida. +s pratos 7a/a7am so3re a mesa8 apesar da o3stinao da dona da casa 9ue insistia em os 5azer 7oltar a seus lu/ares. Al/umas pessoas ol@a7am paisa/ens da "ua simetricamente penduradas nas paredes cinza da sala. %en@um con7idado se a3orrecia. %o con@ecemos @omem al/um 9ue por7entura ten@a se entristecido durante a di/esto de um 3om Iantar. %esses momentos /ostamos de 5icar em no sei 3em 9ue calma8 uma espcie de Iusta medida entre o de7aneio do pensador e a satis5ao dos FB
animais ruminantes8 9ue poderamos c@amar de melancolia material da /astronomia. Assim sendo8 os con7i7as se 7iraram espontaneamente para o 3om alemo8 encantados por ou7irem uma 3alada8 mesmo 9ue 5osse sem interesse. Durante essa 3endita pausa8 a 7oz do narrador sempre parece deliciosa a nossos sentidos entorpecidos8 cuIa 5elicidade ne/ati7a ela 5a7orece. "empre 3uscando espet4culos8 eu admira7a a9ueles rostos ale/rados por um sorriso8 iluminados pelas 7elas8 e 9ue o delicioso 3an9uete tin@a enru3escido. E suas expressAes di7ersas produziam e5eitos picantes atra7s dos candela3ros8 das cestas de porcelana8 dos 5rutos e cristais. ?in@a ima/inao 5oi su3itamente atrada pelo aspecto do con7i7a 9ue se ac@a7a precisamente em min@a 5rente. Trata7a&se de um @omem de estatura mediana8 rison@o8 9ue tin@a o aspecto e os modos de um corretor. #arecia ser dotado de um esprito 3em 7ul/ar o 9ue eu no @a7ia ainda notado. %esse momento sua 5isionomia certamente som3reada pela luz arti5icial8 pareceu&me ter mudado de 9ualidade. Ela se tornou terrosa8 sulcada por tonalidades arroxeadas. Dir&se&ia o rosto cada7rico de um a/onizante. ImK7el8 como os persona/ens pintados num diorama8 seus ol@os atHnitos continua7am 5ixos nas cintilantes 5acetas de uma rol@a de cristal. ?as ele no se preocupa7a com elas8 pois parecia a3ismado em al/uma contemplao 5ant4stica do 5uturo ou do passado. Depois de examinar FD por 3astante tempo a9uele rosto e9u7oco8 me pus a pensar: M"er4 9ue ele est4 so5rendoS Teria 3e3ido demaisS Estaria arruinado com a 3aixa dos 5undos p13licosS #ensaria em lo/rar os seus credoresSM & +ra 7eIa & disse eu a min@a 7izin@a8 mostrando&l@e o rosto do descon@ecido. & %o parece uma 5al-ncia em perspecti7aS & +@R & respondeu&me8 & ele estaria mais ale/re8 Depois8 meneando /raciosamente a ca3ea8 ela acrescentou: & "e esse se arruinasse al/um dia8 eu iria contar isso em #e9uimR Ele possui um mil@o em terrasR Trata&se de um anti/o 5ornecedor das armadas imperiais8 um @omem 3om8 mas um tanto ori/inal. .asou&se pela se/unda 7ez por especulaoL apesar disso8 5az sua mul@er muito 5eliz. Ele tem uma linda 5il@a8 9ue durante lon/o tempo no 9uis recon@ecer8 mas 9ue o 5alecimento de um 5il@o8 morto em duelo8 o o3ri/ou a c@am4&la para Iunto de si8 uma 7ez 9ue no podia ter mais descendentes. A po3re moa ento se con7erteu8 de um momento para outro8 numa das mais ricas @erdeiras de #aris. A perda de seu 5il@o 1nico mer/ul@ou esse 3om @omem numa tristeza 9ue reaparece por 7ezes. %esse instante o 5ornecedor er/ueu os ol@os para mim. "eu ol@ar 5ez&me estremecer8 de tal modo era som3rio e pensati7oR .ertamente a9uele ol@ar reunia uma 7ida inteira. De repente8 sua 5isionomia 5icou ale/re. Ele pe/ou na rol@a FF de cristal8 e8 com um /esto ma9uinal8 colocou&a num /arra5o 9ue se ac@a7a em 5rente de seu prato8 e 7irou a ca3ea8 sorrindo8 para o sen@or Hermann. A9uele @omem8 3eati5icado por seus prazeres /astronHmicos8 certamente no tin@a duas idias no cre3ro8 e no pensa7a em nada. Assim sendo8 de certa maneira8 eu me en7er/on@ei de prodi/alizar min@a ci-ncia di7inatKria Min anima 7iliMV de um /rande 5inancista. En9uanto8 em pura perda8 eu 5azia o3ser7aAes 5renolK/icas8 o alemo enc@ia o nariz com uma 3oa pitada de rap e comea7a sua @istKria. "er&me&ia 3astante di5cil reproduzi&la nos mesmos termos8 com suas interrupAes 5re9Wentes e suas di/ressAes prolixas.
#or isso8 escre7i&a a meu modo8 deixando os erros para o nurem3er/u-s e apoderando&me do 9ue ela tem de potico e interessante8 com a candura dos escritores 9ue se es9uecem de colocar no ttulo de seus li7ros: Mtraduzido do alemoM. A Idia e a Ao $4 pelos 5ins do primeiro m-s do ano repu3licano em 2rana8 9ue atualmente corresponde ao UC de outu3ro de 'E((8 dois Io7ens 9ue tin@am sado de Bonn pela man@8 ao entardecer c@e/aram aos arredores de Andernac@8 pe9uena cidade situada na mar/em es9uerda do rio :eno8 a al/umas l/uas de .o3lena. %essa ocasio8 o exrcito 5ranc-s8 comandado V "o3re a alma 7il. FG pelo /eneral Au/ereau8 mano3ra7a na presena dos austracos8 9ue ocupa7am a mar/em direita do rio. + 9uartel&/eneral da di7iso repu3licana esta7a em .o3lena8 e uma das meias&3ri/adas do corpo de Au/ereau se ac@a7a acantonada em Andernac@. +s dois 7iaIantes eram 5ranceses. A Iul/ar por seus uni5ormes azuis misturados de 3ranco8 com ala&mares de 7eludo 7ermel@o8 seus sa3res e8 so3retudo8 o c@apu co3erto por uma tela 7erde en7ernizada8 e ornado de um penac@o tricolor8 os prKprios camponeses alemes teriam recon@ecido neles cirur/iAes militares8 @omens de ci-ncia e de mrito8 9ueridos no apenas no exrcito8 mas tam3m nas re/iAes in7adidas por nossas tropas. %essa poca 74rios 5il@os de 5amlia8 arrancados de seu est4/io mdico pela recente lei do recrutamento de7ida ao /eneral Yourdan8 tin@am certamente pre5erido continuar seus estudos no campo de 3atal@a8 em 7ez de serem suIeitos ao ser7io militar8 pouco de acordo com sua educao e seus destinos pac5icos. Homens de ci-ncia e de paz8 muito prestati7os8 esses Io7ens 5aziam al/um 3em no meio de tantas des/raas e se entendiam com os eruditos de di7ersos pases pelos 9uais passa7a a cruel ci7ilizao da :ep13lica. ?unidos um e outro de um sal7o&conduto e de uma comisso de cirur/io&aIudante assinada por .oste e Bernadotte8 esses dois Io7ens iam prestar ser7ios 6 meia&3ri/ada 6 9ual esta7am li/ados. Am3os pertenciam a 5amlias 3ur/uesas de Beau7ais8 mediocremente ricas8 nas 9uais os @43itos de mansido e a lealdade das pro7ncias se transmitiam como uma parte da @erana. $e7ados ao teatro da /uerra antes da poca indicada para sua entrada em 5uno8 eles8 por uma curiosidade natural nos Io7ens8 tin@am 7iaIado de dili/-ncia at Estras3ur/o. FE Ainda 9ue a prud-ncia materna sK os ten@a deixado le7ar uma pe9uena 9uantia8 eles se Iul/a7am ricos por possurem al/uns lulses8 7erdadeiro tesouro num tempo em 9ue o papel&moeda tin@a atin/ido o 1ltimo /rau de des7alorizao8 e o ouro 7alia muito din@eiro. +s dois aIudantes8 9ue tin@am no m4ximo 7inte anos8 entre/aram&se 6 poesia de sua situao com todo o entusiasmo da mocidade. De Estras3ur/o a Bonn8 tin@am 7isitado o Eleitorado8 e as mar/ens do :eno8 como artistas8 5ilKso5os e o3ser7adores. Ouando temos um destino cient5ico8 nessa idade somos seres 7erdadeiramente m1ltiplos. ?esmo 5azendo o amor8 ou 7iaIando8 um aIudante de7e acumular os rudimentos de sua 5ortuna ou de sua /lKria por 7ir. +s dois rapazes esta7am8 portanto8 entre/ues a essa admirao pro5unda 9ue toma conta dos @omens instrudos
ante as mar/ens do :eno e as paisa/ens da "u43ia8 entre ?aZence e .olHnia. %atureza 5orte8 rica8 poderosamente acidentada8 c@eia de recordaAes 5eudais8 7erdeIante8 mas 9ue /uarda por todos os lu/ares as marcas de 5erro e 5o/o. $us NI0 e Turenne cauterizaram essa encantadora re/io. A9ui e ali runas testemun@am o or/ul@o e tal7ez a pre7id-ncia do rei de 0ersailles8 9ue mandou derru3ar os admir47eis castelos 9ue outrora orna7am essa parte da Aleman@a. Diante dessa terra mara7il@osa8 co3erta de 5lorestas8 nas 9uais a3unda8 ainda 9ue em runas8 o pitoresco da Idade ?dia8 podemos conce3er o /-nio alemo8 seus son@os e seu misticismo. %o entanto8 a estadia dos dois ami/os em Bonn tin@a uma 5inalidade no sK de ci-ncia8 mas de prazer tam3m. + /rande @ospital do exrcito /alo&3ata7o e da di7iso de Au/ereau se ac@a7a instalado no prKprio pal4cio do Eleitor. +s no7os cirur/iAes&aIudantes lo/o 5oram 7er os cole/as8 entre/ar cartas de recomendaAes a seus c@e5es8 F) e 5amiliarizar&se com as primeiras impressAes de seu o5cio. ?as tam3m l48 como em outra parte8 eles se despoIaram de al/uns desses preconceitos exclusi7os aos 9uais 5icamos 5iis tanto tempo em 3ene5cio dos monumentos e das 3elezas de nosso pas natal. "urpresos com o aspecto das colunas de m4rmore 9ue ornam o pal4cio eleitoral8 continuaram admirando a /randiosidade das construAes alems8 encontrando a cada passo no7os tesouros anti/os ou modernos. De momento a momento8 os camin@os pelos 9uais os dois ami/os passa7am rumo a Andernac@8 os le7a7am ao pico de uma montan@a de /ranito mais ele7ada do 9ue as outras. $48 por um corte da 5loresta8 e por uma depresso dos roc@edos8 eles perce3eram uma 7ista do :eno8 en9uadrada na pedra ou com 5estAes de exu3erante 7e/etao. +s 7ales8 os camin@os8 as 4r7ores exala7am a9uele odor outonal 9ue le7a ao de7aneio. + topo dos 3os9ues comea7a a dourar8 a ad9uirir tons 9uentes e castan@os8 sinais de 7el@ice. As 5ol@as caam8 mas o cu ainda tin@a um 3elo azul8 e os camin@os secos se desen@a7am como lin@as amarelas na paisa/em8 ento iluminada pelos raios o3l9uos do sol poente. A uma meia l/ua da Andernac@8 os dois ami/os camin@a7am em pro5undo sil-ncio8 como se a /uerra no esti7esse de7astando esse 3elo pas. E se/uiam um tril@o a3erto por ca3ras atra7s das altas mural@as de /ranito azulado8 entre as 9uais o :eno escorre aos 3or3otAes. #ouco depois8 eles desceram por uma 7ertente do des5iladeiro no 5undo do 9ual @a7ia uma pe9uena cidade /raciosamente plantada 6 3eira do rio8 o5erecendo um 3elo porto aos marin@eiros. & A Aleman@a um pas 3elssimoR & exclamou um dos rapazes8 c@amado #rosper ?a/nan8 no momento em 9ue 7iu as casas pintadas de Andernac@8 F( apertadas como o7os num cesto8 separadas por 4r7ores8 Iardins e 5lores. Depois8 admirou por momentos os tel@ados pontudos de 7i/as salientes8 as escadas de madeira8 as /alerias de mil moradas tran9Wilas e as 3arcas a se 3alanarem nas ondas do porto. #rimeira Interrupo %o momento em 9ue o "r. Hermann pronunciou o nome de #rosper ?a/nan8 o 5ornecedor se/urou a /arra5a8 pHs 4/ua em seu copo e es7aziou&o de um tra/o. Tendo esse mo7imento c@amado min@a ateno8 perce3i um li/eiro tremor nas mos e uma umidade na testa do capitalista. & .omo se c@ama o anti/o 5ornecedorS & per/untei 6 min@a complacente 7izin@a.
