Euler Lagrange

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APLICAES DAS EQUAES DE EULER-LAGRANGE

Eliomar Corra Caetano


Universidade Catlica de Braslia
Orientador: Cludio Manoel Gomes de Sousa

RESUMO

Neste trabalho estudamos trs aplicaes das equaes de Euler-Lagrange, sendo duas para osciladores
harmnicos, o pndulo simples e o sistema massa-mola, ambos abordados em sua forma trivial, sem foras
externas e dissipativas, e a terceira aplicao, que o principal objetivo desse trabalho, consiste na busca de uma
equao que esteja associada ao movimento de uma partcula a cada instante, quando esta, percorre a rampa de
um escorregador (tobog). Para esse ltimo caso, a equao diferencial resultante foi resolvida pela utilizao
de mtodos numricos, onde apresentamos o cdigo utilizado para a soluo com auxlio de computao
algbrica.

Palavras-chave: energia; equaes de Euler-Lagrange.

1. INTRODUO

Existe um parque situado na cidade de Braslia, capital do Brasil, onde encontramos um
brinquedo que, talvez, chame a ateno de quem j estudou um pouco de equaes
diferenciais. Trata-se da rampa de um escorregador, que est ilustrada a seguir:



Figura 1 Uma idia de como seria o escorregador.

Para uma curva desse tipo, poderamos fazer a seguinte pergunta: possvel encontrar uma
equao que esteja associada ao movimento da partcula que descreve o trajeto da rampa em
um instante qualquer? Denotaremos esta questo como o Problema do Escorregador.

Em princpio, ao tentarmos responder a pergunta anterior, teremos a situao de que as foras
que atuam no sistema so variantes, por exemplo, a fora normal, a fora peso, entre outras.
Mesmo com esse impasse possvel persistir no problema, visto que no decorrer da histria,
por volta de 1686, Johann Bernoulli props a seguinte questo:

Considere uma partcula de massa m, deslizando sob a ao da gravidade, ao longo de uma
certa curva do ponto P ao ponto Q, que esto fixados.Se a partcula parte do repouso,
qual deve ser a forma de para que o tempo do percurso seja mnimo? Despreze o atrito e
outras foras dissipativas (Butkov, 1983).


Figura 2 A partcula percorrendo do ponto P ao ponto Q.

O prprio Johann Bernoulli resolveu esse problema. A curva que determina esse tempo timo
chamada de braquistcrona.

A semelhana entre o referido problema de Bernoulli e o problema do escorregador que,
ambos pretendem que uma partcula descreva um determinado trajeto. Como foi resolvido o
problema da braquistcrona, natural pensar acerca do problema do escorregador.

Uma maneira de resolver o problema da braquistcrona por meio das equaes de Euler-
Lagrange (Butkov, 1983). Essas equaes so derivadas da energia cintica e potencial
gravitacional da partcula.

1.1. Euler-Lagrange

Para um sistema conservativo (onde somente atuam foras conservativas) possvel escrever
uma funo da posio e da velocidade de uma partcula, denominada energia mecnica, que
se conserva durante todo o movimento.

Sejam
2
2
1
mv T = ,
mgh V = ,
a energia cintica(T ) e a energia potencial gravitacional(V ), respectivamente, do sistema,
em que as variveis envolvidas so
m: massa da partcula,
v : velocidade da partcula,
g : acelerao da gravidade,
h : altura da partcula (posio);
ento a energia mecnica definida por
V T E + = .
A energia que um corpo possui quando est em movimento denominada energia cintica e, a
energia potencial gravitacional, aquela que um corpo possui quando est situado a uma
determinada altura da superfcie da Terra (Tipler, 2000).

As leis da mecnica so tais que, a posio e a velocidade de uma partcula combinam suas
variaes, de modo que E no se altera.

Consideremos uma outra funo das variveis de movimento de um sistema conservativo, a
lagrangiana L , definida por
V T L = . (1)
A lagrangiana tem as mesmas dimenses da energia, ou seja, no Sistema Internacional sua
unidade de medida o Joule.

Observe que, se uma pedra de massa m estiver caindo a partir do repouso, de uma altura h ,
tomando-se 0 = h como referncia para a energia potencial, a lagrangiana ter inicialmente o
valor mgh e, antes da pedra atingir o solo, o valor da funo (1) ser mgh .

O fsico-matemtico Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) observou em 1764 que:

Como a pedra gastar um tempo t para cair, ento ela otimizar a variao da sua velocidade
durante a queda de tal modo que a integral

=
t
Ldt S
0

atinja o menor valor possvel (Chaves, 2001).

