Fragmentos Pós-Modernos/set2008
Fragmentos Pós-Modernos/set2008
Fragmentos Pós-Modernos/set2008
FRAGMENTOS PÓS-MODERNOS
Rio de Janeiro
2003
Faça o que faça, a vida é ficção, / E formada de contradições...
[William Blake]
Não pode haver mundo, nem haveria distinções se tudo fosse igual. Parece que as
diversidades constituem a harmonia na espécie humana.
[Qorpo-Santo]
Evoé, Vênus!
[Manuel Bandeira]
Make it new.
[Ezra Pound]
Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
[Mario de Andrade]
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Um dos muitos modos de prefácio...
O leitor do qual espero alguma coisa deve ter três qualidades. Deve ser calmo e ler
sem pressa. Não deve intrometer-se, nem trazer para a leitura a sua “formação”. Por
fim, não pode esperar na conclusão, como um tipo de resultado, novas propostas de
escrita ou de leitura. Não prometo verdades teóricas, nem novo texto de estudo para
universitários, admiro muito mais a natureza cheia de força daqueles que estão prontos
para atravessar todo o caminho, desde as profundezas do empírico até as alturas dos
problemas culturais autênticos, e novamente, destas para as entranhas dos
regulamentos mais áridos, e dos programas didáticos arranjados. Mesmo satisfeito por
ter subido, ofegante, uma montanha bem alta e tendo recebido lá em cima a alegria da
vista mais livre, nunca poderei satisfazer os amigos de regulamentos neste trabalho.
Bem vejo chegar um tempo em que gente séria, a serviço de uma formação totalmente
renovada e purificada, trabalhando em conjunto, vão se tornar de novo os legisladores
da educação cotidiana – a que leva à referida formação. Provavelmente deverão
elaborar novos regulamentos e programas. Mas como está longe este tempo! E o que
não vai acontecer até lá! Talvez encontre-se entre ele e o presente a dissolução do
ensino universitário, ou pelo menos uma reformulação tão ampla das assim chamadas
universidades, que seus antigos regulamentos e programas parecerão, aos olhos da
posteridade, sobras do tempo das palafitas.
O trabalho se destina aos leitores calmos, a pessoas que ainda não estão
comprometidas com a pressa vertiginosa de nossa época rolante, e que ainda não
sentem um prazer idólatra quando se atiram sob suas rodas, portanto a gente que ainda
não se acostumou a estimar o valor de cada coisa segundo o ganho ou a perda de
tempo. Ou seja – a muito poucos. Esses, porém, “ainda tem tempo”, a eles é
permitido, sem que fiquem envergonhados, procurar a reunião dos momentos mais
frutíferos e mais fortes de seus dias, a fim de refletir sobre o futuro de nossa formação
acadêmica, eles podem até acreditar que chegam à noite de modo vantajoso e digno,
quer dizer: na meditatio generis futuri. Uma pessoa assim ainda não desaprendeu a
pensar enquanto lê, ainda compreende o segredo de ler nas entrelinhas, sim, ele
esbanja tanto, que ainda reflete sobre o que foi lido – talvez muito após ter largado o
livro. E, contudo, não para escrever uma resenha ou um novo livro, mas apenas assim,
para refletir! Esbanjador leviano! Você é o meu leitor, pois será calmo o suficiente para
seguir um longo caminho com o autor, cujas metas ele mesmo não pode ver, nas quais
deve acreditar honestamente, para que uma geração posterior, talvez distante, veja com
os olhos o que só tateamos às cegas e dirigidos apenas pelo instinto. Se o leitor, em
contrapartida, achar que só é necessário um pulo ligeiro, um ato bem-humorado, se
considerar que se alcança tudo o que é essencial com uma nova legislação decretada
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pelo Estado, então devemos temer que ele não tenha chegado a entender nem o autor,
nem o problema propriamente dito.
Por fim, dirige-se ao leitor a terceira e mais importante exigência: a de que ele não se
intrometa de modo algum, à maneira do homem moderno, e não traga para a leitura a
sua “formação”, algo como uma medida, como se com isso possuísse um critério para
todas as coisas. Desejamos que ele seja suficientemente formado para pensar em sua
formação de modo restrito e até desdenhoso. Então lhe seria permitido abandonar-se
com total confiança à condução do escritor que, justamente, só ousa falar do não-saber
e do saber do não-saber. Antes de tudo, o leitor não quer recorrer a nada além de um
sentimento forte e agitado do que é específico em nossa barbárie presente, daquilo que
nos distingue, como bárbaros do século vinte e um, diante de outros bárbaros. Assim,
com este livro na mão, ele procura os que são movidos por um sentimento semelhante.
Deixem-se encontrar, solidários, em cuja existência eu acredito! Perdidos de si
mesmos, que sofrem, em si mesmos, a dor da corrupção de uma alma brasileira...
Contemplativos, cujos olhos são incapazes de escorregar de uma superfície para a
outra com uma espiada cheia de pressa... Altivos, que Aristóteles celebra por
atravessarem a vida hesitando e sem ação, a não ser que uma grande missão e uma
grande obra os reclame... A vocês faço meu apelo. Não se escondam, só desta vez, na
caverna de sua reclusão e de sua desconfiança... Pensem que este livro é destinado a
ser arauto... Se vocês mesmos aparecerem no campo de batalha, em sua própria
armadura, quem ainda cobiçará olhar para o arauto que os convocou?...
Friedrich Nietzschei
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A pós-modernidade – o livro parte dessa concepção – é um fato. É um
fenômeno da cultura, não uma idéia, uma vanguarda, com a qual pretendem,
progressistas, liberais, ou revolucionários, modificar o mundo da arte ou da política.
Como fenômeno, a pós-modernidade compreende um espaço – e espaço ampliado –
em que se desenvolve, ou se retrai, uma multiplicidade incomensurável de
possibilidades artísticas, culturais, sociais, etc., que buscam fixar moradia, cada qual a
seu próprio modo, em um contexto de fragmentação de todas as utopias, ideologias,
escolas, absolutos de todo gênero.
De Platão a Marx, passando por Hegel, e a popularidade atual de Nietzsche bem
o comprova, o pensamento unívoco, a retórica da totalidade, a pregação do sistema
filosófico como justificador das ações e criações humanas desabaram por terra. A
cultura desmantelou-se, fragmentou-se, não como de ordinário vem se concebendo,
por uma ação desconstrutivista subjetiva, que se animasse ou se movimentasse pela
determinação consciente de pensadores, de artistas, de homens de cultura enfim. Isto é
apenas um dos seus efeitos. A Tecnologia, que retira do humano o domínio do Sistema
Ordenador da sociedade do século que ora se inicia – mas que ao mesmo tempo
concede amplas possibilidades de realização de desejos – é ela a força motriz desse
fenômeno.
Daí que se instauram, na nova sociedade desse início de milênio, novas divisões
e conflitos de classes não tanto econômicas, ao menos nas medidas até aqui
verificadas, mas em volta à produção e distribuição de poder, que antecede a produção
e distribuição de riqueza. Tanto no que concerne à dicotomia Velha Ordem/Velha
Economia versus Nova Ordem/Nova Economia, como aos múltiplos fragmentários
conflitos que se sucedem em progressão geométrica na base piramidal da sociedade:
tribo, “eu”, “outro”, são categorias que – e mesmo por conta de reformulação de
identidades, individuais e sociais – estão aí a exibir conflitos ao interior dos
microcosmos de poder como nunca dantes se conheceu. Trava-se, aos subterrâneos da
sociedade pós-moderna, batalhas cotidianas que, se nem a todos é dado ser sujeito, a
elas todos nós de um modo ou de outro nos sujeitamos.
Por outro lado, o desdobramento do Poder Cultural em Poder Social e
Econômico é novidade da pós-modernidade, que rompe definitivamente com a simples
equação Poder Econômico = Poder Social. Fragmentada a Cultura – fragmentado está
o Poder. Organizada a Cultura a partir de uma Lógica Informacional, duas são as
fontes de poder: informação e capacidade de gerenciamento informacional: ou seja, o
poder – e assim a cultura – vai se medindo por gigabites...
Das concepções humanistas, metafísicas – que justificavam a ciência por ela
mesma, e que centralizavam no Humano o seu desenvolvimento, no mais das vezes em
função de perspectivas éticas – à substituição do elemento científico nuclear, o saber,
pela informação, aprofunda e expande a divisão de trabalho iniciada com a revolução
industrial, no século XVIII, alterando substancialmente o conceito de ciência e, com
isso, os seus elementos orbitais: ciência, na pós-modernidade, é informação-
fragmento, com valor de uso e, conseqüentemente, com valor de troca. De um saber
filosófico, metafísico, que elevava o humano aos mais nobres ideais, eis que a ciência
se transforma em mercadoria. Ao centro, a mãe de todas as ciências, a Informática,
dado que é esta que lida com a informação, ainda em seus primeiros albores. Nesse
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processo, a informação passa a criar uma linguagem própria (com uma concepção
lingüística a que se tem dado pouca atenção nesses seus primeiros vagidos), uma
metodologia a ela apropriada, e uma objetivação do pensamento – e da arte – de modo
a configurar o mundo, o humano e todas as suas ações e relações, como um sistema
computacional, em que tudo se faz traduzir por bits, uma moeda de troca
informacional, que exprime valor e substância útil. Ou seja, tudo se reduz, ou é
redutível, à linguagem de um sistema que opera à revelia do humano, e que, em nome
do indivíduo, em tudo a este reduz em humanidade.
A antiga divisão de trabalho, articulada às mais modernas concepções de sua
especialização – é conclusão até bastante natural – força uma fragmentação não apenas
do pensamento e da atividade artística (imaginário), mas da própria relação social. A
atividade acadêmica – é claro – segue os passos da sociedade do seu tempo. Morre o
antigo catedrático, o clínico-geral do Saber; pululam os mestres do pequeno
conhecimento, aceita-se a ignorância das causas se resultam bem sabidos os efeitos
parciais de um pequeno fragmento-causa sobre um dado espaço-fragmento do saber
informacional. A desconexão cultural entre os partícipes da atividade intelectual é
então conseqüência que de ordinário se impõe. Saber mais do que o seu espaço-
fragmento exige é avançar fronteiras bem demarcadas pela boa gestão dessa nova
mercadoria, caracterizada como bit-informação, expressão pós-moderna para uma
nova moeda de troca, e que se localiza no centro nuclear de todo o conjunto de itens
econômicos (consumo) que pressupõem valor de uso.
As informações, elevadas ao patamar superior da ciência, coroadas ao centro da
criação, manejadas segundo a racionalidade de um sistema avesso às inutilidades (e
que acabam, afinal, por negá-la em sua essência), transitam pelo sistema operacional
de um ciberespaço absolutamente livre de compromissos umas com as outras senão na
temporalidade e no dado espaço em que se fazem necessárias, no momento mesmo em
que são convocadas a exibirem seu valor de uso. Corta-se aqui de um texto, cola-se
acolá, em um outro – que jamais seriam supose to de se unirem umas, desunirem
outras – fragmentos que se encontram e se desencontram na exata medida de sua
utilização no efeito desejado. Se há um saber do sistema, este não pertence ao campo
das concepções humanas: que cada um saiba apenas o que lhe cabe, segundo a sua
especialização, é condição necessária à paz social, ao progresso, e à harmonia
informática. Contribua cada qual com seus fragmentos, e se fará feliz o mundo...
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O indivíduo humano, o “eu” pluralizado pelas múltiplas personas sociais que a
ampliação fragmentária de utilização tecnológica lhe põe ao alcance e disposição pela
Máquina/Sistema, acaba por desenvolver nesse “eu” antes unívoco, e singular em cada
qual, uma extraordinária capacidade de exercitar-se em tantas múltiplas personas, até
originariamente contraditórias, tornando o paradoxo um modo natural de estar no
mundo. Muito mais importante, a capacidade de ampliar em muitos modos o ver, o
crer e o saber, a realidade do mundo em que se insere. E daí, por conseguinte, a
capacidade de ampliar o imaginário, social e individual, em muitos modos de
imaginar.
Na pós-modernidade toda informação é útil – importa apenas utilizá-la a tempo
e espaço que não se lhe deixe perder a inalienável liberdade de associação e/ou de
desassociação, onde seu único requisito de existência a conduza: seu valor de uso.
Informação, bit computacional, fragmento, indivíduo são, na pós-modernidade,
parentes de uma mesma família: importa seu valor utilitário e sua liberdade de ir e vir,
de permanecer fragmento, indivíduo, informação, bit computacional: dependentes
apenas da necessidade, sempre passageira, em exprimir-se como valor de uso,
mercadoria, enfim.
Mas é evidente que esta é uma das faces da moeda: pois a ampliação do espaço
em que transitam, pela pluralização desses todos fragmentos, acabam por produzir –
por movimento motor posto em funcionamento – um afastamento progressivo dos seus
antigos centros, de tal modo que acaso e imaginário passam a ter um papel
extremamente relevante para a ampliação das possibilidades, de um lado, de satisfação
de desejos; de outro, de utilização de cada potencial informacional.
A vida social rompe – definitivamente, talvez – com a estática das relações
humanas, do “eu” com o “outro”, tanto quanto do “eu” com os “outros”, aos muitos
modos desse “eu”, como ainda do múltiplo “eu” com cada qual dos múltiplos “outros”.
A vida cultural, por conseguinte, não pode ser vista e vivida senão como processo,
como um fluir, como uma fruição. E a literatura, a arte em geral, se necessita manter-se
articulada à vida e à cultura, não o será senão como procedimento, como modo
processual/procedimental de ler, escrever e pensar o mundo.
Pois é justo através de procedimentos que a arte une e desune fragmentos no
desiderato de construção do in-construído, de criação do in-criado. Procedimento é
ação, não revelação do existente; procedimento é criação, construção do inexistente.
Ou seja, lá se foi o tempo de se revelar – fragmento a fragmento – o puzzle da
existência em qualquer nível: é a hora do mosaico tipo lego, em que a peça-fragmento
a que por necessidade se unirá outra peça-fragmento, via acaso, via imaginário, criam
a figura – em permanente devir – a que o antigo puzzle fazia estática, imutável, dotada
de generalidade e coerção social. É hora, pois, de a Literatura voltar-se à autêntica
liberdade de criar – e abandonar tanto a obrigação de criar (vanguarda) quanto o medo
de criar (tradição). A Poesia deve voltar ao comando das coisas.
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não lhe deram causa direta, pontuam, com indubitável intensidade, cada qual em seu
aspecto próprio, todo um percorrer de trilhas que desembocaram, como uma vasta rede
pluvial, no oceano da pós-modernidade.
Alguns fragmentos são em si, metodológicos; são – eles mesmos – velas de
navegação necessárias a singrar os mares da estética fragmentarista, aos ventos – ora
calmos, ora nervosos – da pós-modernidade. Cabe ao leitor içá-las, ou recolhê-las, ao
sabor das próprias ítacas, ao prazer das próprias penélopes.
A linguagem imagética, a confundir signo e símbolo – e que, por linguagem,
autoriza arriscar dizer das possibilidades futuras da lingüística em recuperar o espaço
que se vai lentamente perdendo à semiologia – vai se tornando elemento comum de
diálogo e de compreensão de um mundo antes feito só à mão dos conceitos verbais. O
livro, na aceitação da imagem como uma especificidade, em seus discursos cotidianos,
da pós-modernidade, como um elemento que se desdobra para além da antiga
simbologia, busca – e ao entremear a textualidade fragmentária com imagens comuns
ao discurso que se desenvolve a partir de uma recepção também fragmentária –
estabelecer modos plurais de recepção, que possam como lego/fragmentos –
lego/palavras e lego/imagens, lego/conceitos – construir, em decorrência específica a
esse procedimento, muitos modos de ler, qual seja, afinal, a base que se acredita de
cristalina compreensão do que seja esse fenômeno denominado pós-modernismo.
Não há, na convicção do autor, outra maneira de coletar elementos/fragmentos
teóricos para a construção de discursos – e quanto mais polifônicos melhor – que
tratem da pós-modernidade para muito além das meras posições contra/a favor/mais
ou menos com que muitos autores, mercê de um discurso unívoco, que parte do
princípio de que se fala o que se sabe, obrigam-se a falar de um fenômeno do qual
ainda muito pouco se sabe, como se sabido fosse.
Não pode ser outro o caminho retórico, e estético, não podem ser outros os
elementos de análise, não pode ser outra a atitude do que pretende examinar a pós-
modernidade: trazer à baila tudo o que com ela se relaciona, e deixar – pois é assim
mesmo o seu modo próprio de animar a sua fragmentária composição – que cada
necessidade de utilização dê o valor de uso que cada fragmento merecer; que cada
acaso acontecido aos imaginários de quem avança nos textos, imagens e entre-textos,
possa resultar em qualquer interessante e bela união entre os fragmentos desses legos,
que será sempre individual, de cada leitor, singular, e que mesmo jamais se repetirá em
outras leituras.
Como resulta compreensível do que se anotou quanto à natureza processual da
existência fragmentária, das uniões e desuniões entre fragmentos, toda essa
movimentação se dá por idas e vindas, tanto por linhas como por espirais, retas e
curvas, dribles e chutes a gol, defesas, enfim, em tantas formulações geométricas
quantas as possibilidades de uso os convidarem.
A investigação, pois, não poderia adotar outro procedimento: como realizar
uma narrativa só linear, na construção de uma teoria pré-concebida, quando o que se
busca é conhecer o desconhecido, quando se busca criar novos espaços teóricos para
um fenômeno que não resulta diretamente de uma idealização de vanguarda, mas de
toda uma pluralidade de concepções de ver o mundo, que ao longo dos séculos vêm
despontando aqui e ali, se acumulando ao longo de gerações, até a sua eclosão
barulhenta nesses inícios de milênio? Realizar a retórica da univocidade é evadir-se – e
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não importa quantos elementos descritivos se colecione, nem quanto de contestação se
acumule contra a prática da pós-modernidade – é arredar-se, como num jogo de quente
e frio, é gelar as possibilidades de conhecer, e fazer conhecer, um pouco mais disso
que a cada dia parece tornar-se ainda muito maior que nós todos.
Por ser um mosaico em lego, que se constrói ainda com o imaginário, a
transmitir uma linguagem sub/supra jacente ao texto, a provocar uma amplitude de
pensamento que livre das amarras de uma só textualização, muitos fragmentos pegarão
de surpresa o leitor. Mas o efeito, inclusive estético, que se busca, quando obtido,
certamente o recompensará. Por outro lado, uma linguagem subjetiva própria às
textualizações escolhidas (procedimental/e do imaginário), obriga cada fragmento a
aguardar sua vez de entrar em cena, não sendo de aceitar-se a imposição desse fato
como decorrência de opção obrigatória por apenas um dos muitos possíveis
casamentos lógicos de causa e efeito, quando o que se pretende é justo obter-se o
efeito (inclusive, mas não só, estético) que possibilite ao leitor criar os seus próprios
liames, dar a cada fragmento escolhido o valor de uso que ele mesmo lhe atribuir: pois
é este um dos modos preferenciais do sistema próprio à pós-modernidade que se
assiste, segundo a utilização informacional esboçada acima, e que se reflete – a olhos
vistos – na vida cotidiana de cada um de nós.
Dadas as claras concepções esboçadas no texto, espera-se resulte pacífico que
não move o autor qualquer pretensão de vanguarda teórica da literatura, da arte, ou da
cultura, pois que mero coletor de elementos, um servente em seu carrinho de mão, a
reunir tantos materiais quanto úteis aos que, por competência e talento que lhes sejam
próprios, estejam aptos à construção dos respectivos prédios teóricos.
Se algum mérito este livro pretende atribuir-se é o de valorização do espaço
poético como elemento de solução, ou, ao menos, de alívio, para as mazelas e tensões,
inclusive teóricas, que estão a nos deixar inseguros no dia-a-dia dessa pós-
modernidade que, com aspecto de moda passageira, vai a cada espasmo ocupando
maior espaço nas práticas e nas histórias das artes e das literaturas, das ciências e das
culturas, das nossas próprias vidas cotidianas. E, no entanto, sendo o humano um
animal poético – confissão de fé no seu ofício – o autor faz-se parceiro e amigo da
pós-modernidade em busca dos mistérios da sua poesia.
Sobre as concepções poéticas que o livro anuncia, ainda fragmentariamente,
têm a única finalidade de ajudar o leitor, e nisso se faz epistemologia, e epistemologia
única e necessária aos fenômenos intelectivos e sensíveis que possibilita – embora aqui
e ali se avance por soluções de efeito estético, tanto quanto a convidar o leitor à
parceria do texto silencioso – o acesso àquela parte do texto em que, e aqui se trata de
profunda convicção do autor, em verdade se encontrará A Poesia; pois que seja esse
texto teórico tal qual o texto poético: não o reduto, forma ou essência, do que seja a
poesia; mas a ela o seu convite.
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Poética, no que ela se identifica com a infinitude, poderá nos iluminar a vencer essas
novíssimas dificuldades.
Até pode ser que ao final de cada leitura, por cada leitor, os fragmentos se
deixem ordenar, classificar, que sempre o será aos modos fragmentários que os
motivou e que, sobretudo, lhes serviu de estrutura estético-literária. Afinal, a proposta
basilar do autor é – em essência e aparência, motivação e exercício – a apresentação de
uma estrutura textual, contextualizada e contextualizante, de natureza estético-literária.
FRAGMENTOS PÓS-MODERNOS
(uma poética da pós-modernidade)
I celebrate myself,
And what I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
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...pós-modernos, fragmentados e fragmentários...
...carnavalizados...
[René Magritte,1989]
Aos escuros dos entre luzes, há mais claridade. Aguardando que nossos modos de ver
se apercebam... Que toda luz é sempre um fragmento de luz...
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Há uma novíssima safra literária (romances, novelas, ensaios, hipertextos, poemas,
líricas & músicas, filmes, vídeo-clips, etc.) da Pós-Modernidade, ligada à Nova
Economia, vale dizer, à Nova Tecnologia, motor disso que chamam Globalização
(ainda em estado de globalizamento), que estão, por inclusão do elemento virtual, a
aproximar realidade e ficção, confundindo-as, desordenando as cartas desses dois
baralhos (e afinal parecem ainda tão idênticos os signos...)...
... Que está a provocar que não mais se identifique qual a origem da informação
transmitida à zona central do cérebro, se real se imaginária, qual dos lados deverá
processá-la... Sim, isso é um perigo...
Uma transação acelerada entre os dois gomos do cérebro pode significar, a uma, que
assim estamos ampliando o uso da nossa capacidade cerebral para além dos usuais 5%;
a duas, que – e isso seja como for ocorrerá – o humano está a transcender o humano...
A sociedade humana desses inícios do século XXI nos aponta para realidades
fragmentárias – o humano disperso em tantos outros humanos desiguais...
12
construção do humano e de tudo o que humanamente nos cerca... O espaço infinito em
que transitamos, espaço em permanente devir, é o espaço do humano...
iii
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unívoco (embora Sócrates) enterrou o sonho pré-socrático das várias perspectivas
(fragmentárias) do mundo...
Foi a compreensão da natureza ideológica das idéias que desvelou a farsa da reta razão
do mundo – razão humana, bem entendido – segundo a qual as civilizações e com elas
as organizações sociais possam refletir a Idéia, o Absoluto, em todo o seu esplendor,
como resultado das boas ações humanas, especialmente dos seus governantes: de que
nos bastaria traduzir materialmente os processos ideais de relações sociais para
chegarmos à sociedade perfeita...
Este fim da utopia, ou seja, a recusa das idéias e das teorias que ainda
se serviam de utopias para indicar determinadas possibilidades histórico-
sociais, podemos hoje concebê-lo, em termos bastante precisos, também como
fim da história; isto é, no sentido (e este é precisamente o tema sobre o qual os
convido a discutir) de que as novas possibilidades de uma sociedade humana e
de seu ambiente não podem mais ser imaginadas como prolongamento das
velhas, nem tampouco serem pensadas no mesmo continuum histórico (com o
qual, ao contrário, pressupõem uma ruptura)...v
Utopia é idéia absoluta e absolutista, e jamais construída por uma razão neutra: é um
elemento de limitação do pensamento e das ações humanas; de estagnação da
criatividade; de favorecimento daqueles que em seu nome determinam os rumos da
cultura, justificados por arbitrários “fundamentos” das organizações sociais...
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que vai transformar o pensamento do mundo ocidental no sentido de liberação das
consciências para uma série de formulações ditas modernas, até às pós-modernas, que
só seriam possíveis com o desmantelamento do aparato ideológico, em todos os níveis,
que pesava sobre os indivíduos como sendo As Verdades Absolutas e Suas
Distorções... Em conseqüência, estavam soltas as peias dos Imaginários...
I don’t care
what they say
I won’t stay
In a world without love vi
15
Toda utopia, por seu racionalismo exacerbado, por dogmático e não crítico, de que
resulta jamais se colocar em dúvida, produz intolerância...
A ação política não deve ser revolucionária, não deve visar à reconstrução total da
sociedade, de resto imprevisível; deve resultar de paulatinas transformações de suas
partes...ix
16
[Capa: Equipe Hemus, 1976]
A compreensão dialética, desde Heráclito e Hegel, até Marx, ganha em Nietzsche sua
dimensão mais aperfeiçoada, verdadeiro coup de grâce nas idealizações utópicas: o
humano é um processo, um permanente caminhar para o além-do-humano...
À noção marxista de que vivemos a pré-história da humanidade Nietzsche contrapõe,
aperfeiçoando-a, a conclusão de que a cultura - como conseqüência dos que a fazem -
ainda é humana, demasiada humana... no mesmo sentido do que, talvez, dirá um
filósofo do futuro da cultura dos super-homens, que já estão a caminho: super-humana,
demasiado super-humana...
*
A ordem de desenvolvimento dos pensamentos, em que se funda a crítica de Popper,
desde os de Hegel aos de Marx, e que se inicia em Platão, o primeiro inimigo da
sociedade aberta popperiana, é justamente o sentido de uma ordenação dos modos de
ver e saber da comunidade humana, ordenação essa que se coloca a partir de uma
unidade lógica em direção a uma totalidade (ou integralidade)...
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absolutamente livre e independente, na convicção de que os átomos também se movem
por contingência da vontade: linha de pensamento que Nietzsche retomará para
formular sua idéia primeira de fatalidade – a mesma necessidade de Demócrito
(superável pela pulsão – vontade de poder em Nietzsche/ princípio do prazer em
Freud) – que Marx absorveu...
*
No sentido de liberdade (relações necessidade/pulsão/vontade), e não apenas nesse,
o fragmentarismo da pós-modernidade vem a ser uma (ainda claudicante) retomada
dos modos pré-socráticos de saber e de viver o mundo: a possibilidade de apreensão,
diálogo e aceitação a partir dos muitos modos de ver, ler e saber a realidade do
mundo...
18
O Universo é, ao menos para nós humanos, a máxima expressão material pensável
d’O Verbo, ponto convergente do sagrado e do profano, fiéis, agnósticos, e ateus...
19
imagética), modo privilegiado de transmissão de experiências e conhecimentos,
tradição e tradução cultural...
20
xiii
Assim como o verbo humano não se esgotou nos sons e nas imagens primitivas,
também não se esgota na escrita conceitual: o verbo humano encontra-se em
permanente devir de linguagens...
*
Em Assim falou Zaratrusta – especialmente, pois que isso ocorre ao longo de toda a
obra de Nietzsche, a dicotomia arte-filosofia é neutralizada pelo projeto de fazer da
poesia o meio de apresentação de um pensamento filosófico não conceitual e não
demonstrativo... Um pensamento emancipado, portanto, da razão...
Assim falou Zaratrusta é um livro daquele e para aquele que, “onde
pode adivinhar, detesta inferir”, daquele e para aquele que pensa ter pouco
valor o que precisa ser provado, daquele e para aquele que admira a potência
do “grande estilo”: “a potência que não tem mais necessidade de prova, que
desdenha agradar, que dificilmente dá resposta, que não sente testemunhas por
perto, que vive sem se dar conta de que existe oposição a ela, que repousa em
si, fatalista, uma lei entre leis”...
Com sua forma poético-dramática, Zaratrusta é a realização do projeto
wagneriano, tal como Nietzsche o havia interpretado no primeiro período de
sua filosofia, ou, mais precisamente, aparece em continuidade com o que
Nietzsche dizia, em Richard Wagner em Bayreuth, sobre o modo como Wagner
lida com a música e o mito...
Tal como pensa Nietzsche nessa época, a missão singular de Wagner
teria sido reintroduzir o mito no mundo e libertar a música enfeitiçada, fazê-la
falar, através de sua força dramática...
O gênio poético de Wagner está no fato de ele pensar por
acontecimentos visíveis e sensíveis, e não por conceitos, isto é, em pensar por
mitos, que exprimem uma representação do mundo por uma série de fatos, de
atos...
Sentindo que o primeiro perigo, quando os heróis e deuses dos dramas
tivessem de se exprimir por palavras, era que essa linguagem verbal
despertasse o homem teórico, Wagner forçou a linguagem a voltar a seu estado
de origem, em que ela não pensa por conceitos, em que ela ainda é poesia,
imagem, sentimento...
21
Em Assim falou Zaratrusta, a forma poética de filosofar tem como ápice
o eterno retorno, pensamento trágico que só pode ser adequadamente
enunciado através do canto, da palavra poética...xiv
*
O Eterno Retorno, a mais alta fórmula de afirmação até hoje atingidaxv tem como
forma de expressão poética o ditirambo dionisíaco (greco-latino) em que a palavra,
apolínea, se deixa vencer, por embriaguez, pela música dionisíaca...
Em Assim falou Zaratrusta, Nietzsche – Ecce Homo! – busca ir ainda mais longe do
que permite o uso dos seus ditirambos dionisíacos: Nietzsche busca realizar em livro
tal qual Wagner o fazia em ópera... O ditirambo sinfônico!...
Daí porque a expressão: eu não creio em um Deus que não dança, refletindo uma
estratificação, uma formalização demasiada de Deus, que nos chega praticamente
incólume até os 60, quando o movimento hippie aproxima a divindade dialogando
com a fé a partir da idéia de paz e amor, na apologia da alegria de viver, da vida
em natureza, da autenticidade nas relações humanas...xviii
*
Matéria que ideologiza, matéria que engendra a sua própria superação, o humano
constrói sua cultura a partir de ficções que realiza, para si e para as suas relações
22
materiais de poder: com a natureza (interna e externa) e com os seus semelhantes
(natural e socialmente considerados)...
Porque o humano é ficcional assim se define, por construção literária, sua própria
identidade, tanto individual, quanto natural e cultural...
Porque o humano se define por construção literária, assim também se define, ainda
por construção ficcional, toda a cultura em que se insere, como sujeito e objeto dessa
mesma cultura...
*
Ainda por construção literária se formam os Estados: ficções que se institucionalizam
a partir de si mesmas. O Estado nada mais é, pois, e também, uma ficção, (como, aliás,
estabelecido pela Arte do Direito, a saber, uma ficção, no âmbito desta, jurídica)...
Assim, por via de conseqüência lógica, as suas normas, normas jurídicas, por
derivarem de um Estado Ficção, pouco importando sua legitimidade, ou mesmo
legalidade, possuem natureza ficcional...
Daí que, para a sua correta hermenêutica, há sempre que considerar este aspecto, que é
da sua essência mesma, tanto na formulação de uma teoria geral quanto para sua
hermenêutica: como um modo de interpretação que se junta aos modos: literal,
gramatical, sistemático, teleológico e crítico, em autêntica interpretação ficcional –
interpretação literária – dos muitos modos do Direito...
