1 Dissertação
1 Dissertação
1 Dissertação
Instituto de Artes
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
Mestrado
Altamir Moreira
Porto Alegre - RS
2000
ii
Banca Examinadora
Dra. Ângela Âncora da Luz - UFRJ
.
vi
Dedicatória
Agradecimentos
A Deus, por permitir vislumbrar parte da beleza e complexidade que envolvem as criações
humanas, que buscam representá-lo na matéria.
A minha namorada Martinha, por me fazer acreditar e superar minhas limitações frente às
dificuldades da pesquisa.
A meus irmãos Pedro, Paulo, Altair e Atacílio pelo companheirismo nesta jornada.
Ao meu orientador Dr. José Augusto Avancini, pelo apoio e dedicação, e ao professor, Dr.
Álvaro Valls, por, também acreditar na viabilidade deste projeto.
A meus colegas de curso e professores que muito acrescentaram à minha vivência pessoal.
A Ricardo Grezca pelo auxílio na editoração de imagens, e a Maria Caetano Soares pela
colaboração na revisão do texto.
Ao CNPQ, que concedeu o suporte financeiro, e a todas as demais pessoas e instituições não
mencionadas, que deram sua parcela de contribuição e incentivo para que este
empreendimento se efetivasse.
vii
Sumário
Integrantes da Banca Examinadora.....................................................................................iv
Ata de Defesa da Dissertação ..............................................................................................v
Dedicatória..........................................................................................................................vi
Sumário..............................................................................................................................vii
Resumo ................................................................................................................................x
Abstract...............................................................................................................................xi
Introdução ..........................................................................................................................01
Capítulo I
1 A ICONOGRAFIA DOS MURAIS DE LAZZARINI..................................................09
1.1 Antigo Testamento............................................................................................................. 11
1.1.1 A Criação do Mundo .................................................................................................................. 11
1.1.2 A Expulsão do Paraíso................................................................................................................ 16
1.1.3 A Morte de Abel......................................................................................................................... 19
1.1.4 Moisés e o Decálogo .................................................................................................................. 21
1.2 Temas Marianos ................................................................................................................ 23
1.2.1 A Virgem da Tradição Apócrifa e dos Livros Canônicos........................................................... 23
A) Apresentação da Virgem no Templo ....................................................................................................... 23
B) A Anunciação........................................................................................................................................... 26
C) A Visitação .............................................................................................................................................. 32
1.2.2 Invocações de Nossa Senhora ...................................................................................... 34
A) Nossa Senhora da Imaculada Conceição.................................................................................................. 34
B) Nossa Senhora Três Vezes Admirável ..................................................................................................... 36
1.3 Sagrada Família................................................................................................................ 39
1.3.1 Natividade ................................................................................................................... 40
1.3.2 A Sagrada Família Terrena.......................................................................................... 53
1.3.3 Jesus no Templo .......................................................................................................... 58
1.3.4 Santíssima Trindade .................................................................................................... 59
1.4 A Vida Pública de Cristo................................................................................................. 54
1.4.1 O Batismo de Cristo ................................................................................................... 54
1.4.2 Agonia no Horto......................................................................................................... 57
1.4.3 Crucifixão................................................................................................................... 60
1.4.4 Ressurreição ............................................................................................................... 67
1.5. Devoções Populares .......................................................................................................... 69
1.5.1 Santo Antônio............................................................................................................. 69
1.5.2 Santo Isidoro ............................................................................................................... 71
1.5.3 São José ....................................................................................................................... 75
1.5.4 São Roque ................................................................................................................... 79
1.5.5 São Vicente Pallotti ..................................................................................................... 81
1 . 6 Os Apóstolos.................................................................................................................... 84
1.6.1 São Marcos.................................................................................................................. 85
1.6.2 São Mateus .................................................................................................................. 86
1.6.3 São Lucas .................................................................................................................... 88
1.6.4 São João....................................................................................................................... 89
1.6.5 São Pedro..................................................................................................................... 90
1.7 Anjos e Demônios.............................................................................................................. 93
1.7.1 - São Rafael ................................................................................................................... 93
1.7.2 - São Miguel .................................................................................................................. 95
1.7.3 - O Destino do Justo e do Pecador ................................................................................ 98
viii
Capítulo II
Capítulo III
Resumo
Analisa a pintura mural de Angelo Lazzarini, nas igrejas da Quarta Colônia, região
localizada no centro geográfico do Rio Grande do Sul, no período, compreendido entre 1955 e
1963, que corresponde à época em que esse pintor realizou a maioria de seus murais na
região. A partir de dados, fornecidos por documentos paroquiais, entrevistas, observações
locais e levantamento fotográfico das obras, desenvolve um estudo iconológico, no decorrer
do qual se busca relacionar características iconográficas, resgatar a cronologia histórica da
execução desses murais, bem como identificar as técnicas utilizadas. As principais questões
que orientam este estudo são: Com que intensidade esta produção foi influenciada por padrões
da iconografia histórica européia? Quais os processos técnicos que nela intervieram? E por
que suas formas parecem preservar padrões estilísticos distantes da época histórica de maior
expressão? A partir dos indícios, levantados pela pesquisa que aponta alguns posicionamentos
críticos dos contratantes destas obras, busca compreender as características e a inserção social
deste tipo de atividade artística na região, diante das influências estilísticas divulgadas a partir
dos grandes centros irradiadores de cultura, e da dinâmica de absorção desses padrões nessa
região periférica.
xi
Abstract
This dissertation intends to analyse the mural paintings of Angelo Lazzarini in the
churches of Quarta Colônia, a region found in the geographical centre of Rio Grande do Sul.
In this approach we mainly analyse the period between 1955 and 1963 which corresponds to
the period when the painter carried out the majority of his murals in the region. The analysis
makes use of data supplied by parish documents, interviews, local observation and
photographic survey of the works, seeking to salvage the historical chronology of the
execution of these murals as well as the techniques employed. The principal questions that
directed these activities were: To what extent was this output influenced by the historical
patterns of European iconography? What are the technical processes that affected it? And,
why do its forms seem to retain stylistic patterns that could be considered to be removed from
the historical period of their major manifestation? We try to answer these questions through
identification of iconography, technique, and historical documents. The indications arising
from the research point to the critical positioning of the commissioners of these works, in
which we seek to examine the characteristics and position of this type of regional artistic
activity. We take into consideration the stylistic influences disseminated from the major
radiating centres of culture, and how these patterns came to be absorbed into a peripheral
region.
11
Introdução
A descrição da origem das questões que resultaram neste projeto poderá dar ao leitor a
impressão de este texto se qualifica mais como uma autobiografia. Mas, espero que esta
digressão gradualmente se torne justificável ao se considerar que as pinturas murais de
Lazzarini fizeram parte do ambiente e, enfim, da sociedade na qual tenho convivido. Isto,
porque numa pesquisa histórica assim como numa experiência de vida, os fatos adquirem
sentido na medida em que vamos adquirindo gradual consciência dos fenômenos que nos
cercam. E na medida em que começamos a questionar os aspectos que nos intrigam.
Algumas dessas imagens impressionavam também pela violência das cenas (A morte
de Abel e A luta de Davi e Golias). Outras marcavam pelo medo, tais como as que evocavam
os horrores do inferno, através de chamas colossais, serpentes, e demônios que puxavam as
pessoas em seus leitos. Às vezes tais referências eram utilizadas por minha mãe, quando em
virtude de alguma malcriação ou recusa em rezar o terço, lembrava-me então da sorte
reservada aos maus explícita nessas imagens. Apesar disso, eu sempre gostei dessas pinturas,
especialmente, a terna representação de Nossa Senhora da Conceição e o fascinante ambiente
da Criação do Mundo e da Natividade com os curiosos animais que compartilhavam a cena.
Apesar de não ter aguçado ainda qualquer preocupação a respeito do fato histórico, através
desta observação lúdica, eu passava, então, a perceber que essas pinturas presentes em
diversas igrejas da região, mesmo quando diferiam de temática, ainda apresentavam muitas
semelhanças marcantes na forma com que eram representadas.
Mais tarde, na fase de início dos estudos do segundo grau, passei a morar em Santa
Maria (RS), como seminarista interno do Instituto São José. Em uma das ocasiões, quando
nos deslocávamos para missas no centro, notei que também nesta cidade havia uma igreja
(Nossa Senhora das Dores) com pinturas semelhantes àquelas de meu local de origem. Mas,
também, haviam representações com formas diferenciadas, como as do Santuário-Basílica de
Nossa Senhora Medianeira, com seus murais que uniam a técnica do vitral com linhas
geométricas do concreto, em estilo mais moderno e, a rigor muito diferente dos que faziam
parte de minha experiência. Já na Catedral Diocesana eu parecia reencontrar murais que
restabeleciam um sentimento de familiaridade, porém através de uma impressão de
naturalismo maior e de um colorido mais elaborado (obras que, como mais tarde eu fiquei
sabendo, foram executadas por Aldo Locatelli).
Um ano e meio mais tarde, tendo retornado a Nova Palma, cursei o colégio noturno e
durante o dia passei a trabalhar como desenhista e auxiliar do Departamento de Engenharia da
prefeitura municipal. Nesta época, fui convidado a participar de uma equipe encarregada de
efetuar um levantamento do patrimônio histórico-arquitetônico daquela região, conforme um
acordo de cooperação técnica estabelecido entre município e a Secretaria de Cultura do
Estado. Sendo encarregado de executar esboços e plantas-baixas de antigos prédios coloniais
italianos, para efeitos de catalogação, tive a oportunidade de participar, pela primeira vez, de
um processo de resgate cultural, estudando construções cujos muitos aspectos, apesar da
convivência próxima eu, ainda, desconhecia a importância. Eu, enquanto não-italiano, ou seja:
de origem negra, branca (hispano/portuguesa) e indígena, sentia-me provisoriamente como
que na posição de um observador até certo ponto deslocado em relação a aqueles aspectos.
Isso, no entanto, passava a despertar minha consciência em relação à importância que o estudo
13
Mais tarde, de volta a Santa Maria, já como aluno do curso de Desenho e Plástica da
Universidade Federal daquela cidade, tive uma conversa com meu professor de pintura,
Alfonso Benetti, que era de uma cidade próxima a minha. Nessa ocasião solicitei informações
quanto à viabilidade de se desenvolver um projeto de pesquisa histórico-artística sobre estas
pinturas murais, uma vez que em comparação aos padrões “acadêmicos modernos” de minha
formação, eu permanecia em dúvida quanto à possibilidade dessas pinturas serem abordadas
como arte, uma vez que, a despeito da época aparentemente recente, em que foram executadas
(início da segunda metade de nosso século) o autor não parecia conhecer ou se preocupar,
com a busca de originalidade ou com prezada estilização dos modernistas. Mas pelo
contrário, parecia permanecer dentro de padrões de inspiração acadêmica, mesclando
influências do barroco e do kitsch popular. O professor, entretanto, incentivou-me, dizendo
que este não seria um caso para se questionar se era ou não arte para nossos padrões, mas sim
que enquanto pintura, apresentava, sem dúvida, motivo de interesse para uma pesquisa,
revelando-me que de fato que ele já estivera pessoalmente interessado pelo tema deste pintor,
conhecido como Lazzarini, mas que até então não tivera tempo para se dedicar à essa tarefa.
Eu, contudo, também não daria continuidade ao projeto naquela época, por falta de recursos e
de conhecimentos metodológicos.
Durante este período de graduação, no qual optei pela ênfase em Desenho, comecei a
interessar-me pelas técnicas da pintura mural, campo em que meu professor-orientador da
época, Juan Amoretti, executava experiências extracurriculares. Com a convivência e
amizade, desenvolvida durante o curso, com esse artista de origem peruana que tivera
formação dentro de uma linha acadêmica tradicional, e junto com alguns poucos colegas
passei a auxiliá-lo na execução de pinturas murais, em atividades extra-classe. Nestas
oportunidades ele aproveitava para nos ensinar técnicas do muralismo, que só não eram
ensinadas em aula, devido à rígida orientação modernista do curso que defendia a ideologia de
que: "técnica não se ensina num curso superior, quem quiser aprendê-las que compre estes
livros vulgares", "técnicas limitam a criatividade do aluno, que acabam presos a elas", ou
ainda que, "técnicas devem ser desenvolvidas pessoalmente e de maneira original". Uma
espécie de desprezo por conhecimentos arduamente desenvolvidos através dos séculos em
favor da novidade a qualquer custo. A esta altura, por inclinações pessoais, que me levavam a
acreditar que nem toda herança tradicional, principalmente a técnica, deveria ser desprezada,
mas conhecida em seus princípios, para que fosse possível uma recriação consistente, passava
a considerar mais estimulante o trabalho externo que as próprias aulas, optei por executar meu
14
Mais tarde, fiquei sabendo que em uma igreja de um município da região (Paróquia de
São José, Pinhal Grande, RS), também havia murais até data recente. Mas devido ao mau
estado de conservação destas pinturas, o padre ao constatar a inexistência de mão de obra
especializada na região e a falta de recursos econômicos para uma restauração, optou por uma
solução drástica: uma repintura completa em cor branca que por sua vez destruiu os antigos
murais. Isso me convenceu da necessidade urgente de estudos que contribuam para a
divulgação da existência dessas obras, no meio acadêmico. Pois, acredito que isso, de alguma
forma, as valorizaria enquanto objeto de pesquisa, contribuindo para seu reconhecimento,
enquanto valor cultural e, quem sabe indiretamente para despertar a consciência da própria
comunidade para a preservação do patrimônio. Portanto, toda essa situação corroborou para
que finalmente eu tomasse coragem em desenvolver um projeto, mesmo que modesto em seu
conteúdo, mas que, de alguma forma, contribuísse para a realização de um registro inicial que
proporcionasse o resgate dessa produção histórica para o campo dos estudos artísticos, de
modo a tornar visível este caso à pessoas interessadas nesta área, para que dessa forma fosse
possível viabilizar a realização de futuras pesquisas.
Região de Imigração Italiana, localizada na Região Central do estado do Rio Grande do Sul
(ver anexo C). Esses municípios possuem muitas características culturais em comum, devido
à formação histórica da qual compartilham. Surgidos a partir de loteamentos planejados e
colonizados por imigrantes italianos, ou ainda pela migração interna destes grupos que
contribuíram para a formação de municípios próximos, hoje também considerados como
integrantes da Quarta Colônia.
A escolha deste limite espacial foi influenciada pelos valores religiosos e culturais
comuns partilhados entre esses municípios. Tais como a forte influência histórica da igreja
católica na organização social que, no passado e mesmo no presente, ainda se reflete na
valorização da igreja como principal centralizadora de eventos comemorativos, festivos ou
rituais religiosos importantes na coesão social desses grupos. Valorização que se manifestou
historicamente no empenho e esforço comunitário despendido nas realizações arquitetônicas
religiosas, e no patrocínio de trabalhos ornamentais para esses locais, incluindo-se, aí, as
pinturas murais. Portanto, estas semelhanças histórico-culturais foram condicionantes da
escolha da região como limite geográfico desta pesquisa.
dos critérios pelos quais são fornecidos e a possibilidade de ser aplicada a analfabetos,
vantagem que não ocorre, por exemplo, com a técnica do questionário.
As fontes documentais foram utilizadas, como recurso auxiliar na análise das imagens,
visando suprir as deficiências de informações históricas, uma vez que inexiste uma biografia
sobre este pintor. Entre as fontes escritas remanescentes constam, principalmente:
documentos relativos a contratos de trabalhos e comentários oriundos de atas e livros do
tombo, existentes em casas paroquiais, além de dados complementares fornecidos pelo Centro
de Pesquisas Genealógicas de Nova Palma, instituição que reúne rara documentação relativa à
formação histórica dessa região central do estado.
O resultado plástico foi estudado a partir de seus aspectos formais, de suas relações
com a iconografia histórica e de seus aspectos conceituais construídos na relação com o
público, reconsiderados a partir de documentos da época de realização dos murais. Além
disso, buscamos, dentro de nossas possibilidades, situar esta produção em relação às
condições do ambiente de origem e a história da arte mural religiosa, na tentativa de constituir
e expressar nosso ponto de vista crítico atual, em relação a estes murais no que se refere a
questões de estilo e influências da cultura de massa.
Como questões principais que orientam esta pesquisa, procuramos considerar: Em que
medida as pinturas murais de Lazzarini se aproximam ou se inspiram nos padrões
tradicionais, ou quanto os ignora ou os inova, no que se refere a elementos formais e
18
No segundo capítulo, buscamos, por meio de uma via indireta, recuperar informações
sobre alguns aspectos técnicos, do processo de construção destas obras, através do recurso
de uma reconstrução histórica aproximada. Para tal propósito, nos baseamos em dados
fornecidos por uma pesquisa bibliográfica básica na área técnica, em informações obtidas
pelas entrevistas, na análise de alguns parâmetros de obras observadas in loco e nos resultados
de sua sistematização posterior.
Capítulo I
A análise formal, inspirada nos trabalhos de Rudolf Arnheim, também foi utilizada,
mas como um complemento à abordagem de conteúdos derivada da iconologia de Erwin
panofsky. Apesar da teoria da arte ter, historicamente, exacerbado as diferenças existentes
entre os dois métodos, que divergem quanto ao objetivo de suas respectivas abordagens,
buscamos desenvolver nesse trabalho uma abordagem conciliatória. E, por se acreditar na que
pontos de vista diferenciados, por vezes, também podem ser complementares, todos os
esforços foram aqui direcionados no sentido de aproximar elementos de afinidade, como por
exemplo, o caráter descritivo de configurações do formalismo que encontra correspondência
no Tema Primário da análise iconográfica de Panofsky. Considerando que, de acordo com
este autor, também é função da iconografia “a identificação de formas puras; ou seja,
configurações de linha e cor” (PANOFSKY, 1991, p. 50). Apesar dessa atividade ser
considerada um estágio primário da análise iconográfica e não um objeto principal de estudo,
como no caso de uma abordagem essencialmente formalista.
21
pura lã”39 (Livro de Daniel apud RÉAU, 1956 b, p. 08. Destaque nosso). Os primeiros
exemplos de interpretação plástica dessa passagem, conhecida como o Ancião dos Dias,
aparecem na arte bizantina do século XI, em imagens que apresentam um venerável ancião,
com longos cabelos e barbas brancas pairando sobre nuvens, entronado em glória num espaço
em forma de mandorla40. Esta representação antropomórfica de Deus foi, aos poucos,
conquistando maior aceitação, de tal forma que, mais tarde, veio a substituir o antigo
simbolismo da Mão Divina41 (GRABAR, 1991, p. 110). Formas alternativas também foram
experimentadas na busca de um modelo aceitável de representação do Criador. Em algumas
iluminuras medievais utilizou-se o recurso da substituição da figura de Deus Pai pela do
Cristo (identificada pelo nimbo cruciforme) nas cenas da Criação do Mundo. Alteração
iconográfica que era autorizada pelas interpretações correntes na época. Baseados no Gênesis,
justificavam que em conformidade com o texto bíblico, Deus Pai, ao dizer: - “Faça-se a luz, e
a luz foi feita”, havia criado pelo Verbo, mas, sendo o Verbo considerado sinônimo do Filho
de Deus, deduziam não haver erro teológico em tal substituição de imagens42.
No final da Idade Média, sob a influência de uma arte mais realista, a figura de Deus
Pai passa a ser representada com os atributos do papa e do imperador. E, em imagens do
século XIV e XV, aparece, por vezes, portando uma coroa imperial, ou ainda, com maior
freqüência, uma tiara com cinco coroas (para distinguir-se da tiara de três coroas, a insígnia
que identificava o papa).
39
A tradução portuguesa publicada na Biblia Sagrada. Versão da CNBB, 2002, apresenta esse texto nos seguinte
termos: “Eu continuava olhando: tronos foram instalados e um ancião se assentou, vestido de branco igual a
neve, cabelos claros como a lã”. (Dn: 7, 9-10). Nota-se que, apesar de concordar quanto à descrição do
personagem, esta versão já não utiliza a expressão: “Ancião dos Dias”.
40
Cf. Grabar (1991, p. 110). Mandorla: detalhe que corresponde a uma espécie de halo luminoso que
envolve a persona divina. Sabe-se que servia como convenção para expressar que as imagens inseridas em
seu campo eram alheias ao mundo visível. Uma precaução importante para uma época onde havia o
constante temor de se entrar em conflito com a idéia de que Deus não poderia ser representado por imagens.
41
Cf. Grabar (1991, p. 110). A mão que sai em meio às nuvens, teria sido a primeira forma de representação
iconográfica de Deus utilizada pelos cristãos. No entanto, o protótipo mais antigo desta iconografia é encontrado
na arte judaica, conforme atesta um afresco em uma sinagoga de Doura-Europos na Síria, que data do início
século III d.C.
42
Interpretação teológica, provavelmente decorrente de estudos fundamentados em João (1,1-3), que inicia seu
Evangelho afirmando: “No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus”.
23
Na Renascença, dentro do
espírito de retorno à Arte Antiga,
a Tiara foi suprimida, e a figura
do Ancião dos Dias ou Imperador
Celeste passou a se assemelhar
ao Zeus olímpico da mitologia
grega (RÉAU, 1956a, p. 09). A
antiga iconografia medieval que
apresentava Deus Pai em pé ou
sentado em posições estáticas, Figura 02
Rafael: A Criação do Mundo, 1516 – 1518. Loggia do Vaticano.
inserido em um espaço
metafísico, é substituída a partir
(Figura 03). Neste ponto se torna oportuno questionarmos os meios pelos quais Lazzarini teve
acesso a tais modelos. Apesar de não se dispor de uma resposta amparada por suficiente
documentação, os indícios existentes apontam a possibilidade de que os modelos tenham sido
transmitidos por meio das reproduções em cromos coloridos que este pintor geralmente
utilizava para compor suas obras. No entanto, não é de se desconsiderar a suposição de que
ele tenha conhecido algumas das obras originais destes mestres, com maior probabilidade as
de Tintoretto, ou mesmo que tenha executado estudos a partir de alguma obra desse artista
veneziano. Pois, de acordo com o depoimento de Francisco, filho de Angelo Lazzarini, seu
pai vivera por 17 anos na Itália, período em que alternou residência entre Veneza e Bolonha.
Sendo que na última cidade teria aprendido o ofício de pintor43.
43
Cf., Amábile Echer Loro, (em entrevista realizada no dia 16 de outubro de 1999, em Santa Maria), a
informação que ela dispunha era de que Lazzarini teria estudado Belas Artes na Universidade de Bolonha.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, através da análise do nível técnico empregado em suas obras
passamos a levantar a hipótese de que ele tivesse estudado em alguma escola técnica. O que talvez esteja mais de
acordo com o cartão de visitas utilizado pelo pintor, pelo qual ele apresentava-se como “Angelo Lazzarini da
Academia de Bolonha [Itália], especialista em pinturas e decorações de Igrejas, obras de arte, renovação de
imagens e altares”. (Ver anexo D).
44
Cf., Réau (1956, p. 66), a obra dos seis dias, raramente foi representada integralmente na arte medieval,
provavelmente devido a dificuldades de concordâncias tipológicas, entre os atos da criação, e eventos
correspondentes no Novo Testamento. Por isso geralmente os ciclos eram condensados em uma só cena.
“Entretanto os mosaicos bizantinos e baixos relevos dos portais das catedrais góticas oferecem muitas vezes os
ciclos completos”.
25
Na Igreja da Santíssima
Trindade, a cena da Expulsão (Figura 05)
destaca a figura do querubim com a espada
flamejante, situado na parte central da
composição. Localização que o destaca em
relação às figuras de Adão e Eva,
representados logo abaixo. Pois, apesar
destes terem sido colocados em primeiro
plano, eles não dispõem de uma importância
visual relevante, pela posição deslocada que
ocupam em relação ao conjunto, e pelo
pequeno espaço compositivo que lhes foi
dedicado, uma vez que são apresentados,
apenas em meio corpo, afastados do centro
visual da imagem.
45
Cf. Panofsky (1991, p. 50) O significado expressivo abrange aquelas características psicológicas que podemos
identificar, tanto no "[...] caráter pesaroso de uma pose ou gesto, ou na atmosfera caseira e pacífica de um
interior", e constitui junto com o significado fatual; relativo às configurações de linha e cor ou objetos facilmente
identificáveis pela nossa experiência, aquilo que este teórico denomina Significado Primário ou Natural que
freqüentemente constitui o primeiro passo para um estudo iconográfico, por isso, também chamado de estudo
pré-iconográfico.
27
Na cena da Expulsão
encontrada na Igreja de São Roque
(1956), Adão e Eva são
representados de costas (Figura 06),
já com maior teatralidade nos gestos.
Ambos, vestidos com túnicas,
contrastam com a pureza da nuditas
virtualis46, que dispunham antes da
queda. Desse modo, se diferenciam
da primeva condição natural com
Figura 06
que foram representados em uma Lazzarini: Expulsão de Adão e Eva, 1956. Igreja de São Roque.
Faxinal do Soturno, RS.
cena complementar sob a legenda de
Paraíso Terrestre (Figura 07). Um
símile da gravura que inspirou o trabalho de Lazzarini foi reproduzido, em 1993, numa
publicação religiosa de Paulo Bazaglia (1993, p. 179), sob a denominação de: A Criação e
Benção do Primeiro Casal. Apesar de se desconhecer a legenda original da antiga imagem, é
possível afirmar pela análise da iconografia que se trata de um episódio sacro
cronologicamente precedente à Expulsão, e que corresponde ao período em que o primeiro
casal ainda se encontrava no Paraíso. Essa obra exemplifica um dos poucos casos em que
Lazzarini teve que lidar com o tema da nudez. Situação na qual se percebe que ele buscou dar
continuidade ao uso de recursos visuais tradicionais, para enfrentar uma questão,
possivelmente, problemática em relação ao senso moral e religioso da época.
46
Cf. Panofsky (1991, p. 133) a Nuditas virtualis, de acordo com teologia moral da Idade Média, era uma forma
de nudez associada à inocência. Outras classes eram assim discriminadas: Nuditas naturalis – estado natural
humano, humildade. nuditas temporalis decorrente da pobreza voluntária ou imposta. nuditas criminalis:
associada à falta de virtudes e vaidade.
28
47
Nota-se que esta árvore do relato bíblico encontra afinidades em narrativas mítico-religiosas de vários povos
da Antigüidade. Cf., Mircea Eliade (1995, p. 124), a mitologia nórdica cita a existência de uma árvore da vida
chamada Yggdrasil, na Epopéia suméria de Gilgamesh, existe uma árvore da juventude, assim como em outros
mitos encontrados no Irã e na Índia.
29
Outra forma que contribui para o impacto de violência causado pela cena é o detalhe
da arma utilizada por Caim, descrita no momento em que antecede o golpe mortal. Conforme
48
Cf. Clark, foi uma convenção muito aceita em épocas remotas, que “[…] a figura que avançava com uma
perna curvada e com a outra formava uma linha reta prolongando a linha das costas seria um símbolo de energia
e resolução” (1956, p. 162).
30
Schapiro, esse detalhe iconográfico já foi descrito em diferentes versões, na arte bizantina o
instrumento utilizado era uma pedra, no norte da Europa devido a uma provável contaminação
com a iconografia de Sansão, a arma era uma queixada (Figura 09), ou uma clava. Por vezes,
esses atributos eram substituídos por outros instrumentos tais como o gadanho ou a enxada,
por serem, naturalmente associados à atividade de Caim, que era agricultor. Porém, para o
historiador inglês, isto é incoerente com o próprio texto bíblico que atribui a invenção da
metalurgia a Tubalcaín, personagem de uma geração bíblica posterior (SCHAPIRO, 1987, p.
231).
Na antiga gravura em que, Lazzarini baseia sua pintura (Figura 10), Caim é
representado segundo esta antiga tradição norte européia, com uma arma cuja forma, se
assemelha a uma enxada. Ao adaptar o tema ao mural, Lazzarini, no entanto, toma a liberdade
de substituir esse modelo, optando por representar uma clava de madeira como a arma do
crime. Apesar do texto bíblico não definir o instrumento utilizado, esse pintor assim como os
antecessores europeus, por alguma influência não identificada ou mesmo por confluência do
acaso, apresentam concordâncias com os textos apócrifos do Primeiro Livro de Adão e Eva49
(Cap. LXXIX). Relato que narra, o desentendimento dos irmãos, com uma profusão de
detalhes não relatados no texto bíblico, entre os quais a descrição do ataque de Caim, que
utilizando um bastão de madeira, teria ferido gravemente a Abel. Este, então, teria suplicado
ao irmão agressor que não prolongasse seu sofrimento e num ato de compaixão concluísse o
cruel intento “com uma pedra”, descrição que, de certa forma, dá razão tanto à iconografia
bizantina, quanto à européia, pelo fato de descrever duas diferentes armas como meios
utilizados no fratricídio (TRICCA, 1992, 1929).
49
Cf. Tricca (1992), este antigo texto que apresenta detalhes semelhantes ao Corão e ao Talmude, passou a ser
conhecido no Ocidente a partir de uma versão em egípcio.
31
50
Detalhe lembrado pela historiadora Dra. Ângela Âncora da Luz (UFRJ) durante a avaliação desta dissertação,
tendo como base uma passagem do próprio texto do Êxodo (34, 35): “Os israelitas viam o rosto radiante de
Moisés, e Moisés tornava depois a cobrir o rosto com o véu, até o momento que entrava de novo para falar com
o Senhor”.
33
Figura 16
Ticiano: Apresentação da Virgem, 1534 - 1538. Academia de Veneza.
encontrarem boa receptividade da piedade popular, esses temas, também, atendiam aos
interesses de uma igreja preocupada com a evasão de fiéis frente às novas dissidências cristãs
que surgiam na Europa após Reforma. Como resultados disso, alguns exemplos iconográficos
de temas apócrifos chegaram até nossos dias. Através de imagens infiltradas na decoração das
novas igrejas, em composições que, muitas vezes, passam despercebidas à nossa atenção,
porque aparentemente não divergem em expressão quando comparadas ao restante da
iconografia pautada na doutrina oficial da Igreja Católica.
B) A Anunciação
51
Cf., RÉAU, Louis. Iconographie de L`Art Chrétien; Iconographie de la Bible II. Nouveau Testament. 1957,
p.180. Muitas vezes a Virgem medita sobre uma Bíblia que permanece aberta justamente na passagem de Isaías
que profetiza a vinda do Messias.
52
Monastério formado a partir de monges iconófilos da igreja ortodoxa que fugiram do Oriente durante as
perseguições iconoclastas do século VIII, desencadeadas pelo imperador Leão III; o Isáurico, a partir de 724 d.C.
37
“[...] foi uma forma de reagir à familiaridade excessiva da arte do século XV, colocando mais
majestosidade, este tipo surge em 1525 com um afresco de Corregio na pinacoteca de Parma e
é adotado no século XVII na França por Jouvenet e na Espanha por Zurbarán”. (1956, p. 182.
Tradução nossa)
Nesta composição de Nova Palma, nota-se que um raio de luz se projeta do Espírito
Santo em direção à Virgem Maria. Esse era o meio utilizado para expressar, visualmente,
através de uma forma simbólica e atenuada, o momento da concepção. Mistério que, na
iconografia medieval, era representado pela emissão de um corpúsculo que se projetava do
Espírito Santo em direção ao ouvido da Virgem Maria. Simbolizando que tal concepção que
se dava pelo Verbo de Deus. Mais tarde, a luz projetada passou a ser um substituto adequado
e menos chocante ao olhar dos fiéis, por apresentar melhor concordância com a nova
orientação do Concílio de Trento que aconselhava: “[...] dar à Anunciação o caráter nobre e
majestoso que convém a um dos mistérios essenciais da religião, evitando o plano real
cotidiano e a degeneração das cenas de gênero” (MÂLE apud Réau, 1957, p. 192).
Sob o ponto de vista formal, nota-se que a figura do Espírito Santo, na Anunciação de
Nova Palma, foi deslocada para uma posição superior, em relação ao lugar que ocupava no
modelo original (Figura 18), quando era representado junto à base do arco da construção
53
Cf., Daniel &, Berger (1971, p. 27), em pinturas sienenses, por vezes, Gabriel é representado com um galho de
oliveira, porque o lírio era a flor símbolo de Florença, cidade rival de Siena.
38
54
Cf. Arnheim (1998, p. 08): pressuposto teórico utilizado para conceituar estas forças psicológicas se
manifestam através de induções, atrações e repulsões que ocorrem no campo da experiência visual, e que variam
conforme a proximidade ou afastamento, existente entre as várias formas sujeitas a este campo.
39
Figura 19
Lazzarini: A Anunciação, 1956. Igreja de São Roque.
Faxinal do Soturno, RS.
Figura 20
Reni: A Anunciação, 1609 - 1611.
Igreja da Anunciação. Palácio Quirinal,
Roma.
conserva ajoelhado, de acordo com a antiga tradição medieval, ao mesmo tempo em que,
através do recente recurso das nuvens colocadas sobre os pés, se mantém isolado de um
contato pouco digno ou excessivamente naturalista em relação ao solo.
No mural de Santa Maria, nota-se que, Lazzarini retoma alguns dos detalhes
tradicionais utilizados, na cena da Anunciação da igreja de Nova Palma. Entre esses, a forma
da cortina, localizada ao fundo, no espaço próximo à figura de Maria. Detalhe, bastante
freqüente nas representações tradicionais do tema, que pode ser interpretado dentro da
tradição iconográfica, como um possível vestígio de uma alusão simbólica ao Véu do Templo.
O acessório litúrgico que vedava o acesso ao Santo dos Santos. Espaço sagrado, circundado
por cortinas, localizado no interior do antigo templo judaico. Além da descrição fornecida
pelos livros canônicos, também as passagens do Proto-Evangelho de Tiago podem ser
tomadas como possíveis fontes dessa iconografia.. De acordo com o texto apócrifo, São
Joaquim e Santa Ana, entregaram Maria aos cuidados dos sacerdotes do Templo quando essa
completou três anos, conforme promessa que haviam feito. E, naquele lugar, ela teria
permanecido em vida religiosa, auxiliando em funções ligadas ao local sagrado, até completar
doze anos, uma das tarefas que couberam à Maria, foi, justamente, a de bordar, em púrpura,
um novo véu para o Templo do Senhor. Em uma Anunciação (1492) de Giovanni Cima da
Conegliano, (Figura 22), nota-se que a cortina reveste uma espécie de tabernáculo com
inscrições em hebraico. Essa pode ter sido, a função original da cortina que, com o tempo,
tornou-se um simples acessório cênico, como nas anunciações da tradição em que Lazzarini
se inspira.
Figura 21
Lazzarini: A Anunciação, 1959. Igreja Nossa Senhora das
Dores.Santa Maria, RS.
Figura 22
Giovanni Cima da Conegliano. Anunciação,
1492.Têmpera e óleo sobre tela. Museu
Hermitage.São Petersburgo, Rússia.
42
C) A Visitação
A Visitação de Faxinal do
Soturno se diferencia da cena
representada em Nova Palma, tanto pela
posição quanto pelo número dos
personagens. Enquanto que em Nova
Palma a cena é composta, apenas, pelas
duas mulheres, em Faxinal do Soturno
nota-se que ocorre o acréscimo da figura
de São José junto à cena (Figura 24).
