Barrela - Plinio Marcos
Barrela - Plinio Marcos
Barrela - Plinio Marcos
(Plnio Marcos)
PERSONAGENS
PORTUGA
BERECO
BAHIA
TIRICA
FUMAA
LOUCO
GAROTO
GUARDAS
CARCEREIRO
(CENRIO: Um xadrez onde so amontoados os presos que aguardam julgamento. Ao abrir o
pano, todos dormem. De repente, Portuga desperta com um pesadelo)
FUMAA T certo, assim. A moada custa pra se apagar, quando consegue, a o sabido faz
barulho e acorda a curriola. o fim da picada. Tem que pegar uma gelada pra tomar um ch de
simancol.
TIRICA Se eu fosse o xerife dessa merda, j viu. Dava o castigo agora mesmo. No ia ser
mole.
LOUCO Enraba ele! Enraba! (Todos riem, Portuga fica bravo)
PORTUGA Fecha essa latrina, seu filho da puta.
BAHIA T a. O louco deu uma dica legal.
FUMAA Boa louco.
LOUCO Enraba, enraba!
PORTUGA Mas, o que ? Vai parar com essa onda ou vou ter que te dar uma pancada na
moleira?
TIRICA O louco est por dentro. Tu acordou meio mundo, agora vai servir de esparro
PORTUGA Corta essa.
BAHIA No. O louco at que legal.
PORTUGA Me esquece.
LOUCO Enraba, enraba!
PORTUGA Vou te arrebentar, louco de merda!
BAHIA No vai arrebentar ningum.
PORTUGA Vocs esto me estranhando?
TIRICA Vamos te enrabar.
PORTUGA Vo gozar a cara da puta que os pariu.
FUMAA Ai, como ela est nervosinha.
PORTUGA melhor parar com esse sarro.
BAHIA Que sarro, meu bem? Ainda nem te agarramos.
PORTUGA Ai, meu cacete.
FUMAA Vai entrar em vara, boneca!
PORTUGA Eu azaro um. Estou avisando.
BAHIA Vai bancar o macho? (Bahia passa a mo no traseiro do Portuga, que se esquiva. Fica
de costas para o Tirica, que lhe d uma xinchada)
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BERECO Vai se espiantando, ento. (Cada um vai indo para seu canto)
BERECO Porra, enquanto no acerto o passo de um, no do folga. (Portuga aproxima-se de
Bereco)
PORTUGA Obrigado, Bereco.
BERECO Desencarna, tu tambm.(Bereco empurra Portuga, que sai, humilhado. Todos riem)
BERECO Qual a graa?
TIRICA Nada.
BERECO T se abrindo por que, ento?
FUMAA do Portuga. loque. Trouxa pacas.
BERECO Voc malandro?
FUMAA Eu? Eu, no. Estou em cana toda hora. Que vivaldice essa? Malandro o Tirica.
Lanceiro, tal e coisa.
TIRICA Quem? Eu? Sou o maior papagaio enfeitado, maruja, s entro em fria.
BERECO E tu, Bahia? Tem malandragem?
BAHIA Que nada, meu bom. Sou de coisa nenhuma. Vim parar aqui por engano.
BERECO T bom. Todos cavalos. Mas gostam de fazer embaixada pra cima dos outros.
BAHIA Pra passar o tempo.
FUMAA Claro. Se a gente no tira um barato, no d pedal.
BAHIA Dormir letra. Mas, cada vez que a gente se apaga, o Portuga acorda a gente. E da?
Voc d fora pra ele, n? A gente no pode fazer ele se tocar, que est por fora. Ento, temos
que arrancar uma botota qualquer, pra levar pra frente.
PORTUGA Vocs so ondeiros, mesmo. Eu no tenho nada com isso.
TIRICA Voc, no. Poxa, quem falou que a culpa tua? Quem? A culpa do fantasma da tua
mulher, que vive te assombrando. Ela que tem culpa. No tem nada que vir a pegar no teu p.
PORTUGA Isso ... remorso.
TIRICA (Com desprezo) Conversa, cutruco. Ela te corneava com Deus e com todo mundo.
Despachou ela e t certo. No tem nada que se aporrinhar e encher os bagulhos dos outros.
