O Papel Do Professor de Educação Física Na Escola
O Papel Do Professor de Educação Física Na Escola
O Papel Do Professor de Educação Física Na Escola
“TRABALHO INDIVIDUAL”
Covilhã
Junho / 2009
INDICE
1. Introdução
2. Papel Institucional do Professor de Educação Física.
3. Problemática.
4. Metodologia.
5. Sujeitos da Investigação.
6. Instrumentos de Recolha de Dados.
7. Elaboração do Guião da Entrevista.
8. Procedimentos Seguidos Durante a Entrevista.
9. Transcrição das Entrevistas.
10. Técnicas de Tratamento da Informação.
11. Conclusão.
12. Referências Bibliográficas.
1. Introdução.
Neste trabalho que me proponho realizar, irei tentar delinear um plano de
investigação sobre uma questão que me parece pertinente. Sou professor de educação
física há vinte e três anos e sei perfeitamente qual é o meu papel como docente, não só na
actividade lectiva com os alunos, mas também na participação nas estruturas pedagógicas
da escola (Coordenador do Departamento de Expressões com assento no Conselho
Pedagógico). Em todos os períodos a que fui chamado para coordenar um Departamento ou
a representar a Disciplina de Educação Física nos Conselhos Pedagógicos das escolas
onde leccionei, sempre tive a percepção que os docentes das outras áreas curriculares não
tinham uma noção bem clara do papel do Professor de Educação Física (adiante designado
por PEF) na escola. Em conversas informais, todos sabiam que animavam festas de fim de
período ou de ano, que punham os alunos a correr, a saltar e a jogar à bola. Era o rapaz ou
a rapariga que aparecia de fato de treino no intervalo sempre de cara jovial e vendendo
saúde. Era “proibido” afirmar que se estava cansado ou doente porque nenhum docente
vislumbrava a possibilidade do PEF se cansar. A resposta era imediata: nem parece de ti!
Um PEF cansado! Quando era apelidado de PEF, tinha a noção que o meu colega já tinha
algum entendimento sobre o meu papel na escola e o que representa a disciplina de
Educação Física em termos curriculares e de desenvolvimento humano. Na maioria das
vezes, não era PEF, mas sim “O Professor de Ginástica”. Na Escola do Século XXI, é ainda
com muita frequência que os docentes das outras áreas curriculares se referem ao PEF
como o “Professor de Ginástica”. Mais frequente ainda, é essa referência por parte dos
Encarregados de Educação e da Comunidade em geral, mas esta preocupação não cabe
neste trabalho.
3. Problemática.
Tendo enquadrado no ponto anterior o papel do PEF na Escola, surgem as seguintes
dúvidas: será que os professores das outras áreas curriculares têm uma noção aproximada
ou exacta das funções do PEF, como poderão eles caracterizá-lo e enquadrá-lo quanto às
suas funções educativas, vê-lo-ão como um “entertainer”, ou alguém com profundas
responsabilidades pedagógicas, terão eles a noção de que alguns preconceitos em relação
à sua função podem afectar emocionalmente o PEF?
Estas dúvidas motivaram-me para a realização deste trabalho, que não será mais do
que uma pequena abordagem ao tema que me proponho investigar de um modo
evidentemente residual.
Da revisão que fiz da literatura, não encontrei nenhum trabalho publicado sobre esta
matéria, pelo que parto “virgem” e inexperiente nestas questões de investigação.
Resumo o problema a investigar a esta questão:
Qual é a percepção que os docentes das outras áreas disciplinares têm do professor
de educação física na Escola?
4. Metodologia.
De acordo com a especificidade da nossa problemática, podemos recorrer a várias
ferramentas metodológicas. Mas sendo este trabalho, mais uma preparação para a
investigação, inserido numa cadeira de mestrado, do que uma investigação a ser validada
cientificamente, este aproximar-se-à porventura de um estudo exploratório. Utilizarei uma
metodologia de investigação qualitativa, e proponho-me descrever os factos, e se possível
explica-los e compreendê-los através do seu relacionamento, comparação e classificação.
5. Sujeitos da investigação
O critério de escolha dos sujeitos assenta no facto de serem professores do Ensino
Básico e Secundário, em efectividade de funções e pertencerem a qualquer grupo disciplinar
que não seja o de Educação Física. Procurei que fossem de áreas diferentes e optei por um
professor de língua portuguesa e um professor que exerce funções de Presidente de um
Conselho Executivo. Esta escolha permite-me ter o ponto de vista de um professor que
exerce a docência e de um professor com responsabilidade máxima na gestão pedagógica
de um estabelecimento de ensino.
6. Instrumentos de recolha de dados.
Foi utilizado um único instrumento para a recolha da informação pretendida, a
entrevista. A entrevista é do tipo semi-estruturada com as questões previamente definidas. O
questionário é aberto com formulação e ordem das perguntas fixas e o entrevistado pode
dar uma resposta longa ou curta, como queira.
A fundamentação da escolha deste instrumento é de que a entrevista é um meio
precioso no âmbito duma investigação deste tipo, pois, com ela o investigador pretende
aceder à compreensão de como os sujeitos percepcionam e representam um dado
fenómeno e que significado lhe atribuem. Este processo ajuda à emergência do íntimo, do
pensado, até então desconhecido. Pretende-se desvendar as crenças, os significados, as
ideias, as interpretações e os sentimentos de cada sujeito. A entrevista fornece-nos o vivido,
o subjectivo, o individual e, através dele, o social e o cultural (Michelat, citado em
Benavente, 1999). A opção pela entrevista semi-estruturada advém do facto de facilitar a
introdução dos tópicos de interesse. Sendo este tipo de entrevista por natureza mais flexível,
permitirá melhor respeitar o modo como cada entrevistado sentirá necessidade de organizar
o seu discurso, dando maior liberdade de resposta ao sujeito dentro de alguns parâmetros
temáticos.
Entrevista ao Professor B
O professor B é licenciado em Administração Escolar, é Professor Titular, docente no
grupo 110 de 1º CEB, tem 45 anos, exerce a docência há 23 anos e é Presidente de um
Conselho Executivo.
Foi-lhe garantido:
• O direito à autodeterminação (poder de decisão de optar ou não em participar
no trabalho e garantia de não utilização de nenhum meio coercivo, podendo-
se retirar sem justificação).
• O direito à intimidade (liberdade para decidir sobre a extensão da informação
fornecida, e liberdade para partilhar informações íntimas ou privadas).
• O direito ao anonimato e à confidencialidade (os dados pessoais não são
divulgados sem autorização expressa e os resultados serão apresentados de
forma a que não seja reconhecido, não se podendo associar as respostas
individuais à identidade).
• O direito à protecção contra o desconforto e o prejuízo (protecção contra
inconvenientes susceptíveis de fazerem mal ou prejudicarem).
• O direito a um tratamento justo e equitativo (ser informado sobre a natureza, o
fim e a duração da investigação para o qual é solicitado, assim como os
métodos utilizados na pesquisa).
Categorias Definição
Categoria A: Contribuição que o PEF pode dar para a mudança
Papel do PEF na mudança na na Escola.
Escola
Categoria B: Aprendizagens consideradas fundamentais para o
Formação dos alunos progresso dos alunos.
Categoria C: Imagem que os outros docentes têm do PEF.
Entendimento da profissão de
PEF ----------------------------------------------------------
------------------------------------- Local considerado adequado à prática lectiva.
Sub – Categoria 1:
Espaço do PEF Comportamento esperado do PEF.
Sub – Categoria 2:
Atitudes do PEF Percepção por parte do PEF, da imagem que os
Sub – Categoria 3: outros docentes têm dele.