Esse simples detalhe, analisado em seus
antecedentes históricos, pode nos ilustrar Figura 24
Lazzarini: Maria visita Isabel, 1956. Igreja de São Roque.
duas tendências iconográficas históricas Faxinal do Soturno, RS. Foto: Roque Della Méa.
55
Este Quadro era utilizado, tradicionalmente, durante as festas da Imaculada Conceição, ocasião em que
permanecia por algum tempo exposto na Igreja da Santíssima Trindade.
56
Para uma observação mais detalhada das relações entre a Imaculada Conceição de Santa Maria e o modelo
quadriculado utilizado por Lazzarini, conferir figura 125, no Capítulo II.
46
57
Cf., informações fornecidas pelo Pe. Clésio Facco, em 22 de novembro de 1999, no Seminário Rainha dos
Apóstolos em Vale Vêneto, Município de São João do Polêsine.
58
Tradução: “O servo de Maria nunca Perece”.
47
Retiros da cidade de Santa Maria, local que seria visitado pelo próprio Pe. Kentenich em
várias oportunidades.
Em 1950, durante um retiro espiritual dirigido pelo Padre Celestino Trevisan, foi
iniciada uma “cruzada pelo terço”, ocasião para a qual foram feitas três cópias da imagem
dessa Nossa Senhora. Uma delas ficou sob responsabilidade do Diácono Luiz Pozzobon, um
dos encarregados de conduzir o novo ícone de casa em casa. O religioso levaria essa
incumbência à razão de um objetivo de vida passando, mais tarde, a dedicar-se integralmente
à divulgação do terço e dessa devoção59.
No final do ano de 1950, ainda na época em que tem início, em Santa Maria, a
corrente de divulgação da devoção a Nossa Senhora de Schoenstatt, os reflexos já se faziam
sentir em outros municípios da Quarta Colônia, conforme podemos observar através de um
registro encontrado, na paróquia de Nova Palma: “Ontem depois de pronta a Capelinha da
Mãe três Vezes Admirável em Nova Palma, veio a Nª Sra tomar lugar em seu recinto desde
Santa Maria por 50 moças que concluiram seu retiro” (Livro do Tombo II, 1950, folha 02).
Descrição que parece demonstrar o alto grau de influência popular, logo alcançado por essa
nova devoção. Esse tipo de manifestação cultural que se desenvolvia em função de uma
imagem religiosa, certamente, era ainda muito intenso durante os anos em que Lazzarini atuou
nestes municípios, de forma que estes murais, apesar de serem simples em ambição e
realização artística, não deixam de ser reflexos históricos do período de vigorosa atividade
religiosa que ocorria nessa região.
59
Cf., Trevisan, (1992), João Luiz Pozzobon: um “Santo” com têmpera de missionário leigo. Santa Maria:
Pallotti,1992. O Diácono João Luiz Pozzobon, empreendeu uma longa atividade devocional, carregando uma
imagem de aproximadamente 11 quilos, ao final de vinte e um anos, contabilizava uma de jornada de 140.000
Km em sua obra missionária. Após a morte Pozzobon, ocorrida em 1985, sua casa tornou-se local de
peregrinação, para os fiéis que veneram a Nossa Senhora Três Vezes Admirável, e que ao mesmo tempo
admiram a vida exemplar e o esforço missionário desse diácono que em sua jornada conservou constante
humildade e dedicação para os pobres. Essas virtudes levaram o bispo diocesano de Santa Maria a encaminhar
ao Vaticano um pedido de abertura de processo de canonização que, atualmente, se encontra em andamento.}
49
Várias são as cenas em que Lazzarini descreve situações da infância de Jesus junto a
Maria e José. A primeira, naturalmente, é a Natividade, seguem-se: a Apresentação de Jesus
no Templo e, cenas de gênero, onde a família de Cristo é apresentada em situações cotidianas,
ou, simplesmente, junta como que em pose, na tradicional representação da Sagrada Família.
Apesar do tema da Sagrada Família ter sido estranho à arte e à devoção da Idade
Média, é nas antigas Natividades daquele período que se pode encontrar a forma precursora
dessa iconografia. Em imagens onde, por vezes, São José era representado afastado de Maria
e do menino, o que para Grabar se deve ao fato que a “[...] iconografia não encontrava outro
meio de dizer que ele não era o pai da criança que acabara de nascer” (1991, p. 23).
A partir do século XVII, houve um crescimento no interesse pela vida oculta de Jesus,
em intensidade semelhante ao que, em séculos anteriores, fora motivo à vida pública e à
paixão de Cristo. Este interesse coincide com um período de crescente veneração pela figura
de São José, que criava um clima propício para que as imagens da Sagrada Família
encontrassem grande aceitação entre os fiéis católicos. São Francisco de Sales, em suas
Conversações Espirituais, destaca que Maria, Jesus e José representam na terra, em todas as
feições a Santíssima Trindade, de maneira que São José é a imagem de Deus Pai e a Virgem
substitui o Espírito Santo, do qual ela é o templo vivo. O trigrama J.M.J. (Jesus, Maria, José)
passa a ser adotado pelo brasão dos Jesuítas que são encarregados de expandir o espírito da
Contra-Reforma, o que também contribui para a popularização da Sagrada Família. Tema que
em decorrência disso é, por vezes, chamado Trindade Jesuítica (RÉAU, 1957, 148).
50
1.3.1 Natividade
O Nascimento de Cristo
é um tema em que Lazzarini demonstra
certa versatilidade compositiva. Nas
quatro vezes, em que descreve
pictoricamente essa passagem, ele não
repete fórmulas anteriores,
apresentando a cada trabalho uma nova
configuração espacial para os
personagens. Em Nova Palma (Figura
30), ele apresenta uma cena simétrica,
simplificada, com Maria e José
ajoelhados em posições opostas, tendo
ao centro o pequeno Cristo sobre um
leito de palhas colocado ao solo. Não há
qualquer cenário arquitetônico de
entorno, mas apenas um fundo infinito, Figura 30
Lazzarini: Natividade, 1955. Igreja da Santíssima Trindade.
onde, cores, céu e terra, se fundem Nova Palma, RS.
numa totalidade monocromática. Essa
cor, também, absorve o anjo que aparece na parte superior portando um tituli com inscrições
latinas de louvor a Deus. Apesar do Mensageiro celeste ocupar uma área relativamente grande
quando comparada ao restante da pintura, ele não concorre para que a atenção seja desviada
51
Na Natividade de Dona
Francisca (1956), o naturalismo volta
a ceder lugar a expressões de
transcendência. Desta vez, dois anjos
presidem a cena (Figura 32). Estes,
porém, apresentam uma caracterização
um tanto ou quanto ambígua, pois,
desconsiderando a tradicional posição
elevada em que se encontram, poucos
atributos os diferenciam dos humanos Figura 32
Lazzarini: O Nascimento de Cristo, 1956. Igreja de São José.
logo abaixo, uma vez que, Dona Francisca, RS.
aparentemente, não apresentam asas,
pois essas são apenas sugeridas, sutilmente, por leves traços brancos que se fundem às
nuvens. Isto evidencia que houve certa humanização na forma desses personagens, através de
expressões, que, em certo nível, os assemelham em caráter ao anjo da Anunciação (1850) de
Dante Gabriel Rosseti, do Movimento Pré-Rafaelita.
52
em 1954. Lazzarini realiza seus primeiros murais nesta cidade, a partir do final do ano de
1958, quando é contratado para executar a pintura da Igreja de Nossa Senhora das Dores; um
imponente edifício religioso com influências arquitetônicas românicas e barrocas, localizado
em um dos bairros mais próximos à região central daquela cidade. Essa, era uma situação na
qual o pintor, certamente, defrontava-se com uma grande responsabilidade, pois teria de
realizar pinturas em um ambiente, provavelmente, mais exigente e que poderia julgar sua
obra, utilizando como parâmetro a obra do outro pintor que o precedera. Além disso, se
encontrava em uma cidade, que exerce o papel de um centro regional do estado e,
principalmente, da região da Quarta Colônia. Toda essa situação se configurava, num
momento em que, para Lazzarini, era decisivo realizar um trabalho que colocasse em
evidência sua capacidade, para, quem sabe, alcançar o almejado reconhecimento regional.
Talvez por isso, o pintor tenha percebido que não era um momento adequado para ousadias ou
improvisações. De modo que ele já não dá continuidade à experiência de “fusão e dissolução
do espaço”, como fizera na Natividade de Dona Francisca em 1956, optando, nesta cena da
Natividade (Figura 33), por permanecer na segurança de um traço mais acadêmico.
60
Na verdade o Novo Testamento não menciona o número de sábios que teriam vindo do Oriente, mas a tradição
normalmente os representa como sendo três. Cf., Réau, (1957, p. 238), o teórico medieval; Pseudo Beda
afirmava a correspondência entre os magos representados e as três raças do mundo conhecido na época, que de
acordo com a história de fundamentação religiosa, seriam originadas a partir dos descendentes de Noé: Sem,
Cam e Jafé. No século IX, o verso 845 do Liber Pontificialis de Ravena, já identificava os pretensos nomes dos
três magos como: Gaspar, Melchior e Balthazar.
53
61
Cf Réau, (1957, p. 30) O Cordeiro Místico é um símbolo freqüente na arte cristã primitiva. Normalmente,
composto pela figura de um cordeiro, portando uma cruz ou estandarte da vitória, tendo a cabeça envolta por um
nimbo cruciforme e um cálice logo abaixo, que recolhe o sangue que escorre de seu peito .
62
Tema de enquadre é um termo utilizado por Jan Bialostocki em Estilo e Iconografia (1972, p.158-159) para
indicar uma certa configuração simbólica universal (semelhante ao conceito de arquétipo em Jung), assumida por
diferentes culturas na representação iconográfica alegórica de personagens e temas. Ex: a figura de uma mulher
pisando e subjugando um outro personagem, simbolizando a vitória do bem sobre o mal, pode ser o tema de
enquadre, tanto de Maria ao pisar a serpente, quanto o da Judite de Giorgione, quando pisa a cabeça de
Holofernes.
54
Figura 34
Lazzarini: A Sagrada Família, 1955. Figura 34
Igreja da Santíssima Trindade. Nova Palma, Lazzarini: A Sagrada Família, 1956.
RS. Igreja de São Roque. Faxinal do Soturno, RS.
Esse mural foi executado a partir da ampliação de uma reprodução litográfica colorida
vinda dos Estados Unidos63, cuja composição é claramente inspirada nas sagradas famílias de
63
Para melhor avaliação das correspondências entre a pintura de Lazzarini e o modelo utilizado ver cópia anexa
ao capítulo II. Figura 128.
55
Figura 37
Murillo: A Sagrada Família.
Galeria Heinemann, Munique.
Figura 36
Lazzarini: A Sagrada Família, c.1960.
Capela de Nossa Senhora do Monte Bérico.
Vale Veronês, Silveira Martins, RS
“[...] nos primeiros tempos a doutrina da virgindade perpétua de Maria não havia arraigado com firmeza
nos fiéis, era preciso combater os hereges e as passagens evangélicas que falam em irmãos e irmãs de
Jesus. Por isso os artistas apresentam José ancião no momento do nascimento de Cristo dando a
entender que ele não estava em condições de engendrar um filho” (1979, p. 17).
64
Cf., MÂLE, Émile. Op. cit. “Aníbal Carracci foi um dos primeiros a representar o Menino Jesus trabalhando,
dentro da Oficina de São José”, p. 311.
57
Jesus. Maria, também, apresenta uma sutil auréola, levemente diferenciada da cor de fundo,
resultante da intervenção de uma área de retoque de tonalidade. Que, neste caso, se estende
até as proximidades da cabeça de Cristo, acentuando o contraste estabelecido em relação à
figura de São José, que não recebe qualquer traço distintivo do gênero.
