Estudos de Genero Corpo e Musica
Estudos de Genero Corpo e Musica
Estudos de Genero Corpo e Musica
abordagens metodolgicas
organizao:
ISABEL PORTO NOGUEIRA
SUSAN CAMPOS FONSECA
SRIE PESQUISA EM MSICA NO BRASIL
VOLUME 3
ANPPOM
ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO
EM MSICA
Diretoria 2013-2015
Presidente: Luciana Del-Ben (UFRGS)
1a Secretrio: Marcos Nogueira (UFRJ)
2a Secretrio: Eduardo Monteiro (USP)
Tesoureiro: Srgio Figueiredo (UDESC)
Editora: Adriana Lopes Moreira (USP)
Conselho Fiscal
Claudiney Carrasco (UNICAMP)
Ana Cristina Tourinho (UFBA)
Marcos Holler (UDESC)
Alexandre Zamith Almeida (USP/FAPESP)
PauxyGentil-Nunes Filho (UFRJ)
Cludia Ribeiro Bellochio (UFSM)
ESTUDOS DE GNERO, CORPO E MSICA:
abordagens metodolgicas
SRIE PESQUISA EM MSICA NO BRASIL
VOLUME 3
ANPPOM
2013 os autores
ESTUDOS DE GNERO, CORPO E MSICA:
abordagens metodolgicas
CAPA
Simone Kestelman, "Teresinha de Jesus," 2012.
Reproduzido sob permisso.
Estudos de gnero, corpo e msica: abordagens
metodolgicas / Isabel Porto Nogueira (introduo e
organizao), Susan Campos Fonseca (introduo e
organizao) Goinia / Porto Alegre: ANPPOM, 2013.
xxx p. : il. : 21 cm.
ISBN 9788563046024
1. Msica. 2. Musicologia. 3. Composio (Msica). 4.
Msica Instruo e Ensino. 5. Msica Interpretao.
I. Nogueira, Isabel Porto. II. Campos Fonseca, Susan. III.
Ttulo.
CDD 781
ANPPOM
Associao Nacional de Pesquisa e
Ps-Graduao em Msica
www.anppom.com
Printed in Brazil
2013
!"#$%&'
!"#$%&'()% + !"#$%&',,!-" "
!"#$% '$()*# +*%#,-$ . /#$0,1 2*3",45$
&.&!,/#-$!/ ##
/ 01231 !4567 ,287 0699:! #$ %&%'(#)%
!"#$% '$()*# +*%#,-$
!; .<#/&% &/ /$#. "%< .<#'&%< &. =>".$%? ,%$@% . 0A<!,/
=B562:? C8DEF:9:431 GEDHI2EF1 $%
J 69 696K15H6 65 91 G1LEH1FEI5
6,5,#$ '$#-"7* . 843",1 9%3,1 :3"41$5;<$%-,1
M6CE5EDC:D 6NO15PEP:D? *+&&( J O:DF:9:5E196D "&
65 91 C8DEF:9:431 GEDHI2EF1
8$5=$ >$1$-4*#
0QDEF1? C1H62E19EP1P6 6 2691RS6D P6 4T562:U %'
F1H64:2E1D H215DL:2P15H6D
6$14?@$ '*"?* 8*5,45$
/ O62K:2C15F6 C8DEF19 6 : 4T562: K6CE5E5: ()
'$?$54%$ A*(,%4-4
.OEDH6C:9:4E1D K6CE5EDH1D 6 1 O2:P8RV: WWX
P6 F:5G6FEC65H: 26F65H6 D:L26 C89G626D
6 CQDEF1 5: Y21DE9U 1948C1D 26K96NS6D
B$41$ <*#$C 84-@$,1 /D$%$3$C
E54- F*5$C B$"54#$0,1 !41G$C
B"-4$%* 8,7,45*# 7, 8*5$,#C
2,41$ :1-H%?$5$C !@,41$ :5$IJ*
!!; .<#'&%< &. =>".$%? ,%$@% . @.$M%$0/",.
,G15H68D6D 6 F1L12BDU O62K:2C15F6? 4T562: 6 #*(
EP65HEP1P6 51 @:2H: /96426 P: E53FE: P: DBF89: ZZ
+$04$%, B"-K*L
M:H:421KE1D P6 E5HB2O26H6D 65H26 W[\X 6 W[]XU #&(
564:FE1RS6D 6 P6DL:2P1C65H:D P: F:2O: F:5HEP:
/#$0,1 2*3",45$C +$04* M,53$5$ ',5N",45$
. +5$%-4#-$ +,55,45$ 84-@,1*%
)!*"+'! +) ,-.)%'/ 0'%1' ) #2!&03
^_862: KEF12 5: H68 F:2O: K6EH: H1H8146C`U $'*
F15H:21D L21DE96E21D? KVD G:C:DD6N81ED 6 O62K:2C1HEaEP1P6D
<$O$,1 2*1,?*
.9E156 .9E1D? ^M19965 &Ea1`U C8DEF12 851 F:2O:421K31 $**
!"#$% '$()*# +*%#,-$
!!!; .<#'&%< &. =>".$% . b!<#-$!/ ,%0@."</#-$!/
089G626D F:CO:DEH:21D + $%)
P1 E5aEDELE9EP1P6 c O2:d6RV: E5H6251FE:519
M$%7$ +5,45, . :%3,1$ ',14# F,%54N",# >*5?,1$
/D C89G626D 51 F651 C8DEF19 P: $E: P6 e156E2: *'*
P1 ,&--& ./'*+&U O2fHEF1D 6 26O26D65H1RS6D
8P%4-$ M,5(,#
/D D65G:2EH1D 6 : aE:9V:U *$*
:D 15:D \X 51 g,1OEH19 !221PE15H6h
8$5-4$ 6$0*57$
0QDEF1 6 =T562:U **&
ECO26DDS6D P6 8C H21L19G: P6 F1CO: 5: $E: P6 e156E2:
M$%4$ Q,$?54R 8"11,5
/ ,1D1 P: <1CL1? : <1CL1 P1 $81U *",
2691RS6D P6 4T562:? 12H6 6 H21PERV: 5: D1CL1 F12E:F1
<*7543* '$%?*# !$G,114 S*(,#
/".Z%<
08DEF1 9BDLEF1 6 486E *(*
>@414) Q5,?? . E14R$0,?@ T**7
?5$7"UV* , %*?$# 7, '$51*# >$1*(04%4
'C1 65H26aEDH1 F:C .9E71L6HG i::P? Wj 6 W] P6 C1E: P6 \XXj ,"&
E14R$0,?@ T**7 . '$51*# >$1*(04%4
M:21 P: PE1O1DV:U ,&%
8C K9:2E9B4E: P6 P6KE5ERS6D 6 F121FH62E71RS6D
T$D%, W*,#?,%0$"(
?5$7"UV* 7, '$51*# >$1*(04%4
!"#$%&'()%
SUSAN CAMPOS IONSECA
ISABEL PORTO NOGUEIRA
presente volume um exemplo de colahorao entre pesquisadores
e pesquisadoras residentes na Costa Rica, Espanha e Brasil, reunidos
por novas linhas de investiao e contrihuioes instrumentais em
dilerentes mhitos disciplinares. Este livro intera a srie Pesquisa em
Msica no Brasil, oranizado pela ANPPOM (Associao Nacional de
Pesquisa e Ps-Graduao em Msica do Brasil), esperando que sinilique
um apoio para pesquisa nesta tematica, uma vez que trata-se da primeira
ohra coletiva puhlicada no Brasil sohre o assunto msica, corpo e nero.
O prohlema da normatizao das cateorias de nero e corpo
nos estudos sohre musicas, e sua incluso dentro da lormao
institucionalizada , e a necessidade de um dialoo real com as Cincias e
as Humanidade, que na maioria dos casos recorrem aos mesmos textos
cannicos, inorando os estudos e contrihuioes que, dentro deste mhito,
propoe e desenvolvem os estudos sohre culturas musicais nos levou a
incentivar neste volume o dehate terico, e uma reviso do estado da arte,
de acordo com as necessidades da pesquisa ps-nacional, ps-colonial e
ps-disciplinar.
Aqui esto reunidos estudos que no pretendem uma aenda
compartilhada, mas apresentam dilerentes pontos de escuta e interesse,
dehate e desacordo, dentro dos estudos de nero, corpo e msica. A
multiplicidade de perspectivas tericas e analiticas tem por ohjetivo
promover novas peruntas, ahrir e desenvolver novos campos de pesquisa,
mas tamhm, evidenciar os avanos que esto acontecendo nesta linha de
estudos, em comunho com a pesquisa em Artes e Humanidades. Citando
Cascudo e Auilar-Rancel, em artio desta coletnea.
a conlluncia da histria da msica [e da histria cultural] com os estudos
de nero, no contexto luslono e de lala hispnica, teria muito que anhar
na medida em que v estender-se ante si um vasto campo disciplinar,
multidisciplinar e interdisciplinar, ainda por explorar. Ao mesmo tempo,
tamhm teria alo que perder, porque seu xito depende da existncia de
uma rede que, tal como se lez a principios da dcada de qc no seio da
acadmica anlo-saxnica, enlrente-se a hatalha e produza, no apenas
puhlicaoes lundamentadas e hem divuladas, mas tamhm polmica, e
que, alm disto, enquadre-se em uma rellexo mais ampla sohre a
identidade acadmica da musicoloia no sculo XXI. (CASCUDO,
AGUILAR-RANCEL, ac, p. a-)
O
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
6
Em consequncia disto, esto incluidos neste volume estudos em
musicoloia histrica, etnomusicoloia, musicoloia leminista, etnoralia
leminista, teoria !"##$, estudos de msica popular, estudos sohre jazz,
estudos de perlormance e politica, estudos de perlormance e tcnicas de
interpretao, socioloia e antropoloia da msica, estudos sohre
iconoralia musical, estudos visuais, e histria compensatria. Todos,
alutinados pelos estudos de nero, corpo e msica, com especial nlase
nos estudos hrasileiros.
Este livro, dedicado a memria da antroploa, etnomusicloa e
compositora hrasileira Dra. Maria Inez Cruz Mello (q6a-acc8), ahre com
uma +,&-./#0$-/ e crnica de Susan Campos Ionseca, que introduz o
prohlema do iro etnoralico na criao contempornea, a partir de uma
aproximao ao leado da pesquisadora hrasileira para esta perspectiva.
Oranizado em trs partes e com um anexo especial ! com o
ohjetivo de suhlinhar linhas de pesquisa e dehates ahertos entre os autores
e as autoras aqui reunidos , a primeira parte do volume, 12#/&% &/ /$#,
"%2 ,2#'&%2 &, 34",$%5 .%$6% , 782-./, dedica-se ao seu estudo critico,
procurando apresentar perspectivas de trahalho contrastantes sohre o tema,
no mhito das investiaoes atuais e suas crises tericas, metodolicas,
epistemolicas e hermenuticas. Teresa Cascudo e Miuel Anel Auilar-
Rancel revisam uma ampla hihlioralia, que traz aos leitores e leitoras uma
perspectiva atualizada deste tema de pesquisa, convidando-os a considerar
novos campos de trahalho. Maria Palacios revisita as prioridades dos
estudos de nero em lace aos leminismos expandidos, a teoria !"##$ e os
estudos ps-coloniais, suhlinhando o prohlema do poder como eixo de
dehate. Talitha Couto e Catarina Domenici, em seus respectivos artios,
propoem a analise de cateorias tericas e construtos resultantes dos
prprios estudos de nero, na perspectiva dos estudos de perlormance e
tcnicas de interpretao. Encerra esta primeira parte o artio do Grupo
Ieminaria, coordenado por Laila Rosa, que nos inlorma sohre sua atividade
de pesquisa atual, dedicada a uma reviso dos artios puhlicados no Brasil
que tratam dos estudos sohre as mulheres em e na msica.
A seunda parte, 12#'&%2 &, 34",$%5 .%$6% , 6,$9%$7/".,, rene
quatro trahalhos que introduzem prohlemas de pesquisa dentro dos
estudos de perlormance, musicoloia histrica, estudos de iconoralia
musical, estudos de msica popular, e novos estudos sohre jazz, msica e
corporalias. Oranizados cronoloicamente para olerecer uma teleoloia
contrastada dentro dos estudos hrasileiros, inicia com Iahiane Luckow, que
propoe um estudo de caso nos cahars da Porto Alere de comeos do
sculo XX. Continuando, um trahalho coletivo de Isahel Noueira, Iahio
Verara Cerqueira e Irancisca Ierreira Michelon, dedicado a lotoralia em
hranco e preto de intrpretes entre qac y qc, huscando identilicar
1*#+&%$34&
7
mascaras e lrmulas dramaticas aplicadas a estas imaens, que, por sua vez,
contrihuem para a lormao de sentidos y sinilicaoes do ser msico.
Loo, um estudo de Ralael Noleto sohre cantoras hrasileiras e suas
representaoes a partir de uma musicoloia ay e lshica, somando-se a
perspectiva dos estudos de perlormance, nero e identidade, em
consonncia com o artio inicial de Luckow. Esta seunda parte encerra
com um ensaio de Susan Campos Ionseca, que introduz um estudo
experimental sohre msica e corporalias, proposto a partir dos novos
estudos sohre jazz e dedicado a pianista, cantora e compositora hrasileira.
A terceira parte, 12#'&%2 &, 34",$% , :-2#0$-/ .%76,"2/#0$-/, rene,
tamhm em ordem cronolica, estudos sohre mulheres e culturas musicais
no Brasil, em continuidade a ideia ahordada pelo projeto do Grupo
Ieminaria exposto na primeira parte. Vanda Ireire e Anela Celis
Henriques Portela resumem as contrihuioes dos estudos dedicados as
compositoras no Brasil, Mnica Vermes, considera casos da cena musical
no Rio de aneiro da %#&&# ()*!"#, Marcia Tahorda trata de questoes
concernentes a jovens mulheres violonistas nos anos qac e sua
participao na construo de um novo espao de sociahilidade em torno
do violo. Vnia Beatriz Muller analisa sua experincia a partir do trahalho
de campo no Rio de aneiro dedicado aos estudos de msica e nero
centrados nos estudos sohre as mulheres, e Rodrio Cantos Savelli Gomes
propoe um trahalho sohre relaoes de nero, arte e tradio no samha
carioca.
O livro conclui com um ;",<% especialmente destacado, trata-se da
repuhlicao de Msica Lshica e Guei, traduo critica de Carlos
Palomhini da verso completa do verhete de Philip Bret e Elizaheth Wood
para o +#, -$*.# (acc), puhlicado oriinalmente na /#.0123 4$56073 8#
9"107*&*:03 (v. y, dezemhro acca), um trahalho essencial para qualquer
estudo nesta linha de pesquisas. Como continuidade, trazemos uma
entrevista de Liz Wood realizada por Carlos Palomhini em acc, e a
traduo, tamhm de Carlos Palomhini, da introduo de Wayne
Koestenhaum para o livro ;"##$06: 2<# =027<> 2<# +#, -3? 368 @#1A036
9"107*&*:?B de Philip Brett, Elizaheth Wood e Gary C. ThomasC Encerra-se
assim um livro que procura suhlinhar linhas de trahalho que, dentro dos
estudos sohre msicas, podem desenvolver-se utilizando o nero e o
corpo como cateorias de analise, convidando a analisar ahordaens
metodolicas que possam mostrar-se teis para sua considerao critica
dentro dos estudos hrasileiros. O caminho lica aherto.
!"#$%&'(()*"
SUSAN CAMPOS IONSECA
ISABEL PORTO NOGUEIRA
l presente volumen es un ejemplo de colahoracin entre
investiadores e investiadoras residentes en Costa Rica, Espana y
Brasil, todos ellos reunidos por nuevas lineas de investiacin y aportes
instrumentales en dilerentes amhitos disciplinares. El lihro lorma parte de
la serie !"#$%&#' ") *+#&,' -. /0'#&1, oranizado por la ANPPOM
(2##.,&'34. 5',&.-'1 6" !"#$%&#' " !7# 80'6%'34. ") *+#&,' 6. /0'#&1),
esperando sinilique un apoyo para la investiacin en este amhito, siendo
la primera recopilacin sohre el tema msica, cuerpo y nero puhlicada
en Brasil.
El prohlema de la normalizacin de las cateorias de nero y
cuerpo en los estudios sohre msicas ! su inclusin dentro de la
lormacin institucionalizada !, y la necesidad de un dialoo real con las
Ciencias y las Humanidades ! que en la mayoria de los casos recurren a los
mismos textos cannicos, inorando los estudios y aportes que dentro de
este amhito, proponen y desarrollan los estudios sohre culturas musicales
!, nos ha llevado a incentivar en este volumen el dehate terico, y una
revisin del estado de la cuestin, acorde con las necesidades de la
investiacin posnacional, poscolonial y posdisciplinar.
Aqui se renen estudios que no pretenden una aenda
compartida, sino dilerentes puntos de inters, dehate y desacuerdo, dentro
de los estudios de nero, cuerpo y msica. La multiplicidad de
perspectivas tericas y analiticas, tiene como ohjetivo promover nuevas
preuntas, ahrir y desarrollar nuevos campos de investiacin, pero
tamhin, evidenciar los avances que dentro de este ramo se estan dando, en
comunin con la investiacin en Artes y Humanidades. Citando a
Cascudo y Auilar-Rancel, en este volumen.
la conlluencia de la historia de la msica con los estudios de nero, en el
entorno hispanohahlante y luslono, tendria mucho que anar en la medida
en la que se extiende ante si un vasto campo disciplinar, multidisciplinar e
interdisciplinar por explorar. Al mismo tiempo, tamhin tendria alo que
perder, porque su xito depende de la existencia de una red que, tal como
se hizo a principios de la dcada de los noventa en el seno de la academia
anlosajona, d la hatalla y produzca, no slo puhlicaciones lundamentadas
y hien divuladas, sino tamhin polmica, y que, ademas, se encuadre en
una rellexin mas vasta sohre la identidad acadmica de la musicoloia en
el silo XXI. (CASCUDO 8 AGUILAR-RANCEL, ac, p. a-)
E
!"#$%&'((!)"
9
En consecuencia, se incluyen en este volumen, estudios de
musicoloia histrica, etnomusicoloia, musicoloia leminista, etnoralia
leminista, teoria $%""0, estudios de msica popular, estudios sohre jazz,
estudios de perlormance y politica, estudios de perlormance y tcnicas de
la interpretacin, socioloia y antropoloia de la msica, estudios sohre
iconoralia musical, estudios visuales, e histrica compensatoria. Todos,
alutinados por los estudios de nero, cuerpo y msica, con especial
nlasis en los estudios hrasilenos.
El volumen, dedicado a la memoria de la antroploa,
etnomusicloa y compositora hrasilena Dra. Maria Inez Cruz Mello
(q6a-acc8), ahre con una ,-&)(.#%$). y crnica de Susan Campos
Ionseca, que introduce el prohlema del iro etnoralico en la creacin
contemporanea, desde una aproximacin al leado de la investiadora
hrasilena, a partir de este amhito.
Oranizado en tres partes y un anexo especial ! con el ohjetivo de
suhrayar lineas de investiacin y dehates ahiertos entre los autores y las
autoras aqui reunidos !, la primera parte del volumen, /0#.&% &- 1.
('-0#)*" -" 1%0 -0#'&)%0 &- 23"-$%4 ('-$5% 6 780)(., esta dedicada a su
estudio critico, procurando presentar amhitos de trahajo contrastantes
dentro de los estudios de nero, cuerpo y msica, en el marco de la
investiacin actual y sus crisis tericas, metodolicas, epistemolicas y
hermenuticas. Teresa Cascudo y Miuel Anel Auilar-Rancel, revisan
una amplia hihlioralia que lacilitara a los lectores y las lectoras una
perspectiva actualizada de este amhito de investiacin, invitando a
considerar nuevos campos de trahajo. Maria Palacios revisa las prioridades
de los estudios de nero lrente a los leminismos expandidos, la teoria
$%""0 y los estudios poscoloniales, suhrayando el prohlema de el poder
como eje para el dehate. Talitha Couto y Catarina Domenici, en sus
respectivos articulos, proponen el analisis de cateorias tericas y
constructos resultado de los propios estudios de nero, en el marco de los
estudios de perlormance y tcnicas de la interpretacin. Cierra esta primera
parte, el Grupo Ieminaria, diriido por Laila Rosa, que nos inlorma sohre
su actividad de investiacin actual, dedicada a una revisin de los articulos
puhlicados en Brasil sohre los estudios sohre las mujeres 9:"- la msica.
La seunda parte, /0#'&)%0 &- 23"-$%4 ('-$5% 6 5-$9%$7."(-,
rene cuatro trahajos que introducen prohlemas de investiacin dentro de
los estudios de perlormances, la musicoloia histrica, los estudios de
iconoralia musical, los estudios de msica popular, los nuevos estudios
sohre jazz, msica y corporalias. Ordenados cronolicamente para
olrecer una teleoloia contrastada dentro de los estudios hrasilenos, inicia
con Iahiane Luckow, quien propone un analisis de casos en los caharets del
Porto Alere de principios del silo XX. Contina un trahajo colectivo de
Isahel Noueira, Iahio Verara Cerqueira e Irancisca Ierreira Michelon,
+,#'&%, &+ -."+$%/ (%$0% + 12,!(3
1 0
dedicado a la lotoralia de intrpretes entre qac y qc huscando
identilicar mascaras y lrmulas dramaticas aplicadas a esas imaenes, que
contrihuyen a la lormacin de sentidos y sinilicaciones del ser msico.
Le siue un estudio de Ralael Noleto sohre cantoras hrasilenas, desde la
musicoloia ay y leshiana, sumando la perspectiva de los estudio de
perlormance, nero e identidad, en linea con el articulo inicial de Luckow.
Esta seunda parte concluye con un ensayo de Susan Campos Ionseca, que
introduce un estudio experimental sohre msicas y corporalias, planteado
desde los nuevos estudios sohre jazz, dedicado a la pianista, cantante y
compositora hrasilena Eliane Elias (So Paulo, q6c).
La tercera parte, /0#'&)%0 &- 23"-$% - :)0#%$). (%75-"0.#%$).,
rene tamhin en orden cronolico, estudios sohre las mujeres y culturas
musicales en el Brasil, en consonancia con el proyecto del Grupo Ieminaria
expuesto en la primera parte. Vanda Ireire e Anela Celis Henriques
Portela resumen los aportes de estudios dedicados a las compositoras en el
Brasil, Mnica Vermes, considera casos de la escena musical en el Rio de
aneiro de la /"11" ;<.$%", Marcia Tahorda casos de jvenes mujeres
uitarristas en los anos qac y su participacin en la construccin de un
nuevo espacio de sociahilidad para la uitarra. Vania Beatriz Muller analiza
su experiencia desde el trahajo de campo en Rio de aneiro dedicado a los
estudios de msica y nero centrados en estudios sohre las mujeres, y
Rodrio Cantos Savelli Gomes propone un trahajo sohre relaciones de
nero, arte y tradicin en el samha carioca.
El volumen concluye con un ;"-<% especialmente destacado, se
trata de la repuhlicacin de Msica Lshica e Guei, traduccin critica de
Carlos Palomini de la versin completa del trahajo de Philip Bret y
Elizaheth Wood para el 5"= 80.>" (acc), puhlicado oriinalmente en la
?">&#@' A1"@0B-&,' 6" *%#&,.1.C&' (vol. y, Dic. acca), trahajo de hase para
cualquier estudio en esta linea. A continuacin, se incluye una entrevista a
Elizaheth Wood realizada por Carlos Palomhini en acc, y la traduccin,
tamhin de Carlos Palomhini, de la introduccin de Wayne Koestenhaum
al lihro D%""0&-C @E" !&@,EF @E" 5"= 8'9 '-6 G"#H&'- *%#&,.1.C9I editado
por Philip Brett, Elizaheth Wood e Gary C. Thomas. Se completa asi un
volumen que procura suhrayar lineas de trahajo que, dentro de los estudios
sohre msicas, pueden desarrollarse utilizando el nero y el cuerpo
como cateorias de analisis, invitando a considerar ahordajes metodolicos
que sean tiles para su consideracin critica dentro de los estudios
hrasilenos. El camino queda ahierto.
!"#$%&'()' + ,&-',./# ,$#"-01$&2#-'3
4#' '1&$5.0',./# 6-76- -8 8-%'6$ 6-
9'&.' :%#-; <&=; 9-88$
SUSAN CAMPOS IONSECA
.KowoIo ore o|wo,s i|ere, in ovr |ovses, eoiin.
Hukai Wauja
eer en retrospectiva la ohra de la antroploa y etnomusicloa
hrasilena Maria Inez Cruz Mello (q6a- acc8), conocer su lahor
creativa e intelectual, y su laceta como compositora, supone emprender un
viaje por territorios donde canto, ritual, y mito, construyen corporalias
complejas. Reconocida por sus trahajos dedicados a la cultura Vovjo del
Alto Xinu, los estudios sohre msica popular hrasilena (MPB), y los
estudios de nero e historia compensatoria en el Brasil. Su ohra requiere
de un analisis riuroso al que este estudio solo pretende acercarse,
proponiendo una primera crnica desde la lenua espanola.
Mvsico e miio enire os Vovjo Jo A|io Xinv (qqq), tiene por core
la etnoloia amaznica, el trahajo de campo (donde el enloque esttico y
politico no es omitido), y los encuentros interculturales. En este estudio, las
relaciones entre mito y msica en opopooioi,
y la propuesta de una
Apopooioi presenta una visin chamanica del mundo de los espiritus de los Vovjo
indienas del Xinu Alto. Como secuestradores de almas humanas, el Apopooioi
son la causa principal de la enlermedad. Sin emharo, cuando se celehra en rituales
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 4
Teodissia xinuana (MELLO, qqq, p. y), estan marcadas por narrativas
occidentales, donde la traduccin acadmica es lundamental. Este acto se
vera concretado en el capitulo III. A MUSICA WAUA (MELLO, qqq,
p. 88), y los comentarios linales, donde recoe una escucha de lenmenos
sonoros no-occidentales!clasilicandolos en la cateoria msica!,
convirtindolos en repertorio, y proponiendo una etnoralia del ritual y
las relaciones de nero, que estara muy presente en sus trahajos
posteriores.
La Dra. Mello realiza un riuroso trahajo de traduccin, a travs
del cual etno-ro|io la experiencia sonoro/ritual musicandola en sentido
occidental. Traduce en cateorias y piensa en luncin de un repertorio.
Su hiptesis de trahajo esta planteada desde un tipo de etnoralia
leminista, donde las relaciones de nero priman en el estudio del evento
ritual y la accin mitica, musicada a consecuencia de la metodoloia
utilizada. Del mismo modo, su planteamiento responde a una tradicin
hermenutica que entiende el chamanismo como un sistema, es mas,
incluso como una epistemoloia, en sentido a ontoloias indienas
(BARCELOS NETO, accq, p. a8).
Ahora hien, si, como indica Barcelos Neto, citando a Viveiros de
Castro, en el estudio del chamanismo, every event as, in truth, an ociion,
y, en comunicin con otros estudios, el ritual reliere a la encarnacin del
potencial patonico en prottipos de animalidades-monstruosidades
representadas en los ohjetos opopooioi (mascaras/instrumentos)!siendo
el ritual Monopoivwoio Apopooioi un medio de terapia (BARCELOS
NETO, accq, p. aq, y, , y)!, el trahajo de la Dra. Mello ahre la
posihlidad de estudiar el ritual como corporizacin y corporeidad de una
experiencia mitico-sonora.
La Dra. Mello sienta las hases, el suyo es un estudio de ohjetos
opopooioi que encarnan una experiencia. Los oraniza y sistematiza
cuidadosamente en cateorias musicales (incluyendo un analisis
oranolico), y perlormativas (coreoralias, archivos visuales, artelactos,
etc.), descrihiendo sesiones, terminoloias, y sohre todo, espacios de
participacin y relaciones de nero, proponiendo un tipo de
etnomusicoloia leminista. No ohstante, su marco terico reduce el analisis
con mascaras, llautas y clarinetes la Apopooioi puede curar y proteer. Son los
Vovjo la vacunacin, la luerza del cuerpo de aluien (BARCELOS NETO, accy).
La traduccin es mia.
Carl Dahlhaus (aca), propone que existe la msica como cateoria y concepto
etnohistrico, construido para leitimar como haremo dominante la Historia de
la msica occidental.
!" "$%&'( '$ )&*+& ,%-$. /*0. )$""(
1 5
al hinomio masculino/leminino iual homhre/mujer, parcializando los
resultados.
B.%? >3 Mvsico e miio enire os Vovjo Jo A|io Xinv (qqq), portada.
Asimismo, sus transcripciones entienden como msica y canto,
los lenmenos sonoros vinculados con el ritual, traducindolos. Su
investiacin se convierte en una propuesta esttica en si misma, al
traducir como arte y cultura los lenmenos estudiados. La propuesta de
repertorio es muy relevante, conserva de este modo un tipo de experiencia
que puede ser reproducida desde el pensamiento musical y potico
occidental. Podria decirse que, al iual que con los estudio del Dr. Barcelos
Neto y alines, podemos conocer mas acerca de Occidente (y sus preuntas)
aqui, que del propio puehlo Vovjo.
Deho aclarar que esto no es una critica, mi lectura no esta diriida
por intereses puristas. Considero que el estudio de los procesos de
colonizacin postcolonial (si cahe el trmino) presentes, en los
imainarios culturales derivados de la investiacin, son muy importantes.
Creo que evidencian la necesidad de construir comunidades imainadas
(ANDERSON, acc6), Vovjo o hrasilenas, en este caso. Comunidades
preocupadas por recuperar y conservar un patrimonio que consideran
propio, en la amalama y experiencia intercultural, y en la invencin de sus
propias identidades y alteridades. En este sentido, el trahajo de la Dra.
Mello es un aporte valiosisimo y riuroso, para el estudio de estos procesos.
Su trahajo crea partituras y textos, con su respectiva descripcin
perlormativa dentro del ritual, que permiten, si se quiere, re-producir la
experiencia material del evento, desde la perspectiva occidental. El suyo es,
podria decirse, un tratado de interpretacin, pero a su vez, y lo que es
mas importante, provee de herramientas para re-sinilicar el ritual como
espectaculo. Aspecto al que me relerir mas adelante.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 6
C? <=-&1$7 D%-#-&.;'6$7E
La autora rene una serie de relatos, que dilerentes inlormantes
olrecen en relacin a practicas asinadas, o con participacin, de mujeres.
Un ejemplo es el apartado . Mito, Musica e Genero. IomvriIvmo
Kopv|vKowoIo (MELLO, qqq, p ). Su preocupacin por el estudio de
YomvriIvmo!rupos de opopooioi mujeres!,
6
se enloca en la transcripcin
del perlormance musicado, extractando los elementos relacionados con el
canto, a saher. texto, msica notada y estructura lormal (Ii. a).
B.%? C3 Mvsico e miio enire os Vovjo Jo A|io Xinv (qqq, p. 68).
6
Sen indica Barcelos Neto (accq, p. c). A este respecto, Cecilia McCallum
(qq, p. qa), indica. This is one ol series ol myths ahout the Monstrous Women
Spirits known as the YomvriIvmo. It concerns the oriins ol the modern sacred
llutes.
!" "$%&'( '$ )&*+& ,%-$. /*0. )$""(
1 7
Una vez recoidos los cantos de YomvriIvmo, la autora hahla de
msicas lemeninas, reliriendo a su condicin asinada/creada por
mujeres, enerizando las relaciones expuestas por divisin de tareas
mitico-rituales y espacios sonoros. Sistematizando incluso lo que entiende
como motivos y escalas producto de esta divisin (MELLO, qqq, p. y6).
Este aspecto es relevante, ya que procede a enerizar los cuerpos, y en
este acto, las experiencias sonoras. De hecho, olrece inlormacin que
permite considerar el empoderamiento corporal de YomvriIvmo, en
sonotipos concretos (Ii. ).
B.%? F3 Mvsico e miio enire os Vovjo Jo A|io Xinv (qqq, p. y6).
La asinacin de nero propuesta por la autora, reduce el analisis
al hinomio antes mencionado. No ohstante, la corporizacin y corporeidad
del canto como experiencia de sustancializacin de opopooioi (hichos,
animales, hestias, y espiritus), es sin duda un valor importante en el
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 8
estudio ontolico y epistemolico del chamanismo en estos contextos.
Areando la consideracin de relaciones de poder con cuerpos concretos,
liados con instrumentos/mascaras sarados (MELLO, qqq, p. 8).
Cuerpos dominantes enerizados en el analisis como masculinos, con
hase en jerarquias sexuales. Sin emharo, aplicar el dualismo
masculino/lemenino iual homhre/mujer al puehlo Vovjo, supone una
interpretacin parcializada del mundo mitico, donde la eslera ritual y la
vida son inseparahles, vinculando en opopooioi, sexo y muerte.
Otro aspecto importante del analisis de la Dra. Mello, es la
consideracin de la penalizacin y el castio. Relacionado en su estudio con
la transresin de espacios sonoros vinculados por el paradima
instrumento/mascara (MELLO, qqq, p. 8). El analisis de nero
propuesto por la autora, le sirve para explicar relaciones entre sexo y
violencia, en el empoderamiento corporal del ritual.
[.] por que os homens Wauja haveriam de impor tal penalidade as
mulheres, introjetando um medo tao prolundo: Uma resposta possivel e
dada pela quantidade de mitos que tratam do medo dos homens em relacao
as mulheres, mitos sohre os perios da menstruacao, sohre vainas
dentadas, sohre o rouho das llautas (que antes pertenciam as mulheres),
sohre a necessidade que os homens tem de se lihertar das coisas de mulher
para adquirirem lorca lisica e moral - como no mito de Kaluana |.|
(MELLO, qqq, p. 8).
El imainario mitico-sonoro, y su vinculacin con ei|os del poder,
lleva a la autora a proponer. IomvriIvmo, a mulher translormada.
(MELLO, qqq, p. 86), entendiendo YomvriIvmo como la mas
importante expresin esttica de las mujeres dentro del sistema musical y
las narrativas miticas del puehlo Vovjo (MELLO, acc, acca). Las
investiaciones de la Dra. Mello exponen cmo, lo que denomina msicas
de homhres y msicas de mujeres, son prueha de complejos simhlicos,
que permiten conocer estratias de control, vinculadas con la violencia, el
miedo, la transresin, el erotismo y la muerte. Siendo su utilizacin de las
teoricas de Geore Bataille, especialmente relevantes, y dejando ahierta la
puerta a estudios hiopoliticos del lenmeno.
Otro aspecto a destacar es su inters por el estudio de sonotipos
vinculados con lo sarado y el secreto, presentes en los procesos de
curacin dentro del chamanismo (MELLO, accc). Sus preuntas de
investiacin, diriidas hacia el estudio etnoralico de YomvriIvmo,
procuraron analizar la mitoloia del puehlo Vovjo desde una dimensin
musical del ritual (MELLO, acca). Dimensin donde la dilerencia sexual
juea, sen las evidencias expuestas por la autora, un rol lundamental.
Rompiendo con la reciprocidad, evidenciando necesidades de control,
!" "$%&'( '$ )&*+& ,%-$. /*0. )$""(
1 9
deseo, celos y envidia (MELLO, acca). Proponiendo un importante
estudio antropolico y esttico de las emociones, que ahre vias de
investiacin an por explorar.
F? !"#.,.6'6 + (-0.#.70$7 1$7",$8$#.'8-7
En su articulo Relaoes de nero e musicoloia. rellexoes para
uma analise do contexto hrasileiro (accy), la Dra. Mello propone, desde
los estudios de nero aplicados a las culturas musicales indienas en el
Brasil, un analisis leminista del campo musicolico. La autora retoma el
dehate propuesto por textos cannicos de Susan McClary y Susanne
Cusick, posicionados en la musicoloia critica, lo que explica el inters de
la estudiosa hrasilena, por rellexionar desde una perspectiva critica
posmoderna. Ahora hien, para sorpresa del lector(a), la Dra. Mello no inicia
el articulo con la tematica que ha diriido sus estudios, sino con el dehate
sohre da irrelevancia da mulher no cenario da composicao musical no
meio erudito da musica ocidental. (MELLO, accy, p. )
Remitiendo a la cita inicial de Hukai Wauja, puede decirse que la
compositora Maria Inez Cruz Mello, como el KowoIo, siempre ha estado
alli, comiendo, ohservando en la casa (espacio vital) de la antroploa y
la etnomusicloa. Sus preocupaciones estticas y leministas han uiado los
ohjetivos de sus investiaciones etnoralicas. Etnoralia y creacin
contemporanea se cruzan. Este es un lenmeno importante que deseo
retomar antes de concluir esta crnica. La preocupacin por estudiar,
recuperar, conservar, y reproducir un patrimonio tiene, dentro del
paradima del estado-nacin, una luncin determinante en la construccin
de imainarios culturales y comunidades imainadas. Y el estudio de la
comunidad Vovjo no es una excepcin.
G
Pero los trahajos de la Dra. Mello se vinculan tamhin con el
reclamo de leminismos poscoloniales, que senalan la presencia dominante
dentro de los estudios de nero, de una cateoria mujer y un tipo de
mujer, vinculados con un Occidente entendido como central (europeo,
anlosajn). Un tipo tnico y de clase, cuyos relatos de historia
compensatoria estan vinculados directamente con el laloocentrismo. Los
trahajos de la Dra. Mello incorporan asi otras variahles dentro de la propia
y
Lo que en principio es un ritual tradicional ancestral (no-occidental), se
convierte en un evento esttico contemporaneo, en una representacin artistica
(espectaculo), analizada hajo las denominaciones occidentales de msica, historia
y cultural, en este caso de los Vovjo y del Brasil. Tmense como ejemplos los
videos documentales Apopooioi, y Vovjo. T|e Donce o| T|e Creoi Amozonion
MosIs, diriidos por Aristteles Barcelos Neto (ver Relerencias).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
20
historia compensatoria, JesJe un leminismo etnoralico (VEGA SOLIS,
accc). Proponiendo preuntas de investiacin JesJe espacios ontolicos,
epistemolicos y estticos no-occidental, aunque, como los propios
trminos utilizados lo exponen, con herramientas conceptuales de la
racionalidad occidental, que los colonizan.
Desde la Academia convertimos en discurso terico y experiencia
esttica, practicas que no han nacido de ese modelo racional de mundo.
Pero los puehlos indienas tampoco son los mismos, su experiencia de
contemporaneidad tamhin requiere ser considerada (HILL, acc6). Mas
an cuando a ella se suma la contemplacin terica y esttica de unos
otros, avidos de heher sus luentes, de analizarlos y cateorizarlos.
Lleado este punto, y para concluir, recurro a la imaen que
utilizo para ahrir esta hreve crnica,
8
ponindola en relacin con otra
extraida del documental Vovjo. T|e Donce o| T|e Creoi Amozonion
MosIs (acc), diriido por Aristteles Barcelos Neto (Ii. ).
B.%? H3 Vovjo. T|e Donce o| T|e Creoi Amozonion MosIs, (acc)
q
8
Mujeres Yowo|opiii, lotoralia de Anne Vilela. Disponihle en.
http.//www.encontrodeculturas.com.hr/aca/artista/yawalapiti~, consultado el.
mar. ac.
q
Iotoralia realizada por la autora (Susan Campos), del video disponihle en
Internet (extracto).
!" "$%&'( '$ )&*+& ,%-$. /*0. )$""(
21
La nina lrancesa que recoe la lotoralia, presente en el Iestival de
Radio Irance donde los Vovjo olrecieron sus rituales como espectaculo,
lleva el mismo maquillaje que las mujeres Yowo|opiii de la lotoralia que
incluyo al inicio. Qu perlormatividad de tiempo, de poder, de etnicidad,
de cuerpos, de neros, de cultura, historia y civilizacin, enlrentamos
aqui:
La Dra. Mello ahri el dehate, es nuestra responsahilidad
continuarlo.
I!B!I!J<:KL
ANDERSON, Benedict. ComvniJoJes imoinoJos. Rellexiones sohre el orien y la
dilusin del nacionalismo. Mxico. Iondo de Cultura Econmica, qq.
BALL, Christopher. As spirits speak. interaction in Wauja exoteric ritual. 1ovrno|
Je |o socii Jes omriconisies, v. qy, n. , ac. Disponihle en.
http.//jsa.revues.or/index6y.html~, consultado el. mar. ac.
BARCELOS NETO, Aristteles. The (de)animalization ol ohjects. Iood ollerins
and suhjetivization ol masks and llutes amon the Wauja ol Southern Amazonia.
In. GRANERO, Iernando Santos (Or.). T|e occv|i |i|e o| i|ins. Noiive Amozonion
i|eories o| moierio|ii, onJ Person|ooJ. Tucson. University ol Arizona Press, p. a8-
, accq.
BARCELOS NETO, Aristteles. Apopooioi. rituais de mascaras no Alto Xinu. So
Paulo. EDUSP, acc8.
BARCELOS NETO, Aristteles (Dir.). Apopooioi. Video-documentario.
Disponihle en. http.//vimeo.com/q8~, consultado el. 6 mar. ac.
BARCELOS NETO, Aristteles. O universo visual dos xams wauja (Alto Xinu).
1ovrno| Je |o socii Jes omriconisies, v. 8y, acc. Disponihle en.
http.//jsa.revues.or/indexq8.html~, consultado el. mar. ac.
BARCELOS NETO, Aristteles (Dir.). Vovjo. The Dance ol The Great
Amazonian Masks. Video-documentario. Disponihle en.
http.//vimeo.com/alhum/q888/video/q8qy~, consultado el. 6 mar.
ac.
BARCELOS NETO, Aristteles. ViisiavIi. desejo alimentar, doena e morte entre
os Wauja da Amaznia meridional. 1ovrno| Je |o socii Jes omriconisies, v. q, n.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
22
, accy. Disponihle en. http.//jsa.revues.or/index6.html~, consultado el.
mar. ac.
BLACKING, ohn Ho, mvsico en e| |ombre? Madrid. Alianza Editorial, acc6.
CASCUDO, Teresa. Los trahajos de Penlope musicloa. musicoloia y leminismo
qy-qq. In. MANCHADO TORRES, Marisa (Or.). Mvsico , mvjeres, nero ,
poJer. Madrid. Horas y horas, p. yq-qc, qq8.
DAHLHAUS, Carl. Existe la msica:. In. _____, EGGEBRECHT, Hans
Heinrich. v es |o mvsico? Barcelona. Acantilado, p. 6-y, aca.
DIRKSEN, Rehecca. Reconsiderin theory and practice in ethnomusicoloy.
applyin, advocatin, and enain heyond academia. Ei|nomvsico|o, Peview, v. y,
aca. Disponihle en.
http.//ethnomusicoloyreview.ucla.edu/journal/volume/y/piece/6ca~,
consultado el. 6 mar. ac.
GADAMER, Hans-Geor. Miio , rozon. Barcelona. Paidos, acc.
HILL, onathan D., CHAUMEIL, ean-Pierre (ed.). Bvrsi o| breoi|. indienous ritual
wind instruments in lowland South America. Lincoln. University ol Nehraska
Press, ac.
HILL, uniper. Irom oppression to opportunity to expression. intercultural
relations in indienous musics lrom the Ecuadorian Andes. Poci|ic Peview o|
Ei|nomvsico|o,, v. a, acc6. Disponihle en.
http.//ethnomusicoloyreview.ucla.edu/journal/volume/a/piece/ca~,
consultado el. 8 mar. ac.
KOLAKOWSKI, Leszek. Lo presencio Je| miio. Buenos Aires. Amorrortu, acc6.
LEVI-STRAUSS, Claude. Miio , sini|icoJo. Madrid. Alianza Editorial, accq.
McCALLUM, Cecilia. Ritual and the oriin ol sexuality in the Alto Xinu. In.
HARVEY, Penelope, GOW, Peter Gow (Ors.). Sea onJ vio|ence. issues in
representation and experience. London. Routlede, p. qc-, qq.
MIGNOLO, Walter D. Decolonial Aisthesis and Other Options Related to
Aesthetics. In. LOCKWARD, MIGNOLO, Walter (Ors.). BE.BOP :o:: B|ocI
Evrope boJ, po|iiics. p. -y. Disponihle en.
http.//lohalstudies.trinity.duke.edu/wp-content/uploads/aca/c/he-hop-
acainteraktiv.pdl~, consultado el. 6 mar. ac
MELLO, Maria Inez Cruz. Os cantos lemininos Wauja no Alto Xinu. In.
MATOS, Claudia Neiva de, TRAVASSOS, Elizaheth, MEDEIROS, Iernanda
Teixeira de (Ors.). Po|ovro conioJo. ensaios sohre poesia, msica e voz. Rio de
aneiro. yLetras, p. a8-a6, acc8.
!" "$%&'( '$ )&*+& ,%-$. /*0. )$""(
23
_______. Relaoes de nero e musicoloia. rellexoes para uma analise do contexto
hrasileiro. Pevisio e|eirnico Je mvsico|oio, v. , Setemhro de accy. Disponihle en.
http.//www.rem.ulpr.hr/_REM/REMv//-mello-enero.html~,
consultado el. mar. ac
_______. Iamurikuma. msica, mito e ritual. In. VI REUNIAO DE
ANTROPOLOGIA DO MERCOSUL. Anois... Montevideo. Universidad de la
Repuhlica, acc.
_______. IomvriIvmo. msica, mito e ritual entre os Wauja do Alto Xinu. Tese
(Doutorado em Antropoloia Social)Universidade Iederal de Santa Catarina,
Ilorianpolis, acca. Disponihle en.
http.//www.antropoloia.com.hr/divu/colah/dc-mmello.pdl~, consultado el.
mar. ac
_______. Aspectos interculturais da transcrio musical. analise de um canto
indiena. OPUS, v. , Dezemhro, acch. Disponihle en.
http.//www.anppom.com.hr/opus/data/issues/archive//liles/OPUS__Mello.pdl ~,
consultado el. mar. ac
_______. Sonhar, cantar, curar. musica e cosmoloia amazonica. In. I SIMPOSIO
INTERNACIONAL DE COGNIAO E ARTES MUSICAIS. Anois... Curitiha.
Deartes/UIPR, accc. p. 8. Disponihle en.
http.//www.unirio.hr/mph/textos/AnaisABET/Anais_ABETacc6.pdl~,
consultado el. mar. ac
_______. Msicas de homens, msicas de mulheres. interconexoes musicais e
assimetrias de nero entre os indios Wauja. In. Cnero, cv|ivro e poJer. LISBOA,
Maria Reina A., MALUI, Sonia W. (Ors.). Ilorianpolis. Editora Mulheres, p. q-
8, acc.
_______. Arte e encontros intertnicos. a aldeia Wauja e o planeta. In. Aniropo|oio
em primeiro moo, v. , acc. Disponihle en.
http.//www.clh.ulsc.hr/-antropos/.%acmi-encontros.pdl ~, consultado el.
mar. ac.
_______. Mvsico e miio enire os Vovjo Jo A|io Xinv. Dissertao (Mestrado em
Antropoloia Social)-- Universidade Iederal de Santa Catarina, Ilorianpolis, qqq.
Disponihle en. http.//www.clh.ulsc.hr/-musa/Wauja.pdl~, consultado el.
mar. ac.
OLIVEIRA, oo Pacheco de. The anthropoloist as expert. Brazilian ethnoloy
hetween indianism and indienism. In. DE L'ESTOILE, Benot (Or.). Empires,
noiions onJ noiives. anthropoloy and state-makin, Durham and London. Duke
University Press, p. aa-a8, acc.
PELINSKI, Ramn. Corporeidad y experiencia musical. Pevisio Tronscv|ivro| Je
Mvsico, v. q, acc. Disponihle en.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
24
http.//www.sihetrans.com/trans/ayy/corporeidad-y-experiencia-musical~,
consultado el. y mar. ac.
PIEDADE, Acacio Tadeu. O conio Jo KowoIo. musica, cosmoloia e lilosolia entre
os Wauja do Alto Xinu. Tese (Doutorado em Antropoloia Social)
Universidade Iederal de Santa Catarina, Ilorianpolis, acc.
RAMOS, Alcida Rita. InJienism. ethnic politics in Brazil. Madison. University ol
Wisconsin Press, qq8.
SOBREVILLA, David (ed.). Iilosolia de la cultura. In. Encic|opJio Iberoomericono
Je Fi|oso|io, n. , Madrid. Trotta-CSIC, acc6.
SUAREZ, Carlos. Los c|imbonve|es Je Son Beniio. Caracas. Iundacin de
Etnomusicoloia y Iolklore (IUNDEI), acc. Disponihle en.
http.//www.al-a.or/IMG/pdl/los_chimhanueles_linal_c.pdl ~,
http.//www.al-a.or/IMG/pdl/los_chimhanueles_linal_ca.pdl~,
http.//www.escoitar.or/downloads/css/Los_chimhanueles_de_san_Benito.zip~,
consultado el. 6 mar. ac.
VEGA SOLIS, Cristina. Miradas sohre la otra mujer en el cine etnoralico. Cozeio
Je Aniropo|oio, v. 6, accc. Disponihle en.
http.//www.ur.es/-pwlac/G6_cyCristina_Vea_Solis.pdl~, consultado el. 6
mar. ac.
"
#$%&'( '& &)%# *($ #$%+'($ '#
,-*#)(. /()0( # 12$"/&
!"#$%&' )*+,-&.&/01 2,+34%,-1
5 $. $.$61#3$ $# .1 217,31-,4#
TERESA CASCUDO
MIGUEL ANGEL AGUILAR-RANCEL
a cateoria de nero procede de disciplinas ajenas a la musicoloia. Ni
siquiera lue conceptualizada oriinalmente en el amhito de las ciencias
sociales y humanas, donde, desde inicios de la dcada de los setenta, se
utilizaha con reularidad. El lihro de la sociloa Ann Oakley, Sea, CenJer
onJ Sociei,, puhlicado en qya (OAKLEY, acc), puede considerarse como
punto de relerencia de la transposicin del trmino desde la psiquiatria a
las ciencias sociales para desinar la clasilicacin social de lo masculino y lo
lemenino. En qy, la antroploa Ruhin Gayle acun la expresin sistema
sexo/nero en el articulo The Trallic in Women. Notes on the 'Political
Economy' ol Sex. Encuadrandose en el constructivismo epistemolico
eneralizado desde mediados de la dcada de los cincuenta, Ruhin traslad
la distincin entre hioloia y cultura al analisis del conllicto social en
trminos psicoanaliticos y marxistas, entendindolo como el lundamento
de la opresin sexual en el cuadro de la dominacin estructural masculina.
Un ano despus, en qy6, la historiadora leminista Natalie Zemon Davis
introdujo el par sexo/nero en el discurso historioralico con una
perspectiva relacional que incluia, tanto a los homhres, como a las mujeres.
It seems to me that we should he interested in the history ol hoth
women and men, that we should not he workin only on the suhjected
sex more than an historian ol class can locus entirely on peasants. Our
oal is to understand the sinilicance ol the sexes, ol ender roups in the
historical past (ZEMON DAVIS, qy, p. qc).
Se trata, ademas, de una cateoria instrumental en la arena
politica. Los estudios de nero han estado desde sus inicios imhuidos de
un evidente seso ideolico, deudor de los dilerentes movimientos que, a
lo laro del silo XX, han reivindicado la proresiva adquisicin de derechos
y reconocimiento social paritarios, hien para el colectivo de sexo lemenino,
hien para los colectivos de homhres y mujeres homosexuales, an mas
marinales, y al contrario que las anteriores, no slo releados de los
L
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
28
amhitos de poder, sino, incluso, activamente perseuidos social y
juridicamente. Como la critica leminista, los estudios o,s, una rama
interdisciplinar que aplica una cateoria de orientacin sexual - y, por lo
tanto, de nero, si se concepta ste como las construcciones ideolicas
sohre el sexo en el mas amplio sentido del trmino - al estudio de las
disciplinas humanistas, constituyen una secuela de la aenda politica que,
desde los anos setenta, y con retraso respecto a los movimientos de
liheracin de la mujer, reclamaron el cese de la acciones represivas contra
la comunidad o, y leshiana y su plena equiparacin en derechos civiles y
aceptacin social. Esta palpahle inlluencia de la politica lue una de las
zonas menos consensuales de los estudios de nero en su relacin inicial
con la musicoloia histrica (cl. VAN DEN TOORN, qq y la
correspondiente respuesta en SOLIE, qq).
Dentro del leminismo acadmico, la cateoria nero ha sido muy
dehatida y tamhin esta lejos de ser consensual (cl. SANCHEZ LEON,
acc). Si hay leministas que lo aceptan y delienden en la medida en la que
su eneralizacin consara -acadmicamente, se entende - ohjetos de
estudio que, anteriormente, eran marinales, otras advierten que desdihuja
el propsito translormador del leminismo a travs de la reivindicacin
emancipadora de un sujeto mujer, es decir, que lo despolitiza al centrarse
en la dilerencia al tiempo que ohvia el conllicto y la desiualdad. Es mas, si
se acepta lo que se propone desde posiciones no ohstante leministas
recientes, como es la de Barhara Risman (acc), de entender el nero
como estructura social, se aclara la posihilidad de que su estudio se realice
desde multitud de enloques metodolicos, cada uno de los cuales estara,
necesariamente, marcado conceptual e ideolicamente, aunque no
necesariamente de lorma coincidente.
La introduccin del nero en la musicoloia histrica dehe ser
encuadrado en el contexto de la historia de la propia musicoloia, en
particular en relacin con dos prohlemas cruciales e interrelacionados. El
primero es el de la critica a la historioralia hasada en el concepto de estilo
y en las cateorias autor y ohra, un iro dado hacia qyc y que, por lo tanto,
coincide con la introduccin del nero en las ciencias humanas y sociales.
No supuso un movimiento exclusivo de la musicoloia. acompan una
tendencia renovadora y aperturista mas eneral que empuj a la historia
hacia el campo de las ciencias sociales y cuyas consecuencias se prolonan
hasta la actualidad, tamhin en nuestra disciplina (cl. BORN, acc). El
seundo es el de la lractura que la separa, por asi decirlo, desde su
nacimiento, de la musicoloia sistematica, particularmente, de la teoria y la
socioloia de la msica y de la etnomusicoloia (cl. SHELEMAY, qq6,
BERGERON, BOHLMAN, qq6). Ademas, la aproximacin que
presentamos en este articulo deheria ser complementada por el contexto
creado, no slo por estas suhdisciplinas, sino tamhin por el enloque de la
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
29
musicoloia leminista. En este articulo, distinuiremos entre dicha
musicoloia, esto es, la que centra su trahajo en la cateoria mujer y en la
que predomina el discurso de resistencia y compensatorio, por un lado, y
musicoloia de nero, por otro. Siendo amhitos que se solapan, conviene
salvauardar la dilerenciacin analitica entre amhos, cosa que no siempre se
hace.
Nuestro propsito es olrecer una revisin hihlioralica a quienes,
trahajando dentro de la musicoloia histrica, pretendan adentrarse en los
estudios de nero. Planteamos un mapa de las intersecciones entre la
musicoloia histrica y estos estudios que incluye, en primer luar,
relerencias enerales no musicolicas, y, en seundo luar, el comentario
de las principales puhlicaciones que marcaron, a partir de inicios de la
dcada de los noventa, la introduccin de la cateoria en la musicoloia
histrica. La concentracin sohre autores estadounidenses y la atencin
prelerente sohre hihlioralia producida en dicha dcada rellejan el estado
de la cuestin. siendo cierto que se siue desarrollando investiacin en
este amhito, no parece haher surido ninn camhio de orientacin
radicalmente novedoso, al menos en el amhito de la musicoloia histrica.
De nuevo, antes de avanzar, insistiremos en que no pretendemos hacer un
repaso exhaustivo de la inente literatura, ni de teoria leminista, ni de
estudios de nero, ni tan siquiera, de la produccin musicolica que
relleja de aluna lorma la rellexin en torno a esta cateoria. Las cuestiones
comentadas en las dos primeras secciones del articulo son selectivas y
pretenden contextualizar y, en cierta medida, normalizar el uso de la
cateoria en la investiacin musicolica. No ohstante, existen numerosas
alternativas (HESS, IERREE, q8y, CANNING, acc6, WIESNER-
HANKS, acc), a las que se pueden sumar sintesis criticas como la
sustancial revisin de Mary Hawkesworth (qqy) o las relecturas de Lynn
Hunt (qq) y Bonnie G. Smith (qq8). Lo mismo se puede decir en lo que
se reliere a la musicoloia (ERICSON, qq6, ABBATE, acc,
GROTHAN, acc, KREUTZIGER-HERR, acc).
