Revista Guitarra Clássica n3
Revista Guitarra Clássica n3
Revista Guitarra Clássica n3
Número 3 – Novembro
o 2010
Fábio ZZanon
Agusto
o Pachecco
Fernando Sor
J. A. Alm
meida P
Prado
Guita
arra Clássica 1
Editorial:
Consideremos o problema da nomenclatura em Portugal: guitarra, guitarra clássica, viola, viola
dedilhada e a combinação viola clássica. Este(s) instrumento(s) pode(m) ser executado(s) por um
guitarrista, guitarrista clássico, violonista ou violista (este último com maior conotação no campo do
fado). Durante bastante tempo existiu o curso complementar de viola dedilhada seguido pelo curso
superior de guitarra. Nada como a polivalência instrumental. Os nossos colegas brasileiros têm bem
definido o nome do seu instrumento e a denominação do seu intérprete. Neste número, a inclusão de
textos de músicos brasileiros lançou a discussão sobre um eventual câmbio de termos brasileiros para
termos portugueses. Decidimos rejeitar esta alteração pois: a) tais termos serão compreendidos por
todos os leitores; b) a capacidade de entendimento entre as diversas dimensões da língua portuguesa
deverá ser estimulada, ao invés de acordos unificadores que não reúnem o consenso de nenhum dos
povos.
Quanto ao nome do instrumento, a nossa escolha está patente no nome da revista.
Boas leituras!
Pedro Rodrigues
A dois meses de celebrar um ano de existência, a Revista Guitarra Clássica traz‐lhes um dos maiores
impulsionadores da guitarra clássica do hemisfério sul, Fábio Zanon. Guitarrista brasileiro, vencedor de
vários prémios internacionais entre os quais GFA e Francisco Tárrega, Zanon aborda temas como o seu
famoso programa de rádio, o panorama guitarrístico português e brasileiro, entre outros assuntos.
Contamos também com uma crítica à gravação integral das obras de Radamés Gnattali por Victor
Garbelotto; uma entrevista a Augusto Pacheco, professor no Instituto Piaget de Viseu; dois artigos de
análise interpretativa e uma peça do jovem compositor português Joaquim Pavão.
Mais uma vez incentivamos aos leitores a escreverem para o espaço do leitor emitindo as vossas
opiniões e críticas, para tal basta enviarem um e‐mail com o assunto “Espaço do Leitor” para
revistaguitarra@gmail.com.
Os nossos agradecimentos especiais a Joaquim Pavão, Romolo Calandruccio e Gilvano Dalagna pela
importante colaboração nesta edição.
João Henriques
Índice:
Espaço do Leitor 3
Entrevista a Fábio Zanon 4
Entrevista a Augusto Pacheco 12
Novas Gravações 18
As fontes de origem de op. 9 e op. 19 de Fernando Sor 19
Análise para intérpretes – J. A. Almeida Prado 30
Páginas com Música 46
Equipa: Romolo Calandruccio, Gilvano Dalagna, João Henriques, Tiago
Cassola Marques, Joaquim Pavão, Pedro Rodrigues
Guitarra Clássica 2
revistaguitarra@gmail.com
Estou lendo a revista e gostando
muito. Acredito que seja mesmo
esse o caminho das publicações, a
internet. É muito versátil. Ao
mesmo tempo que leio uma
entrevista, marco o nome do
entrevistado, solicito uma
pesquisa do nome, pronto, estou
assistindo, via youtube, um vídeo
do violonista (guitarrista) em um
concerto. Fantástico!
Sucesso sempre.
Eduardo Knaip (Brasil)
Muitos parabéns pela criação
desta revista, a qual veio
colmatar uma enorme lacuna no
nosso panorama guitarrístico.
Mário Carreira (Portugal)
Muitos parabéns pelo excelente
trabalho!
Hugo Sanches (Portugal)
Guitarra Clássica 3
Entrevista a Fábio Zanon
Por Pedro Rodrigues
Revista Guitarra Clássica: O Fábio é um dos guitarristas que mais uso faz das tecnologias de informação
nomeadamente através do conhecido fórum Violão.org. Neste fórum existe uma forte componente de
interacção não só através do esclarecimento de dúvidas mas igualmente entrevistas on‐line e inquéritos
entre outros. O que o motivou a participar tão activamente e que resultados retira para a sua vida
musical dessa interacção?
Fábio Zanon: Eu acho que é preciso repensar a relação do artista de música clássica com a tecnologia de
informação e com o público.
É possível que o formato do artista que fica oculto atrás de sua fama, em uma torre de ametista,
estático como uma relíquia, bem... pode ser que ainda perdure em alguns casos, mas acho totalmente
fora da realidade do século XXI. Há 100 anos, a música clássica era o ponto nevrálgico das discussões
artísticas; hoje, basta abrir um jornal para ver que não é mais. Nossa relação com o público tem de ser
mais direta e mais instrutiva. Não é mais possível partir do pressuposto que o público tem uma cultura
musical forte, de berço. Não tem, e não é para ter, porque música não é matéria escolar, é um pedaço
muito mais intenso e muito mais divertido de nossas vidas.
Então eu acho que, sem querer entrar para a equipe do “eu‐também”, tento diversificar um pouco os
canais de comunicação com o público e ampliar a presença da música clássica e, por extensão, do violão.
Disso fazem parte meus programas de rádio, meus livros e artigos publicados, a curadoria de projetos,
as parcerias com artistas de outros gêneros e a participação em fóruns de internet.
É curiosa minha participação intensa no fórum violao.org, já que não tenho usado outros canais como
website, blog pessoal e MySpace, apesar de usar o facebook. Na verdade, observo que a relevância de
website e MySpace tem caído gradualmente. A mídia eletrônica é muito volátil.
No caso do violão.org, bem, o que acontece é que ele foi criado ainda quando a internet era uma
novidade, já tem 10 anos. Foram alunos meus que o criaram e, mais tarde, pediram para que eu
assumisse a moderação. No início era fácil, mas hoje temos mais de 5,000 membros inscritos e a
administração é bem mais complicada; agora temos 7 colaboradores para cuidar disso. Eu tento me ater
ao conteúdo, trazer informações sobre excelência musical, aumentar o conhecimento do repertório,
desmistificar a profissão.
Em troca, fico mais conectado com as preferências e desejos do público específico de violão. De que os
alunos sentem falta? Quais as principais lacunas? Se preparo um programa de música barroca, quais são
as obras mais tocadas e quais o público sente falta de ouvir com mais frequência?
Observo também que, ao divulgar um evento, o fórum tende a ter um poder de irradiação mais intenso
e pontual que um canal mais genérico e superficial como o facebook.
Guitarra Clássica 4
Tenho
o também plaanos de, em algum momeento, escreverr um livro sob
bre a prática musical em geral
g e
sobree o violão em particular. Somente com ass mensagens que postei no
o fórum ao lon
ngo desses 10
0 anos,
tenho
o material sufiiciente para criar as bases d
de 3 ou 4 livro
os.
R.G.C
C: A outra área
a pelo qual é ssobejamente conhecido consiste na reallização dos prrogramas de rrádio A
Arte do
d Violão, O Violão Espan
nhol e O Violã
ão Brasileiro, este último constituído p
por 148 progrramas.
Quaiss as maiores su
urpresas que ssurgiram com
m este trabalho
o?
F.Z.: A
A primeira su
urpresa é constatar que material
m sono
oro ainda não é consagraado como fon
nte de
uisa para músicos. Há uma ausência quase total de an
pesqu nálises interprretativas baseeadas em gravvações.
Num instrumento cujo repertório pertence, majoritariam
mente, ao sécculo XX, isso parece um enorme
contraa‐senso.
A segundaa surpresa refere‐se à sériee O Violão esp
panhol,
bastante modesta
m em âmbito,
â que, aainda assim, foi
f um
pouco difíccil de realizar pela escasssez de materrial de
pesquisa. A
A vasta maio
oria dos violo
onistas parecce não
saber que
e existem obras
o para violão de Xavier
Montsalvattge, ou que Moreno Torroba compôss nove
concertos para violõess e orquestra. Não enccontrei
praticamen
nte nenhumaa literatura ssobre o assunto, à
exceção de
e Falla e Ro
odrigo. Espero
o que o paíís que
sintetiza a linguagem do violão
o no imagginário
Xavier Mo
ontsalvatge
inteernacional estteja fomentan
ndo pesquisass acadêmicas sérias,
e que a falta de aceesso a elas ten
nha sido circunstancial.
Mas, claro, a maiorr surpresa foi a série brasileeira. Claro que
e eu tinha um
ma idéia da dim
mensão do traabalho,
pois n
não é possível, na música brasileira, falarr de um violão
o sem traçar u
uma transverssalidade de gê
êneros.
Mas, o que iniciallmente seria uma série de 50 program
mas cresceu facilmente para 148. Foi muito
estimulante investtigar a produ da Amazônia ou do
ução de música de violão de estados longínquos d
Nordeeste.
Uma surpresa negaativa foi constatar que, num cenário em
m que há centtenas de gravvações das ob
bras de
Villa‐LLobos, os outros maiores compositorees do Brasil ainda estão esperando um reconhecimento
intern dução de violãão, para não ffalar de expossição internacional. Claro que Gnattali te
no de sua prod eve um
o duo Assad e Mignone atraavés de meu ttrabalho e de Barbosa Limaa, mas compossitores
impulso através do
de primeira grandeeza como Guaarnieri, Santoro, Marlos No
obre, Almeidaa Prado, Guerrra Peixe, etc.. ainda
não estão
e sequer gravados com
mercialmente. Tive que en
ncomendar mais
m de 40 graavações em estréia
e
mund mpositores, e de outros meenos conhecid
dial destes com dos.
Guita
arra Clássica 5
artistaas dos anos 1
1920 e 30, com
mo Henrique Britto ou Roggério Guimarãães, fizeram u
um trabalho h
híbrido
de qu
ualidade surp
preendente. Há
H planos dee uma gravadora brasileira lançar um
ma coleção de
d CDs
conteendo toda a prrodução de violão em 78 ro
otações, o que
e é um acervo
o incomensuráável, comparáável ao
dos arrtistas flamen
ncos do mesmo período.
R.G.C
C: O crescentee engrandecim
mento e conso
olidação do reepertório de g
guitarra é alg
go que terá pa
aralelo
apena
as com o repertório de peercussão. Na sua
s colaboraçção com com
mpositores não
o‐guitarristass como
proceessa e apresen
nta inicialmente a informaçã
ão sobre a vertente idiomá
ática?
De um m generalizadaa, eu tento mostrar o que cconsidero mais relevante, d
ma forma bem dentro de exe
emplos
extraíídos do reperrtório históricco. Por exemp
plo, é possíve
el utilizar umaa obra para vviolino solo de
e Bach
para demonstrar
d u
uma escrita efficiente de po
olifonia implíccita, uma peçça curta de So
or para demo
onstrar
como funciona e escrita estritta em 3 parttes, uma Rosssiniana de Giuliani
G para demonstrar certas
possib
bilidades textturais de intteração com as cordas soltas,
s para demonstrar a
ou um Tárrega p
perso
onalidade sono
ora de cada co
orda.
Claro que pode soaar mais óbvio
o fazer o mesm
mo com obrass contemporââneas como B
Berio ou Carte
er, mas
eu no
oto que compositores não ggostam de see sentir guiado
os em suas esscolhas estéticcas, sua sono
oridade
ou su
ua linguagem harmônica. O
O máximo qu
ue me permitto são compo
ositores já hisstóricos como
o Villa‐
Loboss ou Britten.
Claro que hoje podemos nos permitir certas
técnicas esstendidas, en
ntão comentto um
m me deteer demasiado, as
pouco, sem
Heitor Villa‐LLobos possibilidades
p ura, de percussão e
s de scordatu
de sonoridades raras. Às vezes d
dá certo. Eu, sinceramente, acho que mu
uitos composittores fariam m
melhor
em see ater somente à técnica normal
n do insstrumento. Paara criar algo
o de qualidade nessa verte
ente, é
precisso o talento de um Arthur K
Kampela ou allguém assim, e investigar p
por conta próp
pria.
C: No seu repeertório consta
R.G.C am 40 concerttos para guita
arra e orquesstra, muitos d
dos quais, estrreados
por sii. A presença, neste campo do repertório
o, de uma obra
a tão marcante como o Con
ncierto d’Aran
njuez é
algo o
omnipresente e que tende a
a influenciar o
os compositores com os qua
ais trabalhou??