23
impressão do acontecimento... A instância segunda, denominada geométrica,
pode ser definida como o procedimento de organização racional de uma
primitiva ordenação casuística, caótica, fenomenológica: tornar Geométrica a
representação, isto é, delinear os fenômenos e ordenar em série os
acontecimentos decisivos de uma experiência. É a classificação, a medida
necessária para que se possa repetir, ou representar, artificialmente o
fenômeno. Dão-se nomes, medem-se os fenômenos, define-se o sistema. É a
instância descritiva... Mas essa geometrização aparente, com o tempo, torna-
se insuficiente, sendo necessário, pois, procurar o porquê, no nível abstrato: o
pensamento científico é então levado para construções mais metafóricas
que reais... É a libertação do saber discursivo; o escape das fórmulas pela
necessidade de se ir além da linguagem para só então retornar a ela. O nível
abstrato – entre-lugar imaginário – é detectado naquilo que modifica a
geometrização, que já então se mostra insuficiente. A pergunta de Bachelard é
a sua própria tese:” por que não considerar a abstração como o objetivo do
espírito científico?”.
...Todo saber adquirido é saber prestes a ser superado. O único estado
plausível é o da transformação do conhecimento: ninguém pode arrogar-se o
espírito científico enquanto não estiver seguro, em qualquer momento da
vida do pensamento, de reconstruir todo o próprio saber... Para a
reconstrução desse saber – fotografia de uma geometrização momentânea –
importa estabelecer uma psicologia do aprendizado científico, que implica, em
última instância, analisar a base afetiva da necessidade do conhecimento:
devemos levar em conta interesses diferentes que, de certa forma,
constituem-lhe a base afetiva.
...O não querer desfazer-se do conhecimento conquistado, a resistência à
transformação e à abstração, é definido como “obstáculo epistemológico”,
instinto conservativo de base afetiva. A psicanálise dos motivos instintivos e
irracionais é o processo de purificação espiritual que permite atingir o real
objeto científico – a abstração:
24
...“quando o espírito se apresenta à cultura científica, nunca é
jovem. Aliás, é bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos.
Aceder à ciência é rejuvenescer espiritualmente, é buscar uma
brusca mutação que contradiz o passado”...xx
*
O Cinema, ao comunicar por imagens, tenta criar uma outra linguagem, não
propriamente uma metalinguagem (senão como estágio primário de formação de sua
própria semântica, quem sabe uma sintaxe, quiçá uma gramática)...
Uma linguagem que busca ampliar, articulando linguagens com/para o visual,
pensado e comunicado, os horizontes de interpretação do mundo...
Tudo eleva a crer que o Verbo não esgotou, ainda, os seus mistérios...
Talvez não seja tão ousado (ou profano) dizer que a fragmentação, com suas muitas
linguagens (polifonia) é uma estratégia do Verbo e sua civilização...
*
Dada a necessidade de uma interpretação ficcional de todos os elementos da cultura,
temos que os discursos verbais correspondentes, não apenas a essa mesma
interpretação, como ainda à própria constituição do fenômeno cultural, forçoso
admitir, possuem, em sua natureza essencial discursiva, a qualidade de discurso
literário, ou seja, discurso apto à transmissão material, poética do pensamento,
tanto quanto à transmissão espiritual, poética do imaginário...
25
Quando se aponta a natureza ficcional da antropologia cultural, especialmente no que
respeita aos insuspeitos trabalhos de descrição etnográfica de uma dada cultura, de que
todas as descrições do tipo são meras interpretaçõesxxi, mais ou menos superficiais,
mais ou menos densas, está a se considerar o fato de que o intérprete realiza um
trabalho necessariamente ficcional/literário, e que, não por acaso, encontra na
imaginação o seu mais eficiente instrumento de aproximação com o real...
Literatura (estrito senso) e Antropologia, e pouco importa que cada qual à sua maneira,
discursos de interpretação do mundo, revelação ficcional do mundo humano já antes,
e pelo próprio humano, ficcionalmente constituído...
*
Não apenas todos os discursos possuem a mesma natureza ficcional, como também a
própria constituição da cultura pelos humanos que a integram, desde a sua origem, é
fruto de uma fabricatio humana, (interpretações ficcionais do mundo pelos nativos de
qualquer cultura)... mais ou menos superficiais, mais ou menos densas, de acordo com
o estágio de complexidade dessa cultura...
26
*
Cada interpretação cultural é sempre uma das possíveis interpretações ficcionais de
muitas interpretações anteriores, ainda ficcionais, do mundo; ficcionalmente
vivenciada por alguma dada comunidade humana, e a partir de ritos e signos
ficcionalmente instituídos, que possibilitam a sua singularização (aldeia ficcional) em
relação às demais, a saber, uma identidade humana (nacionalidade) também
ficcionalmente estabelecida...
Mesmo quando a arte é uma imitação (enquanto interpretação) da vida, a vida, tal
como os humanos a vivem, só é possível como uma imitação vivida, vívida,
discursiva, (e ainda enquanto interpretação) da arte (pré-verbal) de constituir ficções
sobre esta mesma vida...
27
*
Tudo é interpretação: tudo nasce como imaginação, tudo se realiza como
ficção; tudo é, pois, antes, Poesia, depois, Literaturas...
O cinema vem pouco a pouco se tornando o posto mais avançado de uma interpretação
literária da realidade humana – filmes que estão a desvelar, para um público cada vez
maior, as relações de poder a que se submetem os indivíduos em geral...
Filmes que apontam para novas reflexões a respeito da própria condição humana,
construindo novíssimas interpretações para conceitos tão ancestrais quanto, por
exemplo, o que seja alma, o que seja o corpo e seus sentidos, o que sejam o natural, o
real, o artificial, o imaginário, o que seja o humano, o que sejam o tempo e o que
seja o espaço...
Sob a alegoria fantástica de filmes como The Truman’s Show, Matrix, Being John
Malkovitch, The Thirteenth Floor, Artificial Inteligence, por exemplo, há toda uma
interpretação pós-moderna de mundo que, ao mesmo que contextualizá-los,
literaturizá-los segundo uma novíssima articulação de elementos tecnológicos e
existenciais da pós-modernidade, está a construir novos modos de ver, ler, crer e saber
o humano e seu mundo relacionados ao processo pós-moderno de fabricação de novos
fictos culturais, e que está a exprimir uma realidade pós-tecnológica divinizada, que
tenta responder às problematizações geradas pela inserção do humano em um mundo
de infinitas possibilidades tecnológicas, humanidade pouco a pouco submetida ao
28
deus Virtualis, senhor absoluto de um universo virtual, para muito além de todos os
big brothers que afligiam a modernidade...
Pois agora não se trata mais da simples inserção de máquinas primitivas num mundo
humano, até então apenas moderno... Mas da adaptação progressiva da mente
humana aos reclamos da perfeição virtual, num pós-racionalismo, num pós-
iluminismo, que faz o panoptikon de Benthamxxv, nos parecer jogo de amarelinha...
Filmes como Show de Truman, Clube da Luta, Quero Ser John Malkovich, 13o. Andar,
Magnólia e entre nós, Cronicamente Inviável, são filmes nitidamente pós-modernos,
no sentido de que apresentam a crítica, tanto temática quanto estética, de uma
sociedade humana organizada sob um olhar unívoco, e por isso totalizador, numa ótica
piramidal unitária do mundo, como ainda porque propõem, através de uma releitura da
condição humana, um modus de olhar que convida o humano a superar as misérias e os
conflitos que vem se acirrando nesses tempos pós-modernos...
29
*
Talvez até mesmo, e assim como o próprio deus nietzschiano esteja nietzschianamente
morto, o humano, também nietzschianamente considerado, já o esteja; e o que vemos
seja apenas o reflexo de estrelas que já cederam seu brilho ao caos...
30
Talvez, na pós-modernidade, black super-men já estejam a caminho, como na cena
final de Matrix, o filme...
xxvii
Matrix sugere que a ordem social até o advento da pós-modernidade, idade crítica da
idade anterior (e alguém já definiu a pós-modernidade como um conflito de gerações),
seja a mesma que a da sua ficção, criada como metáfora crítica aos sistemas sociais
unívocos, que mantêm os indivíduos escravizados aos seus interesses de auto-
alimentação... Nesse diapasão a queda da Matrix seria uma metáfora da festejada
desconstrução que muitos consideram a própria definição da pós-modernidade...
*
O escritor analítico observa o leitor, como ele é; a partir disso faz seu
cálculo e ajusta a máquina, para produzir nele o efeito correspondente. O
escritor sintético constrói e produz para si um leitor, como ele deveria ser, não
o pensa morto e inerte, mas vivo e reagente. Faz com que aquilo que inventou
lhe surja gradualmente ante os olhos, ou o seduz para que ele mesmo o invente.
31
Não quer produzir sobre o leitor nenhum efeito determinado, mas estabelece
com ele o sagrado relacionamento da mais íntima sinfilosofia ou simpoesia...xxix
*
Se com as palavras é que explicamos o mundo, e ainda com elas é que sabemos o que
se passa nesse mundo, jamais vencemos a distância que separa esse saber, por mais
completo e complexo que se faça, do simples ato de ver, ou seja, entre um
conhecimento científico, que se estabelece pelo conceito, e o conhecimento sensível,
desse mundo que se expõe, e se impõe, a todos nós, sem que dele possamos nem nos
alienar nem apreender em sua/nossa plenitude cognitiva...
xxx
O modo como vemos todas as coisas, e assim as pessoas, tanto no mundo da natureza
quanto no da sociedade, sempre guarda estreita relação seja com aquilo que pensamos
que sabemos, seja com aquilo que pensamos que acreditamos...
*
Se a Literatura busca revelar, desvelar, explicar, enfim, narrar e interpretar o mundo,
através das palavras, proporcionando-nos assim o progressivo conhecimento desse
mundo, o texto cinematográfico busca expandir essas narrativas e interpretações ao
lugar dos sentidos contidos nessas mesmas narrações e interpretações, demonstrando-
as sensivelmente. Assim fazendo o cinema busca, então, reduzir a distância entre
conhecimento conceitual e conhecimento factual...
O cinema não apenas transmite a realidade textual de que se origina, mas – e é o que
lhe proporciona estabelecer-se a si mesmo como um novo texto em igual original – o
cinema cria os seus próprios modos de narrar e interpretar o mundoxxxi.
32
Conseqüentemente, cria também seus próprios modos de ser visto, de ser lido,
correspondentes a esses modos próprios de narrativa e interpretação...
Os modos de ver tanto a vida quanto o filme, os modos de ler tanto o livro quanto o
filme, não escapam ao fato inarredável de que tudo o que vemos está ligado ao que
sabemos ou ao que acreditamos, ou seja, às nossas ciências ou às nossas crenças.
Portanto, esses modos de ler o filme possuem a sua especificidade decorrente de ser
uma narrativa correspondente a uma interpretação original do mundo, com sua pletora
de signos, seu modus faciendi específico, e a especificidade dos saberes e crenças de
cada um dos que o lêem, dos que o vêem...
Claro está que, se os modos de ver o mundo encontram-se em relação direta com os
saberes e os credos de cada qual, em igual medida encontram-se os seus diversos
modos de fazer o mundo, aos modos próprios de cada qual...
A imaginação sugere uma mediação entre o que sabemos que é e o que acreditamos
que seja, que possa ser ou vir a ser...
33
grau, aqui não importa, nossos próprios e pessoais modos de imaginar, de fantasiar, de
sonhar, que nos modifica inteiramente, de uns a outros, singularizando-nos (e aos
outros), em conseqüência das infinitas possibilidades de articulação desses
infinitos modos de ver o mundo...
Os muitos modos de ver o mundo, toda leitura, toda interpretação do mundo, ciências
e crenças, decorrem dos caracteres ideológicos adquiridos no embate sócio-cultural; a
imaginação, sendo infensa às diversas realidades do mundo, talvez seja justamente
aquela condição do humano que mais diretamente venha a refletir aquilo que
chamamos de livre arbítrio, que mais intrinsecamente venha a constituir-se em
exercício de todas as liberdades humanas, como origem primeira de toda a condição
de liberdade...
34
Só no terreno do imaginário é que nos reconhecemos
livres, que nos sabemos livres, que nos cremos
livres... Só no imaginário é que podemos transitar
inteiramente livres...
O saber se inicia pela Poesia, visto ser o modo poético do humano o que lida com a
matéria do imaginário, da intuição vital, lida com o pré e o meta verbal, com os
infinitos silenciosos, lida com os espaços vazios do conhecer...
*
A aventura poética, a exploração dos espaços vazios da realidade tem muito da
compreensão da relevância dos espaços vazios entre os átomosxxxii na formação da
matéria...
35
Uma diferença profunda, porém, separa os atomistas de todos os
filósofos gregos anteriores e posteriores. Que diferença é esta? Entre um
átomo e outro, há o vazio ou o vácuo, que é o não-ser como algo real,
existente. Assim, pela primeira vez, um grego, admitindo o vácuo, afirma que
o espaço é real sem ser corporal. Dessa maneira, será mais correto dizer que
para os atomistas a phýsis são os átomos e o vácuo. O pleno (o
átomo) e o vazio são os princípios constitutivos de todas as
coisas...xxxiii
*
Necessidade ou casualidade , o que importa mesmo é (mesmo antes que as
xxxiv
motivações) o fato de que a união dos átomos não elimina a ausência de matéria nos
entre textos da organização material...
Mas não serão os entre textos os próprios mentores da organização dos átomos?... Ou
seja, não se encontrarão exatamente neles o que chamamos de energia espiritual
criadora?
Se Deus está em todas as coisas observáveis, com muito mais razão não nos parece
estar naquelas infinitas imensidões não observáveis? Esta é a razão porque a fé não se
explica... Pois fé é poesia, é ler em uma linguagem meta-imaginária, que só se permite
revelar aos olhos de ler nos espaços invisíveis, inaudíveis, de quem se permite aceitar
os alfas e os ômegas da infinitude poética...
*
A intuição, chave primeira do portal da imaginação, nasce lá fora, nos espaços vazios,
vazios apenas porque não-observáveis, vazios apenas porque plenos de uma linguagem
imaterial, pré-verbal...
A intuição nasce do encontro da energia criadora, antes e para além de nós, com a
energia vital em nós... Aquela energia vital concentrada no âmago do que percebemos
como o mais profundo mistério da existência, o mistério da vida... E é nesses
encontros que residem tanto a matéria da poesia, quanto a poesia da matéria... Tanto
quanto o mistério de toda a poesia, que sempre está muito mais allá...
Não é senão pela capacidade, a saber, capacidade poética, de intuir, imaginar, fantasiar,
pela capacidade de lidar com os “espaços vazios” do imaterial, de exercer a liberdade
como potência criadora do universo, que se constrói, ou se reconstrói, o humano, a
natureza, as civilizações, a própria humanidade...
36
EXTREMO
Ultrapassei o teus limites, última
testemunha da noite, quintessência
dos nomes e das cores, desespero
dos espaços vazios incendiados
pelos longos janeiros que articulas
na penugem dos pêssegos.
Sou límpido
e táctil como um vaso destilado
da vida, nesta margem, neste extremo
que busca o manancial inesgotável
e derradeiro.xxxv
É da intuição, não da razão, que nasce toda a nossa noção, pública ou particular, do
que seja a autêntica liberdade...
Liberdade, liberdade: cuja essência está na natureza, em toda a vida, que age, como
Bergsonxxxvi apontou, como potência psíquica criadora, não apenas em nós, mas em
todo um universo que existe em permanente processo de ser, sendo... Tão livre quanto
imprevisível...
*
A máxima aristotélica segundo a qual o homem é um animal político não diferencia
ainda o humano das demais espécies animais: mesmo um símio e um golfinho são
animais políticos... Afinal, a seu modo, que espécie não age e não se organiza e não se
situa como “polis”, o bando (tal qual tribo), politicamente? A polis humana avança
pelo exercício do imaginário para além de si mesma... A polis humana se constrói e as
suas maiores conquistas materiais pelo exercício da poesia...
É a visão poética do mundo, uma visão aberta do fenômeno humano tanto quanto da
sua cultura e da sua sociedade (por conseguinte, de sua arte e da sua ciência), que nos
proporcionou avançar por terrenos inexplorados até o século XX...
*
O pós-modernismo, e seu método privilegiado de exploração de possibilidades – o
fragmentarismo, resulta justamente de um reconhecimento das infinitas ordens de
37
idéias presentes nos entretextos e nos entre-tecidos sociais/culturais, ainda
inexplorados, ainda desconhecidos de um mundo que se impôs construtivista só a
partir dos tecidos e textos já postos na cultura (fosse para negá-los, fosse para afirmá-
los) em função de ideologias dominantes ou em processo para a dominação...
38
*
O fragmentarismo, que nos pré-socráticos pressupunha uma apreensão da realidade
(material, ética e estética) do mundo, por passos e por partes, dado o reconhecimento
da impossível apreensão in totum, esta que própria ao pensamento teológico (crença), é
o modo que proporciona estranhamentos, ou noções de vazio, que obrigam o
observador/leitor ao exercício ativo da razão/imaginação à maior apreensão da
realidade material, científica e, particularmente, artística.
*
É possível textualizar o não-textualizável... simplesmente convidando o
leitor/observador à leitura dos espaços vazios entre(inter)textos... É o que se obtém
quando se constrói uma disposição fragmentária de intertextos...
Numa etapa da civilização em que amiúde se flagra o fato de que tudo, mesmo em
nome de categorias platônicas ou aristotélicas, se reduz ao λογος sofista (ρετορικο
ς), o fragmentarismo retoma a noção de verdade na contra-face do discurso retilíneo,
no ponto de convergência entre o real e o ideal, entre discurso e materialidade, só
accessível pela via do imaginário, por suas possibilidades de apreender, a um só
tempo, a parte (o texto) e o todo (o inter-texto), a linha e a entrelinha, o múltiplo e o
unívoco possíveis...
39
*
No fragmentarismo idéia e realidade se conciliam no discurso, na constituição de uma
linguagem que as convida permanentemente ao diálogo, como um modo pós-
moderno de retomada do conceito de verdade...
xxxix
*
A julgar do que nos restou salvo da violência das univocidades ao longo dos primeiros
séculos da era cristã, talvez a primeira obra literária de natureza fragmentarista,
retomando a perspectiva da pluralidade, ironizando as verdades unívocas, mantendo-se
firme e fiel à visão pré-socrática do mundo, tenha sido os Diálogos dos Mortos, a
sátira menipéia de Lukiano de Samósata (séc. II d. C.; depois Luciano, pelos
romanos... xl)...
40
construir um texto em que a lógica do real ficcional (imaginação) se sobrepõe à lógica
do ficcional real (ideologia)...xli
xlii
41
...Não se pode deixar de conectar a sátira menopéia à cosmovisão carnavalesca na
literatura, nas propostas de Bakhtin quanto ao romance polifônico de Dostoievski xliv,
estendendo ambas, menipéia e carnavalização aos exercícios – arte e cultura – da pós-
modernidade...
42
A idéia de carnavalização, que Bakhtin apresentaria em seu livro Problemas da
Poética de Dostoiévski, já se exibia, também mercê da cultura brasileira, no poema
Bacanal, de Manuel Bandeira, que abre o seu livro Carnaval, exibindo o poder de
antecipação de conceitos teóricos da poesia brasileiraxlviii, o que levou Gilberto
Mendonça Teles a afirmar, peremptoriamente, ter sido Manuel Bandeira um
precursor dessa idéia de carnavalizaçãoxlix... De fato, em que pesem as considerações
de ordem puramente teórica de Bakhtin, os elementos do conceito já estavam bem
firmes na literatura brasileira da fase heróica do nosso modernismo, tal qual se
observa, por exemplo, nos losangos coloridos à arlequim da capa do livro Paulicea
Desvairada de Mario de Andrade... Note-se a correlação de idéias do desvairismo de
Mariol com o Bacanal de Bandeira...
li
BACANAL
Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé Baco!
43
Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé Vênus!
*
O inter (ou entre, prefira-se) texto, o espaço vazio entre as textualidades aponta para a
existência do nada, tal qual o pressupunham alguns dos pré-socráticos, e, muito
especialmente, que é no espaço vazio que se encontra, à plenitude poética, a verdade
textual...
44
Um turbilhão de todos os tipos de formas separou-se do Todo...liv
45
46
lvii
*
O texto fragmentariamente realizado tem como corolário a possibilidade de
contemplar várias vozes textuais, tanto quanto vários olhos de leitura, abordando o
objeto de um ponto de vista prismático, obrigando-se, tanto autor quanto leitor, à
compreensão do fato de que nenhum texto pressupõe verdade unívoca, mas uma
47
pluralidade de verdades, algumas inaccessíveis, bem como atentos para o fato de que
há muitos modos de ver e ler o mesmo fato, o mesmo objeto, o mesmo fenômeno...
*
O método fragmentarista também é um modo de conhecimento do mundo tanto quanto
de cada indivíduo... Nesse sentido, é também um método de ensino e de
autodidatismo... Com certeza, o modo mais leve e mais prazeroso de o aluno
manifestar seus conhecimentos, e buscar outros, com a mesma naturalidade que tem ao
brincar…
48
Tome cada qual de um caderno e vá-se registrando o dia a dia de seus pensamentos,
das suas leituras, cada qual das idéias que ex-surgem das reflexões ou falas de cada
qual, e se terá, seis meses a um ano após, uma radiografia intelectual/sensitiva, e
mesmo emocional da individualidade, ponto de partida para uma reflexão aprofundada
a partir de si mesmo, para sua própria revisão de conceitos, para o desenvolvimento de
suas capacidades, e para a ultrapassagem de idéias que não lhe aproveitam, de
preconceitos e reações pavlovianas que lhe obstaculizam o aprendizado de si e do
mundo...
Que se exercite o método fragmentarista durante o ano letivo dos alunos, e que se
questione às provas finais não o que o aluno sabe sobre tal e qual ponto do programa,
mas que se dê a ele a oportunidade de mostrar, fragmentariamente o que sabe… Pois é
mais que óbvio que o interesse despertado sobre tais e quais aspectos disciplinares, e a
gratificação do seus esforços – em nada importa a medida – se articulará diretamente à
gratificação da sua individualidade…
*
A só aparente facilidade do texto fragmentado, a que aludem seguidamente os críticos
da pós-modernidade, resulta apenas da dificuldade desses mesmos críticos em lidarem
com as autênticas relações de semelhança... O discurso fragmentado busca realizar,
literária, estética, retórica e textualmente, a semelhança entre verbo e vida... O grau de
aparente veracidade do discurso unívoco nada mais é que fruto de uma reprodução de
relações artificiais de similitude que, sob a capa de absoluta correspondência
igualitária, em verdade oculta o permanente deslocar-se, vida e mundo, entre os muitos
modos de saber, ver, viver, verbalizar...
*
Se, de um lado, é bastante comum em nome da pós-modernidade (e do texto
fragmentário) a utilização fácil de conceitos, que transitam superficialmente por tudo
sem nenhuma contribuição efetiva, na crítica de um Giddenslviii, por exemplo, por
outro lado é nítida a ampliação de fronteiras teóricas, a ampliação do diálogo e,
sobretudo na abordagem empírica, a ampliação do divertimento que – basta ver o seu
aproveitamento pela mídia – tudo isso a que chamam pós-modernidade vem
causando…
Para a Literatura, a pós-modernidade – e et pour cause – o fragmentarismo,
alarga sobremaneira as fronteiras da sua soberania…
49
O fragmentarismo possibilita – e mesmo exige – uma atividade dialogal, de expansão
polifônica, entre concepções até antagônicas, muitas vezes constituindo alianças
paradoxais entre uma pluralidade de modos de ver e saber o mundo, que acaba por
proporcionar aos leitores um encontro com verdades teóricas, às vezes até comezinhas,
que só fragmentariamente podem se constituir...
Não há porque distinguir, para os mochos fins a que se propõem os céticos, entre a
superficialidade de práticas ditas pós-modernas e as todas superficialidades de antigas
práticas ditas modernas... É a mesma fenomenologia, que dispensa em ambas maiores
esclarecimentos...
*
Quando João Gilberto Noll afirmou, por exemplo, que não consegue deter-se a ver
um filme com muita historinha, está a discorrer sobre uma necessidade típica da
leitura pós-moderna: a presença de uma fragmentação que abra a percepção para além
do texto unívoco... Sem, no entanto, é claro, cair no conto do vigário de um
dinamismo superficial que ele considera típico de thrillers, do mero congestionamento
da ação, preferindo, pois, certos esboços que não levam a nada...
50
João Gilberto Noll sugere que se desconstrua a narrativa de histórias mais ou
menos contínuas para a composição de seqüências dispersas de cenas estáticas,
destinadas a induzir nos leitores um “êxtase”, pelo qual, mesmo por um pequeno
instante, exponha o fundo escuro” lx (prefiro chamá-lo chiaroscuro)...
*
São fundamentos da escrita fragmentária:
51
como num jogo de lego, em que o se dar às mãos das partes fragmentárias amplie as
correntes da percepção em direção ao desconhecido...
*
Os modos fragmentaristas de ler são também as únicas ferramentas do espírito a
compreender – ver, ler, saber, viver – a silenciosa narrativa mitológica, quando em
quase nada importa a exatidão lógica dos conceitos e formas, estes sempre meras
referências à generalização primeira dos mitos, para cuja adoração faz-se necessária a
compreensão individual singularizada (aproximação com o real e o imaginário
individual)...
*
Em muitos casos, e a atualidade do texto de Heródoto – que já por fragmentarista é
também fundadora da noção pós-moderna de Histórias – bem o comprova, só
fragmentariamente se constrói um texto que corresponde à necessidade de fazê-lo
acompanhar a pluralidade fática ou fenomenológica...
*
As principais críticas ao texto herodótico (fantasista e sem ordenação rigorosa de
tempo e espaço) são fruto de uma visão superada da arte e ciência históricas, na
medida em que a inclusão de fenômenos mitológicos em sua História nos proporciona
52
ler a um só tempo fato e fantasia, real e imaginário, tal qual se processava nas mentes
do seu tempo – nada mais próprio ao texto histórico...
Uma leitura mais literária dos diálogos socráticos, não apenas em Platão, mas em
Xenofonte, e muitos outros que adotaram o métodolxviii, nos leva à convicção de que
muito pouco tem o socratismo com o platonismo, aproximando-se muito mais
Sócrates do pré-socratismo do que do idealismo unívoco de Platão, que o platonismo
exaltou em detrimento da sua estéticalxix, ainda muito pouco conhecida... Ou seja, em
Platão o diálogo socrático é apenas método dialogal-polifônico (ética e estética) de
busca da verdade... Mas a verdade unívoca é que ele mesmo é apropriado de modo
absolutista (talvez animados com o absolutismo reacionário de A República) pelos
seguidores de Platão, orientados pelo conteúdo “educativo”lxx dos diálogos, e de tal
modo que acaba por negar a “revolução permanente” do espírito socrático... Bakhtin
segue ainda mais fundo na apreciação, liberta de oficialismos filosóficos, do
dialogismo socrático, especialmente mercê de sua percepção essencialmente literária
dos escritos de Platão, observando suas bases carnavalizantes em seus discursos sobre
a(s) verdade (s)...
53
palestras reais proferidas por Sócrates, anotações das palestras memorizadas,
organizadas numa breve narração...
Mas muito breve, o tratamento artístico livre da matéria quase liberta
totalmente o gênero das suas limitações históricas e memorialísticas e conserva
nele apenas o método propriamente socrático de revelação da verdade e a
forma exterior do diálogo registrado e organizado em narrativa...
É esse caráter criativo livre que observamos nos diálogos socráticos de
Platão... lxxi
54
Todo texto é, engenharia e arquitetura, de origem fragmentária... Fragmentos que se
aprisionam uns aos outros, que se disfarçam as diversidades em meio a uma retórica
linear sempre arbitrária, à moda sofística, à maneira das artes advocatícias...
*
Teremos ganho muito a favor da ciência estética se chegarmos não
apenas à intelecção lógica mas à certeza imediata da introvisão de que o
contínuo desenvolvimento da arte está ligado à duplicidade do apolíneo e do
dionisíaco...lxxv
*
No exercício do fragmentarismo também é preciso não perder de vista uma busca
renovada da (inexprimível) Totalidade (o Tao), para que a fragmentação seja bem
apreendida... E para que sempre se evite a imposição ideológica de uma retórica que
possa nos impor qualquer parte por quaisquer desses muitos todos tolos que rastejam
por aí...
*
A arte da interpretação se aproxima de uma atividade fisiológica não-
humana: a lenta e salutar digestão bovina, que o “homem moderno” teria
completamente desaprendido...
55
As concepções socráticas da natureza dialógica da verdade se
assentavam na base carnavalesco-popular do gênero do “diálogo socrático” e
determinavam-lhe a forma, mas nem de longe encontravam sempre expressão
no próprio conteúdo de alguns diálogos...lxxvii O conteúdo adquiria
freqüentemente caráter monológico, que contradizia a idéia formadora do
gênero... lxxviii
*
Curioso notar como tantos autores da atualidade venham, há tanta tinta e papel,
já agora a gigabits, combatendo a univocidade, o positivismo, a linearidade do
pensamento imperial, com discursos, retóricas e estéticas, próprios à Linguagem
Imperial...
Talvez porque a polis literária seja governada pela polis política...
*
Há, como em todas as épocas, novíssimos modo de fazer literatura no ar
polifônico da pós-modernidade: contar/cantar o mundo inside/outside of us...
Porque afinal estamos todos desconstruindo-nos em vez de simplesmente
contar/cantar o mundo inside/outside of us?...
*
Cabe observar que a cosmovisão carnavalesca também desconhece o
ponto conclusivo... É hostil a qualquer desfecho definitivo: aqui todo fim é
apenas um novo começo, as imagens carnavalescas renascem a cada instante...
lxxx
56
*
Se o pós-modernismo é filho do modernismo (que sofreu no passado as mesma espécie
de crítica temerária que hoje sofre o primeiro), herdeiro daquele individualismo
mundano exacerbado que então dividia a filosofia e a teologia alemãs dos finais do
século XIX, inícios do XX [o modernismo era cego para tudo o que não é o eu ou não
serve ao seu eulxxxi], como o novo que vai saindo de dentro do velho (ou o velho de
dentro do novo) como diz Gilberto de Mendonça Teles das experimentações de
Manuel Bandeira, feito por dentro da linguagem poéticalxxxii, isso não se faz aos
“pouquinhos, humildemente, quase a pedir licença, como Irene entrando no céu”lxxxiii,
mas a partir de uma nova ruptura, a desconstruçãolxxxiv, ao mesmo tempo em que se
espalha, numa autêntica explosão de vanguardas, pela cultura (saber) e pela sociedade
(viver), constituindo toda uma fenomenologia que lhe é própria e que, bem ao
contrário dos experimentalismos e vanguardas da modernidade, vem se processando
em um ritmo muito mais veloz do que tem podido absorver não só as teorias literárias,
mas as próprias obras de literatura... E que ocupa seus principais espaços, a
construção pós-moderna, nas artes imagéticas, cinema, televisão, clips
publicitários,etc., e nas ligadas à informática, os sites internet e a web-literatura...
São, talvez, por múltiplos, por polifônicos, como mil polvos de mil braços, algo assim
como muitos novos renascendo de uns poucos velhos heróicos...
As vanguardas modernistas buscavam a ruptura como instante (horizontalização
periódica da cultura), a retomar a caminhada a partir do novo elemento conquistado...
Na pós-modernidade, a ruptura, como desconstruçaão é o cotidiano, é o procedimento
polifônico de um processo que não se resolve jamais, na grande explosão da vida
unívoca que deixou tudo aos fragmentos da pluralidade... Na pós-modernidade,
primeiro como uma super-horizontalização permanente da cultura, nivelação (por
cima e/ou por baixo) de todas as possibilidades sociais, intelectuais e artísticas, aos
mesmos patamares, cada fragmento busca a ampliação e a sobrevivência, em que
57
qualquer totalidade é sempre aliança temporária, nunca um permanente estado
unitário... Por segundo, como conseqüência da primeira fase, a pluralidade como
tônica segue desconstruindo horizontalizações e verticalizações, para que cedam
espaço a direções estelares...
Na pós-modernidade a tribo/polis/estado da Grécia pré-alexandrina substitui-se ao
estado-império da Roma Imperial... A Cidade-Estado da Grécia clássica se justificava
a partir do indivíduo, da cidadania grega; bem ao contrário, no Império Romano a
cidadania só se justificava a partir do Estado... Daí que, numa era a plenitude, o
desenvolvimento do homem grego (a Paidéia), a essência da cidade grega; noutra,
Roma, era o Império, o Estado Romano, o que importava construir e desenvolver...
