Alberto Caeiro
Alberto Caeiro
Alberto Caeiro
Sejam bem-vindos!!!
S cantador quem traz no peito o cheiro e a cor
de sua terra, a marca de sangue de seus mortos
e a certeza de luta de seus vivos.
(Franois Silvestre)
Poemas Completos
Alberto Caeiro
No pondero, sonho;
no me sinto inspirado, deliro.
A Heteronmia Pessoana
No se trata de simples uso de pseudnimo.
Os nomes ou mscaras ou heternimos com que Fernando Pessoa
assina sua obra constitui em cada um deles, uma atitude-experincia
assumida pelo prprio Pessoa, como se fossem diversos poetas, todos
eles com seu estilo prprio, com sua viso de mundo particular.
Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como vrias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existncia total do universo,
Mais completo serei pelo espao inteiro fora."
II - Alberto Caeiro
Podemos facilmente verificar, pela leitura dos poemas de Caeiro, que ele ,
dentre os heternimos, aquele que representa a postura mais radical face a
esses postulados pessoanos: para o mestre, o que importa vivenciar o
mundo, sem peias e mscaras sgnicas, em toda a sua multiplicidade
sensacionista.
O que Ns Vemos
O que ns vemos das cousas so as cousas.
Por que veramos ns uma cousa se houvesse outra?
Por que que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir so ver e ouvir? / O essencial saber ver,
Saber ver sem estar a pensar, / Saber ver quando se v,
E nem pensar quando se v / Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de ns que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma seqestrao na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas so as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um s dia,
Mas onde afinal as estrelas no so seno estrelas
Nem as flores seno flores.
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
Pensar em Deus
Pensar em Deus desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o no conhecssemos,
Por isso se nos no mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as rvores,
E Deus amar-nos- fazendo de ns
Belos como as rvores e os regatos,
E dar-nos- verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ...
Caeiro admite que sua obra quer, de algum modo, exemplificar sua forma
de viver, quer ser como ela.
E qual era esta forma de viver?
Sem subjetividades.
Sua aspirao atingir o real tal como ele , sem a mediao das idias ou
da impresso espiritual.
O nico caminho: os sentidos.
O Pastor Amoroso
Quando eu no te tinha
Amava a natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a natureza / Como um monge calmo Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira comovida e prxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos at beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor... / Tu no me tiraste a natureza...
Tu no me mudaste a natureza... / Trouxeste-me a natureza para ao p de mim.
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
No me arrependo do que fui outrora / Porque ainda o sou.
S me arrependo de outrora te no ter amado.
Poemas Inconjuntos
Nessa coletnea h uma novidade: o tema da morte.
A lio de realismo e sbia harmonia com o universo tem, nestes poemas da
morte, a mesma grandeza simples da atitude existencial de O Guardador de
Rebanhos.
O materialismo e o culto da natureza em Caeiro funcionam como eficiente
remdio contra o temor da morte.
Para Caeiro, o que pode pacificar-nos em nossa finitude a adeso morte.
Concluindo:
O fazer potico de Caeiro, construdo sobre a fronteira entre a
poesia e sua reflexo, nos revela um autor moderno e
revolucionrio.
A modernidade de Caeiro se baseia em dois pontos:
O carter metalingustico de sua poesia;
O esprito libertador.
Prosa
- O sr. Caeiro um materialista?
- No, no sou nem materialista nem desta nem cousa nenhuma. Sou um
homem que um dia, ao abrir a janela, descobri esta cousa importantssima:
que a Natureza existe. Verifiquei que as rvores, os rios, as pedras so
cousas que verdadeiramente existem. Nunca ningum tinha pensado nisto.
No pretendo ser mais do que o maior poeta do mundo. Fiz a maior
descoberta que vale a pena fazer e ao p da qual todas as outras
descobertas so entretenimentos de crianas estpidas. Dei pelo Universo.
Os gregos, com toda a sua nitidez visual, no fizeram tanto.
Sou mesmo o primeiro poeta que se lembrou de que a Natureza existe. Os
outros poetas tm cantado a Natureza subordinando-a a eles, como se eles
fossem Deus: eu canto a Natureza subordinando-me a ela, porque nada me
indica que eu sou superior a ela, visto que ela me inclui, que eu naso dela e
que...
O meu materialismo um materialismo espontneo. Sou perfeitamente e
constantemente ateu e materialista. No houve nunca, bem sei, e materialista
e um ateu como eu...Mas isso porque o materialismo e atesmo s agora,
em mim, encontraram o seu poeta.
Bibliografia e Referncias: