História e Municipalismo Na Madeira
História e Municipalismo Na Madeira
História e Municipalismo Na Madeira
REALIZAÇÕES
O MUNICIPIO DE S. VICENTE
ALBERTO VIEIRA
PROJECTOS DE INVESTIGAÇÃO
1
. O projecto foi iniciado e anunciado pelo Prof. Joel Serrão em 2.10.1993 no Diário de Notícias do Funchal e só agora com o
arranque da base de dados NESOS tem condições para andar.
2
. Os do Porto Santo e Machico foram publicados no Heraldo da Madeira em 1906 numa rubrica com o título Archivo da
Madeira, sendo recentemente republicados: Anais do Município do Porto Santo, P. Santo1989; "Apontamentos para a descrição
histórica topográfica e Económica do concelho de Machico", in Zita Cardoso, Machico Cidade Histórica, Machico, 1996, pp.15-
65. Existe ainda outro texto sobre este concelho: "Apontamentos para a Descrição Histórica Topográfica e Económica do
Concelho de Machico", in Das Artes e da História da Madeira, n1.13(1952), 17(1954), pp. 35-37, 53-56.
S. Vicente foi pioneiro ao nível das monografias centradas no município ou
freguesia. Em 1944, aquando do segundo centenário, o facto não passou em claro,
não obstante o período negro da guerra mundial. A 25 de Agosto houve grande
animação na Vila, com sessão solene, que contou com a presença do Governador
Civil, e um cortejo alegórico. A tudo isto juntou-se a sucinta monografia de Alberto
Artur Sarmento, com o titulo: Vila e Freguesia de S. Vicente. Ilha da Madeira. Tal
como se pode inferir o objectivo deste erudito era apenas evocar a freguesia sede do
concelho. O mais significativo desta brochura é, sem dúvida, a documentação
reunida no final do volume sobre a controvérsia que gerou a criação da vila. A
monografia foi escrita em 19443 por A. A. Sarmento para comemorar o segundo
centenário da elevação. Aquilo que o autor conseguiu reunir resume-se a algumas
generalidades sobre o nosso passado. Note-se que é o mesmo autor quem ensaia uma
sínteses das freguesias da ilha em Freguesias da Madeira (1932). Na mesma linha
poderá considerar-se as entradas do Elucidário Madeirense sobre os diversos
concelhos. Todavia é necessário algum cuidado quanto às datas4
A primeira tentativa de estudo monográfico dos concelhos iniciou-se com
Manuel Ferreira Pio sobre os de Santa Cruz e Santana5. Na mesma linha temos
os estudos de João Adriano Ribeiro6 sobre Ponta de Sol, Porto Moniz e Ribeira
Brava e Zita Cardoso7 sobre Machico. Esta última quanto às vereações limita-se
apenas a fazer o sumário das referentes ao período de 1881 a 19398.
Os estudos sobre o municipalismo tendo como base as vereações
iniciaram-se em 19859 com o estudo sobre o município do Funchal, a que se
seguiram outros sobre o mesmo e a Ponta de Sol10. É lamentável que em algumas
edições recentes se esqueça premeditadamente estes trabalhos que em certa
medida foram a mola propulsora do interesse e estudo do tema11.
Por outro lado o CEHA deu inicio em 1995 a um projecto da
responsabilidade do Dr. José Pereira da Costa de publicação sistemática das
vereações madeirenses. Saiu já o volume das do Funchal do século XV e prepara-se
já a edição das referentes ao século XVI do Funchal, Santa Cruz e Ponta de Sol.
3
Vila e Freguesia de S. Vicente ilha da Madeira, Funchal, 1944.
4
. O de Santa Cruz é apontada a data de 26 de Junho de 1515, com base na leitura do alvará de Álvaro Rodrigues de Azevedo,
Anotações in Saudades da Terra, Funchal, 1873, pp.305-307, situação rectificada por Damião Peres em Livro Segundo das
Saudades da Terra, Porto, 1925, p.98 e a Calheta a 1 de julho de 1502.
5
. Santa Cruz da Ilha da Madeira- Subsídios para a sua História, Funchal, 1967; O Concelho de Santana- Esboço Histórico,
Funchal, 1974.
6
Ponta de Sol. Subsídios para a sua História, 1993, Porto Moniz. Subsídios para a sua História, 1996, Ribeira Brava.
Subsídios para a sua História, 1998.
7
Machico Cidade Histórica, Machico, 1996.