BAHIA Agora, se quiser curtir dor de corno, pode. Mas, baixinho, que ningum est aqui para
te agentar.
PORTUGA Pensa que eu sonho com ela por que gosto?
BAHIA No penso nada. S sei que o Bereco tambm tem morte no lombo e no faz zoeira
quando dorme.
PORTUGA Ele ele, eu sou eu.
TIRICA Porra, e da?
PORTUGA Quero dizer que cada um tem seu jeito.
TIRICA Claro que o Bereco o xerife. Cara pra frente. E tu uma bosta. Corno manso e tudo.
PORTUGA Se eu fosse corno manso eu no apagava aquela vaca.
TIRICA Apagou sem querer. Sempre foi cavalo. Corno satisfeito. T na cara, teu nome podia
ser Cornlio. (Todos riem)
PORTUGA Cornlio a me.
TIRICA No mete a mo nisso.
PORTUGA Ento no me torra.
TIRICA Que tu quer? Corno s pode ser esparro.
PORTUGA Sei. Agora, se dou tua ficha, j viu quem vai ficar de pele de tambor.
TIRICA Eu nunca fui corno.
PORTUGA Foi pior.
BAHIA Opa! Opa! Racha essa com a gente.
FUMAA Entrega o Tirica pra ns.
PORTUGA Deixa pra l. Ele sabe aonde toquei.
TIRICA Sei de nada, no.
PORTUGA Sabe, sabe sim.
BAHIA D o servio, Portuga.
PORTUGA Pra qu? No vou sujar a barra do rapaz.
TIRICA Rapaz, o cacete. Tenho mil anos de putaria.
PORTUGA Engodo, Tirica. Mas, no gruda. Perto de mim, no. Perto de mim tu um Z
Man.
BERECO (Que j est deitado) Esse papo est ficando esticado. Estou querendo dormir.
BAHIA Segura as pontas a. Vamos levar de leve. (Pausa) Vai, Portuga, entrega o Tirica.
PORTUGA Pra qu? No disse nada.
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FUMAA J vi tudo.
PORTUGA Ento se manca. O tal de Morcego era o fanchona l no reformatrio. E passou a
uns caras e outros na cara.
TIRICA Tu doido.
FUMAA Xiii, essa da pesada.
BAHIA Essa pra entortar, mesmo.
TIRICA Esse filho da puta t sacaneando. No tem Morcego, porra. T na cara que esse corno
quer me entrutar.
PORTUGA No tem Morcego? Ele falou que prova no teu focinho. T bom? Ele prova.
TIRICA Mande ele vir.
FUMAA Amanh no ptio a gente pergunta.
BAHIA Mas, eu aposto no Morcego.
PORTUGA O cara jura que se serviu.
FUMAA E deve ser. Que tu acha? Algum ia inventar um troo desses?
BAHIA . Sou Morcego nesse lance. O Tirica nunca me enganou
TIRICA Vai se danar. A gente vai provar. Se o cara tirar o lol da seringa, eu te apago,
Portugus corno de merda.
PORTUGA E se for papo firme?
TIRICA mentira.
PORTUGA Mas, se for verdade?
TIRICA Eu apago ele.
PORTUGA No! Poxa, apaga, no!
BAHIA Se for firmeza, tu tem que dar pra ns.
FUMAA Assim que . Pombas! Tamos aqui. Mesmo xadrez, vamos cobrir a bichinha.
TIRICA Bichinha o rabo da me.
FUMAA Vai dar? Tem que dar.
TIRICA Aqui pra vocs. (Mostra o prprio saco)
FUMAA T combinado. Se o Morcego, Fanchono de pivete de reformatrio, disser que
comeu, no tem por onde. Vai entrar em vara.
TIRICA Esse Morcego um sacana. Mas vou meter a colher entre as costelas do miservel.
Ele no perde por esperar. E tu tambm ganha o teu, Portuga, corno de merda. Nada como um
dia atrs do outro.
PORTUGA Veado pode vir a hora que quiser. Tiro de letra.
TIRICA Ento dorme. Te ferro antes do teu fantasma vir te pegar. Juro por essa luz que me
ilumina. Vou te apagar.