Preconceitos do PEF
11. Conclusão.
Segundo Marshall e Rossman, (1999), (citado em Afonso 2005), à medida que a
informação se reestrutura por categorias e unidades de sentido, vai-se ensaiando a
identificação de relações lógicas entre os aspectos substantivos do material empírico,
avaliando a coerência da lógica interpretativa em construção e a pertinência e relevância
dos dados disponíveis em relação às diversas pistas interpretativas. Esta fase da testagem
das interpretações, deve ligar-se a outra fase que podemos apelidar de confronto em que se
deve desafiar a coerência da construção interpretativa com a procura de novos dados que
possam enfraquecê-la ou contradizê-la.
Sendo este trabalho, de índole mais simples, pois interpreto-o como uma preparação
à investigação no paradigma qualitativo, sem descurar, mas também não aplicando em
profundidade todas as fases do processo de investigação, tentarei delinear uma construção
interpretativa da problemática inicialmente definida, sem procurar validade científica que se
me afigura desmesurada para um trabalho deste calibre.
Situando a problemática definida: Qual é a percepção que os docentes das outras
áreas disciplinares têm do professor de educação física na Escola?
Verifica-se que os docentes das outras áreas disciplinares vêem o Professor de
educação física, quanto ao seu papel na mudança da Escola, como um docente igual aos
outros, que motiva os alunos e a comunidade educativa e que através da
interdisciplinaridade consegue dar visibilidade à Escola para o exterior. É referido que pode
até ser motivo para escolha de Escola, por opção dos encarregados de educação
considerarem o desporto importante na formação dos seus educandos. É realçado o papel
de visibilidade que pode oferecer, mas nenhum dos entrevistados se refere a mudanças de
metodologias pedagógicas que podem induzir na procura da auto-regulação das
aprendizagens e do desenvolvimento de competências metacognitivas, que são as bases
dos seus pressupostos metodológicos.
Quanto ao seu papel na formação dos alunos, os docentes apontam a socialização
e a educação ambiental e para a cidadania como metas. Referem sempre o cumprimento da
regra, o respeito pelos espaços e viverem em sociedade. Também é referido o
desenvolvimento das capacidades físicas. Este entendimento aproxima-se do que realmente
é o papel do Professor de Educação Física no seu aspecto institucional e didáctico-
pedagógico. Os docentes têm a noção de duas dimensões citadas no início deste trabalho:
a dimensão pessoal, a dimensão para a cidadania, mas não é referida a dimensão das
aquisições fundamentais, que é imprescindível na construção de competências
metacognitivas.
Em relação ao entendimento da profissão, os docentes referem que o professor de
educação física ainda sofre do preconceito de que a sua disciplina é vista por vezes com
uma dimensão menor em relação às outras. Pela distribuição de cargos pedagógicos, tem-
se vindo a entender que a sua função pedagógica é específica e complementar às outras
disciplinas para a formação integral dos alunos. Os docentes referem que o espaço que
ocupa já não é somente os campos de jogos ou o pavilhão gimnodesportivo, mas também a
sala de aula, o que faz supor a visão de uma “nova imagem”, mais condizente com a
profissão docente. Os docentes caracterizam as atitudes como um profissional disponível,
cooperativo e criativo que se envolve na participação da vida escolar.
Em resumo, os docentes de outras áreas disciplinares têm neste momento, uma
percepção do Professor de Educação Física mais condizente com a função docente. Como
um docente que contribui para a mudança (pelo menos a percepção do exterior), e por isso
pode elevar a consideração da Escola. É visto como tendo um papel importante para a
socialização, educação ambiental e para a cidadania. Mas ainda não é considerado como
tendo relevância nas aquisições intelectuais e científicas dos alunos. É mais visto como um
promotor de bons hábitos físicos e de saúde, a par do desenvolvimento cívico e cooperativo,
mas pouco relevante nas aquisições cognitivas.