Este tema, no qual Jesus aparece trabalhando junto a sua família, parece encontrar
ressonâncias nos valores culturais dos imigrantes italianos desta região. O trabalho em família
era um aspecto muito valorizado, tanto que, para a mentalidade desta época, uma família
numerosa significava, de certa forma, uma benção divina, ou o primeiro passo para
prosperidade, pois uma família italiana que dispusesse da força de trabalho de vários filhos,
era vista com distinção pela comunidade. Conforme Santin, “[...] a família numerosa
constitui-se como uma pequena sociedade”, e a situação contrária podia ser problemática, pois
numa sociedade onde “[...] a família numerosa é vista como dádiva divina, não casar e não ter
filhos representava, no mínimo um certo constrangimento” (1990, p. 17).
“Jesus fazia mesas, portas e janelas para as casas. Fabricava também arados, carroças e muitos outros
instrumentos para os agricultores. Jesus era Deus, e, entretanto trabalhava como um bom operário. Ele
trabalhava para obedecer a seu Eterno pai e para sustentar sua mãe, Maria santíssima.” (Teu Catecismo.
Primeiro Ano. 5 ed. São Paulo: LDC, [1959], p. 64.)
Neste texto, podemos perceber, através da detalhada descrição dos trabalhos que
pretensamente teriam sido executados por Jesus, uma mensagem moral no sentido de destacar
a dignidade do trabalho. Enquanto que no esforço do Filho de Deus, em prover subsistência
de Maria (que também é representada trabalhando), encontramos uma ênfase moral no sentido
da valorização dos laços familiares. Tudo isto leva a crer que mesmo as crianças desta época
tinham condições de reconhecer em pinturas como a da Sagrada Família de Lazzarini a ênfase
moral. Uma Mensagem que, até certo ponto, refletia o ensinamento religioso de sua igreja e,
também alguns dos valores culturais prezados por sua sociedade e talvez vivenciados no
cotidiano de suas famílias.
58
65
Cf., Réau, (1957, p. 182) o braço estendido tendo um dedo projetado para o alto era um “gesto oratório”
característica das estátuas de filósofos da Antigüidade.
59
No decorrer desta pesquisa não foi possível identificar o nome desta pinacoteca, nem
os meios pelos quais Lazzarini teve acesso a esta fonte iconográfica. Pode parecer remota, em
princípio, a possibilidade de que ele tenha se baseado em alguma das reproduções de temática
religiosa, impressas na Itália67 e normalmente distribuídas pela igreja nos países católicos,
devido à inclusão de um personagem mitológico de origem pagã nesta composição. No
entanto, é preciso considerar que muitos desses personagens da Antiguidade foram
recuperados pelo humanismo católico do Renascimento que os interpretava como formas
metafóricas, auxiliares na apologia de virtudes cristãs68. O que torna provável que esta
alegoria fosse empregada e mais tarde divulgada sem que houvesse preocupação ou intenção
de divulgar símbolos da antiga religião. Outra possibilidade é que Lazzarini pode ter se
baseado em alguma reprodução, semelhante àquelas distribuídas por associações religiosas, só
que destinadas ao público leigo. Uma vez que um exemplar desse tipo de reprodução,
versando sobre o tema laico da Alegoria da Virtude, Fortaleza, Justiça e Verdade69, de
Giambattista Tiepolo (1696-1770) foi encontrado entre no arquivo do pintor.
66
Este documento é reproduzido, e analisado com maiores detalhes, no capítulo III.
67
Estas reproduções não datadas, geralmente, apresentam imagens dos santos de devoções populares. Nas
margens trazem o título, vertido nos seguintes idiomas: italiano, francês alemão e espanhol. Eram, geralmente,
emolduradas e apresentadas como quadros nas antigas famílias da região da Quarta Colônia.
68
Cf., Seznec apud BESANÇON (1997, p. 275) muitos dos antigos deuses outrora combatidos pelos apologistas
cristãos foram mais tarde recuperados e venerados sem idolatria, porque alguns destes personagens, como as
sibilas, ou como Virgílio, representavam a intuição pagã sobre a vinda de Cristo. Dessa forma muitos símbolos
da religião grega, e da religião astral persa, latentes na Idade Média se proliferaram no Renascimento. No
Vaticano, por exemplo, na sala dos Pontífices decorada por Leão X, os nomes dos sucessores de Pedro, são
cercados por símbolos do zodíaco, e pelas figuras de Marte e Júpiter passeando em seus carros celestes.
69
Para maiores detalhes conferir Figura 121, no Capítulo II.
60
turbilhonamento, cuja técnica foi desenvolvida por artistas alemães que partindo da
perspectiva italiana: “[...] a levaram mais adiante distorcendo o espaço em efeitos
turbilhonantes, aumentando o número de ponto de fuga para aumentar o efeito a olhos
situados em diferentes partes da Igreja” (1993, p. 259). Apesar dessa possível contribuição
germânica, a influência da Escola de Veneza é marcante, e se faz sentir, principalmente, na
forma de representação dos escorços e de amplas áreas do céu, cujo paralelo pode ser
encontrado nas obras de Tiepolo e Piazzeta.
Entre os vários elementos formais que a Trindade de Nova Palma parece assimilar do
estilo barroco, transparece a característica composição, organizada a partir de um movimento
sinuoso ascendente. Movimento que inicia na figura do anjo localizado na parte inferior
(relativa à orientação vertical dos personagens) e segue em evoluções que culminam na figura
do Espírito Santo. Na parte inferior deste mural, percebemos uma figura com asas negras que
parece ocultar o rosto à presença de Deus (Figura 41). À primeira impressão, poderíamos
associá-lo a Lúcifer ou algum dos anjos rebeldes, condenados após a queda narrada pelo
Gênesis. Mas, outros detalhes se tornam presentes quando aguçamos o olhar, e percebemos
que sua face sombria é ornada por barbas brancas, e que suas mãos portam um instrumento
em forma de gadanho, atributos que nos permitem identificá-lo como sendo uma derivação
tardia da iconografia de Cronos. Diretamente relacionado ao personagem estudado por
Panofsky, no ensaio dedicado à iconografia renascentista do Pai Tempo (PANOFSKY, 1991,
p. 69-89). Sabe-se que desde a Antigüidade a iconografia precursora desse modelo, referente
ao antigo deus da mitologia grega, também foi, por vezes, interpretada como uma
personificação do tempo70.
70
Cronos era uma divindade venerada na Grécia antiga, principalmente nas cidades de Atenas, Rhodes e Tebas.
Seu culto, porém, já era difundido entre os assírios e caldeus, e sua origem parece guardar reflexos da mitologia
hindu, pois sua legendária batalha contra Urano encontra muitas estruturas semelhantes aos combates de Indra e
Asura descritos pelos Vedas. Cronos era identificado como o titã que auxiliado pela mãe Gaia (a Terra) vinga-se
do próprio pai, Urano (o Céu) castrando-o. Mais tarde, tendo desposado Réia, (sua irmã) Cronos passa a devorar
os próprios filhos. Um destes filhos, chamado Zeus, graças a um artifício de Réia, foi salvo da voracidade
paterna, vindo a crescer escondido. Chegado o tempo, Zeus destrona Cronos, obrigando-o a vomitar os irmãos
que outrora foram engolidos. Devido à uma semelhança fonética da língua grega entre o nome de Cronos
(Krónos) e a palavra tempo (Khrónos), este deus passou a ser identificado desde a antiguidade como uma
personificação do tempo, gerando muitas controvérsias, mas conforme BRANDÃO: “[...] se na realidade
Krónos, Cronos nada tem a ver, etimologicamente, com Khrónos, o tempo, semanticamente a identificação de
certa forma é válida: Cronos devora, ao mesmo tempo gera, estanca as fontes da vida, mas torna-se ele mesmo
uma fonte de vida fecundando Réia” (Mitologia Grega, 1991, p.198). Essa confusão etimológica se estendeu
também à iconografia deste deus, como podemos notar a respeito de uma descrição onde GENEST observa que:
“Os artistas dão-lhe a aparência de um vigoroso velho de longa barba branca, crânio despovoado de cabelos,
ombros munidos de amplas asas que descem até o chão e de envergadura imponente, armado de uma gadanha
ou grande foice na mão direita, sustenta na esquerda uma ampulheta”. (Contos e Lendas Mitológicas, 1934, p.
23) esta última, um atributo explícito de sua condição simbólica ligada ao conceito de tempo.
62
72
É possível que a iconografia da Trindade Horizontal já fosse conhecida e utilizada por Lazzarini em obras
anteriores, pois em uma foto de seu arquivo encontramos uma pintura neste padrão, em uma igreja sem datação
ou identificação, mas que cujo estilo de traços contidos e inseguros, possivelmente remontam aos primeiros
trabalhos do pintor no Brasil.
53
Figura 45
Interior da Igreja da Santíssima
Trindade de Nova Palma, ainda com
o antigo mural da Trindade que em 1955 foi Figura 46
substituído pela nova pintura de Lazzarini. Desenho nosso: Reconstituição aproximada da
Foto: Arquivo da Família Lazzarini antiga composição da Trindade outrora existente
no Presbitério da Igreja da Santíssima Trindade de
Nova Palma.
53
Na Trindade Horizontal de Ivorá (Figura 50), o manto de Cristo, que até então, nas
últimas trindades era representado em azul, muda para o vermelho. As cores atingem uma
expressividade maior, provavelmente, em decorrência do domínio técnico alcançado através
da familiaridade com o tema, proporcionada pelas várias experiências anteriores nesse tipo de
representação. Deus Pai e Cristo aparecem sem auréolas, em compensação, o Espírito Santo
tem sua diminuta proporção natural compensada pelo fulgor dos raios luminosos que dele se
projetam, a ponto de igualá-lo em importância visual às outras duas pessoas da Santíssima
Trindade. O globo, sob os pés da alegoria, passa a ser apresentado em verde, encontrando
ressonâncias cromáticas nas vestes de Deus Pai, e em um dos pequenos anjos sob as nuvens
do trono celeste. Formalmente, a estrutura básica não parece receber mudanças significativas,
de tal forma que essa constância nos padrões de espaços internos e proporções, poderia levar-
nos a supor que Lazzarini tivesse utilizado um sistema de cartões73, para reproduzir esta
composição nas várias igrejas em que pintou. No entanto, Fiorello Orlandi, um de seus
auxiliares no período de 1958 a 1959, não confirma o uso deste recurso nas pinturas murais,
afirmando que na época em que trabalhou para Lazzarini, as grandes pinturas eram esboçadas,
a lápis, diretamente na parede, a partir de uma pequena figura impressa que servia de modelo.
A técnica de cartões perfurados era utilizada, mas se restringia à reprodução de frisos e
motivos decorativos.
73
Técnica, utilizada a partir do Renascimento, que consiste numa espécie de molde em papel rústico no qual o
artista executa o desenho em seu tamanho definitivo, perfurando logo após, em espaços regulares e de grande
proximidade todo o contorno da figura. Mais tarde, no local de execução da pintura, é pressionado um pequeno
invólucro de pano, contendo carvão em pó, o qual transpassa os orifícios do desenho, reproduzindo na parede os
contornos básicos, com a vantagem de que esses cartões podiam ser utilizados várias vezes.
53
Figura 47
Lazzarini: Santíssima Trindade , 1957
São João do Polêsine, RS
Figura 49
Figura 50 - Lazzarini: A Santíssima
Lazzarini: A Santíssima Trindade, 1961.
Trindade,1963. Igreja de São José. Ivorá,
Igreja de São Marcos. Novo Treviso.
RS.
Faxinal do Soturno, RS
54
74
Cf., informações fornecidas pelo Sr. Albino Sari, domiciliado em Novo Treviso, RS. Entrevista realizada em
Junho de 1998.
55
encontra uma “[...] cena muito bem reproduzida. Encimando a mão de São João, um divino de
asas abertas com raios resplandecentes” (ETZEL, 1978, p. 48). Ocasião em que Etzel já
constatava que “[...] este painel é uma cópia dos cromos comuns no começo do século, que se
encontram a cada passo até hoje no Comércio, J.B.C. copiou-o com rara fidelidade, mas
enriqueceu-o com sua fértil imaginação” (ETZEL, 1978, p. 47).
