L 10 Anos

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A g o st o / 1993 - Agosto / 2003

Centro Social dos Montes Altos

Centro Social dos Montes Altos

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FICHA TCNICA
Ttulo: 10 Anos de Vida! Edio: Centro Social dos Montes Altos Fotografia: Jaime Salvadinho & Rui Serra Composio Grfica: Rui Serra Grfica: ??? Tiragem: 500 Exemplares Depsito Legal: ??? Capa: Ana Maria Teixeira, Antnio dos Santos Manuel Francisco Afonso, Brbara Maria Luciana, Amlia da Conceio Loureno, Teresa Maria Loureno, Joana Loureno Preda, Maria Gertrudes Lopes. Contra Capa: Francisco Mauricio, Manu, Antnio da Palma, Jacinto Boga, Guanita da Catalina, Agostinha Graa, Antonica Nogueira, e outros dos quais no se sabe o nome.

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Prefcio
Redigir o editorial desta publicao, alusiva aos 10 anos de vida do Centro Social dos Montes Altos, constitui uma tarefa necessariamente incompleta, pois de todo impossvel narrar em meia dzia de linhas, o sonho, trabalho, desgaste, prazer e loucura que foram estes anos, onde mais de que construir um Lar, e tudo aquilo que lhe est ligado, fomos um laboratrio onde o social o cultural, o psicolgico ou o ldico se cruzaram de forma no raro intensa e irracional; onde os amores, os dios e o desgaste associados a complicados processos de gesto emocional estiveram na origem de presses a que nem todos resistem. Sou uma pessoa de convices e luto pelo que acredito. No vivo em funo de conjunturas nem cedo a maiorias que se fazem e desfazem em funo de interesses pessoais ou outros. Por isso mesmo tenho sido obrigado a dizer no sempre que verifico, com factos, que pretendem usar a minha pessoa ou a Instituio de que sou principal mentor e dirigente. Os que me conhecem sabem que a minha atitude ou vocao social no se iniciou h dez anos com a fundao do Centro Social dos Montes Altos. Sabem tambm que a trave mestra que tem conduzido o meu percurso de vida tem sido a solidariedade, a luta contra a pobreza e a excluso, numa atitude permanente, onde os mais frgeis ocupam um lugar especial no meu corao e constituem a minha principal preocupao. Falo dos idosos, dos deficientes, dos toxicodependentes, das crianas vtimas de maus tratos e de todas as minorias em geral. Entendo que o mundo pertena de todos e todos cabemos nele: todos diferentes, todos iguais! E assim sendo tem de haver um sentido de responsabilidade colectiva. Ningum se deve desresponsabilizar por aquilo que est mal ou por aquilo que acontece ao seu prximo. No meu mundo no cabe a hipocrisia, o aproveitamento ou a inveja estpida de quem muito tem e nada reparte, de quem no faz, no sabe fazer, no quer fazer e critica tudo o que o outro faz. Nestes dez anos de alguma solido fui pedreiro, servente (e continuo a ser), administrativo, contabilista, taberneiro, empregado de mesa, encenador, cantor, relaes pblicas, actor social, motorista, enfermeiro, confessor, missionrio e revolucionrio.

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Em conjunto com dezenas de homens e mulheres sonhei e coordenei a construo do Lar de Montes Altos, quase sempre ss, perante o olhar de um poder central e local com uma viso autista acerca do futuro (e os resultados esto hoje vista: um Alentejo subdesenvolvido, carente de equipamentos sociais; uma regio de reformados, funcionrios de Cmaras Municipais, frequentadores de cursos, beneficirios de rendimentos sociais de insero, programas ocupacionais e uma dzia de pequenas empresas que no empregam quase ningum). Montes Altos hoje a prova de que a luta contra o despovoamento e desertificao possvel, bastando para isso ter alma, acreditar, no recear as fracturas que agonizam e fermentam mal o po da partilha que Jesus nos ensinou. Esta luta, que congregou pessoas de todos os credos e ideias, qual tribo atravessando esta plancie alentejana, teve rostos, coraes e almas que no cabem neste texto, tantos as que foram. Porm a justia obriga a que mencione o nome de o homem que, durante os ltimos 6 anos, me acompanhou nesta luta e neste trabalho, com a entrega que s as criaturas especiais so capazes. Numa permanente atitude franciscana, tive sempre ao meu lado, e do Centro Social, o cidado Jaime Salvadinho. Diogo Sotero

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Montes Altos, Agosto de 2003


Comemoram-se dez anos de vida do Centro Social dos Montes Altos. A histria da sua fundao sobejamente conhecida, o trabalho desenvolvido mais ainda. Desde j, os parabns a todos quantos, ao longo destes dez anos, trabalharam para que o Centro seja o reflexo daquele Monte que povoa as histrias do passado. E os votos para que esta dcada seja a primeira de muitas, sempre a lutar por um presente melhor (primeiro passo para um futuro radioso). Com todos, para todos, como sempre foi, creio que ser possvel. Proponho-vos uma viagem pelo tempo. Vamos recuar dez anos, a Agosto de 1993, no final do perodo de frias, para depois analisar um futuro diferente daquele que viemos a conhecer, se uma certa conversa no tem ocorrido no poial porta da Loja. Como habitualmente, discute-se que as frias passam cada vez mais depressa, que mais onze meses de labuta na confuso de Lisboa esto prestes a iniciarse. Arrumam-se malas, fecham-se casas, fecha-se a velha escola cuja sala abre sobretudo em Agosto para espao de convvio. Tudo decorre como habitualmente, as pessoas despedem-se: ento at Pscoa, seno s em Agosto, outra vez!. O Inverno , como sempre, longo e frio. Os poucos residentes deitam-se ao Sol posto, lareira acesa, com o braseiro a aquecer corpo e alma, que o vento gelado a nica companhia nessas longas noites, uivando por entre as canas do telhado. Passa Natal e Ano Novo. Os dias vo crescendo e a Pscoa marca novo perodo de visitas peridicas a Montes Altos, cadenciadas ao compasso do relgio: Pscoa e Agosto, Agosto e Pscoa, repetindo-se sem fim... Aos poucos, a afluncia vai-se reduzindo. Os acessos e as condies de vida no ajudam. A estrada continua, ainda e a ser razo de queixa: L foi mais um pneu, devia era mandar a conta para a Cmara.... A gua era outra razo de queixa: mais um Vero de grande seca, j no posso ver a vaca de Barrancos, gua racionada? Torneiras somente hora de almoo para alguns! seno s porta da Loja... Para os resistentes, o muro da velha escola continua a ser o ponto de encontro nas quentes noites de Vero. preciso ter cuidado com essas frestas, costumam estar ali lacraus. L dentro da sala, uma velha TV a preto e branco debita imagens da novela da noite, avidamente seguida pela maioria das mulheres. Os mais novos organizam-se para mais uma ida Mina; a esplanada da penso deu lugar esplanada da Tapada como o stio mais in da noite mineira. Mas a estrada...
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Terminado Agosto, nova debandada geral, rumo ao bulcio lisboeta. A promessa fica uma vez mais: at Pscoa. E um novo longo e frio e solitrio Inverno se segue. Ano aps ano, aps ano... mais pessoas vo espaando o tempo de regresso, os acessos so to maus, se no fossem os velhotes no ia l... Muitas casas vo sendo fechadas por perodos cada vez mais longos, os telhados cedem, as paredes abrem rachas. O destino est traado... Montes Altos vai-se despovoando, avizinhando-se um fim semelhante ao das vizinhas Moitinha e Achada do Gamo. Em breve ser uma memria, mais um nmero nos pomposos discursos oficiais sobre a desertificao. Agosto de 2003. Montes Altos tem cerca de meia dzia de habitantes permanentes, que no quiseram, ou no puderam, procurar outras paragens. Alguns partiram para Lisboa, a doena e a idade a isso o obrigaram, pois neste confim do mundo no h assistncia Os reformados que ficaram em Lisboa recordam com saudade o seu Monte, l longe O nico automvel da terra serve de escapatria para o seu proprietrio, que insiste em no partir e d boleia aos companheiros, para as compras na Mina ou ir a Mrtola. A estrada l continua a devorar pneus, embora cada vez menos. gua j no problema, os vrios chafarizes funcionam regularmente, agora que o ms de Agosto j no traz os visitantes de outrora. A velha escola l est, abandonada. J comearam a destelhar o edifcio; na velha ardsia algum escreveu: Eu estive aqui, 31-08-93. Rui Constantino

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30 ANOS DE SOLIDO
10 ANOS DE LUTA CONTRA O ESQUECIMENTO
Dois subttulos, porventura pouco originais, designam o conjunto de pginas que se seguem. 30 anos de solido, que reportam ao perodo compreendido entre 1962 e 1993 (bem feitas as contas d 31 anos, mas ns preferimos os arredondamentos). 1962 no foi o fim da Mina, da Mina enquanto empresa que emprega pessoal, pois o ltimo despedimento verificou-se, efectivamente, quando decorria o ano de 1968. No entanto a actividade industrial extractiva cessou em 1962, e esse foi um virar de pgina, um marco simblico, que ditou o futuro desta regio. Aconteceu a Montes Altos o que sucedeu por todo este Alentejo: despovoamento, desertificao populacional. Efectivamente, aps o encerramento das minas de So Domingos a maior parte das pessoas, por falta de meio de sustento, abandonou esta regio. Foi assim que do quase meio milhar de habitantes, em meados do sculo passado, Montes Altos passou para menos de dez habitantes, no incio da dcada de noventa. Outro exemplo: na Mina de So Domingos a populao decresceu de cerca de 6000 para aproximadamente 800 habitantes. A este quadro juntou-se um cenrio de emergncia de uma multiplicidade de patologias do foro social, a par da precariedade econmica. Era portanto impossvel acreditar que Montes Altos pudesse fintar a morte, esse destino implacvel que acabou por ultimar algumas povoaes vizinhas, entretanto extintas. Mas algum ousou o impossvel, ou seja, contrariar a consensual e passiva espera do fim e inverter, mesmo beira do abismo, o processo de morte da povoao. E isso aconteceu no Vero de 1993, o outro ano de referncia, simbolizador do incio do fim da solido e do princpio da luta contra o destino, um destino de solido e esquecimento.

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Foi assim que, movidos por um amor terra e pela memria das suas razes, um grupo de naturais do Monte, sob orientao de Antnio Diogo Sotero, entendeu criar no ano de 1993 o Centro Social dos Montes Altos, com o objectivo primordial de viabilizar a continuidade da povoao. Desde a sua fundao o Centro Social estabeleceu como prioridade a interveno junto da populao idosa, comeando desde logo a apoiar os idosos residentes na povoao. Paralelamente surgiram outras reivindicaes, entretanto apoiadas pelo novo movimento gerado em torno do Centro, que vieram a concretizar-se: gua canalizada e alcatroamento do troo de estrada que liga o Monte Mina de So Domingos, para falar nas principais. Montes Altos comeava finalmente a sair do fim do mundo e a ficar menos longe do espao dos acontecimentos. Vamos abreviar a histria para no corrermos o risco de no a conseguirmos acabar. Efectivamente o Centro Social no parou de crescer. Primeiro foi Centro de Dia e de Convvio, depois veio o servio de apoio domicilirio. Entretanto foram desenvolvidos vrios projectos na linha do desenvolvimento local, bem como o atendimento populao, e foi construdo o Lar de Terceira Idade, praticamente sem dinheiro. Ao fim de 10 anos (1993 2003) a populao do Monte quintuplicou e o Centro Social dos Montes Altos emprega nos dias de hoje quase 40 funcionrios (terceiro maior empregador do concelho), ao mesmo tempo que apoia cerca de 70 idosos e mais de 100 indivduos / famlias em situao de desfavorecimento social. Um milagre, lluz do que era permitido sonhar! Segue-se a histria desses dez anos, aproveitando alguns textos includos em publicaes anteriores, mas introduzindo algumas modificaes e actualizaes. Isto porque a histria deste Monte e deste Centro foi feita, nestes dez anos, tanto na aco concreta e transformadora como no papel, atravs da escrita. Queremos no entanto, pensando naqueles que esto menos familiarizados com esta Instituio, tecer previamente algumas consideraes relativas identificao da associao e s actividades desenvolvidas, para melhor enquadrar o processo de construo que passaremos a descrever.

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Breve Identificao da Instituio


O Centro Social dos Montes Altos uma Instituio Particular de Solidariedade Social sediada na povoao de Montes Altos, freguesia de Santana de Cambas, concelho de Mrtola. Montes Altos fica situado a 5km da aldeia de Santana de Cambas, a 3km da Mina de So de Domingos e a outros trs da fronteira espanhola, assinalada pela ribeira do Chana. Encerradas as minas de So Domingos uma das maiores instncias de Indstria Mineira extractiva de toda a Europa - em finais dos anos sessenta, originou-se nesta regio um excedente de mo-de-obra que se viu na contingncia de emigrar para outros pontos do pas e do estrangeiro. O rpido despovoamento passou a ser uma realidade que rapidamente consubstanciou uma acentuada desertificao populacional. Um quadro de cataclismo, desolao e abandono: depresso social. O desabar de toda uma regio passou a anunciar-se nos pormenores mais nfimos. Os artefactos mineiros degradaram-se num ritmo vertiginoso, configurando uma sucesso fantasmagrica de runas. Povoaes satlite das minas, como a Achada do Gamo, Telheiro ou Moitinha, outrora cheias de pessoal, extinguiram-se pura e simplesmente, desaparecendo do mapa, quais resduos de memria bem ali vista de todos, quais profetas da desgraa, desenhando em jeito de antecipao o futuro sombrio da regio. Depois de tanta maquinaria, do barulho ensurdecedor, do persistente aroma sulfrico e de um movimento recndito nas entranhas da terra, sobrou o silncio, o inquietante silncio. Estava-se na longa treva ps-mineira. Montes Altos foi-se despovoando. Mau grado a inaugurao da luz elctrica, no fim dos anos oitenta, o Monte estava ameaado de morte lenta, parecendo j sobrar no mapa, nesse fio da navalha assinalado pelo limiar do esquecimento.