*
Meu partido, é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas...
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)
Freqüenta agora as festas do grand monde
*
A pós-modernidade, a partir de uma consciência plural e fragmentária do mundo,
amplia desmesuradamente as possibilidades do Mercado, com uma ampliação do
Consumo como nunca antes vista, na medida em que as partes-fragmentos (tribos,
indivíduos) exigem itens de consumo próprio, e muito especialmente na medida em
que as possibilidades combinatórias inter-fragmentos (tribos/indivíduos) multiplicam o
“self” em tantos outros em um mesmo consumidor, e a “trieb” (pulsão, vontade de
poder) em vontade de consumir...
58
*
– Ao fim de todas as coisas! (Max levanta o copo e bebe). Sabem como sei que
é o fim do mundo? Porque tudo já foi feito. Todo tipo de música, todos os
governos... Todos os cortes de cabelo, todos os sabores de chiclete... Todo tipo
de cereal... Sabem como é?... Comno vamos sobreviver outros mil anos?
Estou dizendo... Acabou-se... Esgotamos tudo...lxxxvi
*
Trava-se nos céus da pós-modernidade um novo combate ideológico representado pelo
embate entre o que se usa chamar de Nova Economia e o ancién regime da economia
capitalista, esta desenvolvendo em direção à concentração, aquela – como um remédio
eficaz ao que Marx chamou de carregar em si as sementes da própria destruição – para
a pluralização econômica e, por conseguinte social e política... É claro que a arte
literária não pode permanecer imune aos reflexos desses embates pós-modernos... Por
isso que as concepções teóricas e estéticas acabam por se constituírem como expressão
da antiga ou da nova sociedade ocidental...
Et por cause, mas, é claro, não só por issolxxxviii, seja a pós-modernidade, seja o
fragmentarismo, são conceitos que, fenômenos do pensamento e da cultura, ainda
carecem de reconhecimento pela cultura institucional... lxxxix
59
Et por cause, ainda, os principais textos existentes a respeito da pós-modernidade,
ignorando seus aspectos Literários (lato senso), se apegam ao modernismo, ou ao
marxismo, em estranhíssimas alianças canônicas (se não fossem essas alianças parte
do fenômeno que ignoram), para combater o pós-modernismoxc, buscando negar-lhe o
sentido, a fenomenologia, de fase autônoma da cultura, quando não lhe adjetivam de
contrafação, dando-lhe, até mesmo, contornos de contravenção. Ou seja, a um tempo
confrontação e contrafação, esquecendo-se que o que confronta é sempre contrafação
para o confrontado... Aliás, tal qual se fez contra o modernismo em seus primórdios
(o que, para os fins do presente texto, é o mais significativo)...
60
moderno de pressupostos, experiências e proposições de um período
precedente.xciii
*
O que se percebe, de um modo geral, entre os autores favoráveis à pós-modernidade
que nos chegam da Europa e dos Estados Unidos, a pós-modernidade é vista o mais
das vezes como um fenômeno estético especialmente delimitado, próprio aos espaços
da arquitetura, das artes plásticas, da publicidade, ponta de lança da sociedade de
consumo, fenômeno de uma sociedade capitalista da fase pós-industrial...
Muito pouco ou nada se fez em teoria literária aplicável à pós-modernidade que não se
resuma ao conceito de desconstrução...
A teoria literária há que trazer a si os resultados, tanto empíricos quanto teóricos, das
práticas interdisciplinares: por exemplo, encontramo-nos numa época em que os
gêneros perdem ou confundem as suas fronteiras...xcvi, uma característica própria à pós-
modernidade, que segue a quebra do discurso unívoco para dar lugar à coexistência
teórica entre os muitos modos de saber...
*
...A mim mesmo eu canto e celebro
E ao que eu celebro e canto
Venham também vocês celebrar cantar
61
*
...O diálogo de Platão representa, segundo Aristóteles, um novo gênero
artístico, uma manifestação intermédia entre a poesia e a prosa. É fora de
dúvida que isto se refere em primeiro lugar à forma, que é a de um drama
espiritual em linguagem livre. Mas, segundo a opinião de Aristóteles sobre as
liberdades que Platão se permite na maneira de tratar o Sócrates histórico,
devemos supor que era também no tocante ao conteúdo que Aristóteles
considerava o diálogo platônico uma mescla de poesia e prosa, de ficção e
realidade...xcix
*
A Globalização é o processo – jamais de desfragmentação – de harmonia
fragmentário-planetária, em que a extrema pluralidade humana não será apequenada
com as retóricas da similitude…
Se buscarmos, humanos, nas palavras de Jesus, sermos perfeitos como nosso Pai...
Decerto haveremos de manter nossa presença, vivificando-a, em cada qual dos nossos
fragmentos...
O ‘globalizamento’ atual nada mais ainda é que a manipulação dos nossos todos
fragmentos sociais, nossos seres fragmentários, uma ‘desfragmentação’ segundo os
hard(and soft)wares dos donos, ou dos que se apoderaram dos computadores...
62
A Literatura encontra, no Hipertexto, como Web-Literatura, uma possibilidade de
ampliação da arte literária tanto no sentido da apreensão das possibilidades de
imaginário (provocando uma comunicação mais larga entre imaginários), quanto na
utilização dialogal entre textos de linguagem transparente (comunicação objetiva) com
textos de linguagem densa ou opaca (comunicação subjetiva; ou literária), na
diferenciação clássicacii, entre arte e ciência, entre signos de distintas procedências
culturais, inclusive suas respectivas linguagens idiomáticas...
www.pw.org/mag/wittig.htm
*
Quanto mais se mostra o fragmento, mas a totalidade
ganha em apreensão...
*
As aspas, o ponto de exclamação, a palavra informal no ambiente
formal, a rapidez com que cada palavra pode ser lida, o tamanho da palavra e
63
os espaços adjacentes... ...não fosse pela literatura eletrônica, esses detalhes
poderiam me iludir...civ
A literatura eletrônica tem proporcionado a muitos de nós avançar na
abordagem da materialidade do ato de escrever...
*
A webliteratura, como havia de ser natural, acaba provocando uma revisão de
conceitos teóricos que não deixam de abranger toda a Literatura, e não apenas no que
diz respeito à criação desse novo gênero literário...
...A retomada de uma idéia de Marcel Duchamps quanto à ação do acaso no processo
de criação artística é um dos aspectos dessa contribuição, aliás bem ao sabor da pós-
modernidade...
A idéia de vanguarda também se modifica: não se busca mais novos sentidos, temas,
nem mesmo técnicas: são os procedimentos que se busca explorar na busca do novo...
Pois, compreendida a vida como um processo, qual procedimento artístico se fará
correspondente às novas e sucessivas etapas da cultura, se tanto as atuais, as que
aguardam serem vencidas?...
64
siglo XX no son los que hicieron obra, sino los que inventaron
procedimientos para que las obras se hicieran solas, o no se hicieran. ¿Para
qué necesitamos obras? ¿Quién quiere otra novela, otro cuadro, otra
sinfonía?... ¡...como si no hubiera bastantes ya!cvi
*
O controle da máquina, da tecnologia que possibilita e vai ampliando infinitamente as
possibilidades plurais da sociedade, especialmente sua mais recente expressão literária,
o hipertexto, ainda se encontra em mãos de uma Velha Economia, que controla os bens
primários de produção, o que resulta em um controle severo da intertextualização, a
saber, das possibilidades de que o hipertexto, e a literatura web , possam transitar
livres, dos produtores de texto aos seus tantos possíveis consumidores...
*
A literatura imagética, o cinema, especialmente, em nada prejudica a literatura escrita
na medida em que, e até por ser dela consumidor, co-produtor e divulgador, realidade
ficcional (filme) e sua absorção e transmissão conceitual (escrita) são e sempre serão
interdependentes, como atividades mentais que se complementam...
Junte-se uma série de cartazes, sem qualquer texto, e as disponha à visão (leitura) do
outro, que certamente esse outro terá a oportunidade de saber (ler), seja no nível da
65
simples comunicação, seja no nível da experiência artística, o que se está a dizer
(texto)...
*
A “leitura virtual” formatada pelo texto eletrônico é indiciada pelos
elementos de sua organização. No texto eletrônico, a abundância de
informação e a quantidade de conexões possíveis propicia uma atitude de
leitura fragmentária; o leitor faz “zappings”, ou seja, pula de um texto para
outro lendo aos pedaços. A leitura no monitor não é linear, pois o texto é
organizado para que a informação seja encontrada de maneira funcional, de
tal forma que só se leia aquilo que é buscado. Por isso, esta prática de leitura é
baseada na atenção flutuante ou no interesse potencial em relação à
informação; o leitor/navegador recolhe fragmentos de informação (daí o uso
do verbo inglês browse, para designar o processo de quem lê o hipertexto.
Prática de leitura semelhante é desempenhada pelo espectador de televisão,
que com o controle remoto “zapeia” de um canal a outro...cix
66
Mas uma imagem só vale mais que mil palavras quando essas palavras nada
significam ou quando possui tessitura poética suficiente à produção do poema ainda
irrealizado... Pois é a palavra, consciente ou inconscientemente mentalizada, que
nos proporciona comunicar o vínculo poético entre nós e a realidade observada
ou imaginada...
cxi
67
O estilo bom em si é pura loucura, puro “idealismo”, como o
“belo em si”, o “bom em si”, a “coisa em si...”cxii
*
Pré-socratismo, fragmentarismo, pós-modernismo, hipertexto, são elos da mesma
corrente estética que se vai constituindo em gigantesco renascimento artístico do
ocidente... Os muitos modos do humano contemplar e criar obras de arte... A
liberação das energias criativas do humano, aprisionadas em retóricas unívocas, talvez
resultantes das respectivas etapas da civilização, estas que vinham impedindo o livre
trânsito multiplicador do ser poético em nós...
*
Se o poeta não busca a Eternidade, a Totalidade Incompletável... Que poeta é ?... E se
não busca, fragmento a fragmento, expandir a sua poesia para além da Totalidade pré-
concebida, que poesia terá?...
*
I’ve nothing to say and I’m saying it… cxiii
*
O poeta é um canário preso às grades-versos de uma gaiola-
poema: só o verbo, som e imagem, do seu canto é livre-poesia...
*
A existência se passa em um rolo de imagens que se desdobra
continuamente, imagens capturadas pela visão e realçadas ou moderadas pelos
outros sentidos, imagens cujo significado (ou suposição de significado) varia
constantemente, constituindo uma linguagem feita de imagens traduzidas em
68
palavras e de palavras traduzidas em imagens, por meio das quais tentamos
abarcar e compreender nossa própria existência...
*
O que agora está provado, foi outrora somente imaginado... cxvi
69
Como saber se cada pássaro que cruza os caminhos do ar não é um imenso mundo
de prazer, vedado por nossos cinco sentidos?... cxvii
*
Se a natureza e os frutos do acaso são passíveis de interpretação, de
tradução em palavras comuns, no vocabulário absolutamente artificial que
construímos a partir de vários sons e rabiscos, então talvez esses sons e
rabiscos permitam, em troca, a construção de um acaso ecoado e de uma
natureza espelhada, um mundo paralelo de palavras e imagens mediante o qual
podemos reconhecer a experiência do mundo que chamamos real...cxix
A imagem é finitude, a palavra é infinita... Mas uma não vive sem a outra... No
fragmentarismo, a aproximação textual com cada objeto é também uma maior
aproximação com a sua imagem e com as palavras que lhe somam significações...
70
A estética fragmentarista é, portanto, a arte de retomar o mistério ainda contido no
objeto, que remonta às origens de sua criação, e que aponta para as suas infinitas
possibilidades ainda inexploradas...
Toda boa história é, está claro, uma imagem e uma idéia, e quanto
mais elas estiverem entremeadas melhor terá sido a solução do
problema... cxxiv
O fragmentarismo resgata o silêncio presente nas relações dos objetos entre si, como
espaço intertextual, ao tempo em que deixa-os “falarem” por si mesmos, sem que uma
articulação imposta por uma consciência imperial emudeça suas próprias vozes...
Não era necessariamente como uma tentativa de não comunicarcxxvi que Stéphane
Mallarmé apresenta “em desespero”, a página em branco, que Eugène Ionesco
decreta em suas peças que “o mundo impede que o silêncio fale”, que Beckett põe em
cena um ato sem palavras, que John Cage compõe uma música chamada “silêncio” e
que Pollock “pendura na parede de um museu uma tela coberta de espirros mudos...”
Eram tentativas de comunicar, mas exatamente no silêncio das coisas, a morada
poética do objeto de arte...
*
En la época inmediatamente posterior a Bach se compuso
ocasionalmente usando el azar, con dados... lo hicieron Mozart, Haydn, Carl
Phillip, Emmanuel Bach, entre otros...
El ingreso de la personalidad del artista, de su sensibilidad y las
complicaciones políticas del yo...tarda un siglo en agotarse....
El gran mecánico Schöemberg le da una vuelta de tuerca a la
profesionalización del músico, preparando la entrada de un nuevo tipo de
artista: el músico que no es músico, el pintor que no es pintor, el escritor que
no es escritor...
71
Ya en 1913 Marcel Duchamp había hecho un experimento en el mismo
sentido, de determinar las notas por azar, pero sin ejecutarlo; consideraba la
realización "muy inútil"...
¿para qué hacer la obra, una vez que ya se sabe cómo hacerla?...
John Cage ... (um músico norte americano cuya obra es uma mina
inesgotable de procedimientos...) ...justifica el uso del azar diciendo que "así es
posible una composición musical cuya continuidad está libre del gusto y la
memoria individuales, y también de la bibliografía y las 'tradiciones' del
arte"....(...lo que llama "bibliografía" y "tradiciones del arte" no es sino el
modo canónico de hacer arte, que se actualiza con lo que llama "el gusto y la
memoria individuales"...)
72
El arte que no usa un procedimiento, hoy día, no es arte de verdad. Porque
lo que distingue al arte auténtico del mero uso de un lenguaje es esa
radicalidad...cxxx
cxxxi
73
*
Os Cantos inferem a interpenetração de estruturas, a interpenetração de
temas e motivos. O básico: a dialética entre os métodos de montagem ou
princípios do ideograma com a idéia de metamorfose (Ovídio). Por isso, nos
mesmos Cantos, passa-se muitas vezes, como de flash a flash, de um tema,
assunto, mote ou alusão para outro, heterogêneo, rompendo-se assim com os
cânones tradicionais da linearidade. Na estrutura referencial dominante,
interpolam-se também a Odisséia e a Divina Comédia, além da mitologia
grega, Virgílio e trechos da história da China, dos Estados Unidos e da Itália.
cxxxiii
74
cxxxv
Pode-se caracterizar outra coisa que indivíduos?... Não há indivíduos que contêm em
si sistemas inteiros de indivíduos?... cxxxvi
75
Linguagem
Falão-se os montes Falão-se os galos Falão-se as redes
Falão-se as fontes Falão-se os lagos Falão-se as...sedes
Falão-se as feras Falão-se as cassas Falão-se os bixos
Falão-se as pedras! Falão-se as massas! Falão-se os nixos!
- Todos se falão! - Todos se falão! - Todos se falão!
Relação naturalcxl
Relações naturais de acordo a natureza das coisas, e não relações sociais absurdas, que
as violentavam, eram essas as primeiras reflexões de Qorpo-Santo.... Mas isso não
quer dizer, absolutamente, que tudo se resumia a um retorno à natureza rousseauniana,
a apologia do bom selvagem... Ao contrário, Qorpo-Santo tinha exata noção da força
caótica da natureza em relação ao humano, como, aliás, o final do poema Relação
76
Natural bem o sugere e a peça As Relações Naturaiscxlii deixará muito mais claro
adiante...
Não era a arbitrária substituição das relações naturais por relações sociais, só
aparentemente racionais (teoria ficcional da cultura), pois que as percebia, estas,
igualmente caóticas, tão absurdas quanto, em sua constituição e exercício (conforme
ele mesmo sentia à própria pele, especialmente pela experiência kafkiana em tentar
provar, perante a justiça, a sua sanidade mental, peticionando e submetendo-se a
exames médicos, até mesmo em lugares tão distantes da antiga Porto Alegre, como o
Rio de Janeiro, publicando sua saga judiciária em sua Ensiqlopèdia...
FÉcxliv
77
Para Qorpo-Santo, a realidade moral é pura ficção, circo, absurdo, pantomina,
irrealidade, imaginação, teatro de variedades... São ação e discurso desconexos, não
apenas “fora” das relações naturais, mas mesmo absurdamente “contra” as relações
naturais... Estas, no entanto, seguem fazendo o seu trabalho... As pessoas assim
colocadas são, pois, meras marionetes de “espíritos” (uma explicação literária do
absurdo) que agem nas mentes dos indivíduos, provocando-os o agir e o falar de
acordo com as suas – “espirituais” – vontades... Por isso, hoje são umas; amanhã,
outras... Ora um general fala como criança, ora uma criança fala como um general...
78
perante seus olhos literários... A vergastar a sua carne (qorpo) e a sua consciência
(santo), “literaturizadas”... Por isso que, na só aparente simplicidade do seu poema
CENSURA, mantendo o clima de absurda comicidade, a personagem Qorpo-Santo
declara à praça dos apressados censores que a sua obra, absurda, é tal qual (fiel retrato)
a absurda realidade humana...
79
nem mera opção formalista maniqueísta de bem/mal... Porque ambos eram absurdos, o
teatro de Qorpo-Santo é a exibição absurda do absurdo da comédia humana, a
representação dramática dessa absurdidade, desnudando tanto a pretensão realista de
aproximação com o real, realismo de época, como a própria comédia de costumes, ao
lhe inserir (contrapor) o componente da ridícula (novamente absurda) aparente
cientificidade do discurso de moral positivista que, no final das contas, é o que acaba
prevalecendo no espírito dos espectadores dessas comédias...
Qorpo-Santo negava gregos e troianos, no teatro assim na vida, inclusive porque nisto
reside o fato (conseqüência, não causa, de sua literatura) de pilhar-se um
“desempatotado”, tal qual já se disse, alhures, de um Cruz e Souza, por exemplo...
O real humano, drama ou comédia, é, para Qorpo-Santo, falso, caótico, absurdo...
Mais dado ao regresso que ao progresso, como proclama o absurdo criado de Mateus e
Mateusa... O absurdo ganha, portanto, voz... Não como um elemento do sensato, mas
como um diálogo do absurdo com o absurdo... Pois se tudo se mostra absurdo, que
linguagem, que retórica, senão as do absurdo, farão com que o seu texto ganhe
consistência literária, na medida que parceiro da absurdidade em que se envolvem
todas as relações humanas?
Tudo em Qorpo-Santo parece fugir à reta razão quando se trata de estabelecer um fio
condutor linear de seus pensamentos: quando já vamos acreditando haver decifrado
seus códigos de escritura e representação, quando aprisionamos uma linha de idéias na
esperança de haver desvendado o seu sistema estético, eis que outra ordem possível de
conclusões surge, como se do nada, fazendo desabar, como num passe de mágica, todo
o edifício arduamente construído... Isto é que é o seu fragmentarismo.
80
cxlviii
Fosse o observador da realidade, natural e social, que o rodeava, fosse o artista, Qorpo-
Santo adotava o método fragmentarista (mais uma absurdidade reveladora), daí a sua
81
Ensiqlopèdia, à melhor estirpe pré-socrática, e mesmo socrática, ultrapassando, por
todas absurdas em sua univocidade, as dialéticas propostas pelo ordenamento unitário
e absolutista do mundo das idéias, tanto quanto da natureza e da sociedade, que
fizeram das dogmáticas de Platão, Hegel e Marx os mais poderosos inimigos da
sociedade aberta...
O título sob o qual Qorpo-Santo reúne a sua obra, Ensiqlopèdia sugere uma leitura dos
enciclopedistas franceses, no que tinham de libertário, e de disposição da cultura
como enumeração de fragmentos, todos igualmente relevantes, cuja importância se
atribui de uma perspectiva da necessidade do conhecimento, para a qual deve
contribuir o leitor, idéias centrais de qualquer boa enciclopédia... O epíteto que se lhe
segue, Ou Seis Mezes De Huma Enfermidade!, mote a um só tempo irônico e
sarcástico, segue a insistente linha da absurdidade literária, pois, numa só aparente
concordância com sua fama de doente mental, está a demonstrar, pelo seu conteúdo,
qual era a sua doença: era o modo de Qorpo-Santo declarar, e o confessar, que, durante
seis meses (e fora muito modesto nisso) sofrera da aguda febre literária, a que acomete
os que se entregam tão radicalmente, corpo e alma, ao seu fazer literário, e de dizer:
Eis a doença!... A uma totalidade formal e materialmente disposta em Unidade, como
seria, por exemplo, o livro em formato tradicional, reunindo os temas em seu contexto
próprio, com destaque individualizado, Qorpo-Santo preferiu a miscelânea jornalística,
o almanaque, o magazine, a enciclopédia mundana, em que a totalidade de sua obra
82
literária se esparrama fragmentariamente em meio a toda uma série de preocupações
não propriamente estéticas...
Ao enumerar os seus volumes, se os denomina de livros (de 1 a 9), e anote-se que
possuem todos os mesmos frontispícios, é para fazer ver que o seu trabalho se
qualifica como literatura... Na forma própria ao livro que inventa: livro de conteúdo
fragmentário, e fragmentado, a tratar de uma realidade fragmentária, e fragmentada...
Por isso é que nem o moralismo (ou teatro realista) de suas personagens, nem as
relações naturais (comédia de costumes) podem representar, em termos absolutos, o
mal e/ou o bem: ambos os caminhos levam a humanidade aos sítios do absurdo
exatamente quando tomados aos modos absolutistas... Em ambas, o caos...
Para demonstrar essa absurdidade, esse caos, esse mundo aos pedaços, nada mais
apropriado que uma estética radical da absurdidade...
83
Se a Ensiqlopèdia é construída como uma colcha de retalhos, algo assim como as
atuais agendas dos adolescentes pós-modernos (que são a um só tempo agendas,
diários, álbuns de figurinhas, enfim, registro de tudo o quanto lhes faça a cabeça), é
porque Qorpo-Santo percebe que o tudo que se passa no mundo compondo a vida
humana, possui igual relevo, igual força motriz, sendo descabida a hierarquização dos
elementos vitais, assim do humano quanto da natureza e da sociedade...
Para Qorpo-Santo, como para a pluralidade pós-moderna, um poema é tão importante
quanto uma receita culinária...
Uma petição judicial é tão significativo quanto um rol de cuidados com a saúde...
Uma peça teatral guarda as mesmas proporções que um código de conduta para os
jornalistas...
Assuntos que se dispõem, fragmentariamente, sem hierarquia gráfica, pelos seus vários
livros... Que, afinal, visto como Literatura (lato senso), como poética, todo fato é fato
literário, tudo é poesia...
*
Na pós-modernidade, tanto quanto já o fazia Qorpo-Santo, o mundo, a vida, a
natureza, o humano, a própria sociedade, são percebidos e compreendidos em sua
especificidade fragmentária, sem hierarquização...
...O Todo, Deus, mediado, em Qorpo-Santo, pelos Reis do Universo, aloca em tudo e
em todos, os espíritos, as energias vitais... Estes sopram como os ventos através dos
humanos, fazendo-os serem, hoje, uns, e amanhã, outros, à semelhança da teoria dos
átomos desordenados de Demócrito e Epicuro: Qorpo-Santo não explica se ao inteiro
acaso...
84
Todos somos fragmentos em movimento, movimentos ao acaso, constituindo-nos por
um processo permanente de união e desunião com os demais fragmentos... Por isso,
todos somos iguais... For every atom belonging to me as good belongs to you...cl
Átomos, conjuntos mutáveis de átomos, a nos esbarrar, fundir, desgarrar, num ir e vir
incessante de espíritos, mesmo que alguns tenham se feito carne...
O que se constitui em inexorável impossibilidade de agir conforme qualquer
ordenamento absolutista, sem que isso nos condene eternamente ao sofrimento, ao
desprazer, às relações absurdas e injustas...
85
A história de Quero Ser John Malkovich (nome do conhecido ator que o interpreta,
alusão pós-moderna à idéia de representação, de interessantes significados), pode ser
vista como uma explicitação, uma demonstração fenomenológica das idéias de Qorpo-
Santo, em sua peça: Hoje Sou Um; Amanhã, Outro... Até a metáfora principal do
filme, o títere,corresponde exatamente ao objeto da fala da personagem de Qorpo-
Santo, o Ministro, que fala como conselheiro do Rei... Qorpo-Santo ataca dois
aspectos: as pessoas como títeres de espíritos, e o fato de que os pensamentos não são
propriamente pensamentos pessoais, como reflexo da mente individual (ideologia)...
Será que Lester e Qorpo-Santo seriam consciências ocupadas por esses tais Reis do
Universo, de que nos fala a peça Hoje Sou Um; Amanhã. Outro...? Algo assim, como
uma forma democrática e pluralista de coabitação tanto espiritual quanto natural...
86
Quero Ser John Malkovich, e 13º Andar (habitação sucessiva de personagens, do real
ao virtual) são alegorias típicas de uma era pós-moderna: Qorpo-Santo anunciara-lhes
já em 1866... Que bem exemplificam o caráter profundo e extenso da obra de arte, que
há de sempre ser lida, assim a literatura (estrito senso) quanto o cinema, aos seus
muitos modos de ler e saber...
*
Bob Dylon previu algumas fragmentações de pensamento, de imagens e
da própria sociedade...
cliv
Bob Dylan não mistura apenas álbum a álbum ou canção a canção, com
ele é verso a verso; você passa para um mundo diferente em cada verso
seguinte... clv
Ele fazia um quadro do que acontecia à sua volta. Para mim ele é o
Picasso do Rock’n’Roll... clvi
*
Há um tempo para desconstruir... E há um tempo para selecionar, dentre os materiais
da desconstrução, o que servirá a novas construções... Na pós-modernidade, todos os
materiais (fragmentos) se aproveitam...
*
87
clvii
Se leio com prazer esta frase, esta história ou esta palavra, é porque
foram escritas no prazer (este prazer não está em contradição com as queixas
do escritor). Mas e o contrário? Escrever no prazer me assegura – a mim,
escritor – o prazer do meu leitor? De modo algum. Esse leitor, é mister que eu
o procure (que eu “drague”), sem saber onde ele está. Um espaço de fruição
fica então criado. Não é a “pessoa” do outro que me é necessária, é o espaço:
88
a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute:
que os dados não estejam lançados, que haja um jogo...clviii
*
O fragmentarismo, formulação estética capaz de acolher os muitos modos de ver e
saber o mundo, sempre esteve presente no pensamento desde que, seguramente, foi o
modo inicial do humano compor o seu discurso da realidade e do seu pensamento, do
seu sentimento de perplexidade e de desejo de conhecimento... Agora, na pós-
modernidade, faze-se revival, eclode como necessário ao atual estágio da civilização...
89
seja ideológico, seja autoritário pura e simplesmente, peca ainda pelo simples fato de
que, dada limitação do humano em interpretar, mesmo em interpretar-se, toda
interpretação sempre será de veracidade duvidosa, seja ela unitária, seja múltipla. Ou
não haveria O Mistério...
Em matéria de arte, toda ela, que – et pour cause – podemos denominar, lato sensu, A
Poética, toda interpretação linear e unívoca será sua negação, a negação do Mistério
que necessariamente encerra, que necessariamente faz de uma obra de arte o que ela
é...A sua Poesia...
90
Se a Poesia é o que faz de uma obra uma obra de arte, já que é ela que se assemelha ao
Mistério, toda interpretação é fazer retornar, por negação do misterioso, do poético,
uma obra de arte, ao seu elemento puramente material...
O fato artístico, fato poético, todo ele, é jamais interpretável senão pelo que se contém
na obra... Pela sua capacidade – objeto de arte – de nos remeter diretamente ao terreno
do Mistério, sem que para isso tenhamos que ser intermediados seja pelo racional, seja
pelo irracional, seja pelo pensamento exato, seja pelo pensamento delirante ou
absurdo... ...Algo assim como estar diante de um simples cálice... Um santo graal
O acesso ao Mistério se dá segundo cada qual dos povos que os criaram (significantes)
e os percebem (significados)clx... Freedom não é o mesmo que Liberdade... Love
nunca será o mesmo que L’amour... Saudade é verso de uma estrofe só...
91
mesma e não se reproduz, assim como o pensamento, cuja continuidade, por
esse motivo, jamais é assegurada).clxi
92
A semelhança – tal como é usada na linguagem cotidiana – é
atribuída às coisas que possuem ou não natureza comum. Diz-se:
‘parecidos como duas gotas d’água’, e diz-se, com a mesma facilidade,
que o falso se parece com o autêntico. Esta pretensa semelhança
consiste em relações de similitude, distinguidas pelo pensamento que
examina, avalia e compara. Tais atos do pensamento se efetuam com
uma consciência que não vai além das similitudes possíveis: a essa
consciência, as coisas revelam apenas seu caráter de similitude.
A semelhança se identifica com o ato essencial do pensamento:
o de parecer. O pensamento parece tornar-se aquilo que o mundo lhe
oferece e restituir aquilo que lhe é oferecido, ao mistério no qual não
haveria nenhuma possibilidade de mundo nem de pensamento. A
inspiração é o acontecimento onde surge a semelhança.
A arte de pintar – não concebida como mistificação mais ou
menos inocente – não seria capaz de enunciar idéias nem exprimir
sentimentos: a imagem de um rosto que chora não exprime a tristeza,
do mesmo modo que não enuncia uma idéia de tristeza, pois idéias e
sentimentos não possuem nenhuma forma visível.
A arte de pintar – que merece verdadeiramente se chamar arte
da semelhança – permite descrever, pela pintura, um pensamento
suscetível de se tornar visível. Este pensamento compreende
exclusivamente as figuras que o mundo oferece aos nossos olhos:
pessoas, cortinas, armas, astros, sólidos, inscrições, etc. A semelhança
reúne espontaneamente essas figuras numa ordem que evoca
diretamente o mistério. A descrição de um tal pensamento não suporta
a originalidade. A originalidade ou a fantasia só trariam fraqueza e
miséria. A precisão e o encanto de uma imagem da semelhança
dependem da semelhança e não de um modo fantasioso de descrever.
‘O como pintar’ a descrição da semelhança deve se limitar
unicamente em dispor as tintas sobre uma superfície, de tal modo que
o aspecto efetivo delas se distancie e deixe aparecer uma imagem da
semelhança.
Uma imagem da semelhança mostra tudo o que ela é, quer dizer,
uma reunião de figuras onde nada é subentendido. Querer interpretar
– a fim de exercer não sei que falaciosa liberdade – é desconhecer uma
imagem inspirada substituindo-lhe uma interpretação gratuita que
pode, por sua vez, ser o objeto de uma série sem fim de interpretações
supérfluas.
Uma imagem não deve ser confundida com um aspecto do
mundo nem com alguma coisa de tangível. A imagem de um pão com
geléia não é alguma coisa de comestível e, inversamente, tomar um
pão com geléia e expô-lo num salão de pintura não muda em nada seu
aspecto efetivo, que seria tolo acreditar capaz de deixar aparecer a
descrição de um pensamento qualquer. A mesma coisa acontece, diga-
93
se de passagem, com as tintas dispostas, por vezes atiradas, sobre uma
tela por prazer ou por uma utilidade particular.
A inspiração oferece ao pintor aquilo que é preciso pintar: a
semelhança que é um pensamento suscetível de tornar-se visível pela
pintura – por exemplo, um pensamento cujos termos são um pão com
geléia e a inscrição ‘isto não é um pão com geléia’ ou ainda, um
pensamento constituído por uma paisagem noturna sob um céu
ensolarado. ‘De direito’ tais imagens evocam o mistério, enquanto, ‘de
fato’ somente, o mistério seria evocado pela imagem de um pão com
geléia solitária ou pela imagem de uma paisagem noturna sob um céu
estrelado.
