Um Mal Chamado Codependencia
Um Mal Chamado Codependencia
Um Mal Chamado Codependencia
Por trs da dinmica familiar na qual impera a figura do cuidador pode haver um padro
traioeiro de relacionamento e interao, ocultando fragilidades emocionais
Considero relevante escrever sobre este tema, no s por ele prevalecer nas discusses
atuais, como para evitar que pais e educadores perpetuem o mesmo ciclo de abusos e
interao familiar disfuncional que geram filhos co-dependentes ou portadores de outras
doenas.
Minha prtica clnica revela como a aplicao de Tcnicas de Educao Disfuncionais e
um ambiente familiar contaminado pelo alcoolismo e outras desordens compulsivas
podem comprometer o desenvolvimento humano e favorecer o surgimento de doenas,
mais enfaticamente desta de que trato aqui, a Co-dependncia.
Infelizmente, muitas famlias esto imersas em situaes problemticas, mas preferem a
acomodao transformao. Afinal, transformao requer trabalho rduo e gera
desconforto. Muitas vezes conviver com um problema conhecido mais fcil. A
negao do problema uma forma de manter a doena, evitar os sentimentos de
ansiedade, medo, culpa, e preservar a homeostase familiar.
Inicialmente, acreditava-se que as razes da Co-dependncia estavam relacionadas s
experincias de abuso da infncia e maneira como fomos afetados pela convivncia
com pessoas viciadas em lcool ou com outras desordens compulsivas.
A convivncia com algum doente e fora de controle por causa da dependncia qumica
parecia determinar os sentimentos (vergonha, medo, raiva, dor) e comportamentos dos
outros membros da famlia. O membro viciado tornava-se o foco principal da famlia,
mobilizando os demais para assumir seus cuidados de maneira compulsiva. Na verdade,
codependentes e dependentes qumicos apresentam condies fsicas e emocionais
similares - um viciado em drogas, o outro, em relacionamentos obsessivos.
Porm em alguns casos, observou-se que, quando os alcolatras ficam curados, o
comportamento co-dependente da famlia permanece e s vezes at se intensifica.
Ento, passou-se a suspeitar que as causas ocultas dessa doena antecedessem o vcio da
bebida, e que outros fatores poderiam produzir um co-dependente.
Sem dvida, ter um educador negligente e abusivo e um ambiente familiar contaminado
por vcios e desordens compulsivas so fatores intimamente relacionados ao surgimento
da Co-dependncia em outros membros da famlia, mas definitivamente no so os
nicos capazes de deflagrar a doena.
Embora cada co-dependente apresente uma experincia nica originada de sua
convivncia familiar e de sua personalidade, um ponto comum aparece em todas as
histrias de Co-dependncia - a influncia dos outros sobre o comportamento do codependente e a maneira como o co-dependente tenta influenciar os outros (sejam
alcolatras, sejam viciados em jogos ou compulsivos sexuais, sejam indivduos com
reaes excessivamente emocionais ou indivduos sem autonomia financeira).
suas necessidades bsicas supridas, no se sentem dignas de afeto e temem o abandono para evit-lo, quando adultas cuidam compulsivamente dos outros.
No extremo oposto, as famlias que protegem excessivamente os filhos, no lhes
permitindo enfrentar as conseqncias do prprio comportamento e fazer suas prprias
escolhas. A superproteo dos pais retarda o desenvolvimento da autonomia, e do
interesse dos filhos por atividades extrafamiliares. Esses pais com freqncia
apresentam muita intimidade com os filhos, fazendo deles seus confidentes e
compartilhando segredos que esto alm do seu nvel de entendimento. Ausncia de
hierarquia e excesso de intimidade so atitudes abusivas.
Pessoas que foram criadas em lares disfuncionais tm seus limites danificados de vrias
maneiras, sendo protegidas em demasia ou insuficientemente. Os pais co-dependentes
sempre atuam nos extremos, podem ser muito rgidos com os filhos na disciplina ou
totalmente permissivos.
Se os pais orientam de maneira inadequada o estado de dependncia da criana, esta se
torna ou excessivamente dependente, sentindo-se necessitada e carente em excesso, ou
antidependente, quer dizer, desprovida de necessidades e desejos.