75
Infusão: termo aqui utilizado no sentido da expressão latina infusu: infundido, derramado, vertido.
56
Figura 52
Óleo sobre madeira.
Igreja de São Marcos, Novo Treviso.
Faxinal do Soturno, RS.
Figura 54
Lazzarini: O Batismo de Cristo, 1961
Igreja de São Marcos, Novo Treviso.
Faxinal do Soturno, RS
Figura 55
Lazzarini: O Batismo de Cristo, 1963
Figura 53 Igreja de São José. Ivorá, RS.
J. B. C.: O Batismo de Cristo,1919.
Igreja de São Sebastião.
Taiaçupeba, SP
57
Um antigo retábulo de Nicolas Verdun (1181) representa o batismo por infusão ainda
combinado com a imersão, pois somente no século XIV com Taddeo Gaddi e Andrea Pisano é
que a nova fórmula passou a ser dominante. De modo que, mais tarde, veio a ser incentivada
após o Concílio de Trento, principalmente, porque a fórmula medieval do batismo por
imersão havia se transformado, nas mãos dos artistas renascentistas, em um motivo pagão,
freqüentemente reduzido à representação de “[...] um banho de belos corpos efebos nus ao ar
livre”(RÉAU, 1957, p. 300). No Batismo, de Novo Treviso e Ivorá, Lazzarini segue a fórmula
da iconografia reformada, na qual o Batista se inclina com humildade diante do Cristo, e este
demonstra respeito recíproco. Um gesto que guarda em sua origem, a provável influência de
textos piedosos do século XVII, nos quais os artistas do passado se inspiraram, entre esses, os
escritos da santa florentina, Maria Madalena de Pazzi, que exalta o gesto de Jesus quando
exclama: “[...] tu viestes a inclinar-te e humilhar-te diante de São João como se Tu
necessitasses ser purificado”(Male apud RÉAU, 1957, p. 300).
Em Faxinal do
Soturno (Figura 57), Lazzarini
prefere permanecer fiel à tradição
anterior ao pintor flamengo,
optando por padrões mais próximos
aos modelos utilizados por Ticiano,
onde o cálice e o anjo estão
presentes, numa composição em
que a necessidade de simplificação
e a disponibilidade de espaço o
conduzem a limitar o número de
personagens, de modo que, em
nenhuma das representações da
Figura 57
Agonia, Lazzarini insinua a Lazzarini: Agonia no Horto, 1956.
Igreja de São Roque. Faxinal do Soturno, RS.
proximidade dos apóstolos que à
distancia, teriam observado seu mestre, conforme descrevem os evangelhos e a antiga tradição
das representações desse tema. De acordo com Réau (RÉAU, 1957, p. 430), no século XIV,
os baixos relevos, por vezes, descreviam inclusive a presença dos apóstolos mais afastados,
perfazendo a totalidade dos doze, apesar da flagrante contrariedade ao texto bíblico, e mesmo
no Renascimento eram tolerados certos acréscimos, como por exemplo, nos afrescos de Fra
Angélico no convento florentino de São Marcos, no qual o pintor teria tomado a liberdade
poética de introduzir a presença de Maria que assiste a agonia de seu filho.
59
4.3 Crucifixão
Em Faxinal do Soturno, na Igreja de São Roque (1956), o pintor se depara com o teto
curvo da abside localizada sobre o presbitério, onde o amplo espaço permite uma composição
mais complexa. Isso parece contribuir para que ele abandone a antiga composição
simplificada em favor do modelo renascentista, no qual vários personagens compartilham a
cena, dessa vez estruturada em volta de um eixo vertical imaginário. Os pontos de maior
luminosidade de toda a composição se concentram logo acima da cruz, na auréola que
38
Cf., DANIEL; BERGER,(1971, p. 66), a técnica de execução por crucifixão não era originalmente utilizada
pelos romanos, mas eles mais tarde a assimilam a partir da cultura dos Cartaginenses que por sua vez, haviam
herdado de seus antecessores, fenícios.
61
envolve o Espírito Santo e Deus Pai. Acima destas figuras, em uma tonalidade mais baixa,
dois anjos completam uma grande vertical cujo vetor é orientado em direção à cruz. Toda a
ação se concentra nesta linha central, de modo que os espaços laterais superiores, reservados à
área de céu, já não parecem apresentar qualquer outro ponto de interesse (Figura 60).
Figura 60
Lazzarini: Morte de Jesus, 1956. Igreja de São Roque. Faxinal do Soturno, RS.
segundo agrupamento, encontra-se outra mulher que pode ser identificada como Maria de
Cleófas. Nas proximidades é representado um homem portando lençóis brancos, atributo que
contribui para identificá-lo como José da Arimatéia (Marcos 16, 43-46), o senador que teria
solicitado a Pilatos o corpo de Cristo para que fosse sepultado dignamente.
39
Cf., Réau, (1957, p. 496) Longuinos é, provavelmente, uma derivação da palavra grega Longkê que significa
lança.
63
Figura 62
Lazzarini: Crucifixão, 1958.
Igreja de Santo Antônio. Silveira Martins, RS.
Figura 61
Lazzarini: Crucifixão, 1956.
Igreja de São José. Dona Francisca, RS.
Em Silveira Martins, ocorre aquela que talvez seja a mais bem sucedida representação
da Crucifixão, numa composição onde Lazzarini consegue exitosas harmonias cromáticas e
sutileza de detalhes (Figura 62). A representação dos céus não segue a fórmula clássica
utilizada por Rubens (Figura 63), mas cria um espaço luminoso que envolve a cruz em sua
linha dinâmica em forma de espiral. O rosto de Cristo, e dos santos são envoltos por auréolas
luminosas; detalhe que ele não voltará a repetir em nenhuma das outras vezes em que volta a
se dedicar ao tema. A paisagem, normalmente sintética e modesta em detalhes, recebe nesta
imagem uma descrição mais profícua. Na base da cruz, Lazzarini representa um crânio,
64
40
Cf., Minois (1994, p. 28-31) Xeol, era para os antigos Hebreus um lugar subterrâneo, a morada dos mortos,
local para onde iam as almas dos bons e dos maus, que esperavam pelo juízo divino. Não era um local de
punições, mas essa idéia surge mais tarde na época helenística, provavelmente por influência persa.
65
pela proximidade deste mural em relação à cena do Descenso da Cruz, também representada
na abside deste presbitério.
1.4.4 Ressurreição
41
Severino Bellinaso, diácono de Ivorá e historiador regional forneceu estas informações em resposta à
perguntas de um formulário, em 08 de agosto de 1998.
71
De acordo com um artigo de Marzari “[...] a pintura interna foi realizada pelo Sr.
Lorenzini” (MARZARI, 1995, p. 17). Apesar da obra não apresentar qualquer indicação de
data ou assinatura, ao compararmos características estilísticas, tendemos a acreditar que estas
pinturas tenham sido realizadas, na verdade, por Lazzarini. Essa impressão se torna reforçada,
quando tomamos, como referência, o depoimento de Orlandi, um ex-auxiliar do pintor, que
confirma o fato de Lazzarini ter mencionado a realização de uma pintura na Capela de Sítio
dos Mellos. Informação que não parece ser negada pela análise das obras. Apesar das cores
mais esmaecidas contrastarem com o aspecto de suas obras de data mais recente na região,
42
Cf., informações fornecidas por Nélio Pedro Meneghetti, em entrevista realizada na localidade de Sítio dos
Mellos (Faxinal do Soturno - RS) em 25 de Junho de 1998.
72
Nesse caso, é possível, portanto, que o nome “Lorenzini” seja resultante de uma grafia
incorreta ou mesmo da corruptela do nome Lazzarini, em decorrência da transmissão pela
tradição oral. É provável que essa denominação fosse registrada pela primeira vez, em 1991,
por Severino Bellinaso em: Ivorá 100 anos de História 1883- 1982. Obra que trata da história
de antigas igrejas da paróquia de Ivorá, e que com certa probabilidade, Marzari utilizou como
fonte de consulta.
Em relação à história deste santo, registra-se que Isidoro nasceu em Madri, Espanha
em 1070, e que devido à pobreza da família, necessitou procurar trabalho braçal no campo,
onde passou a exercer a atividade de lavrador. Apesar de ser trabalhador esforçado, sempre
reservava no trabalho, parte de seu tempo para dedicar-se à oração. Um dia, porém, alguém o
acusou, diante de seu patrão João Vargas, dizendo que Isidoro, em vez de trabalhar ficava, por
horas, ajoelhado rezando. O patrão querendo ver se a acusação tinha fundamento, foi observar
pessoalmente, e para sua surpresa, percebeu que enquanto Isidoro se encontrava em oração,
74
era substituído em seu ofício por arados puxados por parelhas de bois brancos conduzidas por
anjos. Isidoro casou-se com Maria Turíbia que também era uma mulher religiosa, e após a
morte do único filho dessa união, o casal decidiu viver em castidade. Maria morreu em 1175,
e é venerada como santa na Espanha; Isidoro morreu em 1130 e foi canonizado em 1622.
Antes desta pintura, já existia na localidade, uma imagem em gesso que apresentava
Santo Isidoro em pé, portando uma pá como atributo. Provavelmente, a escolha deste santo
como padroeiro, repousa numa intenção de preservar a memória cultural considerando que,
“[...] na Itália, país de onde vieram, o referido, era o santo protetor dos agricultores e,
também, como forma de perpetuar a tradição de seus antepassados agricultores” (BARATTO,
1995, p. 20). Tradicionalmente, esse santo é representado vestido como camponês, por vezes,
portando instrumentos agrícolas, outras vezes, conduzindo um arado puxado por bois brancos,
ou então ajoelhado em oração como na versão utilizada por Lazzarini. No entanto, a pintura
de Santo Isidoro de Sítio dos Mellos quando observada sob ângulo e luminosidade propícios,
deixa antever outras características de cenário: marcas que se assemelham à forma do desenho
de uma porta com forma semicircular, em um espaço agora reservado ao céu, o que pode ser
um indício de uma correção do pintor, ou da existência de uma pintura anterior.
Mas, como percebemos através do mural de Silveira Martins, não foi apenas na
condição de padroeiro que este santo foi representado, o que indica a existência de certa
simpatia ou grau de identificação mais amplo na devoção à este santo agricultor,
principalmente, porque esta região, naquela época como ainda hoje, é dependente de uma
base econômica assentada, principalmente, na produção agrícola, atividade profundamente
dependente das imprevisíveis mudanças climáticas. A religião, nesse caso, exerce também um
papel de refúgio para a qual acorrem os trabalhadores rurais, principalmente, em períodos de
adversidades impostas pelas grandes secas ou pelas enchentes. De maneira que os santos se
tornam objeto constante das novenas e promessas de um povo esperançoso, em busca da
benesse de melhores dias, ou graças sinônimas de boas colheitas.
75
“Eu me encontrava à sua cabeça e minha mãe à seus pés, eu mantive suas mão entre as
minhas por longo tempo. Os arcanjos Miguel e Gabriel se aproximaram dele, e ele rendeu o
último suspiro em paz, eu lhe fechei os olhos com meus dedos e os anjos vieram e o
envolveram em tecido branco” (Isolanus apud MÂLE,. 1951, p. 322-323). De acordo com
Mâle essa passagem é importante para os historiadores da arte, por ter inspirado várias obras
que dão interpretação plástica a este tema.
43
Uma versão deste relato encontra-se disponível em português na compilação de M. H. O. TRICCA. Apócrifos:
os proscritos da Bíblia. 1992.
44
Detalhe que pode indicar a influência desta temática na obra de Lazzarini, o qual entre 1912 e 1926 residiu,
por algum tempo, na cidade de Bolonha.