8
. Ibidem, p.253-297
9
Alberto Vieira, V. Rodrigues e Avelino Menezes, "O Município do Funchal (1550-1650): Administração, Economia e a
Sociedade. Alguns Elementos para o seu estudo", in Actas do I Colóquio Internacional de História da Madeira. 1986, Funchal,
1989, 1004-1089
10
Alberto Vieira e Victor Rodrigues, A Administração do Município do Funchal (1470-1489), in Actas do II Colóquio
Internacional de História da Madeira, Lisboa, 1989, 23-39; Idem, Ponta de Sol. Um Século de Vida Municipal.1594-1700, in
Actas do III colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1993, 265-280.
11
. No texto de João Adriano Ribeiro sobre Ponta de Sol não feita qualquer alusão ao nosso estudo sobre este município
citado acima.
questões mais pertinentes dissolvem-se no diálogo quotidiano não institucional. Esse
é apenas privilégio de memorial oral, hoje possivelmente reconstituído através da
chamada História Oral. Analisados os cento e seis anos de vida municipal conclui-se
que esta realidade dependerá sempre dos intervenientes, mas de modo especial ao
presidente, que dirige os trabalhos, e ao escrivão ou outro qualquer a quem seja
acometida a tarefa de redigir as actas. São eles o espelho duma realidade que hoje
apenas se mantêm na memória de alguns.
Tenha-se em conta que não existiam regras precisas para a redacção das actas, a
sua estrutura dependia da capacidade do escrivão. Somente a partir de 1872
sabemos da necessidade dessa de modo a que facilitasse a posterior consulta. Assim,
a primeira parte era ocupada com o despacho do expediente referente aos ofícios
recebidos e requerimentos apresentados pelos munícipes. Nos anos quarenta do
nosso século, de acordo com o estatuto dos distritos autónomos, esta passará a ter
uma estrutura rigorosa: primeiro o despacho dos ofícios presentes de diversas
repartições. Depois os requerimentos, normalmente de obras, seguindo-se as
deliberações das sessões e as contas presentes para pagamento. Concluído tudo isto
a sessão era interrompida 15 minutos de modo a que fosse redigida a acta que
depois seria assinada por todos os presentes12.
O discurso indirecto nem sempre obedece aos requisitos e exigências do
historiador. A opinião, o debate são falsas realidades nesta tribuna que deveria
viver disso mesmo. Perante nós desfilam páginas e páginas de sessões, ou de
transcrição sumária de petições, ofícios e requerimentos. A unanimidade parece ser
a palavra de ordem nos últimos cinquenta anos.
Para colmatar algumas das lacunas evidentes que prejudicam a definição da
estrutura institucional na evolução e quotidiano concelhio o historiador tem
necessidade de confrontar as actas camarárias com outros dados conexos, caso seja
intenção reconstituir as ambiências que dominaram da História do Concelho.
A intervenção do concelho é abrangente, pelo menos é isso que reflectem as
actas. Pela mesa das sessões, por intervenção directa dos munícipes ou dos
vereadores, passam não só os problemas do dia a dia do concelho, mas também as
ambições de um progressivo desenvolvimento do concelho.
As leis estabelecem as normativas mas o homem que as praticam molda-as
em benefício próprio ou colectivo. Daqui resulta a necessidade de acompanhar estes
agentes presentes ou encobertos na estrutura municipal e o dia à dia desta vivência
para depois podermos defini-la. A Vereação, não obstante as vicissitudes a que a sua
alçada esteve sujeita, é o princípio de tudo. Os vereadores, por sua vez, são os
verdadeiros protagonistas dos múltiplos acontecimentos que definem o esqueleto da
História municipal.
Não tenhamos ilusões. Nem tudo o que acontece tem passagem obrigatória
pela sala das sessões e tão pouco as actas podem ser consideradas o semanário das
vivências do concelho. Reconstituir a realidade apenas pelo actas é submeter o
passado aos crivos das contingências institucionais e do empenho individual do
pequeno grupo que tem assento no concelho. Mesmo assim são uma das poucas vias
possíveis e em alguns casos a única.
12
. Vereação de 2 de Janeiro de 1926.
O MUNICIPIO DE S. VICENTE: A CRIAÇÃO
17 . Eduardo Castro e Almeida, Achivo de Marinha e Ultramar Madeira e Porto Santo, Vol. II, p. 165, Docs. n1 8311-316.
18
Vereação de 3 de Fevereiro
19
. Código Administrativo de 18 de Março de 1842, ed. anotada, Lisboa, 1865.
As eleições para a assembleia do concelho tinham lugar num domingo em
cada uma das freguesias, sob a superintendência dos vereadores20. Escolhia-se um
juiz eleito, de paz e de junta de paróquia. Vejamos o que sucedeu em 1869:
20
. Vereação de 17 de Novembro de 1869, 1 e 15 de Dezembro de 1869.