& Taille5er & respondeu ela. & "ente&se indispostoS & exclamei8 7endo a9uele estran@o persona/em empalidecer. & A3solutamente & disse ele8 a/radecendo&me com um /esto de polidez. & Estou ou7indo & acrescentou ele8 5azendo um sinal de ca3ea aos con7i7as8 9ue simultaneamente o ol@aram. & Eu me es9ueci & disse o "r. Hermann & do nome do outro rapaz. ?as as con5id-ncias de #rosper ?a/nan me in5ormaram 9ue seu compan@eiro era moreno8 3astante ma/ro e Io7ial. "e me permitirem8 eu o c@amarei de [il@elm para tornar mais clara esta @istKria. + 3om alemo recomeou sua narrati7a8 depois de ter desrespeitado o romantismo e a cor local8 3atizando o cirur/io&aIudante 5ranc-s com um nome /ermXnico. GC .ontinuao Y4 era noite 5ec@ada8 9uando os dois Io7ens c@e/aram a Andernac@. #resumindo 9ue perderiam muito tempo procurando seus c@e5es8 para se 5azerem recon@ecer e o3ter um aloIamento militar numa cidade I4 c@eia de soldados8 eles resol7eram passar sua 1ltima noite de li3erdade numa estala/em situada a uma centena de passos de Andernac@8 e cuIas ricas cores8 em3elezadas pelo sol poente8 @a7iam admirado do alto dos roc@edos. Inteiramente pintada de 7ermel@o8 essa estala/em produzia um e5eito curioso na paisa/em8 seIa se destacando da massa /eral da cidade8 seIa opondo sua lar/a cortina escarlate ao 7erde das di7ersas 5ol@a/ens8 e suas tintas 7i7as ao tom acinzentado da 4/ua. Essa casa tin@a esse nome por causa da decorao exterior8 certamente imposta desde tempos imemoriais pelos capric@os de seu 5undador. Uma superstio mercantil8 3em natural aos di5erentes donos dessa morada8 5amosa entre os marin@eiros do :eno8 preser7ara&l@e a cor. +u7indo o trote dos ca7alos8 o dono da Estala/em 0ermel@a c@e/ou 6 soleira da porta. & #or Deus8 sen@oresR & exclamou ele. & Um pouco mais tarde e 7oc-s seriam 5orados a dormir ao relento8 como a maior parte de seus compatriotas 9ue acamparam do outro lado de Andernac@. A9ui est4 tudo ocupado. "e 7oc-s 9uiserem deitar numa 3oa cama8 sK l@es posso o5erecer meu prKprio 9uarto. Ouanto aos ca7alos8 7ou l@es arranIar uma cama de pal@a num canto do p4tio. HoIe min@a estre3aria est4 c@eia de cristos. & +s sen@ores 7-m da 2ranaS & continuou ele8 depois de li/eira pausa. & De Bonn & exclamou #rosper. & E desde a man@ no comemos nada. G' & +@R 9uanto aos 77eres & disse o estalaIadeiro8 meneando a ca3ea & 7em /ente de dez l/uas da9ui sK para 5arrear na Estala/em 0ermel@a. 0oc-s 7o ter um 5estim de prncipe... o peixe do :enoR Est4 dito tudo. Depois de terem con5iado suas cansadas montarias aos cuidados do @oteleiro8 9ue c@ama7a seus criados em 7o8 os rapazes entraram na sala comum da estala/em. As nu7ens espessas e es3ran9uiadas exaladas por uma numerosa assem3lia de 5umantes no l@es permitiram distin/uir de incio as pessoas com as 9uais iriam estar. ?as 9uando se sentaram perto de uma mesa8 com a paci-ncia desses 7iaIantes 5ilKso5os 9ue recon@eceram a inutilidade do 3arul@o8 eles distin/uiram8 atra7s dos
7apores do ta3aco8 os acessKrios o3ri/atKrios de uma estala/em alem: a estu5a8 o relK/io8 as mesas8 os canecAes de cer7eIa8 os compridos cac@im3os. A9ui e ali rostos irre/ulares de Iudeus8 alemes8 e as 5isionomias rudes de al/uns marin@eiros. As dra/onas de 74rios o5iciais 5ranceses 3ril@a7am no meio da9uela 5umaceira8 e o tinido das esporas e dos sa3res re3oa7a ininterruptamente so3re o piso. Al/uns Io/a7am 3aral@o8 outros discutiam8 cala7am&se8 comiam8 3e3iam8 ou passea7am. Uma /orda mul@erzin@a com uma touca de 7eludo preto8 um peitil@o azul e prateado8 a 3ola e o mol@o de c@a7es8 o colc@ete de prata8 os ca3elos em tranas8 era 3em o modelo de todas as donas de estala/ens alems8 cuIo 7estu4rio assim colorido8 7em reproduzido em tantas estampas 9ue seria 3anal descre7er. A mul@er do estalaIadeiro ento8 com not47el @a3ilidade8 5ez com 9ue os dois ami/os ti7essem paci-ncia. Insensi7elmente o 3arul@o diminuiu8 os 7iaIantes se retiraram e a nu7em de 5umaa se dissipou. Ouando puseram os tal@eres para os dois cirur/iAes&aIudantes GU e a cl4ssica carpa do :eno sur/iu so3re a mesa8 soa7am onze @oras e a sala I4 esta7a 7azia. %o sil-ncio da noite ou7iam&se 7a/amente o 3arul@o dos ca7alos comendo sua rao8 o murm1rio das 4/uas do :enoL en5im8 todos esses rudos inde5inidos 9ue animam uma estala/em c@eia 9uando todos esto se deitando. As portas e Ianelas a3riam&se e 5ec@a7am&se8 7ozes murmura7am 7a/as pala7ras8 e mesmo al/umas interpelaAes repercutiam nos 9uartos. %esse momento de sil-ncio e tumulto8 os dois 5ranceses e o @ospedeiro8 ocupado em /a3ar&l@es Andernac@8 a re5eio8 seu 7in@o do :eno8 a armada repu3licana e sua mul@er8 ou7iram com certo interesse os /ritos roucos de al/uns marin@eiros e o rudo de um 3arco 9ue atraca7a no porto. + estalaIadeiro8 certamente 5amiliarizado com as interro/aAes /uturais dos 3ar9ueiros8 saiu precipitadamente e 7oltou lo/o depois. E trouxe consi/o um @omenzin@o /ordo atr4s do 9ual 7in@am dois marin@eiros carre/ando uma pesada mala e al/uns em3rul@os. Depositados na sala os seus 5ardos8 o @omenzin@o /ordo pe/ou sua 7alise8 /uardou&a perto de si e sentou&se 6 mesa8 sem cerimHnia8 diante dos dois cirur/iAes&aIudantes. & 0oc-s 7o dormir no 3arco & disse ele aos marin@eiros & pois a estala/em est4 c@eia. #ensando 3em8 o mel@or a 5azer. & "en@or8 & disse o @ospedeiro ao recm&c@e/ado & eis tudo o 9ue me resta de pro7isAes. E mostrou a ceia ser7ida aos dois 5ranceses. & %o ten@o nem uma 5atia de po8 nem um osso... & E c@ucruteS & %o ten@o nem um 3ocadin@o 9ue cou3esse no dedal de min@a mul@er. .omo ti7e a @onra de l@e dizer8 o sen@or no pode ter outra cama seno a cadeira na 9ual est48 e outro 9uarto alm desta sala. GB Diante dessas pala7ras8 o @omenzin@o lanou so3re o @ospedeiro8 a sala e os dois 5ranceses um ol@ar no 9ual a prud-ncia e o terror esta7am i/ualmente pintados. & A9ui de7o o3ser7ar & disse o "r. Hermann interrompendo&se & 9ue nunca sou3emos o 7erdadeiro nome nem a @istKria desse descon@ecido. "eus papis indica7am apenas 9ue ele tin@a 7indo de Aix&la&.@apelle8 tomara o nome de [al@en5er e possua nos arredores de %eu\ied uma importante manu5atura de al5inetes. .omo todos os 5a3ricantes
do pas8 ele usa7a uma so3recasaca de pano comum8 calas e colete de 7eludo 7erde&escuro8 3otas e um lar/o cinturo de couro. "eu rosto era redondo8 suas maneiras 5rancas e cordiais8 mas na9uela noite 5oi&l@e di5cil dis5arar inteiramente apreensAes secretas e tal7ez cruis preocupaAes. A opinio do estalaIadeiro sempre 5ora de 9ue esse ne/ociante alemo esta7a 5u/indo de sua terra. ?ais tarde eu sou3e 9ue sua 543rica tin@a sido 9ueimada por um desses acasos in5elizmente to 5re9Wentes em tempos de /uerra. Apesar de sua expresso /eralmente preocupada8 sua 5isionomia re7ela7a uma /rande 3ondade. Ele tin@a 3elos traos e so3retudo um lon/o pescoo8 cuIa 3rancura era 3astante realada por uma /ra7ata preta8 9ue [il@elm por caoada mostrou a #rosper. %isso o "r. Taille5er 3e3eu um copo de 4/ua. #rosper8 por cortesia8 con7idou o ne/ociante a participar de sua ceia8 o 9ue [al@en5er aceitou sem cerimHnia8 como um @omem 9ue se sentia em condiAes de se mostrar recon@ecido a tal /entileza. Deitou a maleta no c@o8 pHs os ps em cima dela8 tirou o c@apu8 sentou&se 6 mesa8 descalou as lu7as8 e li7rou&se de duas pistolas 9ue trazia 6 cintura. Tendo o @ospedeiro trazido lo/o os tal@eres8 os tr-s con7i7as comearam a satis5azer silenciosamente GD os seus apetites. A atmos5era da sala esta7a to 9uente e as moscas eram to numerosas 9ue #rosper pediu ao @ospedeiro 9ue a3risse a Ianela8 9ue da7a para a porta8 a 5im de reno7ar o ar. Essa Ianela esta7a trancada por uma 3arra de 5erro cuIas extremidades entra7am em 3uracos a3ertos nos dois cantos do 7o. #ara maior se/urana8 duas porcas presas em cada uma das portas8 rece3iam dois para5usos da Ianela. #or acaso8 #rosper prestou ateno no modo pelo 9ual o @ospedeiro a3ria a tal Ianela. & ?as 7isto 9ue estou&l@es 5alando dos lu/ares8 & disse&nos o "r. Hermann & de7o explicar&l@es as di7isAes internas da estala/em8 pois do con@ecimento exato dos locais8 depende o interesse dessa @istKria. A sala8 onde se ac@a7am os tr-s persona/ens de 9ue l@es 5alo8 tin@a duas portas de sada. Uma da7a para o camin@o de Andernac@ 9ue 3eira o :eno. $48 em 5rente 6 estala/em8 @a7ia lo/icamente um pe9ueno porto8 onde o 3arco alu/ado pelo ne/ociante para sua 7ia/em8 esta7a atracado. A outra porta da7a sada para o p4tio da estala/em. Esse p4tio era rodeado de muros muito altos e8 na9uele momento8 esta7a c@eio de /ado e de ca7alos8 uma 7ez 9ue as estre3arias se ac@a7am repletas de /ente. A porta /rande esta7a to cuidadosamente trancada 9ue8 para maior rapidez8 o @ospedeiro 5izera o ne/ociante e os marin@eiros entrarem pela porta da sala 9ue da7a para a rua. Depois de ter a3erto a Ianela8 de acordo com o deseIo de #rosper ?a/nan8 ele 5ec@ou essa porta8 5ez as trancas entrarem nos 3uracos8 e para5usou as porcas. + 9uarto do @ospedeiro8 onde de7iam dormir os dois cirur/iAes&aIudantes8 era 7izin@o 6 sala comum e se ac@a7a separado apenas por um ta3i9ue da cozin@a8 onde a estalaIadeira e seu marido de7eriam pro7a7elmente passar a noite. A criada aca3ara de sair a 5im de procurar um lu/ar GF para dormir: em al/uma manIedoura8 no canto de um sKto ou em outro lu/ar 9ual9uer. "er4 54cil compreender 9ue a sala comum8 o 9uarto do @ospedeiro e a cozin@a eram8