8. /"#$%& 9$ .1 :+,;*13%01 1 .1+ -,$#-,1+ +&-,1.$+
Si atendemos a las estadisticas, los estudios de nero constituyen
una de las mas dinamicas areas de conocimiento y, en sus mltiples
variantes, aspiran a una relectura de temas iluminando la presencia e
inlluencia de colectivos que han permanecido ocultos en los discursos
predominantes en la medida en la que eran rupos que se apartahan de un
paradima cultural masculino, machista, patriarcal y heterosexista. David
Hai ha analizado a travs de tres hases de datos de literatura en ciencias
hiolicas y exactas, ciencias sociales y artes y humanidades la presencia del
trmino desde q hasta acc. Sen muestra Hai, el nero irrumpe en
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
30
la literatura acadmica en la dcada de qc y se eneraliza en la de q8c
(HAIG, acc).
Esta documentado que, entre el silo XV y la primera mitad del
silo XX, el trmino lue utilizado ocasionalmente como sinnimo de sexo.
La temprana aparicin decimonnica de nero como sexo tamhin ha sido
ohservada por oan W. Scott, autora a la que volveremos mas adelante. Sin
emharo, su uso hahitual en los estudios de nero remite a un neoloismo
surido en la seunda mitad del silo XX. Iue inicialmente utilizado por
ohn Money, quien reserv sex para la clasilicacin hiolica de
masculino y lemenino y ender para la identidad asumida por personas
individuales. El autor utiliz esta dilerenciacin en estudios sohre personas
con un autoasumido nero masculino o lemenino, pero que eran
lisiolicamente amhiuos, esto es, hermalroditas o intersexuales
(MONEY, q). Tom el trmino de la cateoria ramatical y siui
utilizandolo en puhlicaciones suhsiuientes. Hasta los anos sesenta, la
utilizacin acadmica del trmino siui a Money. A linales de esa dcada
y comienzos de la siuiente, empez a aparecer en conexin con conductas
y elecciones personales, particularmente, con estereotipos de nero,
independientemente de que se considerasen hiolicos o culturales (HAIG,
acc, p. q-qa). Stoller y, el tamhin psiquiatra, Ralph Greenson
introdujeron el concepto de identidad de nero en q6,
complementado por Stoller con el de rol o conducta de nero en q68.
No es ste el luar para ir mas alla en la discusin de la historia del trmino
en el amhito de las disciplinas en las que lue acunado (para una revisin
desde las ciencias sociales, cl. RISMAN, aca). Nos conlormaremos
linalmente con constatar que, en aca, la distincin entre sexo y nero
estaha plenamente aceptada, tal como se muestra en la delinicin primaria
estipulada por la Oranizacin Mundial de la Salud.
Sex relers to the hioloical and physioloical characteristics that deline
men and women. Gender relers to the socially constructed roles,
hehaviours, activities, and attrihutes that a iven society considers
appropriate lor men and women. To put it another way. Male and
lemale are sex cateories, while masculine and leminine are ender
cateories.
En un primer momento, el movimiento leminista explor desde
mediados de los setenta - aunque sea imposihle inorar aportaciones
previas como, entre otras muchas, las de la antroploa Mararet Mead y la
lilsola Simone de Beauvoir - las virtualidades que la dilerenciacin entre
sexo y nero olrecia en la lucha contra la desiualdad. si se neutralizaha el
lundamento hiolico que parecia justilicar la distincin entre homhres y
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
31
mujeres y se asumia que dicha distincin era comportamental, se anulaha
un ohstaculo mayor para las reivindicaciones iualitarias. Anos mas tarde, y
en la ida de Zemon Davis, oan W. Scott por primera vez y de lorma
especilica, conceptualiz el nero como cateoria historioralica, de
hecho, el traslondo del dehate era politico y oriinalmente localizado, no
slo en el leminismo, sino en los movimientos de izquierda.
La inlluencia y consistencia del pensamiento historioralico de
Scott justilica que nos detenamos un momento en su clehre articulo
Gender. A Uselul Cateory ol Historical Analysis, oriinalmente
puhlicado en q86 y no siempre leido con la atencin que merece. Lo que
se suele ohviar de la posicin asumida por Scott es que su delinicin de
nero es compleja y dinamica. Iormalmente, esta compuesta por dos
proposiciones y cuatro premisas. ella misma advierte que, estando
interrelacionadas, dehen ser, como anuncia el titulo, dilerenciadas
analiticamente. La dohle proposicin, podriamos traducirla de la siuiente
manera. por un lado, nero es un elemento constitutivo de las relaciones
sociales hasado en las dilerencias percihidas entre sexos - no es, por lo
tanto, exclusivamente aplicahle a los estudios de mujeres -, por otro lado,
nero es una lorma hasica de representacin de relaciones de poder. El
primer punto, contempla cuatro elementos. Se despliea, por un lado, en
simholos culturales que evocan representaciones mltiples - incluyendo
representaciones contradictorias. ella cita el ejemplo de Eva y Maria - y,
por otro, en conceptos normativos, hahitualmente lijados en oposiciones
hinarias, que descrihen las interpretaciones de simholos culturales y que el
discurso historioralico suele ahordar como si lueran el resultado de un
consenso. En tercer luar, el nero se construye, no slo a travs del
parentesco, sino tamhin en el espacio social, esto es, a travs del trahajo y
la politica. Iinalmente, en cuarto luar, el nero es tamhin constitutivo
de la identidad que, en su perspectiva, es, lundamentalmente, social e
histricamente construida. En lo que se reliere al seundo punto, para
Scott, la dominacin y, particularmente, las dilerentes lormas de control de
las mujeres a lo laro de la historia, serian apenas una parte de las mltiples
posihles relaciones discursivas que podrian ser estahlecidas entre nero y
poder.
Su evaluacin del uso de la cateoria dos dcadas despus
(SCOTT, acc8) destacaha tres aspectos. el caracter contextual de las
investiaciones que utilizahan la cateoria de nero, el nlasis que ponian
en el analisis historioralico, esto es, en la manera como los historiadores
concehian sus ideas sohre homhres y mujeres y lo masculino y lo lemenino
demostrando, linalmente, que ender constructs politics. Sin emharo, la
misma historiadora tamhin senalaha como lracaso la reducida rellexin en
torno a la cuestin de cmo politics constructs ender, o sea, con sus
palahras.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
32
Ahout the chanin meanins ol women (and men), and ahout the
ways they are articulated hy and throuh other concepts that seeminly
have nothin to do with sex (such as war, race, citizen, reason,
spirituality, nature or the universal) (SCOTT, acc8, p. a).
En su alirmacin reaparece el camhio como prohlema
historioralico, implicado con la interacin y desarrollo de la cateoria de
nero dentro de la caja de herramientas epistemolica de los
historiadores. Este articulo ya aludia al iro mas recientemente dado por
Scott a su concepcin historioralica de la cateoria de nero (acc, aca).
Asi, manteniendo como inredientes el caracter mutahle del mismo y su
delinicin lundamentalmente contextual, propone una historioralia que
tena en cuenta what lantasies the identities ol men and women - which
so many historians take to he sell evident - are articulated and reconized
(SCOTT, ac, p. a). Esto ha ocurrido en paralelo con una reevaluacin
del papel que la identidad y la narracin tienen en la construccin de un
supuesto sujeto lemenino.
El camhio en el punto de vista que, mas que enlocarse en el sexo,
lo hace en el nero, no se ha derivado slo del retroceso, al menos terico,
del primer trmino lrente al seundo, sino del modo en que este ha sido
desaliado como cateoria hiolica y ha sido pensado como una cateoria
iualmente construida. La posicin del llamado leminismo de seunda ola
se puede sintetizar en la siuiente cita de Delphy. le enre a son tour cre
le sexe anatomique dans le sens que cette partition hirarchique de
l'humanit en deux translorme en distinction pertinente pour la pratique
sociale une dillrence anatomique en elle-mme dpourvue d'implications
sociales (DELPHY, accc, p. a). Relerencial en este aspecto, han sido
Thomas Laqueur (qqc) y, dentro del campo de la teoria leminista
postmoderna, la lilsola udith Butler, quien ha pensado de lorma radical la
dualidad del sistema sexo/nero. Butler se cuestiona si la naturaleza del
sexo se produce discursivamente al servicio de una aenda politica y estima
que, si se contesta el caracter inmutahle del sexo, esto supondria aceptar
que estaria tan culturalmente construido como el nero. De hecho,
paralraseandola, puede que el sexo siempre huhiera sido nero,
disolvindose por lo tanto la dilerencia entre amhos conceptos (BUTLER,
qqc, p. q-c). Si el sexo luera una cateoria enerizada - esto es,
culturalmente construida - no tendria sentido alirmar que el nero es la
interpretacin cultural del sexo. Sen Butler, el nero no es a la cultura
lo que el sexo a la naturaleza, nero es the discursive/cultural means hy
which sexed nature or a natural sex is and estahlished as prediscursive,
prior to culture, a political neutral surlace on w|ic| culture acts.
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
33
(BUTTLER, qqc, p. c). De ahi concluye que la produccin del sexo es
un electo de lo que ella llama el aparato de construccin cultural al que
llamamos nero. A pesar de ser ampliamente citada, el desalio terico
radical del pensamiento de Butler no ha tenido un eco tanihle en la
practica historioralica eneral y en la musicolica histrica en particular.
Es mas, su concepto interpretativo de nero - entendido como una
construccin hasada en la repeticin ritualizada - y su propuesta de un ser
humano mltiple y desenerizado (BUTLER, qqq, p. , -6, qc,
ac), asi como la utpica teoria de la accin social hasada en la dilerencia
que lleva pareja, dilicilmente se puede uhicar en un discurso historioralico
y destinado al estudio del pasado.
Lleamos, linalmente, a la propuesta de Barhara Risman, quien
unilica de lorma convincente las dilerentes interpretaciones de la cateoria
de nero caracterizandola como estructura social (RISMAN, qq8, acc,
aca). En qq8, CenJer Veriio. Americon Fomi|ies in Tronsiiion recoia
estudios de casos que, partiendo de la consideracin del nero como
estructura social, demostrahan que redundaha en comportamientos
masculinos o lemeninos muy dependientes de las circunstancias en las
que los individuos viven y actan, esto es, de su contexto interaccional, y
no tanto de comportamientos aprendidos. Asi, por dar un ejemplo,
muestra la equivalencia entre el instinto maternal - usamos esta expresin
coloquial con intencin - de padres que cuidan solos de sus hijos, y el
instinto maternal de las mujeres que asumen el rol de madres. es decir ese
llamado instinto maternal se explica de la misma manera por homhres y
mujeres, se aprende y, ademas, es el resultado de una opcin personal.
Desarrollando las ideas ya expuestas en este lihro, Risman delendi
posteriormente que el nero dehe ser considerado una estructura social,
tal como la economia o la reliin (acc). Su conceptualizacin se intera
en una propuesta utpica y de vastas consecuencias politicas. la de que
slo un mundo mas alla del nero podra ser un mundo justo. Con sus
palahras.
We arue that the classilication ol some human attrihutes as masculine
and some as leminine, and the concomitant enderin ol social
institutions, oppresses all human heins and renders social interaction and
social institutions inherently unequal lor the lollowin reasons. All males
are shaped and pressured to he masculine and all lemales are shaped and
pressured to he leminine. These attrihutes and hehaviors are not equally
valued or rewarded (RISMAN, LORBER, SHERWOOD, aca).
A electos acadmicos, y admitiendo las limitaciones que tiene el
trasvase de conceptualizaciones sociolicas al amhito disciplinario de la
historia, su propuesta tiene la ventaja de realirmar la pertinencia del uso de
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
34
la cateoria de nero en el campo de las ciencias sociales. La autora se hasa
en una nocin del concepto de estructura - inspirado en T|e Consiiiviion o|
Sociei,. Ovi|ine o| i|e T|eor, o| Sirvcivroiion, de Anthony Giddens,
puhlicado en q8 - como resultado simultaneo de la coaccin social, por
un lado, y de la accin de los individuos, por otro. Sohre todo, citando a
Patricia Hill Collins - sociloa especializada en el estudio de la comunidad
alroamericana de los Estados Unidos -, no pierde de vista la necesidad,
detectada en los estudios leministas pero aplicahle a los estudios de nero,
de servirse de una estrateia hoth/and. We cannot study ender in
isolation lrom other inequalities, nor can we only study inequalities'
intersection and inore the historical and contextual specilicity that
distinuishes the mechanisms that produce inequality hy dillerent
cateorical divisions, whether ender, race, ethnicity, nationality, sexuality
or class. (RISMAN, acc, p. ). Al hilo de la reivindicacin que Scott
hace de la lantasia - o imainacin - como tema de analisis historioralico,
es particularmente interesante la ohservacin de Risman en el sentido de
que, dentro del nero entendido como estructura social, se dehen incluir
las normas interiorizadas y translormadas en relas a seuir o a resistir por
parte, tanto de homhres, como de mujeres. Las nuevas tendencias, por lo
tanto, dan una importancia particular a lo que, an a rieso de complicar
intilmente el discurso, podriamos enlohar hajo el concepto de identidad.
No ohstante, como Scott y Risman no se olvidan de suhrayar, nunca se
dehe perder de vista que el ohjetivo ltimo seria el de explicar los procesos
complejos por los que transcurren los camhios sociales y la desiualdad.
!"#$%&' +$<& 5 7,&.&/01
El predominio poco ponderado del paradima construccionista
contiene un dohle peliro. el reduccionismo o nihilismo conitivo y el
cisma disciplinar y de conocimiento entre las ciencias humanas y sociales y
las ciencias naturales y exactas. Por ello, en nuestra discusin sohre la
cateoria de nero, es pertinente preuntarse lo siuiente. qu tiene que
decir sohre este asunto la hioloia: La eneralizacin del trmino de nero
se ha dado de la mano con el retroceso del trmino de sexo, especial, pero
no nicamente en el amhito anlosajn. Richard . Udry ha apuntado cmo
en las ciencias sociales el trmino de nero se toma como sinnimo de
sexo hiolico (UDRY, qq). El autor tamhin ha destacado la resistencia,
desde las ciencias humanas y sociales, al reconocimiento de ninn hecho o
inllujo hiolico (cl., ademas, HIRD, acc). Asi, Udry destaca tres motivos
para explicar esta distancia. el desconocimiento disciplinar, no haher luar
para la ciencia hiolica en el paradima disciplinar, y que es politicamente
incorrecto (UDRY, qq, p. 6). La aceptacin de condicionantes
hiolicos es equiparado con la aceptacin de los constructos culturales de
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
35
opresin o discriminacin que se levantan sohre ellos y se considera por
ello ideolicamente conservadora. si la conducta tiene prevalencias
lisiolicas, nada se puede hacer para camhiarlas (UDRY, q, p. 6).
Sin pretender ser especialistas en hioloia, atendiendo a la
importancia creciente que las dilerentes disciplinas relacionadas con esa
rama del saher tienen para los estudios musicales, merece la pena que
intentemos hacernos con un punto de relerencia. Para ello, recurriremos a
tres articulos de alta divulacin de Anne Iausto-Sterlin, actualmente
prolesora de Bioloia y Estudios de Gnero del Departamento de Bioloia
Molecular y de la Clula y Bioquimica de la Universidad de Brown y
autora de tres inlluyentes lihros. M,i|s o| CenJer (qqa), Seain i|e boJ,
(accc) y SeaCenJer. Bio|o, in o Socio| Vor|J (aca). Por cuanto el sexo
se deline en luncin de tres hechos hiolicos hasicos, la ltima cadena
cromosmica, las nadas - testiculos y ovario - y la enitales externos, en
su primer articulo (qq), Iausto-Sterlin senala la existencia en la
naturaleza de cinco sexos, de los cuales tres intermedios no se ajustan a las
cateorias hipolares previas y se podrian enlohar como intersexuales. En
su seundo ensayo (accc), Iausto-Sterlin matiza esta alirmacin,
considerando que el sexo a nivel entico y celular, hormonal y anatmico
muestran un altisimo rado de permutahilidad. Las identidades de nero
olrecen, pues, la posihilidad de mucha variahilidad, constatacin que ohlia
a conceptualizar de lorma dilerente su relacin.
It miht seem natural to reard intersexuals and transendered people as
livin midway hetween the poles ol male and lemale. But male and
lemale, masculine and leminine, cannot he parsed as some kind ol
continuum. Rather, sex and ender are hest conceptualized as points in a
multidimensional space. |.| What has hecome increasinly clear is that
one can lind levels ol masculinity and lemininity in almost every possihle
permutation. A chromosomal, hormonal and enital male (or lemale)
may emere with a lemale (or male) ender identity. Or a chromosomal
lemale with male letal hormones and masculinized enitalia hut with
lemale puhertal hormones - may develop a lemale ender identity
(IAUSTO-STERLING, accc, p. aa).
En el tercero (BLACKLESS et al., accc), colectivo, un exhaustivo
examen de literatura mdica principalmente occidental lleva a los autores a
concluir que, aproximadamente, un 'y% de todos los nacimientos vivos no
estan conlormes con el ideal de perlecto dimorlismo sexual a nivel
cromosmico, onadico, entico y hormonal. Evidentemente, y con todo
lo aproximativo de cualquier estadistica, un q8' por ciento de la pohlacin
mundial se ajustaria lisiolicamente a ese ideal dimrlico, lo cual lo hace,
si hien no ahsolutamente universal, si ampliamente prevalente.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
36
La cateoria sexo tiene, por lo tanto, su hecho lundacional en una
eneralizada hipolaridad de la luncin reproductora del ser humano. Esta
hipolaridad es evidente y perceptihle en cualquier sociedad humana
histrica, y esa percepcin es a su vez independiente de los recientes
descuhrimientos cientilicos que la explican a nivel cromosmico,
hormonal, onadico y enital. De ese dimorlismo lisiolico prevalente se
deducen lenmenos hiolicos, susceptihles de aculturacin, pero tan
notorios e inlluyentes - especialmente en sociedades no avanzadas
tecnolica o mdicamente - como la estacin, el sexo portador del
nosciivrvs, el parto, la lactancia o la menstruacin. Estos elementos
lisiolicos pueden inlluir directamente en las variahles mas rudimentarias
de la distrihucin intersexual del trahajo, otro hecho cultural lundacional.
En lo que se reliere a la practica musical, alectan de lorma particular y
directamente a la produccin vocal (AGUILAR-RANCEL, ac).
Como reconoce incluso la propia Butler - quien admite que su
visin posestructuralista, desnaturalizadora del nero es consecuencia de
una experiencia vital traumatica y de su deseo de contrarrestar su violncia
- los posicionamientos naturalistas, hioloistas y esencialistas, tanto como
los de naturaleza cultural y constructivista, tienen aenda politica. Lo
dependiente de la naturaleza parece mas lijo e inmutahle y, por ello,
conviene como paradima explicativo a aendas ideolicas conservadoras.
Lo dependiente de la cultura parece mas laxo y mudahle y, tamhin por
ello, se ajusta como paradima explicativo a aendas ideolicas
proresistas. Pero, en primer luar, una deconstruccin del hecho hiolico
lundacional, no slo sinilica dar la espalda al conocimiento aportado por
las ciencias naturales. Puede retirar el suelo de los pies a toda
arumentacin, estudio y reclamacin politica, pues las construcciones de
poder y de desiualdad se residencian en cuerpos sexuados y reconocidos
como tales, a los que, ademas, se les presupone una orientacin hacia el
sexo opuesto, por cuanto la sexualizacin es muy primordialmente hinaria,
con muy escasa aparicin proporcional de seres humanos intersexuales. A
los cuerpos que no se encuadran en este marco, los delinimos
neativamente. No es que de esa hipolaridad se tenan que deducir
constructos de relaciones y ohliaciones, sino mas hien, que estos se
excusan en ese dimorlismo sexual (STANLEY, q8).
Es inneahle que, sin tal dimorlismo, no hay luar para
constructos de opresin de nero, porque este es relerencial al sexo,
comprohado o simplemente asumido. Pero la coartada ideolica represiva
de tales mecanismos no justilica la neacin de la lisioloia, ni de la
hioloia, que, como hemos apuntado hrevemente, tamhin podria ayudar a
explicar constructos culturales. Hay, de hecho, estudios que demuestran,
por ejemplo, la posihle correlacin entre dimorlismo sexual asociado a
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
37
camhios hormonales especilicos y la dilerente caracterizacin
comportamental sen criterios de sexo (UDRY, accc).
La correlacin estereotipada entre el hinarismo reproductivo y la
oranizacin social, o entre naturaleza y cultura, incluso en la versin liera
del lundacionalismo hiolico (NICHOLSON, qqq), es la justilicacin
de quienes suhrayan el caracter puramente ideolico y unidimensional del
nero, o sea, de quienes lo consideran una construccin hasada
exclusivamente en creencias. Vale la pena aclarar este punto porque,
paradjicamente, rupos tradicionalistas y conlesionales - que deherian
incluirse entre quienes asumen el nero como ideoloia - estan utilizando
actualmente la expresin ideoloia de nero en la arena politica para, en
realidad, comhatir el reconocimiento leislado de la iualdad de derechos
de todos los ciudadanos, delinidos al menos en teoria independientemente
del sistema nero/sexo, en lo relerente a cuestiones relacionadas con otra
importante estructura social. la lamilia. Asi, sen una delinicin estricta,
podrian participar de dicha ideoloia del nero, personas que, en el arco
politico, tanto podrian ser reaccionarias como liherales e, incluso,
leministas (KROSKA, accy). Es decir, hasar la dilerencia de roles entre
homhres y mujeres en la idea de que cada uno es lo que es o en una
interpretacin particular del versiculo del lihro de Gnesis, Dios cre al
homhre a su imaen, a imaen de Dios los cre, homhre y mujer los cre,
es, en realidad, ideoloia de nero (cl. BADEN, GOETZ, qqy). Incluso se
podria explicar dentro de la ideoloia de nero lo que Scott ha llamado la
paradoja leminista, que se puede sintetizar como la alirmacin de una
identidad natural lemenina dilerente, al tiempo que se reclama la inclusin
iualitara en el espacio de decisin politica que se identilica como
masculino (SCOTT, qq6, qqy, cl., ademas, DELPHY, q8c).
La puhlicacin, a principios de los noventa, de T|e BoJ, onJ
Socio| T|eor, (SHILLING, qq), entre otros, puede ser considerada como
relerencia del iro epistemolico que pas a considerar el cuerpo como
punto de encuentro primordial de la hioloia, la psicoloia y la socioloia
(cl. DAVIS, qqy). La irrupcin del cuerpo como cateoria lue, como
vemos, mas o menos contemporanea de la del nero (tamhin en la
historioralia, cl. CANNING, qqq). Iue en ran parte motivado por la
creciente conciencia de que la experiencia corporal es lundamental en la
creacin de conocimiento, evidenciada por la ampliacin conceptual que
introdujo el nero como cateoria que incluia a homhres y a mujeres. Este
lenmeno, por lo tanto, se dehi, en parte, al inllujo de la teoria leminista y
a la eneralizacin del concepto de nero, pero tamhin tuvo en la
inlluencia del pensamiento de Michel Ioucault un estimulo sinilicativo
despus de que luera traducido al inls a inicios de la dcada de los
ochenta. Iue particularmente importante su conceptualizacin del cuerpo
como el principal luar donde se materializa el ejercicio del poder y se
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
38
construye la suhjetividad, hase de su propuesta de una historia politica del
cuerpo y del concepto de hiopolitica, neoloismo introducido en qy en
una conlerencia pronunciada en la Universidad del Estado de Rio de
aneiro y que se recuper y resinilic a partir de la dcada de los noventa
en la ohra de otros autores. Ese estimulo, no ohstante, tamhin ha
encerrado un dohle peliro, del que la musicoloia histrica no se ha visto
completamente lihre. Nos relerimos a la reduccin de sus virtualidades,
por un lado, a la insistencia sohre la resistencia del cuerpo al orden politico
y, por otro, a la mera constatacin de la dimensin cultural de la lisioloia
de los cuerpos (cl. POTTE-BONNEVILLE, aca). Volviendo a la relacin
del cuerpo con el nero, nos queda advertir de qu manera - ya no desde
la lilosolia, sino desde las ciencias sociales y la historia - se lundamenta la
idea de que ender-dillerent hodies exist only within the lramework ol
historically variahle lorms ol ender distinction (LINDEMANN, qqy, p.
ya). La propuesta de entender el cuerpo como lorma social e historizada
implica, siuiendo a Gesa Lindemann (qqy), superar el sistema
sexo/nero, ya que ste presupone un marco que reproduce el hinarismo
al que venimos haciendo relerencia en esta seccin. Sita su construccin,
por un lado, en la percepcin visual del mismo, o sea, en su imaen
ohjetivada y colectiva, y, por otro, en su experiencia sensorial, que tamhin
incluye la memoria de sensaciones pasadas.
=1-,1 *#1 )*+,-&.&/01 9$ /"#$%&
La cateoria de nero, consolidada, como hemos visto, en la
dcada de los ochenta, empez a tener sus primeras consecuencias visihles
en el amhito de la musicoloia histrica muy a principios de la dcada
siuiente. Feminine enJins. Mvsic, CenJer onJ Seavo|ii, (qq), de Susan
McClary y CenJer onJ i|e Mvsico| Conon (qqa), de Marcia . Citron, y
Mvsico|o, onJ Ji||erence (qq), editado por Ruth A. Solie, entre otros
puntualmente senalados por Paula Hiins (qq), pueden considerarse,
con matices a los que aludiremos seuidamente, relerenciales en este
punto. Se puede admitir que, en parte, estos lihros dan continuidad a la
tendencia enlohada hajo la dohle etiqueta de historia o vida de las mujeres
(cl. CASCUDO, qq8). Con todo, tamhin marcaron la introduccin -
impulsada sohre todo por la musicoloia leminista - de nuevos enloques
lundamentados, como venimos diciendo, en la cateoria de nero.
Los articulos contenidos en el lihro de Citron, CenJer onJ i|e
mvsico| conon, se pueden proponer como modelo de aplicacin al amhito
de la musicoloia histrica de la cateoria de nero, tal como hahia
teorizado Scott en q86 y, ademas, aderezada con la discusin de lo que,
entonces, constituia la rellexin terica contemporanea sohre dicha
cateoria en el campo del leminismo, representada en autoras como Elaine
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
39
Showalter, udith Butler o Tania Modleski. A dilerencia de McClary, cuyo
mtodo de analisis esta muy condicionado por el hinarismo
masculino/lemenino, Citron elii la perspectiva adecuada para analizar la
lorma en la que el nero se neoci durante el silo XIX en diversas
instancias de poder (cl., ademas, CITRON, qqa). Esta perspectiva, al
contrario que la de McClary, permitia dar cuenta, conceptual y
metodolicamente, no slo de la historicidad del proceso de construccin
del nero, sino, lormulado, quiza, de lorma mas contemporanea, de la
densa red de interrelaciones de la que lorma parte. Irente a esta
perspectiva, mas prxima de la historia social, la apropiacin por parte de
McClary de la cateoria de nero se relaciona, por un lado, con la
inlluencia de enloques deconstructivistas y psicoanaliticos de inspiracin
loucaultiana que tamhin se asocian, a su vez, con la llamada New
Musicoloy (cl. VAN DEN TOORN, qq, una visin muy critica sohre
esta tendencia, cl., entre otros, KRAMER, qq, MILES qq, qqy,
PASLER, qqy, GREER, RUMBOLD, KING, accc). Su analisis, de caracter
interpretativista y lundamentado en una concepcin semitica de la msica
que la asimila a un texto y que le da pie a usar como modelo las propuestas
de Teresa de Lauretis (q8), se centra en demostrar hasta qu punto la
composicin es tamhin una practica condicionada por el nero y hasada
en suhjetividades que se expresan mediante cdios, tamhin ellos,
enerizados. Sin emharo, deja en un plano secundario cualquier tipo de
consideracin sohre condiciones histricas y sociales (cl. SEIDMAN, qqy),
incluyendo en esta cateoria el saher disponihle sohre historia y teoria de la
msica (cl. TREITLER, qq, qqq, cl. como contraejemplo, SCOTT,
acc).
El concepto de dilerencia lue articulado con la cateoria de
nero en el citado lihro editado por Ruth A. Solie en qq. En musicoloia
y otras ciencias humanas y sociales la cateoria de dilerencia, sea de sexo,
nero, orientacin sexual, pero tamhin de raza o clase social, ha sido una
importante herramienta conceptual para estudiar - sen apunta la propia
Solie - el papel que la msica despliea en la construccin y reluerzo de
ideoloias dominantes e, iualmente y a la inversa, en cmo puede
desaliarlas y resistirlas. No es slo una cuestin de rellejar o desaliar
ideoloias de dilerencia, sino tamhin de escudrinar las aportaciones
culturales y musicales de las comunidades de dilerencia, hien en aras de
un ohjetivo de reivindicacin politica, pero tamhin de una mas plural y
diversilicada visin de la actividad cultural humana a lo laro de la historia.
En el volumen, que sen la editora ahorda por primera vez la cateoria de
dilerencia en la msica, Solie traza el panorama de los dehates
conceptuales sohre la dilerencia, aunque no explicita los mviles politicos
que suhyacen a los dilerentes planteamientos. El concepto de dilerencia
puede operar en los marenes del esencialismo, como muy hien ohserva la
autora (SOLIE, qq), pero la oposicin al mismo como una lorma de
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
40
marinalizacin es un arma de dohle lilo, pues la ausencia de una
dilerencia reconocida puede ser una excusa conceptual para la
aquiescencia a una norma convencional preestahlecida y dominante,
ademas de que la aholicin de la dilerencia deja desprovisto al acadmico
de una til herramienta conceptual con la que ahordar las expresiones,
actividades y vivencias de individuos o rupos lluctuantes no incluidos en
un paradima masculino patriarcal y heterosexual. Es el conllicto entre los
proyectos aparentemente opuestos de iualar |samin| o alterizar
|otherin| ahordado por Naomi Schor (q8q).
Los articulos contenidos en este lihro se pueden arupar entre los
que muestran una perspectiva contextualizadora y los que, centrados en el
texto musical, y an ahriendo nuevas posihilidades hermenuticas, parecen
incurrir a veces en la tentacin esencialista de neutralizar las virtualidades
criticas de la cateoria de nero. Comparese, en este sentido, el articulo de
Gretchen A. Wheelock, que ahorda la construccin histrica del modo
menor apoyado en la perspectiva que proporciona la cateoria de nero,
con el de Lawrence Kramer, que en su analisis del Cornovo| de Rohert
Schumann (por otro lado, un ejemplo de hermenutica musical) da por
valido un paradima atemporal de lo lemenino y de lo masculino. Esta
ltima via interpretativista, que concihe el analisis como hermenutica
suhjetiva y propone la suma de posihles lecturas, audiciones e
interpretaciones (en el sentido de ejecuciones) del texto musical,
comhinada con el recurso a la cateoria de nero, es una tendencia
anunciada por McClary e ilustrada en trahajos posteriores (por ejemplo,
BORGERDING, acca).
McClary, a principios de los noventa, tamhin particip en el
dehate enerado por una ponencia de Maynard Solomon sohre la
homosexualidad de Schuhert puhlicada como articulo en q8q, dando asi
una notahle resonancia, en el amhito de la musicoloia, a la articulacin de
la cateoria de nero con practicas u orientaciones sexuales (SOLOMON,
q8q, McCLARY, qq). Un ano despus, en qq, apareci, entre el
entusiasmo y la critica, veerin i|e piic|, la primera coleccin
musicolica de ensayos o,s y leshianos que incidia sohre el repertorio
histrico (BRETT, WOOD, THOMAS, qq). Siuiendo una tendencia
mas amplia, este tipo de estudios lueron rearupados hajo el trmino
cajn de sastre de estudios queer (cl. TAYLOR, acc8). Ante la
acusacin por la musicoloia tradicionalista de slo pretender sacar
compositores del armario y de estahlecer relaciones simplistas de este
hecho con sus ohras, los editores de veerin i|e Piic| olrecian una
respuesta matizada. Reconocian el derecho a la militancia civil de o,s y
leshianas en cualquier campo, pero declarahan que el destape de
prelerencias sexuales no era el asunto de la edicin y que el nlasis en las
politicas de identidad no era un ohjetivo prioritario. Con todo, aleahan
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
41
que, partiendo de que el ensayo critico o acadmico siempre se relaciona
con la identidad y sus politicas suhsiuientes incluso cuando stas no se
declaran, al menos, eran honestos en su acercamiento desde un
posicionamiento explicitamente o,. La supuesta neutralidad de los
acercamientos musicolicos tradicionales partian muy prelerentemente de
una no posicionada neutralidad, implicito soporte de una aenda
esencialista y conservadora, donde lo normal era entendido aqui como
normativizado heterosexismo, elevado a una cateoria universal y natural.
Como apuntan Davide Daolmi y Emmanuele Senici (accc), los
estudios queer han ido convirtindose en un aparato interpretativo y
discursivo que alhera la amhicin de revisitar la historia e interpretar el
presente desde una perspectiva lohalmente homosexual (DAOLMI,
SENICI, accc p. c, cl., ademas, TAYLOR, acc8). Estos autores apuntan
que la homosexualidad y sus manilestaciones siempre han estado
marinalizadas y reprimidas y que por ello el mtodo investiador puede
tener que ser intuitivo, pues los datos necesarios para documentarlas estan
normalmente ocultos (DAOLMI, SENICI, accc, p. ). El hecho evidente
de la ocultacin histrica de la homosexualidad no tiene sin emharo por
qu presuponer nuevas herramientas disciplinares, sino un acercamiento
cauto, con la posihle consecuencia de extraer conclusiones aproximativas o
prohahles en hase a datos circunstanciales, como de lorma tan suerente y
electiva ha hecho, por ejemplo, Gary C. Thomas con la eventual
orientacin homoertica de Handel (THOMAS, qq). En la medida en
que la conducta homosexual se ha visto sometida a dilerentes rados de
coercin, persecucin, ocultamiento o marinalizacin durante huena parte
de la historia de la cultura occidental cristiana y postcristiana, ha producido
comportamientos sometidos a un variahle, pero hastante consistente y
persistente silenciamiento, secretismo u ocultamiento. Eso limita de lorma
evidente los testimonios escritos que podrian documentarlo, y ohlia al
investiador a un acercamiento deductivo, circunstancial, contrastante y a
conclusiones mas lrecuentemente sumativas que demostrativas. De aqui no
se deduce que, como ocurre en el citado estudio de Thomas sohre Handel,
esas conclusiones cautelosas y hasadas en pruehas circunstanciales no
puedan olrecer altos rados de prohahle veracidad. Es la prudencia y
proceso en el manejo de luentes y herramientas disciplinares lo que parece
adecuado para el estudio de una conducta secularmente reprimida.
La incorporacin del cuerpo en el amhito de los estudios de
nero para ahordar pocas, neros y autores hahituales en la musicoloia
histrica ha tenido una delensa muy particular en las puhlicaciones de
Suzanne Cusick, quien tamhin podriamos encuadrar en el campo de la
musicoloia leminista. Su punto de partida no lue muy dilerente del de la
historia de vida de las mujeres, esto es, hacerse la preunta hasica de dnde
estahan las mujeres en la cultura del harroco (accq). Sin emharo, modilic
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
42
su enloque al eleir, como cateoria prelerente, el cuerpo y, en
consecuencia, la relacin histrica - y no principalmente semitica - entre
nero y sexualidad. Data de qq el articulo Ieminist Theory, Music
Theory, and the Mind/Body Prohlem, que es uno de los pocos trahajos de
rellexin terica con los que contamos. La autora propone en este texto la
idea de que la teoria musical leminista dehia teorizar the practices ol
perlormin hodies, the hodies most likely to enact metaphors ol ender or
to enact the constitucion ol ender itsell. (CUSICK, qq, p. y). Este
prorama se hasaha en la consideracin de que toda eleccin musical -
composicional e interpretative - estaha condicionada por el nero en tres
aspectos. not lor what the instrument or medium seemed to represent hut
lor what its perlormance encouraed one to enact, or lor how it
characteristically interacted, or lor how its perlormance characteristically
neotiated the relationship ol hody and mind. (CUSICK, qq, p. ac).
Cusick concluia que esta perspectiva tenia, incluso, consecuencias en la
disciplina, porque dilerenciaha en trminos de nero la interpretacin -
perlormance - de la composicin - teoria. La primera seria lemenina,
mientras que a la seunda se le atrihuirian cualidades masculinas, o, en
otras palahras, la primera seria la propia del cuerpo, mientras que la
seunda, lo seria de la mente. La misma autora ha proseuido esta linea en
sus estudios sohre msica antiua, en especial sohre la compositora, poeta y
cantante Irancesca Caccini (CUSICK, qq, qq, qqq, accc, accq).
Cusick es, ademas, editora de Vomen onJ Mvsic, que se presenta como A
1ovrno| o| CenJer onJ Cv|ivre.
La cuestin de la suhjetividad lemenina corporeizada en una
escritura tamhin ella lemenina, esto es, una escritura considerada como
la voz del cuerpo lemenino (cl. CISOUX, qy), y, eventualmente, su
simtrica hinaria, una suhjetividad masculina corporeizada en una escritura
masculina, es otra cuestin central en todos estos dehates. Su introduccin
en la musicoloia histrica lle principalmente de la mano de Carolyn
Ahhate (q8q, qq), quien, no ohstante, prescinde del hinarismo hioloista
que la introduccin a este parralo revela y que parece latente en los
trahajos de McClary y Cusick. Ahhate propone que la msica, en la pera,
suhvierte y desalia este paradima hinario esencialista, dando la voz
(corporeizada y audihle, pero tamhin autorial, dramatrica y
dramatolica) a las mujeres (cl. tamhin, en lo que se reliere a pera y
estudios de nero, CORINNE, SMITS, qq, DELLAMORA, IISCHLIN,
qqy, SMART, accc). En ese amhito encontramos otro ejemplo de
teorizacin del cuerpo en su conlluencia con los estudios de nero y los
temas propios de la musicoloia histrica que se plasma en el trahajo de
Roer Ireitas en torno a los castrados (acc, accq). Uno de los aspectos
mas interesantes de esta investiacin es que supera plenamente el recurso
a cualquier discurso compensatorio o de resistencia. Basandose en Laqueur,
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
43
su tesis es la de que el xito de los castrados durante el harroco se dehia, no
slo a la vocalidad, sino al hecho de que residia en un cuerpo amhiuo,
intermedio entre homhre y mujer, y entre adolescente y adulto, que
respondia a las expectativas erticas del phlico contemporaneo. Esto es,
los castrados no lascinahan por su voz pese al cuerpo, sino por su voz y
tamhin por su cuerpo.
Los enloques que podemos arupar hajo el concepto de
escritura/per|ormonce corporeizada son independientes de la tcnica
utilizada para desarrollarlos y arumentarlos. Esto explica que, en los
trahajos que se encuadran en esta linea, encontremos - conlorme aquello
que se quiere mostrar - diversas aproximaciones analiticas, tales como,
entre otras, la teoria shenkeriana, la narratoloia o la semioloia, ademas de
aproximaciones lormalistas mas tradicionales y tipicas del analisis del estilo
tonal. Cuando esas mismas decisiones composicionales se ahordan a partir
de los conceptos de identidad y suhjetividad, esta situacin no varia. Es,
ademas, comn el prohlema del estatus que se le otora a la lisioloia, por
un lado, y al caracter metalrico de ran parte de la terminoloia empleada,
por otro. El recurso a la metalora - cuando no al estereotipo - es
consustancial a la representacin del nero, o sea, lorma parte de los
lundamentos epistemolicos para que se pueda considerar que un sonido,
un esto o una comhinacin de sonidos y estos se pueda identilicar como
masculino o lemenino. La posihilidad terica de una escritura enerizada
interpel particularmente al campo de la teoria de la msica, donde recihi
una interesante respuesta por parte de Ired Everett Maus, a la que merece
la pena prestar atencin (cl. EVERETT MAUS, qq). No slo plantea el
trahajo y el discurso de los musicloos -predominantemente homhres -
que hasta entonces se dedicahan a la teoria musical en la perspectiva de
nero, sino, lo que es mas importante, suhraya la importancia de la
incorporacin de herramientas hasta entonces marinales - sohre todo,
aquellas de caracter interpretativo o discursivo de la escucha - y el
ahandono del espejismo atemporal en el que ran parte del trahajo terico
de los musicloos se desarrollaha. Su propuesta, de hecho, es cercana a las
de una musicoloia contextual o relacional, y ahoa por la multiplicacin y
comhinacin de nuevas cateorias desde las que explicar la msica, asi
como por la suhversin de aquellas que, en un momento dado, parezcan
lijas e inmutahles.
Ian Biddle introdujo, en qqq, la cateoria de masculinidad (cl.
TOSH, acc) en el amhito de la musicoloia histrica (BIDDLE, qqq,
ac). como hemos visto, el articulo antes citado de Evert Mauss hahia
hecho lo propio en el amhito de la teoria de la msica seis anos antes. Una
dcada mas tarde, Biddle edit, juntamente con Kirsten Gihson,
Moscv|inii, onJ wesiern mvsico| prociice (accq). La manera como amhos
reivindican la masculinidad como cateoria historioralica cierra en cierto
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
44
sentido el proceso ahierto dos dcadas antes por McClary y Citron. De
hecho, su propuesta parte de la aceptacin del leado de la musicoloia
leminista como lactor lundamental para el desarrollo de un tipo de
musicoloia critica delinida por su distancia lrente a la ansiosa aspiracin a
la autonomia disciplinaria que parece caracterizar la musicoloia mas
convencional, para la cual textuality, lorm or social histories ol
dissemination and reception appear to operate as il they could suhsist
solely in the clearly delined and autonomous musical lield (BIDDLE,
GIBSON, accq, p. c). Su propuesta, ademas, conlirma, en primer luar, el
predominio de una ptica lundamentalmente constructivista (la msica
como constructora de nero) y discursivista (relacin de los discursos
sohre nero con la msica, incluyendo los discursos sohre el cuerpo). En
seundo luar, acepta que la reivindicacin positiva de la dilerencia (de
nero) y de la otredad (tamhin de lo silenciado y lo oculto) se puede
resolver dentro de la academia.
8. $.$61#3$ $# .1 217,31-,4#
La estela dejada por el empleo del nero como cateoria en la
musicoloia histrica es muestra de una enuina preocupacin por renovar
la disciplina, al tiempo que relleja tendencias que, si hien son comunes con
el resto del campo historioralico, tal como las hemos introducido en las
dos primeras secciones de este articulo, dehemos tener en cuenta. En
particular, la adopcin de la cateoria de nero desestahiliza la identidad
disciplinaria de la musicoloia convencional, delinida por la centralidad de
lo que nomhra con el trmino msica, hasandose en el principio de la
autonomia de la ohra de arte. Ademas, en seundo luar, introduce el
prohlema accesorio de la explicacin de la creatividad -supuestamente
implicada en todos los aspectos de la practica musical - mediante
arumentos de caracter histricos y sociolicos que, de la misma manera,
contrihuyen a erosionar los lundamentos de la sacralizacin del artista. En
tercer luar, cahe explicitar la naturaleza de las construcciones que el
nero saca a la luz, las cuales, ideolicamente, se relieren a alteridades
histricamente reprimidas, minusvaloradas o marinalizadas. En delinitiva,
la repunancia a esas cateorias implica un posicionamiento por un mundo
de dos sexos estahlecidos y marcados, con poderes y roles estahlecidos -
unas cosas son esencialmente masculinas y otras, esencialmente lemininas -,
con predominio hlanco occidental y por supuesto partiendo de un
heterosexismo universal, normativo y compulsivo.
Sin emharo, en la musicoloia histrica, esta desestahilizacin
slo llea, por asi decirlo, hasta un cierto punto, haciendo que, tal vez, sea
adecuado caracterizar su inllujo como relormista. De hecho, incluso la
propia Citron, en el momento alido de la introduccin del trmino,
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
45
record que la musicoloia de nero no se podia olvidar de que lo
importante era la msica (CITRON, qqh). La mayoria de los trahajos
considerados se mueven dentro del canon mas o menos consensual
estahlecido sohre las cateorias de autor, ohra y, consecuentemente, poca.
Si lo analizamos desde la perspectiva de la prolonacin de la versin
musicolica de la lase de la historia de las mujeres, lo que verilicamos
hasta ahora es el predominio del estudio de liuras lemeninas que, de
aluna manera, intentaron hacerse con los atrihutos del autor -
sohreentendido como autor masculino - o que pertenecian a una clase
social que las investia con la autoridad suliciente para permitirse la
resistencia a las imposiciones de nero. En lo que se reliere a la cateoria
historioralica de ohra, es cierto que la musicoloia de nero lleva pareja
la introduccin de enloques que desastan, como ya hemos apuntado, su
concepcin ontolica autnoma, para situarla en el amhito de la
sinilicacin. Sin emharo, por un lado, no parece que haya vehiculado una
renovacin sustancial en lo que se reliere al canon historioralico. Es
aceptahle pensar, como Lynn Hunt, que no tendria por qu hacerlo. Por
otro lado, es en este nivel en el que se evidencia de lorma mas clara el
peliro, del que la musicoloia histrica no se ve completamente lihre, de
la esencializacin del nero hasada en su identilicacin con determinadas
cateorias exclusivamente hinarias y atemporales.
En seundo luar, hay una cuestin que sohrevuela el tpico de
los estudios de nero, pero que se relaciona particularmente con la
musicoloia queer, o, o leshiana. la de la interaccin entre la
suhjetividad de quien investia y la identidad del mtodo y herramientas
disciplinarias. Como suhrupo dentro de los estudios de nero, lo queer
se dilerencia de los estudios sohre la leminidad y la masculinidad, aunque a
la vez incluye lo lshico. Cual es entonces la coherencia conceptual del
trmino queer: Alteridad de identidad sexual, alteridad de identidad de
nero, alteridad respecto a la orientacin sexual predominante:
Orientacin sexual, dislocacin en la identidad de nero y/o sexo, el
trmino politicamente practico de queer parece disenado para suhsumir
muy dilerentes variahles de alteridad de nero, salvo al sexo mujer y el
nero lemenino, eso si, heterosexual. Cahe plantearse cual es el rado de
identilicacin que cada sujeto o colectivo incluidos en este cajn de sastre
muestra respecto a los otros, y, dada la muy diversilicada naturaleza de
estas alteridades cahria cuestionarse su coherencia y oportunidad.
En tercer luar, destacaremos el predominio del paradima
constructivista y, en particular, de la ptica discursivista. Sohresale el
estudio de la msica - ya sin comillas y entendindola en el mas amplio
sentido de la palavra - como representacin de sinilicados asociados al
nero. asi, estos estudios estan preocupados por mostrar las maneras en
que la msica conlorma estereotipos, procesos de dilerenciacin y
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
46
resistencia, tal como el nero conlorma el discurso, los estos y los
sinilicados musicales. Es decir, la msica se presenta, sohre todo, como
uno de los luares donde el nero construye, si no politica, al menos, si - y
paralraseando a Scott - ideoloia, siendo, sin emharo, minoritaria la
rellexin sohre cmo la politica construye el nero en la msica. Al
hahernos enlocado en el terreno de la musicoloia histrica, todavia ha
quedado mas marcada la tendencia hacia la aplicacin de la cateoria en los
estudios culturales, lundamentada en la idea de que la cultura es el luar
por excelencia de las representaciones, particularmente de las de nero.
En la mayor parte de los casos, sin emharo, se reproduce la
coincidencia - tamhin detectada en otros mhitos - de las cateorias de las
que se parte con aquellas que se pretende revisar o criticar, creando una
especie de |oop esencialista, aporias que, cuando no se reducen a la mera
constatacin, perpetan los estereotipos y, ademas, persisten en la
reduccin de la dilerencia a una relacin marcada por la jerarquizacin
hinaria (sohre este tema cl., en una perspectiva asumidamente leminista,
MACARTHUR, accq). El recurso a la cateoria de dilerencia de nero
puede servir a un ohjetivo marinalizador, pero tamhin a uno lihertario. Y
esa misma cateoria puede interar el camhio, o las mutaciones
socioculturales de las que es ohjeto con el transcurso histrico. Iualmente,
la localizacin en una cateoria especilica de nero, diamos por ejemplo
de homosexuales, tampoco tiene que saldarse con una visin
homoeneizadora que ohvie o suprima las otras dilerencias o rasos
identitarios que lramentan y diversilican esa comunidad de dilerencia.
Las cateorias de dilerencia son desde lueo construcciones y, como tales,
herramientas que hay que utilizar con mesura a la hora de estudiar
arupaciones humanas, marinalizadas u ohjetivadas por un raso
identitario, que, desde lueo, no es el nico aplicahle a cada individuo
concreto, y que, sen las circunstancias, tampoco tiene que ser siquiera el
mas delinitorio de las personalidades, identidades o vivencias individuales.
En ltima instancia, y como venimos apuntando, ni siquiera el hioloismo
es lorzosamente inmutahle ni represor, aunque histricamente se haya
manilestado y utilizado como tal.
Antes de concluir, se impone la relerencia a la lorma en que los
estudios de nero han inlluido en el entorno hispanohahlante y luslono
de la musicoloia histrica (cl., ademas, RAMOS, qqy, acc,
MANCHADO, qq8, HOLANDA, GERLING, acc, MELLO, acc6,
accy, CAMPOS IONSECA, aca). Parece que, al maren de la musicoloia
leminista y de la historia musical de las mujeres, se delinean dos tipos de
aproximaciones. el del analisis de la enerizacin de la escritura musical
(HOLANDA, acc6) y el del estudio de practicas musicales en la
perspectiva de la musicoloia leminista, pero interando de lorma
distintiva la cateoria de nero (DEZILLIO, acc, ac, aca, CAMPOS
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
47
IONSECA, en prensa). Alunos proyectos en curso prometen nuevas
aproximaciones (entre otros, PALACIOS, aca, BRAGA, aca, AGUILAR
RANCEL, ac).
Su marinalidad plantea, desde lueo, un asunto que todavia no
hahia allorado en nuestra discusin. La cateoria de nero se introdujo en
la musicoloia histrica coincidiendo con la leminizacin de los
departamentos universitarios norteamericanos, proceso correlativo que, en
el caso de la musicoloia no anlosajona no se dio de la misma manera. En
lo que se reliere al amhito hispanohahlante y luslono, este punto de
inllexin ocurrido hacia qqc lue contemporaneo, en trminos enerales,
del estahlecimiento de la musicoloia histrica como disciplina claramente
universitaria, pero no necesariamente con la leminizacin de su practica, lo
que, en dicho entorno, es un lenmeno mucho mas reciente, casi diriamos,
incipiente. el rostro de la musicoloia histrica del entorno hispanohahlanta
y luslono siue siendo en la actualidad mayoritariamente masculino,
hlanco y, puestos a aventurar la atrihucin de cateorias, seuramente
tamhin heterosexual (cl. MELLO, acc6). Esto coincidi, introduciendo
todos los matices necesarios, con la prolonacin del xito y la
perdurahilidad de los discursos compensatorios y reivindicativos, ya no de
la iualdad de derechos de todos los ciudadanos, sino de los compositores
nacionales que no lormahan parte del canon internacional y del
patrimonio nacional que, hasta entonces, hahia sido recuperado y
estudiado en circunstancias prolesionales precarias.
Desde lueo, estas circunstancias que, en muchos aspectos, son
todavia actuales, justilican que se ahriuen dudas acerca de la pertinencia
de importar cateorias historioralicas como la de nero. El motivo de esta
reserva no esta, como podria sospecharse, en los peliros que dicha
importacin despliea si se encuadra hajo una explicacin lundamentada
en el concepto de heemonia cultural y en las dinamicas de resistencia o
asimilacin que enera. Mas hien, deheria venir pareja al siuiente
planteamiento. cmo podemos servirnos de ella en un entorno acadmico
hilinue, lramentado y mal delimitado simhlica e institucionalmente de
lorma a relorzar su interacin y evitando caer en la autocomplacencia
adanista: En realidad, sta es una preunta que todo proyecto investiador
desarrollado en espanol o portuus deheria plantearse en aln momento.
Por lo tanto, la conlluencia de la historia de la msica con los estudios de
nero, en el entorno hispanohahlante y luslono, tendria mucho que anar
en la medida en la que se extiende ante si un vasto campo disciplinar,
multidisciplinar e interdisciplinar por explorar. Al mismo tiempo, tamhin
tendria alo que perder, porque su xito depende de la existencia de una
red que, tal como se hizo a principios de la dcada de los noventa en el
seno de la academia anlosajona, d la hatalla y produzca, no slo
puhlicaciones lundamentadas y hien divuladas, sino tamhin polmica, y
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
48
que, ademas, se encuadre en una rellexin mas vasta sohre la identidad
acadmica de la musicoloia en el silo XXI. Por ejemplo, actualmente, en
el amhito ermanico esta ocurriendo un movimiento de este estilo
impulsado a partir de centros localizados, entre otras ciudades, en
Hannover, Hamhuro, Viena, Padehorn, Oldenhuro o Basilea, que se
articulan, desde acc8, en torno al 1o|rbvc| MvsiI vnJ CenJer.
En el contexto de la musicoloia histrica, de todas lormas, parece
que lo que se ha estahilizado es, como venimos insistiendo, una
apropiacin relormista de la cateoria de nero. Si se estima, mas alla de
los prejuicios, que la actividad social y cultural de identidades
tradicionalmente marinales de sexo, nero y orientacin han sido y son
relevantes, dentro y luera de esa su marinalidad tica y social, de ello se
deriva que detectar y estudiarlas es la hase para una relectura
enriquecedora y plural de la historia de la msica y de la historia cultural.
Y esas identidades lluidas de compositores e intrpretes, como las de sus
propias audiencias - mas alla del rado en que valoremos la proyeccin de
las mismas en su ohra creada o interpretada o en su recepcin -, tamhin
constituyen un testimonio enriquecedor de una experiencia vital, histrica
y actual, no por secularmente escondida o silenciada, menospreciada o
condenada, menos lrtil y real. En su versin maximalista, aceptar su uso
como cateoria terica e historioralica pulveriza los limites territoriales y
lundamentos ontolicos del saher musicolico. Implica la desinteracin
-distpica o utpica dependiendo del punto de vista - de la identidad
disciplinaria de la musicoloia histrica que se veria, no slo amenazada en
su ohjeto, sino en la propia identidad del sujeto acadmico. Este deheria
necesariamente, no slo explicitar el tipo de activismo y la delinicin
ideolica donde se encuadra, sino delinirse a si mismo en trminos del par
sexo/nero. Requeriria, sohre todo, una rellexin previa acerca de cual es
el lundamento terico e historioralico del sinilicado o del resinilicado
que atrihuimos a dicha cateoria en el curso de la investiacin. En este
sentido, lo que hemos resumido en las dos primeras secciones de este
articulo es apenas una muestra de un dehate que, ahora mismo, es
transnacional y que seuramente, en este preciso momento, esta siendo
actualizado en salas de aula, discos duros de ordenadores diseminados en
todo el mundo, dehates virtuales y presenciales, en la correccin de aleras
de nuevos lihros y articulos. El pramatismo, que necesariamente
tamhin orienta la trayectoria acadmica, no anima a que se d este paso
radical. Acahamos de tropezar con el elelante en la hahitacin.
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
49
>8?8>8@ABCD
ABBATE, Carolyn. Elektra's voice. Music and lanuae in Strauss's opera. In.
PUIIETT, Derrick (Or.). Pic|orJ Sirovss. E|eIiro. Camhride. Camhride
University Press, q8q, p. cy-ay.
EEEEEEF Opera or the envoicin ol women. In. SOLIE, Ruth (Or.). Mvsico|o, onJ
Ji||erence. ender and sexuality in music scholarship. Berkeley. University ol
Calilornia Press, qq, p. aa-a8.