Entretanto, todas as imagens que contradizem o ‘senso comum’
não evocam , necessariamente, ‘de direito’ o mistério. A contradição
pode derivar apenas de um modo de pensar cuja vitalidade depende de
uma possibilidade de contradizer. A inspiração não depende de uma
boa ou má vontade. A semelhança é um pensamento inspirado que não
se preocupa de se harmonizar com um modo de pensar ingênuo ou
erudito. Ela se opõe necessariamente tanto à razão quanto ao absurdo.
É com palavras que os títulos são dados às imagens. Mas essas
palavras deixam de permanecer familiares ou estranhas quando
nomeiam convenientemente as imagens da semelhança. É preciso
inspiração para dizê-las e ouvi-las...clxiii
clxiv
94
Das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e
sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em
consideração como metal, não mais como moedas...clxv
95
...e especialmente suas implicações no terreno de formação ideológica do discurso
unívoco...
A maior parte das coisas boas no cinema acontece por acidente... clxviii
Tanto na vida material quanto nas artes todas, o fragmentarismo larga sua função
apenas metodológica para constituir-se em prática social e artística...
Hoje, mais que nunca, em todas as histórias das humanidades ocidentais, desde os pré-
socráticos, fervilham, ao mesmo nível das relevâncias, seja a que título for, os muitos
modos de ver e de ler o mundo, muito especialmente as escritas todas, as que o
humano inscreve de múltiplas formas em sua própria humanidade...
Os fragmentos que nos chegam através dos sonhos, das emoções, do imaginário, são,
em princípio, fragmentos natos... A razão muitas vezes nos convida à fragmentação no
sentido da análise, da ampliação do conhecimento das partes, da decomposição de uma
dada totalidade... São fragmentos que se tornam tais...
96
clxix
clxx
Nos sistemas unívocos, tal como ocorre nos computadores, objetos e fatos e idéias são
arquivos que fragmentam o programa inicial na medida mesmo em que são
regularmente utilizados... As periódicas operações de desfragmentação, que tornam à
97
integralidade do sistema, são apenas momentos de inanição, de estática... Pois tão logo
se retorne à dinâmica da ação, assim se vão outra vez fragmentando, soltando-se do
sistema, objetos e fatos e idéias...
clxxi
98
mortos, seus ancestrais, revelam mais vigorosamente sua imortalidade. (Citado
por Junqueira, 2000, p. 111).
O passado está vivo, contido no presente e o envolvendo também. Os
antepassados, através de suas formas estéticas consagradas, escoram as ruínas
emocionais do poeta, e povoam o mundo da perpétua solidão e negritude.
Talvez possamos dizer que no processo de criação do poema, tochas se
acendem convocando à luz da linguagem os ancestrais do poeta com os quais
ele se identifica. Os mortos emergem das profundezas tumulares do
inconsciente do artista e iluminam a vida e dão forma e consistência ao poema.
As palavras se movem, a música se move (...). As palavras após a fala
alcançam o silêncio. Apenas pelo modelo, pela forma.
Podem as palavras ou a música alcançar
O repouso, como um vaso chinês que ainda se move
Perpetuamente em seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota perdura.
Não apenas isto, mas a coexistência,
Ou seja, que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.
A quase totalidade da poesia de Eliot caracteriza-se pela experiência da
fragmentação, da multiplicidade descontínua de matrizes composicionais, do
desenvolvimento assimétrico das partes isoladas (Junqueira, op.cit., p.111).
Essas partes podem se reunir numa espécie de todo, contidas e enfeixadas no
organismo poemático maior. Eliot escreve que essa é uma das maneiras pelas
quais a sua mente parece operar, do ponto de vista poético, ou seja, realizando
fragmentos poéticos em separado, e depois estudando a possibilidade de fundi-
los num conjunto, fazendo uma espécie de todo...clxxii
*
Todo texto filosófico é, por primeiro, prosa poética. Demócrito Heráclito, Platão,
Hegel, Rousseau, Thoreau, Marx, Sartre, Nietzsche, Freud, Jung, Reich, Marcuse,
enfim, o que primeiro assombra em seus textos é a poética presente em suas
entrelinhas... Portanto, e por primeiro, a filosofia é um fato poético; por segundo, a
poesia é também o modo de conhecimento do mundo... A poesia é o sopro divino no
barro de todas as epistemologias...
O fragmentarismo esconde, por detrás das suas aparentes “facilidades”, o fato de ser
pensamento, com as dificuldades inerentes ao pensar; e sentimento, com as
dificuldades inerentes ao sentir... Razão e Emoção aliadas no exercício poético de
galgar a infinitude...
99
O século vinte encontrou diante de si, herdado do século que o precedeu,
um problema fundamental – o da conciliação da Ordem, que é intelectual e
impessoal, com as aquisições emotivas e imaginativas dos tempos recentes.
É impossível resolver este problema, como querem os integralistas
franceses, pela supressão de um dos seus termos. É igualmente impossível
resolve-lo aceitando a predominância da emoção sobre a razão, porque, aceite
esta predominância, desaparece a ordem, e o problema está por resolver.
Evidentemente que há só uma solução: o levar a personalidade do artista ao
abstrato, para que contenha em si mesma a disciplina e a ordem. Assim a
ordem será subjetiva e não objetiva.
Tornar a imaginação abstrata, tornar a emoção abstrata, é o
caminho.clxxiii
clxxiv
No texto unívoco, o leitor escapa (e assim o autor) de ter que percorrer toda a linha de
raciocínio a chegar à conclusão, ao fim do texto... Tal qual nas novelas de horário
nobre, a perda de uma parte, por preguiça ou incompreensão, não acarreta a perda do
texto, ou da proposta, ou da conclusão, do fim, pois logo que se o retoma, o que
importa mesmo é o final feliz...
100
clxxv
101
clxxvi
Há uma nova pergunta no ar, nesses inícios do século XXI: somos tantas personas que,
afinal, quais mesmo somos nós? Desde já algo parece indubitável: somos estados
fragmentários de consciências...
*
Desmaterializado pelo movimento facetado, o espaço cubista não é em
verdade tanto um espaço espiritualizado como um espaço intelectualizado, na
tônica racional de áreas sistemática e logicamente superpostas. Naturalmente,
isso não lhe tira o caráter emocional. Embora na fase analítica as obras
cubistas já tenham perdido os traços mais violentos da influência africana,
permanecem no ritmo geral os abruptos contrastes e a fragmentação.
Conseqüentemente, o teor expressivo dessas obras é inquieto e conflitante...
Na obra de Jackson Pollock (1912-1956), pintor americano da chamada
‘arte informal’ (action painting), as características de inquietação e de conflito
são aprofundadas e acompanhadas ainda de uma maior desmaterialização.
Em lugar de qualificações intelectuais ressalta o caráter emocional da obra;
ela é intensamente carregada de emoção. Não há nela qualquer referência
nem a figuras humanas nem a objetos nem a paisagens. Tampouco se
identificam sequer superfícies ou volumes. Falta, portanto, qualquer dado
físico que possua extensão, peso ou densidade. Os elementos que constituem as
configurações de espaço de Pollock são unicamente linhas. Segmentos lineares.
Segmentos retorcidos. Às vezes esses segmentos se acompanham, às vezes se
superpõem, se retomam, se entrelaçam, inflam, afinam, e subitamente cessam.
Tudo isso acontece de modo veloz, descontínuo, explosivo, sem uma pausa e
sem crescimento rítmico. A agitação visual parece quase romper os limites do
quadro. Temos uma imagem que se assemelharia à trajetória de fragmentos
102
movidos e acelerados no espaço, quais incontáveis estrelas cadentes que
cruzassem um espaço a um só tempo...clxxvii
Erram quando afirmam que o pós-modernismo, com a máxima de que a cultura está
aos pedaços, é só uma bobagem... O pós-modernismo está vinculado ao ajuste
globalizante do mundo, com a horizontalização dos povos, com a correção política,
com a democratização terra-a-terra das diversas expressões regionais... O
desconstrutivismo pós-modernista tem, como toda exaltação de vanguarda artística,
afinal se adequado às propostas mais gerais da sociedade, balizada pelo mercado e, por
isso, fugindo às propostas teóricas originais, configurando apenas momento-
fragmento(s) fenomenológico(s) da(s) pós-modernidade(s)...
Mas que ninguém se iluda: trabalhamos todos para alimentar a Máquina que, aos
enquantos ainda chamamos Humanidade...
Desconstruimos, fragmentamos, singularizamos, particularizamos, individualizamos,
mas...
De tempos em tempos A Máquina se clicka a janela de desfragmentação...
Quem sabe para nós, brasileiros, uma boa marretada poética na cultura luso-colonial-
brasileira, e/ou demais luso-colonial-estrangeiras, ou talvez melhor dizendo, nos
arremedos de cultura brasileira e estrangeiras – todas estas muito bem postas, obrigado
– fazendo-as aos pedaços, aos pedaços pós-modernos, até que nos seria muito útil...
Por outro lado, esse negócio de que está tudo aos pedaços na arte e na cultura do
primeiro mundo nos põe todos de volta ao mesmo barco... Enfim, para nós,
brasileiros, qualquer perspectiva pós-moderna será, no âmbito da arte&cultura, sempre
atraente...
103
clxxviii
Coleciono fragmentos por saber que a minha mente é fragmentária, que só apreendo
uma realidade fragmentada... O pós-modernismo é um fragmentarismo... É a modesta
aceitação da nossa vocação artística e cultural, a plena aceitação da impossibilidade de
se construir um modelo único, integral, que apreenda, enfim, toda a gama de
experiências e percepções, fazendo justiça a todas... Por isso mesmo ando a colecionar
meus fragmentos, sem nenhuma organicidade, depositando-os, um a um, só conforme
vão sendo colhidos à medida que reflito sobre os objetos... Portanto, o primeiro não é
o primeiro, o segundo não é o segundo, nem o terceiro será o terceiro... Confesso que
nada sei dos inícios, que nada sei dos meios, que nada sei dos finais... Isso é da
essência do fragmentarismo, cuja origem remonta à visão de Demócrito quanto aos
átomos...clxxix
104
O Tempo segue o Espaço. Tempo é fragmento. O Ontem, o Hoje, o Amanhã, não são
absolutos nem relativos... São fragmentos que se medem à medida de cada ser
humano... Na diversidade do nosso ser fragmentário, cada qual dos nossos fragmentos
vive o tempo segundo sua própria contagem... Portanto, para alguns dos nossos
fragmentos ainda é ontem; para outros, só o hoje tem existência real; e há aqueles que
já vivem o amanhã... Exercer, cada ser humano, o seu próprio tempo particular
fragmentário é libertar-se das coleiras dos proprietários do Tempo Absoluto, é viver
sem violentar seu tempo particular, sem agredir seu corpo-espaço fragmentário...
*
– Mas nenhuma arte soube exprimir tudo o que temos de sexy quanto
nossa música. A música popular do Brasil é a voz instintiva do nosso desejo.
Nossos autores mais representativos – Roberto Silva, Assis Valente, Jorge
Benjor, Tim Maia – se distribuem por nossa história como vetores espalhados
pela coreografia de um corpo no cio. Nossos grandes estilistas – Cyro
Monteiro, Lulu Santos, Carmem Miranda, Nação Zumbi, Orlando Silva,
Racionais MC’s – são vozes da nossa carne. E nossos maiores inventores –
Villa-Lobos, Antonio Carlos Jobim, Dorival Caymmi, Ary Barroso e João
Gilberto – parecem ter inventado não só nossa música e nosso ritmo, mas
nossa sensibilidade e nosso corpo. A alma é um luxo posterior.
Pode ser que essa prioridade simbólica da música entre nós seja mesmo
resultado histórico da interação ritual entre a religião, o trabalho e a festa – ou
simplesmente a forma mais feliz de uma arte que soube como nenhuma outra
acompanhar os movimentos de nossos músculos ao caminhar. Nossa música
aderiu a nosso corpo como um bronzeador.
105
Sempre preocupado com as relações entre a cultura e o corpo, Nietzsche
escreveu, sem saber, boa parte de sua obra eleogiando o Brasil enquanto
pensava estar comentando Bizet: o Brasil foi o único país do mundo a
incorporar e irradiar com uma vitalidade sempre renovada todas as lições do
que Euclides da Cunha descreveu como “a linha fulgurante do trópico” – e
essa lição nos veio embalada pela música. Toda nossa antropologia, por isso,
deveria começar com um atabaque e terminar com um banquinho e um
violão.clxxx
clxxxi
*
Copacabana. Milhares de corpos em toda parte. Na realidade, um único
corpo, imensa massa de carne ramificada, todos os sexos confundidos. Um
único pólipo humano expandido, impudico, um único organismo onde todos
têm a mesma cumplicidade dos espermatozóides no fluxo seminal...
106
De algum modo, a indiferenciação da cidade e da praia leva a cena
primitiva diretamente à praça pública. O ato sexual é permanente, mas não no
sentido do erotismo nórdico: ele está na promiscuidade epidérmica, na
confusão dos corpos, dos lábios, das bundas, das ancas – um único ser fractal
disseminado sob a membrana do sol...
Esse hiper-organismo humano faz pensar no outro imenso indivíduo
orgânico, o maior do mundo, no Canadá, feito de 45.000 álamos, na confusão
de suas raízes, todos participando do mesmo caminho telúrico – a floresta
constituindo um único ser vegetal. Os corpos brasileiros constituem do mesmo
modo uma espécie de ser único, vivos da mesma vida, penetrados pelos mesmos
fluidos, vibrando pelas mesmas paixões. Que estatuto social ou político pode
haver para um ser dessa ordem? clxxxiii
Em compensação...
O Brasil: será o melhor protótipo da cultura Lego que se anuncia como
universal... Amontoado de fragmentos de civilizações que poderão ser reunidos
ao bel-prazer de cada um...
Situado dessa forma na vanguarda das tendências mundiais da cultura,
vai-se tornar um dos faróis da criação artística planetária... Será de bom-tom
visitá-lo em busca de inspiração...
107
Vai-se falar do “Brasil-mundo” como uma corrente estética, um sistema
de valores, um modelo social feito de barbárie assumida, prazer e regozijo
ilimitados, mestiçagem sofisticada e violência crua...clxxxv
O Brasil tem tudo para vir a ser a futura Matriz do Mundo Pós-
Moderno... clxxxvii
108
cxc
cxci
Pluralismo... Multiplicidade... Raças, cores, credos, sexos, etc...são, por princípio, tão
bons quanto legítimos... O pós-modernismo abre as compotas das represas ideológicas
para que as águas puras das nossas possibilidades fragmentárias corram soltas... E
livremente se encontrem... Se desencontrem... Se reencontrem...
109
Toda utopia pressupõe o puzzle pré-concebido, em que os humanos se espremem nas
limitadas paredes das masmorras ideológicas... Juntarmos e desjuntarmos e
rejuntarmos os nossos fragmentos em legos... Eis o que é avançar a inteligência
humana para além das estrelas...
110
O pós-modernismo coloca, pela primeira vez nas histórias das humanidades, para além
dos pré-socráticos, para mais além das concepções anarquistas, e para além das
concepções de vanguarda, as possibilidades sociais de realização dos imaginários
individuais sem que disso resulte nem a segregação, nem a dominação, nem o
conflito... É um antimodelo que incorpora modelos fragmentados... Por isso, por
essa libertação dos imaginários, o pós-modernismo vai ampliando as capacidades
humanas, tanto as advindas da natureza quanto as já desenvolvidas pela cultura... As
possibilidades científicas e artísticas decorrentes são ainda inimagináveis...
cxcii
111
nossa Semana de 22 – até o existencialismo de pós-guerra (Sartre e Camus), acirrando-
se na geração beat americana, e no movimento hippie, para afinal eclodir pelos idos da
década de 1980, em todas as artes... Indisciplinado, fragmentado, múltiplo, veloz e
incendiado como um ninho de vespas em erupção...
112
Falando sobre o fragmentarismo, enquanto método de criação literária, Affonso
Romano de Sant’Anna narra que Machado de Assis mereceu severa crítica de
Guimarães Rosa, segundo o qual o autor de Dom Casmurro utilizava o método como
“facilidade”, pensamento ainda hoje muito comum entre autores que se aferram à
univocidade de discurso em que, afinal, foram formados –
Adquiri certeza quase absoluta, de que ele, antes mesmo de
compor seus livros, ia anotando: pensamentos, frases, etc. em livro ou
em cadernos especiais, espécie de surrão ou alforje, de onde sacava,
aos punhados, ou pinçava, um a um, os elementos de reserva que
houvessem resistido ao tempo conservando-se bem.
Ao que Affonso Romano de Sant’Anna, como bom poeta, aduziu, entre parênteses:
Processo aliás muito louvável. Tanto quanto o hábito de compulsar dicionários (outra
técnica fragmentarista, adotada por Mallarmé, aduzo eu) visível em Machado de
Assis... Diz Affonso em sua defesa da técnica fragmentarista machadiana:
Quanto à observação de que Machado tinha um “surrão ou alforje”, onde ia
jogando frases e anotações que usava posteriormente, é relevante mostrar que este foi
também o método usado por Rosa, conforme as fichas que deixou, onde anotações já
feitas sobre flora e fauna eram posteriormente encaixadas na narrativa em
construção. Este é um recurso comum nos escritores. Vão jogando em pastas
anotações aleatórias ou sistemáticas que, de repente, recobram vida...
Ignácio de Loyola, por exemplo, confessou que este foi o processo que usou
para a narrativa fragmentada de seu conhecido “Zero”... cxciv
113
Já o mérito maior de Inácio Loyola Brandão – por isso mesmo, e até onde se sabe, o
autor brasileiro, dentre nossos escritores mais consagrados pelo público e pela crítica,
que inaugura a pós-modernidade brasileira no romance – adotou o fragmentarismo
como método e como estética, mantendo a estrutura fragmentária do material
coletado, independentemente de ter lançado mão ou não daquela técnica tradicional
entre os autores de todos os tempos... Por isso Zero, seu belo romance, também um
livro que consagrado por crítica e público como uma das jóias da literatura brasileira,
especialmente pela sua estrutura épica, há obrigatoriamente de ser reconhecido como o
primeiro (estranhamente ainda o único a vir à luz, pela imprensa especializada em
canonizações) grande romance da pós-modernidade literária no Brasil...
Registre-se – entretanto – que Zero é, afora o mérito de ser o primeiro livro brasileiro
inteiramente, radicalmente concebido numa estética pós-modernista, em que o
fragmentarismo se impôs desde a sua concepção, um livro que ainda ensaia os
primeiros passos à criação de uma reconhecida literatura brasileira pós-moderna...
Afinal, percebe-se claramente em Zero uma forte retórica unívoca, guiada por um
autor experimentado em unificar (como em seus melhores escritos) todo o material
disponível em uma só direção, tanto ética quanto em estética...
Deliciosa, note-se, a expressão de Affonso em seu texto: Inácio Loyola confessou...
O pós-modernismo e seus métodos, infelizmente, têm sido vistos como um balbuciar
literário, nas raias da facilidade literária, em que os territórios demarcados da
Literatura restam miscigenados, de traços fronteiriços despistados... Pouco a pouco a
crítica especializada começa a investigar sua fenomenologia, e a adivinhar-lhe as
possibilidades...
Os americanos, dizem, vão a Disneylândia para sentir que fora dali sua
vida é real. O pós-modernismo está ancorado aqui: na insustentável leveza de
não crer nem na realidade nem na ficção. Nesse desvão descrente passeiam os
simulacros ofertados pelos mass media, os modelos computacionais, a
tecnociência – nova ordem na qual a simulação do romance pela sua
destruição ainda é subversiva porque invoca clownescamente, se não verdades,
ao menos possibilidades atravessadas pelo absurdo, o que é sempre
inquietante. Não é outro o motivo da generosa acolhida que essa literatura teve
entre os jovens...cxcv
114
Mas de um modo geral, o pós-modernismo ainda é considerado mero
experimentalismo (se realizado por escritores canonizados), quando não como um
convite ao absurdo, como dizem seus críticos mais conservadores (quando exercido
por autores que não freqüentam a boa e velha ordem literária, naturalmente), ávidos
por defender a boa e velha literatura, aos mesmos tons de superficialidade e
arrogância reacionárias, à esquerda e à direita, infelizmente tão comuns numa cultura
ainda por se libertar de um modo ainda binário, maniqueísta, colonizado, estratificado,
de ver o mundo, com as lentes unívocas das esferas de poder das ideologias “literárias”
dominantes...
115
passando pelo Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade, até as
Poesias reunidas O. Andrade (título que parodia certa sigla de Indústrias
Reunidas...), o layout tipográfico das coletâneas oswaldianas sempre tivesse
tido grande importância. Para isso contribuíram os desenhos de Tarsila e do
próprio autor e os “achados” que são as capas: a do Pau-brasil uma bandeira
brasileira com a divisa mudada para Pau-Brasil; a do Primeiro caderno, uma
capa de caderno de curso primário, com florões inscritos dos nomes dos
Estados brasileiros e outras garatujas infantis. As ilustrações de Oswald para
este segundo livro ligam-se intimamente a seu contexto, e é uma pena que,
numa edição de tiragem comercial como a presente, não se possa reproduzir
integralmente o plano original dessa obra.
O livro de poemas de Oswald participa da natureza do livro de imagens,
do álbum de figuras, dos quadrinhos dos comics. Sua atualidade neste
particular é espantosa. Ainda há pouco, o crítico inglês John Willett, do corpo
redatorial de The Tmes Literary Supplement, fazendo um balanço das relações
entre artes visuais(pintura gráfica) e literatura, salientava:
...parece que estamos no limiar de uma revolução no que respeita à maneira
pela qual exprimimos nossos pensamentos; estamos nos libertando das
“limitações da prosa linear” e começando a aprender “como manipular a
informação e a própria linguagem através de técnicas absolutamente novas”;
estamos fadados a “desenvolver um modo menos restrito de escrever livros e
transmitir informações e nele o uso de símbolos e o layout bidimensional na
página deverão desempenhar um papel importante”; “a nova acuidade pública
para a imagética visual, que a televisão estimulou, significa que uma
combinação de palavras e ilustrações é hoje congenial para o leitor”; “que
aspecto irá ter o livro parcialmente diagramático do futuro, com sua linguagem
condensada e sua exata colocação de palavras e proposições na página?”
Para chegar a estas considerações, Willett passara em revista as tendências da
atual literatura de vanguarda, incluindo, ademais, um retrospecto das fontes
históricas do fenômeno, tais como, de um lado, os exemplos de poetas-pintores
(Maiakovski) e pintores-poetas (Klee), e, de outro, a tradição vitoriana de
livros ilustrados (as estórias de Alice de Lewis Carroll), onde “o livro tornou-
se impensável sem suas figuras”, isto sem esquecer as remotas origens da
escrita pictográfica....
Ao invés de embalar o leitor na cadeia de soluções previstas e de
inebria-lo nos estereótipos de uma sensibilidade de reações já codificadas, esta
poesia, em tomadas e cortes rápidos, quebra a morosa expectativa desse leitor,
força-o a participar do processo criativo...
A técnica de montagem -, este recurso que Oswald hauriu nos seus
contatos com as artes plásticas e o cinema...
De apelo ao nível de compreensão crítica do leitor, que está implícito no
procedimento básico da sintaxe oswaldiana...
É o efeito que se encontra também nos poemas lacônicos da fase madura
de Bertolt Brecht, a fase que começa em 1939 com os poemas escritos no exílio
(em basic German, segundo o próprio Brecht):
116
Hollywood
*
É sempre necessário compreender que o pós-modernismo não se esgota na exploração
do imaginário, no manuseio do absurdo e do delírio, pois que apenas o torna possível
na medida em que liberta o artista do discurso estético unívoco e linear, e sempre
positivista (no que este tem de restrição às demais possibilidades discursivas), para
inseri-lo de volta ao mundo das percepções fragmentárias...
A livre articulação das várias vozes da cultura tem por escopo principal respeitar a
polifonia a partir do seu articulador textual, em que cada qual das vozes dialógicas se
apresenta em igual nível de importância – dado que são muitos os modos de ver os
temas, os que são objeto de apresentação teórica fragmentária – apenas destacados em
função das articulações estético-textuais e da relevância que possam ter, aqui e ali,
para as proposições teóricas do texto...
117
Capa: Federico Spitale, 1968
A polifonia, para ser bem absorvida, deve escapar às marcas hierárquicas e canônicas
que levem o leitor a antecipar o eventual valor do texto em função do autor citado –
em prejuízo de uma livre leitura e, portanto, valoração particular, personalíssima –
fazendo cair por terra a aceitação de uma estética polifônica (daí a remessa das notas
de citação para o final do trabalho)...
*
Para a retórica unívoca, o imaginário do “outro”, o imaginário da pluralidade, é sempre
e apenas delírio... Absurdidades... De nenhum valor de troca, seja científica, seja, por
conseguinte desse pensamento hierarquizante, estética...
118
O pós-modernismo não é uma idéia de vanguarda, não é um modo pré-estabelecido
como ideal estético, ao contrário, o pós-modernismo é a naturalidade de todas as
vanguardas, é a eliminação mesma da própria idéia de vanguarda e também de
experimentação artística: o pós-modernismo é apenas um fato – e fato sempre, desde
sempre, pulsante no interior da cultura – cujas origens remonta à uma visão
fragmentária do mundo e ao estar no mundo munido desses fragmentos...
...Aceitando-se ser fragmentário, o humano aceita-se, enfim, viver
fragmentariamente...
Ou seja, o reconhecimento de que há muitos modos de viver, ver e ler o mundo... Seja
em si, seja no outro...
Muitos modos de ver, de crer, de saber, de imaginar... Eis o que são as novas
tentativas pós-modernas de libertação do humano dos modelos utópicos imaginados os
quais, por definição, não se transferem aos demais imaginários, e só se exercitam
como irrealidade...cxcix
119
A essência de um doce prazer nunca pode ser aviltada... cci
Na Grécia Clássica, o prazer, o desejo, eram atributos naturais do indivíduo, para cujo
gozo deviam se adestrar, educarem-se, como parte da paidéia (a educação do homem
grego), como parte indissociável da arete (excelência física e moral)ccii e em nome dos
princípios universais que amparam o direito do indivíduo de gozar a vida,
independentemente das razões da polis, como em Arquíloco: Se nos afligirmos com a
maledicência do povo, não desfrutamos o prazer da vida...cciii Ou em Mimnermo:
Sem a loira Afrodite não há vida nem przer! Preferia estar morto – se tivesse de não
gozar dela mais...cciv
A palavra triebccvi, do alemão: vontade, com a qual Nietzsche construiu a sua tese do
humano como vontade de poder funcionava, especialmente em meio à juventude,
como similar para tesão... Em verdade, a expressão vontade de poder foi criada com
essa conotação de tesão pelo poder... É muito provável que Nietzsche a escolheu ainda
com essa conotação erótica...
120
Freud, do círculo pessoal de Nietzsche, desenvolveu toda a sua teoria da sexualidade,
sua concepção de libido e da sexualidade como fator determinante do comportamento
humano, a partir de uma feliz compreensão da trieb nietzscheana...
O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal... ccix
A satisfação nos protege até mesmo de resfriados. Uma mulher que se sabe bem
vestida se resfria alguma vez?... ccx
O entendimento humano muito deve às paixões... É pela sua atividade que nossa
razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer porque desejamos usufruir... E é
impossível conceber porque aquele que não tem desejos ou temores dar-se-ia ao
trabalho de raciocinar... ccxi
Segundo o evangelista João, lembra Paulo Coelhoccxii, o primeiro dos milagres de Jesus
foi a transformação da água em vinho para a alegria – e a dança de Eros – dos
convivas de uma festa de casamento... Portanto, eu também não creio, com/sem
Nietzsche, em um Deus que não dança...ccxiii
121
O pós-modernismo é um fato, um fenômeno de uma civilização em forte expansão
pluridimensional: adotá-lo, ou criticá-lo, como modelo teórico unívoco é alhear-se do
seu estudo, que só pode seguir-lhe as múltiplas direções...
Eis dois outros elementos fundamentais aos estudos da literatura, da arte pós-moderna:
prisma e paradoxo... Que se juntam ao fragmentarismo e à libertação do desejo... Ao
imaginário e à conscientização do inconsciente...
ccxvii
122
O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma
imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações
especiais além do seu significado evidente e convencional. Implica alguma
coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós...ccxviii
Uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma
coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta
imagem têm um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é
precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos ter esperanças
de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um símbolo, é conduzida
a idéias que estão fora do alcance da nossa razão...
A imagem de uma roda pode levar nossos pensamentos ao conceito de um sol
“divino” mas, nesse ponto, nossa razão vai confessar a sua incompetência: o
homem é incapaz de descrever um ser “divino”... Quando, com toda a nossa
limitação intelectual, chamamos alguma coisa de “divina”, estamos dando-lhe
apenas um nome, que poderá estar baseado em uma crença, mas nunca em
uma evidência concreta...
...O humano nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por
completo...ccxix Não importa que instrumentos ele empregue; em um determinado
momento há de chegar a um limite de evidências e de convicções que o
conhecimento consciente não pode transpor...
Além disso, há aspectos inconscientes na nossa percepção da realidade.
O primeiro deles é o fato de que, mesmo quando os nossos sentidos reagem a
fenômenos reais, a sensações visuais e auditivas, tudo isto, de certo modo, é
transposto da esfera da realidade para a da mente... Dentro da mente estes
fenômenos tornam-se acontecimentos psíquicos cuja natureza extrema nos é
desconhecida (pois a psique não pode conhecer sua própria substância)...ccxx
Há, ainda, certos acontecimentos de que não tomamos consciência...
permanecem, por assim dizer, abaixo do limiar da consciência... aconteceram,
mas foram absorvidos subliminarmente, sem nosso conhecimento consciente.
ccxxi
ccxxii
123
A unidade da consciência é algo precário e que pode ser facilmente
rompido... ccxxiii
Não resta dúvida de que, mesmo no que chamamos “um alto nível de
civilização”, a consciência humana ainda não alcançou um grau razoável de
continuidade. Ela ainda é vulnerável e suscetível à fragmentação...ccxxiv
*
Olhamos para o céu quando a Terra envolta em trevas, e o que vemos? Fragmentos...
Fragmentos e mais fragmentos da Luz...
Aos céus claros dos dias, vemos a unicidade solar... Mas já sabemos que este é só o sol
mais próximo dos muitos modos solares... Que este é ainda um dos muitos fragmentos
da Luz...
Já podemos olhar ao interior do nosso sol em atividade, e o que vemos? Fragmentos,
átomos solares em múltipla atividade...
.Já podemos olhar na escuridão cósmica, e o que vemos? Intensa atividade de
fragmentação...
O Kosmos fala por fragmentos... Só a energia que o sustenta é unívoca, infinita,
ubíqua... Pois o texto Cosmogâmico é em torno e ao interior do texto que se vê... Só os
silêncios do poema nos permitem a Sua aproximação...
*
O Globo: Na nova edição de “Convite à filosofia”, há uma sugestão para que os
alunos comparem o Mito da Caverna, de Platão, com o filme “Matrix”. Como
elementos da cultura popular podem ser usados no ensino da filosofia?
Marilena Chauí: Eles devem servir para fazer paralelos e reflexões da produção
contemporânea. No primeiro “Convite à filosofia” eu usei a literatura brasileira para
fazer esses paralelos. Professores amigos meus sugeriram que eu usasse algo mais
próximo do cotidiano dos estudantes na nova edição do livro. Por conta disso estou
ouvindo toda a produção atual de rap. Quero usar as letras das músicas para tratar
de ética e política...ccxxv
*
Se o fragmentarismo é a técnica estética de buscar-se a totalidade possível, o
fragmentarista é o que fornece as pistas para esse possível... O leitor deve, nessa
leitura, usar os trajes próprios à essa aventura: A Poética...
124
De um passado que se faz distante ecoa um verso que fiz adolescente, parodiando uma
canção dos Beatles (Eleanor Rigby, de Lennon e McCartney): Under my thumb/you
will find a lot of things... then you’ll find... you’ll find me... Fragmentos de mim...
Não será assim com todo o humano que se vai?... Não são fragmentos de vida, o que
nos ocorre na hora definitiva?
Tropicália ou Panis Et Circenses, não é por acaso que assim se titula o disco-
manifesto do Tropicalismo, reunindo os artistas da música popular brasileira, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão e Os Mutantes, um trabalho musical que
inclui desde o tango/bolero de Vicente Celestino, ao frevo de João Antonio Wanderley,
composições de Capinam, Tom Zé e Torquato Neto, tudo sob o arranjo e a regência do
gênio de Rogério Duprat, um trabalho que, curiosamente, navega por caravelas outras
que as de Pedro Álvares Cabral: Las Três Carabelas, em versão de João de Barros,
referência direta àquelas outras, as de Cristóvão Colombo (Santa Maria, Pinta e Niña),
que o conduziram à descoberta da América...
125
Imagine-se o triplo golpe com que o Tropicalismo atinge as univocidades todas... A
uma, o nacionalismo ufanista da ditadura militar... Em seguida, os diversos
seguimentos de ação ideológica e política de cunho radical, então submetidos à divisão
ideológica do mundo, num tempo em que qualquer referência positiva a América e aos
americanos era tida como traição às esquerdas brasileiras organizadas... Enfim, ao
espírito luso-colonizador dos diversos estamentos de poder da cultura brasileira...ccxxvii
A Tropicália, como autêntica overture da pós-modernidade brasileira, forma-se
a partir das propostas estéticas lançadas pelo Movimento Modernista, por um
lado, mais especificamente como um desdobramento do Manifesto Pau-Brasil,
na medida em que absorve, mas de um modo mais explícito,
antropofagicamente, elementos de cultura européia, e norte-americana, sem
deixar de exaltar o nativo nacional como sua pièce de rèsistence – o índio
brasileiro – aproximando-se, embora de um outro modo, da exaltação dos mitos
indígenas, realizada pelo Movimento Antropofágico, de Oswald e Mário de
Andrade e de Raul Bopp (Cobra Norato)...
De outra vertente, o Movimento da Bossa Nova, que já miscigenava o jazz americano
à cultura musical brasileira, João Gilberto à frente, embora, no dizer do próprio
Caetano Veloso a Tropicália tenha sido o movimento que nos anos 60 virou
(desconstrução pós-moderna, pode-se acrescentar) a tradição musical popular
brasileira, e a bossa nova, segundo ele sua mais perfeita tradução, pelo avesso... ccxxviii
A Tropicália, no melhor sentido semanista, e no ainda mais eficiente antropofagismo
cultural, exaltando radicalmente o elemento humano mais primitivo nativo das terras
brasileiras, incorporando os elementos literários e musicais de todas as vertentes da
cultura brasileira, do luso ao negro, do europeu ao norte-americano, especialmente as
miscigenações já realizadas no interior da cultura brasileira, consegue, a um só tempo,
incorporar essas todas vertentes, inclusive as interpretações relativas às conquistas da
modernidade, como, por exemplo, os ideais libertários, contra todas os preconceitos
limitadores do humano... Sem, no entanto, reduzir essa força unificadora a qualquer
estereótipo (univocidade) apropriável por eventuais setores da sociedade que o tentem
fazer...
A Tropicália, pós-modernismo à vista, tornou-se o principal fator de desarticulação
(desconstrução) de uma identidade baseada, seja na noção de nacionalidade, com as
agruras de época tão conhecidas, seja com o olhar redutor de uma elite sócio-política
mistificadora, e redutora, das reais virtudes do humano brasileiro...
Um brasileiro musical, um brasileiro inteligente, um brasileiro plural, fundado na
noção do elemento terra brasileira, na harmonia entre humano e natureza, o índio
hiper-civilizado, um brasileiro pau-brasil, enfim, liga as vanguardas presentes na
Semana de Arte Moderna às da Tropicália, da modernidade à pós-modernidade...
A identidade cultural do que é o ser brasileiro ensaiava seus novos passos (ainda
modernistas), quando talvez essa identidade já estava se tornando um elemento de
redução do humano a dimensões por demais despiciendas (pós-modernistas), num
mundo que então, hoje bem o sabemos, caminhava aos passos sorrateiros de uma
globalização, mais que econômica, cultural...
Não será mérito maior da cultura brasileira essa pluralidade e antropofagia a partir da
vida do humano sobre a sua terra? Não será ainda muito mais civilizado (e
126
civilizatório) o processo cultural que se conduz especialmente pela música enquanto
seu discurso literário (Theory) mais cultural?
Música jamais excludente dos sons do humano sobre a terra, ao contrário, aglutinadora
e miscigenadora dos vários elementos das mais diversas culturas?...
Enquanto os demais discursos, pretendendo-se reais, ignorando serem tanto quanto
fictos de interpretação, ainda estavam a gaguejar linguagens prontas de outras culturas,
e como discursos prontos, prontos a aplicá-los, sem mediação antropofágica, como
interruptor das luzes de um próprio modo brasileiro de pensar, interpretar e reinventar
o mundo?...
Ignorando que a cultura brasileira possui a mesma invejável virtude que tem feito a
glória da cultura norte-americana, e ainda muito mais rica de possibilidades, fruto de
nossa capacidade de miscigenação, a capacidade de absorver e incorporar as todas as
conquistas culturais das diversas aldeias, desde as mais primitivas às mais ricas?...
127
por que não dizer, mais prazeroso, mais musical, do que, propriamente, identificá-la,
aos polegares luso-brasileiros, nos institutos félixpachecos dos globalizamentos...
ccxxix
128
Ilustração: Helder, 1993.
129
Multicoloridos, cérebros, multicoloridos
Sintonizam, emitem, longe
Cascos, cascos, cascos
Multicoloridos, homens, multicoloridos
Andam, sentem, amam
Acima, embaixo do mundo
Cascos, cascos, cascos
Imprevisibilidade de comportamento
O leito não-linear segue
Pra dentro do universo
Música quântica?”ccxxx
130
resíduos que a maré traz, quando ainda não é caranguejo vai ser. O caranguejo
nasce nela, vive dela, cresce comendo lama, engordando com as porcarias
dela, fabricando com a lama a carninha branca de suas patas e a geléia
esverdeada de suas vísceras pegajosas. Por outro lado, o povo daí vive de
pegar caranguejo, chupar-lhe as patas, comer e lamber seus cascos até que
fiquem limpos como um copo e com sua carne feita de lama fazer a carne do
seu corpo e a do corpo de seus filhos. São duzentos mil indivíduos, duzentos mil
cidadãos feitos de carne de caranguejos.O que o organismo rejeita volta como
um detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra vez”.ccxxxi
*
Está claro que o fragmentarismo é uma estética (que já pressupõe uma ética), uma
epistemologia, que já supõe uma lógica...
131
irlandês carnavaliza o tema épico de Ulisses e fragmenta os discursos (ao interior
mesmo dos monólogos de suas personagens, tal qual a fragmentada polifonia da vida
interior de qualquer um) à maneira polifônica de apresentar as suas muitas estórias,
tematizadas a partir de uma leitura (e transliteração) nem linear nem unívoca do
clássico de Homero...ccxxxiii
*
O fragmentarismo contempla a possibilidade de cada pensamento, com seus
sentimentos subjacentes, torne-se mais consciente, mais saber, na medida em que
também promove uma aproximação com o real fragmentário por um humano
fragmentário... Pois é lógico que não se obterá senão parcela ínfima de conhecimento
(sempre fragmento) se não se considera as diversas partes que transitam em torno o
fragmento de realidade, sobre o qual se tenta discernir...
132
articulador dessas plurivocidades todas, juntando-se a elas em suas próprias vozes, em
direção, que até pode ser unívoca e linear na intenção, se o que se busca é um melhor
caminho para o conhecimento (sempre pleno de pluralidades fragmentárias), desde que
daí não resulte desfragmentação, nem do discurso nem, muito menos, do tema (seja no
real, seja no ideal).
Afinal, se o autor (pensador) que se resume já o disse, como melhor se exprimia a sua
percepção conceitual, qual motivo suficientemente forte para substituí-lo em dizer?...
Ao preservar-se a originalidade de pensamento de cada tese no discurso, apenas
juntando-se a elas novos fragmentos em igual originários, fazemo-nos todos, autores e
leitores, parceiros na grande aventura do conhecimento... Jamais servos, ou papagaios,
de palavras alheias... Obras tais que essas últimas, podem ter lá o seu valor; mas que
não se substituam jamais às perplexidades – e nos basta o convite às múltiplas
respostas – obtidas na lógica fragmentarista... Em se tratando de teoria da arte, é
mesmo uma pretensão inominável...
*
O mundo é um e múltiplo. O mundo é a vontade de poder. Pode-se
suspeitar, de acordo com isso, que também a vontade de poder é um e
múltiplo... O um, como teológica e metafisicamente fundante, é recusado por
Zaratrusta. Ele denomina “malvadas todas essas doutrinas do um” Também o
um não é, para Nietzsche, de modo algum, “o simples”. “Tudo o que é simples
é meramente imaginário, não é ‘verdadeiro’, nem é um, nem é redutível a um...
A multiplicidade acede ao primeiro plano. Só uma multiplicidade pode
ser organizada em unidade. Trata-se, no múltiplo organizado, de “quanta de
poder”, se, pois, o único mundo não é nada mais que vontade de poder...
A vontade de poder é a multiplicidade das forças em combate umas com
as outras... O mundo de que fala Nietzsche revela-se como jogo e contrajogo
de forças ou de vontades de poder. Se ponderamos, de início, que essas
aglomerações de “quanta” de poder ininterruptamente aumentam e diminuem,
então só se pode falar de “unidades” continuamente mutáveis, não, porém, da
unidade. Unidade é sempre apenas organização, sob a ascendência, a curto
prazo, de vontades de poder dominantes... ccxxxv
*
As teses pós-modernas, as teses fragmentaristas, como é próprio da Teoria Literária
da Cultura, se provam no processo mesmo em que são colocadas, em que existem
como processo e procedimento, nas ficções que formam a vida humana...
133
Ilustração: Cruz, 2002
134
Diante disso, perguntei ao meu colega professor se ele se dava por
satisfeito. Ele cedeu e dei ao rapaz quase a nota máxima. No entanto, ao
deixar o escritório, lembrei-me de que o estudante havia mencionado ter
outras respostas para o problema e fui lhe perguntar quais eram. Ele
respondeu que existem muitas maneiras de determinar a altura de um prédio
usando um barômetro. Num dia ensolarado, por exemplo, poder-se-ia medir
a altura do barômetro, o comprimento da sua sombra, o comprimento da
sombra do prédio e – valendo-se de uma simples regra de três – calcular a
altura da construção.
Pedi mais outra solução e ele veio com um método extremamente
básico, mas funcional. Pegaria o barômetro e subiria as escadas do prédio,
marcando verticalmente na parede a altura do instrumento, subindo a cada
marca. Quando chegasse ao telhado do edifício, bastaria contar as marcas e
multiplicar pela altura do barômetro. Um método bem direto.
Depois disso, ele apresentou uma solução mais sofisticada, em que
penduraria o barômetro num fio e o faria oscilar como um pêndulo. Com
isso, determinaria o valor de ‘g’ no térreo e depois em cima do prédio. Pela
diferença entre os dois valores de ‘g’, a altura do arranha-céu poderia, a
princípio, ser calculada. O estudante concluiu, sempre brilhante, que se não
estivesse limitado a soluções para o problema que usassem conhecimentos de
Física, poderia levar o barômetro até o escritório do zelador do prédio e dizer
para ele: “Sr. Zelador, tenho aqui um lindo barômetro de alta qualidade. Se o
senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de
presente”.
Neste ponto não agüentei e perguntei ao estudante se ele realmente
não sabia a resposta correta do problema. Ele admitiu que sim, mas que já
estava de saco cheio com os professores tentando ensiná-lo como deveria
raciocinar e usar seu pensamento crítico, em vez de lhe mostrarem a
estrutura fundamental do tema e deixá-lo livre para encontrar soluções
originais e criativas. Assim, ele decidiu dar esta sacaneada no mestre.ccxxxvi
*
A pós-modernidade abre a caixa de pandora da sexualidade humana ao
reconhecimento das múltiplas possibilidades de relacionamento e prazer sexual, sem
que disso resulte qualquer transtorno às relações sociais...
Só o reconhecimento do humano como um ser fragmentário, jamais unívoco, permite o
livre fluir das sexualidades humanas...
No conjunto de tantos fragmentos que formam o indivíduo, dão-se as mãos aqueles
tais que encontram ressonância nos de outrem, este como uma individualidade em
igual fragmentária... Assim os relacionamentos se formam, se conformam, se
deformam e se abandonam, ou mesmo se estabilizam, na medida mesma dessas
relações fragmentárias... A conseqüência é que a sexualidade, considerada apenas em
si, desprende-se do núcleo para a periferia das relações sociais...
135
ccxxxvii
136
cinema vem apontando, via desenvolvimento de uma realidade virtual, para além ainda
mais das pornowebs...
137
– Todos devem fazer algo proibido. Somos assim. Mas agora o risco é muito
grande. A rua é um campo de batalha. Sexo mata. Você põe a “rede” e
consegue o que precisa. Quase como a realidade e mais seguro.
– É pornografia. Você vende a “rede-viciados”.
– Você está muito severa...e isso é falso. Meus clientes são profissionais.
Alguns são até celebridades... ccxxxix
ccxl
É uma velha sexualidade tentando ainda fixar os limites de uma univocidade que não
aceita perder o império das velhas dicotomias... É uma velha economia sexual versus
uma nova economia sexual...
ccxli
De outro lado, matérias de revista, tanto femininas quanto masculinas, dão uma aura
de normalidade a exercícios sexuais que, em última análise, leva o sexo para a fria
ração das motivações que não correspondem necessariamente aos anseios individuais,
como receitas de bolo de aniversário...
138
Enfim, são fragmentos de sexualidade que se vão afastando do eixo de uma antiga
sexualidade exemplar, que pressupunha uma identidade sexual única entre todos os
múltiplos indivíduos, identificados apenas pela razão carnal...
De toda maneira, pouco a pouco o erotismo vai incorporando a si elementos que eram
de domínio exclusivo da pornografia...
*
No lugar de tratar a sexualidade como um aspecto altamente
especializado da experiência humana, uma força em ação na vida das pessoas
em certos momentos, Freud mostra sua infiltração, fazendo de uma teoria da
sexualidade uma precondição para entender o que poderia ser eminentemente
não-sexual...
O não-sexual torna-se uma versão particular do que Freud chama de
“sexualidade alargada”ccxlii. Essas reversões desconstrutivas, que dão um lugar
privilegiado ao que fora considerado marginal, são responsáveis por muito do
impacto revolucionário da teoria freudiana. Tornar aquele singular monstro,
Édipo, no modelo do amadurecimento normal, ou estudar a sexualidade
normal como perversão – uma perversão instintiva – é um procedimento que
até hoje não perdeu sua força de escândalo.
O exemplo mais geral da desconstrução de Freud é certamente o
deslocamento das oposições hierárquicas entre o consciente e o
inconsciente...ccxliii
“É essencial abandonar a supervalorização da propriedade de
ser consciente, antes que seja possível formar qualquer visão correta da
origem do que é mental... o inconsciente é a esfera maior, que inclui
dentro de si a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem
um estágio inconsciente preliminar, enquanto o que é inconsciente pode
139
permanecer naquele estágio e, ainda assim, exigir ser visto como tendo
valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira
realidade psíquica... ccxliv
*
Sou poeta Apenas poeta Nada mais que poeta
Quando jogo meus dados
Quando lanço meus dardos
Quando me faço de galo
Quando me fazem de pato
Quando falo, quando talho
Sou poeta Apenas poeta Nada mais que poeta
*
DISCIPLINA SEM DISCIPLINA
140
Nos estudos literários e culturais circula hoje menos o termo teoria da
literatura. Usamos com muito mais freqüência apenas teoria, ou “just plain
theory”, como diria Culler (Culler, 1997,1). Neste sentido, não se privilegia
uma teoria singular, mas acentuamos a condição da teoria como prática ao
mesmo tempo específica e geral, “something you do or don’t do” (1997,1).
Para Culler, theory nos estudos literários não corresponde à
investigação da natureza da literatura ou a métodos analíticos produzidos
especialmente para uma análise de textos literários individuais, ainda que estes
façam parte dela. O seu projeto não se limita a textos literários e suas possíveis
marcas de distinção, mas, entre outros, procura até argumentos para tentar
explicar as inexplicáveis razões da alegria que motiva as nossas preocupações
com literatura. A sua pergunta “what is involved in treating things as literature
in our culture?” remete ainda à convicção de que o termo literatura
corresponde a um rótulo institucional que nos permite esperar que os
resultados dos esforços investidos na leitura tenham pelo menos alguma forma
de valor (Culler, 1997,22). É nesta perspectiva ampla que precisamos entender
esse seu programa teórico: “It’s a body of thinking and writing whose limits are
exceedingly hard to define” (1993,3).
Este novo gênero em desenvolvimento – que, citando Richard Rorty, “is
neither the evaluation of the relative merits of literary productions, nor
intellectual history, nor moral philosophy, nor epistemology, nor social
prophecy, but all of these mingled together in a new genre” – é endossado por
Culler, então, pelo acento sobre a palavra sem adjetivação específica. Teoria,
nesta perspectiva, é vista como gênero a partir da forma de seu estudo: for a da
própria matriz disciplinar (1987, 8).
Transformações na esfera epistemológica, estética e política facilitaram
também a emergência efetiva do estudo das literaturas das mais diversas
minoridades. As discussões sobre essas formas de expressão literária – por
exemplo, black, hispânico, afro-americano, nativo, gay, - colocam hoje
problemas complexos para os vínculos entre identidades culturais de grupos
particulares, seja com a tradição, seja com o programa liberal da celebração
da diversidade cultural e do “multiculturalismo” (1997, 131)
Theory – “as we call it” – representa, por um lado, uma atividade
especificamente acadêmica, mas dentro da universidade se comporta de forma
transdiciplinar, porque desafia fronteiras em função das quais se legitima
normalmente a estrutura universitária. De modo geral, as disciplinas
reinvindicam o direito de julgar trabalhos que se situam no interior de seus
limites específicos, mas Culler enfatiza, ao contrário, que “in practice, theory
contests the right of psychology departments to control Freud’s texts, of
philosophy departments to control Kant, Hegel, and Heidegger” (1997, 96).
No final dos anos 1990 o nome theory, que duas décadas batizava
timidamente esse novo gênero mestiço por falta de outras opções mais
convincentes, institucionalizou-se em sua mais recente publicação, ainda que
Culler mantivesse, curiosamente, um título tradicional: Literary Theory (1997)
141
No pequeno compêndio de imensa circulação, o autor radicaliza as suas
convicções hipotéticas anteriores ao reforçar a idéia de um gênero particular –
uma disciplina sem disciplina – referido a obras que desafiam e reorientam o
pensamento em esferas distintas dos campos de saber de sua aparente
pertença. Esse tipo de explicação, que circunscreve a teoria como atividade
cujos efeitos práticos se manifestam além do seu território de origem, parece
captar a situação geral de grande parte dos discursos teóricos a partir dos
anos 1960, mas de modo específico, e com mais pertinência, os discursos
teóricos nos estudos da literatura quando estes passaram a ser elaborados
explicitamente fora do seu berço disciplinar, mas apropriados por este à
medida que as suas análises da linguagem, da mente, da história ou da cultura
ofereceram perspectivas persuasivas para solucionar problemas textuais e
culturais percebidos dentro do seu próprio espaço (1997, 3). ¨Theory in this
sense is not a set of methods for literary study but na unbounded group of
writings about everything under the sun, from the most technical problems of
academic philosophy to the changing ways in which people have talked about
and thought about the body” (1997,4).
Uma das marcas deste tipo de pensamento transformado em theory
emerge, deste modo, nas formas revisionistas da reflexão sobre tópicos
alienados do seu berço disciplinar. Em outras palavras, trata-se de um modo de
entender a atividade teórica como elaboração de molduras novas e adequadas
para um pensamento sobre discursos em geral.
A teorização equivale, nesta visão, à elaboração de um conjunto de
discursos indomáveis, ou nas palavras de Culler, à escrita de um livro de textos
não encadernáveis, que crescem sem parar em função das próprias críticas a
concepções vigentes, por causa das contribuições de novos pensadores à teoria
e por causa da redescoberta de obras antigas invisíveis ou negligenciadas em
seu tempo...ccxlvi
*
É no cinema que a pós-modernidade mais exibe as múltiplas facetas da realidade,
tempo e espaço fragmentados, em contraposição aquela visão unitária em vias de
superação... E o faz com tamanha contundência que torna claro o formidável confronto
de forças que ocorre ao interior da civilização ocidental: pluralidade ou univocidade,
eis a pós-moderna questão...
142
Viver a vida real é sempre atravessar os escuros portais do futuro a cada instante, em
que a absoluta ausência de riscos acaba por eliminar a seiva vital do humano...
ccxlvii
Em Show de Truman, mais que a clonagem do humano é a própria vida que é clonada,
vida criada artificialmente, vida virtual, em que o humano – real – passa a transitar
por uma virtualidade, temporal e espacial, como um modelo de vida perfeita...
ccxlviii
143
Sujeito que se faz objeto... Acaba por escolher correr os riscos da fragmentária e
polifônica vida humana...
Show de Truman é um golpe radical nos absolutismos, na regulação só racional da
vida, quando se mostra que qualquer vida estabelecida na perfeição dos absolutos será
sempre menos vida que a vivência fragmentária, imperfeita – no filme, representada
pelos telespectadores do show – que, afinal, tem as vidas livres para, ao menos, trocar
de canal...
Não há mesmo qualquer vantagem em se substituir a uma vida cotidiana, pessoal, a
uma vida em que o sucesso, sempre ligado a uma visão linear e unívoca das
experiências, torna impessoal, artificial, a existência... Em que o humano se faz objeto
social, em que o indivíduo perde a sua condição de sujeito das suas próprias histórias...
Essa é outra das lições da pós-modernidade, em que a marginalidade se torna a opção
natural dos que, conscientes das ilusões da Razão Unívoca, desejam viver suas
existências pluralizadas...
*
Em Matrix, embora a retórica unívoca, e uma estética de fundo que desatenta, alheia
ao fragmentarismo como uma condição (própria à pós-modernidade) da abertura dos
sistemas organizaçionais que, em essência, prega (de resto esplendidamente), pode-se
dizer que se coloca no limiar da passagem da modernidade para a pós-modernidade: de
um lado, o combate acirrado do Sistema Unívoco, Absoluto, Estatal; de outro a busca
de libertação individual e do social como um conjunto fragmentário de
individualidades...
*
A seguinte imagem da posição do homem na sociedade (ou da
sociedade enquanto conjunto de homens) é possível: tecido que vibra com
informações que pulsam. Tal tecido pode ser imaginado como sendo
composto de fios que transportam mensagens (“canais” ou mídia). Em
seguida é preciso imaginar que tais fios se cruzam de diversas maneiras, e
que informações se represam e misturam em tais pontos de cruzamento. Tais
144
nós podem ser chamados “emissores e receptores”, ou “espíritos”, ou
“intelectos”, ou com denominação que dependerá da preferência de quem
aplica tais etiquetas. Quem conseguir tal feito de imaginação (o qual é fácil
somente à primeira vista) terá elaborado modelo útil para a orientação na
crise que nos engloba...ccxlix
*
MATRIX, o filme
Para muitos Matrix é só um filme de ficção científica, nos estritos moldes dos filmes
do gênero, nada mais. Com efeito, essa é a primeira leitura que se usa fazer. Pois se
trata de uma história que mistura noções de tempo, a ação se passa entre um tempo
presente (virtual) e um tempo futuro (real); noções de espaço, espaço real e espaço
virtual; domínio, controle e utilização das máquinas pelos humanos; e domínio,
controle e utilização dos humanos pelas máquinas; transferência de humanos entre
duas realidades distintas: da realidade da vida material à realidade da vida virtual e
vice-versa; e, como se não bastasse, a possibilidade do apocalipse, a extinção da
espécie humana e da sua cultura. Nesse teor, o filme repete elementos já explorados
em toda uma série de filmes de ficção científica, elementos dentre os quais se pode
destacar os mais óbvios...
ccl
145
tradição greco-romana aos mitos orientais, e a filmografia a respeito, como não
poderia deixar de ser, é pródiga em exemplos...
146
humana dos machine-men sugere, metaforicamente, a manifestação, na estrutura
social, de um estado de coisas que, se ainda humano e natural, vai-se encaminhando
em sua mesma direção, na substituição de humano e natureza por máquina e mundo
artificial...
cclii
147
Se o estado de maquinaria em Matrix, a exemplo dos mais recentes filmes de ficção
científica, com base no progresso e na vulgarização da informática, é um estado
digital, a vida humana, sendo vivida no interior da máquina, a mente humana
transformada em chip de computador, um modo virtual de ser, isto não é, ao contrário
do que aponta a maioria dos filmes do naipe, um estado de plenitude em que todos os
desejos humanos se realizam independentemente dos valores que encerram... Ao
contrário, Matrix não vê no estado maquinário, na realidade virtual, nada mais que o
acorrentamento do humano à máquina, em que os desejos realizáveis são apenas os
que a própria máquina constrói, ou permite, à sua própria razão lógica...
ccliv
O que é mais assustador em Matrix é o que, com um mínimo de reflexão, nos obriga à
aceitação da paródia do filme com a informatização da vida humana: os humanos
digitais vivem à imagem e semelhança dos humanos materiais, numa sociedade que
em nada difere da sociedade humana atual... Com sua organização social fundada no
poder, no econômico, na redução do humano a peça de engrenagem sistêmica, na
repressão das individualidades, na mediocridade, com as fantasias digitalizadas pelas
drogas, com suas esquerdas e direitas estabelecidas em padrões incomunicáveis, com
cada qual em seus exatos, intransitivos, especializados, ortodoxos, uniformes,
maniqueístas, nossos artificiais modos de ser, de viver as respectivas metades, sem
nunca as preencher...
O humano é, e leia-se aí também o humano tal e qual a natura mão lhe desenhou, em
sua singularidade, para o Estado-Máquina, um vírus à semelhança daqueles que
interferem no perfeito funcionamento dos computadores, devendo, por isso, ser
esvaziado do seu sentido destrutivo do sistema perfeito, de uma ordem cosmológica
148
fundada na fria razão ordenadora... No caso específico de Matrix, o filme, através de
uma mimese de objetivação metafórica, forçando-o a uma vida virtual, e só não
aniquilado por completo na medida em que seu corpo material abastece, por
metabolismo energético, a própria máquina, que o pretende substituir, numa referência
explícita ao que serve a humanidade em nós, num mundo em que se vai cada vez mais
transformando humanos em números de série, senão a só energia ainda necessária a
manter ligado o machine-man...
Uma parábola friamente aterrorizante, aos mais atentos, na linhagem dos filmes que
vêem na inteligência artificial aquilo que Arthur Koestler chamou de O Fantasma da
Máquina, que só aliviada pela persistência do humano em sobreviver...
149
discurso imagético que se lhe propõe ao entendimento (e ao diálogo), desde o texto da
narrativa cinematográfica ao contexto em que essa narrativa, melhor dir-se-ia, pós-
modernamente, essas narrativas, ocorrem...
O cerne ficcional dessa bela obra cinematográfica, e que lhe dá título, a Matrix, é um
superprograma de computador produzido pelo Estado-Máquina, em que cabe toda a
humanidade, em sua intensa humana atividade... Para muitos seria só mais um
interessante filme de ficção científica, que aponta para os perigos da máquina, somente
vencida pela superioridade final do humano, através da sua superioridade mental, a
saber, a vitória da inteligência natural do humano sobre as forças da inteligência
artificial da máquina, que em nada se relacionaria com a vida real, a vida mesma, o
cotidiano e os sonhos pessoais de cada um...
Muito ao contrário do que possam supor os que arredam o imaginário, os que levam
consigo ao cinema apenas saberes e crenças já estereotipados, os que se postam
passivamente frente às telas, à espera apenas de que o filme confirme (ou obtenha
informar, objetivamente, novos) estereótipos, toda a retórica cinematográfica de
Matrix, em meio aos múltiplos instrumentos ficcionais de pontuar, de expor, mesmo de
vaticinar, fala de um cotidiano progressivamente desumanizado, não propriamente
pelos defeitos humanos, mas pelas qualificações outorgadas ao fora do humano a
resolver os problemas gerados pelos defeitos humanos...
*
A criação dos super-heróis é contemporânea do crescimento das
grandes cidades... Revelando que os maiores problemas do mundo atual são
oriundos das megalópoles... O interessante é notar que os super-heróis
possuem características similares, bem ao gosto da cultura de massas para a
qual foram criados... As revistas em quadrinhos criaram o Super-Homem e
centenas de outros, enquanto o cinema, com recursos tecnológicos cada vez
mais impressionantes, vem os difundindo... Escondidos por trás de máscaras,
eles são ora humanos disfarçados em super-heróis (Batman), ora superseres
disfarçados de humanos (Super-Homem)cclv O enorme sucesso do Super-Homem
é explicado pela identificação do público com esse herói, diante do qual “o
anônimo indivíduo massificado projeta seus anseios inconscientes e projeta sua
impotência”..cclvi
150
Mas os super-heróis, na pós-modernidade, vão se transferindo para a alma dos
indivíduos... Já não basta o processo de identificação psicológica com o seu super-
herói: na pós-modernidade o indivíduo vive seu super-herói, virtualmente, através dos
jogos eletrônicos... Não comungam com os outros as aventuras super-heróicas, mas
são eles mesmos os super-heróis, num isolamento da fantasia, numa entropia do
heróico que vem em muitos casos gerando estados obsessivos de isolamento super-
heróico...
*
A leitura de Matrix como um filme do gênero ficção científica é apenas um modo
parcial de ver, um modo limitado de ler os seus termos... Há outras necessárias
leituras... Há muitos outros modos de ler...
Entre os muitos modos de ler Matrix, um deles é colher do filme um discurso de
valorização espiritual da civilização oriental, em confronto com o discurso de
valorização material da civilização ocidental, dos quais decorreria, na primeira, uma
ênfase no ser e, na segunda, no ter...
O indivíduo humano, no ocidente, a par do alto grau de sofisticação na produção e
consumo de bens, se mostra progressivamente frágil em conseqüência da mecanização
da vida humana, em função de uma busca desenfreada de realização material,
representada pelo consumo de bens e pela conseqüente exaltação da libido... Essa
fragilidade resultaria do esvaziamento do humano em si, da sua identificação com a
máquina pela aceitação plena de uma existência por ela, ou através dela, preenchida,
em todos os seus aspectos, com as suas ilusórias virtudes, suas virtudes de máquina,
resultando no perigo sempre presente de uma sublevação que acabasse por transformar
a vontade de poder do humano em vontade de poder da máquina, reduzido o humano a
um humano virtual, preso a um sistema de tal modo racionalizado (maquinado), que o
esvaziaria completamente das qualidades que lhe garantem a condição de
humanidade...
A substituição de uma vida espiritual por uma vida só material, da plena submissão ao
poder impessoal, da busca por uma economia total de esforços, e daí ao crescimento
desequilibrado dos aspectos só materiais da vida, à submissão total do humano à
máquina, e/ou ao sistema mecanicista que em seus princípios repousa, calando no
humano material a sua essência humana, é ainda uma hipótese das mais plausíveis, de
que as utopias totalitárias do século XX iam se servindo, sem que ali esgotassem, os
tontos totalitários, as estratégias de redução do humano a mera aparência, já agora
151
muito provavelmente animados com a progressiva informatização da sociedade, o
controle social que ela possibilita, a impessoalidade do exercício de poder que dela
resulta... Tal e qual o mundo da matrix...