de certa maneira8 isolados do resto da estala/em. %o p4tio @a7ia dois enormes ces8 cuIos latidos /ra7es anuncia7am serem eles /uardas 7i/ilantes e irritadios. & Oue sil-ncio e 9ue linda noiteR & disse [il@elm ol@ando o cu depois 9ue o estalaIadeiro aca3ou de 5ec@ar a porta. + le7e mo7imento das ondas era o 1nico rudo 9ue se 5azia ou7ir. & "en@ores8 & disse o ne/ociante aos dois 5ranceses & permitam&me 9ue l@es o5erea al/umas /arra5as de 7in@o para re/ar sua carpa. Descansaremos da 5adi/a do dia 3e3endo. #elo seu aspecto e pelo estado de suas roupas8 7eIo 9ue8 como eu8 7oc-s andaram muito @oIe. +s dois ami/os aceitaram e o estalaIadeiro saiu pela porta da cozin@a para ir 6 sua ade/a8 certamente situada nessa parte do edi5cio. Ouando cinco respeit47eis /arra5as trazidas pelo @ospedeiro 5oram colocadas na mesa8 sua mul@er aca3a7a de ser7ir a re5eio. Ela lanou 6 sala e 6s comidas seu ol@ar de dona&de&casa e8 depois8 certa de ter satis5eito todas as exi/-ncias dos 7isitantes8 7oltou 6 cozin@a. +s 9uatro con7i7as & pois o @ospedeiro 5ora con7idado a 3e3er & no a ou7iram se deitar. %o entanto8 mais tarde8 durante os inter7alos de sil-ncio 9ue separam as con7ersas dos 3e3edores8 al/uns roncos muito acentuados & ainda mais sonoros de7ido 6s t43uas ocas do sKto onde ela se anin@ara & 5izeram sorrir os ami/os e so3retudo o @ospedeiro. .erca de meia&noite8 9uando na mesa nada mais @a7ia a no ser 3iscoitos8 9ueiIo8 5rutas secas e 3om 7in@o8 os con7i7as8 principalmente os dois Io7ens GG 5ranceses8 se tornaram comunicati7os. Eles 5alaram de seu pas8 de seus estudos8 da /uerra. En5im8 a con7ersao animou&se. #rosper ?a/nan arrancou l4/rimas dos ol@os do ne/ociante8 9uando8 com a 5ran9ueza e candura de uma natureza 3oa e terna8 ima/inou o 9ue estaria 5azendo sua me en9uanto ele se ac@a7a nas mar/ens do :eno. & Eu a 7eIo & dizia ele & rezando sua orao da noite antes de se deitar. .om certeza no se es9uece de mim e de7e se per/untar: M+nde andaria meu po3re #rosperSM & ?as se ela /an@ou no Io/o al/uns soldos 6 sua 7izin@a & a sua me tal7ez8 acrescentou ele8 dando uma coto7elada em [il@elm & ela 7ai coloc4&los no pote /rande de 3arro 7ermel@o onde aIunta a 9uantia necess4ria para a a9uisio de cerca de cento e cin9Wenta mil metros de terra8 encra7ados na sua pe9uena 5azenda de $esc@e7ille. Esses metros 9uadrados 7alem 3em cerca de sessenta mil 5rancos. A9uilo 9ue terra 3oaR A@R "e um dia eu os ti7esse8 7i7eria toda min@a 7ida em $esc@e7ille8 sem outra am3ioR Ouantas 7ezes meu pai deseIou esse pedao8 e o 3onito riac@o 9ue serpenteia na9uele prado. En5im8 morreu sem o ter podido comprar. Brin9uei nele tantas 7ezesR & "r. [al@en5er8 ser4 9ue o sen@or tam3m te7e o seu M@oc erat in 7otisMSV & per/untou [il@elm. & "im8 sen@or8 sim8 I4 esta7a tudo realizado8 mas a/ora... & o @omem calou&se sem terminar a 5rase. & Eu & disse o @ospedeiro8 cuIo rosto enru3escera le7emente & comprei no ano passado uma c@4cara 9ue deseIei durante dez anos. Eles con7ersaram assim como /ente cuIa ln/ua 5ora solta pelo 7in@o e sentiram uns pelos outros essa cordialidade passa/eira8 da 9ual somos pouco a7aros em 7ia/em. Ouando 5oram se deitar8 [il@elm o5ereceu sua cama ao ne/ociante. V Isso esta7a nos meus deseIosS GE
& #ode aceit4&la sem cerimHnia & disse ele. & Dormirei com #rosper8 pois no ser4 essa a primeira nem a 1ltima 7ez. + "en@or o nosso decano8 e de7emos @onrar a 7el@ice. & +raR & disse o estalaIadeiro & a cama de min@a mul@er tem 74rios colc@AesL podem pHr um no c@o. Dito isso8 ele 5oi 5ec@ar a Ianela8 5azendo o rudo ade9uado 69uela sensata pro7id-ncia. & Eu aceito8 & disse o ne/ociante. & .on5esso & acrescentou ele 3aixando a 7oz e 5itando os dois ami/os & 9ue eu deseIa7a isso. ?eus 3ar9ueiros me parecem suspeitos. #or esta noite8 no me a3orrece nada estar em compan@ia de dois 3ra7os e 3ons Io7ens8 de dois militares 5rancesesR Ten@o cem mil 5rancos em ouro e diamantes em min@a 7aliseR A a5etuosa reser7a com 9ue essa imprudente con5isso 5oi rece3ida pelos dois Io7ens8 tran9Wilizou o 3om alemo. + estalaIadeiro aIudou os 7iaIantes a desmanc@ar uma das camas. Depois de tudo arranIado8 ele l@es deseIou uma 3oa noite e 5oi se deitar. + ne/ociante e os dois rapazes /raceIaram so3re a natureza de seus tra7esseiros. #rosper pHs seu estoIo de instrumentos e o de [il@elm em3aixo do colc@o a 5im de o le7antar e su3stituir o tra7esseiro 9ue no tin@a8 no momento em 9ue8 por um excesso de prud-ncia8 [al@en5er coloca7a sua maleta na ca3eceira da cama. & Dormiremos os dois em cima de nossa 5ortunaL o sen@or so3re o seu ouro8 eu so3re meu estoIoR :esta sa3er se meus instrumentos me daro tanto ouro 9uanto o 9ue o sen@or ad9uiriu. & #ode esper4&lo & disse o ne/ociante. & + tra3al@o e a pro3idade 7encem tudo8 mas preciso ter paci-ncia. $o/o [al@en5er e [il@elm adormeceram. 2osse por9ue a cama era dura demais8 ou por9ue o extremo G) cansao causasse insHnia8 ou por uma 5atal disposio de esprito8 o 5ato 5oi 9ue #rosper ?a/nan 5icou acordado. "eus pensamentos tomaram insensi7elmente um mau camin@o. E ele pensou exclusi7amente nos cem mil 5rancos so3re os 9uais o ne/ociante dormia. #ara ele8 cem mil 5rancos era uma 5ortuna imensa ali8 ao seu alcance. .omeou por empre/4&los de mil modos di5erentes8 5azendo castelos no ar8 como todos nKs 5azemos com tanto /osto nos momentos 9ue precedem o nosso sono8 nessa @ora em 9ue as ima/ens nascem con5usas em nosso entendimento8 e na 9ual8 pelo sil-ncio da noite8 o pensamento ad9uire um poder m4/ico. Ele realiza7a os son@os de sua me8 compra7a o pedao de terra8 casa7a&se com certa sen@orita de Beau7ais8 6 9ual a desproporo de 5ortunas o impedia de pretender8 na9uele momento. .om essa 9uantia ele arranIaria para si uma 7ida de delcias8 e se 7ia 5eliz8 pai de 5amlia8 rico e considerado em sua pro7ncia e8 tal7ez8 at mesmo c@e/asse a ser o pre5eito de Beau7ais. "ua ca3ea se in5lamando8 ele 3uscou meios de trans5ormar suas 5icAes em realidade. #Hs um mpeto extraordin4rio em ar9uitetar um crime em teoria. En9uanto son@a7a com a morte do ne/ociante8 ele 7ia distintamente o ouro e os diamantes. Esta7a deslum3rado. + corao 3atia com 5ora. A deli3erao I4 era8 sem d17ida8 um crime. 2ascinado por a9uele monte de ouro8 em3ria/ou&se moralmente com ar/umentos assassinos. #er/untou&se a si mesmo se a9uele po3re alemo
tin@a realmente necessidade de 7i7er8 e ima/inou 9ue ele nunca existira. Em resumo8 ele conce3eu o crime de modo a asse/urar&se a impunidade. A outra mar/em do :eno esta7a ocupada pelos austracos. #or 3aixo das Ianelas @a7ia uma 3arca e al/uns 3ar9ueiros. Ele podia cortar o pescoo da9uele @omem8 atir4&lo ao :eno8 5u/ir pela Ianela com G( a 7alise8 o5erecer ouro aos marin@eiros e passar para o lado da Austria. .@e/ou ao ponto de calcular o /rau de @a3ilidade 9ue sou3era ad9uirir usando seus instrumentos de cirur/ia8 a 5im de cortar a ca3ea de sua 7tima8 sem 9ue ela desse um sK /rito... %esse instante o "r. Taille5er enxu/ou sua testa e 3e3eu mais um copo de 4/ua. #rosper le7antou&se lentamente8 sem 5azer o menor rudo. .erto de no ter despertado nin/um8 ele se 7estiu e 5oi para a sala comum. Depois8 com essa 5atal inteli/-ncia 9ue o @omem su3itamente desco3re em si8 com esse poder de tato e de 7ontade 9ue nunca 5alta aos prisioneiros e aos criminosos na realizao de seus planos8 ele desapara5usou as 3arras de 5erro8 tirou&as de seus 3uracos8 sem 5azer o menor rudo8 colocou& as Iunto 6 parede e a3riu as Ianelas8 5azendo 5ora nos /onzos a 5im de l@es anular os ran/idos. A lua8 tendo proIetado sua p4lida claridade so3re esta cena8 permitiu&l@e 7er8 ainda 9ue 5racamente8 os o3Ietos no 9uarto onde dormiam [il@elm e [al@en5er. %esse instante8 ele parou um momento. As palpitaAes de seu corao eram to 5ortes8 to pro5undas8 to sonoras 9ue ele 5icou como 9ue apa7orado. Alm disso8 temia no poder a/ir com san/ue 5rio. "uas mos tremiam e a planta de seus ps parecia&l@e como 9ue apoiada so3re car7Aes ardentes. ?as a execuo de seu plano era acompan@ada de tanta 5elicidade8 9ue ele 7ia uma espcie de predestinao nesse 5a7or da sorte. A3riu a Ianela8 7oltou ao 9uarto8 pe/ou seu estoIo e procurou o instrumento mais con7eniente para cometer seu crime. & Ouando c@e/uei Iunto ao leito8 & disse&me ele & eu me encomendei ma9uinalmente a Deus. %o momento em 9ue er/uia o 3rao reunindo todas as suas 5oras8 ele ou7iu dentro de si como 9ue uma 7oz e Iul/ou a7istar uma luz. Atirou o instrumento EC so3re o leito8 escapuliu para a outra sala e 5oi postar&se 6 Ianela. A8 ento8 conce3eu o mais pro5undo @orror a si mesmo. E sentindo8 no o3stante8 a 5ra9ueza de sua 7irtude e receando sucum3ir 6 5ascinao 9ue o domina7a8 ele saltou rapidamente para a estrada e passeou ao lon/o do :eno8 5azendo8 por assim dizer8 sentinela diante da estala/em. 2re9Wentemente8 c@e/a7a at Andernac@ em seu passeio precipitado. ?uitas 7ezes tam3m seus passos o conduziam 6 encosta pela 9ual descera para c@e/ar 6 estala/em. ?as o sil-ncio da noite era to pro5undo e ele se 5ia7a tanto nos ces de /uarda 9ue8 por 7ezes8 perdia de 7ista a Ianela 9ue tin@a deixado a3erta. "eu intuito era cansar&se e c@amar o sono. %o entanto8 andando assim de3aixo de um cu sem nu7ens8 admirando as 3elas estrelas8 tocado tal7ez pelo ar puro da noite e pelo melancKlico sussurro das 7a/as8 #rosper caiu num de7aneio 9ue o 5ez /radati7amente 7oltar a idias ss de moral. A razo aca3ou por dissipar completamente seu 5renesi momentXneo.
+s ensinamentos de sua educao8 os preceitos reli/iosos e8 so3retudo & disse&me ele & as ima/ens da 7ida modesta 9ue at ento le7ara so3 o teto paterno8 triun5aram so3re seus maus pensamentos. Ouando 7oltou8 apKs uma lon/a meditao8 ao encanto da 9ual se a3andonara 6s mar/ens do :eno8 permanecendo de3ruado so3re uma /rande pedra8 teria podido & disse&me ele & no dormir8 mas 7elar perto de um mil@o em ouro. %o momento em 9ue sua pro3idade se reer/ueu alti7a e 5orte desse com3ate8 ele se pHs de Ioel@os8 num sentimento de -xtase e 5elicidade8 a/radeceu a Deus8 sentiu&se 5eliz8 le7e8 contente como 9uando 5izera sua primeira comun@o8 di/no dos anIos8 por9ue passara o dia sem pecar nem por pala7ras8 nem por o3ras8 nem por pensamentos. 0oltou 6 estala/em8 5ec@ou a Ianela sem receio E' de 5azer rudo e deitou&se imediatamente. "eu cansao moral e 5sico o entre/ou sem de5esa ao sono. #ouco tempo depois de ter encostado a ca3ea no colc@o8 ele caiu na9uela sonol-ncia inicial e 5ant4stica 9ue sempre precede o sono pro5undo. Ento os sentidos se entorpecem e a 7ida 7ai se a3olindo /radualmente8 os pensamentos so incompletos e os 1ltimos estremecimentos de nossos sentidos simulam uma espcie de son@o. & .omo o ar est4 pesado & disse #rosper consi/o. & Ten@o a sensao de estar respirando um 7apor 1mido... Ele explicou 7a/amente para si mesmo esse e5eito da atmos5era pela di5erena 9ue de7ia existir entre a temperatura do 9uarto e o ar puro do campo. %o tardou 9ue ou7isse um rudo periKdico muito parecido com o 9ue 5azem as /otas de 4/ua caindo de uma 3ica. +3edecendo a um terror pXnico8 9uis le7antar&se8 c@amar o estalaIadeiro8 acordar o ne/ociante ou [il@elm. ?as8 para sua in5elicidade8 ele lem3rou&se do relK/io de madeira8 e acreditando recon@ecer o mo7imento do p-ndulo8 adormeceu nessa indistinta e con5usa percepo. "e/unda Interrupo Ouer 4/ua8 sen@or Taille5erS & disse o dono da casa8 7endo o 3an9ueiro pe/ar ma9uinalmente a /arra5a. Esta7a 7azia. EU +s dois crimes + "r. Hermann continuou sua narrati7a8 depois de 3re7e pausa ocasionada pela o3ser7ao do 3an9ueiro. & %o dia se/uinte8 cedo & disse ele & #rosper ?a/nan 5oi acordado por um 5orte rudo. #arecia&l@e ter ou7ido /ritos a/udos8 o 9ue o 5ez sentir esse 7iolento so3ressalto ner7oso 9ue experimentamos 9uando8 ao acordarmos8 terminamos uma sensao penosa iniciada durante o sono. Acontece conosco um 5ato 5isiolK/ico8 uma emoo 5orte 9ue ainda no 5oi su5icientemente o3ser7ada8 em3ora conten@a 5enHmenos curiosos para a ci-ncia. Essa terr7el an/1stia8 tal7ez pro7ocada pela reunio s13ita de nossas duas naturezas8 9uase sempre separadas durante o sono8 /eralmente r4pida. ?as ela persistiu no po3re aIudante8 aumentou de repente8 causando&l@e o mais terr7el @orror8 9uando perce3eu um mar de san/ue entre seu colc@o e a cama de [al@en5er. A ca3ea do po3re alemo Iazia no c@o8 tendo o corpo 5icado no
leito. Todo o san/ue Iorrara pelo pescoo. E 7endo os ol@os ainda a3ertos e 5ixos8 7endo o san/ue 9ue manc@ara os lenKis de sua cama e mesmo suas mos8 ao recon@ecer seu instrumento de cirur/ia so3re o leito8 #rosper ?a/nan desmaiou e caiu no san/ue de [al@en5er. & Y4 era & disse&me ele & um casti/o pelos meus pensamentos. Ouando 7oltou a si8 ele se 7iu na sala comum. Ac@a7a&se sentado numa cadeira8 cercado de soldados 5ranceses e diante de uma multido curiosa e atenta. +l@ou estupidamente para um o5icial repu3licano8 ocupado em col@er os depoimentos de al/umas testemun@as e a redi/ir sem d17ida um auto EB de corpo&de&delito. Ele recon@eceu o estalaIadeiro e sua mul@er8 os dois marin@eiros e a criada da estala/em. + instrumento de cirur/ia 9ue o assassino usara... Terceira Interrupo A9ui o "r. Taille5er tossiu8 tirou seu leno do 3olso para assoar&se e enxu/ou a testa. Esses mo7imentos8 3astante naturais8 sK 5oram notados por mim. Todos os con7i7as tin@am os ol@os postos no "r. Hermann8 e o escuta7am com uma espcie de a7idez. + 5ornecedor apoiou seu coto7elo na mesa8 pHs a ca3ea na mo direita e ol@ou 5ixamente para o "r. Hermann. Desde ento8 ele no deixou mais escapar nen@um sinal de emoo ou interesse8 mas sua 5isionomia 5icou pensati7a e terrosa8 como no momento em 9ue esti7era 3rincando com a rol@a de 7idro da /arra5a. .ontinuao + instrumento de cirur/ia usado pelo assassino esta7a em cima da mesa com o estoIo8 a carteira e os papis de #rosper. +s ol@ares da assem3lia diri/iam&se alternadamente para a9uelas peas e para o rapaz8 9ue lem3ra7a um a/onizante cuIos ol@os extintos pareciam nada 7er. + rumor con5uso 9ue se 5azia ou7ir do lado de 5ora indica7a a presena da multido 9ue se ac@a7a em 5rente 6 estala/em8 atrada pela notcia do crime8 e pelo deseIo de con@ecer o assassino. +s passos das ED sentinelas colocadas so3 as Ianelas da sala e o rudo de seus 5uzis domina7am o murm1rio das con7ersaAes populares. ?as a estala/em esta7a 5ec@ada8 e o p4tio deserto e silencioso. Incapaz de sustentar o ol@ar do o5icial 9ue redi/ia o auto de corpo&de&delito8 #rosper ?a/nan sentindo sua mo apertada pela de um @omem8 le7antou os ol@os para 7er 9uem era seu protetor no meio da9uela multido inimi/a. :econ@eceu8 pelo uni5orme8 o cirur/io&mor da meia 3ri/ada acantonada em Andernac@. + ol@ar desse @omem era to penetrante e to se7ero8 9ue o po3re rapaz se arrepiou todo e deixou pender a ca3ea so3re o espaldar da cadeira. Um soldado 5ez&l@e respirar 7ina/re e ele reco3rou lo/o os sentidos. Entretanto8 seus ol@os des7airados pareciam de tal modo pri7ados de 7ida e inteli/-ncia8 9ue o cirur/io disse ao o5icial8 depois de ter tomado o pulso de #rosper: & .apito8 imposs7el interro/ar esse @omem a/ora. & #ois 3em8 le7e&o8 ento & respondeu o capito8 interrompendo o cirur/io e diri/indo&se a um soldado 9ue se ac@a7a atr4s do aIudante. & ?aldito co7arde8 disse&l@e o soldado em 7oz 3aixa. #rocure ao menos andar 5irme diante desses alemes marotos8 a 5im de sal7ar a @onra da :ep13lica. Essa interpelao despertou #rosper ?a/nan8 9ue se le7antou e deu al/uns passos. ?as 9uando a porta se a3riu8 ele respirou o ar exterior e 7iu a multido entrar8 suas 5oras o a3andonaram8 seus Ioel@os se do3raram e cam3aleou.