EEEEEEF Musicoloia e enJer sivJies. In. Encic|opeJio Je||o mvsico. v. a, I| sopere
mvsico|e. Turin. Giulio Einaudi, acca, p. |yy|-y8.
AGUILAR-RANCEL, Miuel Anel. Los coniroienores. Conceptualizaciones sohre
una tipoloia vocal desde una visin del silo xxi. Tesis inedita en proceso
(Doctorado), Universidad de La Rioja.
BADEN, Sally, GOETZ, Anne Marie. Who needs |sex| when you can have
|ender|: Conllictin discourses on ender in Beijin. Feminisi Peview, v. , p. -a,
qqy.
BERGERON, Katherine, BOHLMAN, Philip (Ors.). Discip|inin mvsic.
musicoloy and its canons. Chicao. University ol Chicao Press, qq6.
BIDDLE, Ian. Policin masculinity. Schumann, Berlioz and the enderin ol the
music-critical idiom. 1ovrno| o| i|e Po,o| Mvsico| Associoiion, v. a, n. a, p. q6-
aac, qqq.
EEEEEEF Mvsic, moscv|inii, onJ i|e c|oims o| |isior,. i|e AvsiroCermon iroJiiion
|rom Hee| io FrevJ. Iarnham. Ashate, ac.
BIDDLE, Ian, GIBSON, Kirsten, (Ors.). Moscv|inii, onJ wesiern mvsico| prociice.
Iarnham. Ashate, accq.
BLACKLESS, Melanie, CHARUVASTRA, Anthony, DERRYCK, Amanda,
IAUSTO-STERLING, Anne, LAUZANNE, Karl, LEE, Ellen. How sexually
dimorphic are we: Review and synthesis. Americon 1ovrno| o| Hvmon Bio|o,, v. a,
n. a, p. -66, March accc.
BLACKMER, Corinne E., SMITH, Patricia uliana (Ors.). En irovesii. women,
enJer svbversion, opero. New York. Columhia University Press, qq.
BORGERDING, Todd Michal (Or.). CenJer, seavo|ii,, onJ eor|, mvsic.
Routlede. New York, acca.
BRAGA, Helena Lopes. Para a histria da invisihilidade lshica na musicoloia.
Irancine Benoit. LES On|ine, v. , n. , aca. Disponihle en.
http.//www.lespt.or/lesonline/index.php:journal=lo8pae=
article8op=viewArticle8path%B%D=8~. Consultado en. mar. ac.
BUTLER, udith. CenJer irovbe. Routlede. New York 8 London, qqq |reed.|.
BORN, Georina. Ior a relational musicoloy. music and interdisciplinarity, heyond
the practice turn. the accy Dent Medal address. 1ovrno| o| i|e Po,o| Mvsico|
Associoiion, v. , n. a, p. ac-a, acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
50
BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary C. (Ors.). veerin i|e piic|.
the new ay and leshian musicoloy. Routlede. New York 8 London, qq.
CAMPOS IONSECA, Susan. Los estudios de nero y msica en Espana. retos y
resistencias. Mvsico , EJvcocion. revisio iniernociono| Je peJooio mvsico|, v. a, n.
a, jun. aca, p. cc-ca.
EEEEEEF Voces de memoria. lihretistas y compositoras en la era de Maria Lejarraa.
In. CASCUDO, Teresa, PALACIOS, Maria (Ors.). Libreios en |emenino. Morio
Lejorroo , e| moJernismo mvsico| en Espoo. Lorono. Universidad de La Rioja. En
prensa.
CANNING, Kathleen. The hody as a method? Rellections on the place ol the
hody in ender history. CenJer onJ Hisior,, v. , n. , p. qq-, qqq. (Reimpreso
en CANNING, acc6, p. 68-qa.)
EEEEEEF CenJer |isior, in prociice. historical perspectives on hodies, class and
citizenship. Ithaca. Cornell University Press, acc6.
CASCUDO GARCIA-VILLARACO, Teresa. Penlope musicloa. musicoloia y
leminismo entre qy y qq. In. MANCHADO, Marisa (Or.). Mvsico , mvjeres,
nero , poJer. Madrid. Editorial Horas y Horas, qq8, p. yq-qc.
CISOUX, Hlene. Le rire Je |o MJvse. L'Arc, v. 6, p. q-, qy.
CITRON, Marcia . CenJer onJ i|e mvsico| conon. Camhride. Press Syndicate ol
the University ol Camhride, qq.
EEEEEEF Gender and the lield ol musicoloy. Cvrreni Mvsico|o,, v. , p. 66-y,
qq.
CUSICK, Suzanne G. Genderin modern music. thouhts on the Monteverdi-
Artusi controversy. 1ovrno| o| i|e Americon Mvsico|oico| Sociei,, v. 6 n. , p. -a,
sprin qq.
EEEEEEF Ieminist theory, music theory, and the mind/hody prohlem. Perspeciives
o| New Mvsic, v. a, n. , p. 8-ay, winter qq.
EEEEEEF There was not a lady who lailed to shed a tear. Eor|, Mvsic , v. aa, n. , p.
a-, qq.
EEEEEEF Gender, musicoloy, and leminism. In. COOK, Nicholas, EVERIST, Markt
(Ors.). Pei|inIin mvsic. Oxlord. OUP, qqq, p. y-q8.
EEEEEEF Perlormin/composin/woman. Irancesca Caccini meets udith Butler. In.
MACARTHUR, Sally, POYNTON, Cate (Or.). Mvsics onJ |eminisms. Sydney.
Australian Music Centre, qqq, p. 8y-q8.
EEEEEEF On Musical Perlormances ol Gender and Sex. In. BARKIN, Elaine,
HAMESSLEY, Lydia (Or.). AvJib|e iroces. ender, identity, and music. Zurich.
Carciololi Verlahaus, qqq, p. a-8.
EEEEEEF Vocality, Power and Iemale Bodies in Early Modern Italy. In. SEEII,
Adele (Or.). AiienJin io eor|, moJern women. crossin houndaries. Newark.
University ol Delaware Press, p. 8c-q8, accc.
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
51
EEEEEEF Gnero e msica harroca. Per Mvsi, v. ac, p. y-, accq.
EEEEEEF Froncesco Coccini oi i|e MeJici covri. music and the circulation ol power.
Chicao. University ol Chicao Press, accq.
DAOLMI, Davide, SENICI, Emanuele. L'omosessvo|iio vn moJo Ji coniore. Il
contrihuto queer all'indaine sull'opera in musica. I| Soioiore mvsico|e, v. y, p.
y-y8, accc.
DAVIS, Kathy. Emhody-in theory. In. DAVIS, Kathy (Or.). EmboJieJ prociices.
leminist perspectives on the hody. London. Sae, qqy, p. -a.
DELLAMORA, Richard, IISCHLIN, Daniel. T|e worI o| opero. enre, nationhood,
and sexual dillerence. New York. Columhia University Press, qqy.
DELL'ANTONIO et al. Round Tahle . Directions in Musicoloy. In. GREER,
David, RUMBOLD, Ian, KING, onathan (Ors.). MUSICOLOGY AND SISTER
DISCIPLINES. PAST, PRESENT, IUTURE. ProceeJins o| i|e :6
i|
Iniernoiiono|
Conress o| i|e Iniernoiiono| Mvsico|oico| Sociei,, LonJon :gg;. London. Oxlord
University Press, accc, p. yq-aaq.
DELPHY, Christine, LEONARD, Diana. A materialist leminism is possihle.
Feminisi Peview, v. , p. yq-c, q8c.
DEZILLIO, Romina. Mujeres para armar. narrativas y consumos imainarios de
una msica corporizada en la mujer alhum-revista (8qq-qca). Pevisio Areniino
Je Mvsico|oio, v. , p. y-q8, acc.
EEEEEEF Entre la voluntad y el deseo. mujeres, creacin musical y leminismo en
Buenos Aires entre qc y q. In. SEMANA DE LA MUSICA Y LA
MUSICOLOGIA, 8. Acios... Buenos Aires. Instituto de Investiacin Musicolica
Carlos Vea, Universidad Catlica Arentina, ac. Disponihle en.
http.//hihliotecadiital.uca.edu.ar/repositorio/ponencias/entre-voluntad-deseo-
mujeres.pdl~. Consultado en. mar. ac.
EEEEEEF El ojo en la cerradura. mujeres, msica y leminismos. In. Silvina Luz
Mansilla (Or.), Dor |o noio. El rol de la prensa en la historia musical arentina.
Buenos Aires. Gourmet Musical Ediciones, p. c-, aca.
ERICSON, Mararet D. Vomen onJ mvsic. a selective annotated hihlioraphy on
women and ender issues in music, q8y-qqa. New York. G.K. Hall, qq6.
EVERETT MAUS, Ired. Masculine discourse in music theory. Perspeciives o| New
Mvsic, v. , n. a, p. a6-aq, qq.
IAUSTO-STERLING, Anne. The Iive Sexes. Why Male and Iemale are not
enouh. T|e Sciences, p. ac-a, mar-apr. qq.
IAUSTO-STERLING, Anne. The live sexes, revisited. In. Sciences, v. c, n.
ul/Au accc, p. 8. (Reprinted In. PRINCE, Althea, SILVA-WAYNE, Susan
(Ors.). Feminisms onJ womonisms. a womens's studies reader. Toronto. Canadian
Scholars Press, acc, p. ll.
IREITAS, Roer. The eroticism ol emasculation. conlrontin the Baroque hody ol
the castrato. T|e 1ovrno| o| Mvsico|o,, v. ac, n. a, p. q6-aq, sprin acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
52
EEEEEEF Poriroii o| o cosiroio. politics, patronae and music in the lile ol Atto
Melani. Camhride. Camhride University Press, accq.
GAYLE, Ruhin. The trallic in women. notes on the 'political economy' ol sex
[qy]. In. NICHOLSON, Linda (Or.). T|e seconJ wove. a reader in leminist
theory. New York. Routlede, p. a6-6a, qqy.
GERLING, Cristina M. P. C., HOLANDA, oana Cunha de. Estudos de nero em
msica a partir da dcada de qc. escopo e ahordaem. Pevisio Jo AcoJemio
Nociono| Je Mvsico, v. , p. q-cy, acc.
GROTAHN, Rehecca, VOGT, Sahine (Ors.). MvsiI vnJ CenJer. CrvnJ|oen
Mei|oJen PerspeIiiven. Laaher. Laaher-Verla, acc.
HAIG, David. The inexorahle rise ol ender and the decline ol sex. social shane in
academic titles, q-acc. Arc|ives o| Seavo| Be|ovior, v. , n. a, p. 8y-q6, apr.
acc.
HESS, Bess B., IERREE, Mira Marx (Ors.). Ano|,sin enJer. o |onJbooI o| socio|
science reseorc|. Beverly Hills. Sae, q8y.
HIGGINS, Paula. Women in music, leminist criticism, and uerrilla musicoloy.
rellections on recent polemics. :gi|Cenivr, Mvsic, v. y, n. a, p. y-qa, qq.
HIRD, Myra . Sea, enJer onJ science. Chippenham y Easthourne. Palrave
Macmillan, acc.
HOLANDA, oana Cunha de. Evnice KoivnJo (:g:j:ggo) e Esi|er Sc|ior (:g:6
:g;8). trajetrias individuais e analise de Sonata de Louvao (q6c) e Sonata para
Piano (q6). Tese (Doutorado) Universidade Iederal do Rio Grande do Sul,
Porto Alere, acc6. Disponihle en.
http.//www.lume.ulrs.hr/handle/c8/66c~ . Consultado en. mar. ac.
HUNT, Lynn. The challene ol ender. deconstruction ol cateories and
reconstruction ol narratives in ender history. In. MEDICK, Hans, TREPP, Anne-
Charlott (Ors.). Cesc||ec|ieresc|ic|ie vnJ A||emeine Cesc|ic|ie.
Herovs|orJervnen vnJ PerspeIiiven. Gttinen. Wallstein Verla, qq8, p. y-qy.
KERMAN, oseph. Coniemp|oiin mvsic. challenes to musicoloy. Camhride.
Harvard University Press, q8.
HAWKESWORTH, M. Conloundin ender. Sins. 1ovrno| o|. Vomen in Cv|ivre
onJ Sociei,, v. aa, n. , p. 6qy-yca, qqy.
KRAMER, Lawrence. C|ossico| mvsic onJ posimoJern Inow|eJe. Berkeley 8 Los
Aneles. University ol Calilornia Press, qq.
KREUTZIGER-HERR, Annette (Or.). CenJer sivJies in Jer MvsiIwissensc|o|i
jvo voJis? . Fesisc|ri|i |r Evo Pieer zvm ;o. Cebvrisio. Zurich 8 New York.
Olms. Serie. ahrhuch Musik und Gender, Bd. , acc.
KROSKA, Amy. Gender ideoloy and ender role ideoloy. In. RITZER, G. (Or.).
B|ocIwe|| Enc,c|opeJio o| Socio|o,. London. Blackwell, p. 86y-86q, acc6.
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
53
LAQUEUR, Thomas. MoIin sea. hody and ender lrom the Greeks to Ireud.
Camhride. Harvard University Press, qqc.
LAURETIS, Teresa de. A|ice Joesn'i. leminism, semiotics, cinema. Bloominton.
Indiana University Press, q8.
LINDEMANN, Gesa. The hody ol sexual dillerence. In. DAVIS, Kathy (Or.).
EmboJieJ prociice. leminist perspectives on the hody. London. Sae, p. y-qa, qqy.
MACARTHUR, Sally. ToworJs o iweni,|irsi cenivr, |eminisi po|iiics o| mvsic.
Iarnham, Surrey 8 Burlinton. Ashate, acc.
MANCHADO, Marisa. Mvsico , mvjeres, nero , poJer. Madrid. Editorial Horas y
Horas, qq8.
McCLARY, Susan. Feminine enJins. music, ender 8 sexuality. Minneapolis 8
London. University ol Minnesota Press, qq. Reprinted in acca.
EEEEEEF Music and sexuality. on the Stehlin/Solomon dehate. :gi|Cenivr, Mvsic,
v. y, n. , p. 8-88, qq.
MELLO, Maria Inez Cruz. Relaoes de nero e musicoloia. rellexoes para uma
analise do contexto hrasileiro. Pevisio E|eirnico Je Mvsico|oioE|ecironic
Mvsico|oico| Peview, v. , accy.
MILES, Stephen. Critics ol disenchantment. Noies, v. a, n. , p. -8, qq.
OAKLEY, Ann. T|e Ann OoI|e, reoJer. ender, women and social science. Bristol.
Policy Press, acc.
ORGANIZACION Mundial de la Salud. Disponihle en. http.//
www.who.int/ender/whatisender/en/index.html~ . Consultado en. y ene. ac.
PALACIOS NIETO, Maria. Cuando lo perilrico se sita en el centro.
homoerotismo en la cultura musical madrilena de los anos ac a partir de la ohra de
Adollo Salazar. In. CONGRESO DE LA SOCIEDAD ESPANOLA DE
MUSICOLOGIA, 8. Acios... Lorono, aca.
PASLER, ann. Directions in musicoloy. Acio Mvsico|oico, v. 6q, n. , p. 6-a. ,
qqy
POTTE-BONNEVILLE, Mathieu. Les corps de Michel Ioucault. Co|iers
P|i|osop|ijves, v. c, n. , p. ya-q, aca.
RAMOS LOPEZ, Pilar. Los estudios de nero y la msica ihrica del silo XVII.
Pevisio Je Mvsico|oio, v. ac, p. a-a, qqy.
EEEEEEF Feminismo y mvsico. Introduccin critica. Madrid. Narcea, acc.
RISMAN, Barhara . CenJer veriio. American lamilies in transition. New Haven.
Yale University Press, qq8.
EEEEEEF Gender as social structure. Theory wrestlin with activism. CenJer
Sociei,, v. 8, n. , p. aq-c, acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
54
EEEEEEF Gender as a social structure. crossin disciplinary houndaries to advance
science and equality. Abovi CenJer. Iniernoiiono| 1ovrno| o| CenJer SivJies, v. , n.
a, p. -aq, aca.
RISMAN, Barhara ., LORBER, udith, SHERWOOD, essica Hoden. Toward a
world heyond ender. a utopian vision. In. AMERICAN SOCIOLOGICAL
SOCIETY MEETING, cy. Anno|s... Denver, aca. Disponihle en.
http.//www.ssc.wisc.edu/-wriht/ASA/Risman-Lorher-
Sherwood%acReal%acUtopia%acProposal%ac--%acBeyond%acGender.pdl~. .
Consultado en. ene. ac.
SANCHEZ LEON, Pahlo. Eva luimos todas. La identidad de la historiadora de
nero. In. TOUBERT, S. (Or.). De| seao o| nero. |os ejvivocos Je vn concepio.
Madrid. Catedra, p. 6-a, acc.
SCHOR, Naomi. The essentialism which is not one. comin to rips with Iriaray.
Di||erences, v. , n. , p. 8-8, q8q.
SCOTT, Derek B. Erotic representations lrom Monteverdi to Mae West. In.
SCOTT, Derek B. (Or.). From i|e eroiic io i|e Jemonic. on critical musicoloy.
Oxlord. Oxlord University Press, p. y-a, acc.
SCOTT, . W. Gender. a uselul cateory ol historical analysis. Americon Hisiorico|
Peview, v. q, p. c-cy, q86.
EEEEEEF On|, poroJoaes io o||er. Irench leminists and the rihts ol man.
Camhride. Harvard University Press, qq6.
EEEEEEF La querelle des lemmes in late twentieth century Irance. New Le|i
Peview, v. , n. a6, p. -q, qqy.
EEEEEEF CenJer onJ i|e po|iiics o| |isior,. Ed. rev. New York. Columhia University
Press, qqq.
EEEEEEF Iantasy echo. history and the construction ol identity. Criiico| Injvir,, v.
ay, n. a, p. a8-c, Winter acc (incluido en SCOTT, aca.).
EEEEEEF Unanswered questions. T|e Americon Hisiorico| Peview, v. , n. , p.
aa-c, acc8.
EEEEEEF T|e Fonios, o| Feminisi Hisior,. Durham. Duke University Press, aca.
SEIDMAN, Steven. Di||erence irovb|es. queerin social theory and sexual politics.
Camhride. Camhride University Press, qqy.
SHELEMAY, Kay Kaulman. Crossin houndaries in music and musical scholarship.
a perspective lrom ethnomusicoloy. T|e Mvsico| vorier|,, v. 8c, n. , p. -c,
qq6.
SMART, Mary Ann (Or.). Siren sons. representations ol ender and sexuality in
opera. Princeton. Princeton University Press, accc.
SOLIE, Ruth A. What do leminist want: T|e 1ovrno| o| Mvsico|o,, v. c, p. qq-
, qq.
"#$%&'( )*+,-'.'/01 2,+34&,-1 5 %. %.%61$3% %$ .1 217,31-,4$
55
EEEEEEF (Or.) Mvsico|o, onJ Ji||erence. Berkeley. University ol Calilornia Press,
qq.
SOLOMON, Maynard. Iranz Schuhert and the peacocks ol Benvenuto Cellini. :g
i| Cenivr, Mvsic, v. a, n. , p. q-ac6, sprin q8q.
STANLEY, Liz. Should sex really he ender or ender really he sex:
ANDERSON, R., SHARROCK, W. (Ors.). App|ieJ socio|o,. London. Allen 8
Unwin, q8, p. -q.
TAYLOR, odie. Playin it queer. understandin queer ender, sexual and musical
praxis in a new musicoloical context. Tese (Doctoral) Queensland
Conservatory ol Music, Grillithe University, qq8. Disponihle en.
https.//wwwac.secure.rillith.edu.au/rch/items/clqcehy-dace-e8cy-cee-
hl6yelac//~ . Consultado en. mar. ac.
THOMAS, Gary C. Was Geore Irideric Handel ay: On closet questions and
cultural politics. In. BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary (Ors.).
veerin i|e piic|. i|e new o, onJ |esbion mvsico|o,. New York 8 London.
Routlede, qq, p. -ac.
TOSH, ohn. Heemonic, masculinity and the history ol ender. In. DUDINK,
Stelan, TOSH, osh, HAGEMANN, Karen (Or.). Moscv|iniiies in po|iiics onJ wor.
enJerin moJern |isior,. Manchester. Manchester University Press, acc, p. -6c.
TREITLER, Leo. History and the ontoloy ol the musical work. 1ovrno| o|
Aesi|eiics onJ Ari Criiicism, v. , n. , p. 8-qy, qq.
EEEEEEF The historioraphy ol music. In. COOK, Nicholas, EVERIST, Mark
(Ors.). Pei|inIin mvsic. Oxlord. Oxlord University Press, p. 6yy, qqq.
UDRY, . Richard. The nature ol ender. Demorop,, v. , n. , p. 6-y. qq.
EEEEEEF Bioloical limits ol ender construction. Americon Socio|oico| Peview, v.
6, n. , p. -y, accc.
VAN DEN TOORN, Pieter C. Politics, Ieminism and contemporary music theory.
T|e 1ovrno| o| Mvsico|o,, v. q, p. ay-aqq, qq.
EEEEEEF Mvsic, po|iiics, onJ i|e ocoJem,. Berkeley and Los Aneles. University ol
Calilornia Press, qq.
WIESNER-HANKS, Merry. CenJer in |isior,. lohal perspectives. Oxlord.
Blackwell Puhlishin, acc.
ZEMON DAVIS, Natalie. Women's history in transition. the European case.
Feminisi SivJies, v. , n. -, p. 8-c, qy6.
!"#$%$&#'& ")*+%,$,'&- !"##$ . *'&/'0'%$+0"& "% 0+
#1&$/'0'23+ 4$&567$/+
MARIA PALACIOS
Porcio|iJoJ, , no vniverso|iJoJ,
es |o conJicion poro ser escvc|oJo
.
urante tiempo, desde la musicoloia histrica, se ha escrito y
aprendido un discurso centrado en unos parametros pretendidamente
universales que priorizahan claramente unos aspectos sohre otros. culto a la
msica escrita, heemonia de los rande enios compositores, instauracin
de un canon internacional centrado en una cultura (occidental), clase
(media-alta), raza (hlanca) y nero sexual (homhre). De esta lorma, en
musicoloia histrica se han construido una serie de discursos, en ran
medida nicos, leitimados durante anos por las instituciones acadmicas, y
mostrados como neutros y ohjetivos, que han ido creando unos dehates en
ran medida ya aotados.
Con la lleada del postestructuralismo, esta pretendida ohjetividad
es puesta en duda, y la parcialidad, tal y como destacaha Patricia Hill en la
cita que he utilizado como introduccin a este texto, se convertira en un
valor en aue, a pesar de los prohlemas que para muchos esta suhjetividad
ocasionaha. Pero este camhio de paradima, aun con tantos anos de
trayectoria, resulta todavia cuestionado y puesto en duda en parte del
mundo acadmico. En cierta medida, con el postestructuralismo y el
posmodernismo ha pasado alo similar a lo que sucede con el propio
leminismo. son movimientos que tienen ya una trayectoria importante, que
han conseuido camhios y avances en la politica, en la manera de entender
y explicar el mundo, en la lorma de estructuras los textos, y, por ello
mismo, son atacados a veces de caducos, de pasados, de alo ya conseuido
y sohre lo que no hay que reresar. Son analizados, hajo mi punto de vista
de manera errnea, como triunlos del pasado que no tienen espacio ya en
el presente. Se trata, por tanto, de una lorma de anular el potencial de
camhio que estas corrientes de pensamiento (y politicas) pueden seuir
otorandonos hoy dia (porque no estamos ante temas superados en las
ciencias sociales, y menos en la musicoloia histrica, donde las
, a. Crear
nuevos canones, exclusivos de las mujeres y narrar una historia paralela
donde slo tenia espacio ese mundo (SADIE, SAMUEL, qq)
.
Encontramos tamhin otra tercera perspectiva clasica tamhin en ran
medida en los estudios sohre msica y nero, como era aplicar
caracteristicas propias del leminismo al lenuaje musical y al canon
tradicional - espacio donde apareci con luerza Susan McClary en los anos
qc (cl. McCLARY, qq).
Bajo nuestra perspectiva, en realidad ninuno de estos analisis
aport elementos innovadores, ya que ni se prohlematiz en torno al
propio concepto mujer o lemenino, ni en cuanto a cmo analizar ese
posihle ohjeto de estudio. Todos ellos partian de una u otra lorma del
canon tradicional y de metadiscursos hastante esencialistas. En todos ellos
la mujer, el leminismo, lo lemenino, parecia tener un nico sinilicado con
la creacin de claros estereotipos de nero.
Dentro del citado ideal de querer contar la totalidad de la historia,
estos discursos centrados en la construccin cultural mujer, en realidad se
seuian escrihiendo sin cuestionarse los paradimas clasicos. Se enlatiz la
realizacin de un canon de compositoras, priorizando tamhin la ohra de
arte escrita, paralelo al canon heemnico, con ideales caducos como dar
.
Sorprende ver, en ac, cmo aspectos que parece lueron
superados en las dcadas de los qyc, 8c y qc, siuen siendo considerados
por parte de la musicoloia histrica como novedosos, modernos y
rupturistas, como podria ser la teoria jveer, a la que nos releriremos al
linal del articulo. Mi intencin con este texto es precisamente recordar y
repensar alunos de estos textos hasicos, para leerlos desde nuestro
contexto y perspectiva actual. La prolesora Pilar Ramos, en su reciente
articulo de acc Lvces , sombros en |os esivJios sobre |os mvjeres , |o
mvsico (RAMOS, acc, p. y-a), ahre tamhin la posihilidad de estudiar
con imainacin otros aspectos relacionados con la mujer, como seria el
phlico, la recepcin, las instituciones, el patronazo, etc. La propia autora,
sin ahandonar la musicoloia leminista, tamhin destaca los citados
prohlemas de reduccionismo sociolico con los que se han encontrado las
investiaciones de la msica y las mujeres.
En ran medida, se siuen repitiendo en los estudios sohre historia,
mujeres y msica, heemonias de antano, priorizando, como senalaha antes,
la msica escrita y la ohra de arte autnoma, sin plantearse la construccin
de discursos contra-heemnicos propios de los rupos suhalternos, ni la
reconstruccin de cateorias heemnicas (como el propio concepto de
mujer), o la re-sinilicacin de trminos y conceptos hasicos. Estos temas
tienen ya una tradicin en los propios estudios leministas y jveer pero en
ran medida no terminan de ser recoidos por parte de la musicoloia
histrica leminista. Quizas esto suceda por miedo a un presentismo
histrico o a un no reconocimiento por parte de la academia, o quizas se
trate de miedo a perder los avances conseuidos si se ahandona el concepto
esencialista de mujer y la manera tradicional de escrihir la historia.
Para ello, otros leminismos, como los citados leminismos neros,
y la prohlematizacin de sexualidades no normativas (hisexualidad,
homosexualidad, transexualidad, intersexualidad, asexualidad), analizadas
desde la teoria jveer, pueden resultar de especial importancia para marcar
.
En acca y acc, aparecen tamhin dentro del mundo
estadounidense, dos monoralias sohre temas de musicoloia histrica, que
me ustaria resaltar por considerarlas especialmente sinilicativas para el
tema que nos ocupa. Estas dos monoralias se alejan de los tpicos mas
propios de estos analisis de las sexualidades y la msica (como serian el
mundo del hallet y la pera. Cl. KOESTENBAUM, qq) y estan centradas
en la modernidad de principios de silo XX. Me reliero a los textos que
Sophie Iuller y Lloyd Whitesell editan en veer EpisoJes in Mvsic onJ
MoJern IJeniii,
Este texto tuvo su rplica en acc6, cuando Sheila Whiteley y enniler Ricena
puhlicaron veerin i|e Popv|or Piic|, con una linea similar a su antecesor, aunque
centrado en la msica popular y sin el xito que tuvo su antecesor
Ohra anadora del Philip Brett Award, the Gay 8 Leshian Study Group de la
American Musicoloical Society, en acca. Precisamente Whitesell dedic un
capitulo en la monoralia en torno a Ravel (Pove| SivJies) que puhlic Camhride
University Press en acc con el titulo Eroiic ombivii, in Pove|'s mvsic.
"#$%&%'$(' #)*+&,%,('- !"##$ . *('/0(1(&%+1#'
67
alirman los autores de la monoralia en su prloo, la intencin es analizar
la msica del modernismo desde una especilica perspectiva queer.
Irom this idiosyncratic anle we hope to avoid or at least hump aainst
many ol the assumptions that otherwise miht uide historical thouht into
lamiliar channels. Both male and lemale suhjects are presented, our
contrihutors locus variously on composers, scholars, patrons, perlormers,
audiences, repertoires, venues, and specilic works. Interpretation is
rounded in discussion ol particular social and artistic environments, hy
includin a rane ol national and cultural contexts, we aim to evoke a
polyphony ol responses to the shiltin ideoloical terrain while avoidin
eneralization lrom a privileed set ol circumstances (IULLER,
WHITESELL, acca, p. 8).
Se trata por tanto de una mirada distinta al discurso
historioralico tradicional, que ejemplilica cmo se puede repensar y
reescrihir la historia de la msica si se tienen en cuenta otras coordenadas
de analisis posihles.
En la seunda monoralia, la prolesora de la Universidad de
Michian analiza cmo el sonido reconocido como tipicamente americano
ha sido construido principalmente por homosexuales (Copland, Viril
Thomson, Ed Rorem). Plantea asi la paradoja de que este sonido jveer sea
identilicado hoy como simholo de una nacin con una tradicin hastante
homloha.
En estas primeras monoralias, como destacaha anteriormente, la
idea de jveer suele ir asociada casi en exclusiva a la interpretacin,
composicin o recepcin de la msica por parte del colectivo homosexual,
lo que de aluna lorma reduce las posihilidades del propio concepto. Slo
encontramos una excepcin, en la ohra de una discipula de Brett. udith A.
Peraino, en su monoralia Lisienin io i|e Sirens (PERAINO, acc6). En este
texto, ltimo al que me quiero relerir, aparece un concepto de jveer mas
amplio, aplicado a esa concepcin de sexualidad no-normativa. Tal y como
explica la propia autora, lo jveer seria a sexually lreihted synonym lor
'questionin' (PERAINO, acc6, p. ), y aparece interrelacionado con otros
parametros tales como clase, raza o nacionalidad. El lihro es una
interpretacin, muy suhjetiva y personal, de la historia de la msica desde
la mitoloia clasica hasta la actualidad, vista desde ese espacio de no-
normatividad. Peraino utiliza conceptos como la idea de tecnoloia de
Ioucault como principal perspectiva de analisis, alo que da unidad al
analisis de la ran cantidad de luentes y msicas que utiliza para construir
su discurso. Se trata asi de uno de los ejemplos mas completos sohre los
que empezar a trahajar los discursos histricos hajo otra posihle mirada.
%&'()*& )% ,-.%/*0 1*/2* % 34&516
68
Estos trahajos, unidos a los mas recientes de autores como Ireitas
(accq) Moore (aca),
.
Uma noo de um ser aherto, permeavel, que aharca uma lluidez
de estados, trahalhada tamhm pelos autores Deleuze e Guattari. Um dos
conceitos de rande importncia em seus escritos, e que se relaciona com a
discusso da lluidez, permeahilidade do plano material, o conceito de
devir. Seundo os autores, a noo de devir opoe-se a ideia de lormas
essenciais ou sujeitos determinados, mas aponta para uma horda entre
multiplicidades, uma individualidade que pode ser composta por diversas
individualidades (DELEUZE, GUATTARI, acc8, p. 8). O contedo
musical da msica, para os autores, percorrido por devires-mulher,
devires-criana, devires-animal, mas soh toda espcie de inlluncias |...| ele
tende cada vez mais a devir molecular, numa espcie de marulho csmico
onde o inaudivel se laz ouvir, o imperceptivel aparece como tal
(DELEUZE, GUATTARI, acc8, p. a).
Tais nooes apontam para um individuo que torna-se permeavel,
aherto a interaoes, em consonncia com instncias tamhm entendidas
como lluidas e permeaveis, que so a msica e as relaoes de nero. Como
colocado por Deleuze e Guattari, a msica entendida como atravessada,
perpassada por devires, que entram em contato, lazem hlocos com outros
devires, em relaoes de aliana com as demais instncias.
8$9+,+3*+# :+,#:+%*$7&# #46,+ 123+,4
Cateorias como sexo, nero e sexualidade, podem ser
entendidas como carreando atualmente uma srie de possihilidades de
sinilicados, decorrentes dos anos de dehates e rellexoes realizadas ao lono
dessa tematica. A delinio de sexo enquanto caracteristica estritamente
hiolica, imutavel dos corpos, sohre os quais aem as construoes
culturais de nero, de lorma a adaptar esses corpos a cultura, tem sido
questionada por varios autores em dcadas recentes, no sentido de
Mexica woman and Mexica man opened out at every point like maize,
!"#$%&'!(), and lyph to the material world around them. They touched this
world and mered in some deree with it in their speeches, their dances, their
painted hooks, and their sons (TOMLINSON, accy, p. a).
!"#$%&' )&*+,$&-$.&.+ + ,+-&/0+# .+ 123+,4
73
prohlematizar a prpria distino ou separao entre as instncias
naturais/hiolicas e culturais/sociais (STRATHERN, q88. BUTLER,
acc. HARAWAY, accc. DELEUZE, GUATTARI, qqy).
A cateoria universal de um sujeito mulher, em muitos discursos
utilizada de lorma a eneralizar ou unilicar um universo extremamente
heteroneo de seres, loi questionada por Cynthia Sarti (acc) em suas
teorizaoes, quando rellete sohre a no estahilidade desse construto social.
as mulheres no constituem uma cateoria universal, exceto pela
projeo de nossas prprias relerncias culturais. As mulheres tornam-se
mulheres em contextos sociais e culturais especilicos. A analise do
leminismo, portanto, no pode ser dissociada do contexto de sua
enunciao, que lhe da o sinilicado (SARTI, acc, p. ).
Tal rellexo sohre o ser mulher implica pensar a noo de pessoa,
do eu, do rupo em pauta, com hase na qual se conliura a dilerenciao
entre homem e mulher. Com isso, Sarti se relere a uma concepo de
individuo como construo social (MAUSS, qy), o que implica
iualmente que a noo de nero se articula a analise da concepo de
eu que lhe corresponde, em um dado contexto social. Nesse sentido a
ideoloia leminista traz emhutida a noo moderna de individuo (SARTI,
acc, p. ).
Esse sujeito mulher universal e indilerenciado, muitas vezes alvo
das reivindicaoes dos movimentos leministas, ahordado pela autora Sueli
Carneiro (acc), quando esta vem apontar a experincia histrica
dilerenciada vivida por mulheres neras
Entre eles, Cook (acc), Taruskin (qq) e Ahhate (acc) chamaram a ateno
para a expresso de autoritarismo na aplicao normativa de estudos analiticos e
musicolicos na per|ormonce, com o intento de produzir interpretaoes corretas
sancionadas por pesquisas acadmicas.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
94
entre mente e corpo conliura-se na hase da autonomia artistica do
per|ormer, e vai de encontro aos limites da modstia e da delerncia.
6+&% &4*(&% '+.0)&5(.5*% 4* !"#$%#&'()"
Em seu livro T|e vesi |or Voice, Lydia Goehr descreve dois
ideais conllitantes de per|ormonce, cuja distino encontra-se na presena
ou na ausncia de visihilidade do per|ormer, a qual percehida como
resistncia ou alirmao da autoridade do compositor. A per|ormonce
orientada pelo VerIireve o que Goehr denomina a per|ormonce perleita
da msica (i|e per|eci per|ormonce o| mvsic). Pautada pela invisihilidade do
per|ormer e pela esttica lormalista, a per|ormonce lundada sohre o ideal da
lidelidade a per|ormonce sancionada pela cultura da msica ocidental de
concerto. Nela, a dimenso visual da per|ormonce deve ser desconsiderada
pela plateia e encarada como um mal necessario, devendo-se separar a
essncia sonora da ohra do evento da per|ormonce. O corpo, no ideal do
VerIireve, um corpo disciplinado e domesticado, que cumpre o
propsito de alirmar as hierarquias estahelecidas, em que a disciplina
imposta ao per|ormer codilica a separao entre classes sociais, compositor e
per|ormer, cultura e natureza, escrita e oralidade, mente e corpo, hem como
entre o per|ormer e o phlico. Um corpo que encerra o discurso olicial de
uma cultura o que Bakhtin denomina de corpo classico o corpo
acahado, portador de uma verdade, monolico (RUCK, accq, p. ).
Bakhtin associa o corpo classico as lestividades oliciais, destinadas a
sancionar e relorar a ordem estahelecida. A descrio de Bakhtin das
lestividades oliciais da Idade Mdia encontra um paralelo com o ritual da
per|ormonce da msica ocidental de concerto.
O elo com o tempo tornou-se lormal, mudanas e momentos de crise
loram releados ao passado. De lato, a lestividade olicial olhava para o
passado e utilizava-se do passado para consarar o presente. Contraria as
lestividades mais antias e puras, a olicial alirmava tudo que era estavel,
imutavel, perene. a hierarquia existente, a reliio existente, valores morais
e politicos, normas e proihioes. Era o triunlo de uma verdade ja
estahelecida, a verdade predominante apresentada como eterna e
indisputavel (BAKHTIN, q8, p. q).
Concertos de msica classica so rituais srios, onde se ouve
musica sria. Desde a seunda metade do sculo XIX, quando a pratica de
apresentar ohras interais suplantou o lormato heteroneo que misturava
improvisaoes, movimentos individuais de uma ohra a apario de artistas
convidados, o concerto adquiriu o carater de reverncia as ohras
! 34567589:;4 #$%&'() * + ,-.*/+ 0*#&.&.+
95
consaradas do museu, como demonstrao de respeito aos valores
culturais que loram areados a elas. A crise atual da msica de concerto,
expressa eralmente na indaao o que acontecera quando o phlico
idoso no mais estiver presente:, sinaliza um descompasso entre os valores
da sociedade contempornea e a insistncia em manter os valores de
outrora vinculados as ohras, como se parte da identidade dessas dependesse
do contexto da sua per|ormonce.
A per|ormonce, no ideal do VerIireve, concehida como um ato
que parte do ahstrato para o concreto. Assenta-se na separao entre mente
e corpo e encerra uma relao conllituosa entre o corpo idealizado,
concehido como um canal livre para a transmisso de um ideal ahstrato, e
o corpo lisico, o qual precisa ser disciplinado de acordo com o ideal desta
pratica. Buscando a neao da corporeidade, esse processo implica na
ocultao da associao entre som e movimento. A dissociao entre viso
e audio, apesar de contraria ao nivel lundamental da percepo humana,
lornece uma hase para a construo de um cdio de conduta, tanto para o
phlico acostumado a lrequentar concertos quanto para o per|ormer, em
que ha uma expectativa tacita de demonstrao de controle do per|ormer
sohre o seu corpo, coihindo expressoes laciais e movimentos espontneos.
A corporeidade vista como um suhproduto da ao perlormatica, em que
tudo o que extrapola o ahsolutamente necessario a realizao da ohra deve
ser evitado, ocultado ou desconsiderado, lazendo com que o per|ormer
solape a sua prpria presena lisica na condio de mediador imperleito. A
neao da corporeidade na per|ormonce alirma uma autoridade externa,
compositor/ohra, reprimindo a ameaa que a presena do corpo sonoro
(um corpo que ao mesmo tempo som e viso) representa a hierarquia
estahelecida.
O mecanismo para controlar e domesticar o apelo sensual do
corpo sonoro esta no contrato de lidelidade do per|ormer que, ao near a
sua corporeidade, a um s tempo asseura a respeitahilidade da sua
per|ormonce e conlirma a autoridade do compositor. Na esttica do ideal da
invisihilidade, composio e per|ormonce estahelecem um paralelo com o
casamento hurus, em que o exercicio do controle requer um
per|ormer/esposa passivo, passivel de ser moldado de acordo com os
desejos e necessidades do compositor/marido. Contudo, os prprios
termos morais e ideolicos impostos ao per|ormer/esposa os torna
incapazes de satislazer as necessidades musicais/sexuais do
compositor/marido. Se a msica composta almeja transcender os limites da
paina para ir ao encontro do ouvinte, necessita lanar-se para o territrio
social atravs do evento da per|ormonce, colocando em risco o controle
A
exihio do enajamento corporal com a msica e o instrumento conlere a
per|ormonce de ohras consaradas uma aura de espontaneidade e
descontrao, valores comumente associados a musica popular. A
demonstrao phlica da corporeidade permitida apenas aos per|ormers
do sexo masculino. Quando se trata de per|ormers do sexo leminino, a
desinihio do corpo na per|ormonce lrequentemente percehida como
uma ameaa a autoridade do compositor (autoridade patriarcal) e,
portanto, tahu.
Na cena contempornea, a violinista Nadja Salerno-Sonnenher
ilustra o preo alto que a mulher virtuose paa por transredir os limites.
No documentario de Paola di Ilorio, SpeoIin in Sirins (qqq), as lrases
Ela era considerada uma menina ma e Esta uma mulher no aue da
paixo so ouvidas lado a lado na ahertura do documentario, completadas
ainda por Voc pode amarra-la, mas ela iria provavelmente romper as
cordas. Considerada (ou seria rotulada:) como uma mulher de
personalidade lorte, Nadja parece despertar em seu phlico a mesma
intensidade com que vive a sua vida e laz a sua msica. Aluns a amam,
outros a odeiam pelo lato de que |ela| no uma per|ormer passiva das
ohras dos compositores classicos. Ela ataca a msica com uma intensidade
inesquecivel
a
. Severamente criticada pela sua corporalidade na
c
As it was, ackie's uninhihited hody movements in her cello playin already
provoked comment, some people ohjected to them as a distractin mannerism. But
ackie's physical approach to perlormance was completely natural do her. As Casals
later remarked when delendin ackie aainst criticism, 'But I like it. She moves
with the music'. (WILSON, qqq, p. ).
A citao completa. Martha Arerich can he a wild woman at the piano, hut
who cares: She has stupelyin technique and arrestin musical ideas. A
reportaem cita a virtuoses do sexo masculino e apenas trs mulheres. Mitsuko
Uchida, Martha Arerich e Yuja Wan. Disponivel em.
http.//www.nytimes.com/ac/c8//arts/music/ yuja-wan-and-kirill-
erstein-lead-a-new-piano-eneration.html: paewanted=all8_r=c~. Acesso em.
ahr. ac.
a
Comentario prolerido pelo apresentador do prorama de televiso norte-
americano 6o Minvies (In. ILORIO, qqq, 'c).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 04
per|ormonce, hem como pelo seu vestuario
do per|ormer e diz
respeito a svo maneira de elahorar respostas para as questoes que o/a
mohilizam, ao sev processo de construo de sentido em oposio a mera
reproduo de sinilicados passados.
Entretanto, tal proposta ainda esharra na condio de per|ormeJ
prociice, no sentido de que o papel do per|ormer ainda reverhera os ecos
prolonados de uma estrutura autoritaria lundada sohre o dualismo
cartesiano e as divisoes de nero. A impresso que temos que a sua
identidade social ja dada, implicando em comportamentos e modos de
pensar, sentir e expressar-se pr-estahelecidos. Em sua teoria sohre a
constituio dos neros, udith Butler propoe que a identidade constitui-
se atravs da repetio estilizada de atos, criando uma iluso permanente
do nero na qual acreditamos e sohre a qual aimos (BUTLER, q88, p.
q-ac). Para Butler,
Se o lundamento da identidade de nero a repetio estilizada de atos
ao lono do tempo, e no uma identidade aparentemente acahada, ento
as possihilidades de translormao de nero encontram-se na relao
arhitraria entre tais atos, na possihilidade de um tipo dilerente de
repetio, na ruptura ou na repetio suhversiva daquele estilo (BUTLER,
q88, p. ac).
A pratica colahorativa entre compositores e per|ormers na msica
contempornea representa uma ruptura com o paradima hierarquico. Na
colahorao dialica, a neociao eminentemente horizontal entre a
escrita e a oralidade desalia as lronteiras que outrora cumpriram o papel de
suhmeter a per|ormonce ao texto. A neociao se da em um territrio
compartilhado, marcado pela inlluncia reciproca entre composio e
per|ormonce (Cl. DOMENICI, acca, acch, aca, ach, aca). O estudo da
pratica colahorativa pode apontar caminhos para uma redelinio da
per|ormonce e do papel do per|ormer a partir do conceito de uma
per|ormoiive prociice. Tal esloro no pode ser leito unilateralmente, posto
que a per|ormonce musical uma arte relacional delinida a partir das
A lim de levantar/atualizar mais hihlioralias e experincias sohre
as tematicas de nero e de msica, vem sendo realizado um levantamento
hihlioralico eral que resulta numa primeira amostraem. Esta considera,
em parte, trahalhos acadmicos (dissertaoes e teses) dos ltimos anos
(accy-ac)
Todos os trahalhos citados nesta parte constam nos anexos, juntamente com os
demais, em tahelas que construimos numa primeira tentativa de classilicao por
area tematica.
Acessivel em http.//www.scielo.hr~
"#$%&'()*)+$,% -'($.$%&,%
1 27
B(.$#0&/+2;&$ -#.+#$9 4('"#)+.0( & 0&$&O+.0( +#.0+ '+#$ +$ $##&'$()*&
Alinal, o que que os dados nos mostram: Sem dvida, estes
olerecem uma lorte indicao de que ha uma rande lacuna em relao a
produo sohre msica e mulheres no Brasil. Porm, ao invs de lamentar
este tamanho vazio acadmico, partimos para uma analise mais, diamos,
otimista. Pois, locar naquilo que no existe certamente diminuiria o valor
da produo acadmica sohre msica e mulheres, que, por sua vez, tem
sido rica e expansiva. Decerto, uma resenha que explicasse o contedo de
cada texto, assim como os pontos de vista e as conclusoes erais, seria de
rande interesse. Porm, devido ao enloque do presente ensaio,
restrinimo-nos a uma apresentao das tendncias erais dos ltimos
cinco anos (accy-ac) de produo acadmica sohre msica e mulheres.
Atravs de uma analise prvia de todo o corpus de produo,
contemplando um universo de 6 puhlicaoes, pudemos identilicar quatro
cateorias ahranentes de enloque. () Corpo e 0"'61'#&%,", (a) Mulheres e
relaoes de nero - relaoes de poder, discursos leministas e/ou as
construoes de nero, () Composio e mulheres - compositoras e/ou as
suas composioes, e () Educao musical e mulheres - transmisso e
aprendizaem musicais e mulheres. De acordo com o contedo das escritas
e a lonte da puhlicao, loi possivel deduzir que as primeiras duas
cateorias representam produoes do campo da etnomusicoloia, a terceira
constitui cateoria da area de composio e musicoloia e a quarta,
cateoria da educao musical.
Ressaltamos que estas cateorias so, alm de suhjetivas,
conlluentes e lluidas. Isto , os assuntos ahordados nos diversos textos no
necessariamente se restrinem a uma s destas quatro cateorias. Por
exemplo, um texto que ahorda o corpo e 0"'61'#&%," muitas vezes
tamhm se insere nas relaoes de nero ou educao musical. Mas este
lato no lhe tira o enloque principal, qualquer que seja. Desta lorma,
identilicamos em cada texto a sua tematica eral, para inclui-la dentre uma
das quatro cateorias supracitadas. Cahe lrisar que, devido ao nmero
relativamente pequeno de trahalhos e a suhjetividade das cateorias, no
pretendemos apresentar uma analise estatistica, mas sim representativa das
tendncias erais da produo acadmica recente sohre msica e mulheres
(Gralico ).
De acordo com o Gralico , apreendemos que a maioria dos
trahalhos sohre msica e mulher no Brasil ahordam a questo da Relao
de nero, emhora Educao musical e Corpo e Perlormance ocupem o
seundo luar. Por ltimo, vemos a questo de Composio. No Gralico
a, mostramos a distrihuio destas cateorias por ano.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 28
P/?-#4( QR Distrihuio proporcional das tendncias tematicas, por cateoria,
dos trahalhos relacionados a msica e mulheres no Brasil (accy-ac).
P/?-#4( SR Distrihuio por ano da produo acadmica sohre msica
e mulheres (accy-ac). Cada coluna indica a proporo (e nmero)
"#$%&'()*)+$,% -'($.$%&,%
1 29
dos trahalhos por tema eral.
E dilicil perceher qualquer tendncia eral no Gralico a. Alm
disso, a distrihuio de trahalhos por cateoria tamhm demonstra uma
irreularidade. Ou seja, no ha nenhuma aparente inclinao /"'&- ao
leminismo desta produo acadmica. Este lato nos suere que a maior ou
menor nmero de trahalhos sohre msica e mulheres no Brasil se deve ao
desempenho de autores/as individuais e no a uma mudana
epistemolica eral, como ohservou Elizaheth Travassos (acc), por
exemplo, em relao a novos rumos da etnomusicoloia hrasileira ja no
inicio do sculo XXI. Portanto, o motivo de ter uma maioria de trahalhos
em acc8 lidando com o tema Corpo e 0"'61'#&%," apenas comunica-nos
que havia mais pesquisadores/as, quia leministas, com produo
acadmica neste ano.
Apresentamos, no Gralico , em quais das trs lontes a maioria
dos trahalhos se localiza.
P/?-#4( TR Distrihuio proporcional entre as trs lontes.
Anais, Teses e Dissertaoes e Revistas.
A maioria (%) da produo encontra-se puhlicada em anais de
eventos, seuida por % de puhlicaoes em dissertaoes e teses e apenas
c% em revistas. Emhora sejam sinilicativos, estes dados so diliceis de
interpretar. Por exemplo, sera que o haixo nmero de puhlicaoes em
revistas lala mais sohre os editores de revista, que no teriam tanto
interesse na questo de nero, ou sohre os autores que estariam satisleitos
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 30
com puhlicaoes em anais e acaham no suhmetendo artios para
puhlicao em revista: Por outro lado, o respectivo alto nmero de
puhlicaoes em anais parece ser devido a puhlicao de mltiplos textos
pelo(a) mesmo(a) autor(a) e, portanto, na sua rande maioria, lidam com o
mesmo assunto. Portanto, o nmero maior de puhlicaoes em anais em
comparao com um nmero de dissertaoes e teses no seria
necessariamente um sinal de que ha mais diversidade tematica nos anais
que nas teses e dissertaoes. Independente destas dvidas, podemos
constatar que a porcentaem total de trahalhos sohre a msica e mulheres
maior dentro o universo dos anais do que em qualquer outra lonte.
Por ltimo, olerecemos o Gralico , que mostra a distrihuio, por
campo, da produo acadmica no Brasil sohre msica e mulheres.
P/?-#4( UR Distrihuio da produo acadmica no Brasil
sohre msica e mulheres (accy-ac).
V-se que a rande maioria dos trahalhos do nosso universo de
pesquisa, alcanando %, leita na area de etnomusicoloia, enquanto a
produo nas areas de composio/ musicoloia e educao musical
relativamente prxima. Postulamos que este lato se deve a relao intima
que a etnomusicoloia tem com os discursos e trahalhos das cincias
sociais, um campo que tem uma tradio ja consolidada, pelo menos desde
"#$%&'()*)+$,% -'($.$%&,%
1 31
a dcada de qyc, que atende a questoes de nero, alm das de classe e
raa/ etnia. Emhora seja importante destacar que trahalhos pioneiros
anteriormente discutidos loram puhlicados nas areas de musicoloia e
0"'61'#&%," ainda nos anos qqc.
Estes dados olerecem outras oportunidades que no
investiaremos aqui. Poderiamos peruntar, por exemplo, quais so as
orientaoes tericas de cada texto: Como comparariam as hihlioralias:
Sera que so todos uiados por um olhar explicitamente leminista: Sera
que os mesmos dialoam com os estudos ps-coloniais: E at que ponto
isso laria dilerena nas conclusoes erais de cada um: No momento,
deixamos as peruntas para um projeto luturo. Por enquanto resta-nos
ressaltar que, emhora se carea de trahalhos sohre msica e mulheres no
Brasil, existem trahalhos interessantes e valiosos a esta area de estudo.
Como sera que um levantamento semelhante sohre msica e homens
compararia com o nosso: Seria que teria to pouca produo sohre
compositores e composioes: E num estudo que locasse homens, qual
seria o assunto de maior destaque: Certamente tais ohservaoes exporiam
as ahordaens tericas e hases epistemolicas do estudo da msica no
Brasil.
Por lim, atravs desta exposio de dados e rellexoes de uma
pesquisa ainda inicial, esperamos ja poder instiar novos trahalhos, novas
'""+,'$5&+ sohre relaoes de nero, mulheres e msica no Brasil. Esperamos
que estas possiveis '""+,'$5&+ sejam ahertas para dialoar com as
epistemoloias ps-coloniais e especilicidades das questoes tnico-raciais,
das sexualidades plurais, de classe, das desiualdades sociais e tamhm das
eracionais. Consideramos que todas so questoes que, alm de terem
estreita relao com o musical, so extremamente atuais, e terica e
politicamente de suma importncia.
V!W!V!XBMKL
ANZALDUA, Glria. La conciencia mestiza / Rumo a uma nova conscincia.
Traduo de Ana Cecilia Acioli Lima. 8"L$+5& ;+5*21+ !"#$%$+5&+, Ilorianpolis,
UISC, v. , n. , p. yc-yq, dez. acc.
AQUISE, Norma Morovejo. Alunos aportes del lesholeminismo al leminismo
latinoamericano. In. MINOSO, Yuderkys Espinosa (Or.). :0'14$#&,$1%"+ ,'Z5$,&+ &
-&+ 0'C,5$,&+ 5"N'$,1[01-Z5$,&+ 2"- 6"#$%$+#1 -&5$%1&#"'$,&%1\ v. . Buenos Aires. En
La Irontera, acc. p. 6-ya.
ARAUO, Rosnela, SANTOS, Ceres, PONS, Claudia (Or.). R&'%&L&- %1
6"#$%$%1\ Salvador. SEPROMI, acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 32
ARAUO, Samuel et al. A violncia como conceito na pesquisa musical. rellexoes
sohre uma experincia dialica na Mar, Rio de aneiro. 8"L$+5& H'&%+,*-5*'&- 2"
)Q+$,&. H'&%+,*-5*'&- )*+$, 8"L$"], v. c, p. -a8, acc6.
AZERDO, Sandra. Teorizando sohre nero e relaoes raciais. 8"L$+5& ;+5*21+
!"#$%$+5&+, nmero especial, p. ac-a6, qq.
BAIRROS, Luiza. Nossos leminismos revisitados. 8"L$+5& ;+5*21+ !"#$%$+5&+, v. , n.
a, p. 8-6, qq.
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e hranquitude no Brasil. In.
CARONE, Iray Carone, BENTO, Maria Aparecida Silva (Or.). 7+$,1-1/$& +1,$&- 21
'&,$+#1. estudos sohre hranquitude e hranqueamento no Brasil. Petrpolis, R.
Vozes, acca. p. a-8.
BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth. Leshian and Gay Music. In. BRETT, Philip,
WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary C. (Ors.). D*""'$%/ 5F" 0$5,F. the new ay
and leshian musicoloy. a. ed. New York. Routlede, acc6. p. -8q.
BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth. Gay and leshian music. In. SADIE, Stanley,
TYRRELL, ohn (Ors.). HF" K"] I'1L" 2$,5$1%&'E 16 #*+$, &%2 #*+$,$&%+.
London. Macmillan, acc. Disponivel em.
http.//www.oxlordmusiconline.com/puhlic/~. Acesso em. ahr. ac.
BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary C. (Ors.). D*""'$%/ 5F" 0$5,F.
the new ay and leshian musicoloy\ a ed. New York. Routlede, acc6.
BRITTO DA MOTTA, Alda. Revisitando o par relutante. In. ALVES, Ivia Alves,
SCHEILER, Maria de Lourdes (Or.). H'&L"++$&+ 2" /U%"'1 %& 0"'+0",5$L& 6"#$%$+5&.
v. . Salvador. NEIM, acc. p. c-a.
CARDOSO, Claudia Pons. 9*5'&+ 6&-&+. leminismos na perspectiva de mulheres
neras hrasileiras. Tese (Doutorado em Estudos Interdisciplinares sohre mulheres,
nero e leminismo). PPGNEIM, Universidade Iederal da Bahia, Salvador, aca.