A integral no tempo da lagrangiana do sistema entre dois instantes
1
t e
2
t denominada ao
S do sistema neste intervalo de tempo. Ou seja,

= =
2
1
2
1
) (
t
t
t
t
dt V T Ldt S . (2)
O princpio da ao mnima estabelece que a integral S em (2), atinja o menor valor possvel.
Ento, a ao que se pretende minimizar tem a forma
(

=
2
1
.
2
1
2
t
t
dt mgh mv S
Em coordenadas cartesianas, a configurao de um sistema com N partculas pode ser
especificada pelas N 3 coordenadas cartesianas
1
x ,
1
y ,
1
z ,
2
x ,
2
y ,
2
z , ...,
N
x ,
N
y ,
N
z de
suas partculas, ou por qualquer conjunto de N 3 coordenadas generalizadas
1
q ,
2
q , ...,
N
q
3
.
Para simplificar, chamaremos de
k
q a posio de uma partcula em qualquer sistema de
coordenadas, e para uma funo qualquer ) (t u u = , denotaremos a derivada temporal por
u
dt
du
& = .

Assim, podemos escrever (1) como
) ( ) ( q V q T L = & .
Finalmente, pelo princpio da ao mnima, de (2) obtemos
N k
q
L
q
L
dt
d
k k
3 ,..., 1 , 0 = =

|
|

\
|

&
; (3)
que so denominadas equaes de Euler-Lagrange (Symon, 1982).

Vale ressaltar que no se aplicam as equaes de Euler-Lagrange em casos onde se deseja
considerar as foras de atrito de um determinado sistema.

A expresso que aparece em (3) denominada equaes de Euler-Lagrange porque o
matemtico suo Leonard Euler (1707-1783) contribuiu consideravelmente para a
formulao do princpio da ao mnima.

2. MTODOS

Para resolver o problema do escorregador, que o principal objetivo desse trabalho,
aproximaremos a funo exata da rampa por uma funo cujo grfico descreve uma trajetria
similar. Nesse contexto, definimos
)) ( ( ) ( 10 )) ( ( t x sen t x t x y + = . (4)


Figura 3 A funo y(x) proposta em (4) um caso elementar da funo que descreve
exatamente a rampa.

Antes de tentar encontrar a equao que descreve a trajetria da partcula em (4), sero
analisados dois problemas: o pndulo simples e o sistema massa-mola. Obteremos as
equaes diferenciais de ambos os sistemas por meio da mecnica de Newton e, em seguida,
por meio das equaes de Euler-Lagrange.

2.1. Pndulo Simples

O pndulo simples consiste de uma partcula de massa m fixada na extremidade inferior de
um fio de comprimento l , cuja extremidade superior est fixa. Supe-se que o movimento
ocorre em um plano vertical (Boyce, 2002).

Figura 4 Uma configurao do pndulo simples.

2.1.1. Mecnica de Newton e o pndulo simples

Deseja-se determinar o ngulo , medido entre o fio e a vertical, em qualquer instante do
tempo. Assim, uma funo do tempo, isto ,
) (t = .

A inteno apenas obter uma equao diferencial associada ao pndulo simples. Por isso,
sero desprezadas a massa do fio e possveis foras dissipativas. A partcula ser abandonada
em uma posio ( ) 0
1
= e observar-se- o seu movimento.
Nesse contexto, o movimento da partcula descreve um arco de raio l , cujo comprimento s
igual a l .

Figura 5 Indicao do comprimento do arco s .

Derivando l s = , em funo de t , obtemos a velocidade da partcula, denotada por
dt
d
l
dt
ds
=
e, consequentemente, a segunda derivada fornece a acelerao
2
2
2
2
dt
d
l
dt
s d
= .
Observemos que o comprimento do fio l permanece constante. As igualdades acima podem
ser escritas como

&
& l s = e
& &
& & l s = .


Figura 6 Definamos que, para baixo e para a direita o sistema positivo, e esquerda e
para cima o sentido negativo.

O peso da partcula dado por mg w = . Como existe uma fora contrria (
c
F ) ao movimento
da partcula, ento essa fora negativa. Do tringulo retngulo formado pelas componentes
da fora, conclui-se que
mgsen F
c
= .


Figura 7 Obteno da componente
c
F relacionada com o seno do ngulo .