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Mas em 1993 aconteceu algo, uma espcie de pontap no destino, que inverteu por completo a vida desta povoao e de tantas outras que lhe so limtrofes: foi criado o Centro Social dos Montes Altos. O Centro Social dos Montes Altos foi criado em 1993 com o objectivo de dar um pouco de dignidade vida daqueles que se mantinham na povoao ou que, estando reformados, decidiam a passar os meses da Primavera e do Vero. Na altura Montes Altos contava somente com onze habitantes, correndo o risco, semelhana de outra povoaes vizinhas, de pura e simplesmente desaparecer do mapa. O Centro Social veio efectivamente travar o processo de desertificao populacional subsequente ao encerramento das minas de So Domingos em finais dos anos sessenta. Efectivamente, volvidos dez anos desde a sua fundao o nmero de habitantes quintuplicou e hoje o monte tem um novo rosto, num rectngulo onde se erguem 70 habitaes, todas elas com gua canalizada e luz elctrica e beneficiados pelos arruamentos. O Centro Social tem-se constitudo, inequivocamente, como polo dinamizador da vida social e cultural da povoao de Montes Altos, bem como de povoaes vizinhas. Foi a sua existncia que permitiu o abastecimento de gua canalizada, bem como o alcatroamento de estradas. Pode-se dizer que o projecto Montes Altos subdividiu-se em trs fases fundamentais. Numa primeira fase foi assegurado, atravs do Centro, o transporte dos residentes na rea do concelho, para efeito de aquisio de bens indispensveis de consumo, resoluo de assuntos de ordem burocrtica e, fundamentalmente, deslocao dos doentes ao posto de sade e hospital. Promoveram-se tambm eventos culturais e recreativos para os naturais residentes e ausentes, tendo o Centro assumido o papel de interlocutor credvel junto das autoridades e de outras entidades concelhias, no sentido de pugnar pelo desenvolvimento da povoao e melhoramento das condies de vida dos seus habitantes. Numa Segunda fase procedeu-se ampliao das instalaes do Centro Social, dotando-o de infra-estruturas e equipamentos compatveis com as valncias de Centro de Convvio e de Dia e ainda, de forma menos sistematizada, Apoio Domicilirio a idosos com mais restries em termos de autonomia. Paralelamente foi reforada a componente cultural e recreativa, nomeadamente atravs de programas de animao scio-cultural, em articulao com o Instituto Portugus da Juventude, tendo sido significativamente alargado o mbito de interveno social.

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A terceira fase, iniciada em finais de 1998, projectou a construo de um lar para idosos na povoao dos Montes Altos, via ampliao das instalaes do Centro Social. As obras foram concludas no fim do ano 2000, depois de um esforo incomensurvel, tornado mais rduo pela insuficincia de apoios estatais, encontrando-se actualmente no referido equipamento 31 idosos, quase todos naturais de Montes Altos ou das freguesias de Santana de Cambas e Corte do Pinto. Alm disso so promovidas diversas iniciativas no mbito de projectos de Desenvolvimento Comunitrio, com vasta interveno a nvel scio-profissional e cultural. O Centro Social est prioritariamente vocacionado para o apoio aos idosos, possuindo para o efeito as valncias de Centro de Convvio e de Dia, Apoio Domicilirio e Lar de Terceira Idade. Alm disso promove, com notvel regularidade, actividades culturais e recreativas, desempenhando igualmente um importante papel ao nvel do desenvolvimento social da regio, designadamente atravs sinalizao de situaes-problema do foro social, implementao de projectos de interveno comunitria e de insero scioprofissional e acompanhamento psicossocial de indivduos e famlias em situao de desfavorecimento. O Centro Social dos Montes Altos tem-se constitudo assim como referncia no concelho de Mrtola, testemunhando uma notvel capacidade de afirmao do local e de auto-organizao da populao, configurando uma interveno da sociedade civil em torno da procura de formas de organizao alternativas no domnio social. Para alm das valncias directamente ligadas ao apoio populao idosa de realar o papel do Centro Social enquanto agente facilitador da interveno das associaes de desenvolvimento local que canalizam a sua actuao para as freguesias de Santana de Cambas e Corte do Pinto. Este trabalho de parceria efectiva no terreno estende-se s entidades que representam o poder autrquico. Trabalham actualmente para o Centro Social 39 indivduos (isto falando de trabalho remunerado, pois praticamente indeterminvel o nmero de voluntrios, alguns dos quais com enorme permanncia), quase todos a tempo inteiro, no que resulta esta entidade constituir-se como a terceira maior empregadora do concelho. O mbito das actividades, conforme se pode j depreender, extravasa largamente o domnio circunscrito pelo apoio populao idosa, apresentando hoje a Instituio uma j significativa tradio de trabalho nas reas do desenvolvimento social e local.

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Domnios de Interveno
Conforme se pode depreender, O Centro Social, desde a sua fundao, tem estendido a sua interveno a vrios domnios, extravasando largamente as perspectivas consagradas inicialmente. Passamos a esquematizar, num propsito de sntese, os domnios de interveno que enquadram o desenvolvimento de iniciativas especficas e concretas. Aco Social o Centro de Convvio (15 utentes) o Centro de Dia (10 utentes) o Apoio Domicilirio (16 utentes) o Lar de Terceira Idade (31 utentes) o Aco caritativa: doao sobretudo em gneros o Obras de beneficiao em habitaes pertencentes a pessoas em situao de desfavorecimento social

Acompanhamento Psicossocial (famlias disfuncionais, alcolicos, toxicodependentes, deficientes, entre outros) Desenvolvimento Local o Constituio do Ncleo de Desenvolvimento Local de Corte do Pinto (PIPPLEA) Gabinete de Atendimento o Constituio do Ncleo de Desenvolvimento Local de Santana de Cambas (PIPPLEA) Gabinete de Atendimento

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Aplicao das Novas Tecnologias de Informao ao Desenvolvimento Local o Criao da pgina web do Centro Social dos Montes Altos (PIPPLEA) o Criao da pgina web da Junta de Freguesia de Santana de Cambas (PIPPLEA) o Criao da pgina web da Junta de Freguesia de Corte do Pinto (PIPPLEA) Animao Scio-comunitria Produo Cultural o Edio da Monografia de Montes Altos (1995) o Edio do Livro Testemunhos (2000) o Edio do Livro Montes Altos: luta contra o destino (2001) o Organizao regular de exposies de pintura o Edio do Boletim de Montes Altos: Notcias de Montes Altos o Edio do Boletim entre o Chana e o Guadiana (PIPPLEA) o Encenao de Peas de Teatro o Edio de um CD-Rom Actividades Recreativas o Promoo regular de Bailes e Refeies-convvio Actividades Formativas o Exerccio Profissionalizante em Corte, Confeco e Decorao (PIPPLEA) o Exerccio Profissionalizante em Artes Decorativas (PIPPLEA) o Formao Emprego: curso de Agentes de Geriatria (IEFP) o Formao Interna: Informtica na ptica do utilizador o Estgios Profissionais (integrao de trs jovens nesta medida do IEFP) o Acolhimento de estagirias de uma aco de formao em Ajudantes Familiares, promovida pela associao Rota do Guadiana no mbito do PIPPLEA. o Acolhimento de Estagirios de um Curso de Pintores da Construo Civil (CENFIC) o Geriatria (Projecto Insero - Emprego)

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Patrimnio Cultural e Social o Levantamentos ligados ao patrimnio cultural e social das freguesias correspondentes rea geogrfica de interveno do Centro Social. o Registos audiogrficos de histrias de vida o Constituio de uma base de dados de fotografias digitalizadas Mercado Social de Emprego o Empresa de Insero Social Construo Civil (IEFP) o Empresa de Insero Social Lavandaria e Costura (IEFP) o Formao em Posto de trabalho integrao de um jovem deficiente (CERCIBEJA) Juventude o Programas OTL (IPJ) o Programa Juventude (IPJ) o Programa Servio Voluntrio Europeu (IPJ) o Programa Jovens Voluntrios para a Solidariedade (IPJ) o Programa Iniciativa (IPJ)

Equipamentos de apoio ao desenvolvimento econmico o Programa LEADER MEG o Programa LEADER + Apoio Institucional o Apoio tcnico e logstico a Instituies como o Centro e Apoio aos Idosos de Moreanes, Asmina, So Domingos Futebol Clube ou Raia do Chana.

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DEZ ANOS DE LUTA CONTRA O ESQUECIMENTO


Vamos escrever sobre estes ltimos anos loucos de Luta contra o Destino. 10 anos sob o signo da utopia, do desgaste e da entrega sem limites, para cumprir o sonho de refazer o recomeo de vida em Montes Altos, no propsito de devolver a dignidade aos seus habitantes e a todos aqueles que se encontram em situao de desfavorecimento social nas freguesias de Santana de Cambas e Corte do Pinto. Falamos em refazer e recomear. Dois res, que no surgem por acaso. Em tempos recuados os habitantes do Monte Giraldo viram-se obrigados, como forma de fazer face s ofensivas dirigidas por grupos organizados, a deslocar-se no espao. Estvamos no sc. XVII e essa gente mudou-se do Monte Giraldo, sito no lugar do Poo Giraldo, para a actual povoao de Montes Altos, refazendo assim a vida neste lugar. Mas, voltando ao tema principal...10 anos que culminaram na quase milagrosa edificao de um Lar de Terceira Idade. 10 anos que assinalam uma vitria incontestvel da povoao e das suas gentes. Uma referncia mpar para o nosso interior desertificado. * * * 1993, 2003, 10 anos que tudo mudaram, 3650 dias de vertigem, o garante de que qualquer Dirio de Montes Altos rapidamente se desactualizaria num pice, num ritmo mais conforme aos avanos tecnolgicos do que ao penoso arrastar da inrcia, que um no-movimento normalmente associado a estes montes do fim do mundo e do fim da esperana. Mas estes 10 anos fizeram a diferena neste Monte, encenando um movimento em terra que parecia excluda pelo sopro do destino. Depois do avassalador cataclismo em que as entranhas da terra parecem ter-se aberto e engolido todas as vidas e todas as esperanas, uma espcie de resduo de todo este conturbado processo de morte e de paragem reinventou a vida e desenterrou as sementes de sonho, h muito caladas no sufoco da longa treva ps-mineira. Reinventar estes anos prolong-los para l da sua materialidade objectiva, mas tambm um esforo que encerra uma componente de incompletude, pois palavras no h que cheguem para condensar a ousadia, a coragem, a utopia e
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as emoes deste processo que, modstia parte, configurou um projecto inequivocamente mpar, atropelando o bom senso e a lgica; um projecto que bebeu da operacionalidade e que no ficou por ser, to somente, e eternamente, projecto. * * * 1993. O nosso Monte est a morrer. J nem dez somos ao todo. A partir de agora sempre para menos. O destino faz-se cumprir, como j fez com a Achada do Gamo, a Moitinha ou o Telheiro, todos aqui to perto. Espera-nos o silncio, o inquietante silncio, espera-nos o abandono, as casas cadas em runas. Ficar

sempre um resduo, uma aluso numa qualquer certido de nascimento ou numa lpide de um cemitrio, ou uma referncia numa carta antiga com traos desfalecidos. Seremos recordados como um apndice das minas de So Domingos, como um parente pobre de um projecto industrial que bebeu de algum esplendor, um projecto que sugou as entranhas da terra. Pois , estamos na miragem do esquecimento. Desistir? E ento, que mais se pode fazer? Basta olhar volta e vemos o que nos espera. Desistir...parece que custa pronunciar esta palavra, mais a mais quando olhamos para trs. Desistir...o termo soa estranho, quase to impossvel de materializar quanto revitalizar a povoao dos Montes Altos. Mas fala-nos ainda a Memria. Os rostos dos pais, dos avs, a escola, o aroma sulfrico, as histrias do contrabando, os recantos de brincadeiras, as cantigas
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desgarrada, o movimento das ruas, as Pscoas, os Natais, os amores, at a fome, at a pobreza. No so coisas a mais para serem votadas ao abandono, no so coisas a mais para se amontoarem num canto, longe do sopro do destino, qual miragem de esquecimento? Ainda temos tanta gente. Basta pensar no Ti Bl, na D. Clementina, Ana Conceio, Ti Lourena ou Antonia Parreira, Todos eles sobrevivendo por estas bandas. Depois de vidas de sofrimento e represso aguarda-nos este desfecho final? mesmo inevitvel? Parece que sim. tarde de mais, ainda que custe a palavra desistir. No vale a pena perder tempo. A prtica demonstra a condenao de todo este interior rural. No temos lugar no mapa, estamos seguramente a prazo. Mas volta tona esta palavra: desistir. Ela encerra um incmodo, uma espcie de impossibilidade prtica. Deixa olhar volta. Temos ainda tanta gente. Se calhar bastava s um para nos deixar perplexos!