& .om mil dia3osR Esse carniceiro merece duas 7ezes a morteR Ande de uma 7ezR & disseram dois soldados 9ue o esta7am amparando com os 3raos para o sustentar. & +@R + co7ardeR + co7ardeR ; eleR ; eleR... Ei&loR EF Ei&loR & Essas pala7ras pareciam&l@e ditas por uma 1nica 7oz. A 7oz tumultuada da multido 9ue o acompan@a7a8 inIuriando&o e 9ue aumenta7a a cada passo. Durante o traIeto da estala/em at a priso8 a al/azarra 9ue o po7o e os soldados 5aziam8 o murm1rio dos di7ersos colK9uios8 a 7ista do cu e a 5rescura do ar8 o aspecto de Andernac@ e o estremecimento das 4/uas do :eno8 tudo isso c@e/a7a 6 alma do cirur/io&aIudante como sensaAes 7a/as8 con5usas8 em3aadas como todas as 9ue ele tin@a experimentado desde 9ue acordara. #or momentos8 disse&me8 Iul/a7a no mais existir. & Eu esta7a na cadeia8 nessa poca8 disse o "r. Hermann8 interrompendo&se. & Entusiasta como todos somos aos 7inte anos8 eu 9uis de5ender min@a terra e comanda7a uma compan@ia li7re 9ue tin@a or/anizado nos arredores de Andernac@. Al/uns dias antes8 eu cara durante a noite no meio de um destacamento 5ranc-s composto de oitocentos @omens. ?eus espiAes tin@am&me 7endido. 2ui atirado 6 priso de Andernac@. .uida7a&se ento de me 5uzilar8 para dar um exemplo 9ue intimidasse o pas. +s 5ranceses 5ala7am tam3m em repres4lias8 mas a carni5icina 9ue os repu3licanos 9ueriam 7in/ar em mim no 5ora cometida no Eleitorado. ?eu pai tin@a conse/uido uma prorro/ao de tr-s dias a 5im de poder pedir o meu indulto ao /eneral Au/ereau8 9ue o concedeu. Eu 7i ento #rosper ?a/nan no momento em 9ue entrou na priso de Andernac@. Ele inspirou&me a mais pro5unda piedade. Em3ora esti7esse p4lido8 des5eito8 manc@ado de san/ue8 sua 5isionomia tin@a uma expresso de candura e inoc-ncia 9ue me impressionou 7i7amente. #ara mim8 a Aleman@a respira7a em seus lon/os ca3elos louros EG e em seus ol@os azuis. 0erdadeira ima/em de meu pas des5alecido8 ele me pareceu mais uma 7tima do 9ue um assassino. %o momento em 9ue passou de3aixo de min@a Ianela8 atirou8 no sei para onde8 o sorriso amar/o e melancKlico de um alienado 9ue torna a encontrar um 5u/iti7o lampeIo de razo. Esse sorriso no era certamente o de um assassino. Ouando 7i o carcereiro8 per/untei&l@e so3re seu no7o prisioneiro. & %o 5alou depois 9ue entrou no cala3ouo. "entou&se8 pHs a ca3ea entre as mos8 dorme ou 5ica re5letindo so3re o seu caso. Ao 9ue dizem os 5ranceses8 ele pa/ar4 suas contas aman@ cedo e ser4 5uzilado nestas 7inte e 9uatro @oras. T noite8 5i9uei em3aixo da Ianela do prisioneiro nos r4pidos instantes 9ue me eram concedidos para dar um passeio no p4tio da priso. .on7ersamos8 e ele contou&me in/enuamente sua a7entura8 respondendo com exatido min@as di5erentes per/untas. Depois dessa primeira con7ersa8 no ti7e mais d17idas 9uanto a sua inoc-ncia. #edi e conse/ui o 5a7or de 5icar al/umas @oras perto dele. 0i&o8 ento8 por 74rias 7ezes8 e o po3re rapazin@o me re7elou todos os seus pensamentos. Yul/a7a&se8 ao mesmo tempo8 inocente e culpado. $em3rando&se da @orr7el tentao a 9ue ti7era a 5ora de resistir8 ele recea7a ter cometido durante o sono8 num acesso de sonam3ulismo8 o crime 9ue8 acordado8 planeIara. & ?as... e seu compan@eiroS & per/untei eu. & +@R & exclamou ele com -n5ase & [il@elm incapaz...
%o terminou o 9ue ia dizer. Diante dessas pala7ras calorosas8 c@eias de Iu7entude e 7irtude8 eu l@e apertei a mo. & Ao acordar & continuou ele & certamente 5icou apa7orado8 perdeu a ca3ea e 5u/iu. & "em acord4&loS & disse&l@e eu. & ?as ento EE sua de5esa ser4 54cil8 pois a 7alise de [al@en5er no ter4 sido rou3ada. De repente desandou a c@orar. & +@R sim8 eu sou inocente & exclamou ele. & %o matei. $em3ro&me dos meus son@os. Eu esta7a 3rincando com meus camaradas do col/io. E no poderia ter cortado a ca3ea da9uele ne/ociante en9uanto son@a7a 9ue esta7a correndo. Depois8 apesar dos lampeIos de esperana 9ue por 7ezes l@e da7am um pouco de calma8 ele se sentia esma/ado por certo remorso. "em d17ida tin@a c@e/ado a le7antar o 3rao para cortar a ca3ea do ne/ociante... 2azia&se Iustia8 e no se ac@a7a com o corao puro depois de ter cometido o crime em pensamento. & E8 no entanto8 eu sou 3omR & exclamou ele. & + min@a po3re meR Tal7ez neste momento ela esteIa Io/ando ale/remente com suas 7izin@as em sua pe9uena sala atapetada. "e ela sou3esse 9ue eu apenas er/ui a mo para assassinar um @omem... +@R ela morreriaR E eu estou preso8 acusado de ter cometido um crime. "e no matei esse @omem8 eu certamente matarei min@a me. Ao dizer essas pala7ras8 ele no c@orou8 mas animado por esse 5renesi r4pido e 7i7o8 3em 5amiliar aos picardos8 se atirou contra a parede8 e se eu no o ti7esse contido8 ele se teria arre3entado a ca3ea. & Espere seu Iul/amento8 & disse&l@e eu. & 0oc- ser4 a3sol7ido8 7oc- inocente. E sua me... & ?in@a me & exclamou ele com 51ria. & Ela sa3er4 de min@a acusao antes de tudo. %as cidadezin@as as coisas se passam assim8 e a po3re criatura morrer4 de tristeza. De resto8 no sou inocente. Ouer sa3er toda a 7erdadeS "into 9ue perdi a 7ir/indade de min@a consci-ncia. ApKs essas terr7eis pala7ras8 ele se sentou8 cruzou E) os 3raos so3re o peito8 inclinou a ca3ea e ol@ou para o c@o com ar som3rio. %esse instante8 o carcereiro 7eio c@amar&me para 7oltar a meu 9uarto. A3orrecido por a3andonar o compan@eiro num instante em 9ue seu desXnimo me parecia to pro5undo8 eu o apertei em meus 3raos com amizade. & Ten@a paci-ncia8 & disse&l@e eu & tal7ez tudo aca3e 3em. "e a 7oz de um @omem @onesto pode 5azer calar suas d17idas8 sai3a 9ue eu l@e 9uero 3em. Aceite min@a amizade e durma so3re meu corao se no esti7er em paz com o seu. %o dia se/uinte8 um soldado e 9uatro 5uzileiros 7ieram 3uscar o cirur/io& aIudante por 7olta das no7e @oras. +u7indo o rudo 9ue os soldados 5aziam8 pus& me 6 Ianela. Ouando o rapaz atra7essou o p4tio8 ele lanou os ol@os so3re mim. Yamais me es9uecerei desse ol@ar c@eio de pensamentos8 de pressentimentos8 de resi/nao e de no sei 9ue encanto triste e melancKlico. Dir&se&ia uma espcie de silencioso e inteli/7el testamento8 pelo 9ual um @omem le/a7a sua 7ida perdida a seu 1ltimo ami/o. A noite @a7ia sido sem d17ida 3em dura8 3em solit4ria para ele. ?as tal7ez a palidez impressa em seu rosto re7elasse um estoicismo 3aseado numa no7a estima por si mesmo. Tal7ez & 9uem sa3eS & teria ele se puri5icado por um remorso8 acreditando la7ar sua 5alta com a dor e a 7er/on@a. Anda7a com passo 5irme8 e I4 pela man@
5izera la7ar as manc@as de san/ue com 9ue in7oluntariamente se suIara. & ?in@as mos com certeza se enc@arcaram8 en9uanto eu dormia8 pois meu sono sempre muito a/itado & @a7ia ele me dito na 7spera8 com um @orr7el tom de desespero. "ou3e 9ue ia comparecer diante de um consel@o de /uerra. A di7iso de7eria8 dali a dois dias8 se/uir adiante8 e o c@e5e da meia 3ri/ada no 9ueria deixar E( Andernac@ sem 5azer Iustia no prKprio lu/ar onde o crime @a7ia sido cometido. 2i9uei numa an/1stia mortal durante o tempo 9ue durou o consel@o. 2inalmente8 cerca de meio&dia8 #rosper ?a/nan 5oi de7ol7ido 6 priso. Eu 5azia nesse momento meu costumeiro passeio8 e8 9uando me 7iu8 ele se atirou em meus 3raos. & #erdidoR & disse&me ele. & Estou perdido8 sem esperanaR A9ui8 para todos8 eu serei pois um assassino. Er/ueu a ca3ea com alti7ez. & Essa inIustia de7ol7eu&me todo inteiro 6 min@a inoc-ncia. ?in@a 7ida teria sempre sido atormentada e min@a morte ser4 impec47el. ?as @a7er4 um 5uturoS Todo o sculo dezoito esta7a na9uela s13ita interro/ao. Ele 5icou pensati7o. & En5im & disse&l@e eu & como respondeuS Oue l@e per/untaramS "er4 9ue 7oc- l@es contou simplesmente os acontecimentos tal 9ual 5ez comi/oS Ele ol@ou&me 5ixamente um momento e8 depois de uma pausa assustadora8 respondeu com 7i7acidade 5e3ril: & Eles per/untaram primeiro: M& "aiu da estala/em durante a noiteSM Eu disse: M& "im.M M& #or ondeSM M& #ela IanelaML respondi corando. M& Ento 5oi 7oc- 9uem a a3riuSM M& "imML disse eu. M& 0oc- 5ez isso com toda a precauo8 pois o estalaIadeiro no ou7iu nadaM. 