A segunda lei de Newton estabelece que a fora igual a massa vezes a acelerao ( ma F = ).
Como a acelerao da partcula
& &
& & l s = , conforme visto anteriormente, ento podemos
escrever
c
F ml =
& &
,
mgsen ml =
& &
,
0 = + sen
l
g
& &
. (5)
Assim, conclumos que a equao (5) est associada ao pndulo simples.

2.1.2. Equaes de Euler-Lagrange e o pndulo simples

Nesta seo iremos analisar a energia cintica (T ) e a energia potencial gravitacional (V ),
relacionadas com o pndulo simples.

Figura 8 A posio da massa fica abaixo da posio onde a energia potencial gravitacional
nula, conforme definido abaixo.

Da ilustrao acima conclumos que cos l h = . importante ressaltar que, com o objetivode
simplificar os clculos, ser considerada uma energia potencial gravitacional nula para a
horizontal que determina o teto, onde o pndulo est fixado. Ento, a posio da partcula
define uma energia potencial gravitacional negativa, pois o potencial gravitacional definido
em funo da altura do objeto em relao superfcie da Terra. Assim,
2
) (
2
1

&
l m T = ,
) cos ( l mg V = .
Neste caso, a funo Lagrangiana dada por
) cos ( )
2
1
(
2 2
mgl ml L =
&
,
e a equao de Euler-Lagrange (observe que: ) (t q = ) torna-se
0 = |

\
|

\
|


L L
dt
d
&
,
( ) ( ) 0
2
= mglsen ml
dt
d
&
,
que pode ser escrita como
0 = + sen
l
g
& &
.
Observe que a ltima igualdade a mesma equao (5) obtida na seo anterior.

Pela dificuldade de encontrarmos um modelo matemtico para o problema do escorregador
utilizando a Mecnica de Newton, escolhemos as equaes de Euler-Lagrange para tentar
encontrar a equao associada a esse problema. Antes de estudar o problema do escorregador,
mais um exemplo ser resolvido, o de sistema massa-mola. Seguindo a mesma linha, primeiro
ser resolvido pensando apenas na Mecnica Newtoniana e, em seguida, por meio das
equaes de Euler-Lagrange.

2.2. O sistema massa-mola

Um sistema massa-mola constitudo por uma mola vertical, de comprimento l e massa
desprezvel, fixada num teto e uma partcula de massa m presa na extremidade inferior da
mola. Ao se fixar a massa na extremidade inferior da mola, ela sofre um deslocamento
0
x .
Definamos por ( ) t x a posio da mola na vertical, quando ela for abandonada em uma
posio ( ) 0
1
x x = (Boyce, 2002).


Figura 9 Inicialmente a massa est em uma posio
1
x .

2.2.1. Mecnica de Newton e o sistema massa-mola.

Aps o deslocamento
0
x , conforme a seo anterior, a mola passa a uma nova posio de
equilbrio. Esse equilbrio deve-se ao fato de que a fora
m
F da mola tem a mesma magnitude
do peso da massa. A fora
m
F determinada pela chamada Lei de Hooke. Essa lei garante que
a fora da mola proporcional ao seu deslocamento, ou seja, kx F
m
= . A constante k a
rigidez da mola; em outras palavras, ela indica o quanto uma mola dura.


Figura 10 - Na posio de equilbrio, a fora peso e a fora da mola tm a mesma magnitude.

Nesse sistema, possvel determinar a posio x da massa em qualquer instante. Desse
modo, x uma funo do tempo
) (t x x = ,
conforme definido na seo anterior.

A configurao do sistema massa-mola determina um nico grau de liberdade, que a
vertical. Ser considerado que a origem do sistema de coordenadas a posio de equilbrio,
incluindo o sentido positivo para baixo, conforme ilustrado a seguir.


Figura 11 A mola de comprimento l em um primeiro momento e, em seguida, deslocada
de
0
x aps a massa ser fixada. No ltimo momento a massa encontra-se em uma posio
( ) t x .

A massa puxada para baixo em uma posio ( ) 0
1
x x = e abandonada. Pode ocorrer em
algum momento que 0 ) (
0
> + x t x ; nesse caso, a mola estar estendida e sua fora ser
) ) ( (
0
x t x k F
m
+ = . O sinal negativo atribudo ao fato da mola estar puxando para cima,
no sentido contrrio ao movimento. Se 0 ) (
0
< + x t x , ento a mola estar comprimida e sua
fora ser no sentido positivo; logo,
0
) ( x t x k F
m
+ = . Que equivalente a escrever que
) ) ( (
0
x t x k F
m
+ = . Portanto, em qualquer caso, temos que ) ) ( (
0
x t x k F
m
+ = .