______. Histria das mulheres neras e pensamento leminista nero. alumas
rellexoes. In. VIII SEMINARIO INTERNACIONAL IAZENDO GNERO.
:%&$+\\\ Ilorianpolis, acc8. Disponivel em.
http.//www.lazendoenero.ulsc.hr/8/sts/ST6q/Claudia_Pons_Cardoso_6q.pdl ~
Acesso em ahr. ac.
CARNEIRO, Sueli. Identidade leminina. In. SAIIIOTI, Heleieth, MUNOZ-
VARGAS, Monica (Ors.). )*-F"' J'&+$-"$'& ? &++$#. Rio de aneiro. Rosa dos
Tempos, qq. p. 8y-q.
CURIEL, Ochy. Critica poscolonial desde las practicas politicas del leminismo
antirracista. KN#&2&+, Universidad Central, Colomhia, n. a6, p. qa-c, ahr. accy.
CUSICK, Suzanne. On a leshian relationship with music. a serious ellort not to
think straiht. In. BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary C. (Ors.).
D*""'$%/ 5F" 0$5,F. the new ay and leshian musicoloy\ a ed. New York.
Routlede, acc6. p. ac-.
"#$%&'()*)+$,% -'($.$%&,%
1 33
______. Ieminist theory, music theory, and the mind/hody prohlem. 7"'+0",5$L" 16
K"] )*+$,, v. a, n. . p. 8-ay, Winter qq. Disponivel em.
www.jstor.or/stahle/8q~. Acesso em. out. acc8.
DIAS, Leticia Grala, MELLO, Maria Inez Cruz, PIEDADE, Acacio Tadeu. Doce
dialoo. msica e relaoes de nero em duas canoes de Chico Buarque. =:
7"+3*$+&, v. , acc8. Disponivel em. http.//www.ceart.udesc.hr/
revista_dapesquisa/volume/numero/musica/leticia-mi_acacio.pdl~. Acesso
em. ahr. ac.
IANON, Irantz. 7"-" %"/'&G #C+,&'&+ J'&%,&+\ Salvador. EDUIBA, acc8.
IERREIRA, Lucinete, DIAS, Lda. ;* +1* :%&+5C,$&^. histrias de uma rainha.
Recile. IacIorm, ac.
IREIRE, Paulo. Criando mtodos de pesquisa alternativa. aprendendo a laz-la
melhor atravs da ao. In. BRANDAO, Carlos Rodriues (Or.). 7"+3*$+&
0&'5$,$0&%5". 8. ed. So Paulo. Brasiliense, qqc.
IREIRE, Reheca Sohral. A participao politica das mulheres. hip hop e (novo)
movimento social em Salvador. In. IX SEMINARIO INTERNACIONAL
IAZENDO GNERO. :%&$+\\\ Ilorianpolis. Universidade Iederal de Santa
Catarina, acc.
GONZALEZ, Llia. Mulher nera. (q8). In. )"#1'$&- P?-$& I1%_&-"_. |s.l.|. |s.n.|,
|s.n.|. Disponivel em. www.leliaonzalez.or.hr~. Acesso em. ahr. ac.
GREEN, Lucy. )*+$,&G /?%"'1 E "2*,&,$N%\ Traduccin de Pahlo Manzano. Madri.
Morata, acc.
HARAWAY, Donna. Situated Knowlede. The science question in leminism and
the privilee ol partial perspective. !"#$%$+5 <5*2$"+, v. , n. , p. y-qq, q88.
Disponivel em. http.//www.jstor.or/stahle/ y8c66~. Acesso em. out.
acc8.
HERNDON, Marcia. Epiloue. the place ol ender within complex, dynamic
musical systems. In. MOISALA, Pirkko, DIAMOND, Beverley (Ors.). )*+$, &%2
/"%2"'\ Chicao. University ol Illinois Press, accc. Introduction, p. y-q.
HISAMA, Ellie M. Ieminist music theory into the millennium. a personal history.
<$/%+. !"#$%$+#+ &5 & )$--"%%$*#, v. a, n. , p. a8y-aq, accc. Disponivel em.
http.//www.jstor.or/stahle/ yaq~. Acesso em. out. aca.
HOLANDA, oana C., GERLING, Cristina Capparelli. Estudos de nero em
msica a partir da dcada de qc. escopo e ahordaem. 8"L$+5& :++1,$&WX1 K&,$1%&-
2" )Q+$,&G 8"L$+5& :K), Rio de aneiro, v. , acc.
KOSKOII. Ellen. Gender, power and music. In. ZAIMONT, udith Lan (Or.).
HF" #*+$,&- ]1#"%. &% $%5"'%&5$1%&- 0"'+0",5$L". v. . New York. Greenwood Press,
qq. p. y6q-y88.
LAIERL, Christopher I. `8",1'2 $5G &%2 -"5 $5 J" >%1]%a. sons lyrics, ender, and
ethnicity lrom qac to q6c. Viena. Lit Verla, acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 34
LHNING, Anela. Etnomusicoloia hrasileira como etnomusicoloia
participativa. inquietudes em relao as msicas hrasileiras. In. TUGNY, Rosnela
Pereira de, QUEIROZ, Ruhem Caixeta de (Ors.). )Q+$,&+ &6'$,&%&+ " $%2Z/"%&+ %1
O'&+$-\ Belo Horizonte. Editora UIMG, acc6. p. y-.
LUHNING, Anela. E., ROSA, Laila. Msica e cultura no Brasil. da invisihilidade e
inaudihilidade a percepo dos sujeitos musicais. In. ALVES, Paulo Csar (Or.).
R*-5*'&. #Q-5$0-&+ -"$5*'&+\ So Paulo, Salvador. EDUSC, EDUIBA, acc. p. q-
8.
McCLARY, Susan. Narrative aendas in ahsolute music. identity and dillerence in
Brahms's third symphony. In. SOLIE, Ruth A. (Or.). )*+$,1-1-1/E &%2 2$66"'"%,".
ender and sexuality in music scholarship. Camhride. Camhride University Press,
qq. p. a6-.
______. !"#$%$%" "%2$%/+. music, ender, sexuality\ Minneapolis. University ol
Minnesota Press, qq.
MELLO, Maria Inez Cruz. O cime-inveja na msica e nos rituais Wauja.
:%5F'101-N/$,&+, Recile, UIPE, ano c, v. y, n. , acc6a.
______. Toda msica de e para &0&0&&5&$. relaoes de nero, msica e autoria
entre os indios Wauja. In. VII SEMINARIO INTERNACIONAL IAZENDO
GNERO. :%&$+\\\ Ilorianpolis. Universidade Iederal de Santa Catarina, acc6h.
______. A&#*'$>*#&. #Q+$,&G #$51 " '$5*&- "%5'" 1+ b&*B& 21 :-51 Y$%/*\ Tese
(Doutorado em Antropoloia) Universidade Iederal de Santa Catarina,
Ilorianpolis, acc.
MIDDLETON, Richard. Music helonins. western music and its low-other. In.
BORN, Georina, HESMONDHALGH, David (Or.). b"+5"'% #*+$, &%2 $5+ 15F"'+.
dillerence, representation, and appropriation in music\ Los Aneles. University ol
Calilornia Press, accc. p. q-8.
MOCKUS, Martha. <1*%2$%/ 1*5. Pauline Oliveros and leshian musicality\ New
York. Routlede, accy.
______. Queer thouhts on country music and k.d.lan. In. BRETT, Philip,
WOOD, Elizaheth, THOMAS, Gary C. (Ors.). D*""'$%/ 5F" 0$5,F. the new ay
and leshian musicoloy\ a ed. New York. Routlede, acc6. p. ay-ay6.
MOISALA, Pirkko, DIAMOND, Beverley (Ors.). )*+$, &%2 /"%2"'\ Chicao.
University ol Illinois Press, accc.
MOREIRA, Talitha Couto. )Q+$,&G #&5"'$&-$2&2" " '"-&Wc"+ 2" /U%"'1. ,&5"/1'$&+
5'&%+J1'2&%5"+\ Dissertao (Mestrado em msica-etnomusicoloia) Universidade
Iederal de Minas Gerais, Belo Horizonte, aca.
NOLETO, Ralael da Silva. 712"'1+&+G 2$L$%&+ " #&'&L$-F1+&+. 1 $#&/$%C'$1 " &
+1,$&J$-$2&2" F1#1++"4*&- #&+,*-$%& ,1%+5'*Z21+ "# 51'%1 2&+ ,&%51'&+ 2" )7O\
Dissertao (Mestrado em Antropoloia) Universidade Iedral do Para, Belm,
aca.
"#$%&'()*)+$,% -'($.$%&,%
1 35
PALOMBINI, Carlos. Msica lshica e uei, de Philip Brett e Elizaheth Wood.
notas de traduo. 7;8 )d<A. 8"L$+5& 2" 7"'61'#&%," )*+$,&-, v. 8, p. y-6, dez.
acc.
PINSKI, Carla Bassanezi, PEDRO, oana Maria (Or.). K1L& F$+5N'$& 2&+ #*-F"'"+
%1 O'&+$-\ So Paulo. Contexto, aca.
RADANO, Ronald, BOHLMAN, Philip. )*+$, &%2 5F" '&,$&- $#&/$%&5$1%\
Chicao. The University ol Chicao Press, accc. p. -6.
ROSA, Laila. Resenha a ;* +1* :%&+5C,$&^. F$+5N'$&+ 2" *#& '&$%F&, de Lucinete
Ierrera e Lda Dias. R&2"'%1 ;+0&W1 !"#$%$%1, v. a, p. 8-8y, ac. Disponivel em.
http.//www.seer.ulu.hr/index.php/neuem/ article/ view/q~. Acesso em.
ahr. ac.
______. :+ B*'"#"$'&+ 2& %&WX1 Y&#JC e9-$%2&G 7;f. msicas, perlormances,
representaoes de leminino e relaoes de nero na jurema sarada\ Tese
(Doutorado em Msica) Universidade Iederal da Bahia, Salvador, accq.
Disponivel em.
http.//www.hihliotecadiital.ulha.hr/tde_husca/arquivo.php:codArquivo=6cc
~. Acesso em. out. aca.
SANTHIAGO, Ricardo. <1-$+5&+ 2$++1%&%5"+. histria (oral) de cantoras neras. So
Paulo. Letra e Voz, accq.
SANTANNA, Marilda. :+ 21%&+ 21 ,&%51. o sucesso das estrelas-intrpretes no
carnaval de Salvador. Salvador. EDUIBA, accq.
SARKISSIAN, Mararet. Gender and music. In. MYERS, Helen (Or.).
;5F%1#*+$,1-1/E. an introduction. New York. W. W. Norton, qqa. p. y-8.
SAWIN, Patricia E. Perlormance at the nexus ol ender, power, and desire.
reconsiderin Bauman's verhal art lrom the perspective ol endered suhjectivity as
perlormance. HF" T1*'%&- 16 :#"'$,&% !1->-1'", v. , n. , p. a8-6, acca.
Disponivel em. http.//www.jstor.or/ stahle/acy8~. Acesso em. out. aca.
SCHIEBINGER, Londa. 9 6"#$%$+#1 #*21* & ,$U%,$&g. Bauru, SP. EDUSC, acc.
SCOTT, oan. Histria de mulheres. In. BURKE, Peter (Or.). : "+,'$5& 2& F$+5N'$&.
novas perspectivas\ So Paulo. Editora UNESP, qqa. p. 6-q.
______. Gnero. uma cateoria til para analise histrica. Traduo de Christine
Rulino Dahat e Maria Betnia Avila. Recile. SOS Corpo, qq. p. -ay. Texto
oriinal. SCOTT, oan. Gender. an uselul cateory ol historical analyses. In. ______.
I"%2"' &%2 5F" 71-$5$,+ 16 M$+51'E\ New York. Columhia University Press, q8q.
SEGATO, Rita Laura. Identidades politicas e alteridades histricas. una critica a las
certezas del pluralismo lohal. 8"L$+5& K*"L&+ <1,$"2&2, Buenos Aires, n. y8, p.
c-a, acca.
______. Okaril. uma toada icnica de Iemanja. 8"L$+5& 21 7&5'$#@%$1 M$+5N'$,1 "
:'5Z+5$,1 K&,$1%&-, n. a8, p. ay-a, qqq.
______. <&%51+ " =&$#1%"+. 1 01-$5"Z+#1 &6'1[J'&+$-"$'1 " & 5'&2$WX1 &'3*"5$0&-\
Brasilia. Editora da UnB, qq.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 36
SILVA, Helena Lopes da. )Q+$,& %1 "+0&W1 "+,1-&' " & ,1%+5'*WX1 2& $2"%5$2&2" 2"
/U%"'1. *# "+5*21 2" ,&+1\ Dissertao (Mestrado em Msica) Universidade
Iederal do Rio Grande do Sul, Porto Alere, accc.
SOVIK, Liv. :3*$ %$%/*?# ? J'&%,1\ Rio de aneiro. Aeroplano, accq.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. 712" 1 +*J&-5"'%1 6&-&'g Belo Horizonte. Editora da
UIMG, acc. p. -8 e 8-.
TANAKA, Harue. Ganhadeiras de Itapu. um estudo de caso sohre nero, msica
e educao. In. XVII ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAAO BRASILEIRA
DE EDUCAAO MUSICAL. :%&$+\\\ So Paulo. Unesp/ABEM, acc8a.
______. As anhadeiras de Itapu (estudo de caso). nero, msica e educao. In.
SEMINARIO INTERNACIONAL IAZENDO GNERO, 8., acc8, Ilorianpolis.
:%&$+\\\ Ilorianpolis. UDESC/ UISC, acc8.
TASSINARI, Antonella, GROSSI, Miriam Pillar, GARCIA, Dina Susana
Mazarieos. Mulheres Mayas na Guatemala. relaoes de poder, nero, etnia e
classe. In. IX SEMINARIO INTERNACIONAL IAZENDO GNERO. :%&$+\\\
Ilorianpolis. Universidade Iederal de Santa Catarina, acc. Disponivel em.
http.//www.lazendoenero.ulsc.hr/q/resources/anais/ay88c_ARQUIVO_
MULHERESMAYASNAGUATEMALARELACOESDEPODER,GENERO,ETNI
AECLASSE.pdl~. Acesso em. out. aca.
TRAVASSOS, E. Balano da etnomusicoloia no Brasil. 90*+G Campinas, v. q, p.
66-yy, acc.
TUGNY, Rosnela Pereira de, QUEIROZ, Ruhem Caixeta de. (Ors.). )Q+$,&+
&6'$,&%&+ " $%2Z/"%&+ %1 O'&+$-\ Belo Horizonte. Editora UIMG, acc6.
WARE, Vron. O poder duradouro da hranquidade. um prohlema a solucionar. In.
_____ (Or.). O'&%3*$2&2". identidade hranca e multiculturalismo\ Rio de aneiro.
Garamond, acc. p. y-c.
WERNECK, urema Pinto. 9 +&#J& +"/*%21 &+ $&-12U+. mulheres neras e a
cultura midiatica. Tese (Doutorado em Comunicao) Universidade Iederal do
Rio de aneiro, Rio de aneiro, accy.
WHITELEY, Sheila, RYCENGA, enniler. D*""'$%/ 5F" 010*-&' 0$5,F. New York.
Routlede, acc6.
WONG, Dehorah. Ethnomusicoloy and dillerence. ;5F%1#*+$,1-1/E, v. c, n. a,
cth Anniversary Commemorative Issue, p. aq-ayq, acc6. Disponivel em.
http.//www.jstor.or/stahle/acya ~. Acesso em. a set. aca.
ZAIMONT, udith Lan (Or.). HF" #*+$,&- ]1#"%. an international perspective\
v. . New York. Greenwood Press, qq.
""
#$%&'($ '# )*+#,(- .(,/( # /#,0(,12+.#
!"#$%&'(&( " #$%$&'() )&*+,*-#$.&* +,-"&. " /0"-1/0$0" -$ 2.&1.
34"+&" 0. /-56/. 0. ('674. 88
IABIANE BEHLING LUCKOW
s pesquisas em Msica, tanto no campo da Etnomusicoloia quanto da
Musicoloia, principalmente a partir dos anos q8c, tm sido
inlluenciadas pelos rumos contemporneos da area das humanidades, na
husca por um contexto mais amplo as praticas culturais. O papel do
etnomusicloo no mais se resume a transcrio, em ahinete ou !" $%&%,
da msica no ocidental ou lolclrica e a descrio de instrumentos
musicais e danas, assim como a Musicoloia ja no se concentra mais em
produzir unicamente trahalhos sohre vida e ohra de compositores
consarados da msica erudita ocidental. Para tal, contrihuiu a consolidao
dos paradimas ps-estruturalistas, que consideram o texto no como um
ohjeto com limites claramente delinidos que lixam sinilicado, mas um
conjunto de discursos (WILLIAMS, accy, p. c).
A aproximao da Etnomusicoloia com outras areas cientilicas,
como a Antropoloia e a Etnoloia, precedeu e pode at mesmo ter
precipitado a husca da Musicoloia por novas ahordaens. Novas direoes
loram propostas pela area, ampliando o espectro da investiao
musicolica para os aspectos suhjetivos da msica ocidental, seu principal
ohjeto de estudo. Uma dessas ahordaens trata das questoes relacionadas a
nero e a sexualidade. Ao ahordar as questoes relacionadas a nero, a
Musicoloia husca incorporar em sua analise outras vozes, de lorma a
construir seu ohjeto, conlorme ressalta Williams (accy, p. c), como um
conjunto de discursos. Este conjunto de discursos no construido
apenas pela presena e relevncia desses estudos de nero, mas na
neociao das identidades do prprio pesquisador em campo.
Para a musicloa Susan McClary (acca), a questo de nero
uma das ahordaens possiveis na musicoloia, para uma melhor
compreenso da relao entre msica e sociedade, tamhm quando o
ohjeto de estudo lor a msica ocidental. Seundo a autora.
, como um dos
proporcionaram, alm do material empirico sohre os cahars, uma
percepo da cidade moderna, de seus personaens e de suas paisaens, por
parte dos intelectuais que a puhlicavam e que para elas escreviam.
Recehi ainda o auxilio de pessoas que tamhm se interessam pela
Porto Alere do inicio do sculo, periodo no qual viveram antepassados,
amios de amios. Uma conversa com o Dr. Iernando Ahreu e Silva, que
solicitamente despertou lantasmas do passado, contrihuiu para
direcionar-me na husca de novos dados. Tamhm com o Dr. Miuel do
Espirito Santo, presidente do S"-*!*,*% =!-*>/!&% + H+%7/R4!&% 6% G!% H/)"6+
6% ?,$, que, alm de empreender uma husca pessoal para me ajudar,
emprestou valiosos documentos de seu acervo pessoal. Ainda recehi
auxilio do jornalista Marcello Campos, que pesquisa a noite porto-
alerense, possuindo vasto material sohre o '$,. 6%- &)<)6%/+- e demais
cahars daquela poca. Mais uma vez, percehi a importncia do arquivista,
que atende a tantas demandas dilerentes e que sempre pode ter ouvido
lalar aluma coisa sohre o nosso ohjeto.
9"(741$0.( " 0/(67((:"(
A Porto Alere urhano-industrial do inicio do sculo era uma
cidade de duas personalidades (MACHADO, qy8, p. 8). Dilerente do
relato dos cronistas da poca, que narravam uma cidade pacata e tranquila,
onde as moas aproveitavam a Rua da Praia para o lootin e as lamilias se
reuniam nos cals e cinemas, no linal da tarde, Carlos Machado
6
, em suas
memrias, ohserva que a tranquilidade da cidade era interrompida com a
cheada da noite, o que acontecia por volta das horas da tarde, horario
em que o expediente de trahalho se encerrava. A partir desse momento,
os cals e as principais ruas do centro licavam repletas de pessoas em
husca de lazer e companhia conlorme o historiador Maroneze (qq, p.
). Ele ohserva que a histria da cidade, nesse momento, concentra-se nas
ruas centrais, tanto durante o dia, no 4%%*!"7, nos cals, nos dehates sohre os
mais variados tpicos diante das livrarias, quanto durante a noite. Mesmo
que houvesse espaos noturnos, como hares e prostihulos em outras reioes
da cidade, o centro ainda reunia o maior nmero de estahelecimentos do
.
A liao entre a prostituio e a vida artistica, no caso das artistas
mulheres, hastante estreita e lazia parte do senso comum da poca.
A relao, entre as prostitutas e seus caltns, pode ser apreendida, por exemplo,
na trama dos romances O Ciclo das Auas (acca), de Moacyr Scliar, e ovens
Polacas (acc8), de Ester Larmann, amhos escritores de oriem judaica.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
1 60
McClary (acca, p. , traduo nossa) ohserva que mulheres no palco so
vistas como mercadorias sexuais independente de sua aparncia ou
seriedade
.
O que laremos a seuir identilicar os elementos visuais que
operam como simholos de uma identidade comum, a msica, e conlrontar
no conjunto a concentrao de evidncias sohre o ser leminino e
masculino, entendendo que o identitario desse conjunto no se resume a
idealizar as lormas do musicista, mas o nero no qual se constri a sua
identidade.
A ,-)&(" +" $,)#"5 /"), , 6,-?%("
O luar cultural do retrato , antes de tudo, uma questo de
tempo. E uma imaem que no existe lora de um tempo histrico,
especialmente o que loi produzido em estdio, e lora do momento no qual
os acordos entre a interpretao do lotralo, as premissas tcnicas e as
demandas do retratado loram estahelecidos. Em todos os periodos, os
aentes desse acordo selecionavam, articulavam, dispunham de lerramentas
de apoio. liurino, acessrios, cenario, iluminao e a pose para ohter um
resultado que satislizesse a expectativa do seu presente e projetasse sua
permanncia no luturo. Portanto, cada retrato reserva a si a possihilidade
de ser nico porque, dilicilmente, o acordo renovavel. A cada vez que a
pessoa retorna ao estdio, outro momento esta em curso e um novo acordo
deve ser estahelecido. Assim, a articulao entre a identidade lisionmica e
a expresso suhjetiva, valores inerentes a criao da personaem, passa a ser
o rellexo de um carater que pretende estar inlormado no conjunto e no
apenas na mensaem do rosto. No estdio, a identidade massa moldavel
com as lerramentas estruturais da pose e cenario.
Quando o cenario some, a pose passa a ser o elemento
concentrador de todos os sentidos apreensiveis na construo da liura, e
so estes os elementos utilizados nessa representao para criar uma
,
apontando para a estreita liao no imainario de representaoes entre as
mulheres de vida artistica a prostituio. Assim, intensilica-se a necessidade
de distanciamento deste universo, cohrindo, escondendo e contendo o
corpo e o olhar, marcando assim a pertena ao universo da msica de
concerto e distante do cahar. Menos pela dilerena de repertrio e mais
pela postura artistica e perlormativa, poder-se-ia dizer.
Iinalmente, corrohorando o que alirma Cook (qq8) sohre a
duplicidade da mensaem, que promove uma aproximao ao mesmo
tempo em que demarca um irremediavel distanciamento, o loco no rosto
laz com que o olhar aproxime o artista de quem admira a lotoralia,
mesmo que este esteja lixado em um ponto distante. No entanto, a
conteno corporal, que deshorda apenas em aluns hreves momentos,
trata de marcar a distncia, evocando a representao do personaem do
artista como vinculado a uma realidade supracotidiana, remetendo a um
elemento de lona durao, remanescente do linal do sculo XVIII e
sculo XIX, com seus ideais do nio artistico inspirado.
I&%& C:& (6"-"<"$(& +& (6"-"$%&'(& +&) '"#"$%&'(&) +, (-#.%/%,#,)5
& #,"%(& J&%9C%$C(&-& , )C& 6"-#%(9C(7K" /&%& & (-#,%/%,#&7K" +" %,#%&#"
Aps a analise sistematica dos dados que se depreendem da leitura
de elementos compositivos das imaens lotoralicas, levantamos um
conjunto de reularidades e descontinuidades que indicam a existncia de
um padro, que envolve elementos conscientes e inconscientes na escolha
dos seus elementos. Pensamos que tanto seuir quanto desviar-se deste
padro possui sinilicados sinilicados que para ns so peruntas, mais
do que respostas.
Retratos, expresso lacial, msica, intrpretes, emoo. Onde nos
ancorarmos para avanar em uma compreenso iconolica da aleria de
lotoralias: Buscaremos relerenciais na iconoloia warhuruiana, pelo
interesse que traz, em sua matriz, por comhinar a leitura entre o aspecto
emocional e a dimenso histrica da ohra de arte, e pela importncia que o
desejo em compreender o retrato teve na elahorao de suas teorias.
Desde 88, o historiador da arte Ahy Warhur assimilou o
ensinamento de Charles Darwin, divulado em sua ohra T|e Eapression o|
i|e Emoiion in Mon onJ Animo|s (8ya). passou a ver na aplicao da
RAIAEL DA SILVA NOLETO
unca imainei que uma lrase losse reverherar com tal intensidade em
minha conscincia quanto a lrase dita por Foio|.
:
Enquanto
conversavamos sohre as provaveis motivaoes que aproximariam
determinadas cantoras da chamada Msica Popular Brasileira
!
de um
phlico homossexual, senti-me estimulado a peruntar a Foio| se ele, a
partir de sua experincia como l de Gal Costa e como homossexual,
acreditava que a sexualidade poderia marcar dilerenas entre o modo de
ser l de pessoas homo ou heterossexuais. Diriindo-me a ele de maneira
mais direta, indauei.
(RAIAEL) Voc acha que existem dilerenas entre o l o, e o no
o,:
(IATAL) Eu acho que tem porque o l o,... Eu acho que o l o,...
ele se imaina, ele se transporta para o corpo da cantora ou a cantora se
transporta para o corpo dele. Ele vive aquele momento eu sou a Gal |...|
,
que se inscreve nos corpos.
Foio| utiliza uma metalora que suere as ideias de translerncia,
transporte, deslocamento para um corpo (ou corporalidade) exterior,
que esta para lora do sujeito e que, por ocupar o espao da exterioridade,
representa uma alteridade apenas momentaneamente alcanavel, como
num processo de possesso, ativado, neste caso, pelo que Foio| denomina
como imainao, ou seja, aquele instante em que o l se imaina, em
que ele vive aquele momento 'eu sou a Gal'.
Antes de adentrar plenamente na discusso que pretendo travar,
devo esclarecer que os termos perlormance e perlormatividade so
utilizados neste trahalho a partir da perspectiva em que Brickell (acc) nos
ajuda a compreender a distino entre a lorma com que tericos como
Gollman (acca) utilizam a palavra perlormance e autores como Butler
(acca, acca) utilizam o termo perlormatividade. Para Brickell (acc),
Butler comumente incompreendida como se estivesse arumentando
que a perlormatividade envolve sujeitos realizando representaoes
enerilicadas, apesar de sua perlormatividade se hasear na repetio de
Tericos como Gollman (acca) desenvolvem o conceito de
perlormance (ou representao) num sentido mais teatral, ou seja, que
considera que os sujeitos desenvolvem uma atuao perlormatica
particular a partir de seu contexto de interao cotidiano com outros
sujeitos. Essas nuances de dilerenciao entre Gollman e Butler so
elencadas por Brickell (acc) no sentido de clarilicar a distino entre dois
conceitos que, em aluns aspectos, tornam-se similares. Porm, enquanto
para Gollman (acca) a perlormance concehida como uma atuao
perlormatica em um contexto de interao social, para Butler (acca), a
perlormatividade se da no plano da construo discursiva, sendo citada
corporalmente atravs de atos que no so necessariamente ensaiados ou
encenados, mas produzidos pelas relaoes de poder que constranem os
individuos a huscarem a assuno aos seus sexos atravs da reiterao
corporal dessas normas discursivas.
Anos mais tarde e com preocupao semelhante a de Brickell
(acc), Miskolci e Pelcio (accy) conceituam perlormatividade soh a tica
de Butler (acca) no intuito de dilerencia-la do conceito de perlormance,
descartando a hiptese de existncia de sujeitos voluntaristas que encenam
o nero. Para os autores,
as normas reuladoras do sexo so perlormativas no sentido de reiterarem
praticas ja reuladas, materializando-as nos corpos, marcando o sexo,
exiindo praticas mediante as quais se produz uma enerilicao. No se
trata, portanto, de uma escolha, mas de uma coihio, ainda que esta no
se laa sentir como tal. Dai seu eleito a-histrico que laz desse conjunto
de imposioes alo aparentemente natural (MISKOLCI, PELUCIO,
accy, p. a8).
Para os eleitos deste trahalho, utilizo a palavra perlormance
relerindo-me a comportamentos, atos e expressoes pessoais usadas,
individualmente, pelos sujeitos em seus cotidianos de interao com outras
.
Entretanto, essa tentativa de aproximao entre ls homossexuais
e cantoras pelas vias do esto no uma rera sem mltiplas exceoes e
matizes. Para aluns ls, o osto por cantoras somado as suas
homossexualidades no lorma uma equao em que imainar-se como o
idolo ou, mais precisamente, imainar-se como uma mulher sera o
resultado linal ohtido ou desejado. A leminilidade da cantora, neste caso,
aparece como uma caracteristica que apenas admirada, mas que no
precisa ser adquirida, compulsoriamente, pelas vias da imitao, da
translormao.
AireviJo seria um dos exemplos de ls que avaliam no perceher
nenhuma proximidade estual entre ele e sua cantora predileta, Iala de
Belm.
(RAIAEL) A Iala |de Belm| ja inlluenciou em alum aspecto da tua
vida:
(ATREVIDO) Eu osto muito de achar raa'
(RAIAEL) Achar raa: |risos| Mas a tua risada parecida com a dela
|Iala de Belm|:
(ATREVIDO) No, no . |respondeu, srio, interrompendo minha
perunta|. E dilerente. Nem pode, n: |aralhadas de amhos|.
(RAIAEL) Tem alum esto da Iala, alum comportamento, aluma
palavra, aluma coisa que a Iala laa e que tu utilizes na tua vida:
(ATREVIDO) Nada. No tem nada. Eu acho que ela |Iala de Belm|
perde o amio, mas no perde a piada. Iual a mim. Mas os trejeitos, o
jeito, no. No tenho nada dela na minha vida.
(RAIAEL) Na tua casa, na tua intimidade, trancado no teu quarto,
como tu ouves a Iala: Tu escutas a Iala: Cantas junto com a Iala:
Duhlas a Iala: Como tu realmente ouves a Iala:
Essas conclusoes loram tiradas a partir das rellexoes que empreendi, na primeira
parte da pesquisa de campo, acerca do qualilicador poderosa, lrequentemente
utilizado pelos ls homossexuais para adjetivar suas cantoras lavoritas. Os dados
etnoralicos me possihilitaram perceher que a adoo do adjetivo poderosa como
um marcador distintivo da cantora se justilicava pela percepo de poderes que
estavam diretamente liados ao corpo, ou melhor, a expresso perlormatica com
que os corpos dessas artistas se apresentam nos palcos (NOLETO, aca).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
208
(ATREVIDO) Eu osto de ouvir quando eu t deitado numa rede, me
emhalando. Ento, a msica |me| transporta, n: Eu escuto, mas no
necessariamente me vejo no luar dela |Iala de Belm| cantando, no. Eu
osto de ser homem, do nero homem. Eu nunca tive vontade de ser
mulher. Eu osto mesmo, eu adoro ser homem, entendeu: Eu no tenho
essa coisa... |no conclui a lrase|. Porque tem muito o, que realmente
tem prohlema, que ostaria de ser mulher, que laz trejeito e coisa e tal...
Mas eu no. Eu osto de ser homem' Eu osto tanto de ser homem que
eu osto de homem. |aralhadas de amhos| Gosto do nero mesmo.
|risos| Mas eu escuto |a Iala de Belm|, me transporta no tempo, pra uma
situao ou um relacionamento que tem a ver com uma msica... Ou
ento, me transporta pra ela |Iala de Belm| mesma, eu osto de lemhrar
dela.
O discurso de AireviJo deixa entrever, dentre outros aspectos, a
sua constatao de que ha certas limitaoes que circunscrevem normas
perlormativas aos neros. A partir da analise de sua lala, possivel
perceher que cantar com ou cantar como a cantora seria trazer para si uma
leminilidade provocadora de uma ruptura indesejavel com as normas que
conlerem inteliihilidade ao seu nero, autoidentilicado como
masculino. Ao inlormar que sua risada no pode ser iual (ou parecida)
com a de Iala de Belm, AireviJo expoe, implicitamente, que a
estualidade lator de peso na denncia de uma descontinuidade entre as
suas prprias praticas corporais cotidianas e as reras sociais delimitadoras
de padroes de masculinidade. Em outras palavras, a preocupao de
AireviJo seria alirmar que ser homossexual no pressupoe uma
leminilizao dos corpos nem dos estos.
Soh este mesmo prisma, AireviJo transparece sua percepo de
que o ato de lazer trejeitos considerados lemininos seria um indicio de
alum prohlema do qual solreriam muitos o,s. Em sua concepo, a
simulao do leminino alo irrealizavel, mesmo que esteja soh a
proteo de um amhiente lechado no qual no estivesse sendo ohservado
por outras pessoas. Assim, pode-se dizer que a leminilizao
desencadeada pela apropriao da estualidade da cantora seria um lator
que contrihuiria para desloca-lo de seu nero, alastando-o de um padro
de masculinidade que o arada. Iinalmente, em sua elahorao, AireviJo
deixa claro que osta de ser homem, evidenciando que sua identilicao
com a masculinidade se estende ao prprio desejo sexual, isto ,
considera-se um homem, que preza por certos cdios corporais
masculinos, cujo desejo sexual tamhm orientado para outros homens
que tamhm cultivem essa masculinidade na construo de suas
perlormances corporais cotidianas.
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
209
Estimulado por esse e por outros depoimentos colhidos durante o
trahalho de campo, creio que seria oportuno discutir sohre estas supostas
leminilidades e masculinidades que se inscrevem nos corpos e que, para
udith Butler (acca), so compreendidas como normas reulatrias
constantemente reiteradas atravs de um processo citacional no qual o ato
de citar sinilica corporilicar convenoes daquilo que, socialmente, se
considera como masculino e leminino. O empreendimento desse
processo citacional acarretaria a construo do que Butler (acca)
denomina como perlormatividade de nero, uma conduta que
materializaria, dessa lorma, o sexo nos sujeitos, lazendo emerir,
consequentemente, os sujeitos do sexo. Neste sentido, a autora
compreende que
o sexo , pois, no simplesmente aquilo que alum tem ou uma
descrio estatica daquilo que alum . ele uma das normas pelas quais
o alum simplesmente se torna viavel, aquilo que qualilica um corpo
para a vida no interior do dominio da inteliihilidade cultural (BUTLER,
acca, p. -).
Ao contrario de AireviJo, o discurso de Foio| revela outras
possihilidades de neociao com tais normas perlormativas que
materializam os sexos.
(IATAL) A Gal |Costa| tem isso de servir de musa inspiradora pros
o,s, n: Quem o l da Gal que no se imaina cantando Meu nome
Gal ou, ento, India, duhlando India, n: Todos se imainam nessa
situao |risos| Inclusive, nas hrincadeiras, eu lao o Meu Nome Gal
pros amios.
(RAIAEL) Srio: Com os teus amios, na tua intimidade:
(IATAL) Iao, lao. Na minha intimidade. Ento, eu tenho um amio
que tem um sitio, a ente vai pra la e eu lao o Meu nome Gal e
dizem que a sincronia perleita' Eu tamhm acho' |risos|. E muito
hacana' Mas sem acessrio, sem nada. S mesmo...
(RAIAEL) S na perlormance:
(IATAL) S na perlormance, na hrincadeira, mas muito hacana'
(RAIAEL) Mas a Gal |Costa| te inlluencia no teu dia a dia: Por
exemplo, tem alum esto que tu lazes e que seja um esto da Gal:
(IATAL) No, no... Acho que no. Quando eu tomo hanho, eu canto,
canto, canto' Eu lao minhas perlormances' |Foio| me olha com
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
21 0
expresso cinica e da uma aralhada. Parecia enveronhado para lalar
sohre suas perlormances no hanheiro|
Se nas lalas de AireviJo inexiste a possihilidade de dialoo com
uma estualidade leminina, mesmo que soh o manto da privacidade de
um local inacessivel aos olhos alheios, para Foio|, o espao privativo da
domesticidade marcado pela aura de intimidade e inlormalidade
cumpre a luno de ser o |ocvs adequado para a lruio do exercicio de
uma leminilidade inscrita sohre um corpo masculino. Assim, a pratica
de Foio| demarca uma dimenso espacial para a realizao de seus atos,
circunscrevendo, dessa maneira, a leminilidade ao amhiente da casa em
contraposio a masculinidade exercida no amhiente da rua
(DaMATTA, qqy).
Compreende-se, portanto, que a dimenso espacial, sinalizada
pelo desenho de uma lronteira entre os amhientes phlico e privado, seria
uma representao de esleras de sentido que constituem a prpria
qualidade e que permitem normalizar e moralizar o comportamento por
meio de perspectivas prprias (DaMATTA, qqy, p. ). No caso de
Foio|, a personilicao dessa leminilidade poderia ser entendida como um
ato que deve ser escondido ou, quando revelado, que seja leito em tom
jocoso, como uma hrincadeira partilhada entre aqueles que deslrutam da
intimidade de quem pratica o ato.
Diante das praticas de sociahilidade relatadas por Foio|, perunto.
seria possivel expandir as rellexoes em que Norhert Elias (qqc) discute o
processo civilizador como um conjunto de normas prescritas aos corpos
com a linalidade de produo do que entendemos como hons costumes:
Se, teoricamente, alararmos as concepoes de leminilidades e
masculinidades, compreendendo-as como lluxos corporais, e dialoarmos
com a analise em que Elias (qqc) avaliou o processo histrico de
produo dos hons costumes nas sociedades eurocntricas, no qual a
liherao de lluxos corporais (ases, urina, lezes, muco nasal etc.) passou a
ser controlada atravs da suhmisso do corpo a uma pedaoia
civilizatria e reservada ao mhito da privacidade, suiro, com hase no
depoimento de Foio|, que a materializao da leminilidade num corpo
masculino poderia ser compreendida como um lluxo corporal maculador
das normas que prescrevem uma conduta delimitadora das lronteiras entre
leminilidade e masculinidade.
O amhiente do hanheiro, nos moldes em que conhecemos as
conliuraoes espaciais das casas e apartamentos das sociedades ocidentais
contemporneas, pressupoe o exercicio de atividades corporais individuais
no destinadas a puhlicidade e , por este motivo, o espao escolhido por
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
21 1
Foio| para a lruio de uma leminilidade e musicalidade das quais no
pode deslrutar lora dos espaos da privacidade e da intimidade. Como na
ohra de Elias (qqc), o hanheiro seria, para Foio|, o local apropriado para
descarrear esses lluxos corporais que denunciam a no adaptao do corpo
a certas normas pedaicas. Perlormatizar/cantar de lorma leminina,
equivale, nestes termos, a escarrar, urinar ou delecar, sendo todos estes atos
corporais indinos de exposio phlica, perturhadores dos hons
costumes.
Iinalmente, o eloio dos amios, ao dizerem que Foio| realiza uma
sincronia perleita, quando duhla a cano Meu nome Gal (composio
de Roherto Carlos e Erasmo Carlos), torna possivel uma sutil associao
com a travestilidade e o translormismo, o que relora uma tnue e
momentnea liao entre Foio| e o dominio da ahjeo, pois, neste caso,
apresenta-se em sua sociahilidade como um homem que incorpora
artilicialmente uma voz leminina, rompendo, assim, a continuidade
exiida para o seu nero masculino. Entendendo esse dominio da ahjeo
como um territrio de zonas 'inspitas' e 'inahitaveis' da vida social
(Butler, acca, p. ), a leve associao de Foio| com o ahjeto
temporaria, resuardada pelo isolamento de espaos lisicos como o
hanheiro, o sitio e a proteo dos amios intimos.
Em contraponto, ao descrever alumas experincias musicais
vividas no passado, E|irico demonstrou uma maior explorao dos espaos
phlicos para o exercicio de uma estualidade que esta relacionada com
seu idolo, a cantora Daniela Mercury.
(RAIAEL) Ah' Tu cantavas:
(ELETRICO) E. Eu liz canto ha hastante tempo at. |Mas| tem muito
tempo que eu no canto nada. Parei com essa raa de querer vida de
msico. |risos| No da pra mim. E eu sempre cantei as msicas da Daniela
Mercury. At hrincava com o pessoal da handa, eu lalava assim. Eu sei
que vocs ostam mais de MPB. E eu sei que vocs nem consideram a
Daniela Mercury uma cantora de MPB, mas |risos| tem que hotar pelo
menos umas trs msicas dela ai pra eu danar, pra eu reholar no meio do
povo ai |risos nossos|
(RAIAEL) Tu imitas a Daniela Mercury na tua casa, sozinho, entre
quatro paredes:
(ELETRICO) Ah' No s entre quatro paredes, |mas| na lrente das
pessoas mesmo, a ente |ele prprio| tira raa.
(RAIAEL) O que que tu lazes: Tu cantas: Tu danas:
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
21 2
(ELETRICO) Canto, dano, imito a coreoralia toda, n: Essa msica
que eu te lalei
6
, essa msica que ela |Daniela Mercury| canta com a
Anlique Kidjo
y
, eu sei a coreoralia da msica inteira' |lala empolado|.
Eu at hrinco porque, em toda turn, ela muda a coreoralia de Il
Prola Nera, n: Ai, eu dio. Ela mudou a coreoralia do 'Il Prola
Nera' e aora eu vou ter que aprender a coreoralia de novo |risos|
(RAIAEL) Mas no teu dia a dia, tem alum esto da Daniela que tu
uses:
(ELETRICO) |risos| Tem sim... Deixa eu ver... |olha para cima e lica
pensativo| Deixa eu pensar... porque a ente area tanta coisa, assim,
com o tempo, n: Com o tempo... |lica reticente|. Deixa eu pensar aqui...
Tem... aquela sohrancelha dela classica, n: E... |lica rellexivo| eu acho
que a sohrancelha... E verdade... |pensativo, dando a impresso de que no
queria revelar muito dessa estualidade cotidiana|.
E importante notar que esta lala deixa perceher em E|irico as
intenoes de exercicio de uma estualidade phlica ao mesmo tempo em
que esconde seredos (ou dvidas) acerca da incorporao desse estual de
Daniela Mercury em seu cotidiano. Apesar de termos, no Brasil, cantores
homens considerados modelos de masculinidade e que constroem
carreiras a partir da associao com neros musicais que exiem uma
perlormance corporal pautada em movimentos sensuais, enericamente
chamados de reholado, a conscincia de E|irico sohre sua corporalidade
que transliura o sentido de reholar. Para ele, a matriz do esto translerido
para o seu corpo loi apreendida de uma mulher, Daniela Mercury, que,
dentre outros qualilicadores artisticos, possui lormao em dana classica e
moderna e, em seus s|ows, acompanhada por uma equipe de hailarinos
que possuem a mesma lormao.
Portanto, mesmo que a maneira de danar de E|irico seja
adaptada e at masculinizada para cumprir certas convenoes, a
conscincia que possui de seu reholado outra, vincula-se a uma pequena
transresso estual leita em phlico, ainda que esse rupo de pessoas no
seja capaz de reconhecer-lhe a raiz dos estos. Socialmente, E|irico, em
momentos especilicos, se utiliza de sua relao com Daniela Mercury para
produzir para si um trnsito corporal que o permita, transredir,
puhlicamente, alumas normas. Sua aproximao transitria com o
universo prolissional da msica seria, tamhm, uma lorma de justilicar,
socialmente, o seu reholado.
6
E|irico se relere a msica Dara, composio de Daniela Mercury ravada no
alhum Sol da Liherdade.
y
Cantora alricana, nascida no Benin.
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
21 3
Entretanto, quando transleri o olhar para a eslera cotidiana e
automatizada de sua estualidade lora de cena, E|irico expressou dvidas,
silncios e esquecimentos. Apenas sinalizou que, em seu dia a dia, levanta
uma de suas sohrancelhas tal qual Daniela Mercury laz quando canta ou
lala. Talvez a expresso de E|irico seja um verdadeiro sinal de
esquecimento, talvez seja um indicio de um rau de incorporao estual
que ja no mais percehida de lorma to clara devido ao lato de que a
ente area tanta coisa, assim, com o tempo (como ele prprio
constatou) ou, por lim, talvez seja uma lorma de delimitar um espao
reservado de sua intimidade, no qual revelar os seredos de sua composio
estual representaria um desnudamento indesejavel diante de mim.
E nessa dimenso cotidiana e no mais encenada do esto que
pretendo adentrar. Durante o trahalho de campo, loram inmeras as
relerncias a incorporao natural de estualidades das cantoras por parte
de seus ls. Nem sempre so estos que denotam uma leminilidade, no
so aoes que, invariavelmente, cheam ao extremo da imitao, da cpia,
pelo contrario, a aquisio do esto se laz pelas vias da adaptao, tornando
aquele ato no mais uma propriedade da cantora, mas uma aquisio
leitima de seu l. Nem sempre esse estual se constri a partir de uma
ideia de emulao do leminino, mas nos termos em que Mauss (acc
|q|) compreende como uma imitao prestiiosa na qual
a criana, como o adulto, imita atos hem sucedidos que ela viu ser
eletuados por pessoas nas quais conlia e que tm autoridade sohre ela. |...|
E precisamente essa noo de prestiio da pessoa que laz o ato ordenado,
autorizado, provado, em relao ao individuo imitador, que se verilica
todo o elemento social. (MAUSS, acc |q|, p. c)
Esta noo relevante para compreendermos que a relao entre
l (imitador) e idolo (imitado) marcada pela leitimao que o primeiro
concede ao seundo ao copiar-lhe os estos, simholicamente, conlerindo-
lhe uma importncia dentro de um contexto social. No entanto,
importante lrisar que, ao contrario de Mauss (acc |q|), no
compartilho da ideia de que apenas o imitado exera poder ou usando
suas palavras autoridade sohre o imitador. Seuindo a mesma lica dos
pressupostos em que Ioucault (q88) concehe as relaoes de poder como
aoes relacionais produtoras de condutas e pulverizadas em mltiplos plos
de ancia, suponho que o l tamhm exera poder ou autoridade sohre o
idolo na medida em que, iualmente, tem a ancia de produzir o idolo a
partir da leitimao e da imitao de sua estualidade.
Retomando as rellexoes acerca da imerso do esto no cotidiano
de ls homossexuais de cantoras hrasileiras e distanciando-me aora da
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
21 4
hiptese da adoo do ato como uma imitao do leminino, pretendo
expor um contraponto entre a teatralidade cnica da cantora Maria
Bethnia e a discrio da estualidade adotada por um de seus ls, Piroio.
Nos momentos em que conversei com Piroio sohre a perlormance de
Maria Bethnia no palco, ouvi sua descrio de inmeros atos lisicos que,
para ele e para outros ls, destacam Maria Bethnia como sendo uma
cantora extremamente teatral. Esse adjetivo lrequentemente usado no
apenas pelos interlocutores com quem dialouei nesta pesquisa, mas
tamhm por ls alojados nas comunidades virtuais de sociahilidade
dedicadas a Maria Bethnia, relletindo no apenas a percepo que eles tm
do trnsito corpreo que a cantora empreende em cena, mas o prprio
resultado da construo de sua imaem na midia hrasileira a partir de seu
vinculo com a indstria lonoralica. Estimulado por essa tematica, investi
no seuinte dialoo com Piroio.
(RAIAEL) - Esse estual da |Maria| Bethnia, que a ente lemhra da
Bethnia assim, com esses estos todos... Isso te inlluenciou de aluma
lorma: Tem alum esto da Bethnia que tu adotes no teu dia a dia: Tem
aluma coisa no teu estual que vem da Bethnia:
(PIRATA) - Tem.. tem... |lala com meio sorriso nos lahios| Por exemplo,
a |Maria| Bethnia tem o costume de, em alumas msicas, de piscar pro
phlico. Eu costumo lazer isso com os meus amios. Quando a ente v
uma coisa que a ente no pode lalar, eu lao isso. At o Tomboiojo
hrinca muito comio e diz. Essa a piscada da Bethnia, n: |risos meus
e de Piroio| E... tem uma coisa dela |que perceho| muito em loto, de
perlil, ela laz assim |Piroio junta as duas mos e as aproxima do queixo
em posio de orao| ou ento com a mo no queixo...
(RAIAEL) - Com as mos como se ela tivesse rezando:
(PIRATA) - E. Ou ento pensando... Tem uma |loto| que eu acho honita,
|| do |alhum| Brasileirinho, a contracapa |em| que ela ta com a mo
no queixo, ta de perlil, o cahelo preso... Eu tenho esse costume. Esse esto
eu peuei dela.
(RAIAEL) - De licar com a mo no queixo ou com as mos em posio
de orao:
(PIRATA). - Isso... quando eu t pensativo...
(RAIAEL). - Eu acho que no |alhum| Memria da pele |em| que ela
ta assim com a mo no queixo...
(PIRATA). - |Na loto| ela ta com a testa lranzida. Eu tenho isso dela.
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
21 5
A tenso encontra-se, justamente, entre a encenao e o cotidiano.
Os estos escolhidos por Piroio no denotam uma leminilidade nem so
atos exclusivos ou identilicaveis como sendo da cantora. Qualquer pessoa,
homem ou mulher, pode dar piscadelas, colocar as mos no queixo ou
junta-las em posio de prece enquanto permanece pensativo. No entanto,
o esloro que venho lazendo o de interpretar a simholoia suhsumida
nessas piscadelas no sentido antropolico em que Geertz (q8q) as
entende. Assim como no caso de E|irico, a narrativa de Piroio aponta para
o lato de que, novamente, a conscincia do esto quem denuncia a
apropriao lisica de um ato realizado por alum. Mesmo que seja uma
ao neutra, que no escancare uma perlormatividade de nero
leminina, masculina ou amhiua, o esto incorporado por Piroio
perpassado por uma inteno consciente de apresentar-se, socialmente e
cotidianamente, como Maria Bethnia, tendo suas piscadelas, inclusive,
reconhecidas por seus amios. Neste sentido, o reconhecimento por parte
de seu rupo de relaoes torna-se relevante para leitimar a existncia de
um esto que no seria identilicavel por olhares leios, mas que, mesmo
em sua neutralidade, um esto que indica um trnsito corpreo por
uma leminilidade sem, necessariamente, estimatizar o realizador do ato.
Se nos permitirmos explorar a evoluo do conceito de estima
exposta por Gollman (qy), perceheremos que, inicialmente, na
concepo rea e posteriormente na crist, a cara material do estima era
depositada sohre o corpo, assumindo o lormato de cortes, queimaduras ou
erupoes cutneas. Atualmente, suhsiste outra concepo na qual o estima
tido como uma marca social que cria o dominio da anormalidade e
justilica a excluso social atravs de uma lica relacional na qual um
atrihuto que estimatiza alum pode conlirmar a normalidade de outrem
(GOIIMAN, qy, p. ). Porm, recuperando a ideia do estima como
uma inscrio no corpo, suiro que a suposta invisihilidade dos estos
adotados por Piroio aoes que poderiam ser leitas por qualquer pessoa e
que no demarcam uma presena leminina de Maria Bethnia um
demonstrativo do desejo de no ser plenamente estimatizado, de no ter
sohre seu corpo a marca e o peso dos estos que o exporiam a
ridicularizao social ao ser visto como uma caricatura de Maria Bethnia.
Entretanto, perceher-se ou reconhecer-se como |oro (ou
parcialmente Jeniro) das normas dessa inteliihilidade cultural
materializada pelas licoes dos sexos e dos neros (BUTLER, acca) no
tarela simples para todos esses ls. Porm, o conhecimento prvio e, de
certa lorma, aprolundado das tcnicas corporais utilizadas pelas cantoras
que motivaram as discussoes neste trahalho me possihilitou uma analise
mais criteriosa das estualidades dos ls que se tornaram meus
interlocutores. Treinar o olhar para as cantoras e seus ls loi de extrema
relevncia para que eu pudesse conlrontar as praticas e os discursos,
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
21 6
avaliando, dessa maneira, onde se escondiam seredos que ocultavam a
presena lisica dessas cantoras na estualidade trivial de seus admiradores.
Loo que tive um contato mais prximo com Tomboiojo, percehi
que suas inllexoes vocais se assemelhavam com as nuances sonoras da lala
de Iala de Belm. A maneira com que articulava as palavras, a ritmica com
que essas mesmas palavras eram encadeadas e, por ltimo, a entonao
com que linalizava suas lrases soavam, para mim, como adaptaoes de um
modo de lalar semelhante ao da cantora Iala de Belm. Em todo caso, no
era uma cpia liel, apenas era um esto induzido, como ocorreria com um
estraneiro que, em outro pais, nunca adquiriria inteiramente o outro
sotaque, mas uardaria em sua lala a inlluncia da musicalidade da outra
linua da qual se tornou lalante.
Quando peruntado sohre sua relao com a estualidade de suas
cantoras lavoritas Iala de Belm e Leila Pinheiro , Tomboiojo neou
qualquer inlluncia delas em seu estual, emhora tenha enlatizado que a
dimenso estual dessas e de outras cantoras alo que o interessa. No
entanto, pretendo chamar a ateno para o lato de que, em encontro com
Piroio ohtive, sem peruntar, a inlormao de que Tomboiojo seria um
eximio imitador de Iala de Belm. Essa revelao sinalizou que, ao
contrario daquilo que alirmava nas entrevistas e das caracteristicas que eu
mesmo percehi em seu modo de lalar, Tomboiojo trazia consio uma cara
estual de uma de suas cantoras prediletas, Iala de Belm. De acordo com
Piroio,
(PIRATA). - O Tomboiojo imita a Iala super hem. Ele imita, assim, a
Iala lalando... |risos| E a Iala meio nervosa, ela atropela muito as
palavras e ele |Tomboiojo| laz iualzinho'
O depoimento de Piroio deixa exposto o carater de hrincadeira
que essas imitaoes ostentam, no excluindo o lato de que essas
hrincadeiras tamhm poderiam interlerir na composio da estualidade e
da linuaem real utilizadas por esses ls em seus cotidianos. Em conversa
telelnica com Piroio, conseui a inlormao de que, quando vo a hares e
estahelecimentos que disponihilizam o aparelho de viJeoI para que os
clientes cantem, Tomboiojo canta com voz de mulher. Diante disso, seu
amio, Piroio, se contrapoe. Canta com voz de homem, Tomboiojo' Tu
no mulher'. Para justilicar-se, Tomboiojo diz. Mas eu no osto de voz
de homem'
8
.
8
Dialoo por telelone que transcrevi para o caderno de campo.
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
21 7
Exemplilicando a ideia de que essas hrincadeiras imitativas
interlerem na realidade desses interlocutores, Piroio me ajudou a
compreender esse processo a partir do seuinte dialoo.
(RAIAEL). - Na tua intimidade, na tua casa, no teu quarto, no teu
amhiente privado, como a tua relao com a |Maria| Bethnia: Tu
ouves a Bethnia: Tu cantas junto com a Bethnia ou tu s mais de ouvir:
Tu imitas a Bethnia na tua intimidade: |Piroio ri|
(PIRATA). - Vixe' Canto' |risos| Iao a mise em scene vendo os DVDs'
Eu procuro imitar muita coisa. E canto muito com ela. |risos|
(RAIAEL). - Tu achas que, de aluma lorma, o lato de tu cantares com
ela |Maria Bethnia|, e assistir o DVD imitando, interlere no teu dia a
dia: Tu achas que isso te da aluma leminilidade ou no:
(PIRATA). - Eu acho que acaha... Eu acho que no momento de estar
lazendo o estual, pra quem no o,, isso pode dar muita leminilidade.
Mas a ente sahe que no hem isso... de querer ser mulher. No nesse
sentido, n: No nesse sentido. Mas... eu acho que acaho trazendo isso
pro meu dia a dia sim, mas no nesse sentido assim... eu no lico
pensando assim. Ah' Eu quero ser mulher'. Mas eu acho que acaho
trazendo isso |esse estual| pro meu dia a dia sim.