Na eleição para o conselho municipal fazia-se uma lista dos cinco maiores
contribuintes por ordem decrescente, tal como o estabelecia a lei de 23 de Novembro
de 1859. Os substitutos tinham lugar na ausência dos efectivos ou face às
incompatibilidades detectadas. Os contribuintes em questão eram convocados
obrigatoriamente em Dezembro por carta do administrador do concelho e caso não
justificassem a sua ausência sujeitavam-se a uma pena até 40$000 réis21. Feita a
eleição nova ordem era dada aos escolhidos para a tomada de posse no dia dois de
Janeiro do ano imediato22. Para atribuir maior solenidade ao acto eleitoral a
Câmara decidiu construir em 187823 uma urna eleitoral que lhe custou 10.000 réis.
O código de 1842 foi revogado a 1 de Janeiro de 1879 dando lugar ao novo
aprovado em 1878. Aqui uniformizou-se os actos eleitorais e da lista de eleitores. Por
outro lado para acabar com a sua assiduidade estabelecendo que os actos eleitorais
teriam uma periodicidade quadrienal, sendo renovados de dois em dois anos. O
exercício das funções era gratuito e obrigatório e por isso não se tornava muito
cativante para a maioria dos munícipes, sendo portanto exercido por quem tinha
meios suficientes para o seu sustento. Era afinal um serviço prestado ao município
sem qualquer contrapartida. Ela a existir estava fundamentalmente no prestígio que
atribuía aos seus intervenientes.
Com o novo código aprovado a 17 de Julho de 1886 os mandatos são trienais,
sendo os candidatos ao cargo alfabetizados. São ainda estatuídas normas para a
nomeação do presidente e vice-presidente, eleitos por um escrutínio secreto, em
sessão presidida pelo juiz mais velho. O Administrador do concelho assume-se como
o delegado do Governo sendo nomeado pelo Governador Civil24. Entretanto este
código, que havia sido reformado pelo decreto de 6 de Agosto de 1892, dá lugar a
outro novo aprovado por diploma de 4 de Maio de 1896.
O Concelho de S. Vicente criado em 1744 englobava as freguesias do actual
concelho do Porto Moniz, que lhe foram retiradas em 1835 com a criação do novo
concelho. Todavia este último foi alvo de inúmeras peripécias, tendo sido extinto por
três vezes (1849, 1867, 1895). A última ocorreu em 18 de Novembro de 1895 ficando
sob a alçada do de S. Vicente25. Os Arquivos do Município e da Repartição da
Fazenda foram transferidos em Junho tendo-se gasto 28$770 rs26. Mas a situação foi
passageira uma vez que em 13 de janeiro de 1898 é restabelecido por decreto o
concelho, reinstalado a 13 de Fevereiro. Foi dissolvida a Câmara Municipal de S.
Vicente, ficando uma comissão municipal em exercício até novas eleições27. O acto
eleitoral que lhe sucedeu deve ter sido muito conturbado uma vez que o Governador
enviou seis guardas Apara policiarem esta vila por occasião das eleições municipaes@28
Em 1908 a Câmara esteve provisoriamente suspensa. Assim, de acordo com o
decreto de 12 de Dezembro de 1907, o Governador Civil nomeou a 23 de Dezembro
uma comissão administrativa que ficou a gerir os negócios do concelho após um
prazo muito curto, uma vez que a 15 de Fevereiro de 1908 foi restabelecida e
reassumiram as funções os Vereadores da Câmara dissolvida29.
21
. CMSV, l1 6, fl. 49, 23 de Dezembro de 1891
22
. CMSV, l1 4, fl.24, 29 de Dezembro de 1879, l1.5, fls. 58-58v1, 23 de Dezembro de 1885
23
. Vereação de 24 de Outubro e 7 de Novembro de 1878.
24
. Cf. Código Administrativo aprovado por decreto com força de lei de 17 de Julho de 1886, Porto, 1886.
25
. Vereação de 3 de Dezembro de 1895.
26
. Vereação de 11 e 20 de Junho, 31 de Outubro de 1896.
27
. Vereação de 12 de Fevereiro de 1898.
28
. Vereação de 19 de Novembro de 1898.
29
. Vereação de 2 de Janeiro e 27 de Fevereiro de 1908.
Em 1910 com a República a estrutura camarária será alvo de novas
mudanças. A lei de 13 de Outubro de 1910 retoma o código de 1878. Aqui ganha
força a autonomia municipal, acabando-se com a figura do administrador do
concelho, cujas funções passam para a alçada do presidente. De acordo com a lei n.1
88, de 7 de Agosto de 1913, os mandatos eram trienais, sendo os vereadores eleitos
pelos cidadãos com capacidade para isso. Assinala-se uma mudança significativa na
estrutura municipal. A presidência da Câmara é assegurada por um presidente,
vice-presidente, secretário e vice-secretário. A Vereação deu lugar à comissão
executiva composta de cinco elementos, sendo um presidente, um vice-presidente um
secretário e dois vogais. Esta tinha funções deliberativas e deveria reunir-se quatro
vezes no decurso do ano civil.
A presidência era nomeada pelo Governador Civil, sendo de sua confiança,
deste modo face à existência de novo Governador estava aberta a possibilidade de
exoneração. Foi isso que aconteceu em 191230. A 4 de Abril tomou posse o novo
Governador e a Presidência da Câmara solicitou a sua exoneração passados seis
dias, tendo este nomeado uma nova.
A eleição da comissão executiva era feita por escrutínio secreto sob a
superintendência do presidente31. Em 192132 os cargos de presidente, vice-
presidente, secretário e vice-secretário eram estabelecidos por listas de escrutínio
secreto retiradas da urna. Passados dois anos ocorre nova mudança na estrutura
municipal. O decreto-lei n.1 11 875 de 13 de Julho de 1926 dissolve o sistema
municipal ficando com o encargo do expediente o administrador do concelho.
Entretanto o Governador Civil estava obrigado de num prazo de vinte dias indicar
ao Ministério do Interior seis cidadãos, sendo três efectivos e três suplentes, para
pertencerem à comissão administrativa.
O decreto de lei n.1 19 694 de 5 de Maio de 1931 estabelece as normas que regem a
eleição dos vogais da Câmara, dando-lhe um cariz corporativo ao estabelecer a
eleição através das Juntas de Freguesia e corporações existentes no concelho.
Entretanto, a partir de 1936 a figura do presidente assume uma desusada
importância. Este, que é nomeado pelo governo, assume-se como o seu representante
e acumula as funções policiais que havia sido do administrador. O município é assim
definido pela figura do presidente, do conselho municipal e de Câmara Municipal.
Para a Madeira foi definida uma situação especial que ficou exarada no estatuto
aprovado em 194733.
Os mandatos do presidente e vice-presidente eram estabelecidos por quatro
anos e ninguém se poderia escusar. Os vereadores eram eleitos pelo conselho para
um mandato de três anos. O seu exercício era gratuito e obrigatório.
Até 1933 os corpos administrativos da Câmara, são eleitos todavia estão sob a
tutela de uma figura de nomeação de confiança do governo, isto é o administrador
do concelho. A partir de 1933 muda a filosofia do governo municipal. extingue-se a
figura do administrador do concelho, substituído pelo presidente que passa a ser de
confiança do governo, sendo de nomeação, enquanto os Vereadores são eleitos, mas
afectos ao poder político. Uma das alterações mais significativas tem lugar com as
república. De acordo com a lei n.1 88 de 7 de Agosto de 1913 estabeleceu-se a
30
. Vereação de 25 de Abril.
31
. Vereação de 2 de Janeiro de 1914.
32
. Vereação de 21 de Janeiro de 1921.
33
. Estatutos dos distritos autónomos das ilhas adjacentes, Ponta Delgada, 1972
existência em cada concelho de uma Câmara Municipal eleita definida pelo senado
municipal e comissão executiva. O primeiro era uma assembleia deliberativa e tinha
a obrigação de reunir duas vezes no ano, enquanto a segunda era eleito pelo senado,
sendo a substituta da Vereação a quem competia acudir ao expediente.
A partir de 1926 com a mudança de regime repercute-se de forma evidente
no poder autárquico. Foram criadas comissões administrativas a quem foi atribuído
todo o poder municipal, no qual se integrou desde 1927 o administrador do
concelho. De acordo com o código de 1940 os órgãos da administração do concelho
passaram a ser os seguintes: o conselho municipal, a Câmara Municipal, o
Presidente. O conselho Municipal sucede ao senado municipal com funções
semelhantes, de que se destacam as funções de fiscalização e de eleição dos
vereadores. É o órgão representativo das diversas corporações municipais. A
Câmara, por sua vez, é composta pelo presidente, vice-presidente e vereadores: os
dois primeiros são de nomeação e os seguintes de eleição pelo conselho municipal.
O mandato do presidente da Câmara é de quatro anos, podendo ser
reconduzido por duas vezes. De acordo com o decreto-lei n.1 49268, de 26 de
Setembro de 1969 ao presidente é permitido delegar competências, o que acontece
com o Vice-presidente que, para além de o substituir nas ausências, assume a figura
do antigo administrador do concelho com funções policiais.
A VEREAÇÃO VICENTINA
34
. Vereação de 2 de Dezembro.
35
. Vereação de 17 de Janeiro.
36
Vereação de 19 de Julho
também o momento de eleição do presidente e vice-presidente, situação que se
prolongou até ao código de 1933.
A Vereação deveria reunir-se de acordo com a periodicidade exarada nos
diversos códigos, sendo o dia estabelecido na primeira sessão do ano, que podia
ocorrer em qualquer dia da semana, estabelecendo-se de acordo com a conveniência
dos seus membros37. O dia da semana que mais ganhou adeptos foi o sábado38 e a
quinta-feira.
37
. Em 26 de Março de 1876 as sessões ordinárias serão às terças-feiras, mas a 1 de Junho passou para a quinta-feira, e a 2 de
Agosto para a quarta-feira.
38
. Vereação de 17 de Janeiro de 1874, 8 de Janeiro de 1898.
De acordo com as diversas regulamentações era Arigorosa obrigação de haver
sessão uma vez cada semana@39. Mas num concelho como o de São Vicente, onde a
população está dividida em três freguesias, a reunião dos oficiais camarários não era
fácil. As sessões eram quase sempre convocadas para uma hora a meio do dia, no
sentido de permitir a presença.
A alçada dos vereadores evolui ao longo do tempo e ajusta-se aquilo que os
políticos pensam que deve ser a sua função. Em todos os casos a intervenção é
evidente no dia à dia do concelho.
Uma das formas de intervenção do município acontecia com a definição do
código de posturas. Nestas estabeleciam-se as normas de direito municipal que
regulavam o quotidiano dos munícipes.
Com os tumultos de 12 de Abril de 1868 foram destruídos os lançamentos e
código de posturas, tornando-se necessário a elaboração de novos40. O projecto era
da responsabilidade do presidente que depois deveria submetê-lo à aprovação da
Câmara e conselho municipal41, sendo depois enviadas para o tribunal superior.
Assim sucedeu em 5 de Outubro de 187042. Entretanto em 3 de Fevereiro de 1882 foi
nomeada uma comissão para rever as posturas constituídas por cinco munícipes
O funcionamento da instituição assentava num número reduzido de
funcionários. Assinala-se apenas a presença do porteiro da Câmara, o amanuense,
escrivão da Câmara. Aqui juntam-se outros com um estatuto diverso. Estão neste
caso o zelador, o aferidor e o procurador da Câmara.
Em 192943, de acordo com regulamento interno, todos os funcionários deveriam
assinar o ponto das onze às doze horas e no caso do apontador e zelador eram
obrigados a comparecer todos os dias úteis até às doze horas na secretaria para
assinar o livro de apresentação e saberem do serviço. Entretanto o serviço de
expediente da secretaria deveria permanecer aberto até às quinze horas.
O administrador assume um papel fundamental no concelho. É ele quem
desempenha as funções de representação do governo na administração geral na
segurança pública concelhia. Juntamente com o regedor na freguesia são os
magistrados administrativos. São os agentes de confiança do partido do governo que
os nomeava, exercendo a tutela administrativa sobre os municípios e freguesias. Era
ele quem, em nome do Governador Civil, dava posse aos Vereadores44.A nomeação
do administrador ocorria quase sempre com a nomeação de um novo governador. A
omnipresença do administrador do concelho teve início em 1836 com o código de
Passos Manuel e manteve-se até à constituição de 1933. De acordo com a nova
realidade o presidente da Câmara de nomeação pelo governo, passou a preencher as
funções do administrador do concelho. Também o regedor perdeu quase todas as
prerrogativas mantendo-se apenas com auxiliar da presidência da Câmara.
39
. Vereação de 8 de Junho de 1876.
40
. Vereação de 7 e 19 de Outubro de 1870.
41
. Vereação de 7 de Julho de 1869.
42
. Vereação de 19 de Abril de 1871.
43
Vereação de 26 de Janeiro
44
. Vereação de 27 de Fevereiro de 1908.
ANEXO
MAPPA DA FREGUEZIA DA VILLA DE SÃO VICENTE, E SUA
JURISDIÇÃO. ABRIL 15 DE 181745
Confina esta freguezia, pello Northe, com o mar, rumo de nordeste, sul, con o Corral
das Freiras; leste, cob a freguesia de Santa Anna47, pello o Este, con a freguesia do
Arco48 desta freguesia.
ESTENÇÃO. Terá de fundo huma legoa; e de leste, ao Este, terá também, huma
legoa de largura49. He bem cituada, quaze toda asua supperficie he plana; he esteril
d=agos, e por iso padece mais falta de mantimentos; porem a sua maior prudução, he
vinho; alem de algumas verduras, e grão.
ARCO DE S. JORZE
45
. Este documento foi-nos facultado pelo Arquivo Regional da Madeira, a quem agradecemos a sua cópia, tendo sido
encontrado no núcleo de documentos avulsos da Câmara do Funchal. ARM, Documentos Avulsos, caixa 13, n1.1644
46
. Por estimação, por não haver notticia, de huma medição exacta. Será notada sua largura, na dizcripsão das freguezias.