Por outro lado, pela segunda lei de Newton, temos que ( ) t x est relacionado s foras que
agem sobre a massa, pela frmula
) ( ) ( t f t x m = & & , (6)
onde ) (t x& & a acelerao da massa e ) (t f a fora total agindo sobre a ela.

Como a idia determinar a equao diferencial mais trivial desse sistema, desprezamos
quaisquer foras dissipativas e outros fatores externos. Desse modo, possvel afirmar que as
nicas foras atuantes no sistema so a peso mg w = e a da mola ) ) ( (
0
x t x k F
m
+ = . Assim
a fora ) (t f que aparece na equao (6),
m
F w t f + = ) (
) ) ( ( ) (
0
x t x k mg t f + = .
Logo, a equao (6) escrita como
) ) ( ( ) (
0
x t x k mg t x m + = & & ,
0
) ( ) ( kx t kx mg t x m = & & . (7)
Observando a Figura 10, conclumos que
0
0 0
= = kx mg kx mg .
Assim, a equao (7), se reduz a
0 = + kx x m& & , (8)
que a equao diferencial associada ao sistema massa-mola, onde no h influncia de
foras externas e possveis foras dissipativas.

2.2.2. Equaes de Euler-Lagrange e o sistema massa-mola.

Afim de obter uma equao diferencial para o sistema massa-mola utilizando as equaes de
Euler-Lagrange, necessrio definir a energia cintica do sistema e a energia potencial
gravitacional.

Com o objetivo de tornar simples o processo de modelagem, a energia potencial gravitacional
ser definida como nula no teto, e o sentido positivo iniciar abaixo de onde a mola foi fixada.
Em outras palavras, isso significa que independente da posio da mola, esta sempre estar
numa posio positiva.


Figura 12 A energia potencial no sistema massa-mola foi definida nula na altura onde a
mola foi fixada e, o sentido positivo para baixo.

Nesse momento, importante que sejam levados em conta alguns detalhes. A energia
potencial gravitacional negativa de qualquer forma; isso porque a massa est sempre abaixo
da posio onde a energia potencial gravitacional foi definida como nula. A maneira como foi
definido o sistema, sendo positivo para baixo, no implica que o potencial gravitacional deve
ser positivo; devemos observar que o potencial gravitacional relativo altura que um objeto
encontra-se da superfcie da Terra.

Outra observao importante sobre a energia potencial gravitacional que a massa possui que
ela no apenas ) ) ( (
0
x t x mg V + = . No caso do pndulo simples, o fio que prende a massa
no interfere no potencial gravitacional. Mas devemos notar que a mola participa
definitivamente do potencial. O trabalho
Fx = (9)
que uma fora efetua quando desloca um corpo proporcional ao seu deslocamento (Tipler,
2000). Tanto a energia potencial gravitacional quanto o trabalho, so medidos Joule .
J m N 1 . 1 = ,
na expresso acima (9), as unidades envolvidas so:
N : unidade de medida de fora (newtons),
m: unidade de medida de distncia (metros).

Aplicando a fora de N 1 (um newton) em um corpo, para que este desloque por m 1 (um
metro), o trabalho efetuado pela fora ser de J 1 (um Joule ). Ora, se a mola influencia no
potencial gravitacional da massa, ento como poderamos definir essa influncia?

Uma relao que existe entre o trabalho efetuado por uma fora e o potencial gravitacional
que a variao do trabalho efetuado por uma fora (Tipler, 2000) satisfaz a seguinte igualdade
= V . (10)
Podemos ainda escrever (10) como
x F V = . (11)

J que estamos querendo definir a influncia da mola no potencial, ento, a fora que aparece
em (11) justamente da mola, kx . Ento, escrevemos (11) em termos infinitesimais como
sendo,
kxdx dV = . (12)
Integrando (12), chegamos a uma nova expresso
2
2
1
kx V
m
= , (13)
que chamada de energia potencial elstica da mola. Pela rigidez da mola, estando ela
estendida ou comprimida, a equao (13) nos mostra que o seu potencial elstico
m
V sempre
positivo em nosso sistema.