E valido atentar para o lato de que Piroio, ao assumir o
entrecruzamento cotidiano entre sua estualidade prpria e a de Maria
Bethnia, em nenhum momento, vinculou a adoo de aluns estos da
cantora com uma provavel vontade de ser mulher. Pelo contrario, o que
interessa o intersticio da neociao entre o masculino e leminino,
ainda que esse processo seja realizado de maneira imperceptivel aos olhos
alheios, nas dimensoes minimas do movimento corporal. O sioivs de
hrincadeira permite hurlar a estimatizao, estahelecendo-se, assim,
apenas uma liao transitria e jamais eletiva com a leminilidade. Em
outro dialoo telelnico, Piroio revelou uma situao ocorrida com ele e
Tomboiojo durante um teste realizado para inresso em um curso de canto
olerecido por uma escola de msica em Belm. O trecho a seuir uma
transcrio de minhas anotaoes do diario de campo.
Ainda lalando da atividade de cantar, Piroio me contou que Tomboiojo
lez aulas de canto com o prol. Newton Iontes
q
. No dia do teste, Tombo
iojo loi cantar uma msica do repertrio de Ivete Sanalo e, para seu erro
diante de um prolessor de canto, iniciou sua perlormance, seurando um
q
Nome licticio.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
21 8
telelone celular nas mos (como se losse um microlone), cantando numa
tonalidade adequada para a voz de Ivete Sanalo e, ainda por cima,
imitando sua lorma de cantar. O prolessor pediu.
- Cante com sua voz e no com a voz de Ivete'
Tomboiojo encontrou uma tonalidade mais rave e cantou, quando loi
interrompido, novamente, pelo prolessor.
- Cante a vontade, tire esse celular de sua mo.... se solte...
Tomboiojo respondeu.
- E que eu sou que nem a Gal. s sei cantar seurando aluma coisa nas
mos. |risos| (Diario de Campo, c6 nov. ac)
Essa histria loi contada em tom de anedota por Piroio, o que
provocou risos em mim. E uma histria que licou amplamente conhecida
entre os amios de sua rede de relaoes e que, por no ser um seredo, loi a
mim revelada espontaneamente sem lerir a tica da rede. Piroio utilizou de
um senso de humor muito sutil e inteliente para me contar essa histria,
uma qualidade que talvez eu no tenha para reistra-la com todas as
nuances de humor que a histria teve. Mas o lato que realmente importa
a deteco de um aspecto importante. em certos momentos esses ls se
vem como artistas, sentem a necessidade de estar no palco, de expressar-
se atravs da voz, ou melhor, sentem a necessidade de imerir na maia que
esta suhjacente a atividade perlormatica de suas cantoras preleridas. Talvez
essa vontade de cantar no seja a manilestao de uma vocao real, mas
sim o despertar de um impulso que os leva para o centro do mistrio de
uma cantora. a preparao para os s|ows, a escolha do repertrio, as
diliculdades da carreira e todos os aspectos |omovrizoJos que iram em
torno de sua prolisso. Ao se enxerarem como cantores, eles podem
tamhm desvendar seredos que no so revelados nas entrevistas, nas
cenas de hastidores lrequentemente veiculadas nos DVDs etc. Cantar os
laz viver a rotina de uma diva, cria a responsahilidade do ensaio, ohria-os a
entender como cuidar da voz, os laz chear perto dos seredos das tcnicas
vocais e, ao mesmo tempo, contrihui para que eles mistiliquem ainda mais
as suas cantoras.
(RAIAEL) Olha, Tomboiojo, me disseram por ai, as mas linuas, que
tu s um excelente imitador, que tu imitas a Iala...
(TAMBA-TAA) |risos| Dando entrevista no DVD |mais risos| E uma
piada, isso' Muito enraado.
(RAIAEL) Isso uma hrincadeira:
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
21 9
(TAMBA-TAA) E uma hrincadeira que rola. O Piroio, sempre que a
ente sai com amios, diz. Ah' Imita a Iala |de Belm| lalando com o
Chico |Buarque|:
Enquanto Tomboiojo narrava suas histrias e imitava Iala de
Belm para mim, iniciei um processo de conlirmao daquilo que eu havia
percehido em nosso primeiro contato. sua maneira de lalar era inlluenciada
por Iala de Belm. Sua dico, a velocidade com a qual articulava as
palavras, a entonao que dava as lrases, a sonoridade das linalizaoes de
suas lrases, toda a sua maneira de elahorar uma lala ostentava a inlluncia
de Iala de Belm. Emhora ele no percehesse essa inlluncia de lorma to
clara (ou no quisesse lalar acerca dela), esse lator licou evidente quando
comeou a imitar a lorma com que Iala de Belm lalava. Percehi poucas
variaoes entre aquilo que ele delimitava como sendo a sua prpria lorma
de lalar e aquilo que seria o jeito Iala de dizer as coisas. Tomboiojo no
era um mau imitador. Essa no seria a justilicativa para a pouca variao
entre sua lala e a imitao da lala de Iala de Belm. Na verdade, a variao
era minima porque a lala de Iala de Belm lora assimilada em sua
perlormance cotidiana. Naturalmente, Tomboiojo tinha o acento de Iala
de Belm em seu discurso.
Diante dessa perspectiva em que a corporalidade adquirida,
construida, elahorada pelas vias da imitao prestiiosa perunto. estariam
as teorias de Mauss (acc |q|) e Butler (acca, acca) to distantes uma
da outra: Ohviamente, ha uma imensa distncia histrica e um ahismo
epistemolico entre Mauss e Butler. Entretanto, a despeito de que Mauss,
no inicio do sculo XX, escrevia com ohjetivos tericos e discursivos
completamente dilerentes da perspectiva liloslica e jveer com que Butler,
no anos qqc, desenvolvia seu raciocinio acerca da perlormatividade de
nero, consio encontrar conexoes entre amhos especilicamente
relativas ao texto de Mauss sohre as tcnicas corporais e a discusso
empreendida por Butler acerca da perlormatividade de nero naquilo
que se relere ao ponto de vista construcionista, continuo e citacional com
que eles enxeram o uso das tcnicas corporais dentro de um contexto
social. O lato de que Mauss e Butler no lalem, necessariamente, o mesmo
idioma e que suas perspectivas de enunciao sejam aparentemente
dispares no impede que suas teorias, em aluns aspectos, convirjam.
Se Mauss (acc |q|) suere que o primeiro e mais natural
ohjeto tcnico, e ao mesmo tempo meio tcnico, do homem, o seu
corpo (MAUSS, acc |q|, p. cy), admitindo ainda que esse corpo
adaptavel a diversos ohjetivos, acaha por reconhecer que
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
220
essa adaptao constante a um ohjetivo lisico, quimico e mecnico (por
exemplo, quando hehemos) eletuada numa srie de atos montados, e
montados no individuo no somente por ele prprio, mas por toda a sua
educao, por toda a sociedade da qual laz parte, conlorme o luar que
nela ocupa (MAUSS, acc |q|, p. c8)
Ohviamente, Mauss (acc |q|) no estava interessado em
discutir a prohlematica do nero mesmo porque os trahalhos
antropolicos empreendidos nesse periodo histrico ainda estavam soh o
manto do chamado modelo de inlluncia cultural que, seundo Vance
(qq), reconhecia a variahilidade cultural das praticas sexuais e das
relaoes de nero, emhora partisse do pressuposto da naturalidade
hiolica da heterossexualidade nas relaoes sexuais , porm
interessante notar como Mauss (acc |q|) lana a noo de atos
montados, remetendo a ideia de construo, advertindo para a existncia
de pedaoias que direcionam o comportamento estual, evidenciando a
marca cultural de um ato corporal e, enlim, transparecendo a entrada do
corpo nos moldes da cultura.
Butler (acca, acca), por sua vez, leva as ltimas consequncias o
dehate acerca da teoria construcionista, conduzindo-nos a crer que tanto o
sexo quanto o nero so construidos a partir de sinilicaoes dadas pelas
relaoes de poder compreendidas soh a tica de Ioucault (q88), na qual
o poder no esta personilicado num sujeito metalisico anterior ao humano,
mas compreendido como um complexo de relaoes que so responsaveis
pela emerncia e viahilidade dos sujeitos. Entretanto, nessa concepo
construcionista, importante ressaltar que a sedimentao ou
materializao, como diz Butler dos sujeitos realizada a partir de um
processo citacional em que a norma do sexo inscrita nos corpos a partir
de aproximaoes entre a corporalidade individual e os padroes inteliiveis
de leminilidade e masculinidade. Citar, nesse caso, aproximar-se das
normas, adota-las no corpo relorando seu carater normativo, delinindo-
se como sujeito em um dos plos da oposio hinaria entre masculino e
leminino.
Se estas normas so percehidas e incorporadas ao lono de um
processo de emerncia dos sujeitos e se o corpo tido como um elemento
passivel de educao para adequar-se aos moldes da cultura, ento, leitas as
devidas ressalvas, o vislumhre de uma provavel conexo entre as discussoes
de Mauss (tcnicas corporais) e de Butler (perlormatividade de nero) no
de todo descartavel. O liame que ha entre os dois autores , de lato, a
percepo de que tanto as tcnicas corporais quanto a construo de
identidades de nero so como construoes que se sedimentam em cima
de construoes ou, em termos mais antropolicos, tartaruas que se
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
221
sustentam em outras tartaruas (GEERTZ, q8q). Se pudermos considerar
que o corpo uma lalsa evidncia, no um dado inequivoco, mas o
eleito de uma elahorao social e cultural (LE BRETON, acc, p. a6),
admitiremos o carater construtivista da expresso corporal como um eleito
de normas sociais de conduta e concordaremos com a ideia de que o corpo
o vetor semntico pelo qual a evidncia da relao com o mundo
construida (LE BRETON, acc, p. cy).
A despeito de que, como conceito devidamente lormulado, a
perlormatividade de nero um termo relativamente novo nos estudos
de nero e sexualidade, suponho que o lator perlormatico dos neros
sempre loi alvo de interesse para os estudos antropolicos das
sexualidades. Apenas recentemente a partir dos anos qqc udith
Butler (acca, acca, acch) elahorou, teoricamente, a perlormatividade de
nero como um conceito que deline a produo de corpos, estos e
condutas pelos individuos atravs da reiterao de normas que visam
materializar o sexo nos corpos desses sujeitos. Alias, nesta teoria da
perlormatividade de nero, o ato de tornar-se sujeito implica,
necessariamente, assumir uma perlormance (no encenada), citando as
normas prescritas aos neros. Ainda assim, mesmo inexistindo como
conceitos teoricamente elahorados em outras pocas, a perlormance
individual dos sujeitos e a perlormatividade de nero so cateorias de
analise lrequentes em inmeras etnoralias ou ensaios antropolicos nos
quais a homossexualidade leminina ou masculina e os jeitos dos
corpos so ahordados. Entretanto, na antropoloia hrasileira,
quantitativamente lalando, na homossexualidade masculina que a
perlormance e perlormatividade de nero anham maior peso analitico.
Desde os homossexuais de Landes (acca) que, nos anos qc, acreditava
na perlormance corporal dos sujeitos como um identilicador dos
homossexuais passivos e suas leminilidades, justilicando assim as
relaoes que tinham com os cultos alrohrasileiros, reliioes, em eral, cujas
lideranas eram mulheres at os homossexuais de Perlonher (acc8), para
os quais a perlormance corporal sinalizava o capital ertico de provaveis
parceiros sexuais.
Alm desses dois exemplos de pesquisas emhlematicas (Landes e
Perlonher), encontramos alumas outras etnoralias em que a
perlormance corporal e a perlormatividade de nero se conliuram como
cateorias de analise para a compreenso dos sujeitos homossexuais,
transexuais, travestis etc. Guimares (acc |qyy|), por exemplo, avaliou
questoes relativas a sociahilidade homossexual no Rio de aneiro (R),
sendo a perlormance corporal um dos suhitens de sua pesquisa que,
entrecruzado com aluns marcadores de classe social, loi relevante na
analise da construo do desejo e da aletividade de seus interlocutores. Iry
(q8a), por sua vez, alm de desenvolver uma critica a Landes (acca
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
222
|qy|), prohlematizou a emerncia das cateorias de nero produzidas
no contexto homossexual masculino com hase em estudos desenvolvidos
em Belm (PA) soh a tica da perlormance de nero e dos papis
sexuais adotados nas interaoes erticas. A pesquisa de Bento (acc6) acerca
da transexualidade revela como a perlormance dos sujeitos (inserida na
lica reulatria da perlormatividade prescrita aos neros) sinilica os
corpos e os sexos, translormando-se em um dos latores decisivos para que
pessoas com ohjetivo de transenitalizao ohtenham autorizao para
realizarem a ciruria em instituioes hospitalares do Brasil. Noutro
contexto etnoralico, Braz (accy) trouxe a tona a discusso em torno da
valorizao de atos perlormativos que denotem masculinidade para a
consumao de interaoes erticas entre homens que lrequentam cluhes
para a pratica de sexo annimo em So Paulo (SP).
Apesar de no contemplar inteiramente a tematica da
homossexualidade, a etnoralia de Clastres (aca |qy|) deixa expostas as
oposioes hinarias pelas quais a perlormatividade de nero
reulamentada no pensamento social dos Guaiaqui a partir da simholoia
dicotmica do arco (masculinidade) e do cesto (leminilidade).
Retomada, posteriormente, por Iry e MacRae (q8), a pesquisa de
Clastres serve para demonstrar o quo riidas so as normas que conlerem
inteliihilidade aos neros em seus contextos socioculturais. Tamhm em
contexto indiena, as rellexoes de Cancela, Silveira e Machado (acc)
evidenciam, atravs da analise da lala de um de seus interlocutores, como a
perlormance corporal/comportamental pode ser tomada como um
primeiro indicio sinalizador da homossexualidade de alum
c
.
Ha ainda trahalhos como os de Oliveira (acc6) que se dehrua
exclusivamente sohre a tematica da perlormance e perlormatividade de
nero no intuito de compreender a dinmica de relacionamentos erticos
entre sujeitos homossexuais, travestis e crossJressers em uma hoate da
perileria do Rio de aneiro (R) e Reis (aca) que ahorda a perlormance
dos sujeitos como um dos varios latores que marcam as dilerenas entre os
lrequentadores de duas hoates destinadas ao phlico homossexual em
Belm (PA). Adentrando um universo mais artistico, a etnoralia de
Vencato (acca) discute tematicas relativas a corporalidade e a construo
perlormativa de sujeitos reconhecidos como Jro jveens em Santa
Catarina.
c
No mhito de minha pesquisa, Tomboiojo narrou, certa vez, que sua lamilia
sempre souhe de sua sexualidade desde a inlncia por causa do seu jeito. De
acordo com suas palavras, Tomboiojo alirmou sempre ter ostado, desde criana,
de atividades mais lemininas como, por exemplo, colecionar papel de carta e
pular elastico com as primas ao invs de joar hola com os primos.
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
223
Entretanto, este loi apenas um rapido sohrevoo sohre a tematica
da perlormance corporal e da perlormatividade de nero no mhito das
pesquisas antropolicas desenvolvidas no Brasil. O intuito sinalizar o
quo relevante a presena da perlormatividade de nero, nos estudos de
sexualidade, para a compreenso de como se constroem as cateorias
nativas que orientam os desejos, as sexualidades e as suhjetividades dos
individuos em seus contextos socioculturais. E assim podemos
compreender sohre o peso, a importncia e a materialidade desse conceito
nos termos em que Butler (acca, acca, acch) o explorou teoricamente.
Por outro lado, dialoando com a teorizao de Gollman (qy)
acerca do estima e, mais precisamente, explorando tanto a cara social
quanto a simholoia corporal da impresso do estima nos corpos, creio
que seja valida a utilizao metalrica da ideia de tatuar-se. Entendo que
toda e qualquer tatuaem marca indelvel posta sohre o corpo
revestida da amhiuidade de ser, para uns, uma inscrio corprea
marinalizadora e, para outros, uma transresso assumida que pode elevar
o sioivs social de um individuo em determinado contexto. Nesta aluso
que proponho, tatuar-se seria, radativamente, inscrever estos no corpo,
construir um lluxo corporal de movimentos de lorma que a adoo das
normas da perlormatividade dos neros losse reiterada, neada, hurlada ou
ao menos parcialmente incorporada. A reiterao, rejeio ou llexihilizao
dessas normas seria, neste caso, o elemento delinidor da percepo social
dessas tatuaens simhlicas como estimas ou sinais positivadores.
No esquecendo as dimensoes musicais nas quais minha etnoralia
esta enredada, mencionar a cano de amor intitulada Tatuaem
composta por Chico Buarque e Ruy Guerra inevitavel. No ohstante
romantizar o ato de tatuar-se, a cano ilustra a cara de dor, perenidade e
materialidade de uma marca inscrita sohre a pele. Os primeiros versos da
cano dizem. Quero licar no teu corpo leito tatuaem/ que pra te dar
coraem/ pra seuir viaem quando a noite vem... A associao que lao
entre a emerncia estual, comportamental e social dos sujeitos com a
simholoia do tatuar-se talvez anhe mais corpo a partir do
entrecruzamento da letra desta cano e com o seuinte dialoo.
(BRASILEIRINHO) E, eralmente, quando ha necessidade de eu ter ou
me apresentar como uma pessoa mais lorte, ela me vem a mente'
(RAIAEL) Tu pensas na Bethnia e...:
(BRASILEIRINHO) E encarno a Bethnia' |aralhadas|
(RAIAEL) Era isso que eu queria te peruntar' A Bethnia te
inlluencia nos teus estos, na lorma com que tu te comportas: Em que a
Bethnia te inlluencia:
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
224
(BRASILEIRINHO) Principalmente com a questo de roupas' At
porque... ela se apresenta |vestida| de uma lorma que no comum pra
ente, que no laz parte do nosso dia a dia. E sempre ela traz |na roupa|
elementos que esto liados a reliiosidade alro, a uma vida mistica, ao
misticismo... E isso muito presente tamhm na minha identidade, certo:
|Eu tenho o hahito| de ter as contas, eu sempre estou com contas'
|relerindo-se aos colares de contas usados pelos adeptos do candomhl|.
Sempre t com alum penduricalho, sempre, sempre com colares. Hoje
em dia ela |a Maria Bethnia| ja no usa tanto |os colares|, mas no inicio
|da carreira| ela ja usou muito mais. Eu sempre t de hranco. Vira e mexe
eu t de hranco nos luares onde vou me apresentar |estar com pessoas
para relaoes prolissionais|. Dizem que ela |Maria Bethnia| no usa
preto. |...| mais a questo de roupa. Adoro aquele hrao dela cheio de
pulseiras. As vezes quando eu t muuuuito vaidoso, o meu hrao enche
de pulseiras tamhm |aralhadas|.
(RAIAEL) Tamhm: Tu usas pulseira:
(BRASILEIRINHO) Uso. No iuais as delas, mas aquele eleito visual
eu osto muito' Ela |Maria Bethnia| tem essa questo de usar colares, eu
tamhm tenho essa coisa de usar colares, contas, como eu te lalei. E tem
at o visual dela aora que a ente ta lalando em roupa do CD Mar
de Sophia, |em| que ela parece que ta no cais, vestida com uma camiseta
hranca, uma cala meio de linho, sandalia tipo havaianas, toda de hranco e
os colares... Quando eu olhei aquilo eu disse. Eu vou mandar lazer uma
roupa parecida pra mim' |risos| E eu sai desesperadamente atras de uma
camiseta parecida com a da Bethnia, dos colares e uma cala de linho
solta ao vento... E ai, eu liz essa roupa pra mim. E, passeando numa
ladeira em Olinda, ai eu me senti Bethnia. Aora me veio isso na cahea
pra te contar.
A partir deste dialoo, Brosi|eirin|o deliniu que encarna a
personaem Maria Bethnia, trazendo para a sua corporalidade certos
aspectos relativos a imaem visual da cantora. Emhora seja um liurino
adaptado a realidade de Brosi|eirin|o e que, de certa lorma, no transponha
completamente as lronteiras sociais da inteliihilidade leitimada para
roupas lemininas e masculinas, novamente a conscincia de sentir-se
como Maria Bethnia que opera a transresso cometida por ele nos locais
phlicos por onde passa. Depreende-se da narrativa de Brosi|eirin|o que,
assim como na cano de Chico Buarque e Ruy Guerra, tatuar,
metaloricamente, Maria Bethnia em seu corpo tamhm uma atitude que
o enche de coraem para enlrentar os desalios do cotidiano. Como pude
identilicar, iualmente, num depoimento de Piroio em que revelou
imitar Maria Bethnia em seu quarto e disse que
!"#$%&"' )&"'*+,*&"'- ./' 0%1%'',23"*' , 4,&.%&1"$*5*6"6,
225
(PIRATA) Botar um disco e ouvir e cantar... eu acho que isso da mais
eneria, da mais disposio pra eu lazer aluma coisa que eu tenha que
lazer.
Porm, apesar da existncia desses processos de neociao entre
masculinidades e leminilidades nas corporalidades de meus
interlocutores um processo que no torna inteiramente visivel a todos os
olhos alheios a localizao exata das leminilidades exercidas nesses corpos
masculinos , a narrativa de Pimeniin|o, l de Elis Reina cantora que
tornou clehre a cano Tatuaem (Chico Buarque e Ruy Guerra) ,
destaca a postura de assumir e ressinilicar o risco e o suposto estima de
ser considerado um homem leminino.
(PIMENTINHA) |...| isso ja to dentro de mim que, hoje, eu no penso.
Tem hilhoes de anos que eu no lico tentando separar o |esto| que
meu e o |esto| que da Elis |Reina|. Virou uma coisa nossa, sahe:
|lalou esta ltima lrase com voz anasalada, semelhante a voz de Elis
Reina quando simulava ser uma travesti em seus shows|
(RAIAEL) Quais so os estos da Elis que tu lazes, que tu
incorporaste:
(PIMENTINHA) |...| Tem uma |esticulao com a| mo muito hoa
quando eu t conversando, quando eu vou contar uma coisa pra alum,
que a impresso que as pessoas tm de que eu t ahanando a mo na
tua cara. Porque, na verdade, eu t mesmo'' |Enquanto contava,
Pimeniin|o lazia o esto de ahanar a mo para me mostrar|. Mas isso |o
esto| dela |Elis Reina| cantando, ela seurava o microlone e ela lazia a
postura, com a mo, de ahanar' Automaticamente |estalou os dedos|, eu
disse. Isso lunciona, pro dia a dia' Isso cahe per-lei-ta-men-te no dia a
dia, sahe:
(RAIAEL) Mas isso era um esto que ela lazia num contexto e tu
adaptaste:
(PIMENTINHA) Aham' Iacilmente' Eu, rapidamente, ja peuei aquilo
|o esto|, ja elahorei' Porque eu no vou licar haratamente, mau
caratismamente s imitando, n: Eu no vou licar harateando, s
imitando, n: Eu tamhm tenho que usar tamhm do que eu tenho pra
dar uma elahorada |no esto|' No custa nada, n: Vou utilizar o que eu
tenho tamhm. Ento, assim, eu aproveitei isso |o esto| e ja usei pra
outras coisas. Isso caiu como uma luva'' Essa mo halanando
tima' A ente acaha chamando a ateno das pessoas, a ente lica
mais contundente, cahe certinho'
(RAIAEL) Tu cantas junto com a Elis: Tu duhlas a Elis: Tu lazes a
perlormance:
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
226
(PIMENTINHA) Cooooom cer-te-za'' |respondeu quase sem me
deixar concluir a perunta|. Iao a respirao iual... |...| O meu pai, um
dia desses, me peruntou uma coisa. Pimeniin|o, quando tu estas
andando na rua, tu estas lalando sozinho ou cantando:. Eu disse. Eu t
cantando, papai'. Papai disse. Ah' Ta. Ai, eu liquei pensando. Por que
o papai peruntou aquilo pra mim: Porque o papai mora em
Ananindeua
. Me
remiti a las epistemoloias del cuerpo en las ciencias sociales (Le Breton y
Turner), los cuerpos Je|ormoJos, y la reconstruccin del cuerpo en las
sociedades complejas. Tom esta decisin porque las cateorias, como las
disciplinas, nos colonizan. Todo aqui son preuntas, este es un estudio
experimental de leminismo corporal
a
.
Puede que no resulte cientilico iniciar hahlando de ohsesin,
pero este es un estudio de ohsesiones, de cuerpos y deseos. Los estudios
corporalicos en msica todavia son un campo ahierto a la oscuridad, y
varias son las lineas que conlluyen en el cuerpo como mapa de la historia
cultural. Por ejemplo, cuando Elisaheth Le Guin pens una musicoloia
carnal (LE GUIN, acc), e introdujo, en mi opinin, una posihilidad
todavia por explorar. Se trata de pensar el cuerpo como medio de creacin
y memoria. No solo en el esto y la perlormatividad, sino, como pretendo
aqui, en las politicas de la memoria, ! trmino propio de la lilosolia
Prorama de la primera edicin del C|ozz. Paquito D`Rivera Bi Band, Pepe Rivero
and Iriends, Trihuto a Beho Valdes, Alain Prez, Voces Iemeninazz (Maria
Toledo, Eva Corts, Montse Corts, y Elsa Baeza), erry Gonzalez, El Neri, avier
Colina, Yelsy Heredia, entre otros. En su weh olicial incluye una seccin titulada
El Latin azz, donde se indica, cito. El latin jazz o jazz latino es una rama del jazz
que se nutre los ritmos alricanos y carihenos. El jazz latino se oriin a linales de los
anos c cuando Dizzy Gillespie y Stan Kenton comenzaron a comhinar el ritmo y
la estructura de la msica alro-cuhana, ejemplilicada por Machito y sus Alro-
Cuhans, con instrumentos de jazz. En comparacin con el jazz americano, el jazz
latino emplea un ritmo lijo usando a la vez una lorma de clave. La cona, el timhal,
el uiro y las claves son instrumentos de percusin que contrihuyen al sonido
latino. ?&29#&%9&( :&" @$<< "$9#%3. Las dos principales ramas del jazz latino son. la
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
236
Varios son los ejes del conllicto y la controversia, por eso trahajar
con una muestra concreta. Proceder al analisis de cmo las ideas de
latinidad son construidas no slo a partir de testimonios musicales y
suhsecuentes determinismos eoralicos, econmicos, socio-culturales,
politicos y tnicos, sino, corporalicos. Y en este caso, siendo Co||e j el
eje de inllexin de esta corporalia, me centrar en un caso especilico, el
de Eliane Elias y Diana Krall, por qu: La siuiente cita de Diamela Eltit
me permite ilustrar la cuestin.
Cmo entender el cuerpo en medio de la crisis que en cada una de las
historias y a lo laro de los silos, ha puesto en evidencia un prorama
politico que propone un cuerpo que esta luera del cuerpo y ese aluera lo
ha convertido en un sueno diluso o conluso en el que yace siempre la
nostalia o el malestar o el inenuo deseo de que el cuerpo linalmente se
haa presente y pertenezca, se pertenezca. Pero no. Porque, en delinitiva,
es propiedad de los discursos del cuerpo que lo han desalojado de si para
capturarlo como hotin o como rehn social para ensayar sus experiencias.
Dohle rehn el cuerpo de la mujer atrapado en la cateoria de lo
lemenino, ese lemenino que ha sido el ohjeto mas imperioso de los
discursos que, en cada uno de los tiempos histricos, se han reservado la
ltima y la nica palahra para decidir aquello que resulta inextricahle. el
cuerpo (ELTIT, accy).
hrasilena y la alro-cuhana. El jazz latino hrasileno incluye la hossa nova y la samha.
El jazz alro-cuhano se nutre de la salsa, el merenue , el sono, el son, el mamho, el
holero, la charana y el cha cha cha. Otras no menos importantes corrientes del
nero son la Onda Nueva venezolana y el Tano Contemporaneo arentino.
Aunque alunas tendencias actuales son proclives a alirmar que para entender el
latin jazz es lundamental la cancin Manteca, de Chano Pozo - donde se aplicaha
la clave de salsa y patrones ritmicos asincopados propios de la lormas tradicionales
del jazz norteamericano -asociandolo casi prelerentemente con ritmos
alrocarihenos, tamhin es conveniente considerar otras corrientes como las antes
mencionadas, que surieron mas o menos en la misma poca, tal vez, como
manilestacin latina del llamado Crossover azz. A13%3( :&" @$<< "$9#%3. Como
intrpretes importantes de jazz latino podemos mencionar a Gato Barhieri, Beho
Valds, Ruhn Gonzalez, Cachao, Chucho Valds, Tito Puente, Puntilla, Chico
o'larrill, Carlos Patato Valds, Michel Camilo, Gonzalo Ruhalcaha, Paquito
D'Rivera, Cal Tjader, Poncho Sanchez, erry Gonzalez, Pepe Rivero, Arturo
Sandoval, Eliane Elias, ore Pardo, Chano Dominuez, Horacio Hernandez, y Luis
Salinas. Una huena relerencia sohre este nero es la pelicula/documental llamada
Calle , diriida por Iernando Trueha, en la que se puede ver y escuchar a
alunos de los msicos anteriormente mencionados y apreciar este nero.
(CLAZZ IESTIVAL, |s.a.|, |s.n.|).
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
237
Nacen asi preuntas complementarias como. Qu pasa cuando
ideas acerca del jazz y la latinidad se estahlecen continentemente:, por
ejemplo, en los marenes estahlecidos por las politicas tnicas y eoralicas
dominantes, alrocntricas, hay que decirlo (BROWN, acc, p. a), en
este caso concreto, alrocarihenas (La Hahana, especialmente), asi como
latino(ihero)americanas en sentido mestizo, sincrtico e hihrido
(RECASENS, acc), pero, desarrolladas en los Estados Unidos (Nueva
York, Nueva Orleans y Calilornia, por ejemplo). Qu sucede cuando se
trata con un tipo de latinidad que no esta ni propiamente dentro ni
propiamente luera:, cuando el caso es una mujer actual, ruhia y pianista
de jazz (LANDO, accq), hrasilena, residente en Nueva York: Qu
ocurre cuando un icono del jazz latino coincide con un icono del jazz
estadounidense:
Ohviamente estas preuntas llevan a otra mas compleja que
sohrepasa los ohjetivos de este ensayo, pero que esta implicita aqui. es el
jazz latino msica latinoamericana: La respuesta depende sen desde
qu idea de Amrica se este arumentando, cuan interista se considere
el discurso del jazz y cuanto el de la condicin latinoamericana,
entendidos amhos cannicamente por supuesto. Puede arumentarse en
consecuencia, como resume Delannoy, que el jazz latino es un lenmeno
cultural, una lotoralia de lo que la cultura latina esta haciendo alrededor
del mundo, de cmo inlluye en otras culturas y de cmo stas han inlluido
en ella (DELANNOY, ac). En este sentido, mi investiacin pretende ser
un proyecto interdisciplinar que compara y comhina, el estudio de
Amrica Latina y las comunidades latinas en los Estados Unidos, sumando
su relacin con Espana. Acotado, en este ensayo, al caso de la jazzista
hrasilena Eliane Elias, una liura internacional especialmente imhricada en
el prohlema propuesto.
Las identidades musicales crean comunidades imainadas, pero es
el jazz latino tamhin una audiotopia (KUN, acc), espacio simhlico
construido en sonotipos a travs de perlormances sociales:, cmo median
las politicas de la memoria en dichos perlormances:, siendo articuladas
ademas por estrateias de morIeiin, persono| bronJin y oJveriisin,
disenadas por la industria cultural. Y tomando en consideracin este dato
en qu trminos se estahlece la responsahilidad individual:, mas an
tratandose de una lorma de arte que rinde culto ovro| al instante, a la
poisis del si mismo.
Sin duda pono demasiadas preuntas sohre la mesa, por eso elijo
iniciar con una expresin que las resume.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
238
B01C3 1$"#&%9&
*#5D E. Los carpinteros, Mvc|o Co|ienie, acc.
Cuando conoci la ohra de Los carpinteros (Marco Antonio
Castillo Valds y Daoherto Rodriuez Sanchez), especialmente su pieza
titulada Mvc|o co|ienie, comprendi que era la imaen perlecta para
expresar el prohlema que suponen las politicas de la memoria en el jazz
latino. Por si mismo el titulo rellejaha la encrucijada entre las Amricas
que dio a luz esta lorma de arte, esta practica prelormativa, este estilo, este
nero, por utilizar alunas denominaciones posihles para desinarlo.
Tamhin indicaha hacia su raiz cannica, el jazz alro-cuhano o cuhop, pero
desde una perspectiva eneracional que coincidia con mi periodo de
estudio (la primera dcada del s. XXI).
Los carpinteros empezaron siendo un trio de jvenes creadores
cuhanos que inici su produccin en la dcada de los noventas, y que como
do ha tenido un luerte impacto internacional desde el ano accc,
especialmente por su revisin de cmo se construyen, reconstruyen y
deconstruyen los espacios, las arquitecturas acerca de la identidad
ohjetiva y la memoria. Por ltimo, a mi entender, Mvc|o co|ienie
representaha tamhin el eje lundamental por el cual se deline lo latino en
el jazz. el ritmo, la percusin alrocarihena. Ohsrvese cmo la cona en
cuestin se derrite, aludiendo a una msica caliente, tpico comn, pero
tamhin a su di-solucin, al paso de un estado lisico a otro, como si se
tratara de una metalora de esa modernidad liquida propuesta por el
sociloo polaco Zymunt Bauman (qqq)
Deho senalar que en la primera edicin de su T|e Loiin Tine (qyq), ohn Storm
Roherts si que hace relerencia al tema de la memoria, especialmente en sus
capitulos y, 8 y q, The q6c`s. Goin Underround (ROBERTS, p. 6c), The
qycs. The Return to the Mainstream (p. 86), y Coda. Mundo Latino (p. aa),
respectivamente. Asimismo en su Glossary (p. aac), Roherts incluye una amplia
ama de ritmos y danzas de dilerentes paises de Iheroamrica, lo que quizas
explique la idea de latinizacin expuesta que aparecera mas adelante en la voz de
Schuller. Iualmente en su capitulo y, Roherts incluye a la msica popular
hrasilena, hahlando del hossa nova, el jazz-hossa, jazz- haio, jazz-samha (p.
yc-y), incluso indica. Both in Brazil and the United States, in lact, the hossa
nova hrided mass popular music and art popular music. In the U.S., it provided
several new standards to the popular repertoire and also had some sinilicant
ellects on jazz. (p. y). Lo mismo sucede en el capitulo 8 con la cultura Chicana
(p. q8), resulta especialmente interesante cmo Roherts cita El Corrido de Cesar
Chavez, cito. No pedimos limosna/solo un pao mas decente/Les exie Cesar
Chavez/Para ayudar la ente. Y el coro de Mexicano Americano, cito. Yo soy de
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
240
las entradas dedicadas al Bossa nova, la de Kernleld y Gerard Bhaue. La
ausencia de hihlioralia mas alla del silo XX es ahrumadora, a lo que dehe
sumarse la omisin de trahajos lundamentales cmo los de Leonardo
Acosta (acc), Paul Austerlitz (acc), Nat Chediak (qq8), Luc Delannoy
(acc, acc, ac), Ral A. Iernandez (acca, acc6), Isahelle Leymarie
(acc), Steven Loza (qqq), Ed Morales (acc), ohn P. Murphy (acc6), y
Martha Tupinamha de Ulha (Grupo de Pesquisa Msica Urhana no
Brasil), por ejemplo. Es mas, slo se menciona un trahajo en castellano, Lo
o|riconio Je |o mvsico |o|I|orico Je Cvbo de Iernando Ortiz puhlicado en
qc, y los trahajos en portuus sohre msica popular hrasilena son todos
de linales de la dcada de q6c, y principios de qyc.
Si el Crove es la relerencia cannica internacional, queda claro en
primer trmino una jerarquizacin de la memoria por medio de la
seleccin de testimonios especilicos. Se evidencia aqui cmo dentro de la
propia Academia late el prohlema omnipresente de la sociedad occidental
(alocntrica, en este caso), de convivir con los otros, separandoles al
excluirles, asimilandoles al despojarles de su otredad, e invisihilizandoles
al provocar su desaparecer del mapa mental, terico e historioralico en
este caso, incluso cuando comparten el mismo idioma (Austerlitz,
Iernandez, Loza, Morales, Murphy, por ejemplo). Pero hay mas, las voces
construyen una idea de homoeneidad del lenmeno, una visin turistica
se podria decir, al relerir a luentes y crnicas de un periodo especilico con
prioridades ticas y estticas concretas, que daran lruto, como se vera mas
adelante, en el concepto Co||e j y su continuacin en C|ico Piio, o el
C|ozz.
En el Crove "al dia de hoy, espero que linalmente se actualice!,
el tiempo parece haherse detenido, como si el jazz y su relacin con
msicas y creadores(as) entendidas(os) como latinoamericanas(os)
tamhin se huhiese solidilicado. Pero al iual que en la pieza de Los
carpinteros, no es asi. El prohlema del camhio, de la transmutacin, es que
cuando alo es liquido se escurre entre los dedos. De repente lo que
la raza de oro,/Yo soy Mexicano-Americano (p. qq). Otra cita relevante de esta
primera edicin es la siuiente. This lusion style, which hlended Latin and jazz
(and olten other) elements in indiosyncratic ways, developed rapidly toward the
end ol the decade. Chick Corea made a notahle contrihution in his M, Sponis|
Heori alhum, which in his words, lloats over my perception ol the history ol
Spain, Alrica and Latin-America. Chicano trumpeter Perez Prado, Mono
Santamaria, Stan Kenton, Woody Herman, and even anis oplin, recorded two
thorouh-oin lusion alhums, Born io Love and Co||oe, in the mid-qyc`s. (p.
ac). Las politicas de la memoria quedan expuestas aqui, resumidas en su
Coda.Mundo Latino`, cito su primera lrase. The popularity and inlluence ol
Latin-American music is an International phenomenon. (p. aa).
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
241
estaha claro, delimitado y politizado hajo racionalidades especilicas,
uhicado entre cateorias precisas, se vuelve critico, anmalo. Peor an, se
desleitiman los discursos y las comunidades que sohre ellos han construido
sus criterios de autoridad, de Ohjetividad (DASTON, accy). Las politicas
de la memoria se evidencian incluso aqui, porque la Ohjetividad tamhin
es un concepto histricamente constituido, como el de Latinoamrica, lo
latino, la latinidad, el propio jazz y Amrica (utilizado para
denominar tanto al continente como a los Estados Unidos). Porque las
lronteras (de diversa indole) entre Estados Unidos y esa otra Amrica
(latina en este caso) son permeahles, porque Estados Unidos tamhin es
Latino. Lo mismo que Espana y Europa. Dicho asi parece simplista, pero
lo son a travs de continas y diversas miraciones hajo cuya experiencia,
paradjicamente, la divisin tamhin es posihle, racias a politicas de las
memoria relacionadas con esos mismos procesos.
Esta perspectiva coincide con los dos epirales que Luc Delannoy
utiliza para introducir su lihro Co|ienie Uno |isiorio Je| jozz |oiino (acc),
cito manteniendo la tiporalia eleida por el autor. Mvsic wos i|e |irsi
inieroieJ i|in in i|e Vor|J. Be|ore sea. HERBIE MANN, qqq / Aclarar
el pasado, que es lortalecer el presente. OSE LEZAMA LIMA. Se ohserva
en esta eleccin del autor, como en Mvc|o co|ienie, la encrucijada entre dos
mundos, el anlo, representado por el jozzmon estadounidense, y el
latino, representado por el escritor cuhano. La Msica es presentada
aqui como una audiotopia primienia capaz de interar, como el acto
sexual, distintas corporalias, manteniendo su diversidad en la experiencia,
posihilitando ademas dicha interacin a partir de un mvsicor (SMALL,
qqq), vinculado con la revisin critica del pasado. Pero deho arear, que
no se trata solamente del pasado reciente, contemporaneo a la posuerra,
sino del pasado colonial y su narracin desde la nacin moderna
(MADRID, acc), es decir, de un pasado como historia continente.
+#(9347$( :& 0%$ )/F(#1$ 1$"#&%9&-
La constitucin del pasado suhsiste en la memoria colectiva, que
requiere ser analizada desde la perspectiva de la oranizacin narrativa. En
concreto, del relato proporcionado por un contexto sociocultural, por
ejemplo, el Estado moderno, cuyas narrativas requieren ser examinadas
sen su capacidad de servir como herramientas culturales para los
miemhros de un colectivo y su lorma de contar el pasado (MARTINEZ
MILLAN, acc). El poder de estas herramientas para dar lorma colectiva al
recuerdo, puede ser examinado a travs de una distincin entre narrativas
especilicas, que incluye dias, luares, actores, y asi sucesivamente, como a
partir de lormas ahstractas de la representacin narrativa (WERTSCH,
acc8). En este caso releridas, citando al terico chileno Gahriel Castillo-
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
242
Iadic, a cmo el relato musicolico construye una identidad musical, |y|,
la manera en que la expresin musical, como relato, ha construido o ha
participado histricamente en la construccin de una identidad social.
(CASTILLO-IADIC, qq8).
Las voces del Crove, asi como los trahajos de Acosta, Austerlitz,
Chediak, Delannoy, Iernandez, Leymarie, Loza, Morales, Murphy o Ulha,
a los que dehen sumarse los de Alvaro Menanteau (acc6) y Serio Pujol
(acc), el Loiin Peo| BooI (qqy), uias, tesis y otros medios de
comunicacin alternativa (wehs, revistas, hlos y comunidades a.c),
construyen narrativas especilicas y ahstractas, coincidentes a partir de la
practica relerencial, o no, del estado de la cuestin. Pero estas narrativas
estan divididas por politicas de la memoria relativas a una identidad
entendida como latina, que reliere a una discriminacin positiva (en
tanto comunidad) y neativa (en tanto |eiio), lrente al moinsireom del
jazz (estadounidense, por ejemplo). Estahlecindose como hase para
discursos etnolicos (etnocntrico deterministas y esencialistas), de los
que el jazz latino es memoria y testimonio.
Por ejemplo, para Schuller el Cuhop se dilerencia del Latin
azz porque amhos desinan espacios de especilicidad y eneralidad
concretos. No ohstante, Kernleld remite a la misma narrativa que Schuller
para relerirse al nacimiento del trmino, muy rosso moJo, la percusin
cuhana (y hrasilena) en conjuncin con el jazz en trminos enerales, es
mas, Kernleld pone de ejemplo musical el ritmo de una hahanera. Pero
deho destacar cmo Kernleld hace mencin de la insercin del hossa nova
y la msica popular hrasilena dentro del concepto jazz latino,
!siuindoles hasta los anos ochenta y noventa del silo XX", y lo hace
en direccin al resurimiento del Alro-Cuhan jazz, a pesar de que para
Delannoy con los ritmos mexicanos y hrasilenos, no se puede hahlar de un
jazz latino (DELANNOY, acc, p. y), es el mercado el que los unilica
dentro del nero. Sohre este punto volver mas adelante.
Por su parte, en la voz de Schuller la latinidad parece ser un
medio de homoeneizar la experiencia, sentencia. Ray Barretto, Eddie
Palmieri, Bohhy Paunetto and |Mono| Santamaria helped lurther to
'latinize' Alro-Cuhan jazz and therehy also to hroaden its scope and
delinition. (SCHULLER, accy) Se puede latinizar el jazz alrocuhano:,
no es la msica alro-cuhana msica latinoamericana:, de qu
latinizacin se esta hahlando:, de la insercin de nuevos sonotipos ajenos
a la msica cuhana entendida cannicamente: Dilicil cuestin, mas an si
se remite a la ltima lrase de Kernleld en su voz. The late q8cs and the
qqcs witnessed a resurence ol Alro-Cuhan jazz, particularly under
Gillespie and erry Gonzalez. (KERNIELD, accy) En amhos casos
ninuno es cuhano. Mas interesante todavia, en ninuna de las dos voces se
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
243
menciona al rupo responsahle de la translormacin delinitiva del jazz
alro-cuhano. IroIere. Tampoco se menciona que el trmino jazz
alrocuhano apareci con la rahacin en q de Tono, el trmino
rumhop con la de Ki||er 1oe, y el de cuhop con Cvbop Cii,, versin
hehop de Tono (DELANNOY, acc, p. q). Aunque Monieco, de Chano
Pozo y Dizzy Gillespie, se considera la composicin cannica del nero
6
.
Omisiones, amnesias, en el caso de Leymarie y Delannoy, la
enealoia de lo latino en el jazz parece ir mas alla. En el primer caso las
luentes histricas de la autora se remontan al silo XIX, coincidiendo con
Schuller/Roherts, lo que parece justilicar su primer capitulo titulado El
matiz espanol, pero la autora senala hacia un Limes
y
entre la aonizante,
pero lundente, ocupacin de la Monarquia hispana, los intereses coloniales
de la Rephlica lrancesa (creadora del trmino Amrijve Loiine), y los
Estados Unidos. En el seundo caso, la lrontera es el cuerpo mismo del
jazz, porque para Delannoy.
El jazz es una msica de mezclas, de orienes latinos y carihenos. Si los
ritmos latinos de orien alricano han lormado siempre parte del jazz,
huho que esperar la dcada de qc, con el concurso de msicos cuhanos
residentes en Nueva York, a que la industria del espectaculo y el phlico
en eneral reconocieran olicialmente este aspecto latino cuya evolucin
ha hecho nacer lo que hoy se llama jazz latino (DELANNOY, acc, p.
y).
6
Schuller si menciona varias rahaciones representativas en luncin a una
enealoia. Gillespie's hi hand made several notahle recordins in the late qcs,
includin Pozo's compositions Monieco (qy, Vic.), A|roCvbon Sviie (on the
alhum ol the same name, q8, Swin), and Cvoroc|i voro (q8, Vic.), and
Geore Russell's Cvbono beCvbono bop (qy, Vic.), these pieces, which leature
Pozo's cona drummin, were the lirst to interate authentic Alro-Cuhan
polyrhythmic concepts with the hop idiom. Soon other hi hands hean to make
recordins in the Alro-Cuhan style, Stan Kenton's Moc|iio (qy, Cap.), Peonvi
VenJor (qy, Cap.), Cvbon EpisoJe (qc, Cap.), and Tweni, T|ree Derees Nori|,
Ei|i, Two Derees Vesi (qa, Cap), and Machito's Cvbop Cii, (q8, Roost), A|ro
Cvbon 1ozz Sviie (qc, Clel), Ken,o (qy, Roul.), and 'Alro-jazziac' (on the alhum
Vii| F|vie io Booi, q8, Roul.) are noteworthy examples. Smaller roups also
contrihuted sinilicantly to the new enre, in particular those led hy Tadd
Dameron (1o|bero, q8), Charlie Parker (M, Liii|e SveJe S|oes, q, Mer./Clel)
and Bud Powell (Un poco |oco, :gj:, BN). (SCHULLER, accy).
y
Se conocen como Limes (sinular, en latin, plural. |imiies) los limites lronterizos
del Imperio romano (el trmino |imes sinilica limite, lrontera, en latin). Los
|imes solian atraer a los comerciantes, y las lamilias de los soldados que se instalahan
tamhin en las cercanias, por lo que a la lara se convirtieron en ncleos de
pohlacin romana (a pesar de estar expuestos a las incursiones extranjeras) y en
centros de intercamhio comercial y cultural entre latinos y harharos.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
244
Para el lilsolo hela, el jazz en si mismo es el lruto de la
memoria de varios puehlos, de dos universos culturales, el europeo y el
alricano, que se encontraron en un luar preciso. las islas del carihe.
(DELANNOY, acc, p. 8-q). En resumen, las politicas de la memoria
entran en accin aqui, cuando la relerencia comn entre amhos mundos es
el desarraio, la esclavitud, la discriminacin y la sereacin. una msica
capaz de devolver a sus autores(as) la dinidad humana neada por el
opresor. Pero la narracin del Crove no se detiene en estos aspectos
extramusicales, descrihe datos, no la experiencia compartida, omitiendo
un lactor lundamental. que el jazz es memoria, ritual, espacio de
leitimacin individual y existencial, que suhsiste como un ejercer Derecho
en el Recordar. La propia percusin y los ritmos utilizados son lruto de
practicas vinculadas con lo sarado, el ahakua, la santeria, los hantes, por
ejemplo. Practica que persiste, como queda demostrado en la msica del
Chucho Valds Trio, por ejemplo en 1ozz Boio (Cuha accy), o en la
mistica de producciones como E| Enimo (Acqua acc) de la pianista y
compositora arentina Paula Shocron, junto al saxolonista Pahlo
Puntoriero. En resumen, no se trata solo de. A term applied to jazz in
which elements ol Latin American music, chielly its dance rhythms, are
particularly prominent. (KERNIELD, accy).
Por si mismo el trmino jazz latino puede alutinar dilerentes
modos de entender el jazz y la latinidad. Pero reducciones del lenmeno
como las del Crove no son casuales, responden a lormas de entender qu
es la msica, ohviando qu hace y qu pasa cuando esta msica sucede
(MADRID, accq). Al tiempo que reducen el aporte intelectual y esttico
de sus autores(as) a manilestaciones mas o menos pintorescas, que
eventualmente pueden convertirse en esperpentos de latinidad. En un
primer momento, la necesidad de leitimar un espacio propio, la narrativa
de la propia identidad y la memoria selectiva lrente a un otro entendido
como opresor, convirtieron al jazz latino en un acto politico, y a sus
autores(as) en simholos de una comunidad (DELANNOY, acc, p. ).
Perlormance social de una latinidad dentro/lrente al moinsireom del jazz
(AUSTERLITZ, acc). Pero no todos(as) sus exponentes son de orien
latinoamericano, su relato se vuelve por lo tanto, en ocasiones, poscolonial
y posnacional. He aqui otro serio prohlema que el critico y sociloo
Simon Irith resume.
At issue here is what one miht term an ontoloical dispute, lamiliar
lrom the aruments provoked in the USA hy Ken Burns's azz (see
Stanhride acc). Is jazz is hest understood canonically, hy relerence to
its history, its reat names, its estahlished sonic and stylistic conventions:
Or is it hest understood as a process, hy relerence to principles ol
composition and perlormance rooted in improvisation and
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
245
experimentation, with unpredictahle and unexpected outcomes: Where
once jazz as an institution seemed characterized hy its ahility to hold
these approaches in tension, as it were, as part ol the same lield ol
activity, now the dillerent accounts ol jazz seem to reler to quite distinct
music worlds (IRITH, accy, p. y).
Por ejemplo, los relatos acerca del jazz latino y/o alrocuhano
relieren, continentemente, a sus distopias y audiotopias, especialmente a
la necesidad de documentar un nacimiento simultaneo en Nueva York y
en La Hahana (DELANNOY, acc, p. c). Situacin vinculada muchas
veces al prohlema de la miracin ileal, los plaios y deudas pendientes, o
las colahoraciones no reconocidas entre jozzmen (DELANNOY, acc, p.
y-c, ). A los que se suman la desiualdad lrente a la industria, los
mercados, estados nacionales, totalitarios y dictaduras, que lo han
prohihido o lomentado como msica politicamente incorrecta, luera
entre derecha, centro o izquierda. en lin, se trata de un prohlema de
canon expuesto en trminos de in p|oce y socro|izocion que no esta ni
propiamente dentro ni propiamente luera, pero tamhin, de tipos de
audiencia y consumo.
Volviendo a Irith, si. azz musicians have had a key role in the
use ol 'jazz' as a lahel, in determinin what jazz is. (IRITH, accy, p. a)
Real y electivamente, en su modernidad liquida, los jozzmen han sido
tamhin responsahles del relato distpico que suhsiste en la propia
desinacin jazz latino. Victimas y cmplices, en comunin con quienes
oranizan y narran sus testimonios solidilicandolos, han convertido al azz
en Limes, pero no slo entre culturas y sonotipos lomentados por los
discursos de la nacin moderna, sino por lormas de pensamiento que
linalmente se reconocen mirandose a travs del espejo. Hahlar de jazz
latino es dar testimonio de espacios y tiempos que remiten a memorias
divididas.
!" 13%1&493 !"##$ &'
Lueo de esta hreve introduccin del estado de la cuestin,
pasemos al estudio de casos concretos en relacin al prohlema que nos
interesa aqui. las politicas de la memoria conservadas en la corporalia
jazzistica de Eliane Elias. Para comenzar, en su articulo El Bolero de
Trueha y Mariscal (E| pois semono| ac), el critico de cine Borja Hermoso
introduce la nueva produccin de Iernando Trueha y avier Mariscal,
C|ico Piio, como parte de un concepto, el de Co||e j. Nomhre que se
dehe, como indica el propio Trueha, al Sony Music Studios de la calle ,
en Manhattan, donde se instalaron para rahar la pelicula (TRUEBA,
accc, p. ).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
246
Estrenada en el ano accc, Co||e j inauur un proyecto mas
amplio que incluy no slo la produccin de un CD, DVD, y el Libro Je |o
pe|icv|o, sino la actividad de Trueha como productor discoralico, y un
lantastico har musical del paseo de La Hahana de Madrid ahierto por
Trueha y sus amios, tamhin disenado por Mariscal, y que acah cerrando
sus puertas (HERMOSO, ac, p. 6). Ahora hien, por qu se entiende
como concepto: En la introduccin al Libro Je |o pe|icv|o Trueha
expone.
Creo que la ran aportacin de los latinos al jazz ha sido devolverle la
vida, la aleria, la eneria que jamas dehi perder. Ademas de aportar la
inlinidad de ritmos, a veces complejisimos, de todas las msicas latinas.
|.| Lo latino, |.| creo que encuentra a travs del jazz su expresin mas
nohle, exaltante, solisticada y exuherante (TRUEBA, accc, p. c).
Ampliamente recoida por la critica ha sido la narracin acerca de
cmo el cineasta tuvo su primer contacto consciente con el jazz latino, a
principios de los anos ochenta, cuando escuch el primer disco
norteamericano de Paquito D`Rivera. B|owin. Y la revelacin que esto
sinilic para l. Trueha menciona tamhin aln disco latino de Dizzy
Gillespie, 1ozzSombo de Stan Getz y Charlie Byrd, C|opier One a C|opier
Fovr de Gato Barhieri, e incluso la handa sonora de E| v|iimo iono en
Poris. Tamhin a travs de D`Rivera y su msica, Trueha entra en
comunin con la memoria de IroIere, cuyo otro ran protaonista es el
pianista Chucho Valds, que junto a su padre, Beho Valds, e incluso la
ahuela Caridad Amaro (que da titulo a la colahoracin de Chucho Valds
en la pelicula), y la hija-nieta, Leyanis Valds, completan una enealoia.
El concepto de la pelicula tiene asi su par en el sello Co||e j
PecorJs, como lo demuestran las producciones. Lorimos Neros (Beho 8
Ciala), Ve cov|J moIe svc| beovii|v| mvsic ioeJer (Beho Valds 8
Iederico Britos), Sviie cvbonoE| so|or Je BeboCvoJerno Je Nvevo YorI
(Beho de Cuha [Beho Valds]), Bebo (Beho Valds), Boomeron (Hahana
Ahierta), Poz (Nino osele), Primovero en Nvevo YorI (Martirio), B|onco ,
Nero en vivo (Beho 8 Ciala), Live oi Vi||oe VonvorJ (Beho Valds 8
avier Colina), 1vnios poro siempre (Beho 8 Chucho), FronI|, (Paquito
Hechavarria), Coribe (Michel Camilo), y mas recientemente LOVE (Issac
Delado). A lo que dehe sumarse que FernonJo Trvebo proJvcciones
patrocin la puhlicacin del Diccionorio Je| 1ozz Loiino de Nat
Chediak (qq8), quien comparte autoria con Trueha en Co||e j e| Libro Je
|o pe|icv|o.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
247
El circulo conceptual tejido por el cineasta espanol esta
claramente dihujado, asi como su ohjetivo. participar en la experiencia
prelormativa de un azz entendido como Latino. Porque para l. [.]