1993
Em 1993, Rogrio Bravo em conversa com Diogo Sotero avanou com a sugesto de reaproveitamento do espao correspondente Escola Primria de Montes Altos, para constituir uma sociedade recreativa e explorar as receitas da decorrentes. Mas Diogo Sotero, que j havia pensado na ideia de fundar um Centro Social com a finalidade de intervir junto de pessoas desfavorecidas, em particular os idosos, contraps que s avanaria para um projecto que contemplasse a interveno social. Foi assim que, a 31 de Agosto de 1993, foi fundado o Centro Social dos Montes Altos, sob impulso de Antnio Diogo Sotero. Reunidos na antiga escola os membros da comunidade de Montes Altos, numa unidade e fora singular, decidiram unir-se e pr em execuo um projecto que desafiava o destino, propondo-se combater o despovoamento e a desertificao. As pessoas organizaram-se em A s s o c i a o , apresentando-a aos diversos rgos do Poder e elaboraram, desde logo, uma carta reivindicativa. Entre as primeiras reivindicaes contam-se o alcatroamento da estrada que liga a Mina de So Domingos a
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Montes Altos, a construo de balnerios pblicos, o abastecimento domicilirio de gua e os arruamentos da povoao. Todas estas lutas foram ganhas mais tarde com grande sacrifcio. Seguramente nada do que veio a ser conseguido mais tarde teria sido possvel caso estas reivindicaes de base no tivessem vingado, pois a criao de condies de sustentabilidade para a vida tinham necessriamente de preceder e suportar as iniciativas que mais tarde viriam a desenvolver-se. Na rea social foi iniciada, com um pequeno carro em segunda mo, a prestao dos primeiros servios aos idosos. Assim, na linha de prossecuo dos objectivos e da vocao que presidiram fundao do Centro Social, ou seja, o apoio social a todos os residentes da povoao, em particular os idosos, foi estabelecido um acordo de prestao de servios com o cidado Rogrio Bravo que salvaguardava o transporte dos residentes para efeitos de sade, resoluo de questes burocrticas ou aquisio de artigos domsticos. Entretanto os associados foram aparecendo, chegaram a primeira televiso, telefone e uma carrinha de nove lugares cedida pela Cmara, preparando-se o incio das obras de adaptao da antiga escola primria. Efectivamente, num curto espao de tempo (6 meses), o Centro Social congregou em seu torno um considervel nmero de associados 160. Este quantitativo deixou naturalmente satisfeitos os Corpos Sociais, pois reflectia inequivocamente uma dinmica associativa indispensvel ao crescimento de organizaes deste tipo. Esta vertiginosa adeso de associados fez-se acompanhar, a nvel burocrtico, de uma srie de diligncias que culminaram na celeridade de processos que por norma tendem a arrastar-se. R e f e r i m o - n o s , designadamente, ao pedido, em tempo record , da denominao da Instituio, nmero de pessoa colectiva, escritura pblica, bem como a solicitao, junto do Centro sub-Regional de Segurana Social, do estatuto de IPSS (Instituio Particular de Solidariedade Social) - que nos permite, agora, ser comparticipados pelos idosos das nossas valncias de apoio. Chegaram tambm nessa altura os primeiros subsdios, da Junta de Freguesia de Santana de Cambas e do Governo Civil, traduzidos num valor que no entanto no excedeu os 50 contos.
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1994
Em conformidade com o previsto o nmero de associados ascendeu a quase 250, o que equivale a dizer que uma parte significativa dos mesmos no era originrio da povoao dos Montes Altos, mas de povoaes limtrofes. Foi implementado o Centro de Convvio, criando efectivamente essa necessidade junto da populao. Aps a ligao da gua, em Abril de 94, foi adquirida uma mquina de lavar roupa, tendo sido estendido o servio de lavandaria a todos os associados interessados. Outras aquisies se seguiram: Televiso a cores Arca frigorfica Utenslios diversos

Em matria de construo civil procedemos feitura de uma chamin, cimentmos o trio, caimos e pintmos, procedemos canalizao e abastecimento de gua e efectumos algumas renovaes ao nvel da electrificao. Tudo isto nas instalaes do Centro Social. Entre as actividades culturais e recreativas salientamos a Festa de Natal, a Festa de Ano Novo, a Quinzena Cultural Serro Martins e a Festa da Pscoa. Uma curiosidade. Montes Altos, que at aqui estivera votado ao abandono mais absoluto, comeou, pela primeira vez no seu historial, a atrair a ateno da imprensa. Artigos em jornais e trabalho de divulgao do projecto junto dos rgos de comunicao fizeram chegar a outros pontos do concelho, do Distrito e do pas o nosso Monte. Dissemos o que ramos e o que queramos fazer. Para demonstrar o esprito de luta, esperana e solidariedade segue-se um pequeno extracto do Relatrio elaborado pela Direco em Maro de 1994: Por isso, apelamos a todos os associados e amigos para que continuem a acreditar no seu Centro Social e na sua Terra, dando cada um aquilo que lhe possvel. Se assim for estamos seguros que faremos dos Montes Altos um exemplo de convvio e solidariedade, onde ser privilgio viver.
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Dada a morosidade inerente aos processos burocrticos o Centro Social diligenciava, por esta altura, no sentido de proceder rectificao dos estatutos, de sorte a torn-los conformes s formalidades exigidas pelo Centro sub-Regional de Segurana Social. Paralelamente cimentavam-se os alicerces para a edificao do futuro Centro de Dia. Avolumavam-se as reivindicaes junto das autoridades competentes (nomeadamente Junta de Freguesia e Cmara Municipal de Mrtola) no sentido de se realizarem alguns empreendimentos indispensveis melhoria das condies de vida em Montes Altos. Aberto que estava o Centro Social, j adaptado e equipado para as valncias de Centro de Convvio, construdos tambm os balnerios e sanitrios pblicos, a Instituio projectava, no que se pode designar de 2 fase do seu projecto, a criao das valncias de Centro de Dia e Apoio Domicilirio. Estava em mente a construo de um imvel anexo Estrutura j existente, equipado com uma Cozinha tipo industrial, Lavandaria, Sala de Jantar, Salo de Festas, Gabinete Mdico, Gabinete dos rgos Sociais, casa de banho e duas arrecadaes. O sonho continuava a comandar a vida em Montes Altos, numa clara referncia para o Estado, que nem sempre considerava os idosos na devida medida, e para algum do Poder Local, por vezes atrofiado numa centralizao que descura o apoio s pequenas povoaes. Muito sonho para to pouco dinheiro. Por isso mesmo decorria em finais de 94 uma campanha de recolha de fundos que previa, at Pscoa, seguinte, a angariao de 200 000 escudos. Era de facto uma luta contra o destino, contra o estrangulamento financeiro, contra as mentalidades menos afoitas que consideravam este projecto megalmano e desajustado ante a perspectiva de despovoamento e a acentuao da desero. Mas a Direco contrapunha a aco, a aco utpica e transformadora, reconhecendo ao Monte as virtudes de um lugar tranquilo de refgio, uma alternativa aos grandes espaos urbanizados e sufocantes; em suma, uma possibilidade dos naturais destas freguesias virem a passar uma velhice condigna na Terra que amam, na Terra que os viu nascer. O terreno da Aco Social conheceu uma notvel expanso, em muito graas viatura cedida pela Cmara. Efectuavam-se na altura duas deslocaes semanais Mina de So Domingos e outras duas, mensais, vila de Mrtola. Alm disso era prestado apoio a um casal de idosos residente na Moitinha, (traduzido no transporte de gua!). Relativamente s actividades culturais e recreativas, h que destacar duas, a saber, a Festa dos Santos Populares e as Primeiras Jornadas Culturais de Montes Altos. Depois de um interregno de mais de 20 anos o Monte voltou a erguer um
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mastro e a festejar os santos populares. A forma voluntariosa com que todos participaram neste evento foi memorvel. As mulheres fizeram as fitas e bandeiras e os homens foram ao montrasto. Foi muito bonito e tanto mais significativo porquanto configurou um movimento de recuperao cultural que se entrevia irremediavelmente perdido. Revestindo um carcter altamente simblico, realizaram-se as Primeiras Jornadas Culturais de Montes Altos. Antes do mais, foi um acto inequivocamente poltico, um evento cultural e social que mobilizou toda a Comunidade e Corpos Sociais. Foi sentir o orgulho de atrair a ateno da regio para uma terra que muitos nunca sequer tinham ouvido falar. Mais uma vez nada nem ningum se poupou a esforos para erguer a bandeira da coragem e dizer no aos profetas da desgraa. No fundo foi a Festa do Reencontro, do Trabalho e da Alegria, assinalando o regresso Terra de muitos dos seus filhos emigrados.

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1995
...realizmos todos os objectivos a que nos propusemos defrontando as vicissitudes prprias de uma pequena Instituio perifrica num Estado que tem primado pelo abandono do interior e nomeadamente do Alentejo. Foi com este tom mais ou menos provocante que se iniciou a redaco do Relatrio de Exerccio do Ano de 1995. Tratou-se de um ano em que o nmero de associados ascendeu a 270, confirmando portanto um nmero que extravasa largamente a realidade geogrfica da povoao e reflecte uma significativa rede de solidariedade. Foi neste ano, aps rdua luta, que a Instituio foi reconhecida como IPSS, um estatuto jurdico mais conforme ao seu objecto social. No esquecer que tal possibilitou alguns benefcios fiscais, bem como o ulterior estabelecimento de protocolos de colaborao / comparticipao, nomeadamente com a segurana social. Por outro lado verificou-se uma maior sistematizao ao nvel dos servios que compunham as valncias de Centro de Dia e Apoio Domicilirio. Reportamo-nos confeco de refeies e ao tratamento de roupa. Foram entretanto iniciadas as obras de ampliao do Centro. Essas obras, que visavam compatibilizar as estruturas com a funcionalidade das valncias de Centro de Dia e de Apoio Domicilirio, esbarraram no raramente nos constrangimentos decorrentes da falta de verbas, pelo que o prazo da respectiva execuo resultou inevitavelmente condicionado pelos apoios / recursos que o Poder Local e Regional disponibilizaram. A construo dos balnerios e sanitrios pblicos foram de facto obras suadas, apenas possibilitadas por uma tenacidade invulgar, o mesmo sucedendo relativamente construo do Bar (pois do cho ao balco, do fecho da parede,
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colocao de janela, grade e porta, tudo foi feito de novo). Acrescente-se que foi ainda aberto um porto para entrada de viaturas, limpa toda a rea em torno do Centro Social e suprimidas algumas runas com o auxlio de uma mquina de terraplanar. Do ponto de vista cultural e recreativo foi dada continuidade ao trabalho j desenvolvido, salientando-se que o Centro Social dos Montes Altos confirmou, largamente, o seu papel enquanto polo dinamizador da vida social e cultural, no s da povoao dos Montes Altos, como das prprias freguesias de Santana de Cambas e Corte do Pinto. As Segundas Jornadas Culturais apareceram, no ms de Agosto, confirmando-se, tambm elas, como tradio a cumprir no calendrio e no imaginrio das nossas gentes. Do ponto de vista estritamente cultural h que assinalar o lanamento de dois livros. Um deles, da autoria do associado Heitor Domingos, intitulado Da Mina ao Pomaro, alude no raras vezes povoao dos Montes Altos. O outro era a Monografia de Montes Altos, da autoria de Antnio Diogo Sotero, natural da povoao e Presidente da Direco do Centro Social. Esta obra, pese embora as limitaes de carcter documental, traduzidas, designadamente, na incompletude dos registos, encerra a virtude de conservar a Memria da povoao e de contribuir para afast-la do espectro do anonimato. Estes dois eventos atraram um conjunto de artistas e entidades oficiais. Seguem-se alguns extractos do Breve Balano da Actividade do Centro desde 1993, um pequeno texto redigido por Diogo Sotero. As obras do Centro avanaro contra ventos e mars; e porque j somos IPSS temos os instrumentos legais para pensarmos em viver nos Montes Altos, tal como noutro lugar, ou, se quisermos, melhor ainda. S falta transformar o pessimismo em optimismo, acreditar que somos ns os donos do nosso destino, lutando contra as adversidades, sejam elas quais forem, venham elas de onde vierem. Resta acreditar que iremos continuar at conseguirmos alcanar todos os objectivos a que nos propusemos.

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1996
Montes Altos e o Centro Social no marcaram passo em 1996. Efectivamente, ampliaram-se os servios prestados e aumentou o nmero de beneficirios. E se mais no se verificou foi por falta de vontade dos residentes e pelo facto actuarmos em conformidade ao princpio do respeito da vontade destes. No podemos ir contra a no receptividade dos idosos. A necessidade coisa que se cria, leva tempo e implica gestes emocionais associadas alterao de hbitos. Continumos a alargar a rea de deslocaes ao permetro definido pelo Distrito de Beja. Ainda no que concerne ao usufruto dos servios constatava-se, como era de resto de esperar, que a cristalizao de hbitos e formas de estar se constitussem como impeditivos de que as pessoas aproveitassem na ntegra as estruturas / servios existentes e naturalmente disponveis. Acabava por ser uma gerao mais recente, a que visitava regularmente o Monte aos fins de semana, quem tirava mais proveito dos benefcios agora tornados possveis. Em suma, a liberdade de cada um funcionar da forma que mais lhe apraz, sem imposio de modelos. Do ponto de vista recreativo as Festas de Agosto trouxeram em trs dias sensivelmente 3000 pessoas para o Centro. Um assombro!!! A noite de fados (abertura), as actuaes dos Bomios e de lvaro Fabio, o Torneio de Xito, o concurso de Pesca, os momentos de poesia, o lanamento do livro Velhos so os Trapos, as quermesses e a palavra molhada num copo, tudo isto rendeu Instituio a inacreditvel quantia de quase um milho de escudos. claro que todo este dinheiro foi rapidamente canalizado para as obras de ampliao do Centro. Foi um grande sucesso graas aos residentes e naturais, mas tambm a outros amigos que trabalharam de ombro a ombro connosco, provando to somente que quando o povo quer e tem razo, no existem amarras que o segurem. Em matria de Construo Civil foi construda a garagem, foram edificadas as novas instalaes, feitas as divises internas, colocados placa e telhado, iniciada a electrificao e canalizao. Teoricamente estes progressos custariam qualquer coisa como 10 000 contos. Na prtica a execuo fsica no implicou, nem de longe, essa despesa, graas ao notvel volume de trabalho voluntrio.
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1997
No Vero de 1997, aps concluso de uma srie de obras de adaptao foi inaugurado o equipamento destinado a suportar as valncias de Centro de Convvio e de Dia. Os idosos j eram anteriormente apoiados nessas valncias mas a nova infra-estrutura possibilitou maior qualidade e regularidade do servio prestado, abrindo simultaneamente caminho para novas alternativas e perspectivas. Atravs de uma colaborao em regime de parceria, o Centro Social dos Montes Altos apoiou logisticamente a Associao de Defesa de Patrimnio de Mrtola, assegurando o transporte dos formandos de um curso de formao especial (Integrar, medida 2) promovido por esta ltima entidade, circunstncia que se manteve no decurso do ano de 1998. Tambm em 1997 o Centro Social dos Montes Altos desempenhou um papel decisivo e fundamental na sinalizao de situaes-problema e no encaminhamento de pessoas e famlias em situao de desfavorecimento social, contribuindo em regime de parceria, no terreno, para a implementao da associao Rota do Guadiana nas freguesias de Corte do Pinto e Santana de Cambas. Este papel teve continuidade nos anos que se seguiram. Na vertente clnica de apoio aos idosos e associados, enquanto se continuava a diligenciar no sentido assegurar os servios de um mdico de clnica geral, foi conseguido o apoio, voluntrio, de um psiclogo, dirigido a casos que configuravam situaes problemticas do ponto de vista psicolgico. A vinda deste psiclogo viria a estar na base de uma srie de revolues laborais que transmutaram abruptamente o quotidiano deste Centro, introduzindo mais uma pitada de atrevimento, inconvencionalidade e criatividade, a par de um amor invulgar por esta causa, tudo isto ingredientes essenciais para o contra-relgio que se adivinhava, um sprint final que bebeu particularmente da parceria,
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confiana e complementaridade social, poltica e intelectual de um grupo restrito de pessoas que no voltaram as costas luta. Na sequncia desta circunstncia foi criado o Gabinete de Atendimento Psicossocial, uma estrutura de vocao polivalente aberta comunidade que passou a assegurar a extenso no terreno do trabalho de atendimento e acompanhamento psicossocial dirigido s camadas populacionais mais desfavorecidas do ponto de vista scio-econmico. Por outro lado o nmero de associados ascendeu a 350.

