Ed02 Revista Labverde

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Arquitetura em bambu, Centro de Cultura Max Feffer
REVISTA LABVERDE
V. II - N 2
LABVERDE - Laboratrio VERDE FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Universidade de So Paulo
JUNHO 2011 ISSN 2179-2275
Ficha Catalogrfica
Servio de Biblioteca e Informao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP
REVISTA LABVERDE/ Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Projeto. LABVERDE- Laboratrio Verde v.2, n.2 (2010)- . So Paulo: FAUUSP, 2010 Semestral v.: cm. v.2, n.2, jun. 2011 ISSN: 2179-2275 1. Arquitetura Peridicos 2. Planejamento Ambiental 3. Desenho Ambiental 4. Sustentabilidade I. Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Departamento de Projeto. LABVERDE. II. Ttulo
CDD 712
Revista LABVERDE, v.II, N 2 LABVERDE- Laboratrio Verde Rua do Lago, 876 - Cidade Universitria, Bairro do Butant CEP: 05508-900 So Paulo-SP Tel: (11) 3091-4535 Capa: Mariana Oshima Menegon Assunto: Centro Cultural Max Feffer, arquitetura em bambu, autoria de Leiko Hama Motomura, da Amima Arquitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente e-mail: labverde@usp.br Home page: www.usp.br/fau/depprojeto/revistalabverde
n 02 | So Paulo, Junho de 2011
Revista LABVERDE Junho - 2011 ISSN: 2179-2275
Universidade de So Paulo Joo Grandino Rodas (Reitor) Hlio Nogueira da Cruz (Vice-Reitor) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Marcelo de Andrade Romero (Diretor) Maria Cristina da Silva Leme (Vice-Diretora) Editor Responsvel Maria de Assuno Ribeiro Franco Comisso Editorial Denise Duarte Mrcia Peinado Alucci Maria de Assuno Ribeiro Franco Paulo Renato Mesquita Pellegrino Saide Kahtouni Conselho Editorial Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima (FAUUSP) Ceclia Polacow Herzog (FAUUFRJ) Denise Duarte (FAUUSP) Demstenes Ferreira da Silva Filho (ESALQ) Eduardo de Jesus Rodrigues (FAUUUSP) Eugenio Fernandes Queiroga (FAUUSP) Euler Sandeville Jnior (FAUUSP) Fbio Mariz Gonalves (FAUUSP) Giovanna Teixeira Damis Vital (UFU)
Helena Aparecida Ayoub Silva (FAUUSP) Jos Carlos Ferreira (UNL-Portugal) Joo Reis Machado (UNL-Portugal) Joo Sette Whitaker (FAUUSP) Larissa Leite Tosetti (ESALQ) Lourdes Zunino Rosa (FAUUFRJ) Marcelo de Andrade Romero (FAUUSP) Mrcia Peinado Alucci (FAUUSP) Maria ngela Faggin Pereira Leite (FAUUSP) Maria Ceclia Frana Loureno (FAUUSP) Maria de Assuno Ribeiro Franco (FAUUSP) Maria de Lourdes Pereira Fonseca (UFABC) Miranda M. E. Martinelli Magnoli (FAUUSP) Paulo Renato Mesquita Pellegrino (FAUUSP) Saide Kahtouni (FAUUFRJ) Silvio Soares Macedo (FAUUSP) Vladimir Bartalini (FAUUSP) Colaboradores Antonio Franco Oscar Utescher Desenvolvimento de web Edson Moura Mariana Oshima Menegon
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SUMRIO
1. EDITORIAL 007 Maria de Assuno Ribeiro Franco
2. ARTIGOS 010 OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO The Disabled Landfills And Green Areas System Of So Paulo City: The Integration Possibility Monica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege Vieira. REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VERDE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure. Case Study in Valinhos, SP Brazil La Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti , Sabrina Mieko Viana SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDADE AMBIENTAL Information System As An Instrument Of Environmental Quality Management Patricia Helen Lima A EVOLUO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E AS INTERFERNCIAS DA TICA The Evolution of the Urban Environmental Sustainability and the Ethics Interferences Deize Sbarai Sanches Ximenes
030
045
061
081
ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE: DESIGN A SERVIO DA VIDA EM UM ESTUDO DE CASO NO SUL DE MINAS GERAIS Architecture of Complexity: Design Aimed at Serving Life in a Case Study in the South of Minas Gerais Evandro de Castro Sanguinetto OIKOS: REINTEGRANDO NATUREZA E CIVILIZAO Oikos: Reintegrating Nature and Civilization Jos Otvio Lotufo
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3. ENTREVISTA 129 BETTY FEFFER Centro Max Feffer: um centro de referncia em cultura e sustentabilidade no Polo Cuesta, Pardinho, SP.
4. DEPOIMENTOS 134 BIA GUERRA Instituto Jatobs: atuao na cultura e valores de sustentabilidade junto comunidade de Pardinho. CATHARINA PINHEIRO Em Pauta o Cdigo Florestal
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5. COMUNICADOS 145 Normas para Apresentao de Trabalhos
1. EDITORIAL
EDITORIAL
Na Revista LABVERDE N 2 foram reunidos seis artigos, uma entrevista e dois depoimentos sob o tema Projetos Sustentveis. O leitor observar, no entanto, que todos os textos aqui apresentados discutem, de uma maneira ou de outra, a sustentabilidade ligada a uma nova tica, denominada tica ambiental ou ecolgica que, na verdade, poderia ser tratada, tambm, como temtica deste nmero. O primeiro artigo apresenta uma interessante proposta de recuperao de aterros sanitrios desativados do municpio de So Paulo, transformando-os em parques pblicos, que, segundo as autoras Stuermer, Brocaneli e Vieira, uma vez interligados aos demais parques, por meio de corredores verdes, podero aumentar consideravelmente o ndice de reas verdes por habitante em nossa Cidade. Dobbert, Tosetti e Viana, no segundo artigo, despertam a ateno para a questo da conservao e recuperao de redutos rurais como estratgia de resilincia e infraestrutura verde diante do processo de urbanizao e apresentam o caso de redutos rurais de interesse ambiental, histrico e cultural na cidade de Valinhos, SP. O terceiro artigo, apresentado por Lima, ressalta a importncia da adoo, por parte do setor pblico, de novas tecnologias ligadas aos Sistemas Geogrficos de Informao para a formulao e gesto de polticas pblicas, especialmente no nvel local, para a promoo da qualidade ambiental e a sustentabilidade urbana. O artigo de Ximenes, o quarto, discute a questo da evoluo da tica nas vises antropocntrica e biocntrica e suas implicaes nos problemas sociais e ambientais da atualidade, tratando o problema da sustentabilidade, antes de tudo, como um problema tico. No quinto artigo, Sanguinetto apresenta um interessante experimento de uma casa ecolgica integrada ao lote, ao ecossistema e paisagem local no municpio de Piranguinho, no sul de Minas Gerais. Lotufo, no sexto artigo, preocupa-se em incorporar os princpios ecolgicos ao ato de projetar o edifcio e a cidade, discutindo o problema como reflexo de uma lgica mercadolgica mecanicista, distanciada das leis naturais que regem o funcionamento 7
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dos ecossistemas. O texto aponta a possibilidade de uma nova maneira de projetar tanto edifcios quanto o espao urbano, que incorpore os processos ecossistmicos, no caminho da sustentabilidade. A entrevista com Betty Feffer revela uma experincia indita, na cidade e municpio de Pardinho, feita por uma organizao no governamental, atrelada ao Projeto Plo Cuesta1, com a criao do Instituto Jatobs e posteriormente o Centro Max Feffer -Cultura e Sustentabilidade, que rene diversas atividades de cunho social visando a implantao do modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentvel. A sede do Centro Max Feffer, de autoria da arquiteta Leiko Hama Motomura e da empresa Amima Arquitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente, cuja foto capa desta edio, tornou-se uma referncia regional e nacional em arquitetura sustentvel. Dois depoimentos completam esta edio: o da Professora da FAUUSP Catharina P. Cordeiro Lima, sobre os recentes embates sobre as implicaes do Novo Cdigo Florestal Brasileiro e o de Bia Guerra, coordenadora das atividades do Centro Max Feffer, cujas atividades esto centradas na educao para a sustentabilidade.
Tenham uma boa leitura! Maria de Assuno Ribeiro Franco Editora da Revista LABVERDE
O Plo Cuesta um projeto de iniciativa da Secretaria de Turismo do Estado de So Paulo,
com foco em turismo sustentvel, iniciado em 2001. O projeto est em desenvolvimento, envolvendo dez cidades do interior de So Paulo, na regio de Botucatu. So elas: Anhembi, Areipolis, Bofete, Botucatu, Conchas, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratnia e So Manuel.
2. ARTIGOS
ARTIGO N1
OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO The Disabled Landfills And Green Areas System Of So Paulo City: The Integration Possibility Monica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege Vieira.
OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO
Monica Machado Stuermer Prola Felipette Brocaneli Maria Elena Merege Vieira
Engenheira civil, Doutora em Geotecnia Ambiental pela Escola Politcnica da USP. Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: mstuermer@mackenzie.br Arquiteta e Urbanista pela FAU Mackenzie. Doutora em Paisagem e Ambiente pela FAU-USP. Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: perola@mackenzie.br Arquiteta e Urbanista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutora em Paisagem e Ambiente pela FAU USP Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: mariaelena@mackenzie.br
Resumo O trabalho aqui apresentado tem por objetivo estudar os aterros sanitrios desativados do municpio de So Paulo e sua relao com as reas verdes, da cidade, apresentando algumas idias para interveno e insero dos mesmos na malha verde urbana, de forma a contribuir para a melhora a qualidade ambiental do municpio de So Paulo e de seus habitantes, atravs do aumento das reas verdes municipais e suas conexes. Palavras Chaves: Aterro sanitrio, reas verdes de uso restrito, revitalizao ambiental urbana, ecologia da paisagem, corredores verdes.
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THE DISABLED LANDFILLS AND GREEN AREAS SYSTEM OF SO PAULO CITY: THE INTEGRATION POSSIBILITY Abstract This work aims to study the disabled sanitary landfills of the city of So Paulo and their relation with the green areas, presenting some ideas for intervention and insertion of them in the urban green mesh, of form to improve the ambient quality of the city of So Paulo and its inhabitants, through the increase of the municipal green areas and its connections. Key-words: Sanitary Landfill, Green Areas of Restricted Use, Urban Environmental Revitalization, Landscape Ecology, green corridors.
1.INTRODUO Grande parte dos problemas urbanos atuais do Municpio de So Paulo decorrem do vertiginoso crescimento ocorrido a partir da sua industrializao, que ocasionou tanto a sua riqueza como sua pobreza e seus maiores problemas ambientais. J na dcada de 1960, a cidade j apresentava problemas em conseqncia da no aplicao de uma poltica urbana ambiental a mdio e longo prazo. A partir da dcada de 70 comearam as discusses sobre questes ambientais urbanas, onde os principais pontos eram a carncia de reas verdes, a poluio atmosfrica e dos recursos hdricos e a destinao dos resduos slidos, entre outros. Nos anos 80 difundiu-se o paradigma ambiental pela sociedade, de forma generalizada e nos anos 90, este passa a dominar a noo de interdependncia planetria, questes que transparecem diretamente na cidade de So Paulo, permeando a elaborao do Plano Diretor Estratgico, em 2002. A diferena de temperatura entre as regies centrais e os bairros arborizados e Parques, dentro da Mancha Urbana, chega a 5C, e entre as regies perifricas ainda recobertas por vegetao, esta diferena atinge at 10 C em um mesmo momento, fenmeno conhecido como Ilha de Calor, (Atlas Ambiental de So Paulo, 2002) . 12
O mesmo documento demonstra que as reas mais quentes da cidade so aquelas onde h a menor concentrao de verde, maior impermeabilizao do solo e os maiores ndices de poluio atmosfrica. Os espaos verdes suprem os quarteires adjacentes a reas verdes com ar mais fresco. Deneke e Grey (1992) colocam que o efeito da vegetao na temperatura do ar ser mais significativo quando ela for plantada em reas totalmente desprovidas de vegetao. As Ilhas de Calor, tambm podem ser amenizadas pelo adensamento do verde, acrescentando-se ainda que as pesquisas indicam que a vegetao quando plantada de forma dispersa, isto , no concentrada em grandes manchas verde, funciona de forma mais eficiente para absoro dos poluentes. O sistema de reas verdes de uma cidade deve incluir remanescentes expressivos de vegetao nativa, protegidos em Unidades de Conservao, trechos marginais arborizados (como as reas de domnio de rodovias, encostas de barreiras etc.), reas particulares e pblicas de uso restrito (stios, quintais, jardins etc.), alm dos parques, praas, e jardins municipais, de uso pblico. Cada modalidade de rea verde exerce um papel importante na qualidade ambiental das cidades. O projeto de paisagismo deve valorizar a natureza, recompondo a vegetao nativa, propondo espaos contemplativos que sirvam de atrativo fauna silvestre, notadamente avifauna, objetivando a biodiversidade; deve ter como ponto de partida o aproveitamento das qualidades que a natureza proporciona, trazendo tona a demonstrao do conceito de preservao ambiental. A paisagem, tendo fundamentalmente uma conotao espacial e traduz na sua fisionomia as interaes dos fatores naturais e antrpicos que estruturam e modificam o funcionamento dos sistemas ambientais por ela configurados. Outro fator considerado na elaborao do projeto est associado s funes microclimticas da rea em questo, cuja melhoria advm das sombras e reteno de umidade proporcionada pelas rvores, permitindo o contato do usurio com elementos naturais. A implantao de coberturas vegetais distintas cria uma srie de ambientes diferenciados em uma rea que, de outra maneira, poderia ser um grande e inspito descampado, funcionando como estruturadoras de espao; estas causam impacto positivo, respeitando as caractersticas naturais da rea, inserindo o empreendimento dentro do contexto regional. Alm disso, a cobertura vegetal p0ode recuperar reas degradadas, como aterros sanitrios. Os aterros sanitrios provocam diversos impactos ambientais, no s em sua fase de implantao e funcionamento, mas tambm quando de seu fechamento e desativa13
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o, provocando, muitas vezes, a degradao da rea local e do entorno. Estes locais necessitam de tratamento diferenciado ao de outras reas degradadas, devido a fatores como a liberao de gs metano que representa um dos maiores limitantes para a implantao de vegetao, dos riscos de exploso, do recalque diferencial do terreno, problemas de drenagem e compactao da camada superficial do solo utilizado no preenchimento do terreno (MATA E ANDRADE: 2000; SILVA: 2001). As reas de solo remanescentes dos aterros sanitrios urbanos podem ser consideradas como reas degradadas. Segundo a NBR 10703 (ABNT: 1989) a degradao do solo definida como: alterao adversa das caractersticas do solo, em relao aos seus diversos usos possveis, tanto os estabelecidos em planejamento quanto os potenciais. A mesma norma define recuperao do solo como: processo de manejo do solo no qual so criadas condies para que uma rea perturbada ou mesmo natural seja adequada a novos usos. Na cidade de So Paulo so gerados aproximadamente 15 milhes de toneladas de lixo por ano. Os resduos slidos se apresentam, ento, como um grande desafio para a sociedade, exigindo recursos tcnicos, financeiros e administrativos municipais para o seu manejo adequado. Uma das formas de disposio destes resduos o aterro sanitrio, um sistema controlado que minimiza os impactos da disposio dos mesmos e considerado o sistema mais eficiente para a disposio dos resduos slidos domsticos. No entanto ao trmino da vida til dos aterros, um programa de recuperao destas reas pode auxiliar a suprir a falta de reas verdes do municpio, reintegrando-as na forma de parques, criando no uma massa verde pontual, mas um sistema integrado. A proposta do presente trabalho a criao de uma rede verde na cidade (corredores verdes) interligando reas verdes (parques e reas verdes significativas) e as franjas das reas dos aterros sanitrios desativados, com o intuito de ampliar as possibilidades de trnsito da biodiversidade da fauna e flora na escala da cidade.
2. AS REAS VERDES NO MUNICPIO DE SO PAULO O municpio de So Paulo apresenta um ndice mdio de reas verdes/habitante de 14
cerca de 4,9 m2/hab (SVMA, 2008), valor muito abaixo do mnimo recomendado pela OMS (Organizao Mundial da Sade) de 12 m/habitante. Observa-se que este um problema histrico no municpio, que nunca apresentou taxas de reas verde elevadas, conforme demonstra a tabela 1 a seguir: Ano Anterior a 1860 1860-1890 1890-1920 1920-1950 1950-1980 1980-1996 2000). Para efeito de comparao com grandes cidades, Buenos Aires apresenta ndice de 9 m2/hab, Curitiba, 16 m2/hab, Londres, 71 m2/hab e Los Angeles, 111 m2/hab (EMPLASA, 2000). Os parques municipais apresentam realidades bastante diversas, variando em extenso, vegetao, equipamentos e contexto social. Alm das atividades de lazer desenvolvidas diariamente pelo pblico usurio, outras atividades complementares so promovidas pelas diferentes divises do DEPAVE, Secretarias Municipais, outras instncias governamentais e entidades civis, tais como: investigao cientfica, educao ambiental, cursos, produo de mudas, atendimento mdico-veterinrio, eventos artsticos e culturais (KOHLER et al, 2000). Entre os parques municipais, o maior deles o Parque Anhanguera, na regio norte do municpio, ocupando 9.500.000m2. A maior parte de sua rea reflorestada com eucaliptos. A seguir aparece o parque do Carmo, na zona leste, com 1.500.000 m2, localizado dentro de rea de Proteo Ambiental. O parque possui remanescente de mata ciliar e mata atlntica nativa. O Parque do Ibirapuera localizado na regio sul do Municpio o parque mais popular da cidade, com 1.584.000 m2 (SVMA, 2008). Entre os parques estaduais, a maior rea pertence ao Parque Estadual da Serra do Mar com 44.322.946m2. Este parque abrange diversos municpios de So Paulo, com rea total de 309.938 hectares. A vegetao de Mata Atlntica tpica de encosta e 15 reas Verdes 143.428 143.428 326.527 13.933.627 26.680.135 37.084.581 Populao 31.385 64.934 579.033 2.189.096 8.493.226 10.220.783 ndice 4,57 2,21 0,56 6,37 3,14 3,63
Tabela 1: Evoluo das reas verdes no Municpio de So Paulo (KOHLER et al,
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compreende o cinturo verde sobre a Serra do Mar. O Parque Estadual da Cantareira, com rea de 40.519.593 m2, faz parte da Reserva Estadual da Cantareira e tem cobertura florestal em praticamente toda sua extenso, que considerada de preservao permanente, formada principalmente pela Mata Atlntica. Estas duas reas ainda no esto englobadas pela malha urbana. As demais reas verdes estaduais situamse dentro da rea urbana. (KOHLER et al, 2000). Em relao s reas privadas, KOHLER et al,(2000) observam que os maiores ndices de reas verdes e de arborizao em propriedades particulares se do nos bairros onde predominam a populao de mdia e alta renda. Os autores colocam que, se as reas verdes particulares fossem somadas s reas pblicas, ter-se-ia um valor de ndice de reas verdes de 12,42 m2/hab, atendendo ao valor mnimo recomendado pela OMS. Observa-se, no entanto, a m distribuio destas reas verdes no espao urbano. Algumas regies so muito bem servidas e outras completamente nuas de vegetao. Segundo dados da SVMA (2000), a regio do Itaim Paulista, Santa Ceclia e Brs apresentam taxas de vegetao/habitante prximas de zero, enquanto a regio da Capela do Socorro apresenta taxa de 162 m2/habitante. Em 2012, a prefeitura pretende atingir a marca dos 100 parques municipais, um aumento considervel de reas verdes, passando de 9.000.000m para aproximadamente 50.000.000 m na cidade de So Paulo, nmero que no inclui os parques estaduais e nem mesmo as APAs (reas de Proteo Ambiental). Atingindo esta meta, a cidade passar a contar com um total de 86.130542 m de reas verdes pblicas. Adotando-se uma populao de 11,0 milhes no municpio para 2012 (projeo SEADE, 2003), a taxa de rea verde passar dos atuais 4,9 m2/hab para 7,8 m2/hab, o que ser um feito extraordinrio. (Neste total no esto contabilizadas as praas e demais reas verdes). Os novos parques, locados de forma mais equilibrada pelo territrio urbano, segundo mostra o mapa 2, buscam reduzir o desequilbrio na distribuio de reas verdes do municpio (PMSP, 2008) . No entanto, atingir o valor mnimo recomendado pela Organizao Mundial da Sade de 12 m2/habitante parece distante, em uma cidade j densamente ocupada, onde so poucas e pequenas as reas livres que podem ser destinadas a parques e praas 16
sem a necessidade de desapropriaes.
Mapa 1: Localizao dos Parques Municipais na Regio Metropolitana de So Paulo. http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/mapa_verde/asp/home.asverde/ reas degradadas podem vir a suprir a falta de reas verdes se reintegradas ao municpio na forma de parques. A recuperao de uma rea degradada no representa a volta s condies iniciais existentes, mas sim uma nova destinao de uso da rea, de forma sustentvel, atravs de uma estratgia de utilizao em conformidade com valores ambientais, estticos e sociais. Majer (1989, apud Oliveira, 2005) utiliza o termo reabilitao para a recuperao da rea, podendo esta reabilitao ser condicional, onde as aes antrpicas direcionam os fenmenos naturais, como no caso de plantaes e pastagens; ou ento, uma reabilitao auto-sustentvel, onde as aes humanas agem at um determinado ponto, a partir do qual a prpria natureza caminha para um equilbrio sustentvel, como no caso de um reflorestamento. Desta forma apesar de no ser possvel a recuperao original da rea, pode-se obter um ecossistema alternativo, auto-sustentvel. 17
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Mapa 2: Projeto dos 100 Parques propostos no Municpio de So Paulo Fonte: DEPAVE, PMSP
3. OS ATERROS SANITRIOS NO MUNICPIO DE SO PAULO Segundo a norma NBR 8149 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT (1987): Aterro sanitrio de resduos slidos urbanos consiste na tcnica de disposio de resduos slidos no solo, sem causar danos ou riscos sade pblica e a segurana, minimizando os impactos ambientais, mtodo este que utiliza princpios de engenharia para confinar os resduos slidos menor rea possvel e reduzi-los ao menor volume permissvel, combinando-os com uma camada de terra na 18
concluso de cada jornada de trabalho e em intervalos menores se necessrios. O inventrio de resduos slidos do Estado de So Paulo de 2000 CETESB (2002) mostra que os aterros sanitrios vm melhorando suas caractersticas de disposio dos resduos, tomando lugar dos lixes. Ainda assim, os possveis impactos ambientais so bastantes crticos, tais como: liberao de gases e material particulado, gerao de rudo, produo de vetores de doenas, degradao do solo e da paisagem do local, degradao da fauna e flora e ainda a possvel contaminao do solo e das guas superficiais e subterrneas pelo chorume percolado. O primeiro aterro sanitrio regular da cidade, o de Lauzane Paulista - situado na vila Santa, surgiu somente em 1974, (KAHTOUNI,2004). Os primeiros aterros no apresentavam a estrutura sanitria dos aterros atuais. A partir da dcada de setenta, com a exploso populacional na Regio Metropolitana de So Paulo foi necessria a estruturao da disposio e destino final dos resduos urbanos. A tabela 3 relaciona os principais aterros sanitrios existentes na cidade, todos desativados (aqui esto relacionados aqueles que foram localizados junto Limpurb, rgo responsvel pelos aterros do municpio). ATERRO
Lauzane Paulista Jardim Damasceno Eng. Goulart Raposo Tavares Santo Amaro Vila So Francisco Vila.Albertina Carandir Pedreira Itapu Sapopemba Vila Jacu So Mateus R. Jos Aguirre de Camargo zona norte Av. Zachi Narchi zona norte Av. Lder x R. Agostinho de Faria zona leste Av. Sapopemba zona leste Av. Mimo do Vnus zona leste Marg. Esquerda do crrego Fazenda Velho zona leste 03/1977 - 1993 01/1977 03/1977 12/1978 11/1979 11/1979 02/1984 03/1981 08/1988 02/1984 01/1986 Pq. Ecolgico do Estado zona norte Rod. Raposo Tavares, km 14,5 Av. Naes Unidas x Av. Interlagos zona sul Av. Imperador x Av. gua Haia zona leste 04/1975 01/1976 07/1975 08/1979 04/1976 02/1995 06/1976 07/1976
LOCALIZAO
Av. Dr. Francisco Raniere x Av. Adolfo Coelho zona norte R. Feliciano Malabia alt. N. 500 zona norte
FUNCIONAMENTO
02/1974 11/1974 02/1975 12/1975
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ATERRO
Bandeirantes Stio So Joo
LOCALIZAO
Rod. Bandeirantes, km 26,5 zona noroeste Estr. Sapopemba, km 33 zona leste
FUNCIONAMENTO
09/1979 11/2007 12/1992 11/2007
Tabela 3: aterros sanitrios na cidade de So Paulo. Fonte : Limpurb/PMSP 2006. O mapa 3 apresenta a localizao esquemtica dos mesmos:
Mapa 3: Localizao esquemtica dos aterros desativados no Municpio de So Paulo. Fonte: Departamento de Planejamento Secretaria Municipal de reas Verdes e Meio Ambiente. Os aterros se localizam, em sua maioria na zona leste e nas bordas da cidade, uma vez que, quando da implantao dos mesmos, estas eram as reas menos ocupadas do municpio. No entanto, quase todas as reas ocupadas por aterros sanitrios, se 20
encontram hoje em regies com densa urbanizao e escassez de vegetao, vias pouco arborizadas e carncia de praas e jardins pblicos. Alm disso, alguns destes aterros vm sendo ocupados de forma ilegal, sendo que alguns deles j apresentaram problemas pela urbanizao irregular. A ocupao da rea do aterro de Lauzane Paulista uma das citadas pela secretaria do Meio Ambiente da cidade de So Paulo como das mais inadequadas. Na zona norte, o aterro do Jardim Damasceno, aps desativao foi transformado em rea de esportes, mas foi invadido e hoje virou uma favela. Os moradores contam que: Quando os nibus ou caminhes descem a rua, minha casa balana. Deve ser por causa do lixo embaixo da terra e tambm observam que no podem cavar dois metros de fossa por causa do perigo com o gs do lixo. Outros relatam que: o piso da casa vive rachado, no tem jeito de consertar, mas isso comum por aqui. (Folha de So Paulo, 09/12/2001) O aterro Carandir tambm encontra-se tomado por ocupaes irregulares e a favela instalada neste local j sofreu quatro incndios, sem causa definida (Folha de So Paulo, 09/12/2001). Especula-se que os gases liberados pelo aterro possam ser responsveis pelos incndios. No entanto, essas reas que no fazem parte da lista das reas de ateno permanente da prefeitura, e no sofrem avaliao do potencial de risco, tais como: incndios, exploses, rachaduras e desabamentos por instabilidade do solo e reacomodao da massa de lixo. Como a maior parte dessa ocupao resultado de invases, ou ocorreu h muito tempo, no passaram por nenhum tipo de anlise ambiental. De Leo (2006) afirma que mesmo tendo sido desativados h quase vinte anos, os aterros sanitrios da cidade de So Paulo ainda continuam contaminando as reas vizinhas e expondo a populao a riscos, em funo do chorume e do gs metano produzido pela decomposio do lixo. Segundo o autor, os cinco aterros potencialmente poluidores dentro de So Paulo so o da Vila Albertina, na Zona Norte, o de Santo Amaro, Zona Sul, e os de Sapopemba, Vila Jacu e So Mateus, na Zona Leste. Cada aterro tem suas particularidades e riscos. No aterro da Vila Albertina, Santo Amaro e no de Sapopemba o pesquisador constatou maior incidncia de leptospirose do que em outras regies da cidade. Segundo o gegrafo, o aterro de Sapopemba 21
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o que mais oferece riscos ambientais e sociais. J o aterro em melhores condies seria o da Vila Jacu. Esta mais uma razo para se dar destino adequado s reas de disposio de resduos quando de sua inativao. Bitar (1997) afirma que o planejamento do uso ps-fechamento do aterro em reas urbanas j deve ser contemplado quando do planejamento do aterro em si, exigindo solues compatveis com a destinao futura do local, com as caractersticas de uso e ocupao de solo e com a demanda social da cidade. O mapa 4 apresenta uma sobreposio das reas verdes e dos aterros anitrio desativados, ou seja, a sobreposio dos mapas 2 e 3.
Mapa 4: Localizao dos aterros no municpio de So Paulo, com superposio dos Parques Municipais. 22
4. A REINTEGRAO DO ATERRO SANITRIO NA PAISAGEM O uso ps fechamento de um aterro bastante restrito, e a edificao sobre estas reas no recomendada, em funo da instabilidade do macio e da formao de gases que produz riscos de exploso. Por outro lado, a demanda por reas verdes dentro de centros urbanos direciona a recuperao das reas atravs do processo de revegetao, destinando-as aos mais diversos usos, tais como preservao ambiental ou lazer. Estas reas verdes podem servir para campos de jogos, jardins pblicos, entre outros, alm da possibilidade de implantao de uma usina de biogs. Como exemplo de ocupao adequada, tem-se o Parque Raposo Tavares. Criado em 1981, com rea de 195.000 m2 o Parque Raposo Tavares destaca-se como o primeiro parque da Amrica do Sul a ser construdo sobre um aterro sanitrio. Apresenta, por isso, caractersticas peculiares: seu solo formado por camadas de lixo e terra compactados, sendo revestido por uma camada de argila para diminuir a emanao de gases, e por outra de terra que serve de substrato vegetao. Localizado junto rodovia Raposo Tavares, o Parque homenageia o bandeirante de mesmo nome. A vegetao existente no local totalmente introduzida e tem a vida dificultada pelo fato de crescer em cima de um aterro sanitrio. No parque so encontradas reas ajardinadas com arbustos, herbceas ornamentais, gramneas, bosques baixos e leguminosas. A existncia de aves favorecida pela vegetao: joo-de-barro, chopim, rolinha, sabi-do-campo, bico-de-lacre, bem-te-vi, pica-pau-do-campo, quero-quero, sanhao e outras. H ainda alguns rpteis inofensivos, como cobras no venenosas e mamferos, como gambs e pres. O parque funciona das 7 s 18 horas e possui estacionamento, acesso para cadeirantes, sanitrios, pista de cooper, trilhas para caminhadas, aparelhos de ginstica, quadra de campo, quadra poliesportiva,play-ground e rea de estar. Outro caso de ocupao de um antigo lixo encontra-se em Salvador, Bahia; entre 1974 e 1997 o local recebeu todo o lixo produzido pela capital baiana e era um dos smbolos de degradao da cidade; foi transformado num parque socioambiental pioneiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parceria com o governo do Canad. Um antigo lixo de Salvador, que entre 1974 e 1997 recebeu todo o lixo produzido pela capital baiana e era um dos smbolos de de23
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gradao da cidade, foi transformado num parque socioambiental pioneiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parceria com o governo do Canad . (www.estadao.com.br e http://www. crea-rs.org.br/crea/jornal/04/novidades.asp) A rea foi urbanizada, com a construo de parques, reas para a prtica de esportes e outros equipamentos que esconderam, sob a terra, as toneladas de lixo acumuladas ao longo de duas dcadas. O complexo capaz de produzir energia eltrica a partir de biogs e manter uma usina de triagem de detritos, uma unidade de compostagem para produo de adubos, outra de reciclagem de entulho para fabricao de tijolos e uma escola-oficina. Outra proposta ambiental de ocupao nasceu conjuntamente com o Plano Integrado de Melhoria Ambiental na rea de Mananciais da Billings, com seis intervenes prioritrias, duas de responsabilidade da Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo (Sabesp) e outras quatro da prefeitura de So Bernardo. O aterro sanitrio do Alvarenga funcionou no perodo de 1974 a 1986 e era utilizado pelos municpios de So Bernardo e Diadema. Para remediar o problema, sero adotadas aes como drenagem de gases e gua de chuva, aterro de uma rea de aproximadamente 25 hectares, tanque de conteno e tubulaes para captao do chorume Tambm sero construdos Poos Subterrneos para Monitoramento Ambiental, um Centro de Estudo e Experimentao Ambiental e um Centro de Gerenciamento de Qualidade de gua. O Centro de Estudo e Experimentao Ambiental ter como mais importantes funes: promover a educao ambiental, difundir a conscincia ambiental, consolidar o intercmbio de informaes e dar apoio e cooperao as atividades feitas pela populao do entorno. O Centro de Gerenciamento de Qualidade de gua ter como diretrizes principais a divulgao dos dados de monitoramento da gua da represa e administrao conjunta com os municpios que fazem parte da bacia. (http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/28). Observa-se que o plano de encerramento e respectivos projetos de recuperao ambiental e eventual uso seqencial da rea utilizada, deve ser especfico para cada aterro, e considerar as particularidades do compartimento ambiental e as condies de sua implantao e operao. A proposta de uso futuro da rea deve considerar que os resduos aterrados ainda permanecem em processo de decomposio aps o encerramento das atividades por 24
perodos relativamente longos, que podem ser superiores h 10 anos (FEAM, 1995). Assim, independente do encerramento das atividades de recuperao do aterro, os sistemas de drenagem superficial de guas pluviais e de tratamento dos gases e lquidos percolados devam ser mantidos por um perodo de cerca de 30 anos. Este perodo padro (default) adotado por ser considerado suficiente para o macio de lixo alcanar as condies de relativa estabilidade (ALBERTE et al., 2005). Para uso futuro dos aterros indicada a implantao de reas verdes, com equipamentos comunitrios como praas esportivas, campos de futebol e reas de convvio, nos casos de aterros prximos a reas urbanizadas. Em todos os casos, a requalificao do aterro deve integrar a rea ao seu entorno, considerando-se, principalmente, as necessidades da comunidade local, suprindo os anseios e expectativas da populao diretamente afetada.
5. A INTEGRAO DOS ATERROS DESATIVADOS S REAS VERDES DA CIDADE A recuperao dos aterros j uma realidade em nosso Municpio, mesmo que ainda de forma incipiente. No entanto, um tratamento de forma integrada, organizando-se um sistema de reas verdes que concentre as funes de melhoria da qualidade do meio e a recuperao de reas degradadas, uma viso que se pretende alcanar com uma interligao entre as reas de aterros sanitrio desativados nas cidades. Estudos realizados por Volpe-Filik et al (2007) demonstram que o aterro de Sapopemba, por exemplo, na zona leste, por se tratar de uma extensa rea (38 ha) encravada em rea totalmente ocupada por populao, aps sua recuperao, pode formar um corredor verde, interligando o Morro do Cruzeiro, Sapopemba, Mau e Baixada Santista. As reas dos aterros desativados no Municpio de So Paulo possuem caractersticas prprias; conforme a Teoria dos Ecossistemas (DRAMNSTD, OLSOM e FORMAN,1996) trata-se de um meio ambiente bastante diferenciado e significativo, caracterizando uma ocupao antrpica especifica, bastante comprometida, aqui definida como lixo desativado.
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Para a revitalizao destas reas fragmentadas, propem-se, neste trabalho, duas ocupaes diferenciadas: 1. Recuperao da rea interna, aqui denominada rea Ncleo (AN), de acordo com a Lei 13.564 de 20034, referente ao Passivo Ambiental. Esta rea ter ocupao respeitando propostas especificas j utilizadas em outros aterros, conforme exemplos expostos, onde, em grande parte prope-se equipamentos edificados; 2. Recuperao da franja deste territrio, aqui denominada rea de Recomposio Ambiental (ARA), de forma a integr-la s reas verdes conectivas da cidade, na forma de corredores verdes, objetivando uma forma de recolonizaro ecolgica. Na maior parte das vezes, parte desta franja ocupada por favelas e outras habitaes de baixa renda que necessitam ser desocupadas para garantir sua recomposio ambiental. Para melhor classificao foram estabelecidas as seguintes siglas: ARA 1 rea de Recomposio Ambiental (Classe 1): apresentando solo contaminado, com obrigao de remediao. ARA 2 reas de Recomposio Ambiental (Classe 2): apresentando poluio das guas superficiais, com obrigao de tratamento de efluentes; perda de espcies de fauna e flora, perda de patrimnio cultural, com obrigao de recomposio ou compensao.
4 Lei 13.564 de 24/4/2003 - Dispe sobre a aprovao de parcelamento de solo, edificao ou instalao de equipamentos em terrenos contaminados ou suspeitos de contaminao por materiais nocivos ao meio ambiente e sade pblica, e d outras providncias.
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Figura 5: Proposta de ocupao diferenciada para a rea de aterros sanitrios desativados
6. CONCLUSES A carncia de reas verdes na cidade de So Paulo evidenciada por diversas pesquisas. Tambm de conhecimento geral que reas verdes, de lazer, com equipamentos esportivos e recreativos, em especial em regies carentes, trazem uma melhora na qualidade de vida da populao local. O aproveitamento das reas de aterros sanitrios desativadas, conforme a proposta acima exposta pode aprimorar o net de transposio, melhorando significativamente a biodiversidade na cidade de So Paulo. Embora a rea efetiva para plantio restrinja-se franja do territrio, esta tem como proposta dinmica expandir-se atravs da mancha urbana apresentando um carter Interativo, fazendo parte de um processo a ser aplicado em etapas consecutivas, enfatizando os aspectos visuais, estticos e ambientais e objetivando acomodar tanto 27
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os interesses humanos como os processos naturais; considera-se ainda que esse corredor ser espao permevel para a percolao da gua e servir tambm, como armazenador de certa quantidade de gua.
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ARTIGO N2
REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VERDE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure. Case Study in Valinhos, SP Brazil La Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti , Sabrina Mieko Viana
REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VERDE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP BRASIL
La Yamaguchi Dobbert 2 Larissa Leite Tosetti 3 Sabrina Mieko Viana
1Arquiteta, mestre em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: leadobbert@yahoo.com.br 2Engenheira Agrnoma, mestranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: laletosetti@usp.br
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Biloga, doutoranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: smieko@usp.br
Resumo
O presente estudo ressalta a importncia da preservao e/ou requalificao dos redutos rurais na cidade de Valinhos (SP), como referncias culturais que devem ser mantidas no processo de urbanizao do municpio. Da coleta de dados apresentao das informaes, um quadro da atual situao dos redutos rurais traado no mapa da cidade a fim de contribuir para a educao e a informao da populao como tambm do poder pblico sobre os valores histrico, cultural e social de tais redutos rurais inseridos na malha urbana de Valinhos. Ao enfatizarem-se os valores culturais desses redutos rurais, visa-se integrar a arquitetura residencial e o desenvolvimento econmico preservao do patrimnio cultural singular da regio. Apresentam-se, como propostas, possveis intervenes de infraestrutra verde, orientando a dinmica de crescimento do local seguindo um desenho ambiental sustentvel, com base numa anlise dos redutos rurais, avaliados como ordenadores do espao e do territrio local, encontrados na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo.
Palavras-chaves: patrimnio cultural, redutos rurais, desenvolvimento urbano, desenho ambiental, resilincia, infraestrutura verde.
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RURAL REMAINS: STRATEGY OF RESILIENCE AND URBAN GREEN INFRASTRUCTURE. CASE STUDY IN VALINHOS, SP - BRAZIL
Abstract The present study highlights the value of preserving and / or upgrading rural remains in ValinhosSP-Brazil, cultural landmarks that should be preserved in the process of urbanization of the city. From the data collection to the presentation of information, a picture of the current situation of rural remains is designed on the city map to help to educate and inform the public about the historical values. Cultural and social effects of these remains inserted in the urban and rural areas of Valinhos emphasize the values of cultural and rural remains that aims at integrating the residential architecture and economic development to preserve the natural heritage of the region. Proposals are presented like possible interventions on the green infra structure, guiding the dynamic local growth. Following a sustainable environmental design, based on an analysis of rural remains and evaluated as space and the local area orientation, found in the urban landscape of Valinhos city of So Paulo State. Key words: cultural heritage, rural remains, urban development, environmental design, resilience, green infrastructure.
INTRODUO O processo da urbanizao pode ser abordado sob vrios ngulos: do urbanismo, no que diz respeito ao planejamento e paisagismo desse espao; da percepo, no que concerne aos sentimentos, valores e atitudes dos habitantes em relao ao espao vivenciado, ou, ainda, do estudo das conexes entre as formas espaciais e a estrutura social. No caso brasileiro, a urbanizao aconteceu atrelada herana rural, como esclarece Ribeiro (1995), processo que se manifesta nas simples habitaes construdas em meados do sculo XX, que vo configurando a forma urbana. A crena de que o espao mais urbanizado melhor frequentemente utilizada como uma evocao ao nvel de desenvolvimento econmico de uma regio, entretanto, esse pensamento quase sempre dissociado do nvel cultural e social de seu povo e at mesmo em termos de sustentabilidade. Considerando que o desenvolvi32
mento das cidades brasileiras adotou modelos orientados para maior produtividade econmica e lucratividade, constitudas sobre interesses privados em detrimento dos coletivos, o planejamento do meio fsico foi praticamente inviabilizado acarretando em cidades, incapazes de oferecer uma boa qualidade de vida aos seus habitantes (LOMBARDO, 2003). A preservao do espao rural, tanto fsica como culturalmente, tem se mostrado salutar em razo dos inmeros benefcios que tal preservao proporciona, como: presena de reas verdes, reas permeveis que evitam fenmenos semelhantes s ilhas de calor, manuteno da biodiversidade, melhora na qualidade do ar, conforto trmico, entre outros. Do mesmo modo, a implantao ou enriquecimento da infraestrutura verde, que deve estar associada a esses espaos existentes, podem aperfeioar o desenvolvimento da cidade, visando o crescimento dos espaos naturais em redes capazes de desempenhar servios ambientais e maximizar a qualidade ambiental. A infraestutura verde definida por Franco: Podemos considerar infraestrutura verde como sendo reas urbanas permeveis ou semi-permeveis, plantadas ou no que prestam servios cidade e apresentam algum grau de manejo e gerenciamento pbico ou privado. Das reas pertencentes infraestrutura verde de uma cidade destacamos os seguintes servios prestados: 1- Melhora da qualidade do ar promovendo a sade humana; 2- Seqestro de carbono da atmosfera; 3- Amortizao do balano climtico entre temperaturas baixas e altas no microclima urbano entre dia-noite e as estaes do ano; 4- Proteo, conservao e recuperao da biodiversidade da flora e fauna na rea urbana; 5- Conteno da eroso; 6- Promoo de atividades contemplativas, esportivas e de lazer; 7- Promoo da importncia da paisagem como fator determinante da esttica urbana; 8- Incremento do fator permeabilidade do solo urbano permitindo a percolao da gua e portanto a reduo de enchentes; 9- Articulao e conectividade entre espaos verdes; 10- Promoo da seguridade urbana; 11- Proteo de reas de fragilidade ecolgica; 12- Promoo de reas de alto valor imagtico, icnico e de identidade de lugares e stios urbanos. (FRANCO, 2010, p. 143) A cidade de Valinhos, assim como boa parte das cidades brasileiras, sofre presses 33
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diversas do mercado imobilirio que vem se estendendo em direo s reas rurais. A urbanizao corporativa guiada pelo interesse de grandes empresas e pela especulao imobiliria deixa de lado, na maioria das vezes, os compromissos e gastos sociais, culturais, ambientais, voltando-se somente para o maior ganho possvel de lucros. (SANTOS, 2008) Dentro desse contexto, Argollo (2004) alerta que a urbanizao do campo no deveria significar transform-lo em cidade, e sim resgatar e valorizar a memria e a cultura de um povo, baseado nas condies rurais, sem dar a esse processo de transformao uma conotao folclrica ou jocosa, reconhecendo o potencial dos novos empreendimentos que, segundo o estudioso, alm de prover sustentabilidade scio-econmica, contribuem no s para a preservao ambiental, mas tambm para os valores culturais de um pas ou regio. Observa-se muitas vezes, porm, que esse objetivo ao se urbanizar o campo no atingido, pois o que ocorre, na realidade, o fato de empresrios do ramo imobilirio apresentarem maiores vantagens aos proprietrios para que estes se desfaam de suas propriedades, onde sero construdos grandes edifcios, condomnios horizontais, dentre outros tipos de empreendimentos. A urbanizao causa, ento, fortes impactos, muitas vezes irreversveis, regio alm de impossibilitar a prtica de atividades consideradas tipicamente rurais. Infelizmente, atrados por tais propostas, o homem com razes no campo acaba por ceder presso do mercado, perdendo a identidade, a liberdade e a referncia de sua origem. Para Kayser (1990:13), o rural um modo particular de utilizao do espao e de vida social. Seu estudo supe, portanto, a compreenso dos contornos, das especificidades e das representaes do espao rural, entendido, ao mesmo tempo, como espao fsico (referncia ocupao do territrio e aos seus smbolos), lugar onde se vive (particularidades do modo de vida e referncia de identidade) e lugar de onde se v e se vive o mundo (a cidadania do homem rural e sua insero nas esferas mais amplas da sociedade (WANDERLEY, 2000, p.88) Atividades consideradas tipicamente rurais, praticadas e desenvolvidas nas cidades, encontram-se, muitas vezes, encobertas por incrementos urbanos, sendo, ainda assim, consideradas redutos rurais. Os costumes das pessoas, geralmente de origem rural, manifestam-se na cidade em pequenos espaos por meio de diversas atividades exercidas, como pequenas criaes, plantio de hortas, ou mesmo a prtica de 34
costumes tipicamente rurais, que integram o que se pode denominar de um modo de vida, expresso, portanto, em sua habitao como herana rural. O caipira foi vtima de um traumatismo cultural marginalizado pelo despojo de suas terras, resistente ao engajamento no colonato e ao abandono compulsrio de seu modo tradicional de vida.. (RIBEIRO, 1995, p.387) Manterem-se vivos os costumes e as crenas do homem do campo, o caipira, o mesmo que no se deixar apagar a memria de um povo, cuja identidade no pode ser desprezada, assumindo-se, pois, a importncia de sua herana cultural, bem como de suas referncias. Nesse sentido, Argollo (2004) reconhece que o patrimnio arquitetnico, juntamente com o patrimnio industrial existente no meio rural, compe um conjunto ainda mais rico: o patrimnio cultural rural. Patrimnio que, inserido na malha urbana, vem definir a cultura e a paisagem da cidade: O papel da arquitetura rural no processo de resgate e valorizao da memria e cultura local fundamental para o desenvolvimento rural sustentvel, uma vez que eles (memria e cultura locais) so a base para o reconhecimento e anlise das paisagens culturais de uma determinada regio (ARGOLLO, 2004, p.8). A palavra reduto, segundo Houaiss (2004), so espaos fechados ou recintos demarcados; sendo assim, redutos rurais urbanos podem ser definidos como espaos rurais fechados remanescentes inseridos na malha urbana. Trabalhos de pesquisa que reconheam a relevncia de tais redutos so decisivos para propor a devida valorao e estmulo de preservao do rural. Por meio de incentivos fiscais, resgate da cultura local e apoio cultural, o Estado pode viabilizar o convvio harmnico entre urbanizao e espao rural. Muitas vezes a conteno do crescimento de uma cidade pode trazer vrios benefcios populao que habita a regio.
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Numa outra perspectiva, Herzog e Rosa (2010), retomando outros autores, defendem o desenvolvimento da ecologia da paisagem na ecologia urbana, como decisiva para a compreenso da interao homem-natureza, ao proporcionar uma mudana positiva no planejamento e adaptao das cidades. O mapeamento dos redutos rurais, ou remanescentes naturais, na rea urbana podem ser de grande valia como auxiliares no diagnstico e no planejamento urbano, visando a um desenho ambiental, definido por Franco (2008 p.212), como a arte e a cincia dedicada valorizao da qualidade de vida das cidades.... Esse mapeamento pode ser realizado com o uso de vrias ferramentas, como os sistemas de informao geogrfica (SIG), de imagens ou fotografias areas obtidas atravs de sensores remotos, dentre outros. Entretanto quando se trata de reas ou municpios de pequeno porte (segundo IBGE, com 500 a 100.0000 habitantes), o levantamento dos dados pode ser feito em campo, com a vantagem de se possibilitarem levantamentos especficos quanto s estruturas arquitetnicas e s condies naturais (reas verdes, parques, rvores, APPs urbanas). Assim, conhecer os redutos rurais presentes em Valinhos (SP), estimular sua preservao e valorizao, e utilizar esses espaos como resgate cultural e social, como oportunidade de presena do natural no urbano, como espaos educadores que aproximam os cidados de um conhecimento histrico e patrimonial, uma alternativa de incluso das pessoas em um pensamento holstico no desenvolvimento das cidades, visando sempre o crescimento que integra as diversas reas do saber.
OBJETIVO O presente estudo teve como objetivo apresentar um quadro dos redutos rurais, inseridos na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo. O enfoque principal foi dado aos espaos pblicos, s antigas sedes de fazendas e capelas, com o intuito de captar o modus vivendis rural, valorizando-se, assim, costumes e crenas a serem preservados, e realando caractersticas da cultura rural local, sua histria e seus valores. Compreende-se que a valorizao desses redutos pode ser de grande valia no desenho ambiental urbano, auxiliando no desenvolvimento sustentvel da cidade e, at mesmo, como forma de se levarem seus habitantes e gestores a refletirem sobre formas alternativas de crescimento do espao rural no cotidiano das cidades.
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MATERIAIS E MTODOS Valinhos localiza-se a 22 5814 de latitude sul e 465945 de longitude oeste, com altitude de 660 metros. Municpio criado em 1953, pertence regio Metropolitana de Campinas (RMC) e possui uma rea de 148,96 km (figura 1). Conhecida com populao tipicamente de origem rural, hoje ainda conhecida como capital do figo roxo.
Figura 1. Localizao de Valinhos a partir dos mapas do Brasil, do Estado de So Paulo e da regio metropolitana de Campinas (ilustrao: Sabrina Mieko Viana).
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Durante o ms de janeiro de 2007, realizou-se um mapeamento dos redutos rurais na malha urbana de Valinhos, por meio de levantamento de dados em campo, consulta a livros de registro, coleta (informal) de relatos de moradores locais, alm de registro fotogrfico. Para se encontrarem as razes de tal herana importante que se conhea a histria da cidade e de seus habitantes com o intuito de se compreender a origem desses costumes e da tradio rural. Para tanto, fez-se um levantamento bibliogrfico referente histria da cidade de Valinhos, alm da conversa informal com moradores locais. Um estudo bibliogrfico realizado anterior aos levantamentos de campo pde auxiliar na compreenso do termo redutos rurais, definindo quais elementos da infraestrutura urbana entrariam nesse mapeamento.
RESULTADOS E DISCUSSO A anlise dos dados obtidos em pesquisa de campo indicia que os redutos encontrados dentro da malha urbana de Valinhos no esto adequados cultura rural da regio, levando-se em conta uma viso ecossistmica, em que a diversidade tanto do ponto de vista biolgico, ecolgico, social e cultural essencial na construo de cidades mais saudveis e equilibradas (FRANCO, 2008). H necessidade, portanto, de se proporem novos modelos de gesto urbana, adequados cultura local, que ressaltem a importncia da preservao e ou requalificao dos redutos rurais arquitetnicos e culturais com a finalidade de que as referncias culturais prevaleam, inclusive com a insero destas nos planos de gesto do municpio de Valinhos. O levantamento dos redutos rurais pode ser observado na figura 2.
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Figura 2: mapa de Valinhos e seus redutos rurais inseridos na malha urbana (ilustrao: Sabrina Mieko Viana, baseado em mapeamento de La Y. Dobbert) Na cidade de Valinhos, constatou-se que antigos espaos rurais foram transformados em escolas de equitao, pesqueiros, pousadas, clubes, residncias de lazer e, especialmente, condomnios horizontais (figura 3).
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Figura 3: a) Antiga fazenda Dois crregos, atual Condomnio residencial Reserva Colonial (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007) b) Antiga fazenda So Bento, atual clube de campo Vale Verde (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007) c) Antiga fazenda Santana, atual condomnio residencial Visconde Village do Itamarac (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007) d) Antiga fazenda Macuco, atual Pousada Fazenda Joapiranga (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007) H tambm antigas construes rurais como, por exemplo, algumas casas de colonos que se encontram atualmente sem utilizao, expostas ao vandalismo devido ao descaso das autoridades locais (figura 4). a b
Figura 4: a) e b) Antigas casas existentes ao lado da Estao Ferroviria 40
Outro aspecto importante a ser considerado ao se diagnosticarem e conhecerem os redutos rurais em Valinhos o que se pode chamar de resilincia cultural e urbana, definida por Franco (2010) como a capacidade que um determinado grupo social tem em resistir a mudanas provocadas pelo choque com culturas diferentes, preservando seu patrimnio cultural. A presso do mercado imobilirio, conforme relato de alguns moradores de pequenas casas de colonos de antigas fazendas, fez com que muitos destes moradores se redessem as propostas sedutoras de tais empreendedores, abrindo mo no apenas de seus imveis, mas de sua tradio, memria e histria. Neste sentido, Menezes e Tavares (2003), destacam a importncia de se respeitar a histria urbana e social com seus significados, sentidos e valores simblicos, por meio da conservao da imagem urbana. Ao preservar os redutos rurais de Valinhos, no se impede o desenvolvimento da cidade com as mudanas esperadas, mas, antes, garante-se que certos cdigos simblicos sejam mantidos naquela comunidade, valorizando-se, assim, a cultura local em meio s influncias culturais exticas e s presses imobilirias. A capacidade de resilincia em um municpio bem empregada quando utilizada para amenizar impactos antropognicos, como esclarece Franco (2010). Assim, a proposta de parques lineares com funes de corredores verdes, que conectam os redutos rurais ao espao urbano, permite um desenvolvimento mais harmnico do municpio ao assegurar a seus moradores e visitantes possibilidades variadas de lazer, locomoo e contato com a histria e a cultura da cidade. Respeita-se, assim, a sobrevivncia da cultura rural de Valinhos. Em conjunto com esta proposta, sugere-se tambm que a populao seja educada para reconhecer o valor histrico, cultural, social e ecolgico, de tais redutos rurais inseridos na malha urbana de Valinhos. Neste contexto pode-se pensar nestes lugares tambm sob o conceito dos espaos e estruturas educadoras, ou seja, como locais onde se possa trabalhar e discutir, com a populao, alternativas para a sustentabilidade, por meio do estmulo realizao de atividades conjuntas, alm do reconhecimento da necessidade de se educar (BRANDO, 2005). Qualquer espao no cotidiano das cidades pode ter caractersticas educadoras, entretanto para que isso se concretize, de fato, necessrio que haja uma intencionalidade 41
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educativa, levando as pessoas reflexes sobre as causas e efeitos dos problemas urbanos, alm de redescobrirem e resgatarem os simbolismos, a cultura, a histria e as identidades associados sua cidade (MATAREZI, 2005). Um espao educador quando bem estruturado e pensado em suas intenes educadoras pode ter um potencial to provocador e transformador quanto o de, por exemplo, uma obra de arte (MATAREZI, 2005). Considera-se tambm que a partir do momento que as pessoas reconhecem este patrimnio, o descobrem e se apropriam destes espaos, aumenta seu sentimento de pertencimento ao local, potencializando os esforos de conservao e preservao destes espaos, estabelecendo assim um elo afetivo com o lugar (TUAN 1980). Includas nas possibilidades que o espao educador oferece, podemos vislumbrar a viabilidade de implementar estruturas que auxiliem no resgate do pertencimento dos moradores urbanos aos equipamentos pblicos, como as propostas de ciclovias, parques lineares, espaos arborizados para esporte e lazer e outras diversas formas de aproveitamento, formalizando infra-estruturas verdes que tambm atuam na melhoria ambiental do municpio. Fundindo as oportunidades de aproveitamento dos espaos urbanos e fundamentando otimizao dos investimentos no oramento pblico, pretende-se realizar uma proposta de catalogao e documentao dos redutos rurais em Valinhos, que servir de instrumento de consulta para se criar um organismo em defesa do patrimnio histrico e cultural do municpio, que auxilie no planejamento e investimento dessa infraestrutura verde necessria ao desenvolvimento da urbe.
CONSIDERAES FINAIS Para que o planejamento e o projeto da infraestrutura verde em Valinhos sejam de fato eficientes e eficazes, preciso ter uma abordagem sistmica, abrangente e transdisciplinar. Sua eficcia depende de um levantamento detalhado dos aspectos abiticos, biticos e culturais. Um mapeamento dos condicionantes geolgicos, geomorfolgicos, hdricos - de preferncia com o uso da bacia hidrogrfica como unidade de macroplanejamento -, climticos, da cobertura vegetal, dos sistemas de drenagem e esgotamento sanitrio e uso e ocupao do solo nessa regio seria o passo inicial a fim de que se conhea a biodiversidade local. Levantar dados e mapas histricos sobre o uso e a ocupao do solo, hbitos da cultura local, um segundo passo a ser dado. 42
Conhecer, enfim, em profundidade o municpio. O processo do planejamento deve ser dinmico e flexvel, alm de efetivamente participativo contando com representantes de todos os segmentos da sociedade que sero afetados pelo projeto. necessrio identificar os anseios e os problemas trazidos pela comunidade quando se buscam novas idias que devem nascer como fruto da vivncia e da experincia no lugar pesquisado. O engajamento dos usurios nas fases do planejamento e do desenvolvimento do projeto essencial para que a infraestrutura verde seja sustentvel em longo prazo (RIBEIRO, 2001; BOUCINHAS, 2007; COSTA et al., 2007). O diagnstico inicial ir indicar quais as oportunidades e as limitaes da rea. Urge, portanto, a necessidade de um estudo quali-quantitativo mais aprofundado e com maiores especificidades, que possibilite confeccionar um banco de dados contendo todos os redutos rurais e suas caractersticas para que se possa propor um mtodo de catalogao e controle de preservao do patrimnio cultural rural da cidade de Valinhos (SP). Ao se propor tambm a conectividade entre esses redutos e a urbanizao por meio de parques lineares ou corredores verdes, uma rota turstica se fortalece com funo ambiental, proporcionando um desenvolvimento urbano do municpio associado implantao de infraestruturas verdes e a uma logstica que facilite essas estruturas como espaos educadores.
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ARTIGO N3
SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDADE AMBIENTAL Information System As An Instrument Of Environmental Quality Management Patricia Helen Lima
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SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDADE AMBIENTAL
Patricia Helen Lima

Mestre em Projeto Sustentvel pela FAUUSP Coordenadora da Seo de Informao e Qualidade Ambiental da Prefeitura de SBC E-mail: patricia.helen.lima@hotmail.com
Resumo Este trabalho discute mecanismos de formulao e gesto de polticas pblicas, sobretudo no nvel local, abrangendo seus contedos temticos (poltica social, ambiental e econmica), procurando entender sua evoluo e seus resultados em termos da participao popular, dos interesses ambientais, econmicos e globais, apresentando alternativas que possam atender as necessidades contemporneas em crescente mudana, numa sociedade em transio cultural. Para interferir diretamente nesse processo, procuramos apresentar as dificuldades e limites da atual prtica, e apresentar caminhos para se construir propostas articuladas de polticas de desenvolvimento integrado, sistematizado e sustentvel. Palavras-chaves: Qualidade Ambiental, Sistema de Informao, Polticas Pblicas, Meio Ambiente, Planejamento Ambiental.
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INFORMATION SYSTEM AS AN INSTRUMENT OF ENVIRONMENTAL QUALITY MANAGEMENT
Abstract This work discusses the mechanisms of creation and management of public policies, above all on a local level, covering its thematic contents (social, environmental and economic policies), trying to understand its evolution and its results in terms of popular participation, of environmental, economic and global interests, presenting alternatives that may attend to the contemporary necessities in growing changes, in a society in cultural transiton.
To interfere directly in this process, we tried to present the dificulties and limits of the current practice and present paths to build articulated proposals of integrated, systemic and sustainable development policies,
Keywords: Environmental quality, information system, public policies, Environment, Environmental planning.
POLTICAS PBLICAS Polticas pblicas so diretrizes de ao do poder pblico, procedimentos que norteiam suas relaes com a sociedade. So, nesse caso, polticas formuladas em leis, projetos e programas, que normalmente envolvem recursos pblicos. A esfera das polticas pblicas tambm possui uma dimenso poltica, que envolve a distribuio de poder, o papel do conflito social nos processos de deciso, a repartio dos custos e benefcios sociais, evidenciando que nem sempre h compatibilidade entre as intervenes e as aes desenvolvidas. A responsabilidade e encargos atribudos ao Municpio so definidos na Constituio Federal e detalhados na Lei Orgnica. O municpio tem ampla autonomia para definir suas polticas e aplicar seus recursos. Nas reas tradicionalmente objeto de polticas pblicas, como assistncia social, meio ambiente, habitao, saneamento, abastecimento, educao, sade, o municpio tem competncia comum com a Unio e o 47
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Estado, a ser exercida com a cooperao dessas esferas de poder, pela transferncia de recursos, ou pela cooperao tcnica. Por ser Poltica pblica, seu processo de elaborao submetido ao debate pblico, o que a diferencia das Polticas governamentais, embora sejam estatais. Como o poder uma relao social que envolve vrios atores com interesses diferenciados e at contraditrios, h a necessidade de mediaes sociais e institucionais, para que se possa obter um mnimo de consenso e, assim, as polticas pblicas possam ser legitimadas e obter eficcia (TEIXEIRA, 2002). As polticas urbanas iniciadas no Estatuto das Cidades e nos Fruns Ambientais Globais abriram caminhos para mudanas significativas na funo social, seguido de parmetros para nortear a atividade produtiva dentro de um ambiente sustentvel, englobando diferentes lgicas, que buscam um entendimento e que estabelecem relaes que remontam s questes da sustentabilidade. Analisar tais questes no espao urbano e seus impactos sobre os ecossistemas acarreta na reviso do processo das polticas pblicas, que ir compor o projeto urbanstico no cumprimento de seu objetivo final (LIMA, 2009). A condio na qual a ideologia sobre as questes ambientais e sociais se produz em nossa poca -e que abrem possibilidades novas- encontra barreiras no mundo da economia global, onde as idias se desligam da sua correspondncia de origem, determinando a formao social e decorre da um entendimento apenas parcial da realidade, nem sempre atrelado s culturas locais. A globalizao, um fenmeno que est predominado em todo mundo se manifesta de forma excludente e gera vrios tipos de violncia, causando danos econmicossociais e ambientais. Vale salientar que a presso da globalizao com fora mercadolgica cria a necessidade do governo buscar alternativas novas do contato direto com o cidado superando o ortodoxo de fazer poltica. De igual maneira, a cidadania conscientemente organizada necessita criar mecanismo de contato e controle de polticas estatais, democratizando-as. Isso demanda novos experimentos de participao poltica direta de maior nmero possvel de cidados. Assim, um dos maiores desafio da globalizao a discusso profunda e ampla a cerca de uma poltica da condio social humana global (CRUZ, 2009).
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Partindo da observao deste contexto de relaes globalizadas, da hegemonia do
capital aliado s questes sociais urgentes, possvel um exerccio de anlise das transformaes ocorridas, onde se percebe que os esforos para a verdadeira compreenso dos novos conceitos tm sido depositados em aes para solues conjuntas, para no corrermos o risco de sermos engolidos pela banalidade do contexto atual.
A criao de estruturas adequadas para a realizao de um mecanismo comum, que troque as experincias de cada setor pela atuao que propicie poderes decisrios amplos, com mltiplas competncias, com instrumentos que permitam ultrapassar obstculos e que dem segurana e compreenso necessrias o caminho que entendemos possvel para novas aes e que permitiro a transparncia das informaes para um meso nvel de conhecimento.
MEIO AMBIENTE NO PROCESSO DE GLOBALIZAO A expanso das foras globais sobre o espao, a sociedade e as aes locais trouxe reflexes sobre a lgica que pauta este caminho. A interveno do setor financeiro na lgica do espao urbano e rural e na sua produo mostrou que as lgicas coexistem e se inter-relacionam, porm, quando includa a lgica ambiental, nos deparamos com novos desafios. Com o objetivo de explorar diferentes dimenses, escalas e relaes, buscamos para exemplificar o conceito atual de rea urbana e rural. O mundo rural secular ope-se claramente ao mundo urbano, em suas funes, atividades, grupos sociais e paisagens. Nos anos 80 assistiu-se uma nova realidade: o mundo rural no agrcola. Esta perspectiva introduziu elementos novos no modo de encarar os mundos rural e urbano, em si e na forma como se relacionam (RGO FILHO, 2007). As decises sobre as questes agrcolas tomadas no urbano e a submisso da ideologia dos padres rural ao urbano, marcou uma viso de dominao urbana. A idia do mundo rural no agrcola trouxe em si transformaes sociais. A ausncia de movimentos significativos que apiem os desenvolvimentos locais, a valorizao simblica atribuda ao mundo rural e a fora do mercado alteraram definitivamente as relaes entre urbano e rural. Os aspectos hipervalorizados da conservao e proteo da natureza, a mercantiliza49
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o das paisagens transformou o mundo rural, crescentemente reduzido, em espaos multifuncionais ou parques naturais sem expresso significativa. Com o crescente aumento da populao urbana e a diminuio na qualidade da vida destes, surge o papel cada vez mais contrastante entre a imagem do rural buscado pela populao urbana como prximo da natureza e a fuga da vida urbana. O rural de hoje, entendido neste contexto, no traduz o rural do passado, ou seja, a relao da sociedade rural com o espao e seu registro local, no conjunto social. O sistema de valores da populao rural de antes substitudo pelo individualismo que transformou o homem e a terra em mercadoria. Enfrentamos agora novas questes sobre limites do urbano e do rural, que se encontraram fisicamente, com a extenso do tecido urbano. Nesta nova relao urbano-rural, importante frisar, que uma nova relao urbano-rural ter que ser desenvolvida com um novo olhar sobre os espaos, de forma sinrgica em suas relaes. Estas relaes pressupem garantir o funcionamento de processos ecolgicos bsicos, como medida de preservao de ecossistemas. Significa garantir oferta pblica de mobilidade, cultura e aprendizado s populaes. Significa garantir que polticas de ordenamento do territrio e preservao da natureza sejam complementares e resultem no desenvolvimento adequado s novas redes que se criam. O custo ambiental se associar sua diversidade natural e complexidade da problemtica social, o que representar grande potencial para o seu desenvolvimento, envolvimento e troca. A proximidade de indstrias com fontes de energia e matria prima no mudar a geografia econmica, mas alterar seu papel diante do mercado consumidor. A figura de rede substituir a da Linha de produo (RGO FILHO, 2007). Este o estgio atual do processo de globalizao, onde se tornam indispensveis a interao e a considerao entre os nveis local, regional, nacional e global, o que significa sobrepor diferentes estruturas que comportam complexidades desiguais anteriores, como uma ordem prxima (de vizinhana) e uma ordem distante (da sociedade como um todo), que regem a produo e o consumo, da escala global. A reviso do tamanho populacional dos municpios, sua densidade demogrfica e sua localizao sero obrigatrias tanto em conceitos como em normas legais, para a verdadeira compreenso da nova situao. As microrregies so essenciais para a caracterizao dos ecossistemas, ainda que artificializada pela ao urbana e nesse 50
sentido, o campo no poder ser concebido apenas como complementar a cidade e paisagem a ser consumida, mas como estruturador de um novo espao, que contribua na valorizao e reconhecimento dos seus saberes e potenciais locais, sem a condio de subordinao, envolvendo reais culturas. Nasce a idia de novas geografias que sero identificadas com sua espacialidade e suas marcas. Esta espacialidade ter que desenvolver e comportar a participao dos atores locais que desenvolvero e produziro influncias particulares. A escala de ao definir as interaes espaciais e a informao se construir no conjunto dos atores e da gesto da proteo ambiental. Este processo ser capaz de direcionar aes que busquem a qualidade da informao e das intervenes.
TECNOLOGIA DA INFORMAO E CONHECIMENTO preciso recuperar temas que permitam a construo de um quadro de prticas urbanas e rurais e que considerem os processos histricos e naturais, que no iludam, mas que influenciem aes mais abrangentes e cautelosas, uma produo do espao que seja condio e meio para o processo da construo do territrio, considerando a espacialidade do processo social como intrnseca anlise territorial (LIMA, 2009). A tecnologia avanada possibilita uma leitura conjunta de fatores que envolvem informaes de diferentes fontes e que analisadas no todo representam uma ferramenta de gesto em que diversos atores podem usufruir e produzir um novo espao, sob novas condies de realizao e que possuam a potncia de transformar a prtica scio-espacial. O desafio explorar o desenvolvimento tecnolgico para um objetivo de tornar as cidades sustentveis. SANTOS, equipara o desenvolvimento da histria com o desenvolvimento das tcnicas, dizendo que A cada evoluo tcnica, uma nova etapa histrica se torna possvel. (SANTOS, 2005). Em nossa poca, o que representativo do sistema de tcnicas a tecnologia da informao, do conhecimento e dos modelos digitais, permitindo todos os lugares convergirem os momentos e as aes desejadas, usufruindo das questes locais e globais e dos atores locais e globais. Dispomos de um sistema de tcnicas, com informaes que se agrupam ao mesmo tempo e em qualquer lugar. Podemos ter uma viso detalhada da terra, observada por 51
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satlites, redes de infra-estrutura e rede social que as suportam, enfim, passamos a conhecer todos os lugares, funes, relaes e produes e observ-los em sua evoluo. Como sntese constitui-se em uma viso integrada, altamente elucidativa do conjunto interligado dos fatores fsicos, biticos e socioeconmicos responsveis pela realidade e suas relaes (Fig.1).
Fig.1 - sistemas geogrficos de informao. Muitas representaes digitais do ambiente so extremamente teis para o conjunto destas informaes. So exemplos os mapeamentos temticos e os bancos de dados. Estas representaes podem ser integradas em uma estrutura que permita a investigao de relaes entre as entidades fsicas representadas e os impactos que as aes representam. Este cruzamento das informaes cria modelos conceituais que representam diferentes facetas da realidade. O sentido que tm todas estas ferramentas so a correta interpretao de tudo o que existe e que temos acesso e as possveis intervenes no processo, para que sejam revistas as aes. Estamos buscando construir uma filosofia das tcnicas e das aes, que seja uma forma de conhecimento amplo e concreto do mundo tomado como um todo e das particularidades dos lugares, que incluem condies fsicas, naturais ou artificiais e condies polticas. Conhecer todo o processo das intervenes no territrio, suas relaes e abrangncia uma necessidade de princpio para qualquer ao. Por exemplo, diversas atividades s so possveis pela existncia de recursos que 52
no so produzidos ou extrados em seu local e podem ser sentido em sua vizinhana. Nas cidades, os recursos naturais que utilizamos no dia-a-dia, o lixo que geramos, o solo que impermeabilizamos, o ar que polumos chegam ao meio rural e podem no ser percebido na cidade, mas causam impacto. O estudo das bacias hidrogrficas, por exemplo, como uma unidade ambiental de anlise um caminho para uma investigao do meio, pois possvel analisar altitudes de terrenos ao longo da bacia, regular o fornecimento de gua, preservar os solos frteis, aes humanas, a densidade demogrfica e as razes econmicas, entender a drenagem, o fluxo dos cursos dgua, a distribuio das chuvas, o grau de impermeabilizao, interpolando com o clima, estudar a funcionalidade do fornecimento, enfim, todos os componentes das bacias hidrogrficas encontram-se interligados e os rios so os veculos dessa integrao. Devido a essa interligao natural, as bacias hidrogrficas so excelentes unidades de planejamento e gerenciamento e constitui um sistema natural bem delimitado do espao, composto por um conjunto de terras integradas e portanto mais facilmente interpretveis. O gerenciamento por Bacia hidrogrfica exigir um conhecimento que ultrapasse limites administrativos, mas que entenda os fluxos, que permita um diagnstico da realidade, e mais ainda, permita requalificar reas entre tantas situaes que impossibilitam as decises autnomas. Todas estas questes remetem tecnologia atual na busca da qualificao do meio. necessrio envolver diferentes setores permitindo um nvel de entendimento entre atores para tomada de deciso cada vez mais transparente. Um sistema como parmetro para induzir maiores mudanas, juntando-se a uma cidadania participativa para lidar com a especificidade dos problemas urbanos, criaro polticas pblicas para resolver questes de ambientes especficos. medida que aumenta a conscientizao da interdependncia e medida que o conhecimento e a informao mostram os problemas de forma cada vez mais clara e rpida, pode haver cooperao e apoio em diferentes estgios na busca de um novo equilbrio entre sociedade, cidade e natureza. Esta a fora motriz que constri uma sociedade sustentvel.
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QUALIDADE AMBIENTAL Em relao s questes que permeiam as informaes relativas qualidade ambiental, vale apresentar sucintamente a importncia das informaes sistematizadas no desenvolvimento de um planejamento ambiental, que representa um salto de qualidade na observao e interpretao do meio. comum surgirem questes sobre a lgica utilizada na seleo dos dados que so utilizados na anlise do meio e que critrios definem este conjunto de dados para que sejam sistematizados e interpretados. Todo planejamento que visa definir polticas requer conhecimento sobre os componentes que formam o espao. O dado a base da informao, a medida, a quantidade ou o fato observado e pode ser apresentado na forma de nmeros, descries, caracteres ou mesmo smbolos. Este dado quando passa a ter uma interpretao se torna uma informao. Por sua vez, quando a informao uma propriedade cuja variao deve alterar a interpretao do fenmeno que representa, sem lhe alterar a natureza, chamada de parmetro, que pode apresentar diversos valores, conforme a circunstncia (Fig.2). Lembrando que para cada dado, informao, parmetro ou varivel obtido em um planejamento, deve-se reconhecer a temporalidade e o espao de abrangncia (SANTOS, 2004). O importante observar a ocorrncia desses nveis, a relao que se pretende estabelecer entre eles, os dados que so representativos, comparveis e de fcil interpretao, para construir uma base slida de informaes. Estas informaes so apresentadas como indicadores, que tm a capacidade de descrever um estado ou uma resposta dos fenmenos que ocorrem no meio. A figura seguir caracteriza o parmetro como indicador.
Fig. 2 Caracterizao de parmetro como indicador. Baseado em SANTOS, 2004. No existe consenso sobre qual o conjunto ideal de indicadores a ser adotado. Num planejamento ambiental o nmero de indicadores normalmente est associado es54
cala e espao fsico que se est trabalhando e para cada dimenso h indicadores especficos. Normalmente comum priorizar os indicadores do meio natural e posteriormente os que expressam aspectos sociais, culturais e econmicos, ficando claro que a seleo dos dados populacionais e socioeconmicos est orientado segundo sua relao direta com os subsistemas ambientais naturais. Importante perceber que o agrupamento dos indicadores auxilia no processo de planejamento de diferentes maneiras, podendo expressar as condies de qualidade ou estado do meio, refletir as polticas setoriais, outro grupo pode refletir presses ou impactos das atividades humanas sobre o meio, outro pelas relaes sociais, e assim por diante. A forma mais usual de organizar os indicadores, principalmente quando o planejamento fundamenta-se em princpios de desenvolvimento sustentvel, por meio da estrutura da OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development), que adota trs grupos de indicadores: estado, presso e resposta.
TEMTICAS E TEMAS
Outra questo a ser a ser considerada em relao ao planejamento ambiental so seus mltiplos aspectos como um todo contnuo no espao, que englobam dados ligados a diversas disciplinas. Na sistematizao das diferentes disciplinas necessrio considerar dois nveis de informao: o das temticas e o dos temas.
Cada tema um ncleo prprio de dados, por exemplo: o clima, a geologia, a vegetao, o uso da terra, educao, entre outros, que podem ser subdivididos em subtemas e podem ser derivados, ou seja, abranger dois ou mais temas. Temtica um conjunto de temas, que quando associados permitem uma anlise que a sntese de uma frao particular do meio (SANTOS, 2004). Os planejadores precisam refletir que a compreenso sobre a complexidade do meio e a forma como se d a integrao entre seus diversos temas deve, primeiramente, passar pelo relacionamento entre os prprios elementos do grupo das mltiplas interaes que os unem.(SANTOS, 2004)
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A partir das temticas e temas possvel descrever e prever situaes dentro da dimenso de anlise estabelecida, sabendo que esses componentes no so isolados e apresentam padres de distribuio no territrio estando relacionados numa rede de interaes. Um caminho para representar esta integrao por meio da segmentao do espao em unidades territoriais homogneas, onde so analisados todos os temas agrupando os pontos com caractersticas comuns e denominando cada um segundo suas caractersticas. Um caminho integrador dos temas que vem sendo utilizada no planejamento ambiental a Ecologia da paisagem, porque ela permite aplicar procedimentos analticos que conduzem observao, sistematizao e anlise. A paisagem observada como um conjunto de unidades naturais, alteradas por ao humana, que compe um intrincado, heterogneo e interativo mosaico, em que planejadores interpretam este mosaico e revelam as relaes entre as unidades. De acordo com Santos (2004), para o enfoque da paisagem so trabalhados trs aspectos (Fig. 3): Estrutura padres e relaes de distribuio entre elementos espaciais; Funo rea heterognea discutida em relao ao fluxo de espcies, energia e matria entre esses elementos; Mudanas alteraes da estrutura e funo do mosaico da paisagem atravs do tempo.
Fig. 3 - Estrutura, funo e mudana na paisagem. Baseado em SANTOS, 2004 O olhar sobre a paisagem deve ser feito em dois eixos: no horizontal (definio de padres mutuamente relacionados entre unidades) e vertical (define os atributos de 56
cada estrato). Nos mtodos tradicionais cada tema estuda um estrato e considera os demais como fatores de forma para seu prprio atributo. Considera, ainda, a heterogeneidade de uma rea formada por todos os atributos como um objeto nico de estudo (Fig. 4).
Fig. 4 Observao do espao, de acordo com o estudo da paisagem. SANTOS, 2004 O eixo vertical permite identificar os diferentes estratos cuja quantidade e composio depende da unidade, como florestas ou campos. O eixo horizontal permite identificar as diferentes unidades de paisagem. Ainda sobre a perspectiva de anlise sobre a funo da paisagem, os planejadores indicam que a estrutura da paisagem reflete uma imagem imediata da distribuio da matria pelos processos ecolgicos num determinado tempo e que a observao por longos tempos apresentam a dinmica do espao. A estrutura observada a partir de trs elementos bsicos: matriz, mancha e corredor (Fig. 5).
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Fig. 5 Representao dos elementos da paisagem. A matriz controla a dinmica da paisagem e o elemento que tem o maior predomnio da rea ocupada e com menor grau de fragmentao. As manchas so os elementos no lineares, de aparente homogeneidade e que interrompem a matriz. Os corredores so os elementos lineares, de aparente homogeneidade e distinguveis da matriz. Podem ser classificados como corredores naturais, corredores de alterao ou distrbio (estradas, linhas de energia), corredores de reabilitao (reflorestamento ciliar) e outros. A observao das interaes entre a estrutura da paisagem (tamanho, forma, arranjo e conexo entre seus elementos) e seus processos ecolgicos permite que vrios fenmenos sejam averiguados, como: a capacidade do meio em recuperar-se e continuar em equilbrio apesar de uma mudana; o tempo de sobrevivncia de um sistema ou de algum de seus componentes; a resistncia s mudanas, aos efeitos de barreira; as conseqncias das mudanas dos movimentos e transporte de agentes (organismos, gua, ar) entre os elementos da paisagem; a medida da facilidade de ocorrncia dos fluxos biolgicos (conectividade); a permeabilidade da matriz; a evoluo da fragmentao relacionada aos tipos de perturbao; 58
os efeitos de borda dos fragmentos; os pontos de ligao (reas de habitats dispersas), que facilitam os fluxos entre manchas, e a variao da diversidade na paisagem. SANTOS, 2004.
Fig. 6 Suposio de composio na paisagem em uma rea com vegetao natural preservada, uma regio essencialmente agrcola e uma rea urbana. SANTOS, 2004
A interpretao pelo enfoque da ecologia da paisagem reflete muito bem a dinmica das reas estudadas e possibilita empregar medidas mais concretas de aproveitamento e conservao dos recursos da terra, apesar de ainda existir desacordo relacionado noo de homogeneidade e heterogeneidade em funo de diferentes questes, como escala adotada, percepo dos mltiplos processos existentes, formao do planejador, com estratgias prprias, considerando os diferentes campos de conhecimento, com princpios, conceitos e estratgias prprias, o que leva a procedimentos sob a tica de diferentes profissionais.
CONCLUSO As Consideraes deste trabalho trazem reflexes de que o conhecimento deve absorver experincias e informaes, que no podem ser confundidos com quantidade de dados isolados, caso contrrio, no esclarecero a leitura necessria construo do territrio. Propiciar que os cidados se apropriem de suas localidades e que as polticas pblicas contribuam com aes para educao do cidado critico que possa exigir os seus direitos, que co-responsvel pela sua comunidade e sabe das necessidades da mesma o caminho para uma boa gesto. Partimos da hiptese de que a partir da relao entre circuitos financeiro, social e ambiental, adaptados ao conhecimento do espao e das aes surgir como resul59
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tado a realizao das polticas pblicas aplicada s localidades de forma consciente, participativa e qualitativa.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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ARTIGO N4
A EVOLUO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E AS INTERFERNCIAS DA TICA The Evolution of the Urban Environmental Sustainability and the Ethics Interferences Deize Sbarai Sanches Ximenes
Revista LABVERDE
A EVOLUO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E AS INTERFERNCIAS DA TICA
Deize Sbarai Sanches Ximenes

Mestre em Arquitetura e Urbanismo - PsArq da UFSC - Brasil E-mail :sanchesarquiteta@uol.com.br
Resumo A inteno deste artigo apresentar as influncias da tica na evoluo da sustentabilidade ambiental a partir do sc. XIX quando ocorre um rpido desenvolvimento das cidades e um crescimento desordenado da populao gerando problemas sociais e ambientais. O ambiente natural sofreu, por muito tempo, com a atividade predatria do ser humano, que estimulado por sua ganncia, retirou de forma irresponsvel e sem planejamento, as riquezas naturais em busca de lucro comprometendo a sobrevivncia sustentvel. A viso tradicional antropocntrica enfatiza um desenvolvimento ambiental urbano focado nos interesses e bem estar do ser humano desde a existncia do homem, enquanto a biocntrica, desloca o eixo da tica para os seres vivos e os ecossistemas naturais, onde teremos a introduo tica ambiental na dcada de 70 e o conceito de ecodesenvolvimento. Palavras-chave: evoluo, sustentabilidade ambiental urbana, tica antropocntrica, tica biocntrica, ecodesenvolvimento.
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THE EVOLUTION OF THE URBAN ENVIRONMENTAL SUSTAINABILITY AND THE ETHICS INTERFERENCES
Abstract The intention of this article is to present the influence of ethics in the evolution of environmental sustainability from the century XIX when there is rapid development of cities and a disorderly growth of the population generating social and environmental problems. The natural environment has suffered for a long time, with the predatory activity of human beings, that stimulated by their greed, pulled in an irresponsible manner and without planning, natural resources for profit committed to sustainable livelihoods. The traditional view emphasizes an anthropocentric environmental urban development focused on the interests and welfare of human beings since mans existence, while the biocentric, shifts the axis of ethics for living beings and natural ecosystems, where we have the introduction to environmental ethics in 70s and the concept of eco-development. Keywords: evolution, urban environmental sustainability, ethics anthropocentric, biocentric ethics, eco-development.
INTRODUO Como se sabe, o sculo XIX marcou profundamente o avano da urbanizao e a carncia de infra-estrutura, que resultou nas condies atuais das cidades que concentram cada vez mais, grande parte da populao do planeta. A ao antrpica, fortemente concentrada nas cidades, gerou grande impacto no ambiente construdo e no meio fsico em que o ser humano se inseriu. O aumento da populao associado diminuio de recursos naturais conduz as cidades a uma situao de esgotamento iminente. Esgotamento de recursos no renovveis e degradao que ocorre no solo, gua, vegetao e ar, pois o ser humano retira do ambiente natural, os recursos necessrios para sua sobrevivncia e age como se estes fossem infinitos.
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A qualidade da vida humana est diretamente relacionada com a interferncia do ser humano no ambiente construdo. A natureza humanizada, atravs das modificaes no ambiente, alcana maior expresso nos espaos ocupados pelas cidades. A partir desse cenrio, pode-se tentar compreender a importncia da tica no processo de evoluo da sustentabilidade ambiental, haja visto que a tica envolve todas as relaes da vida humana. Os problemas ticos so apresentados aos seres humanos, relativamente s atividades econmicas, sociais e ambientais. Nas ltimas dcadas, crises de mbito mundial, como fome e misria, migrao da pobreza e superpopulao, destruio ininterrupta do ambiente natural e guerras, despertaram a exigncia de uma responsabilidade mais tica (ENDERLE, 1997). Se a humanidade no pensar e agir a partir de uma tica ambiental, enfrentar os efeitos negativos dos ltimos duzentos anos de crescimento populacional e econmico que fatalmente levaram ao desequilbrio ecolgico e a degradao do meio ambiente fsico e social. As aes sustentveis precisam ser vistas como elemento essencial para o alcance da melhoria da qualidade de vida do ser humano e da preservao do ambiente natural. O debate ecolgico levanta questes fundamentais na maneira como a tica se posiciona perante o processo de evoluo das questes ambientais. O prprio ponto de partida e a abrangncia da tica enfatizam diferentes enfoques; antropocntricos ou biocntricos. Uns partem de que o ser humano detm um protagonista no mundo. Buscam a soluo para os problemas ambientais na perspectiva do papel central do ser humano em relao natureza. Outros defendem que o ser humano apenas um elemento a mais no ecossistema da natureza, um elo ao lado de outros na cadeia de reproduo da vida. Por isso, o protagonista pertence vida. Para estes a crise ecolgica precisa ser equacionada numa perspectiva biocntrica. Desta maneira foram-se perfilando duas grandes tendncias de tica ecolgica que se excluem entre si. Uma que tem como ponto de partida o ser humano em sua postura tica. Defende que no existe tica sem antropocentrismo, pois somente o ser humano pode agir moralmente e tomar decises. A outra, a postura biocntrica, que parte do ponto de vista da ecologia como conhecimento e prtica de preservao do meio ambiente. Essa tendncia compreende a tica a partir do paradigma da ecologia. Esse paradigma pretende revolucionar a tica, porque supera a concentrao antropocntrica de toda tica ocidental. Apresenta-se como a nica postura coerente de defesa da natureza e preservao do meio ambiente.
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De acordo com os grandes acontecimentos urbansticos e paisagsticos, ser analisada a evoluo da sustentabilidade ambiental urbana e suas interfases com a tica.
CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL A sustentabilidade vista como um princpio em evoluo, um conceito infinito, que poucos sabem o que e que requer muita pesquisa adicional, manifestaes de um positivismo frustrado: o desenvolvimento sustentvel seria um dado objetivo que, no entanto, no se conseguiu ainda apreender. Mas, como definir algo que no existe? E que, ao existir, ser, sem dvida, uma construo social? E que, como tal, poder tambm compreender diferentes contedos e prticas a reivindicar seu nome. Isto nos esclarece por que distintas representaes e valores vm sendo associados noo de sustentabilidade: so discursos em disputa pela expresso mais legtima. Pois a sustentabilidade uma noo a que se pode recorrer para tornar objetivas diferentes representaes e idias.
CONCEITO DE TICA Etimologicamente a palavra tica deriva do grego thos que significa costume designando a doutrina do agir correto, ou seja, do agir bem e o vocbulo moral deriva do latim, mos, mores que significa costumes, hbito. A tica e a moral, originalmente tm o mesmo significado, entretanto, h uma distino entre ambas. Moral designa o que se faz, portanto as convenes, o habitual, a moral de todos os dias, a moral da mediania, enquanto tica indica a reflexo, se o que habitual realmente bom e certo (ENDERLE, 1997). Vzquez define a tica como a teoria ou cincia do comportamento moral do ser humano em sociedade, ou seja, cincia de uma forma especfica de comportamento humano (2002). Em suma, a tica a cincia da moral. Ele esclarece ainda que a moral no considerada cincia, mas objeto de estudo da cincia; sendo, neste sentido, por ela estudada e investigada. Lima (1999), alm de esclarecer que A tica a exteriorizao dos juzos morais (cincia da conduta), descreve que a tica a filosofia que estuda a conduta do ser humano e os critrios pelos quais valoram os comportamentos e a escolha.
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Parte da filosofia responsvel pela investigao dos princpios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essncia das normas, valores, prescries e exortaes presentes em qualquer realidade social. (HOUAISS 2001) A tica varia de acordo com o estgio de desenvolvimento do ser humano e de suas relaes em sociedade. Lima (1999) esclarece que ser tico significa ter conscincia dos procedimentos permitidos e proibidos dentro da sociedade, dando o exemplo de conduta positiva, zelando para que todos observem os princpios legais, desenvolvendo-se e educando-se continuamente.
EVOLUO DA DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL No final do sculo XVIII com a Revoluo Industrial na Inglaterra, a insalubridade observada na maior parte das cidades industriais europias, demandou aes corretivas voltadas ao resgate da qualidade ambiental. O apelo qualificao esttica de reas da cidade, tambm ganhou importncia tanto quanto a busca da higienizao. Neste perodo, na Inglaterra o parque surge como fato urbano de relevncia, atingindo seu pleno desenvolvimento apenas cem anos depois. O Parque Urbano passou a responder pela demanda de equipamentos para as atividades de recreao e lazer decorrentes da intensificao da expanso urbana da cidade industrial. Dois processos distintos marcaram a criao dos primeiros parques urbanos na Inglaterra: a absoro dos grandes espaos livres representados pelos jardins dos palcios da Corte, que foram abertos ao pblico e incorporados estrutura urbana e os empreendimentos imobilirios promovidos pela iniciativa privada. O movimento dos Parques Americanos liderado por Frederick Law Olmsted se coloca contra os males das cidades industrializadas e surgem os grandes jardins contemplativos, os parques de paisagem, os parkways (parques lineares) e os parques de vizinhana americana, como o Central Park em Nova Iorque, 1863. Com base nestas preocupaes, Olmsted realiza em Boston a primeira experincia de organizao de um sistema de parques que considera o conjunto da cidade. Na concepo desse sistema de parques, conhecido como Emerald Necklace, pelo fato de se tratar de um
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conjunto de espaos interligados, Olmsted teve como preocupao, alm da questo do lazer, a questo do saneamento do ambiente urbano e da sua recuperao. A implantao de parques urbanos nas cidades tem seu carter de punho ambiental, mas o principal argumento o bem estar da populao; ou seja, os interesses sociais e ambientais do ser humano; ele que ir usufluir do espao construdo. De acordo com Taylor, nossos deveres com o mundo natural derivam, no fundo, de nossos deveres para com os seres humanos. porque temos de respeitar os direitos humanos de cada um, ou porque temos de proteger e fomentar o bem-estar de humanos que devemos estabelecer certos limites em nosso modo de tratar o ambiente natural terrestre e seus habitantes no-humanos. Em outras palavras, a tica ambiental antropocntrica dominante desde o sculo XVI, surge em contraste com a tica teocntrica e teolgica da Idade Mdia, desconsidera o Deus supremo como centro do universo e leva o homem condio de espcie superior pela razo, priorizando os interesses econmicos, cientficos e estticos acima de tudo. Por essa razo, sua lgica instrumental, e seu argumento dos deveres para com o ecossistema indireto. O filsofo alemo do sculo XIX, Emmanurl kant, defende que as perspectivas antropocntricas estabelecem os deveres morais positivos e negativos tendo em vista o bem dos seres humanos, colocado no centro e acima do bem de qualquer outro ser vivo. Por isso a designao tica antropocntrica. Essa tica, ao engrandecer a natureza humana, afirmando que os interesses e propsitos humanos esto acima de quaisquer interesses ou fins de quaisquer indivduos de outras espcies nesse planeta, coloca em segundo plano, para no dizer, em ltimo lugar, os interesses de todas as demais espcies de vida. Estamos vivendo nesse momento a ameaa de destruio da vida, que tal tica ensejou. A tese do antropocentrismo excludente, tpica da filosofia moderna inaugurada por Descartes, vigorou at metade do sculo XX, quando comearam a tomar fora as ticas ecolgicas ou ambientais. A tica ambiental antropocntrica fomentou a maioria das aes ambientalistas levadas a efeito ao redor do planeta nos ltimos 40 anos. Seu fracasso pode ser constatado pela devastao ambiental em curso acelerado. Para evitar cometer erros antigos, preciso finalizar a crtica ao carter antropocntrico da proposta tica tradicional, contrapondo seu fundamento ao princpio que estrutura a tica ambiental biocntrica. Ao forjar o modelo tico biocntrico, agentes morais humanos so colocados num plano horizontal relativamente a todas as espcies de vida, nem acima, nem abaixo, ainda que no centro. 67
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As preocupaes da humanidade com a qualidade ambiental no processo de desenvolvimento se fortaleceram no perodo que sucedeu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A destruio das cidades influenciou um novo modo de pensar o desenho urbano; como a reduo da destruio de solos, o aumento das reas permeveis, a reduo do custo de infra-estrutura urbanstica, a reduo da poluio e a descentralizao. Surge neste perodo ps-guerra, a tica da Terra (1949), por Aldo Leopold, onde serviu de inspirao para os princpios ecocntricos da tica Ambiental Contempornea: A tica da Terra uma abordagem tica holstica, derivada de mais de um paradigma biolgico que de uma tradio filosfica. Leopold definiu uma tica a partir desse ponto de partida biolgico como uma limitao da liberdade de ao na luta pela vida. Assim, a tica ecolgica, amplia os limites da comunidade para incluir solos, guas, plantas e animais, ou a prpria Terra. Para Leopold Uma coisa correta quando tende a preservar a integridade, a estabilidade e a beleza da comunidade bitica. E errada quando tende a ter outro resultado. Na dcada de 60, a deteriorao ambiental e sua relao com o estilo de crescimento econmico j eram objeto de estudo e preocupao internacional. Nesse sentido, podemos citar como exemplos: o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, lanado em 1962, que trata do uso e dos efeitos dos produtos qumicos sobre os recursos ambientais, o livro Design With Nature, de Ian Mcharg, em 1969, sobre o planejamento urbano com bases ecolgicas e Albert Shweitzer, que ganhou o Prmio Nobel da Paz ao popularizar a tica ambiental. A tica Ambiental surge em meio a esta viso ecocntrica de Leopold, como uma nova relao de conscincia entre o ser humano e o ambiente natural: o ser humano faz parte do ambiente natural e no o seu dono, no a tem para servi-lo, mas para que ele sobreviva em harmonia com os demais seres. Nesta nova concepo, o ser humano passa a se preocupar com suas aes e, como conseqncia, passa a praticar aes coerentes com o ambiente natural. Deve agir contra os desastres cotidianos nas cidades, como o desmatamento, a ocupao de encostas e fundos de vale, o esgoto e lixes a cu aberto, a poluio das guas de nascentes, a poluio das praias, a venda de animais silvestres em feiras livres e o comrcio de plantas nativas em extino, entre outros.
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A partir da dcada de 70, formam-se grupos de discusso cujo enfoque principal era a preocupao ambiental e sua importante influncia para o desenvolvimento mundial. O Clube de Roma, um dos primeiros grupos a se concretizar, nasceu em 1968, congregando cientistas, economistas e altos funcionrios governamentais, com a finalidade de analisar os problemas ambientais, sob uma perspectiva ecolgica de Sistema Global. O arcabouo terico do pensamento do Clube de Roma reside na idia de que o planeta um sistema finito de recursos, submetido s presses do crescimento exponencial da populao e da produo econmica. As suas concluses apontavam o horizonte do colapso do sistema e as suas propostas se organizavam em torno da noo de um gerenciamento global da demografia e da economia, a fim de alcanar um estado de equilbrio dinmico. Severas medidas de controle da natalidade e mudanas radicais nos modelos produtivos eram as recomendaes centrais da nova escola de pensamento ecolgico. A publicao em 1972 do relatrio Os limites do Crescimento (Meadows et al., 1972) pelo Clube de Roma denunciava o crescente consumo mundial que ocasionaria um colapso do ecossistema global. Realizado pela equipe do Professor Meadows, do MIT Massachusetts Institute of Technology, o relatrio atentava para a preocupao com as principais tendncias do ecossistema mundial: industrializao acelerada, forte crescimento populacional, insuficincia crescente da produo de alimentos, esgotamento dos recursos naturais no renovveis e degradao irreversvel do ambiente natural. As questes relativas qualidade ambiental se fortaleceram com a Reunio de Estocolmo de 1972 na Sucia, onde foram discutidos os potenciais efeitos nocivos das mudanas climticas e os estilos de desenvolvimento scio-econmico dos pases em relao ao ambiente natural. Tratou-se das questes ambientais e da qualidade de vida e buscaram alternativas para o uso dos recursos naturais com o objetivo de satisfazer as necessidades globais de subsistncia da populao, como moradia, educao, sade e alimentao. Ao final, foi criado o Programa das naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Surge em meio s discusses ambientais da dcada de 70, uma nova viso de tica ambiental por Paul Taylor; a tica da Vida ou biocentrismo. Ela surge como uma das tendncias mais recentes no movimento ecolgico. O biocentrismo prope que os di69
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reitos naturais deveriam ser estendidos a todos os elementos da natureza, e que uma postura tica radical deveria ser tomada antes que todos os seres humanos, e mesmo seres inanimados, modifiquem completamente a relao entre a humanidade e a natureza. Roderick Nash analisa o biocentrismo em seu livro Os direitos da natureza, e o interpreta como uma conseqncia do liberalismo. Taylor, com sua tica biocntrica, sugere que seja levado em considerao o valor inerente vida de cada indivduo, no significando isso que em hiptese alguma uma vida no possa ser eliminada. Mas a razo pela qual uma vida pode ser exterminada deve ser uma razo tica, descartando-se a hiptese de que interesses comerciais, estticos, cientficos ou de qualquer natureza antropocntrica possam servir como pretexto para que tiremos a vida dos outros. Isso vale para humanos, animais no humanos e ecossistemas naturais. Por isso a designao biocntrica para tal proposta tica. Por outro lado, a natureza no d lies de tica, pois nela no h deveres, apenas leis. Seus eventos, portanto, no podem nos guiar moralmente. Esse o ponto da tica biocntrica que a distingue da tica ecocntrica oriunda da ecologia profunda de Leopold (The Sand County Almanac, 1949), Baird Callicott, Albert Schweizer. A tica biocntrica de Paul W. Taylor, apresentada em seu livro, Respect for Nature, e o conceito de ecodesenvolvimento so concebidos, ambos na dcada de 70, como um questionamento ao devastadora dos ecossistemas naturais. Aps a grande polmica gerada na primeira Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo (1972), entre aqueles que defendiam o desenvolvimento a qualquer preo, mesmo pondo em risco a prpria natureza e os partidrios das questes ambientais foi proposto o termo ecodesenvolvimento por Maurice Strong e, em seguida, ampliado pelo economista Ignacy Sachs, que, alm da preocupao com o meio ambiente, incorporou as devidas atenes s questes sociais, econmicas, culturais, de gesto participativa e tica. Para Sachs, ecodesenvolvimento um desenvolvimento endgeno e, dependente de suas prprias foras, submetidas lgica das necessidades do conjunto da populao, consciente de sua dimenso ecolgica e busca estabelecer uma relao de harmonia entre o ser humano e o ambiente natural. Os princpios bsicos do ecodesenvolvimento foram formulados por Ignacy Sachs dentro de uma nova proposta de desenvolvimento sustentvel, tendo como pressu70
posto a existncia de cinco dimenses, que prope aes que explicitam a necessidade de tornar compatveis a melhoria nos nveis de qualidade de vida e a preservao ambiental. So elas as cinco dimenses: a. Econmica: aumentar a lucratividade e crescimento por meio do uso mais eficiente de recursos, incluindo mo-de-obra, materiais, gua e energia; b. Ambiental: evitar efeitos perigosos e potencialmente irreversveis no ambiente por meio de uso cuidadoso de recursos naturais, minimizao de resduos, e proteo e, quando possvel, melhoria do ambiente; c. Social: responder s necessidades de pessoas e grupos sociais envolvidos em qualquer estgio do processo de construo (do planejamento a demolio), provendo alta satisfao do cliente e do usurio, e trabalhando estreitamente com clientes, fornecedores, funcionrios e comunidades locais; d. Geogrfica: necessidade de se buscar uma configurao rural-urbana mais equilibrada e de se estabelecer uma rede de reservas da biosfera para proteger a diversidade biolgica e, ao mesmo tempo, ajudar a populao local a viver melhor; e. Cultural: talvez, constitua o critrio mais difcil de ser concretizado, na medida em que implica que o processo de modernizao deva ter razes endgenas, buscando a mudana em sintonia com a continuidade cultural vigente em contextos especficos. Na proposta de ecodesenvolvimento, a educao ambiental contribui para a compreenso fundamental da relao e interao da humanidade com todo o ambiente natural e fomenta uma tica ambiental a respeito do equilbrio ecolgico e da qualidade de vida, despertando nos indivduos e nos grupos sociais organizados o desejo de participar da construo de sua cidadania.
METABOLISMO DAS CIDADES O conceito de metabolismo das cidades, segundo o desenvolvimento sustentvel, consiste no balano da entrada de recursos naturais e sada de resduos. O metabolismo urbano explica a dinmica de uma cidade e a relao com seus integrantes: moradores, indstrias, veculos, lixo e outros que constituem o ambiente construdo. 71
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Na viso de Tickell (2001) as cidades so como organismos que absorvem recursos e emitem resduos. E sob este prisma que se considera o metabolismo urbano das cidades, como forma de compreender o impacto de seus processos no ambiente natural. A cidade precisa de insumos para manter sua populao e seus processos produtivos: a energia em suas diversas formas, tais como eltrica, solar, elica, entre outras, os alimentos, a gua e a matria-prima. A produo ou extrao de cada um desses insumos impacta de forma mais ou menos intensa a rea onde ocorre. A poluio do ar, os efluentes lquidos, os resduos slidos e os produtos qumicos so resduos que precisam de uma rea capaz de assimil-los. Essas reas sofrem srios impactos ambientais. Essas reas impactadas so conceituadas como Pegada Ecolgica por Wackernagel e Rees (1996) que se basearam no conceito de capacidade de carga, a qual permite calcular a rea de terreno produtiva necessria para sustentar o estilo de vida do ser humano. Na cidade, a Pegada Ecolgica vista como a rea impactada no processo de produo de seus insumos necessria vida do ser humano somada ainda rea necessria para a disposio e a assimilao de seus resduos, mas seu conceito pode ser utilizado em diversas escalas, da individual planetria. Sobre esta questo, a explicao dada pela equipe da organizao Urban Ecology Austrlia a seguinte: A pegada ecolgica uma ferramenta muito simples para nos dizer quanta natureza temos, quanta usamos. Ns precisamos olhar para a pegada ecolgica para olhar para a sade dos servios ecossistmicos que suportam nossa economia. Ns podemos faz-lo no nvel global, no nvel nacional, no nvel municipal ou at no nvel individual (GIRARDET, 1997). O metabolismo urbano, com uma representao ecossistmica das cidades, composta por movimentos interativos de circulao, troca e transformao de recursos em trnsito defini-se, diante do discurso sobre a sustentabilidade das cidades, pelo recurso metfora biolgica da resilincia, que procura descrever a capacidade adaptativa dos ecossistemas urbanos para superarem a sua condio de vulnerabilidade ante a choques externos (Godard, 1996, p.33). Neste tipo de representao, a in72
sustentabilidade expressaria a incapacidade de reproduo adaptativa das estruturas urbanas diante de rupturas nas condies materiais requeridas para tal reproduo. A idia de metabolismo urbano aponta para um modelo de equilbrio a ser obtido pelo ajustamento apropriado dos fluxos e estoques de matria e energia.
METABOLISMO LINEAR Com estas consideraes pode-se analisar o metabolismo das cidades do sculo XX como um metabolismo linear, no qual so recebidos insumos e emitidos dejetos quase que indiscriminadamente. Pode-se ento representar esse metabolismo graficamente tal como o fez Girardet (Figura 1):
Figura 1: Modelo de metabolismo linear das cidades. Fonte: Adaptao elaborada pela autora a partir de GIRARDET, 1997.
METABOLISMO CIRCULAR Girardet (1997) prope um metabolismo circular em que a entrada de insumos feita linearmente no modelo anterior possa ser diminuda por meio de controle de entrada de energia e maximizao de reciclagem, conseqentemente reduzindo a produo de resduos (Figura 2).
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Figura 2: Modelo de metabolismo circular das cidades. Fonte: Adaptao elaborada pela autora a partir de GIRARDET, 1997. Analisando o metabolismo circular temos no processo de entrada os alimentos, a energia e as mercadorias. A partir do consumo destes recursos pela cidade teremos as conseqncias negativas no processo de sada dos resduos e a necessidade de propor diferentes solues para o consumo sustentvel dos recursos. Em termos urbansticos, o prprio desenho das cidades pode ser pensado para melhorar as condies de conforto e sade e as qualidades ambientais, como por exemplo, reduzindo gastos com climatizao e gerando caminhos de ventos adequados para manter um equilbrio climtico. A reciclagem de produtos e de embalagens pode tornar menor a quantidade de matria-prima necessria para a indstria, diminuir a minerao e a extrao de materiais da natureza, diminuir a quantidade de energia necessria e diminuir ainda a poluio gerada no momento da produo. A poluio do ar nas cidades produzida na maior parte pelos meios de transporte movidos a combustveis fsseis que precisam ser substitudos. Os veculos que venham adotar tecnologias renovveis e menos poluentes traro melhores condies e eficincia para os transportes e iro colaborar para alterar a entrada no modelo de metabolismo circular contribuindo para um desenvolvimento mais sustentvel. A poluio da gua, por vezes, decorrente do descaso com relao aos efluentes. Estes precisam ser recolhidos e tratados de maneira apropriada, antes de serem devolvidos aos corpos de gua. Outra forma de contaminao a transferncia da poluio do ar e do solo para a gua.
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Os solos urbanos tambm passam pelo problema da poluio ao se tornarem brownfields (campos marrons). Termo que surgiu em 1992, nos EUA, durante uma investigao de campo conduzida pela Northeast Midwest Congressional Coalition, grupo de representantes que estudam os problemas ambientais dos estados americanos. Snchez (2001) define brownfields como edifcios ou terrenos previamente usados para fins industriais ou para determinados fins comerciais, que esto desocupados e freqentemente contaminados por baixas concentraes de lixo txico ou poluio, e que possui o potencial para ser reutilizado desde que seja limpo. Terrenos que apresentam altas concentraes de lixo txico no podem ser enquadrados na classificao de brownfields. No se pode esquecer outra importante fonte de contaminao dos solos e dos lenis freticos, que so os dejetos, seja na forma dos esgotos que muitas vezes correm ao ar livre ou so acumulados em fossas construdas de forma inadequada ou em terrenos que no as comportam ou dos lixes que ocorrem em terrenos sem preparo. Os lixes so reas de disposio final de resduos slidos que no contam com preparao anterior do solo, e nem com sistema de tratamento do chorume, efluente lquido que escorre do lixo, penetra na terra e contamina solo e lenis freticos. Moscas, pssaros e ratos circulam a cu aberto, enquanto crianas, adolescentes e adultos catam comida e materiais reciclveis para vender. J o aterro sanitrio constitudo por um sistema de drenagem de efluentes lquidos percolados (chorume) acima de uma camada impermevel de polietileno de alta densidade - PEAD, sobre uma camada de solo compactado para evitar o vazamento de material lquido para o solo, evitando assim a contaminao de lenis freticos. O chorume deve ser tratado e/ou recirculado causando assim uma menor poluio ao meio ambiente. A idia do metabolismo circular prev que parte do resduo que deixa as cidades no metabolismo linear seja reaproveitada, servindo-lhe de insumo, ao mesmo tempo em que compe uma componente cclica do sistema. A reduo dos resduos e da poluio da cidade proporcional reduo de consumo de recursos naturais pelo ser humano. A produo de energia, alimentos e mercadorias pela cidade causam um impacto negativo no ambiente natural. Os dejetos produzidos em grande escala nas reas urbanas so despejados na natureza, na maioria das vezes sem cuidados, aumentando
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as reas necessrias para sua disposio final e, conseqentemente, aumentando as Pegadas Ecolgicas das cidades. Para obter um metabolismo circular no funcionamento das cidades so essenciais atitudes por parte do governo, dos empreendedores e do cidado na busca de tecnologias que reduzam os impactos das atividades do ser humano, como a produo de insumos de forma mais limpa e a disposio de resduos de forma correta: como a neutralizao do lixo txico e o tratamento e reaproveitamento dos resduos. O relatrio Brundtland de 1987 realizado pela Organizao das naes Unidas e presidido por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira ministra da Noruega, lder em desenvolvimento sustentvel e sade pblica, discute intensamente a proteo ambiental e o conceito de desenvolvimento sustentvel (Figura 3), o qual tem como base conceitual trs pilares: a atividade econmica, o meio ambiente e o bem estar da sociedade.
Figura 3: Conceito de desenvolvimento sustentvel. Fonte: Adaptao pela autora do CIB (1996). O desenvolvimento sustentvel busca hoje uma interao entre o desenvolvimento econmico, a qualidade ambiental e a satisfao das necessidades do ser humano. um processo de modificaes no qual est previsto que a explorao de recursos, a direo dos investimentos, a orientao do desenvolvimento tecnolgico e as mudanas institucionais devero ser feitas consistentemente para atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades (BRUNDTLAND, 1987). Para que isso se torne realidade 76
necessria uma srie de aes conjuntas e cooperadas entre o poder pblico e a iniciativa privada, alm de um consenso internacional. H tambm os movimentos sociais formados principalmente por ONGs, que defendem melhores condies de vida associadas preservao do ambiente natural e a uma conduo da economia adequada a tais exigncias. O desenvolvimento sustentvel pretende combater a misria humana sem repudiar a natureza ou desconsiderar as especificidades locais. Introduzir o objetivo global de um crescimento econmico e social duradouro, e que no dilapide o patrimnio natural. (AGENDA 21, 1996) A CNUMAD Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 no Brasil, contou com a participao dos principais lderes de mais de cem naes. As pesquisas cientficas realizadas at aquele ano no deixavam mais nenhuma margem de dvida quanto ao perigoso caminho traado pelo ser humano, em sua insacivel busca por padres de vida incompatveis com a capacidade de suporte do planeta. Esta conferncia foi baseada em trs princpios: anlise da totalidade do ciclo de vida dos materiais, desenvolvimento do uso de matrias-primas e energias renovveis e a reciclagem de resduos. A questo ambiental embasada nesses preceitos acima propiciou a celebrao de diversos acordos internacionais, com destaque para a Agenda 21, a qual foi assinada em 1992 por 178 pases. uma Agenda de Desenvolvimento Sustentvel onde predomina uma proposta que rompe com o planejamento com enfoque econmico e destaca o ambiente natural. Ela discute a essncia do que desenvolvimento sustentvel, o processo atravs do qual ele pode ser alcanado e as ferramentas de gerenciamento necessrias para alcan-lo. A Agenda 21 no restrita s questes ligadas preservao e conservao da natureza, mas sim, s questes estratgicas ligadas: gerao de emprego e de renda, diminuio das disparidades regionais e interpessoais de renda, s mudanas nos padres de produo e consumo, construo de cidades sustentveis e adoo de novos modelos e instrumentos de gesto (HADDAD, 2002). importante ressaltar que, apesar das crticas a que tem sido sujeito, o conceito de desenvolvimento sustentvel representa um importante avano, na medida em que a Agenda 21, como plano abrangente de ao para o desenvolvimento sustentvel no 77
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sculo XXI, considera a complexa relao entre o desenvolvimento e o meio ambiente numa variedade de reas, destacando a sua pluralidade, diversidade, multiplicidade e heterogeneidade.
CONSIDERAES FINAIS A natureza, como j foi dito, submeteu-se interveno tcnica dos homens, mesmo sendo ela independente dos desejos e das opinies humanas. O homem deveria deix-la cumprir seu objetivo, sob pena de transform-la em bem fictcio, carente de seu verdadeiro valor. Por essa razo, importante adotar modos de vida e caminhos de desenvolvimento que respeitem e funcionem dentro dos limites da natureza. A tica ambiental, porm, no prev a mudana de um paradigma. Ela simplesmente ensina que, para continuar vivendo com conforto e segurana ambiental, preciso adotar uma postura sustentvel, sem, no entanto, ser necessrio romper com o paradigma antropocntrico e adotar uma tica biocntrica. A mesma vem sendo aplicada, desde o momento em que se falou pela primeira vez em desenvolvimento sustentvel, j na dcada de 70, com o Relatrio das Naes Unidas sobre Meio Ambiente. O homem no deve ocupar o centro da poltica ambiental, ainda que comumente ele busque um lugar prioritrio. Haver casos em que para se conservar a vida humana ou para colocar em prtica a harmonia com a natureza ser preciso conservar a vida dos animais e das plantas em reas declaradas inacessveis ao prprio homem. A ameaa ao ambiente uma questo eminentemente tica, depende de uma alterao de conduta do ser humano; e para haver essa alterao, o agir com dever e em colaborao com os outros seres a primeira exigncia na tentativa de reaver o equilbrio do planeta.
RESULTADOS
A natureza tem seu modo de ser, suas leis e seus comportamentos. Assim, no podemos pensar uma tica para o homem e outra para a natureza. A interdependncia do homem e da natureza exige uma tica que no sobreponha o racional ao irracional (ou segundo Darwin o mais inteligente sobre o menos inteligente), mas uma igualdade naquilo que essencial para
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ambos a sobrevivncia. Devemos ter, ento, uma tica Ecolgica ou Integradora (Albert Schweitzer), ou seja, uma tica em que todos os seres vivos so importantes e inteiramente necessrios. Assim, o homem conduzido a dar a todo desejo de vida a mesma reverncia pela vida que d ao seu prprio desejo de viver.
Trata-se de reconhecer que, embora em escalas diferentes, ambos, homem e natureza, possuem valores complementares porque as interaes biolgicas esto interligadas entre si, de tal forma, que desequilbrios afetam ambas as partes. A destruio de florestas, por exemplo, no afeta s os vegetais e animais que ali interagem, mas o prprio homem e seu meio ambiente. Faz-se importante estudar, mesmo que de forma sucinta, a tica, para se tentar encontrar a melhor maneira de resolver os problemas sociais e ambientais. Sendo a tica uma espcie de instinto da comunidade em sua realizao, talvez a busca de novos caminhos e novas formas de agir tico traga boas solues para o caos atual.
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ARTIGO N5
ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE: DESIGN A SERVIO DA VIDA EM UM ESTUDO DE CASO NO SUL DE MINAS GERAIS Architecture of Complexity: Design Aimed at Serving Life in a Case Study in the South of Minas Gerais Evandro de Castro Sanguinetto
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ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE: DESIGN SERVIO DA VIDA EM UM ESTUDO DE CASO NO SUL DE MINAS GERAIS
Evandro de Castro Sanguinetto

Bilogo (Licenciatura), Especialista em Meio Ambiente e Recursos Hdricos, MSc em Cincias do Meio Ambiente e Recursos Hdricos, Vice-Presidente do Circuito Turstico Caminhos do Sul de Minas e Conselheiro do CBH-Sapuca E-mails: evandro@gaiaterranova.com.br e evandrosanguinetto@hotmail.com
Resumo A complexidade crescente da sociedade humana pede por novas formas de ser, estar, viver e conviver no e com o planeta, superando velhos modelos e padres de entendimento de mundo baseados no mecanicismo, reducionismo e fracionamento do saber e fazer. Essas novas formas apontam para os processos vivos, a biosfera, como fonte de inspirao e conhecimento para as produes humanas. Prope-se nesse artigo uma arquitetura bioflica, integrativa, respondente aos padres, ciclos, teias e redes estabelecidos pela evoluo dos seres vivos em sintonia com o planeta que nos abriga. Uma Arquitetura da Complexidade, que incorpore a inter, multi e transdisciplinaridade, as inteligncias mltiplas, os diferentes saberes e fazeres resultantes da interao entre culturas e ecossistemas locais, so mediados ou conduzidos pelo design ecolgico. Buscando respostas, refletimos, dentre outras questes, sobre a possibilidade de uma arquitetura que formulasse um espao habitvel como parte de um ecossistema, que se expandisse para alm de si mesma e reverberasse com o terreno que, em sintonia retroalimentasse o ambiente construdo. Como resultado, desenvolvemos e implantamos Gaia Terranova, experimento terico-prtico-vivencial localizado no Sul de Minas Gerais. Palavras-chave: arquitetura, complexidade, transdisciplinaridade, Gaia Terranova, design ecolgico, sustentabilidade.
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ARCHITECTURE OF COMPLEXITY: DESIGN AIMED AT SERVING LIFE IN A CASE STUDY IN THE SOUTH OF MINAS GERAIS
Abstract The growing complexity of human society asks for new ways of being and living in and with the planet, overcoming old models and standards for a deeper understanding of the world based on mechanicism, reductionism and fractionism of knowledge and action. This new lifestyle points to living processes - the biosphere, as a source of inspiration and knowledge for human productions. In this study we propose a biophilic and integrative architecture, respondent to standards, cycles, webs and nets established by the evolution of human beings in syntony with the planet sheltering us all. The Architecture of Complexity, which incorporates inter, multi and transdisciplinarity, multiple intelligences, different learning and doings, resulting from the interaction among human cultures and local ecosystems, are mediated or guided by the ecological design. With a view to answer an intriguing question, among others, we reflect upon the feasibility of an architecture which formulates a habitable area as part of an ecosystem, which expands beyond itself and reverberates with the land which, in response, provides feedback to the constructed environment. Aimed at an answer we have developed Gaia Terranova, a theoretical-practical-experiential experiment in the South of Minas Gerais. Keywords: Architecture, complexity, transdisciplinarity, Gaia Terranova. ecological design, sustainability.
BIOFILIA, COMPLEXIDADE, INTER, MULTI E TRANSDISCIPLINARIDADE Seria possvel uma arquitetura para alm de si mesma, para alm da forma, da beleza, da funcionalidade, das linhas retas, da circunscrio de espaos de utilidade humana apenas? Seria possvel uma arquitetura que formulasse um espao habitvel como parte de um ecossistema, que se expandisse para alm de si mesma e reverberasse com o terreno que, em sintonia retroalimentasse o ambiente construdo? Seria possvel uma casa concebida como uma clula, um ser vivo, parte de um tecido maior, como o terreno, a vizinhana e a microbacia hidrogrfica na qual se insere? Seria possvel uma arquitetura que explicitasse numa casa o nascer e por do sol, da 83
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lua, das estrelas e planetas, ensinando silenciosamente aos moradores seu lugar no espao-tempo? Seria possvel uma arquitetura que mostrasse o caminho da brisa soprando os distintos aromas da regio e a direo dos ventos ora trazendo chuvas da Amaznia, ora do Atlntico, ou ainda o frio seco da Antrtica? Seria possvel uma arquitetura que ampliasse e fortalecesse a diversidade de vida ao invs de reduzi-la, ensinando ou resgatando em seus moradores que eles esto intimamente imersos numa imensa e magnfica sinfonia, que no esto sozinhos, que esto conectados no s entre si, mas com a casa, o terreno, a bacia hidrogrfica, os animais e vegetais, os ecossistemas, os vales e montanhas, a biorregio, a biosfera e a cosmosfera? E, se for possvel uma arquitetura assim engendrada, como seria sua manifestao em uma casa de classe mdia, um prdio de escritrios, ou ainda uma vila, bairro, cidade? Como estabelecer uma arquitetura bioflica? Por biofilia entendemos o amor e cuidado com tudo o que vivo. Biofilia amor vida, e o novo ismo que se prope o do Biocentrismo, colocando a Vida no mais elevado patamar, significando superior ao Humano (fruto e no senhor da evoluo da vida) e suas criaes. O ser humano no mquina, como quer a viso reducionista, mas um ser vivo, um organismo em relao e simbiose com seu planeta. Um ser vivo, de microrganismo a humano, nunca se apresenta fragmentado, sempre um sistema complexo, composto por partes interconectadas e respondentes a ciclos, teias e redes, dotado da capacidade de replicao, ou autopoiese1 (MATURANA, 2001). Nossa sociedade apresenta caractersticas de crescente complexidade, no necessariamente mais viva, j que as partes que a compe no se caracterizam pela incorporao ou reproduo de ciclos, teias e redes, ou de relaes e comunicao entre as partes (que no entanto crescem vertiginosamente com as novas tecnologias de informao), mas ainda por processos dissociativos, excludentes, fragmentados e lineares, incapazes de dar respostas adequadas crescente complexidade da sociedade planetria. Esse tema, o da complexidade, tem despertado interesse em vrias reas do conhecimento. Nicolescu (1999), por exemplo, diz da complexidade que, sendo uma complexidade desordenada, seu conhecimento no faria sentido. Por outro lado, como apontam as teorias qunticas ou cosmolgicas mais recentes, estamos diante de uma complexidade ordenada, de padres at ento no percebidos e mensurados, portadores de ordem e simplicidade de uma nova natureza, sendo este, justamente, o objeto de estudo e compreenso de um novo conhecimento, dito complexo. 84
O termo complexidade, do latim complexus, significando o que tecido em conjunto, tem em Edgar Morin talvez seu maior terico, defensor e disseminador. A escola filosfica da complexidade, ao contrrio da viso cartesiana de fracionar e reduzir para compreender, v o mundo de forma indissociada, fruto de interaes, alimentaes, retroalimentaes, processos e ligaes que no podem ser compreendidos de maneira isolada. Para Morin (2002), o humano, como unidade complexa, ao mesmo tempo biolgico, social, afetivo e racional, assim como a sociedade ao mesmo tempo histrica, econmica, sociolgica, religiosa, etc. Unidades complexas so multidimensionais, formadas por texturas e interligaes, tecidas em conjunto, que no podem ser compreendidas isoladamente, o que nos leva ao conhecimento pertinente, que reconhece este carter multidimensional e busca integrar no apenas as partes entre si, mas tambm as partes e o todo. A noite escura se torna clara com o despontar da lua, assim como o dia claro escurece com a passagem das nuvens. O Yin e o Yang chineses que se mesclam formando o Tao. No h escolha a ser feita entre um e outro, apenas o entendimento de que ambos compem uma unidade maior. Uma Cincia feita de partes quebradas, desconectadas, isoladas, feita de padres rompidos, de redues e simplificaes perigosas leva cegueira paradigmtica, excluindo opostos complementares, complexos, como sujeito/objeto, alma/corpo, matria/esprito, qualidade/quantidade, sentimento/razo, liberdade/determinismo, existncia/essncia (MORIN, 2002). As Cincias Exatas, herdeiras de Newton, Descartes, Bacon e tantos outros, querendo compreender e explicar o mundo reduzindo a complexidade do cotidiano a meros componentes estticos, controlveis, mensurveis com rgua e compasso, conectados por processos meramente mecnicos, se de um lado contribuiram para grande avano em todas as reas do conhecimento, por outro nos tm levado aos limites desta forma de pensar-ser-estar no mundo. Posto que, a pessoa/sociedade formada, informada, conformada e deformada pelo pensamentoviso das partes, da extremada especializao, deixa de perceber o todo, o complexo, as interligaes e conexes, as contradies, delrios e superaes da exuberante exploso de vida que nos inunda a todos, todos os dias, h quase 4 bilhes de anos. A matemtica clssica e a geometria euclidiana, lidando com quantidades e frmulas, no tm como representar sistemas dinmicos, sistemas vivos, sistemas complexos que incorporam e descrevem qualidades e padres, como o redemoinho num corpo aquoso ou cone de vento, interligando-os ao movimento e estrutura de galxias espiraladas como a Via Lactea; ou ainda descrever uma nuvem, relmpago ou delta de um rio; ou ainda a folha de uma samambaia e sua relao com a floresta. Para a 85
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descrio de estruturas complexas presentes na natureza, uma nova matemtica e geometria se fizeram necessrias. Assim, em 1975 Mandelbrot cunhou a expresso fractal (do latim fractus, quebrado) para identificar uma nova geometria, no-euclidiana, capaz de representar fenmenos e estruturas complexas, a geometria fractal2. Uma propriedade fundamental do fractal que seus padres caractersticos so encontrados em diversos nveis, de modo que qualquer parte, em qualquer escala, guarda semelhana com o todo, ao que se chama autossimilaridade. Capra (2006) d vrios exemplos de autossimilaridade na natureza: rochas em montanhas se assemelham a montanhas; ramificaes de relmpagos ou nuvens que se repetem vrias vezes; linhas litorneas que reproduzem em diferentes escalas as praias, baias e promontrios; ramos de rvores e vasos sanguneos que guardam similaridade entre si, apontando para padres primrios, subjacentes s estruturas, seja nos nveis micro, meso ou macrocsmico, como mostra a Figura 1. a b
Figura 1: Exemplos de autossimilaridade na Natureza (a. Amonite (fssil), b. Broto de samambaia, c. Galxia M743) e sua representao por um fractal (d. Nautilus (representao fractal)). 86
O modelo cartesiano de fracionar os fenmenos na tentativa de compreend-los e explic-los, originou uma mirade de disciplinas, desdobrando-se em outras tantas com a especializao crescente, fracionando cada vez mais o entendimento dos objetos de estudo ao tempo que gera imensas quantidades de informao. A necessidade de manter-se algum contato entre as disciplinas originou, em meados do sculo XX, a pluri e interdisciplinaridade. A pluridisciplinaridade, ou multidisciplinaridade, sendo o estudo de um objeto de uma dada disciplina por vrias disciplinas ao mesmo tempo, mantm a estrutura da pesquisa disciplinar, embora agora enriquecida por diferentes vises, como um quadro, uma obra de arte, sendo estudada por disciplinas como tica, histria da arte, histria das religies, qumica, fsica, etc. J a interdisciplinaridade transfere mtodos de uma disciplina para outra, originando novos campos de aplicao e/ou estudos, distinguindo-se trs diferentes graus, explicados por exemplos: (a) aplicao transferncia dos mtodos da fsica nuclear para a medicina, originando novos tratamentos para o cncer; (b) epistemolgico mtodos da lgica formal aplicados ao direito produzindo anlises na epistemologia do direito; (c) criao de novas disciplinas matemtica aplicada a fenmenos meteorolgicos ou bolsa de valores originando a teoria do caos. Em cada um dos diferentes graus, a interdisciplinaridade permanece atrelada pesquisa disciplinar, podendo gerar novas e mais especializadas disciplinas. A transdisciplinaridade, por sua vez, est ao mesmo tempo entre as disciplinas, atravs das disciplinas e alm das disciplinas, tendo por objetivo a compreenso do mundo presente, buscando a unidade do conhecimento. Se a pesquisa disciplinar envolve, no raro, fragmentos de um nico nvel de Realidade4, a transdisciplinaridade se interessa pela ao simultnea de diversos nveis de Realidade (NICOLESCU, 1999). Segue que a viso transdisciplinar prope considerar a Realidade como multidimensional, estruturada em mltiplos nveis, substituindo a viso clssica de uma Realidade unidimensional, com um nico nvel de manifestao. Se a lgica clssica mantm separados e mutuamente excludentes os opostos aparentes, a lgica do Terceiro Includo5 os unifica em novo nvel de realidade, que por sua vez passa a fazer parte de nova dualidade que se unificar em novo nvel de realidade e assim por diante. A Figura 2 exemplifica essa evoluo. No Nvel de Realidade 1, os contraditrios A e No-A esto presentes e no podem se conciliar, o que ocorre no Nvel de Realidade 2, por meio do terceiro termo T, que inclui os contraditrios do nvel anterior em no contraditrios nesse nvel. Por outro lado, no Nvel 2, o termo T pode se transformar em um novo contraditrio (A) para esse nvel de Realidade, oposto ao No-A. Essa nova contradio, se no pode ser resolvida nesse nvel de Realidade, o no Nvel de Realidade 3, onde A e No-A so includos por T e assim por diante, seguindo por infinitos nveis de Realidade. 87
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Figura 2: Nveis de Realidade e par de contraditrios. A metodologia da pesquisa transdisciplinar se assenta sobre trs pilares: (a) os nveis de Realidade; (b) a lgica do terceiro includo; e (c) a complexidade, sendo a disciplinaridade, multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, as quatro flechas de um mesmo arco, o do conhecimento (NICOLESCU, 1999, p. 48). Morin (2003) acrescenta que essa nova abordagem do conhecimento exige uma reforma do pensamento que, por sua vez, exige uma reforma da Universidade: Falo de uma reforma que leve em conta nossa aptido para organizar o conhecimento ou seja, pensar (MORIN, 2003, p. 83). O pensamento complexo incorpora e extrapola o pensamento linear, cartesiano, prprio para a descrio de sistemas simplificados, mas no suficiente para lidar com questes mais complexas. Segue Morin (2003) considerando que, sobre o papel da Universidade, esta tem a funo de: (a) ritualizar uma herana cultural de valores, saberes e ideias que permitem conservar, memorizar, integrar os conhecimentos; (b) regenerar esta herana ao fazer sua releitura constante, atualizando-a e transmitindo-a; e (c) gerar novos saberes, ideias e valores que faro parte da herana comum futura. Dessa forma, a Universidade ao mesmo tempo conservadora, regeneradora e geradora de novos conhecimentos, devendo adaptarse s necessidades da sociedade contempornea ao mesmo tempo em que mantm viva sua misso transecular de conservar, transmitir e enriquecer o patrimnio cultural universal. Essa reforma do pensamento e do processo educativo encontra ecos em diferentes trabalhos, alm dos de Morin, com diferentes enfoques mostrando horizontes novos para a educao, cincia e tecnologia, como aqueles de Gardner (1995) e colegas da Universidade de Harvard que propem as Mltiplas Inteligncias e Goleman (1996),
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propondo a Inteligncia Emocional e, mais recentemente, a Inteligncia Ecolgica. Assim se desdobram essas inteligncias: Lgico-matemtica- capacidade de confrontar e avaliar objetos e abstraes, discernindo as suas relaes e princpios subjacentes. Matemticos, cientistas e filsofos comoHenri Poincar,Albert Einstein,Marie Curie, dentre outros, apresentam essas caractersticas. Lingustica- caracteriza-se por um domnio e gosto especial pelos idiomas, palavras e escrita. Predomina empoetas, escritores e linguistas, comoT. S. Eliot, Jorge Amado e Guimares Rosa. Musical- habilidade para compor e executar padresmusicais, executando pedaos de ouvido, em termos de ritmo e timbre, mas tambm escutando-os e discernindo-os. Pode estar associada a outras inteligncias, como a lingstica, espacial ou cinestsico-corporal. predominante em compositores, maestros, msicos, crticos de msica como por exemplo,Ludwig van Beethoven,Caetano Veloso e Phillip Glass. Espacial - capacidade de compreender o mundo visual com preciso, permitindo transformar, modificar percepes e recriar experincias visuais at mesmo sem estmulos fsicos. Predomina emarquitetos,artistas,escultores,cartgrafos, navegadores e jogadores dexadrez, como Michelangelo,Garry Kasparov e Milton Santos. Cinestsico-corporal- capacidade de controlar e orquestrar movimentos do corpo. predominante entre atores e aqueles que praticam adanaou esportes: Pel, Garrincha, Ana Botafogo. Intrapessoal- capacidade de se conhecer, estando mais desenvolvida em escritores,psicoterapeutas, conselheiros, msticos e espiritualistas como Karl Gustav Jung, So Francisco, Dalai Lama. Interpessoal- habilidade de entender as intenes, motivaes e desejos dos outros. Encontra-se mais desenvolvida em polticos, religiosos, comunicadores e professores, como Mahatma Gandhi, Chacrinha e Lula.
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Posteriormente6, essas sete inteligncias foram acrescidas de outras duas, embora a ltima ainda no estabelecida: Naturalista - sensibilidade para compreender e organizar os objetos, fenmenos e padres da natureza, como reconhecer e classificar plantas, animais, minerais, incluindo rochas e gramneas e toda a variedade de fauna, flora, meio-ambiente e seus componentes. caracterstica de paisagistas, arquitetos, mateiros, botnicos. So exemplos deste tipo de intelignciaCharles Darwin,Rachel Carson eAlexander von Humboldt. Espiritual/Existencial - investigada no terreno ainda do possvel e carecendo de maiores evidncias. Abrange a capacidade de refletir e ponderar sobre questes fundamentais da existncia e da transcendncia. Seria caracterstica de lderes espirituais e de pensadores filosficos como Jean-Paul Sartre, Margaret Mead, Dalai Lama eCharles Darwin. Desse amlgama de inteligncias, saberes, formas, contedos, singularidades, pluralidades, conceitos, conhecimentos, teorias e prticas, emergem tambm novas formas de ver, olhar, ser, estar, viver e conviver no mundo. E com eles, novas abordagens para a Cincia e Tecnologia, como as propostas pela Engenharia Ecolgica, a Permacultura e o Design Ecolgico (SANGUINETTO, 2010), que do contedo ao design e estudos em Gaia Terranova, e ainda o Desenho Ambiental, proposto e fomentado por Franco (2008). De todos os campos do saber e fazer chegam informaes de mudanas de padres, conceitos e atitudes. Aos poucos fica evidente a correo de Einstein quando afirmava que um problema no poderia ser resolvido com o mesmo estado mental que o criou. Os problemas criados ao adotarmos uma viso de mundo mecanicista, necessitam de novo estado mental que permita solucion-los. Um terceiro termo T que apazigue os opostos aparentemente irreconciliveis e que no ser encontrado no mesmo nvel de pensamento-ao que criou os problemas que se busca solucionar. Novas formas de ver, pensar, sentir, perceber, ser, estar e agir no mundo comeam a emergir, trazendo consigo o novo e tambm o receio do erro, prprio de sistemas desconhecidos, no consolidados, insipientes.
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UM ESTUDO DE CASO: GAIA TERRANOVA Gaia Terranova nome fantasia para designar um conjunto de duas residncias e seus terrenos, somando 2.400m2, localizados na zona rural do municpio de Piranguinho, MG, biorregio7 da Serra da Mantiqueira. O espao vem sendo utilizado pelo autor e sua famlia como moradia e Campo de Estudos, Pesquisas, Desenvolvimento e Prticas Sustentveis. A Figura 3 mostra a localizao de Gaia Terranova, em relao a cidades do Sul Mineiro.
Figura 3: Localizao de Gaia Terranova em relao a cidades do Sul de Minas Gerais (SANGUINETTO, 2010). Gaia Terranova um experimento terico-prtico-vivencial, tentando integrar de maneira orgnica arquitetura, design, engenharia, ecologia, agroecologia, biologia, filosofia e espiritualidade, conferindo um perfil inter, multi e transdisciplinar na concepo e construo de uma casa ecolgica integrada a um habitat sustentvel, mediados por tecnologias vivas de tratamento de resduos domsticos e explicitados pela educao para a sustentabilidade. Esses campos de estudos e pesquisas foram conectados pelo design ecolgico, que forneceu as bases para o planejamento, interligao e fechamento de ciclos e dos fluxos de matria e energia, potencializando o estabelecimento de redes e teias de vida cada vez mais complexas. Ao conjunto visualizamos um eventual embrio de Arquitetura da Complexidade.
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FRACTAL CONHECIMENTO-AO Esse experimento prope reproduzir a complexidade dos sistemas vivos, tendo como elemento de ligao e reverberao entre casa e terreno, o que chamamos Tecnologias Vivas para o tratamento de efluentes e resduos orgnicos domsticos, resgatando gua e nutrientes na recuperao de solos degradados e produo de alimentos de base orgnica, potencializando a ampliao da biodiversidade local e incorporando a possibilidade de coevoluo entre cultura e natureza. O mtodo do experimento partiu de um padro simples de construo de conhecimento-ao (Figura 4), que atua como um fractal que se vai amplificando e complexificando em diferentes nveis ou camadas, formando uma estrutura de conhecimento no-linear.
Figura 4. Fractal de conhecimento-ao. Sempre permeado pela Reflexo, que relaciona constantemente os quatro componentes do fractal conhecimento-ao, interligados em rede e retroalimentados entre si, estabelece-se um moto contnuo que engloba: 1. Motivao (problema) - Como tratar biologicamente e reaproveitar gua e nutrientes de esgotos residenciais?; ou: Como reproduzir os ciclos, teias e redes do ambiente natural no cotidiano de uma famlia de classe mdia, aproximando o conjunto casaterreno dos ecossistemas locais?; 2. Observao da Natureza - Observao do ambiente natural e dos processos vitais envolvidos na ciclagem de nutrientes, autodepurao dos corpos dgua e evoluo de ecossistemas alterados aprendizado direto, vivencial, mediado por processos intuitivos, sensitivos, artsticos, emocionais e espirituais inteligncias mltiplas; 92
3. Estudo e pesquisa - Reviso de literatura, conhecimento acadmico e tcnicocientfico - aprendizado mediado pela razo; 4. Ao (soluo) - Estgios sucessivos de ao-reflexo, buscando integrar os questionamentos, gerando novos desafios, questionamentos, observao, estudo e pesquisa e prticas renovadas, aproximando as solues no cotidiano daquelas desenvolvidas e baseadas em padres vivos, sustentveis. O fractal conhecimento-ao permeou e permeia toda experimentao em Gaia Terranova. Para entendermos sua operacionalizao, a Tabela 1 apresenta sua utilizao e desdobramentos, partindo do Design Ecolgico at a implantao e validao das Tecnologias Vivas de tratamento de efluentes, apresentando reflexes sobre questes que nortearam todo processo e o resultado destas reflexes. A cada passo as relaes vo-se complexificando, sendo muitas das vezes quase impossvel caminhar linearmente e os limites entre teoria e prtica, reflexo e ao, observao e estudo tornam-se tnues ao ponto de se dissolverem, conferindo um carcter transdisciplinar ao trabalho. Raciocnio idntico permeou o processo de concepo, design, planejamento e construo da casa ecolgica e implantao do habitat sustentvel. Tabela 1: Fractal conhecimento-ao complexificado nas Tecnologias Vivas de tratamento de guas cinzas e pretas.
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RESULTADOS O que estamos caracterizando talvez como um embrio de Arquitetura da Complexidade em Gaia Terranova, tem incio com o Design Ecolgico, aqui utilizado como ferramenta de desenho, planejamento e projeto, permitindo entendimento, estabelecimento e tecitura de fluxos, ciclos, redes e processos que se auto-fortalecem, gerando diversidade e abundncia e integrando o humano e o natural de maneira mais equilibrada, harmnica e sustentvel. Seguindo princpio do Design Ecolgico que prope que as solues emergem do local em que se se planeja um dado empreendimento, espera-se que diferentes locais apresentem diferentes condies e especificidades. O estudo dessas condies e especificidades incorporaram no experimento conhecimentos como: a direo predominte dos ventos e brisas; a direo predominante das chuvas e tempestades; a insolao no vero e inverno; a posio do terreno em relao ao norte geogrfico e bacia hidrogrfica; os cursos dgua e caminhos de drenagem; a posio da casa em relao ao terreno; a vegetao do terreno e bacia hidrogrfica; os ecossistemas locais; estradas e acessos; fontes energticas e de gua; o uso e ocupao do solo na bacia; plantaes locais; a disponibilidade e diversidade de materiais construtivos locais; qualificao de mo de obra; impactos ambientais do empreendimento; fontes de gua e energia; infra-estrutura de transportes, comunicaes, acessos; costumes e tecnicas construtivas locais (Figuras 5, 6 e 7).
Figura 5: Estudo de influncias abiticas no planejamento das residncias. 98
Figura 6: Estudo de relaes entre casa e bacia hidrogrfica. Figura 7: Estudo de elementos naturais e construdos na bacia hidrogrfica. Com base nessas informaes foi proposto um design de integrao entre residncia, terreno e bacia hidrogrfica, orientando de um lado os fluxos de matria e energia e estabelecendo ou reforando ciclos e redes de gua e nutrientes que potencializam a ampliao da biodiversidade local (Figura 8); e, de outro lado, favorecendo que os residentes usufruam de uma qualidade de vida ampliada e em sintonia com a vida ao redor, impactando de maneira positiva tanto os ecossistemas locais como a bacia hidrogrfica em que se inserem.
Figura 8: Estabelecimento de fluxos, ciclos e redes entre casa, terreno e tecnologias vivas (SANGUINETTO, 2010). As Casas Ecolgicas (Figura 9) foram construdas (uma ainda em construo) incorporando elementos, conhecimentos e processos de gesto zero de resduos; tratamento 99
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biolgico de efluentes com reso das guas; captao, reservao e utilizao de gua de chuva; eficincia energtica; bioconstruo; iluminao passiva; recuperao e reutilizao de materiais diversos (madeiramento, vitrs, portas, janelas, cermicas, etc); agroecologia no manejo do solo e implantao de pequeno sistema agroflorestal; produo orgnica de alimentos; reaproveitamento de resduos orgnicos por meio da compostagem e minhocultura; recuperao de solos degradados; avaliao de impactos ambientais no uso e ocupao do solo; planejamento estratgico utilizando sistemas de informao geogrfica; resgate de tcnicas construtivas tradicionais e estudo de viabilidade tcnica, econmica e ambiental. O design ecolgico forneceu elementos para o projeto da residncia, como: quadrante de chuvas, direo predominante das brisas, posio no terreno, insolao e caminhos aparentes do Sol ao longo das estaes. O terreno (Figura 10) foi organizado segundo o design ecolgico e foi trabalhado segundo conceitos da permacultura e agroecologia, formando Habitats Sustentveis, caracterizados por curvas de nivel, bacias de conteno, ilhas de vegetao (perodo inicial) e vrios microecossistemas construdos, que vem ampliando e fortalecendo a biodiversidade local e auxiliando na recuperao de solos degradados, recarga de lenol fretico, produo de alimentos, fortalecimento da agricultura familiar e mudanas de padres e comportamentos locais em relao ao uso, ocupao e gesto do solo.
Figura 9: Casa Ecolgica
Figura 10: Habitat Sustentvel.
Na interface entre as Casas Ecolgicas e Habitats Sustentveis, as Tecnologias Vivas de tratamento biolgico de efluentes permitindo o reso das guas, tendo por base o design ecolgico, a permacultura e a engenharia ecolgica, promovem a relao e interao entre terrenos e casas, fechando ciclos de reaproveitamento de resduos 100
orgnicos oriundos da cozinha (folhas, talos, cascas, etc) por meio da compostagem e tratamento e reso de guas residurias na produo de alimentos de base orgnica. As guas residurias (esgotos) tratados so portadores de gua e nutrientes, utilizados por plantas e microrganismos em seu processo de crescimento, via fotossntese, mecanismo desenvolvido pela evoluo para transformar energia solar em energia qumica. O manejo peridico dessa biomassa, por meio de podas e compostagem, disponibiliza nutrientes e energia para o sistema, seguindo para as hortas e pomar, ampliando a produo de alimentos de base orgnica (sem utilizao de venenos ou adubos qumicos). Os alimentos assim produzidos so consumidos pelos moradores e o ciclo se fecha, com a produo de novos resduos e efluentes (Figura 11). Ao mesmo tempo, a energia cintica das guas de chuva absorvida no sistema: (a) pela vegetao; (b) pela cobertura morta mantida como proteo para o solo; (c) por curvas de nvel e bacias de conteno, instaladas em todo terreno de modo e impedir a eroso e carreamento de nutrientes ao mesmo tempo em que facilitam a infiltrao, contribuindo para a recarga de lenois freticos e minimizao de eventuais enchentes e assoreamento de corpos dgua; (d) por lagoas multifuncionais, parte da Tecnologia Viva de tratamento de guas cinzas (oriundas de pias, tanques, mquinas de lavar, chuveiros), funcionando como lagoas de polimento dos efluentes tratados e reservao de gua. guas pretas (oriundas dos vasos sanitrios), por sua vez, formam outra tecnologia viva, composta por duas cmaras anaerbias seguidas de um banhado construdo, vala de infiltrao e linha de bananeiras, que absorvem gua e nutrientes aps tratamento resultando em frutos que so consumidos pelos moradores. A biomassa das plantas do banhado construdo, bem como das bananeiras ps-produo, so compostadas ou semi-incorporadas ao solo, liberando nutrientes medida que sofrem a ao de decompositores (microrganismos, larvas, insetos, pequenos animais), sendo reaproveitados por frutferas (citricos, pessego, mamo, maracuj, amora, pitanga, graviola, ing, etc), leguminosas (soja, feijes, guandu, leucena, etc), hortalias diversas (cenoura, alface, rcula, etc) e espcies nativas da mata atlntica e exticas, incorporadas ao sistema para formao de pequena agrofloresta (ips, aai, araucria, pau-brasil, jequitib, nim, cedro, urucum, etc), alm de flores diversas (capito, cosmos, orqudeas, etc), milho, cabaa e abbora, dentre outras. Buscou-se, dessa forma, construir moradias com maior eficincia, conforto, valor agregado e responsabilidade socioambiental, aproximando as casas e terrenos de espaos mais sustentveis, complexos, transdisciplinares e bioflicos.
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Figura 11. Fluxos de matria e energia nas Tecnologias Vivas (SANGUINETTO, 2010).
CONSIDERAES FINAIS Entendendo que a Vida a mestra primeira quando se busca pela sustentabilidade, uma vez que permanece e evolui no planeta h quase 4 bilhes de anos, nos processos vitais que se pode buscar os conhecimentos bsicos para evoluir a sociedade humana a um patamar sustentvel em relao ao planeta que habita. Dessa forma, partiu-se no de condies controladas de laboratrio, mas de tentativas de reproduzir sistemas naturais em microescala que permitam solucionar problemas relacionados a assentamentos humanos que se deseja sustentveis, num futuro prximo. Em certo sentido, inverte-se a lgica da Cincia Clssica, que fraciona a realidade para compreend-la, mecanizando processos, linearizando e reduzindo relaes complexas e especializando o entendimento de mundo, para agora reproduzir a diversidade de vida e as relaes e teias que tece em sua relao com o meio, para em seguida medir, analisar e refletir sobre os resultados que se obtm por meio desta abordagem. Explicando a evoluo por meio do acoplamento estrutural entre unidades autopoiticas e ambiente, propondo ainda que o Amor o elo que permite a evoluo das sociedades humanas, a teoria de Maturana e Varela (2001) embasou a concepo de casas e terrenos como uma unidade autnoma organizacionalmente fechada e 102
estruralmente aberta, na esperana de que um dia se comporte como uma unidade autopoitica em sinergia com o ambiente natural e construdo. Caso se alcance este estgio, o sistema dever se desdobrar ou se reproduzir em sistemas semelhantes tanto na microbacia como na biorregio, evoluindo ou contribuindo para ultimar em uma Comunidade Sustentvel. O fractal conhecimento-ao apresentado na concepo, implantao e validao das Tecnologias Vivas encontra ecos e faz parte de uma ao mais ampla e complexa, originando outros nveis de realidade que buscam apaziguar os contraditrios em Gaia Terranova (Figura 12): a. Nvel de Realidade 1 casa e terreno dissociados e a idia de que o desenvolvimento e permanncia do humano no planeta se d s custas do ambiente natural, que deve ser dominado e a impossibilidade de se viver de maneira harmnica com o meio esto presentes no modo como vivemos e moramos, criando o primeiro contraditrio. b. Nvel de Realidade 2 a superao do primeiro contraditrio se deu por meio do design de tecnologias vivas, bioflicas, amigveis em relao ao ambiente e biosfera, promotoras da vida, baseadas em modelos ecolgicos que promovem a ponte e interaes entre casa (casa ecolgica) e terreno (habitat sustentvel). Estas por sua vez podem ser vistas como um contraditrio s tecnologias duras, expressas pelas tecnologias tradicionais baseadas em modelos mecnicos; c. Nvel de Realidade 3 a Educao para a Sustentabilidade promove a compatibilizao entre diferentes vises de mundo, que por sua vez concebem diferentes tecnologias. A educao para a sustentabilidade, ao propor uma viso mais ampla de mundo e educao, mostra-se aparentemente em contradio com a educao tradicional, fruto do pensamento cartesiano e da viso mecnica de universo que fraciona a realidade e especializa o conhecimento e desenvolveu a Cincia baseada na Razo. d. Nvel de Realidade 4 as Comunidades Sustentveis marcam a transio de saberes, fazeres, conceitos e prticas insustentveis rumo sustentabilidade, fomentando uma convivncia harmoniosa dentro do tecido social e deste com a biosfera. Os processos de produo de bens, produtos e servios esto agora em sintonia com os processos vivos e a humanidade passa a se ver como um todo indissociado da biosfera, parte integrante do sistema que mantm a vida no planeta. 103
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Figura 12: Nveis de Realidade e par de contraditrios em Gaia Terranova. Com esse trabalho esperamos, modestamente, contribuir para a discusso, evoluo e integrao de diferentes disciplinas e prticas, inferindo que uma Arquitetura da Complexidade possa auxiliar nossa sociedade na rdua tarefa de superar o atual estgio de dissociao em relao biosfera e ao planeta que a abriga, construindo pontes que nos permitam inaugurar uma era de cultura de paz em sintonia, harmonia e coevoluo com a Vida Planetria.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreenso cientfica dos sistemas vivos. So Paulo: Cultrix, 2006. FRANCO, Maria de Assuno Ribeiro. Desenho ambiental: uma introduo arquitetura da paisagem com o paradigma ecolgico. 2 edio. So Paulo: Anablume e Fapesp, 2008. GARDNER, Howard. Inteligncias Mltiplas, a teoria na prtica. Porto Alegre: Artmed, 1995. GOLEMAN, Daniel. Inteligncia Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. MATURANA, Humberto R. e VARELA, Francisco J.. A rvore do conhecimento: as bases biolgicas da compreenso humana. So Paulo: Palas Athena, 2001. 104
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Autopoieseouautopoiesis(do gregoautoprprio,poiesiscriao) um termo cunhado nadcada de 1970pelos bilogosefilsofoschilenosFrancisco VarelaeHumberto Maturanapara designar a capacidade dosseres vivosde produzirem a si prprios. Segundo esta teoria, um ser vivo um sistema autopoitico, caracterizado como uma rede fechada de produes moleculares (processos), onde asmolculasproduzidas geram com suas interaes a mesma rede de molculas que as produziu. A conservao da autopoiese e daadaptaode um ser vivo ao seu meio so condies sistmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema autnomo est constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interaes com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanas determinadas em sua prpria estrutura, e no por um agente externo. In http://pt.wikipedia.org/wiki/Autopoiese Ver o stio http://mandelbrot.ovh.org/ onde se pode experimentar a criao on line de fractais. Fonte: http://imgsrc.hubblesite.org/hu/db/images/hs-2007-41-a-large_web.jpg
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Deve-se entender por nvel de Realidade um conjunto de sistemas invariantes sob a ao de um
nmero de leis gerais: por exemplo, as entidades qunticas submetidas s leis qunticas, as quais esto radicalmente separadas das leis do mundo macrofsico. Isto quer dizer que dois nveis de Realidade so diferentes se, passando de um ao outro, houver ruptura das leis e ruptura dos conceitos fundamentais (como por exemplo, a causalidade). Nicolescu (1999), p. 25.
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A lgica clssica est baseada em trs axiomas: (a) Identidade: A A; (b) No-contradio: A no
no-A; (c) Terceiro excludo: no existe um terceiro termo T (de terceiro includo) que ao mesmo tempo A e no-A. No entanto, com o advento da fsica quntica, essa lgica tem sido questionada. Nicolescu (1999) aborda a questo dizendo que a lgica quntica introduz diferentes percepes, valores e verdades ao axioma da no-contradio, superando a viso binria por outra onde a Realidade se reveste de diferentes nveis e um terceiro termo T, que seja ao mesmo tempo A e no-A torna-se possvel. No nvel da mecnica clssica, por exemplo, onda e partcula so mutuamente excludentes: ou uma ou outra, e a luz no pode ser devidamente explicada, uma vez que se comporta como onda e partcula ao mesmo tempo. No entanto, para a mecnica quntica essa contradio desaparece, pois a dualidade vista sob um nvel de realidade diferente, onde um terceiro elemento pacifica a dualidade, incorporando onda e partcula como quantum, quantidade elementar, indivisvel de energia eletromagntica.
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Ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Inteligncias_mltiplas Biorregio: Espao geogrfico que contm um ou vrios ecossistemas e se caracteriza por sua topo-
grafia, vegetao, cultura e histria humanas comuns (MOUSINHO apud TRIGUEIRO, p.339, 2003).
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ARTIGO N6
OIKOS: REINTEGRANDO NATUREZA E CIVILIZAO Oikos: Reintegrating Nature and Civilization Jos Otvio Lotufo
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OIKOS: REINTEGRANDO NATUREZA E CIVILIZAO
Jos Otvio Lotufo

Arquiteto e urbanista pela Faculdade de Belas Artes da So Paulo (1996), mestre na rea de Projeto Arquitetnico pela FAU-USP (2011). E-mail: zkltf@uol.com.br
Resumo Incorporar os princpios ecolgicos ao conjunto das atividades humanas requer mudanas no modelo econmico, ainda baseado em paradigmas ultrapassados, requer mudanas no modo de produo que hoje consome recursos e polui demasiadamente, e tambm requer uma transformao profunda na cultura de valores que persiste em um modelo consumista inconsequente. O processo de formao e transformao da cidade est fortemente condicionado por estes fatores. A precariedade da cidade e seu impacto no meio ambiente revelam o distanciamento histrico entre a lgica mercadolgica e mecanicista e as leis naturais que regem o funcionamento dos ecossistemas. urgente uma reintegrao harmnica entre as atividades humanas e os processos que regem o funcionamento dos ecossistemas. Esta reintegrao deve buscar expresso no desenho de nossas cidades e edifcios. Palavras chave: Planejamento ambiental, desenvolvimento sustentvel, ecologia urbana, ecossistemas, arquitetura, urbanismo.
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Abstract Incorporate ecological principles to all human activity requires changes in the economic model, still based on outdated paradigms, requires changes in the mode of production that now consumes resources and pollutes too much, and also requires a profound transformation in the culture of values that persist in a consumerist inconsequential model. The process of formation and transformation of the city is strongly influenced by these factors. The precariousness of the city and its impact on the environment reveal the historical distance between the market and mechanistic logic and natural laws that govern the functioning of ecosystems. We need a harmonious reintegration between human activities and processes that govern the functioning of ecosystems. This reintegration must seek expression in the design of our cities and buildings. Keywords: Environmental planning, sustainable development, urban ecology, ecosystems, architecture, urbanism.
INTRODUO O prefixo eco presente tanto em ecologia como em economia deriva da palavra grega oikos que quer dizer morada. A etimologia destas palavras sugere uma complementaridade entre o conhecimento (logia) e a organizao (nomia) do habitar. E o que viria a ser habitar? Podemos nos auxiliar da definio posta por Heidegger de que habitar significa o nosso modo de estar no mundo. Em seu ensaio Construir, Habitar, Pensar, j em 1951, nos alertava que a questo da habitao est muito alm de um problema quantitativo. No se trata to somente de construir grandes conjuntos para alojar pessoas, para ele habitar de-morar-se, ou seja, habitar o nosso modo de estar no mundo. Habitamos, portanto, a residncia, mas este habitar tambm se estende rua, ao bairro, cidade, ao planeta. Nosso modo de estar no mundo antes de tudo um modo de relacionamento com o outro, com o lugar, com a cultura. Num mbito maior poderamos tambm dizer que habitar o modo como nos relacionamos com uma grande teia de vetores que se afe109
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tam reciprocamente naquilo que chamamos de ecossistemas. Esta liberdade de ser, de estar no mundo, segundo Heidegger, deve ser assegurada pela compreenso e respeito a todas as coisas. O egosmo e a ignorncia so, portanto, o que deve ser superado para que o homem aprenda a habitar, ou seja, para que aprenda a estar no mundo em harmonia, assegurando assim seu futuro. Assegurar o futuro implica em adotar princpios baseados em novos paradigmas, o que nos conduz de sada a um desafio: deparamos-nos frente a um evidente conflito entre economia e ecologia. A ideia de proteo ambiental destri os princpios da economia clssica, pois esta se apoia no equvoco de que a natureza fonte inesgotvel de recursos (FRANCO). A importncia de documentos como a AGENDA 21 e relatrios como o do IPCC/ONU sobre novos cenrios climticos, consiste em apontar caminhos a serem seguidos em conjunto pelas diversas atividades humanas no sentido de viabilizar um futuro saudvel para as prximas geraes. fato conhecido o impacto das cidades e da construo civil sobre o meio ambiente. Pensar a cidade do futuro exige uma reflexo sobre qual caminho adotar no processo do desenho, quais os fatores que devem estimular a criatividade e qual o papel do arquiteto, do paisagista, do urbanista e do planejador em contribuir para um futuro melhor. A arquitetura e o urbanismo devem se adequar a um momento histrico que solicita a reintegrao das atividades humanas com os processos ecossistmicos. No modelo de produo industrial tradicional, o produto final supervalorizado em detrimento dos capitais natural e humano empregados no processo. O processo industrial tradicional se d de uma forma linear, atravs do qual os recursos entram numa extremidade enquanto que o produto e seus resduos emergem no extremo oposto. Os prprios produtos, por sua vez, (na ausncia da noo de reuso e reciclagem) tambm se transformaro em resduos no final de sua vida til. Este modo de produo linear, no qual se apoia tambm a produo dos espaos urbanos, a base de um sistema econmico obsoleto, um paradigma ultrapassado que urge ser substitudo por um modo cclico, que consuma menos recurso e produza menos resduo.
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REVENDO O CONCEITO DE RIQUEZA mentalidade do modelo capitalista em vigor, que molda os atuais processos de produo e consumo, no considera com a devida importncia o capital natural, tampouco o humano. Fala-se muito no meio-ambiente e na sociedade como coisas importantes, mas desde que esta preocupao esteja equilibrada com as exigncias de crescimento econmico. O equvoco reside no fato de que todo o conjunto da economia est apoiado sobre a disponibilidade e a funcionalidade de recursos naturais e humanos. Sua escassez e degradao comprometem o desenvolvimento econmico futuro. Devemos, portanto, considerar a natureza e a sociedade pelos seus reais valores, como nossos tesouros mais preciosos.
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Encontramo-nos num momento histrico onde a definio de riqueza passa por uma grande transformao. At ento acreditvamos que as sociedades prosperavam pelo capital criado pelo homem, agora sabemos que o capital natural, recurso cada vez mais escasso, fundamental. O sistema industrial transforma o capital natural naquilo que consiste a base material de nossa vida cotidiana. Ento se torna necessrio reconhecer a interdependncia entre a produo por um lado e o fornecimento de capital natural, por outro. O uso do capital humano carece tambm de uma considerao mais sria. Sem a proviso de uma vida digna, de bem estar social, cultura, sade e educao estaremos erodindo nossos recursos humanos e destruindo as bases de um desenvolvimento sustentvel. Paul Hawkwn, Amory Lovins e Hunter Lovins, autores do livro Capitalismo Natural chegaram seguinte concluso: O capitalismo, tal qual vem sendo praticado, uma aberrao lucrativa e insustentvel do desenvolvimento humano. O que se pode designar como capitalismo industrial no se ajusta cabalmente aos seus prprios princpios de contabilidade. Ele liquida seu capital e chama de renda. Descuida de atribuir qualquer valor ao mais importante capital que emprega: os recursos naturais e os sistemas vivos, assim como aos sistemas sociais e culturais que so a base do capital humano (HAWKEN e LOVINS). Para a economia clssica os recursos, sejam eles naturais ou humanos, estaro sempre disponveis enquanto houver dinheiro que os compre e o destino dos resduos no levado em considerao. Quando se esgotam os recursos naturais no h dinheiro que os faa ressurgir do nada. Se antes a economia era limitada pela capacidade
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de produo ela passa agora a ser limitada pela capacidade de gerenciamento de recursos. O consumo inconsciente vem erodindo nosso estoque de capital natural alm de poluir o planeta com materiais e substncias que o ecossistema no tem capacidade e tempo para assimilar. Hawken e os Lovins salientam que apesar da dificuldade em contabilizar o capital natural, tentativas em avaliar seu custo estimaram que os servios que fluem da natureza para a sociedade anualmente quase se igualam ao PIB mundial. uma boa medida para se avaliar o valor do capital natural na economia. Os sistemas sociais, por sua vez, so erodidos atravs de uma explorao injusta e insustentvel da fora de trabalho, desprovendo de qualidade de vida pores considerveis da populao. O capital humano corresponde, segundo o Banco Mundial (dados de 1995), ao triplo de todo o capital financeiro e manufaturado registrado nos balanos econmicos globais, desconsiderando ainda desta conta todo o trabalho humano no compensado e os recursos culturais. Como os capitais natural e humano no costumam ser contabilizados, os prejuzos socioambientais que se do em longo prazo no so considerados nas equaes dos planos, projetos e empreendimentos. Estes prejuzos so resultado de uma m gesto de recursos. Esta falcia se deve ao fato de no se distinguir claramente as diferenas entre preo e custo. O preo o dinheiro investido e o custo do capital natural e humano desconsiderado, no entra na conta, sendo ele empurrado para uma situao distante ou futura, no se deixando claro quem vai pagar as contas nem quando. O prejuzo maior ficar para a classe de menor poder aquisitivo que j se encontra em condies precrias de vida, excluda socialmente e no receber os benficos do crescimento econmico. A degradao ambiental e a social acabam por se alimentar reciprocamente em ciclos viciosos indissolveis. A economia no pode mais se apoiar sobre sistemas lineares de extrao, produo, consumo e descarte. Deve sim se apoiar sobre sistemas cclicos e renovveis de produo, com gerenciamento e distribuio democrtica de recursos, bem estar social generalizado, consumo consciente e gerenciamento de resduos.
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A INSUSTENTABILIDADE DO MODELO CONSUMISTA O nosso atual modelo de valor, muito baseado no consumo irresponsvel, tem como medida de riqueza a aquisio de bens. Estes bens so frequentemente simblicos, no sentido de que seu valor reside no significado que atribui ao seu possuidor. Na maior parte das vezes este significado o que distingue o indivduo pela classe de poder aquisitivo e refora a estratificao da sociedade pela renda. Vivemos numa sociedade onde o ser foi substitudo pelo ter. um modelo que realimenta a segregao scio-espacial que caracteriza patologias ecossistmicas nos espaos urbanos contemporneos, e um modelo nutrido diariamente pelos meios de comunicao em massa, principalmente a televiso, lamentavelmente o principal meio atual de entretenimento. Enquanto diariamente a populao passa horas em estado catatnico em frente s telas de TV, absorvendo passivamente as informaes que moldam sua autoimagem e seu comportamento consumista, a cidade, suas ruas, seu verde, suas praas e espaos pblicos e tudo o que poderiam oferecer com lazer, cultura e qualidade de vida, so abandonados. Um universo simblico, virtual e imagtico se impe, substituindo o mundo real que se deteriora longe dos olhos desatentos e hipnotizados. O modelo baseado no consumo de bens e produtos e que molda uma cultura de valor tipicamente norte-americana, se proliferou por todo o mundo ocidental principalmente a partir da dcada de 50, como parmetro de progresso e qualidade de vida, porm tem se comprovado como um modelo insustentvel. No h no mundo recursos suficientes para que este seja um modelo vivel de desenvolvimento para as classes sociais e pases emergentes. Ao negar assinar um importante documento como o protocolo de Kioto, os Estados Unidos deixaram clara a incompatibilidade de seu modelo econmico com as necessidades ambientais do planeta. A WWF (World Wildlife Fund) define o conceito de pegada ecolgica de um pas, de uma cidade ou de uma pessoa, como o tamanho das reas produtivas de terra e de mar, necessrias para gerar produtos, bens e servios que sustentam seus estilos de vida. Dados de 2006 fornecidos pela Global Footprint Network nos mostram estatsticas de um aumento de 2% na pegada ecolgica da humanidade como um todo em relao ao ano anterior e 22% em relao dcada anterior. Este aumento deve-se tanto ao crescimento populacional como ao do consumo per capta. Segundo os dados mais recentes (2006) o atual nvel mdio de consumo no mundo j supera a capacidade do globo, requerendo 1,4 planetas Terra para atender 113
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a demanda. Caso todos os habitantes da Terra adotassem hoje o consumo mdio de um cidado norte americano seriam necessrios cinco planetas como o nosso. Este modo de vida predatrio que j se encontra alm dos limites aceitveis para a garantia de um futuro vivel a expresso em larga escala do processo linear de produo e consumo que esgota os recursos naturais e polui extensivamente o planeta. Uma vez que a Terra no dispe destes recursos, no ser trilhando os caminhos tradicionais de desenvolvimento, e tampouco seguindo como modelo os padres de valor consumistas, que sua populao, em larga escala, alcanar um padro de vida elevado.
CAMINHOS PARA UMA MUDANA Hawken e os Lovins, em Capitalismo Natural, prope a substituio do modelo de valor baseado na aquisio e consumo de bens por outro modelo, baseado em servios e fluxos. Segundo eles isso poderia contribuir na transformao de uma economia predatria para uma ecolgica. Numa economia de servio e fluxo os fabricantes (ou produtores, construtores, empreendedores, etc.) deixam de conceberem-se como vendedores de produtos para tornarem-se prestadores de servio por intermdio de bens durveis e aperfeioveis. Vendem-se resultados e no equipamentos, desempenho e no mquinas. O que se prope uma economia baseada na oferta contnua de qualidade, utilidade e desempenho e no combate feroz ao desperdcio. O objetivo o aumento do bem estar social, uma melhoria na qualidade da vida humana e a preservao dos recursos naturais. Um modelo de valores baseado em servios e fluxos um conceito que pode estimular o aumento na produtividade dos recursos existentes, o que implica no desenvolvimento de tecnologias que transforme o processo de produo de linear para cclico. Ao serem incentivados a aumentar a produtividade dos recursos e a adotar tecnologias produtivas sustentveis, tanto os produtores quanto os consumidores protegem os ecossistemas e consequentemente, a si prprios e seus descendentes. Um instrumento importante que pode contribuir para tal mudana e que pode ter uma aplicao imediata, o implemento de polticas tributrias que adquam os impostos ao custo real e total da produo, incluindo no custo todo o impacto humano e ambiental. Isto requer viso de futuro, planejamento ao longo prazo. Ao considerar o justo 114
valor ao capital humano e natural, o uso de recursos escassos deve ser encarecido e a utilizao de produtos sustentveis, assim como a adoo de circuitos fechados de produo, deve ser estimulada. Os tributos sobre o trabalho devem tambm ser reduzidos como uma forma de estimular o capital humano, o que hoje um recurso abundante. Esta reformulao tributria importante uma vez que, em curto prazo, o custo das novas tecnologias, produtos e processos sustentveis de produo o maior obstculo para suas adoes em larga escala. Em longo prazo, porm, o retorno ser abundante em capital humano e natural.
O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE DOS RECURSOS Cada vez menos os limites para o nosso progresso contnuo so determinados pelos meios de produo, e cada vez mais pela oferta de recursos naturais. Uma das mais importantes chaves para o emprego eficaz dos recursos financeiros, humanos e naturais o aumento radical da produtividade dos recursos, isto , produzir muito mais com a mesma quantidade de recursos. (HAWKEN E LOVINS). Esse deve ser o principal desafio tanto para as novas tecnologias como para o aperfeioamento das tecnologias existentes e implica numa revoluo nos processos de produo. Ao multiplicar a produtividade com a mesma quantidade de recursos, diminumos de um lado o consumo dos recursos naturais e do outro a produo de resduos e poluentes. O aumento da produtividade dos recursos requer a substituio do processo linear de produo pelo cclico, ou circular. O processo cclico mimetiza os processos naturais da biosfera eliminando a ideia de desperdcio, possibilitando a reciclagem constante e contnua de material e diminuindo a poluio do ar, do solo e da gua. Considerar adequadamente o papel da tecnologia no aumento da produtividade evita a postura romntica, presente em algumas correntes ecolgicas que prega o retorno ao passado atravs da interrupo e negao do desenvolvimento tecnolgico. Mas tambm equivocada a postura que diz simplesmente que a tecnologia trar como o tempo todas as solues para as questes ambientais e sociais. No basta afirmar que a tecnologia trar benefcios e solues, porque ela j se comprovou como um grande fator de impacto sobre o meio ambiente, quando aplicada de forma no sistmica ou mesmo predatria. Idem com a economia que explora de forma insustentvel o homem e a natureza. Se oculta nesta postura um vis ideolgico que busca justificar a continuidade de modelos econmicos insustentveis. necessrio mudar o enfoque tecnolgico sobre a questo, de modo a substituir um modelo parasitrio por um 115
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modelo sustentvel. Hawken e os Lovins nos lembram de que h pouco mais de dois sculos era impensvel que um indivduo pudesse fazer o servio de outros duzentos homens, porm a industrializao permitiu isto. Porque no deveramos pensar que uma revoluo tecnolgica, j em andamento, no possa multiplicar pelo mesmo fator a produtividade utilizando a mesma quantidade de recursos (HAWKEN E LOVINS)? Trata-se, portanto, de usar de forma eficiente um tipo muito especfico de recurso, a inteligncia humana.
A ABOLIO DO DESPERDCIO, UMA ECONOMIA DE SERVIO E FLUXO Taiichi Ohno, o homem que revolucionou o sistema de produo da Toyota, define desperdcio como qualquer atividade humana que absorve recursos sem criar valor (HAWKEN E LOVINS). Aperfeioar um elemento isoladamente do sistema em que est includo pode prejudicar a totalidade do sistema. isso que temos que ter em mente quando consideramos, por exemplo, as propostas de empreendimentos imobilirios autointitulados sustentveis. Algo sustentvel em si mesmo (e s em si mesmo) pode funcionar dentro do sistema ao qual pertence como um parasita, que consome recursos de forma egosta, isto , em benefcio prprio. Quando dentro de um sistema cada elemento e cada etapa do processo se realiza em harmonia com o conjunto e na proximidade de sua fase sequencial o fluxo mantido contnuo, os intervalos e conflitos so eliminados, assim como o desperdcio de tempo e energia em deslocamentos. Quando reunimos os princpios de maior produtividade de recursos e os ciclos fechados de produo possibilitamos uma nova lgica administrativa, a oferta de servios de alta qualidade e eficincia e baixo impacto ambiental. No mbito da cidade a ideia de fluxo sugere que o uso e ocupao do solo renam as atividades humanas de forma eficiente, com economia de tempo e energia, propiciando qualidade de vida e sentimento de comunidade. A cidade compacta, democrtica, verde, baseada na vida dos bairros enquanto centralidades sustentveis e conectadas por um eficiente sistema coletivo de transporte se apresenta como a correo de rumo prtica urbanstica da cidade esparramada, setorizada, baseada no uso do automvel particular, e cuja lgica de distribuio populacional responde a interesses 116
de minorias, descuidando da integrao social necessria cidade sustentvel. TRANSPORTE, FLUXO E MORADIA Um caso relevante nos mostra como a abordagem unilateral de problemas pode prejudicar o sistema como um todo. A recente obra de ampliao da marginal Tiet em So Paulo trouxe tona a discusso sobre a permanncia de um modelo de desenvolvimento que no mnimo obsoleto, mas que revela que por dcadas nossa cidade se moldou sobre a gide do automvel, importando um modelo norte-americano por questes fortemente ideolgicas, beneficiando de forma injusta e desigual segmentos especficos da sociedade. Este modelo rodoviarista est claramente ultrapassado. Ele beneficia somente quem tem carro e enquanto infraestrutura limitada no suporta a democratizao deste benefcio. malfico ao sistema de drenagem e escoamento de guas, contribuindo enormemente para as inundaes. Tem contribudo h dcadas com o espraiamento metropolitano, o que resulta numa tenebrosa desigualdade na organizao socioespacial da cidade, reservando a boa cidade aos ricos e expulsando os pobres para as franjas da cidade e reas de risco, distantes do centro, desconectadas da cidade e desprovidas de toda a qualidade humana e urbanstica. Mas a cidade dos carros tem prejudicado a todos, inclusive os mais ricos, que hoje perderam toda a referncia da rua como espao para a vida e o convvio, uma vez que o trfego desqualifica a rua como espao para a vida, transformando-as em no-lugares, algo pelo qual se passa o mais rpido possvel para ir de um lugar a outro, pois se trata agora de um lugar hostil, poludo, barulhento e arriscado. Como consequncia, os mais ricos vivem amedrontados dentro de seus condomnios fechados, carros blindados e shoping-centers. A questo do transporte fundamental por condicionar todo o tecido urbano, estabelecendo assim uma ntima ligao com a questo da moradia. So as artrias para o fluxo de gente, mercadoria e servios, portanto possuem uma funo metablica vital no ecossistema urbano. Ao colocar as decises tcnicas nas mos da engenharia de trfego e nos interesses de empreiteiras e empresas que administram autoestradas, sem considerar todos os outros fatores importantes ao planejamento urbano, descuida-se de tratar de forma adequada a cidade como uma complexa rede de atividades humanas. A questo no se limita a propiciar maior fluxo de veculos, mesmo porque a curto ou mdio prazo, o sistema novamente de satura com a introduo de mais veculos nas ruas. Trata-se, portanto de um planejamento mais amplo que integre vrios fatores envolvidos, como a introduo de modalidades de transporte mais eficientes 117
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e menos impactantes, e a proviso de habitao de qualidade em locais prximos de oportunidades de trabalho. Entre os perversos resultados destas prticas insustentveis est, por exemplo, a remoo de famlias estabelecidas h anos na regio com o pretexto de plantar rvores, assumindo de forma demagoga a questo ambiental, como se o bem estar dos grupos humanos no fosse um pressuposto de uma ecologia urbana saudvel. Observamos ainda uma total ausncia de viso sistmica que inclua a necessria substituio do modelo de transporte individual pelo coletivo, questes referentes a hidrografia e conteno de enchentes, e questes referentes a oferta local de moradia adequada aos habitantes do local. Curitiba recebeu um grande destaque no livro Capitalismo Natural como exemplo de como as coisas podem ser diferente. O prefeito Jaime Lerner em seu primeiro mandato passou a tratar com sabedoria os recursos hdricos com um desenho urbano integrado natureza. As margens de rios e crregos da cidade se transformaram em parques lineares, construram-se lagos artificiais propiciando alternativas de lazer e descanso e resolvendo o problema de enchentes de forma econmica. Se para algum o problema de So Paulo possa parecer muito maior e insolvel, o exemplo do canal de Cheonggyecheon em Seul demonstra que o que carecemos de vontade poltica. O leito do rio, que estava to poludo quanto o nosso, havia sido coberto por autopistas e um elevado, nos mesmos moldes daquilo que de forma absurda ainda aparece como propostas para nossas marginais. O projeto de recuperao do rio em Seul removeu as autopistas e o elevado existentes, diminuindo consideravelmente o trfego de veculos em toda a cidade, o que foi compensado com a adoo do transporte coletivo que se desenvolveu rapidamente. Nas margens do rio, limpo e recuperado, foram construdos parques lineares hoje fortemente frequentados pela populao. Os bairros no entorno dos novos parques sofreram um impacto positivo com uma rpida revitalizao (NOBRE).
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Projetos ousados de notvel esforo tcnico-cientfico, como por exemplo o desenvolvido por Maria Assuno Ribeiro Franco para as marginais Tiet e Pinheiros, deixa de parecer utpico frente a casos como o de Seul. Se para muitos pode parecer que mudanas radicais na forma de abordar e tratar a cidade possa parecer invivel economicamente, este artigo busca cumprir a funo de refrescar uma viso viciosa, que tende a confundir preo e custo. Estamos pagando muito mais caro pela ineficincia dos modelos adotados no passado. Revert-los uma questo de planejamento econmico e urbanstico a longo prazo, com grande reduo de custo e gerao de riqueza. possvel numa cidade como So Paulo, onde no faltam recursos financei119
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ros, investir fortemente num sistema de transporte intermodal de alta capacidade propiciando a recuperao e criao de parques e um sistema de proviso de habitao social como nunca antes presenciamos na nossa histria. Hawken e os Lovins respondem a questo da viabilidade invertendo a pergunta da seguinte forma: Como foi possvel criar um sistema econmico que nos diz que mais barato destruir a Terra e exaurir as pessoas que nutrir ambas? racional ter um sistema de preos que vende o passado e cobra do futuro? Como foi que criamos um sistema econmico que confunde liquidao do capital com renda?
A CIDADE, PROJETO ECONMICO E ECOLGICO Nossas cidades sempre em multiplicao carregam a ameaa de uma poluio avassaladora e uma sociedade global polarizada entre o ter e o no-ter. (Richard Rogers, Cidades para um Pequeno Planeta) Os caminhos traados no processo de construo das cidades guardam estreitas relaes com modelos polticos e econmicos atuantes. So por eles condicionados e tm expressado no decorrer da histria o distanciamento de uma abordagem socioambiental. Sem assumirmos, dentro de uma viso abrangente, que a abordagem sobre a qual tem se apoiado os modelos econmicos insustentvel, no ser possvel empreender uma mudana capaz de se elevar acima da relao conflituosa entre economia e ecologia, que se expressa tambm no conflito entre meio construdo e natureza. Temos que refletir sobre qual modelo se baseia a ao do homem sobre o meio ambiente em toda a cadeia produtiva, desde a concepo, passando pela extrao, produo, consumo e descarte. A cidade tem um funcionamento anlogo ao sistema produtivo que a criou. Os modelos de desenvolvimento em vigor tm gerado nas cidades condies precrias de habitabilidade e de vida, desencadeando um ciclo vicioso de degradao entre meioambiente e sociedade. Estamos diante de uma economia de desperdcio e m gesto de recursos, que gera carncias e desigualdade. Sua nfase no lucro em curto prazo compromete o futuro.
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A cidade contempornea demonstra claramente isto quando os processos de renovao urbana aprofundam a segregao socioespacial promovendo a valorizao do solo enquanto mercadoria, causando a substituio da populao pela renda, varrendo os mais pobres para regies distantes e desqualificadas. Efetiva-se assim a pilhagem do nosso futuro e das nossas prximas geraes, assim como se reproduzem as injustias sociais. Os ecossistemas e as sociedades humanas, quando forem considerados a partir de seu real valor enquanto ativos econmicos, devero tornar os empreendimentos e as operaes urbanas mais sistmicos, ecolgicos, sustentveis e justos. O conceito modernista da mquina de morar, aplicado tanto no edifcio como no espao urbano, traduz no mbito do projeto os preceitos tecnolgicos em vigor. Uma mudana paradigmtica na economia e nos processos de produo implica numa reviso dos aspectos tcnicos do funcionamento dos edifcios e cidades. A mesma transio do processo linear para o cclico que deve ocorrer nas linhas de produo industrial e nos processos econmicos deve encontrar ressonncia no projeto arquitetnico e urbanstico. As cidades e os edifcios so organismos dentro de organismos e devem substituir uma relao parasitria por uma relao harmnica e simbitica. O modelo de cidade que se imps a partir de princpios de compartimentao e localizao das atividades segundo a funo, separando os espaos e usos fisicamente e conectando-os por uma grande rede de ruas e transportes horizontais, anula a flexibilidade dos espaos e construes impedindo que a cidade funcione como uma unidade orgnica e dinmica. Somado a isto, a setorizao funcional da cidade gera um grande consumo de tempo e energia em locomoes, estas por meios agressivos e poluentes que tm tornado mais e mais hostis os espaos pblicos. Richard Rogers, em Cidades para um Pequeno Planeta, comenta que o economista Kenneth Boulding j dizia em 1966 que deveramos parar de viver em uma economia de velho-oeste, na qual no se considera limites de territrio a ser conquistado e de recursos a serem consumidos, e propunha que deveramos pensar no nosso planeta como uma nave espacial, com sistema fechado e recursos finitos. Isto nos leva a pensar a cidade como um metabolismo circular, o que traz ao mbito do planejamento urbano a ideia inerente aos princpios de uma economia ecolgica, pela qual se substitui o processo de produo linear pelo circular.
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A cidade como um organismo vivo, possuindo um tipo prprio de metabolismo atravs do qual se mantm em constante troca como o ambiente externo em escalas que vo desde a local at a global. Seu sistema inclui uma estrutura fsica construda e um sistema biolgico, humano e natural. Seus processos se renovam num equilbrio dinmico e no esttico. Os princpios ecolgicos, portanto, se afastam da ideia de equilbrio esttico dos economistas clssicos, e referem-se a um processo evolutivo sustentvel de mudana contnua. A cidade um ecossistema que depende do fornecimento externo de energia e materiais. O que a difere de um organismo natural a intensidade do fluxo tanto de entrada (energia e materiais) quanto de sada (resduos). Por no prever produo interna de alimentos, energia, purificao de ar e reciclagem de material acaba funcionando como parasita dos ecossistemas agrcolas e naturais (FRANCO). A reciclagem e reuso de recursos materiais e energticos, a recuperao de reas e edifcios degradados no interior do sistema, a restaurao e insero da natureza no meio urbano, so modos de mitigar seu impacto, transformando o metabolismo da cidade em circular. A substituio do processo de produo linear pelo cclico implicar no mbito da cidade no aumento radical da produtividade de recursos, exigindo menos recursos materiais e energticos para o funcionamento da cidade e diminuindo a poluio. O que poderamos chamar de biomimetismo (HAWKEN E LOVINS) implica na redu122
o do uso dissipador de material, eliminando o desperdcio, adotando processos de construo e proviso que possibilitem o reuso e reciclagem de materiais e energia. A adoo em ampla escala de uma economia de servios e de fluxo ajudar a tornar os processos cclicos vantajosos tanto para os produtores como para os consumidores, e pode no mbito dos mercados imobilirios, assim como do uso e ocupao do solo, apresentar alternativas mais sustentveis que as prticas atuais do mercado especulativo, e muito mais alinhadas a preceitos de qualidade do que meramente financeiros. Estamos tratando, dentro do mbito do projeto, de uma complexa rede de relaes. E quando falamos de um ecossistema urbano temos que considerar todos os seus componentes. Existe uma estrutura fsica construda, com ruas, vias, artrias, sistemas de transporte, indstrias, mercadorias, edifcios, equipamentos, e infraestrutura; existe uma estrutura natural, com os rios e cursos dgua, topografia, espcies vegetais e animais, condies climticas (a natureza tambm infraestrutura). Existe tambm uma estrutura humana, ou social, que inclui toda a sua populao e toda a atividade humana, como trabalho, lazer, esporte e cultura. dentro deste conceito que se vincula intimamente as questes ambientais e sociais. Trat-las de forma isolada um equvoco que retira da equao fatores relevantes. E s na total conscincia e preocupao com as questes sociais que podemos tratar efetivamente de uma ecologia urbana. A pobreza e a precariedade social refletidas nas pssimas condies de habitabilidade so patologias e desequilbrios nos ecossistemas urbanos, com consequncias que se estendem aos ecossistemas naturais e biosfera como um todo. O processo de cura ambiental, desde a escala das comunidades at a global, passa necessariamente pela melhora radical na qualidade de vida das populaes carentes e pela garantia do bem estar social generalizado. A construo irregular, presente principalmente nas periferias de grandes cidades como So Paulo, apresenta caractersticas como ausncia de reas verdes, grande impermeabilidade do solo, gerao de ilhas de calor e poluio dos recursos hdricos. Estas caractersticas so alimentadas pela ausncia de planejamento e fiscalizao que decorre na carncia de infraestrutura e equipamentos, no distanciamento dos benefcios da cidade, gerando uma segregao scio-espacial que reproduz entre tantos problemas uma violncia urbana crescente. E assim se retroalimentam as patologias sociais e ambientais.
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A NATUREZA E A CONSTRUO DO ESPAO, UMA CIDADE PARA TODOS
Existe um debate sobre a questo da regionalizao versus internacionalizao da arquitetura. Trata-se de uma questo que hoje passa por uma resistncia imposio de polticas econmicas globalizantes e insustentveis. Mas o desenvolvimento de uma arquitetura que se valorize pela presena de caractersticas regionais justificado por questes que vo alm da poltica, economia e cultura, ainda que no deva prescindir delas. Ken Yeang, no seu livro Projetar com a Natureza enfatiza o carter local do projeto arquitetnico atravs da integrao entre a construo e o ecossistema local, que define para a arquitetura caractersticas prprias e regionais. A base para um projeto alinhado a preceitos ecolgicos se d mediante o conhecimento do ecossistema no qual se vai atuar. Uma vez que um ecossistema difere de outro, cada um determinar ao projeto uma srie de caractersticas particulares (YEANG). Quando reconhecemos as sociedades humanas como parte integrante dos ecossistemas, refora-se a ideia de que tanto a cultura local como a economia local so dados a serem levados em conta na elaborao de projetos urbansticos e arquitetnicos. Quando os vnculos de pertencimento entre a comunidade e o lugar so rompidos ou obstrudos por solues tcnicas, porm insensveis, todo o sistema adoece. O enfoque sistmico proposto por Yeang reconhece os vnculos entre os elementos de um conjunto propondo, ao invs de solues isoladas, solues integradas. Podese assim evitar efeitos no previstos por solues que so a princpio equivocadas, e tendem ao otimizar um elemento de forma isolada, pessimizar o conjunto. Alm de reconhecer os vnculos, um enfoque sistmico deve encarar os desafios como oportunidades de transformar de modo profundo a eficincia do sistema. Ao incluir como componentes fundamentais dos sistemas tanto o capital natural como o humano, as comunidades e sociedades podem ser abordadas dentro de uma viso integral e sustentvel. Uma postura que ter grande relevncia no planejamento urbano e nos projetos urbansticos, assim como nos projetos de habitao. Os sistemas sociais fornecem recursos humanos do mesmo modo que os ecossistemas fornecem recursos naturais. Estes recursos podem ser muitas vezes contabilizados facilmente, como o trabalho braal, tcnico e intelectual, mas no se resumem a isto. preciso considerar recursos no facilmente contabilizveis como a cultura, a sabedoria, a honra, o amor, e as qualidades que nos definem enquanto seres humanos e enriquecem a nossa vida.
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Da mesma forma que o capitalismo tem, no decorrer da histria, se utilizado de mtodos insustentveis de explorao dos recursos naturais vem, ao mesmo tempo, adotando mtodos insustentveis de explorao dos recursos humanos. A insustentabilidade se evidencia no desequilbrio social, na destruio gradual da perspectiva e do propsito humano de uma parcela considervel da populao, principalmente nos pases em desenvolvimento. Sempre na busca pelo lucro em curto prazo, o faz atravs da explorao excessiva e da valorizao injusta do trabalho. Tolhe-se com isto a felicidade e toda a possibilidade de desenvolvimento do potencial humano, uma vez que grande parte da populao vive num regime de sobrevivncia. A ausncia de tempo e espao para o descanso, lazer, esporte e cultura, somada com o stress crescente das grandes cidades, a violncia e medo do desemprego, so fatores que desperdiam e esgotam o capital humano, desmantelando a coeso social e o sentido de comunidade. Um sistema econmico insustentvel aquele que desperdia recursos naturais e tambm aquele que desperdia pessoas. Uma cidade que reflita uma postura econmica sustentvel deve tratar seus recursos humanos e naturais como os bens mais valiosos. Seus projetos devem ser participativos incluindo empresas e representantes comunitrios que devem compartilhar uma viso que transcenda as ideologias partidrias e interesses unilaterais. Saber utilizar-se com sabedoria dos recursos humanos e naturais, desenvolver e adotar tecnologias avanadas e sustentveis, substituir processos lineares por cclicos, desenhar de acordo com a natureza e seus princpios so as bases para uma cidade humana, ecolgica e sustentvel onde o valor e os servios fluem de forma a beneficiar a todos. E de forma alguma devemos nos esquecer de incluir viso ambiental tradicional uma abordagem humanstica, onde a cidadania entra como ingrediente imprescindvel para uma sociedade sustentvel. A lgica que tem moldado historicamente o desenvolvimento de nossas cidades tem prejudicado a formao da cidadania ao excluir grande parte da populao daquilo que se oferece de melhor em educao, lazer e cultura. Alm disso, violam-se os princpios da gesto participativa previstos no Estatuto das Cidades, dificulta a integrao das classes e gera uma tenso que se expressa na insegurana e violncia urbana crescente. So Paulo neste sentido uma cidade emblemtica. O espraiamento incontrolado gerou forte impacto ambiental ao condenar como nica alternativa de moradia grande parcela da populao a construo irregular em reas de proteo ambiental, como nas margens das represas Billings e Guarapiranga ao sul da cidade e na Serra da Cantareira ao norte. 125
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A cidade boa ficou reservada aos mais ricos, uma vez que a valorizao do solo nas reas bem servidas de equipamentos, infraestrutura e qualidade ambiental limitou o acesso a quem no tem recursos, e tem varrido a populao menos privilegiada para reas desprovidas de todo o benefcio. A cidade irregular perifrica, autoconstruda, tem se expandido como uma mancha de leo. A imagens obtidas por satlite e as fotos areas da cidade, facilmente obtidas hoje com ferramentas como o Google Earth, revelam a dimenso de nossa pobreza socioambiental, com a ausncia de vegetao, impermeabilidade, formao de ilhas de calor e grandes distncias da cidade formal. O ponto fundamental sobre o qual deve se apoiar um critrio eficiente para a habitao social est nas polticas urbanas, cujo papel tem no decorrer da histria moldando essa nossa triste condio. Por isso devemos antes de aprofundar em questes mais particulares enfatizar que o importante momento histrico que passamos requer um novo paradigma para as questes urbanas, que substitua as prticas que tm demonstrado por si mesmas equivocadas. A lgica de ocupao do solo que segue a lgica da expanso ilimitada dos mercados e transformaram em ativos financeiros os espaos urbanos e construes, ao se basear unicamente na movimentao da economia, no lucro a curto prazo, e no interesse de setores especficos, descuida de uma srie de consequncias sociais e ambientais que tem se convertido em custos altssimos em mdio e longo prazo, configurando prticas distantes de todo preceito de desenvolvimento sustentvel. unnime a posio de que um projeto deve ser abordado, no como algo isolado de seu contexto, mas como algo inserido e integrado de forma harmnica cidade. O contexto deve ser considerado como algo que inclui espao, mas que vai alm de questes espaciais. O contexto poltico, social e econmico adequado aquele que se oferece como um solo frtil para o florescimento de ideias inovadoras que possam de fato transformar positivamente o processo de desenvolvimento das cidades. No adequado que as decises sobre as intervenes urbanas sejam tomadas de forma isolada atendendo a interesses polticos de minorias, na total ausncia de uma abordagem sistmica e socialmente justa. No faz sentido que o Estado financie pesquisas acadmicas e no utilize o fruto deste investimento. Para no citar somente a USP, existe nas Universidades brasileiras uma vasta produo crtica, reflexiva e propositiva para os problemas urbanos e que oferecem alternativas para uma cidade mais humana e sustentvel. Est mais do que na hora do Estado comear a se utilizar 126
de seus recursos tcnicos e cientficos numa fora-tarefa de transformao de nossas cidades.
REFERNCIAS
FRANCO, Maria Assuno Ribeiro. Planejamento Ambiental para a Cidade Sustentvel. So Paulo: Annablume, 2001. HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS, Hunter.Capitalismo Natural. So Paulo: Cultrix, 2000. HEIDEGGER, Martin. Em: http://www.prourb.fau.ufrj.br/jkos/p2/heidegger_construir,%20habitar,%20 pensar.pdf NOBRE, Eduardo Cusce. Revista AU n.o 191 ROGERS, Richard. Cidades Para um pequeno Planeta. Barcelona: GG,2001.
SZMRECSANYI, Maria Irene de Q.F.. A Americanizao da Cidade Brasileira: A substituio de modelos Urbansticos em So Paulo no sculo XX. XIII Economic History Congress. Buenos Aires 2002. Em: http://
eh.net/XIIICongress/cd/papers/41deQ.F.Szmrecsanyi12.pdf YEANG, Ken. Proyectar com La Naturaleza.Barcelona: GG, 2007. Internet: http://www.wwf.org/ http://www.footprinnetwork.org http://www.ecolatina.com.br/pdf/IPCC-COMPLETO.pdf http://www.ecolnews.com.br/agenda21/
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3. ENTREVISTAS
ENTREVISTA
Betty Feffer
Centro Max Feffer: um centro de referncia em cultura e sustentabilidade no Polo Cuesta, Pardinho, SP.
Betty Feffer formou-se eutonista pela Escola de Eutonia da Amrica Latina, na primeira turma realizada em So Paulo, de 1991 a 1995. Completou o Curso de Letras pela Universidade de Londres (19651970). Defendeu os Trabalhos de Concluso de Curso: Eutonia e Desenvolvimento Espiritual, em 1994, e Eutonia, Profilaxia e Teraputica do Stress, em 2001. a fundadora e presidente do Instituto Jatobs e Centro de Cultura Max Feffer, em Pardinho, voltados aos objetivos de sustentabilidade e ampliao da conscincia, junto comunidade local. www.centrodeculturamaxfeffer.com.br
Os dois primeiros anos foram tempos de sensibilizao e de aproximao entre o CMF e a comunidade. A nova fase de efetiva apropriao do espao. Nesse processo, as partes interessadas esto envolvidas - crianas frequentadoras da praa, vizinhos e moradores prximos, na inteno de criar um ambiente harmnico e integrado entre CMF, e o entorno. Entre 2008 e 2010 o LABVERDE elaborou uma srie de pesquisas na Regio do Polo Cuesta com a finalidade de experimentar uma certificao verde fundada em critrios de Sustentabilidade Regional e Urbana. As pesquisas resultaram na atribuio de selos LABVERDE de Localizao Sustentvel. Nesse processo a cidade de Pardinho foi uma das que, em 2010 recebeu o Selo LABVERDE Eficincia (Selo Dourado). Segundo as pesquisas essa condio foi alcanada, em parte, pelas atividades de carter social que o Centro Max Feffer vem desenvolvendo junto comunidade local. Portanto, a Revista LABVERDE procurou fazer contacto e entrevista com o Centro, na figura de sua criadora, Betty Feffer. 129
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LABVERDE - 1) Betty, como surgiu a idia da criao do Centro Max Feffer (doravante designado CMF)? E a escolha do bambu como tema principal de sua arquitetura? BETTY - O Instituto Jatobs (IJ) j atuava no municpio de Pardinho implementando o modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentvel, dentre suas frentes de atuao, diagnsticos econmicos e socioambientais, cursos de capacitao de educadores da rede pblica, seminrios sobre o manejo do bambu e apoiando a iniciativas de agricultura familiar. Para fortalecer sua frente de atuao cultural e criar um maior vinculo com a cidade, j que a sede do IJ na fazenda dos Bambus, uma rea rural dentro do municpio, props-se construir um espao de convivncia para sustentabilidade enfocando a promoo de mudana de comportamentos visando a construo de um caminho sustentvel para Pardinho. Surge assim, o Centro de Cultura Max Feffer, que depois passa a ser o Centro Max Feffer Cultura e Sustentabilidade. LABVERDE - 2) Fale-nos da ligao entre o CMF e o Instituto Jatobs. BETTY - O Centro Max Feffer foi idealizado e construdo pelo Instituto Jatobs, para servir a comunidade sendo um instrumento para a implantao do modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentvel. Alm da histria da famlia ser bastante vinculada a rea da cultura e homenagear Max Feffer, que planejava um espao de cultura para o municpio. LABVERDE - 3) Como se deu a escolha do lugar, dentro da Cidade de Pardinho, onde seria construdo o CMF? BETTY - A proposta foi construda em parceria com a prefeitura, pois a sugesto era de um espao pblico gerido pelo poder pblico municipal, IJ e comunidade. A prefeitura sugeriu ento que a construo fosse feita na praa, onde j havia uma pequena estrutura de palco e banheiros. Isto acordado, a proposta inicial foi aproveitar a estrutura e ampli-la. LABVERDE - 4) De onde provm os recursos que mantm o CMF e suas atividades? O CMF conta com parceiros nacionais e/ou internacionais? BETTY - Os recursos que mantm o CMF provm primordialmente do IJ e a prefeitura apia com pessoal, supre ainda alguns gastos administrativos, de manuteno e apoio logstico para alguns eventos. No caso de eventos, algumas vezes tambm h colaborao dos prprios artistas que se sensibilizam com a misso do IJ e empresas patrocinadoras. 130
LABVERDE - 5) Como a participao do CMF junto Prefeitura de Pardinho e outras instncias governamentais e vice-versa? BETTY - O CMF tem parceria com a prefeitura de Pardinho na parte de manuteno de infraestrutura e gerncia do espao, atualmente sob responsabilidade do IJ, mas que est construindo um caminho para o estabelecimento de uma gesto tripartite prefeitura, IJ e comunidade. H tambm parceria com a Prefeitura de Botucatu e com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de So Paulo. LABVERDE - 6) Fale-nos da relao do CMF com as escolas municipais? BETTY - O CMF funciona como apoio s iniciativas da comunidade e de entidades, como as escolas. Assim, professores podem utilizar o CMF para desenvolver aulas, promover exposies e eventos. Em 2010, por exemplo, foi realizada uma parceria com as escolas de ensino fundamental no projeto de Olimpadas da Lngua Portuguesa (MEC). Desse trabalho, houve desdobramentos para incluso de atividades pedaggicas transdiciplinares com o apoio do CMF no plano escolar de 2011. LABVERDE - 7) Como se d o contato do CMF com a Praa onde est localizado e seu entorno? BETTY - O CMF foi construdo na praa com o apoio da prefeitura. Por meio de encontros nas escolas, o projeto do CMF foi apresentado com amplitude comunidade que foi convidada a participar do processo, dando sugestes, colocando suas necessidades e expectativas a cerca desse novo espao. Os dois primeiros anos foram tempos de sensibilizao e de aproximao entre o CMF e a comunidade. A nova fase de efetiva apropriao do espao. Nesse processo, as partes interessadas esto envolvidas - crianas frequentadoras da praa, vizinhos e moradores prximos, na inteno de criar um ambiente harmnico e integrado entre CMF, e o entorno. LABVERDE - 8) Como o CMF interage com as festas e manifestaes da cultura tradicional de Pardinho e Regio? BETTY - A agenda de eventos do CMF construda para valorizar as manifestaes da cultura local. Assim, procura-se no coincidir datas de eventos e disponibilizar-se como parceiro nas festas e manifestaes tradicionais, inclusive levando para eventos fora do CMF conceitos prticos de sustentabilidade como minimizao do lixo e compensao de carbono.
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LABVERDE - 9) Quais as ligaes do CMF com o Projeto de Desenvolvimento Eco-Turstico Polo Cuesta, da Secretaria de Esporte e Turismo do Estado de So Paulo? BETTY - O CMF no tem participao formal no Conselho do Polo Cuesta, mas desenvolve atividades que servem como atrativo turstico e pedaggico para esse circuito regional. Alm disso, em parceria com a prefeitura de Pardinho, apoia a secretaria de turismo para que essa frente possa ser desenvolvida no municpio a fim de torna-la um setor econmico vivel, que fortalece a estrutura social e respeita o meio ambiente. LABVERDE - 10) O que mudou nas atividades do CMF, desde o ano de sua fundao em 2008, que no foi previsto no projeto original? BETTY - Ampliao/Sensibilizao para pblico externo e Aprofundamento/Conhecimento para pblico interno (equipe e colaboradores), que passam a ser a referncia da comunidade nas questes de sustentabilidade. LABVERDE - 11) A senhora, como criadora do CMF, imaginou que a ao do mesmo poderia ter respostas to rpidas de suas atividades, por parte da comunidade local e na mdia em geral, dada a sua fundao ter sido to recente (2008) ? BETTY - No incio no se sabia quanto tempo seria necessrio para avaliar os efeitos da interveno do CMF, foi realmente uma agradvel surpresa poder, hoje, em menos de dois anos,perceber esse retorno.. (sugesto... mas nosso projeto de desenvolvimento sustentvel muito mais ambicioso, trata-se de tornar Pardinho referencia mundial em sustentabilidade nos prximos 20 anos, e esse tempo j comeou. LABVERDE - Agradecemos muito a sua participao!
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4. DEPOIMENTOS
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DEPOIMENTO
Bia Guerra
Instituto Jatobs: atuao na cultura e valores de sustentabilidade junto comunidade de Pardinho.
Beatriz Burckas Ribeiro Guerra, 37 anos, formada em Cincias Biolgicas/Licenciatura - UNESP/ Botucatu. Coordenou o primeiro movimento de artesos de Pardinho e criou exposio itinerante de fotos de Pardinho, valorizando a cultura local. Foi representante no Plo Cuesta, no CEDEPAR (Consrsio de Estudos, Recuperao e desenvolvimento Sustentvel da Bacia do Rio Pardo), no Conselho de Turismo de Pardinho e no Grupo de Trabalho para a Regulamentao da APA. Atualmente coordenadora das atividades do Centro de Cultura Max Feffer/Instituto Jatobs desde 2008 como coordenadora de projetos na rea de Educao para a Sustentabilidade.
O Instituto Jatobs tem uma atuao transversal na qual a educao uma das principais reas de ao no processo de trans formao para uma cultura embasada nos valores da sustentabilidade. Nesse sentido, incorpora a educao em todo seu trabalho, seja em seus projetos com a comunidade, relacionamento com parceiros ou capacitao de sua equipe e colaboradores. A prpria forma de administrar o Centro Max Feffer um diferencial na construo de possibilidades mais sustentveis. Temos dois bons exemplos disso: Os encontros em crculo, com momento de acolhimento, para compartilhar ideias, poesias, preces ou um lanche gostoso contextualizam um espao rico em trocas por parte de todos os envolvidos de gestores equipe de manuteno, passando pelos prestadores de servio.
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Em 2010, um dos seguranas do CMF conversando com algumas das crianas, em sua maioria carentes, que frequentam a praa e o CMF contou que o pequeno rio que passa pela nossa cidade, o rio Pardo, fica grande e logo a alguns quilmetros tinha cachoeira. As crianas empolgadas disseram que gostariam de conhecer esse lugar e o rapaz combinou de lev-los um dia em seu carro. J d para imaginar que a histria se espalhou como fogo na palha e dias depois j havia muitas mais crianas querendo conhecer a cachoeira. O segurana compartilhou a histria com o gestor do CMF, solicitando ajuda, talvez como motorista de mais um carro. O que poderia ser um simples combinado entre colegas de trabalho foi conduzido para a equipe do CMF em uma reunio, pois talvez alm de ir conhecer a cachoeira o passeio poderia ter um lanche ou uns livros da biblioteca... Todos os funcionrios se dispuseram a colaborar voluntariamente no passeio que foi sendo alimentado de mais possibilidades com as diversas idias que iam surgindo e foi necessrio marcar uma srie de outros encontros, pois o que seria a princpio, um passeio para mostra a cachoeira do nosso rio passou a ter uma proposta mais ousada de aproveitar a oportunidade e levar mais conhecimento sobre o lugar onde vivem. Os prprios funcionrios julgaram importante mostrar onde nascia o rio, como ele era na cidade at chegar na cachoeira, mas ainda seria interessante mostrar para onde esse rio continua, passando por guas de Santa Barbara, estncia que se beneficia da gua que nasce em Pardinho e quem sabe chegar at Paranapanema, onde ele desgua... Junto com o roteiro cresceu as possibilidades de fazer um lanche comunitrio, de parceria com os comerciantes, com a prefeitura para o transporte, pois o grupo poderia ser maior que apenas a vaga de dois carros, afinal era uma oportunidade para oferecer algo mais s crianas. Isso tudo foi iniciativa dos funcionrios que tinham o apoio do CMF. Roteiro pronto, livros e histrias escolhidas para contar, lanche patrocinado, apoio da prefeitura o que faltava? Quem conduziria e explicaria tantas maravilhas do nosso rio para as crianas? Ningum se sentia capaz e conhecia o trajeto da nascente, cidade, at a cachoeira com conhecimento para compartilhar para um grupo de crianas. Assim foi organizado um dia de passeio para a prpria equipe. Conheceram a importncia da regio em que o municpio est localizado, como a Cuesta, o divisor de guas das bacias do Tiete e Paranapanema, o incio da rea de recarga do Aqfero Guarani, a zona de transio entre Mata Atlntica e Cerrado; a nascente, os afluentes ignorados pela urbanizao at chegar a cachoeira. Vivenciado a experincia poderiam compartilhar com as crianas. E assim foi feito.
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A histria repercutiu no IJ que j utilizou parte do roteiro para uma das oficinas prticas de sustentabilidade para a prpria equipe, mas tambm entre as outras crianas da cidade at chegar nas escolas. O que no desenrolar da criao da expedio passou a ser um dos ideais dos funcionrios do CMF que a expedio se replicasse! Meses depois surge a oportunidade de oferecer a vrias turmas das EMEF um reconhecimento por terem participado da Olimpada de Lngua Portuguesa do MEC sob o tema O lugar onde vivo. O passeio organizado pela equipe poderia ser replicado, pelo menos em parte. Mais de 300 alunos e seus professores foram conhecer o lugar onde viviam, se alimentando de conhecimento, lindas paisagens e literatura. Alimentados, foram escrever novamente poesias agora no mais para o concurso. O resultado empolgou IJ e escolas. Os poemas sero publicados com direito a tarde de autgrafos pelos alunos e os professores e alunos que no participaram pleitearam que a atividade fosse inserida no planejamento escolar. Agora, professores so capacitados para assumirem a conduo e criao de novos roteiros que agreguem o conhecimento de cada disciplina com o lugar em que vivem e disponibilizem, vivenciem com seus alunos. Lembram, tudo isso surgiu do apoio a uma pequena ideia... A segunda histria sobre estar atento as oportunidades. Antes preciso saber que o CMF foi construdo em Praa Pblica e por questo de segurana um parquinho infantil foi desativado. Depois do CMF inaugurando, o parque no foi mais montado. As crianas e famlias comentavam a necessidade do espao, e buscou-se a prefeitura para reinstalao apenas com solicitaes institucionais. Tempos depois uma menina de aproximadamente 12 anos foi escolhida pelas crianas freqentadoras da praa para pleitear a volta do parque junto ao CMF. Solicitou um tempo do gestor e contou que entendia que o espao do CMF era para ser usado, mas nem sempre poderiam correr, brincar, gritar, pois atrapalhariam as atividades desenvolvidas no CMF, mas que gostariam de ter um espao para brincar. Que gostam de jogar bola, mas entendem que o CMF no o lugar adequado e que jogar no jardim est destruindo as plantas. Ela, em nome das outras crianas queria o aprque para brincar. O gestor poderia apenas ouvir ou dizer que iria acionar a prefeitura, j que a praa um espao de responsabilidade pblica. Mas foi alm e sugeriu que se o problema era de todas as crianas, que se reunissem todos para uma conversa. A menina fez os convites, distribuiu para todos os vizinhos mirins do entorno do CMF. 136
Uma semana depois 30 crianas entre 7 e 13 anos estavam reunidas em circulo, criando regras para convivncia naquele momento, falando em seu momento e ouvindo todos os colegas, apresentando suas necessidades, criando solues. O encontro previsto para no mximo uma hora, para no cansar ou dispersar as crianas se estendeu por duas horas e meia em total concentrao e dedicao das crianas, interessadas em encontrar formas de construrem o campo de bola, pois foi essa a necessidade por eles percebida, e tambm construrem o parquinho, pois muitas crianas menores no estavam l, mas que certamente era o que gostariam. No final do encontro um sonho comum foi planejado e uma semente foi plantada por cada criana, representando o sonho a ser cuidado at o prximo encontro em quinze dias. At hoje no havia presenciado um espao formado por tantos adultos ou crianas, consideradas desinteressadas, desobedientes, com comportamentos difceis que fosse to harmonioso e eficiente, gerando frutos de parcerias, criao, responsabilidade compartilhada. O trabalho ainda est em andamento. As sementes vingaram e cada criana retornou com seu copinho agora com um brotinho de salsinha, as que morreram tiveram nova oportunidade de plantar. Agora participam para elaborar o oramento para construir campo e parque. Para isso pais com competncias em construo, conhecidos que podem doar material, amigos que podem ajudar sero convidados a participar da construo desse sonho. E para que ele seja sempre cuidado junto com a praa o grupo de crianas foi convidado a formar uma equipe de guardies da praa. E para isso, novas oportunidades surgiram, pois para cuidar preciso conhecer. E isso que faro alm de construir o espao para eles: aprender a desenhar, pintar e conhecer todas as plantas da praa, fotograf-las e cuid-las.
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DEPOIMENTO
Catharina Cordeiro Lima

Em pauta, o Cdigo Florestal
Catharina P. Cordeiro dos Santos Lima Arquiteta pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Professora Dra. Da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Coordenadora do Grupo de Disciplinas Paisagem e Ambiente e Coordenadora do Laboratrio Paisagem Arte e Cultura da FAUUSP.
O ms de maio de 2011 provavelmente entrar para a Histria do Brasil como um perodo no qual a questo ambiental virou assunto nacional e onde foi testada a mais dramtica correlao de foras entre diversos setores organizados da sociedade civil e o pesado interesse de poucos sob o emblema da chamada bancada ruralista da Cmara de Deputados (Congresso Nacional). No epicentro do embate (que deveria ter sido um debate), o Cdigo Florestal Brasileiro. Lei federal elaborada originalmente em 1935 e objeto de aperfeioamento 30 anos depois, tem como finalidade precpua garantir a conservao do patrimnio florstico e a apropriao adequada dos recursos naturais no territrio nacional e , no momento, alvo de disputa com motivaes econmicas, ideolgicas, partidrias, ticas e cientficas; enviada para votao na Cmara dos Deputados o projeto substitutivo do Deputado Aldo Rebello (PC do B) props alteraes importantes no termo da lei que, em sua base conceitual e de aplicao, significam um retrocesso na perspectiva de se buscar um modelo que preserve a integridade ambiental dos remanescentes florestais, hidrolgicos e edficos do pas e fornea alternativas sustentveis para a ocupao dos solos urbano e rural.
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O pomo central da discrdia tem sido amplamente divulgado: setores organizados do agronegcio, grandes empresas nacionais e estrangeiras de celulose e papel e agentes dos interesses imobilirios pressionam por mudanas no Cdigo a fim de que o mesmo se coadune aos interesses dessa parcela da sociedade, em detrimento de uma poltica socioambiental mais ampla para o campo (mas, tambm para a cidade) capaz de garantir a integridade e o sustentvel uso do capital natural do pas acomodando, tambm, a produo da agricultura familiar camponesa, a rigor responsvel por 70% do que o brasileiro come, segundo o ltimo censo do IBGE. Em jogo, pesados interesses econmicos cujas motivaes so claras e, em ltima anlise, dizem respeito s escolhas que o Brasil tm feito quanto ao uso do seu territrio, ao modelo econmico agrcola e agrrio ainda calcado em uma matriz monocultora, contaminadora e esgotadora do seu solo e das suas guas (o Brasil o pas que mais utiliza defensivos agrcolas no mundo, alguns, inclusive, ilegais); entre outros, o que est em cheque a expanso do modelo agroexportador (e energtico - os biocombustveis) cujo foco so as commodities baseadas na produo de gros. Ideologias parte (se o Brasil deve, ou no, exportar commodities como a soja para engordar animais no exterior), no se trata to somente de optar pelo uso do territrio como mercadoria internacional em detrimento da produo de alimentos, mas, de como essa apropriao territorial feita. O substitutivo do Dep. Aldo Rebello prope, genericamente falando, a reduo (e mais larga ocupao) de reas de Preservao Permanente APPs fluviais, vertentes acentuadas, topos de morro, reas florestadas e da chamada Reserva Legal. Tambm prope anistia para os crimes ambientais ocorridos at o ano de 2008. Deve-se ressaltar ainda que a simples meno de uma anistia mais ampla tem aumentado dramaticamente o processo de devastao florestal em estados como o Mato Grosso ; nesse processo reabilitou-se, inclusive, a prtica criminosa do chamado corrento que consiste na delimitao de um permetro a ser desmatado (sem nenhum cuidado com os animais habitantes) com pesadas correntes, puxadas, a seguir, por tratores poderosos que arrastam, ento, toda a vegetao (incluindo rvores adultas) que em seguida ser queimada. A prtica ilegal e mesmo assim foi retomada. O Governo Federal, por sua vez, buscou costurar um acordo capaz de mediar o conflito entre o lobby ruralista e os deputados e setores ambientalistas; esse acordo foi alterado s pressas por parlamentares (incluindo o prprio Aldo Rebelo) e aprovado na Cmara no dia 24 de maio passado. 139
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O Governo da presidente Dilma Roussef tem compromissos ambientais internacionais e ser cobrado por isso, pois vai ser progressivamente difcil, na Europa, encontrar compradores e/ou consumidores de produtos brasileiros s custas da devastao ambiental e manchado com o sangue do campo; e aqui temos outra questo gravssima, denunciada pela Confederao Nacional dos Bispos do Brasil: a CNBB enviou ao Governo uma lista contendo o nome de mais de 1.800 trabalhadores rurais ameaados de morte por latifundirios e madeireiros por lutarem contra os desmandos do campo, o que inclui o desmatamento ilegal, a grilagem de terras indgenas e de quilombolas, o trabalho escravo, a contaminao do solo e da gua e o solapamento de nascentes e apropriao de APPs fluviais, entre outras prticas perniciosas - um corolrio de crimes socioambientais, perfeitamente qualificveis no termo da Lei. A ministra-chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Governo Federal, Maria do Rosrio, assumiu publicamente a impossibilidade de o Estado garantir a vida dessas pessoas ameaadas, pois,segundo suas palavras, seria necessrio destacar um contingente razovel de policiais (na proporo de 8 para uma pessoa); pouco depois dessa sua declarao na mdia televisiva, mais um trabalhador foi morto o Sr. Adelino Ramos, lder de movimento campons e sobrevivente do chamado massacre de Corumbiara, assassinado em Porto Velho (RO) por denunciar os crimes de corte e exportao ilegal de madeira na Amaznia; dias antes, os extrativistas Jos Cladio Ribeiro da Silva e Maria do Esprito Santo da Silva foram tambm executados por motivos similares. Desde Chico Mendes (morto em 1988), passando pela irm Dorothy Stang (2005) vrios trabalhadores e defensores dos recursos e povos da floresta j foram assassinados pelos mesmos motivos. A questo envolvendo o campo , portanto, agrcola e agrria ; no h como aprofundar o assunto sem fazer essas relaes. A sensao de insegurana no campo a mesma nas cidades territrios onde o Estado no chega e para cujos dramas sociais (e fundirios) no d respostas; um sentimento de desamparo , de terra sem lei e de guerra (mais do que luta) de classes na origem do problema. Adicione-se, assim, ao drama do campo, o das cidades. Com o avano sobre a base biofsica dessa forma inconseqente, repetem-se anualmente catstrofes como (s para falar de 2011) a das Serras Fluminenses (que ocuparam vertentes), da metrpole paulistana (que impermeabilizou o solo urbano) e da cidade do Recife (que aterrou seus mangues), como se estivssemos diante de uma espcie de crnica da morte anunciada perdas humanas e materiais se repetem anualmente em vrias cidades do territrio nacional, como tem sido amplamente divulgado pela mdia aos brasileiros. 140
Com as cidades assentadas de maneira insustentvel sobre sua base natural evidente que o Cdigo precisa de um aprofundamento crtico capaz de fazer frente e dar respostas ao drama j consolidado habitao precria sobre APPs - mas, tambm o avano, ao largo da lei, do mercado imobilirio. A complexidade do assunto no meio urbano, que tem suas caractersticas prprias, demanda um aprofundamento crtico com vistas a segurar o que ainda resta e pensar em alternativas (de planejamento, projeto e gesto) para o que foi consolidado revelia do Cdigo ainda vigente, incluindo a possibilidade de compensaes ambientais e ajustes de conduta, aliando-se, por fim, uma reviso bastante crtica das polticas de habitao social no Brasil que, em ltima anlise, ampara-se em leis federais socialmente avanadas (como o Estatuto da Cidade) e uma prtica urbana anacrnica incapaz de atender a vicissitudes sociais e ambientais envolvidas. importante ressaltar, ainda, a atuao recente do Ministrio Pblico com relao ao assunto. No Seminrio referido, representantes do MP acenaram com a possibilidade de um ltimo recurso para vetar (caso as instncias prximas no o consigam) o texto da reforma do CF sob a constatao de que este ltimo fere a Constituio Brasileira. O parecer do MP, em seu site, claro e bastante representativo desse posicionamento merecendo ser consultado para que se entenda melhor essa perspectiva. Em tempo, (uma pequena reflexo sobre o tempo das coisas) O tempo da cincia. No processo de conflito na discusso do Cdigo, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC) e a Academia Brasileira de Cincia (ABC) elaboraram um documento bastante crtico e com base cientfica sobre o tema chamado O Cdigo Florestal e a Cincia contribuies para o dilogo, tornado pblico no site da SBPC; o documento, que tinha como objetivo subsidiar as discusses em torno das mudanas do CF foi fruto de um esforo acurado de Grupos de Trabalho que congregaram especialistas dos mais diversos campos do conhecimento, em um trabalho interdisciplinar e supra-ideolgico/partidrio; todos sabemos que o rigor requerido para a investigao cientfica demanda um tempo prprio a fim de se ter condies para o empreendimento da pesquisa, pautada por base confivel de dados, com a ampla considerao das variveis envolvidas e dos prs e contras para fundamentar as escolhas; diante da complexidade socioambiental do tema, a SBPC pediu a sociedade um perodo de dois anos a fim de congregar tcnicos, cientistas, acadmicos e a sociedade capazes de fazer frente envergadura desse trabalho. 141
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Nada mais sensato. A complexidade do assunto e o nmero de variveis envolvidas clamam por isso. Em 07 de maio passado, o Coletivo Curupira reuniu cerca de 350 pessoas e 50 entidades em um Seminrio Nacional sobre o Cdigo Florestal, encontro de representao plural onde ao longo do dia tcnicos, polticos e cidados debateram as motivaes e provveis conseqncias do substitutivo do deputado. Do seminrio resultou um manifesto em repdio ao substitutivo do deputado Rebello e com nfase na necessidade de se discutir com calma o assunto. Alternativas tcnicas viveis foram apresentadas pelas pesquisas de especialistas como o Engenheiro Florestal Prof. Dr. Paulo Kageyama (ESALQ-USP-Piracicaba), demonstrando a alta produtividade de certas culturas agrcolas, plantadas com rigorosos critrios em reas de Preservao Permanente, em um esforo conciliatrio entre natureza e apropriao humana e dentro da capacidade de suporte dos ecossistemas ribeiros; esse trabalho caminhou no esforo da superao de pressupostos radicais tanto quanto ao uso ou no de tais reas e de se uma abordagem agro-florestal ou no produtiva. A pesquisa e atuao profissional do professor e pesquisador do pistas para um entendimento mais abrangente desses ecossistemas e sinaliza para uma postura conciliatria, entretanto, sustentvel. O tempo da sociedade. E o povo brasileiro? O que acha disso tudo? Bem, a nao tem assistido entre um misto de apatia (o assunto no tem a ver comigo) e perplexidade (cidados comuns, movimentos sociais e organizaes no-governamentais e outros setores progressistas da sociedade) o bate-boca no Congresso, suas cenas deplorveis e acordos manipulativos e antidemocrticos, feitos s pressas. Por ocasio do Seminrio promovido pelo Coletivo Curupira, aventou-se a perspectiva democrtica de uma consulta populao. Nada mais justo e tico; a sociedade brasileira precisa se apropriar do espao pblico da discusso ampla e irrestrita; o que o povo pensa sobre o assunto, porm, ainda nebuloso. Entretanto, preciso trabalhar no sentido do acesso ao conhecimento, debater o assunto no apenas em fruns especializados, mas, nas escolas, nas universidades, no conjunto da sociedade como um todo e isso, evidentemente, demanda tempo; sim, pois se um plebiscito fosse realizado hoje, provavelmente teramos a trgica repetio do que ocorreu com o plebiscito das armas, onde o povo votou sob a gide do medo e da desinformao; com a campanha acirrada do lobby ruralista por meio da Grande Mdia, no acredito 142
que tivssemos um resultado fruto de uma conscincia ambiental compreensiva, ou pelo menos, minimamente informada e amadurecida no tempo. O Brasil que endossou e/ou votou favoravelmente ao substitutivo do referido deputado o Brasil do atraso social, da impunidade ao crime, mesmo quando explcito, do anacronismo ambiental; em ltima anlise est na contramo da Histria em um momento onde a humanidade j se deu conta de que de sua tica ambiental depende a sua sobrevivncia; acordos e protocolos internacionais, progressivamente, buscam (muitas vezes sob forte presso e notrias omisses) outros conceitos e polticas de desenvolvimento capazes de sustentar a vida no planeta. Dessa forma, vale a pena lembrar que toda a discusso tcnica e cientfica deve avanar no sentido da busca de uma tica maior que fundamente as escolhas e os encaminhamentos. A palavra Homem vem de Hmus (terra frtil), o que j sugere um campo reflexivo enorme capaz de promover essas conexes muitas vezes dormentes ou perdidas. Perguntas profundas e que dizem respeito aos nossos papis e caminhos no planeta Terra, portanto, tm que ser feitas. Nesse debate centrado em projetos de lei, talvez valha a pena lembrar as palavras do filsofo mineiro Maurcio Abdalla em seu brilhante livro O princpio da Cooperao- em busca de uma nova racionalidade; nesse trabalho em que discute a crise da natureza...e das relaes humanas de produo e sociabilidade clama por uma nova forma de ver o mundo e seus habitantes, fundamentada na ontologia da solidariedade como paradigma capaz de balizar a direo do nosso caminho no planeta: O ser humano s superou sua imanncia por ser um ser de projetos. Pro jacto significa lanar adiante. E o que nos faz um ser de projetos a pulso pela vida. Lutar por um cdigo florestal que celebre a vida deveria ser um projeto de todos ns. Para saber mais, recomendo visitar: http://4ccr.pgr.mpf.gov.br http://www.sbpcnet.org.br www.cnbb.org.br
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5. COMUNICADOS
NORMAS PARA APRESENTAO DE TRABALHOS A Revista LABVERDE, criada em 2010, um peridico cientfico eletrnico, semestral (abril e outubro), do Laboratrio LABVERDE, multidisciplinar, com foco em Paisagem e Sustentabilidade, atualmente estruturado em 9 reas: Planejamento Ambiental, Desenho Ambiental, Infraestrutura Verde, Arquitetura da Paisagem, Engenharia Ambiental, Certificao Verde, Ecologia Urbana, Floresta Urbana e Projeto Sustentvel. Normas para Apresentao de Trabalhos 1. O Conselho Editorial da Revista LABVERDE decidir quais artigos, ensaios, entrevistas, conferncias, debates, resenhas relatos de experincias e notas tcnicas sero publicadas, levando em conta a consistncia terica e a pertinncia do tema em conformidade com a linha editorial. 2. O Apresentao dos Trabalhos: Em mdia eletrnica (CD, DVD), utilizando o processador de texto WORD 6.0 ou superior, sem formatao, entrelinhas =1,5 margens =2,5. Nmero de pginas entre 10 e 25, incluindo, imagens, tabelas, grficos, referncias, etc. Dever conter entre 21.000 a 45.000 caracteres, incluindo o resumo, o abstract e a introduo. Devero ser entregues com o CD/DVD, trs cpias impressas do arquivo. O resumo e o abstract no devero ultrapassar 2.000 caracteres. 3. Os ttulos e os subttulos devero aparecer em maisculas, pois importante que no original fique clara a sua natureza. Tambm devero ser concisos e explcitos Quanto ao contedo tratado. Devero ser apresentadas, no mnimo 5 palavras-chave. 4. As contribuies devero ser acompanhadas da verso em lngua inglesa do ttulo, subttulo, resumo e palavras-chave. 5. Logo aps o ttulo, devem constar o nome do autor, sua qualificao, procedncia e endereo eletrnico. 6. As notas e referncias bibliogrficas devero ser agrupadas no final do texto e devidamente referenciadas.
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7. No sero aceitas reprodues de imagens publicadas em livros, revistas ou peridicos, sem a expressa autorizao do(s) autor(es) das mesmas. 8. Os textos assinados sero de inteira responsabilidade dos autores e no haver alterao de seu contedo sem prvia autorizao. 9. Os trabalhos devero ser entregues pelos autores com a autorizao expressa, cedendo o direito de publicao REVISTA LABVERDE. 10. Os editores se reservam o direito de no publicar artigos que, mesmo selecionados, no estejam rigorosamente de acordo com estas instrues. So Paulo, 21 de outubro de 2010
Profa. Dra. Maria de Assuno Ribeiro Franco Professora Titular Coordenadora do LABVERDE Editora da Revista LABVERDE
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Revista LABVERDE Junho - 2011 ISSN: 2179-2275

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5. COMUNICADOS 145 Normas para Apresentao de Trabalhos

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O Plo Cuesta um projeto de iniciativa da Secretaria de Turismo do Estado de So Paulo,

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Tabela 1: Evoluo das reas verdes no Municpio de So Paulo (KOHLER et al,

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sem a necessidade de desapropriaes.

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Figura 5: Proposta de ocupao diferenciada para a rea de aterros sanitrios desativados

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La Yamaguchi Dobbert 2 Larissa Leite Tosetti 3 Sabrina Mieko Viana

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Figura 4: a) e b) Antigas casas existentes ao lado da Estao Ferroviria 40

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