Guita
arra Clássica 6
F.Z: Acho
A que a influência da Fantasia para um Gentilh
hombre é maais forte que a do Concerto de
Aranjuez! A linguaggem de Rodriggo já é uma ccoisa tão distaante da estéticca dos compo
ositores de ho
oje que
o quee eles mais ad
dmiram nele, na verdade, éé a transparên
ncia da orqueestração. E a FFantasia é exe
emplar
nessee aspecto, maiis que o Aranjuez.
Não saberia
s dizer se a influênciia vem diretamente dessa obra, mas a sonoridade eespanhola do violão
ainda captura a imaginação
i d muitos co
de ompositores, mesmo os mais
m insuspeeitos. Então, tento,
discreetamente, fazzer notar aoss compositorees que o violão é maior que isso, quee é preciso que
q se
conso
olide uma linguagem mais aabstrata tamb
bém.
Eu ten
nho a sorte, h
hoje em dia, d
de poder sugeerir repertório
o à maioria daas orquestras com as quais tenho
trabalhado. Aos po
oucos, os maestros vão notaando que exisste um campo o a se explorar. Aqui
o muito amplo
no Braasil, os concerrtos de Migno
one e Gnattali estão graduaalmente se torrnando mais cconhecidos.
R.G.C: Fale‐nos um poucco do seu últtimo disco, no qual
gravou o Co
oncerto de Francis Hime.
F.Z: Francis Hime é um do
os mais imporrtantes cancio
oneiros
brasileiros. Fez parceriass com Viníciuss de Moraes, Chico
Buarque, enfim, todos conhecem ssuas cançõess, que
foram gravaadas por Elis R
Regina, Maria Bethânia, Gall Costa
e assim por diante. Meenos conhecid
da é sua face
eta de
compositor sinfônico. Elee estudou com
mposição de trilhas
sonoras seriamente, é um ótimo orquestradorr e já
escreveu du
uas sinfonias ee uma ópera.
Esta obra fo
oi escrita sob medida para o grande violonista
Raphael Rab
bello, que, infelizmente, faaleceu aos 33
3 anos
de idade anttes de poder eestreá‐lo. Ou seja, é um concerto
Franccis Hime co
om uma poéttica de músicaa popular brassileira, apesarr de se
submeter a um esq
quema formal clássico de faantasia‐scherzzo‐rondó.
O pro
oblema é quee Raphael eraa um super‐dotado que esstimulou Fran
ncis a escreveer muito – e muito
difícil. O concerto originalmentee durava 45 minutos,
m e, co
om algumas incisões,
i acab
bou sendo red
duzido
para 4
40. O violão to
oca quase o teempo todo. Issso acabou de
esestimulando nistas a tocá‐lo.
o outros violon
da Orquestra Sinfônica do EEstado
Entrettanto, o maesstro John Neschling, que erra então o maaestro titular d
de São Paulo, apreesentou‐me ao
o Francis e deecidimos estre
eá‐lo e gravá‐‐lo. A gravado
ora com que FFrancis
trabalha, a Biscoito
o Fino, tambéém tem um selo
s clássico voltado
v para as
a gravações daquela orqu
uestra,
então
o ficou tudo reelativamente ffácil.
Infelizzmente o maeestro Neschlin
ng deixou o cargo nesse hiiato, mas acabamos por esstrear a peça com a
regen
nte mexicana Alondra de laa Parra, o quee foi uma bên
nção, pois ela realmente co
onseguiu cond
duzir a
estréia e a gravaçãão com muita sabedoria. Esspero, entretaanto, poder aalgum dia tocáá‐lo também com o
maesttro Neschling,, que foi o meentor do projeeto.
Guita
arra Clássica 7
É uma obra gigantesca, para uma orquestra toda dobrada, com seção de metais e madeiras completa,
harpa, piano e 7 percussionistas. É uma sensação inusitada tocar um concerto para violão com uma
sonoridade tão cheia e um gesto musical tão amplo.
Acho positivo para o violão ser contemplado com uma obra bastante original, que vem da pena de um
compositor que, com sua enorme presença popular, atrai também este público para o violão solista.
R.G.C: A profusão de festivais dedicados exclusivamente à guitarra não deixa de ser uma resposta à
ausência deste instrumento nos festivais mais mediáticos. Poderá dar‐se o caso destes festivais
perpetuarem consequentemente a ausência em meios considerados mainstream? Qual o caminho futuro
que visiona para a guitarra?
F.Z: Não é uma coisa possível de se escolher. A guitarra está onde está, a história do instrumento e do
repertório colocou‐a onde está.
Eu acho que a guitarra é um instrumento absolutamente sensacional, com recursos musicais e uma
beleza sonora que nenhum outro instrumento possui. O que tem de ser questionada é a maneira como
se encara o patrimônio da música clássica ocidental.
Apesar de se arvorar de universal, a música clássica é um fenômeno tipicamente centro‐europeu. Se
colocarmos de lado os especialistas, quando falamos de música clássica os modelos são os compositores
de França, Itália e Alemanha, com “anéis” gradualmente mais periféricos que abarcam leste europeu,
Ibéria, as Américas e Ásia.
Consequentemente, a veiculação de música para o público em geral tende sempre a girar ao redor do
que é modelar: Bach, Mozart, Beethoven, Verdi, Chopin, Debussy, etc. Como o repertório para violão
mal existia até o século XX, é muito difícil ingressar nesse clube. Muito se critica os guitarristas por não
darem atenção à música de câmara. Mas imaginemos um concerto com um quarteto de cordas: vamos
lá tocar Boccherini, que considero um compositor sumamente interessante mas, além da guitarra ter
um papel muito secundário, o mesmo grupo vai tocar uma obra de Mozart na sequência e Boccherini
ficará bem diminuído.
Eu acho essa uma maneira equivocada de se encarar o repertório. Nenhum apreciador de cinema assiste
somente aos filmes de Bergman, Tarkovsky e Resnais, mas na música clássica há essa impressão de que
o que não é do primeiríssimo escalão não merece ser ouvido. Como a nossa vida seria muito mais
tediosa sem os Frank Capras e Steven Spielbergs da música, como Regondi ou Ponce. Nós, guitarristas,
temos de promover uma relação mais viva e contemporânea com a música. Não se trata de questionar a
posição central que Beethoven tem na história da música, imagine só, justo eu que tenho um retrato de
Beethoven no estojo da guitarra. Trata‐se de diversificar, e com isso diversificar a nossa própria gama de
reações frente ao fenômeno musical.
Então, acredito que o espaço dentro dos eventos mainstream tende a ser restrita, como sempre foi, e
normalmente reservada àqueles guitarristas capazes de desenvolver uma mitologia pessoal, como
Guitarra Clássica 8
Segovvia, os Romerros, Williams, etc. A especificidade da guitarra,
g entreetanto, sempre será um attrativo
mero mais reduzido de ouvvintes, o que deve manterr ainda os eveentos como fe
em si,, para um núm estivais
de guitarra vivos po
or muitos ano
os à nossa fren
nte.
O quee os guitarristtas podem fazzer? Primeiro,, é preciso se
er intransigentte na escolha de repertório
o. Não
quero
o dizer com isso que só devvemos tocar B nal e obras contemporâneaas muito sérias, mas
Bach, Nocturn
m seriedade e com conhecimento do nossso próprio câânone.
que teemos de orgaanizar nosso reepertório com
Quanttos violonistaas seriamentee tocam Franccesco da Milaano? Pois é, se
s nós não promovermos o que
temoss de melhor, fica um poucco difícil reveerter os esterreótipos que nos afligem. Segundo, é preciso
p
aglutinar cada vez mais quem reealmente apreecia a guitarra. Se um prod
dutor de umaa série de mússica de
câmara percebe qu
ue um festivaal de guitarra consegue arregimentar um público dee 500 pessoass, seria
muitaa estupidez nãão incluir a guitarra em sua programação
o. Terceiro, oss guitarristas ttêm de se inte
eressar
por música
m além da
d guitarra, see é que me faço
f entenderr. Quarto, preecisamos utilizar a tecnolo
ogia de
inform
mação em nossso benefício.
Veja q
que há 30 ano
os Piazzolla erra música pop
pular, e muitaa gente recrim
minava o duo A
Assad por toccar sua
músicca. Hoje Yo‐Yo
o‐Ma e Baren
nboim tratam Piazzolla com
mo repertório. No outro lad
do do espectro, me
unto se a mússica de piano de Hans Werner Henze ou Takemitsu é tão tocada quanto sua m
pergu música
para gguitarra. De uma certa form
ma, precisamo
os deixar um p
pouco de lado
o este complexxo de cachorrro vira‐
lata e admitir que, em certos asp
pectos, a guitaarra está à fre
ente dos acontecimentos.
R.G.C
C: Apesar de n
não estar ligad
do a uma uniiversidade, leccciona um leq
que restrito dee alunos através da
Funda
ação Magda TTagliaferro. Pa
ara futuros ca
andidatos, qua diais na selecção de
ais os seus criitérios primord
aluno
os?
que Pinto
Henriq Então
o há vários aspectos
a a se considerar. A
Acho que só posso
ensinar eestudantes qu
ue tenham um
m apreciável ggrau de auton
nomia.
Tamb
bém procuro d
distinguir aqueele estudante que demonsttra flexibilidad
de, que está aapto a experim
mentar
outras propostas. Muitas vezess vejo, especcialmente em
m master classes, que algu
uns estudante
es são
capazzes de tocar o
obras exigentees com muitaa precisão e e
entendimento
o, mas praticaam de uma fo
orma a
Guita
arra Clássica 9
congelar uma maneira de se tocar. É muito difícil conseguir qualquer espécie de resultado num aluno
que já tem tatuado no braço o que quer dizer.
Então, às vezes vejo um potencial maior num aluno regular que está aberto à experimentação, que em
um aluno de nível técnico superior que tem pouca maleabilidade.
Outra coisa que procuro, e que é difícil de detectar em um teste, é a garra do aluno. Nem sempre o mais
agressivo ou extrovertido é aquele mais disposto a fazer sacrifícios pessoais pela música, a realmente se
entregar ao estudo. Tenho um aluno na Fundação que me deixou intrigado; eu não tinha certeza se
deveria aceitá‐lo, porque outros tinham feito uma prova melhor que a dele. Mas deu para perceber que
aquilo importava muito para ele. Ele começou em agosto com dificuldade para montar peças simples de
Dowland; hoje está terminando de aprender o 1º movimento da Sonata de Koshkin, uma obra que está
bem acima de sua zona de conforto técnico, mas que ele tem muita vontade de aprender. O estudante
motivado consegue proezas desse tipo.
Outra coisa que me interessa é o aluno que ama a música e as artes. Claro que entendo quem tem uma
relação física com o violão, mas no longo prazo fico sem elementos para dialogar com um estudante que
não tem interesse em ouvir e estudar Bach, Haydn, Beethoven, Debussy, Stravinsky, etc.
R.G.C: Sendo há já diversos anos um conhecedor do panorama musical português que retrato faz e que
evoluções constatou ao longo desses percursos no nosso país?
F.Z: Por muito tempo, tudo o que sabia do violão português era a reputação de Duarte Costa. Depois de
conhecer Paulo Amorim em Londres, percebi que o país já estava num processo de equiparação a outros
centros musicais, com professores e concertistas muito experientes, como Piñeiro Nagy e Paulo Vaz de
Carvalho. E aí está a geração à qual você pertence, Pedro, que garante a Portugal uma vida guitarrística
plena, com estudantes sérios e competitivos no cenário internacional, cursos sólidos nas principais
escolas, festivais já com tradição, etc. Pelo que me contam, a vinda de Dejan Ivanovic a Portugal
também deu aos alunos mais jovens um impulso bastante forte pelo exemplo. Fico contente em ver que
algumas obras portuguesas para violão começam também a ser conhecidas fora do país. Sinto falta,
entretanto, de uma atividade mais regular de concertos nos maiores centros. Seria interessante para a
formação de público e referência dos estudantes que houvesse ciclos de concertos de violão nas
principais cidades, o que, até onde sei, ainda não existe de maneira constante.
Já em outras áreas, Portugal hoje tem uma ótima reputação como celeiro de bons cantores e de bons
projetos de música contemporânea, em larga escala pelo ótimo trabalho realizado por regentes como
Joana Carneiro e Osvaldo Ferreira.
R.G.C: Estimado Fábio, os nossos sinceros agradecimentos e aproveitamos para felicitá‐lo novamente
pelo Prémio Bravo ‐ Melhor CD Clássico do Ano que distinguiu a sua gravação da obra de Villa‐Lobos.
Alguns links onde poderá conhecer mais do trabalho de Fábio Zanon:
www.violao.org (fórum)
http://www.biscoitofino.com.br/ (editora)
http://vcfz.blogspot.com/ (arquivo dos programas apresentados na Rádio Cultura FM de São Paulo)
Guitarra Clássica 10
Fábio
o Zanon é autor do livro FFolha Explica
a: Villa‐Loboss.
Guita
arra Clássica 11
Entrrevista a A
Augusto P
Pacheco
Por JJoão Henriq
ques
Mais uma vez en
ntrevistamos um guitarrissta portuguêês: Augusto Pacheco, do
ocente no Insstituto
Piageet de Viseu, éé o nosso enttrevistado na
acional desta
a edição.
C: Comecem
R.G.C mos com o seu passad
do. Como su
urgiu o seu interesse p
pela música
a? Foi
incen
ntivado pela ssua família o
ou tomou esssa decisão dee forma indeependente?
R.G.C
C: Após term
minada a Liccenciatura na
n E.S.M.A.EE. com José Pina, estud
dou em Pariss com
Alberrto Ponce. Q pinião do contexto musical/guitarrísstico Parisien
Qual a sua op nse em relaçção ao
Portu
uguês?
Guita
arra Clássica 12
R.G.C: Actualmente é docente na Academia de Música de Vilar do Paraíso e no Instituto Piaget
de Viseu. O que pensa da transição dos alunos para o ensino superior? Acha que os programas
curriculares entre os Conservatórios e as Escolas Superiores/Universidades estão interligados
para permitirem uma evolução constante não só tecnicamente mas como também do
conhecimento musical?
A.P: Para começar, seria fundamental que todas as escolas de ensino básico/complementar
tivessem, ao nível da disciplina de Instrumento, o mesmo programa. Nesse campo ainda há
muito trabalho a fazer, teria que haver uma interligação muito maior entre todos os
professores, coisa que infelizmente não acontece. No entanto, penso que mesmo que se
conseguisse atingir essa uniformidade, haverá sempre níveis diferentes entre os candidatos ao
ensino superior. Penso que cabe a cada professor ter a sensibilidade para moldar o programa
de acordo com as necessidades dos alunos, esse trabalho deveria ser feito principalmente ao
nível do ensino superior, acho mesmo que aí as diferenças ainda são maiores, se não, veja‐se
os planos curriculares de cada universidade, há diferenças bastante notórias.
Por isto, respondendo concretamente à questão, acho que não.
R.G.C: Dentro do contexto do ensino, o Augusto estudou no ensino superior não há muito
tempo. Que comparação faz do curso em si em relação aos novos cursos de Bolonha?
A.P: Penso que os alunos têm uma formação mais abrangente, mas em termos práticos ainda
é cedo para fazer essa reflexão, este ano lectivo que se inicia é o primeiro com finalistas do
curso de Bolonha. Será que os alunos sairão a tocar mais e melhor?
Em relação ao curso anterior há uma questão prática que considero negativa, é a de que os
alunos têm menos tempo para estudar o instrumento, não só pela carga horária que agora é
maior, mas também, porque não me parece possível, fazer em três anos o que se fazia em
quatro.
Outra questão que me coloco e, já aflorei anteriormente, é a diferença de planos curriculares
entre as Universidades, mas há mais, não consigo entender um curso de música com
disciplinas como economia, matemática ou até inglês (menos mal), que eu saiba nos cursos de
medicina ou engenharia não existem as cadeiras de canto coral ou formação musical.
R.G.C: Visto leccionar em duas instituições não deve sobrar muito tempo para a sua agenda de
concertos. Tem sido difícil conciliar estas duas vertentes da música?
A.P: Sem dúvida que não é fácil, mas com método e muita organização lá vou conseguindo
conciliar.
Guitarra Clássica 13
R.G.C
C: Que projecctos leva a ca
abo actualmente? Algum
m projecto pa
ara o futuro??
A.P: Contin
nuo a dediccar algum tempo
t
aos meus duos
d com flaauta e violin
no, se
bem que em
e boa medida dependente
dos concerrtos que po
ossam surgir. No
no tive mais solicitaçõess para
presente an
concertos a
a solo, o q
que me levvou a
abrandar o
o ritmo de trabalho desses
d
mesmos projectos.
p N
Neste mom
mento
estou a trabalhar no ssentido de gravar
g
um
u CD com
m a música de câmara para
Duo Pourquooi Pas
Augussto Pacheco e R
Raquel Lima guitarra de Lop
pes‐Graça, id
deia que surggiu no
decorrer da elab
boração da minha
m tese de mestrado, que teve como objecto de estudo "A
Música para Guitarra de Fernando Lopees‐Graça". Vou
V também
m neste ano lectivo iniciar os
meuss estudos de Doutoramento na Univeersidade de A
Aveiro.
R.G.C
C: Com diverssas experiências de vida, quais foram
m as suas ma
aiores influên
ncias musicaiis?
Jossé Pina
guitarristaas, ou seja, devemos seempre fazerr uma
véénia a quem
m ao longo do
d último sééculo constrruiu a
Guita
arra Clássica 14
escola da Guitarrra. No entan
nto, gostariaa de salientaar aquele que considero ser um doss mais
pletos: Juliam
comp m Bream.
Um o
outro aspecto
o que consid ortante, foi o ter namorad
dero ter sido muito impo do desde os meus
temp
pos de estud
dante na ESM
MAE com aquela que é aa minha mulher. Explico
o: ela é pianiista, e
isso ffez com que eu entrassee num mundo que até en
ntão me era quase desco
onhecido. Tinha o
defeito que pensso ser o de m
muitos guitarrristas, só ou
uvia praticam
mente guitarrra. Ao apercceber‐
me disso,
d inverti completam
mente as min
nhas escolhaas auditivas, e passei a ter outro tipo de
referências.
Apreendi que é fu uitarrista, ter experiênciaas de música de câmaraa com
undamental para um gu
outro
os instrumen
ntos, princip
palmente com
m voz e instrumentos de
d sopro, po
ois aprendem
mos a
ouco atrás, eesta é uma lacuna
respirar a músicaa de maneiraa diferente. JJá agora volttando um po
existeente na nosssa formação
o, principalm
mente nas Un
niversidades, pois quasee sempre fazzemos
músicca de conjun
nto com guitaarra.
Sinto também qu
ue evoluí imeenso com o ttrabalho que
e tenho deseenvolvido co
om a Orquesttra de
Guitaarras da AM
MVP pois deu
u‐me oportu
unidade de me libertar das dificuld
dades técniccas da
guitarra e conceentrar‐me única
ú e exclusivamente na músicaa. Fez‐me eestudar de forma
f
difereente e a ouvir coisas quee até então m
me escapavam.
R.G.C
C: No que diz
d respeito à
à vertente concertística,
c a, o repertórrio portuguêês continua muito
neglig
genciado. Dee que forma aborda a esscolha de novvo repertório
o a incluir no
os seus progrramas
de co
oncerto?
A.P
P: Não me parece que seja tanto assim. Já há
h um
núm
mero interessante de guitarristas a ttocar o repo
ortório
Naccional, tenho
o constatado isso em algu
uns dos conccertos
que assisto. Há
H também
m alguns CD's dedicad
dos a
mpositores Portugueses
Com P , (também eu, como referi
anteeriormente, vou gravar um Compo
ositor Portugguês).
Há também ge
ente a fazerr arranjos d
da nossa música.
m
Talvvez ainda nãão seja o id
deal, mas veejo uma evo
olução
Fernando Lo
opes‐Graça muito interessante a esse nível. Acho
o mesmo que
q a
er posta desssa forma. Nãão será a guiitarra,
questão não deve se
um instrumento negligenciado por gran
nde parte do ompositoress? Observo quase
os nossos co
pre um certo
semp o receio em abordar tal tema. A nós cabe‐nos a
a árdua tareefa de os dessafiar,
mesm
mo encontrando alguma resistência, ainda que in
ncompreensíível.
Guita
arra Clássica 15
Em relação à escolha do reportório, muito honestamente procuro tocar aquelas obras que me
dão mais prazer, eu tenho que me sentir feliz, tenho que sentir emoções, tenho que conseguir
comunicar com o público. Já ficaram para trás muitos anos a tocar programa imposto para este
e aquele exame.
R.G.C: Como vê o crescimento da comunidade guitarrística em Portugal com a diminuição
prevista de alunos em consequência dos sucessivos cortes orçamentais na cultura e ensino?
Terão estes factos consequências ao nível artístico e social?
A.P: Temos que esperar para ver, não consigo fazer futurologia a esse respeito. Mas o que vi
nestes últimos anos foi um crescimento anormal de alunos nas escolas de música sem que isso
tenha trazido um aumento de qualidade do ensino e dos estudantes, penso até que,
proporcionalmente, o nível dos alunos tem vindo a diminuir. Será que num país tão pequeno
haverá sempre mercado de trabalho para os finalistas de, penso não me enganar, dez escolas
de ensino superior? Penso que estes cortes orçamentais, com tudo o que de negativo tem
acarretado, fará com que o nosso universo tenda a estabilizar. Não consigo ver por muito mais
tempo, o crescimento dos estudantes de música a nível superior de uma forma sustentada.
Mas se pensarmos que este crescimento nos permite desenvolver e criar um público cada vez
mais numeroso e atento, aí sim, está a aposta que considero ser fundamental levar a cabo por
todos nós.
R.G.C: O que poderá a comunidade guitarrística fazer para prevenir uma possível queda do
nível artístico sendo que há cada vez menos espaço para concertos?
A.P: Também não penso ser essa a realidade. Ao olhar para os meus tempos de estudante,
vejo que nestes últimos 15 anos a guitarra cresceu a todos os níveis. Veja‐se só a quantidade
de concursos de guitarra existentes no nosso país, festivais, masterclasses e concertos, acho
que estamos a trabalhar no bom sentido. Podemos considerar ainda pouco, pois queremos
sempre mais, mas acho que para a realidade do nosso país já não está nada mal. Só lamento a
este nível o desinteresse por parte das grandes entidades culturais nacionais e aí,
sinceramente, não sei que possamos fazer!
R.G.C: Caro Augusto, em nome da equipa da Revista Guitarra Clássica, muito obrigado pela sua
disponibilidade e votos de muito sucesso.
A.P: Eu é que agradeço o convite, e já agora aproveito para saudar todos os leitores e em
especial aos guitarristas. Gostaria também de vos felicitar pela ideia e trabalho desta revista,
pois penso poder vir a ser um meio fundamental de divulgação e aproximação da nossa
comunidade.
Guitarra Clássica 16
Au ugusto Paccheco inicio ou os
seeus estudos musicaiss na
Accademia de M Música de Viilar do
Pa araíso. Após concluir o Curso
Co omplementarr de Guiitarra,
liccenciou‐se naa Escola Sup perior
dee Música ee das Artees do
Espectáculo do o Porto na Classe
C
do o Prof. José P
Pina.
Estudou emm Paris, no
Co onservatório Nacional da
Reegião d’Au ubervilliers onde
ob mier Prix no Curso
bteve o Prem
Sup Guitarra na classe
perior de G
do Prof. Albertto Ponce. Com
C o
mesm mo professor r estudou ain nda na
École Norm male de Mussique de Pariis.
Sob oorientação do o Prof. Paulo o Vaz de Carvalho e do M Maestro José Luís Borges Coelho conccluiu o
Mesttrado em Perrformance n na Universida ade de Aveirro, sendo a sua disserta
s ção “A Obra a para
Guitaarra de Ferna ando Lopes‐G Graça”.
Traba alhou tambéém Música dee Câmara An ntiga no Connservatório M Municipal Cla aude Debussyy com
o prof
of. Ilton Wjunnisky, particippando na ap presentação d da ópera Did do e Eneias dde H. Purcell.
Frequuentou curso os de aperfeeiçoamento orientados
o pelos
p professsores Robertt Brightmoree, Leo
Brouw wer, Abel Caarlevaro, Jozeef Zsapka, Beetho Davezacc, David Russsel, Roland D Dyens.
Realizzou vários reecitais a soloo e em duo (ccom Flauta, Violino e Gu uitarra), em P Portugal, Fraança e
Russiia. Apresento ou‐se no VII Festival Inteernacional de Guitarra d de Aveiro, Feestival de Gu uitarra
de Sa
anto Tirso, Concurso
C de Guitarra dee S. João da Madeira, Feestival Interrnacional de Gaia,
Elogioo da Guitarrra ‐ Guardaa, Festival dee Música Insstituto Piageet e no Portto 2001 – Capital
C
Europ peia da Cultuura – onde pa articipou na Ópera Infan ntil Brundibarr de Hans Kra asa.
Tocou u como solissta convidad do com a Orquestra
O da
a Madeira, Orquestra
O N
Nacional do Porto,
P
Orquestra Esproa arte, Orquesttra Filarmoniia das Beirass e com a Orq questra Russsa “Silver Striings”.
É connvidado reggularmente para
p fazer parte
p do júri de concu ursos de guiitarra e minnistrar
mastterclasses.
Obteve o 2º prém mio no Concu urso Internaccional de Guiitarra de Tom mar (1º prémmio não atrib buído)
e o 3ºº prémio no Concurso Intternacional d de Guitarra d de Sernancellhe.
Tem vindo a deseenvolver um trabalho a d duo com a fla autista Raqueel Lima ‐ “Du uo Pourquoi Pas” ‐
tendoo participaddo no Concurso Internaccional de Gu uitarra Mau uro Giulliani em Bari – Itália,
atinggindo a semi‐‐final. Recenttemente gra avou um cd in ntitulado “Po ourquoi Pas””.
Integ
gra o Duo Solledade com o o Violinista GGaspar Santo os.
Os Coompositores Ângela Lopees, Eduardo Patriarca e FFabio Gorod dski têm‐lhe d dedicado alg gumas
das suas obras.
Fundo ou e dirige a
a Orquestra d de Guitarras da Academiia de Música a de Vilar do Paraíso. Com m esta
Orquestra participou no Fesstival Europeeu de Músicca para Jovens de Neerpelt, na Béélgica,
obtenndo o 1º Préémio Cum La aúde. Particiipou também m no primeirro concurso de Orquestrras de
Guitaarras‐Gofi Co ontest em Bad
B Neuheim‐Frankfurt onde obteve igualmen nte o 1º Prrémio.
Realizzou uma dig gressão na ciidade de S. P Petersburgo,, participou no Euro Jugendmusik Feestival
Offennburg e reallizou o conccerto final da
d celebraçã ão do 31º aniversário d do 25 de Abbril da
comu unidade porttuguesa na cidade de Paris. A Orq questra gravvou três CD D’s, intitulad
dos de
“Corddas Soltas”, “Comntrastees” e “Plaisir””. Dirigiu no ano 2002/2003 a Orqueestra de Plecttro do
Portoo.
É douutorando na Universidade de Aveiro.
É doccente na Academia de Música de Vila ar do Paraísoo e no Institutto Jean Piageet‐Viseu.
Guita
arra Clássica 17
Novvas Gravaçções
Por TTiago Cassola
a Marques
A dificuldade
A e em enconttrar um discco com a ob bra de
guitarra de Radamés Gnattali
G já ppor si justiffica a
presença deste CD na no ossa revista. Imaginemoss pois,
um belo disco com tod das as págin nas escritass pelo
coompositor brasileiro
b parra guitarra ssolo: Dez esttudos,
Toccata em rritmo de sam mba nº 1 e n nº 2, Brasiliaana nº
13, Pequena suite, Dançaa Brasileira: uma rara beleza,
b
uma grande oportunidaade. Se Fáb bio Zanon é é um
leegítimo reprresentante da d nova vida do “violão o” no
Brasil, essa mmesma face éé também vissível nas gerrações
dee intérprettes ainda mais jovvens, que nos
surp preendem com
c projecttos muito in nteressantess, tais
como o disco revvisitado nessta edição, do paulista Vitor
Garbeelotto, interp pretando a o obra integral para guitarrra solo de Raadamés Gnatttali.
Comp positor natural de Porto Alegre, Rad damés Gnatttali (1906‐1988) escreveu u ao longo d da sua
extennsa vida um vasto e variaado conjunto o de páginass para os maais variados instrumento os e as
formaações mais insólitas (bandolim,
( harmónica de boca, pandeiro...),
p sendo tam mbém
particcularmente generoso paara o nosso instrumento m disco que rreúne todas essas
o. Este é um
obrass a solo (ded dicadas aos gguitarristas b brasileiros Tuuríbio Santoss, Laurindo A Almeida, Barrbosa‐
Lima,, Eduardo e Sérgio Abreeu entre outtros), que fazem um arcco de tempo o de 1950 a 1986,
notan ndo‐se a evo olução da suua escrita, mas sem nuncca perder oss traços caraacterísticos d do seu
brasileirismo. Co omo diria Raphael Reebello, “Rad damés destrruiu de vezz as fronte eiras”,
mistuurando lingu uagens modeernas com as a raízes da sua terra, em
e referências constanttes ao
Brasil e à sua cultura: Dançaa Brasileira, Brasiliana
B nºº 13, Toccataa em ritmo de samba, são
s só
uns eexemplos.
Sobree a interprettação, nota‐‐se que algu umas passagens rápidas poderiam tter merecido o uma
leiturra mais detaalhada, aten nta e solta, ficando a seensação de que tecnicaamente são peças
muito o exigentes ee algumas passagens diffíceis. Por ve ezes sente‐see que a guitaarra não resp ponde
tantoo quando lhee é pedido, eem termos d de intensidad de e duração o nas notas agudas. Mass num
discoo onde nem ttodas as obras se apreseentam ao me esmo nível de qualidade interpretativva, há
peçass onde Vitor Garbelotto claramente consegue ob bter um resu ultado muito bom, justificcando
a apoosta neste projecto
p e fazendo
f justtiça à musica de Gnattaali. Destacam m‐se o Chorro (da
Brasiliana nº 13) e muitos dos estudos, tais como o o famoso Estudo V ((cuja guitarrra em
scorddatura imita a viola caipira), assim co omo os Estud dos I, IV, VIII, IX e X. Entrre todas, porrém, a
Pequena Suite, que além de sser uma peçça bonita e singela, é bem m executadaa, com a pre esença
de ellementos exxpressivos (ttempi, dinâm micas, fraseaado e articullação), e teccnicamente muito
segurra, revelando o uma boa in nterpretação o.
Em reelação à gravvação, embo ora com um ssom um pou uco “seco”, n não deixa de ser uma gravação
com q qualidade, com bons cap ptadores, dando um som m natural e m muito próximo ao ouvinte e, com
o equ uilíbrio justoo de graves ee agudos. A edição bilinggue e a inforrmação técn nica detalhad da são
pormmenores que certamentee enriquecem m o trabalhoo. O Design é muito cuidado, com belos
tons de azul, resu ultando numm bonito disco, fazendo‐sse acompanh har no interio or de um texxto do
poetaa Hermínio B Bello de Carvvalho.
Este CCD é certam mente uma boa oportunid dade para quem deseja conhecer a o obra integral para
guitarra solo do maestro Gn nattali, tocad da de forma sincera e honesta.
h Com mo diz o poe eta H.
Bello de Carvalho o: “[Radaméss] ficaria muiito feliz ouvindo, hoje, essse belo trab balho.”
Rada amés GNATTA ALI – Integraal de Violão
Vitor Garbelotto, guitarra
Dispoonível atrávees de: http:///www.livrariaacultura.com m.br e http:///www.lojaclassicos.com.br
Guita
arra Clássica 18
As fontes de origem do Tema e Variações op.9 e Seis árias op.19 de
Fernando Sor1
Por Romolo Calandruccio
Frontispício da Edição Londrina Op. 9
1
Este artigo tem como base o trabalho de Romolo Calandruccio FERNANDO SOR e i chitarristi dell’Ottocento
incantati da “Il flauto magico” di W.A. MOZART, ed. Novecento, Catania 2008
Guitarra Clássica 19
Pelo título do Op. 9 de Fernando Sor2, parece irrefutável que a melodia desta obra deriva do
tema Das Klinget so herrlich, das klinget so Schön, pertencente à Flauta Mágica (Zauberflöte)
de W. A. Mozart (traduzida como "O cara armonia). Melodia esta muito popular entre músicos
deste período, independentemente da sua estatura artística, guitarristas ou não. Tal facto
deve‐se sem dúvida graças à beleza da ópera em geral e, como já mencionado, pela sua
enorme difusão em todos os grandes teatros europeus.
Mas terá sido mesmo assim? Sor e outros músicos ter‐se‐ão inspirado no tema original da
partitura mozartiana? Se assim foi, por que razão se encontra frequentemente aparentes
discrepâncias no tema? De igual modo, o op. 193 de Sor, que se aproxima muito mais da
partitura original de Mozart, apresenta ligeiras discrepâncias.
A que se devem tais "anomalias"?
Poderá parecer paradoxal, mas a grande fama e difusão da ópera contribuíram para uma
determinada "contaminação". Para representar a ópera fora dos países de língua germânica,
era necessário traduzir o texto noutros idiomas, como italiano e francês, para tornar a ópera
mais acessível, pelo que esta prática, por vezes, significava igualmente pequenos "ajustes"
melódicos de modo a tornar mais agradável a união texto‐música. Tais operações nem sempre
se revelaram felizes, como se pode ler nas memórias de Berlioz (cap. XVI) sobre a Flauta
Mágica:
“ (...) o inteligente director chamou em seu auxílio um músico alemão para "melhorar" também
a música de Mozart. O músico alemão cometeu a imprudência de não rejeitar a tarefa e no
final da abertura (a abertura da Flauta Mágica!!!), adicionou alguns compassos, na parte de
soprano de um coro fez uma ária de baixo, pois juntou entre outros, alguns compassos da sua
autoria; de uma cena tirou os instrumentos de sopro, noutra cena os incluiu; alterou a melodia
e figuras que acompanham a ária sublime de Zoroastro; com o coro dos escravos "O cara
armonia" fabricou uma canção, um dueto convertido em trio, (...) "4
Em resumo, não era raro assistir a alguns pequenos "ajustes" de uma ópera, quando estes
corriam bem ou, como no caso descrito por Berlioz, a um verdadeiro e autêntico massacre em
obras‐primas como a de Mozart.
2
Primeira publicação Londrina em 1821, e Parisiense em 1827.
3 Publicado pela primeira vez em Paris por volta de 1823.
4 M. Dell’Ara, La musica di Mozart nelle trascrizioni ovvero variazioni per chitarra di Fernando Sor, Il Fronimo nº 17
pág. 7.
Guitarra Clássica 20
Ao comparar a melodia original de Mozart com o tema usado por Sor no Op. 9, é
imediatamente visível a diferença melódica (mudança da métrica de 4/4 para 2/4 e de allegro
para andante moderato) mas, uma análise a muitos outros autores guitarristas que usaram o
mesmo tema, encontra‐se essa diferença. A resposta mais imediata estaria ligada à liberdade
com que alguns compositores tomavam ao transcreverem ou elaborarem temas de outros
músicos.
Nesta altura, é esclarecedora a teoria de David Buch6, que, antes de tudo, contesta a afirmação
de Brian Jeffery na biografia de Sor7, onde Jeffery diz que Sor ouviu pela primeira vez a Flauta
Mágica em Londres no ano de 1819, pelo que seguidamente escreveu as suas variações. Pelo
seu turno, Buch, argumenta "Jeffery não menciona o facto que existia uma versão muito
popular do singspiel em Paris desde 1801 chama Les Mystères d'Isis (a primeira apresentação
data de 20 de Agosto de 1801 e foi a palco mais de 130 vezes até finais de 18278). Assim, como
Sor esteve primeiro em Paris e de seguida em Londres, é possível que tenha tido uma certa
familiaridade com a versão destas apresentações, partituras ou transcrições". Além disso,
como suporte a esta teoria, convém acrescentar que o próprio Sor, num trecho do seu
método, falando desta ópera, usa o título francês quando diz: " (...) não ousaria jamais
aventurar‐me na execução daquela [a fuga] de Mozart da abertura de Mystères d'Isis (...) "
Buch continua ao afirmar que a partitura deste pastiche chegou até nós9 e com a consulta,
pôde verificar como, para uma melhor execução na língua francesa, a partitura mozartiana foi,
musicalmente, modificada em alguns pontos. Na realidade, na melodia "Soyez sensible"10,
correspondente a "Das klinget so herrlich" da versão original, nota‐se já uma maior
semelhança com a versão de Sor.
