Gabriel
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2008.
Resumo: O crescente aumento de crimes cometidos por jovens menores de 18 anos traz
a tona um antigo debate a respeito da redução da maioridade penal em nosso país. Este
artigo visa mostrar alguns pontos de vista sobre a referida questão, com o intuito de
contribuir para o desenvolvimento de um debate técnico a respeito de um tema tão
importante como esse para a sociedade brasileira. É feita uma breve análise do Estatuto
da Criança e do Adolescente, apontando defeitos e virtudes e propondo soluções, sendo
feita a defesa da posição da manutenção da atual maioridade penal em 18 anos.
Abstract: The crescent increase of crimes committed by young people under 18 years
old brings to surface an old debate about the reduction of the majority criminal in our
country. This article intends to expose some points of view about the related question,
in order to contribute to the development of a technical debate about a subject too
important like this to the Brazilian society. It’s done a brief examination of the Brazilian
Status of Children and Adolescent (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA),
appointing defects and merits an proposing solutions, being made the defense of the
position of maintaining the actual majority criminal in 18 years old.
1. Introdução
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Aluno da Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).
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aumento da criminalidade juvenil, mas não é um argumento suficiente para que seja
feita uma defesa da redução da maioridade penal, visto que é bem mais aceitável que
seja feita uma reformulação do Estatuto buscando o aperfeiçoamento de pontos que hoje
são reconhecidamente deficientes.
Um ponto bastante problemático é que esse teórico abrandamento de penas para
jovens infratores já é usado pelos mesmos conscientemente. Eles conhecem a legislação
e a usam para se livrar de culpas maiores. Muitas vezes, chegam até a assumir a
responsabilidade por delitos para aliviar as penas dos cúmplices com mais de 18 anos.
Isso é um grave problema, por que cada vez mais os jovens infratores mais perigosos
temem a cadeia comum, mas não demonstram receio de enfrentar uma temporada em
instituições indicadas a eles pela lei, demonstrando um sentimento de impunidade, que
incentiva mais crimes. Por esse motivo, é comum encontrarmos opiniões que atestam a
capacidade dos jovens em compreender o ilícito de suas atitudes, como demonstram as
palavras de Mirabete: "Ninguém pode negar que o jovem de 16 a 17 anos, de qualquer
meio social, tem hoje amplo conhecimento do mundo e condições de discernimento
sobre a ilicitude de seus atos” (2003:217). Apesar desse argumento pró-redução da
maioridade penal, essa impunidade se dá muitas vezes por ineficácia das instituições
responsáveis pela recuperação dos jovens infratores e não pelo espaço curto de tempo
em que eles passam em reformatórios. A estadia em que o jovem passa nos centros de
reeducação muitas vezes trazem mais problemas do que soluções, já que são conhecidas
as más condições em que a maioria dessas instituições se encontra, inclusive com
muitos “reeducadores” que agridem e exploram sexualmente os jovens, incitando-os a
um sentimento de revolta com a situação em que se encontram.
Outro ponto bastante explorado pelos defensores da redução da maioridade
penal é no que tange à capacidade eleitoral ativa de maiores de 16 anos e menores de
18. O próprio legislador-constituinte reconhece aos maiores de dezesseis e menores de
dezoito anos lucidez e discernimento na tomada de decisões ao lhes conferir capacidade
eleitoral ativa, conforme expressa previsão constante no artigo 14, § 1º, inciso II, alínea
c, da Magna Carta. Segundo a Constituição da República, homens e mulheres entre 16 e
18 anos estão aptos a votar em candidatos para qualquer cargo público eletivo
(vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e Presidente da
República). Cuida-se, evidentemente, de responsabilidade só atribuída a quem possua
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“No Brasil, especialmente, há um outro motivo determinante, que é a extensão do direito ao voto,
embora facultativo aos menores entre dezesseis e dezoito anos, como decidiu a Assembléia Nacional
Constituinte para gáudio de ilustre senador que sempre cultiva o seu ‘progressismo’... Aliás, não se
compreende que possa exercer o direito de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela
prática de delito eleitoral”.
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Pode-se também usar como exemplo os Estados Unidos que adotaram redução
da maioridade penal e hoje são o país mais violento do mundo. Espanha e Alemanha,
também experimentaram reduzir a idade mínima para 16, mas anos depois voltaram aos
18 anos devido aos insucessos da medida, a Alemanha, inclusive adotando uma
legislação mais branda na qual o juiz é quem decide se o infrator dos 18 aos 21 anos
será julgado pelo código juvenil ou pelo código aplicado aos adultos.
Um outro argumento que também é bastante utilizado no debate é a questão da
falência do sistema prisional brasileiro. Cadeias com superlotação são uma constante em
todo o país e esse não é um problema novo. Derrubar a maioridade penal significa
incluir pelo menos mais cerca de dois mil menores em prisões superlotadas por mais de
400 mil detentos, onde já faltam 158 mil vagas. Fato esse que colocaria os menores à
mercê da escola de especialização no crime que existe dentro dos presídios brasileiros.
Além disso, os presídios são reconhecidos como “escolas do crime” e a inserção dos
jovens nesse ambiente, só tem a prejudicar o seu desenvolvimento pessoal e
psicológico. Por isso, não é sem razão que Luiz Flávio Gomes pondera: "Se os presídios
são reconhecidamente faculdades do crime, a colocação dos adolescentes neles só teria
um significado: iríamos mais cedo prepará-los para integrarem o crime organizado"2.
Também Mirabete não se posiciona pela redução da maioridade penal, chegando a
afirmar que ela "representaria um retrocesso na política penal e penitenciária brasileira e
criaria a promiscuidade dos jovens com delinqüentes contumazes" (2003:217).
3. Considerações Finais
Uma proposta bastante viável para tentar resolver o problema e que buscar
reunir idéias dos dois grupos, tanto os que apóiam a redução como os que são contrários
a ela, seria aumentar o tempo máximo de internação dos menores infratores, que hoje é
fixado em três anos como regra geral e inflexível. É uma tendência mundial que os
crimes mais violentos cometidos pelos jovens tenham as penas endurecidas. É claro que
essa alternativa isolada não terá efeito. Antes de se pensar em aumento da severidade
das penas, pois não existe nenhuma relação diretamente proporcional entre penas mais
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GOMES, Luiz Flávio. "Preservar o ECA, mas com razoabilidade". Folha de São Paulo, 15.11.2003.
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4. Referências
DALLARI, Dalmo de Abreu. A razão para manter a maioridade penal aos 18.
Gazeta Mercantil, 27.04.2001.
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MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. v I. 20 ed. São Paulo: Atlas,
2003.
REALE, Miguel. Nova Fase do Direito Moderno. São Paulo: Saraiva, 1990.
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