Abdanur, ElizabethFranca M
Abdanur, ElizabethFranca M
Abdanur, ElizabethFranca M
A .Bfl.ciiu .d.a R8.dio EscoJa se encarregaria da organizacao
de uma "estaoao transmissora destinada a irradiaoao diB.r ia da
.,
" cLt. "Aclo n. 96.1. . . op . p. 2!59
42
i.d.am, i.bi.dem. P. 2!:51>
43
..
ci.t. "Aclo n. 1146. . . op. p. 02-3
.,
ci.t. ""Acto n. O.:;it. . op. p.260
'11
hora do boletim de atos e instru98'es de inten:-Jsse
pUblico imedi..."'.to, de palestras, confert!lncias e cursos,
especialmente da Uni versidade de S.!io Paulo e de sess8'es
artisticas de car8.ter cultural e eduoativo." Serviria tambem a
divulgacao de pronunc1amentos politicos "remetidos pelo Gabinete
do Prefeito", a transmiss&o de palestras e confer8ncias "de
qualquer dos institutos univers.itci1ios de sa:o Paulo e de outras
a apresentaoao de "concertos e operadas realizados
noB teatros municipals. e no Conservat6rio Dramcitico e Musical. "
45
Anexa a RB.dio-Escola, funcionando como uma sub-divisB.o,
seria criada a Dl..scoteca llb_lj..fl.a tll..m..i...Qipal para servir aos
"programas diiirios de informao6es organizados pelo Servioo de
Publicidade ou pelo Departamento. "
46
Assim, as principals
atividades da Discoteca seriam: um serv.i90 de obras de
arte erudita .. tanto nacionais como estrangeiras, e oui:.r'o de arte
popular de interesse eetritamente folc16rico, especialmente
nacionB.l/
7
transmiss&es de discos da sua cole9tl"o, que sero
sempre acompa.nhados de breves comentlirios preliminares
explicativos,' de carcfter cultural"; proporcionar ao pUblico a
possibilldade de "consultas particulares", criando para isso urn
espaQO no edificio da Radio-Escola com cabinas; manter um servigb
de "grava.otro de discos, que constituiriio o museu da. palavra, com
discos de interesse civico, fixa9i1o da >;roz de homens pUblicos,
sem distin9o de credo politico, de artistas de estudos de
i.d,;jm, i.bi.dQ>m. p. 260
.6
i.dem, ibidS>m. p. 260
.7
.. Acto n. . .... op. oil. p. 93
72
fonetica e fixarci canr;:5es,. solos de instrumentos e
conjuntos orquestrais populares,.
nacional . .
bem como de arte erudita
Este Ultimo item das finalidades da Discoteca PUblica
I
sofreu algumas modificac5es no Ato 1.146 de 4 de julho de 1936.
Os discos gravados pela Discoteca constituiriam nao o "museu da
pa.lavra" mas o "arquivo da palavra ".
49
Esta mudanga sugere uma
redefinicB.o da finalidade dcsses discos produztdos. Urn museu se
caracteriza principalmente por sua finalidade educativa,
possuindo uma dinamica de divulgacao do seu acervo diversa
daquela do arquivo, que possui uma finalidade basicamente
instrumental. Nesta direc8.o, as gravac5es do "argvi vo da palavra"
nao seriam "de estudos de fonetica e sim "para estudos de
fonetica experimental'', precisando melhor a funoffo do
Departamento como produtor de material destinado a pesquisas na
area da linguagem. Houve ainda uma as gravag5es de
mUsica erudita que a Discoteca realizaria. Estas seriam apenas de
"mUsica erudi ta paulista" e nao de "miisica erudita nacional ". Por
fim, acrescentou-se um "servi90 de partituras orguest.rais e de
camara, que sirvam como objeto de estudo comparativo dos discos e
para as exacuof:5es musicals do Departamento ..
"Aclo n. 661. " op. ci.l. p. 262-9
49
"Acto n. H46 . .. " op. ci.l. p. B4
,
idem, ibidem. p. 04
73
11.2.2. Divis3o de Bibliotecas
Esta Divisao supervisionaria a Bilbioteca l"lunicipal e
as bibliotecas que seriam ainda criadas pela Prefeitura, como a
I
Biblioteca InfantiL as Bibliotecas Circulantes e as Bibliotecas
Populares. Sua finalidade seria "tamar todas as medidas ( ... )
para tornar as bibliotecas cada vez mais acess.iveis e Uteis ao
pUblico, que nelas deve encontra.t' um a1nbiente favordvel ds
1 t
' . t d
consu as e ao es u o.
Assim, a DivisB.o de Bibliotecas teria duas SegOes que
se encarregariam uma da parte t8cnica de classificacao,
catalogagB.o e fichamento dos livros e outra do expediente
(atendimento ao pUblico, limpeza, depOsito, encadernaoao e
conservaQo). E para garantir a qualidade desse servi90 pUblico,
a DivisB.o passaria a organizar anualmente urn cur so de
Biblioteconomia, inex,i_stente no BrasiL
52
A Biblioteca Infantil prevista ne. lei deveria ser um
oent:ro de atra9EtO e de oultura infantil ". Publicaria um "Jornal
das Crian9as ", concursos anuais de livros e
realizaria pesquisas sobre prefer8ncias de leitura das crian9as
frequntadoras dessa biblioteca.
53
Junto a Biblioteca Municipal, como uma secao especial,
seria criada uma "Bibliotece. Brasilie.ne. ",
54
constituida por urn
,,
..
dl. "'Aclo n.
""'
'
op.
P
265
52
cr. "Acto n. 361. op. dL p. "Acto n. U.46 .. op. ci.l.
p. 05
59
Aclo n. sea ... op. ci.t. p.
,.
i.dem, i.bide.m. p. 266
74
acervo especial de 1iv-cos sobre Hist6ria do BrasiL
Quanto its "Bibliotecas Pl.ib.Zicas Popula.res e I.nfantis de
. BJ.blioi:ecas Circulantes" mencionadas no Ato nQ 861 de 1935, elas
nao aparec8m no Ato nQ 1.146 de 1936. Os artigos 198 e 199 deste
Ultimo decreta substituem as "bibliotecas circv.lantes" por
"bibliotecas de pargues " e "bibliotecas populares ". As
"bibliotecas de parg_ues", segundo este Ato, deveriam facilitar "a
consul ta e lei tura dos freguentadores de jardins" e das ''pessoas
residentes em bairros afastados." As "bibliotecas populares ", por
sua vez, funcionariam. quase como um centro cultural porg_ue,
"local.izadas em bairros opertfrios, serf!f"o consi:i tuidas de um
servi9o de bibliografia, destinado a orientar o povo em suas
lei turas e de wn servii,"'!O cultural destinado a promove.r- cur.sos de
vulgarizar;o e conferenciaa e a formar assooiar;Des de oarBter
educative." Al:m disso, esses serviQoS estariam "articu.lados com
os da Discoteca, os da Rtfdio-Escola e os da Divis!Jo de
DocumeJ?ta9Bo Hist6rlca. e Social".
55
.
II. 2 .. 3. Di vis.\lo de Educat;ao e Rc-crei os
A origem desta Divisao e anterior a criaoao do
Departamento de Cultura. Em marco de 1934, atraves do Ato nQ 590,
a Prefeitura de sao Paulo criou uma Comissao de Recreios
M
' ' 1 '
6
0 ' ' bid t At n ~ c l p . recrelo e conce o nes e o como uma
,
"'Acto n. .'H.4.S . " op. oi-l. p. 96
>6
"Ato nil: 590 de 26 de mor<;:o de :199.C."", in; REV:LSTA DO
MUNICIPAL DE sJi.O PAU'LO, Oapa.:rta.manlo do Expadi.anl<l> o do
o.gosto/:1934., v. :I:I:I.
75
atividade
ARO.O:IVO
Passoal,
que proporciona as pessoas, 0 principalmente as oriancas,
beneficios marais e fisicos, sendo portanto uma atividade tao
necessaria quanta a educac.o escolar. Par outro lado, e atraves
do "reoreio Uti]", orientado e organizado pelos poderes pUbli.cos,
que se pode determinar a "maneira pe.la qual sfio empregadas as
horas de descanso dos ( . .. ) oidad!3:os ", fator importante na
constitui9Eio das "grandee forges marais e espirituais do pais.
Portanto, esta Comissao se encarregaria de "centralizar, promover
e ooordenar os problemas de recreio nos parg_ues,. jardins e
quaisquer logradouros piiblicos municipals", e tambem de
inqu8ritos sabre as necessidades de cada bairro e dc..1 populacfr."o em
geral, estabelecendo wn prpgrama de aoao e apresentando sugest6es
8. administrac,_fio municipal. ,;5?
Em janeiro de 1935, quando a organizacE.io do
Departamento de Cultura e de Recreayao jS. estava em andamento,
foi criado o Service Municipal de Jogos e Recreio
59
resultante do
trabalho da Comissao anteriormente mencionada. A Prefeitura cria
este Service com base na Constituicao Federal promulgada em 16 de
julho de 1934 que previa a "proter;:Bo de.s municipa.lidades ao
desenvqlvimento da cultura em geral e a manutenotro e ao
desenvolvime11to dos sistemas educativos. ,;5s:>
Os princicpios para a organizacao de urn service
municipal de lazer, ja estabelecidos no Ato 590 de 1934,
5?
idem, ibidem.
59
"Aclo n. 76?, 9 d& jane-iro de i.n; REVlSTA DO
MUNICIPAL DE SJiiO PAULO, D&pa.rla.monlo do Expedi.ent.G e do
fGtveri.ro/1!J35, v. :rx
!5J>i.dem, i.bi.dem.
' 76
ARO.UIVO
reaparecem neste Ato de 1935. Porem, a proposta de atua9ffo do
poder pUblico encont.ra-se mais definida. Ela visaria "despertar
JUts novas gerar;Oes o gosto e erial' o hlibi to de empregar seus
lazeres em atividades saudliveis de grande alcance moral e
higiJJi.co." Segundo seus idealizadores, "as atividades lUdicas"
t&m urn carB.ter social de grande relevanc.ia e consideram os
"grupos de jogos como um dos essenciais da vida
social, e a fonte dos primeiros ideals e impulsos socials, como a
a conmnicabilidade e a cooperar;fl'o .. IS Assim, o
lazer para as crianoas era ainda mais essencial que o lazer para
os adultos. Diz a lei que:
" ( . .. ) as praoae; de .jogos para crianr;as,
organizadas como meios da preservaQQQ social e
educacao tem eficazmente
em toda a parte pa1a a educao.?io higit3nica e
social das proporci onando-lhes
oportunidades e meios de recreaofio ao ar
estreitando o convivio de crianous de todac aa
classes sociais. ,,s1.
Por estas razOes, o novo servioo municipal daria maior
atenoao aos parques infantis. A organizaoao desses parques foi
entendida como prioritaria em funoao do papel que
cumprem como meios de prevenoao social junto as criancas pobres e
6.
1.dem, i.bi..d&m.
cu.. . b. d
tdGm, 1. t &rn.
77
filhas de operarios:
"( ... ) os parque:s de recre.io e de ,jogos
inspi.rados nesse ideal de promover o bem-estar
:
da infii.ncia que se desenvolve frequentemt;mt:e em
mcfs condi98ee higiBncias e marais, constituem,
sobretudo bairros pobres, um meio poderoso
h8.bitos, Y..i.tinn .e. criminalidade para ambientes
sauddveis e atraentes, reservados aos seus
divertimentos e exerccios, sob o controle dos
poderes pUblicos .. P"Z
Os parques infantis deveriam entao ser "instalados
preferencialmente nas proximidades de escolas .. de casas de
apartamento e nos bairros operririos." Para uma assist&ncia mais
eficiente, seus frequentadores periodiCamente seriam submetidos a
"inquBritos e pesguisas higi{!mcias, psico16gicas e socials." Como
atividadee culturais paralelas as atividades de esportc e lazer,
os parques promoveriam festas em "da tas como o dia do I'rabalho o
de Natal" que contribuiriam para a "educacao higienca e
estBtica das criancas", despertando tambem "o interesse das
1
.
f8J1Jilias por essB.s escola.s popule.res de ss.Ude e a egr.1a.
Os jogos teriam por finalidade "propagar a prtitica de
bringuedos e jogos nacionais? cuja as Cl'iancas j8.
d2
i.dem, i bi.dem.
63
ide-m, ibldem.
78
ou dia. a dia., d pe1der ( ... ) e promover a
prtftica de todos os Jogos que, pel a. experincia universal, foTem
dignos de se1 incorporados ao patrim6nio dos jogos inspirados nas
tradir;:Oes locai.s e nacionais." A educacao fisica, por sua vez,
seria oferecida somente de acordo com "as oportunidades que lhes
Pl'oporc.ionar o interesse das crian9as. ,.6"-
Quando o Departamento de Cultura foi criado, o Servioo
de Jogos e de Recreio. passou a ser uma de suas DivisOes, a
Divis8.o de Educacao e Recreios. De acordo com o Ato 861, esta
Divisao contaria com trs seoOes: Parques Infantis, Campos de
Atletismo, EstB.dio e Piscinas e Divertimentos PU.blicos. 0 Ato
1.146 modificou esta organizacEio e transformou a Secao de
Divertimentos PUblicos numa "Divistto de Turismo e
P
'bl ' " 6!'j
u .
A SecEiQ de. Paroues InfantiQ manteve praticament.e todas
as atribuic5es legais do antigo Service Municipal de Jogos e de
Recreio, sendo a organizaoao de Parques Infantis sua funcao
b&sica. Como se pode verificar a seguir, o destine desses parques
e seus objetivos foram definidos nos mesmos termos previstos por
aquele servioo:
"Os Pargues Infantis que se prop8"em a colabo:rar
oontribuir pa:ra a educa98o higitnica das
crian9as, serao conatituidoa e instala.dos,
"'
1..dem, i.bi.dam.
65
"Acto n. 1.f.4d . .. " op. ci.L p. P!5
79
'
nos bairros na.s
p:roximidades de escolas e casas de
t t
,,6
apa:r,a:men os.
Chamados de "instituioOes extra-escolares", os parques
funcionariam como complemento a educacao oferecida nas escolas
pUblicas para as crianoas pobres. Nestes locais, instrutores de
e educadoras sanit8.:r.'ias coordenariam atividades
recreat,ivas "titeis e atraentes ". As crJancas frequentadoras
receberiam, ainda, acsiStencia medica e dentriria. Desta maneira,
os parques cumpririam seus objetivos essenciais, quais sejam:
"( ... )zelar pela saiide das formar a
sanitciria das crian9as, estudar as
cr ian9as sob o J?Onto de vista
psiguico .e. social e orientar as atividades
recreativas da velando po.r ela, sem
lhe perturbar ou amea9ar a liberdade e a
espontaneidade no brinquedo. ,,:n
Os cargos de instrutor e educador sanitaria para os
Parques Infantis seriam exercidos respectivamente por diplomados
pela Escola Normal do Estado e pelo Institute de Higiene de Sgo
Paulo atraves de "concurso de provas e titulos ". Os titulos
considerados seriam apenas aquciles obtidos no Centro de Educacao
66
""Acto n. aot. " op. c\.t.
P
267
6?
"
oit. ""Aoto n. :U4d. . . op.
P
80
Fisica do Ex8rcito, no Departamento de Educagao Fisica do Estado,
no Institute de Higiene, no Institute Nacional de MUsica "ou
J.nsti tutos congeneres oficia.liza.dos" e cl.inda no "Cul'BO de
Psicologia da Crianoa e Pedagogia Especializada do Departamento
de Cultura ".
69
Podemos ver portanto que o Departamento de Cultura
previa a organizaoao de urn curso de especializaoao em Psicologia
visando a forma9ao dos instrutores para os Pargues.
A 16m das atividades recreativas, OS parques
desenvolveriam atividades artisticas e culturais. As criancas
seriam tomadas como informantes na realiza9Eio de ''pesquisas
Iolc16ricas". Para isto, as educadoras deveriam registrar suas
"tradi96es de costumes, supersti96es, adivinhc1s, parlendas,
hist6rias, canc6eo, bringuedos etc .. " Depois, "os resultados
desses ingueritos.. devidamente selecionadoa .. organizados e
catalogados em seo6es distintas, (seriam) publicados na Revista
d A
. ,fS'!>
o rqu.I vo.
Esses registros de tradic5es folcl6ricas serviriam para
a organizacao das pr6prias atividades culturais nos parques. A
partir deles, as crianca.s seriam instruidas com "brinquedos e
jogos nacionais cuja tradioifo as criangas jti perderam ou tendem
dia a dia a perder ou jogos gue, pel a. experiencia universal,
forem dignos de incorporaoEio ao patrim6nio doe inspirados nas
tradiyf5es nacionais. '
7
Assim, os "festivals infantis" que
aconteceriam em datas civicas ou religiosas contribuiriam para a
68
idem, ibidem. p. Pf.
69 ..
1.dam, ibidam. p. ee
. . .
"Aclo n. ~ f _ ... " op. c1.l. p. 271.
81
71
"educayfio moral e estetica dc.'1.S crlaw;:as. "
Assim como OS Pargues Infantis, OS locais destinados a
pratica de esportes se localizariam "sohcetudo em balrros
opercirios" e seriam freguentados por adolescentes
1
e adultos. A
finalidade principal desses lugares era a de propiciar ambiente
adequado "para exezcicios fisicos ao ar livre", afastando dos
"ambientes improdutivos au prejudic"iais os operlizios em folga no
_tempo disponivel que lhes faculta o regime de trabalho. "
72
Assim,
enquanto os Parques Infantis foram planejados como urn complemento
na educacao escolar das criancas pobres, as prayas de esporte se
destinariam a ocupacao do tempo livre dos trabalhadores adultos
ou adolescentes.
Os campos de atletismo, logo que fossem instalados,
deveriam ser "frangueados ao piiblioo e entregues a guarda e
direco de uma comissao constituida de adolescentes e adultcs dos
bairros em gue estiverem localizados. "A comissao seria presidida
por um "instrutor de educacil'o f.isica, esportes e atletismo" que
teria "tantos auxiliares quantos necessBrios para que as
atividades gincisticas, esportivas e atlet;icas se realizem sob a
For fim, projetava-se a construr;:ao de urn Estcidio com o
objetivo de possibilitar "a realiza9Efo de competic6es,
campeonatos, demonstrac5es ou torneios esportivos ou at16ticos
nacionais ou internacionais, e ( ... ) autol'izacao do Prefeito, de
71
"Acto n. U.4-6 . ... " op. ci.t. p. 99
72
"Acto n. 96J.. .. op. cit. p. 272
73
i.da-m, p. 272-9
82
' ,.74
grandee solenldades na cidade de sao Paulo.
No que se refere a Divertjmentos llbliQQa, o
Ato 861, retirando este serviQo da Diretoria de Policia
Administrative, caracterizou essas atividades como "culturais".
Assim, determinou como fun96es desta SeQ8o:
"a} e estimular todos OS
divertimentos pUblicae inspirados na tradioffo
do pais e quaisguer outros gue possam
interessar B popula9.!i0;
b) ( ... ) vulgarizar e tornar mais acessiveis e
atraentes as festejos as festas
de sao Jo.!io e outras de interesse etnol6gico,
foc16rico ou popular. "
7
!:>
.0 trabalho de fiscalizaQao dos divertimentos pUblicos
foi Y.egulamentado pelo Ato 1.004 de 24 de janeiro de 1936. Entre
outras obrigac6es, as casas de recreacao deveriam se registrar na
Prefeitura e "usar a idioma nacional nos . seus livros, atas ..
regulamentos, avisos, programas .. convites e
dooumentos do seu expediente. " A permissao para o funcionamento
de qualguer estabelecimento de diversao esta.ria submetida a uma
vistoria previa que examinasse as suas condicOes de
74
i.dam, ibide-m. p. 2"?3
70 .
i.d<>"m, i.bid..,.m. p. 274
83
comodldade e conforto .. :us
As casas noturnas nao poderiam ser' fre'-:J.uentadas por
menores de 18 anos. Exigia-se, ainda, "n&"o haver IlO
estabelecimento dormi t6rio ou compartimento fechado" e que este
apresentasse "rigoroso asselo lntel'no e t
.. 77
ex erno . Quante aos
teatros e cinemas, os artigas 23 e 24 estabelecem novas
restric5es:
"Nos teatros, uma vez .iniciado o espetliculo,
nifo sera permitido o ingresso de espectado.!es
na plat6ia, balc5es, vu.randas e galeria, a nEro
ser entre um ou outro ato ou ntlmero. E
expressamente proibldo, nos teatros e cinemas,
de localidades nBo reservar lugares
com chapeus ou gualguer objeto antes do inicio
,;;>a
do espetaculo ou sessao.
!!.2.4. de e Social
Esta DivisB.o foi organizada a partir do "Servi9o de
Documentos Antigos do Departamento do Expediente e do Pessoal" jB.
em funcionamento na Prefeitura. Primeiramente, esta DivisB.o seria
76
idem, ibi.dam.
77
i.d&m, i.bi.dt.m.
7B.d ..
&m, \.l:;n.d&m.
84
composta par duas secOes: a Secao de Documentac&o Hist6rica e a
Secao de "Documentacao Social.
70
Posteriormente seria criada uma
. terceira Secao, a Secao Grcifica. Depois, o Ato 1.146 transformou
as duas primeiras sec5es em sub-divis5es, atribuindo a elas maier
independncia entre si.
0
A deveria
"recolher, restaurar e conservar os documentos aJJtigos.. de
carciter hist6rico, pondo-os em condi96es de serem consultados e
publioados. " Urn "doovmento ani;igo seria todo aquele "existente
no arguivo municipal de trinta e um anos para trB.s". A
Sub-DivisB.o promoveria tamb&m "concurso sobre assunto hist61'ico ".
Os trabalhos premiados depois publicados na Eevista dQ
ArgnivQ, agora 6rgao oficial do Departamento de Cultura e de
Recreacao e cuja publicacao ficaria a cargo desta Sub-DivisB:o. A
Sub-Divisao se responsabilizaria ainda pela cria96o e manuten9ao
do "Museu da Cide.de de sao Paulo", O.i
A Documentacao Social seria urn 6rg&o de
pesquisas socials destinadas a auxiliar todos os setores da
administracao municipal. Sua finalidade seria realizar 0
"leVe.ntamento das s.i tua90es socials, econ6micas, comerciais,
industrials e agricolas do municipio, coligindo e publicando
mapas, dados estatisticos, esguemas grBficos gve permitam o
conhecimento da si tuaciJo do de,genvolvimento do municipio em todos
?P .
Cf. -:Acto n. 8Ci.i. . ': op. c1..t.. p. Z75-6
"
cf. ':Acto n. "-:1.46 . "' op. ci.t.. p. 92
. d .b. d
&m, 1.. L &m. p. 92-9
85
os cmnpos de atlvidade. ,.8
2
Avaliar a situac5o do mercado de trabalho na cidade
seria tambem uma de suas func5es. Isto seria feito atraves da
realizacS.o de "inquBritos no meio social sobre as atividades e
ocupa96es dominantes, niime.l"O e aptid6es dos A
partir desses dados a Sub-Divisao deveria processar urn "estudo
dos meios que lhes assegurem nova reclassificar;ifo do ponto de
vista social, inte.lectual e moral." Paralelamente, a
Sub-divis&o realizaria tambem "inguBri tos e pesquisas sabre
padr6es de vida em Sao Paulo e especialmente sabre padr6es de
vida d8. fam.ilia operB.ri8., p8.ra estudo e solw;:ao racional dos
problemas relatives a prod1198.'o e ao cw3to dos v.iveres, aos
trcmsportes, a ass_istencia, ao cooperativismo, as habita90es
coletivas etc.
3
Quanta a Sec8o Gr.af.i..Q..a, ela se estruturaria a partir de
uma resolucao do Ato 861 que subordinou a "oficina de
e repal'aoo de papeis e livros do Departamento do
a Divis&o de Documenta98.0 Hist6rica e Social. Est a
oficina, quecontava com "um mestre encadernador, um encadernador
e dais oficiais", deu origem a Secao Grci.fica daquela Divisao
atraves do Ato 1.001 de 11 de janeiro de 1936.
95
Por este A to,
aumentou-se para 22 o nUmero de funcionci.rios da antiga oficina)
BZ
i.de>m, i.bi.dam. p.
03,
1.dam, i.bidem. p.""
..
"Acto n. aa.t. . op.
0!5"Acto n. .tt>O.{, de
ARQ.UIVO MUNICIPAL,
ci.t. p. 277-a
de ja.n&i.ro
Doparta.manlo do
ja.nai.ro/1.!.:>36, v. X:IX. p. a:to-.ta
86
d&
Cuttura. a
i.n:
do
REV:J:S:TA. DO
Rocraa.ce:to.
sendo contratados "escJ:iturcirios, impressor, tip6grafo paginador,
linotipista, mecfi.nioo, impressor de Minerva .. pautador, tirador de
provas, mest1e encadernador, dourador etc.". Estes dados indicam
o alargamento das funo6es da nova Secao, que passaria a executar
tamb6m os trabalhos de encadernacao da Divisao de Bibliotecas
antes feito em oficina prOpria, como tambem os trabalhos graficos
da Secao de Documentaoao Hist6rica e da ReviSta ArguiyQ
M
' ' l 66
UOlClpa.
!!.2.5. de e DivertimenLos PUblicos
Antes de se constituir como uma "Divis.?io de Turismo e
Divertimentos Pilblicos", tal como decreta o Ato 1.146, o turismo
e os divertimentos pUblicos, de acordo com o Ato 861, seriam uma
Seoao da Divisao de Educaoao e Recreios do Departamento de
Cultura. Esta Secao, como vimos anteriormente, originou-se do
antigo "Servioo de Divertimentos PU.blicos da Diretoria de Policia
Administrativa ". Depois disso, e incorp6rando o turismo ao
. -
conjunto de suas atribuio6es, tornou-se uma Divisao do
Departamento de Cultura.
97
Assim, ao turismo atribuiu-se tamb8m urn
car8.ter ''cultural''. Atraves de sua organizacao, a adm.inistracao
municipal poderia divulgar seus trabalhos na area de preservacao
do patrim6nio hist6rico e artistico da cidade. A Divisao teria
66
d .b.d
\. ern, \. \. am.
B?
Cf. "Aclo fl. 96J. .. " op. cil. p. 273-4 e '"Acto fl. J.J.46 ....
op.
ci.l. p.
81
duas Se90es.
A Turismo tomaria as provid&ncias necessaries
ao desenvolvimento do turismo na cidade de sao Paulo. Para isto,
faria propagandas em todo o pais e no exterior para que a cidade
se tornasse mais conhecida. Organizaria tambm
"exposi98e.s
anuais" e promoveria "certames de toda espcie" para atrair
visi tantes. Proj etava-se tamb8m a "instalag/!io na cidade de S!io
Paulo de um restaurante destinado a estilizar a culinciria
brasileira e a fazer a propaganda dos produtos e gineros
alimenticios nacionais. Para isto, a Divisao entraria
entendimento com tecnicos de competencia not6ria"
realizacao dos "estudos ,.ae
para
"em
a
A DiyertimalltQa PUblicos, al8m do trabalho de
fiscalizacao dessas atividades antes feito pela Policia
Administrativa, teria atribui90es mais amplas. Vimos que uma
preocupacao da administracao municipal era organizar e estimular
"todos. os divertimentos pUblicos na tradi9Eio nacional
e quai.squer outros gue possam interessar a populac/!io. Assim, OS
divertimentoe pUblicos seriam utilizados como meios de
preservacao da "tradicB.o nacional", servindo a divulgacao das
manifesta90es cul turais consideradas como popule_res. A Se9ao
caberia ainda promover "concursos p11blicos de planos de
de cartazes de propaganda, de festividades populares e
tradicionais e de corsos, cord5es, bailados e fogos de artifici.o
nas festas de interesse etno16gico ou popular . .
BB
"Acto n. U.46 . .. " op. ci.l. p. !>6-?
89
idem, ibidem. p. r>6
BB
IIw3. Cultura. lazer e a cidade sem
Coube a Rubens Borba de Moraes, integrante do movimento
modernista da dcada de vinte, a chefia da Diyis&Q Bjbliotecas
1
do Departamento de Cultura. Nesta epoca, Rubens Borba de Moraes
era urn funcionario da Recebedoria de Rendas e havia morado na
Europa
2
enos Estados Unidos, onde estudou Biblioteconomia.
9
Como
vimos na analise da legislacao municipal que criou e organizou o
Departamento de Culture, todo o trabalho da Divisao de
Bibliotecas se estruturaria a partir da Biblioteca Municipal ja
existente em Sao Paulo. Assim, a primeira provid8ncia tomada por
esta Divis&o foi ampliar o acervo desta Biblioteca. Seus
organizadores entendiam ser esta a primeira condicao para que a
Divisao de Bibliotecas pudesse proporcionar a qualquer paulistano
o acesso a leitura:
"( . liVl'OB novas eram adquiroidos as
oentenas, pois no ano da funda9ii'o do
Depc:rtamento de Cultura, a ver-ba de compra de
livr'os passara de 50 a 200 cantos anuais. Essa
1
Quando f oi. criado
entregue ct Eurico
Municipal
DlDLlOTECA
(:1.926-19'51>
inaugurada.
MUNJ:CJ:PAL
breve
0 n ... partamento de
de Ooes, pri.m&il'o
em 1.926. cr.
DE SAO PAULO;
.,abos:o hiat6ri.co .
Cul.tura, ;;.eta chefi.a foi.
di.r.,.tor da Dibtioteca.
NEORA.O, Moy Brooking.
do cri.o.9ao a consol.i.da9ao
Eacola de Comunica<;l'io
Arlee, Universi.dade de-
P !:15
Sdo Paulo, f.993. Dieaerta<;Cl.O de
2
Cf. DUA!l.TE, Paulo. MAIHO DE AND!l.ADE . op. ci:. p.?9
9
cr. "0 De-partamento de Culture.: urn sonho quo nao
rea.tizou
comptata.me-nte" op. cit. p. 1.6
89
verba no tJ.ltimo orcament:o organizado pel a
adminiatraco FB.bio Prado era de BOO cantos de
,(1.
Os livros adquiridos pelo Departamento de Cultura
expressam ainda a intencao de seus responsaveis de enriquecer o
acervo da Biblioteca Municipal cant livros brasileiros ou sabre o
Brasil. ColecOes particulares desta natureza forarn consideradas
extremamente valiosas e sua transferencia para as bibliotecas
pUblicas tornou-se uma preocupacao constante da Divisao de
Bibl iot-ecas:
. .
" ( . .. } tomou-se o compromisso de nifo deixar que
recidivasse em Sao Paulo o crime de se
dispersarem bibliotecaS valiosas como as de
Eduardo Prado ou de Alfredo Pujol au de Estev.:o
de Almeida
7
desapareciddas devido a desidia dos
governos. Foi pela Biblioteoa Municipal que a
Universidade p6de obter a Hiblioteca Lamego
comprada pelo governo Sales Oliveira.. ,p
Logo ap6s a criacao do Departamento de Cultura, a
Divisao de Bibliotecas elaborou urn projeto para que a Prefeitura
4-DUARTE, Pa.ulo. MARIO DE ANDRADE. , , op. p. aO-t
5 .
idem. i p. ?3
90
de Sao Paulo adquirisse a biblioteca particular de Felix Pacheco,
urn colecionador de livros raros sobre Hist6ria do Brasil, e
depois a de Batista Pereira. Com estas aquisicOes, deu-se inicio
a "biblioteca brasiliana" da Biblioteca Municipal prevista na
I
legislaoao. Em 1937, o Departamento de Cultura adguiriu ainda uma
grande colecao de obras e manuscritos de Rui Barbosa, como
noticiaram varies
6
jornais.
0 projeto de criacao da Biblioteca Infantil foi tamb&m
logoimplementado. Esta biblioteca, anexa a Biblioteca Municipal,
teve inicio com a incorporacao ao Departamento de Cultura da
Biblioteca Infantil do Institute Caetano de Campos organizada
pela professora Lenira Fracarolli em 1933. Esta biblioteca foi
entao transferida para um pr&dio da R. Major Sert6rio em abril. de
1936. As instalac5es do predio incluiam salas de leitura, sala de
livros e revistas e salao de festas e jogos. Ali eram promovidos
concursos anuais de l_ivros para criancas, concur-sos de desenhos
infantis e editava-se urn jornalzinho dirigido por um grupo de
crianoas que frequentavam a Biblioteca. Foi na Biblioteca
Infantil que se iniciou o. empr&stimo domiciliar de livros.
7
No dia da inauguraoao da Biblioteca Infantil, o jornal
Gazeta publicou um artigo contrario a politica do Departamento de
Oovarno do sao Pa.uto o.dqui.ri.u 09 mo.nuecri.tos
Bi.bltotaca.
do
da
do
Rui. BarboJi>a
Eeto. pr'eci.oea. coteqa.o i.r6.
ca.pi.ta.l bandaira.nte"', CORREIO
"Quinz..- mit aul6grafoa para
NOLTE, Sdo Paulo, 9/3/1937. (Cf.
Ano da do. s.qO.o
""M6.rio de-
7
cr. NEORAO, May. op.
da
ci.t.
a
NOJ:T:E,
Bi.bUot>ca.
Li.vro
p. 62
91
do
Ro.ra.Q
Prafei.turo. do
Ri.o Ja.ne-iro.0/9/i937;
Muni.ci.pa.L", FOLHA PA
Recorte-e da
da Bi.bti.olaco
Jorno.i.a
Municipal
Cultura alegando ser esta biblioteca "mais wna c1iaoifo indt.il"
desse Departamento porque ela nao poderia as
necesaidades a que se dest.ina ,
9
alem de onere_r OS cofres da
Prefeitura de Sao Paulo. Segundo o texto, as crianoas filhas de
operarios nao poderiam frequenter a nova Biblioteca porque suas
maes, trabalhando 0 dia todo, nao poderiam conduzi-las ate o
centro da cidade. Por outro lado, as crianoas ricas nao
necessitam dos poderes pUblicos porque tern os livros em suas
pr6prias casas. 0 artigo conclui que a Biblioteca Infantil em
nada contribuiria para resolver os graves problemas sociais dos
operarios de sao Paulo nao tendo nenhum resultado pratico no
combate ao comunismo. Portanto, o jornal faz urn apelo em defesa
das formas tradicionais de assistncia social:
"NBo e dessa forma que se deve desenvolver a
campanha anti-extremista. Se e desejo do conde
F8bio Prado prestar assistenciB moral e
ctlltural aos filhos do porque no
envlar as crian9as ao "ninho" da condessa
Crespi, cujas instala96es adeguadas se prestam
a esse fim? .P
0 jornal vai mais longe na sua critica a Prefeitura
.. Mo.is uma i.no.ti.l do Departam&nto Cultura.", OAZETA,
(Cf. Racorl&9 de jornais do Paulo
92
Municipal, apontando as gastos excessivos como prejudiciais a
economia paulista:
."Se o pro,jeto for levado a frente, nababesoas
despesaa surgiro dentro em pouco. Pa.ra
cobri-las o tiho administrativo do conde F8bio
Prado recorrerB a vAlvula conhecedissima:
criara novas impastos e onerara OS
existentes .. obrigando a nossa indUstria e o
nosso comercio a emigrar sem perda de tempo. ,;.
Mas a Biblioteca Infantil parece nao ter seguido o
destine previsto pelo jornal. A frequencia de criancas no ano
de 1936 foi de 25.547 e todas as atividades previstas
iniciadas: projecao de filmes, palestras, festas, jogos e a
realizacao do jornal das criancas e dos concursos de obras
infanto-juvenis . .u. 0 sucesso das bib.liotecas do Departamento de
Cultura foi assim explicado par Rubens Borba de Moraes:
"Como ve, a nossa missao e s8tisfazer 0
..
ptiblico. Este guer l r ~ e a n6s compete atender
a essa exigi3ncia. Em toX'no disso ali8s# e gue
se resume o JJoaso programa: fornecer o B.limento
'
tdem. i.bi.dem.
"
Cf. NEORAO, Ma.y B. op. ci.t. p. 62
93
espi.J:l tue.l e.o pe.uli.stano. ,,1
2
Segundo Rubens Borba de Moraes, ao assumir a Divisgo de
Bibliotecas ele partiu do principia de que
1
as bibliotecas
pUblicae devem ser tantas quanta exige o ritmo de:crescimento das
cidades. Segundo ele, sgo Paulo j8. era na epoca uma cidade muito
grande e as bibliotecas pUblicas praticamente inexistiam ali.
Portanto, a Divisao de Bibliotecas deveria cobrir est a
deficiencia da cidade:
"0 meu plana era, em dez anos fazer dez
bibliotecas em Sao Paulo. ( ... )Sao Paulo teria
dez bibliotecas de bairro. ( ... ) A Biblioteca
da Rua Consola9ao seJ:ia uma biblioteca central.
Seria uma biblioteca de estudo e consulta.
( . .. ) E cl: medida gue sao Paulo fosse
expandindo, ento iam se criando outJ:as. ''
3
Na perspectiva do Departamento de Cultura, as
bibliotecas pUblicas deveriam ser planejadas de acordo com o
perfil da populaoao do bairro onde seria instalada. A condioao
social dos moradores, a nacionalidade predominante, o nUmero de
<2
"Marcou um recorde
de sao Paulo
brasileiro
em 1.936"
1
a frequ&ncia lie bi.blioteca.s
D:IARJ:O DA NO:ITE, sao Pa.ulo,
:l/2:/1.99?. Livro de Racorlas de Jornaie Ano d.a do.
se;;oao de Obr-aa Rara.a <'!"'
<3
Diblioleca Municipal "M<'i.ri..o d<> Andra.d.&">
"0" P&partamen(o de cultura.: um aonho que ndo
complalamento. op. cil. p.
94
realizou
estudantes e de n8.o-estudantes, todos esses dados permitiriam
definir o tipo de acervo e os servicos gue-seriam prestados pela
bibiloteca aos seus freguentadores:
"E havia par que teriBJJJ
bibliotecas enormes. A malar estava prevista na
116oca
1
que nag_uele tempo era o bairro opel'tfrio
de SB."o uma concentraoBo habi tacional
enoz'me. ( ... } Agora, oonforme o bairro
biblioteca teria a sua caracteristica. ( . .. }
For exemplo, em oertos bairros onde havia muitQ
haveria multo livro itallano. Bairro
onde havia multo espanhol, multo livro
espanhol, bairro onde havia mui to turco, havia
1 i
,_ ..
vro turco tamDem.
Alem das bibliotecas de bairro, a DivisB.o de
Bibliotecas organizar o empr8stimo de livros nas
fabricas, atraves dos sindicatos. De acordo com Rubens Borba de
Moraes, esta era uma experiEmcia bem sucedi_da. nos Estados Unidos.
Ele p6de conhecer algumas dessa bibliotecas de fabrica em
Indianapolis, uma cidade industrial do tamanho de Sao Paulo, e
tambem em Cleveland. Diante dessas experiencias, o chefe da
Divis8o de Bibliotecas achou que o projeto poderia ser tambem
desenvolvido em Sao Paulo:
... d
t. em. p. tO-P
95
"Porgue a minha inten9o era ( . .. ) fazer o
servi9o de leitura circulante naa f<ibricas
( ... ). 0 sindicato recebe os empresta
I
aos operBrios e de 15 em 15 dias, au de em
' d ,,5
mes, nm a-se o estoque.
As bibliotecas de bairro nao chegaram a ser construidas
neste periodo analisado, mas "a localiza9Eio e ate plantas das
bibliotecas de bairro eiClJavam-ae j<i em andamento. ''
6
Segundo
Rubens Borba de Moraes, a id8ia das bibliotecas circulantes nos
parques, jardins pUblicae e nas fAbricas foi multo criticada.
Houve uma grande reacao contraria ao projeto. Diziam que era urn
desperdicio de dinheiro pUblico pel a impossibilidade de
conservaoao dos livros nessas condicOes de emprGstimo. As
bibliotecas de fAbrica nem chegaram a funcionar, mas as
bl.lbiotecas circulantes dos parg_ues funcionaram par alguns meses.
Os livroB ficavam na carroceria de um caminhS.o estacionado num
jardim pUblico. As pessoas que estivessem por ali poderiam
escolher urn livro para ser lido no prOprio .jardim:
"Coisa inteiramente nova no
Biblioteca PUblica Circulante. ( . .. ) Ela
uma semana no jard}m da Luz, outra
<5
idom. p. i-6
16
DUARTE, Po.uto. MARJ:O DE ANDRADE . op. cil. p. ?-4.
96
semana na Pra9a da a seguir no
Parque Pedro e assim par de
preferencia nos bairros
facilitando a todos a leitura de
escolhidas obras .. !-?
variadas e
I
Outra projeto realizado pela Divisao de Bibliotecas foi
a criacao de uma Escola de Biblioteconomia em sao Paulo
destinada a capacitacao tecnica de funcionci.rios para as
bibliotecas pUblicas tanto de Sao Paulo quanta do resto do pais_
Era o primeiro curse de Biblioteconomia no Brasil que, a partir
de 1935, funcionou junto a Escola Livre de Sociologia e Politica
'de Sao Paulo. Com apoio financeiro da Fundacao Rockfeller, o
curso foi oferecido a uma primeira turma de 200 alunos. A duracao
do curso era de um ano e ele se compunha de quatro disciplinas:
Catalogaoao e Classificacao, Hist6ria do Livre, Bibliografia
Hist6rica Brasileira Bibliografia Geral.
18
Visando ainda a regulamentacao do profissional de
Bibliotecas, o Departamento de Cultura criou um Conselho
Bibliotecario do Estado de Sao Paulo. A id8ia central era de que
s6 um sistema de leis poderia ordenar a criacao e o funcionamento
das bibliotecas em todo o Estado de maneira eficiente. No dia 5
<7
FOLHA DE MINAS, Hori.:zonte, 7/02/:1.:937. <Li.vro de
Jol'nai..a Ano d& :tPB'7 da de Obl'a<a
Murtici.pa.t "M6.ri.o d,;a- Andra.d&")
'"
cf. o Doa.prta.mant-. d<l' cuU.ura: urn aonho
comptato.manlcy"" op cit. p. 20 & "Nolici..6.ri..o,
MUNICIPAL, <1.03'7, vol. XXXIV, p. 200-P
97
que nao
REVISTA
Recol'les de
da
DO
Di..bliot&ca
re-a.li2ou
AROUIVO
de janeiro de 1937, a Assemblia Legislativa aprovou a lei de
bibliotecas apresentada pelo deputado Paulo
19
Duarte. Numa
entrevista, Rubens Borba de Moraes lembrou que o Conselho
Bibliotec.irio "estabeleceu 1egras e concei eepecialmente
sabre guest5es tecnioae", e publicou um "manual Simplificado de
oate.logacii'o que foi distribuido pa1a a.s biblioteoas do interio1."
Segundo ele, a repercussao do manual foi multo grande e este
passou a ser "adotado e utilizado em todo o Bra.eil. ,7-
A lei de bibliotecas aprovada pel a Assemblia
Legislativa visou "racionalizar" o sistema bibliotecri.rio: definiu
aS atribuiQ5es do Estado e dos Municipios, criou mecanismos de
controle para aquisicBo de livros e peri6dicos e para o
fornecimento de apoio tecnico a todas as bibliotecas do Estado.
A Divisao de Bibliotecas iniciou ainda o projeto de
construQo da nova sede da Biblioteca Municipal. 0 projeto chegou
a ser anu.nciado como mais uma obra da administraoao de Fabio
Prado que a testa o "progresso" da cidade. z:t 0 novo edlficio foi
tornado como urn simbolo do pioneirismo de sao Paulo na
modernizacao do sistema de bibliotecas pUblicas, marcado pela
'9
Cf. REVISTA DO ARO.U'IVO MUNlCIPAL. !l_pg?, vol. ){){){ll.
2
NEoRAo. May. op. cit. p. !59
2
:1--sao Pa.ul.o possuir6. a. mo.is moderna. bibl.iol&co. da Am4-rica. do
Sul"', FOLHA DA NOJ:TE, Sao Paulo, 4/9/:l:s:>g?; "'0 que e&r6. a
Bibl.iot&ca Municipal de sao Paulo No aau gtnero lornar-sa-6. o
malo!" adiftcio construtdo no. Latina", A Fli:DERA9AO, Porto
Alegre, 4/D/:1937; Bi.bli.ollitca Muni.ci.pol de sao Paulo
de um monume-nf.at edi.ftci.o po.ra a suo. aede", JORNAL
Rio de Jo.neiro, 3/0/!1.93?.
98
DO
cons;ltU<;;:ao
COMJl:RCJ:O,
diversificacao dessas pela capacit.acao tecnica do
biblioteccirio e pelo regulamentaoao de uma lei que coordenasse
todas as bibliotecas pUblicas do estado. Neste sentido, a Divis&o
de Bibliot,ecas contrubuia para a transformacao de sao Paulo em
centro cultural do pais, questao crucial para a luta politica dos
"ilustrados'' neste momenta.
Com relacao ao programa de lazer e esporte do
Departamento de Cultura, vimos pela legislacao municipal que este
setor foi o primeiro a ser organizado pela Prefeitura,
antecedendo em alguns meses a criacao do prOprio Departamento do
qual seria depois uma Divisao. Provavelmente isto ocorreu em
virtude do carater predominantemente "assistencial" dos projetos
da Divisao da Educacao Recreios. Os parques infantis, por
exemplo, destinados a recreacao de criancas pobres filhas de
oper6.rios, oferceriam a seus frequentadores assistencia medica e
dentaria, educacao sanitaria e higi8nica, roupas e alimentacao_
Eram portanto bastante adequados aos objetivos politicos dos
"ilustrados" e a sua concepcao acerca da cultura e da educacao
como parcelas do. ''assistencia" que os ricos devem prcstar aos
pobres, como vimos em Fcibio Prado. For esta razao, a organizacao
do Service Municipal de Recreios foi efetuada pela Prefeitura
antes mesmo da criacao do Departamento de Cultura. A importancia
dos parques infantis foi assim justificada pela administracao
municipal:
"A.i estdo eles, repletos de crianr:;as humildes
que, ali, e nas instrt1toras cuJ.dadosmnente
99
escolhidas, vao encontrando, nfi'o s6 o recreio,
como o elemento de que nunca deve
fal taz as popula95es pobres de wna grande
cidt1de. ,;z
2
Os parques infantis constituiram o principal projeto da
Divisao de Educacao e Recreios. Nicanor Miranda, chefe desta
Divis.o, definiu-os da seguinte maneira:
"Um pazgue infantil e um educandcirio ao ar
livre, cuja finalidade e trazer ao conhecimento
da crian9a oa elementos da vida fiaica, moral e
intelectual,
t
. ,,23
reczea va.
sob forma exclusivamente
Isto quer dizer que os parques tiveram uma funcao
educativa, fornecer fnstrucao "fisica, moral e intelectual" as
criancas, mas se diferenciaram da escola na medida em que suas
atividades se desenvolveram apenas atraves da recreacao: jogos,
esportes, brincadeiras e ginastica. Nesses parques, as atividades
recreativas e assistenciais eram coordenadas por educadores,
sanitaristas, medicos, dentistas e nutricionistas, profissionais
especialistas em saUde e formacao moral. Segundo informacOes
por Nicanor Miranda, para cumprir estas func5es, todo
22
RELAT0RXO DA !'REF.":;:ITURA MUNICIPAL DE SJI.O I'AULO do
.i:P36. p. :P6
Z3
MiRANDA, Ni.co.r.or. "Plano ir.icio.l do. do
ir.: R:VISTA DO ARQUIVO MUNJ:Cl:PAL, !:Pll6, vol. XHJ:. p.
100
parque infantil possuia.as seguintes instalac5es:
"Gada parque possui, no minima, wn campo
um ab1igo-m6r, com sa las de
instrutores, sal a de medico, chuveiros,
1nstalay5es al6m de dois galpfies
laterals ao abrigo-m6r. Vci.rias especies de
aparelhos ta.j.s como balancos, gangor1aa, passos
gigantes, carroc8is, deslizadores, taros de
equilibria e outros esto distribuidos pelo
campo, alBm de um tangve de vadiar e taboleiros
d
. ,,24
e
Com esta organizacao do espaco fisico, as instalac5es
dos parques possibilitavam o desenvolvimento de atividades
recreativas ao ar livre ou nos galp5es, sess5es de gin8.stica,
ativid?-des artisticas etc. Entre 1935 e 1938, tres parques
infantis estavam em funcionamento na cidade: o Parque Infantil
Pedro II, o Infantil da Lapa e o Parque Infantil do
Ipiranga. Al8m destes, estava tamb8m em funcionamento o Parque
Infantil de Santo Amaro. Para a construcao de outros parques, a
Divisao de Educacao e Recreios elaborou vfirios projetos seguindo
os crit8rios estabelecidos par lei na escolha dos locais
adequados: esses parques seriam instalados nas proximidades de
24
VOZ DE POR'J'UOAL. Rio de Jan&il'o, :14/02/:1937.
de .Jorno.i.a- Ano do :1937da. seyao
Municipa.t "M<iri.o de Andra.de">
101
(Li.Vl'O de
Ra.t'a.s da
Recories
Di.bli.oloca.
ffibricas ou em bairros operarios:
"A DivisBo tratou de levan tar ( ... ) um mapa com
a localiza9ao dos futuros parques i n f n t i e ~
todos em bairro de trabalho ou
imedia98'es de escolas ou ftibricas, enfim onde
pudesse ser mais Util socialmente . . .2!'>
Numa entrevista a um jornal carioca, Nicanor 11iranda
informou que "em 1935 o m1mero de ent.radas" nos parques do
Departamento de Cultura "atingiu 450.000 ,.2d. Uma pesquisa
da
Sub-divis8.o de Documentacao Social baseada nas fichas das
criancas inscritas nos tres parques de Sao Paulo nos da a
informacao de que, "o m1mero total de . crian9as registradas nos
tres pargues municipals ( ... } a tinge a 1. 651 . . .2
7
S.abemos ainda que
os parques eram abertos, podendo ser frequentado por qualquer
crianca, e os pais poderiam optar ou nao pela inscricao do filho.
Assim, nem todas as criancas que frequentavam os parques possuiam
ficha de inscrio8.o. Portanto, confrontando as informac5es, cad a
parque recebia diariamente entre 300 e 400 criancas.
As fichas de inscricao das crianoas permitiam aos
funcionarios dos parques ter acesso tamb&m aos dados sobre seus
25
DUARTE, J>o.ulo. MARIO l>E ANDRADE . op. ci.t. p. 82
26
VOZ DE PORTUGAL. op. cit.
>?
LOWRIE, :Sa.muol.
pO.l'"qu&s i.nfa.nti.s do
1.937, vol. XLL p. Z69
"Asco-ndo1'1-nci.a
Sdo Pa.uto.
da.s cJ'i.a.no;a.s
ln; REV:J:STA DO
102
l'Gogi.stJ'a.da.g noa
ARQ.1'.1IVO MUNICIPAL,
familiares nas pesquisas sabre condi90es sanitarias e higi8nicas
em que viviam fora dos parques e no controle de informacOes sabre
doencas contasiosas. As criancas contagiadas eram encaminhadas
aos Centros de SaUde, Clinicas Especializadas ou Instituic5es de
Assistencia Infantil. Nos parques havia ainda a distribuicao
gratuita de medicamentos, roupas, agasalhoB
20
fornecimento de leite, merendas e frutas.
e sapatos,
As atividades educativus mais frequentes nos parques
eram trabalhos artisti9os, ginastica, jogos e torneios infantis.
29
Os parques possuiam ainda uma biblioteca infantil que funcionava
como urn centro de atividades culturais. Segundo informac5es de
Nicanor Miranda:
"Em cada parque ex.iste wna biblioteca com ce1ca
de 300 val umes, onde os bibliotec8.1ios sEio
sempre crian9as eleitas pelos companheiros
( ... ) Gada pa.l'que possui tambBm um
redigido e exclusivamente
pe18.s e on de sao publioados
cantos, versos, oa.l'tas enigm8ticas
e desenhos, muitos destes alusivos a no90es
elementares de higiene . . J:J
20
Cf. DVARTE, Paulo. MAR10 DE ANDRADE . . . op. ci.L p. 99 &-
29
d .b.d
\.em, \.\.e-m.
9
VOZ OJ;; PORTUGAL op. ci.l.
103
Outras atividades, como o artesanato, tamb&m fazem
parte do cotidiano das criancas nos parques ].nfantts:
I
"( ... ) exoUl"sOes ao Museu do Ipiranga_, ao Campo
de Avia98o, as Fcibricas; jogos tranquilos como
xadrez, dama, dominO, loto; horas de traballw
com bordados, trieD, modelagem de a1gila;
oonfec96es de matez'iais Pal'a jogos como redes
de voleibol, de tenia de praia, zaquetes e
i
.
p ngue-pongue.
E interessante destacar as regras de conviv6ncia nos
parques infantis. Mesmo sendo instituicOes de carater educativo,
os parques possuem uma organizacao mais livre que. as escolas. As
criancas sao vezes chamadas a dirigir e coordenar suas
pr6prias atividades:
"S!!io elas que organizam os clubes, que dirigem
as respectivas assembleias, que esoalam os
jogadores, que comandam os times, que dirit;{em e
llustram os jornaizinhos, que fazem a sua
revis.?io, ilustram os pro&l'amas, elegem seus
diretores, OS seus capitEies, OS seus
biblioteccfrios e nos casas de conflitos,
------
"' .
ide-m
104
.Jul.gam os seus P16p1ios companhei1os . . .3
2
Benedito Junqueira u a r t e ~ fot6grafo do Departamento de
Cultura, registrou em 288 fotografias a vida das crianoas nos
parques infantis de sao Paulo. Esses registros mostram que OS
parques eram areas muito amplas, arborizadas, com urn grande
portae de entrada, extensas cireas de gramados, salas de leitura,
consult6rios medicos e grandes galpOes. As imagens de Benedito
Duarte, bern como as legendas das fotos, de sua prOpria autoria,
recriam o ambiente dos parques numa riqueza de detalhes que por
si s6 dizem muito sabre eles.
Os exercicios fisicos sao registrados em fotos
intituladas: "Fila indigena; Preparatives para a gin6stica,;
P.iscina; Gincistica com bast6es; Gintistica; GinBstica em roda.:
Corrida; Rumo ao sol; Banho de sol." Jogos e brincadeiras
aparecem em: "Aparelhos; Carrossel; Joguinho; Joguinho - apanhar
o lenoo; Joguinho - corrida com batatas; Joguinho o pula do
canguru; Joguinho - puxar a corda; Joguinho bola ao tUnel;
Voley-Ball; Bal.anoo; Passo de gingante; Escor>regadour>o; Jogo de
construco; Gangorras; Pingue-pongue; Tanque de areia; Jogos
..
tra.nquilos; Jogo de damas; Jogo de domin6." Atividades artisticas
e artesanais estao nas legendas: ''.Teatrinho; Desenho; Harcenaria;
Jardinagem; Modelagem; Trabalhos manuais (bordados, tapeoaria);
Expoaioffo do trabal.Jw daa crianoaa; Valea; Fox; Dan9a Indigena;
3Z
\.dam.
105
Recorte de gravuras; Bail ado da Nau Ca.tarineta.
33
As bibliotecas
tambem foram registradas: "Lei tura de revistas; Lei tt<ra;
Biblioteca; Prateleira de livros. " As eleic5es para os cargos
ocupados pelas criancas seguiam regras bern determinadas. As fotos
mostram criancas em fila para votacao, urnas etc: "Reunii!io da
diretoria do clube; Elei98o - vota98o; Elei9ii.'o - votantes."
Festas nos parques, como uma foto do "Natal" e outra
"Festa ao ar livre", mostram as criancas em trajes tipicos e a
presenca de adultos, provavelmente os familiares das criancas. As
atividades assistenciais estao nas fotos intituladas: "Lanche;
Distribuicl'io de leite; Rumo ao lanche; Aplicaciio de te.stes
(altura, audicao, fala); Asaistencia medica exame geral;
Assistencia medica - exame de garganta; Assistencia mBdica
p s o ~ envergadura, espirometria. ,,9
4
Os parques infantis foram ainda objeto de estudos
soci6logicos da Divis8.o de DocumentaQ.o Hist6rica e Social que
analisaremos a seguir. A Revista do Arquivo Municipal publicou
v.irios artigos com os resultados dessas pcsguisas. Samuel Lowrie,
soci6logo da'Sub-DivisB.o de Documentacao Social e professor da
Escola de Sociologia e Politica, realizou estudos sobre
"Ascendencia das crianoas registradas no Pargue Dam Pedro II". Os
dados de 453 crian9as registradas neste parque no ano de 1936
a a
Api"&S&nla.do pela.e crian.;oas dos
encerramento do Congresso dn
menci..onaremos ma.i.e a.di.na.le.
34
A. coleyao de
do Departa.mQnto
B&n&dito Duarte
do Patrim6nio
do. Prefeitura. Munici.po.t de sao Paulo.
Parquee
Ltngua
enconll'a-Be
Hiet6ri.co
106
ae de
Na.cional
atividadeg
Cantada que
Setor d-a :rconogra.fi.o.
dn S&cr&taria. d& cuttura.
'
mostraram "a grande porcentagem de pais e av6s europeus das
criancas que frequentam o papgue." A ausBncia de crianoas
japonesas no parque chamou a atencflo dos pesquisadores, pois "lzma
das maiores concentraof5es desta nacionalidade estli situada perto
I
do parque." Conclui-se portanto que "hB algum fator cultural em
jogo". A procedencia das criancas tambem p6de ser identificada
nesta pesquisa: elas vern de "familias de trabalhadores
industrials e comerciais qtle residem nas proximidades do Parque. "
Uma analise da renda familiar baseada no salario dos pais,
indicou que "wn quarto dessas familias estara em condiQOes
econ6micas extremamente prectiriaa, dependendo a.lgumas
assistncia filant16pica a fim de poderem manter-se.
de
As criancas que frequentavam os parques eram tambem
submetidas a exames clinicos para o preenchimento de uma ficha
individual com informaoOes sobre dados "bio-tipol6gicos", sobre
vida familiar, sabre condic5es em que viviam, a
nacionalidade dos paise av6s, os habitos de alimentacao etc ..
Todos estes dados eram colhidos e organizados pelas educadoras
sanitarias, que exerciam as fun90es principais nos parques:
"As educadoras sani tdrias tinham a misso de
auxili8r a assistencia medica e dentB.ria,.
permanentes nos pargues, zelar pela sat1de das
crian9as,. as condi90"es sociais do
"'
LOWRIE. SamueL. no Purque
Dom Pedro II"", i.n: REVISTA
vot. JlXXL p. 261.-74
dus
DO
cri.o.n<;a.s
ARGl.U:lVO
regi.slrudae
MUNICIPAL, aelambro/.1!.>3"?,
107
meio de gue ( . .. ) levB.ndo a
inveatigaco ate meamo a familia de
cada
e aindB. ( ... ) estudar a crianpB sob o
ponto de vista fisio16gico, psiquico
. 1 36
e .
As crian9as dos parques serviram tamb8m a outros tipos
de pesquisa do Departamento de Cultura. No Congresso da Lingua
Nacional Qantada, a de Educacao e Recreios, em con.junto
com a Discoteca PUblica, apresentou uma pesquisa realizada com as
criancas dos parques sabre da
1 "'
7
A i b"
pa avra. s cr an cas tam em for am informantes em pesquisas
sabre dancas, mUsicas, jogos e brincadeiras tradicionais que elas
aprendiam com seus Pais ou av6s para urn inventB:rio das
manifestac5es folcl6ricas ainda existentes entre as criancas de
Sao Paulo.
Os parques infantis do Departamento de Cultura tiveram
muita repercussao na epoca. Em agosto de 1937, a DivisS.o de
EducacBo e 'Recreios apresentou urn trabalho sabre Recreaco
operaria na cidade EaQ :Paulo no Primejro
Internacional da FolcJore realizado em Paris onde relatou as
experimcias dos parques infantis de sao Paulo.
39
36
DUARTE, Paul.o. op. ci.t. p. 91.
97
DUARTE, Po.ulo. op. cLt. p. 64
3e
REVl:STA DO ARO.UIVO MUNICIPAL, Vol. XLIIL
108
Em 1938, quando termina a gestae de Mario de Andrade no
Departamento de Cultura, trs novas parques estavam prontos para
inauguracB.o: o Parque Infantil de Tatuape, o da Barra Funda e
Catumbi.
99
Esse novas parques sofreriam uma modificacB.o em relacao
aos ja existentes. Deixariam de ser
i
apenas Parques Infantis e
passariam a Parques de Jogos, pois suas instalacOes deveriam
tambem preencher as necessidades para recreacao de jovens e
adultos, contendo portanto "pistas de corxida, locals para jogoa
B.tlBticos e espo1tivos7 campos de futebol
7
cesto e piscinas . . .4-
quadras de bola ao
0 motivo desta modificacao foi a procura de uma solucao
para a inviabilidade do projeto de construcao das pracas de
esportes que deveria ser cumprido pela Secao da
Atletismo. Estadjo Plscina da Divisao de Educacao e Recreios.
Segundo Nicanor Miranda, este projeto nao se realizou em func.o
da "escassez de terrenos Jm..micipais, o custo vul to.so daB obraa e
a demora. decorrente prOpria natureza. do servico p1.ibllco. ,,u Mas
a Divisao de Eduqacfio e Recreios considerou o projeto inadi8.vel:
"Niio ser .. 'io os adolescentes operB.ri.os, os homehs
de amanh, que bem ou mal integrados na
SP
PUARTE, Paulo. op. cit. p. PO
MIRANDA, Ni.ca.r.cr. CLU9E DE Mli:NORE:S OPE:P.A.RIOS. Sapa.ra.ta. da
REVISTA DO ARO.UIVO MUNICIPAL, Pepa.rta.mento de Cullura, :l938, vot.
XLVIII. P B:l
idem. ibidem. p.. 81
109
sociedade constituirfio a massa de trabalhadores
da Porque nao integJ:.B.-los
proporcionando-lhes quanta antes, os meios e os
recursos paJ:.a gue venham a ser profissionais
aptos? cidada:os nobres e dignos das
funt;:Oes na coletividade?"
42
suas
Portanto, enquanto nao se construiam os Parques de
Jogos, os Parques funcionariam tamb8m como Clubes da
Menores Qperarjos:
"Foi justamente analisando o problema da
mocidade ( ... ) e :refletindo sabre as nefastas
conseguncias do seu abandono moral e
intelectual que propusemos ( ... ) a criat;:Ei.'o dos
"Clubes de Menores OperB.rios". Fi.wcionam estes
nos pn .... 'S.p1ios Pargues Infantis ( ... ). "
43
No' periodo que nossa pesguisa abrange, o Par que
Infantil Pedro II foi o 'lmico Parque Infantil que funcionou
tambem como Clube de Menores OperB.rios.
44
No inicto de 1938,
trezentos jovens estavam registrados neste Clube, que funcionava
42
i.dam, i..bi.dom. p. 82
43
i.dam, i..bi.dam.
P
82
...
ibi.dam. p. 92
110
entre tB:30 e 22:30 horas. Durc..nte o dia, entre 7:30 e 18:00
horas 0 parque destinava-se a recreacao infantil.
45
As atividades do Clube de Menores Oper8.rios Pedro II,
segundo relata de Nicanor Miranda, tinham inicio com "atividades
trcmquilas: domin6, retmiOes das comissi5es
esportivas da Diretoria do Clube ( ... ), leitura, aulas te6ricas
sabre jogos e palestras doe instrutores sabre civismo, moral e
comportamento social . .'"'
6
0 Clube tinha portanto uma clara proposta
de "educacB.o" desses j_ovens atraidos pelo esporte. A disciplina e
o born comportamento social eram os principals objetivos dessa
educacao.
0 projeto para a construcao do Estadio Municipal foi
realizado e o terrene adquirido pela Prefeitura atrav8s de uma
negociacao com a companhia imobilii'iria City. 0 terrene
localizava-se no Pacaembu e a construcao do Estadio teve inicio
ainda na administra9ao de Fabio Prado, mas sua inaugura9ao
ocorreu apenas em 1938 com Prestes Mala jB. na Prefeitura de sao
Paulo. 0 papel do Est<:idio Municipal, segundo Nicanor Miranda, era
oferecer as Criancas e jovens de familias pobres as mesmas
oportunidades de lazer e esporte que as cri.anoas e jovens de
familias abastadas encontram nos clubes privados que frequentam:
"0 Estlidio Municipal ( ... ) cuidara pais da
.,
idem. ibidem. p. 82
<6 .
idem, i bidam. p. 92
lll
I
I
'
reorea.oao popular. To impo1tante problema
criado pela cidade industrial merece o maior
carinho ( ... ) por ser valioso elemento
construtor da demooraoia so-cie.l. ,,-?
Com este programa de recreacao, a Divisao de Educacao e
Recreios, atraves dos Parques Infantis e Clubes de Menores
operarios, voltou-se para a organizacao do lazer operario,
principalmente da crianca e do adolescente, como meios de
prevencao social e contencao politica. Este carater dos Parques
da Prefeitura de Sao Paulo fpi ressaltado par um observador
otimista que afirmou conviCtamente: "comunismo se combate com
obras sociais e n!fo com policia ",
40
resumindo bern o tear da
politica de Fabio Prado na Prefeitura. E para auxiliar neste
.trabalho de "obras sociais para combater a comunismo". o
Departamen.to de Cultura organizou, como uma de suas Divis5es. urn
6rg.!Io estri tamente Vol tado para a dos problemas sociais
da cidade. Estes problemas, devidamente "estudados'' por esta
.Divisao, poderiam ser solucionados pela administracao
... -
municip?l Trata-se da Divisao de Documentacao Hist6rica e
Social.
Quando foi criado a Departamento de Cultura, j.i existia
na Prefeitura de sao Paulo um Seryjco Documentos Antjgos dQ
47 .
R'""vt.e1a do Arqui.vo Muni.ci.pa.L op. eLl. p- 209
PEIXOTO, Afrll.n-io. "0 Departamento do cuttura do sao Pa.uto", 0
ESTADO DE sAo PAULO, 6/iZ/.1936,
112
Departament.o.. .do. Expediente .e. .do_ Pessoal. Este servico estava
ligado ao Arquivo Municipal e tinha por ojetivo divulgar os
documentos antisos sobre a cidade de Sao Paulo ali preservados.
Para isto; Nuto Santana, diretor do Arquivo, iniciou a publicacao
de uma revista especializada, a Reii..s..:t..a .d.Q Arquivo Municipal. Foi
a partir deste trabalho de Nuto Santana que se organizou a
Diyisao Hist6rica do Departamento de
Cultura. Para dirigi-la foi nomeado o escritor e soci6logo S&rgio
Milliet, modernista ligado a Mario de Andrade, Rubens Borba de
Moraes e Paulo Duarte.
Organizada em duas secOes, uma de Documentac.S.o
Hist6rica e outra de D.ocumentacao Social, esta DivisEio se
destinava principalmente a: recolher, restaurar, conservar e
divulgar OS documentos hist6ricos sobre a cidade de sao Paulo
para viabilizar e desenvolver as pesquisas junto ao Arquivo
Municipal; realizar pesquisas de carater sociol6gico,
principalmente com familias operarias, e fazer levantamentos
estatisticos sabre o municipio de sao Paulo oferecendo subsidies
dm
' . '- . , 49
que auxiliem na a roun1.c.:Lpa.1..
Segundo testemunho de Paulo Duarte, a Sub-Divis.o de
Documentacao Hist6rica (assim denominada posteriormente),
intensificou de maneira espantosa o trabalho com os documentos do
Arquivo Municipal antes desempenhado por urn Unico funcion8.rio:
49
Var i.tam daala caplluto aobre a. "Legi.ato.9fio Muni.ci.po.l.".
113
"Durante os anos de o serv i (.10 de
restaurw;:Bo e encaderna,!O ( ... ) llavia reunido
todos os a.vulsos de 1800 a 1841, em
noventa volumes! Restaurara e encaC{ernara
livros antigos de diversos a.ssuntos, em :nUmero
de 423 val umes! cere a de 90 grossos
tomos de manuscritos depois de restaurd-los
convenientemente! ( ... )Todos OS documentos
avulsos do seculo XIX haviam sido
colecionados em ordem crono16gica ( ... ). Quanta
aos servi9os de paleografia haviam sido
copiadas as ordens rBgias de 1700 a 1757 (guase
mil documentos) .: todvs os papeis avulBos, de
1809 a 1812 (mais de q_uinhentos documen tos) _:
Atas da Ciimara de SiJo Paulo ( . .. ) , Reg.i.stx'o
Geral da Cmpra de sa: a Paulo ( . .. ) Cartas de
Datas de Terra . ..
.P
A Revista _QQ. Ar01:dvo pnblicou u.m muito
grande doB documentos que foram entao recuperados. Os concu-r-sos
hist6:r.icos instituidos pele. Sub-Div.:i.s5o de Documentacao Hist6rica
se relacionavam todos com esta documentacao e as temas eram
sempre sobre a hist6r.:i.a de Sao Paulo: "Assunto hist6rico
refereilte 8: Cidade au. ao Estado de sao Paulo";
51
"Biografia de
Pauto . op. ci.l. p. S>5
,,
REVISTA DO AHQ.tHVO MUNICIPAL, 1936, vol. X:Ul-
114
personagem da hist6ria de S&'o Paulo falecido lui ma.is de trints.
BllOS'::S
2
e aasim por diante. 0 Departamento de Cultura se
.comprometia a publicar as obras clasaificadas em lQ, 2Q e 3Q
lugares na Reyista do Arguiyp Municjpel. A obra classificada em
lQ lugar seria publicada numa separata da revista com 500
exeiDplares tendo o autor direito a 200 deles. Os autores cujos
trabalhos se classificassem em 2Q e 3Q lugares receberiam 200
exemplares do nUmero da Revista. do Arquivo com suas obras
publicadas.
. .
Quante a Reyista dQ ArquiyQ Municipal, ela deixou de
eer apenas uma publicacao voltyida para os documentos antigos da
municipalidade. Com a organizacao do Departamento de Cultura esta
Revista se tornou uma das mais importantes publicac5es de
i,
, Cincias Humanas daqueles anos, como nos relata Rubens Borba de
Moraes:
a Revista, contini}.amos a mas
com uma outra orienta9Bo muito mais diniimica e
muito mais abrangente. Nesta Revista e que
. -
a.pareceram algumas coisas que forain pioneiras .
causa da repercusso da Revista7 a ge:nte
recebitl muita colaborao ... 'fo. ( ... ) toda a gente
eBcreveu ali. E a Revista tornou-se conhecida."
( . ) Havia naquela epoca em SUo Paulo, um
JlE:VlSTA PO ARQUXVO MUNICIPAL, 193<S, vot. XX
H5
interesse enarme par cultura, par causa da
fundaoa da. Universidade, r-or causa da fundaclfo
da Escola de Socilogia e Po.litica,
repercussOes do movimento de 22 . .. ::m
e ainda
A Revista se especializou em assuntos de Hist6ria,
Literatura, Sociologia, Linguistica, Antr-opologia e
principalmente Etnografia. Urn significative grupo de antrop6logos
contribuiu regularmente, enviando para a Revista trabalhos
originais de reconhecida import.ncia para as Cincias Sociais no
Brasil. Entre esses autores podemos citar Claude Levi-Strauss,
Dina Levi-Strauss. Pierre Mombeig, Plinio Airosa e Artur Ramos.
Em 1936 a Revista, al8m de ser uma "Publica98."o do Departamento de
Cultura ", era tambem "Org!io da Sociedade de Etnografia e Folclore
e da Sociedade de Soci.ologi.a ",!54- o que evidencia seu papel junto
aos pesquisudores da area de Ciencias _Socials naqueles anos.
A de Documentaoao Social, dirigida pelos
soci6logos Sergio Milliet e Samuel Lowrie, tornou-se urn 6rgao de
pesquisas estatisticas, econ6micas e sociAis que tinha par
objetivo principal fornecer dados para a aclministracao municipal.
Algumas pesquisas foram realizadas a partir dos dados
recolhidos nas fichas de inscric5es das criancas que frequentavam
os parques infantis. Uma delas, de autoria de Samuel Lowrie.
59
"0 Departamento de Cullura: um sonho ... " op. cit. p. :1Z
04
cf. d.:t RVIS'rA DO AROU:IVO MUt.JXC:IJlAL do ano da. i.P96.
l.16
tratava da origem dessae Segundo este soci6logo, estas
eram as primeiras pesquisas de uma s6rie que a Divisao de
Documentacgo Social faria sabre a "origem da populaoifo de Sao
Paulo", en tend ida como "matB.zia curiosa e de import.ncia prB.tica
118. dete1minay8o da cont1ibuioifo dos vtir-ios grupos de imigrantes
. f t
para as gera9L'es u uras.
Outras pesquisas foram tamb8m realizadas. Utilizando-se
dos dados do recensearnento estadual de 1934, a Sub-Divisao de
Documentacao Social pr.oduziu inUmeras fichas sobre a populac&o de
sao Paulo a partir da reuniao de dados referentes a regi5es muito
pequenas, que eram as faces de quarteir8.o. Segundo OS
pesquisadores do Departamento de Cultura, esses dados eram
normalmete agrupados por bairros ou distritos, o que n&o permitia
a obtengao de quadros mais precisos sabre OS diversos
agrupamentos socials da cidade. 0 objet. iva desses pesquisadores
era a confecyaa de mapas ex.tremamente detalhadas sabre a
populaCEio paulistana:
"(. .. ) se o plano do Departamento de Cultura
for lavado a bom termo, So Paulo sera a
primeira cidade latino-"americana a aplicar wna
das mais novas tecnicas da sociologia ao estudo
55
cr.
l'a.rque
LOWRIE,
Dom Pedro
Sa.muel.
II"'
"Aecendiltncia. da.e
REVXSTA DO ARQ.UIVO
cl'"iar.yas
MUN.IC!PAL,
regi9ll'"a.do.s
op. cit.
"Ascendancio. do.s cri.a.ns:a"' re9i.slra.do.s nos Pa.l'"qu.:;.s lnfa.nli.f'l do
Paulo", REVJ:STA DO Al'iQVIVO MUNICif'kL, op. cit.
oo.d .b.d
l em, l l em.
117
d
'1
os seus emas.
Em 1937, esta pesquisa foi apresentada par Sergio
Milliet n6 Congresso de realizado em Paris.
,.
Segundo
Paulo Duarte, o trabalho do Departamento de Cultura
men9ifo especial numa das sessOes plenc'irias daquela assemblcia" e
"o presidente do oongresso ( ... ) declarou ( ... ) que, pel a
vez .. se apresentava nw11 laborat6rio de inveBtigay8'es
socio16gicas wna oidade "au microscope". ,::;
9
Os dados de todas
essas pesquisas seriam utilizados na ela.boraca:o de planes da
Prefeitura de sao Paulo:
' '
"Observadores e invest.igadores pe:rcorrem S.
Paulo. A planta cadastral gue se faz no e o
cadast:ro morto das casas mud as e vaz1as. NB:o. 15
o nivel de \rida, o "lilTing que se
levanta nas estatistioas e-nos grlificos. ( ... )
com a ciencia com o estudo e gue se resol
os p1oblemas serios da vida. '
15
!5? cf. "Proj.,.to d& Pesqu\.sa. da De-nsida.da-
Poputa.<;&o da Capital de s:&o PauLo", REVIS:TA
a- Dislri.bui.s:ao da
DO ARG\UIVO MUNICIPAL,
Deparla.menlo de Cut lura, janoiro/!,.,96, vot. XIX. p. !79-!99
,.
cf. DUARTE, Paulo. op. ci.t. p. 60
6
PEIXOTO, Afrll.r.io. o Doparlama-r.lo d.-J cuttura de s. Paulo. op.
cit.
118
I,
l
Um exemplo desses estudos da Sub-Divis.o de
DocumentacB.o Social foi noticiado por urn jornal nllo identificado
no ana de 1936. A manchete do jornal anunciava: ''Nivel de vida do
lixeiro p8ulistano - atraves Q.e um inquerito social realizado
pela seclfo especializada do D. C. ,,eSt. Dizia a reportagem que "a fim
de remediar a situa()d preocfria dos htm1ildes servidores do
Municipio, situa9fio essa revelada num inqw1ito, o prefeito FB.bio
prado vai solicitar a Camara um aumento de 20% dos seus
respectivos salarios . . 0 inquerito realizado pela Sub-Divisao de
Documentacao Social teria demonstrado "cientificamente" as
prec<irias condiQ5es de vi9-a d ~ s s e s trabalhadores, razao que levou
a pi-6pria Prefeitura a solicitar o aumento de seus sal8.rios.
Nesta mesma direoao, foram realizadas pesquisas para definir a
localizacao dos parques e das bibliotecas populares do
Departamento de Cultura. A DiviBao de Documentacao Social fazia
com antecedncia o levantamento de todas as
. . '
necessarias para tracar o perfil ~ o s moradores do bairro. A
partir desses dados eram realizados os projetos dos parques e das
bibliqtecas .
. .. ~ A Sub-DivisS.o de Documentacao Soci .. al reproduz os mesmos
prop6sitos apresentados pelas elites paulistas, entre elas os
'ilustrados", na criao&o da Escola de Sociologia e Politica. Este
setor do Departamento de Cultura tinha a estrutura necessaria
~
Rocor'tQ dto jornol :do Arqui.vo Po.ulo Duo.rte.
~ d
"om
119
para absorver os pr'ofissiona:i.s formados por aquela Escola. Ali
seria o local onde a colaboracao entre governo e cientistas
socials comprovaria a tese de que a "efici8ncia" de urn governo e
tanto maier quanto mais distanciado ele estiver dos partidos
politicos e mais pr6ximo estiver da Ci8ncia: estrat8gia escolhida
pelas elites paulistas para resolver os problemas socias da
cidade e, com isto, recuperar o prestigio politico de sao Paulo
abalado com a derrota. do mov:Lmento de 32.
120
Capitulo III
MARIO DE ANDRADE: A ARTE E A "HUMANIZA<;AO" DO HOMEM
0 volume VII da "Colecao do Departamento Municipal de
Cultura de SB.o Paulo" e uma publicac.o das InstrucOes Prciticas
Em Antropologia Fisica Cultural de autoria da
antrop6loga Dina Levi-Strauss, agrege de 1 'UniverEdt& de
Paris". Na introducao do texto encontramos a seguinte informacB.o:
"Aula do Curso de Etnogre.fia instituido pelo
D t i d C 1 t d 1936. ' A fl' nall' dade deste epar .amen ;a e u ,UJ'a, no ana e
"manual de Etnografia prcitica" era "gular os pesguis{;1dores n!io
especittlizados e fornecer wn metoda de trabalho imediatamente
apliolivel no local. ,?- Num relat6rio apresentado por HB.rio de
Andrade, diretor do Departamento de Cultura, em maio do mesmo
ano > .h8. uma referencia a este Cur so de Etnografia
organiZado pelo "Gabinete da Direto.ria ".
3
en tao
Os esforcos da Divisao de Expansao Cultural, chefiada
por MArio de Andrade, pela realizacao de trabalhoB na area de
Dina. INS'l"RU<;:OES PRATICAS PARA PES:QU:CSAS EM
ANTROPOLOOIA FiSICA E CULTURAL. Cole<;o<lo do Dapar-la.rnento Municipal..
d& Cullura., volume VII.
2
Slio Paulo , t9a6. p. 7
idem, ibidem.
3
Rela.l6ri.o doa Serviyos do O$parla.me-nto de- Cultura em
prtmelro ano." sao Paulo, maio dE> f!:>-36. Pocurnentay5.o
Departamento de Culturo. do Arqui.vo MO.rio de Andra.d&. IED/USP,
121
aou
do
folclore, etnografia e cultura popular se iniciam na verdade n&o
com o Curse de Etnografia, mas com a criacao da Discoteca PUblica
Municipal. Em 1936, esta Discoteca oerecia aos paulistanos sua
coleclio de "discos de mUsica erudite. e de interesse folcl6rico".
4
I
Alem dos discos adquiridos, a Discoteca mantinha urn service de
"gravat;;!io de mUsica folc16rica nacional e de miisica erudita
paulista ", !5 registrando ela mesma express5es de mUsic a popular ou
mUsica erudita. Alem dessas gravac5es em discos, a Discoteca
organizou tamb&m o "Arqui vo de mt'isi ca popular brssileira
1egistra.da pOl' meios nlio mectinicos ", isto e, uma reuniao de
melodias populares grafadas a mao. A Discoteca procedeu ainda ao
recolhimento de instrumentos utilizados na mUsic a popular
brasileira dando inicio ao "Museu de instrumentos popula.res
na.cionais .. f5
Na segunda metade da ctecada de vinte, t16.rio de Andrade
intensificou seus e ~ t u o s sobre
7
o _folclore. Habituou-se a
registrar em inUmeras fichas ditos, cantigas e crendices
populares recolhidos em sao Paulo. Em 1926 e 1927 viajou pelo
norte e nordeste do Brasil em busca das manifestacOes culturais
populares dessas regiOes. 0 impacto do mundo desconhecido que se
apresentou a ele nessas viagens acentuou seu interesse pelo
estudo mais aprofundado das express5es e processes de criacao
t.dem.
6 . .
t.dem.
7
cf. LOPE!Z, T"'l9 Porto Ancona. MARIO DE ANDRADE;
CAMINHOS, sao Paul..:., Llvrarla DuaG Ci.dadea, !1.972. p. 77 e aaga.
122
RAMAIS E
artistica dessa cultura. Em sua correspondencia com a amiga e
music6loga Oneyda Alvarenga vemos que ela, incentivada por ele,
enviava-lhe com regularidade registros de melodies populares
enoontradas no sul de Minas onde morava. Mario de Andrade buscava
os tracos de "brasilidade" presentee nas manifestacOes culturais
populares. No seu entendimento, a cultura popular guardava as
caracteristicas particulares de nossa formacao social, que
constituem o material sabre o qual o artista deve se basear para
fazer arte "brasileira", arte "nacional".
8
Na introducao do manual de Dina Levi-Strauss citado
acima, a autora faz a seguinte distincao entre etnologia e
etnosrafia:
>
"A Etnologia e te6rica, como toda ciBncia
consti tu.ida; e nesta gualidade apJ:'esenta
caracteres incompativeis com as pesquisas
prtiticas: sistenuitic?, explicativa e
generalizadora. Seu esforpo e essencialmente
sintetico. Inteiramente d.ivel'SO e 0 papel da
Etnografia. Esta e mais wn estudo d,escritivo e
monogrB.fico dos povos e de sua vida cultural,
do que propriamente uma oiBncia .. P
Nesta direcao, a autora considera a Etnologia pouco Util aoB
8
ct. MORAES, Eduardo Ja.l"dLm de.
cit. p. 73-109
9
LEVI-STRAUSS, Di.n1.. op. cit. p. 9
A BRASILIDADE MODERNISTA . op.
123
pesquisadores brasileiros, porque o momenta nao era adequado a
sinteses sabre a cultura. era precise conhecer a
diversidade cultural do pais, conhecer os elementos que compOem
as inUmeras culturas aqui presentes;
"Evidentemente .. no Brasil, precisB.-se antes de
tudo, de um trabalho perseverante de estudos
etnog18.ficos Pl'Opriamente di tos. Tanto nas
como nos regiOes longinquas do
bairros das cidadea, au nas B.ldeias, toda uma
aerie de pesquisas etnograficas pode e deve ser
empreeeDdida: eatudo da oeriimica, da tecelagem
local, do estilo das casas ( ... ). . . Se1ia
impossivel enumerar todos as
monografias que estDo a
pesguisadoz .. .
assuntos
espera
de
do
Esta explanacao da autora indica de maneira bastante
clara as razOes pelas quais o Departamento de Cultura, atraves de
Mario de Andrade, optou por urn curso de
sabre Etnografia especificamente.
extensao
MArio
universit.B.ria
de Andrade
compreendia o desenvolvimento da arte no Brasil naquele momento
necessariamente vinculado a urn maier conhecimento do folclore
brasilEdro:
"Sabendo gua.l a tOnica do pensamento popular
p.a
124
brasilei:ro7 pode:ria melho:r7 at:raves da
divulgayo de elementos levar o
Brasil a seu auto-conhecimento
7
para faze-.Zo
chegar ao naoionalismo e mais tarde ao
nas artes cultas. ( . .. ) 0
importante seria conhecer o :recolher
com fidelidade os dados na fo11te antes
gue a tradiyiio se esgotasse com a invas!Io do
"
p1ogresso.
Assim, o Curso de Etnografia do Departamento de Cultura
teria por finalidade formar pesquisadores da "cultura popular".
Etn6grafos que investigassem peguenos grupos sociai-s ou aspectos
especificos da vida de uma regiao ou de uma comunidade: sua arte,
suas atividades econ6micas, seus costumes etc. Diz o manual:
"Em lugar do inefdvel, a Etnografia descobre
gestos porem analistivei:s,
cren9as, atitudes, modalidades especificas da
tecnica ou da reflexo que basta
classificar e explioar pel a
hist6rica e distribuiQo no espayo. 0 homem no
e wn enigma para o homem senifo na medi da que
se obaerva. a si mesmo como um panorama global e
u t .
LOPEZ, T& a P. A. op cl.t. p. i02
125
longinquo. ,,tz
0 conhecimento da culture brasileira depende portanto,
do trabalho de etn6grafos que nos revelem os diversos "outros"
I
que participam dessa diversidade, pols a etnograf:j.a e um "metoda
ge1al de investiga9ilo" que intervem em toda pesquisa que estuda o
"outro", isto 8, "a 0 0 homem do P8.SS8..dO e 0
primi tivo, tudo o que apresente. um comportamento diferente do
nosso, tudo o que do ponto de vista psicoltlgico, aparece como
diverso e particular." No Brasil daqueles anos, a pesguisa
etnografica, segundo a perspective de Dina Levi-Strauss. adquire
"intevesse pois "poucos paises apresentam uma tal
diversidade psiguica e cultural." E entre os outros'' que compOem
essa diversidade, o indio, o imigrante e o oaboclo sao aqueles
que para a autora "devem reter a aten9&'o dos Pesquisadores ". :ts
Assim, os 30 alunos que frequentaram o curse no ano de 1936
cada urn, uma tese
origina.is . . .1
4
"consistindo todas de pesquisas
A Discoteca PUblica, por sua vez, concentrava.-se no
trabalho de coleta de informaoOes sobre asexpress5es da mUsica
popular. Antes mesmo de ser inaugurada, este setor do
Departamento de Cultura ja havia adquirido "cerca de 1. 500
<2
i.d;a.m. p. 1.:9
..
idem. p. 14-A
"Pola Cullura". in: REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL,
vol.. XXVIII. 292
126