76
de Santa Ana, de Valladolid. Mas, a crescente popularidade desse tipo de representação deve-
se em parte ao fato de São José passou a ser considerado o patrono da boa morte, e o
intercessor da maior parte das confrarias formada sobre esse vocábulo. No século XVII e
mesmo no século XVIII, a vida monástica se desenvolve no mesmo espírito da Idade Média, e
muitos desses grupos que tinham títulos austeros como “confraria dos agonizantes”
costumavam se reunir em momentos de luto e rezar a São José pela alma que havia deixado
este mundo. Em uma gravura italiana deste período, a morte de São José é apresentada com a
legenda Refugium agonizantium (MÂLE,1951, p. 313).
45
Cf., Mâle, (1951, p. 325). Existe um quadro no Museu d`Aix em Provença, atribuído a Anibal Carracci, que
devido ao estilo de sombras parece, antes ter sido executado por Caravaggio, que por qualquer outro mestre de
Bolonha. O que leva a suspeitar, que o tema já era conhecido no final do século XVI.
77
Em Faxinal do
Soturno, na igreja da qual é
padroeiro, São Roque é
representado num ciclo de três
murais, localizados sobre a
abóbada do presbitério. Estas
pinturas que fornecem, em um
breve ciclo, o resumo dos
principais momentos da vida do
santo, não apresentam uma
linearidade, como a que seria Figura 76
Lazzarini: São Roque Penitente, 1955. Igreja de São Roque.
esperada para uma narrativa Faxinal do Soturno, RS.
seqüencial. A primeira pintura,
localizada na parte direita do teto, é identificada com a legenda São Roque Penitente (Figura
76), a segunda obra, na seqüência, trata da Glória de São Roque, um evento que, considerado
cronologicamente, situa-se após a terceira imagem, na qual é representada A Morte de São
Roque.
de composição diagonal, nem pela luminosidade caravaggiesca, uma vez que este se serve de
um modelo provavelmente similar àquele encontrado em um livro de legendas de santos,
editado em 1935 (Figura 78), cuja gravura reproduzida, provavelmente é derivada da Escola
Alemã do século XIX. De maneira que, o resultado, procura reproduzir a estabilidade de uma
composição triangular, na qual a forma do pequeno cão corresponde ao terceiro elemento de
equilíbrio de uma composição piramidal.
Figura 77 Figura 78
Sarraceni: São Roque cuidado por um anjo. São Roque. Gravura. Origem provável: Escola Alemã.
Primeira metade do século XVII. (1794 - 1872).
Galeria Dora Pamphili, Roma.
46
Cf., WOLLPERT, (1999, p. 294): o Jansenismo é uma doutrina rigorista fundada por um bispo de Ypres,
chamado Jansênio, este deixou um livro que foi publicado após sua morte em 1638, no qual retoma e desenvolve
concepções tardias de Agostinho de Hipona, a respeito da morte e da predestinação, levando estas a um
extremismo onde conclui que: “Deus determina o futuro do homem com perfeita liberdade e confere
gratuitamente a apenas um número pequeno de pessoas, a eleição por obra da graça irresistível”.
82
Um desses locais, em que a missão veio a atuar, foi Santa Maria (RS), onde se
estabeleceu a Província do Sul, tendo como padroeira a Nossa Senhora Conquistadora. Essa
congregação religiosa passou a ser muito atuante nas igrejas da região da Quarta Colônia,
sobretudo a partir de um seminário fundado em Vale Vêneto, local próximo às cidades de São
João do Polêsine e Silveira Martins.
Na época em que Lazzarini executou suas pinturas, era muito comum encontrar
exposta, nas casas de famílias da região, uma figura emoldurada de Vicente Pallotti, contendo
a inscrição Diploma de Cooperador Pallotino, que normalmente servia para demonstrar que
aquela família contribuía para a causa missionária daquela congregação. A disposição de
imagens, presente nestes quadros, é a mesma que, mais tarde, Lazzarini utiliza como tema de
seus murais.
Em Santa Maria, apesar de Lazzarini lidar com um espaço mais amplo, localizado em
uma absidíola, ele evita as estruturas do modelo original, optando desta vez pelo acréscimo de
83
dois anjos. Solução que serviu para preencher os espaços vazios e, contrabalançar esta obra
quando comparada em relação à composição da Morte de São José, pintada na absidíola
oposta, na qual são representados vários anjos, em uma composição bem mais dinâmica
(Figura 80).
1.6 Os Apóstolos
Nesta cena coletiva, em que são representados treze personagens (Fig. 81), o destaque
principal é dado para a figura central de Maria, em torno da qual se distribuem todos os
apóstolos. Os quais, dificilmente, poderiam ser aqui identificados, visualmente, com exceção
de Pedro que porta o indefectível atributo da chave.
47
Dorvalino Rubin, Padre auxiliar da paróquia de São João do Polêsine, retransmitiu essa informação de
conhecimento popular. Cf., formulário realizado em 25 de Junho de 1998.
85
Figura 83
São Marcos, Evangelista. Gravura
Origem provável: Escola Alemã
Fig. 82
Lazzarini: São Marcos, Igreja de São Marcos.
Novo Treviso, Faxinal do Soturno - RS
São Marcos, considerado o autor do segundo evangelho, não foi um dos doze
apóstolos diretos de Cristo. Conforme a tradição ele era judeu de origem, convertido logo
após à ascensão, quando assume o nome romano de Marcus, sendo por vezes em alguns
textos, também chamado de João Marcos ou João chamado Marcos. Foi o discípulo
preferido de São Pedro, o qual mais tarde o enviou à Alexandria, cidade na qual veio a ser
preso e martirizado. Conforme a tradição, seu cadáver foi colocado sobre uma fogueira,
mas o fogo foi extinto por uma torrencial enchente que assolou todo o país. Depois disso,
86
seu corpo teria sido sepultado, em uma caverna escavada na rocha, local que séculos mais
tarde, seria revelado aos venezianos por um sinal luminoso.
Em Novo Treviso, São Marcos é representado ao lado de seu animal simbólico, o leão.
A origem deste atributo é relacionada, por vezes, a uma das primeiras frases de seu evangelho
onde ele menciona; “A voz que clama no deserto” ao se referir a João Batista (Marcos 1, 3),
voz que passou a ser, simbolicamente, associada ao rugir de um leão. Uma antiga gravura em
preto e branco, apresentando a mesma composição (Fig. 83), foi localizada no Centro de
Pesquisas Genealógicas de Nova Palma, pode ser um indício da variedade de fontes gráficas
que Lazzarini dispunha, para a elaboração de seus murais.
para comprovar o uso de diferentes fontes, se consideramos que era comum nas gravuras de
santos dessa época, a presença de legendas vertidas para vários idiomas.
Em Santa Maria, sobre a área triangular, entre os arcos do cruzeiro central, Lazzarini
distribui quatro personagens, que pela posição que ocupam e a ausência de legendas, podem
induzir confusão, com os quatro evangelistas. No entanto, a identificação mais provável, é de
que se tratam dos quatro principais profetas do Antigo Testamento (Isaías, Jeremias, Ezequiel
e Daniel). Um deles, cujas vestes se assemelham às de Mateus (Fig. 85), tem a sua
composição, evidentemente baseada, na iconografia do profeta Isaías de Miguel Ângelo
(Fig. 86).
Figura 85
Lazzarini: [Profeta Isaías?], 1959. (Identificação
iconográfica duvidosa). Igreja de Nossa Senhora das Figura 86
Dores. Santa Maria, RS. Miguel Ângelo: Profeta Isaías, 1511,
Capela Sistina
88
Lucas foi um judeu helenizado, nascido em Antioquia na Síria, convertido por Paulo.
São Jerônimo o descreve como um praticante da medicina (ars medicus), junto ao ex-soldado
romano. Empreendeu viagens à Grécia e a Itália. Após um naufrágio na costa da Ilha de
Malta, vai para Roma onde é confrontado com a crucifixão de São Pedro e a decapitação de
seu mestre: Paulo. A Lucas é atribuída a autoria do terceiro Evangelho, sendo considerado por
outros, também como o autor do Atos dos Apóstolos. Uma tradição que não remonta além do
48
Luther Link, professor do departamento de Literatura da Universidade Ayoyama Gakuin - Japão, autor de um
ensaio de ênfase iconológica sobre as representações do Diabo no Ocidente: O Diabo: máscara sem rosto. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
89
século VI, atribui habilidades artísticas a São Lucas, o qual segundo a lenda, teria pintado o
primeiro ícone da Virgem Maria.
49
Cf., Réau, (1957, p. 712): alguns exegetas e críticos modernos consideram que o autor do Apocalipse e o do
quarto evangelho não seriam a mesma pessoa. Alguns atribuem o Apocalipse, ao presbítero João que o teria
redigido entre 90 e 125 d.C.
50
Legenda Dourada: compilada em 1280 pelo monge dominicano Jacopo de Varazze.
90
Em São João do Polêsine (1957), São Pedro aparece como personagem secundário,
junto aos outros apóstolos, no momento da vinda do Espírito Santo. Já em Faxinal do Soturno
(1956), ele contracena com seu mestre numa cena alegórica na qual, Jesus simbolicamente
entrega as chaves do céu e da terra, àquele que viria a ser considerado o primeiro papa (Figura
89).
Uma das mais antigas representações do tema da Entrega das Chaves encontra-se no
baixo relevo do século VI, em um sarcófago da Cripta de São Maximino. Conforme Réau,
nestas primeiras representações “Pedro recebe as chaves de mãos vazias em sinal de respeito,
mas permanece em pé. É, somente a partir do século XVI, que lhe mostram ajoelhado. No
século XVII, Rubens representa o apóstolo beijando a mão de Cristo que lhe entrega as
chaves” (RÉAU, 1957, p. 314).
justamente, em uma frase do evangelho de Mateus que inspirou a iconografia da entrega das
chaves51.
Figura 90
Perugino: Jesus entregando as chaves a São Pedro (detalhe). Capela Sistina. Foto: Alinari.
Lazzarini representa o exato momento em que Pedro toca as chaves que lhe são
passadas pelas mãos de seu mestre localizado à direita da pintura. Esta composição contrasta
com uma representação de seu antecessor, Kuliska52. Que em uma obra do mesmo tema,
realizada na Capela de São Pedro, no interior do município de Nova Palma, apresenta indícios
de influências oriundas da antiga iconografia da Entrega das Chaves, na qual Pedro aguarda o
atributo com as mãos vazias. Apesar deste pintor também fazer algumas concessões à
influência moderna, como por exemplo, ao manter o detalhe da genuflexão de Pedro.
51
Cf. Réau, (1957, p. 314): parte da crítica moderna protestante (Harnack, Grill) e mesmo católica (Schnitzer)
contesta a autenticidade desta interpretação da frase: - tu és Pedro, e mesmo do texto que para alguns seria um
acréscimo do século II.
52
Gottlieb Kuliscka, conhecido pelo homônimo aportuguesado Amadeu Kuliska, nasceu no território
correspondente ao antigo Império Autro-Húngaro em 1877, e veio a falecer em Arroio do Tigre (RS) em
25/11/1939. Cf., Registro Livro 10, folha 1. Documento localizado no Centro de Pesquisas Genealógicas em
Nova Palma (RS).
92
53
Notar no detalhe da orla deste medalhão a figura do pequeno anjinho cuja forma original é aparece na
Madonna Sistina (1513), de Rafael, obra que se encontra no Museu de Dresden, na Alemanha.
93
Este anjo, tradicionalmente, era considerado o patrono dos boticários, sendo também
invocado pelos dos viajantes, marinheiros e, principalmente, como protetor dos adolescentes
que se encontram distantes da casa dos pais. A popularidade do culto ao anjo guardião cresce,
principalmente, a partir do século XVI54. Sendo logo favorecida principalmente pelos jesuítas
que atuando como educadores de jovens difundiram a devoção com a criação das Confrarias
do Anjo da Guarda. Em antigas pinturas este anjo é representado com vestes de peregrino,
portando um cajado, acompanhando Tobias em sua jornada. Em desenvolvimentos posteriores
desta iconografia, o jovem Tobias passaria a ser substituído por uma criança qualquer,
enquanto Rafael passa a ser representado como o anjo guardião que a protege contra as
tentações do demônio (RÉAU, 1957, p. 54). Em 1956, Lazzarini adaptou este tema popular,
para um mural da Igreja de São Roque, em Faxinal do Soturno (Figura 92). Nesta obra, a
54
Cf., Réau, (1956, p. 53): A primeira missa em honra ao Anjo da Guarda é registrada em 03 de junho de 1526
na cidade de Rodes.