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1998
No incio de 1998 o Centro Social integrou durante quatro meses, em articulao com a associao Rota do Guadiana, trs jovens num projecto ao abrigo do Programa Jovens Voluntrios para a Solidariedade (Instituto Portugus da Juventude). Findo o projecto, dois dos jovens continuaram a colaborar com a Instituio. Entre as actividades desenvolvidas incluiu-se a encenao de uma pea de teatro, em que alguns idosos foram actores (neste caso actrizes). A pea, da autoria de Diogo Sotero, trouxe a Montes Altos, no dia 27 de Maro, cerca de 100 individualidades, incluindo muitos representantes de entidades oficiais. Foi mais uma forma de, atravs de um acto criativo e simblico, demonstrar que existamos e que no estvamos quietos. A coragem e o atrevimento subjacentes encenao desta modesta pea no desaparecero de quem esteve no cerne dela e so uma referncia da tenacidade e persistncia que invariavelmente tm impregnado este projecto. Ainda no incio de 1998 j estava concludo o projecto arquitectnico do que seria o futuro Lar dos Montes Altos, um projecto inegavelmente meritrio do ponto de vista esttico e tcnico, desenhado por Michel Coupier e desenvolvido pelo arquitecto Joo Aparcio, em regime de voluntariado. Ao longo do ano foi consolidado o trabalho de terreno do Centro Social nas freguesias de Corte do Pinto e de Santana de Cambas, assente fundamentalmente no papel desempenhado pelo Presidente da Instituio no mbito da colaborao em regime de parceria verificado entre o Centro Social dos Montes Altos e a associao Rota do Guadiana. Esse papel traduziuse, entre outros, na identificao e encaminhamento de situaesproblema. Referimo-nos, designadamente, sinalizao de famlias problemticas (beneficirias do Rendimento Mnimo Garantido) que foram objecto de acompanhamento psicossocial ou apoio na constituio de grupos de desempregados que passaram a frequentar sesses de Apoio Insero Profissional. Criaram-se
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assim slidos alicerces para um trabalho em parceria, entre estas duas Instituies, um trabalho de terreno sem horas nem horrios, um trabalho caracterizado pela extrema disponibilidade e flexibilizao de meios; um verdadeiro pontap nas burocracias, encolhimentos e afectaes prprias de quem lida com isto do social em confortveis secretrias adornadas por amontoados de papeis inteis e confunde a pseudo caridade com uma espcie de politicamente correcta repulsa inconfessvel pelo prximo. Setembro. Mais um marco simblico. Foi integrado um indivduo portador de uma deficincia mental ligeira (programa de Formao em Posto de Trabalho) no Centro, em parceria com a Rota do Guadiana e atravs de um protocolo celebrado com a CerciBeja. Esse indivduo, aps duas experincias anteriores menos bem sucedidas, encontrou neste Monte um espao de afirmao pessoal e de afecto. Em menos de um ano foi celebrado entre ele e a Instituio um contrato de trabalho sem termo. Uma referncia confirmatria e abonatria da nossa vocao social e da nossa disponibilidade, mesmo no seio de constrangimentos financeiros. Em Outubro realizou-se a Exposio Faz mais quem quer do que quem pode!!, onde se incluram fotografias antigas e actuais e trabalhos artesanais de outros tempos e de agora, num esforo comunitrio que configurou uma devoo mpar. Ainda em Outubro os formandos-homens de um curso de formao especial, acima referido iniciaram, a tempo inteiro, o estgio prtico na rea de construo civil no Centro Social. Mas no era s isso! que esse processo coincidia com o arranque das obras de construo do Lar de Terceira Idade. Um potente veculo de caixa aberta numa manh insuspeita despejava uma catraifada de entulho pelo solo. Era o momento n 0, seguramente imortalizado na memria de quem ainda recorda e evoca o pequeno estrondo das pedras a embaterem atabalhoadamente no solo de Montes Altos, um solo onde viria a erguer-se um Lar de Terceira Idade. Do ponto de vista do Apoio aos Idosos passmos a ser comparticipados pela Segurana Social na valncia de Centro Dia (a comparticipao incidiu sobre dez utentes).

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1999
1999 foi sobretudo um ano de preparao, designadamente em termos de elaborao de candidaturas, para a avalanche de projectos e iniciativas que decorreram no ano civil de 2000. Paralelamente prosseguiam as obras do Lar de Terceira Idade. Ainda antes da Primavera surgiram os Ttulos de Solidariedade, que eram uns cartes rectangulares, imprimidos em gabinetes e horrios proibidos, que incluam fotografias de gente supostamente desfavorecido e um apelo mais ou menos explcito sua aquisio, a troco de uns modestos mil escudos. O certo que estes Ttulos valeram cerca de 500 contos ao Centro. Tambm nesse ano um grupo de mulheres do Monte, ao se dar conta de que as obras corriam o risco de parar por falta de dinheiro, organizaram-se e fizeram um peditrio, porta a porta, que ainda valeu uns tostes. Foram pequenas-grandes coisas que reflectem as dificuldades experimentadas, mas tambm o empenho e o sentido de reinveno de meios que se colaram a este projecto e nunca o deixaram morrer. Em Agosto, atravs do programa Leader II, o Centro apetrechou-se com um conjunto de equipamentos destinados a suportar as actividades contabilstica e administrativa, permitindo assim virar uma importante pgina em termos dos procedimentos tcnico-burocrticos.

Entretanto o trabalho de atendimento ao pblico conheceu maior sistematizao, implicando um notvel desdobramento para se proceder ao atendimento de pessoas que apresentavam problemas de diversa ordem, tendo-se diligenciado, paralelamente, no sentido da implementao de solues adequadas ou da realizao dos encaminhamentos necessrios.
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No final do ano foram elaboradas, em tempo record, trs candidaturas a trs linhas de financiamento do Instituto do Emprego e Formao Profissional. Estas candidaturas foram aprovadas e contriburam decisiva e complementarmente para dar o grande pontap do destino, que era concluir as obras do Lar de Terceira Idade, apoiar um conjunto significativo de idosos e qualificar e empregar pessoas, contribuindo assim para a fixao populacional. Empresas de Insero Social. A candidatura consistia basicamente em integrar 11 indivduos em situao de desfavorecimento social numa empresa de insero na rea da Construo Civil. A ideia subjacente, para l da aceitao de empreitadas e explorao da vertente comercial, era assegurar a continuidade das obras do Lar, beneficiando o Centro Social para o efeito de mo-de-obra semi-gratuita e efectuar obras de beneficiao em habitaes pertencentes a pessoas com problemas de ordem econmica e social- O projecto designava-se Solidrios e Construtores. Formao / Emprego. A candidatura designada Gente boa quer a gente, para servir a nossa gente, projectava a realizao de uma Aco de Formao em Agentes de Geriatria, comportando uma componente terica (4 meses) e um estgio prtico, a decorrer nas nossas Instalaes. bvio que o decurso do estgio permitia o aproveitamento de mo-de-obra gratuita, numa altura que deveria coincidir com a abertura do Lar de Terceira Idade. Programa Iniciativa Piloto. Entre o Chana e o Guadiana foi um projecto de Desenvolvimento Local candidato no limiar do prazo, no limiar do esquecimento. 70 000 contos o que solicitvamos para executar um conjunto de aces, mormente nas vertentes cultural e de insero scio-profissional, na rea geogrfica delimitada pela denominao do projecto, ou seja, as freguesias de Corte do Pinto e de Santana de Cambas. Soava mesmo a utopia, quer porque esta iniciativa programtica j tinha pouco dinheiro, quer porque ramos uma associao presumivelmente demasiado pequena para to elevada aspirao. Esta candidatura, a ser aprovada, projectar-nos-ia definitivamente na senda dos grandes Projectos e confirmaria o nosso papel enquanto instncia de Desenvolvimento Local. Enfim...muitas candidaturas para fintar o destino e contornar o sufoco financeiro. A esse nvel beneficimos de um subsdio de 2000 contos da Cmara Municipal de Mrtola e de uma viatura de 9 lugares, em segunda mo. Sem dvida duas preciosas ajudas para no deixar por terra um projecto que tantas dores de parto estava a dar, talvez tambm por ser um projecto que incomoda muita gente.

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2 2000 000
Em Janeiro de 2000 foi constituda a primeira Empresa de Insero Social do Centro Social dos Montes Altos, designada Solidrios e Construtores, na rea da Construo Civil. Esta figura permitiu a integrao de nada menos que 11 indivduos em situao de desfavorecimento social, combinando a formao em posto de trabalho na rea em referncia com o acompanhamento psicossocial prestado pela equipa de enquadramento da Empresa de Insero. No fim de Maro de 2000 arrancou o projecto ...entre o Chana e o Guadiana... candidato ao Programa Iniciativa Piloto de Promoo Local de Emprego no Alentejo. Tratando-se de uma iniciativa supostamente conducente criao de emprego e ao desenvolvimento da regio o projectou integrou uma srie de iniciativas que passamos a mencionar.

Aco 1 Exerccio Profissionalizante em Corte, Confeco e Decorao. Consistiu na colocao de seis mulheres num contexto de formao em posto de trabalho na rea de actividade referida, por um perodo de 11 meses. Tratouse de uma formao exclusivamente orientada para a prtica pois no era possvel ao Centro Social promover uma aco de formao profissional. Aco 2 Exerccio Profissionalizante em Artes Decorativas Consistiu tambm na colocao de seis mulheres num contexto de formao em posto de trabalho na rea referida, por um perodo de 11 meses. Tratou-se, mais uma vez, de uma formao exclusivamente orientada para a prtica pois no era possvel ao Centro Social promover uma aco de formao profissional.
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Aco 3 Consistiu na criao de dois Ncleos de Desenvolvimento Local em duas sedes de freguesia. Estas estruturas enquadraram uma srie de iniciativas que passamos a citar: Gabinete de Atendimento agora mais descentralizado para responder aos problemas apresentados por indivduos em situao de desfavorecimento. Criao de trs pginas Web: Centro Social dos Montes Altos, Freguesia de Corte do Pinto e freguesia de Santana de Cambas. Edio de duas publicaes de carcter cultural, ligadas essencialmente temtica do patrimnio social. Edio de um Boletim peridico contendo informaes a respeito do projecto em referncia, do Centro Social dos Montes Altos e das freguesias correspondentes zona de interveno do projecto. Formao interna de alguns funcionrios na rea da Informtica na ptica do utilizador. Organizao de Encontros / Debates subordinados a problemas emergentes no domnio social. Apoio tcnico a outras Instituies das freguesias na implementao de iniciativas e na estruturao de actividades. Pequenos estudos visando o levantamento de necessidades de mbito social. Apoio na insero profissional (enquadrado pelo Gabinete de Atendimento) Levantamentos patrimoniais (memria social)

Em Junho de 2000 teve incio uma aco de formao em Agentes de Geriatria no mbito do Programa Formao-Emprego (Instituto do Emprego e Formao Profissional). Aps 4 meses de formao terica 10 dos 14 formandos receberam formao prtica na nossa Instituio e os restantes ficaram no Centro de Apoio aos Idosos da Moreanes. De notar que finda a componente prtica (2001) quase todos os formandos ficaram colocados nas respectivas instituies, sendo quatro jovens integrados atravs do programa do IEFP Estgios Profissionais. 2000 foi um ano invulgarmente acelerado. Do ponto de vista financeiro comeou como acabou, ou seja, sob o signo do estrangulamento financeiro. Perante a escassez de verbas necessrias continuidade das obras do Lar e subsequente ameaa de interrupo do processo, Diogo Sotero, num acto mpar de devoo, vendeu a sua casa, fazendo reverter os 6500 contos da resultantes para as obras do Lar. Foi assim, que depois de dias e noites a fio de trabalho, de incontveis horas de sono perdidas, de tenses roando a irresolubilidade, de contrariedades diversas e de um sprint estonteante, que foram inaugurados, a 22 de Abril, os dois primeiros blocos do Lar.