2i9uei estupe5acto. +s marin@eiros contaram 9ue me @a7iam 7isto passeando8 indo ora para Andernac@8 ora para a 5loresta. Eu 5iz & disseram eles & 74rias 7ia/ens. De7o ter enterrado o ouro e os diamantes. En5im8 no tornaram a encontrar a 7alise. Alm disso8 eu esta7a sempre em luta com meus remorsos. Ouando eu 9ueria 5alar: M0oc- 9uis cometer o crimeRM /rita7a&me uma 7oz implac47el. Tudo )C era contra mim8 mesmo euR #er/untaram&me so3re meu compan@eiro8 e eu o de5endi completamente. Ento eles me disseram: M%Ks de7emos ac@ar o culpado entre 7oc-8 seu compan@eiro8 o estalaIadeiro e sua mul@er. Esta man@ todas as Ianelas e portas 5oram encontradas 5ec@adasM. & A esta o3ser7ao & continuou ele & eu 5i9uei sem 7oz8 sem 5oras8 sem alma. Tendo mais con5iana em meu ami/o do 9ue em mim mesmo8 eu no o podia acusar. .ompreendi 9ue nKs dois ramos considerados i/ualmente c1mplices do assassinato8 e 9ue eu passa7a por ser o mais desastrado. Ouis explicar o crime pelo sonam3ulismo e Iusti5icar meu ami/o. Ento eu di7a/uei. Estou perdido. $i min@a condenao nos ol@os de meus Iuzes. Eles deixaram escapar sorrisos de incredulidade. Est4 tudo aca3ado. %ada de incertezas. Aman@ eu serei 5uzilado. %o penso em mim & continuou dizendo & mas em min@a po3re meR Dete7e&se8 ol@ou para o cu e no derramou l4/rimas. "eus ol@os esta7am secos e 5ortemente alterados. & 2redericoR Ouarta interrupo A@R o outro se c@ama7a 2rederico... 2redericoR "im8 3em esse o seu nome & exclamou o "r. Hermann8 lem3rando&se com ar triun5ante. A 7izin@a empurrou meu p
e 5ez&me um sinal me mostrando o "r. Taille5er. + anti/o ne/ociante tin@a ne/li/entemente deixado sua mo cair so3re os ol@os8 mas8 entre os inter7alos de seus dedos8 Iul/amos 7er uma c@ama som3ria em seu ol@ar. & + 9u-S & disse&me ela ao ou7ido. & E se ele se c@amasse 2redericoS )' Eu respondi8 piscando os ol@os como para l@e dizer: M"il-ncioMR .ontinuao + "r. Hermann continuou assim: & 2rederico & exclamou o cirur/io&aIudante & a3andonou&me co7ardemente. Ter4 tido medo. Tal7ez ten@a&se escondido na prKpria estala/em8 pois nossos dois ca7alos8 pela man@8 ainda esta7am no p4tio. & Oue mistrio incompreens7el & acrescentou ele apKs um momento de sil-ncio. & + sonam3ulismo8 o sonam3ulismoR Eu sK ti7e um 1nico acesso em min@a 7ida e isso mesmo aos seis anos de idade. "er4 9ue sairei da9ui8 & continuou ele8 3atendo com o p no c@o & le7ando tudo o 9ue @4 de amizade no mundoS ?orrerei duas 7ezes du7idando de uma 5raternidade comeada na idade de cinco anos e continuada no col/io e nas escolasS +nde est4 2redericoS Ele c@orou. Damos mais importXncia a um sentimento do 9ue 6 7ida. & Entremos & disse ele. #re5iro estar no meu c4rcere. %o 9uero 9ue me 7eIam c@orando. En5rentarei coraIosamente a morte8 mas no sei 5azer @erosmo 5ora de tempo e con5esso 9ue lamento min@a 7ida Io7em e 3ela. %esta noite no dormi nada. $em3rei&me de cenas de min@a in5Xncia8 e me 7i correndo por estes campos8 cuIa lem3rana tal7ez ten@a causado min@a perdio. Eu tin@a um 5uturo8 & disse&me8 interrompendo&se. & Doze @omens8 um se/undo&tenente 9ue /ritar4: & #reparar armas8 apontar8 5o/oR Um ru5ar de tam3ores8 e... a in5XmiaR Eis o meu 5uturo a/ora. +@R de7e @a7er um Deus8 do contr4rio tudo isso seria por demais est1pido. )U Assim dizendo8 ele 7eio a mim e a3raou&me apertando&me com 5ora. & A@R o sen@or o 1ltimo @omem com o 9ual eu pude expandir min@a alma. + sen@or 7ai ser li7reR + sen@or 7er4 sua meR %o sei se rico ou po3re8 mas isso pouco importaR + sen@or o mundo inteiro para mim. Eles no se 3atero sempre8 esses a. #ois 3em8 9uando se 5izer a paz8 74 a Beau7ais. "e min@a me ti7er so3re7i7ido 6 notcia 5atal de min@a morte8 o sen@or a encontrar4. Di/a&l@e estas pala7ras consoladoras: MEle era inocenteRM Ela o acreditar4 & continuou. & 0ou escre7er& l@e8 mas o sen@or l@e le7ar4 meu derradeiro ol@ar8 e l@e dir4 9ue 5oi o 1ltimo @omem 9ue a3racei na 7ida. A@R .omo ela 7ai l@e 9uerer 3em8 a po3re mul@erR + sen@or 9ue ter4 sido meu 1ltimo ami/oR A9ui8 & disse ele8 apKs um momento de sil-ncio durante o 9ual 5icou aca3run@ado so3 o peso de suas lem3ranas & c@e5es e soldados so&me descon@ecidos e eu l@es causo @orror. "em o sen@or8 min@a inoc-ncia seria um se/redo entre o cu e eu. Yurei&l@e 9ue cumpriria santamente suas 1ltimas 7ontades. ?in@as pala7ras e min@a e5uso de corao como7eram&no. #ouco tempo depois8 os soldados 7ieram 3usc4&lo no7amente e o le7aram ao consel@o de /uerra. Esta7a condenadoR I/noro as 5ormalidades 9ue de7eriam se/uir&se ou acompan@ar esse primeiro Iul/amento. %o sei se o Io7em cirur/io de5endeu sua 7ida com todas as re/ras8 mas o 5ato 9ue ele espera7a marc@ar para o suplcio na man@ se/uinte8 3em cedo8 e passou a noite toda escre7endo
para sua me. & Estaremos li7res os dois & disse ele sorrindo8 9uando o 5ui 7er8 no dia se/uinte. & "ou3e 9ue o /eneral assinou o seu indulto. 2i9uei silencioso e ol@ei&o para /ra7ar 3em seus )B traos em min@a memKria. Ento8 ele tomou uma expresso de des/osto e disse: & 2ui tristemente co7ardeR #edi durante toda a noite perdo a essas paredes. & E mostra7a&me os muros de seu cala3ouo. & "im8 sim8 eu urrei de desespero8 re7oltei&me8 so5ri as mais terr7eis a/onias morais. Eu esta7a sKR A/ora penso no 9ue os outros 7o dizer. A cora/em um @43ito a ad9uirir. De7o ir para a morte com dec-ncia. #or isso... As duas Iustias +@R no termine8 exclamou a Io7em 9ue pedira a @istKria e 9ue interrompera 3ruscamente o nurem3er/u-s. & Ouero 5icar na d17ida e acreditar 9ue ele 5oi sal7o. "e sou3esse @oIe 9ue ele 5oi 5uzilado8 eu no dormiria esta noite. Aman@ me contar4 o resto. $e7antamo&nos da mesa. Ao aceitar o 3rao do "r. Hermann8 min@a 7izin@a disse&l@e: & 2oi 5uzilado8 noS & "im. Eu 5ui testemun@a da execuo. & .omo pHde o sen@or... & Ele assim o deseIou8 sen@ora. H4 al/o de terr7el em se/uir o enterro de um @omem 7i7o8 de um @omem a 9uem se 9uer 3em8 de um inocenteR Esse po3re rapaz no cessou de me ol@ar. Dir&se&ia 9ue sK 7i7ia de mim. Ele 9ueria8 dizia 9ue eu le7asse seu 1ltimo suspiro a sua me. & E entoS + sen@or 7iu&aS & #or ocasio da paz de Amiens8 7im 6 2rana para le7ar 6 me dele estas 3elas pala7ras: & Ele era inocente. Eu empreendi reli/iosamente essa pere/rinao. ?as a sen@ora ?a/nan morrera de um de5in@amento pro/ressi7o e lento. %o 5oi sem uma emoo )D pro5unda 9ue eu 9ueimei a carta da 9ual era portador. 0oc-s zom3aro tal7ez de min@a exaltao /ermXnica8 mas eu 7i um drama de su3lime melancolia no eterno se/redo 9ue iria sepultar esses adeuses atirados entre dois t1mulos8 i/norados de toda a criao8 como um /rito er/uido no meio do deserto pelo 7iaIante surpreendido por um leo. & E se o pusessem 5ace a 5ace com um dos @omens 9ue esto neste salo8 dizendo& l@e: MEis o assassinoRM Isso no seria outro dramaS & per/untei&l@e eu8 interrompendo&o. & Oue 5aria o sen@orS + "r. Hermann 5oi 3uscar o c@apu e saiu. & 0oc- est4 a/indo como um rapazin@o e muito le7ianamente & disse&me a 7izin@a. & :epare Taille5erR 0eIaR "entado na poltrona8 ali8 no canto da c@amin8 a sen@orita 2annZ o5erece&l@e uma xcara de ca5. Ele sorri. "er4 9ue um assassino8 para 9uem o relato dessa a7entura de7eria ter sido um suplcio8 poderia mostrar tanta calmaS %o tem ele um ar 7erdadeiramente patriarcalS & "im8 mas 74 per/untar&l@e se ele tomou parte na /uerra da Aleman@a & exclamei. & E por 9ue noS E com a9uela aud4cia 9ue raramente 5alta 6s mul@eres 9uando seu esprito est4 dominado pela curiosidade8 min@a 7izin@a diri/iu&se ao 5ornecedor. & + sen@or este7e na Aleman@aS & per/untou&l@e.