Finalmente, estando a massa em alguma posio
0
) ( x t x + , definimos
( )
2
2
0
2
1
) (
2
1
x m T x t x
dt
d
m T & =
(

+ =
e utilizando (13), podemos definir o potencial gravitacional do sistema como,
2
2
1
kx mgh V + = ,
2
0 0
) ) ( (
2
1
) ) ( ( x t x k x t x mg V + + + = .
Escrevendo a funo Lagrangiana,
V T L = ,
obtemos
( ) ( )
2
0 0
2
2
1
2
1
x x k x x mg x m L + + + = & ;
e a equao de Euler-Lagrange fica determinada como,
0 = |

\
|

\
|

x
L
x
L
dt
d
&
,
( ) 0 ) (
0
= kx kx mg x m
dt
d
& . (14)
Da posio de equilbrio, conclumos que em (14), dentro do segundo parntesis, teremos
apenas o termo kx ; assim obtemos novamente a equao
0 = + kx x m& & . (15)

2.3. O Caso do Escorregador

Antes de escrevermos a funo lagrangiana da equao (4), observe que quando a partcula
percorre uma pequena distncia na rampa, possvel considerar termos infinitesimais, e sua
velocidade ser
dt
ds
, quando s for um deslocamento infinitesimal.

Figura 13 Para uma distncia s infinitesimal, a velocidade da partcula ser
dt
ds
; pelo
teorema de Pitgoras, segue
2
1
2 2
(
(

\
|
+ |

\
|
=
dt
dy
dt
dx
dt
ds
.

As energias cintica e a potencial gravitacional da partcula que percorre a rampa definida
pela equao (4), so
( )
2 2
2
1
y x m T & & + = e (16)
mgy V = .

Consideremos que a energia potencial gravitacional positiva em qualquer ponto da rampa.

Derivando, a funo definida em (4), obtemos
x x x y
dt
dy
cos & & & + = = ,
e substituindo em (16), temos
[ ]
2 2
) cos (
2
1
x x x x m T & & & + + = .
Consequentemente, a funo lagrangiana definida por
[ ] ) 10 ( ) cos (
2
1
2 2
senx x mg x x x x m L + + + = & & & ; (17)
e a equao de Euler-Lagrange,
0 = |

\
|

\
|

x
L
x
L
dt
d
&
,
( ) [ ] ( ) 0 cos 2 cos 2
2
1
2 cos 2 cos
2 2
=
(

+ + + x mg mg senx x senx x m x x x m
dt
d
& &
( ) ( ) 0 cos cos 2 cos 2 2 cos 2 cos
2 2
= + + + + + x mg mg senx x senx senx x senx x m x x x m & & &
( ) ( ) 0 cos cos 2 cos 2 cos
2 2
= + + + x g g x senx senx x x x x & & & . (18)

A equao (18) a equao diferencial associada ao problema do escorregador. Agora,
necessrio obter a funo ) (t x que satisfaz a equao (18). Pelo fato de aparecer junto s
derivadas as funes trigonomtricas vinculadas varivel t , ento, aparentemente, no
possvel encontrar uma soluo analtica.

Mesmo no sendo possvel encontrar a soluo analtica de (18), possvel observar o
comportamento da funo ) (t x procurada. A maneira de se fazer isso atravs de uma
soluo numrica. Dentre tantos mtodos numricos existentes, utilizamos pelo software
Maple, o mtodo clssico de Runge-Kutta (Barroso, 1987).

Para isso, modificaremos a equao (18) e, em seguida, faremos uma substituio de varivel
para que a equao possa ser resolvida sob um sistema de equaes diferenciais atravs do
mtodo de Runge-Kutta.

Como o mtodo de Runge-Kutta resolve apenas equaes de 1 ordem, devemos transformar
uma equao diferencial de 2 ordem em duas de 1 ordem, como mostraremos a seguir.

O primeiro passo a ser dado em busca de uma soluo numrica preparar a equao (18)
para a forma
R x Q x P = +
2
& & &
2
x
P
Q
P
R
x & & & = .
Escrevendo (18) na forma acima,
2
2 2
2 cos 2 cos
cos
2 cos 2 cos
) cos 1 (
x
x x
x senx senx
x x
x g
x & & &
+

= .

Definamos W x = & , logo, W x
&
& & = . Assim, podemos escrever um sistema de equaes
diferenciais,

=
=
2
W
P
Q
p
R
W
W x
&
&
(19)

Assim, fica definido que a velocidade da partcula W . Para resolver (18), definimos
1 . 0 ) 0 ( = x m e 0 ) 0 ( = W m/s, (20)
que so as condies iniciais. A definio de (20) atribuda ao fato de que a partcula estar,
inicialmente, em um ponto prximo a parte mais alta da rampa, em que partir do repouso.