5
Na verdade, a mesma melodia do Opus 9 é composta, em intervalos de terceira, com um efeito de coral e uma
utilização mais ampla dos harmónicos com reminiscência do acompanhamento de glockenspiel.
6 David Buch, Two likely sources for Sor’s variations on a theme of Mozart, com base em Estudios sobre Fernando
Sor de Luis Gasser, Edições do ICCMU, Madrid 2003.
7 Brian Jeffery, Fernando Sor, Composer and Guitarrist, Tecla Editions, Londres 1977.
8 Théodore de Lajarte editor, Bibliothéque musicale du Théatre de l'Opera catalogue, Librarie des bibliophiles, 1878,
Paris.
9 Na primeira página lê‐se: LES MISTÈRES D’ISIS | Opéra en quatre Acts. | Représenté à Paris au théâtre des artes. |
PAROLES DE E. MOREL. | Arrangi et Mis en Scéne par Lachnith. | Musique | DE W. A. MOZART … Chez SIEBER père
….1666..
10 A execução, fig. 2, está ligada à prática performativa do período, consulte a pág. seguinte.
Guitarra Clássica 21
11 "Laa virtuosa in Puntiglio"
P foi produzida
p em Londres
L em 18808 e "I Virtuoosi Ambulanti" (1807) de Fio oravanti
[Valenntino Fioravantii 1764‐1837]. EEnquanto La Frrascatana era representado por Paisiello em m 1774. A ária O O dolce
conten nto foi introduzzido nas represeentações do peeríodo em questão. (Buch, op p cit. Pg. 355)
12 “[…
…] l’unica cosa che contava [d dell’opera] era l’aria, sia per l’interprete chee vi esibiva la sua bravura siaa per il
pubbliico che durante i recitativi si intratteneva senza
s ascoltaree; la composizione di un recitativo secco (vvoce su
armon nie del cemballo) era compleetamente svalu utata, operazio one di bottegaa, riproducibile all’infinito; in nvece il
cantannte che dominava tecnicameente un’aria, ch he nelle riprese (da capo) l’aarricchiva di vaariazioni, finivaa con il
considderarla sua, e se la portava dietro come un aabito, da un’op pera all’altra, faacendola entrare a sproposito o pur di
giocarla come una caarta vincente nella sua partitaa con il pubblicco; difficile dire chi fosse più l’autore del librretto in
opere rappresentate a questo modo o”. (G. Pestelli, L’età di Mozartt e di Beethoven, ed. E. D. T. , Torino 1991 páág. 63)
13 Anngelica Catalani, soprano italiaano (Senigallia 10 de maio de 1780 ‐ Paris 12 2 de junho de 1 1849). Aluna de e Padre
Antonio, baixo da caapela da Cated dral de Sinigallia, e de Padree Morandi, tevee o seu début no ano de 17 797 em
Veneza, Teatro Lodoïska de G. S. Mayr. Em 180 00, cantou em m Trieste e em m 1801 apareceu no La Scaala em
mnestra N. A. Zin
Clitem ngarelli.
Estevee em actividadee nos teatros mais importantes da Europa e e entre 1806‐181 12 fez furor em Londres, cidad de onde
começçaram sentimen ntos hostis a Napoleão.
N Foi uma
u das vozes mais belas da história do teaatro musical, co om um
som e uma força quee lembra B. Giorgi Banti, mas ttambém um tim mbre com uma doçura incomp parável. Dona d de uma
técnicaa impressionan nte, adorava o estilo brilhantte, o canto com m ornamentaçção ousada e ccomplexas acro obacias.
Perita no contraste entre o forte e o pianíssim mo, possuia graande capacidad de de sustentaação de nota. O seu
reperttório foi Paisielllo, Cimarosa, S.. Nasolini, N. A.. Zingarelli, Marco António Po ortugal, G. S. Maayr, autores do os quais
Guita
arra Clássica 22
Catalan
ni, levou à riibalta esta obra
o com variações duraante a
primeirra década do
o séc. XIX com
m um avanço
o sobre o Op
p. 9 de
Sor dee pelo menos 10 anoss. A este rrespeito, co
onvém
recordaar que era uma outrra prática muito difun
ndida,
também
m entre os compositorees, a de elaaborar as ve
ersões
instrum
mentais de árrias famosas sobre a verssão da canto
ora ou
cantor mais em vo
oga naquele momento h
histórico, maais do
obre a parttitura origin
que so nal. Entre o
os mais fam
mosos
músicoss, citemos Carl
C Czerny que escreeveu uma versão
v
instrumenttal14 baseadaa neste modeelo15.
Regreessando a Caatalani e anaalisando a su
ua versão daa melodia m
mozartiana arrranjada porr G. G.
Ferraari16, repara‐sse imediatam
mente a incrrível semelhaança com a partitura de Sor, seja ao
o nível
da melodia
m ou do acompanhamento, no entanto não podem
mos afirmarr com uma certa
segurrança que esta
e seja reealmente a fonte usad
da por Sor para o tem
ma do op.9 e as
pequeníssimas variantes,
v presentes en
ntre os dois temas, poderiam
p seer atribuídas aos
belezamento
"emb os" extemporâneos da veersão de Cattalani, muito
o provavelm
mente escutada ao
vivo p
por Sor (algo
o não imposssível, dado qu ncontravam em Paris).
ue em 1815 ambos se en
não see afastou no peeríodo final da sua carreira, passando
p primeeiro no Théâtree des Italiens, em Paris (18144‐1817)
como directora, assim como cantora nos concerttos em Itália, In nglaterra, Alem
manha, Rússia. Ela aposentou u‐se em
1828, com a sua voz intacta e estab beleceu‐se em Itália numa vila perto de Florrença, onde fun ndou uma esco ola livre
para ccantores de ópeera. Em 1849 m mudou‐se paraa Paris para esccapar de uma eepidemia de có ólera, mas acab bou por
contraair a doença e mmorrer.
14 O ddolce contento, uma ária de M Mozart, arranjad da em forma de e Rondo para piiano por Czernyy.
15 Em
mbora não estivvesse sozinho, há na verdade outros título os e autores (juntamente com m os guitarristtas que
veremmos) que apoiam m totalmente ee sem sombra d de dúvida esta teoria: Mozartt, O dolce conteento, a Favorite song,
sung by
b Madame Catalani in the opera la Frasscatana, compo osed by W.A.M Mozart, The vaariations by Madame
M
Catalani: Arranged by G.G. Ferrari ((edinr: Corri 18 80‐?) oppure O dolce contento | Air by Mozart | Arranged with |
variations | For | Madame Catalani | by | G. Ferrari (Dubois & Sto odard, New Yorrk 1827 – 34). D David Buch Op. Cit.
16 Jammes Godfrey Ferrari (Rovereto o, batt. 02.04.17 763. Londres deezembro 1842), compositor italiano mudou‐se para
Paris em
e 1787 onde foi capaz de obter
o os melhoores músicos daa época. Comppôs várias coleccções de árias vocais,
Ariettee, Romance e N Nocturnos, ligad dos à moda da época, entre o os quais as elegantes 6 Ariette italianas dediccado ao
famoso Angelica Cataalani em 1810.
Guita
arra Clássica 23
Para dar ainda m
mais relevo à tese de utilização de árias reproduzidas sobre a execução ao
o vivo
dos cantores,
c citeemos a publicação de Mauro
M Giuliani, com o título explicattivo de tal prática
p
Tre temi
t favoriti con variaziioni di M.dm
me CATALAN
NI messi perr chitarra so
ola (publicad
do em
Vienaa, um dos tem
mas é o messmo da Flauta Mágica).
Uma outra curiossidade que see encontra n
no Op. 9 e 19
9 de Sor é o u
uso do título em italiano..
Tal see explica com
m o facto quee a única verrsão da Flautta Mágica, esscutada em Londres até 1833,
que coincide
c m o período de permanência de Sor nesta cidade, foi a um
com ma transcriçãão em
italiano. Mas estte facto não
o deverá fazeer pensar que o tema de
d Sor derivva de esta versão
v
italiana, pois o títtulo parece tter sido um pedido explícito dos ediitores, que d
desejaram co
omo o
o da obra, a fforma mais p
título popular e conhecida para atrair assim
m o maior nú
úmero possívvel de
clienttes17.
No que diz respeito então à iintrodução d
do Op. 9, Sorr parece ter sido atraído
o pela abertu
ura do
gio da cena 2
Adag do acto18, esccrita na tonaalidade de dó
28 do segund ó menor e co
om caracteríísticas
similaares em partticular pelo laargo uso do cromatismo e pelos três acordes.
Em conclusão, paarece revelado o mistério das verdaadeiras fontees pelas quaais Sor se insspirou
para a homenageem mozartiana, seguramente não foii pela partitu
ura original, ttambém porrque a
óperaa original difficilmente fo
oi representaada fora doss países de língua
l alemãã até final do séc.
XIX.
17 D. BBuch Op. Cit.
18 A ccena decorre quando dois hom mens em armaadura reluzente e conduzem Tamina à cena. N Nos seus elmos arde o
fogo. LLêem os escritoos que emergem
m de uma pirâm
mide. Esta pirâm
mide está no m
meio, ao alto, peerto de uma graade.
Guita
arra Clássica 24
Comparação entre o tema mozartiano original e as versões de Catalani e
Fernando Sor
Seguidamente será proposta uma comparação entre a melodia da obra de Catalani19 com
acompanhamento de pianoforte, o tema de Sor e o tema original de Mozart (Monostato,
Glockenspiel e coro).
(note‐se que a tonalidade original de Catalani é Mi bemol e a de Mozart, Sol Maior; para uma
maior comodidade na comparação, ambas foram transpostas para a tonalidade de Mi Maior.
Naturalmente, a métrica foi alterada: em Catalani 2/2 e Mozart 4/4, ambas refeitas para 2/4)
1. O elemento rítmico (a), que funciona como início de cada semi‐frase, encontra‐se refeito
sempre com um ritmo pontuado no lugar das duas semicolcheias do tema original. Esta
diferença está seguramente ligada à prática performativa do canto (e se quisermos também a
prática instrumental) onde duas colcheias não eram executas do mesmo modo mas a primeira
alongava‐se e a segunda mais curta20. Seguramente, Sor, considerando a sua precisão na
escrita, quis explicitar esta prática ao escrever a execução real.
2. A apogiatura (b), completamente ausente do original, é uma constante no tema cantado de
Catalani e quase sempre estará presente em Sor embora, como veremos de seguida, de modo
diferente. Esta é uma das ocasiões em que Sor não a utiliza.