Co||e j es un musical. Un musical sohre msica, sohre cmo se crea, sohre
cmo sure. Su arumento, su uin, son las piezas eleidas. Sus
protaonistas, los msicos. No la veo como un documental, sino como una
liccin, otro tipo de liccin. (TRUEBA, accc, p. c) Su intencin parece
ir mas alla de un supuesto acerca de qu es la msica. Como indiqu
anteriormente, a dilerencia de las voces del Crove, el cineasta y productor
conliesa un inters mayor en qu hace y qu pasa cuando esta msica
sucede. Creo |comenta| que la luncin del arte no es otra que ayudar a la
ente a vivir. Co||e j es una pelicula claramente iniciatica. Su propsito no
es otro que hacer entrar al espectador en el laherinto paradisiaco de la
msica mas vivilicante de nuestro tiempo. (TRUEBA, accc, p. )
El trahajo de Iernando Trueha claramente reliere a un tipo de
audiotopia, que es en si misma una eleccin riurosamente suhjetiva,
como l mismo conliesa. Pero su eleccin tamhin remite a memorias
concretas, a una msica como memoria que narratolicamente hahlando
dirie hacia una luncin narrativa especilica, a un narrador y su punto de
vista, su entidad y espacio narrativo (G. PRINCE apud KINDT, acc, p. ).
En este caso, reliriendo a discursos y iempos cannicos vinculados con
narrativas acerca de un jazz latino, que le proporcionan una hase para
varias lormas de proyeccin imainativa, incluidas las necesarias para la
identilicacin empatica con unos Otros, representados en este caso por
Tito Puente, Gato Barhieri, erry Gonzalez, Beho Valds, Chucho Valds,
Cachao, Michel Camilo, Eliane Elias, Patato, Chano Dominez, Chico
O`Iarrill, Puntilla, Paquito D`Rivera., situados en Suecia, La Hahana, San
uan de Puerto Rico, Nueva York y Espana (Puerto de Santa Maria, Cadiz).
Pero esta narrativa especilica se repite en C|ico Piio, en
consonancia, cahe decirlo, con el relato historioralico del Crove acerca del
nacimiento y desarrollo del jazz latino. Coincidiendo ademas con politicas
de la memoria responsahles no solo de una audiotopia (recurdese los
epirales de Luc Delannoy), sino de corporalias y distopias. Lo que puede
comproharse en esta entrevista puhlicada por E| pois semono|, donde
leemos.
La sudorosa maia del holero y del mamho, la Nera Tomasa hailando, el
emhrujo inmanente del jazz, Budd|sic| Powell tocando, la orquesta del
Tropicana, los honos y las conas, Mario Bauza y Dizzy Gillespie,
Machito y Tito Puente, el sexo y el teclado de un piano, |.| la luz del
malecn y el ris del rio Hudson, los patios rotos de La Hahana y un
senor cuhano de q anos perdido entre Malaa y Estocolmo, Beho Valds,
alma, principio y lin de esta pelicula...
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
248
|.|
Esta pelicula es una historia de amor, vale, pero detras de ella hay un
montn de cosas mas si se quiere huscar, la pelicula pretende contar
cmo era Cuha en los anos cuarenta y cincuenta, qu dice Alejo
Carpentier de Cuha, qu dice Cahrera Inlante, cmo eran las peliculas de
entonces, cmo sonahan aquellas orquestas, cmo era La Hahana |.|
(TRUEBA, ac, p. 6).
Por esta razn coincide con la idea que dirie este ensayo. la
condicin corporalica primordial de la memoria. Que contiene, a su vez,
la interaccin social entre Memoria e Identidad llamada cultura de la
memoria (WALDMAN, acc6). Un concepto que propone al Recordar
como una luncin social en el centro de las investiaciones histricas. Asi
considerado, el relato de Trueha se suma a la historia continente de la
modernidad lrente a la creacin de unos Otros. Considrese la respuesta
de Trueha a dos preuntas de Borja Hermoso, Nostalia en 'Chico y
Rita': Exceso de sentimentalismo ante los personajes y las msicas de
ayer:.
No hay nostalia. Se puede escuchar con nostalia a Irank Sinatra y
acordarte de cuando te enamoraste, pero no se puede escuchar con
nostalia a Budd|sic| Powell, a Stravinski|sic| o incluso a Charlie Parker, ni
se podra nunca contemplar con nostalia Los seoriios Je Avion..., y
por qu: Porque Los seoriios Je Avion es una pedrada contra ese cristal,
y lo mismo Stravinski|sic| o Budd|sic| Powell. El moderno de verdad, el
que esta creando un lenuaje nuevo, rara vez sera recordado con nostalia
(TRUEBA, ac, p. q).
En amhas citas su relato reliere a una memoria perlormativa como
revisin critica del pasado. En su respuesta, como en C|ico Piio y Co||e
j, suhsiste la empatia con una msica cuyo pasado remite a discursos
concretos. Pero lo que mas me interesa de estas citas es cmo el relato
conlorma una corporalia, identilicada en amhos casos con el proceso
creativo dialctico entre tradicin e innovacin, entre ruina y monumento.
Proceso movido por el Deseo (y quizas la ohsesin), retomando la
provocacin que introduce este ensayo. Porque se trata de un deseo, su
proyeccin y narracin, en el cuerpo de una mujer, sen la triloia
puehlo-tnia-sexo (IRAISSE, acc).
Este imainario ertico-matricial, poiiico si se quiere, puede
verse resumido en la portada de E| pois semono|, y en la de Co||e j,
creadas amhas por avier Mariscal. En amhos casos el cuerpo de una
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
249
mujer es la liura mediadora y centrilua que alutina la experiencia
musical, construida por una otredad tnica, y espacio-temporal,
reconocihle. En la primera, donde aparecen Mariscal y Trueha sumeridos
en C|ico Piio, y en la seunda, donde una liura ahstracta de mujer
(esquina superior derecha), emere y condensa el musicar de los eleidos
para representar esa msica vivilicante, sohre la cual liccionaliza
Trueha.
*#5D G. Portadas de E| pois semono| (ac) y Co||e j (accc).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
250
!"#$%& !"#$( (&5F% !"##$ &'
Ii. . H%:2&I J9&,3,#1CK ("##$) *+,"K ELMENMGD
El prohlema de lo otro como luente de modernidad esta muy
presente aqui, se trata con una otredad leminizada, cuyas repercusiones se
veran materializadas en cmo se representa a Eliane Elias, dentro de esta
otra lorma de liccin musicada, propuesta por Trueha y su equipo,
conlormando una corporalia.Cuando una jovencisima Eliane Elias (So
Paulo, q6c), sustituy al pianista Don Grolnick dentro de Sieps A|eoJ
(Michael Brecker. saxo tenor, Eliane Elias. piano, Mike Mainieri. vihralono,
marimha, Eddie Gmez. contrahajo, Peter Erskine. hateria), el disco del
mismo nomhre editado en q8 tom como portada Fo||en Divo, un lienzo
de Andrew Stevovich, cuya imaen delimitara la corporalia que
constituira el persono| bronJin de la pianista hrasilena, razn que justilica
el titulo de este ensayo. Una imaen lamorosa, entre renacentista y
expresionista, que remite alternativamente a la esttica de Stevovich, y a
los mitos erticos del cine de los anos cuarenta y cincuenta
8
. Imaen que
Trueha recoera en Co||e j, como hase para el perlormance de sv iJeo
acerca de Eliane Elias, nica mujer incluida como jazzista en la pelicula.
8
En su sitio weh Andrew Stevovich comenta. There are two major inlluences on
my work. the early Italian Renaissance, (lrom Giotto to Iran Anelico and Piero
della Irancesca), and Expressionism, (which I deline to include not only artists such
as Heckel, Munch and Beckmann, hut also Gauuin and, thouh he is outside the
cateory, Seurat). Disponihle en.
http.//www.andrewstevovich.com/Bioraphy.html~, consultado el. //ac.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
251
La narrativa de Trueha es documentada por Nat Chediak en el
Libro Je |o pe|icv|o. Elias es la eleida para el primer dia de rodaje. Martes,
y de marzo de accc. Quien conoce la pelicula recordara la secuencia
documentada con lotoralias de ordi Socias. ) C|ose vp de Elias, de perlil,
mirando introspectiva por la ventada la ciudad de Nueva York, envuelta en
una densa niehla, a) Una vez mas, junto a la ventana, vestida en eleante,
ajustado y lamoroso nero, sentada en la silla del maquillador que esta de
espaldas, ocupado preparando alo mientras Elias se mira en un espejo de
mano, ) Elias de espaldas caminado por un pasillo, ) Elias de lrente,
vestido y uantes laros, arantilla clasica, por el mismo pasillo caminando
hacia un lotralo (TRUEBA, accc, p. y).
La secuencia remite a una memoria prelormativa relativa a
estereotipos de lemineidad y su relacin con el proceso poiiico. Los
retratos renacentistas de Venus mirandose al espejo y mitos erticos del
cine como Sylvia en Lo Jo|ce viio (q6c) de Iederico Iellini, por ejemplo.
Aspecto que retomar en el epirale siuiente, ya que este tipo de arte
como perlormance (DAVIES, acc6), es compartido con Diana Krall
(Columhia Britanica, q6). Sumando su mutuo vinculo dentro del
mercado del jazz y el hossa nova. En este sentido, Eliane Elias, como Iallen
Diva, es descrita por Chediak en los siuientes trminos.
[.] Con su hlonda melena rizada, entra Eliane Elias y se apodera, sin
rodeos, del piano. Acaricia hrevemente el teclado. Le hastan un punado
de notas para declarar, entusiasmada. Aqui me quedo. Sin maquillaje.
Grahemos ya'
Pero no hahla en serio. Le trae a Trueha una coleccin de vestidos neros
para eleir. La decisin se toma a puerta cerrada. El director reresa a sus
quehaceres. Poco despus, aparece Elias con un vestido cenido al cuerpo
que deja los homhros al descuhierto (olvida los uantes laros). Lleva sus
cuarenta anos con arho (TRUEBA, CHEDIAK, accc, p. y).
La lrase de Trueha en la pelicula coincide con este relato visual,
justo en la secuencia descrita anteriormente, comenta. Ella anade
solisticacin y eleancia al jazz latino. Suhsiste, por lo tanto, alrededor de
la pianista hrasilena, toda una narrativa sohre el cuerpo, relativa en este
caso a estereotipos concretos e histricos de lo lemenino, y su relacin
poiiico con el yo creador. Aspecto que remite a la cita de Diamela Eltit
incluida al principio de este ensayo. Narrativa que dirie el lenuaje de las
camaras durante la ejecucin de Elias. se enloca la ruhia cahellera, el niveo
rostro, los senos, la ahertura del vestido, los pies descalzados, la piel
descuhierta y a la vez velada sensualmente por el vestido ajustado. Como
indiqu anteriormente, este relato sensual, lamoroso, no es extrano a la
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
252
imaen de Eliane Elias, pero determina su representacin en la pelicula,
convirtindola en ohjeto, incluso cuando es sujeto de su propio
perlormance.
A dilerencia de los demas pianistas y compositores que participan
en Co||e j, en su caso se destaca vno iJeo que de ella se tiene, no quien
ella es como jazzista
q
. Trueha no slo elije a puerta cerrada cual de los
vestidos utilizara en el rodaje, sino sohre qu msica realizara su
perlormance, alo que no se repite con ninuno de los otros pianistas.
Chediak inlorma. Trueha le dio a escoer entre dos temas. Lvizo, de
ohim, y Sombo irisie, de Baden Powell. Este ltimo no lo conocia.
Iernando le envi una versin rahada con la voz de La Divina Elizeth
Cardoso. (TRUEBA, CHEDIAK, accc, p. y). Elias interpreta a Trio junto
a Marc ohnson, su esposo, al contrahajo, y Satoshi Takeishi en la hateria
c
.
q
Aunque lundamentalmente es reconocida como pianista y cantante, Eliane Elias
tamhin ha incursionado en la composicin, el Dicionorio Crovo A|bin Jo Mvsico
popv|or brosi|eiro documenta las siuientes ohras. A lon story/ At lirst siht, Back
in time/ Bareloot, Bowin to Bud/ Caipora/ Chorano/ Crystal and lace/ Iantasia
(To Amanda)/ Get it/ Horizonte/ Iheria/ Illusions/ Introduction on Guarani/
unle journey/ upin lox/ ust lor you/ ust kiddin/ Karamuru/ Let me o/
Lile oes on/ Loco-motil/ Messaes (con Herhie Hancock)/ Missin you/ Na up
now/ Still hidden/ Straiht across/ That's all it was/ The nile/ The time is now/
With you in mind. Disponihle en. http.//www.dicionariomph.com.hr/eliane-
elias/ohra~, consultado el. //ac.
c
Baden Powell de Aquino (6 de aosto de qy - a6 de septiemhre de accc). Por
un momento podria pensarse que la imposicin de Trueha se dehe al
lallecimiento, se mismo ano, de Powell, pero sen las notas de Chediak, Elias
raho en marzo, varios meses antes de la muerte del autor, no ohstante no deja de
ser interesante esta especie de homenaje pstumo no premeditado. De todos
modos es extrano que Elias no conociera la ohra, ya que, como inlorma el
Dicionorio Crovo A|bin Jo Mvsico popv|or brosi|eiro, cito. Seu primeiro rande
sucesso como compositor|Powell| loi Samha triste, composto em q6, em
parceria com Billy Blanco e lanado aluns anos depois na voz de Lcio Alves.
Disponihle en. http.//www.dicionariomph.com.hr/haden-powell/dados-
artisticos~, consultado el. y//ac Como se vera mas adelante, la letra de Blanco
resulta de especial inters si se considera comparativamente con la narracin tejida
alrededor del perlormance de Elias. Samha triste/ A ente laz assim./ Eu aqui/
Voc lone de mim, de mim/ Alum se vai/ Saudade vem/ E lica perto/
Saudade, resto de amor/ De amor que no deu certo/ Samha triste/ Que antes eu
no liz/ S porque/ Eu sempre lui leliz, leliz, leliz, leliz/ Aora eu sei/ Que toda
vez que o amor existe/ Ha sempre um samha triste, meu hem/ Samha que vem/
De voc, amor. Disponihle en. http.//www.losacordes.com/acordes/haden-
powel/samha-triste~, consultado el. //aca. Ademas existe una versin
instrumental interpretada por Powell (q68, Berlin Iestival Guitar Workshop),
tamhin a Trio (como Elias), rahada en la dcada de los q6c`s, cuyas estructuras
enerativas dentro de la improvisacin pueden identilicarse en la ejecucin de Elias.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
253
Otra cuestin importante es cmo se le impone una ohra que no
conoce a partir de la voz de La Divina Elizeth Cardoso, remitiendo al
poroJimo |emenino de la cantante en el jazz. Mientras que en los otros
casos, sus coleas Chano Dominuez, Michel Camilo, Beho y Chucho
Valds, no slo e|ien si no que creon sen su propio repertorio,
ejerciendo su derecho de autorepresentacin poiiico.
Claramente esto no es circunstancial, Eliane Elias sirve a un
discurso que la sita como ohjeto lrente a sus coleas jozzmen
. Incluso a
pesar de que para el dialoo musical entre Chucho y Beho Valds,
Trueha propone Lo comporso, de Lecuona (TRUEBA, CHEDIAK, accc,
p. c), la intencionalidad de este acto es dilerente, por qu: En el primer
caso es un antecedente y en el seundo un consecuente. En el seundo caso
se trata de unir a padre e hijo a travs del dialoo con uno de los
compositores que particip en la constitucin de la msica cuhana en la
primera mitad del silo XX, es decir, existe un sustrato nacionalista y
enealico en sentido a una identidad entre creadores (volviendo a
C|ic|o Piio, entre modernos). En el primer caso, a Elias se le proponen
dos autores lundamentales, pero se impone para el rodaje el que ella no
conoce por qu no ohim: a quien la pianista hrasilena ha dedicado dos
discos, E|ione E|ios p|o,s 1obim (Blue Note qqc) y E|ione E|ios sins 1obim
(EMI qq8), siendo ademas un autor interador en su repertorio. En ltimo
caso, si los Valds interpretan a Lecuona en sentido a una identidad, por
qu Elias no a Heitor Villa-Lohos: a quien dedica, junto a ohann Sehastian
Bach, Iederico Chopin y Maurice Ravel, su disco. On i|e C|ossic SiJe (EMI
qq).
No, Elias toca lo que Trueha ha eleido para ella, es l quien
determina su luar en el discurso que sohre el jazz latino construye el
concepto Co||e j. Ohviamente existen razones riurosamente suhjetivas.
Lamentahlemente esto enera que lrente al conjunto ella sea un ohjeto, no
un sujeto como sus coleas, quienes, eriidos en prceres imainarios,
completan un ideario del jazz latin sen Co||e j. Narrativa
cinematoralica que remite asi a otra memoria perlormativa, la que vincula
a Elias con modelos devenidos de la educacin musical lemenina.
Recurdese el modo en que Trueha resume su lormacin al presentarla
Disponihle en. http.//www.youtuhe.com/watch:v=TSUNhvh-DW~,
consultado el. y//ac.
V|en I LooI in Yovr E,es es el quinto alhum de Diana Krall, lue nominado como
Alhum ol the Year qqq, la primera vez en a anos en qy el anador lue
Fv||i||inness' Firsi Fino|e de Stevie Wonder que un alhum de jazz era nominado
para el premio mas codiciado de los Premios Grammy de los cuales an en dos
cateorias. Best azz Vocal y Best Enineered Alhum. La revista Bi||boorJ lo
clasilic como el nmero q entre los alhumes de su lista Top azz de la Dcada.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
258
repertorio comn, pero sin que Krall sea interada dentro del concepto
jazz latino. Ohsrvese comparativamente su imaen contemporanea en
relacin a su discoralia en solitario.
*#5D O. Eliane Elias por ordi Socias (Co||e j, accc), Diana Krall (Down Beoi, acc).
P$Q"$ E. Discoralia comparada en solitario
+RSH+H !"#$%& !"#$( +#$%$ T2$""
GUUUV(
. (ac) I Thouht Ahout You (A
Trihute To Chet Baker)
Concord Music (EUA) CD
a. (ac) Liht my lire Concord
Music (EUA) CD
. (accq) Eliane Elias Plays (Live)
EMI (EUA) CD
. (acc8) Bossa Nova Stories EMI
(EUA) CD
. (accy) Somethin lor you EMI
(EUA) CD
6. (acc6) Around the City RCA
Victor/BMG CD
y. (acc) Giants ol azz. Eliane Elias
SLG, LLC (EUA/APAN) CD
. (aca) Glad Ra
Doll Verve (EUA)
CD
a. (accq) Quiet
Nihts Verve
(EUA) CD
. (accy) The Very
Best ol Diana Krall
Verve (EUA) CD
. (acc6) Irom This
Moment On
Verve (EUA) CD
. (acc) The Girl
in the Other Room
Verve (EUA)
CD
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
259
8. (acc) Dreammer RCA
Bluehird/BMG CD
q. (acc) Brazilian Classics Blue
Note (EUA) CD
c. (acc) Kissed hy Nature RCA
Victor/BMG CD
. (acc) Timeless Eliane Elias
SLG, LLC (EUA/APAN) CD
a. (acc) Impulsive' Stunt Records
CD
. (accc) Everythin I love Blue
Note (EUA) CD
6. (acca) Diana
Krall.
Collahorations
(Unollicial) CD
y. (acca) Diana
Krall. Live in Paris
Verve (EUA) CD
W8X!BAY
ZXHBB[. \&(9
;$<< ?31$"
8&2632/$%1&]
8. (acc) The Look
ol Love Verve
(EUA) CD
ELLUV(
. (qq8) Eliane Elias sins ohim
Somethin Else/EMI-Odeon
CD
a. (qqy) The three Americas Blue
Note (EUA) CD
. (qq) Eliane Elias solos and
duets with Herhie Hancock
Blue Note (EUA) CD
. (qq) The Best ol Eliane Elias
(Vol. Oriinals) Blue Note
(EUA) CD
. (qq) On the Classic Side EMI
(EUA) CD
6. (qq) Paulistana Blue Note
(EUA) CD
y. (qqa) Iantasia Blue Note
(EUA) CD
8. (qq) A lon story
Manhattan/EMI-Odeon CD
q. (qqc) Eliane Elias plays ohim
Blue Note (EUA)/EMI-Odeon
CD
. (qqq) When I
Look in Your Eyes
Verve (EUA) CD
W+AJSY +!
8=HPA^Y_8X!BA
Y ZXHBB[. \&(9
;$<< ?31$"
8&2632/$%1&]
a. (qqy) Love
Scenes Impulse'
(EUA) CD
. (qq6) All lor
You. A Dedication
to the Nat Kin
Cole Trio
Impulse' (EUA)
CD
. (qq) Only Trust
Your Heart GRP
(EUA) CD
. (qq) Steppin
Out ustin Time
(Canada) CD
ELMU`(
. (q8q) So lar, so close Blue
Note (EUA) CD
a. (q88) Cross currents
Denon/Blue Note (EUA)
. (q8y) Illusions Blue
Note/EMI-Odeon LP
. (q86) Amanda. Eliane Elias 8
Randy Brecker Passport
azz/Sonet LP
P39$" Ga :#(13( Eb :#(13(
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
260
Dos mujeres actuales, ruhias y pianistas de jazz: Si se compara la
produccin de cada una en solitario, queda en evidencia cmo el jazz y el
hossa nova juean roles estructuralmente distintos en su discoralia, a lo
que se suma el llamado jazz lusin en el caso de Elias. Ademas existen
otros aspectos pendientes de precisar y que las dilerencian, el primero salta
a la vista y es cuantitativo, Elias tiene una trayectoria que precede y duplica
la produccin discoralica de Krall, pero slo Krall ha sido acreedora, como
intrprete, de un Disco de platino y dos premios Grammy en la cateoria
de. Best azz Vocal Perlormance. Mientras que Elias, nominada en varias
ocasiones, lo ha sido en las cateorias de. Best azz Solo Perlormance, en
qq por su disco So|os onJ Dveis junto al pianista Herhie Hancock, y por
su colahoracin con Boh Brookmeyer como Best Lare azz Ensemhle
Alhum en acc, el mismo ano en que Co||e j lue aclamado y nominado
al Grammy Latino en la cateoria de Best Latin azz Alhum
. Elias es,
electivamente, La primera dama del piano hrasileno en el jazz, pero no ha
anado al dia de hoy ninn Grammy. Podria decirse, aunque suene a
opinin, que Diana Krall esta propiamente dentro, mientras que Eliane
Elias se mantiene, o es sometida, en el Limes.
Sin duda estas cateorias responden a intereses de la Industria
sohre los cuales no ahondar aqui. Pero Diana Krall, al dia de hoy, no ha
producido ninn disco exclusivamente como pianista de jazz, a dilerencia
de Eliane Elias, cuya mayor produccin es en este amhito. Ademas, las
nominaciones a los Grammy ponen en evidencia que su perlil como
jazzistas es dilerente. Sin emharo, han ido coincidiendo mediadas por su
aspecto lisico, sohre la hase del paradima de la cantante de jazz que se
acompana al piano, incluyendo en su perlormance improvisaciones u ohras
propias.
He aqui cmo un ano antes de que Krall sacara viei Ni|is
(Verve, accq), Elias present Bosso Novo Siories (EMI, acc8), ! contando
con la participacin del uitarrista Oscar Castro-Neves y el percusionista
Paulo Braa, colahoradores de ohim", disco nominado a los Brazilian
Grammys (Prmio da Msica Brasileira, accq) en la cateoria de Best
Iorein Alhum, mientras viei Ni|is an el Grammy en acc en la
cateoria de Best Instrumental Arranement Accompanyin Vocalist(s).
Esto podria considerarse circunstancial si amhas no cantasen en inls y
En esa ocasin Co||e j Varios Artistas, compiti junto a Live Ai T|e B|ve
Noie Paquito D'Rivera Quintet, Corombo|o Chico O'Iarrill, Moi|er|onJ
Danilo Prez, Me|ozo David Sanchez, So|o. Live In New YorI Chucho Valds.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
261
portuus, y si el arrelista en amhos casos no luera el mismo. Claus
Oerman
.
Retomando la arumentacin de Aharonian, puede decirse que el
perlormance de Krall es reconociJo como un camino de permanente
renovacin de modelos metropolitanos, y una lorma de escape controlado
de la propia pohlacin metropolitana, una otredad en tanto transresin
controlada. Mientras que el de Elias es asumido hajo supuestos de
identidad. poster irl lor jazz lohalization, primera dama del piano
hrasileno en el jazz. Neutralizando, en luar de leitimar sus aportes
innovadores, modernos. No ohstante, podria pensarse que amhas estan
unidas por un aspecto narrativo sinular, construido como corporalia.
Dohle rehn el cuerpo de la mujer atrapado en la cateoria de lo
lemenino, ese lemenino que ha sido el ohjeto mas imperioso de los
discursos|.| (Eltit accy)
Para precisar este aspecto prelormativo me remito de nuevo a
viei Ni|is y Bosso Novo Siories, porque en amhos discos se incluye The
Girl lrom Ipanema de ohim, oriinalmente Garota de Ipanema. Iamosa
en la versin de CeizCi|berio (Verve q6) sen el perlormance de la
cantante hrasilena Astrud Gilherto (Bahia, qc), voz emhlematica del
nero, el saxolonista estadounidense Stan Getz (Iiladellia, qay), quien la
tradujo al inls y vincul con el Cool jazz (Kernleld, accy), y el
uitarrista oo Gilherto (uazeiro, q), considerado junto a ohim
creador del hossa nova.
En viei Ni|is, junto a su repertorio en inls, Diana Krall incluye por primera
vez en su discoralia un perlormance en portuus con Este Seu Olhar de Tom
ohim, rahada por Luiz Claudio en qq, sen el Dicionorio Crovo A|bin Jo
Mvsico popv|or brosi|eiro. Inlormacin disponihle en.
http.//www.dicionariomph.com.hr/tom-johim/ohra y
http.//www.dicionariomph.com.hr/luiz-claudio/discoralia~, consultados el.
//ac La versin de Krall remite a oo Gilherto, como se inlorma en la hio de
su weh olicial, lase. H%93%#3 S$2"3( ;3Q#/ (who composed Quiet Nihts and
The Girl lrom Ipanema) and ;3$3 Z#"Q&293 (Este Seu Olhar) are two ol the
pioneers ol the music, revered as national heroes in Brazil to this day. Disponihle
en. http.//www.dianakrall.com/hio.aspx~, consultado el. //ac. La relerencia
de Krall es 1ooo Ci|berio Inierpreio Tom 1obim (EMI Odeon LP q8), donde se
incluyen. A Ielicidade, Desalinado, Insensatez, Este Seu Olhar, Chea de Saudade,
Meditao, Samha de Uma Nota S, O Nosso Amor, O Amor Em Paz, S Em Teus
Braos, Corcovado, Discusso. Dentro de este mismo canon, en Bosso Novo Siories
Elias raha. The Girl lrom Ipanema, Chea de Saudade, The More I See You, They
Can't Take That Away Irom Me, Desalinado, Estate (Summer), Day In, Day Out,
I'm Not Alone (Who Loves You:), Too Marvelous lor Words, Superwoman, Ialsa
Baiana, Minha Saudade, A Ra (The Iro), Day By Day.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
262
Ahora hien, a dilerencia de Eliane Elias, dentro de cuyo repertorio
The Girl lrom Ipanema tiene un espacio propio
6
, Krall elije,
continentemente, The Boy lrom Ipanema (variahle de la versin inlesa
de Getz), repitiendo su experiencia de Co||oboroiions (Unollicial, acca)
junto a Rosemary Clooney. Krall elije vincularse, podria decirse, con una
enealoia que remite a Clooney, Shirley Bassey, Petula Clark, Ella
Iitzerald, Eartha Kitt, Pey Lee, The Supremes, Crystal Waters y Sarah
Vauhan. Qu politicas de la memoria median aqui:
-.$ /+0# 1023 45")$3"
En el caso de Eliane Elias y Diana Krall, es evidente cmo las
mismas audiotopias que nos unen pueden separarnos, la msica intera, sin
duda, pero las experiencias separan. La memoria dividida entre las
Amricas queda maniliesta incluso en los perlormances de latinidad. A lo
que dehe sumarse cmo, dentro de Amrica Latina, Brasil conlorma una
otredad lrente al hloque hispanoamericano (PIZARRO, acc). La propia
audiotopia del jazz latino relleja esta lractura. Irente a una msica
caliente hasada en la percusin alrocarihena, se levantan, por ejemplo, el
hossa nova, el jazz-hossa, el jazz- haio, y el jazz-samha, vinculados en
un principio al Cool jazz (ROBERTS, qyq, qqq. KICHNER, acc.
GENNARI, acc6. KERNIELD, accy). La crnica de Roherts lo narra en
los siuientes trminos. Both in Brazil and the United States, in lact, the
hossa nova hrided mass popular music and art popular music. In the
U.S., it provided several new standards to the popular repertoire and also
had some sinilicant ellects on jazz. (ROBERTS, qyq, p. yc-y).
Siuiendo esta narrativa, David Treece, en comunin con Roherts, alirma.
the hossa nova movement, iven the inlluence ol that tradition within
Braziland heyond, and as Latin America's most successlul musical export
(TREECE, qqy, p. ). No ohstante, Luc Delannoy comenta.
En q6, lascinados por los ritmos y las armonias relinadas de esta nueva
msica popular, los primeros jazzistas estadounidenses arrihan a Brasil. el
uitarra Charlie Byrd, Dizzy Gillespie, Herhie Mann y el tromhonista Boh
Brookmeyer. Por desracia, no seran los primeros en penetrar en los
estudios de rahacin. Otros, como Stan Getz en particular, seran
considerados errneamente como los primeros en haher incorporado el
hossa nova al jazz. |Y area, citando a Herhie Mann.| Cuando
preparahamos el alhum Do i|e Bosso Novo wii| Herbie Monn, sueri a
6
The Girl lorm Ipanema en la discorralia de Eliane Elias. Bosso Novo Siories
(track ), acc8, Brozi|ion C|ossics (track ), acc, E|ione E|ios Sins 1obim (track ),
qq8, y Foniosio (track ), qqa.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
263
ohim que cantara. El se puso a componer Lo c|ico Je Iponemo, con el
ohjeto de cantarla l mismo, pero en realidad lue Stan Getz el primero en
rahar el tema (DELANNOY, acc, p. aa-a).
Elias y Krall son hijas de esta relacin, los jueos del poder
revelan aqui matices mas sutiles acerca de la otredad rohada (utilizando el
trmino de Aharonian), que es a su vez una otredad representada. Para
ilustrar esta perlormatividad de la otredad me remito a Garota de
Ipanema, a la ohra como entidad (sen unas propiedades especilicas), y
como paradima (sen determinados perlormance), que en trminos
tcnicos, como indica Iranklin Bruno.
Given that perlormance practices may chane, hecomin more lamiliar
and normatively acceptahle over time, an account ol the work-
perlormance relation cannot leislate how the properties ol works must
relate to the properties ol their perlormance, or how perlormers`
intentions towards these relations must he realized (BRUNO, acc6, p.
6a).
Considrese por ejemplo cmo para David Treece esta ohra es.
[.] the lusion ol the projected desire with it ohject, is achieved in a
numher ol sons where the aura ol race- that loveliest thin, so lull ol
race, in the words ol Garota de Ipanema (The irl lrom Ipanema,
ohim/Moraes) -appears as the locus ol erotic or ecoloical
contemplation. . Garota de Ipanema itsell, lor example, the
celehration ol an idealized, unattainahle lemale heauty is suspended in a
kind ol trance, as the melodic phrase hypnotically lollows the irls sell-
possessed swayin, dancin walk |.| (TREECE, qqy, p. c-)
|In communion with| the introspective, coolly complacent sophistication
ol hossa nova, with its intimate lanuae ol love, smiles and llowers |.|
(TREECE, qqy, p. ).
Siuiendo esta recepcin esttica, ohsrvese el manuscrito de
ohim y Moraes.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
264
*#5D c. Antonio Carlos ohim/Vinicius de Moraes,
A oroio Je Iponemo, Ms, s.l.
En Bosso Novo Siories (y nunca mejor dicho. sior, no |isior,),
Eliane Elias comula con este paradima, como Astrud Gilherto, utiliza
tanto la traduccin inlesa de Getz como el oriinal de ohim y Moraes.
Elias asume el aura de racia, como jazzista lorma entidad con ella
apropiandosela a travs de mltiples perlormance a lo laro de su carrera.
Podria decirse que realiza un empoderamiento corporal de esta
idealizacin leminizada, en tanto audiotopia de sus raices y su yo creador.
El suyo es un perlormance del erotismo y la contemplacin, proyeccin svi
eneris de una Venus-humanitas
y
. Pero como en las ohras emhlematicas
y
Ohras de Sandro Botticelli (-c) que pueden ser consideradas en relacin a
esta narrativa son. Venvs , Morie (Venere e Marte), 8, Temple y leo sohre
tahla, 6q cm y cm, National Gallery de Londres, Londres, Reino Unido. E|
nocimienio Je Venvs (La Nascita di Venere), 8, Temple sohre lienzo, 8, cm
8, cm, y Lo primovero (Primavera), 8a, Tempera en panel, ac cm cm,
amhas en Galeria Ullizi, Ilorencia, Italia. El poder del amor (Venus-Humanitas),
esto es, el rado mas elevado de la evolucin humana, expresin del mensaje
neoplatnico sen el cual el amor, entendido por Platn como luerza espiritual, es
capaz de vencer a los horrores de la uerra y de la violencia, en linea con las teorias
del lilsolo Marsilio Iicino. La ohra de Sandro Botticelli es representativa de este
pensamiento. Respecto a Eliane Elias, es evidente que este aspecto de su
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
265
de Sandro Botticelli, en el manuscrito de ohim y Moraes, mujer y paisaje,
msica y texto, lorman tamhin una entidad, una corporalia del ideal
poiiico. El musicar de ohim construye asi un espacio, retiene un tiempo
para la proyeccin del Deseo, como audiotopia encarnada en el cuerpo de
una mujer, de modo similar que en Trueha y Mariscal (Co||e j, C|ico
Piio).
Este aspecto es lundamental, porque a pesar de que eanette
Bicknell documenta cmo. |.| The Girl lorm Ipanema has heen
successlully recorded hy hoth men and women, despite the narrative
perspective hein male. (BICKNELL, acc, p. a6) El perlormance de
Diana Krall, con su pequena voriob|e, revela la imaen dialctica del
paradima anterior. Ella, en comunin con la enealoia y memoria del jazz
con que se identilica, no esta dentro de la contemplacin, sino que
contempla al otro extico (Girl/Boy |rom Iponemo), ohjetivizandolos.
Krall encarna de este modo la mirada metropolitana sohre la
latinidad, ohjeto de deseo en la medida que implica una transresin
controlada, una renovacin en la experiencia sensual y ertica con lo
otro, paradjicamente tamhin, como en Trueha, Mariscal y su
concepto. La suya (Krall), es una visin turistica pero tamhin
continente. Supone la intencin de vincularse con una tradicin, pero
como vrieai, en luncin de leitimar una narracin. En amhos casos la ohra
como perlormance revela su vinculo a travs de memorias divididas,
imaen dialctica lrente al espejo. Pero existe otra voriob|e, el espejo se ha
roto...
S3%1"0(#3%&(
Si el jazz latino es una msica de resistencia (RUIZ, acc),
resiste en luncin de una memoria. Memoria colectiva (social y cultural)
hasada en paradimas y canones que se autoconstituyen y/o son
constituidos, en este caso, como otredad cannica. Esto es posihle hajo
principios que en si mismos excluyen a otros que no coincidan con su
recordar. La memoria del jazz latino, como simv|ocro y perlormance,
perlormance requiere de un estudio mas riuroso que supera las capacidad de estas
painas, pero considero pertinente senalarlo ya que lorma parte importante del
prohlema de estudio que pretende introducir este ensayo. La propia iconoralia de
Mariscal en la portada de Co||e j, y la oranizacin de las lotoralias de Socias
dentro de la imaen promocional de la pelicula, por ejemplo en la que sitan a Elias
en el centro de una cuadricula, rodeada por los jozzmen, remiten a este concepto.
Incluso su ejecucin de Samha triste lrente a las competitivas ejecuciones de
Camilo, Dominuez y los Valds, puede ser analizada desde esta perspectiva esi-
tica.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
266
recoe, escrihe, y transmite, en este caso, testimonios musicales que en si
mismos son pedradas, !retomando la imaen de Iernando Trueha",
lanzadas contra un espejo. Pero contrariamente a lo que se pensaria, este
espejo no es el jazz cannico, sino la Kv|ivr, idea de un espiritu del
puehlo sen la cual se construye su narrativa. Se estahlece asi, como cit
anteriormente, la literalidad, la ruina, el testimonio intranslerihle, los
espacios simhlicos, y cmo los dehates histricos sohre el pasado aluden a
marinalidades, discriminaciones y prejuicios de hoy, que real y
electivamente suhsisten en lo latin.
Esto me ha permitido ilustrar la condicin politica del recordar,
pero a su vez, los elementos para arumentar cmo Memoria e Identidad,
jaulas doradas, completan la narracin cannica acerca del jazz lrente a
supuestos de latinidad. Sen politicas etno-histricas devenidas de la
Kv|ivr, del paradima de estado nacin y sus prceres imainados, sean
estos patriarcas o jozzmen. En este contexto, un estudio de la corporalia de
Eliane Elias, poster irl lor jazz lohalization, primera dama del piano
hrasileno en el jazz, expone el prohlema poscolonial y posnacional
condensado en su recepcin.
Me he remitido a The Girl lrom Ipanema, una ohra que no
tendria porqu ser politica en ahsoluto, para demostrar cmo, incluso alli,
!a travs de un estudio comparado entre el perlormance de Elias y Krall",
estan presentes las politicas de la memoria. La lrontera como cuerpo. Y la
corporalia de lo lemenino que, como en el caso de Eliane Elias en Co||e
j, demuestra ser otra jaula, [.] propiedad de los discursos del cuerpo
que lo han desalojado de si para capturarlo como hotin o como rehn social
para ensayar sus experiencias. (ELTIT, accy).
A nivel metodolico, esto nos permite indaar en cmo las
cateorias mujer, nero o raza, constituyen dentro de los estudios
sohre jazz, la musicoloia leminista, y la historia cultural, una corporalia,
es mas, como los propios estudios sohre msica y mujeres son en si
mismos un prohlema corporalico. Se maniliesta asi la necesidad de un
marco interdisciplinar para el estudio de estos lenmenos.
Consecuentemente, en este ensayo he procurado introducir un prohlema
de investiacin que aharca dilerentes lineas de trahajo. los estudios sohre
msicas y corporalias, los estudios sohre jazz, los estudios de nero, los
estudios sohre las mujeres, los estudios de perlormance y politica, incluso
podria decirse, los estudios decoloniales.
El leado de Eliane Elias al jazz, y si se quiere, a la msica
hrasilena, ohlia, como en el caso de Nina Simone, Alice Coltrane, o Carla
Bley, randes jozzwomen, un marco de estudio capaz de pensar su historia
continente. Mi ohjetivo con este ensayo ha sido olrecer una via posihle
para ese estudio pendiente. Ahierta queda la invitacin y la provocacin.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
267
X!*!X!^SAHJ
ACOSTA, Leonardo. Poices Je| jozz |oiino. un silo de azz en Cuha. Barranquilla.
La Iuana Ciea, acc.
AHANORIAN, Corin. OireJoJ como ovioJe|enso o como someiimienio? Una
encrucijada para el compositor del Tercer Mundo. In. COLOQUIO
INTERNACIONAL MUSICA E MUNDO DA VIDA. ALTERIDADE E
TRANSGRESSAO NA CULTURA DO SECULO XX. Anois... Cascais, qq6.
Disponihle en. http.//www.latinoamerica-
musica.net/puntos/aharonian/otredad-es.html~, consultado el. 8 mar. ac.
AKE, David, GOLDMARK, Daniel, GARRETT, Charles Hiroshi. 1ozznoi jozz.
T|e mvsic onJ iis bovnJories. Berkeley. University ol Calilornia Press, aca
APARICIO, Irances R., AQUEZ, Candida. Mvsico| miroiions. ironsnoiiono|ism
onJ cv|ivro| |,briJii, in Loiin(o) Americo. sivJies in Loiin Coribbeon mvsic.
Philadelphia. Temple University Press, acc.
APARICIO, Irances R., CHAVEZ-SILVERMAN, Susana (Ors.). Tropico|izoiions.
ironscv|ivro| represenioiions o| |oiiniJoJ. Hanover, NH. Dartmouth Collee /
University ol New Enland Press, qqy.
APARICIO, Irances R. On suh-versive siniliers. U. S. Latina/o writers tropicalize
Enlish. Americon Liieroivre, v. 66, n. , p. yq-8c, dic. qq.
ATKINS, Taylor. 1ozz p|onei. ackson. University Press ol Mississippi, acc.
AUSTERLITZ, Paul. 1ozz consciovsness. music, race, and humanity. Middletown,
Conn.. Wesleyan University Press, acc.
_____. The jazz tine in Dominican music. a Black Atlantic perspective. B|ocI
Mvsic Peseorc| 1ovrno|, v. 8, n. /a, p. -q, qq8.
BAUMAN, Zymunt. MoJerniJoJ |ijviJo. Buenos Aires. Iondo de Cultura
Econmica, qqq.
BENAMIN, Walter. E| norroJor. Madrid. Taurus, qq.
BERKMAN, Iranya . Monvmenio| eierno|. The music ol Alice Coltrane.
Middletown, Conn.. Wesleyan University Press, acc.
BICKNELl, eanett. ust a son: Explorin the aesthetics ol popular son
perlormance. T|e 1ovrno| o| Aesi|eiics onJ Ari Criiicism, v. 6, n. , p. a6-ayc,
summer acc.
BAUDRILLARD, ean. Simv|ocro onJ simv|oiion. Ann Arhor. University ol
Michian Press, qq.
BOWERS, ack. Impulsive' The music ol Eliane Elias. A|| Abovi 1ozz. May , acc.
Disponihle en. http.//www.allahoutjazz.com/php/article.php: id=yya~,
consultado el. ay leh. ac.
BUDDS, Michael . 1ozz onJ i|e Cermons. Esso,s on i|e in||vence o| |oi Americon
iJioms on :oi|cenivr, Cermon mvsic. New York. Pendraon Press, acca.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
268
BEHAGE, Gerard. Bossa nova. Crove Mvsic On|ine [accy] Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com.8c/suhscriher/article/rove/music/c66
~, consultado el. ay leh. ac.
BROWNING, Barhara. Sombo. resisionce in moiion. Bloominton. Indiana
University Press, qq.
BROWN, Lee B. Marsalis and Baraka. an essay in comparative cultural discourse.
Popv|or Mvsic, v. a, n. , p. a-a, oct. acc.
BRUNO, Iranklin. Representation and the work-perlormance relation. T|e 1ovrno|
o| Aesi|eiics onJ Ari Criiicism, v. 6, n. , p. -6, summer acc6
CAMPOS IONSECA, Susan. La voz que te lleva. In. DELANNOY, Luc (Or.)
Converencios. encuentros y desencuentros en el jazz latino. Mxico D.I.. Iondo de
Cultura Econmica, aca, p. -6.
CAMPOS IONSECA, Susan. Fovr women de Nina Simone. el cuerpo como
memoria. ITAMAP, n. , p. 6y-y, acc.
CAMPOS IONSECA, Susan. Una hahitacin propia en el jazz latino:.
IASPMQ1ovrno|, v. , n. a, acc. Disponihle en.
http.//www.iaspmjournal.net/index.php/IASPM_ournal/article/view/68~,
consultado el. a dic. aca.
CASTILLO-IADIC, Gahriel. Epistemoloia y construccin identitaria en el relato
musicolico americano. Pevisio mvsico| c|i|eno, v. a, n. qc, julio qq8.
Disponihle en http.//www.scielo.cl/scielo.php:pid=Scy6-
ayqcqq8cqccccc8script=sci_arttext~, consultado el. a8 leh. ac.
CASTRO, Ruy. Bosso novo. the story ol the Brazilian music that seduced the
world. Chicao. A Capella Press, accc.
CHEDIAK, Nat. Diccionorio Je| jozz |oiino. Madrid. Iundacin autor/SGAE, qq8.
COOK, Nicholas. Between process and product. music and/as perlormance. Mvsic
T|eor, On|ine, v. y, n. a, acc. Disponihle en.
http.//www.societymusictheory.or/mto/issues/mto.c.y.a/mto.c.y.a.cook.html~
consultado el. c mar. ac.
COOKE, Mervyn, HORN, David. T|e CombriJe componion io jozz. Camhride.
Camhride University Press, acc.
CORONA, Inacio, MADRID, Alejandro L. (Ors.). Posinoiiono| mvsico| iJeniiiies.
cultural production, distrihution, and consumption in a lohalized scenario.
Lanham. Lexinton Books, accy.
CORREIA, Maria das Graas Meirelles. Sobor |eminino no mvsico brosi|eiro. In. XI
ENCONTRO REGIONAL DA ASSOCIAAO BRASILEIRA DE LITERATURA
COMPARADA. Anois... , So Paulo, v. , accy. p. -c.
CLARK, Walter A. (Or.). From iejono io iono. Loiin Americon popv|or mvsic.
London. Routlede, acca.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
269
DASTON, Lorraine, GALISON, Peter. Objeiivii,. Camhride, Mass. MIT Press,
accy.
DAVIES, David. Ari os per|ormonce. Oxlord. Wiley-Blackwell, acc.
DELANNOY, Luc (Or.). Converencios. encuentros y desencuentros en el jazz
latino. Mxico D.I.. Iondo de Cultura Economica, ac.
DELANNOY, Luc. Corombo|o. ViJos en e| 1ozz Loiino. Mxico D.I.. ICE, acc.
DELANNOY, Luc. Co|ienie Uno |isiorio Je| jozz |oiino. Mxico D.I.. ICE, acc.
DILLA ALIONSO, Haroldo. Los prceres imainados.
Cvboenencveniro.com/opinin. Santo Domino, c de lehrero, ac. Disponihle en.
http.//www.cuhaencuentro.com/opinion/articulos/los-proceres-imainados-
aq~, consultado el. a mar. ac.
ELTIT, Diamela. Caras y descaras. EMis|rico, New York. Hemispheric Institute,
v. , n. a, accy. Disponihle en.
http.//hemisphericinstitute.or/journal/.a/en/ena_p_eltit.html~,
consultado el. a6 leh. ac.
IELDSTEIN, Ruth. I don't trust you anymore. Nina Simone, culture, and hlack
activism in the q6cs. T|e 1ovrno| o| Americon Hisior,, v. q, n. , p. q-yq,
mar. acc.
Feminisi perspeciive on i|e boJ,. Stanlord Encyclopedia ol Philosophy. Disponihle
en. http.//plato.stanlord.edu/entries/leminist-hody/~, consultado el. a/a/aca.
IERNANDEZ, Ral A. Introducin Leonardo Acosta, music and literary critic. A
Coniro corrienie, v. , n. , p. q-a, sprin, acc8.
IERNANDEZ, Ral A. From A|roCvbon r|,i|ms io Loiin jozz. Berkeley.
University ol Calilornia Press, acc6.
IERNANDEZ, Ral A. Loiin jozz. the perlect comhination la comhinacin
perlecta. San Irancisco. Chronicle Books, acca.
IRAISSE, Genevieve. Los contratiempos de la emancipacin de las mujeres.
Posojes, n. q, invierno acc. Disponihle en.
http.//www.revistasculturales.com/articulos/a/pasajes///los-
contratiempos-de-la- emancipacion-de-las-mujeres.html~, consultado el. ay jul.
accq.
IRITH, Simon. Is jazz popular music: 1ozz Peseorc| 1ovrno|, v. , n. , p. y-a, accy.
GAMMOND, Peter. Cool jazz. Crove Mvsic On|ine [accy]. Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com/suhscriher/article/opr/t/e6c6~,
consultado el. 8 mar. ac.
GARCIA MARTINEZ, os Maria. De| |oairoi o| jozz ||omenco. el jazz en Espana,
qq-qq6. Madrid. Alianza Editorial, qq6.
GENNARI, ohn. B|owin' |oi onJ coo|. jazz and its critics. Chicao. University ol
Chicao Press, acc6.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
270
GENNARI, ohn. azz criticism. its development and ideoloies. B|ocI Americon
Liieroivre Forvm, v. a, n. , p. q-a, autumn qq.
GONZALEZ, Roer. LATIN 1AZZ A s,ncreiic jovrne, |rom Spoin, Cvbo, i|e
UniieJ Sioies onJ bocI (roJio Jocvmenior, eaeesis). Tesis (Master ol Arts)
Queensland University ol Technoloy, accq. Disponihle en.
http.//eprints.qut.edu.au/aqq/~, consultado el. c ene. ac)
GUNTHER KODAT, Catherine. Conversin with ourselves. canon, lreedom, jazz.
Americon vorier|,, v. , n. , p. -a8, Mar. acc.
HERMOSO, Borja. El holero de Trueha y Mariscal. E| pois semono|, n. .yq, p. c-
q, ac leh. ac.
INIGUEZ, Iernando. Beho, Chucho y Leyanis Valds unen sus pianos en un solo
corazn. E| pois, Madrid, c ao. acc. Disponihle en.
http.//www.elpais.com/articulo/revista/aosto/Beho/Chucho/Leyanis/Valdes
/unen/pianos/solo/corazon/elpepirdv/accc8celpepirdv_/Tes~, consultado el.
a6 leh. ac.
ELIN, Elizaheth. Espacios para la memoria:Para quines:. EMis|rico, New
York. Hemispheric Institute, v. y, n. a, ac. Disponihle en.
http.//hemisphericinstitute.or/hemi/en/e-mislerica-ya/jelin~, consultado el. a6
leh. ac).
KAHL, Willi, KATZ, Israel . Bolero. Crove Mvsic On|ine [accy]. Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com/suhscriher/article/rove/music/c~,
consultado el. ay leh. ac.
KERNIELD, Barry. Cool jazz. Crove Mvsic On|ine [accy]. Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com/suhscriher/article/rove/music/c6c~,
consultado el. 8 mar. ac.
KERNIELD, Barry. Bossa nova. Crove Mvsic On|ine [accy]. Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com.8c/suhscriher/article/rove/music/qqccc~,
consultado el. ay leh. ac.
KERNIELD, Barry. Latin azz. Crove Mvsic On|ine [accy]. Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com.8c/suhscriher/article/rove/music/aqq~,
consultado el. ay leh. ac.
KINDT, Tom, MLLER, Hans-Harald (Or.). V|oi is norroio|o,? Questions and
answers reardin the status ol a theory. Berlin. Walter de Gruyter, acc.
KIRCHNER, Bill. T|e Oa|orJ componion io jozz. Oxlord University Press, acc.
KUN, osh. AvJioiopio. mvsic, roce, onJ Americo. University ol Calilornia Press,
acc.
LABAO, oaquina. El controvertido sinilicado de la educacin lemenina. En.
Mvsico , mvjeres. nero , poJer (Marisa Manchado Torres, coord.), Madrid. Horas
y horas, qq8, p. 8-ca.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
271
LE GUIN, Elisaheth. Bocc|erini's BoJ,. An Esso, in Corno| Mvsico|o,. University
ol Calilornia Press, acc.
LANDO. accq. Eliane Elias al piano. En. El pais.com/La Comunidad, post
puhlicado el de septiemhre de accq. Disponihle en.
http.//lacomunidad.elpais.com/landocalrissian/accq/q//eliane-elias-al-
piano~, consultado el. a6 leh. ac.
LE GUIN, Elisaheth. Bocc|erini's boJ,. an essay in carnal musicoloy. Berkeley.
University ol Calilornia Press, acc.
LEYMARIE, Isahelle. 1ozz |oiino |. ed. acc|. Barcelona. Rohinhook, acc.
LOZA, Steven. Tiio Pvenie onJ i|e MoIin o| Loiin Mvsic. Urhana. University ol
Illinois Press, qqq.
LOPEZ CANO, Ruhn. Msica, mente y cuerpo. De la semitica de la
representacin a una semitica de la perlormatividad. In. IORNARO, Maria (Or.).
De cerco, Je |ejos. Miradas actuales en Musicoloia de/sohre Amrica Latina.
Montevideo. Universidad de la Rephlica, Comisin de Educacin
Permanente/Escuela Universitaria de Msica (en prensa). Disponihle en.
http.//lopezcano.or/Articulos/ac.perlorm.pdl~, consultado el. ay leh. ac)
MADRID, Alejandro L. Por qu msica y estudios de perlormance: Por qu
ahora:. una introduccin al dossier. Pevisio Tronscv|ivro| Je Mvsico, n. , accq.
Disponihle en. http.//www.sihetrans.com/trans/trans/artcesp.htm~,
consultado el. ay leh. ac)
MADRID, Alejandro L. Los soniJos Je |o nocion moJerno. La Hahana. Casa de las
Amricas, acc.
MANTHORNE, Katherine E. Openin the horders ol American art. Americon
Ari, v. a, n. , p. a-, sprin qq8.
MARTINEZ MILLAN, os. La sustitucin del sistema cortesano por el
paradima del estado nacional en las investiaciones histricas. LibrosJe|ocorie.es,
v. a, n. , p. -6, primavera acc.
MATE, Reyes. MeJionoc|e en |o |isiorio. Comentarios a las tesis de Walter
Benjamin Sohre el concepto de historia. Madrid. Trotta, accq.
MAYAYO, Patricia. Hisiorios Je mvjeres, |isiorios Je| orie. Madrid. Ensayos Arte
Catedra, accy.
McCLARY, Susan. PeoJin mvsic. Selected essays. London. Ashate, accy.
McCLARY, Susan. Conveniiono| wisJom. the content ol musical lorm. Berkeley.
University ol Calilornia Press, accc.
McCLARY, Susan. Feminine enJins. music, ender, and sexuality. Minneapolis.
University ol Minnesota Press, qq.
McGILL, Guillermo. De la msica, las ideas y la verdad. CvoJernos Je 1ozz, n, 8, p.
a-, acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
272
MENANTEAU, Alvaro. Hisiorio Je| jozz en C|i|e. a ed. Santiao. Ocho Lihros,
acc6.
MILLER, Ron. MoJo| 1ozz composiiion |ormon,, v. . Rottenhur. Advance
Music, qq6.
Morales, Ed. The Latin Beat. T|e P|,i|ms onJ Poois o| Loiin Mvsic |rom Bosso
Novo io So|so onJ Be,onJ. Da Capo Press, acc.
MURPHY, ohn P. Mvsic in Brozi|. experiencin music, expressin culture. New
York. Oxlord University Press, acc6.
NUSBAUM, Martha C., AMARTYA, Sen. Los mvjeres , e| Jesorro||o |vmono. el
enloque de las capacidades. Barcelona. Herder, acca.
OLICK K., ellrey, ROBBINS, oyce. Social memory studies. lrom collective
memory to the historical socioloy ol mnemonic practices. Annvo| Peview o|
Socio|o,, v. a, p. c-c, qq8.
PAREDEZ, Dehorah. Se|eniJoJ. Selena, Latinos, and the perlormance ol memory.
Durham. Duke University Press, accq.
PELINSKI, Ramn. Corporeidad y experiencia musical. Pevisio Tronscv|ivro| Je
Mvsico, n. q, acc. Disponihle en.
http.//www.sihetrans.com/trans/transq/pelinski.htm~, consultado el. ay leh.
ac.
PEREZ MURILLO, Maria Dolores. Lo memorio |i|moJo. Historia socio-politica de
Amrica Latina a travs del cine . la visin desde el Norte. Madrid. IEPALA
Editorial, accq.
PIZARRO, Ana. Hispanoamrica y Brasil. encuentros, desencuentros, vacio. Acio
Liierorio, n. aq, p. c-ac, acc.
PUOL, Serio. azz al sur. Hisiorio Je |o mvsico nero en |o Areniino. Buenos
Aires. Emec, acc.
RAMIREZ, uan Antonio. Corpvs so|vs poro vn mopo Je| cverpo en e| orie
coniemporoneo. Madrid. Siruela, acc.
RECASENS BARBERA, Alhert (Or.). A ires bonJos. mestizaje, sincretismo e
hihridacin en el espacio sonoro iheroamericano. Madrid. Akal, acc.
REILY, Suzel Ana. Tom ohim and the hossa nova era. Popv|or Mvsic, v. , n. , p.
-6, jan. qq6.