47
. Veja-se esta confrontação de leste, pella da jurisdição
48
. Con a freguesia chamada do Arco de S. Jorze
49
. Calculado por estimação.
Confina pello Northe, con a Marinha; sul con a freguesia de S. Jorze, e Ponta
Delgada; leste con a Ribeira funda50. Oeste con a Ribeira chamada do Porco,
extrimidade pella quella parte da freguesia da Ponta Delgada.
PONTA DELGADA
Pello Northe confina, con o mar; sul con o corral das Freiras, ja sobreditto; Leste,
con a freguesia do Arco de São Jorze51 , sendo sua partilha o Passo d=Areia logar este
perigozo, por cer hum peito de rocha cuja imminencia cahi sobre o calhau contiguo
ao mar52. Do mar a serra, terá legoa e meia, e de largura terá duas legoas. Tem uma
povoação, chamada Boaventura; Hé cortada em trez ribeiras duas entreção muito a
cultura; e huma nada lhe he util, por correr muito do pavimento da terra. A sua
maior prudução he vinho de sofrivel qualidade; inhamenes, e mais verduras; trigo,
pouca quantidade seria mais fertil de vivres, se se tomace, as agoas daquella ribeira
por levadas, ao pé da serra, donde tem seu nascimento; porem com ajuda de regio
braço. O terreno he contudo excelente, porque pruduz muito bem, tudo o que se lhes
planta, ou semeia: tem-se extendido a povoação quaze legoa e meia, em que tem
penetrado parte da serra, a que chamão achada do urzal, honde vivem alguns
cazaes.
Os seus templos, são a parrochia da Ponta Delgada, que tem o nome, do Senhor
Bom Jezus cruxificado. A capella de Santa Quiteria na Boaventura; A capella de
Santa Anna na Fajãa do Penedo; E a capella dos Santos Reis Magos, no chão da
Ponta Delgada que adeministra João de Carvalhal; a de Santa Anna na Fajãa do
Penedo pertence ao Manjor João António de Govea Rego; e ha outra da mesma
invocação de Santa Anna no xão da dita freguesia que administra o doutor
Maurissio.
50
. Povoação da freguesia de S. Jorze
51
. Veja-se a partilha desta freguesia para o Este.
52
.He pasaje da estrada, da villa de São Vicente, para aquellas freguesias
53
. Esta he a Ecomiada, de que se fala na confrontação geral da jurisdição, e divide pello seu cume, esta freguezia, da da
serra d'Agoa, para aquella partte do sul.
54
. São estas terras pertencentes a esta freguezia, e parte a ponta delgada, são parte pastos de gados, e parte semeadiças; a
falta d'agoa as inculta por serem altas
A sua extenção, de leste, ao este55 tera legoa e meia, o mesmo tera no logar
centeral da freguezia; outro tanto tera da marinha do northe, athe a Ecomeada já
ditta em outro logar. Será destancia de 1/4 de legoa do calhau the honde e acha
colocada a villa, numa perfundidade, que tem para a parte de leste a Ribeira, e por
toda a mais circonferencia he cercada de alta rocha; poucas cazas, e menos
moradores. Quaze toda a circonferencia da ditta freguezia se acha cultivada ,
porque he banhada por trez ribeiras donde as lavradores con suas industrias terão
muitas levadas, por isso fertil em toda a qualidade de grão, em abondancia. He
contudo montuoza e por isso no fim de alguns anos não será tão cultivada por cauza
de se disperem as terras com as inundações.
Sua maior prudução, he a de vinho, de infrior qualidade, trigo, feijão, inhame;
semilhas com menos abndancia. Pouco resta por cultivar que não tenha escapado ao
braço do lavrador. Tem muitos pastos para defrentes qualidades de gados, porem
estes poucos e por cauza do latrocinos, haveria muita abundancia. Porduz muitos
matos de que se otilizão os lavradores, para a cultura e tambem lanhas para a
servisso particolar delles.
PORTO DO MUNIS
RIBEIRA DA JANELA
55
. Que he do ditto Passo d'area, the a ditta ribeira de João Delgado pella faldra maritima.
56
. He esta freguezia, a ultima da jurisdição desta villa, para aquella parte do este, como se verifica, na confrontação da
mesma jurisdição.
57
. Acha-se aquella capella sobre terreno desta jurisdição em parte, e parte sobre terreno da freguezia da Ponta do Pargo.
Tirou esta freguesia, o nome, de hum ilheo, que a natureza depositou, no mar, con
hum boraco a meio, como janella, defronte da imbocadura da ribeira, dauella
mesma freguezia.
Confina pello norte, con o mar; sul con o Paul da Serra; leste con a freguesia do
Seixal por hum ribeiro -chamado da Ponte-- e o este con a ribeira, asima ditta.