3. Sor parece ter recorrido à versão de piano (c) para criar o acompanhamento guitarrístico.
19
O dolce contento / Air by Mozart / Arranged whit / variations / For / Madame Catalani / by / G.Ferrari (New
York:Dubois & Stodard, 1827 – 34
20 A prática de Ineguaglianza delle crome desapareceu de muitos tratados de séc. XVIII e neste caso será proposto
um trecho de L'Art du Facteur d'Orgues de Dom Bedos Celles (1709‐1779) tendo sido esta obra publicada em Paris,
em três volumes, entre 1766 e 1778. “Capitolo 4: Della distinzione in Prime e Seconde delle crome, e talvolta delle
semiminime. “1422. Movimentos em 2, 3 e 4, as colcheias são acentuadas por grupos de dois e distinguidas por
prima e seconda: esta distinção é, por vezes, também usada para seminimas. É essencial, tanto para a incisão do
cilindro de orgão quanto para a execução. As duas colcheias juntas formam o valor total de uma semínima; o que
se supõe ocupar a primeira metade da semínima é chamado de prima croma, e aquele que assume a segunda
metade, seconda croma. A primeira é geralmente tenuta, mas a segunda é sempre tocada; vi somente um caso em
que a primeira deixa de ser tenuta, e o que acontece quando esta é a mesma nota que a segunda, permite‐lhes ser
destacado mais claramente. Esta distinção entre o primeiro e o segundo também pode ocorrer com semicolcheias
num tempo moderado de dois quartos, pelas razões que expliquei no § III. Até as seminimas são por vezes
susceptíveis a esta distinção... ” e ainda no Capítulo V ‐ Dell’Ineguaglianza delle Crome ‐ “1423. Depois da distinção
entre as colcheias no primeiro e no segundo, é agora essencial enfatizar a sua desigualdade na maioria dos
andamentos. Quase sempre o primeiro é mais extenso e o segundo mais curto. De qualquer modo existem
excepções para os andamentos que estão marcados de três em três, como nos 6/4 e nos 6/8. Andamentos que são
impressos em pares é muito raro que sejam executados de igual modo. Esta desigualdade vai mudar de acordo com
a expressividade da ária; numa melodia alegre, deve ser mais pronunciada do que numa ária suave e com carácter
gracioso, como numa marcha ou num minueto. No entanto, existem muitos minuetos cuja desigualdade é
pronunciada do que uma marcha. [...]" Página 32 “Há casos em que essa diferença consiste num meio‐termo,
devendo‐se executar como se fossem os primeiros episódios e, segundo, semicolcheias: [...] ". (Da interpretação da
música do século XVII e XVIII de Arnold Dolmetsch ‐ Ed Rugginenti ‐ Milan 2 ª edição 2005)
Guitarra Clássica 25
4. O ttema (e) de SSor, encontrra‐se muito o
ornamentado
o, algo estranho, pois no
ormalmente d
deixa‐
se o ttema mais "limpo" possívvel de modo
o a ter amplas possibilidades de variações.
5. A apogiatura descendente (f) de Cattalani, tornaa‐se, em Sor, uma apoggiatura crom
mática
ndente (f1); eesta última ccontribui parra uma situaçção de maior pathos.
ascen
Guita
arra Clássica 26
8. Co
omo mencio
onado anteriormente, taanto em Catalani como
o em Sor (g), a direcção dos
movimentos da semi‐frase é n
no sentido agudo, ao con
ntrário de M
Mozart.
ha inferior deeriva do acompanhamen
9. Naa segunda semi‐frase, Sorr, insere o baaixo e tal linh nto de
piano
o (g). É interressante notar que a célula rítmico‐m
melódica (s) usada por SSor confere maior
impulso e corpo h
harmónico a toda a semii‐frase.
11. Continuam
C o ornamen
os ntos na parttitura de So
or (i) e (l), provavelmeente pessoaais ou
decorrentes ou adições
a de outras
o versõ
ões. Em apoio desta tesse, a observvação de Tree temi
favorriti con variazzioni di M.dm
me Catalani messi per ch
hitarra sola d
de Mauro Giu
uliani, compaasso 6
(L1), notar‐se‐á a
a mesma orn
namentação
o e no comp
passo 14 (L2), de novo o
o ornamento
o com
accia
accatura. Se esta passaggem prova a aplicação da
d praxis da "dell’inegua
aglianza dellle due
crome” (desigualdade), tornaa‐se perfeitaamente iguall à partitura de Sor (Sorr, em compaaração
com Giuliani, inseere a acciacccatura no compasso 6 e elimina‐a no
o compasso 14): Se este passo
ntar aplicar a estas no
é ten otas a prática "de desiigualdade das duas collcheias," torrna‐se
exacttamente iguaal ao de Sor (Sor, Giuliani comparaçãão, insira a co
ontusão do m
morcego. 6 e
e leva‐
lo para a batt . 14
4).
O final da prim
12. O meira frase éé sempre rettirado do aco
ompanhamento de piano
o (m). Sor rep
pete a
primeeira frase, tal ritornello n
não se encon
ntra presente
e nem em Caatalani ou Mo
ozart.
Guita
arra Clássica 27
13. A
A segunda fraase começa ssem acompanhamento d
de baixo
14. Repete
R o cro
omatismo (oo) que parecce ser uma adição ao pessoal e Sor, como na etapa
anterrior (F1), servve para reforrçar o pathoss.
15. Sor,
S nesta semi‐frase, parece
p enfattizar a tensãão, usando, para além das cores (o), a
anteccipação de ornamento (P P1) e outro o
ornamento crromático (Q1 1).
16. Sor
S continua a criar tensão crescentte, tanto po
or respeito à
à partitura d
de Catalani ou
o de
Mozaart, insere naa harmonia dde final da ssemi‐frase o intervalo dee 7ª e atingee assim o culminar
da tensão.
A tensão iniciialmente preeparada desaaparece, tam
17. A mbém nesta passagem, d
de modo dife
erente
das outras
o duas versões (que neste caso
o coincidem (u) = (u1)).. Sor, embelleza novame
ente a
nota principal com
m figuras po
ontuadas e crria deste mo
odo uma tenssão de impulso (u2). Tud
do isto
escritto uma terceeira abaixo, p
por comparaação às outraas duas versõ
ões, muito provavelmentte por
motivvos técnicos interpretativvos.
18. O
O clímax da m
melodia, ao eescrever uma terceira inferior por co
omparação ccom as versõ
ões de
Catalani e Mozartt, coincide, n
no entanto, ccom o ponto
o (v).
Guita
arra Clássica 28
20. A
A última semii‐frase é repeetida quase identicamen
nte à precedeente. A versãão de Catalan
ni não
se en
ncontra incluída pois não se relacionaa com a fonte
e original.
Guita
arra Clássica 29
Universidade de Departamento de Comunicação e Arte
Aveiro 2010
ANÁLISE PARA INTÉRPRETES: APLICAÇÕES NA
GILVANO DALAGNA CONSTRUÇÃO DA PERFORMANCE DO
SEGUNDO ANDAMENTO (INTERLÚDIO –
CHORINHO) DA SONATA Nº1 (GUITARRA SOLO)
DE J.A. ALMEIDA PRADO
Artigo realizado sob a orientação científica do Doutor José Paulo Torres Vaz de
Carvalho, Professor do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade
de Aveiro
Guitarra Clássica 30
Análise para intérpretes: Aplicações na construção da performance do
segundo andamento (Interlúdio – Chorinho) da Sonata nº1 (guitarra solo)
de J.A. Almeida Prado
Gilvano Dalagna, Universidade de Aveiro
Orientador: Prof. Dr. José Paulo Torres Vaz de Carvalho
gilvano.d@gmail.com
Resumo: O presente artigo tem como objectivo descrever o processo de aplicação do roteiro
de análise elaborado por John Rink e apresentado no artigo Analysis and (or?) Performance, no
segundo andamento (Interlúdio – Chorinho) da Sonata nº1 (guitarra solo) do compositor
brasileiro José António de Almeida Prado. Foi realizado inicialmente uma revisão da
bibliografia referente ao uso da análise voltada à interpretação e da Sonata nº1. Durante a
análise, foram abordadas questões relacionadas a forma, harmonia, elemento melódico,
dinâmica bem como a realização de uma redução rítmica de todo andamento. Com os dados
obtidos a partir da análise, pode‐se sugerir alternativas de interpretação e execução, como
digitação e possibilidades de toque na mão direita.
Palavras‐chave: Análise para intérpretes ‐ Musica brasileira para guitarra – Performance
musical
Abstract: This paper aims to describe the process of application of the roadmap analysis
prepared by John Rink and presented in the article Analysis and (or?) Performance in the
second movement (Interlude ‐ Chorinho) from Sonata No. 1 (guitar) composed by Jose Antonio
de Almeida Prado. Was initially made a review of the literature on the use the analysis focused
on the interpretation and Sonata No. 1. During the analysis, there were issues including the
form, harmony, melodic element, dynamics and a rhythmic reduction of the whole process.
Based on data obtained from the analysis, we can suggest alternatives for interpretation and
application, such as fingering and possibilities of touch in his right hand.
Keywords: Analysis for performance ‐ Brazilian Music for Guitar – Musical performance
Guitarra Clássica 31
Introdução
O uso da análise como ferramenta para a performance é assunto constantemente
abordado por diversos autores e que vem ao longo dos anos motivando a produção de novos
trabalhos académicos. Entretanto é possível observar controvérsias existentes a respeito do
emprego da análise no ato interpretativo. Leonard Meyer, por exemplo, defende que a análise
está implícita no que faz o intérprete “por mais intuitivo e sistemático que seja21.” (Meyer
apud Rink, 2003: 55) Entretanto para outros autores como Eugene Narmour, “o intérprete
deve realizar uma análise teórica rigorosa da obra para poder sondar sua profundidade
estética22.” (Narmour, 1988 apud Rink, 2003: 55)
Esta proposta de análise tem o intuito de fundamentar a interpretação e contribuir
para com professores e estudantes em dois aspectos. No aspecto teórico, favorecendo a
incitação de novos questionamentos em futuras pesquisas a respeito do tema. No aspecto
prático, fornecendo uma fonte de apoio para decisões quanto à articulação, dinâmica,
fraseado, digitação e etc.
Revisão Bibliográfica
A função dos procedimentos analíticos na construção da performance é na opinião de
muitos autores um assunto gerador de dúvidas. No artigo Analises and (or) performance, John
Rink diz que, “confusão e controvérsia tendem a reinar cada vez que se utiliza o termo análise
em relação a performance23” (Rink, 2003: 55)
A discordância apontada por John Rink não se constata no que diz respeito a
importância do entendimento da obra para o êxito na performance. Janet Schmalfeldt refere‐
se a esta questão quando diz em seu artigo destinado a relação da análise para a performance
nas Bagatelas de Beethoven, que “performers e analistas geralmente concordam que a boa
performance de uma obra expressa um entendimento único de sua essência.24” (Schmalfeldt,
1985:1)
Neste mesmo texto Schmalfeldt defende, assim como Meyer, que a busca pela boa
interpretação é encarada por parte dos intérpretes, “como um processo essencialmente
21
“Implicit in the what the performer does, however intuitive and unsystematic it might be.” (Meyer
apud Rink, 2002: 55)
22
Performers must engage in rigorous theoretically informed analysis of a works if its “aesthetic depth”
is to be plumbed.” (Narmour apud Rink, 2003: 55)
23
“Confusion and controversy tend to reign whenever the term “analysis” is used in relation to musical
performance” (Rink, 2003:55)
24
“Performers and analysts will generally agree that a fine performance of a work expresses a unique
understanding of its essence.” (Schmalfeldt, 1985:1)
Guitarra Clássica 32
intuitivo, uma questão de se tornar íntimo com o trabalho por meio físico assim como pela
actividade mental.25” (Schmalfeldt, 1985:1)
A autora ainda vai mais longe ao se referir sobre as preocupações do analista:
Para o artista, então, a preocupação do analista sobre o ofício da composição, o seu
interesse nas relações entre eventos amplamente separados no tempo musical, a sua
necessidade de desenvolver uma terminologia para comparar as técnicas de
composição, podem parecer estranhas se não for irrelevante26. (Lester, 1985:1).
Joel Lester em Performance and analise: Interection and interpretation, aponta para
um entendimento entre ambas as visões propondo um caminho de reciprocidade entre os
pressupostos teóricos e a visão do artista.
A proposta é desafiar o pressuposto de que a comunicação existe apenas quando o
analista dá instruções aos artistas, e argumentar que o discurso mais recíproco seria
melhorar a nossa compreensão das questões teóricas da música, bem como problemas
da performance27.(Lester, 1995: 198)
O autor ainda argumenta que “se determinada performance não conseguiu traduzir as
questões levantadas na análise, a performance e não a análise, seriam consideradas de alguma
forma inadequadas28.” (Lester, 1995: 197)
Willian Rothstein29 em Analises and the act of performance, questiona os benefícios de
se trazer à tona todos os resultados obtidos em uma análise, na preparação da performance.