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2001
Em 2001 verificou-se a concluso definitiva (o termo soa pesado) das obras do Lar, que foi inaugurado a 24 de Fevereiro. Por altura da Pscoa, aproveitando a embalagem literria do ano transacto a (edio do livro Testemunhos) foi editado o livro Montes Altos Luta contra o Destino, da autoria de Diogo Sotero e Jaime Salvadinho, uma espcie de prolongamento da Monografia de Montes Altos, editada em 1995, que desenvolvia velhos temas, introduzia novos temas e abordava a histria recente de Montes Altos e do seu Centro Social. Em Setembro foi criada uma nova Empresa de Insero Social, desta feita na rea da Lavandaria e Costura, permitindo assim a integrao de uma significativa parte dos indivduos (neste caso mulheres) que integraram as aces profissionalizantes do projecto ...entre o Chana e o Guadiana... (PIPPLEA). Mais para o fim do ano a Segurana Social passou a comparticipar financeiramente sobre alguns dos utentes internados em Lar.

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2002
No ano de 2002 Antnio Diogo Sotero, presidente da Direco da Instituio, foi destinguido com o Prmio Nacional Nunes Corra Verdades de Faria, pelo trabalho solidrio desenvolvido atravs do Centro Social junto dos idosos em situao de desfavorecimento. Foi ainda nesse ano candidato e aprovado ao programa Leader + um projecto que assegurou o apetrechamento das instalaes da associao com novo equipamento mobilirio e aparelhos de climatizao. Ao longo deste ano foi aumentado o nmero de utentes internados em Lar sobre os quais passou a incidir a comparticipao da Segurana Social, o que proporcionou um significativo e desejado (para no dizer merecido) alvio do ponto de vista financeiro.

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2003
Este ano tem correspondido, semelhana do anterior, consolidao da estrutura que suporta as diferentes valncias de apoio aos idosos. Trata-se assim de uma fase de auto-aperfeioamento, de gesto controlada, portanto uma fase em que a Instituio procura reflectir sobre os seus processo internos de funcionamento e proceder s modificaes estruturais que a experincia dita como necessrias, em vista da prossecuo dos seus objectivos principais. Entretanto o Centro Social acolheu trs estagirios de um curso e Pintura e Construo Civil promovido pelo CENFIC em Santana de Cambas e outras trs estagirias provenientes de um curso organizado no mbito do programa Insero Emprego. Actualmente o Centro Social emprega 39 funcionrios, sendo a terceira entidade empregadora do concelho. Apoia cerca de 70 idosos atravs das suas valncias e d resposta social a vrias centenas de utentes. Nesta associao o idoso tratado como pessoa e no como um nmero. Liberdade e autonomia no trabalho aliam-se a um sentido de responsabilidade e a uma preocupao com a eficincia e a eficcia do trabalho desenvolvido. Queremos ser competentes naquilo que fazemos, para nos dignificarmos e sobretudo para dignificarmos os nossos utentes, afinal, a razo de ser deste projecto.

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E era assim . . .
Ao pessoano Deus quer, o homem sonha, a obra nasce! prefiro o lema da minha associao: Querer Poder!, mais incisivo e imperativo. Dos cinco aos nove anos fiz a instruo primria na Beira Alta. No ano de 1956, de regresso ao Monte, preparei-me, com a ajuda do saudoso professor Soares, da Escola Primria de Santana (para onde ia e vinha todos os dias a p) para o exame de admisso ao liceu. Depois de ir para Lisboa - Instituto Tcnico Militar dos Pupilos do Exrcito - s ia ao Monte pelas frias grandes. Assim sucedeu durante os cerca de nove anos seguintes - de 1957 a 1966. As minhas vivncias no Monte foram, salvo algumas excepcionais idas por altura das frias do Natal, no tempo de Vero, de Julho a 5 de Outubro pois as aulas comeavam a dia certo - a cancula estival. As dificuldades e carncias vivi-as nesses perodos tambm, como os demais, podendo aperceber-me das diferenas abissais entre as condies da Lisboa capital - e o nosso Monte. As frias eram tambm um perodo de trabalho braal: levar a burra e o burricalho para a pastagem (quando este arrancava a estaca e fugia), correr montes e vales procura do dito (que se tinha escapulido atrs de alguma burra!) durante a calma traz-lo para a arramada, tarde albard-lo e montar as cangalhas e as enfusas para ir gua ao Poo Velho, j que o Poo Novo, o que mais perto ficava do Monte, aparecido mais tarde pela perseverana do sr. Esperana, no tinha uma gua to boa. Todo o cuidado era pouco j que, burricalho inteiro, sust-lo pela arreata no era tarefa fcil; algumas vezes partia desfilada com as enfusas em cima, vazias ou cheias! Depois era a altura de, lavados e penteados, irmos ver os ranchinhos de moas que da velha escola, junto ao posto, at nova, passeavam em ranchinhos, tentando cativar a ateno da que mais nos despertava o interesse. Era tambm o momento de outras actividades ldicas: os jogos, do eixo da centuna e da chegada da bola para os grandes desafios de futebol na Eira da Pedra ou na Eira Grande, o nosso Estdio. No dia seguinte, pela manh, a minha faina comeava com, desta vez, a corpelha em cima do jerico: levar estrume para a horta, que havia em seguida que regar. No Inverno era a apanha dos saramagos, os espinhos ou os cardos tenrinhos, para juntar palha, e algum joio respigado das cearas, nos ferragiais, de que o dito burrico era sfrego. No
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incio de cada ms era a odisseia de ir Mina com burro, alforges em cima, Cooperativa fazer e trazer o avio ou despachocom a respectiva caderneta, onde simpaticamente nos atendiam o primo lvaro Cavaco ou os srs. Graa ou Epaminondas. Falo nisto porque no tendo grande experincia nestas lidas, estas tarefas no eram, para mim, nada fceis. E lembro com muita nostalgia os banhos na Tapadinha (Vale da Mota) para onde eu conseguia escapulir-me com a rapaziada da altura: Ti e Joaquim Lopes, Loureno Garvo, Bl Bravo, Z Diogo, Ti Guarda, Bl Domingos, Silvino, Ti Nogueira e tantos outros (considero, tal como Coelhinho, Ti, Bl, Manelito ou Z, termos de um grande afecto e no depreciativos). Falando do Ti Nogueira no me esqueo dos carolos que levei no jogo do arriol por no acertar no arriol ou no enfiar na colitra e nas moedas de dez e vinte centavos que me ganhou por mrito dele e inpcia minha. Ir tardinha ao poo Giraldo dar de beber aos burros machos e mulas do Bl Afonso, montado em osso num velho macho, descendo a ladeira ngreme da eira at ao referido poo; os outros prticos e sabidos a correr e eu a escorregar pela espinhela da alimria que, velhaca, baixava a cabea para me despejar pelo pescoo afora.

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A altura das acefas e das debulhas, com toda a azfama do transporte do trigo e da palha para o ovil e arramadas, a granel, com os fueiros e as redes de corda a amparar e a pequenada a fazer malabirismos em cima. noite, de mantas s costas, ir dormir eira at o sol raiar! Ouo ainda, vindos da taberna do Centro (Republicano) ou do largo, os coros dos homens, que depois de sarem da mina e de terem tratado das suas hortinhas na Tapadinha se juntavam para entoarem os cantos da margem esquerda do nosso Alentejo. Mas tudo isto que aqui recordei passado, embora de boa memria. A realidade dos Montes Altos hoje outra, s havendo a lamentar que tenha surgido to tarde. Com embrio no pequeno edifcio da Escola Primria, surgiu, em 1993, o Centro Social, instituio particular de solidariedade social, visando apoiar os que foram ficando aps fecho da Mina. O Centro Social com o apoio a idosos de que minha Me beneficiou, em termos de convvio e apoio domicilirio - representa uma obra notvel! O Lar de Terceira Idade, o Centro de Dia e Apoio Domicilirio, os cursos de Corte, Confeco e Decorao e de Artes Decorativas, a Empresa de Construo Civil Solidrios e Constutores, a recuperao e a reintegrao social de pessoas necessitadas e o mais que j deve estar na forja, so adobes slidos de uma monumental construo. No conheo a totalidade da evoluo deste processo, desde o quase nada Obra existente; muitos colaboraram, esforaram-se e entreajudaram-se na luta para o que hoje nos faz pasmar pelo arrojo e pela capacidade de realizao, conhecendo ns como so difceis os caminhos. De entre todos eles eu destaco um homem de larga viso, grande dinamismo e capacidade de realizao: Antnio Diogo Sotero, um grande corao! Gonalo Coelho

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Em conversa com os idosos

No por demais repetir que o Centro Social dos Montes Altos e o Lar de Terceira Idade foram pensados sobretudo em funo dos idosos: os idosos de Montes Altos, os idosos da freguesia de Santana de Cambas, antigos mineiros e contrabandistas, pessoas que tiveram vidas difceis; idosos de todo o lado. Ou melhor, todos os idosos que revelem necessidades e cuja soluo esteja ao nosso alcance. Mas onde esto esses idosos, que a vertigem do mundo moderno, sob o imperativo da produo e das imagens de marca, teima em esconder e marginalizar. Alguns deles, e j no so assim to poucos, esto aqui. Esto em Montes Altos, no Lar, ou ento so utentes das valncias de Apoio Domicilirio, Centro de Dia e de Convvio (todos os residentes da povoao usufruem dos servios do Centro Social). Introduzir este tema - Em conversa com os idosos - pois ir de encontro a estas pessoas, esses idosos. ouvir a sua voz, tantos anos calada e amordaada, trazer estes rostos, atribuir significado s suas experincias de vida e enaltecer a dignidade e o respeito por aqueles que prepararam o terreno, com enormes sacrifcios, para ns, hoje, termos e sermos aquilo que somos! Este um captulo com nomes, rostos e opinies, um captulo em que o idoso convidado a pronunciar-se, mesmo que isso, por vezes, contrarie alguns hbitos de inrcia. Os extractos de dilogos que se seguem dizem respeitam a conversas com os idosos residentes no Lar, mas tambm com alguns frequentadores do Centro de Dia. Pessoas houve, que por motivos de sade, no puderam marcar a sua presena.
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Nome: Amlia da Conceio Loureno Data de Nascimento: 06.02.1912 (91) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s Data de Admisso: 24.02.2001 No Monte nasci, fiz-me mulher e casei, com um homem que era meu vizinho. Tinha 14 anos quando comecei a namorar com ele. Aos 23 casei. Tivemos um filho e uma filha; esta, mais tarde, casou com um irmo da Lcia. Dessa unio resultou um primeiro filho, que morreu. Tenho sofrido muito na vida! Tiveram depois um segundo filho, que eu criei aquele neto que me costuma visitar. Ele estudou no Monte, at idade de dez anos, altura em que concluiu a 4 classe, aqui, na antiga escola. Depois fui para Mrtola. Deixei a minha casa para ir para Mrtola com o neto: o que uma av faz pelo neto! Entretanto adoeci; eu estava mal e ele teve que ir para a Holanda, tinha ele 14 anos. Depois de velha tenho corrido o mundo. Agora j no posso, que tenho 91 anos, mas ainda hoje sou capaz de fazer qualquer habilidade, que o que muitas novas no fazem! Passei alguns tempos da minha vida na Holanda. Quando vim de l fui para Mrtola e depois entrei no Lar. O meu sobrinho disse um dia que ia fazer um Lar. Eu ripostei: no te metas nisso que isso leva muita coisa; mas ele foi para a frente e ainda bem. Ele ia verme todas as semanas ao Lar, em Mrtola. Um ano antes do Lar de Montes Altos abrir eu vim viver para aqui, na minha casa. Na altura chegmos a estar s seis ou sete. Vnhamos para aqui, fazamos fogos na chamin... Agora tenho de me conformar com tudo: estou doente. Mas no h nada como a nossa casa! Nome: A n a M a r i a T e i x e i r a Data de Nascimento: 08.03.1916 (87) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 J faz dez anos o Centro Social? Eh l!! S tnhamos isto (diz ela, apontando para o Salo de Festas), que era da escola. O tempo passa num instante. Eu estou aqui h dois anos. Tenho bem a dizer de tudo. Foi uma sorte para a gente isto ter sido feito.

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Nome: A n a R o m a n a M a r t i n s Data de Nascimento: 14.10.1908 (95) N a t u ra l i d a d e : S a n t a n a d e C a m b a s Data de Admisso: 23.03.2001

Tm-me tratado bem, no vou dizer o contrrio. O Ti Gato? Esse escapa, no tem dvida, bom. A Silvria ajuda muito toda a gente. Hoje o gaspachinho estava muito bom!

N o m e : Antnia Brbara Data de Nascimento: 16.10.1912 (91) N a t u ra l i d a d e : V i c e n t e s Data de Admisso: 09.04.2001 Gosto muito de um gaspachinho!

Nome: T e r e s a M a r i a L o u r e n o D a t a d e N a s c i m e n t o : 1 7. 0 2 . 1 9 1 8 ( 8 5 ) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s Data de Admisso: 01.05.2001 Gosto de estar aqui, no tenho nada a dizer. Sou bem tratada, gosto da comida! N o m e : Antnio dos Santos D a t a d e N a s c i m e n t o : 0 7. 0 1 . 1 9 1 7 ( 8 6 ) N a t u ra l i d a d e : E s p i r i t o S a n t o Data de Admisso: 01.05.2001 um lugar bom, no tenho que dizer nada. Dou-me bem com todos. Hoje em dia j tudo difcil para mim. que j tenho uma idade avanada, 86 anos, e mal posso com as minhas pernas.
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Nome: Antnio Joo Alves Data de Nascimento: 22.09.1914 (89) Naturalidade: Cabea Gorda Data de Admisso: 21.02.2002 Nasci na Cabea Gorda. Com a idade de 15 anos fui para o Sobral dAdia. Durante a vida trabalhei em hortas, em coisas dessas. Mais tarde voltei para a Cabea Gorda, estive l no Lar, depois fui para Mrtola (UAI), at que vim para c. Aqui tenho-me dado bem. Este Lar, e outros, fazem muita falta. Este Lar o s. tudo com fartura: comida, etc...