Taille5er 9uase deixou cair o pires. & Eu8 sen@oraS... noR %uncaR & Oue est4 dizendo8 Taille5er & replicou o 3an9ueiro8 interrompendo&o. & 0ocno esta7a metido no assunto dos 77eres na campan@a de [a/ranS & A@R "im & respondeu Taille5er & dessa 7ez esti7e l4. & 0oc- se en/ana8 um 3om suIeito & disse min@a 7izin@a8 7oltando para perto de mim. )F & #ois 3emR & exclamei. & Antes do 5im da noite caarei o matador 5ora do lodo onde se anin@a. #assa&se diariamente ante nossos ol@os um 5enHmeno moral de surpreendente pro5undidade8 apesar de demasiado simples para ser notado. "e numa sala dois @omens se encontram8 dos 9uais um ten@a o direito de desprezar ou odiar o outro8 seIa pelo con@ecimento de um 5ato ntimo e latente 9ue o manc@e8 seIa por um estado secreto ou mesmo para uma 7in/ana 5utura & esses dois @omens se adi7in@am e pressentem o a3ismo 9ue os separa ou os de7e separar. +3ser7am&se escondidos e preocupam&se com eles mesmos. "eus ol@ares8 seus /estos8 deixam transpirar uma inde5in7el emanao de seu pensamento. H4 um m entre eles. %o sei o 9ue mais 5ortemente atrai8 se a 7in/ana ou o crime8 o Kdio ou o insulto. "emel@antes ao padre 9ue no conse/uia consa/rar a @Kstia em presena do esprito mali/no8 am3os 5icam em3araados8 descon5iados: um polido8 o outro som3rio & no sei 9ualL um cora ou empalidece8 o outro treme. 2re9Wentemente o 7in/ador to co7arde 9uanto a 7tima. #oucas pessoas t-m a cora/em de 5azer um mal8 mesmo necess4rio8 e muitos @omens se calam ou perdoam por Kdio ao rudo ou por receio de um desenlace tr4/ico. Essa assimilao de nossas almas e sentimentos pro7oca7a uma luta misteriosa entre mim e o 5ornecedor. Depois da primeira interpelao 9ue eu l@e 5izera durante a narrati7a do "r. Hermann8 ele e7ita7a meus ol@ares. Tal7ez e7itasse tam3m o de todos os con7i7asR Ele con7ersa7a com a inexperiente 2annZ8 a 5il@a do 3an9ueiro8 experimentando8 sem d17ida como todos os criminosos8 a necessidade de se aproximar da inoc-ncia8 na esperana de encontrar repouso perto dela. ?as8 ainda 9ue de lon/e8 eu o escuta7a8 e meus ol@os penetrantes 5ascina7am os seus. Ouando ele acredita7a poder me espiar impunimente8 )G nossos ol@ares se encontra7am e suas p4lpe3ras se a3aixa7am lo/o. .ansado desse suplcio8 Taille5er apressou&se em 5az-&lo cessar pondo&se a Io/ar. Apostei no ad7ers4rio dele8 deseIando perder meu din@eiro. Esse deseIo 5oi satis5eito. "u3stitu o Io/ador 9ue saa e 7ime 5ace a 5ace com o assassino. & "en@or8 & disse&l@e eu8 en9uanto ele me da7a as cartas8 & 9uer ter a /entileza de desmarcarS Ele 5ez as 5ic@as passarem precipitadamente da es9uerda para a direita. ?in@a 7izin@a 7iera para perto de mim8 e eu l@e lancei um ol@ar si/ni5icati7o. & "eria o sen@or & per/untei8 diri/indo&me ao 5ornecedor8 & 2rederico Taille5er8 cuIa 5amlia con@eci muito em Beau7aisS & "im8 sen@or & respondeu ele. Deixou carem as cartas8 empalideceu8 pHs a ca3ea nas mos8 pediu a um de seus apostadores 9ue o su3stitusse8 e le7antou&se: & 2az muito calor a9ui & exclamou. & :eceio 9ue... & %o terminou. "eu rosto re7elou de repente so5rimentos terr7eis8 e ele saiu 3ruscamente. + dono da casa acompan@ou
Taille5er parecendo muito interessado na situao. ?in@a 7izin@a e eu trocamos ol@ares. ?as ac@ei no sei 9ue certo tom de amar/a tristeza espal@ada em seu rosto. & "er4 misericordioso o seu procedimentoS & per/untou ela8 le7ando&me para o 7o de uma Ianela no momento em 9ue deixei o Io/o depois de ter perdido. & Ouerer4 o sen@or ter o dom de ler em todos os coraAesS #or 9ue no deixar a Iustia @umana e a Iustia di7ina a/iremS "e escapamos de uma8 no podemos e7itar a outraR "ero assim to di/nos de in7eIa os pri7il/ios do presidente de um tri3unal do I1riS + sen@or 9uase 5ez o o5cio de carrasco. & Depois de ter participado e atiado min@a )E curiosidade8 a sen@ora 7em me dar a/ora liAes de moralSR & + sen@or 5ez&me re5letir & respondeu ela. & #ortanto8 paz aos celerados8 /uerra aos in5elizes8 e dei5i9uemos o ouroR ?as deixemos isso de lado & acrescentei8 rindo. & #eo&l@e 9ue ol@e a Io7em 9ue aca3a de entrar no salo. & E entoS & Eu a 7i @4 tr-s dias no 3aile do em3aixador de %4poles8 e 5i9uei loucamente apaixonado. #or 5a7or8 di/a&me seu nome. %in/um pode... & ; a sen@orita 0itorina Taille5erR Ti7e um deslum3ramento. & "ua madrasta8 & disse min@a 7izin@a8 cuIa 7oz eu mal ou7i & retirou&a @4 pouco do con7ento onde tardiamente terminou sua educao. Durante muito tempo seu pai no a 9uis recon@ecer. ; muito 3onita e muito rica. Essas pala7ras 5oram acompan@adas de um riso sardHnico. %esse momento8 ou7imos /ritos 7iolentos8 mas a3a5ados. #areciam sair de um apartamento 7izin@o e repercutiam 5racamente nos Iardins. & %o a 7oz do "r. Taille5erS & exclamei. #restamos ao 3arul@o toda nossa ateno8 en9uanto pa7orosos /emidos c@e/a7am aos nossos ou7idos. A mul@er do 3an9ueiro correu precipitadamente para nKs e 5ec@ou a Ianela. & E7itemos as cenas & disse&nos ela. & "e a sen@orita Taille5er ou7isse seu pai8 ela poderia ter um ata9ue de ner7osR + 3an9ueiro 7oltou ao salo8 procurou 0itorina e disse&l@e al/uma coisa em 7oz 3aixa. A Io7em deu um /rito8 precipitou&se imediatamente para a porta e desapareceu. Esse acontecimento pro7ocou /rande sensao. As partidas terminaram. .ada 9ual 5ez per/untas a seu 7izin@o. + murm1rio de 7ozes aumentou e 5ormaram&se /rupos. )) + "r. Taille5er ter&se&ia...S8 & per/untei. & "uicidadoS & exclamou min@a sardHnica 7izin@a. & + sen@or usaria ale/remente o seu luto8 noS & ?as a5inal o 9ue l@e aconteceuS & + po3re @omem & respondeu a dona da casa & so5re de uma doena cuIo nome no pude /uardar8 em3ora o sen@or Brousson me ten@a dito muitas 7ezesL e ele aca3a de ter um acesso. & Oual o /-nero dessa doenaS & per/untou su3itamente um Iuiz. & +@R Trata&se de um terr7el mal8 sen@or8 & respondeu ela. & +s mdicos no con@ecem nen@um remdio para ele. #arece 9ue os so5rimentos so atrozes. Um dia8 tendo esse in5eliz Taille5er tido um acesso durante sua estada em min@a 5azenda8 5ui 5orada a ir para a casa de uma de min@as 7izin@as para no o ou7ir. Da7a /ritos @orr7eis
e 9ueria se matar. "ua 5il@a 5oi o3ri/ada ento a amarr4&lo na cama e pHr&l@e uma camisa de 5ora. Esse po3re @omem diz ter na ca3ea uns 3ic@os @orr7eis 9ue l@e roem os miolos. "o pontadas8 /olpes de serra8 crispaAes @orr7eis no interior de cada ner7o. Tem tantas dores de ca3ea 9ue nem sentia as cauterizaAes 9ue l@e aplica7am anti/amente. ?as o sen@or Brousson8 9ue ele tomou como mdico8 proi3iu&as8 dizendo 9ue se trata7a de uma molstia ner7osa8 uma in5lamao dos ner7os8 para a 9ual eram indicados san/uessu/as no pescoo e Kpio na ca3ea. E5eti7amente os acessos se tornaram mais raros e sK apareciam uma 7ez por ano8 no 5im do outono. Ouando se resta3elece8 Taille5er repete sempre 9ue pre5eria so5rer o suplcio da roda a sentir semel@antes dores. & Ento8 parece 9ue ele so5re muitoR & disse um corretor. & +@R & continuou a dona da casa. & + ano passado ele 9uase morreu. Tin@a ido sozin@o a sua )( 5azenda para resol7er ne/Kcio ur/ente. #or 5alta de socorro tal7ez8 ele 5icou 7inte e duas @oras estirado no c@o todo r/ido e como 9ue morto. 2oi sal7o por um 3an@o muito 9uente. & "er4 ento uma espcie de ttanoS & per/untou o corretor. & %o sei & respondeu ela. & H4 cerca de trinta anos 9ue ele so5re dessa doena apan@ada no exrcito. Diz ele 9ue l@e entrou uma lasca de pau na ca3ea8 9uando caa num 3arco. ?as Brousson espera cur4&lo. #arece 9ue os in/leses desco3riram um meio de tratar sem peri/o dessa molstia com 4cido pr1ssico. %esse instante um /rito mais a/udo 9ue os outros repercutiu pela casa e /elou&nos de @orror. & Eis a o 9ue eu espera7a a toda @ora & disse a mul@er do 3an9ueiro. & Isso me 5azia dar um salto na cadeira e me irrita7a os ner7os. ?as... coisa extraordin4riaR esse po3re Taille5er8 em3ora so5rendo dores inauditas8 no corre nunca o risco de morrer. Ele come e 3e3e como sempre durante os momentos de tr/ua 9ue esse @orr7el suplcio l@e deixa... A natureza muito estran@aR Um mdico alemo disse&l@e 9ue se trata7a de uma espcie de /ota na ca3ea8 o 9ue est4 de acordo com a opinio de Brousson. Eu deixei o /rupo 9ue se 5ormara em 7olta da dona da casa e sa com a sen@orita Taille5er8 9ue um criado 7eio c@amar. & +@R meu DeusR meu DeusR & exclamou ela8 c@orando. & Oue pHde meu pai ter 5eito ao cu para merecer um so5rimento assimS... Uma pessoa to 3oaR Desci a escada com ela e8 9uando a aIuda7a a su3ir para o carro8 7i o pai dela cur7ado em dois. A sen@orita Taille5er tenta7a a3a5ar os /emidos do pai co3rindo&l@e a 3oca com um leno. In5elizmente8 (C ele me 7iu8 e seu rosto pareceu se crispar ainda mais. Um /rito con7ulso 5endeu os ares. Ele lanou&me um ol@ar terr7el e a carrua/em partiu. + .aso de .onsci-ncia Esse Iantar e essa noite exerceram uma cruel in5lu-ncia so3re min@a 7ida e so3re meus sentimentos. Eu ama7a a sen@orita Taille5er8 tal7ez precisamente por9ue a @onra e a delicadeza me proi3iam de me aliar a um assassino8 por 3om pai e 3om marido 9ue ele pudesse ser. Uma incr7el 5atalidade le7a7a&me a apresentar&me nas casas onde eu sa3ia 9ue poderia encontrar 0itorina. ?uitas 7ezes8 apKs ter dado a mim mesmo a pala7ra de @onra 9ue renunciaria de a 7er8 nessa mesma noite esta7a Iunto dela. ?eu prazer era imenso. ?eu le/timo amor8 c@eio de 9uimricos remorsos8 tin@a as cores de