ROBERTS, ohn Storm. T|e Loiin iine. the impact ol Latin American music on
the United States. New York 8 London. Oxlord University Press, qyq.
ROBERTS, ohn Storm. Loiin jozz. the lirst ol the lusions, 88cs to today. New
York. Schirmer, qqq.
ROMAGUERA I RAMIO, oaquim. E| jozz , svs espejos, v. a, Madrid. Ediciones de
la Torre, acc.
RUESGA BONO, ulian (Or.). In|vsiones Je jozz. Sevilla. Arte-lacto, ac.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
273
RUIZ MONDRAGON, Ariel. El jazz latino como msica de resistencia.
Bihlialoos. Entrevista con Luc Delannoy. Lo insinio, c oct. acc. Disponihle en.
http.//www.lainsinia.or/acc/octuhre/cul_cq.htm~, consultado el. ac ene.
ac.
SIDERS, Harvey. Eliane Elias/Boh Brookmeyer and the Danish Radio azz
Orchestra Impulsive' 1ozzTimes, anuary-Iehruary, acca. Disponihle en.
http.//jazztimes.com/articles/ayqc-impulsive-eliane-elias-hoh-hrookmeyer-
and-the-danish-radio-jazz-orchestra~, consultado el. ac ene. ac.
SHER, Chuck, DUNLAP, Larry, MAULEON-SANTANA, Reheca (Ors.). T|e
Loiin reo| booI. Petaluma, CA. Sher Music Co., qqy.
SCHLERSINGER, udith. Bossa nova stories. A|| Abovi 1ozz, Decemher a, acc8.
Disponihle en. http.//www.allahoutjazz.com/php/article.php:id=8~,
consultado el. ay leh. ac.
SCHULLER, Gunther. Alro-Cuhan jazz |Cuhop| [accy]. Crove Mvsic On|ine,
Disponihle en.
http.//www.oxlordmusiconline.com.8c/suhscriher/article/rove/music/ccaya~,
consultado el. ay leh. ac.
SCHULLER, Gunther. Eor|, jozz. its roots and musical development. New York.
Oxlord University Press, q68.
SCOTT, oan W. Iantasy Echo. History and the construction ol Identity. Criiico|
Injvir,, v. ay, n. a, p. a8-c, winter acc.
SCOTT, oan W. History in crisis. the otherside ol the story. T|e Americon
Hisiorico| Peview, v. q, n. , p. 68c-6qa, jun. q8q.
SCOTT, oan W. Deconstructin equality-versus-dillerence. or, the uses ol
poststructuralist theory lor leminism. Feminisi SivJies, v. , n. , p. -c, sprin
q88.
SMALL, Chistopher. El musicar. un ritual en el espacio social. Pevisio Tronscv|ivro|
Je Mvsico, n. , qqq. Disponihle en.
http.//www.sihetrans.com/trans/trans/small.htm~, consultado el. ay leh. ac
TREECE, David. Guns and roses. hossa nova and Brazil's music ol popular protest,
q8-68. Popv|or Mvsic, v. 6, n. , p. -aq, jan. qqy.
STOKES, Martin. Music and the lohal order. Annvo| Peview o| Ani|ropo|o,, v. ,
p. y-ya, acc.
TRUEBA, Iernando, CHEDIAK, Nat. Co||e j. El lihro de la pelicula. Madrid.
SGAE, accc.
ULHA, Martha Tupinamha de (Coord.) Projecio moirizes mvsicois e moirizes
cv|ivrois Jo mvsico brosieiro popv|or. Grupo de Pesquisa Msica Urhana no Brasil.
Disponihle en. http.//www.unirio.hr/mph/matrizes/~, consultado el. a6 leh.
ac).
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
274
VV.AA. Eliane Elias. Dicionorio Crovo A|bin Jo mvsico popv|or brosi|eiro [acca].
Disponihle en. http.//www.dicionariomph.com.hr/eliane-elias/~, consultado el.
ay leh. ac.
WALDMAn, Gilda M. La cultura de la memria. prohlemas y rellexiones.
Po|iiico , Cv|ivro, n. a6, p. -, otono acc6.
WASHBURNE, Christopher. The clave ol jazz. a Carihhean contrihution to the
rhythmic loundation ol an Alrican-American music. B|ocI Mvsic Peseorc| 1ovrno|,
v. y, n. , p. q-8c, Sprin qqy.
WEI-HAN HO, Ired. What makes jazz the revolutionary music ol the acth
century, and will it he revolutionary lor the ast century: A|ricon Americon Peview,
v. aq, n. a, p. a8-aqc, Summer qq.
WERTSCH, ames V. The narrative oranization ol collective memory. Ei|os, v.
6, n. , p. ac, March acc8.
WERTSCH, ames V. Voices o| co||eciive rememberin. Camhride. Camhride
University Press, acca.
d&Q 36#1#$"&(.
Calle la pelicula, weh olicial. http.//www.callelilm.com/~
Calle Records. http.//www.callerecords.com/~
CLAZZ IESTIVAL. Weh olicial. http.//www.clazz.es/~ Iuente.
http.//www.clazz.es/~, consultado el. c mar. ac.
Chico 8 Rita, weh olicial. http.//chicoandrita.com/inicio.html~
Diana Krall, weh olicial. http.//www.dianakrall.com/~
Eliane Elias, weh olicial. http.//www.elianeelias.com/~
Iernando Trueha producciones, weh olicial. http.//www.lernandotrueha.com/~
Grammy Awards, weh olicial. http.//www.rammy.or/~
A"0(92$1#3%&(
Down Beoi. Sept. acc. Lucky in Love. The Passion Behind Diana Krall`s Art
(portada). Disponihle en.
http.//a.hp.hlospot.com/_yt6LrxlSRc/SrZmeasQWI/AAAAAAAAKzE/cQ
yRvnyXXM/s6cc-h/Diana+Krall(DownBeat+acc,cover).jp~, consultado el.
a6 leh. ac.
OBIM, Antonio Carlos. s.l. A arota de Ipanema. Manuscrito do autor e de
terceiros. ll. Coleccin Instituto Antonio Carlos ohim, Rio de aneiro. Disponihle
en. http.//www.johim.or/johim/handle/acc/q6~, consultado el. a6 leh.
ac.
"#$%&' "#$%( )*%##'& +$,%-
275
LOS CARPINTEROS. acc. Mucho Caliente. Madera, metal. a x a8 x a8 cm.
Coleccin Iundacin Hela de Alvear, Caceres. Disponihle en.
http.//www.loscarpinteros.net/index/photo-thumh/mucho-caliente-acc/ ~,
consultado el. a6 leh. ac.
MARISCAL, avier. Mariscal + Trueha. Un holero en La Hahana. E| pois Semono|,
n. .yq, ac leh. ac.
MARISCAL, avier. accc. Calle . El lihro de la pelicula (portada). Madrid. SGAE,
portada.
SOCIAS, ordi. accc. Eliane Elias. Calle . El lihro de la pelicula (Alhm
lotoralico). Madrid. SGAE, p. 6.
STEVOVICH, Andrew. q8-8a. Iallen Diva n. . Olio sohre lienzo. Coleccin
privada. Step Ahead (portada). Elektra Musician/Asylum Records, q 6c68 (LP),
q8.
"""
#$%&'($ '# )*+#,( # -"$%.,"/ 0(12#+$/%.,"/
!"#$%&%' )*+,*'-.*&/'
0 1/ -23-'-4-#-1/1% 5 ,&*6%78* -2.%&2/)-*2/#
VANDA LIMA BELLARD IREIRE
ANGELA CELIS HENRIQUES PORTELA
ste artio ahorda a trajetria de mulheres compositoras no Brasil, do
sculo XIX a atualidade, procurando interpretar essa trajetria em
sua insero cultural. As inlormaoes e interpretaoes apresentadas neste
trahalho decorrem de pesquisas das autoras, concluidas e em andamento,
com loco principal no Rio de aneiro.
A presena da mulher musicista nem sempre loi valorizada pela
literatura especializada, possivelmente por se tratar de uma historioralia
prioritariamente escrita por homens. Ou talvez porque, dadas alumas
circunstncias sociais, a participao phlica da mulher como musicista se
lez muita restrita, ao lono do sculo XIX, e s radativamente se ampliou
ao lono do sculo seuinte. Ou mesmo porque, em luno dessas
circunstncias, as mulheres atuaram mais lora do palco dos teatros,
destacando-se como prolessoras de msica ou como intrpretes, no espao
de suas casas.
De qualquer lorma, emhora reconhecendo a relativa invisihilidade
das mulheres em nossa historioralia, este artio pretende localiza-las com
o entendimento de que elas desempenharam eletivamente um papel na
histria (RAMOS, acc), entendimento este que se alinha com viso da
nova musicoloia, que ahre espaos para os chamados estudos de nero.
A participao leminina no mundo prolissional da msica, pouco visivel
como ja comentado, no exclusiva do Brasil. Ramos (acc, p. 8-q)
comenta a situao da Europa, revelando a ocorrncia, la, de situao
semelhante, em tempos recentes.
Devemos reconhecer que os avanos criticos da rellexo sohre mulheres e
msica no se traduziram em pratica social. A prova disso a persistncia
na pouca insero das mulheres na prolisso de musicistas, seja como
intrpretes, reentes, compositoras ou como propaadoras da msica. As
pesquisas desenvolvidas por Hyacinthe Ravet e Philippe Coulaneon,
E
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
280
entre os msicos lranceses, mostram que a separao horizontal (a
respeito das distintas prolissoes musicais) predomina na msica popular,
enquadrando as mulheres como cantoras. Nas orquestras classicas
lrancesas, a porcentaem de mulheres e homens , sem dvida,
semelhante (a exceo dos casos conhecidos de harpa ou metais). A
separao imperante aqui a vertical (em respeito a situao em uma
prolisso concreta), que alasta as mulheres dos caros melhor
remunerados e mais prestiiados. rencia de orquestra, solistas, primeiras
estantes, etc.
, citando o psicloo
novecentista Rosenkranz, tece ohservaoes sohre a mulher.
Isso talvez deva ter escapado a Rosenkranz, quando ohserva mas no
resolve a contradio seundo a qual as mulheres, em quem por
natureza predomina o sentimento, nada realiza em termos de
composio. Alm das condioes erais pelas quais as mulheres so
mantidas a distncia das manilestaoes espirituais, o motivo se haseia
justamente no momento plastico de compor, que exie um
despojamento da suhjetividade no menor do que nas artes plasticas, s
que em outra direo. Se a intensidade e a vitalidade do sentimento
lossem realmente decisivas para a composio musical seria dilicil
explicar a total carncia de compositoras em comparao com o nmero
de escritoras e pintoras. No o sentimento que compoe, mas o talento
particularmente musical, educado artisticamente (HANSLICK, qqa, p.
q).
Apesar dessas visoes restritivas ao potencial da mulher, os saloes
do sculo XIX loram um espao importante de atuao para elas como
intrpretes, pois serviam as lamilias mais ahastadas para apresentar suas
lilhas a sociedade, em meio a contatos sociais e politicos. Nos saloes, a
mulher assumiu o papel de intermediao entre relaoes e acordos
politicos, alianas, compromissos de casamentos. Couhe a ela, ento, a arte
de receher ou preparar um amhiente de cordialidade e de mediar
encontros importantes, o que a ohriou a se adaptar a essa nova situao.
Elas atuavam lrequentemente como musicistas (eralmente como cantoras
ou pianistas), conliurando, nesses espaos, a sohreposio de aspectos
phlicos e privados.
Os saloes |...| representavam uma lorma hihrida. eram residncias de
particulares no necessariamente liados ao poder, que se tornavam
phlicas em um circulo restrito, porque tornavam-se populares e
alcanavam prestiio. Translormavam-se assim em um centro de
circulao de ideias e de lormao de opinioes. No entanto, enquanto os
.
As inlormaoes e interpretaoes apresentadas neste artio, ainda
que no sejam exaustivas, pretendem contrihuir nesse sentido, mesmo
reconhecendo que as pesquisas recentes das autoras sohre o tema ahordado
ainda esto em andamento e que carecem de ampliao e de
aprolundamento.
MONICA VERMES
panorama de relerncia deste trahalho a cena musical da cidade do
Rio de aneiro no periodo da Be||e Epojve. Cena musical entendida
aqui de lorma ahranente, compreendendo as atividades relacionadas com
a criao, execuo e recepo da msica, seja esta leita de lorma
prolissional, semiprolissional ou amadora, os varios espaos e instituioes
nos quais essas atividades so desenvolvidas ou aos quais essas atividades
esto vinculadas, as pessoas nelas envolvidas, os neros musicais
praticados, desprezando as delimitaoes por cateorias como popular ou
erudita, as lormaoes musicais (vocais e instrumentais) empreadas, as
condioes materiais das atividades musicais, e suas representaoes
a
. O corte
cronolico aqui escolhido 8qc a qac loi estahelecido a partir da
superposio de aluns marcos. como pontos iniciais a Proclamao da
Rephlica (88q) e a criao do Instituto Nacional de Msica (8qc),
como marcos linais a morte do compositor Alherto Nepomuceno (qac) e
, marcando uma
transio eracional no mhito da msica erudita, lica assim
aproximadamente delimitado o periodo tipicamente entendido como Be||e
Epojve no Rio de aneiro
.
A atividade musical que tinha luar na cidade do Rio de aneiro
da Be||e Epojve era intensa e variada. Varios eram os espaos em que
ocorria, os neros musicais praticados e as lormaoes musicais
empreadas. A questo inicial que moveu este trahalho loi procurar
entender de que lorma as mulheres participaram dessa elervescncia
Iontes dilerentes indicam marcos cronolicos dilerentes para a Be||e Epojve. Ary
Vasconcelos (qyy, p. ) situa a Be||e Epojve carioca entre 8yc e qq. Entre
8yc e qq, a msica popular hrasileira atravessou uma de suas lases mais
encantadoras. Um periodo que, de certa maneira, corresponde ao da be||e pojve
lrancesa (88c-q), somente que mais dilatado, pois, iniciando-se com o trmino
da Guerra do Parauai, s ira interromper-se em qq, quando as mltiplas
consequncias da Primeira Guerra Mundial comearam a se lazer sentir mais
intensamente entre ns. ellrey Needell situa a Be||e Epojve entre 88q e q,
seundo ele periodo de maior llorescimento da elite carioca (qq, p. ). O que
central a todas as delinioes de Be||e Epojve a ideia de otimismo, de
translormao, de acelerao do proresso (material, tecnolico), entendido em
eral como aproximao do que se via como modelos europeus (de urhanizao,
moda, modos, consumo inclusive de consumo cultural).
Sohre rede (ou teia) de cultura, seus vinculos com o trahalho de Clillord Geertz
e suas possihilidades e desdohramentos no mhito da musicoloia, ver The Weh ol
Culture. a context lor musicoloy de Gary Tomlinson (q8).
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
305
musical, sem lazer distino entre atividades musicais prolissionais e
amadoras
6
.
Para ohter um levantamento preliminar da atividade musical
leminina no Rio da virada do sculo loi leita uma analise de parte da
historioralia da msica hrasileira erudita. A partir da ohservao da
presena/ausncia de reistro de atividades lemininas nessas ohras, alumas
questoes comearam a se delinear, a mais importante delas diz respeito ao
que seja uma atividade musical relevante. A ausncia quase total do
reistro de atividades de mulheres em certas ohras no se da devido a uma
ausncia de atividades lemininas, como lica comprovado na comparao
entre lontes dilerentes, mas por estas serem consideradas irrelevantes.
Outras questoes se desdohram a partir dai so a) como lazer um
levantamento mais ahranente dessa atividade musical leminina: e h) como
construir uma narrativa histrica que laa jus a esses diversos planos
superpostos:
O semento da historioralia da msica hrasileira aqui analisado
so os manuais de histria da msica produzidos no Brasil ao lono do
sculo XX. Ao trahalhar com esses manuais procuramos identilicar que
conceitos e cateorias de classilicao das atividades musicais transparecem
de suas representaoes do meio musical. A perunta que serve de motor
para essa analise . ao lalar na msica, lala-se de qu: De ohras: De
pessoas: De praticas: De aspiraoes mais ou menos concretas:
No intuito de distrihuir essas cateorias ao lono de um eixo
comum, pensou-se em um modelo hastante rosseiro com dois extremos.
de um lado o lazer musical como uma pratica de sociahilidade e, do outro,
a atividade musical constituida em torno de ohras autnomas (sua
composio, sua execuo, sua permanncia e leado as eraoes
posteriores como eixo da vida musical).
Essas analises loram movidas pela curiosidade quanto as cateorias
com que se pensou o lazer musical ao lono do sculo XX, considerando
que os manuais de histria da msica tm desempenhado varios papis.
Entre eles o reistro de uma lorma de percepo da atividade musical (do
presente e de um passado menos ou mais distante) e como manuais
empreados na lormao de msicos e de inlormao de interessados em
eral, projetando (explicitamente ou no, intencionalmente ou no)
critrios e valores para pensar a msica e as varias atividades a ela
relacionadas, constituindo um cnone pedaico (WEBER, acc). Como
contraste, procedeu-se a uma contraposio, ainda que de lorma incipiente,
6
Essa distino no simples, mesmo desconsiderando-se questoes de nero, num
meio cultural no qual as instituioes que permitiriam a prolissionalizao ainda
estavam se consolidando.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
306
das representaoes encontradas nos manuais aquelas encontradas em outras
lontes.
A construo desta rellexo se henelicia do dialoo com varias
disciplinas e perspectivas tericas, particularmente a histria dos conceitos
e/ou das representaoes (KOSELLECK, acc) e a discusso de questoes de
nero na musicoloia (BORN, HESMONDHALGH, accc. CUSICK,
acc. LOPEZ, acc. SOLIE, qq).
Apesar de os manuais de histria da msica tratarem de cortes
cronolicos mais amplos, a analise se concentrou no periodo entre 8qc e
qac. A partir de uma ohservao sohre o reistro da cena musical carioca
em termos mais erais, verilicamos de que lorma aparece documentada e
representada a atividade musical realizada por mulheres.
Os manuais aqui analisados so.
- A Mvsico no Brosi| de Guilherme de Mello (qc8),
- Siorio Je||o Mvsico ne| Brosi|e de Vincenzo Cernicchiaro (qa6),
- Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro de Renato Almeida (qa6 e qa),
- :jo Anos Je Mvsico no Brosi| de Luiz Heitor Corra de Azevedo
(q6),
- Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro de Bruno Kieler (qyy),
- Hisiorio Jo Mvsico no Brosi| de Vasco Mariz (q8c, ltima
edio de accq)
y
.
Esses manuais tm varios pontos em comum entre si. A maioria
deles (Mello, Almeida, Azevedo e Mariz) tem como eixo a ideia da
constituio, ou da conquista radual, de uma identidade musical nacional
hrasileira. Nesses livros, essa trajetria determina sua estrutura e,
evidentemente, a escolha dos elementos que ali sero reistrados. Para alm
dessa perspectiva partilhada pela maioria, ha uma rede de relerncias que
y
No loram aqui incluidas as analises de outras ohras, como o CompnJio Je
Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro (q8) de Renato Almeida, o CompnJio Je Hisiorio
Jo Mvsico (qaq) e a Pejveno Hisiorio Jo Mvsico (qa) de Mario de Andrade, a
Hisiorio Jo Mvsico (qc) de Ulisses Paranhos, a Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro
(q8) de Irancisco Acquarone e A Mvsico no Brosi| (q) de Eurico Noueira
Irana pois o tratamento dado as atividades musicais lemininas nessas ohras repete
aquele que se encontra nas demais. A seleo teve como loco a incluso de ohras
produzidas em varios momentos ao lono do sculo XX.
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
307
vincula as ohras umas as outras. Mello (qc8), o primeiro, haseia a seo
dedicada ao periodo repuhlicano (neste caso, de 88q a qcy) em material
puhlicado na imprensa, tomado de lontes diversas e que ocasionalmente
apresentam perspectivas estticas opostas (delesa da msica moderna
alem, Waner e Liszt, ou delesa da pera italiana, num sistema de valores
em que as duas aparecem polarizadas). A partir dai, podemos ohservar essa
rede de citaoes e, em aluns casos, de reproduoes quase literais de
contedo.
- Cernicchiaro (qa6) cita Mello,
- Almeida (qa6 e qa) cita Mello e Cernicchiaro,
- Luiz Heitor (q6) cita Mello, Cernicchiaro e Almeida,
- Kieler (qyy) cita Mello, Cernicchiaro, Almeida e Luiz Heitor e
- Mariz (q8c a accq) cita todos os anteriores.
Importa ohservar que esse encadeamento estende-se tamhm para
outras lontes que servem de relerncia aos autores. Eles (ainda que seja
importante dilerenciar Cernicchiaro e Kieler) dialoam com um mesmo
acervo intelectual, mas que no sera discutido aqui.
A Mvsico no Brosi|, de Guilherme de Mello, conhecido como
primeiro livro de histria da msica hrasileira. Ioi escrito e puhlicado na
Bahia em qc8. Divide-se em cinco randes capitulos ordenados a partir da
cronoloia, o primeiro trata da inlluncia indiena e da inlluncia jesuita, o
seundo, da inlluncia portuuesa, alricana e espanhola, e os demais so
delimitados por eventos politicos. A inlluncia hraantina, Periodo de
deradao (que trata do periodo imperial) e Inlluncia repuhlicana. O
lio condutor do livro a conquista de uma identidade musical nacional,
ponto linal dessa trajetria. Com a proclamao da Rephlica, a arte
nacional reivindica todo o seu passado de lria e inicia uma nova poca
que hem poderiamos denominar Periodo de nativismo. (MELLO, qc8,
p. a8a). Seu nacionalismo no deve, no entanto, ser conlundido com o de
autores posteriores. Para Almeida, Luiz Heitor e Mariz sera de
determinante importncia a perspectiva terica de Mario de Andrade
(8q-q). Como mencionamos antes, o capitulo dedicado a msica no
periodo repuhlicano se constitui de reproduoes de puhlicaoes de outros
autores (tomadas, em sua maioria, de jornais). Essa parte esta oranizada
em uma sucesso de hioralias de compositores, relerncia a aluns
intrpretes e instituioes (conservatrios, sociedades musicais, peridicos).
Curiosamente, Mello encerra este capitulo (e o livro) com uma hioralia
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
308
de Carlos Gomes (86-8q6). Quanto ao reistro das atividades musicais
lemininas, Mello cita apenas alumas pianistas, cantoras e prolessoras.
Vincenzo Cernicchiaro (88-qa8), italiano de nascimento, mas
radicado no Rio de aneiro desde a inlncia, participou intensamente da
vida musical carioca, principalmente como violinista, reente e prolessor
de msica, estando envolvido em alumas das mais sinilicativas iniciativas
musicais que tiveram luar no Rio. Em qa6 puhlicou em Milo sua Siorio
Je||o Mvsico ne| Brosi|e. Joi iempi co|onio|i sino oi nosiri iorni |Histria da
Msica no Brasil. dos tempos coloniais at nossos dias|. Ohra alentada (6y
painas) e amhiciosa, que procura reistrar as atividades musicais, no s do
Rio de aneiro, mas do Brasil desde q at as vsperas de sua puhlicao.
Oranizada numa superposio de cortes cronolicos com especialidades
musicais (pianistas, compositores de lirica italiana, opereta, critica e criticos
etc.), a ohra de Cernicchiaro uma lonte preciosa de inlormaoes
principalmente sohre a atividade musical de sua poca apesar da rande
quantidade de imprecisoes latuais que ali se encontram , inventariando
nomes, instituioes e passaens que no se encontram em nenhuma outra
lonte. A Siorio de Vincenzo Cernicchiaro enumera, em capitulos divididos
por especialidades musicais e cortes cronolicos, uma rande quantidade
de mulheres envolvidas com atividades musicais.
Em certas especialidades, como o caso do canto e do piano, ha
um sinilicativo adensamento. Ele compila em ahundncia nomes de
cantoras estraneiras que passaram pelo Rio e da especial destaque as
cantoras hrasileiras, como o caso de Matilde Canizares e Clotilde
Maraliano, que lez uma hrilhante carreira na Europa, encerrada quando,
depois de passar lona temporada no Rio, torna-se esposa aletuosa de um
homem dino dela
8
(CERNICCHIARO, qa6, p. a6, a66). Salvo aluns
casos que recehem destaque especial, os nomes aparecem em lonas listas,
acompanhados ocasionalmente da classilicao das vozes e de aluns
adjetivos, as vezes diriidos a voz, as vezes diriidos a dona da voz.
Entre as pianistas, sem contar com Antonieta Rude e Guiomar
Novaes que desenvolveram suas carreiras em So Paulo, ha uma lista
enorme, apresentadas como prolissionais, nascidas no Rio de aneiro ou
nascidas em outros estados e radicadas no Rio
q
. Destas uma ou outra
8
Esta e as demais traduoes da Siorio de Cernicchiaro so nossas.
q
A uisa de ilustrao, reproduzimos aqui o nome das pianistas enumeradas por
Cernicchiaro. Madalena Talialerro, Antonieta Serva, Izahel Azevedo, Rita Ulha,
Ivonne de Geslin, Orizia Pimentel, Alcina Navarro de Andrade, Dulce Guimares,
ulieta Medeiros, Olinta de Ireitas, Edith Victorio da Costa, Heloisa Seahra,
Eudxia C. Saraiva, Stella Muniz Ireire, Iza Giroud, Gahriela Iiueiredo, Rita de
Cassia Oliveira, Guiomar Coteipe da Cruz, Ollia Isaacson, Edith Massiere
Thihaud, Lisette Marques de Oliveira, Anelina Trajano, Almerinda de Ireitas
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
309
merece uma ohservao complementar, por exemplo, Ianny Guimares
lemhrada por sua carreira hrilhante e por ter morrido muito cedo, aos a
anos, ulieta Aleria se destacava, no pode ser conlundida com as
pianistas mediocres de sua poca e Maria Virinia Leo Velloso (ou
Nininha Velloso Guerra) era criticada pela sua prelerncia por
compositores anarquicos como Dehussy e tamhm se dedicava a
composio (CERNICCHIARO, qa6, p. , , y).
Muitas delas aperleioaram seus estudos musicais na Europa e
posteriormente se dedicaram a docncia. Em muitos casos, s aparece o
nome, de alumas um hrevissimo perlil hioralico. No possivel saher
com certeza a lrequncia com que essas pianistas se apresentavam,
possivel que alumas delas tenham se produzido em phlico apenas uma
vez.
Cernicchiaro enumera tamhm as mulheres que se dedicavam a
outros instrumentos. ro, violino, llauta, violoncelo e canto. Alumas
dessas mulheres so identilicadas como compositoras, mas, salvo a
indicao ocasional do nome de aluma ohra, no ha rande meno a essas
atividades. E o caso de Marieta Howat, cantora lavorita dos saloes
aristocraticos e compositora de uma raciosa Ave Morio...
(CERNICCHIARO, qa6, p. )
c
.
Ha duas violinistas cuja trajetria ilustra o que seria um destino
comum a muitas mulheres musicistas. Carmita Campos, a violinista mais
lorilicada pelo phlico e pela critica de seu tempo |...|, a entil jovem,
loo rouhada da arte para se dedicar aos cuidados domsticos e Nomia de
Oliveira, tamhm este talento emerente, poucos anos depois de seu
triunlo, tomou marido, e, toda dedicada aos cuidados domsticos e ao aleto
do consorte, retirou-se da arte (CERNICCHIARO, qa6, p. yq-8c).
Ramalho, Nadia Soledade, Ianny Guimares, Maria Amalia de Rezende Martins,
Vitalina Brasil, Gilda de Carvalho, Lcia Branca da Silva, Antonieta Veia de Assis
Pacheco, Maria de Ialco, Maria Ahalo Monteiro, Christina Moller, Zilda Chiahotto,
Helena Bastos, Alice Coin, Maria Siqueira, Eunia Soares de Mello, Silvia
Iiueiredo, as irms Suzana e Helena Iiueiredo, ulieta Aleria, Maria Lina
acohina, Celina Roxo, Kitta de Bellido-Gusmo, Tilda Ascholl, Dyla Torres
osetti, Elza Cana, Zlia Autran, Maria Luisa Teixeira Campos, Elisa Accioli de
Brito, Irene Noueira da Gama, udith Morrison, Maria do Carmo, Maria Virinia
Leo Velloso (ou Nininha Velloso Guerra), Maria Antnia, Branca Bilhar, Dila
Tavares osetti, Ilsa Woeheke, Nadir Soledade, Dulce Saules, Maria de Lourdes
Torres, Valina e Inocncia Rocha, Hilda Teixeira da Rocha, Edith Lorena, Lisette
Marques de Oliveira, Marieta Saules, Maria de Santos Mello, Gilda de Carvalho,
Alice Alves da Silva, Maria Antoinette Aussenac (CERNICCHIARO, qa6, p. aq-
q).
c
Ainda assim, Cernicchiaro o nico autor que chea a reistrar seis mulheres
compositoras.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
31 0
Uma area na qual as mulheres tiveram tamhm numerosa atuao
loi no ensino da msica, em escolas oliciais, como o Instituto Nacional de
Msica, em escolas privadas ou em aulas particulares. E dina de nota a
Escola de Msica Iiueiredo-Roxo, lundada em q pelas irms Suzana,
Helena e Silvia de Iiueiredo e Celina Roxo, todas pianistas
(CERNICCHIARO, qa6, p. 6cc).
Cernicchiaro procura cataloar tudo aquilo de que tem
conhecimento, reistrando at mesmo eventos prosaicos e dando um
mesmo peso a liuras que parecem ter tido destaque muito dilerente no
meio musical (uma pianista prolissional e a moa que deu um nico
recital).
A Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro, de Renato de Almeida loi
puhlicada em duas edioes, uma de qa6 e a outra de qa, mas trata-se
praticamente de duas ohras dilerentes e de lleo muito dilerente, a
primeira tem aq painas, a seunda, aq. O prprio autor reconhece esse
lato, no prelacio a seunda edio. Este livro, que aparece como a seunda
edio da minha Hisiorio Jo Mvsico Brosi|eiro, puhlicada em qa6, , na
realidade, um livro novo (ALMEIDA, qa, p. XI). A primeira edio esta
dividida em seis capitulos, o primeiro deles dedicado a msica popular que,
para Almeida, compreende tanto as msicas tradicionais de indios,
portuueses e neros quanto manilestaoes urhanas como a modinha e as
canoes de carnaval. Os demais capitulos correspondem a cortes
cronolicos com o lio condutor da construo de uma msica de carater
nacional. A seunda edio seue a mesma oranizao que a primeira, mas
o capitulo dedicado a msica popular expandido consideravelmente e
converte-se numa primeira parte, A Msica Popular Brasileira,
acompanhada de uma Histria da Msica Brasileira, na seunda parte. A
perspectiva do nacionalismo crescente o lio condutor, como na primeira
edio. Renato Almeida menciona alumas pianistas e cantoras e destaca
Chiquinha Gonzaa como compositora.
Luiz Heitor Corra de Azevedo descreve em :jo Anos Je Mvsico
no Brosi| (q6) a construo de um meio musical hem-sucedido.
compositores e intrpretes (principalmente compositores) de primeiro e
seundo escalo, em uma narrativa sem sohras (dentro desses critrios).
A liura central da histria da msica hrasileira de Luiz Heitor o
compositor. As nicas mulheres que so incluidas nessa luno so
Chiquinha Gonzaa (8y-q) e oanidia Sodr (qc-qy), compositora
e reente, seundo aluno de Irancisco Braa a conquistar o Prmio de
Viaem, em qay (AZEVEDO, q6, p. q8).
Chiquinha Gonzaa aparece ali ao lado de Ernesto Nazareth,
como os dois principais representantes das danas e canoes urhanas, no
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
31 1
Brasil, nesse periodo de alirmao nacional de que vai sair o maxixe |...|, e
anha destaque no s pela sua produo musical, mas pela sua atitude de
alronta aos padroes comportamentais da poca (AZEVEDO, q6, p. 8,
c-).
Alm dessas duas compositoras
Luiz Heitor cita tamhm Cleole Person de Mattos (q-acca) entre as alunas de
Irancisco Braa, mas o seu periodo de atividades ja no se encaixa dentro de nosso
corte cronolico.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
31 2
aquilo que no seja msica de escola) na vida musical do Rio de aneiro
acaham lazendo com que aluns autores, contrariando as diretrizes que eles
mesmos impuseram as suas ohras, o incluam. Estahelece-se uma hierarquia
de ocupaoes, na qual o compositor esta no apice, seuido de reentes e
instrumentistas solistas e da massa sem nome dos msicos de handa e
orquestra. A dilerenciao entre prolissionais e amadores outro aspecto
importante e o que separa uns de outros esta lortemente liado a lormao
musical acadmica ou no. Esses critrios colocam no centro a ohra musical
escrita e as praticas musicais que levitam em torno dela.
Mas ha alo interessante a ohservar em Luiz Heitor. a rande
importncia que ele parece dar para as esposas dos compositores,
destacando sua cultura, lormao, capacidade de criar um amhiente
receptivo para reunioes domsticas e competncia musical.
Ao lalar de Leopoldo Miuez, Luiz Heitor destaca. O consrcio
com D. Alice Dantas, lilha do seu chele comercial, senhora de rande
heleza e raras virtudes, excelente pianista e herdeira dos slidos hens de
lortuna que o pai amealhara, loi um acontecimento decisivo para a carreira
artistica de Leopoldo Miuez. (AZEVEDO, q6, p. c8)
Sohre Henrique Oswald. Liado pelo casamento a uma lamilia de
intelectuais, pois desposara em 88 Laudomia Gasperini, lilha de um
prolessor de liceu, antio hihliotecario do Conservatrio de Napoles, sente-
se ainda mais radicado a Italia, onde nasceram seus quatro lilhos. |...| Sua
esposa era uma jovem cultissima e de uma rande lirmeza de espirito.
Colahoradora do pai, nas lides do ensino |...| (AZEVEDO, q6, p. a).
Sohre Alherto Nepomuceno Mas na antia Cristinia, capital da
Noruea, onde vai convalescer, Nepomuceno encontra a pianista Walhor
Ban, discipula de Grie e de Leschetizky, que se torna sua esposa.
(AZEVEDO, q6, p. 68-6q).
No caso de Glauco Velasquez, a lalta de uma esposa,
encontramos o papel importante da me. Os responsaveis pela sua
educao desejavam v-lo trilhando uma carreira mais pratica do que as
artes. Mas a me interveio, e ohteve que a vontade do menino losse
respeitada. Era uma senhora admiravel, de rande intelincia e rande
corao... (AZEVEDO, q6, p. ay).
As hahilidades ou qualidades destacadas laziam parte dos
requisitos de uma senhora da elite, que incluiam o dominio do lrancs, do
piano, do canto e da dana. Ao analisar a estrutura ideolica das duas
principais instituioes de ensino da elite carioca da Be||e Epojve, o Colio
Pedro II e o Colio Sion, Needell (qq, p. 8) caracteriza o papel
leminino como de instrumento de civilizao do mundo intimo da elite,
para o qual as mulheres seriam preparadas pelo Sion.
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
31 3
Esses talentos seriam praticados especialmente dentro do circulo
domstico, na intimidade da lamilia ou na recepo de convidados. Sohre
as queixas lrequentemente reistradas nos peridicos da poca pela
pohreza da vida noturna carioca, Needell arumenta que as pessoas de
posses evidentemente saiam de casa, mas no com assiduidade suliciente
para sustentar mais do que alumas poucas instituioes, isso porque existia
uma viorosa tradio de entretenimentos domsticos (NEEDELL, qq,
p. 8y), entretenimentos esses nos quais a msica tinha um papel central. O
ordinario desses saloes, compreendia msica de cmara, seleoes
operisticas ou declamao de poesia (normalmente executadas por um
msico proteido pelo dono da casa, por mulheres da lamilia anlitri ou
por alum convidado), ou ainda representao de um trecho de pea de
teatro lieira, |...| danas, joos de cartas e conversas requintadas ajudavam
a compor o amhiente. (NEEDELL, qq, p. c-).
Alumas mulheres tiveram rande destaque nos saloes, o caso de
Beh Lima e Castro (hatizada Violeta Lima e Castro). Ela participava de
varios saloes eleantes, entre eles o de Rui Barhosa, e de eventos mais
especilicamente musicais, no Teatro Lirico e na Exposio Nacional de
qc8
a
.
A lormao musical dessas jovens se dava atravs de tutores
privados, de aulas em aluma das varias escolas de msica que apareceram
no Rio de aneiro dessa poca
.
Aps a apresentao do relatrio, tanto na administrao Miuez
quanto em administraoes seuintes loram tomadas iniciativas para mudar
essa proporo, mas a estatistica do Instituto Nacional de Msica de qac
comentada por Cernicchiaro mostra que esse desequilihrio continuava.
Seundo ele havia qcc mulheres para ac homens e a rande maioria se
concentrava nas aulas de piano
-
-
c
q
a
.
c
8
a
6
y
8
a
6
q
,
L
e
i
p
z
i
-
-
-
-
-
-
c
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
C
o
l
n
i
a
y
-
-
a
6
c
.
6
c
a
a
c
c
y
a
a
y
6
B
e
r
l
i
m
-
-
8
c
a
y
c
y
-
-
a
y
6
y
M
u
n
i
q
u
e
8
-
-
q
a
q
a
6
8
a
6
6
8
q
6
y
,
6
q
V
i
e
n
a
q
-
-
.
8
a
a
a
y
a
P
r
a
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
a
-
-
-
-
8
B
r
u
x
e
l
a
s
a
q
y
6
.
y
c
a
y
)
-
-
y
6
,
6
P
a
r
i
s
y
6
a
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
8
,
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
31 6
R
o
m
a
-
-
-
-
-
-
a
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
,
a
N
a
p
o
l
e
s
8
-
-
-
-
-
-
a
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
y
I
l
o
r
e
n
a
a
y
-
-
-
-
-
-
a
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
q
,
a
6
M
i
l
o
(
a
)
a
q
-
-
-
-
:
D
i
t
o
(
)
a
6
-
-
-
-
y
q
-
-
y
q
q
6
a
6
,
8
q
B
o
l
o
n
h
a
a
c
-
-
-
-
-
-
a
c
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
c
G
n
o
v
a
y
-
-
-
-
-
-
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
8
,
8
T
u
r
i
m
-
-
-
-
-
-
c
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
c
R
i
o
d
e
a
n
e
i
r
o
a
y
6
8
c
c
a
a
q
() No incluindo os ouvintes e os autorizados.
(a) Totalidade das classes.
() Cursos principais.
@+AB ?2 Quadro comparativo parcial das estatisticas de 6 Conservatrios de
Msica da Europa e do Instituto Nacional de Msica do Rio (MIGUEZ,
8qy, anexo).
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
31 7
Uma nica mulher liada a msica no Rio de aneiro citada em
todas as lontes consultadas, Chiquinha Gonzaa. Ela mais lortemente
associada a neros da msica popular e do teatro musical, pouco
contemplados na literatura aqui analisada, mas, ampliando as lontes para
incluir ohras especilicas de msica popular (A Novo Mvsico Jo Pepvb|ico
Ve||o e Ponoromo Jo Mvsico Popv|or Brosi|eiro no Be||e Epojve de Ary
Vasconcellos) ou mais ahranentes (Mv||eres Composiioros de Nilcia
Baroncelli), surem varios outros nomes de mulheres compositoras,
instrumentistas, cantoras, muitas vezes em atividades comhinadas, como a
atriz e cantora Pepa Delado ou a pintora, editora de msica e compositora
Valentina Biosca.
Dos varios nomes que poderiam ser enumerados aqui, destacam-
se duas mulheres que aparecem citadas no Ponoromo Jo Mvsico Popv|or
Brosi|eiro no Be||e Epojve de Ary Vasconcelos (qyy). Hilaria Batista de
Almeida e Carmen do Xihuca. Hilaria Batista de Almeida (8-qa),
mais conhecida como Tia Ciata, era uma das mais notrias tias haianas da
Pequena Alrica em cujo quintal teria tomado lorma o samha carioca. Era
doceira e cozinheira, no lazia msica siricio sensv. Carmen do Xihuca
(8yq-:), sohrinha de sanue de Tia Ciata, era porta-handeira de ranchos
carnavalescos e tamhm doceira. E dina de nota a incluso dessas duas
mulheres
y
entre os tantos msicos do Ponoromo por suerir uma extenso
naquilo que se entende como atividade musical.
Uma histria das mulheres na msica hrasileira pode ser
construida a partir da identilicao das varias mulheres compositoras,
instrumentistas, prolessoras de msica, cantoras em espetaculos de diversos
tipos e com diversos raus de leitimao social cuja atuao loi
desconsiderada em uma verso da histria da msica hrasileira centrada em
liuras masculinas. E um trahalho que vem sendo leito pelo menos desde a
dcada de qyc com locos eoralicos e com cortes cronolicos variados.
Aluns desses estudos entendem que uma crescente dedicao leminina a
atividades prolissionais musicais, particularmente a composio, indique
uma conquista de espaos antes exclusivamente masculinos. Ireire e
Portella (acc), ao analisar as atividades das mulheres pianistas e
compositoras no Rio de aneiro da virada do sculo XIX para o sculo XX,
arumentam nesse sentido, entendendo que mesmo os saloes seriam, sem
desconsiderar toda a complexidade e tensoes ali envolvidas, um dos
espaos dessa conquista. Nilcia Baroncelli (q8y) laz um recenseamento
de mulheres que se dedicaram a composio, nesse caso sem restrio
eoralica ou cronolica, e, ao no estahelecer parmetros pautados por
valores de uma ou outra cateoria musical, permite emerir o nome de
y
Ary Vasconcelos inclui tamhm aluns homens no msicos que iualmente
compoem o meio musical entendido de lorma mais ampla.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
31 8
varias mulheres cujas atividades de compositoras muitas vezes se dilui
entre tantas outras.
Mas a pratica musical domstica privada e semiprivada se
constitui tamhm num circuito (minicircuito) de circulao de repertrios
e de lormao de ostos cuja importncia no pode ser inorada, no como
espao de ascenso ao universo musical masculino dos circuitos oliciais,
mas como um espao com identidade prpria. E justo imainar que ao
menos uma parte daquele enorme continente de mulheres que estudaram
no Instituto Nacional de Msica tenha mantido aluma pratica musical
domstica. Ocasionalmente esses saraus domsticos eram reproduzidos em
espaos phlicos, em lonos recitais dos quais participavam varias
senhoras
8
, inserindo-se no circuito mais amplo das atividades musicais do
Rio de aneiro
q
.
Por outro lado, os jornais da poca, reistram ainda outro tipo de
participao leminina no meio musical. Nos cluhes sociais (Cassino
Iluminense, Cluh dos Diarios, ockey Cluh) que serviam de sede para
hailes, almoos e jantares, ocorriam, eventualmente, concertos musicais. E
interessante ohservar a natureza dos proramas de aluns dos concertos do
Cassino. enormes e com uma sinilicativa participao de amadoras da
alta sociedade caracterizando-os como uma extenso do tipo de pratica
musical domstica (msica para a lamilia e saraus para um rupo social um
pouco mais amplo).
Ohservemos o prorama de um desses concertos.
8
Apontamos para essa reproduo do modelo do sarau domstico em espaos
phlicos no artio Ser hrasileiro no linal do sculo XIX. msica e ideias em torno
do Instituto Nacional de Msica (VERMES, acc6).
q
Atualmente estamos realizando um levantamento das atividades musicais no Rio
de aneiro entre 8qc e qac nos jornais O Poiz, Cozeio Je Noiicios e 1orno| Jo
Commercio, que nos dara suhsidios para estender as discussoes a respeito da
participao leminina em eventos musicais phlicos. O projeto Mvsico nos Teoiros
Coriocos. reperiorios, recepoo e proiicos cv|ivrois desenvolvido como estaio de
ps-doutorado no Instituto de Artes da Unesp e conta com linanciamento do
CNPq.
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
31 9
Primeira parte.
Verdi, Coro nome, da pera Pio|eiio, Exma. Sra. D. Olivia Maalhes.
a a) Schumann, Peverie, h) Lee, Covoiie, para violoncelo, Exma. Sra. D.
Nomia Madureira, acompanhamento ao piano pela Exma. Sra. D. ulieta
do Nascimento.
a) Iaur, A||e|vio J'omovr, h) Nepomuceno, O meJroso Je omor,
palavras de . Galeno, c) Nepomuceno, Amoie mviio, palavras de oo de
Deus, Sr. Carlos de Carvalho.
Godelroid, Donse Jes s,|p|es, para harpa, Exma. Sra. D. Maria Nery
Ierreira.
Meyerheer, Ario Jo A|ricono, Exma. Sra. D. Virinia de Niemeyer.
6 Gounod, Hino o Sonio Ceci|io, para violinos, violoncelos, harpas e
harmnio, Exmas. Sras. DD. Alice Barhosa, Corina Granjo, Carmita
Campos e Nomia Madureira, soh a rencia do maestro G. Dulriche.
Seunda parte.
Nepomuceno a) Minveio, h) Ane|o, c) Co||o|eiro, pelo autor.
a a) Sarasate, Noivrno Je C|opin, h) Ries, Moiv perpivo, para violino,
Exma. Sra. D. Carmita Campos.
a) San Iiorenzo, Lino, h) Donizetti, Ario Jo Fovoriio, Exma. Sra. D.
Amanda Ieital.
Meyerheer, Dveio Jos Hvvenoies, Exma. Sra. D. Virinia Noronha e
o Sr. Leopoldo Noronha.
a) Mascani, Covo||erio Pvsiicono, para handolins, violoncelo e
piano, h) Thom, Serenoio espono|e para handolins e piano Bandolins,
as Exmas. Sras. DD. Maria Pestana de Auiar, Carmen de Oliveira,
oselina Nolasco, Zilda Noueira Ilores, Lavinia do Amaral, Maria
Virinia Barros Pimentel, Elvira de Maalhes Castro, Maria Luiza
Ierreira da Silva, Maria Amlia Soares de Souza, osela de Melo Cunha,
Guilhermina Marques Lishoa, Henriqueta Glicrio, Adelaide Min e
Mercedes Alves, D. Corina Granjo, piano, D. Maria de Maalhes Castro.
(O Poiz, a/cq/8q)
Ohserva-se nesse prorama uma concentrao em peas hreves
(arias de pera e miniaturas instrumentais) e a expressiva participao de
mulheres, mas encontram-se tamhm comhinaoes instrumentais hoje
raras, como o conjunto de handolins, violoncelo e piano, tocando uma
passaem da Covo||erio Pvsiicono de Mascani e a presena do pianista e
compositor Alherto Nepomuceno, recm-cheado da Europa. Ha uma
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
320
riqueza na composio desse tipo de prorama que merece maior
explorao. Ha tamhm uma sohreposio de dominios, privado e phlico,
prolissional e amador, erudito e lieiro.
Os valores que esto emhutidos numa narrativa histrica centrada
em compositores, ohras e randes instituioes levam a crer que a atividade
musical domstica amadora seja incua, desprezando a lora e a capacidade
de colocar em circulao repertrios e praticas desses circulos. Contar a
histria das mulheres na msica hrasileira requer, portanto, mais que o
acrscimo de capitulos a uma histria que ja esta escrita, mas a reviso de
um modelo que reconsidere valores e prioridades.
0CDC0CE:F!G
ADORNO, Theodor W. IniroJvoo o socio|oio Jo mvsico. Trad. Iernando R. de
Moraes Barros. So Paulo. Editora Unesp, accq.
ANDRADE, Mario de. CompnJio Je |isiorio Jo mvsico. ed. So Paulo. L. G.
Miranda, q6.
ANDRADE, Mario de. Pejveno |isiorio Jo mvsico. q ed. Belo Horizonte. Itatiaia,
q8y.
AZEVEDO, Luiz Heitor Corra de. :jo onos Je mvsico no Brosi| (:8oo:gjo). Rio de
aneiro. os Olympio, q6.
BARONCELLI, Nilcia Cleide da Silva. Mv||eres composiioros. elenco e repertrio.
So Paulo. Roswitha Kempl, q8y.
BECKER, Howard S. Ari wor|Js. a. ed. Berkeley, London. University ol Calilornia
Press, acc8.
BORN, Georina, HESMONDHALGH, David. Vesiern mvsic onJ iis oi|ers.
dillerence, representation, and appropriation in music. Berkeley, Los Aneles,
London. University ol Calilornia Press, accc.
CERNICCHIARO, Vincenzo. Siorio Je||o mvsico ne| Brosi|e. dai tempi coloniali
sino ai nostri iorni. Milano. Iratelli Riccioni, qa6.
CUSICK, Suzanne G. Gender, musicoloy, and leminism. In. COOK, Nicholas,
EVERIST, Mark (Ors.). Pei|inIin mvsic. Oxlord, New York. Oxlord University
Press, acc. p. y-q8.
IRANA, Eurico Noueira. A mvsico no Brosi|. Rio de aneiro. Ministrio da
Educao e Sade/Servio de Documentao, q.
IREIRE, Vanda Lima Bellard, PORTELLA, Anela Celis H. Mulheres pianistas e
compositoras em saloes e teatros do Rio de aneiro (8yc-qc). CvoJernos Je
Mvsico, Aries Visvo|es , Aries Escnicos, v. , n. a, dez. acc.
KIEIER, Bruno. Hisiorio Jo mvsico brosi|eiro. dos primrdios ao inicio do sc. XX.
Porto Alere. Movimento, qyy.
!" $%&'()(" *+ ,(*+ $%"-,+& ./ 0-/ .( 1+*(-)/
321
KOSELLECK, Reinhart. Fvivres posi. on the semantics ol historical time. Trad.
Keith Trihe. New York. Columhia University Press, acc.
LOPEZ, Pilar Ramos. Feminismo , mvsico. introduccin critica. Madrid. Narcea,
acc.
MARIZ, Vasco. Hisiorio Jo mvsico no Brosi|. ed. Rio de aneiro. Civilizao
Brasileira, qq.
MARIZ, Vasco. Hisiorio Jo mvsico no Brosi|. 6 ed. Rio de aneiro. Nova Ironteira,
acc.
MELO, Guilherme Teodoro Pereira de. A mvsico no Brosi|. desde os tempos
coloniais at o primeiro decnio da rephlica. a ed. Rio de aneiro. Imprensa
Nacional, qy.
MIGUEZ, Leopoldo. Oronizooo Jos conservoiorios Je mvsico no Evropo. Relatrio
apresentado ao Ministrio da ustia e Necios Interiores por Leopoldo Miuez,
diretor do Instituto Nacional de Msica do Rio de aneiro, em desempenho da
comisso de que loi encarreado em aviso do mesmo ministrio de 6 de maro de
8q. Rio de aneiro. Imprensa Nacional, 8qy.
NAPOLITANO, Marcos. Hisiorio e mvsico. histria cultural da msica popular.
Belo Horizonte. Autntica, acca.
NEEDELL, ellrey D. Be||e pojve iropico|. sociedade e cultura de elite no Rio de
aneiro da virada do sculo. Trad. Celso Noueira. So Paulo. Companhia das
Letras, qq.
NEGUS, Keith. Popv|or mvsic in i|eor,. an introduction. Middletown. Wesleyan
University Press, qq6.
PARANHOS, Ulysses. Hisiorio Jo mvsico, v. . So Paulo. Maione, qc.
PEREIRA, Avelino Romero. Alherto Nepomuceno. msica, educao e trahalho.
Brosi|iono, n. c, jan. acca
SOLIE, Ruth A. (Or.). Mvsico|o, onJ Ji||erence. ender and sexuality in music
scholarship. Berkeley, Los Aneles, London. University ol Calilornia Press, qq.
STRAW, Will. Systems ol articulation, loics ol chane. communities and scenes in
popular music. Cv|ivro| SivJies, v. , n. , p. 68-88, qq.
TOMLINSON, Gary. The weh ol culture. a context lor musicoloy. :gi|Cenivr,
Mvsic, v. y, n. , p. c-6a, q8.
VASCONCELOS, Ary. A novo mvsico Jo repvb|ico ve||o. |S.l.|. |s.n.|, q8.
______. Ponoromo Jo mvsico popv|or brosi|eiro no be||e pojve. Rio de aneiro.
Livraria Sant'Anna, qyy.
VERMES, Mnica. Por uma renovao do amhiente musical hrasileiro. o relatrio
de Leopoldo Miuez sohre os conservatrios europeus. Pevisio E|eirnico Je
Mvsico|oio, v. 8, dez. acc. Acessivel em www.rem.ulpr.hr~
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
322
VERMES, Mnica. Ser hrasileiro no linal do sculo XIX. msica e ideias em torno
do Instituto Nacional de Msica. In VII ENCONTRO DE MUSICOLOGIA
HISTORICA. MUSICOLOGIA HISTORICA BRASILEIRA EM TEMPOS DE
TRANSDISCIPLINARIDADE. Anois... uiz de Iora. Centro Cultural Pr-Msica,
acc6.
WEBER, William. The history ol musical canon. In. COOK, Nicholas, EVERIST,
Mark (Ors.). Pei|inIin mvsic. Oxlord, New York. Oxlord University Press, acc.
p. 6-.
!" "$%&'()*+" $ ' ,)'-.'/
'" +%'" 01 %+ 23+4)*+- 5((+6)+%*$7
MARCIA E. TABORDA
m lins dos anos de qac suriu uma novidade no amhiente cultural
carioca que ecoou nas principais capitais hrasileiras. jovens senhoritas
da sociedade dedicaram-se a pratica do violo, levando a phlico um
repertrio de canoes tipicas hrasileiras.
Consarado pela lundao de cluhes e sociedades para a pratica do
instrumento, o movimento viria enlohar a unio de duas tendncias que
marcaram lortemente o modernismo hrasileiro, por um lado representava a
retomada da linha reionalista e nacionalista relletida na criteriosa seleo
do repertrio e por outro consarava a manilestao de cosmopolitismo
simholizada pela presena de mulheres jovens, honitas e independentes.
A cidade do Rio de aneiro tem papel lundamental como cenario
cultural e politico que permitiu estas iniciativas. A projeo a nivel
nacional dos modos de vida e praticas ali desenvolvidas esta
intrinsecamente relacionada ao carater sinular que envolve a condio de
capitalidade. Carlos Lessa ohserva.Na capital esta o principal conjunto de
ros que materializam a ideia de nao. E o luar da vida urhana que
lunciona como lahoratrio da civilizao nacional, explicitando e
relorando a identidade da nao (LESSA, accc, p.66).
As inovaoes nacionais so apresentadas na capital. As
oportunidades olerecidas pela Capital irradiante
atrairam imirantes de
todas as partes do pais, ente dos mais variados padroes sociais.
Transleriram-se para a cidade tanto os mais humildes e annimos
prolissionais quanto os randes nomes da elite cultural e artistica. O Rio
ahriou a indstria lonoralica e o radio, veiculos que divularam o choro,
a msica de carnaval e o samha, lilhos da terra que se espalharam para todo
o pais.
principalmente em luno do trahalho com msica ao vivo que as casas
noturnas olerecem.
!" $"%" & '"() *(+,-"./:::
0
A Lapa, como hoje, veio se conliurando desde pouco mais de
uma dcada atras diziam moradores do hairro vizinho Santa Teresa
e
msicos que ali trahalhavam, inclusive aluns da Orquestra. Emhora todos
Reliro-me ao rupo com este termo, pois era o modo como os prprios sujeitos se
releriam ao rupo.
a
Uso italico, no presente texto, para todas as expressoes e depoimentos nativos,
conlorme o usual na Antropoloia.
levava
juntamente com o lutehol a imaem de um Brasil alere e lestivo a todo
o territrio nacional e ao mundo.
Um lato de que tomei conhecimento em campo, importante na
mudana do rumo que tomava o movimento msico-cultural no Rio que,
no periodo em que Santa Teresa de aluma lorma acolhia a mirao da
vida cultural e musical da Lapa decadente em meados da dcada de 8c e
dcada de qc houve o boom do lorr. Coincidncia ou no, o lato que a
moJo Jo |orro se da no momento em que emere um movimento de
revitalizao do Centro Histrico do Rio Antio,
no Centro e na Lapa,
6
com incentivos da preleitura. Como as casas de dana de salo, hares,
restaurantes e hotecos em Santa Teresa estavam em alta atividade, o lorr
empurra tamhm, na seunda metade da dcada de qc, o reeruimento da
Lapa, que passa, ento, a reahrir casas de dana de salo, de samha e choro,
hares e restaurantes. Com uma exploso de valorizao da cv|ivro
brosi|eiro Je roiz, como contou-me uma inlormante de Santa Teresa, era o
onJo Jo Forro Enorme... so se ovvio Forro em ioJo |vor, noo se iin|o opoo
E noo iin|o Jiviso, Sonio e Lopo se misivrorom Aoro oi jo possov...mos
Para estudos que ahordam msica pop e sexualidade, ver Walser (qq) e Cohen
(qq).
!"#$%& ( )*+(,-. $/0,(##1(# 2( 3/ 4,&5&67- 2( %&/0-
345
emocionalidade, sensualidade, lrivolidade, todas (as) caracteristicas que ha
muito esto liadas ao prprio ohjeto da musicoloia, a msica. Esta
antia associao da msica com o universo leminino laz com que os
musicloos tentem sistematicamente manter as mulheres lone do
campo, na tentativa de atinir um reconhecimento como cincia, de
serem vistos como racionais, srios e ohjetivos. Desta lorma, a
marinalidade do nero na musicoloia acentuou a marinalizao
histrica das experincias musicais das mulheres, hem como relorou a
ocultao do que tido como leminino na 'vida real' (MELLO, qqy, p.
).
Entre as mulheres interantes da Orquestra, unnime a
percepo da superioridade do homem na sociedade, o que elas podem
exemplilicar a partir de experincias prprias no meio musical. Uma das
llautistas, por exemplo, que tem lona convivncia no universo do choro,
tradicionalmente constituido por homens, relatou que ouviu de um msico
chorista. Nosso...como voc ioco bem voc oi poJe |ozer porie Je vm
Peiono|'
, Perciliana
a
, Carmem do Ximhuca
, Maria Adamastor
, Amlia
Arao
Tia Amlia do Arao. Casou-se com Pedro oaquim Maria. Morou na Rua
Teodoro da Silva, onde nasceu seu lilho Dona em 88q depois na Rua Costa
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
356
consararam o samha da Pequena Alrica do Rio de aneiro como uma
manilestao musical essencialmente masculina e produzida por homens
revelaram uma verso limitada dos acontecimentos. Tais cnones
inoraram a produo de diversas mulheres e minimizaram a importncia
dos aspectos lemininos presentes nos ritos, nos mitos, na reliio, a
matrilinearidade que permeia a cultura alro-hrasileira e o samha.
No presente artio vou tratar da atuao leminina no samha em
um contexto um pouco mais amplo. Apresentarei alumas consideraoes a
partir de um imainario construido sohre as relaoes de nero no samha
utilizando aluns dados recolhidos durante o trahalho de campo no Rio de
aneiro
6
. Em sua maioria, depoimentos de mulheres do mundo do samha,
aluns ohtidos por meio de entrevistas concedidas diretamente a mim,
outros ao Museu da Imaem e do Som do Rio de aneiro e outros
puhlicados em diversos meios como livros, jornais, sitios da internet. Trata-
se de uma tentativa de capturar uma espcie de discurso nativo no mundo
do samha que apresento com a inteno de mapear alumas eneralizaoes
sem estahelecer necessariamente um periodo ou recorte eoralico.
Com hase em Sandroni (acc), Caldeira (accy) e Vianna (accy),
parto do principio que o samha, ao se estahelecer em outros espaos
eoralicos e outros contextos, se revestiu de um novo sinilicado e passou
a ter outra luno. Desprovido dos sinos reliiosos e rituais que o
vinculavam a tradio portanto, alastado de sua veia matrilinear , o
samha iniciou um processo de consolidao como nero musical,
incidindo sohre ele a concepo ocidental de ohra-de-arte, edilicada pelos
mitos artisticos das helas-artes (SODRE, qq8, p. y). Esse decurso no se
deu sem erar uma srie de conllitos e impasses no meio nero. E o caso da
discusso sohre a autoria do samha 'Pelo telelone', criado coletivamente
numa lesta na casa de Tia Ciata e depois reistrado individualmente por
Dona e Mauro de Almeida. Criado numa roda de partideiros, sem
preocupaoes autorais, 'Pelo telelone' acahou sendo recriado com
elementos musicais de diversas oriens, e inserido como produto no
mercado aherto da indstria de diversoes. E como tal, como nero musical
e no mais como lesta, o samha loi tratado como ohjeto autnomo, uma
mercadoria, passivel de ser dado, rouhado, comprado, vendido, neociado,
praticas que, a partir de ento, comearam a se tornar comum entre os
compositores de samha. Entretanto, os impasses veementes no vieram
apenas meio nero. Para muitos setores da alta cultura, a incorporao do
samha representava uma espcie de deenerescncia da msica artistica
Pereira, aq e, por lim, na Rua do Arao, que lhe deu o apelido de Amlia do
Arao. Ioi uma das lamosas Tias Baianas da virada do sculo XX.
6
Trahalho de campo desenvolvido no Rio de aneiro entre janeiro de accq a
dezemhro de acc para pesquisa de Mestrado (cl. GOMES, ac).
! #$%$ &' %$()$* ' %$()$ &$ +,$
357
(MENEZES BASTOS, qq), sendo tratado como uma arte inlerior,
selvaem e indecorosa, uma ameaa aos padroes e ideais da alta huruesia,
especialmente por uardar prolundos vinculos com as expressoes alro-
hrasileiras. Ha inlinitos exemplos deste repdio em depoimentos de
politicos, jornalistas, artistas, puhlicados em notas de jornais, revistas,
produoes literarias, manilestos.
Portanto, esta passaem marcou o inicio de um processo
altamente conllitante dentro do mundo do samha, ao mesmo tempo em
que contrihui para construir um nero musical, recriou os papis sociais e
os padroes de comportamento no interior desta manilestao
(CALDEIRA, accy, p. a). As translormaoes no se limitaram ao seu valor
social e comercial, passaram tamhm por uma srie de aspectos.
compositores, intrpretes, meios de divulao, locais de execuo, phlico
ouvinte, lorma, esttica e, como pretendo mostrar aqui, tamhm nas
relaoes de nero. Ao mesmo tempo, ahriu as portas para o inlindavel
dehate entre tradio e modernidade que, aps muitos ciclos, seue
hastante vior como um tema relevante para o samha contemporneo. Ao
menos cinco ciclos loram hem marcantes. o que envolveu a msica 'Pelo
Telelone' em qy, o paradima do Estacio
y
da dcada de qc, a hossa-
nova na dcada de q6c, o paode
8
do Cacique de Ramos nos anos q8c
(neste caso, reclamando o retorno as tradioes ahandonadas pelas Escolas
de Samha), e o paode romntico
q
dos anos qqc. Paralelamente a
dicotomia tradio x modernidade erada uma srie de dicotomias
y
Para usar o termo proposto por Sandroni (acc).
8
Sohre o termo paode ver nota a seuir.
q
Conlorme Trotta (accy) e Lima (acca), o samha atualmente se divide em duas
correntes principais. aqueles so identilicados como de raiz e os que so associados
ao paode ou paode romntico. O termo 'samha de raiz' costuma ser usado para
identilicar o trahalho de samhistas tradicionais, que dizem aceitar em menor
medida a inlluncia da indstria lonoralica. Sua sonoridade remete desde ao estilo
do Estacio (anos c e c) at o estilo desenvolvido no Cacique de Ramos por volta
dos anos 8c. Na literatura ha diversas desinaoes, como. neopaode (MOURA,
acc), samha moderno (PEREIRA, accy), paode (DINIZ, acc6), paode de raiz ou
paode 'oriinal' (TROTTA, accy, LIMA, acca). Emhora tidos como 'de raiz', os
samhistas de raiz tocam tamhm msicas hastante atuais. a o termo 'paode'
costuma ser associado aos rupos menos conservadores, mais comerciais, ahertos ao
osto das randes midias. Suas sonoridades remetem ao estilo desenvolvido nos anos
qc por rupos como Raa Nera, Neritude r. Na literatura, os termos mais
comuns associados a este estilo so. paode romntico (TROTTA, accy, PEREIRA,
accy, LIMA, acca), paode comercial (DINIZ, acc6), paode paulista (PEREIRA,
accy), paode hrea, paode pop. Em realidade, o termo 'paode' acahou sendo alvo
de disputa entre esses dois sementos. Mas, com o passar do tempo, muitos
samhistas tradicionais preleriram ahandona-lo e adotar o termo samha de raiz
como lorma de se dilerenciar do paode romntico.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
358
secundarias, como'' cultura nera x emhranquecimento, expresso
comunitaria x atividade comercial, cultura popular x cultura de massa,
qualidade x quantidade, tradio x espetaculo.
Neste joo de dicotomias, no pude resistir a tentao de colocar
mais uma pea. Ohservo que quando o samha tente para a 'tradio' se
aproxima de sua cara leminilizadora do mundo nero, do ritual alro-
reliioso, territrio de poder leminino. Quando tende a modernidade, se
encaminha a masculinizao, incorpora mais intensamente a concepo
ocidental e huruesa de arte, ou seja, local de no-poder leminino.
c
Neste
ltimo, a celehrao da mulher atravs da heleza, do corpo e da seduo
laz parte do joo masculino. Por 'modernidade' no me reliro diretamente
ao mercado, a indstria cultural e as inovaoes tecnolicas, pois estes
elementos so praticamente indissociaveis da construo do samha. Desde
muito cedo na histria, o samha se caminhou na direo do mercado e da
indstria cultural nascente.
Nem hem o ritmo comeava a se alirmar enquanto tal, com
caracteristicas prprias e 'phlicas', e o samha ja cheava, pelas mos de
Dona (Pelo Telelone q6), ao mundo do disco, do mercado. Num
certo sentido, seria possivel alirmar que, no mundo do samha (hem como
de toda a tradio musical na qual ele se insere), nunca se teve medo do
*,)0#12, das &-3+"4-0&#!, do 521,) e assim por diante. Sempre houve, ao
lono de sua histria, uma comhinao hastante visivel de 'tradio' e
'modernizao' (PEREIRA, acc, p. a).
c
De acordo com Brett e Wood (acca), a arte da msica, a prolisso musical e a
musicoloia do sculo XX loram moldadas pelo medo a diversidade sexual, assim
como as tematicas de nero. Para os autores, questoes como homossexualismo e
nero desviam o aspecto da msica centrada em si lenmeno da msica
ahsoluta representando uma ameaa a heemonia viril, ao status da cincia
marcada pela lica do raciocinio, pelo culto ao intelecto, pela demonstrao de
lora, seriedade, lonte verdade e poder. Desse modo, essa concepo husca alastar-
se dos elementos hasicos da vida comum, do cotidiano das pessoas, centrando-se
em aspectos essencialmente tcnicos e racionais. Para Mello (accy), o lato da
msica, assim como a dana, estar liada aos prazeres sensuais, pode ter servido de
apoio para os musicloos assumirem ao lono da histria da msica ocidental uma
postura extremamente lormalista. McClary (qq), Mello (accy) e Williams (accy)
mostram que durante muito tempo a musicoloia trahalhou no sentido de relorar
o paradima da masculinidade, edilicando-se, para isso, em determinados
personaens mitolicos masculinos (Bach, Mozart, Beethoven, Brahms, Stravinsky,
Chopin, etc.) e um determinado conceito de ohra arte, de ohra musical, de esttica,
de heleza, cuja nlase esta na dimenso racional, na ohjetividade, na seriedade,
propriedades lrequentemente associadas ao nero masculino.
! #$%$ &' %$()$* ' %$()$ &$ +,$
359
Portanto, por 'modernidade' me reliro mais a passaem de samha-
rito para samha-arte. E, talvez, o termo mais apropriado no seja
modernidade ou modernizao, mas sim 'artilicao', ou seja,
a translormao da no-arte em arte. Isto consiste em um processo social
complexo da transliurao das pessoas, das coisas e das praticas. A
artilicao no somente tem a ver com mudana simhlica, deslocamento
de hierarquias e leitimidade, mas, implica tamhm modilicaoes muito
concretas nos traos lisicos e nas maneiras das pessoas, nas lormas de
cooperao e oranizao, nos hens e nos artelatos que so usados, etc.
(SHAPIRO, accy, p. ).
Tal processo consiste em requalilicar as coisas e enohrec-las. o
ohjeto torna-se arte, o produtor torna-se artista, a lahricao, criao, os
ohservadores, phlico, etc. Entretanto, este processo no implica na
simples adaptao as concepoes de artes estahelecidas entre os sculos
XVII e XIX ou a um mero processo de leitimao. A prpria artilicao
translorma a arte, reelahora suas concepoes, uma vez que novos
elementos so incorporados (sujeitos, simholos e ohjetos), novos mundos
sociais so construidos, portanto, novas artes nascem. Neste processo de
artilicao, o que para aluns visto como positivo, um avano, para
outros se trata de uma deenerescncia, um retrocesso.
Em puhlicao recente (GOMES, PIEDADE, acc) apontei o
paode romntico
Em hoa parte da literatura sociolica e antropolica
empreada a dualidade homens-eslera phlica / mulheres-eslera privada.
Nesta direo, Roherto DaMatta (qqy) propoe uma leitura da sociedade
hrasileira a partir das cateorias 0#!# (privado) e )"#
(phlico). Para
DaMatta, tais termos no desinam simplesmente espaos eoralicos, mas
cateorias sociolicas, entidades morais, esleras de ao social, provincias
ticas dotada de positividade e dominios culturais institucionalizados. A
0#!# se conliura num dominio onde as relaoes pessoais prevalecem e tais
relaoes esto lundadas nas mediaoes tradicionais, ou seja, no universo
privado da lamilia, nas relaoes comunitarias, na amizade, no compadrio. a
a )"# se caracteriza como um dominio onde as leis universais e
mercadolicas adquirem maior lora, ou seja, local de individualizao,
de luta, do idioma do decreto, da letra dura da lei, da emoo disciplinada
que, por isso mesmo, permite a excluso, a cassao, o hanimento, a
condenao (DaMATTA, qqy, p. q).
Apesar do samha no pertencer exclusivamente ao dominio
privado ou phlico, existe um imainario de !#*6#9#)', que esta para o
escola, ao lado de Tia Surica e Neide. E tamhm compositora e, aora que esta
aposentada, pretende dedicar-se mais a carreira musical.
Transcrio minha.
! #$%$ &' %$()$* ' %$()$ &$ +,$
373
Em depoimento ao MIS em q6y, Marilia Batista (q8-qqc)
contou que tamhm compunha desde muito jovem. Para usar suas
palavras. aos c anos eu dei um recital no Teatro Cassino Beira-Mar
cantando msicas, sendo que as msicas da ltima parte ja eram de
minha autoria (BATISTA, q6y).
a
Sua laanha como compositora loi
muito pouco conhecida na histria da msica popular hrasileira, tendo
sohressaido seu talento como cantora-intrprete de Noel Rosa. O
depoimento ao MIS loi marcado por um constante entrave. por uma lado
os entrevistadores querendo saher sohre a relao dela com Noel Rosa e
por outro a artista querendo ser reconhecida como compositora e como
uma liura independente desta relao. a na primeira perunta sohre Noel
Rosa, Marilia alronta.
Antes de conhecer Noel Rosa, eu preciso situar hem minha posio
diante da msica popular hrasileira, para que no se cometa nenhum
enano a respeito da minha posio. Eu, alm de intrprete de Noel Rosa,
sou compositora, sou autora de msica popular. Antes de conhecer Noel
Rosa eu ja cantava minhas msicas em todos os luares que ia, e o prprio
Noel me conheceu cantando as minhas msicas num show no rmio
esportivo Onze de unho. Depois deste coquetel o 8 Brodway
Coquetel, que era um show nacional no cinema Captlio que o Noel
entrou no prorama Caz em contato comio e comeou a me dar
msicas. Gostava da minha interpretao e eu cantava yc ou 8c% do que
era meu e ac% do Noel Rosa. Tanto assim, que a rande intrprete de
Noel Rosa, que a Araci de Almeida minha colea ravou e lez
sucesso com a msica minha, que a 'Menina Iricote'. |...| Ento, o que
eu quero que voc saiha o seuinte. eu no sou apenas intrprete de
Noel Rosa o que, alias, me honra muito ter sido a intrprete que ele
escolheu. |...| Eu cumpri meu dever com Noel Rosa, tudo o que ele me
ensinou. Eu me apauei como autora at conseuir ravar toda a ohra de
Noel, porque eu considerava isso um dever, ravar o que Noel me
ensinou. (BATISTA, q6y)
a
Marilia Batista. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do Som.
de setemhro de q6y. (CD qa. e CD qa.a). Transcrio minha.
E assim seue at mais ou menos metade do depoimento, quando
os entrevistadores linalmente percehem que a entrevistada quer lalar sohre
ela e no sohre outra pessoa, deixando a entrevista seuir ao seu osto. O
reconhecimento de Marilia Batista como compositora at hoje no loi
eletivado, a maior parte das pequenas hioralias que encontrei do conta
apenas de sua atuao como intrprete. Os comentarios a respeito de suas
composioes esto hastante incompletos, no ha um cataloo de suas ohras
ou uma estimativa sohre a quantidade de ohras produzidas. Mesmo
Ricardo Cravo Alhin, uma das pessoas que a entrevistou para este
depoimento ao MIS, deixa de mencionar em seu Dicionario Cravo Alhin
da Msica Popular Brasileira
6
uma srie de msicas relatadas por Marilia
Batista como suas durante o depoimento, como Menina Iricote, A
mulher tem razo, Um samha de a, Pedestal, Moreno Voc,
Chance, Primeira Saudade.
Um estudo mais aprolundado a respeito das mulheres
compositoras deve contrihuir para e eslacelar a prerroativa comumente
apresentada de que as mulheres compositoras, desde Chiquinha Gonzaa,
passando por Tia Ciata, Ivone Lara, Clementina de esus, Marilia Batista, e
Transcrio minha.
6
No Dicionario Cravo Alhin da Msica Popular Brasileira so mencionadas apenas
ac msicas, entre elas. Balo apaado, (c/ Noel Rosa), Bossa do luturo, Conscincia
(c/ Renato Iilho), Grande prmio (c/ Henrique Batista), Imitao (c/ Henrique
Batista), oo Teimoso, (c/ Noel Rosa), Lamento (c/ Henrique Batista), Me lara
(c/ Henrique Batista), No ha mais samha na terra (c/ Henrique Batista), Nunca
mais (c/ Henrique Batista), Pedi... Implorei... (c/ Henrique Batista), Praa Sete,
Praia da Gavea (c/ Henrique Batista), Rio 6, Salo azul (c/ Henrique Batista),
Tamhorim hatendo (c/ Henrique Batista), Vai, eu te dou a liherdade (c/ Henrique
Batista), Vspera do amanh, Vila dos meus amores (c/ Henrique Batista), Voc
no leliz porque no quer (c/ Henrique Batista) Disponivel em.
http.//www.dicionariomph.com.hr/marilia-hatista/ohra~. Acesso em. ay dez.
acc.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
376
outras, so casos raros e exticos na histria da msica popular hrasileira.
Em Tias Baianas que Lavam, Cozinham, Danam, Cantam, Tocam e
Compoem (GOMES, acc) discorro sohre esta prohlematica e apresento
uma consideravel constituio leminina no samha da Pequena Alrica do
Rio de aneiro. Aluns autores hrasileiros tm contrihuido ao apontar
novas perspectivas para esta questo no samha e na msica popular
hrasileira, entre eles, Barradas (acc8), Giacomini (acc6), Mello (accy),
Santiao (accq), Theodoro (acc8), Werneck (accy).
=$305#,+&./,0 @53&50
As pequenas narrativas expostas neste estudo por meio do
depoimento de mulheres samhistas permitem criar certas imaens a
respeito da representao leminina no samha. Os dados levantados
consistem numa proposta rellexiva, apontamentos, suestoes, de maneira
que muitas das consideraoes devem ser tomadas como uma possihilidade
de leitura sohre uma histria que tem sido tratada com excessiva
homoeneidade e no como uma tentativa de construir uma nova histria.
No tenho a inteno de near ou minimizar a importncia do consarado
conjunto mitolico lormado sohre a histria do samha, apenas apontar
que tal narrativa pouco considerou a representao leminina e, portanto,
precisa de uma reviso.
Neste sentido, este estudo apontou que os cnones literarios que
consararam o samha como uma manilestao musical essencialmente
masculina e produzida por homens revelaram uma verso limitada dos
acontecimentos. Trata-se de uma narrativa construida soh uma perspectiva
da )"# cujas relerncias so as histrias dos randes homens, das randes
ohras, dos acontecimentos phlicos, das randes hatalhas e disputas
politicas, com pouco ou nenhum interesse pelo conhecimento da 0#!#,
mistico, mitico, reliioso e espiritual, pela vida privada, pela histria das
mulheres. Tais cnones inoraram a produo de diversas mulheres e
minimizaram a importncia dos aspectos lemininos presentes nos ritos, nos
mitos, na reliio, no matrilinearidade que permeia a cultura alro-hrasileira.
Assim como os cnones da msica classica europeia loram
consolidados a partir do ponto de vista da masculinidade, privileiando a
liura do homem e do universo masculino em detrimento da mulher e do
leminino (McCLARY, qq, MELLO, accy, WILLIAMS, accy), o
imainario que vem sendo construido a respeito da histria do samha e,
consequentemente, de rande parte da msica popular hrasileira, vem
seuindo um processo semelhante. Portanto, espero que este trahalho possa
contrihuir para erar um maior interesse sohre o tema das relaoes de
nero no mundo do samha e na msica popular hrasileira no conjunto de
! #$%$ &' %$()$* ' %$()$ &$ +,$
377
ahordaens musicolicas/etnomusicolicas, uma vez que raramente tal
tema tem sido apresentado nas puhlicaoes sohre pesquisa em msica no
Brasil. Ao mesmo tempo, espero contrihuir para que o universo leminino
venha compor o quadro destes estudos de lorma mais consistente.
AB>BABC=D!%
A IORA IEMININA DO SAMBA. Rio de aneiro. Centro Cultural Cartola,
accy. Idealizao. Nilcemar Noueira e Helena Theodoro. Coordenao e Edio.
Nilcemar Noueira, os de La Pena Neto e Gisele Macedo. Realizao. Centro
Cultural Cartola. accy.
ALBIN, Ricardo. Otilia Amorim. In. B&0&2-C)&2 D)#E2 :+6&- 1# FG!&0# >25"+#)
H)#!&+,&)#. Disponivel em. http.//www.dicionariomph.com.hr/otilia-amorim~.
Acesso em. nov. aca.
BARRADAS, Iernando da Conceio. Relaoes de nero na msica popular
Brasileira. :8)(52+&!, v. 6, n. , p. aay-a, out./dez. acc8.
BRETT, Philip, WOOD, Elizaheth. Msica lshica e uei. Traduo, notas,
ilustraoes, leendas, hipertexto e audio de Carlos Palomhini. I,E&!'# ,+,')J-&0# 1,
*"!&02+2.&#, v. y, dez. acca. Disponivel em.
http.//www.rem.ulpr.hr/REMvy/Brett_Wood/Brett_e_Wood.html~.
BURNS, Mila. Nasci para sonhar e cantar. nero, projeto e mediao na trajetria
de Dona Ivone Lara. Dissertao (Mestrado em Antropoloia Social)
Universidade Iederal do Rio de aneiro, acc6.
CALDEIRA, ore. : 02-!')"KL2 12 !#*6#. Noel Rosa, de costas para o mar. So
Paulo. Mameluco, accy.
CASTRO, Mauricio Barros de. M&0#)'2+#. politica e samha na casa de Cartola e
Dona Zica. Rio de aneiro. Relume Dumara / Preleitura, acc.
DaMATTA, Roherto. : D#!# , # )"#. espao, cidadania, mulher e morte no Brasil.
. ed. Rio de aneiro. Rocco, qqy.
DINIZ, Andr. :+*#-#N", 12 !#*6#. a histria do samha, o que ouvir, o que ler,
onde curtir. a. ed. Rio de aneiro. ore Zahar, acc6.
DINIZ, Edinha. D%&N"&-%# O2-P#.#. uma histria de vida. Rio de aneiro. Rosa dos
Tempos, q8.
IRESCA, Camila Ventura. Chiquinha Gonzaa. In. I,6,+1,! 6)#!&+,&)2!. homens e
mulheres que desaliaram o poder (Coleo Caros Amios Iasciculo ). So Paulo.
Editora Casa Amarela, accc. p. 8-.
GIACOMINI, Sonia Maria. Mulatas prolissionais. raa, nero e ocupao. <!'"12!
Q,*&-&!'#!, v. , n. , p. 8-c, jan.-ahr. acc6.
GOMES, Rodrio Cantos Savelli Gomes. FG!&0#/ .4-,)2/ 02*"-&1#1,. uma
etnoralia no morro do Mont Serrat, Morro da Caixa d'Aua, Ilorianpolis, SC.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
378
acc8. Trahalho de Concluso de Curso (Graduao em Licenciatura em Msica)
Universidade do Estado de Santa Catarina, Ilorianpolis, acc8.
GOMES, Rodrio Cantos S. R&#! 6#&#-#! N", +#E#*/ 02P&-%#*/ 1#-K#*/ 0#-'#*/
'20#* , 02*5S,*. um exame das relaoes de nero no samha da Pequena Alrica do
Rio de aneiro na primeira metade do sculo XX. In. I SIMPOSIO BRASILEIRO
DE POS-GRADUANDOS EM MUSICA e XV COLOQUIO DO PROGRAMA
DE POS-GRADUAAO EM MUSICA DA UNIRIO. :-#&!... Rio de aneiro, acc.
GOMES, Rodrio Cantos S. =#*6# -2 Q,*&-&-2. translormaoes das relaoes de
nero no samha carioca nas trs primeiras dcadas do sculo XX. Dissertao
(Mestrado em Msica Musicoloia-Etnomusicoloia) Universidade do Estado
de Santa Catarina, Ilorianpolis, ac.
GOMES, Rodrio Cantos Savelli, PIEDADE, Acacio Tadeu. Msica, mulheres,
territrios. uma etnoralia da atuao leminina no samha de Ilorianpolis. I,E&!'#
FG!&0# , D"+'")#, n. , p. -, acc. Disponivel em.
http.//musicaecultura.ulsc.hr/Gomes_Piedade-Samha.pdl~.
LANDES, Ruth. : 0&1#1, 1#! *"+%,),!@ a. ed. Rio de aneiro. Editora da UIR,
acca.
LIMA, Luiz Iernando Nascimento de. O paode dos anos 8c e qc. centralidade e
amhivalncia na sinilicao musical. <* >#"'#, v. , n. a, p. 8q-, acca.
LIRA, Mariza. D%&N"&-%# O2-P#.#. rande compositora popular hrasileira. a. ed.
Rio de aneiro. Iunarte, qy8.
MATOS, Maria Aparecida Donato de. FL, 6#&#-#/ 02)529+&-."#.,*. um estudo
sohre o mito na cultura do samha do Rio de aneiro. Tese (Doutorado em Cincia
da Literatura Potica) Universidade Iederal do Rio de aneiro, accy.
McCLARY, Susan. Q,*&-&-, <-1&-.!. Minnesota. University ol Minnesota Press,
qq.
MELLO, Maria Inez Cruz. Relaoes de nero e musicoloia. rellexoes para uma
analise do contexto hrasileiro. I,E&!'# <+,')J-&0# 1, F"!&02+2.&#, v. , Setemhro de
accy. Disponivel em. http.//www.rem.ulpr.hr/REMv//-mello-
enero.html ~.
MENEZES BASTOS, Ralael. A oriem do samha como inveno do Brasil. sohre o
Ieitio de Orao de Vadico e Noel Rosa (Por que as Canoes Tm Msica:).
:-')252+2.&# ,* >)&*,&)# FL2, n. , Ilorianpolis, PPGAS/UISC, qq.
MOURA, Roherto. R&# D&#'# , # >,N",-# T3)&0# 12 I&2 1, U#-,&)2. a. ed. Rio de
aneiro. Secretaria Municipal de Cultura, Dep. Geral de Doc. e Inl. Cultural,
Diviso de Editorao, qq.
MOURA, Roherto M. V2 5)&-0W5&2 ,)# # )21#. um estudo sohre samha, partido-alto
e outros paodes. Rio de aneiro. Rocco, acc.
PEREIRA, Carlos Alherto M. D#0&N", 1, I#*2!. uma histria que deu samha. Rio
de aneiro. E-Papers Servios, acc.
! #$%$ &' %$()$* ' %$()$ &$ +,$
379
PEREIRA, Airon Alisson. X Y!#*6# *21,)-2Z , 2 5#.21, )2*[-'&02 ,*
Q+2)&#-(52+&!. histria, handas e caracteristicas. accy. Monoralia (Graduao em
Licenciatura em Msica) Universidade do Estado de Santa Catarina. accy.
SANDRONI, Carlos. Q,&'&K2 1,0,-',. translormaoes no samha do Rio de aneiro,
qy-q. Rio de aneiro. ore Zahar, acc.
SANTHIAGO, Ricardo. =2+&!'#! 1&!!2-#-',!. a histria (oral) de cantoras neras.
So Paulo. Letra e Voz, accq.
SANTOS, Inaicyra Ialco dos. D2)52 , #-0,!')#+&1#1,. uma proposta pluricultural
de dana-arte-educao. a. ed. So Paulo. Terceira Imaem, acc6.
SHAPIRO, Roherta. O que artilicao: =20&,1#1, , <!'#12, v. aa, n. , p. -,
jan./ahr. accy.
SODRE, Muniz. =#*6#/ 2 12-2 12 02)52. a. ed. Rio de aneiro. Mauad, qq8.
THEODORO, Helena. F&'2 , ,!5&)&'"#+&1#1,. mulheres neras. Rio de aneiro.
Pallas, qq6.
THEODORO, Helena. As muitas mulheres ao tamhor. In. NASCIMENTO,
Alexandre et al (Ors). \&!'()&#!/ 0"+'")#! , ',))&'()&2! -,.)2! 1# ,1"0#KL2. rellexoes
docentes para uma reeducao das relaoes tnico-raciais. Rio de aneiro. E-papers,
acc8. p. -yy.
TROTTA. Ielipe da Costa. U"WP2! 1, E#+2) , 2 E#+2) 1, ]"WP2!. estratias de
valorizao na pratica do samha. I,E&!'# O#+C^&#, n. , julho de accy.
VIANNA, Hermano. X *&!'_)&2 12 !#*6#. 6. ed. Rio de aneiro. ore Zahar, accy.
WERNECK, urema Pinto. X !#*6# !,."-12 #! `#+21,!. mulheres neras e a
cultura midiatica. Tese (Doutorado em Comunicao) Universidade Iederal do
Rio de aneiro, accy.
WILLIAMS, Alastair. D2-!')"'&-. F"!&02+2.7. Aldershot UK, Burlinton VT.
Ashate, accy.
E,F$5',34$0 ,' G<#5$
BATISTA, Marilia. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do Som
do Rio de aneiro. de setemhro de q6y. (CD qa. e CD qa.a).
CARDOSO, Eliseth. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do
Som do Rio de aneiro. a de julho de qyc. (CD 6., CD 6.a e CD 6.).
LARA, Ivone. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do Som do
Rio de aneiro. c de junho de qy8. (CD a., CD a.a e CD a.).
MIRANDA, Aurora. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do
Som do Rio de aneiro. 8 de maio de q6y. (CD . e CD .a).
ZICA, Dona. Srie Depoimento para Posteridade. Museu da Imaem do Som do
Rio de aneiro. ay de julho de qq. (VHS ay. e VHS ay.a).
"#$%&'
!"#$%& ()#*$%& + ,-+$
Verso oriinal sem cortes do artio de
PHILIP BRETT
ELIZABETH WOOD
para o novo New Crove
Traduo e notas de
CARLOS PALOMBINI
./+01%$2 32 4/&3-42/
o dia de janeiro de acc, Ired Everett Maus encaminhou a lista de
discusso do Grupo de Estudos Lshicos e Gueis (GLSG)
da
Sociedade Musicolica Americana (AMS) esta mensaem de Philip Brett.
Caro Ired. Voc poderia enviar o que seue a lista do GLSG:
Ohriado (e ohriado pela divulao).
Ieliz Ano Novo.
Philip
Muito ohriado, Ired, por inlormar-nos sohre essas linhas um tanto
haratas no de resto admiravel diario londrino T|e InJepenJeni
a
. Iicaria
pessoalmente rato se losse avisado de noticias/entrevistas similares, pois
estou curioso quanto a recepo de um artio que o Crove, lelizmente,
no se cansa de citar como controverso. (Eu s ostaria que o
InJepenJeni se inlormasse direito. Sou um cidado norte-americano, e
no um mo|e Brii, seja la o que seja isso.)
que o
teatro musical da Broadway e do West End sempre lora um lar para ns,
com uma alirmao essencialista sohre as intenoes de Oscar
Hammerstein. Por essa manipulao, lomos comparados a David
Irvin'
6
O dito editor, viriamos a saher depois, claro que era ay. Suspeito
que ele e varios outros sejam relratarios aos moldes tericos do artio
no ostamos de Ioucault nas Ilhas Britnicas.
E realmente decepcionamos por no expor as vacas saradas ao
tratamento sacrilicial. Tanto que, ao invs de alirmar qualquer coisa de
Schuhert, suerimos que todo o cnon alemo seja to indelevelmente
jveer que na verdade pouco importa quem dormiu com quem. O
principal que nos temos alo a dizer sohre a msica numa perspectiva
lshica. Decidi saudar quaisquer indinidades e ataques que sohrevenham,
e por isso no me importo mesmo com Stanley a soltar lumaa para sua
plateia hritnica de inimios do politicamente correto. Para aluns de ns
que tm levado vidas proteidas, acredito ser hora de levar chumho. Ioi
uma das razoes para no insistirmos no ensaio seminal de Susan McClary
sohre Schuhert. Todos sahem de nossa divida com ela e vou
reconhec-la mais uma vez aqui sohretudo como a pessoa que ahriu
Philip Brett, Britten and Grimes, T|e Mvsico| Times, 8/68 (qyy). qqqy e
qqqccc.
e
Leshian and Gay Music
a
, Raykoll intercalara notas comparativas
.
Saudaoes aos autores por inserirem terminoloia extramusical
interessante, como consolo, no novo New Crove' Aora lalando srio, o
artio o leado de hem mais de uma dcada de inspirao, entusiasmo e
trahalho arduo de todos os interessados nos prospectos e nas
possihilidades de uma musicoloia jveer.
A verso oriinal esta ahaixo (com permisso). Os pararalos loram
numerados conlorme as seoes para lacilitar comparaoes com a verso
impressa nas painas qy6c8 da nova edio do New Crove Diciionor, o|
Mvsic onJ Mvsicions. Uma leitura comparada revela cortes
indiscriminados e uma proluso de revisoes menos hvias. Alumas
merecem destaque.
y
Philip Brett, mensaem de de janeiro de acc a Ired Maus, encaminhada a lista
do GLSG no dia seuinte.
8
Philip Brett, mensaem de a mai. acc ao tradutor, com cpia para Elizaheth
Wood e Ivan Raykoll.
q
Elizaheth Wood, mensaem de a6 mai. acc a Philip Brett, com cpia para Ivan
Raykoll e o tradutor.
c
Ivan Raykoll, mensaem de ay mai. acc ao tradutor, com cpia para Elizaheth
Wood e Philip Brett.
Philip Brett e Elizaheth Wood, Reardin the New Crove Article, CLSC
News|eiier / (acc). a. Disponivel em www.ams-
lhtq.or/Newsletters/Na.pdl~, incorporado ao artio como Introduo neste
livro.
a
Philip Brett e Elizaheth Wood, The Oriino| Version ol the New Crove Article,
id., ac.
, o cardapio de a6 nomes
6
(e tantos outros) loi
sumariamente eliminado, e a promessa que poderia ser expandida para
incluir..., translormada num esqualido e deveras intil que poderia
lacilmente ser expandida. A pratica de excluir nomes ao invs de inclui-
los retorna nos pararalos .a e .
y
. Tamhm cortadas. as duas ltimas
sentenas (explosivas) do pararalo a.
8
, o linal do pararalo . (a partir
de Deve-se mencionar ainda...)
q
, e amplas parcelas dos pararalos y.c e
y.
ac
, sohre Tchaikovsky.
No pararalo .
a
, lormulao oriinal. a o Jro hritnico, sohrevivendo
at a era da televiso atravs de artistas como Benny Hill, mostra a que
ponto esses shows podem contrihuir para institucionalizar a homolohia
atravs do ridiculo, ao invs da incitao ativa ao dio. Puhlicada como.
O Jro hritnico, por outro lado, sohreviveu at a era da televiso, em
eral atravs de atores.
No pararalo y.
aa
, palavras oriinais. Dado ser a prpria sexualidade uma
inveno moderna... Palavras puhlicadas. Como o estudo da sexualidade
um lenmeno moderno...
A excluso do nome de Schuhert do pararalo y.y
a
lemhra ojve|o
controvrsia eterna. Ver Michael Church, How Music Got its Crove
Back, T|e InJepenJeni (c de dezemhro, accc), e tamhm o artio de
ohn von Rhein, The Crove's New Groove, C|icoo Tribvne (a de
levereiro, acc).
E aora, sem mais delonas...
, as edioes de acc
,
acca
e acc6
6
, a verso do Crove
y
, sua atualizao por Nadine Huhhs
8
, e
discussoes com os autores, coleas, e amios. Utilizo o termo uei em
aluso ao Apelo ao jovem uei, de Paulo Bonorino, puhlicado no nmero
zero do jornal Lompioo, em ahril de qy8. no sei at que ponto vamos
admitir, se vamos, a americanizao de nossa homolilia, que a meu ver
aq
Philip Brett e Elizaheth Wood, Leshian and Gay Music, E|ecironic Mvsico|oico|
Peview y (acca). Disponivel em.
www.rem.ulpr.hr/_REM/REMvy/Brett_Wood/Brett_and_Wood.html~.
c
Philip Brett e Elizaheth Wood, Msica lshica e uei, Pevisio e|eirnico Je
mvsico|oio y (acca). Disponivel em.
www.rem.ulpr.hr/_REM/REMvy/Brett_Wood/Brett_e_Wood.html~.
Philip Brett, Elizaheth Wood e Gary C. Thomas (or.), veerin i|e Piic|. T|e
New Co, onJ Lesbion Mvsico|o,, Nova York e Londres, Roulede, qq.
a
Elizaheth Wood e Gary C. Thomas, Prelace to the Second Edition, veerin i|e
Piic|, acc6, vii.
Ver notas e a.
Ver notas aq e c.
6
Philip Brett e Elizaheth Wood, Leshian and Gay Music, veerin i|e Piic|. T|e
New Co, onJ Lesbion Mvsico|o,, or. P. Brett, E. Wood e G. C. Thomas, Nova
York e Londres, Roulede, a/acc6, q8q.
y
Philip Brett e Elizaheth Wood, Gay and Leshian Music, T|e New Crove
Diciionor, o| Mvsic onJ Mvsicions, or. S. Sadie, Londres, Macmillam, a/acc, vol.
q, qy6c8.
8
Philip Brett, Elizaheth Wood e Nadine Huhhs, Leshian, Gay, Bisexual,
Transender, and Queer Music, Crove Mvsic On|ine.
!"#$%& ()#*$%& + ,-+$
389
deveria ser hem verde amarela mesmo
q
. Entendo a injuno de Bonorino
numa perspectiva linuistica.
Num tempo que se reveste de uma lachada moralizante para
acohertar violaoes as mais llarantes ao direito, a lei e a justia, e em meio
a cooptao, ja apontada pelos autores
c
, daquilo que resultou do Gay
Liheration Iront, a puhlicao do ensaio de Brett e Wood no poderia ser
mais oportuna.
Desejo aradecer a colahorao e a pacincia dos autores, a
insistncia compreensiva das oranizadoras, o apoio de dilerentes coleas, e
os auxilios de Rorio Budasz, Celso Loureiro Chaves, Pedro Dures, Paulo
Irancisco Estrella Iaria, Andr Iischer, Denilson Lopes, ames McCalla,
Paul McIntyre, Ired Everett Maus, Isahel Noueira, Analice Palomhini,
Ivan Raykoll, Laila Rosa, Ior Reis Reyner, Luiz Otavio Iernandino Tinoco
e oo Silvrio Trevisan. E sem pedir permisso, dedico este trahalho a
Elizaheth Travassos, representante daqueles em quem ele se espelha, e de
cuja existncia se henelicia.
Belo Horizonte, 8 de maro de ac
Cor|os Po|ombini
q
Paulo Bonorino, Apelo ao jovem uei, Lompioo c. ahr. qy8.
c
Seundo pararalo da paina q.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
390
!"#$%& ()#*$%& + ,-+$
P|i|ip Breii e E|izobei| VooJ
m reistro, tanto documentao histrica quanto recuperao
hioralica, das contendas e sensihilidades dos individuos
homossexuais do ocidente que se assumiram na msica, e da contrihuio
induhitada, mas deslemhrada, de homens e mulheres homossexuais a
prolisso musical. Em termos mais amplos, um nulo particular do qual se
pode ouvir e criticar a msica ocidental de todos os tipos.
564/23-782
O que o Crove imprimiu como Gay and Leshian Music no
corresponde inteiramente a nossas intenoes, a comear pelo titulo. Uma
vez que nos desinaram apenas duas mil e quinhentas palavras e
escrevemos quase cinco vezes tanto, inevitavelmente contavamos com
cortes. Estes no vieram nas seoes mais tericas, onde os receavamos, mas
em certas areas visadas. os nomes, a msica popular e o papel das mulheres.
Emhora aluns msicos vivos tenham recehido permisso para
entrar, todos aqueles que se imainou pudessem sentir-se pouco a vontade
com a divulao de sua orientao sexual loram retirados, a comear por
Boulez. Em todo o caso, tivramos enorme diliculdade em ouvir dos lahios
de quem quer que losse os nomes de quaisquer compositores hritnicos de
msica erudita homossexualmente assumidos no pais onde nasceu o
armario
Armario, no oriinal, c|osei, desina desde o sculo XIV uma sala para
isolamento ou recolhimento, uma sala privada, uma cmara intima (Oa|orJ En|is|
Diciionor,). a antes do sculo XVI o termo passa a desinar uma sala assim
enquanto luar de estudo ou especulao solitaria, especialmente com relerncia a
meras teorias em contraposio a medidas praticas (OED). A partir do sculo XVI,
um c|osei tamhm um repositrio particular de valores ou, mais tarde, de
curiosidades, um escrinio (OED), e, no sculo XVII, uma pequena sala auxiliar ou
um pequeno recesso para armazenamento de utensilios, mantimentos etc., um
uarda-loua (OED), de onde advm, no sculo XVIII ou XIX, a expresso
U
!"#$%& ()#*$%& + ,-+$
391
Ao incluir hoa dose de msica popular, nosso ohjetivo era, em
parte, politico, em parte, creditar a quantidade de trahalhos realizados na
area. Pena que Klaus Nomi se tenha visto removido em virtude de sua
condio de europeu. nosso editor, Stanley Sadie, enxerava o assunto
como uma preocupao exclusivamente (norte-)americana e cheou a
extremos para impor sua opinio.
Sempre se correria o risco, num artio comhinado como este, de
desequilihrio entre os sexos. esloramo-nos para eliminar tal possihilidade.
Nosso editor, mais uma vez, no ajudou. A mudana de titulo, a seu ver
inaceitavel, loi uma alirmao de intenoes
a
. Rejeitada tamhm nossa
tentativa de relacionar o movimento de ueis e lshicas ps-Stonewall e o
aparecimento de perspectivas/estudos lshicos e ueis em msica nos anos
noventa a contextos e eventos politicos e intelectuais. Incluiam-se ai o
impacto que o movimento de liherao leminina dos anos sessenta teve
sIe|eion in i|e c|osei (esqueleto no armario), um prohlema privado ou oculto em
nossa casa ou circunstncias, sempre presente e sempre sujeito a manilestar-se
(OED). No sentido liurado, o suhstantivo desinou, no sculo XVI, a caverna ou
a toca de uma lera selvaem (OED), e desde lins do sculo XIV, no translerencial,
aquilo que proporciona recolhimento, como uma sala intima, ou aquilo que
uarda, como um escrinio, um luar oculto ou secreto, um retiro, um recesso
(OED). O Oa|orJ ohserva que, com relerncia a 'luar de privacidade', a palavra
era antiamente quase adjetiva, equivalendo a 'privado', um uso que se teria
tornado ohsoleto por volta de q.
De acordo com o Concise Diciionor, o| S|on onJ Unconveniiono| En|is|, o termo
c|osei jveen (hicha enrustida) estava em uso na Inlaterra, especialmente em
Londres, desde o linal dos anos quarenta, pelo menos. A partir do linal dos anos
setenta, a lorma adjetiva c|osei passa a ser empreada eralmente como iria,
revestida das conotaoes de siilo associadas a homossexualidade, sem implicar
necessariamente uma orientao sexual dessa natureza. E interessante ohservar que
isso se da aproximadamente uma dcada aps o motim de Stonewall e a lundao
do Gay Liheration Iront, quando lshicas e ueis comeam, de lorma oranizada, a
sair do c|osei. Como usado na expresso sair do armario (ei ovi o| i|e c|osei), o
sentido esta lexicalizado no Novo Avr|io (qqq) soh iria e no Hovoiss (accy) soh
uso inlormal.
a
Brett rememora (a6 de junho de acc, ao tradutor).
O titulo encomendado pelo Crove havia sido Gay and Leshian Music.
Sadie explicou em dado momento que no era neociavel. Parece que ele
licou indinado com nossa tentativa de muda-lo em Leshian and Gay
Music. No lemhro aora nossos motivos. dar maior nlase a msica de
mulheres talvez, e seuir a tendncia, que anha corpo aqui, em adotar a
lrmula LGB(I)T (Lshica, Guei, Bissexual, |Intersexo| e Transnero),
quanto a qual os varios sementos da aliana jveer mais ou menos se
acordaram (a ltima importao Intersexo, para aquilo que ja se
chamou hermalroditas). Ou simplesmente irritar o Crove.
!"#$%&" %! ()*!+&, -&+.& ! /0"1-2
392
sohre a visihilidade das lshicas, discussoes leministas sohre sexo, dilerenas
de sexo e opresso sexual, o movimento msica de mulheres e o estudo
das mulheres na msica, e o desenvolvimento da critica leminista e dos
estudos de nero
e sexualidade.
Em amhas as versoes contudo este artio um amalama do
trahalho de uma comunidade. Os diversos individuos que o leram,
comentaram ou incrementaram loram citados no texto, mas naturalmente
tais crditos loram suprimidos. Restauramo-los aqui com nosso sincero
aradecimento aqueles sem os quais no poderiamos sequer ter comeado.
Emhora as diliculdades com o Crove tenham sido suhstanciais e
exacerhadas por certa retrica phlica do oranizador acerca de quo
intrataveis ramos, a oportunidade de escrever sohre o conjunto da area
(em contraposio as ahordaens por nero das enciclopdias anteriores)
loi muito instrutiva. O que produzimos no pretende encerrar o dehate
acerca do que uma Msica Lshica e Guei possa ser, e sim valer-se da
especulao terica e da suesto para ahri-lo. Esperamos que o eventual
leitor possa entrever de imediato a possihilidade de dezenas de dissertaoes
ou temas de livros. E o dedicamos aqueles que, lrequentemente em
consideravel desvantaem prolissional, tm trahalhado nesse campo que
une nossa pesquisa a nossas vidas da lorma mais lecunda.
9:2;2#<#+=-&>$3&3+ + ;-#$%&>$3&3+
Conceher cateorias sexuais como arhitrarias ou continentes a
pratica histrica ou social ainda dilicil para a maioria das pessoas, to
plenamente loi a sexualidade, como a musicalidade, naturalizada no sculo
XX, lixamente alojada num sentido individual do eu (AGOSE, qq6, p.
y8). Todavia, ao manterem a importncia para a sociedade moderna das
cateorias mesmas de heterossexualidade e homossexualidade, hem como
do processo de aculturao que as envolve, pensar historicamente sohre
esse sentido do eu torna-se, de modo paradoxal, a hase de hoa parte dos
trahalhos criticos lshicos e ueis. E avaliza tamhm a teoria jveer,
lenmeno intelectual haseado na recuperao do pejorativo jveer
e na
.
Nesse cenario, qualquer ohservao sohre msica e sexualidade
proihida e ileal loi proscrita. Voc no mencionou isso, Viril Thomson
explicou a seu hiralo, aos noventa e um, com a justilicao delinitiva.
claro que todos sahiam do caso Oscar Wilde (TOMMASINI, qqy, p.
6q). A arte da msica, a prolisso musical e a musicoloia do sculo XX
loram todas moldadas pelo conhecimento e pelo medo da
homossexualidade. A necessidade de separar a msica da
homossexualidade impulsionou a crena determinante que a msica
transcenda a vida comum e seja autnoma em relao aos eleitos ou a
expresso sociais. Contrihuiu tamhm para a resistncia a investiao
critica da politica especialmente, a sexual da msica e de questoes
relacionadas a diversidade sexual, como nero, classe, etnia e raa, crena
reliiosa, e poder.
?$@A DC Viril Thomson (8q6q8q), leo sohre tela de Alice Neel, qy,
National Portrait Gallery, Smithsonian Institution.
Em contrapartida, o carater inespecilico da linuaem musical e a
doutrina de sua autonomia em relao a questoes sociais levaram a uma
situao especilica em que a msica desempenhou e desempenha
importante papel, tanto valvula de escape quanto reuladora, no
mecanismo do armario, no apenas simholo da natureza oculta de muitas
e
vinculou sua teoria ao movimento de liherao sexual e as novas teorias
leministas da opresso. O conllito e suhsequente conciliao entre ativistas
lshicas e leministas heterossexuais alloraram no linal dos anos setenta em
luno de uma Emenda de Direitos Iuais a constituio dos Estados
Unidos, e dentro da Oranizao Nacional para Mulheres (NOW), hem
como, no inicio dos anos oitenta, em dehates sohre a identidade lshica, os
silncios e as praticas sexuais das mulheres, o ahorto, a pornoralia, e o
estupro. Textos decisivos na area so Compv|sor, Heieroseavo|ii, onJ
a
Sohre a distino entre Jro jveen (aproximadamente, translormista), de um
lado, e crossJresser e ironsvesiiie, de outro, ames McCalla explica (a6 de junho de
acc, ao tradutor).
CrossJresser e ironsvesiiie (travesti) so eralmente intercamhiaveis, e
aplicam-se ao uso, por qualquer um dos neros, de roupas desinadas
pela sociedade como apropriadas ao outro. (Nos anos trinta, considerava-
se mesmo ousado que mulheres como Katharine Hephurn ou Marlene
Dietrich usassem calas em phlico') A opinio phlica normalmente
assume que crossJressers e/ou ironsvesiiies sejam tamhm homossexuais,
mas nem sempre o caso. Ha varios estudos mostrando que, iualmente,
aluns homens heterossexuais ostam de usar roupas de mulher.
Dro jveens so irosvesiiies, quase sempre homens usando roupas de
mulher, que enlatizam o lamoroso, o dramatico, o comp e/ou o teatral.
Trata-se no apenas de homens que usam roupas de mulher, mas de
homens que usam roupas vistosas, maquiaem, perucas, e assim por
diante, as vezes (antiamente hem mais que hoje) imitando determinadas
estrelas do teatro ou do cinema Mae West, udy Garland, Bette Davis,
Diana Ross, Barhra Streisand.
No Brasil, os termos crossJresser e travesti so praticamente antinmicos, ja que a
liura do travesti rotineiramente associada a prostituio. Uma parcela da
semntica neativa do travesti da linua portuuesa imitao rotesca,
caricatura atrihuida ao sinilicante irovesi, em inls.
(reminiscente
do j/e de Monique Witti, mas suhstituindo a harra inclinada por um
har de lshicas)
Ohriado pelas peruntas, Carlos, e por tudo o que voc tem leito
para tornar Leshian and Gay Music mais acessivel, tanto na rede quanto
em traduo. Ioi timo lalar com voc.
Carlos Ohriado pela entileza, Liz.
No oriinal, Grove +/CC 8#0 ED$D"5, um trocadilho. o <$,=# vai ter Cyryus, o <$,=#
vai licar srio.
!"#$ &" &'$($)*"+
,- ./"#'/01'" &2 &2.'3'452) 2 6$#$672#'8$452)
9
WAYNE KOESTENBAUM
Embononor o oreo.
a
intrometer-se no trahalho (de um neociante ou
comediante), e estraa-lo...
866 M. MACKINTOSH Sioe Peminisc. A lumaa e os odores dos loos
de Benala, que haviam sido utilizados para iluminar a luta, vazaram pelas
lrestas do palco, prontos para enasar uma dzia de Macheths, e se
me perdoam o jaro prolissional a area do pohre amie loi
emhananada
por vinana.
8y T. IROST Circvs Li|e O local que selecionam para a encenao
sua area, e de qualquer interrupo da atividade, seja um acidente ou a
interlerncia de um policial, se diz que ela emhananou a area.
iz uma amia lshica, que quer escrever de modo no convencional
sohre Clara Schumann.
Possa a msica escapar para sempre ao lado da heterossexualidade
presumida. Possa a msica, linalmente, estar sujeita a seduo do critico.
unto as maquinas de relrierante no trreo da hihlioteca, as laces
de estudantes de musicoloia, meus coleas (cmplices ocasionais),
parecem turvas de amhio e transincia at as amias,
receosas do
A 'area' do pohre amie loi 'emhananada'. poor 1omie's piic|' wos jveereJ'.
Ev noo sov
vioJo,
a
mos o conceiio me |imiiro|e. Sero vm mi|ore se os inscries
ne|iencioJos noo |orem, o esio o|ivro, i|eiveis.
' ' '
Dai, vioJoem.
qyy Doi|, Eapress Este um componente plvico da mimica, do hal e
do show de aherraoes que eu, mero heterossexual, entendo como uma
celehrao da iconoralia ertica da viadaem.
q
Amarrar-se em. io be jveer |or.
c
Meio que me amarro em. I'm sori o| jveer |or.
No oriinal, I om noi jveer bvi i|e worJ eap|oins me, literalmente. Eu no sou
jveer, mas a palavra me explica.
a
Viado. jveer.
Viadaem. jveerJom.
!"#$ &" &'$($)*"
471
Diz um distinto acadmico, conhecido meu.
Essas personaens jveer no tm nenhuma educao musicolica
slida. E quem quer que no tenha o treino adequado deve simplesmente
calar a hoca. Puhlica-se demais. Melhor esses charlates conlessarem seus
seredos sexuais e pararem por ai. No se pode transpor cruamente a
seavo|iJoJe cuja histria nenhum desses iludidos de Ioucault realmente
entende para a mvsico, no se pode reduzir a msica as eneralizaoes
midas, laceis e vistosas to ao osto desses mentecaptos, politizados
haratos. Iora'
Em pesadelos, esses arrivistas me cutucam, vejo suas mos
peajosas, no credenciadas, irrepressiveis, que avanam em direo ao holo
musicolico.
Iora'
' ' '
Deixar (alum) desconcertado, lazer (alum) sentir-se desconcertado.
8 W. CORY Leii. 1rn|s. Hallam licou um tanto desconcertado
6
(por no ser seu estilo lazer alo to conspicuo).
8q Oviin Desconcertou-me
y
imainar o que aconteceria caso
perdessem terreno.
Diz um amio corista, um haixo encantadoramente leminino.
As duas lormas de assumir-se rimam. Sou musical machuca e
alivia tanto quanto sou uei.
8
Com prazer e com horror, apresento-
me como msico, uma identidade (um pendor, uma estrutura) que visto
sohre a pele. A msica me leva ao passado. na escola secundaria, aprendi
llauta doce, e esses primeiros sopros audos, anteriores a tudo o que eu
viria a amar, continuam sendo as emanaoes mais assustadoras, sensuais e
comprometedoras que jamais lluiram de meu corpo, emhora anos a lio eu
tenha neado o poder do som como porra, mas diluso, a manar lento e
Id.