Nome: Brbara Maria Luciana D a t a d e N a s c i m e n t o : 0 4. 0 5 . 1 9 1 9 ( 8 4 ) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s Data de Admisso: 15.10.2002 Isto aqui at no dos piores stios! claro, no h nada como estarmos em nossa casa. Ainda por cima estar a pagar para aqui estar!! Deus tenha pena da gente. Sim porque ns no estamos aqui sozinhos, Deus anda com a gente! Mas, pensando bem, que falta tenho eu de andar aqui? Um dia vim c ver umas casas da minha me, fui apanhada e fui ficando por c. No sei, parece que foi bruxedo!! que no h nada como a casa da gente, por mais pobre que seja! Ah, coitado do rapaz (apontando par o Ti Diogo)...que ele com isto no se governa. Ora pois, tem de prestar contas ao governo. Isto uma tentao!! A gente aqui no sabe quanto dinheiro tem, se ou no aumentada... Nome: Brbara Rodrigues Data de Nascimento: 20.05.1908 (95) N a t u ra l i d a d e : M o n t e D e c o s t a Data de Admisso: 10.03.2001

Nasci na Decosta j h muito tempo. Foi h mil e cinco anos. Queria ficar mas no sei! Dizem que j no posso. No sei, sei l!

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Nome: Brbara Vizeu Data de Nascimento: 25.02.1915 (88) Natural idade: Moreanes Data de Admisso: 01.05.2001 Sou da Moreanes. Sei l h quanto tempo aqui estou! Tou farta de aqui estar! No me sinto bem em parte nenhuma. A comida boa, f-la a minha Maria (pensa que a filha quem faz o comer!). A Silvria? Parece que se vai embora, l para a terra dela. As mocinhas (funcionrias) trabalham em tudo.

Nome: Cibele Catarina Salgueiro D a t a d e N a s c i m e n t o : 1 7. 0 1 . 1 9 1 7 ( 8 6 ) N a t u ra l i d a d e : M i n a d e S . D o m i n g o s Data de Admisso: 10.03.2002 Fui nascida, baptizada e criada na Mina. Vim para c tambm porque j c estava a Maria Pires, assim no teria de ficar sozinha. Tenho sido uma pessoa doente essa tambm uma das razes pela qual vim para c mas agora j me sinto melhor. Estou bem aqui, tenho-me dado bem.

Nome: D e l m i r a M a r i a d o N a s c i m e n t o Data de Nascimento: 29.111.1913 (90) N a t u ra l i d a d e : A l c a r i a R u i va Data de Admisso: 06.11.2001 Gosto de estar aqui. No me lembro de nada, nem onde nasci! Portam-se todos bem comigo. Quando quero conversar vou ao Padre. No gosto de tanta conversa, que j me di a cabea.

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Nome: Emilia Maria da Conceio D a t a d e N a s c i m e n t o : 0 4. 0 5 . 1 9 0 8 ( 9 5 ) Naturalidade: Mor eanes Data de Admisso: 12.03.2001 Aqui sinto-me estimada. Pena j no poder andar. J no tenho dentes, custa-me engolir, sinto-me mal do estmago. Sou j muito velha, tenho 95 anos.

N o m e : Francisco Antnio Chora D a t a d e N a s c i m e n t o : 0 7. 0 6 . 1 9 2 9 ( 7 4 ) N a t u ra l i d a d e : M i n a d e S . D o m i n g o s Data de Admisso: 24.02.2001 Face ao meu estado de sade se no fosse o Centro dos Montes Altos onde que eu estaria a esta hora? No sei o que teria sido de mim. Ainda bem que esta obra foi feita e existe, para mim e para outros tantos, que como eu, necessitam disto.

N o m e : Francisco Ramos da Palma D a t a d e N a s c i m e n t o : 1 0 . 0 4. 1 9 2 1 ( 8 2 ) N a t u ra l i d a d e : P i c o i t o s Data de Admisso: 10.11.2001 Ento no h de valer a pena uma obra destas? Faz falta para virmos para c todos. Se eu ainda pudesse trabalhar era outra coisa, mas assim... Aqui tenho bebido pouco. Sou bem tratado. As empregadas so jeitosas, mas j no querem os velhos!!
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Nome: Gaudncia Encarnao Rosa Data de Nascimento: 05.01.1914 (89) N a t u ra l i d a d e : M i n a d e S . D o m i n g o s Data de Admisso: 15.03.2001 Se no tivesse vindo para aqui no sei onde estaria. J no podia estar em casa, estava mal: o principal problema a vista. Enquanto o meu corpo podia trabalhar e ver era outra coisa. Estava habituada a viver de uma maneira e no pude continuar! No tinha refgio em bandas nenhumas. Aqui hei-de morrer e sigo directamente para a Mina de So Domingos (cemitrio). Se no tivesse a minha cabea em bom estado no sei onde estaria a esta hora.

Nome: I l d a M a r i a V i r g i n i a Data de Nascimento: 10.02.1918 (85) N a t u ra l i d a d e : Va l e d o Po o D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Acho bem...Estamos bem aqui. Alm disso, a sorte calhou assim, gosto do pessoal, estimam a gente bem. A comida razovel. Em tratando a gente bem o melhor de tudo. Pois isso o que a gente tem falta: carinho!!

Nome: Joana Loureno Pred a Data de Nascimento: 25.01.1919 (84) N a t u ra l i d a d e : E s p a n h a Data de Admisso: 13.04.2002

Estou aqui h pouco tempo. Gosto de estar aqui. Temos quem olhe por ns. Eu sou espanhola, mas tenho casa aqui na Mina. Casei aqui no Monte. O meu marido era daqui, chamava-se Joo Baptista.
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Nome: J o o J o a q u i m d a P a l m a D a t a d e N a s c i m e n t o : 2 1 . 0 4. 1 9 2 7 ( 7 6 ) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s D a t a d e A d m i s s o : 1 4. 0 7. 1 9 9 4

Acho bem tudo isto. O pior a minha vista. O resto est tudo bem, as pessoas, a comida, tudo...Havia isto de durar muitos anos, c pr meu ver. No tinha vontade de vir para c, mas em no podendo ainda bem que isto existe.

Nome: Jos Rosa Valadas D a t a d e N a s c i m e n t o : 2 3 . 0 7. 1 9 3 0 ( 7 3 ) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s D a t a d e A d m i s s o : 1 4. 0 7. 1 9 9 4 Foi bom e est sendo bom. Gosto de vir aqui, ver isto aberto, a funcionar. Se no fosse o Centro isto estava tudo morto. Tambm bom para os novos, os que aqui trabalham ou os que aqui vm passar as frias.

N o m e : Manuel Antnio Francisco Data de Nascimento: 12.02.1916 (87) N a t u ra l i d a d e : Va l e d o Po o D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Temos de estar aqui! Para estarmos noutro lado estamos aqui! A gente no pode estar na nossa casa. No h lugar melhor que o nosso, mas a gente no pode estar l! Os filhos tm que tratar das suas vidas e ns no podemos estar sozinhos, temos de ficar por aqui! No meu tempo no havia disto, tnhamos de morrer sozinhos!

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Nome: Manuel Francisco Afonso Data de Nascimento: 11.02.1911 (92) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Nasci aqui no Monte. Sa daqui com 32 anos. Morei cinquenta e tal anos na Mina. Agora sinto-me aqui encerrado. No saio daqui para fora, tm que andar comigo pela mo...

Nome: M a n u e l a d o s S a n t o s Data de Nascimento: 11.11.1918 (85) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s Data de Admisso: 16.06.2001

Nasci em Santana de Cambas. Gosto de estar aqui. A comida boa, sou bem tratada.

Nome: Maria Antnia Morgado D a t a d e N a s c i m e n t o : 0 4 . 0 4. 1 9 1 3 ( 9 0 ) N a t u ra l i d a d e : A l c a r i a R u i va Data de Admisso: 20.04.2001 Por enquanto no tenho desgostado. Sabe onde a minha terra? Alcaria Ruiva. Do que mais tenho saudades da minha casa e de ver os meus filhos. Tenho saudades deles. Uns esto em Lisboa, outros em Castro Verde, outros nem sei. No que eu esteja mal, mas no h lugar como na nossa terra.

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Nome: Maria Antnia Data de Nascimento: 29.06.1917 (86) Naturalidade: Navarr o D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Nasci no Monte Navarro. Fui a primeira a vir para aqui, ainda isto no era praticamente um Lar. Todas me tm tratado bem. Gosto da comida que aqui se faz, sou de boa boca! No tenho falta de nada. Falta tenho do meu marido que morreu...

Nome: Maria Gertrudes Lopes Data de Nascimento: 16.03.1918 (85) N a t u ra l i d a d e : M o n t e s A l t o s Data de Admisso: 24.02.2001 Nasci aqui neste Monte. O que que eu vou contar, se no saio daqui? No sei das novidades. Aquela (apontando para a Antnia Brbara), daqueles lados do rio! Esta terra? Isto um Centro Social! Para mim estou bem aqui, tenho quem me d de comer e cama! Estamos alm (referindo-se ao quarto no Lar) 3 dormindo, duas do Monte e outra da Mina. Foi grande ideia o Ti Diogo ter tomado posse disto, no acham?

N o m e : Matilde Aleixo Correia Data de Nascimento: 16.03.1920 (83) N a t u ra l i d a d e : M i n a d e S . D o m i n g o s D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Acho bem esta obra. Gostava mais se tivesse o meu marido! Aqui h coisas que gosto mais e outras que gosto menos, mas isso acontece em todo o lado. Isto bom, pena que eu no esteja em condies...estou cheia de dores. Se no fosse o Ti Diogo j no estava c!

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Nome: S i l v r i a M a r i a S a l v a d o r Data de Nascimento: 16.02.1921 (82) N a t u ra l i d a d e : S a n t a n a d e C a m b a s D a t a d e A d m i s s o : 2 4. 0 2 . 2 0 0 1 Se no gostasse de aqui estar no tinha para c vindo, tinha ficado onde estava! No temos falta de nada, graas a Deus. Estou melhor aqui do que se estivesse na minha casa, sozinha. S tenho a dizer bem. Eu gosto de todos. Se algum no gosta de mim com eles!

N o m e : Vitor Antnio Incio Data de Nascimento: 10.11.1937 (66) N a t u ra l i d a d e : M o n t e d a s F i g u e i ra s D a t a d e A d m i s s o : 3 1 . 0 7. 2 0 0 1 Como que vim aqui parar? Vim c parar atrs de um rebanho de ovelhas. Estou aguentando por aqui at poder. preciso que haja algum, entretanto, que olhe por elas (ovelhas)! Isto aqui bom. reas boas, bons terrenos, bons criadores... tudo bom, at a gua boa! E h para a gente a fazer boas brazas.

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* * * Muita coisa sentida e alguns disparates povoam o discurso e o imaginrio dos nossos idosos. Destes testemunhos, se assim se lhes pode chamar, extraem-se no entanto algumas ideias-chave pertinentes. Quando se fala na necessidade de construo de lares ou de outros equipamentos sociais fala-se normalmente em termos de bem colectivo, mas de uma forma relativamente distanciada. Assim, ir de encontro a estes idosos ir ao encontro das suas necessidades e aspiraes, um a um, individualmente, como contraponto s consideraes genricas que no raramente apresentam uma perspectiva distanciada relativamente aos problemas reais. aproximarmo-nos das motivaes reais, da vida como subjectivamente experimentada por cada um. Esquecidas so muitas vezes tambm as diligncias que se podem e devem tomar no sentido de encurtar o tempo de execuo das vrias iniciativas ou de tornar mais cleres alguns processos cujo arrastamento no tempo de todo incompreensvel e imperdovel. O Centro Social foi, no raro, objecto de duras crticas pela forma acelerada ou menos ortodoxa de proceder. No entanto esquece-se de que foi essa rebeldia e esse tom provocador que permitiram, em tempo record , mais a mais se atendermos escassez de meios, a construo do Lar Terceira Idade e a implementao de uma srie de servios de apoio a pblicos-alvo desfavorecidos. Ir de encontro a estes idosos perceber que se por ventura tivssemos achado que a construo do Lar era um empreendimento adivel ou mesmo dispensvel (como algumas pessoas com responsabilidade sustentaram), muitos destes idosos hoje encontrar-se-iam numa situao francamente deplorvel ou j estariam mortos. Mas tambm perceber que estes idosos precisam de carinho (necessidade que alguns chegam a expressar explicitamente), e no pode haver maior urgncia do que a urgncia de criar condies para que os idosos, solitrios e tristes (no raro abandonados pelas famlias), possam receber o carinho que merecem. Efectivamente, sempre que uma pessoa, uma s que seja, em qualquer parte do mundo, est mal, a responsabilidade deve ser de todos, e ser responsvel, como contraponto desresponsabilizao dominante alimentada por esta vida que se vive em tempos modernos e ps-modernos de uma forma cada vez mais (ego)sta, agir e no deixar que no se aja, unir, com verdade, pensamento e aco. Ir de encontro a estes idosos, ao que eles dizem e pensam, , portanto, ir de encontro raz deste projecto, exaltar um princpio de humanidade inadivel e inalienvel.
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Muitos dos idosos expressam o seu reconhecimento face a este projecto. No foi nosso objectivo fomentar esse esprito ou forj-lo de modo artificial. O facto que estes idosos, e muitos outros de muitos lugares, precisam, infelizmente (pois tal como eles frisam no h nada como a nossa casa!) destes equipamentos. Do que eles dizem ressalta a importncia de terem quem cuide deles e lhes d afecto, o sofrimento fsico e psicolgico ligado emergncia de doenas associadas ao avanar da idade, o sentimento generalizado de isolamento em relao aos familiares (filhos), entre outros. Tratam-se portanto de elementos que confirmam a populao idosa como carente de afecto e ateno. H pois que continuar a ouvi-los e perceber o que se passa por detrs de cada queixa; que necessidade a nvel psicolgico se esconde por detrs de um sintoma fsico? H pois que continuar a ouvi-los, a dar-lhes voz. O que foi feito neste captulo, pelas razes acima apontadas, foi um pouco isso, donde o seu valor tambm no plano simblico.