Tem de largo meia legoa; e do mar ao Paul da Serra duas legoas; porem o
povoado, e cultivado tera 3/4 de legoa.
SEIXAL
Confronta esta freguezia, pello northe con o mar ditto; sul con o Paul da Serra; leste
con a Ribeira de João Delgado58; e o este con a ribeira da ponte.
Tem de largo huma legoa e 1/4; e de comprimento athe serto limite do Paul da
Serra, duas legoas
NB. A rezão porque São Jorge, Arco de São Jorge, e Ponta Delgada confinão pello
sul con a freguezia do Curral das Freiras; he porque estes trez freguezias, tomão a
sua posição, correndo da parte do northe(em que lhe fica o mar delle por ponte)
para o sul em figura piramidal, ali todas se encontrão, humas vezes pellas
montanhas outras pellas pelanices fazendo a seu termo nas serras encostadas ao
ditto corral das Freiras; Asim se observa na freguezia do Arco de São Jorge, que
alargando a sua faldra// alargaaando a sua fladra maritima, corre para a sul na
ordem da mesma figura, e para a parte do norte honde se acha a povoação forma
hum semicirculo de alto rochedo, e dahi as serras mistas das duas freguezias dos
lados como se mostra na figura59.
Ambas são montuozos, e parte da marinha são emenencias de rochas, que
cahem sobre os mares; e algumas das estradas são perigosssimas, por cotarem pello
meio daquellos iminencias, asim como a chamada -- introza-- que vai para a
freguezia do Arco. O mesmo se mostra que, as freguezias, Porto do Munis, Ribeira
da Janella, Seixal, e a freguezia de São Vicente, partirem estas con o Paul da Serra,
58
.He aquella ribeira de João Delgado, a extrema, que devide aquella freguezia do Seixal, desta da villa de São Vicente de sorte
que o Seixal, parte para leste con a freguezia de São Vicente naquella ribeira, e a freguezia de São Vicente par o este, con a dita
ribeira.
59
. He por uma idea calculada.
pello sul; porque tambem correm de sua faldra maritima, para aquella porta. Em
figuras piramidaes, athe se encontrarem na beira do dito Paul60 alem de que a
freguezia de São Vicente forma pellas suas serras hum circulo imperfeito, e vem-se
estreitando para a parte do mar honde pellas suas iminencias forma huma boca
muito baicha, e fica em plano orizontal con o mar do norte, e o //mais do seu centro,
he tudo montuozo.
60
. He por uma idea calculada
61
. Segundo as sallarios, que lhe dá a provizão de 10 de Oitubro de 1754.
62
. Comprehende esta jurisdição, e a villa de Machico .
e outro companheiro63 2 a quantia de 100$
o segundo 60$ 160$000
Porteiro da camera 1 salario pago pello senado 15$000
Porteiros do judicial 6 cada hum vencerá 30$ 180$000
Carsareiro da villa 1 prés e precalso 11$500
Salario pello senado 8$500 20$000
PONTA DELGADA
NB. Todas as demais freguezias, desta jurisdição, tem cada huma ha hum escrivão
pedanio, (alem de hum juis tambem pedanio,sem immulumentos) hum alcaide, e
dois porteiros: a saber.
Os escrivans de cada huma dellas, prés e precalsos, 50$ rs 250$000
Os alcaides de cada huma 5 ditto ditto 20$ rs 100$000
Os porteiros de cada huma 10 ditto ditto 15$ rs 150$000
EXPLICAÇÃO
ERROS
Finis
63
. Tambem comprehenden esta jurisdição.
64
. Regra primeira depois do mappa
65
. E em 11 o mais discurso desta freguesia, e da do Arco
66
. E em todos os nomes desta natureza
BIBLIOGRAFIA
SOBRE
OS MUNICÍPIOS NA MADEIRA67
1. FONTES
COSTA, José Pereira, Vereações da Câmara Municipal do Funchal, século XV, Funchal, 1995
MACHADO, José Rafael Basto, Câmara Municipal de Ribeira Brava. Relatório das Gerências de
Agosto 1926 a Junho de 1933, Ribeira Brava, 1934.
MELLO, Luís Francisco Cardoso de Sousa, Tombo 11 do Registo Geral da Câmara Municipal do
Funchal, 11 parte, in AHM, vols. XV- XVIII, 1972-1974.