Crianas criadas em famlias disfuncionais podem parecer comportadas, ajustadas,
empreendedoras e bem-sucedidas; ou mimadas, dominadoras e autodestrutivas.
Ambos os conjuntos de caractersticas podem refletir as adaptaes internas que essas
crianas fizeram para sobreviver na respectiva famlia disfuncional. Mas sabemos,
agora, que esses ajustamentos conduzem co-dependncia na idade adulta.
Abuso e Co-dependncia
Filhos de pais disfuncionais podem sofrer todas as formas de abuso manifestas ou
veladas (fsico, sexual, emocional, intelectual e espiritual). E o abuso pode conferir
poder vtima ou debilit-la.
Uma das principais caractersticas que distinguem um sistema familiar disfuncional de
um funcional que neste h uma forte aliana entre os pais, que cooperam para a
resoluo de conflitos e para a satisfao das necessidades dos filhos. Alm disso, usamse do papel de pais para exercerem autoridade. Na famlia disfuncional, as crianas
existem para suprir as necessidades dos adultos.
Crianas devem simplesmente ser crianas, dedicando-se s tarefas de sua faixa etria
que promovam seu desenvolvimento. No responsabilidade das crianas zelar pelos
pais e pelos irmos, dos pais. As formas de abuso sexual e emocional so os mais
alarmantes exemplos de crianas sendo usadas para satisfazer as necessidades dos pais.
identificao e diagnstico
dificuldades;
Relacionamento primrio com um dependente qumico ativo durante
pelo menos dois anos sem procurar ajuda externa;
Preocupao com o outro se transforma em obsesso;
Negligncia pessoal x zelo excessivo pelos outros;
Autovalorizao reduzida;
Recusa em gozar a vida;
Trabalho compulsivo;
Perfeccionismo;
Sentimento de culpa
Sentimento de obrigao;
Fuga de relacionamentos para no ter intimidade;
Fuga de compromissos.
Abuso Emocional
provavelmente a forma mais freqente de abuso. expresso pelo abuso verbal, abuso
social e pela negligncia ou abandono das necessidades do outro. O abuso verbalizado
so os gritos, xingamentos, o sarcasmo e a admoestao humilhante e desrespeitosa, que
faz os filhos sentir-se inferiores e inadequados. Pais crticos geram filhos temerosos de
tudo: de no conseguirem fazer nada certo, de no serem aprovados na escola, de no
aprenderem lngua estrangeira.
Em qualquer sistema familiar, at mesmo nos funcionais, os pais ocasionalmente
deixam de agir em benefcio das crianas. No existem pais perfeitos, e provvel que
todos sejam pouco atenciosos de vez em quando. Porm, responsabilizam-se por suas
imperfeies e pedem desculpa. Pais saudveis confrontam a criana quando algo no
adequado mas de maneira firme, sem ferir-lhe a identidade.
Negligenciar qualquer necessidade do filho, interferindo arbitrariamente na escolha e
acesso aos amigos (vida social), como alimentao, vesturio, abrigo, assistncia
mdica, carinho fsico e emocional (tempo, ateno, educao), informao e orientao
sexual e financeira expor as crianas a situaes de abuso, dificultando seu
desenvolvimento em direo maturidade.
"A PRIORIDADE DO CUIDADOR IMPEDIR QUE AS
PESSOAS CRESAM. O DISCURSO USUAL DO CODEPENDENTE "DEPOIS DE TODA MINHA DEDICAO,
VOC NO PODE IR EMBORA"
Dependncias qumicas (drogas ou alcoolismo), vcio de sexo, compulso por jogo,
vcio de religio, distrbios alimentares, consumismo compulsivo, vcio de trabalho ou
de qualquer ordem esto entre as principais razes que levam os pais a negligenciar os
filhos. Os pais co-dependentes talvez experimentem vcios, doena fsica ou mental
como uma maneira de evitar a realidade por no suport-la.
Todo vcio um processo compulsivo destinado a distrair a pessoa e afast-la de uma
realidade intolervel. Como tem a capacidade de mascarar a dor, seja qual for o vcio,
ele se torna a mais alta urgncia na vida pessoa, tomando seu tempo e ateno de outras
prioridades como seus filhos, que precisam de orientao e amor dos pais.
