A peça "Mantenha fora do alcance do bebê" retrata o desespero de uma mulher para adotar um bebê pré-determinado, questionando o sentido da vida e da busca pela fuga da solidão. A montagem usa diálogos frenéticos e silêncios para revelar os abismos humanos, com um clímax na entrada do marido da mulher e um final explosivo marcado por música de Nina Simone. Apesar de amarrada à estrutura do palco italiano, a peça provoca reflexões existenciais por
A peça "Mantenha fora do alcance do bebê" retrata o desespero de uma mulher para adotar um bebê pré-determinado, questionando o sentido da vida e da busca pela fuga da solidão. A montagem usa diálogos frenéticos e silêncios para revelar os abismos humanos, com um clímax na entrada do marido da mulher e um final explosivo marcado por música de Nina Simone. Apesar de amarrada à estrutura do palco italiano, a peça provoca reflexões existenciais por
Descrição original:
crítica do espetáculo Mantenha fora do alcance do bebê
A peça "Mantenha fora do alcance do bebê" retrata o desespero de uma mulher para adotar um bebê pré-determinado, questionando o sentido da vida e da busca pela fuga da solidão. A montagem usa diálogos frenéticos e silêncios para revelar os abismos humanos, com um clímax na entrada do marido da mulher e um final explosivo marcado por música de Nina Simone. Apesar de amarrada à estrutura do palco italiano, a peça provoca reflexões existenciais por
A peça "Mantenha fora do alcance do bebê" retrata o desespero de uma mulher para adotar um bebê pré-determinado, questionando o sentido da vida e da busca pela fuga da solidão. A montagem usa diálogos frenéticos e silêncios para revelar os abismos humanos, com um clímax na entrada do marido da mulher e um final explosivo marcado por música de Nina Simone. Apesar de amarrada à estrutura do palco italiano, a peça provoca reflexões existenciais por
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A plenitude est fora do nosso alcance -
03/07/2015
Por Caio Jade Puosso.
Mantenha fora do alcance do beb um dos trs projetos que integram a I Mostra de dramaturgia em pequenos formatos promovida pelo Centro Cultural So Paulo (CCSP). O texto premiado de Silvia Gomez trazido para o palco por uma equipe que conta com a direo e a cenografia de Eric Lenate e com a encenao de Dbora Falabella, Anapaula Csernik, Jorge Emil e Diego Dac. A montagem capta o carter frentico, sonoro e pulsional do texto de Silvia Gomez e elabora um contexto cnico que acompanha o tom absurdo que a narrativa delineia. Desde a abertura da pea que suscita a lembrana de estarmos em um show de mgica no circo somos postos claramente diante de um teatro absurdo. Um lobo de terno e gravata (Diego Dac), uma figura paradoxal ao mesmo tempo selvagem e domesticada , se faz anfitrio e contra-regra da narrativa cnica, e permanece presente por quase todo o tempo. Seu silncio marca um forte contraponto em relao ao falatrio intenso que as duas mulheres (Dbora Falabella e Anapaula Csernik) promovem. A narrativa gira em torno de uma mulher (Dbora Falabella) que quer desesperadamente adotar um beb. Em um escritrio de uma repartio pblica surreal marcada pelas diferentes cores, fortssimas, projetadas no fundo do palco por luzes de ribalta, pela sonoplastia sombria, susto e suspense, e pelos objetos que passeiam em cena -, uma funcionria (Anapaula Csernik) entrevista a mulher que quer um beb; entre ascenses e quedas de humor das personagens, aos poucos uma espera angustiante tecida. O beb ideal desejado pela mulher todo pr-determinado, muito bem rotulado e devidamente ensinado. Um beb pronto, tal qual uma mercadoria. Adotar, comprar... a mesma coisa? Mais que uma histria materna, temos um forte e contundente questionamento sobre o sentido da vida. A vida nascente que desesperadamente exigida pela futura e inadequada - me, parece ser uma vida ampla: uma vida toda, que se abre e se revela vazia, tanto nos dilogos frenticos das personagens, quanto em seus silncios. A busca pela fuga da solido, a resposta ao sentido da vida, essa impassvel esfinge que eternamente nos fita e nos desafia, so temas que pontualmente se revelam, como pontos de luz em meio insanidade, e que logo voltam a girar com os discursos entrecortados e enlouquecidos das personagens. O beb a finalidade da existncia daquela mulher. Esperava a mulher pelo beb como os dois personagens de Beckett esperavam por Godot? Talvez no; mas Mantenha fora do alcance do beb constri fissuras no dia a dia ordinrio de seus personagens incomuns atravs do terror dos silncios, risos e dilogos, revelando, talvez, os abismos que nos fundam e nos constituem. Despido de toda humanidade, o drama dos personagens tece uma linha narrativa que beira a loucura, mas que segue a estrutura clssica: introduo-desenvolvimento-desfecho. O clmax surge graas entrada do marido (Jorge Emil) da impossvel me. O final explosivo - pice apocalptico, mas danante - marcado pela msica de Nina Simone Ain't got no, I got life que pontua mais uma vez o vazio existencial, condio suprema, de ser gente. Como um todo, a montagem parece provocativa, inquietante, mesmo amarrada forma rgida do palco italiano. Em meio sociedade do espetculo, onde todo espectador espera ansiosamente o momento prestabelecido de participar com palmas e gritos (que foram abundantes), o teatro de Mantenha fora do alcance do beb cortante ainda que conformado caixa-preta. Seus temas, to bem amarrados esttica cnica, atravessam as pr-determinaes e os moldes espetaculares nos quais se inserem e, por fim, apontam para reflexes existenciais muito interessantes.