Tombo 11 do Registo Geral da Câmara Municipal do Funchal, 21 parte, AHM, vol. XIX,
1990
NASCIMENTO, Cabral, Arquivo Histórico do Município do Funchal, in AHM, Vol. I, 1931, 1-3,
49-51, 97-99; Vol. II, 1932, 53-55
Posturaz feitas na forma de ley este anno de 1738, in AHM, Vol. I, 1931, 164-170
Posturas que fizeram os officiaes do anno de oitenta e sete, AHM, Vol. I, 1931, 15-19, 73-
77
Ementa dos livros de vereações da Câmara do Funchal, AHM, Vol. III, 1933, 30-34, 102-
105, 129-138
Livro das Posturas desta Câmara da Cidade do FunchalY, AHM, Vol. II, 1933, 8-12
PEREIRA, Fernando Jasmins, Índice dos Documentos do século XV, Manuscritos no Tombo I do
Registo Geral da Câmara do Funchal, AHM , Vol. X, 1958, 55-138
Orçamento ordinário da receita e despesa para o ano económico 1954 da Câmara Municipal do
Funchal, Funchal, 1954.
67
. Siglas: AHM: Arquivo Histórico da Madeira; DAHM: Das Artes e da História da Madeira; CIHM: Colóquio
Internacional de História da Madeira; BIHIT: Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira.
1. BIBLIOGRAFIA: ESTUDOS GERAIS
ARAGÃO, António, Para a História da Cidade do Funchal. Pequenos passos da sua memória,
Funchal, 1983.
Resumo da Hera Patriotica ou Historia Geral da Ponta de Sol, in Brado d'Oeste, n1335-340, 1912
RIBEIRO, João Adriano, Ponta do Sol. Subsídios para a História do Concelho, Ponta do Sol, 1993
Porto Moniz. Subsídios para a História do Concelho, Porto Moniz, 1996
Ribeira Brava. Subsídios para a História do Concelho, R. Brava, 1996
VIEIRA, Alberto A Vila de São Vicente. Evocação dos duzentos e cinquenta anos(1744-
1994), S. Vicente, 1994.
(e João Adriano Ribeiro), Anais do Município do Porto Santo, Porto Santo, 1980
ARAGÃO, António, As Armas da Cidade do Funchal no Curso da sua História, Funchal, 1984-
Pelourinhos da Madeira, Funchal, 1959
FERRAZ, Maria de Lourdes de Freitas, A Ilha da Madeira sob o domínio da casa Senhoril do
Infante D. Henrique e seus descendentes, Funchal, 1986.
FERREIRA, Pe. M. Juvenal Pita, "Notas para a Freguesia de Santa Cruz", in DAHM, Vols. II-V,
n1s 8 a 28, 1951-1958
"O Infante D. Fernando Terceiro Senhor do Arquipélago da Madeira, 1460-1470", in
DAHM, n133, 1969.
O Arquipélago da Madeira Terra do Senhor Infante, Funchal, 1959.
FREITAS, Manuel Pedro de, "Caminhos e Lugares do Concelho de Câmara de Lobos", in Jornal
da Madeira, Funchal, 1997-1998(em vários números da edição dominical).
"161 anos de Presidentes na Câmara Municipal de Câmara de Lobos", in Revista-
domingo, Diário de Notícias, Funchal, 20 de Outubro de 1996.
NASCIMENTO, Cabral, Inglês rebelde aos melhoramentos camarários, in AHM, vol. II, 1932
O Pelourinho da Cidade do Funchal, AHM, Vol. III, 1933, 161-163
Anais do Porto Santo, AHM , Vol. V, 1937, 167-172
Anais de Santa Cruz, AHM , Vol. V, 1937, 123-128
RODRIGUES, Miguel, O Concelho do Funchal na 20 metade do século XV, Actas das Jornadas de
História Medieval, 1383/85 e a crise Geral dos Séculos XIV-XV, Lisboa, 1985, 189-198
Quotidiano dos Poderes no Funchal: Vereações de 1495-1496, in Islenha, 19, 1996, 5-28.
(e Rosa B. Oliveira) Espaços Políticos de Subordinações e Articulações, II CIHM, 1990,
43-65.
SANTOS, Manuela, Notas sobre a Fundação do Concelho de Câmara de Lobos, Girão, n1 1, 1988,
8-11
Notas sobre a Freguesia do Estreito, Girão, n1 4, 1990, 131-135
(Freitas, Graça)- Notas sobre a Freguesia de Câmara de Lobos, Girão , n1 5, 1990, 177-
180
SILVA, José Manuel Azevedo e, Funchal. Do estado nascente da sua Urbanização ao estado
institucional: Etapas, ritmos e funções, Islenha, 12, Funchal, 1993, 20-31
SOUSA, Álvaro de Sousa, Curiosidades históricas da ilha, in DAHM, 1948-49, vol. VI, n1.36, 1966
Talvez escrevaY., in DAHM, vol.II, n1. 11,1952
VAZ, Fernando de Menezes, Remexendo cinzas, in DAHM, vol. VI, n1.35, 1965.
VELOZA, José Ezequiel, O que era a política e a má língua madeirense no passado, in DAHM,
1948-1949.