Matrix, também num outro sentido, a um outro modo de ler, realiza a sua crítica ao só
materialismo de um modo de viver ocidental, exatamente no que poderia ser entendido
como sua exaltação... A exaltação do armamento, os efeitos especiais que arregalam
os olhos da alma adolescente quando se coloca à disposição dos heróis uma estante
surgida repentinamente do nada, com todo tipo de armas, as cenas de combate, tudo
parece indicar uma exaltação do objeto arma...
cclviii
152
Em Matrix, a superioridade do ser sobre o ter é bem manifesta no quadro de lutas
marciais orientais que se desenrola durante toda a ação, representação explícita da
superioridade dessas artes – que têm como pedra filosofal o eu interior do guerreiro –
não apenas sobre as suas correspondentes ocidentais, mesmo ainda sobre a só aparente
superioridade das tecnologias presentes nos armamentos ocidentais...
A arte kung-fu, que tem sido comercialmente muito explorada em produções de mero
entretenimento juvenil, ganha em Matrix o seu galardão... Pois embora, e ainda pela
exuberância dos efeitos especiais, as lutas se desenvolvam ao longo de toda a extensão
do filme – o que pode levar ao modo de ver Matrix como os demais filmes do gênero,
de exibição impressionista da violência – o filme também a estes deplora na medida
em que aponta para o fato de que não é a maestria na prática da arte guerreira que
conduz à vitória, pois essa maestria só é obtida, sendo a prática mero meio para
alcançá-la, por algo que lhe é anterior, que lhe é superior: a força do espírito
humano...
Neo, o principal herói de Matrix, segue perdendo todos os combates que trava com
seus algozes até que reúne toda a força do espírito humano em si, e não apenas os
vence, e não apenas a matrix é destruída, como obtém a transcendência, justamente a
transcendência presente nas filosofias orientais de libertação...
Matrix é sim, um filme de ficção científica, mas não apenas um filme de ficção
científica; Matrix é sim, um filme de arte kung-fu, mas não só um filme de arte kung-
fu...
153
verdadeiramente a realidade humana, que Matrix se impõe não só como arte
cinematográfica de primeira grandeza, mas como o filme que abre o milênio, que
anuncia o milênio, que aponta para a vastidão de possibilidades tecnológicas já ao
alcance do poder do humano sobre o planeta...
Senão o maior, um dos maiores manifestos de vanguarda política que se tem notícia na
história da filmografia universal, Matrix é uma original metáfora pós-moderna dos
males derivados dos excessos da ordem organizacional, sistêmica, pós-positivista/pós-
racionalista, na mais pura linhagem anarquista, à Thoreau, sem que desse combate ao
Leviatã, no entanto, resulte qualquer saudosismo ou regresso ao bom selvagem
rousseauniano...
cclix
154
O humano subjugado pelo sistema mecanicista é o humano esgotado de ideologias,
num mundo em que as antes disponíveis em nada resultaram senão em mais decepção,
em mais dominação, seja pela riqueza, seja pelo poder, seja pelo processo de recusá-
las ou de obtê-las...
O humano esgotado de ideologias, sem se fazer sujeito desse esgotamento, é o humano
à mercê de uma vida digitalizada pelos dedos ágeis da lógica mecanicista, segundo a
qual organiza o seu viver, segundo a qual aceita ser controlado e limitado em suas
múltiplas possibilidades de ser humano...
O humano subjugado pelo sistema mecanicista é um humano virtual, no sentido
próprio do termo, qual seja, aquele que tem as qualidades do ser, mas não o seu
exercício...
cclx
Por tudo isso Matrix é ainda um filme político, um manifesto de vanguarda, com a
discrição própria dos tempos pós-modernos, em que as questões geradas a partir das
revoluções da década de 60 ainda calam ao fundo da alma sem respostas definitivas...
155
aparentemente os incorpora... A aceitação do mundo tal qual ele é, pois que nunca se
acredita que será tal qual ele deve, ou tal qual ele pode ser...
Atente-se, pois, que é no contexto do humano que Matrix clama pela permanência das
forças espirituais como condição da própria humanidade...
O combate à nova utopia, a utopia da máquina; pelo enfrentamento ao injusto...
A necessidade de ser, tanto quanto do existir; pela transcendência humana das
condições inumanas de uma existência de rala humanidade...
A persistência na luta histórica do humano por uma libertação das amarras materiais,
origem das nossas mazelas, mas sem descuidar da energia divina na natureza, ou a
natureza divina do humano... Na identificação persistente daquilo que sub-
repticiamente periga nos separar da natureza e, especialmente, da natureza humana...
Nossa própria Razão!
Na necessidade em manter em si, mesmo a partir dos cotidianos, os valores que, afinal,
são a própria razão de ser do progresso dos sistemas e das máquinas... Pois é óbvio
que o computador que digita o humano não é o mesmo que o humano que digita o
computador... ...Por mais que o sistema de computadores se valha da energia dos
dedos humanos, como humanos desprovidos de humanidade, em sua própria
digitação...
Todo o aparato mecânico das máquinas nada mais é que um prolongamento do corpo
material, feito para libertar o humano da ignorância, e das limitações perante a ordem
física... Servi-la, valorizá-la acima do humano, é inverter o caminho natural das coisas,
no pior sentido que o retorno do civilizado ao primevo das cavernas, agora elevada
(ela, a caverna, não ele, o humano) em caverna tecnológica, aos incomensuráveis
modos daquela outra caverna famosa...
156
Matrix, o filme, deve ser visto, deve ser lido como um filme político, em seus dotes
panfletários... Como um filme de filosófica linhagem anarquista, um filme de
contestação de um sistema organizado à só razão lógica das máquinas e matemáticas,
de alijamento dos dotes espirituais da humanidade, de cerceamento do pleno exercício
das várias potencialidades de que o humano é generosamente provido...
Matrix é também um filme sobre a sociedade humana que se aliena do conhecimento
de si e das coisas, vendo e vivendo a partir das suas sombras projetadas de uma
realidade que lhe é não só negada pela escravidão à máquina, como distorcida pelas
parcas condições de visibilidade que todo um sistema de maquinaria (e sua mídia),
logra obter sobre as consciências...
Avançando os tradicionais textos do gênero, a obra não apenas combate todos leviatãs,
mas ainda a violência sem direção espiritual, tão comum no mundo de hoje, ambos,
aparência de humano e aparência de guerreiro, duas faces da mesma moeda
leviatânica, que não só emitida pelo Estado... Ainda nesse sentido, Matrix, para muito
além dos olhos do Big Brother, do romance de George Orwell, vai ao encontro de
alguns autores muito presentes na década de 60, seja repensando Rousseau, seja
revendo Aldous Huxley, seja aceitando Hermann Hesse, sempre no exercício de
preservação de uma herança cultural que ainda não obteve seus definitivos cânones...
Matrix, o filme, propõe que nos tornemos super-humanos, supermen, que nos
libertemos e que libertemos o próximo, pois que só assim a assustadora perspectiva do
new apocalipse, a destruição da humanidade de dentro para fora, do interior para o
exterior, pelo esgotamento do humano na espécie, poderá vir a ser afastada... Amor,
amizade, lealdade, livre arbítrio, coragem, fraternidade, determinação, enfim,
157
Humanidade Plena, são os ingredientes básicos desse grave discurso de alerta quanto
aos perigos da desumanização crescente de nossa organização social, resultante do que
se anuncia, no subsistema globalização, como a Idade Tecnológica da história da
humanidade, talvez, o fim da história, ou o fim de todas as histórias, das quais
viveríamos hoje seu último e definitivo capítulo...
cclxi
São muitos os pós-modernos modos de ver e ler, modos de ver o filme Matrix, modos
de ler o filme Matrix, modos de viver o filme Matrix. Em que a pós-modernidade vai
substituindo retóricas do Absoluto por muitos modos de responder... Aos muitos
polifônicos modos de perguntar...
*
No verdadeiro cinema, meu companheiro, uma coisa não
se soma à outra para formar uma terceira. Não há todo; só
partes... cclxii
158
Beautiful Maíra
cclxvi
159
Dis-cursus é, originalmente, a ação de correr para todo lado, são idas e
vindas, “démarches”, “intrigas”. Com efeito, o enamorado não pára de correr
na sua cabeça, de empreender novas diligências e de intrigar contra si mesmo.
Seu discurso só existe através de lufadas de linguagem, que lhe vêm no
decorrer de circunstâncias ínfimas, aleatórias.
Podemos chamar essas frações de discurso de figuras. Palavra
que não deve ser entendida no sentido retórico, mas no sentido ginástico ou
coreográfico; enfim, no sentido grego: οχηµα, não é o “esquema”; é, de uma
maneira muito mais viva, o gesto do corpo captado na ação, e não
contemplado no repouso: o corpo dos atletas, dos oradores, das estátuas:
aquilo que é possível imobilizar do corpo tensionado. Assim é o enamorado
apressado por suas figuras: ele se debate num esporte meio louco, se desgasta
como o atleta; fraseia como o orador; é captado, siderado num desempenho,
como uma estátua. Afigura é o enamorado em ação...cclxvii
*
Na pós-modernidade há filmes que buscam, estrategicamente, não apenas reafirmar
uma retórica da linearidade unívoca, positivista, mas muito especialmente a
compreensão da Máquina como algo humano, para além da humanidade, máquina
humanizada, que, em última análise apenas reage humanamente ao ambiente
“desumano” a que serve, numa inversão de papéis que afinal acaba por tornar a
máquina mais humana que o humano, em dupla denúncia das matrizes organicistas...
O super vilão, por mais que disfarce, torna ao lugar comum da restrita reta razão que
habita...
cclxviii
Nas máquinas que exigem o direito de existir, independentemente de seu uso exclusivo
de ampliação dos nossos sentidos, para a qual foram construídas: a humanização da
máquina convida, por um processo psicológico de infantilização do humano, à
aceitação da lógica pós-mecanicista (e ainda pós-positivista) pela exploração de uma
160
fragilidade piegas que afinal a justifique e aceite – essa lógica do sistema mecanicista,
bem evidente... Em Blade Runnercclxix, um robô feminino (o que ainda imprime outras
significações...) é salvo pelo herói (após a eliminação do robô masculino que lhe
“ama”...); em Inteligência Artificialcclxx, um menino programado para exercer o papel de
“filho”, ganha sentimentos humanos que o fazem carente de afeto e atenção
maternais...
cclxxi
*
Na contemporaneidade muitos filmes vêm sendo concebidos numa estética
inteiramente pós-moderna, rompendo definitivamente com a narrativa linear e unívoca
tradicional: esses filmes adotam uma narrativa fragmentarista aliada a uma percepção
fragmentária das suas categorias, tais como as de tempo e espaço, essência e aparência,
o ser e nada, a fala e o silêncio, etc...
161
Vive-se aos pedaços... Novamente Gonçalves Dias: viver é lutar... Os mais fracos
tombam a cada relação com o mais forte... Deixando claro que ao interior da
sociedade brasileira existem subsistemas, de natureza tribal, que não se subordinam
senão às regras que lhes são próprias...
cclxxii
*
Há quatro filmes importantes saindo agora, sobre a mesma tragédia
social das periferias: “O invasor”, de Beto Brant, “Estação Carandiru”, de
Hector Babenco”, “Cidade de Deus”, de Fernando Meireles e Kátia Lund, e
“O Homem do ano”, de José Henrique Fonseca”.
162
Caricatura: André Mello, 16.04.02.
Em Amores Perros (Amores Brutos), outro filme na mesma esteira estética, pós-
moderna, desses inícios de século XXI, a utilização mais cautelosa da estética
fragmentarista acaba por diluir um pouco a caracterização de uma sociedade urbana
tão violenta quanto a nossa, fotografada em Cronicamente Inviável... Mas não tanto,
mercê de uma técnica em que também se entrecruzam histórias e personagens, que
rompa a tradicional narrativa linear e unívoca... Não tanto que faça da sua leitura de
um mundo cão [metáfora para pessoas interagindo como perros (Amores Perros) nessa
referência pós-moderníssima ao documentário Mondo Cane]cclxxv qualquer coisa de
menos expressivo nesse contexto de uma estética (e de uma ética) da pós-
modernidade...
163
A linguagem imagética é a linguagem discursiva do imaginário, desde a coleta de
material oriundo dos sonhos às demais narrativas do inconsciente, tendo em vista que é
sempre fragmentariamente que se expressam...
cclxxvi
cclxxviii
164
produzir um efeito estético, artístico, para além da mera exposição fática, de filmes
como Berlim, Sinfonia da Metrópolecclxxx, de Walther Ruttmann, a Baraka – um mundo
através das palavrascclxxxi, de Ron Fricke...
Baraka exibe o fato de que é no silêncio, nos espaços vazios do texto, no caso,
imagético, que a força poética da imagem se apresenta com maior energia... A poesia
se exprime, em Baraka, não propriamente porque contida, em estado bruto, na
imagem, mas porque a sua seleção e montagem, ao qual se acresce, aqui e ali, efeitos
derivados de técnicas cinematográficas, fazem com que as imagens recolhidas falem,
cantem...
*
Outro filme que, bem à maneira de Matrix, constrói a metáfora de uma desconstrução
da Univocidade, embora sem a explicitude deste, sem a sua riqueza metafórica, e
mantendo ainda, paradoxalmente, a própria unidade como salvaguardada, é Clube da
Luta: com efeito, se ao final do filme o herói vê desabarem os prédios que simbolizam
o Sistema, em nua metáfora pós-anarquista, é com a solução de uma das
personalidades que habitam seu caráter e sua mente que isso acontece, já como uma
165
censura à pluralidade típica de uma manifestação pós-moderna, em que a
personalidade fragmentada é a lei...
cclxxxii
cclxxxiii
166
O nome do protagonista já é uma brincadeira, pois harry em inglês pode
significar atormentar, afligir, e block é o verbo bloquear. Harry Block é um
indivíduo atormentado por um bloqueio. O último termo também pode
significar o substantivo bloco. Daí a idéia de que o protagonista é um ser
dividido em segmentos, apresentando os episódios da sua vida como peças de
um quebra-cabeça – que todavia não se encaixam...
O protagonista transforma episódios da sua vida em livros, que ao longo
do filme são apresentados como blocos paralelos. Essas janelas narrativas, nas
quais o real se alterna com o fictício – há momentos em que um se funde com o
outro – podem ser vistas como o meio com que o protagonista lê a própria
vida, nas suas relações com os outros, e as exterioriza através da ficção. O
escritor faz, portanto, uma leitura de si mesmo, em diversas etapas da sua vida,
partindo em uma jornada em busca de uma redenção, ou melhor, resignação.
Para uma apresentação analítica do filme, ele também será
desconstruído: as janelas narrativas serão delineadas e observadas enquanto
projeções de uma leitura pessoal. A idéia de desconstrução é aplicada em
vários níveis, tanto no modo de apresentação das seqüências quanto em
questões temáticas, como sexo, religião e psicanálise. E se em Desconstruindo
Harry a fragmentação está presente não só na forma como também no
conteúdo, uma tentativa de interpretação também deveria ser desconstrutora,
porque o filme se nos apresenta como um todo coerente e passível de ser
desmontado.
Como afirma uma personagem ao final do filme, as obras de Harry (e,
por extensão, as de Allen), quando desconstruídas, revelam uma felicidade
geral, maior, que paira sobre as pequenas melancolias...cclxxxiv
167
nitidamente fragmentaristas, como um antecipador desse processo típico da pós-
modernidade no cinema...
No cinema da pós-modernidade o fragmentarismo casual da respectiva tecnologia é
transformado em fragmentarismo necessário à respectiva arte... No primeiro estágio o
cinema tentaria suprir a fragmentariedade com técnicas lineares de narração; o cinema
pós-moderno acentua e explora artisticamente essas todas fragmentações...
Clones
cclxxxvi
168
A disseminação da violência por todos os quadrantes da sociedade (e, mais do que
parece, da cultura), em todos os níveis, sem distinção de gentes e sem fronteiras
delimitadas, é a pior das conseqüências que se seguem à fragmentação do modo de
viver unívoco desses tempos pós-modernos... Clube da Luta é a metáfora da
aceitação da violência como cotidiano, da incorporação da violência ao modo natural
de estar no mundo dito civilizado...
cclxxxvii
169
é a impressionante exibição de violência já nas fronteiras da violência surda,
silenciosa, de películas que começam a aparecer mais recentemente... Ainda a
violência plastificada de Hollywood, mas em tal quantidade – só exibida antes talvez,
e a menos tinta, em Taxi Driver, de Martin Scorsese (1976) – que realiza uma
aproximação, do leitor de cinema, com a materialidade de uma violência cotidiana que
não costumava (na só modernidade) freqüentar a mente das pessoas na abordagem
cinematográfica até então mais superficial dos fatos... Por outro lado, o tratamento do
tema transita por aquilo que se chamou de pop art, uma das principais semeeiras da
arte pós-moderna, aproximando o espectador das personagens e suas histórias,
relacionando-o diretamente com as situações, ao mesmo que chocando, emocionando-
o com as suas aventuras e desventuras, bem ao modo das antigas novelas seriadas...
cclxxxviii
170
pós-modernidade cria a vida... E a vida pós-moderna é ainda mais violenta do que as
mentes ainda adormecidas acreditam seja a violência da vida pós-moderna...
171
O pessimismo é, então, o princípio filosófico que assombra a pós-modernidade, um
pessimismo tão terrível e assustador que a única reação possível é ignorá-lo...
Sobreviver é a palavra de ordem da pós-modernidade... Sobreviver, quando “o outro”
– um desconhecido – e o “eu” – qual? – são categorias que pertencem a uma selva
humana onde coisa e carne se equivalem, onde o humano se faz insignificante, não
mais perante uma divindade onipotente, como no desespero barroco, mas perante um
“outro” qualquer, tão ou mais insignificante, que lhe pode interromper seu processo
particular de sobrevivência... Essência e existência, realidade e ficção, ação e
imaginação, e assim por diante, tudo se faz coisa, e coisa despregada umas das outras,
em que a absurdidade não é mais que outra palavra-coisa...
*
...– Só que está tudo invertido. Claro que as previsões são erradas para evitar o
pânico. Agora Kelvin sabe e quer avisar a esposa e filha a tempo. O problema não é
fugir do mundo da antimatéria...
...mas recuperar a comunicação.
(......................................................................................................................)
...– Onde parei?
– Problema de comunicação entre a matéria e a antimatéria...
– Exato. Como se estivesse num buraco negro. Muito forte, a força da
gravidade. Silêncio total...
– Horas?
– Quê?
– Que horas são?
– Oito e pouco.
– Já?
(beija a vítima no rosto...)
– Adeus, bela!
(...e joga a vítima “al mare”...)
– Por quê? O horário era às nove... Ela ainda tinha quase uma hora...
– Primeiro, estava incômodo navegar assim... (com a vítima posta, por ele
mesmo, entre os dois, junto ao leme que manejava...)...
– ...e segundo, estou com fome...
– Isso é verdade (e adernam o barco em busca de outra residência costeira)...
......................................................................................................................
– ...Quando Kelvin supera a força da gravidade acontece que um universo é real,
mas o outro é ficção.
– Como pode?
– Era uma espécie de modelo de projeção no ciberespaço.
– E cadê seu herói? Realidade, ou só na ficção?
– Mas a ficção é real, não é?
– Como assim?
– Bem, a gente vê nos filmes.
172
– Claro.
– Ela é tão real quanto a realidade que vemos.
– Besteira.
– Por quê?cclxxxix
ccxc
173
dirigira um filme de ficção, ficcionaliza o tema do filme precedente (sendo por sua vez
um documentário fictício de outro documentário fictício, então traduzido à inteira
ficção), mas de um modo a mostrar - e aí está toda a relevância do filme - a confusão
que vai se processando na mente das personagens, que passam a não mais distinguir
entre ficção e realidade. Confusão essa a que são convidados a participar os
espectadores, a escolher as cenas do que é o real vista sob dois ângulos: o da mente das
personagens (que seria, em princípio, a ficção - tanto das personagens como do próprio
filme em si, dado que os espectadores vêem exatamente o que as personagens vêem) e
as gravadas em câmeras de vigilância (que seriam, em princípio, o real - para as
personagens tanto quanto para os espectadores). Mas como tudo se passa num
ambiente ficcional - um filme de horror - a próprias câmeras de vigilância, parte
integrante desse contexto, passam a sofrer da mesma síndrome da dúvida, aquela
questão da verossimilhança inerente a toda obra de ficção. Ou seja, a qualidade do
real própria às câmeras de vigilância, utilizadas como prova em processo judicial,
menina dos olhos dos telejornais, a exibir imagens daquilo que aconteceu, daquilo que
está acontecendo, nas imagens ao vivo, diretamente do palco dos acontecimentos, essa
qualidade do real é posta em cheque. Afinal, qual o mais real? O que a mente vê? Ou o
que a máquina vê? O que o olho humano vê, ou o que o olho da máquina vê?
ccxci
174
parte), na televisão primeiro (esta apenas porque o primeiro canal de veiculação
social), em toda a mídia, em seguida, simplesmente não existe para a sociedade, e tudo
o que a ele se refere é desimportante no jogo social. Ou seja, quem não está na mídia
não está no mundo.
E são essas mesmas sombras que confundem arte e vida ficcionalizada. Que
fazem de todos artistas fictícios. Pois o humano, descomprometido com o fazer
artístico, fazendo da arte meio de existir no real-ficcional, inverte o processo inerente a
toda arte que é o de livrar-se, em seu fazer-se, das ficções ideologizadas das mídias de
todo gênero, e a tal medida que cria - e sem criação não há nenhuma arte - de átomos a
cosmos, uma abordagem da realidade para mais adiante, um conhecimento do humano
e seu ambiente natural mais profundo e mais sofisticado.
175
ponto de acreditarem-se artistas, a única chancela do que seja arte ou não desenfoca-se
do ambiente artístico para o ambiente de mídia. E o próprio ambiente artístico,
contaminado pelas necessidades da mídia, invadido pela barbárie do tudo-é-arte, acaba
por resolver-se em nada é arte. Exaltada a forma conhecida, contra a essência
desconhecida; privilegiada a copiação contra a criação; a novidade contra o novo; a
fórmula (formato) contra a forma; enfim, todo o processo de criação artística contém-
se em “chips” e “softwares”, que pouco a pouco se transferem do modo de pensar da
máquina ao modo de pensar humano pela mídia de uma cultura “formatizada” e
formatizada pluri-ideológicamente segundo suas plúrimas ficções.
176
todos buscar, no entendimento poético das realidades, material e mental, o animal
poético que o humano é, que o além-do-humano ainda será.
Mas Shopenhauer, quando anota a expressão homo homini lupus, não vê no “outro” o
lobo, mas no próprio “eu” atormentado pelo desejo, pela vontade material... Bem ao
contrário da noção anti-rousseauniana de Hobbes, para quem os Estados se criavam
com a finalidade de prover o homem de segurança contra os avanços do “outro”,
ambos naturalmente maus...
177
O pessimismo de Schopenhauer decorre da impossibilidade, como decorrência da
civilização, do humano sobrepujar o estado de materialidade que o fizesse alcançar a
plenitude...
Talvez mesmo a pós-modernidade acabe por apontar que a expressão mais adequada
aos tempos das neo-tribos seja...
179
O noticiário policial da nossa sociedade pós-moderna nos tem dado conta
de uma avalanche de crimes que eram exceção da exceção na cultura do século
XX: filhos que assassinam os pais, avós, e parentes que os criam e vice-versa. É
que na pós-modernidade o lar é o primeiro ambiente, não mais do real, mas o lar
é o primeiro ambiente do ficcional. A televisão, do noticiário às telenovelas,
passando pela publicidade, finalmente conseguiu impor-se à mente humana
como algo mais real que a realidade, porque uma realidade buscada, desejada
por todos, aceita pela sociedade como o referencial máximo do ser social. Quem
não está, por si ou seus protótipos, ou pelos bens que se agregam à
personalidade (e esses merecem todo um capítulo à parte), na televisão primeiro
(esta apenas porque o primeiro canal de veiculação social), em toda a mídia, em
seguida, simplesmente não existe para a sociedade, e tudo o que a ele se refere é
desimportante no jogo social. Ou seja, quem não está na mídia não está no
mundo.
180
São as sombras de uma vida ficcional, lançadas sobre a claridade de
uma vida natural, que escurecem os corações e mentes dos humanos, sejam os
de vontade de poder a realizar, sejam os de vontade de poder em realização.
181
ideologias multifacetadas), acaba por praticar atos de violência real como se
estivesse praticando atos de violência ficcional, um instantâneo da vida mental
materializando-se no real-ficcionalizado. No instante seguinte, porém, o real
toma as rédeas do ficcional, sem que a vida tenha making off e muito menos
arquivo de cenas deletadas...
182
*
183
*
Primeiro, eu odiei o papel de vilão. E tudo fiz para fazer o papel de herói.
E quanto mais eu fazia o papel de herói, mais eu era o vilão, e todos me
apontavam os gestos: lá vai o vilão. A certa altura, desisti de fazer o herói, quis
ser o vilão. Ainda ouço os ecos das vozes lá fora: lá vai o herói. Depois que
enjoei de ser herói ou vilão, me esqueceram: bom-dia, homem comum.
184
*
Michel Foucault vislumbrou a importância dos conflitos de interesses nas
relações pessoais, desde os núcleos mais primários da nossa existência, tentando
elaborar uma microfísica do poder. Não progrediu muito: é que as relações de
poder na base cultural, por cotidianas, costumam ser mais fortes e
intransponíveis que as de ordem macro-cultural.
185
O Diretor de Cinema é, no mundo pós-moderno que ora se inicia, o
genuíno intelectual dessa era. Acabou-se o tempo dos bacharéis e literatos, dos
romancistas e filósofos. Senhores absolutos do Espírito Ficcional, mediador das
relações psicológicas entre realidade e ficção, os diretores de cinema são os
mentores, mestres e menestréis das coisas que são. São os que traduzem Arte e
Cultura – das plásticas às falas, das engenharias às fotografias – em fatos. São os
que filtram e distribuem ideologias – e as re-elaboram – tanto no sentido da
manutenção como no da transformação dos pensamentos dominantes. Nenhum
autor de ficções, em todos os séculos passados, teve à sua disposição tamanho
aparato artístico, cultural e tecnológico nem tantas mentalidades ao seu
manuseio intelectual.
Por tudo isso, os diretores de cinema vão se tornando, oráculos e profetas,
os anunciadores e modeladores de futuros.
...A palavra trieb, do alemão: vontade, com a qual Nietzsche construiu a sua tese
do humano como vontade de poder funciona, especialmente em meio à
juventude, como similar para tesão... Em verdade, a expressão vontade de
poder foi criada com essa conotação de tesão pelo poder... Nietzsche a escolheu
ainda com essa conotação erótica...
*
...Freud, do círculo de Nietzsche, desenvolveu toda a sua teoria da sexualidade,
sua concepção de libido e da sexualidade como fator determinante do
comportamento humano, a partir de uma feliz compreensão da trieb
nietzscheana...
186
*
...Aquele que deseja mas não age, cultiva a peste...
[William Blake]
[Goethe]
*
...Só a poesia contém a chave libertadora das retrancas tanto da razão quanto da
alma enquanto emanação da carne. E dos grilhões da matéria, principalmente.
Na linguagem poética, todo o código erótico...
187
Baldado intento!
Retinha-na os braços robustos de Barbosa: em suas faces, em seus
olhos, em sua nuca os beijos dêle multiplicavam-se: êsses beijos ardentes,
famintos, queimavam-lhe a epiderme, punham-lhe lava candente no sangue,
flagelavam-lhe os nervos, torturavam-lhe a carne.
Cada vez mais fora de si, mais atrevido, êle desceu à garganta, chegou
aos seios túmidos, duros, arfantes. Osculou-os, beijou-os, a princípio
respeitoso, amedrontado, como quem comete um sacrilégio; depois insolente,
lascivo, brutal como um sátiro. Crescendo em exaltação, chupou-os,
mordicou-lhe os bicos arreitados.
- Deixe-me! Deixe-me! Assim não quero! Implorava, resistia Lenita,
com voz quebrada, ofegando, esforçando-se por escapar, e prêsa, todavia, de
uma necessidade invencível de se dar, de se abandonar.
De repente fraquearam-lhe as pernas, os braços descaíram-lhe ao
longo do corpo, a cabeça pendeu-lhe, e ela deixou de resistir, entregou-se
frouxa, mole, passiva. Barbosa ergueu-a nos braços possantes, pô-la na
cama, deitou-se junto dela, apertou-a, cobriu-lhe os seios macios com o
peito vasto, colou-lhe os lábios nos lábios.
Ela deixava-o fazer, inconsciente, quase em delíquio, mal respondendo
aos beijos frementes que a devoravam.
E corria o tempo.
Barbosa não podia prestar fé ao que se estava dando.
Descrente de mulheres, divorciado da sua, gasto, misantropo, êle
abandonara o mundo, retirara-se com seus livros, com seus instrumentos
científicos, para um recanto selvagem, para uma fazenda do sertão.
Abandonara a sociedade, mudara de hábitos, só conservara, como relíquias
do passado, o asseio, o culto do corpo, o apuro despretensioso do vestir.
Levava a vida a estudar, a meditar: ia chegando ao quietismo, à paz de
espírito de que fala Plauto, e que só se encontra no convívio sincero, sempre
o mesmo, dos livros, no convívio dos ausentes e dos mortos. E eis que a
fatalidade das cousas lhe atira no meio do caminho u’a mulher virgem,
môça, bela, inteligente, ilustrada, nobre, rica. E essa mulher apaixona-se por
êle, força-o também a amá-la, cativa-o, aniquila-o. Faz mais: contra a
expectativa, tornando realidade o improvável, o absurdo, vem ao seu quarto,
interrompe-lhe o sono, entrega-se-lhe... Êle a tem entre os seus braços,
lânguida, mole, reída de desejos; aperta-a, beija-a..
E...nada mais pode fazer!
Não que o detenham preconceitos, receio de conseqüências; não tem
preconceitos, já não receia conseqüências.
O que o detém é um esgotamento nervoso de momento, uma
impossibilidade física inesperada.
Debalde procura na concentração da vontade o tom da fibra nervosa, o
robustecimento do organismo...
Sente o ridículo da posição, desespera, tem as mãos frias, banha-se
em suor, chega a chorar. Afastou-se de Lenita, dementado, louco,
escalavrando o peito com as unhas.
- Não posso! não posso! exclamou, ululou desatinado.
Deu-se uma inversão de papéis: em vista dessa frieza súbita, dêsse
esmorecimento de carícias, cuja causa não podia compreender, nem sequer suspeitar;
188
no furor do erotismo que a desnaturava, que a convertia em bacante impúdica, em
fêmea corrida, Lenita agarrou-se a Barbosa, cingiu-o, enlaçou-o com os braços, com as
pernas, como um polvo que aferra a preia; com a bôca aberta, arquejante, úmida,
deixara de o ser...
[Júlio Ribeiro]
*
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
189
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
[Luis de Camões]
*
...Na Grécia Antiga, o prazer, o desejo, eram atributos naturais do indivíduo,
para cujo gôzo deviam todos adestrarem-se, educarem-se, como parte da paidéia
(a educação do homem grego)...
*
...para chegar ao fundo do êxtase em cujo gozo nos
perdemos devemos sempre identificar seu limite imediato: o
horror. Não só a dor dos outros ou a minha própria dor, se
aproximando do momento em que o horror me inundará, podem
permitir-me alcançar um estado de felicidade beirando o delírio,
como também não existe nenhuma forma de repugnância em que
eu não consiga discernir uma afinidade com o desejo. Isso não
significa que o horror se confunda sempre com a atração, mas, se
não consegue inibi-lo, destruí-lo, o horror fortalece o desejo. O
perigo paralisa, mas, se não for excessivamente forte, pode excitar
o desejo. Só alcançamos o êxtase na perspectiva – mesmo que
longínqua – da morte, daquilo que nos destrói...
[georges bataille]
*
*
...Tudo que foi um desejo torna-se um fato – mas quando não
mais o desejamos. [Proust]...
