Como Pasteurizar e Conservar Bem o Mel
Como Pasteurizar e Conservar Bem o Mel
Como Pasteurizar e Conservar Bem o Mel
Considerações gerais
Sobre medidas para desidratar o mel, o que facilita a sua conservação, veja o
Capítulo anterior, no subcapítulo “Estudos e pesquisas”.
Outro ponto precisa ser esclarecido. A pasteurização não elimina todas as espécies
de microorganismos causadores de enfermidades humanas. Há muitos vírus e
também certas bactérias (como por exemplo o tétano sob a forma de esporos) que
somente são eliminados através de uma fervura prolongada, o que modifica muito
o gosto e até mesmo a estrutura do leite, do mel, e de outros alimentos. Assim, o
que se procura na pasteurização não é matar todos os microorganismos causadores
de enfermidades, mas eliminar, isso sim, a grande maioria dos micróbios perigosos
para os seres humanos. A pasteurização é extremamente importante, em termos
de saúde pública, pois é a melhor opção que temos para reduzir riscos causados
por alimentos líquidos. Além disso, é muito importante também para evitar a
fermentação do mel. Frei Diego de Landa (1864=1993 p138) e L. de Cardenas
(1591=1945 pp.l47- 149), há mais de 400 anos atrás, nos seus livros sobre os
índios mexicanos, já se referiam à necessidade de aquecer o mel das abelhas
indígenas.
No que diz respeito às enfermidades que poderiam ser transmitidas através do mel,
parece-me que a principal delas, por ser muito comum e ter grande importância em
termos de saúde pública, é a hepatite tipo A.
Em muitos países, grande parte da população humana já teve essa enfermidade
n’alguma ocasião de sua vida. Isso pode ser constatado através do exame de
anticorpos existentes no sangue das pessoas. Assim, 45% dos habitantes dos USA,
76% do Senegal, 81% da Bélgica, 89% de Taiwan, 95% de Israel e 97% da antiga
Iugoslávia, tiveram a hepatite tipo A.
Como pasteurizar
Aquecimento e botulismo
Botulismo é uma intoxicação alimentar muito grave, causada por uma toxina
produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Os seus esporos (forma de
resistência) podem ser eliminados pelo aquecimento, se estc for muito intenso, mas
isso destruiria também o próprio mel.
Contudo, os esporos rarissimamente dão origem a uma infeção botulínica, que
produz a toxina botulínica, em pessoas maiores de 1 ano de idade. Nas crianças
menores de 1 ano, porém, a produção intestinal da toxina botulínica pode ser
causada pela ingestão de mel e não tem sido rara nos USA. Eventualmente tais
esporos foram encontrados também no xarope de milho (D. A. Kauter, T. Lilly Jr, H.
M. Salomon & R. K. Lynt (1982 p. 1028). Ao contrário dos esporos, a toxina
produzida por essa bactéria é mais prontamente destruída pelo calor (The New
Encyclopaedia Britannica, Micropaedia vol.2 pp.4l5-416). Mais precisamente, para
destruir a toxina botulínica é necessário aquecer o alimento que a tiver, durante 30
minutos a 80°C ou ferver (100°C) por alguns minutos (G. Sakagushi, 1979 p.432).
Informações sobre sintomas, caraterísticas e tratamento do botulismo, podem ser
encontrados no próximo Capítulo (28) sobre “Méis, melatos e samoras/saburás
(pólens) tóxicos para pessoas”. No referido capítulo á um subcapítulo sobre “O
botulismo infantil e o mel”. É muito importante a sua leitura, pois trata de uma
questão pouco divulgada na Federação Brasileira.
O papel da acidez em conjunto com a temperatura
M. Gonnet & P Lavie (1960 pp.362, 364) verificaram que o “valor do pH do mel
desempenha um papel muito importante na conservação ou na alteração do fator
antibiótico durante uma elevação da temperatura”.
Rychlik & Dolezal, em 1961, e Dolezal & Medrela-Kuder em 1988, verificaram que
houve méis de Apis .rnellifera que perderam quase completamente sua atividade
antibacteriana, quando guardados no escuro, a 4°C, durante 18 meses (apud Peter
Mollan, 1992 p.67). No entanto, M. Gonnet, P Lavie e Nogueira-Neto (l964p.3)
como já foi dito aqui, relataram que num mel de TIÚBA (Melipona compressipes)
que enviei aos colegas franceses, manteve-se sem alteração o teor antibacteriano
(inibina), mesmo depois desse mel ser guardado no escuro a 4°C durante 2 anos.
Em relação ao mel de Apis me1lfera, P. Mollan (1992 p,67) afirmou que, apesar das
divergências ... “quanto à estabilidade em temperaturas inferiores, contudo
geralmente a conclusão tem sido que o mesmo (o mel) é estável abaixo de 40°C”
Quanto à estabilidade das substâncias antibacterianas do mel, é também muito
importante considerar que a luz pode degradá-las. Isso foi constatado por Jonathan
W White, Mary H. Subers & A. 1. Schepartz, em 1963, na mesma ocasião em que
eles descobriram que a enzima glucose-oxidase produz o peróxido de hidrogênio
(inibina). Portanto, guarde os méis no escuro.
Jonathan White jr. e Mary H. Subers (1964) apresentaram um trabalho muito
importante sobre o efeito da luz em relação à enzima glucoseoxidase, produtora da
inibina (=peróxido de hidrogênio). Segundo esses autores demonstraram, em
certos méis essa enzima tem a sua atividade reduzida de modo relativamente
rápido, quando exposta à luz incandescente comum (de tungstênio), ou à luz solar
ou/e sobretudo à luz de tubos fluorescentes. Contudo, em outros méis a glucose-
oxidase é muito resistente a essas diferentes fontes luminosas.
A experimentação foi realizada com a utilização de filmes de mel, submetidos a
esses diversos tipos de radiações de luz. Contudo, segundo esses autores (op. cit.
p.823), a cor clara ou escura dos méis não influiu nos resultados. O trabalho
ressaltou o fato de que há uma suscetibilidade à luz muito diferente nos diversos
méis produzidos pela Apis meilifera.
A pesquisa foi realizada apenas com méis dessa abelha. É importante notar que a
glucose-oxidase produz o principal antibiótico existente no mel, a inibina (=
peróxido de hidrogênio). Sob um ponto de vista prático é importante, como já foi
dito aqui, guardar o mel colhido em lugar escuro. Como já expliquei, J. W White e
M. H. Subers (1964 p.828) salientaram que misturar diferentes tipos de mel pode
baixar o teor de inibina no produto composto. Poderia, segundo afirmaram,
introduzir num mel com muita inibina, um outro mel que teria pouca inibina e
também um fator natural de sensibilização aos efeitos da exposição à luz. Isso
aumentaria a sensibilidade à luz de toda a mistura e certamente pioraria a sua
qualidade.
Mel cristalizado
Tal como ocorre com o mel da Apis meilifera, também os méis de Meliponíneos
podem cristalizar. Quando se guarda o mel na geladeira comum, caseira, há uma
tendência à formação de cristais. Isso pode ocorrer em qualquer mel. Não significa
que o mel esteja “falsificado”, como pensam erradamente algumas pessoas. Na
minha opinião pessoal, o mel cristalizado é o mais gostoso. Contudo, há pessoas
que preferem o mel líquido. Para desfazer os cristais, basta colocar a massa
cristalizada numa panela e aquecer como se fosse uma pasteurização. Tome os
mesmos cuidados. Agite sempre a massa, para distribuir melhor a temperatura,
como já foi explicado neste Capítulo.