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Diplomas de Solidariedade
muito difcil dar a volta s coisas, mudar o destino de uma terra, sobretudo quando tudo a puxar para baixo. Teoricamente h mais hipteses quando existe uma associao. S que uma associao outro bico dobra. muito complicado constituir uma associao, fazer convergir a vontade popular numa unidade de fora, gerir a associao com os seus recursos e constrangimentos, manter a vontade dos associados mais ou menos alinhada, resistir, enfrentar ou aparar golpes. De facto, fazer tudo aquilo que se fez em Montes Altos, ou at uma nfima parte disso, muito difcil de concretizar, provavelmente bem mais difcil do que supunham aqueles que nunca acreditaram no projecto Montes Altos ou que apenas acreditaram quando viram a obra feita. Por isso mesmo tal s foi possvel com a inestimvel ajuda, maioritariamente voluntria, de muita gente, associados ou no, que desde o incio do projecto e em diferentes fases do mesmo, emprestaram a sua solidariedade, empenho e competncia, sem o que aquilo que somos e temos nunca teria chegado a existir. Consciente disso mesmo, entendeu a Direco, desde os primrdios da associao, distinguir regularmente (a princpio a periodicidade era anual) cidados ou entidades cuja contribuio se revelou fundamental para levar para a frente este ousado projecto - atribuio do Diploma de Solidariedade. Passamos a citar os galardoados de outros anos: Rogrio Bravo, Antnio Diogo Sotero, Antnio Raposo, Paulo Neto, Lus Serrano, Jos Jacinto Parreira, Jos Carlos Mateus, Jaime Salvadinho, famlia Santos, Antnio Gonalves dos Santos, Carlos Pereira, Carlos Ramalhinho, Joo Aparcio, Joo Ricardo Santos, Jos Rodrigues Simo, Maria Vitria Parreira, Manuel Pacheco Maduro, Miguel Bento, Michel Coupier, Moura Fontes, Rui Constantino e Salvador Silva. De fora ficam naturalmente muitos nomes, alguns deles, possivelmente, futuros contemplados. Este ano, o dos dez anos do Centro Social, depois de um interregno de 3 anos (a ltima vez que os Diplomas foram entregues foi em 2000), o Centro voltar a distinguir duas individualidades no dia do seu dcimo aniversrio. So eles o Jos Manuel Martins e a Silvria Salvador, esta ltima utente do Lar de Idosos.

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Silvria Maria Salvador Silvria nasceu em Santana de Cambas, no ano de 1921, numa famlia de oito irmos. A Silvria foi a segunda Silvria que os seus pais tiveram, pois uma primeira filha com esse nome morreu. O pai trabalhava na contramina, mas depois de vir debaixo da terra ainda arranjava tempo para trabalhar no campo, carregar lenha ou ir para o contrabando, como era habitual em zona raiana. A Silvria pouco tempo esteve na escola, no chegando a concluir nenhum ano lectivo. O pouco que sabe, em termos de leitura, aprendeu por conta prpria, margem do contexto escolar. Com apenas a idade de 9 anos foi para casa do Sr. Francisco Dourado, que trabalhava nos escritrios da Empresa Mineira. Nessa casa, e ainda to jovem, ela servia, como serviu depois em Vila Real de Santo Antnio e em Beja, sempre em casas de pessoas naturais da sua aldeia Santana. Casou por volta dos 25 anos, com um homem da aldeia do Esprito Santo, tambm ele mineiro. Aps viverem cerca de um ano em Santana, o casal mudouse para a Mina de So Domingos. Diz a Silvria que a partir do casamento em diante deixou de servir os outros e passou a servir apenas a sua casa. E o trabalho no era pouco, incluindo o trabalho hortcola. Mas isso no inteiramente verdade e precisamente por isso que a Silvria vai ser distinguida este ano com o Diploma de Solidariedade. Efectivamente a Silvria temse revelado incansvel, ajudando em tudo o que pode: faz a sua cama, e s vezes a dos outros, ajuda os idosos com dificuldades na deslocao, faz um ou outro recado, entre tantas outras coisas. Desde a sua entrada para o Lar, a Silvria tem desempenhado um papel fundamental no apoio ao funcionamento deste equipamento, oscilando a sua postura entre a utente e a funcionria. Deixamos aqui uma nota: isto acontece por iniciativa da Silvria, pelo seu voluntarismo, e no porque o Centro alguma vez tenha aproveitado esta circunstncia para captar mo-de-obra. Os papeis esto bem diferenciados,
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com rigor, no havendo seguramente lugar para sobreposio de estatutos. No entanto o Centro Social no quer deixar de expressar o reconhecimento pela solidariedade evidenciada pela Silvria. Solidariedade pela casa mas sobretudo pelas colegas, as outras idosas. Silvria, um exemplo de fora-viva, de solidariedade e autonomia. Silvria, 82 anos, filha de mineiro, viva de mineiro.

Jos Manuel Cruz Martins O Z Manel, como ns lhe chamamos, nasceu em 1958 e natural dos sapos, freguesia de Mrtola. Acerca dele fica este testemunho da autoria de Antnio Diogo Sotero.

Conheci o Z Manel na casa do Alentejo em Lisboa, a pelos anos oitenta. Tnhamos em comum o facto de amarmos o nosso Concelho de Mrtola , o nosso amigo Jacinto (que nos deixou to cedo) e o facto de no aceitar a ideia e as ideias de subdesenvolvimento que povoavam os polticos que por aqui reinavam. Eu, alm de dar o meu voluntariado na rea patrimonial e documental, ainda arranjava tempo para subir ao bar, beber com os amigos um jarrinho de branco acompanhado de uns torresmos. Os valores da solidariedade, a admirao pelos homens e mulheres que pelo mundo fora lutavam em prol dos mais fracos e, porque no diz-lo, o ar e a alma do Z (um sorriso aberto e uma disponiblidade para todos. Com o projecto de Montes Altos tive oportunidade de verificar que os ideiais do Z Manel no eram palavras vs, pois a passagem prtica solidria com esta Instituio foi um pice. No vou aqui enumerar os bens que ele anda arrecandado por Lisboa para trazer para os nossos utentes, nem o carinho que dedica a cada um dos que contacta, muito menos as suas boleias para Lisboa ao domingo noite. Nada disto cabe no homem que d porque s pode dar, ri porque nasceu a rir e ama porque no sabe no amar. Em suma existem poucos Zs Manis como este, que s vezes parece que gosta de toda a gente, que se d bem com todos os credos, regies e religies, esquerdas e direitas, enfim...no fosse o pecado original e o Z podia ser mais um dos apstolos em verso alentejana. Obrigado Z por seres meu amigo e sobretudo por partilhares comigo as preocupaes sociais.
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EMPREGABILIDADE E FIXAO POPULACIONAL


Alm da supra-citada preocupao com os idosos, outra preocupao, de algum modo associada, sempre nos moveu: a desertificao populacional. que uma terra que no empresta aos idosos a dignidade que eles merecem nos ltimos anos de vida, ou seja, uma terra que no proporciona condies para morrer, tambm no pode propiciar condies para viver. Consequentemente grande parte das pessoas abandonaram esta regio quando podem, procura de melhores condies de vida, resultando um cenrio de desertificao. Desde o incio o Centro Social dos Montes Altos props-se intervir neste domnio, tendo criado condies para que os residentes na povoao tivessem uma velhice mais condigna, os naturais ausentes se sentissem mais aliciados e confortados para passar algum tempo na sua terra e para que muitos outros naturais regressassem inclusivamente ao Monte, alterando radicalmente as suas vidas. E quando dizemos que o Centro Social criou condies, falamos de coisas muito concretas, a saber: ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Alcatroamento do troo de estrada que liga a povoao Mina de So Domingos Arruamentos gua canalizada Centro de Convvio Centro de Dia Apoio Domicilirio Lar de Terceira Idade Animao Comunitria Promoo de eventos culturais Promoo de eventos ldicorecreativos Atendimento e acompanhamento psicossocial de indivduos em situao de desfavorecimento

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Into tanto mais notvel se atendermos que estas conquistas foram alcanadas num perodo de tempo inferior a dez anos. Por outro lado estas condies estiveram na origem de resultados concretos: ! ! ! ! Cerca de 70 idosos directamente apoiados pelos servios prestados no mbito das nossas valncias. Mais de cem indivduos / famlias acompanhados no mbito do Gabinete de Atendimento Psicossocial. Doao de gneros alimentcios, dinheiro, apoio logstico (nomeadamente transporte) e obras de beneficincia a particulares necessitados ou a Instituies. Criao e provimento de quase 40 postos de trabalho.

sobre este ltimo item que trata o presente captulo, pois a empregabilidade relaciona-se com a fixao populacional e contraria a desertificao que tem dominado por estas bandas, sobretudo aps o encerramento das minas de So Domingos. Efectivamente, sendo a terceira entidade empregadora do concelho (aps a Cmara Municipal e a Santa Casa da Misericrdia), o Centro Social tem dado um contributo deveras significativo para a fixao populacional, que era alis um dos objectivos que presidiu sua fundao, em 1993. A criao de postos de trabalho tem permitido a muita gente encontrar aqui o seu sustento, diminuindo a taxa de desemprego da freguesia ou o recurso a mecanismos sociais de proteco, como o rendimento social de insero. Por outro lado muitas das pessoas que por aqui passam, at por se tratarem de indivduos com alguns problemas em termos pessoais e sociais, aprendem no s uma profisso mas sobretudo a comportarem-se e a relacionarem-se com os outros e consigo prprios, constituindo essa fase uma importante etapa do seu crescimento. E isto porque o Centro Social procura invariavelmente aliar a produtividade ao desenvolvimento pessoal dos funcionrios, numa postura inequvoca e permanentemente social. Outro dos aspectos, intimamente associado aos factores mencionados no pargrafo precedente, prende-se com a circunstncia de algumas pessoas terem mudado, radicalmente, e para melhor, na opinio dos prprios, as suas vidas. O Centro Social naturalmente congratula-se e no esconde a sua satisfao pelo facto de ter estimulado processos que configuram um resultado globalmente muito positivo. Neste captulo debruamo-nos sobre duas situaes, que correspondem, precisamente, s funcionrias mais jovem (Patrcia) e menos jovem (Aliete) da
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Instituio. A escolha decorre de critrios subjectivos, certo, mas entendemos que estas duas situaes correspondem a dois casos pardigmticos que testemunham, designadamente, a diversidade que caracteriza este grupo de trabalho. A Aliete me da Man, talvez a nossa principal coqueluche. At dar entrada no curso de Geriatria, iniciado em Julho de 2000, trabalhou voluntariamente no Centro, assegurando um trabalho indispensvel numa altura em que ramos uma Instituio an, com muita vontade mas poucos meios; numa altura em que s pudemos crescer graas ao facto de haver pessoas com a generosidade da Aliete. Alis, o Centro Social tambm teve um papel importante na vida da Aliete e respectiva famlia. A sua constituio esteve na origem da re-aproximao da Aliete povoao que a viu nascer e para a sua filha, a Man, foi ouro sobre azul, pois nunca se sentiu to bem num stio como em Montes Altos. A criao do Centro permitiu, de facto, o regresso da Aliete terra que a viu nascer, sobretudo pelo facto de ter propiciado a integrao da sua filha, a Man, cuja presena neste espao constituiu um elemento caracterizador do mesmo. A Aliete, depois de um perodo de trabalho voluntrio, celebrou, decorria o ano de 2001, um contrato de trabalho sem termo com o Centro Social, assumindo funes de enquadramento ao nvel dos servios prestados aos idosos. ENTREVISTA CSMA: Em que ano nasceu (que feio perguntar a idade a uma senhora)? Aliete: Em 1939. Foi no fim do ano. Por um triz tinha nascido em 1940. Assim j no era dos anos trinta, mas sim dos anos quarenta. Ah, eu no me importo com essas coisas! CSMA: Com que idade saiu aqui do Monte? Aliete: Tinha 16 anos. CSMA: Enquanto esteve fora, ou mesmo agora, o que que mais recorda desses primeiros 16 anos de vida? Aliete: O convvio com as amigas da minha idade, os bailes, os cantares, as idas aos poos buscar gua, as festas... Na altura festejava-se o So Joo, a Pscoa e o Natal. Eram alturas em que comamos carne! Agora come-se carne todos os dias, mas na altura s se comia carne nas festas, pois quase toda a gente tinha galinhas. Eram tempos difceis, em todo o lado as pessoas passavam dificuldades, e por isso comia-se sobretudo po e feijo.