BAHIA (Passando a mo no rosto de Tirica) No fica bronqueada no, menininha.
TIRICA Vai te danar!
BAHIA Vai bancar homem pra cima de mim?
TIRICA No me enche o saco. Isso tudo mentira.
PORTUGA Se mentira, vai falar com o Morcego. Ele que te caguetou.
BAHIA No precisa falar. Eu boto f na histria. O Morcego no ia inventar uma dessa. Poxa!
Se o malandro chega e bate que, tal coisa, uma cara l no reformatrio andava ali, bl-bl-bl,
v l. A gente desconfia. D um vo pra ver se rende, mas devagar, bem devagarinho , que pode
ser chaveco. Presepada brava, pra dois se acabarem na maior pauleira da parquia. Agora, se o
maruja vem e conta que foi ele mesmo, d o pl com: eu tive ali, eu me tratei, eu mastiguei esse
rango, me servi, eu papei, eu, no outro. A barbada. porque mesmo. No balo pra
entrutar ningum. No tem por onde. Papou mesmo. (Pausa. Todos encaram Tirica, que est
cada vez com mais raiva)
FUMAA (Para Tirica) Que me diz? (Pausa)
BAHIA Foi ou no foi? (Pausa)
TIRICA E da? (Pausa)
FUMAA Deu ou no deu?
TIRICA Mas, que deu? Deu o qu?
BAHIA O boto.
FUMAA Deu?
TIRICA E se desse? meu. Dou pra quem quero.
PORTUGA Ento, deu?
TIRICA Dei. E da? Que tu tem com isso?
PORTUGA Nada. S que acho que os amigos tambm so filhos de Deus.
TIRICA V a merda! Amigos... Amigos a puta que pariu!
BAHIA Deixa ela em paz, Portuga. Deixa pra mim (Pausa) Como foi o lance com o Morcego,
heim bonequinha?
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TIRICA Vai xingando... Mas acaba dormindo. O ferro j est quase afiado.
(Os dois se vigiam. Os outros dormem. Reina grande silncio. Que quebrado unicamente pelo
barulho de Tirica afiando a colher. Reina grande tenso entre Portuga e Tirica. No auge da
tenso o ferrolho da porta corre com grande barulho. Os dois ficam de p, na defensiva.
Quando percebem de onde provm o barulho, relaxam. Os outros acordam)
BERECO Puta sacanagem.
BAHIA Hspede novo.
(A porta se abre e um rapaz bem vestido atirado dentro da cela. Aparenta uns vinte e dois anos
e um rapaz de trato. A porta fecha-se atrs dele. Escuta-se o ferrolho correr. O rapaz corre at
a porta e tenta for-la. Est muito nervoso. Os outros presos ficam s espiando os movimentos
do rapaz. Ele se vira e encosta na porta, com medo estampado no rosto. Vai examinando um por
um. Depois de algum tempo, Bereco salta da cama e se aproxima do rapaz)
BERECO Filhinho de papai.
PORTUGA Parece uma menina.
BAHIA Garoto bonito.
TIRICA Agora que eu quero ver quem macho.
FUMAA Que ? J est com idia de jerico pra cima do garoto?
TIRICA No est todo mundo na pior? Vamos enrabar ele.
LOUCO Enraba, enraba mesmo!
BERECO Que porra! Eu no mando mais nessa droga? (Pausa. Bereco tira o garoto na pinta,
mede-o de cima embaixo)
BERECO Que tu aprontou, garoto?
GAROTO (Nervoso) Briguei com um cara no bar.
BAHIA Viu? O garoto bravo.
BERECO Coisa toa. Quando mudar a guarda te jogam na rua de novo.
BAHIA No avisou teu pai?
GAROTO Eu, no. Se o velho sabe disso vai ficar uma arara.
BERECO Tem grana?
GAROTO Estou meio duro.
BERECO Quanto?
GAROTO Trs contos.
TIRICA Vai entrar em vara.
FUMAA Poxa! Com essa pinta toda s traz pixun. Vai se estrepar.
BERECO Deixou a grana na carceiragem?
GAROTO Deixei.
BERECO Vai passar pro meu nome ou precisa levar um aperto?
GAROTO O qu?