Com base nisto Stefan Östersjo (2008) em Shut’n’play, no capítulo Análises and performance,
defende que “o modelo e o aprofundamento da interpretação analítica, que é demandada na
preparação de uma certa obra são relativos à obra em questão30.” (2008: 76)
Em 1989 Jonathan Dunsby, afirmou que “entender e tratar de explicar uma estrutura
musical não consiste na mesma actividade que entender e comunicar a música31,” (Dunsby,
25
“Most per‐formers describe their effort toward that goal as a primarily intuitive process, a matter of
becoming intimate with the work through physical as well as mental activity.” (Schamalfeldt, 1985:1)
26
“To the performer, then, the analyst's concern about the craft of composition, his interest in
relationships between events widely separated in musical time, his need to develop a terminology for
comparing compositional techniques, these can seem foreign if not irrelevant.” (Schamalfeldt, 1985:1)
27
“Implicit or explicit in all these writings is a view that performances and analysis intersect only when
performers follow theoretical edicts or actually become theorists. A propose here to challenge the
assumption that communication need take place solely when analyst give directions to performers, and
to argue that more reciprocal discourse would enhance our understanding of music theoretical issues as
well as performance issues.” (Lester, 1995: 198)
28
“If a given performance failed to articulate the points made in analysis, the performances, not the
analysis, would be deemed somehow inadequate. (Lester, 1995: 197)
29
“Merely “bringing out” the results of an analysis can all too easily distort the music. Instead, he
favours “synthesis” as a goal‐i.e. an all‐encompassing musical statement, a coherent “dramatic act”.
(Rothstein, 1995: 218)
30
“The Type and amount of analytical interpretation that is demanded in the preparation of certain piece
is relative to the work in the question.” (Ostersjo, 2008: 76)
31
“Understanding and trying to explain musical structure is not the same kind of activity as
understanding and communicating music” (Dunsby, 1989: 76)
Guitarra Clássica 33
1989:76). Esta afirmação questiona de certa forma o valor e a função da análise no que diz
respeito ao ato interpretativo, além de estabelecer uma clara diferença entre ambas as
actividades.
As questões apontadas até aqui deparam com as dificuldades do intérprete em
abordar uma obra inédita, cujo referencial teórico é praticamente nulo. Sobre esta questão,
Fausto Borém (2000) defende que um dos principais problemas encontrados no ensino da
performance é o facto de grande parte dos professores não documentarem suas reflexões
sobre a prática de fazer música:
Um dos problemas mais graves no ensino da performance musical é a tradição de
professores de instrumento, canto e regência de não documentarem suas reflexões
sobre a experiência de fazer e ensinar música. No mundo da música de concerto,
grandes instrumentistas, cantores e maestros permanecem apenas como uma
memória inacessível as gerações posteriores que não tiveram a oportunidade de ouvi‐
los enquanto eram ativos enquanto intérpretes e professores. (Borém, 2000: 143)
A etapa a seguir concentra‐se em visitar parte da bibliografia já escrita sobre a obra em
questão, com o intuito de relacionar este conhecimento já existente com os dados colectados
a partir da análise, possibilitando assim conclusões mais precisas. Em seguida serão elencadas
as publicações citadas no decorrer do artigo, dedicadas basicamente à pesquisa e ao
levantamento da obra de Almeida Prado.
Vasco Mariz em a “História da música no Brasil” dedica um capítulo específico a
Almeida Prado, fazendo uma breve menção à obra aqui estudada. Neste mesmo livro o autor
descreve características de outras peças, contrastando com as poucas informações fornecidas
a respeito da Sonata nº 1.
Fábio Scarduelli defendeu na UNICAMP em 2007 a dissertação de mestrado “A obra
para violão32 solo de Almeida Prado”, em que são abordados aspectos composicionais e
biográficos da obra e do compositor. O trabalho de Scarduelli foi o pioneiro e é o único até o
momento sobre a obra para guitarra de Almeida Prado.
Analysis and (or?) Performance
Em 2002 John Rink escreveu um artigo intitulado Análises and (or?) Performance que
está inserido no livro “Musical Performance: A guide to understanding”, o qual também é
editado pelo mesmo autor. O texto está elaborado em três partes. Na primeira, o autor
32
Tendo em vista a diferença quanto ao uso da expressão, guitarra em Portugal e violão no Brasil para
designar o mesmo instrumento, será adotada no decorrer do texto a palavra guitarra, uma vez que o
presente trabalho está a ser redigido em Portugal. O termo violão portanto aparecerá apenas em títulos
de obras e trabalhos de outros autores. (Nota do autor)
Guitarra Clássica 34
apresenta uma perspectiva sobre a análise e a performance, examinando alguns escritos
anteriores sobre o tema. A seguir é proposto “um método de análise que pode beneficiar os
intérpretes ao invés de constrangê‐los33” (Rink, 2003: 55). Por fim é apresentado um estudo de
caso (Nocturno em Dó# menor op.27 de Fréderic Chopin) no qual o referido método é
aplicado. O autor também propõe o termo “intuição instruída” para destacar a importância da
intuição no processo interpretativo.
Com base nestas colocações John Rink propõe uma divisão da análise para intérpretes
em duas categorias:
a) Análise prévia de uma interpretação determinada (que provavelmente
servirá de base para esta).
b) Análise da interpretação em si.
A primeira categoria segundo o autor tem um carácter mais pragmático e é
potencialmente preceptiva, ao contrário da segunda que seria muito mais descritiva. Desta
maneira, segundo o autor, é possível estabelecer um paralelismo entre a análise e a
performance, de um modo similar aos que realizam uma “análise rigorosa”, porém usando
termos diferentes.
O autor destaca que esta abordagem de análise se realiza durante a formulação e
posterior reavaliação de uma interpretação34, enquanto está praticando, mais do que
interpretando, ou seja, o processo analítico tem lugar durante a fase evolutiva, culminando na
inclusão do resultado pela globalidade do conhecimento do ato interpretativo.
O modelo de análise desenvolvido por John Rink está dividido em seis etapas:
1) Identificar as divisões formais e o plano tonal básico;
2) Representar graficamente o tempo;
3) Representar graficamente a dinâmica;
4) Analisar a linha melódica e os motivos que a compõem;
5) Elaborar uma redução rítmica;
6) Reescrever a música;
O processo de aplicação das técnicas de análise no Interlúdio – Chorinho incluirá as
etapas referentes à forma, harmonia, dinâmica, contorno melódico e redução rítmica.
33
“I shall describe a mode of analysis which might benefit rather than constrain performers” (Rink, 2003:
55)
34
“I must be stressed that “performer’s analysis” primarily takes place as an interpretation is being
formulated and subsequently re‐evaluated.” (Rink, 2003: 60)
Guitarra Clássica 35
Sonata nº1
Compostaa em 1981 a a Sonata nº1 1 foi dedicada ao
guitarristaa brasileiro Dagoberto Linhares que q a
estreou em Londres no W Wigmore Ha all e
posteriorm mente tocou u‐a em váriaas oportunidades
35
na Europa . Em 1984 a obra foi editada pela Tonos
Verklag, com
c digitaçãão de Fábioo Shiro Mon nteiro,
que mais ttarde a incluiu em disco intitulado “R Recital
Brasileiro”” juntamentee com o Poeesilúdio do m mesmo
autor.
Dagoberrto Linhares
A obra
o está esccrita em quaatro andame entos,
respeectivamente,, Vigoroso, Chorinho, Cantiga
C e Toccata
T Ron
ndó. O segu
undo andam
mento
(Chorrinho) possui tratamento
o tonal, com
m a primeira secção em lá menor e a segunda em lá
maior.36 Almeida Prado ressaalta o “ritmo
o quebrado”” motivado pela
p alternância entre 7/16
7 e
8/16,, que geram um colorido
o rítmico próp
prio.
O charme destte chorinho é o seu ritmo ‘q
O quebrado’. See eu o fizesse em 2/4, pode eria ser
Ernesto Nazaréé ou Zequinhha de Abreu. E o charme é
é porque não o é. Entretantto, em
alguns momen ntos ouve‐se oo 2/4. Existe eentão uma esp pécie de disso onância rítmicca, que
é o 7/16, e um
ma consonânccia rítmica, qu ue é quando éé modificado para 8/16. Issso cria
um colorido rítmico
r em sii próprio, da mesma man neira que naa harmonia to onal a
dissonância resolve na conssonância. Eu ffaço uma mettáfora, uma ccomparação, d de que
parece ele é dissonância rítmica,
quando o 7 ap r e quaando é 2/4, éé uma conson nância,
uma resolução o dele. (Prado apud Scardue elli 2007: 204))
A
Análise do
o segundo
o Andamento: Interrlúdio Cho
orinho
E
Estrutura Fo
ormal
O segund
do andamento está esccrito na forma A‐B‐A, ccomo mostrra a figura 1
1:
A B A’
a1 a2 a1’ Co
oda B b1’ b2 Codaa a1 a2
2 a1’ coda
Figurra1: Estruturaa Formal do Interlúdio
35
Não
o foram encon
ntrados dadoss específicos ee precisos a re
espeito da estreia da Sonata nº1 além
maiores detalhes referentees a outras
daqueeles já citadoss. O próprio Almeida Prado desconhece m
oportunidades em que a peça fo
ora tocada porr Dagoberto LLinhares na Eu
uropa. “Ele esttreou‐a em Lo
ondres
e voltou a toca‐la p
poucas vezes, não sei exactamente onde.” (Prado apud Scarduelli, 2
2007: 202)
36
Verr 2º andamentto: Chorinho –– estrutura formal
Guita
arra Clássica 36
Almeida Prado utiliza dois motivos principais, a (L.1 C.1)37 e b (L.3 C.3 e 4) como base
para o desenvolvimento.
Figura 2: Motivo a – compasso 1
Figura 3: Motivo b – compasso 12
A primeira sessão está escrita entre os compassos 1 e 15, é caracterizada pelo
contraponto em praticamente toda a secção. A secção B é toda desenvolvida a partir do
motivo b. O contraponto é abandonado dando lugar à escrita coral. No compasso 22 a textura
torna‐se novamente polifônica (L.5 e 6 C.22 a 29). A secção também encerra com uma coda,
cujo acentuado cromatismo conduz ao retorno da secção A (L.7 C.2 e 3).
Harmonia
O tratamento harmónico dado a secção A do chorinho é caracterizado pela mudança
de modo entre A e B. A primeira secção está em lá menor, o que é sublinhado principalmente
pelo arpejo da tríade nos tempos fortes, bem como o primeiro grupo de semicolcheias dos três
primeiros compassos (L. 1 C.1 a 3).
Figura 4: Compassos 1 a 3
37
No anexo do presente artigo, está incluída uma versão do segundo andamento da Sonata nº1 (Tonos
Verklag) com numeração de compassos para facilitar a localização dos trechos abordados no decorrer
do texto. Será utilizada na análise a seguinte legenda: L = linha, C = compasso, T = tempo (se necessário).
A legenda pode aparecer de duas maneiras: a primeira diz respeito a trechos que incluem mais de um
sistema, neste caso a contagem dos compassos é feita a partir do início do andamento. A segunda
maneira refere‐se apenas a trechos compreendidos dentro de um sistema, neste caso a contagem dos
compassos é feita a partir do início do sistema.
Guitarra Clássica 37
É utilizado ainda nesta secção, um acorde de sexta napolitana no compasso 8.
Entretanto o compositor não resolve este acorde na dominante antes de atingir a tónica, mas
sim na subdominante como mostra a figura (L.2 C.4)
Figura 5: Compasso 4
A segunda secção está em Lá maior, (verificar na melodia presente nos 4 primeiros
compassos (L.4 e 5 C.16 a 19) na qual a presença dos sustenidos nas notas dó, fá e sol
caracteriza o novo modo).
Figura 6: Compassos 16 a 19
A progressão avança por tons inteiros sem que ocorra uma relação funcional entre
eles. De acordo com Scarduelli, “trata‐se de uma característica do compositor, em que acordes
tonais, neste caso menores na primeira inversão, são encadeados sem a preocupação
hierárquica do tonalismo.” (2007: 106)
Há uma mudança para textura polifônica entre os compassos 22 e 26, em que a
síncope é mantida. (L.5 e 6 C.22 a 26)
Figura7: Compassos 22 a 26
Melodia
A secção A apresenta os dois motivos que geram todo o segundo andamento, como
fora dito anteriormente. O motivo a que é desenvolvido nos primeiros onze compassos tem
como característica mais marcante o contraponto implícito, em que melodia e
acompanhamento dividem a mesma linha melódica.
Guitarra Clássica 38
Figura 8: Contraponto da secção A – compassos 1 ‐ 3
As notas marcadas assinalam a melodia enquanto as demais são acompanhamento.
As variações deste motivo restringem‐se à altura, sem que haja alterações
significativas no aspecto rítmico. A melodia principal é construída em graus conjuntos e
mantém‐se em um registo reduzido. A primeira semicolcheia de cada compasso forma a tríade
de lá menor, tonalidade do trecho.