191
*
...é imoral pretender que uma coisa desejada se realize
magicamente, simplesmente porque a desejamos. Só é moral o
desejo acompanhado da severa vontade de prover os meios de sua
execução. [Ortega y Gasset]
*
...Todas as coisas que mais desejo,
que mais se agitam dentro de mim,
todas as coisas que eu mais desejo
são tão esquivas que quando as vejo
estão no fim.
*
...Il commence bien à mourir qui abandonne son désir [1611)
*
...Não deixes de colher os frutos
Que a vida te oferece. Corre
A todos os festins e escolhe
As copas que forem maiores.
192
[Omar Khayyam]
*
...Todo aprendizado parte do desejo, do interesse específico de cada um...
...É a partir do interesse lúdico numa certa atividade que se pode
desenvolver todo aprendizado, toda educação. O atual sistema educacional parte
do aprendizado do rebanho, como um todo, sem se importar com a evolução dos
desejos e interesses dos educandos...
...De uma prancha de surf, dos interesses de um surfista, de sua
atividade lúdica em surfar, se pode desenvolver um aprendizado tão largo que se
pode alcançar o conhecimento de anatomia e medicina, por exemplo, a partir de
um interesse progressivo no funcionamento do corpo que surfa...
*
Quando a sociedade humana puder organizar-se, na pluralidade que a
pós-modernidade promete, a partir dos sons (dons) de cada um dos seus
indivíduos, seus respectivos ritmos e melodias, promovendo apenas que fluam
em harmonia, aí sim, a Terra será Música das Esferas...
*
...O desejo é a mola da razão...
*
...O tipo e o grau da sexualidade de um homem atingem os cumes
mais altos do seu espírito...
193
...O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal...
...A satisfação nos protege até mesmo de resfriados. Uma mulher
que se sabe bem vestida se resfria alguma vez?...
...Eu não creio em um Deus que não dança...
[Nietzsche]
*
...o entendimento humano muito deve às paixões... é pela sua
atividade que nossa razão se aperfeiçoa; só procuramos conhecer
porque desejamos usufruir... e é impossível conceber porque
aquele que não tem desejos ou temores dar-se-ia ao trabalho de
raciocinar...[Rousseau]
*
O mistério da sexualidade é um grão de poeira cósmica perante o
mistério do Amor. Assim está inscrito nO Sorriso de Eros...
194
*
...E, no entanto, o pós-modernismo gera a possibilidade de um encontro plural de
culturas, de modo que seja o planeta integrado na pluralidade de raças, credos, éticas,
estéticas, economias, e assim por diante... Que por sua vez gera uma globalização pós-
moderna, e não essa, ainda só moderna, que anda pelos congressos, tanto à esquerda
quanto à direita... Causando todo tipo de desintegração, justamente porque é ainda
difícil livrar-se a cultura dessas perspectivas unitárias, maniqueístas, ideologizadas,
enquanto o mundo real, já fragmentado, em que nos reconhecemos, nos flagrando ao
mesmo tempo enquanto pessoas pluralizadas, em situações de variedade muitas vezes
de natureza (vistas "unitariamente"), contraditórias, mesmo paradoxais...
ccxciii
Capa: Marta Strauch c/ ilustração de Gustave Doré, 1997
O dito popular de que o diabo mora nos detalhesccxciv, repete uma noção ancestral
ligada à organização do poder, que identifica a fragmentação com O Mal... O mundo
da natureza, plural e isento de ética, é, nesse conceito, O Mal... Por isso, a teoria
unitária do mundo ainda caminha por aí, desde quando se impunha a necessidade de
uma ação "celestial", O Um, O Bem, na cultura, a fim de que o estado de natureza
fosse superado...
195
As relações entre o pluralismo fragmentário e o Absoluto se resolvem mais ou menos
como a parábola dos Evangelhos: trata-se de dar a césar o que é de césar, e a Deus o
que é de Deus...
*
Anda ocorrendo um combate terrível, feroz entre uma Nova Ordem Cultural e
especialmente Econômica (fragmentária, pós-moderna, desideologizada, plural, de
natureza grega) e uma Velha Ordem (ideologizada, unitária, ainda "moderna",
hierarquizada, de natureza romana)...
196
tidos como verdades estabelecidas, de rápido e inevitável desaparecimento... De nossas
soluções teóricas todas estarem sendo superadas na medida mesmo da sua produção...
Na pós-modernidade não se trata mais de substituir ideologias por outras, mas de criar
esteticamente com as estéticas todas que aí estão, postas ao longo de todas as
histórias... Garantindo-nos a sobrevivência de todas, inclusive as de natureza
"unitária", autoritária, esvaziando-se dela, por simples contraposições fragmentaristas,
o seu autoritarismo ainda presunçoso e pretensioso...
ccxcvii
197
E se, ainda com Vico, a arte poética trabalha com sentimentos e paixões, distante
das reflexões, raciocínios e pensamentos construídos logicamenteccxcviii, impedidos
paulatinamente, pela soberba da máquina, de pensar, só nos resta a nós humanos que
não deserdamos da humanidade, dois caminhos: aceitar sem medo os muitos modos da
pós-modernidade, lendo e montando esses legos, na articulação lógica do que se tem a
articular...
...e ampliar o mais que possamos os espaços poéticos oferecidos pela livre imaginação.
Pois a Poesia sempre será a condição primeira de toda humanidade, fonte primeira de
toda a nossa liberdade.
198
ccc
199
Uma pena que os poetas hajam usado o símbolo
e a metáfora
e ninguém aprendesse nada com eles
por seu falar em figuras. cccii
[In] Conclusão:
Como os leitores hão de ter reparado, inúmeros textos e imagens haviam de ter
presença obrigatória no contexto dessa Dissertação; no entanto, dados os prazos
acadêmicos, será sempre impossível proceder a um completo diálogo, necessariamente
tão honesto quanto sereno e profícuo, com todos os textos que tanta afinidade
encerram com as perspectivas teóricas aqui colocadas...
A par de uma necessária articulação estética, pesou também, na decisão de deixar para
outra oportunidade um sem número desses diálogos, coletados em pesquisas e
reflexões ao longo do curso de Mestrado, o fato de ainda não estarem, alguns deles,
inteiramente amadurecidos para o autor destes Fragmentos – talvez apareçam em meio
aos esboços teóricos de uma futura tese de doutoramento, talvez em fascículos
específicos – bem como o fato de que as propostas dessa Dissertação, de natureza
estético-literária, não pretendem esgotar a coleta de elementos para uma poética da
pós-modernidade – aliás, por si só inesgotável – pois, sobretudo, tinham por escopo
maior a apresentação de uma estética textual compatível com o material coletado,
adequada ao fenômeno da pós-modernidade. Ou seja: para um fenômeno polifônico
uma estética da polifonia – isso foi o que mais se pretendeu apresentar...
De outro lado, como já ficou claro, com o apoio de Aira, a dissertação alinha-se com a
perspectiva de que o texto, ainda mais quando contextual, é texto em construção...
200
A identidade dessas contextualizações com a interdisciplinaridade dá-lhe o caráter
teórico do que vem se chamando Teoria (Theory) – que para a Dissertação é nada mais
nada menos que Teoria Literária como, e para dizer o mínimo, articuladora das demais
ciências humanas – Disciplina Sem Disciplina, nos moldes estabelecidos em texto de
Culler, apresentado pela Professora Heidrun Krieger Olinto... E, tal qual ali em boa
hora apresentado, necessariamente endless...
201
…to be continued
secula seculorem…
Eis a Poiética!
202
NOTAS:
203
i
Friedrich Nietzsche, 1872/2000: Cinco prefácios para cinco livros não escritos, em livre (pouca) adaptação.
ii
Essa previsão científica vai ao encontro da ficção, tanto nos disquetes de aprendizagem de Matrix, o filme, quanto no
super-homem de Nietzsche: Implantes neurais oferecerão aumento de memória e pacotes de informações completos,
como um idioma inteiro ou o conteúdo deste livro apreendido em minutos. Tais seres humanos se parecerão pouco
conosco.[Stephen Hawking, O Universo Numa Casca de Noz, 2001: 167.].
iii
Personagem Darth Vader, de Guerra nas Estrelas, filme de George Lucas, 1977. Interessante notar que essa
personagem, comandante de robôs, representa o Império, traduzindo o aspecto escuro da força unívoca, sistêica e
organizadora dos totalitarismos mecanicistas.
iv
Karl Marx/Friedrich Engels, Manifesto Comunista,1848/1977:24.
v
Herbert Marcuse, O Fim da Utopia, 1969: 13.
vi
Da canção World Without Love, de Johm Lennon&Paul MacCartney (v. Signografia), interpretada originalmente por
Peter & Gordon, nos anos 60 com grande sucesso.
vii
V. Popper, K.R., Conjecturas e Refutações (O Progresso do Conhecimento Científico), 1963/ 1972: 394.
viii
Karl Raimund Popper, A Sociedade Aberta E Seus Inimigos. 1945/1974: 279.
ix
Karl Raimund Popper, A Miséria do Historicismo, 1957/1980: 35/43.
x
Nikolai Lápine, O Jovem Marx, 1983: 49.
xi
Vladimir Ilitch Ulianov, dito Lênin, O Estado e A Revolução, 1918/1979: 291.
xii
Eric A. Havelock, A Revolução da Escrita na Grécia, 1982/1996: 16/17.
xiii
Paulo Bauler (lírica)&Reinaldo Vargas (música), 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
xiv
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997: 23/4.
xv
Friedrich Nietzsche, Ecce-homo, 1888/1ªed.1908/1979:121.
xvi
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997: 25.
xvii
Roberto Machado, Zaratrusta, tragédia nietzschiana, 1997:25/6.
xviii
Ver as óperas-rock: Godspell, filme de David Greene (direção) com roteiro dele com John-Michael Tebelak, música
e letras de Stephen Schwartz, 1973; Jesus Cristo Superstar, filme com direção Norman Jewison e Robert Stigwood,
com roteiro de Melvyn Bragg e Norman Jewison, a partir do livro homônimo de Tim Rice, com música de Andrew
Lloyd Webber e lírica de Tim Rice, 1973; e Hair, filme de Milos Forman (direção), com roteiro de Michael Weller,
numa adaptação da peça homônima de Gerome Ragni e James Rado, com música de Galt MacDermont, 1979.
xix
O homem por primeiro constrói o ficcional que se faz sua realidade primeira; só depois é que constrói o real, que se
faz sua ficção última: Como os primeiros motivos que fizeram o homem falar foram paixões, suas primeiras expressões
foram tropos. A primeira a nascer foi a linguagem figurada e o sentido próprio foi encontrado por último. Só se
chamaram as cousas pelos seus verdadeiros nomes quando foram vistas sob sua forma verdadeira. A princípio só se
falou pela poesia, só muito tempo depois é que se tratou de raciocinar. [Jean-Jacques Rousseau, Ensaio sobre a
origem das línguas, 1781/1962: 434. (grifei)
xx
Érico Braga Barbosa Lima, Em Busca do Abstrato (Bachelard), 15.08.97.
xxi
Clifford Geertz, A Interpretação das Culturas, 1989: 25.
xxii
Fernando Pessoa, O Guardador de Rebanhos, 1912 /1977: 204.
xxiii
Friedrich von Hardenberg, dito Novalis, Fragmentos de Novalis,1992:69
xxiv
Paulo Leminski, Metamorfose, uma viagem pelo imaginário grego, 1998:59.
xxv
Katia Muricy, Os Olhos do Poder, in O Olhar, 1988/2000: 482/5.
xxvi
James Clifford, A Experiência Etnográfica – Antropologia e Literatura no século XX, 1998:166.
xxvii
Cena de Superman, o filme,de Richard Donner (direção) & Mario Puzo (argumento e roteiro) e David Newman,
Leslie Newman e Robert Benton (roteiro), 1978.
xxviii
Friedrich Nietzsche, Ecce-homo, 1888/1ªed.1908/1979:76.
xxix
Friedrich Schlegel, Conversa Sobre A Poesia e Outros Fragmentos, 1800 /1994:91.
xxx
Sem indicação de capista
xxxi
O que levou alguns a acreditar numa linguagem só imagética como capaz de superar a Babel: Multiplicidade das
línguas, unicidade da linguagem cinematográfica – O fato da língua é múltiplo por definição: existe um grande número
de línguas diferentes. Se os filmes podem variar consideravelmente de um país para outro, em função das diferenças
socioculturais de representação, não existe, todavia, linguagem cinematográfica própria a uma comunidade cultural. É
o motivo pelo qual o tema de “esperanto visual” se desenvolveu, principalmente na época do cinema mudo... [ Michel
Marie, Cinema e Linguagem, in A Estética do Filme, Jacques Aumont e outros, 1995: 177.]. Mas, é claro, assim como o
cinema mudo precisou da palavra, tal esperanto não seria uma linguagem de surdos...
xxxii
Tal como nesse diálogo do filme Mulholland Falls (O preço da traição), de Lee Tamahori (direção), Pete Dexter
(roteiro e história) e Floyd Mutrux (história), de 1996:
- Sabia que o átomo é , acima de tudo, espaço vazio?
- Nunca pensei nisso.
- ...Quase totalmente vazio, com minúsculos fragmentos de matéria. ...Já que o Universo é feito de átomos, tudo o
que vemos e tocamos, o chão sob os nossos pés... é feito quase totalmente de espaço vazio. Só não afundamos nele
porque as partículas de matéria giram a tal velocidade...que dão a impressão de solidez. Na verdade, o chão está
girando...bem embaixo dos nossos pés. Está sentindo?
- Então não passamos de espaço vazio.
- Exato! E essas minúsculas partículas de matéria...tão pequenas que ninguém jamais as viu...jamais...contêm
energia bastante...para destruir esta casa, uma cidade inteira...todos os habitantes da Terra... (Fiel reprodução
das legendas cuja autoria, aliás, não costuma ser creditada pelas empresas responsáveis. O que vem a ser
inexcusável, especialmente se levarmos em consideração a generosidade com que os filmes creditam todos os que
concorreram para a realização da obra de arte cinematográfica).
xxxiii
Marilena Chauí, Introdução À História da Filosofia 1 – Dos Pré-Socráticos A Aristóteles, 2002: 121.
xxxiv
V. Jacques Monod, O acaso e a necessidade, 1976.
xxxv
Gilberto Mendonça Teles, 1978, 38.
xxxvi
Ver Henry Bergson, La Evolución Creadora [1907], apud Teofilo Urdanoz, OP, Historia de la Filosofia, 1978.
xxxvii
Para o aprofundamento dessa identidade entre pensamento poético e imaginação ver João Ricardo Moderno,
Estética da Contradição, 1997, págs. 132 e segs.
xxxviii
Salman Rushdie, Os Versos Satânicos, 1998: contra-capa.
xxxix
Sem indicação de capista.
xl
Ver a inscrição grega do seu nome na capa. O alfabeto grego arcaico não possuia o “c”, com duplo som; tinha o “k”
(kapa) e o “s” (sigma). A “tradução” muito provavelmente vem da mesma fonte Imperial que se faz em Portugal; o que
faz pensar que o português talvez seja a mais romana das línguas... Língua e Império da Univocidade... Daí porque o
brasileiro vem, com seus muitos modos de soar os múltiplos sons da nossa terra tropical, “helenizando” (Diz-se assim
dada a intensa musicalidade do grego antigo, em comparação às línguas românicas) a língua portuguesa em direção a
uma futura alforria gramatical.
xli
Os estudiosos vêm retomando a questão da distinção entre a ciência e a ideologia, ultrapassado o mito da neutralidade
científica, aceito o fato ficcional inerente a ambas, a partir do conceito de cultura obtido através de uma antropologia
cultural: quaisquer que sejam os rumos que tomem os acontecimentos, as forças determinantes não serão inteiramente
sociológicas ou psicológicas, mas parcialmente culturais – isto é, conceptuais. Forjar um arcabouço teórico adequado
para a análise de tais processos tridimensionais é a tarefa do estudo científico da ideologia – uma tarefa que foi
apenas iniciada. (grifei). Propõe-se, então, uma noção de “estratégia” para lidar com as sobreposições que ocorrem
entre uma e outra: As obras críticas e imaginativas são respostas a questões apresentadas pela situação nas quais elas
surgem. Não são apenas respostas, mas respostas “estratégicas”, “estilizadas”. Existe uma diferença no estilo ou na
estratégia, se alguém responde “sim” num tom que significa “Graças a Deus” ou num tom que implica um “Coitado
de mim!”. Assim, eu proporia uma distinção inicial entre “estratégias” e “situações”, através da qual nós
pensássemos sobre...qualquer obra crítica ou imaginativa...como a adoção de várias estratégias para englobar
situações...(Kenneth Burke, The Philosophy of Literary Form)(nota no original).
Ou seja, identificando “estratégia” com “estilo”, a antropologia cultural torna ao seu berço literário, como ramo puro e
simples da Teoria Literária, o que parece ser inexorável a partir da noção de “ficto” como razão primeira de todo fato
cultural. A noção de ficção, o conceito de estilo, categorias próprias à teoria literária, faz retornar antigas fronteiras aos
domínios da Literatura, tal qual no período pré-socrático... Como tanto a ciência quanto a ideologia são “obras”
críticas e imaginativas (isto é, estruturas simbólicas), parece mais fácil alcançar uma formulação objetiva tanto das
diferenças marcantes entre elas como da natureza da sua relação de uma para com a outra partindo de um tal conceito
de estratégias estilísticas do que de uma preocupação nervosa com a posição comparativa epistemológica ou
axiológica das duas formas de pensamento.( Clifford Geertz, A Inbterpretação das culturas, 1989: 202). Restrição faço
apenas à assertiva que busca “uma formulação objetiva” que a meu ver sempre resultarão infrutíferas como, de resto,
em todo fato literário – sempre de natureza subjetiva, ou de dupla (senão mais) nacionalidade...
xlii
Sem indicação de arte de capista.
xliii
Mikhail Bakhtin, Problemas da Poética de Dostoievski, 1929/1997: 113.
xliv
Bakhtin: 163
xlv
Bakhtin: 165.
xlvi
Laddaga, 2001.1.
xlvii
Nesse sentido, o pós-modernismo é também um pós-carnavalismo: revistas dependuradas em jornaleiros expõem
nudez de corpos e relações sexuais; sexualidade carnavalizada, preferências sexuais de famosos ou quase-famosos,
expostas como se anunciassem receitas culinárias; moralismo às avessas, a moral da carnavalização, em que uma
recentíssima obra de arte cinematográfica, sobre a vida de um matemático destacado com o Prêmio Nobel, teve sua
indicação ao Oscar 2002 contestada pela imprensa em geral porque não teria mencionado um traço eventual da sua
sexualidade [do filme Mente Brilhante]; sátira menipéia, carnavalização macunaímica em expressões de uso corrente
como me engana que eu gosto, lei de Gerson, etc; carnavalização macunaímica em que, e de todos os quadrantes,
macunaímas, de um povo macunaímico, nem sempre pacíficos, reclamam sua parte nesse carnavalizado latifúndio pós-
moderno. Alegoria típica de tempos pós-modernos, o clown tem sido adotado pelo povo para protestar contra o
descumprimento das promessas político-administrativas dos eleitos (o conhecido nariz redondo e vermelho dos
palhaços de circo sobreposto aos narizes dos manifestantes). Um povo clown que pouco ou nenhum valor dá às
descobertas e invenções, arte e ciência, realizadas por sua gente, logo apropriadas pelas cortes do primeiro mundo.
Clowns macunaínicos e suas troupes, esta parece ser a auto-imagem dos povos do terceiro mundo, inclusive o nosso.
Em que o lazer se desloca entre a infantilização dos adultos e a carnavalização da infância, mesmo quando se trata de
futebol, do próprio carnaval, tudo circo, dos reality shows aos circos das fórmulas um. Mesmo o terrível vilão, de
George Orwell, o Big Brother, carnavalizado em voyeurismo despudoradamente coletivizado. Mas, é claro, esses são
apenas alguns modos de ver da verve macunaínica brasileira, e há toda uma pletora de elementos positivos da nossa
carnavalização que acentuam os oximoros da cultura brasileira. Ver Roberto DaMatta, Carnavais, Malandros e Heróis:
Para Uma Sociologia do Dilema Brasileiro, 1997. Para uma interpretação do conceito em Bakhitin, Robert Stam,
Bakhtin – Da teoria literária à cultura de massa, 1992:89.
xlviii
O Carnaval de Bandeira é de 1924; o livro de Bakhtin é de 1929.
xlix
Gilberto Mendonça Teles, 26.03.02.
l
Mário de Andrade, Paulicéia Desvairada, 1921/1987: 59.
li
Sem indicação de capista.
lii
Manuel Bandeira, Carnaval, 1924/1993: 156.
liii
Demócrito, de Abdera, 370 a.C. in Gerd Bornheim (org.), Os Filófosofos Pré-Socráticos, s/d: 112.
liv
idem:114
lv
idem:113
lvi
Paul Valéry, in Hugo Friedrich, Estrutura da Lírica Moderna, 1978:184.
lvii
Paulo Bauler (lírica e música)&Ricardo Barroso (música), 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
lviii
Luis Carlos Fridman, Vertigens Pós-Modernas, 2000: 14.
lix
Tobias Barreto, 1925
lx
Reinaldo Laddaga, Introducción A Un Lenguage Invertebrado, 2000: 158
lxi
idem: 160.
lxii
A crise da univocidade no pós-modernismo não é apenas fruto dos novos modos políticos, com o fim das utopias, a
compreensão das ideologias, etc.: Da segunda lei da termodinâmica à teoria da catástrofe, de René Thom; do
simbolismo químico às lógicas não-denotativas; da teoria dos quanta à física pós-quântica; do uso do paradigma
cibernético-informático no estudo do código genético ao ressurgimento da cosmologia de observação; da crise
Weltanschuung newtoniana à recuperação da noção de “acontecimento”, “acaso” na física, na biologia, na história, o
que temos é a crise de uma noção central nos dispositivos de legitimação e no imaginário modernos: a noção de
ordem. E com ela assistimos à rediscussão da noção de “desordem”, o que por sua vez torna impossível submeter
todos os discursos (ou jogos de linguagens) à autoridade de um meta-discurso que se pretende a síntese do
significante, do significado e da própria significação, isto é, universal e consistente. [Jean-François Lyotard, A
Condição Pós-Moderna, 1979/2000: X/XI.
lxiii
Braga, J.L. et alli. (1995). A encenação dos sentidos: Mídia, cultura e política. Rio de Janeiro: Diadorim./ Ong, W.J.
(1987). Oralidad y escritura: Tecnologias de la palabra. México: Fondo de Cultura Económica. [Referências
bibliográficas da autora]
lxiv
Eliana Yunes (Puc-Rio), Leitura, A Complexidade do Simples: Do Mundo à Letra e de Volta ao Mundo, 2000:76.
lxv
Gilberto Mendonça Teles, A Escrituração da Escrita, 1996: 186
lxvi
Vítor de Azevedo, Estudo Crítico in História, de Heródoto, 2001:41.
lxvii
Prefiro o termo, numa perspectiva só literária, privilegiando aspectos estéticos, dado que são perceptíveis, tanto no
método socrático quanto no texto de Platão, mais pré-socratismo do que sonha a vã filosofia dos filósofos...
lxviii
Bakhtin:109
lxix
Werner Jaeger, Paidéia, 1979:466
lxx
Edgar Wind, por exemplo, procura demonstrar que a sujeição das artes, especialmente da poesia, às razões do Estado
em As Leis e A República, não devem ser entendidas com as perspectivas do mundo moderno, pois visavam a educação
dos gregos. Seria apenas uma “advertência de Platão”... Mas é claro que, estando o mundo moderno muito mais
próximo do mundo Romano, que ainda mais radical que o Grego nessas questões, não há como defender Platão de
sujeitar a Poesia ao Estado, confrontando, no sentido de substitui-la, a Paidéia grega... (Wind, A Eloqüência dos
símbolos, 1983/1997)
lxxi
Bakhtin: 109 (grifei em negrito).
lxxii
Bakhtin:109/10 (grifo do original.
lxxiii
Há que se admitir que esse livro, traduzido e retraduzido, é propriamente intraduzível. As máximas curtas que o
compõem destinavam-se, aparentemente, a servir de tema para meditação. Seria inútil procurar atribuir-lhes um
sentido único, ou até um sentido relativamente definido. Essas fórmulas tinham valor pelas múltiplas sugestões que se
podiam encontrar nelas. Tinham uma ou várias significações esotéricas – atualmente indiscerníveis... [Marcel Granet,
O Pensamento Chinês, 1934/1997: 304.].
lxxiv
Expressão de Manuel Bandeira referindo-se ao fazer poético, exaltado por Gilberto Mendonça Teles em estudo
crítico para Manuel Bandeira: Libertinagem – Estrela da Manhã, 1998:132. Também publicado em Teles, A
Escrituração da Escrita, 1996:248.
lxxv
Friedrich Nietzsche, in Duda Machado, Friedrich Nietzsche – Breviário de Citações ou para conhecer Nietzsche,
2001:9.
lxxvi
Nietzsche (no prólogo à Genealogia da Moral), e Schlegel (em seus Fragmentos Críticos): in Maria Cristina
Franco Ferraz, ”Das Três Metamorfoses”: Ensaio de Ruminação, 2000: 43.
lxxvii
Bakhtin:110 (grifo do original).
lxxviii
[grifei]
lxxix
Bakhtin: 110 (grifei)
lxxx
Bakhtin: 167 (grifo original)
lxxxi
Safranski, Heidegger – um mestre da Alemanha entre o bem e o mal, 2000: 44
lxxxii
Teles,1996: 191, 192, 240.
lxxxiii
idem, 240.
lxxxiv
É curiosa a posição de Affonso Romano de Sant’Anna a respeito da desconstrução; usando o exemplo de
Duchamp, sugere que, reação modernista ao pós-modernismo, se desconstrua a desconstrução:
A chamada pós-modernidade falou muito em “desconstrutivismo" e tachou Duchamp de “desconstrutivista”.
Então, usando o mesmo veneno como remédio (similia similibus curantur) lhes digo: é necessário desconstruir
Duchamp. Affonso Romano de Santa’Anna, O xeque-mate de Duchamp, 2002. Ora, Affonso, não seria melhor aceitar a
pós-modernidade e ocuparmo-nos todos, mais até do que com a reconstrução, mas com as muitas reconstruções? Que,
aliás, na maioria dos casos seriam construções? Não seria mais interessante, e mesmo mais rico, para nós brasileiros, a
aceitação dos muitos modos? Especialmente se considerarmos que a univocidade brasileira, como num funil invertido,
pinga gotas no oceano e esse oceano arrisca esguichar? Não seria melhor tirar o funil? E permitir que os mares se
juntem aos céus nos horizontes do amanhecer?
lxxxv
Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, Ideologia, 1987.(adaptei formato p/ o texto). Esse rock típico dos anos
80 mostra bem o vazio ideológico típico da pós-modernidade.
lxxxvi
Do filme Strange Days (Estranhos Prazeres), Kathryn Bigelow (Direção) e James Cameron&Jay Cocks (Roteiro),
1995.
lxxxvii
Costume antiqüíssimo, a tatuagem, que vinha resistindo ao tempo como uma marca de marinheiros, sugere várias
ordens de idéia: a de liberdade das regras da urbis; a expressão de verve aventuresca (força e coragem) de quem se
lança aos mares da vida; e, mais diretamente, a dupla manifestação de propriedade corporal e de expressão pessoal.
Ganha, na pós-modernidade, uma multidão de adeptos como uma necessidade, face à despersonalização,
desindividualização promovida pela massificação da sociedade pós-industrial, levando os indivíduos a usarem seu
corpo como espaço.
lxxxviii
Pois o pós-modernismo ganha terreno nos Estados Unidos e suas manifestações são, equivocadamente,
consideradas estratégias de colonização – pós-colonização?
lxxxix
Basta compulsar os principais dicionários de filosofia publicados entre nós: André Lalande, Vocabulário Técnico e
Crítico da Filosofia, 1990/99; José Ferrater Mora, Dicionário de Filosofia, 1994/2001 e Nicola Abbagnano, Dicionário
de Filosofia, 1971/2000.
xc
Sobre essas concepções ver: David Harvey, Condição Pós-Moderna, 2000: 324/6; Terry Eagleton, As ilusões do pós-
modernismo,1998: 127/8;
xci
Harvey: 19
xcii
Reinaldo Laddaga, 2001.2
xciii
David Harvey: 45.
xciv
David Harvey: 326
xcv
Ver, como exemplo, Signografia; o que foi possível adquirir nas boas livrarias, no período de preparação do Curso de
Mestrado.
xcvi
Eliana Yunes, 26.03.2002.
xcvii
Marília Rothier Cardoso, 26.03.02.
xcviii
Walt Whitman, 1855/1985, em livre tradução.
xcix
Werner Jaeger, 1936.
c
Nietzsche, in Duda Machado, 2001: 128.
ci
Nietzsche, in Duda Machado: 130
cii
Gilberto Mendonça Teles, 1989.
ciii
Rob Wittig, 2001.2.
civ
Wittig, 2001.2.
cv
Rob Wittig, 2001.2.
cvi
Aira, 1998.
cvii
Filme da Warner Bros, de 1994, dirigido por Barry Levinson, baseado na obra de Michael Crichton. Neste filme a
personagem de Michael Douglas percorre ambientes virtuais tal qual estivesse em ambientes reais.
cviii
Gilberto Mendonça Teles, 1989: 17/20
cix
Márcia Lisboa Costa de Oliveira, A Leitura E As Miragens do Virtual, 1999: 42.
cx
Oliveira: 44.
cxi
Luís de Camões, 1595.
cxii
Nietzsche, 1908/1979:80/1.
cxiii
John Cage, apud Boudewijn Buckinx, O Pequeno Pomo, 1998: 136.
cxiv
Alberto Manguel, Lendo Imagens, 2001: 21.
cxv
Manguel, 2001: 22.
cxvi
William Blake, in Blake &Lawrence, 2001: 33
cxvii
In Manguel:22.
cxviii
William Blake, 2001: 63.
cxix
Alberto Manguel, 2001, 22.
cxx
Blake, 2001: 17
cxxi
Jorge Luis Borges, apud Manguel: 58.
cxxii
William Blake, O Casamento do Céu e do Inferno [1793], 2000: 37.
cxxiii
Samuel Beckett, in Manguel, 2001: 36.
cxxiv
Henry James, in Manguel: 16.
cxxv
Paul Valéry, in Hugo Friedrich, 1978: 185.
cxxvi
Como afirma Manguel ( 2001, 43).
cxxvii
John Keats, 1817, in Manguel, 2001: 288.
cxxviii
César Aira, 1998 (grifei e destaquei)
cxxix
Da poiética (aqui colocada como teoria do fazer literário) de Paul Valéry in Friedrich, 1978: 164.
cxxx
Aira, 1998.
cxxxi
Ver site www.poesia.com
cxxxii
Cf. Schlegel O Dialeto dos Fragmentos [1874/1823], 1997: 233.
cxxxiii
Capa de Victor Burton, sobre retrato de Ezra Pound (detalhe) de Philip Caroll.
cxxxiv
José Lino Grünewald, Ezra Pound: Uma Dialética de Formas, 1986:16/7.
cxxxv
Pablo Picasso: Mulher em uma Poltrona (1913 – Óleo sobre tela, 150 x 100 cm. Assinado e datado. Coleção da Sra.