BERECO Vai me dar essa merda de dinheiro por bem ou por mal?
GAROTO Pode ficar com ele.
BERECO Quando os caras vierem a servir o caf, tu avisa pro chaveiro que me deu a grana.
Tem cigarro?
GAROTO (Tira o mao) Pode pegar.
BERECO Que mais tu deixou na portaria?
GAROTO Mais nada.
BERECO Pensa que est falando com um otrio qualquer? Te tiro na pinta, garoto. Tu de se
empetecar. Cad anel, correntinha e outros parangols?
GAROTO Ficou l tambm.
BERECO E tu queria me ingrupir, n?
GAROTO Eu, no. Tinha esquecido.
BERECO Pois . S que agora tudo meu.
GAROTO T certo.
BERECO Assim que . (Bereco distribui os cigarros entre todos)
BERECO Tu se achega por a pivete. E vocs no botam o focinho com ele, no. O garoto
compareceu com a grana.
BAHIA Puta grana micha.
BERECO Dane-se. O garoto est coberto. Agora, bico calado. (Bereco volta ao seu lugar.
Pausa longa)
TIRICA Fica nisso?
BAHIA No. Vamos l. O Portuga, que leva jeito, imprensa o garoto. Da, a gente vai na cola.
(Portuga aproxima-se do garoto)
PORTUGA Como , meu bem?
GAROTO (Incomodado) Como o qu?
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PORTUGA Tu sabe que eu estou aqui h muito tempo... E... Sabe como ...
GAROTO E da?
PORTUGA Voc bonitinho... tal e coisa, tem bem no jeito.
GAROTO Mas, o que que voc est pensando?
PORTUGA Nada. S estou querendo livrar a tua cara. Aqui no tem mulher...
GAROTO E o que eu tenho com isso?
PORTUGA Tem. A moada est cobiando o teu lol. Esto querendo te enrabar na marra.
(Pausa. O Garoto olha para os outros. Todos, com exceo de Bereco, esto com desejo
estampado no rosto. O Garoto est muito assustado)
PORTUGA Est vendo? Os filhos da puta est com o maior teso em voc. (Pausa) Agora,
voc sabe. Esta putada tem cagao de mim. Se tu entra na minha, j viu, n? Ningum vai ter
peito de pr o bedelho com voc. (Pausa) Como ? Quer que eu deixe voc a na mo das traas
ou...
GAROTO Voc est enganado comigo.
PORTUGA Prefere que eu deixe eles te pegarem? Olha que eles te arrombam. Agora, eu vou
de leve.
GAROTO Olha, me deixe me paz. Quando eu sair daqui te trago dinheiro. No deixa eles
botarem a mo em mim.
PORTUGA V se est escrito otrio na minha testa. Tu sai daqui e no volta nunca mais.
GAROTO Juro que no vou te largar na mo.
PORTUGA No, meu bem. Ou me sirvo a, ou te largo pro gango todo.
(Pausa. O Garoto olha mais uma vez para os outros presos. Esto todos na paquera)
PORTUGA Pode ser, meu bem?
(Portuga passa a mo no rosto do Garoto, que, com nojo d um tapa no rosto dele. Todos
levantam-se imediatamente)
LOUCO Enraba! Enraba!
PORTUGA Agarra ele, gente!
BAHIA Vai entrar em vara.
TIRICA Agora quero ver quem macho.
FUMAA Enraba! Enraba!
TODOS Enraba! Enraba!
(Todos agarram o Garoto que, em desespero, debate-se furiosamente. Bereco pula no meio do
bolo e comea a distribuir pancada. Os presos revidam. O pau come. Bereco consegue puxar o
Garoto para trs e encara todos)
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FUMAA Foi bom esse lance. At o Louco se tratou. Pra ele no deu, bicha mesmo.
TIRICA Foi esse Portuga que ficou me gozando. Isso d terra.
BAHIA Com a gente no deu.
PORTUGA Ningum aqui veado.
TIRICA O Bereco tambm no foi.
FUMAA Porque no quis. Agora, voc quis pacas. Deu at d. Mas, que nada. No enganou
ningum.
BAHIA Nem vai enganar nunca mais.