O compasso 4 tem uma particularidade em relação aos anteriores: Aqui, o contraponto
implícito é abandonado, dando lugar a uma escala inicialmente construída a partir de meios‐
tons, posteriormente, por uma terça maior e uma 4ª justa (L.1 C.4).
Figura 9: Compasso 4
Esta mudança promove uma quebra na textura e na harmonia, pelas presenças das
notas mi e ré# que acentuam o carácter transitório neste compasso.
O motivo b, sob o qual está desenvolvida a secção B, distingue‐se pela textura e pela
síncope, presentes toda a secção (Fig.3). A partir do compasso 16, onde se inicia a segunda
secção, os aspectos acima mencionados estão mais presentes (L.4 e 5 C.16 a 20).
Nos compassos 16 a 19 há indicações de acentos por parte do compositor no último
tempo de cada compasso, no qual uma nota é sobreposta ao intervalo de terça. O agregado de
notas em cada compasso é transposto uma segunda acima (L.4 a 5 C.16 a 19).
A mudança de textura iniciada no compasso 23 é acompanhada pelo novo padrão
rítmico que transita entre a voz superior e inferior. Enquanto estas são apresentadas em uma
determinada voz são acompanhadas por semínimas. Este tratamento é abandonado no
compasso 26 em que a movimentação melódica é mais constante em ambas as vozes (L.5 a 6
C.23 a 26).
A coda que inicia no compasso 29 é uma escala cromática que começa em fá2 e
encerra em ré4. A progressão cromática prepara o retorno da secção A (L.7 C.2 e 3).
Guitarra Clássica 39
Figura 10: Coda – Compassos 29 e 30
Dinâmica
O gráfico abaixo retrata a distribuição da dinâmica no chorinho.
Figura 11: Representação gráfica da Dinâmica do segundo andamento
A amplitude neste andamento é de pp a f, a dinâmica indicado na primeira secção é pp
e na segunda ff. Esta alteração é feita de forma súbita, sem outras indicações na entrada da
textura contrapontística no tema B.
Redução rítmica
A figura 12 demonstra a disposição das frases no segundo andamento da Sonata:
Figura 12: Redução Rítmica
Guitarra Clássica 40
A proposta de redução rítmica sugerida por Rink, baseia‐se na representação de um
compasso através de uma figura como uma semínima, logo uma frase de quatro compassos
será representada por uma semibreve e será denominada de “hipercompasso38”. De acordo
com o autor “esta técnica redutora funciona muito bem com Chopin, cuja predilecção por
frases de quatro compassos é bem conhecida.” (Rink 2003:75). No segundo andamento da
Sonata nº1a distribuição das frases é regular e mantém a dimensão de dois a quatro
compassos.
A secção A está construída sob frases de quatro compassos. A primeira frase encerra
na nota fá do quarto compasso, no qual o IV grau instala‐se, ainda que de forma não tão clara
pela presença do movimento cromático ré, ré#, mi fá, que o retarda somente para o compasso
5 (L.1 C.4).
A segunda frase inicia‐se no compasso 5 no IV grau, esta estende‐se até o compasso 8,
no qual a progressão II IV I é realizada estabelecendo novamente a tónica e a fórmula de
compasso 7/16 (L.2 C.1 a 4). A terceira frase encerra no compasso 13 com o acorde de lá
menor (tónica) no estado fundamental (L.3 C.4).
A última frase distingue‐se das demais por estar compreendida em três compassos.
Inicia com o movimento cromático no compasso 13, passando pelo V grau no compasso 14 e
finalmente é concluída no compasso 15 novamente na tónica (L.3 a 5 C.13 a 15). De uma forma
geral as frases da secção A encerram na tónica geralmente em estado fundamental, com
excepção da primeira frase que é concluída no IV grau.
A secção B, em que o modo menor é alterado para maior, também é caracterizada
pela regularidade das frases de quatro compassos. A primeira frase inicia‐se na tónica (lá
maior) e encerra‐se no IV grau com a suspensão da nota si, que juntamente com a indicação
de fermata dada pelo compositor e o salto envolvido, estabelecem a uma tensão somente
resolvida no compasso 20 no início da nova frase na tónica no estado fundamental (L.4 e 5
C.16 a 20).
A nova frase encerra no compasso 23, no qual ocorre a mudança de textura para
polifônica, com resolução em dó#, terceiro grau da tónica (L.5 C2 a 5). A frase iniciada no
compasso 23 encerra no compasso 27 com o abandono da textura polifônica e a resolução na
nota mi, quinto grau da tónica (L.5 e 6 C.23 a 27). A última frase é marcada pelos movimentos
cromáticos, e novamente pelo uso da progressão II V I, que aos poucos restabelecem o retorno
do modo menor e a tónica (L.6 e 7 C.27 a 30).
38
Para uma exposição mais detalhada ver em Willian Rothestein Phrase rhythm in tonal music. Nova
York, Schirmer Books. 1989.
Guitarra Clássica 41
Sugestões para execução e interpretação
A secção A do segundo andamento está dividida em quatro frases de quatro
compassos cada39. Nas três primeiras frases, que estão construídas a partir do motivo a, o
acompanhamento será tocado com polegar, indicador e médio na mão direita.
Figura 13: motivo a – digitação da mão direita no acompanhamento
A voz superior teve a digitação alterada com o primeiro mi tocado na corda solta, com
o intuito de evitar o uso de barras e mudanças na posição da mão esquerda. A digitação
adoptada na mão esquerda portanto para as três primeiras frases é demonstrada na partitura
em anexo. Utilizou‐se o toque apoiado na primeira semicolcheia da voz principal de cada
compasso, como recurso para destacar a voz principal em relação ao acompanhamento. Este
princípio será adoptado até o fim da terceira frase.
A primeira apresentação do motivo b ocorre ainda na primeira secção (L.3 C.3). A
realização dos acordes será feita com o uso do toque plaqué40 como recurso para manter o
rigor rítmico. Este procedimento irá manter‐se em todas aparições do motivo no segundo
andamento.
O tratamento polifónico retorna no compasso 22 desta vez sob a rítmica do motivo b.
A voz inferior será sempre tocada com o polegar, inclusive no início do compasso, com o
propósito de destaca‐la do decorrer da secção. O toque apoiado volta a ser utilizado no
compasso 28, novamente com o intuito de destacar a melodia em relação ao
acompanhamento (L.7 C.1).
Na coda (L.7 C.1 e 2) o compasso final foi digitado de forma que os três grupos de
semicolcheias sejam tocados na quarta corda, com o objectivo de manter a melodia nas cordas
graves para sublinhar a tensão gerada pelo cromatismo.
39
Ver Estrutura formal: 2º andamento
40
Acorde Plaqué, es decir, la simultaneidad en la emisión de varias notas. (Carlevaro 1979: 73)
Guitarra Clássica 42
Conclusão
A utilização da análise como recurso no processo de preparação da performance é
assunto constantemente abordado em diversas publicações especializadas. Entretanto a
compreensão do verdadeiro papel desta dentro do processo está directamente relacionada
com a habilidade do intérprete na percepção de fenómenos que estruturam o discurso
musical.
A aplicação das técnicas de John Rink foi um passo consciente dado em direcção a uma
interpretação com argumentos para justificar a performance. Estas não vieram como solução
para problemas puramente técnicos, estes são tratados de acordo com experiencia enquanto
instrumentista de cada intérprete.
O roteiro de John Rink possibilitou criar uma espécie de mapa, que guiou a articulação
das informações do texto musical dentro da situação temporal que é parte do processo da
performance. A habilidade decorrente do exercício correcto da análise recompensa a quem o
faz com dados que se bem utilizados e relacionados com experiencia previa de cada intérprete
poderão contribuir para seu crescimento.
Não se espera que este trabalho substitua ou ponha em causa informações e trabalhos
já existentes, espera‐se sim que o mesmo tenha sido um exemplo de racionalização e
descrição, feito conscientemente, do ato de projectar durante a performance a música que
inicialmente reside na mente de quem a faz. O roteiro de análise surge como uma
possibilidade de conexão entre a informação inserida no papel e o imaginário de quem almeja
realiza‐la.
É claramente perceptível que as afirmações de Dunsby41 quando diferencia a
capacidade de explicar a estrutura da música da capacidade de comunicá‐la fazem sentido. O
que ocorre é que a análise é parte presente no desenvolvimento de ambas as capacidades, só
que de formas diferentes. O intérprete precisa de meios que lhe possibilite criar um roteiro
para organizar os eventos existentes na música. O facto de conhecer esta estrutura pode ser
útil para compreender o texto, no entanto o aprofundamento da interpretação analítica, que é
demandada na preparação de uma certa obra são relativos à obra em questão, como referiu‐
se Östersjo.
41
Ver Revisão Bibliográfica: Análise para intérpretes
Guitarra Clássica 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORÉM, F. (2000). Entre a arte a arte e a ciência: reflexão sobre a pesquisa em
Performance musical. In 1º seminário nacional de pesquisa em performance musical, 1,
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CARLEVARO, A. (1979) La exposición de la teoria instrumental. Montevidéo, Uruguai:
Ricordi
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Cambridge university Press.
LESTER, Joel (1995) Performance and Analysis: interaction and interpretation. Em John
Rink (ed.), The practice of Performance: Studies in Music interpretation. Cambridge:
Cambridge university Press
MARIZ, Vasco (2000) História da música no Brasil. Quinta edição. Rio de Janeiro: Nova
fronteira
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PRADO, J. A. A. (1985) Cartas celestes: Uma uranografia Sonora geradora de novos
processos composicionais. Tese (doutorado). Universidade estadual de Campinas,
Campinas, SP.
SCARDUELLI, F. (2007). A obra para violão solo de Almeida Prado: um panorama
histórico, estéticoe idiomático.In Anais do II Simpósio de violão da Embap, (pp.1‐17).
Curitiba, PR: Escola de música e Belas Artes do Paraná.
SCARDUELLI, F. (2007). A obra para violão solo de Almeida Prado. Dissertação de
mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.
ÖSTERSJÖ, S. (2008) Shut up ‘ N’ Play‐Negotiating the musical work. Suécia: Lund
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RINK, J. (2003) Analysis and (or?) performance. In RINK, J. (ed.). Performance Practice:
A guide to understanding. Cambridge: Cambridge University Press (pp. 55 – 80).
SCHMALFELDT, Janet: On the relation of analysis to performance: Beethoven's
"bagatelles" op. 126, nos. 2 and 5 in Journal of music theory, vol. (29) (pp. 1 – 31)
ZANON, F. (2003) O violão com Fábio Zanon. Acedido em 20 de janeiro de 2010 em:
vcfz.blogspot.com.
Guitarra Clássica 44
Anexo: Sonata nº 1 – Interlúdio – Chorinho (José Antônio de almeida
Prado)
Guitarra Clássica 45
Páginas com Música
Fado nº2 – Joaquim Pavão
(2010)
Sobre a obra:
“Fado nº2 pertence a um conjunto de peças para guitarra. Fados estão longe da estrutura, do
carácter popular, do nacionalismo que os distingue enquanto estilo. Fados são destinos onde a
liberdade do discurso se transforma em manifestos do quotidiano."
Joaquim Pavão
Sobre o compositor:
Apontamentos para um curriculum
Encontro renitências. Não sei bem porquê. A princípio poderia defender que não tinha feito
nada que valesse a pena assinalar. Mais tarde, com o tempo, amontoa‐se os factos e
acontecimentos. Matéria primordial para construção de um texto que permita de alguma
forma uma apresentação formal. Cronologicamente cria percurso, por importância cria um
discurso e no entanto nada parece dizer.
Numa conversa de jantar, ouvi com imensa atenção: ‐”gostaria de receber partituras sem
indicações, apenas as notas”. Sábia frase aqui transladada, aumentada do seu contexto, sem
direitos de autor. Assim, sou apenas aquilo que faço, sem recorrer a um pretérito. Talvez fará
mais sentido colocar apenas o que gostaria de fazer. Informação vital. Pois que mais posso ser,
o que mais posso dar a conhecer, do que apenas uma série de vontades.
Gostaria de não parar de escrever, de tocar. Gostaria de morrer bastante tarde, gozar de boa
saúde enquanto respiro. Apenas isso...
Joaquim Pavão, 2008
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