uma paixo criminosa. Eu me despreza7a por cumprimentar Taille5er8 9uando8 por acaso8 ele esta7a com a 5il@a8 mas8 mesmo assim o sauda7aR En5im8 por in5elicidade8 0itorina no apenas uma linda criatura. Alm de tudo8 instruda8 c@eia de talentos e de /raas8 sem o menor pedantismo8 sem a mais le7e tinta de pretenso. .on7ersa com reser7as8 e seu car4ter tem atrati7os a 9ue nin/um pode resistir. Ela me ama8 ou pelo menos me 5az supor issoL tem um certo sorriso 9ue sK d4 para mim8 assim como um tom mei/o na 7oz 9ue sK meu. A@R ela me amaR mas adora o pai e me /a3a sua 3ondade8 sua doura8 suas delicadas 9ualidades. Esses elo/ios so como pun@aladas em meu coraoR Um dia 9uase me senti c1mplice do crime so3re o 9ual repousa a opul-ncia da 5amlia Taille5er: 9uis pedir a mo de 0itorina. Ento 5u/i8 7iaIei8 5ui (' 6 Aleman@a8 a Andernac@. ?as 7oltei. Encontrei 0itorina p4lida e ema/recida. "e eu a ti7esse 7isto com 3oa sa1de8 ale/re8 estaria sal7o. ?in@a paixo reacendeu& se com extraordin4ria 7iol-nciaR :eceando 9ue meus escr1pulos de/enerassem em monomania8 resol7i con7ocar uma espcie de consel@o supremo de consci-ncias puras8 a 5im de proIetar al/uma luz nesse pro3lema de moral e de 5iloso5ia. + caso complicara&se ainda mais depois de min@a 7olta. Antes de ontem8 reuni al/uns ami/os nos 9uais recon@eo @onestidade8 delicadeza e @onra. .on7idei dois in/leses8 um secret4rio de em3aixada e um puritanoL um anti/o ministro em toda sua maturidade polticaL al/uns Io7ens ainda so3 o encanto da inoc-nciaL um padre8 um ancio. Alm desses8 meu anti/o tutor8 @omem simples8 9ue deu conta de uma das mais 3elas tutelas Iamais re/istradas nos anais do #al4cioL um ad7o/ado8 um not4rio8 um IuizL en5im8 todas as opiniAes sociais8 todas as 7irtudes pr4ticas. .omeamos por um 3om Iantar8 uma 3oa prosa e muitas exclamaAes. Depois8 6 so3remesa8 eu l@es contei in/enuamente min@a @istKria e l@es pedi um 3om consel@o8 ocultando o nome de min@a noi7a. & Aconsel@em&me8 meus ami/os & disse&l@es eu8 ao terminar. & Discutam lon/amente a 9uesto como se se tratasse de um proIeto de lei. A urna e as 3olas l@es sero trazidas8 e 7oc-s 7otaro a 5a7or ou contra o meu casamento8 com todo o se/redo exi/ido por um escrutnio. De repente8 reinou um pro5undo sil-ncio. + not4rio recusou&se a 7otar. & H4 um contrato a 5azer & disse ele. + 7in@o reduzira meu anti/o tutor ao sil-ncio e era preciso 7i/i4&lo para 9ue no l@e acontecesse al/uma des/raa ao 7oltar para casa. & Eu compreendoR & exclamei. & %o me darem (U uma opinio me dizerem ener/icamente o 9ue de7o 5azer. Hou7e um mo7imento na assem3lia. Um propriet4rio 9ue tin@a assinado uma 5rase para os 5il@os e para o t1mulo do ,eneral 2oZ8 exclamou: MAssim como a 7irtude8 o crime tem suas /raduaAesM. & Ta/arelaR & disse&me o anti/o ministro em 7oz 3aixa8 cutucando&me com o coto7elo. & +nde est4 a di5iculdadeR & per/untou um du9ue8 cuIa 5ortuna consistia em 3ens con5iscados a protestantes re5rat4rios8 por ocasio da re7o/ao do ;dito de %antes. + ad7o/ado le7antou&se: & Em direito8 a MespcieM 9ue nos su3metida no consistiria na menor di5iculdade. + sen@or du9ue tem razo8 exclamou o representante da lei. %o @4 prescrioS
+nde estaramos todos nKs se 5osse necess4rio pes9uisar a ori/em das 5ortunasR Esse um caso de consci-ncia. "e o sen@or 9uiser a3solutamente le7ar a causa diante de um tri3unal8 le7e&a ao da penit-ncia. + @omem 9ue encarna7a o .Kdi/o calou&se8 sentou&se8 e 3e3eu um copo de c@ampan@a. + encarre/ado de explicar o E7an/el@o8 o 3om padre8 le7antou&se: & Deus nos 5ez 5r4/eis & disse ele com 5irmeza. & "e o sen@or ama a @erdeira do crime8 case&se com ela8 mas contente&se com os 3ens matrimoniais8 e d- os do pai aos po3res. & ?as & exclamou um da9ueles interlocutores impiedosos 5re9Wentemente encontrados em sociedade & o pai sK ter4 5eito um 3elo casamento por se ter enri9uecido. A menor de suas 5elicidades no 5oi sempre o 5ruto do crimeS & A discusso por si mesma uma sentenaR H4 (B coisas so3re as 9uais um @omem no deli3era & exclamou meu anti/o tutor. & "imR & disse o secret4rio da em3aixada. & "imR & exclamou o padre. +s dois @omens no se entendiam. Um doutrin4rio8 ao 9ual sK @a7iam 5altado cento e cin9Wenta 7otos so3re cento e cin9Wenta e cinco 7otantes para se ele/er8 le7antou&se: & "en@ores & disse ele & este 5enomenal acidente de natureza intelectual um desses 9ue saem mais 7i7amente do estado normal a 9ue est4 su3metida a sociedade. #ortanto8 a deciso a tomar de7e ser um 5ato extemporXneo de nossa consci-ncia8 um s13ito conceito8 um Iul/amento instruti7o8 uma 5u/iti7a nuance de nossa apreenso ntima8 muito semel@ante aos clarAes 9ue constituem a sensao de /osto... 0otemos. & 0otemosR & exclamaram meus con7i7as. 2iz dar a cada um duas 3olas8 uma 3ranca8 outra 7ermel@a. A 3ranca8 sm3olo da 7ir/indade8 de7eria condenar o casamento8 a 7ermel@a8 apro74&lo. A3sti7e&me de 7otar8 por delicadeza. ?eus ami/os eram dezessete8 e o n1mero no7e 5orma7a a maioria a3soluta. .ada 9ual 5oi colocar seu 7oto na cesta de 7ime de /ar/alo estreito8 onde se a/itam as 3olas numeradas 9uando os Io/adores tiram na sorte seus lu/ares no 3il@ar. 2icamos a/itados por uma 7i7a curiosidade8 pois a9uele escrutnio de moral depurada tin@a al/uma coisa de ori/inal. Ao 7eri5icarmos os 7otos8 encontrei no7e 3olas 3rancasR Esse resultado no me surpreendeu8 pois me lem3rei de contar os rapazes da min@a idade 9ue eu pusera entre meus Iuzes. Esses casustas eram em n1mero de no7e e todos tin@am tido a mesma idia. & +@R +@R & disse eu para mim mesmo. & H4 uma unanimidade secreta a 5a7or do casamento e (D uma unanimidade contra o mesmo. .omo resol7er esse pro3lemaS & +nde mora o seu so/roS & per/untou estou7adamente um de meus camaradas de col/io8 menos dissimulado 9ue os outros. & %o @4 mais so/roR & exclamei. & +utrora min@a consci-ncia me 5ala7a claramente 9ue tornasse supr5lua a sentena dos sen@ores. E8 se @oIe a sua 7oz se en5ra9ueceu8 eis a9ui os moti7os de min@a co7ardia. :ece3i @4 dois meses esta carta sedutora. ?ostrei&l@es ento o se/uinte con7ite8 9ue tirei de min@a carteira: TE?+" A H+%:A DE .+%0ID]&$+ #A:A A""I"TI: A+ 2U%E:A$8 +2J.I+ E E%TE::+ DE Y+*+ 2:EDE:I.+ TAI$$E2E:
DA .A"A TAI$$E2E: E .+?#A%HIA8 A%TI,+ 2+:%E.ED+: DE 0J0E:E" E ?A%TI?E%T+"8 E? 0IDA .A0A$EI:+ DA $E,I*+ DE H+%:A E DA E"#+:A DE +U:+8 .A#IT*+ DA #:I?EI:A .+?#A%HIA DE ,:A%ADEI:+" DA "E,U%DA $E,I*+ DA ,UA:DA %A.I+%A$ DE #A:I"8 2A$E.ID+ %+ DIA #:I?EI:+ DE ?AI+8 %+ "EU #A$A.ETE DA :UA Y+UBE:T E OUE "E:*+ :EA$I<AD+" T... etc... DA #A:TE DE... etc. & A/ora8 9ue 5azerS 0ou propor&l@es a 9uesto muito amplamente. H4 certamente um c@arco san/rento nas terras da sen@orita Taille5er. A sucesso de seu pai um 7asto campo de san/ue. "ei disso. ?as #rosper ?a/nan no deixou @erdeiros8 e me 5oi (F imposs7el encontrar a 5amlia do 5a3ricante de al5inetes assassinado em Andernac@. A 9uem restituir a 5ortunaS E de7e&se restituir toda a 5ortunaS Terei eu o direito de trair um se/redo surpreendido8 de aumentar com uma ca3ea cortada o dote de uma moa inocente8 de l@e pro7ocar son@os maus8 de l@e tirar uma 3ela iluso8 de l@e matar o pai uma se/unda 7ez l@e dizendo: MTodos os seus escudos so manc@adosRM Tomei emprestado de um 7el@o eclesi4stico o DI.I+%]:I+ D+" .A"+" DE .+%".I^%.IA e no encontrei soluo para min@as d17idas. 2azer uma 5undao por inteno da alma de #rosper ?a/nan8 de [al@en5er8 de Taille5erS Estamos em pleno sculo dezeno7eR .onstruir um asilo ou instituir um pr-mio para a 7irtudeR + pr-mio poderia ser dado a al/um 7el@aco. Ouanto 6 maior parte de nossos asilos & ao 9ue me parece L eles @oIe se con7erteram em protetores do 7cioR Ali4s8 essas medidas mais ou menos pro7eitosas 6 7aidade8 acaso constituiro uma reparaoS E de7oS Alm do mais8 amo8 e amo apaixonadamente. ?eu amor min@a 7idaR "e propon@o8 sem moti7o8 a uma moa acostumada ao luxo8 6 ele/Xncia8 a uma 7ida 5rtil em prazeres de arte8 a uma moa 9ue /osta de escutar no teatro dos Italianos a m1sica de :ossini8 se por conse/uinte l@e su/iro 9ue se pri7e de um mil@o e 9uin@entos mil 5rancos em 5a7or de 7el@os est1pidos ou de sarnentos ima/in4rios... ela me dar4 as costas rindo8 ou sua criada de con5iana tomar4 tudo como uma 3rincadeira de mau /osto. E se8 num -xtase de amor8 eu elo/io os encantos de uma 7ida medocre e de min@a casin@a 6s mar/ens do $oire8 se eu l@e peo o sacri5cio da sua 7ida parisiense em nome de nosso amor8 isso seria em primeiro lu/ar uma mentira piedosa. Alm do mais8 eu tal7ez 5izesse uma triste experi-ncia e perdesse o corao dessa moa8 louca por 3ailes8 en5eites8 e no momento por mim (G tam3m. Ela ser&me&4 tomada por al/um o5icial 5ranzino e /uapo 9ue ter4 3i/odin@os 5risados8 tocar4 piano8 elo/iar4 BZron e montar4 lindamente a ca7alo. Oue 5azerS "en@ores8 por 5a7or8 um consel@oS + @omem de 3em8 essa espcie de puritano muito semel@ante ao pai de YennZ Deans8 de 9uem I4 l@es 5alei8 e 9ue at ento no soltara uma pala7ra se9uer8 deu de om3ros e disse: & Im3ecil8 por 9ue 7oc- l@e per/untou se ele era de Beau7aisR #aris8 maio8 ')B'. (E
J%DI.E F Apresentao ( U?A #AIN*+ %+ DE"E:T+ BB + .A::A".+ F' A E"TA$A,E? 0E:?E$HA F' Introduo FG A idia e a ao EB +s dois crimes )D As duas Iustias (' + caso de consci-ncia