O abuso intelectual surge quando o pensamento da criana ridicularizado, quando no
permitido expressar o que pensa ou ainda quando reprovada porque seu pensamento
difere do dos pais. O abuso intelectual tambm ocorre quando os pais invadem o
processo de tomada de deciso dos filhos e decidem tudo por eles ou se omitem
totalmente. No ensinado aos filhos que ter problemas e solucion-los normal.
A represso da liberdade de pensamento das crianas impede a construo da identidade
e individuao. Essas crianas, quando se tornam adultas, esperam que as outras pessoas
lhe digam como fazer praticamente tudo. Algumas delas procuraro se casar com
cnjuges controladores ou freqentar ambientes onde haja regras muito rgidas. A
prioridade do cuidador impedir que as pessoas cresam. O discurso usual do codependente : "Depois de toda minha dedicao, voc no pode ir embora".
Atuao da Codependncia
Relacionamentos - O co-dependente tem hbitos e comportamentos autodestrutivos,
que o mantm preso a relacionamentos no gratificantes e o impedem de encontrar a
felicidade na pessoa mais importante de sua vida: ele mesmo. Incapacidade de manter
intimidade uma das caractersticas mais marcantes do co-dependente.
Vcios - O codependente recorre aos vcios para fugir dos confrontos e das
responsabilidades. Assim como vcio ajuda o dependente a sentir-se temporariamente
melhor, para o co-dependente, o resgate do outro representa uma fuga das prprias
responsabilidades. O co-dependente no se sente digno de amor, e assim, se esfora para
ser necessrio - este seu padro de relacionamento e interao.
Doena fsica - Se por alguma razo o co-dependente no lanar mo de algum vcio ou
compulso em busca de alvio, os sentimentos se expressaro por meio de sintomas
crnicos persistentes que os mdicos no conseguiro curar. Muitas pessoas so
acometidas por doenas fsicas desse tipo quando tentam evitar a dor de se apropriar de
sua realidade e a dificuldade de aprender a vivenciar e expressar os sentimentos.
Espiritualidade distorcida ou inexistente - Dificuldade de acreditar em um poder
superior. Sentimentos de inferioridade e imperfeio impedem a vivncia da
espiritualidade, assim como a arrogncia e a mania de grandeza - neste caso considerase desnecessria a proteo superior.
Satisfao das prprias necessidades - Crianas que tiveram todos os seus
desejos e necessidades satisfeitos pelos pais em vez de serem educadas por
eles para supri-los de maneira apropriada geralmente se tornam
excessivamente dependentes na idade adulta. Eles tm conscincia de suas
necessidades e despendem enorme energia tentando fazer com que outra
pessoa as satisfaa, lamentando-se ou exercendo alguma outra forma de
manipulao.
Danos emocionais - Geralmente os co-dependentes so pessoas ressentidas -
exemplo, ser arrastadas para o meio do casal, o pai fica com um dos filhos para si e a
me fica com o outro.
A seguir, ilustro um quadro clnico: "Famlia com filha nica que dormiu na cama com
o pai at os 10 anos, enquanto sua me dormia no colchonete no mesmo quarto. Nesta
situao ambos esto de acordo com o relacionamento ntimo entre o casal e a criana, e
os pais ficam satisfeitos pelo fato de a filha estar desempenhando este papel na famlia.
A funo desta filha era mascarar a falta de desejo e intimidade deste casal".
Realidade pessoal distorcida
Falta identidade corporal ao codependente: extremos fsicos podem se
manifestar e at mesmo hbitos desleixados
A realidade do co-dependente se mistura com a vida da outra pessoa, e ele tenta
fazer que o outro seja sua prpria extenso. O co-dependente tenta interferir at na
aparncia do outro, na maneira como ele se veste, em quanto deve pesar, o que
pensar e sentir, o que fazer ou no. certo afirmar que a frustrao e confuso do
codependente se restringem basicamente s tentativas de controlar a realidade de
outras pessoas e do fato de permitir ser controlado. Podem atingir quatro nveis: