Livro e Leitura No Novo Ambiente Digital

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15]11]12 LIvro e IeItura no novo ambIente dIgItaI

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EncicIopdia e Hipertexto
Livro e Ieitura no novo ambiente digitaI
Jos Afonso Furtado
O desenvolvimento e a rpida expanso das novas tecnologias de nformao e de
Comunicao e a passagem para uma sociedade de informao, digital ou de rede, em que a
nternet e a World Wide web assumem uma especial importncia, tm levantado diversas
questes sobre a natureza e funes do do livro tal como tradicionalmente o temos conhecido
e mesmo sobre o seu eventual desaparecimento.
Neste quadro, Roger Chartier tem vindo a insistir em que, muito embora situaes
aparentemente semelhantes sejam recorrentes na histria do livro e dos meios de
comunicao, o momento em que nos encontramos configura uma "revoluo mais radical do
que todas as anteriores por abranger, pela primeira vez em simultneo, um conjunto de
mutaes que at agora tinham ocorrido em separado. Na verdade, argumenta Chartier,
muitas das categorias atravs das quais nos temos relacionado com a cultura escrita esto a
alterar-se, pois assistimos a mudanas nas tcnicas de reproduo do texto, na forma ou
suporte do texto e ainda nas prticas de leitura. Ora, no passado, isso nunca sucedeu: "a
inveno do cdice no Ocidente no modificou os meios de reproduo dos textos ou dos
manuscritos. A inveno de Gutenberg no modificou a forma do livro. As revolues nas
prticas de leitura ocorreram no contexto de uma certa estabilidade quer nas tcnicas de
reproduo dos textos quer na forma e materialidade do objecto. Mas hoje estas trs
revolues - tcnica, morfolgica e material esto perfeitamente interligadas. Essa
singularidade leva a que enfrentemos uma crise nas categorias que tm permitido a nossa
ligao com o livro e com a sua cultura. Por exemplo, acrescenta Chartier, as que dizem
respeito propriedade e ao copyright, que se cristalizaram durante o sculo XV, encontram
agora diversas dificuldades face s caractersticas do texto electrnico. Mas o mesmo se
passa com a noo da identidade do livro, identidade que simultaneamente textual e
material. At agora, os gneros textuais podiam distinguir-se imediatamente pela sua
materialidade especfica. "Todos sabemos que um livro no um jornal, que por sua vez
tambm no uma carta... Mas no mundo dos textos electrnicos esta diferena tende a
desaparecer.(1)
Patrick Bazin refere ento que a "ordem do livro que tem sido a nossa e que conformava um
campo simultaneamente cognitivo, cultural e poltico "em torno do qual o objecto livro ocupava
a posio central, se encontra j em plena reconfigurao. Mais ainda, essa "cultura do
livro, ou seja, uma certa maneira de produzir saber, sentido e sociabilidade vai pouco a
pouco desvanecendo-se. (2)
Muito embora, como lembra George Steiner, noes como as do "Livro da Vida ou da
"Revelao, sejam basicamente de origem greco-judaica e nunca tenham sido familiares ou
imediatas para a maior parte da humanidade, quaisquer "mudanas fundamentais no estatuto
do textual, do livro concebido como idioma da mente ou como fonte da vitalidade do esprito
(...) tocam a substncia da filosofia, da lei, das doutrinas polticas, da histria e da literatura
ocidentais. (...) E, acrescenta, tambm "a nossa experincia do passado, as nossas prticas
de memria, so livrescas em todo o sentido do termo. (...) De um modo quase impensado,
entendemos, imaginamos livros quando reflectimos sobre a criao e a inveno, sobre as
relaes do pensamento e da imaginao com o tempo, sobre o arquivo dos erros e do
conhecimento. (3)
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Na verdade, da palavra de Deus palavra do homem, o livro tornou-se a garantia da
memria, da existncia da ordem e da lei, parecendo ter recolhido da Bblia uma suplemento
do sagrado que lhe confere um claro privilgio de autoridade.
Por outro lado, Yvonne Johannot refere que "o recurso aos textos antigos (...), "a transmisso
do conhecimento atravs das geraes, assegura simbolicamente uma coerncia e
homogeneidade a todo o gnero humano... Desse modo, para Petrarca, a Antiguidade so os
livros que leu, os manuscritos que procurou pacientemente e que estudou e explicou graas
as seus conhecimentos filolgicos. Petrarca que chegar a afirmar que a destruio de um
livro como que uma "segunda morte para o seu autor, pois s a sua obra se encontra por
excelncia investida da autoridade para o representar. (4)
Esta concepo do livro, diz ainda Johannot, "privilegia a actividade intelectual, elide o corpo
do autor em benefcio da sua obra, confunde o passado com as ideias transmitidas pelos
textos que chegaram at ns e torna o livro o objecto incomparavelmente valorizado de uma
cultura elitista. a concepo dos humanistas e foi ela que viemos a herdar. (5)
Sendo inegvel que o livro, a leitura e as suas prticas ou os modos de apropriao dos
textos, bem como a nossa relao com a escrita, se encontram num momento de rpida
transformao, impe-se reflectir sobre como se traduzem essas mudanas na "ordem do
livro que referimos. Na verdade, encontramo-nos num campo de turbulncia, em que se
assiste cada vez mais a experincias no mbito da edio electrnica e ao aparecimento de
obras para leitura em cr, de dispositivos portteis de leitura de textos digitalizados,
multiplicao de publicaes em diversos formatos e linguagens mark-up e ao
desenvolvimento de software para potenciar condies dessa "nova leitura.
Mas, para Clifford Lynch, o que est realmente a acontecer ainda mais complexo do que a
emergncia de novos canais de comercializao de livros ou de um novo tipo de dispositivo
electrnico de consumo. "O que est em jogo muito mais fundamental: como vamos pensar
os livros no mundo digital e como iro estes comportar-se? De que modo vamos us-los,
partilh-lhos e em que termos nos vamos referir a eles? Em particular, quais so as nossas
expectativas sobre a persistncia e permanncia da comunicao humana com base nos
livros, medida em que entramos no brave new digital world? Continuar o nosso
pensamento a ser dominado pelas convenes e modelos de negcio da edio impressa (...)
e pelas nossas prticas culturais, expectativas de consumidor, quadros legais e normas
sociais ligadas aos livros ou iro essas tradies desaparecer, talvez a favor de prticas em
desenvolvimento em indstrias como a msica?
Salientam-se ento trs temas cruciais na transio para o mundo digital e que a agitao em
torno dos e-books pode ocultar: a natureza do livro no mundo digital como forma de
comunicao; o controlo dos livros nesse mesmo mundo, incluindo as relaes entre autores,
consumidores/leitores e editores e, por extenso, o modo como viremos a gerir a nossa
herana cultural e o nosso passado intelectual; e a reestruturao das economias da autoria e
edio. (6)
Nesta perspectiva, convm antes do mais esclarecer o sentido de alguns termos pois, na
verdade, encontramo-nos perante uma grande instabilidade semntica, provavelmente
inevitvel face a uma realidade em constante mudana.
A edio electrnica apresenta ento caractersticas especficas que vo desde a sua enorme
capacidade de armazenamento de dados at rapidez da sua produo e disseminao,
facilidade de actualizao e correco ou potencialidades colaborativas e interactivas. Nessa
medida, os produtos por ela gerados apresentam bvias vantagens em relao edio
tradicional no que se refere disponibilidade do contedo (tempo e local de entrega e
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dimenso da informao), transparncia e interactividade do contedo (interactividade,
possibilidade de integrao de contedos e servios e instrumentos de pesquisa), e ao
formato do contedo (hipertexto e multimdia).
No corpus em construo da edio electrnica encontramos basicamente dois gneros de
textos: por um lado, representaes derivadas ou secundrias de livros impressos e
publicados ou de textos pensados primariamente para publicao impressa (a que Geoffrey
Nunberg chama "verses electrnicas); por outro, publicao de textos electrnicos
pensados e concebidos para se moverem em suportes electrnicos desde o seu incio, que
exploram as capacidades especficas do universo digital, ligados vulgarizao de
ambientes hipertextuais e que questionam algumas das noes tradicionalmente atribuveis
aos textos da cultura do impresso.
Acontece que, neste momento, todos estes desenvolvimentos coexistem, o que confirma que,
no interior das prprias inovaes tecnolgicas, os movimentos no so uniformes nem
sncronos e que a mesma inveno pode conter diversas evolues e potenciais utilizaes.
Deve pois evitar-se a tendncia redutora de atribuir as mudanas emergentes,
designadamente nos meios e nas formas de comunicao, exclusivamente aos recentes
desenvolvimentos tecnolgicos. Os efeitos das tecnologias nunca so intrnsecos a um mdia
em particular, so sempre mediados pelos usos que lhe so atribudos e variam com o
contexto em que so utilizadas. Por isso, Mark Bide chama a ateno para o facto de, "se
olharmos apenas para o lado tecnolgico, a mudana no sentido da distribuio de contedos
em rede parece imparvel. (...) No entanto, a existncia de uma infra-estrutura tecnolgica no
garante por si s uma utilizao neste ou naquele sentido nem define deterministicamente o
tipo de impacte sobre o sector da edio. pois necessrio olhar para alm dos factores
tecnolgicos de mudana e reconhecer que so as dimenses culturais, sociais e
econmicas e o modo como elas interagem com as novas tecnologias que vo, na realidade,
afectar a edio do futuro (7).
compreensvel que esse acento tnico na "distribuio tenha contribudo para que, nos
anos mais recentes, o termo "livro electrnico ou "e-book se tenha visto apropriado pelas
empresas que vendem dispositivos electrnicos para apresentao de textos digitais. Mas, na
realidade, o e-book tanto tem vindo a ser entendido como o contedo que se l (uma verso
digital paperless de um livro, artigo ou outro documento) como acaba por se confundir com o
dispositivo computacional onde se l, que pode por sua vez ser dotado de maior ou menor
grau de portabilidade. certo que, antes do mais, se deve sublinhar que, em relao ao livro
impresso, os produtos da edio electrnica exigem um suporte hardware e um software sem
o qual no possvel o acesso informao. Por isso nos parece que uma definio
operativa deve passar por utilizar o termo e-book no sentido de um contedo digital ou
digitalizado destinado a ser publicado e acedido electronicamente, o que implica o recurso a
equipamentos electrnicos e a software. Frank Romano, por exemplo, define-o como "a
apresentao de ficheiros electrnicos em monitores digitais. Embora o termo e-book
implique informao direccionada para o livro, outros contedos podem tambm ser
disponibilizados nesses dispositivos. Para alm de texto e imagens estticas, que so os
casos tpicos, ainda possvel apresentar som e imagens em movimento. Os ficheiros e-book
podem ser fornecidos como unidades gravadas (discos) ou descarregadas a partir de
repositrios digitais (incluindo Web sites) para computadores desktop, para laptops, para
assistentes digitais portteis, telefones celulares, ou para dispositivos digitais de leitura
dedicados (tambm eles vulgarmente chamados e-books).(8) Contudo, acrescentamos ns,
a estes ltimos ser mais correcto chamar e-book readers. Lynch chama ainda a ateno
para que se no deve conceber um e-book apenas como o substituto de um livro que pode
tambm estar disponvel sob forma impressa j que, se tivermos em conta a trajectria do
preo-performance do armazenamento, dentro em pouco alguns produtos de ponta estaro
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em condies de hospedar centenas ou mesmo milhares de obras simultaneamente. O que
implica que se pense no apenas em livros electrnicos mas em bibliotecas pessoais digitais,
o que confere uma dimenso bem diferente ao que no processo de mudana pode estar em
jogo. (9)
Se, a partir daqui, seguirmos a metodologia proposta por Brunella Longo, podemos distinguir
basicamente trs macro-categorias que, embora determinando no seu interior uma grande
variedade de frmulas, podem ajudar a identificar as diversas funes exercidas no mercado
do livro e da edio electrnica pelas componentes hardware, software e de servio (10). Em
primeiro lugar, a categoria de livros electrnicos que requerem equipamentos de leitura
especficos e dotados de software proprietrio para a leitura em cr. Uma segunda categoria
constituda por livros e documentos electrnicos que se descarregam a partir da nternet
para mquinas convencionais e que so acessveis atravs de um adequado software de
leitura. Por ltimo, encontramos uma gama crescente de servios Web baseados na criao e
desenvolvimento de bancos de dados de texto integral. O conjunto destes trs pontos
configura o sector que tem mobilizado nos anos mais recentes investimentos assaz
significativos por parte dos grandes grupos editoriais e de companhias operando
tradicionalmente no sector da informtica, que rapidamente ocuparam o espao onde durante
algum tempo se movimentaram livremente pequenas start-up companies. No entanto, apesar
de diversas previses entusisticas quanto ao sucesso dos livros electrnicos, o estado da
questo bem menos risonho, pois a edio electrnica um segmento em rpida mas
diferenciada evoluo, pouco sedimentado, onde coabitam iniciativas que em geral remetem
para aces de auto-publicao a par de outras mais consistentes e que propem produtos de
elevada qualificao profissional. Mas, no essencial, o sector foi em geral incapaz de dar
origem a um mercado com a massa crtica indispensvel para a sua sustentabilidade. Uma
das razes para esse insucesso encontra-se certamente na ausncia de uma clara
concepo do produto. Refiro-me aqui no apenas multiplicidade de frmulas em presena,
como indefinio em relao a uma filosofia de replicao electrnica ou de edio digital, a
uma perspectiva monofuno ou multifuno e ainda simbiose produto/tecnologia/pblico
alvo. No entanto, para alguns crticos mais radicais, o que acontece que o livro electrnico,
tal como o descrevemos, ainda um avatar do livro impresso. Como escreve Jean Clment,
"longe de constituir uma passo em direco ao futuro, no mais do que o derradeiro sinal da
nossa ligao nostlgica a um objecto beira do desaparecimento. (11) E se a autonomia
em relao ao computador, um menor custo e progressos nas condies de legibilidade so,
a seu ver, trunfos importantes para o livro electrnico, eles acabam por o aproximar ainda
mais do livro impresso e so completamente ineficazes para o destronar. Verifica-se assim
que, "depois de ter sido separado do seu suporte (o livro papel), o texto se encontra de novo
sujeito a um dispositivo material. Est relocalizado, identificado, cadeado e volta a apresentar
as propriedades de um objecto comercial clssico. Neste cenrio, para Clment, a tradicional
cadeia do livro encontrou uma vez mais o modo de se perpetuar, pois "as grandes manobras
em curso no domnio da edio tm um objectivo bem simples - como continuar a conseguir
lucros na cadeia do livro na hora do electrnico? e no so mais do que uma resposta s
ameaas levantadas pela disseminao dos textos na nternet. Mas esta resposta "no se
encontra altura das questes culturais e intelectuais que a digitalizao das obras do
esprito coloca. (12) Na verdade, prossegue, "este novo objecto (...) oferece poucas
vantagens em relao ao livro tradicional. Tentando imit-lo, empobrece-o. Deste ponto de
vista, "trata-se de uma regresso em relao s promessas do electrnico. Essas promessas
eram as de uma biblioteca universal tal como Ted Nelson a imaginava em 1965 no seu
projecto Xanadu ou as do "expanded book, termo lanado pelos promotores das edies
Voyager em 1984, aproveitando as "vantagens conjugadas do suporte digital (primeiro o disco
laser e depois o CD-ROM) e do software Hypercard, o primeiro software hipertexto destinado
ao grande pblico. Face a essas promessas, o e-book um livro fechado, "fechamento que
acompanhado pela sua estruturao hierrquica. Todas as tecnologias elaboradas para os e-
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books tendem a tornar fixa a estrutura do texto ao reproduzir a do papel. (13) Por fim, do lado
da criao, "vira as costas a novas formas por vezes bastante afastadas da nossa cultura do
livro e, designadamente, a uma nova escrita que se caracteriza por trs aspectos essenciais:
por ser hipertextual, distribuda, e dinmica e multimdia. Concluindo, para Clment,
"assegurar a sucesso do livro na hora electrnica, no apenas procurar reproduzi-lo do
modo mais fiel possvel, tambm explorar as novas potencialidades oferecidas pelo digital,
ter em considerao a ruptura fundamental que ocorreu entre o texto e o seu suporte.
passar do livro-objecto ao livro-biblioteca, ao livro interactivo, ao livro em rede, ao livro
multimdia. (14) Deste modo se declinam alguns dos pontos que levam a desencontros
tericos profundos no campo da edio electrnica: na realidade, a gerao de publicaes
que exploram as capacidades especficas do universo digital, o crescimento exponencial da
Web, a vulgarizao do trabalho em rede e de ambientes hipertextuais questionam algumas
noes atribuveis aos textos da cultura do impresso, como a fixidez, linearidade,
sequencialidade, autoridade ou finitude, provocando transformaes nas clssicas definies
de autor, leitor e suas relaes mtuas. Estes pontos integram j a agenda terica do
hipertexto e, nela, do aparecimento de diversos e novos gneros textuais. Campo em que
exigvel uma atitude prudente face a algumas posies relativamente generalizadas. Entre
elas, a de que a acelerada evoluo no campo das tecnologias digitais ter provocado
alteraes crticas nos modos de escrever e de ler; mas tambm, como refere Espen Aarseth
a tendncia para descrever os novos mdia textuais como absolutamente diferentes dos
anteriores, com atributos determinados pela tecnologia material do medium. Em ambos os
casos, "a inovao tcnica surge como causa de progresso social e poltico e de libertao
intelectual face aos mdia anteriores. No mbito dos gneros literrios, esta posio levou
convico de que "as tecnologias digitais e os seus recursos possibilitam que os leitores se
transformem em autores ou, pelo menos, de que a distino entre ambos seja cada vez
menos ntida, j que o leitor poderia criar a sua prpria estria interagindo com o
computador. As foras ideolgicas que rodeiam as novas tecnologias produzem uma retrica
de novidade, diferenciao e liberdade que contribui para obscurecer as relaes estruturais
mais profundas entre mdia superficialmente heterogneos. Por fim, o mesmo Aarseth refere-
se ainda a um outro problema que passa por uma aplicao algo descuidada das teorias da
crtica literria a um novo campo emprico, sem qualquer reavaliao dos termos e conceitos
nele envolvidos. (15) sso no tem impedido que nestes anos mais recentes alguns desses
novos gneros textuais tenham encontrado boa fortuna, particularmente os ligados aos
conceitos de hipertexto e, mais concretamente, as chamadas narrativas hipertextuais ou
hiperfico.
Comecemos ento por enfrentar esta noo, o hipertexto, e o que nela se vem jogando, at
porque a primeira utilizao explcita do termo j tem praticamente quarenta anos e o artigo
seminal de Vannevar Bush mais de cinquenta. Luciano Floridi considera que, passado este
tempo, os hipertextos adquiriram tantos atributos e desenvolveram-se em tipologias to
diferentes que uma definio englobante se arrisca a ser ou muito genrica ou muito
controversa. Mas que vale a pena assumir esse risco, at pelo que isso poder ajudar a
clarificar alguns conceitos equvocos referentes natureza do hipertexto. Ento, na sua
definio abrangente, "um texto um hipertexto se, e s se, for constitudo por:
1. Um conjunto discreto de unidades semnticas (ns) que, nos melhores casos, tm um
baixo peso cognitivo, como pargrafos ou seces, mais do que pginas ou captulos. Estas
unidades, definidas por Roland Barthes como lexia (.) podem ser: a) documentos
alfanumricos (hipertexto puro); b) documentos multimdia (hipermdia); c) unidades
funcionais (isto , agentes, servios ou applets.), caso em que temos o hipertexto ou o
hipermdia multifuncional.
2. Um conjunto de associaes - links ou hiperlinks incrustados em ns por intermdio de
reas formatadas especiais, conhecidas como ncoras (anchors) de origem e de destino
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conectando os ns. Estas so referncias cruzadas activas e estveis que permitem ao leitor
mover-se imediatamente para outras partes de um hipertexto.
3. Um interface dinmico e interactivo. sto possibilita ao leitor identificar (...) e operar com
as ncoras (...) com a finalidade de consultar um n a partir de outro (...). Os interfaces tambm
podem apresentar mais facilidades de navegao, como uma representao espacial, a priori,
de toda a estrutura da rede quando o sistema fechado e suficientemente limitado para ser
totalmente apresentado num mapa (o chamado sistema sky-view) -, ou um sistema a
posteriori do registo cronolgico da 'histria' dos links seguidos (.). (16)
Floridi refere ainda alguns equvocos recorrentes sobre o hipertexto, a que chama falcias,
interesssando-nos aqui particularmente duas delas: em primeiro lugar, a falcia electrnica,
segundo a qual o hipertexto seria unicamente um conceito computer-based. Ora, na verdade,
essa posio incorrecta e deve-se confuso entre o nvel fsico e nvel conceptual. Como o
Memex mostra, "um hipertexto uma estrutura conceptual que foi originalmente concebido
em termos completamente mecnicos. (.) certo que ns e links s podem ser
implementados eficientemente e em larga escala por um sistema de informao que possa,
em primeiro lugar, unificar todos os documentos, formatos e funes que usam o mesmo
medium fsico e, em segundo lugar, proporcionar um interface interactivo que possa responder
aos inputs externos quase em tempo real. E igualmente bvio que os computadores se
ajustam de um modo preciso a esse papel. Mas o memex ou Xanadu so, como a mquina de
Turing, modelos tericos. A electrnica digital, embora praticamente vital para o seu
desenvolvimento, em geral conceptualmente irrelevante para o seu entendimento. Em
segundo lugar, a falcia literria, segundo a qual o hipertexto teria comeado primariamente
como uma tcnica narrativa, sendo pois essencialmente uma nova forma de gnero literrio.
Tambm esta noo incorrecta. Na verdade, "os hipertextos foram encarados em primeiro
lugar e permanecem antes do mais, como sistemas de recuperao de informao, usados
para recolher, ordenar, agrupar, actualizar, pesquisar e recuperar informao de um modo
mais fcil, rpido e eficiente. E, na realidade, o hipertexto fornece meios potentes e efectivos
para integrar e organizar documentos em coleces coerentes com referncias cruzadas
extensas, estveis e imediatamente disponveis. Em consequncia disso, "o formato
hipertexto tornou-se o formato standard para software educativo interactivo, obras de
referncia, livros de texto e documentao tcnica, ou para a prpria Web... (17)
Por outro lado, para Floridi, o hipertexto, como princpio organizacional da estrutura tipolgica
do nosso espao intelectual (...) abre a infoesfera para um crescimento sem limites. Parece
ento razovel descrever o hipertexto como "o princpio logicamente constitutivo de
organizao do hiperespao representado pela infoesfera. (.) E, em vez de tentar impor uma
linha de diviso entre diferentes tipos de documentos, mais til reconhecer que o hipertexto,
como organizao relacional de documentos digitais, ajuda a unificar, a tornar mais fina e
eventualmente mais acessvel a estrutura intertextual e infratextual da infoesfera. (18)
Recorde-se que, para Floridi, a infoesfera "todo o sistema de servios e documentos,
codificados em qualquer mdia semitico e fsico, cujos contedos incluem qualquer espcie
de dados, informaes e conhecimentos, sem limitaes de dimenso, tipologia ou estrutura
lgica. No que se refere infoesfera, o poder simblico-computacional dos instrumentos das
TC empregue para fins que vo para alm da soluo de problemas numricos complexos,
do controlo de um mundo mecnico ou da criao de modelos virtuais. A cincia dos
computadores e as TC fornecem os novos meios para gerar, fabricar e controlar o fluxo de
dados e informaes digitais (...), gerindo assim o seu ciclo de vida (criao, input, integrao,
correo, estruturao e organizao, actualizaes, armazenamento, pesquisa, interrogao,
recuperao, disseminao, transmisso, uploading, downloading, linking, etc.) (19).
Este ponto decisivo para entendermos que, independentemente de o hipertexto, como
ferramenta tcnica, se poder considerar como programa, como software ou como diferentes
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tipos de hypermedia system designs e portanto dos documentos ou web sites a que d
forma e d estrutura, nos encontramos cada vez mais envolvidos num ambiente hipertextual
pois o hipertexto tambm o princpio organizacional da estrutura do nosso espao
intelectual. Questo da maior importncia para abordar o problema das competncias
culturais nas sociedades contemporneas, como adiante veremos.
Alguns autores tm procurado encontrar pontos de referncia nesta realidade de mltiplos
registos. Assim, Alberto Cadioli distingue entre hipertextos de tipo ensastico (que, por sua
vez, Maria Augusta Babo refere como relevando da "reconfigurao do livro-representao) e
hipertextos literrio-criativos, dotado de uma elevada funo esttica. (20) Os primeiros so
utilizados para conectar informaes de documentos j existentes (com afinidades que o
justifiquem), com vantagens no campo da investigao ao facilitar a consulta de documentos
e livros, "no implicando que esses livros abdiquem da sua integridade e existncia fsica, e
que encontram enormes mais-valias ao serem digitalizados e sobrecodificados em
linguagens e protocolos hipertextuais. Basta pensarmos em hipertextos como o projecto
Perseus, as vrias Webs de George Landow ou o Rossetti Archive, para verificarmos como se
tratam de trabalhos com aspectos de absoluta inovao face aos textos impressos. Jerome
McGann, responsvel pelo Rossetti Archive (21), escreve que os "hipertextos nos permitem
navegar atravs de grandes massas de documentos e ligar esses documentos, ou partes
deles, de modos complexos. As relaes podem ser definidas previamente (como nas vrias
webs de Landow) ou podem ser desenvolvidas on the fly (atravs de relaes criadas na
marcao SGML de uma obra). (.) Estas redes documentais podem ser organizadas de
modo interactivo, permitindo inputs do leitor/utilizador. Podem ser distribudas de uma forma
auto-contida (por exemplo, em discos CD-ROM), ou podem ser estruturadas para transmisso
atravs da Rede. (22) Referindo-se sua experincia, acrescenta que " importante
compreender que o projecto Rossetti um arquivo e no uma edio. Quando um livro
produzido, ele fecha-se literalmente em si mesmo. Se a obra tiver continuao, tm de ser
produzidas de modo similar novas edies ou outros livros com ela relacionados. Uma obra
como o Rossetti Hypermedia Archive escapa a essa limitao bibliogrfica. Foi construda de
modo a que os seus contedos e a sua webwork de relaes (internas ou externas) possam
ser indefinidamente expandidos e desenvolvidos. Mais ainda, ao invs das edies
tradicionais, a edio computorizada permite armazenar enormes quantidades de
documentao e pode ser construda de modo a organizar, a aceder e a analisar esses
materiais no s mais rpida e facilmente como com uma profundidade a que nenhuma
edio em papel pode aspirar. No entanto, McGann no deixa de esclarecer dois aspectos.
Antes do mais, as suas posies tm apenas a ver com corpos textuais que so instrumentos
de conhecimento cientfico. De seguida, afirma que "os entusiastas do HyperText fazem por
vezes algumas extravagantes declaraes.... (...) Afirmar que um HyperText no se encontra
centralmente organizado no significa (...) que a sua estrutura no tenha princpios directores
(...). Essa estrutura tem claramente muitas partes e seces ordenadas e est organizada para
permitir pesquisas directas e operaes analticas. Nesse sentido, o HyperText est sempre
estruturado de acordo com um conjunto inicial de planos de design que se ajustam aos
materiais especficos no HyperText e s necessidades previstas dos utilizadores desses
materiais.(23) Este segundo ponto pode levar a pensar em alguns teorizadores e cultores do
hipertexto literrio-criativo.
Este tipo de hipertexto, o literrio-criativo, est virado "para a produo de obras concebidas
propositadamente para serem lidas no registo hipertextual, e nele "o gnero ficcional parece
ser o grande beneficirio devido ao desaparecimento dos limites postos imaginao do
escritor pelo livro impresso.
Nessa perspectiva, as tecnologias digitais proporcionariam ento novas possibilidades de
criao literria e constituiriam a satisfao de um desejo antigo dos escritores graas s suas
potencialidades de escrita no linear, possibilidade de uma maior participao do leitor ou
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incluso, no corpo do texto, de elementos no verbais. Jean Clment chega a afirmar que "a
generalizao das tcnicas hipertextuais o resultado da conjugao de uma mudana
epistemolgica e de uma tcnica, sendo que a mudana epistemolgica diz respeito ao
estatuto do texto na crtica contempornea. (24) E, na verdade, nesta rea da reflexo sobre
a escrita que encontramos as perspectivas tericas mais elaboradas, a propsito quer do
hipertexto em geral quer do hipertexto como instrumento para a criao literria. Essa a
opinio de Giulio Lughi, que menciona alguns pontos de referncia literria e terica em que
se fundamenta essa reflexo, desde "os grandes experimentadores do passado (de Rabelais
e Sterne at Joyce e Borges) vanguarda experimental contempornea (Robbe-Grillet,
Saporta, Pavic) e aos tericos da centralidade do leitor (de Barthes a ser), tudo num contexto
terico em que tm um papel decisivo os conceitos de descentramento, segmentao e rede,
remetidos para o desconstrucionismo de Derrida. Nesta perspectiva, o hipertexto literrio
entendido como a realizao de instncias tericas j pr-existentes no plano filosfico e
cultural, como o banco de testes em que se analisa a dissoluo da centralidade do texto, a
multiplicao dos pontos de vista e a livre iniciativa do leitor. (25) No admira assim que
Clment, considere que o hipertexto traz uma resposta tecnolgica problemtica
deleuziana.
So conhecidos os principais pontos da argumentao desenvolvida por figuras como George
Landow, Jay Bolter ou Richard Lanham: a reconcepo da textualidade (que passa por
aspectos como o abandono da linearidade, o texto como rede, o texto aberto, a disperso do
texto, a questo da intertextualidade, o tema dos mltiplos comeos e fins e o descentramento
do texto), a redefinio do autor, a redefinio do leitor, o rompimento do cnone e os novos
modos de ler e de escrever.
Desse modo, quando se analisa o campo literrio da escrita hipertextual, convm ter em
conta, para alm das prprias hiperfices, estas perspectivas tericas. Ou seja, refere
Aarseth, os pressupostos normativos das teorias iniciais do hipertexto "devem ser
compreendidas luz de um projecto de mbito mais vasto no seio da sua primitiva
comunidade, projecto que tentava associar a tecno-ideologia do hipertexto aos vrios
paradigmas da teoria do texto. (26) Como escreve Rune Daalgard, "a justificao para as
reivindicaes ideolgicas feitas a partir do hipertexto assumem normalmente uma de duas
formas: ou uma convico de que o hipertexto possui um novo potencial crtico e reflexivo
para alguns, o hipertexto encontra-se mesmo explicitamente associado a uma filosofia
especfica ou a uma atitude crtica - ou, alternativemente, uma ideia, j presente no Memex
de Bush, de que o hipertexto se encontra mais prximo do pensamento associativo humano
do que o texto impresso. (27)
Num artigo clssico de 1992, The End of Books, Robert Coover afirmava que "o romance,
como o conhecemos, chegou ao seu fim. E ningum lamenta a sua morte. Por maior que
tenha sido o seu charme, o romance tradicional, que ocupou uma posio central no mesmo
momento em que surgiram as democracias industriais e aquilo a que Hegel chamava a
epopeia do mundo da classe mdia - entendido pelos seus carrascos como o perigoso
veculo dos valores patriarcais, coloniais, cannicos, hierrquicos e autoritrios de um
passado que j nos no acompanha. E acrescentava que muito desse suposto poder do
romance est incrustado na linha, esse movimento compulsivo determinado pelo autor, que
vai do incio de uma frase ao final do perodo, do cimo ao fundo e da primeira ltima pgina.
claro que durante a longa histria do impresso se verificaram inmeras estratgias para
reagir contra o poder da linha, desde os comentrios margem e notas de rodap at s
inovaes criativas de romancistas como Lawrence Sterne, James Joyce, Raymond
Queneau, Julio Cortzar e talo Calvino (...) Mas a verdadeira libertao da tirania da linha s
percebida como realmente possvel com a aparecimento do hipertexto, escrito e lido no
computador, onde a linha de facto no existe a menos que algum a invente e implante no
texto. (28)
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Aqui se encontram confirmados quer os temas da linearidade e do poder demirgico do autor
ligados tecnologia do impresso, quer uma estratgia de legitimao que passa pelas
diversas tentativas de libertao dessa priso, sempre frustradas porque incompletas, por
parte de grandes figuras do cnone literrio e mesmo ensastico. Basta recordar que Landow
considerou a obra "Mille Plateaux, pela sua construo, como um "proto-hipertexto impresso
e por outro que "muitas das qualidades que Deleuze e Guattari atribuem ao rizoma requeriam
o hipertexto para encontrar a sua primeira aproximao, se no a sua resposta e realizao
completas. (29)
A partir de 1987, com a publicao de Afternoon, de Michael Joyce, a obra marcante do
campo da hiperfico, primeiro apresentada em floppy disk e depois transferida para o
programa Storyspace em parte desenvolvido pelo prprio autor em 1990, comeam a surgir
diversas experincias de narrativa hipertextual. Para Joyce, a hyperfico " a primeira
instncia do verdadeiro texto electrnico, aquilo que um dia ser concebido como a forma
natural de escrita multimodal e multissensitiva. (...). No tem um centro fixo nem margens,
no tem um fim ou fronteiras. O tradicional tempo linear da narrativa desaparece numa
paisagem geogrfica ou num labirinto sem sada, e o comeo, o meio e o fim deixam de fazer
parte da sua apresentao imediata. Em vez disso, temos opes ramificadas, menus, link
markers e redes mapeadas. Nestas redes no existem hierarquias, nem pargrafos, captulos
ou outras tradicionais divises do texto, que so substitudas por janelas com blocos efmeros
de texto e grficos que, a breve trecho, sero complementados com som, animao e filme.
Esta fase, que Robert Coover veio posteriormente a chamar a "idade de ouro do hipertexto
literrio, caracterizou-se por obras com mltiplos links entre crs de texto numa webwork
no linear de elementos poticos ou narrativos. Os primeiros escritores experimentais
trabalhavam quase exclusivamente em texto, tal como os estudantes dos primeiros workshops
sobre hipertexto na Brown University, em parte por opo (eram escritores do impresso a
tentar movimentar-se em direco a este domnio radicalmente novo e trazendo consigo o
que melhor conheciam), mas em grande medida porque tal era exigido pelas limitadas
capacidades dos computadores e diskettes de ento. (.) Estes primeiros hipertextos eram na
sua maior parte objectos discretos, tal como livros, passados para floppy disks de baixa
densidade e distribudos por pequenas empresas em arranque como Eastgate Systems e
Voyager. (30) o tempo de obras paradigmticas como Its Name Was Penelope de Judy
Malloy, Victory Garden de Stuart Moulthrop ou da famosa Patchwork Girl de Shelley Jackson.
Mas desde ento algumas mutaes ocorreram. Antes de mais, o aparecimento e
desenvolvimento da World Wide Web e de alguns aspectos com ela relacionados: interfaces
grficos tipo WIMP (Windows, con, Menu, Pointer), a inveno do Netscape e outros
browsers, a criao de linguagens HTML, de aplicaes Java e VRML e uma rpida
expanso do hipermdia. Com a possibilidade de se "publicarem hiperfices directamente
na Web veio a verificar-se uma progressiva diminuio da importncia da palavra, cada vez
mais reduzida, diz Coover, a um cone ou a uma legenda.
Tambm Christian Vandendorpe assinala que, na realidade, "a componente verbal (...) j no
representa praticamente nada nos hipermdias ficcionais... hoje possvel empenharmo-nos
numa fico complexa sem que a linguagem esteja presente seno no estado de
epifenmeno. Este movimento de desverbalizao tornou-se possvel devido a uma
modificao radical do ponto de vista da narrao. (31) Coover chama ainda a ateno para
um outro aspecto. Diz ele que tambm as "noes de arquitectura, de organizao ou de
design desapareceram. O mesmo aconteceu com a genuna interactividade; o leitor agora
frequentemente obrigado a entrar num fluxo media-rich mas inescapvel, direccionado pelo
autor ou autores: num certo sentido, equivale ao back to the movies again, a mais passiva e
dominadora das formas. (32)
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Vejamos o caso da hiperfico Hegirascope publicada em 1995 por Stuart Moulthrop
(33).Nesta obra, os fragmentos textuais passam como num ininterrupto slide show, as pginas
encadeiam-se de modo automtico aps ter decorrido um certo perodo de tempo
(normalmente de 20 a 30 segundos), para alm de os ns de texto conterem os habituais
links. Assim, o que muda entre Afternoon e Hegirascope que, enquanto aquela obra
colocava, segundo Bolter, um problema geomtrico em que o leitor "tinha de adquirir uma
intuio da estrutura espacial (34), em Hegirascope se adiciona uma figura temporal que
pode ser vista, na opinio de Aarseth, como "uma alegoria da ausncia de influncia do leitor
sobre o texto. Enquanto as anteriores hiperfices podiam ser contempladas segundo o ritmo
do leitor, no fundo como qualquer outra obra ficcional, esta obra de Moulthrop no permite
essa leitura contemplativa. O efeito acrescentado do ritmo temporal transforma Hegirascope
numa pardia do hipertexto, numa excessiva fragmentao que sobreaquece o medium, para
usar os termos de McLuhan. (35)
Hegirascope obriga a reflectir sobre alguns pontos. Por um lado, a actividade que obras como
esta propem aproxima-se mais do visionamento de um espectculo que da leitura de um
livro, em virtude no tanto da importncia concedida ao visual mas da falta de controlo do
leitor sobre o passar da pgina. Por outro lado,Aarseth chama a ateno para a diferena
ontolgica entre os textos da Web como Hegirascope e os textos dos mdia modernos que o
precedem. Antes da nternet "a publicao significava produo em massa, fosse em papel,
CD-ROM ou diskette. sso implicava, no codex ou no hipertexto, a cpia, para que objectos
fsicos idnticos pudessem ser largamente distribudos. Um documento da Web, ao invs,
existe inteiramente num stio: no servidor em que o autor ou o possuidor do documento o
colocou. A obra de arte volta assim a ganhar de novo um sentido do lugar. (36)
Mas h ainda motivo para questionar um dos mais caros pressupostos dos tericos do
hipertexto, a redefinio do estatuto do autor, do estatuto do leitor e a reconcepo da sua
mtua relao. O autor de Hegirascope, por exemplo, retm o controlo total sobre o contedo
da obra mesmo aps a publicao do texto. Pode em qualquer ponto mudar ou acrescentar
partes ao texto sem o conhecimento do leitor e o nico a ter a todo o momento uma
compreenso integral da composio do texto. Hegirascope, sendo uma experincia radical,
levanta afinal uma questo que muito provavelmente deve ser posta em relao a qualquer
outro hipertexto. J Coover referia que "o autor no desaparecera, como uns receavam e
outros ansiavam e Vandendorpe afirmava que "com o hipertexto, a parte do visual no texto e
a dimenso icnica esto em vias de expanso pelo facto de o autor poder agora reapropriar-
se da totalidade dos instrumentos de edio de que tinha sido desapossado com a inveno
da imprensa. Graas ao computador pode encarregar-se da formatao tipogrfica e icnica
do seu texto e, no caso de um hipertexto, determinar com preciso o grau de interactividade
que deseja conceder ao leitor. Mais ainda, "graas tecnologia informtica o autor pode
agora retomar um certo controlo sobre o leitor, controlo que tinha perdido na passagem da
oralidade para a escrita. Da que Vandendorpe considere que"invocar o esprito de
descoberta inerente tecnologia do hipertexto para justificar o facto de se deixar o utilizador
no negrume mais total, equivale a infantilizar o leitor, negando-lhe o acesso a informaes
esssenciais para poder gerir a sua leitura e o tempo que deseja dedicar-lhe. Por isso prope
que " antes necessrio procurar os meios de dar ao leitor, graas mquina, um domnio
ainda maior sobre a sua actividade. A leitura em cr s poder seduzir duradouramente os
utilizadores se se apoiar naquilo que a cultura impressa conquistou, embora libertando-se dos
limites inerentes a um suporte material.
Talvez seja pois legtimo pensar que o aumento do poder do leitor apenas "uma
representao idlica, que suporia que o autor de um hipertexto teria, na realidade, renunciado
a manipular o contexto de recepo do leitor, ou que "a liberdade aparente dada ao leitor
mais no faz do que reforar a posio soberana do autor, que surge como o senhor de todos
os desenvolvimentos possveis. (37) E o facto de "os hipertextos electrnicos possibilitarem
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marcaes e anotaes a uma meta-nvel, s mostra que o hipertexto em si mesmo, como
objecto-nvel, se encontra frequentemente "trancado, como uma coleco de ficheiros 'read-
only'. O grau de interaco criativa que os hipertextos oferecem ao leitor continua a ser, na
prtica, limitado, como escreve Floridi. Do mesmo modo, no nos devemos deixar iludir na
Web pelas oportunidades oferecidas pelas ilimitadas possibilidades de ligao. Existe uma
enorme diferena entre um hipertexto totalmente marcado, que uma totalidade de ns e
links, e a simples conexo com outro hipertexto que no est directamente sob o controlo do
autor. E,muitas vezes, "os hipertextos so to finitos, autoritrios e imutveis como um livro e
apresentam um percurso igualmente claro em que o leitor convidado a mover-se, no fundo
uma narrativa axial. (38)
Talvez por isso Aarseth afirme que com as actuais diferenas entre sistemas hipertextuais,
nomeadamente os utilizados para fins poticos, perigoso elaborar teorias gerais sobre
hiperliteratura e que, ao invs, devemos olhar para cada sistema como um medium tcnico
potencialmente diferente, com consequncias estticas distintas. Para ele, "o hipertexto
tanto uma categoria tcnica como ideolgica, construda com base na sua pressuposta
diferena de, e superioridade sobre, os mdia impressos e devemos ter o cuidado de no
permitir que este mito influencie subconscientemente as nossas leituras de textos individuais.
(39)
Mark Bernstein, citado por Jos Augusto Mouro, a propsito da narrativa na rede, escreve: "A
Rede est permanentemente dilacerada por duas foras poderosas, aparentemente
irresistveis e irreconciliveis. Por em lado, a utilizao e a engenharia de interface favorecem
a simplicidade, a consistncia e a clareza, um minimalismo meramente funcional. Por outro
lado, os padres e as tecnologias da rede que esto a surgir alimentam uma eflorescncia
permanente de novas abordagens ao design da rede. Por um lado, trata-se de uma estrutura
hierarquicamente rgida cunhada como Arquitectura da nformao que promete claridade e
coerncia; por outro lado, essa mesma rigidez parece proporcionar esterilidade e enfado. E
comenta Mouro: "A estamos. Entre um minimalismo funcional; entre estruturas rgidas que
prometem ao mesmo tempo claridade e coerncia, mas tambm esterilidade e aborrecimento.
Enquanto as novas tecnologias para o hipertexto e grficos animados baseados na rede
prometem trazer rede experincias narrativas poderosas, a realidade no assim to cor-
de-rosa: continua a ser difcil encontrar narrativas na rede atraentes e os grficos comerciais
animados tm sobretudo que aliar a interaco sofisticada com uma narraco sedutora.
verdade que as velhas ideias de design se tornaram caducas com esta arremetida; verdade
que os antigos erros parecem ridculos; verdade que as abordagens anteriores ficam muito
ultrapassadas. Mas esta corrida tumultuosa, com claques de ambas as partes, ignora uma
terceira fora: o poder da narrativa. Objecto perdido? E mais adiante: "Aquilo que a escrita
electrnica conta no seno a linguagem das bifurcaes, das descontinuidades e das
descontextualizaes: organizar a estabilidade das relaes mais do que a inveno das
palavras, ir at raiz das diferenas imateriais que fundam a linguagem. Que linguagem a
do vazio? (40)
Talvez por isso, a insuspeita Jane Yellowlees Douglas quase reduza agora as caractersticas
do hipertexto a "uma tecnologia que existe em grande medida como reflexo do que pode ser
entendido como crucial para criar, armazenar, pesquisar e manipular informao. E
acrescente que o "o hipertexto se torna um aparato pelo qual diferentes grupos fixam as
qualidades que consideram centrais para a comunicao atravs de palavras. Na maior parte
da literatura sobre os aspectos do design do interface e da engenharia do software do
hipertexto, os investigadores assinalam que existem praticamente tantos tipos diferentes de
sistemas hipertexto quanto utilizaes bvias para a tecnologia, e que o prprio design do
software tende a reflectir os tipos de actividades para cujo suporte foi criado. Essas
actividades so ler, escrever e aprender, elas mesmos processos que se transformam de um
contexto social para outro, de umas tarefas, gneros e textos para outros. (41)
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Parece assim de aceitar a ideia de Floridi para quem "o hipertexto literrio entendido como um
novo estilo de narrativa aberta permanece um fenmeno apenas marginal. (42) E, entre
outros, talvez para isso concorra um ponto sublinhado por Joo Arriscado Nunes ao afirmar
que "apesar das frequentes tentativas de assimilar o texto em suporte impresso ao texto em
suporte electrnico, a qualidade de literrio de um dado texto parece estar estreitamente
vinculada ao suporte impresso. O livro, enquanto objecto impresso, aparece como a forma
quase natural de existncia dos textos que so classificados, pelos especialistas, como
literrios. As formas electrnicas de existncia dos textos literrios so vistas, nesta
perspectiva, seja como um recurso para alargar a difuso de um texto que, no essencial, foi
definido e fixados na(s) sua(s) verses impressas (ou para facilitar o trabalho dos
especialistas de teoria, crtica e histria literria sobre o prprio texto), seja como uma ameaa
existncia e integridade de obras que encontram no suporte impresso a sua forma
natural de existncia fsica. (43)
Tambm por isso Steiner pode afirmar que " claro que os livros tal como os conhecemos
desde Gutenberg vo continuar a ser escritos, publicados, comercializados e lidos. E que
"muito provalmente o nmero de ttulos em formatos tradicionais vai aumentar nos tempos
mais prximos (...) As "Belles lettres, a literatura destinada ao prazer e consolao iro
continuar, num futuro previsvel, a aparecer no seu modo tradicional. (44)
Apesar disso, no nos devemos deixar iludir, pois tal no impede que o livro tenha perdido, no
oceano textual, a sua hegemonia e a sua centralidade simblica e que a leitura e as suas
prticas, bem como a nossa relao com a escrita, se encontrem igualmente num processo de
clara transformao.
Na verdade, tem-se previsto amide quer "a morte do livro quer "a morte do leitor, referindo-
se argumentos estatsticos sobre o declnio dos hbitos de leitura, os crescentes problemas
que a edio tradicional enfrenta ou ainda o inevitvel triunfo da cultura do cr. Os dados
resultantes de diversos estudos e inquritos apontam para tendncias dificilmente
questionveis, como a exploso do universo do audiovisual e do multimdia, a generalizao
da diversificao das prticas culturais (favorecida pelo uso do telecomando e do "rato), a
diminuio do nmero dos grandes leitores ou a transferncia dos jovens leitores para o
segmento das revistas, livros prticos ou profissionais. Assiste-se ainda a uma clara
revalorizao do modelo a que os franceses chamam lecture ordinaire que se estende
agora a todas as categorias de leitores e que, como refere Christine Dtrez, "revela a rejeio
dos cnones tradicionais e dos valores que fundavam a legitimidade da leitura clssica.
Mais ainda, "a evoluo no se situa tanto nos prprios modos de leitura que, recorde-se,
sempre coexistiram, como na sua reivindicao aberta por os que as cultivam: se Comme un
roman, de Daniel Pennac, alcanou um tal sucesso isso deve-se sem dvida ao facto de
proclamar alto e bom som a legitimidade de um modelo de leitura at ento estigmatizado.
(45) Acresce que a leitura de livros, agora enquadrada no mercado dos lazeres, cada vez
menos relevante no conjunto das prticas culturais, superada pelo desporto, cinema e
msica, pelas actividades viradas para os outros e para o exterior e, sobretudo, relacionadas
com fenmenos de sociabilizao.
No nosso caso, ainda recentemente Joo Teixeira Lopes e Lina Antunes confirmaram estes
traos, salientando algumas tendncias consistentes no universo dos jovens,
designadamente em relao organizao dos tempos livres: " avassalador, embora nada
surpreendente, o peso ocupado pelo audiovisual. Ver televiso e ouvir msica so as prticas
hegemnicas, apenas acompanhadas pela cultura de diverso convivial, isto , pela
importncia atribuda a estar com os amigos, sinal que confirma algo amplamente constatado
pelos diversos estudos efectuados (s) juventude(s) portuguesa(s): a predominncia de um
ethos e de uma hexis assentes no modelo do individualismo relacional, ou, se preferirem, no
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viver o quotidiano de forma ldica mas scio-centrada. (...) ... O investimento dos jovens na
conjugao do paradigma audiovisual com a "cultura diverso da sociabilidade dos grupos
de pares insere-se numa profunda modificao dos "mundos da cultura, em particular nas
suas instncias de legitimao e na propriedade do monoplio de classificao de "quem
ou no culto. (...) Paulatinamente, consagra-se um novo paradigma de "ser-se culto que j
no sinnimo de "ser-se cultivado ou de acumular referncias prprias cultura clssica,
escolar e patrimonial. Alis, quanto mais se progride no percurso escolar menos se l, em
particular por fruio. (...) Parece tambm consistente afirmar que a leitura de revistas e de
jornais suplanta, regra geral, a leitura de livros, no s porque permitem, principalmente nas
revistas uma aproximao ao paradigma audiovisual (textos curtos, profuso de imagens), em
particular nas que se dirigem aos vrios segmentos juvenis, mas tambm porque facilitam o
zapping, a seleco rpida e eficaz daquilo que interessa ser lido.(46)
Como refere Armando Petrucci, pela primeira vez o livro e os outros produtos impressos se
encontram "confrontados com um pblico, real e potencial, que se serve de outras tcnicas de
informao e que adquiriu outros mtodos de aculturao, os dos meios audiovisuais, que se
habituou a ler mensagens em movimento, que, em numerosos casos, escreve e l mensagens
por meios electrnicos (.) e que, mais ainda, se habitua a aculturar-se atravs de
intrumentos e mtodos no s sofisticados mas onerosos, e que os domina, os utiliza, de um
modo absolutamente diferente daquele que o processo normal de leitura requeria. (47)
Estas perspectivas no so muito distante das concluses de Christian Baudelot: "o lugar e o
estatuto do livro no espao social, as condies da sua produo, da sua transmisso e do
seu consumo, o papel da leitura na construo de si e a elaborao de uma cultura comum
modificaram-se profundamente no decurso dos ltimos decnios, em particular entre os
jovens. E no se trata de uma ocorrncia circunstancial, "mas de uma tendncia de fundo,
cujas causas, longe de serem conjunturais, devem ser procuradas no mago de vrios
registos de mutaes que afectaram as nossas sociedades: tecnologias dos mdia e dos
suportes materiais dos textos, nova configurao das diferentes componentes da vida cultural,
perturbaes da instituio escolar, transformao da figura do intelectual de referncia,
instaurao de novos ritmos sociais impostos vida quotidiana pelas mutaes econmicas e
sociais.(48)
Essa mudana tambm no deriva de um determinismo do hardware e do software, pelo que
teremos muito provavelmente que aceitar que a palavra impressa faz parte de uma ordemde
que nos estamos irremediavelmente a afastar. E isto porque, como refere Zygmunt Bauman,
"o destino do livro no nosso mundo globalizante no depende, e no pode ser explicado
apenas pelas tecnologias (...) Os livros partilham a sorte das sociedades de que fazem parte e
quando nos preocupamos com o destino dos livros e da leitura, devemos olhar mais de perto
para a sociedade e para as suas tendncias. (49) Se o fizermos, vemos que o que estamos a
abandonar essa ordem em que a leitura constitua uma espcie de facto cultural total, com
a obrigao de cumprir simultaneamente todas as funes possveis e imaginveis
relacionadas com a formao e com a informao de uma pessoa(...). (50) Leitura integrada
num consenso aparentemente natural, em que ler e escrever eram actos individuais
destinados a proporcionar uma compreenso sempre mais profunda de ns prprios e de tudo
o que nos rodeava, num gesto que s a intensidade de uma relao pessoal com o texto pode
permitir, como ainda a criar novos modos de organizar a experincia e de participar e
contribuir para o progresso material e espiritual do mundo.
Mas esta literacia depende tanto da sedimentao da cultura do impresso como, por
exemplo, daquilo que Steiner refere como uma trade vital constituda pelo "espao, pela
privacidade e pelo silncio, iconizada por S. Jernimo no seu estdio ou por Montaigne na
sua torre. E essa congruncia privilegiada est relacionada inevitavelmente com as camadas
emancipadas do ponto de vista educativo e econmico nas sociedades ocidentais. "Ler
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privadamente e em silncio, possuir os meios para essa leitura, o livro e a biblioteca privada,
beneficiar, em sentido lato, das relaes de poder de um ancien rgime. (51) Estamos pois
a viver a crise das estruturas institucionais e ideolgicas que tinham at agora mantido a
antiga "ordem da leitura e encontramo-nos no dealbar de uma outra era a que por agora
corresponde, na expresso de Petrucci, uma "desordem na leitura.
Teixeira Lopes e Antunes referem que aquela expresso de Baudelot, "o fim da leitura como
facto cultural total, pretende salientar a crescente indiferena das populaes juvenis face s
"normas culturais dominantes. De qualquer modo no se trata da "crise ou da "morte da
leitura como prtica em si mas, simplesmente, de uma metamorfose num modelo outrora tido
como nico e universal. (52) Como afirma Luca Ferrieri, "nos prximos anos ler ser cada vez
menos uma obrigao imposta pelo comrcio social, por fora do sucesso escolar ou
profissional. Em muitos destes mbitos, a leitura de livros ser substituda por outras formas
de comunicao: vdeo, tv, computador e outras telemticas massmediolgicas vo tornar
suprflua, para certo tipo de informao, a consulta de obras impressas ou de livros. (53)
Emerge assim uma nova multiliteracia dos textos electrnicos num momento intersticial entre
a leitura e a hiperleitura. Nessa passagem do livro impresso para o livro electrnico no
possvel ignorar aqueles fenmenos da interactividade, do multimdia ou da
hipertextualidade, dotados de uma fora cognitiva que no sabemos ainda quantificar ou
qualificar por completo. claro que ler num cr no o mesmo que ler um livro; as
pragmticas da leitura (para usar uma expresso de Nicholas Burbules (54)), isto , a
velocidade da leitura, o momento das pausas, a durao da concentrao, a frequncia com
que saltamos texto ou voltamos atrs para reler, etc. vo ser diferentes, e essas diferenas
vo ter efeitos no modo como compreendemos e recordamos o que lemos.
ento necessrio reflectir sobre algumas das tendncias dessas novas prticas de leitura.
Brigitte Juanals refere que, interiorizada no decurso de vrios sculos, "a espacialidade da
escrita na pgina do livro constituiu-se progressivamente como sistema semitico abstracto. A
mudana de suporte necessitou de uma redefinio das relaes entre pensamento e espao
e o interface representa esse novo espao semitico em construo. O objecto-livro
desapareceu e a espacialidade da pgina no suporte livro encontra-se transposta para o
interface grfico no espao do cr do computador. Esta mutao decisiva coloca o leitor face
a (ou nos) ambientes virtuais que so novos espaos de lecto-escrita. E acrescenta que "no
espao informacional global, aberto e em rede da nternet apresentam-se imensos depsitos
de informaes dispersas sob uma forma fragmentada, muito heterognea nos planos da sua
forma, da sua qualidade, da sua classificao e do seu acesso, instveis a vrios nveis,
pouco estruturadas e em renovao permanente, pois a lgica de rede uma lgica de fluxos.
Os dados apresentam-se sob uma forma modular e parcelar; suportes, documentos e dados
encontram-se doravante dissociados. A dimenso das mutaes operadas na seleco,
organizao, apresentao e acesso a um corpus de informaes, transformado pela lgica
de fluxo, assim como os meios agora necessrios para lhe aceder especialmente
significativa. Classificaes temticas, topolgicas, cronolgicas, por tipos de documentos,
etc., juxtapostas ou combinadas, permitem rearranjos permanentes, calculados em tempo real
em funo das necessidades do leitor. A escolha de um ou vrios modos de classificao
depende do prprio leitor, em funo de um objecto de pesquisa que deve definir
previamente. A multiplicidade, flexibilidade e diversidade das escolhas de estruturao
adaptveis dos dados, assim como modos de organizao e de classificao, so
caractersticos dos dispositivos hipermdia. O espao tornou-se agora movedio e
semanticamente estruturante e nele sobrepem-se recombinaes dinmicas e diversas.(55)
O leitor tem assim de construir o seu prprio percurso para encontrar a informao de que
necessita e -lhe exigida a capacidade de agir, criando, alterando ou aproveitando encontros
no corpo de conhecimento que se est a desenvolver. O que significa que tem de saber optar
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por percursos no metatexto, servir-se de textos j disponveis e ser capaz de criar ligaes
entre documentos multimodais. Mas essa atitude vai mais fundo pois, no contexto de uma
economia da ateno, -se levado a escrutinar a informao de modo muito veloz, a fazer
juzos rpidos, processando em paralelo outros materiais, de modo a captar e utilizar sem
demora o que nos interessa, e em que a contrapartida uma crescente fragmentao do
contedo. No pois de estranhar que a leitura hipertextual confira especial relevo a
capacidades individuais como a economia, a intuio e a destreza tcnica, bem como um
sentido da conectividade intertextual, do conhecimento relacional e do pensamento lateral
atravs de associaes.
Por outro lado, como lembra Ferrieri, qualquer mutao cultural antes de mais uma
reclassificao da temporalidade, e "a temporalidade linear e sequencial (mas em certos
casos tambm circular) do livro parece ceder agora o passo "temporalidade
ziguezagueante da simultaneidade multimdia; o tempo real dos computadores, o eterno
presente da TV, cancelam aquele reenvio constante entre passado e futuro que uma das
caractersticas tpicas da cultura do livro. E acrescenta que "simultaneidade quer tambm
dizer fazer muitas coisas ao mesmo tempo: os novos mdia esto programados para isso. A
fruio desatenta que Benjamin indicava como caracterstica do cinema e que Adorno
detestava, agora o protocolo tpico da utilizao dos mdia... (56) Na verdade, a
temporalidade dos novos mdia baseada numa paroxstica acelerao da velocidade. Luc
Bonneville refere-se a que, para os utilizadores da nternet,o tempo percebido antes do mais
no quadro de um "momento presente" constantemente actualizado. De facto, "a velocidade
necessria para a realizao de uma actividade em linha assenta num tempo
quantitavamente diferente do tempo moderno, baseado nos intervalos perceptveis entre
momentos. Ora, "este tempo subjectivizado, vivido, implica (...) uma valorizao excessiva do
momento presente, doravante concebido independentemente do momento passado e do
futuro. E interroga-se sobre se, no plano psicolgico, essa representao da temporalidade
no poderer configurar uma patologia, tendo em conta que "o utilizador se encontra
mergulhado num tempo que instantneo pois sempre presentificado. Essa patologia
poderia derivar da "valorizao ou mesmo da obsesso da produtividade individual como
norma de conduta. A possibilidade de efectuar vrias actividades de modo cada vez mais
rpido e ao mesmo tempo, isto no mesmo momento, leva de facto a uma representao da
temporalidade que se baseia simultaneamente na obsesso da velocidade, da rapidez de
execuo, e na profunda aspirao de nos tornarmos senhores do nosso tempo,
desalienando-nos de um tempo objectivo constrangedor. (57)
Umberto Eco, aAo ser interrogado recentemente sobre oque hoje distingue ainda um livro de
uma outra qualquer forma de comunicao, afirmava: "antes de tudo, os mecanismos
psicolgicos da ateno. A espcie humana habituou-se a um certo tipo de ateno que
implica folhear as pginas e de nelas se deter intencionalmente. A leitura em cr
fatalmente diferente, mais rpida e a velocidade com que nos deslocamos muito maior. (58)
A leitura de facto uma actividade lenta, destilada, concentrada, o que significa tambm, ou
significa sobretudo, a possibilidade de voltar atrs, de reler. A releitura, momento dissipativo e
antieconmico por excelncia, leva ao extremo aquilo a que Luca Ferrieri chama a tendncia
cronfaga da leitura: ou seja, submete-a a um conflito inevitvel com a ordem temporal de
uma sociedade dominada pela pressa, pelo controlo rgido do tempo, pelas diversas formas
de taylorismo social.(59)
Como j referimos, Vandendorpe sublinha uma tendncia para a desverbalizao dos
textos electrnicos e Coover, por seu lado, refere que esse facto tem como contraponto que a
palavra, "a prpria matria da literatura e de todo o pensamento humano, cede
progressivamente o terreno ao image-surfing, ao hipermdia, ao cone linkado. O que parece
equivaler ao aparente do triunfo da cultura dos mdia centrados na imagem e da
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comunicao electrnica sobre a palavra impressa. Essa perspectiva tinha sido j detectada
por Vilm Flusser no incio dos anos oitenta. Escrevia ele ento, referindo-se aos problemas
relacionados com o futuro da escrita perante a crescente importncia das mensagens no
escritas na nossa vida: "proponho-me analisar uma tendncia que est na base destes
problemas, designadamente a tendncia para um afastamento dos cdigos lineares, como a
escrita, e para uma aproximao a cdigos bidimensionais como fotografias, filmes ou a
televiso, tendncia que pode ser observada se prestarmos ateno, mesmo que
superficialmente, ao mundo codificado que nos rodeia. O futuro da escrita, desse gesto que
alinha smbolos para produzir textos, deve ser encarado no quadro dessa tendncia. (60)
Esta questo vai a par com uma outra a que se refere Chartier e que passa, no fundo, pela
prpria noo tradicional de livro, que a textualidade electrnica pe em questo. Na
verdade, no mundo digital "todos os textos, sejam eles quais forem, so dados a ler num
mesmo suporte (o cr de um computador) e nas mesmas formas. Cria-se assim um
continuum que j no diferencia os diversos gneros ou repertrios textuais, doravante
semelhantes na sua aparncia e equivalentes na sua autoridade. Da a inquietao do nosso
tempo confrontado com o desaparecimento dos critrios antigos que permitiam distinguir,
classificar e hierarquizar os discursos. (61)
possvel que estes aspectos sejam j fruto do desvanecimento do paradigma da literacia
clssica do impresso, bem como provvel que estejamos a assistir passagem do livro
objecto ao livro em extenso, do livro monumento ao livro fluxo, no fundo, ao que Steiner
chamou "the end of bookishness... Ainda Vandendorpe, reflectindo sobre a questo da
convergncia, afirma que "o computador, ao disponibilizar atravs de um nico cr livros,
msica e vdeos, tende a homogeneizar o estatuto das diferentes artes pois tudo se encontra
afinal submetido s mesmas manipulaes. Os efeitos desta convergncia sobre o estatuto da
actividade de leitura so j evidentes. Esta, tal como a conhecemos no mundo fsico do
impresso, por excelncia uma actividade privada, com ritmos inconstantes e incertos, tanto
rpida como lenta e meditativa. Ao invs, quando se exerce sobre um texto digital, ela
quase obrigatoriamente definida pelo clicar do rato sobre as ligaes hipertextuais, e a
estrutura fragmentada do texto e a posio rgida de leitura imposta pelo medium convidam a
saltar rapidamente de um ponto para outro. Estes constrangimentos podem ser perfeitamente
convenientes para uma leitura orientada para uma aco ou para a pesquisa; mas so
completamente desadequados para uma leitura de fundo, que consiste em acolher em si um
pensamento novo e complexo ou em mergulhar num universo romanesco. Se a isto
acrescentarmos que, procurando seduzir o leitor, o texto se torna cintilante, recorrendo a
cores, cones e imagens, podemos compreender como a leitura tende a ser deportada para a
ordem do espectculo. (62) Essa deportao pode ser ainda mais complexa pois, como
refere Emmanuelle Jhanno, pode tornar o modelo econmico do livro digital dependente dos
modelos aplicados nas prticas culturais de massa, como na msica e no cinema. Jhanno
que salienta ainda que, no universo do digital, as fronteiras entre livros, filmes ou discos
tendem a abolir-se, fundindo-se num oceano binrio de zeros e uns, originando uma mistura
de contedos que "deixa pouca margem de manobra a produtores de contedos culturais
como os editores de livros, mesmo que digitais. (63) Livros que assim acabaro por se
integrar no universo da indstria do entretenimento, podendo vir a encontrar-se submetidos
aos interesses de Hollywood ou dos grandes grupos multimdia.
Se certo que o surto da edio electrnica tem potencialidades para introduzir novas
modalidades para o enquadramento e comunicao do conhecimento, para a sua construo
colectiva atravs do intercmbio do saber, da especializao e da compreenso (.), por
outro lado a revoluo electrnica pode agravar, e no diminuir, as desigualdades.
perfeitamente possvel que nos deparemos com um novo tipo de literacia, que j no se
caracteriza pelas competncias de ler e escrever, mas pela facilidade de acesso e
capacidade de manipulao dos mdia digitais pelos quais a escrita agora tambm
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transmitida. (64) Como escreve, a este propsito, Juanals, "naturalmente que as vantagens
das bases de dados hipermdia em termos de modos de armazenamento, de organizao e
de acesso ao corpus, em comparao com as verses impressas so inegveis: multiplicao
dos pontos de acesso, automatizao das ligaes, utilizao de filtros semnticos,
cruzamento de critrios (opes de pesquisa avanadas), utilizao de operadores booleanos
para pesquisas multicritrios, imediatez e possibilidades de refinamento dos resultados. (...)
Mas se as potencialidades de automatizao das ligaes calculadas e geradas pelo
software torna possvel o acesso em todos os pontos a imensas bases de dados, isso
acontece, no entanto, "em detrimento de um ambiente semntico que o leitor se vai ver
forado a reconstruir. Mais ainda, estas tcnicas estavam at agora reservadas a utilizaes e
a pblicos profissionais e a sua disponibilizao em obras destinadas ao grande pblico
levanta srias questes referentes sua utilizao adequada e eficaz. (65)
As novas materialidades que suportam a escrita no anunciam o fim do livro ou a morte do
leitor. Existir como sempre, escreve Derrida, "coexistncia e sobrevivncia estrutural de
modelos passados no momento em que a gnese faz surgir novas possibilidades. (66)
Mas essas novas materialidades pressupem que os papis vo ser redistribudos,
implicando uma competio mas tambm certamente uma persistente complementaridade
entre os vrios suportes do discurso, levando ao aparecimento de novas relaes (tanto
fsicas como estticas e cognitivas) com o universo textual, convivncia de todas as
modalidades de produo, reproduo e distribuio do livro e a complexas configuraes
entre diferentes hierarquias e tipologias de leitura e entre diversas formas de literacia.
Para concluir, trata-se de reconhecer com Derrida que uma nova economia que se
estabelece. Uma nova economia que "faz coexistir de um modo dinmico uma multiplicidade
de modelos, de modos de arquivo e de acumulao. E que isso , desde sempre, a histria do
livro. (67)
Jos Afonso Furtado
(15/11/2002)
NOTAS
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36. AARSETH, Espen J., cit.15, p.81.
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