Ingeborg Pudelko, Florença. In Mestres da Pintura – Picasso, 1977: 47.
cxxxvi
Schlegel et alii, Athenäum1997: 90.
cxxxvii
Schlegel, Conversa sobre a poesia e outros fragmentos, 1794/1823, 1994: 117.
cxxxviii
Johann Wolfgang von Goethe, Maximas Y Reflexiones [1829], 1974: 387
cxxxix
Jozè Joaqim de Qampos Leão Qorpo-Santo. A Ensiqlopèdia, ou Seis Mezes de Huma Enfermidade – Livro I
(Poezia e Proza), 1877: 71/2.
cxl
Os fragmentos que se seguem são excertos de Qorpo-Santo e a Pós-Modernidade, [Paulo Bauler, in Revista Escrita,
no prelo].
cxli
Qorpo-Santo, 1877: 15.
cxlii
In Qorpo-Santo: Teatro Completo, fixação do texto, estudo crítico e notas por Guilhermino Cesar, 1980: 65/86.
cxliii
A referência aos Reis do Universo em Hoje Sou Um; E Amanhã Outro, quando o Ministro descreve as qualidades do
próprio Qorpo-Santo ao seu Rei, é uma pérola de ironia e sátira. / Ao contrário do que muitos afirmam, Qorpo-Santo
não é aí megalômano, mas apenas ri de si mesmo, estatuindo para si qualidades obviamente exageradas como núcleo de
comicidade e absurdo dessa sua peça. É gozação de si mesmo, ironizando-se e satirizando-se, pura utilização do
exagero como elemento ficcional do absurdo, que já estaria claro quando na fala: “que esse homem viveu em um retiro
por espaço de um ano ou mais, onde produziu numerosos trabalhos sobre todas as ciências, compondo uma obra de
400 páginas...”(o mesmo número de páginas da Ensiqlopedia). No entanto, quando o Ministro acrescenta que “Ainda
não é tudo, Senhor! Esse homem era durante esse tempo de jejum, estudo e oração – alimentado pelos Reis do
Universo, com exceção dos de palha!”, é verdadeiramente comprar o absurdo por realidade continuar acreditando na
megalomania do autor. E Qorpo-Santo certamente daria boas risadas de alegre satisfação em ver essa miscigenação de
elementos provocar o resultado que, afinal, buscava. Tal confusão justifica sua obra da vida absurda. Essa, inclusive,
parece ser a sua maior diversão. Alguns de seus poemetos, inclusive, tocam o tema das confusões que provoca.
cxliv
Esse poema consta da última página, do último Livro, o de n.9 da Ensiqlopèdia, fechando, pois, a sua obra escrita.
Curiosamente, mas não por acaso, esta última página encerra-se com quatro poemas dispostos em forma de cruz. Este,
ao braço esquerdo da cruz.
cxlv
Poemeto muito popular em Porto Alegre.
cxlvi
Basta anotar que, em Mateus e Mateusa, o confronto absurdo, circense, que transcorre durante toda a peça, encontra
seu desfecho num discurso – igualmente absurdo – moralizante, feito por um...criado, e que só aparece no final! Cujo
nome, Barriôs, muito provavelmente tenha sido inspirado ou num homônimo ditador bufão de El Salvador, escorraçado
do poder e fuzilado em sua época, ou num advogado com quem Qorpo-Santo andava às turras... Isso deixa claro,
portanto – e aqui se mostra a exata proporção de aplicação do método biográfico – a intenção estética de registrar, ainda
esteticamente, a absurdidade do discurso moralizante.
cxlvii
A referência à identidade entre a sua escritura e a arte da fotografia nesse poema, igualmente reforça, mais do que
aparentemente nega, a concepção propositadamente absurda de toda a sua obra. Sua afirmação aqui corresponde a um
alerta aos seus censores no sentido de que – achem absurda quanto quiserem a sua literatura – não pode ser censurada,
porque ela é tão absurda quanto a realidade o é... qual de fotografia – ato! Portanto, se querem reclamar da feiúra da
foto, a culpa não é do fotógrafo... Ou, em outras palavras, se querem reclamar do absurdo das suas comédias, a culpa
não é do “comediante”. / Outro poema inscrito ao crucifixo do final da obra (nota IX acima). / Observe-se que o poema
em tela é justo colocado à parte superior do crucifixo, onde se situa, simbolicamente, a cabeça do crucificado. Sob o
sugestivo título de Censura.
cxlviii
Capa do filme(vídeo) Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade (direção), 1969.
cxlix
Essas observações, cristalizadas na sentença destacada, dizem respeito não apenas às técnicas de teatro, mas,
especialmente pela liberdade explicitamente concedida por Qorpo-Santo aos produtores e diretores teatrais, para alterar
seus textos de acordo com as suas eventuais necessidades. Antecipando, de certa forma, aquele desprendimento do texto
pregado, por exemplo, por um Antonin Artaud. Homem de teatro, Antonio Carlos de Sena anotou (v. Assis Brasil, Luiz
Antonio de. Qorpo-Santo:entrevista...) que essa liberdade, acompanhada das demais informações dos textos, não
constituía uma precariedade do autor como criador, mas uma invenção inovadora ao estreito relacionamento entre texto
e montagem, cujo exemplo mais notório são as palavras finais do livro em que reuniu as suas comédias: “As pessoas
que comprarem e quiserem levar à cena qualquer das minhas comédias podem; bem como fazer quaisquer ligeiras
alterações, corrigir alguns erros e algumas faltas, quer de composição, quer de impressão, que a mim, por inúmeros
estorvos, foi impossível”. Ler essa mensagem com olhos de vulgo é desconsiderar que um texto de poeta sempre há
que ser lido com poesia... É exercer, o leitor, sua prerrogativa de fazer-se aquilo que Nelson Rodrigues apelidou de
idiota da objetividade...
cl
Walt Withman, Leaves of Grass, 1855.
cli
Qorpo-Santo, Hoje Sou Um; E Amanhã Outro, in Teatro Completo,1980:108.
clii
Filme de Josef Rusnak (direção e roteiro) Ravel Centeno-Rodriguez (roteiro), 1999.
cliii
Filme de Spike Jonze (direção) e Charlie Kaufman (roteiro), 2000.
cliv
Capa do vídeo Bob Dylan, Bob Dylan – The 30th Anniversary Concert Celebration, Radio Vision International/ Sony
Music, 1993.
clv
Depoimento de Bruce Springsteen para a História do Rock’n’Roll, 2002, vol.4.
clvi
Depoimento de Bona Vox (idem).
clvii
Última página do último livro da Ensiqlopedia, ou Seis Mezes de huma enfermidade, de Qorpo-Santo, em forma de
cruz, alusão à sua febre literária e ao processo de crucificação social que sofreu.
clviii
Roland Barthes, O Prazer do Texto, 1973/1999: 7/9..
clix
Mário Chamie, A Linguagem Virtual, 1976: 116/7.
clx
No verbo de Jorge Luis Borges: Alfred North Whitehead escreveu que, entre as muitas falácias, há a falácia do
dicionário perfeito – a falácia de pensar que, para cada percepção dos sentidos, para cada asserção, para cada idéia
abstrata, pode-se encontrar um equivalente, um símbolo exato, no dicionário. E o próprio fato de as línguas serem
diferentes nos faz suspeitar que isso não exista. [Esse Ofício do Verso, 2000: 86].
clxi
Jean Baudrillard, Cool Memories II – crônicas 1987-1990, 1996: 83.
clxii
Michel Foucault, Isto Não É Um Cachimbo,1989: 60/1.
clxiii
René Magritte, in “orelha” de Foucault, Michel: 1989.
clxiv
Desenho de René Magritte in Isto não é um cachimbo, de Michel Foucault, 1973/1988: 87.
clxv
Friedrich Nietzsche, Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral [1873]. In Os Pensadores, vol. XXXII, 1974:
56.
clxvi
V. Eric A. Havelock, A Revolução da Escrita na Grécia. 1982/1996.
clxvii
Nietzsche, 1873/1974
clxviii
John Ford, apud Peter Bogdanovich, Afinal, Quem Faz Os Filmes, 2000: 10.
clxix
Do livro infantil de Fernanda Lopes de Almeida (texto e roteiro das ilustrações) e Fernando de Castro Lopes
(ilustrações), O Equilibrista, 1987: 2
clxx
Idem, O Equilibrista: 3.
clxxi
Idem,O Equilibrista: 27..
clxxii
José Francisco da Gama e Silva, 2001.1.
clxxiii
Fernando Pessoa, Sobre o Romantismo, in Obras Em Prosa, 1986: 292.
clxxiv
Almeida & Lopes, O Equilibrista: 30.
clxxv
Idem, idem: 31.
clxxvi
Idem, idem: 32.
clxxvii
Fayga Ostrower, Criatividade e Preocesso de Criação, 1987: 122.
clxxviii
Capa do filme (vídeo) de Peter Weir (direção) &Tom Schulman, Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.
clxxix
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, in Ghesas de Eros, 2000: 324.
clxxx
Sérgio Augusto de Andrade, A Cultura Sexy do Brasil, 2002: 23.
clxxxi
Capa do filme (Vídeo) Villa-Lobos-Uma Vida de Paixão , de Zelito Vana (produção e direção) e Joaquim Assis
(roteiro), 2001.
clxxxii
Fala de Heitor Villa-Lobos, no filme de Zelito Viana & Joaquim Assis, 2001.
clxxxiii
Jean Braudrillard, Cool Memories III – fragmentos 1991-1995, 2000:84/5.
clxxxiv
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, in Ghesas de Eros, 2000: 606.
clxxxv
Jacques Attali, Dicionário do Século XXI, 2001: 85.
clxxxvi
Jacques Attali: 249.
clxxxvii
Paulo Bauler, Delírio Antropofágico, 2000: 651.
clxxxviii
Fala de Heitor Villa-Lobos, no filme de Zelito Viana & Joaquim Assis.
clxxxix
Reinaldo Laddaga, 2001.2.
cxc
Foto Richard Romero; produção Cácia Scudino.
cxci
Foto Imago, produzida no projeto Lambe-Lambe, Carnaval de Olinda, 96.
cxcii
Bárbara Kruger. Sem título (Não seremos mais vistas nem ouvidas). 1985. Nove litografias coloridas com
fotolinografia e silkscreen: 52x52 cada. Apud Eleanor Heartney, Pós-Modernismo, 2002. Este é um bom exemplo de
diálogo imagético nas artes plásticas.
cxciii
Uma obra como o Ulisses de Joyce é extremamente escandalosa e subversiva em sua crítica do mito burguês do
significado imanente. Como protótipo de todos os textos antiauráticos – reciclagem mecânica de um documento
sagrado -, Ulisses pulveriza essa mitologia arrasando as distinções entre elevado e baixo, sagrado e profano, passado
e presente, autenticidade e derivação, e o faz com toda a demótica vulgaridade da mercadoria. Franco Moretti mostrou
como Ulisses torna mercadoria a própria forma do discurso, reduzindo a ideologia burguesa do “estilo singular” a
uma circulação contínua e despropositada de códigos empacotados sem privilégio metalingüístico, uma polifonia de
fórmulas verbais escrupulosamente “imitadas”, completamente hostil à “voz pessoal”. [Terry Eagleton, A Ideologia da
Estética, 1990/1993: 271.].
cxciv
Affonso Romano de Sant’Anna, Rosa versus Machado, 22.12.2001 (grifei).
cxcv
Jair Ferreira dos Santos, Barth, Pynchon e outras absurdetes (o pós-modernismo na ficção americana), 1995: 70/1.
cxcvi
Paul Valéry, apud Hugo Friedrich: 185.
cxcvii
Haroldo de Campos, Uma Poética da Radicalidade, 1981: 17, 18, 34, 35.
cxcviii
Cf. Todorov, em ensaio sobre a poiética em Lessing: A presença ou a ausência de um elemento no texto é
determinada pelas leis da arte que se pratica. Portanto, uma tese literária jamais poderá seguir ordenamento que não
lhe atenda suas todas possíveis singularidades. Não apenas de natureza científica (estrito senso), mas ainda em suas
peculariedades poiéticas e estéticas. [Tzvetan Todorov, Os gêneros do discurso, 1980: 29/30.
cxcix
Jean Paul Sartre, O Imaginário, 1940/1996: 246.
cc
Para as mazelas da “explosão vídeo” na pós-modernidade, ver Gilbert Durand, O Imaginário-Ensaio acerca das
ciências e da filosofia da imagem, 1999: 117/20.
cci
William Blake, in Tudo que vive é sagrado, 2001: 37.
ccii
Werner Jaeger, Paideia, 1936: 153/5 e 223.
cciii
Jaeger: 143.
cciv
Jaeger: 153
ccv
Embora a manifestação anti-erótica, Sêneca, que amava Epicuro, devia estar cumprindo obrigação política... O que
bem demonstra a dicotomia Estado/Indivíduo em Roma: Mas o que Sêneca teve a liberdade de escrever, não teve de
viver... A filosofia libertou-o, mas como era um famoso senador do povo romano, ele venerava o que rejeitava, fazia o
que condenava, adorava o que desprezava... [Benjamin Farrington,A Doutrina de Epicuro, 1968: 147.
ccvi
V. Paulo César de Souza, Notas do Tradutor, in Além do Bem e do Mal-Prelúdio-Prelúdio a uma filosofia do futuro,
de Netzsche,1992: 216.
ccvii
Nietzsche, Além do Bem e do Mal-Prelúdio a uma filosofia do futuro, 1992: 69.
ccviii
Anônimo,1611
ccix
Nietzsche, Além do Bem e do Mal, 1992: 80.
ccx
[Nietzsche, idem.
ccxi
Rousseau, Ensaios Sobre A Origem Das Línguas: 434
ccxii
In Maktub, coluna diária do escritor no jornal Folha de São Paulo.
ccxiii
O discurso de Nietzsche em seu Anticristo é, no entender do autor, reflexo dos mesmos sentimentos anti-religiosos
de um Joyce, por exemplo. Já a obra de Wilhelm Reich, considerado em sua época uma espécie de anticristo, com as
mesmas críticas a uma certa cristianização, não vê oposição alguma entre o pensamento cristão e a natural alegria de
viver.
ccxiv
Jean-Jacques Rousseau, Ensaio Sobre A Origem Das Línguas, in Obras, 1962: 434.
ccxv
Friedrich Schlegal, 1997: 158.
ccxvi
Carl Jung, Chegando ao Inconsciente, 1961: 20.
ccxvii
Pintura Navajo em areia representando o mito do Coiote, que rouba o fogo dos deuses para dá-lo ao homem. Na
mitologia grega, Prometeu também rouba o fogo dos deuses para o homem, tendo sido, por isso, acorrentado a uma
rocha e torturado por uma águia [Nota da ilustração do ensaio de Joseph L. Henderson, Os mitos antigos e o homem
moderno, em Carl G. Jung, 1964:114].
ccxviii
Carl Jung, 1961: 20.
ccxix
Senão pela sua poesia, como conhecimento inconsciente de sua inteligência emocional - acrescento.
ccxx
Carl Jung, 1964/1997: 21.
ccxxi
Carl Jung: 23.
ccxxii
Muitos precursores da psicanálise moderna, fotografados em 1911, no Congresso de Psicanálise de Weimar,
Alemanha. A indicação numérica identifica algumas das personalidades mais conhecidas. Apud Carl Jung: 26. A mim a
foto inspira reflexões sobre os uns e os múltiplos, sobre a multiplicidade de pensamento, a pluralidade do
conhecimento, sob uma aparente univocidade... A univocidade é uma fotografia (estática) se comparada à percepção
fragmentária que, como um filme (dinâmica).
ccxxiii
Carl Jung: 25
ccxxiv
Carl Jung: 25.
ccxxv
Marilena Chauí, Entrevista a O Globo de 09.04.2002.
ccxxvi
Lílian Hellman, Pentimento – Um Livro de Retratos, 1980: Intróito.
ccxxvii
Raimundo Faoro, Os Donos do Poder, 1977.
ccxxviii
Caetano Veloso, Verdade Tropical, 1997: 17.
ccxxix
CD Caetano Veloso, sem indicação de foto ou arte.
ccxxx
CD Da Lama ao Caos, Chico Science & Nação Zumbi (Chaos, 1993).
ccxxxi
Roberto Azoubel, A impressionante (e necessária) invasão dos homens-caranguejos (aspectos ficcionais e
políticos do manguebit), 2000.2.
ccxxxii
Ezra Pound, ABC da Literatura, 1990: 161.
ccxxxiii
Qual é o estilo de James Joyce? Essa aflitiva reificação da linguagem, com todo o seu esculpir flaubertiano sobre
materiais verbais inertes, é exatamente o que permite o radicalismo bakhitiniano de Joyce, seu impactar dialógico,
carnavalesco, de uma língua com outra – tanto quanto em Finnegans Wake uma sabotagem política profunda da
significação fixa acontece através dos movimentos de um significante promíscuo, que, como a forma mercadoria,
continuamente nivela e iguala identidades para poder permuta-las de modos fantasticamente novos. O mecanismo da
troca, ou o espaço do valor de troca, é aqui o trocadilho ou o significante múltiplo, em cujo espaço, como no caso da
mercadoria, os significados mais chocantemente disparatados podem se combinar. É nesse sentido que Joyce, para
usar uma expressão de Marx, permite à história progredir “pelo seu lado ruim”, partindo, à moda de Brecht, das más
novidades e não das boas velharias. [ Terry Eagleton, 1990/1993: 271.].
ccxxxiv
Nota do Editor brasileiro de James Joyce, Ulisses, 1977: 852.
ccxxxv
Wolfgang Müller-Lauter, A Doutrina da Vontade de Poder em Nietzsche, 1997: 74/5.
ccxxxvi
Calandra, 1964/Teixeira, 2002. (V.Signografia).
ccxxxvii
Francesco Clemente, Sol da meia-noite, 1982.
ccxxxviii
Eleanor Heartney, Pós-modernismo, 2002: 20/1.
ccxxxix
Diálogos do filme Strange Days (Estranhos Prazeres), de Bigelow e Cameron&Cocks, 1995. Ver tb. nota 75.
ccxl
Site Internet
ccxli
Idem
ccxlii
Three Essays on Theory of Sexuality, vol. 7, p.134 [Nota de Jonathan Culler].
ccxliii
Jonathan Culler, Sobre a Desconstrução – teoria e crítica do pós-estruturalismo, 1982/1997: 185.
ccxliv
The Interpretation of Dreams, vol. 5, pp 612-13 [Nota de Jonathan Culler (Ver nota 215 acima) , no ponto
assinalado no texto].
ccxlv
Nada mais que poeta. In Kama Antropofágyka, Paulo Bauler, 2002.
ccxlvi
Heidrun Krieger Olinto, Discursos Transculturais, 1999: 50/3.
ccxlvii
Sem indicação de arte da capa; o que merece severa crítica por apropriação de autoria pela Editora.
ccxlviii
Filme (DVD) de Peter Weir (direção) e Andrew Nicol (roteiro), 1998.
ccxlix
Vilém Flusser, Ficções Filosóficas, 1998: 129.
ccl
Filme da dupla de irmãos, com o nome artístico de The Wachowski Brothers (direção e roteiro), 1999.
ccli
No momento, os computadores têm a vantagem da velocidade, mas não mostram sinal de inteligência. Isso não
surpreende, já que nossos computadores atuais são menos complexos do que o ‘cérebro’ de uma minhoca – uma
espécie que não se destaca por seus dotes intelectuais... Mas os computadores obedecem àquela que é conhecida como
Lei de Moore: suas velocidade e complexidade dobram a cada 18 meses... Trata-se de um desses crescimentos
exponenciais que, sem dúvida, não podem continuar para sempre. Entretanto, ele provavelmente continuará até que os
computadores atinjam uma complexidade semelhante à do cérebro humano. Há quem afirme que os computadores
nunca poderão exibir uma inteligência verdadeira – seja isso o que for. Mas parece-me que, se moléculas químicas
muito complexas podem agir em seres humanos para torna-los inteligentes, circuitos eletrônicos igualmente complexos
podem também fazer os computadores atuar de forma inteligente. E se forem inteligentes, eles poderão supostamente
projetar computadores com complexidade e intelig~encia ainda maiores... [Stephen Hawking, 2001: 165/7.].
cclii
Cena do filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick (direção e roteiro) e Arthur C. Clark (livro e
roteiro), 1968.
ccliii
Para uma análise da razão sádica apolínea ver PAGLIA, Camille. Personas Sexuais (Arte e Decadência de
Nefertite a Emily Dickinson), 1990: 222/33.
ccliv
Queenboro Bridge, NY: Fotografia de Spenser Tunick, artista presente na 25ª Bienal de São Paulo, como parte de
sua programação, na atividade de fotografar o humano, agora brasileiro, em estado de natureza, em contraste com o
espaço urbano. Tunick já viajou quatro continentes fotografando populares nus no espaço urbano. Matéria
jornalística no Segundo Caderno do jornal O Globo de 21.03.02.
cclv
Quando criado, o Super-Homem possuía como uma de suas características a força de levantar dez vezes o seu peso (a
formiga foi a referência, disseram os criadores Joe Shuter e Jerry Siegel). Algumas décadas depois já aparecia
realizando proezas incríveis, como o transporte de asteróides... (Do texto original. V. nota final a esse texto.).
cclvi
Martin Cezar Feijó. O Que É Herói. São Paulo: Brasiliense,1995 (nota do autor do texto).
cclvii
In A Figura do super-herói, de Henrique Rodrigues Pinto (Trabalho apresentado à prof.ª Denise Moreira na
disciplina Prática de Ensino II do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 22 de
junho de 1999).
cclviii
Eugen Herrigel: 1975/1991. Sem indicação de capista.
cclix
George Woodcock: 1977/1985. Sem indicação de capista.
cclx
Charles Chaplin (Carlitos) (direção, roteiro e música), Tempos Modernos, 1936/2001. Último filme mudo de
Chaplin (ele não fala mas utiliza efeitos sonoros e até participa de um número musical), in Rubens Ewald Filho, Guia
de Filmes DVDnews, 2001.
cclxi
Filme de Nicholas Meyer (direção) e Edward Hume (roteiro), 1983.
cclxii
Arnaldo Jabor, A Invasão das Salsichas Gigantes e Outros Escritos, 2001: 166.
cclxiii
Ezra Pound, A Arte da Poesia ,1991: 149.
cclxiv
Jorge Mautner, Fragmentos de Sabonete e Outros Fragmentos, 1995: 47.
cclxv
Mautner, 1995: 45.
cclxvi
Bauler (lírica) & Vargas (música), Beautiful Maíra, 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva.
cclxvii
Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, 1977/2000: 13/4.
cclxviii
Gattaca – A Experiência Genética (Gattaca), 1997, filme escrito e dirigido por Andrew Niccol.
cclxix
Blade Runner, O Caçador de Andróides: filme de Ridley Scott (direção) e Hampton Fancher & David Peoples
(roteiro), 1982/2001 (DVD)
cclxx
A.I.Inteligência Artificial (A.I Artificia Intelligence) filme de Steven Spielberg (roteiro e direção), Ian Watson
(história) e Brian Aldiss (conto), 2001.
cclxxi
A. I.- Inteligência Artificial ( A.I. – Artificial Intelligence), filme de Steven Spielberg (roteiro e direção), baseado
em história de Ian Watson e no conto de Brian Aldiss, segundo produção original de Stanley Kubrick.
cclxxii
Cronicamente Inviável, 2001, filme de Sérgio Bianchi (direção e roteiro) e Gustavo Steinberg (roteiro).
cclxxiii
A expressão é do escritor Ribeiro Couto, em carta dirigida a Alfonso Reyes e por este inserta em sua publicação
Monterey. Não pareceria necessário reiterar o que já está implícito no texto, isto é, que a palavra “cordial” há de ser
tomada, neste caso, em seu sentido exato e estritamente etimológico, senão tivesse sido contrariamente interpretada em
obra recente de autoria do Sr. Cassiano Ricardo onde se fala no homem cordial dos aperitivos e das “cordiais
saudações”, “que são fechos de cartas tanto amáveis como agressivas”, e se antepõe à cordialidade assim entendida o
“capital sentimento” dos brasileiros, que será a bondade e até mesmo certa “técnica da bondade”, “uma bondade
mais envolvente, mais política, mais assimiladora”. [Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 1936/1995: 204/5].
A expressão “técnica da bondade” de Cassiano sugere uma certa política da malandragem brasileira que, nesses tempos
pós-modernos, vem sendo substituída pela violência moral ou explícita.
cclxxiv
Nas periferias, a pós-miséria cria um outro país. Crônica de Arnaldo Jabor, no jornal O Globo de 16.04.02.
cclxxv
Perro (de Amores Perros, v. nota seg.), em português cão. Mondo Cane (Mundo Cão), um documentário que fez
época ali pelos idos finais dos anos 60, inícios dos 1970, em que se exibia a natureza em sua brutalidade animal (cito de
memória).
cclxxvi
Amores Perros (Amores Brutos), 2000, filme de Alejandro Gonzales Iñárritu (direção) e Guillermo Arriaga Jordan
(roteiro).
cclxxvii
Essa atividade imagética fragmentária da mente humana foi estudada (e desenvolvida artisticamente como método
terapêutico e científico) pela psiquiatra Nise da Silveira para o estudo da patologia esquizofrênica: O ATELIER DE
PINTURA era inicialmente apenas um setor de atividade entre vários outros setores da Terapêutica Ocupacional,
seção que estava sob minha responsabilidade no Centro Psiquiátrico Pedro II. Mas aconteceu que desenho e pintura
espontâneos revelaram-se de tão grande interesse científico e artístico que esse atelier cedo adquiriu posição especial.
Era surpreendente verificar a existência de uma pulsão configuradora de imagens sobrevivendo mesmo quando a
personalidade estava desagregada. Apesar de nunca haverem pintado antes da doença, muitos dos freqüentadores do
atelier, todos esquizofrênicos, manifestavam intensa exaltação da criatividade imaginária, que resultava na produção
de pinturas em número incrivelmente abundante, num contraste com a atividade reduzida de seus autores fora do
atelier, quando não tinham mais nas mãos os pincéis.Que acontecia? Nas palavras de Fernando estaria possivelmente
a resposta:“Mudei para o mundo das imagens. Mudou a alma para outra coisa. As imagens tomam a alma da pessoa”.
Nise da Silveira, Imagens do Inconsciente, 1981: 13.
cclxxviii
Maria Célia Teixeira Eles dizem, eles fazem. Rio de Janeiro: In BIS, Caderno de Cultura do jornal Tribuna da
Imprensa, ed. 13.03.02.
cclxxix
O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potiomkin) [1925], filme de Sergei M. Eisenstein. Em 1948 e também em
1958 uma seleção de críticos internacionais de cinema escolheram O Encouraçado Potemkin como o maior filme de
todos os tempos. É o tipo de filme que é exibido no início de qualquer curso de cinema. A cena em que as tropas do
czar descem a Escada de Odessa matando homens, mulheres e crianças em seu caminho é a mais famosa cena da
história do cinema. Mas, O Encouraçado Potemkin é muito mais do que um documento histórico, e, mesmo atualmente,
com o avanço das técnicas de filmagem muito além daquelas disponíveis na época de Eisenstein, o filme permanece
uma experiência fantástica e irresistível. Este é o trabalho mais influente do homem que é considerado o mais
importante diretor da História do Cinema.
cclxxx
Berlim – Sinfonia da Metrópole (Berlin – Die Sinfonie der Grosstadt), 1927, filme de Walther Ruttmann (direção) e
Karl Mayer (argumento).
cclxxxi
Baraka – Um mundo através das palavras (Baraka), 1992, filme de Ron Fricke (direção, roteiro, edição e
fotografia) e Genevieve Nicholas & Constantinte Nicholas (roteiro). O curioso no título do DVD brasileiro Um mundo
através das palavras é que o filme nos trás uma sucessão de imagens sem qualquer palavra escrita ou oral. Terá o
tradutor brasileiro errado na titulação da obra ou terá sido uma alusão ao poder narrativo da imagem?
cclxxxii
Clube da Luta (Fight Glub), 1999, filme de David Fincher (direção) e Jim Uhls (roteiro), baseado no livro
[1996/2000] homônimo de Chuck Palahniuk. (DVD)
cclxxxiii
Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry) [1997], filme de Woody Allen (direção, roteiro e atuação).
cclxxxiv
Henrique Rodrigues Pinto, Desconstruindo Allen, 2000.
cclxxxv
Zelig [1983], filme de Woody Allen (direção, roteiro e atuação).
cclxxxvi
Bauler & Vargas, 1999. Partitura elaborada por Rodolpho da Silva
cclxxxvii
Pulp Fiction (Pulp Fiction – Tempo de Violência), 1994, de Quentin Tarantino (direção, histórias e roteiro) e
Roger Avary (histórias).
cclxxxviii
Funny Games (Violência Gratuita), 1997, de Michael Haneke (direção e roteiro).
cclxxxix
Diálogo de Violência Gratuita, Haneke: 1997.
ccxc
A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project), 1999, de Daniel Myrick & Eduardo Sanchez (Roteiro, direção e
montagem).
ccxci
A Bruxa de Blair 2, O Livro das Sombras (Book of Shadows: Blair Witch 2), 2000, de Joe Berlinger (roteiro e
direção) e Dick Beebe (roteiro).
ccxcii
Arthur Schopenhauer (Bryan Magee, História da Filosofia, 1999: 139), é o autor dessa frase famosa e muito
atribuída a Hobbes devido ao princípio filosófico deste para a formação do Estado.
ccxciii
Ilustração de Gustave Doré em The Rime of the Ancient Mariner (informação da edição)
ccxciv
Antigo provérbio alemão, cf. Paulo Coelho, em Brida, 1990: 180.
ccxcv
Tao é um estado de consciência. Ele começa onde a mente acaba. Não possuímos conceito algum para traduzi-lo,
simplesmente porque o ocidental desconhece esse estado. A palavra Tao é constituída de duas imagens: “cabeça” e
“caminhar”. Como cabeça, podemos entender algo relativo à consciência; como caminhar, ir deixando o caminho
para trás. O Tao é este estado de “consciência dinâmica”. Nele você está em relação consciente com a vida. E
participa dela sem perguntas ou respostas preconcebidas. A própria vida se faz presente... King em chinês significa
“livro” e Te, “ponte”. Em última análise, Tao Te King significa “O livro que leva ao contacto com o infinito, com o
indivizível, com o absurdo, à finalidade última”. Pedro Tornaghi, in Lao Tse, Tao Te King, 1989: 9/10. [Muito
particularmente, neste trabalho utilizo – o que me parece apropriado – o termo Tao como A Totalidade Infinita, o eterno
caminhar assim do humano como das estrelas, tudo o que há e o que não há, no sentido de O Cheio e O Vazio em eterno
processo...]
ccxcvi
Por se mover num mundo de emblemas e atribuir uma realidade plena aos símbolos e às hierarquias de símbolos o
pensamento chinês orienta-se para uma espécie de racionalismo convencional ou escolástico. Mas, por outro lado é
movido por uma paixão empiricista que o predispôs a uma observação minuciosa do concreto, e que sem dúvida o
levou a observações frutíferas. Seu maior mérito é nunca haver separado o humano e o natural e ter sempre concebido
o humano pensando no social. A idéia de lei não se desenvolveu e, por conseguinte, a observação da natureza ficou
entregue ao empirismo, e a organização da sociedade ao regime dos compromissos. Mas a idéia de Regra, ou melhor, a
noção de Modelos, permitindo aos chineses conservarem uma concepção flexível e plástica da Ordem, não os expôs a
imaginar, acima do mundo humano, um mundo de realidades transcendentais. Inteiramente impregnada de um
sentimento concreto da natureza, sua Sabedoria é decididamente humanista... [Marcel Granet, O Pensamento Chinês,
1968/1997: 210]. Marcel Granet aderiu ao postulado de Voltaire sobre uma China “racional”; nenhum preconceito
teológico impelia os chineses a “imaginar que o Homem compunha sozinho, na natureza, um reino misterioso”; por
isso, “nada os (havia impedido) de edificar toda a sua sabedoria sobre uma psicologia de espírito positivo”. [Vadime
Elisseeff, in Marcel Granet: 10].
ccxcvii
Foto, sem indicação de autoria, in Gerald Thomas, A Primeira Guerra do Século XXI (Relato de uma Testemunha),
setembro de 2001.
ccxcviii
João Ricardo Moderno, Estética da Contradição, 1997, pág. 132.
ccxcix
Nietzsche, Ecce Homo, 1908: 81/2
ccc
Omar Káyyám, Rubáyát de Omar Kháyyám, versão de Octavio Tarquinio de Sousa, 1951: 37.
ccci
Ezra Pound, Os Cantos, 1934/1986: 837.
cccii
Ezra Pound, Os Cantos, 1934/1986: 833.
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