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CSMA: Porque saiu aqui do Monte? Aliete: Quando acabei a escola fui para a costura. Na altura as mes tinham o hbito de colocar as filhas em casa de costureiras, para aprenderem e para ocuparem o tempo. Assim aconteceu comigo. S que a mocidade vai crescendo e comea a exigir cada vez mais coisas. Tinha uma irm em Faro e fui para l, onde comecei a servir em casa de particulares. Foi difcil para mim adaptar-me em Faro, integrar-me naquele ambiente. At porque na altura Montes Altos estava em fora, a mina ainda funcionava. CSMA: Quantos anos esteve sem voltar ao Monte? Aliete: Sei l, para a uns vinte! Primeiro estive cinco anos sem c voltar, passei aqui dois dias e estive mais oito anos sem c vir. Foi assim... No fim de 1993 vim c passar o Natal e o Ano Novo. No conhecia a escola (edifcio que, depois de adaptado e ampliado, originou todos os equipamentos do Centro Social). que quando daqui sa ainda no existia esta escola e quando aqui estive, por essa altura, ela j estava construda...e desactivada! Eu andei numa escola l em baixo, na Mina, e na daquela ponta do Monte, ao p do antigo posto da Guarda Fiscal. Quando aqui estive em 93, ainda tinha a lembrana dos rapazes e raparigas da minha idade. Havia uma pessoa, que vivia em Lisboa, que j no via h 42 anos. Reencontrmo-nos aqui, ao fim deste tempo todo! Foi muito engraado. O Ti, esse j no o reconhecia. Quando sa daqui ele tinha pra a 5 ou 6 anos. E os irmo era a mesma coisa. Embora conservasse uma ideia das suas fisionomias, no os reconheceria se os encontrasse noutro stio. Gostei de c estar. Disse ento ao meu marido: Gostava tanto de ter uma casa aqui no Monte! porque aqui ficvamos na casa de uma sobrinha minha. O meu marido vinha c mais vezes, costumava ir caa com o cunhado e encantava-se muito com estas coisas do campo. Mostrou-se receptivo minha ideia. Onde eu estava, no Algarve, no podia trabalhar...por causa da Man. Sentia-me isolada e aborrecida, pois o marido passava o dia todo a trabalhar. Ele cedo saa de casa e s regressava ao fim do dia. Estava assim encerrada entre quatro paredes, sem ningum para conversar. Por causa disso arranjei um grande problema de nervos, o que foi muito mau para mim e tambm para a minha filha. Entretanto o tempo passou e conseguimos fazer a casa. Fiquei encantada: embora ficasse bem em casa da minha sobrinha, no h nada
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como termos a nossa casa! Mas se o meu marido no tivesse gostado da ideia nunca teramos feito a casa. E assim que j faz trs anos que no ponho os ps no Algarve; e no tenho saudades nenhumas!! CSMA: Qual o seu sentimento em relao a este projecto e em relao ao facto de ser actualmente funcionria desta Istituio em termos pessoais e familiares. Aliete: Para mim foi e muito bom. muito importante esta ocupao, pois o Monte um lugar muito isolado, correndo o risco de no haver convvio. Aqui no Centro onde eu e os outros convivemos. Este o meu espao de convvio, a minha vizinhana, a minha famlia...Sim, porque estou mais tempo aqui do que em casa. Passo mais tempo com esta gente do que com a minha famlia. Sobretudo a minha terra. CSMA: Em termos de trabalho? Aliete: Gosto de trabalhar aqui. Alm disso bom do ponto de visa da minha carreira, j em fase final. Quando me reformar continuarei a vir para aqui, como alis j o fazia antes de ter este contrato de trabalho. No consigo estar em casa sem fazer nada. CSMA: E quanto Man? Aliete: Foi muito bom! Foi bom em termos de convvio ou desenvolvimento da fala. Ela despertou muito. Fez-lhe bem esta mudana. E as outras pessoas ainda notam mais do que eu! A Man quando veio para aqui mal sabia andar. No se adaptava a andar no campo. Agora corre por tudo o que stio: est muito mais desembaraada!!

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* * * A Patrcia Alexandra Pires Guerreiro, nascida a 27 de Agosto de 1984 (Virgem de signo), natural dos Picoitos. Aps ter abandonado os estudos e encontrar-se numa situao de procura do primeiro emprego, esta jovem, com apenas 18 anos, integrou um curso de Geriatria, no mbito do programa Insero Emprego, na sequncia do qual est actualmente a estagiar no Centro Social dos Montes Altos. Embora esteja aqui h pouco tempo, o certo que a Patrcia tem evidenciado uma notvel capacidade de trabalho, assumindo com zelo e responsabilidade as tarefas que lhe tm sido confiadas. Est em franco progresso, o que bom de verificar depois de termos acompanhado todo o seu processo de procura de emprego enquanto andava desocupada e desmotivada na aldeia de Santana de Cambas.

ENTREVISTA
CSMA: Como que chegou a acontecer a tua colaborao com o Centro Social dos Montes Altos? Patrcia: Primeiramente vim para aqui como voluntria, porque me agradava a ideia de trabalhar com os idosos e porque achava que devia ocupar o meu tempo de forma construtiva e produtiva. Entretanto, atravs de um estgio de um curso cuja parte terica frequentei em Mrtola, surgiu a oportunidade de estar aqui de outra maneira, o que bom. CSMA: Ests a pensar em voltar a estudar?
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Patrcia: De momento, no. CSMA: Porqu? Patrcia: Neste momento estou a trabalhar e pode no haver facilidade em conciliar o trabalho e os estudos, por exemplo em termos de horrios. Por outro lado estou a viver maritalmente e a vida familiar acaba por me roubar algum espao privado e disponibilidade para fazer outras coisas. CSMA: Tu tens mais estudos que maioria dos jovens daqui. Porque que achas que os jovens abandonam os estudos to cedo? Patrcia: Talvez por que cedo sintam a necessidade de comear a ter qualquer coisa seu. Assim saem da escola para ir trabalhar. CSMA: Pensas que esta regio oferece boas perspectivas para os jovens? Patrcia: No, sobretudo porque h poucas oportunidades de emprego. H a Cmara, os cursos, as obras, o Centro dos Montes Altos e quase mais nada. Alm disso as condies contratuais so normalmente precrias e os empregos muito incertos em termos de estabilidade e segurana. CSMA: Como perspectivas o teu futuro no Centro Social dos Montes Altos? Patrcia: Gostava de continuar por aqui. Espero corresponder s expectativas que depositam em mim para assim merecer a confiana dos dirigentes, colegas e outros tcnicos, e poder continuar a colaborar com esta Instituio. Penso que esta etapa da minha vida pode ser importante para crescer como pessoa e como profissional. CSMA: Gostavas de ficar sempre por estas bandas ou pensas em sair daqui um dia? Patrcia: Mais tarde gostaria de sair. Gostava de conhecer a vida de uma cidade. Aqui h muito pouca coisa. Alm disso esta gente complicada, todos se metem na vida uns dos outros. Aqui h poucas coisas para fazer, para ocuparmos os nossos tempos livres, para fazermos coisas diferentes. Patrcia Guerreiro, uma jovem empenhada em afirmar-se. Ambiciosa mas moderada pelos constrangimentos locais, no deixa no entanto de sonhar com um futuro diferente e melhor, talvez longe destas paragens. Um reflexo de que as necessidades de crescimento individual ainda no conhecem nesta regio um terreno favorvel para livre expresso e expanso.
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SOLIDRIOS E CONSTRUTORES

EMPRESA DE INSERO SOCIAL


Este o nome de baptismo da Empresa de Construo Civil de Insero Social, que constitumos em Janeiro de 2000 em feliz parceria com o Instituto do Emprego e Formao Profissional, com o objectivo de continuar a construo do Lar de Montes Altos, dar emprego a 11 pessoas desfavorecidas e realizar obras de construo civil de mbito social, gratuitas e tambm comerciais (na perspectiva lucrativa subjacente criao de uma empresa e sua manuteno). Por parte do Centro Social a equipa de enquadramento tem sido coordenada pelo Director da Empresa (que obrigatoriamente sempre o Presidente da Direco), o Dr. Jaime Salvadinho (que de forma gratuita apoiou e continua apoiando os membros da empresa), a tcnica de Servio Social e o Encarregado dos Servios Gerais. O Centro de Emprego de Beja, cujo trabalho com as instituies do Distrito merece o maior respeito, pela dinmica, percepo dos problemas sociais e empenho na sua resoluo, tem tido, na Dra. Celina ao Dr. Samuel ( a Eliete e Sr. Silva j esto aposentados), Sr. Coelho ao Manuel Rosa, da telefonista ao pessoal da Contabilidade, uma equipa que tem dignificado todos os funcionrios pblicos e qual este Centro Social est grato.
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Quanto aos funcionrios que tm passado pela nossa empresa, que obrigatoriamente so pessoas com problemas de ordem social, temos tido as experincias mais gratificantes, pese embora muitas das pessoas que aqui trabalharam e trabalham transportem problemas como toxicodependncia, deficincia mental ou alcoolismo; outros esto connosco apenas porque so desempregados de longa durao ou jovens em risco. Com eles terminmos a construo do Lar, efectumos mais de 50 obras de construo e pinturas, algumas delas construo de raiz. Em Montes Altos rara a habitao que no teve a nossa interveno. Em parceria com a Cmara Municipal de Mrtola efectumos obras no mbito de um projecto de Luta Contra a Pobreza em 6 habitaes e apoimos mais de uma dzia de recuperaes de habitao, incluindo as de funcionrios nossos. No campo social, alm do acompanhamento que diariamente realizamos, jantamos juntos duas a trs vezes por ms, cuidamos da sua imagem e sade (nomeadamente com arranjo de dentes, culos, doando alimentos, acompanhando-os a Centros de Recuperao etc...). Tivemos durante 9 meses um jovem deficiente que para aqui veio desenvolver trabalho comunitrio como alternativa deliberao de priso domiciliria, acompanhando ao mesmo tempo todo o processo judicial (no qual saiu ilibado), e celebrando com ele um contrato de trabalho de dois anos. As duas empresas de insero que temos, uma na rea da construo civil e outra na rea da lavandaria, tm constitudo ao mesmo tempo uma bolsa de trabalhadores que vamos integrando nos quadros do Centro Social.

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De facto, torna-se interessante e gratificante constatar, ao fim destes anos todos, que a empresa um elemento aglutinador por referncia ao conjunto de actividades desenvolvidas pelo Centro Social dos Montes Altos. Assim a Empresa permitiu: a construo do Lar de Idosos a recuperao de vrias habitaes de naturais residentes noutros pontos do pas (que muito tm contribudo para que a povoao de Montes Altos tenha um novo rosto, outra apresentao) a construo de outras habitaes de raiz realizao de obras de beneficiao (gratuitas ou semi-gratuitas) em habitaes pertencentes a pessoas em situao de desfavorecimento scio-econmico. Integrao profissional de indivduos em situao de desfavorecimento social (ex-alcolicos, ex-toxicodependentes, deficientes, excludos, entre outros) Acompanhamento psicossocial de indivduos (e respectivas famlias) pertencentes s categorias acima descritas

Efectivamente, no contexto desta empresa o cimento e as vigas casam a solidariedade, fazendo justia designao Solidrios e Construtores. Mas alm dos factos objectivos acima descritos, tem emergido no seio das relaes interpessoais que acompanham a evoluo desta empresa muitos dos ingredientes mencionados no prefcio desta publicao, ingredientes esses que inundam e transbordam o dia a dia laboral e que marcam simbolica e visceralmente o cariz do trabalho que desenvolvemos. Entre esses ingredientes incluem-se o sonho, o trabalho, o desgaste, o prazer ou a loucura. Muita gente tem passado por esta Empresa. Por definio uma empresa assente na rotatividade do pessoal (cada indivduo no lhe pode estar ligado mais do que dois anos) e na contratao de indivduos que apresentam algum tipo de handicap. Por aqui se pode depreender as dificuldades inerentes coordenao de um grupo de trabalho com estas caractersticas, que implica um controle muito elevado, uma pacincia desmedida, mas tambm um pulso de ferro, para pr a funcionar um conjunto de pessoas normalmente excludas pelos outros. Hoje em dia com alegria de que nos orgulhamos de desenvolver um trabalho meritrio, sob os pontos de vista tcnico e social, um trabalho levado a cabo por indivduos marginalizados e estigmatizados, mas que tm conseguido emprestar dignidade sua prtica profissional, afirmando progressivamente a sua identidade social e profissional, no jogo das relaes sociais. A Empresa j conheceu vrias geraes, como costume referirmos. Desde o perodo inicial, caracterizado pela integrao de indivduos com problemas no plano da toxicodependncia, aos tempos de agora, marcado pelo predomnio
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indivduos deficientes, a gesto do dia a dia tem configurado uma autntica avalanche de relaes, onde a intensidade dos afectos e das diferenas fazem do dia a dia um desafio permanente. Vrias geraes de indivduos, muitas diferenas, muito esforo na gesto de sensibilidades dspares, mas sempre o mesmo empenho e alegria no trabalho, sempre a mesma procura de elevar a condio humana s mais nobres aspiraes, que considerar cada indivduo como um fim em si mesmo e no como um meio. E agir em conformidade a esse princpio, ininterruptamente, regularmente, sem qualquer intransigncia, sem o menor desvio a essa mxima. Solidrios e Construtores, uma construo solidria, penosa mas gratificante! E como quem corre por gosto...

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INDICE
Pg. 4 Pg. 5 Pg. 7 Pg. 9 Pg. 11 Pg. 14 Pg. 17 Pg. 19 Pg. 21 Pg. 24 Pg. 26 Pg. 27 Pg. 29 Pg. 31 Pg. 33 Pg. 35 Pg. 36 Pg. 37 Pg. 38 Pg. 41 Pg. 54 Pg. 57 Pg. 64 Ficha Tcnica Prefcio Montes Altos - Agoste de 2003 30 Anos de Solido Breve Identificao da Instituio Dominios de Interveno 10 Anos de Luta Contra o Esquecimento 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 E Era Assim . . . Em Conversa com os Idosos Diplomas de Solidariedade Empregabilidade e Fixao Populacional Solidrios e Construtores

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