BERECO Pra de chorar, Garoto. Ningum te machucou. (Pausa) Pra, anda! J mandei.
BAHIA No chora no, menina, logo voc acostuma.
PORTUGA No v o Tirica? Agora acabou a banca. Daqui pra frente vai ser menina.
FUMAA Sabe que quando o Portuga falou o papo do Morcego, eu pensei que o Tirica era
gilete? Agora vi que nem isso o filho da puta .
(Tirica est quieto, estourando de raiva. A alegria do pessoal vai passando aos poucos. O
Garoto solua)
FUMAA Pra com esse enxame, Garoto.
BAHIA No falta prega nenhuma a, no.
PORTUGA Chorar no adianta. V o Tirica, que puto velho, t bem quietinho.
BERECO Agora, chega. V se dorme. Daqui h pouco trocam a guarda e tu se arranca. Pior
sou eu, que porque apaguei um sacana, vou ficar aqui a vida toda.
GAROTO Se dane!
BERECO (D um pontap no Garoto) Quero te dar uma colher de ch e ainda azeda, seu
veadinho!
(Todos vo se acomodando nos seus cantos. Portuga se distrai. Tirica puxa a colher e
rapidamente a crava nas costas de Portuga)
PORTUGA Ai! Ele me furou!
TIRICA Eu te jurei, seu merda! Pega! Pega mais essa!
(Portuga cai. Tirica cai em cima dele e continua espetando com fria. Os outros s olham)
TIRICA Porco! Nojento! Corno! Filho da puta! Porco de merda! Ri, agora, corno manso! Ri!
Ri, que eu estou mandando! Ri! Anda! Filho da puta!
(Tirica continua espetando sem que algum faa um gesto para det-lo. Por fim, ele cansa, pra,
fica em p. Est aparvalhado. Depois de algum tempo, cai em pranto histrico. Fumaa pega um
pano preto e pendura na janelinha da porta. Todos, como que tomados, pegam as canecas e
comeam a bat-las. Logo comea a vir barulho idntico de fora de cena, como se fosse de
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outras celas. No auge do barulho, escuta-se o ferrolho correr. Pra todo o barulho como por
encanto. Entra a guarda)
1 GUARDA Todo mundo de nariz na parede. Anda! Seus filhos da puta! No podia esperar
mais um pouco pra aprontar o salseiro? Mais dez minutos e era a rendio que ia resolver essa
alterao. Filhos da puta!
2 GUARDA Apagaram um!
1 GUARDA Um a menos pra encher o saco. Manda buscar a maca. (Um guarda sai)
2 GUARDA Deve Ter sido esse. (Aponta o Tirica que est com a colher na mo)
1 GUARDA Quem foi? (Dirige a pergunta para Bereco)
BERECO No sei. Eu estava dormindo.
1 GUARDA Tava todo mundo dormindo, n? T bem. Arrasta esse pra solitria. Tem que ser
algum, n? Esse a serve. Desce ele.
(Os dois guardas entram com a maca. Botam Portuga dentro e saem)
1 GUARDA (Agarra Tirica) Vamos indo.
(Sai toda a guarda. A porta fecha. O ferrolho corre. Os presos voltam para seus lugares. Esto
todos deprimidos. O Garoto fica em p no meio da cela. Est muito abatido. Fumaa e Bereco
sentam-se na cama. O Louco encolhe-se em posio fetal e comea a gemer. Bahia vai at a
porta e fica espiando por ela. H uma grande Pausa. Um terrvel silncio)
BAHIA J esto mudando a guarda. (Pausa)
FUMAA O Garoto que feliz. Logo est na rua.
(Pausa. O ferrolho corre outra vez. A porta se abre. Entram os guardas, acompanhando o
carcereiro)
CARCEREIRO Jos Claudio Camargo.
GAROTO Eu.
CARCEREIRO Pode vir.
(O Garoto sai devagar, com profunda tristeza. Mais uma vez a porta fecha-se)
FUMAA Eu que queria me mandar. (Pausa)
BAHIA (Da janelinha) J est amanhecendo. (Pausa longa)
BAHIA J esto servindo caf no xadrez um. (Pausa longa)
BERECO ... Mais um dia...
FIM