O valor de ) (t x inicialmente ser 1 . 0 , pois, se 0 ) 0 ( = x , ento a partcula no entraria em
movimento; tendo em vista que esta, por sua vez, no sofre influncia de foras externas. Em
outras palavras, se a partcula parte do repouso e 0 ) ( = t x , ento ela no poder entrar em
movimento.

No software Maple, entramos com os comandos

> )); ( sin( ) ( 10 : )) ( ( t x t x t x y + =
> ; 8 . 9 := g
> ; 2 )) ( cos( * 2 2 ))^ ( cos( : )) ( ( + = t x t x t x P
> )); ( cos( * )) ( sin( )) ( sin( : )) ( ( t x t x t x t x Q =
> ))); ( cos( 1 ( * : )) ( ( t x g t x R =
> : ) ( plots with
> ; 2 ))^ ( ( * ))) ( ( / )) ( ( ( )) ( ( / )) ( ( ) ), ( ( ), ( ) ), ( ( : t w t x P t x Q t x P t x R t t w diff t w t t x diff dsys = = =
> )}; ( ), ( { : t w t x funcs =
> : ) , , }, 0 ) 0 ( , 1 . 0 ) 0 ( , ({ : classical method numeric type funcs w x dsys dsolve p = = = = =
> ); 6 .. 0 )]], ( , [ )], ( , [[ , ( = t t w t t x t p odeplot .

Figura 14 A curva vermelha, descreve a variao do espao que a partcula percorre, em
funo do tempo e, a curva verde, descreve a variao da velocidade da partcula em funo
do tempo.

Com base na figura 14, percebe-se que a velocidade da partcula tem certa oscilao, mas
tende a aumentar gradativamente a cada ciclo no decorrer do trajeto; ou seja, a amplitude de
oscilao de W aumenta.

3. DISCUSSO

O estudo das equaes de Euler-Lagrange geralmente aparece ao final dos cursos de Fsica.
Essas equaes dispem de uma maneira distinta, mas equivalente, de resolver determinadas
situaes-problema. Uma grande vantagem que esse tipo de equao gera no ser necessrio
o uso de vetores, basta ter conhecimento da energia cintica e potencial do sistema em estudo.

Os dois primeiros problemas resolvidos foram por meio de dois mtodos, nos quais o intuito
era de exaltar a teoria lagrangiana e as equaes de Euler-Lagrange. De modo que, para o
problema do escorregador, tivssemos uma direo a respeito dos passos a serem dados em
busca da equao pretendida.

No era esperado que a equao diferencial obtida fosse, aparentemente, insolvel
analiticamente. Para essa questo, a necessidade de uma anlise da funo por meio de uma
soluo numrica seria, em parte, satisfatria.

Ao observarmos a soluo numrica, percebemos que a partcula atinge longas distncias em
pequenos intervalos de tempo; e a velocidade da partcula, tem uma caracterstica
oscilatria, mas com um aumento de sua amplitude no decorrer do tempo. O deslocamento e a
velocidade so curiosos devido ao fato de que o atrito foi desprezado.

Admitimos, desde o incio da pesquisa, que a partcula no perde contato em nenhum
momento com a superfcie na qual desliza. Para a condio inicial, ressaltamos que haver a
necessidade da definio, no simultnea, de valores nulos s variveis. Quer dizer, se
desejarmos que 0 ) 0 ( = x , ento ) (t W dever ser diferente de zero.

Para posteriores pesquisas, existe a necessidade de considerarmos o atrito e a funo que
descreve exatamente a rampa. No sabemos ainda como considerar o atrito nesse caso, mas h
indcios de que existem equaes similares as de Euler-Lagrange, que por sua vez, so
derivadas tambm pelo atrito.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

BARROSO, Lenidas Conceio; BARROSO, Magali Maria de Arajo; FILHO, Frederico Ferreira Campos;
CARVALHO, Mrcio Luiz Bunte; MAIA, Miriam Loureno. Clculo Numrico (com aplicaes). 2.ed. So
Paulo: Harbra, 1987.
BOYCE, Willian E.; DIPRIMA, Richard C. Equaes Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de
Contorno. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002.
BUTKOV, Eugene. Fsica Matemtica. Rio de Janeiro: Guanabara, 1983.
CHAVES, Alaor Silvrio. Fsica: Mecnica. Vol. 1. Rio Janeiro: Reichman & Affonso Ed., 2001.
SYMON, Keith R. Mecnica. Rio de Janeiro: Campus, 1982.
TIPLER, Paul A. Fsica. 4.ed. Vol.1. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

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