94
presença deste anjo é sugerida, como algo metafísico, que não parece despertar a atenção das
crianças que se encontram sob sua proteção. Com relação à inserção dos personagens na
paisagem, é possível perceber certa ambigüidade visual, causada por um aparente conflito na
relação entre afastamento de figuras em profundidade e a correspondente redução de
proporções. Isso se dá, principalmente, porque o limite, no qual ocorre o encontro do solo e
das formas semi-etéreas das vestes do anjo, apresenta uma linha curva que se projeta para
frente. O que fornece uma relação confusa para o espectador que pode sentir-se,
provisoriamente, sem parâmetros para avaliar a dimensão que o corpo deste anjo ocupa em
relação às outras formas. Ou mesmo em relação àquela que seria a distância provável do
afastamento dele em relação às crianças. Tal fato, no entanto não chega a prejudicar
irreparavelmente a composição. Apesar deste tema ameno, ambientado em uma paisagem
pacífica, ser tradicionalmente criticado: como um exemplo típico do Kitsch, popularizado por
grandes tiragens de cópias absorvidas pela cultura de massa. Neste caso, ele parece fornecer
uma espécie de contraponto interessante em relação a uma cena representada ao lado, cujo
tema do Destino do Mau Pecador55, representa em contraste, um ambiente dominado por
figuras demoníacas.
55
As duas imagens correspondentes ao tema Destino do Justo e do Pecador, que na Igreja de São Roque de
Faxinal do Soturno foram pintadas em ambos lados da imagem do Anjo da Guarda, são reproduzidas nas Figuras
101 e 102 deste estudo.
95
século XVI, do Palácio de Doges em Veneza, no qual o anjo que protege Tobias traz em sua
mão um rolo com a inscrição: “Acalma as águas do lago” (effice fretum quietum). Isto, porque
Rafael era venerado como o anjo que triunfa sobre o demônio Asmodeu, razão pela qual o
invocavam, diante das tempestades, as quais acreditavam serem causadas pelos demônios
(RÉAU, 1956, p. 54). A obra da Igreja de Novo Treviso, tomada em comparação às pinturas
anteriores deste tema, destaca-se por uma execução técnica bem mais naturalista na
representação dos personagens, cuidado que se reflete, também, no detalhamento da
paisagem.
Este tema trabalhado por Lazzarini, provavelmente encontrava boa acolhida entre
fiéis, pois as representações do Anjo da Guarda, também eram muito comuns nos antigos
lares católicos desta região que, seguindo um procedimento tradicional, utilizavam imagens
desse anjo em quadros colocados nos dormitórios, principalmente junto à cabeceira das camas
de crianças.
São Miguel
Iconografia cujas formas precursoras são encontradas na magistral obra mural de Signorelli,
na Catedral de Orvietto. Apesar desses seres terem sido representados como personagens
secundários, destinados a evidenciar pelo seu contraste, a beleza e as virtudes do Santo, nota-
se que, mesmo assim, Lazzarini parece dedicar especial atenção a estas figuras, como que se
comprazesse em conseguir descrever o horror e o realismo fantástico desse ambiente infernal,
repleto de chamas e serpentes.
“No inferno os condenados sofrem todas as espécies de dores. Os dois maiores sofrimentos são: 1)
Nunca ver a Deus; 2) ser queimado vivo, sem nunca morrer. Além disso, os condenados padecem fome
e sede. Gritam, choram, blasfemam, soltam uivos de desespêro, enquanto os demônios se riem deles
(sem grifo no original) e continuam a atormentá-los. Os condenados do inferno não poderão nunca mais
ver o papai, a mamãe, nem Nossa Senhora, nem os Santos nem os Anjos , que são tão lindos!”. (O Teu
Catecismo, Terceiro Ano Ginasial. São Paulo: Edições catequéticas LDC. Livro utilizado para
catequese no interior do Município de Nova Palma em 1959)
Neste caso podemos perceber, entre outros detalhes, que o objetivo de conquistar a fé
pelo medo, tinha requintes psicológicos que levavam a extremos de ameaçar algo realmente
precioso para uma criança: a presença junto aos pais. Isto nos leva a acreditar que, estas
representações de demônios, apesar de parecerem pouco sofisticadas ou mesmo risíveis para o
espírito de nosso tempo, tinham a força de acentuar um medo real nos fiéis que cresciam sob
98
tal disciplina. Daí, ser possível acreditar que essas imagens, independentemente do mérito
moral que possamos atribuir, desempenharam um papel importante no desenvolvimento do
imaginário regional, e colaboraram perfeitamente com as pretensões da igreja nessa época.
Quanto à origem desta iconografia, não foram localizados muitos dados, mas se sabe
que nesta região, este tema era muito popular entre as famílias italianas. Com o tempo e com
as novas gerações, estes quadros foram sendo retirados das paredes das casas e relegados a
lugares mais recônditos como galpões ou depósitos, ou mesmo, em grande parte, destruídos.
Em Nova Palma, foram localizadas representações gráficas deste tema, em duas residências
do interior do município (Figura 97 e Figura 98), mas é provável, que ainda existam outras
cópias, em outros municípios e mesmo em outras regiões. A mais antiga representação deste
tema, trabalhado por de Lazzarini, não foi realizada na região da Quarta colônia, mas sim, em
Bento Gonçalves, cidade que pertenceu a uma das três primeiras Colônias Imperiais de
imigração. Desta obra realizada em 1944 no Santuário de Santo Antônio, foram conservadas
algumas fotos no arquivo da casa paroquial que registram os traços originais de Lazzarini,
antes da intervenção realizada recentemente. Através desse registro, percebemos que nesta
primeira obra, ao tratar do tema do Destino do Mau Pecador (Figura 99), Lazzarini se
manteve no nível da cópia, procurando conservar, inclusive, as cores originais de seu modelo.
Já ao tratar do Destino do Justo (Figura 100), ele suprime alguns móveis que compõe o
cenário, numa atitude que exemplifica aquela tendência à simplificação e enxugamento de
formas, que ele, posteriormente, daria prosseguimento ao tratar com outros temas.
99
Em 1956, ao retornar a este motivo na Igreja de São Roque, Lazzarini realiza uma
obra em que os empréstimos formais ao modelo são bem mais restritos. Na cena do Destino
do Justo (Figura 101), é suprimida a presença da Santíssima Trindade. O mesmo ocorre com a
presença do figurante que se encontrava próximo à cabeceira do leito, e com a cena do anjo
que expulsa o demônio, cujo local na cena passa a ser preenchido por um móvel e um castiçal.
Os personagens restantes tiveram suas posições reestudadas; o anjo que se encontra próximo
ao leito passa a ser representado em uma posição superior e com as asas abertas. A mulher e
as crianças que se encontravam em pé, junto ao leito na figura original, são substituídas por
duas figuras adultas que se reclinam sobre a base do leito. A figura do padre ganha
importância e é deslocada para uma posição mais próxima ao espectador, sendo representado
em frente ao leito, não mais portando um livro sacro, mas sim o crucifixo que na obra original
era atributo do enfermo.
Este nível de interpretação não voltaria a se repetir, na Igreja de Nossa Senhora das
Dores, em 1959, onde notamos um evidente retorno às formas fornecidas pelo modelo,
mesmo assim, na cena do Destino do Justo (Figura 103) ainda ocorre o característico
rebaixamento do número de detalhes. Novamente, a Santíssima Trindade e alguns elementos
100
do cenário são suprimidos. Apesar da semelhança compositiva, pela comparação dos espaços
entre as formas, é possível notar estas cenas não se tratam de simples ampliações diretas, mas
de cópias realizadas a mão livre e com certa liberdade, o que confere à cena um caráter
popular que Armindo Trevisan (1998. Informação oral) considera: “Semelhante à iconografia
de xilogravuras da literatura de cordel nordestina”56. Na cena do Destino do Mau Pecador
(Figura 104), Lazzarini elimina a figura do demônio que se encontrava próximo ao leito,
conservando naqueles restantes as mesmas formas de asas, utilizadas no mural da igreja de
Faxinal do Soturno. Com relação ao modelo, ele também elimina a forma da serpente e do
demônio, entronizado em meio às chamas. Esse último personagem, provavelmente devido a
esse caráter de nobreza do destaque a ele concedido, parece que não teve boa receptividade
em sua primeira representação em Bento Gonçalves, obra na qual, nota-se a presença de uma
provável intervenção posterior, que teria eliminado o perturbador rosto da majestosa figura.
56
Paráfrase de uma caracterização originalmente atribuída por Armindo Trevisan a estas obras de Lazzarini,
durante uma conversação informal após uma aula de Iconografia e Iconologia, do curso de Mestrado em Artes
Visuais da UFRGS, no primeiro semestre de 1998.
101
Figura 97 Figura 98
O Destino do Justo. Impressão gráfica sem datação. O Destino do Mau Pecador.
Impressão gráfica sem datação.
Ao se comparar as representações do
tema do Destino do Justo e do Pecador,
percebe-se que alguns desses trabalhos se
incluem entre as obras nas quais Lazzarini
parece ter demonstrado maiores dificuldades e
limites técnicos. Ao mesmo tempo em que,
progressivamente, se afastou dos modelos
fornecidos pelas figuras que normalmente Figura 104
Lazzarini: O Destino do Mau Pecador, 1959.
ampliava. Mas, também é o tema em que ele se Igreja de Nossa Senhora das Dores. Santa Maria,
RS.
permitiu um grau de maior liberdade de
improvisação, ao abandonar as técnicas de
ampliação direta e ao manipular com maior
espontaneidade o número e a forma dos
personagens. Talvez, isto tivesse alguma
relação com o tipo de temática. Pois, parece ser
normal que os critérios do público quanto à
exigência de beleza, sejam aplicados, Figura 103
Lazzarini: O Destino do Justo, 1959.
principalmente, em relação aos santos. Já nos Igreja de Nossa Senhora das Dores. Santa Maria,
RS.
temas que envolvem a presença de demônios, a
fealdade resultante de uma técnica menos
apurada, certamente, podia até contribuir para o
caráter de horror que se pretendia imprimir, na
representação dos seres maléficos.
Figura 105
Lazzarini: O Destino do Bom e do Mau, 1963.
Igreja de São José. Ivorá, RS.
103
Capítulo II
Pode-se dizer que a pintura mural, ao mesmo tempo, em que determina o seu espaço
de existência, interferindo na visualidade e no conceito que temos de um determinado
ambiente, é também em grande parte, determinada por influências desse ambiente. Enfim,
pela complexidade própria da arquitetura, na qual esse tipo de pintura se insere. Dessa
peculiar relação existente entre pintura mural e arquitetura, configura-se uma caracterização
que a diferencia, em grande parte, da tradicional pintura de cavalete. Apesar de, por vezes,
recorrer a técnicas comuns a esta última, a pintura mural quando considerada em suas relações
com o ambiente de entorno, se afasta daquelas obras realizadas sobre pequenos suportes
móveis. Principalmente, por ser concebida enquanto parte integrante de um espaço
arquitetônico determinado e, portanto, planejada em função deste, de modo a adaptar-se às
condições de um ambiente mais amplo. Quanto a esse aspecto, pode-se dizer que o mural está
sujeito às exigências externas do espaço em que se instaura, condição que pode ser
evidenciada, seja pelas alterações de cor requeridas pela luminosidade do ambiente em que é
realizado; pela adequação das dimensões em função da distância e espaço disponível ou,
ainda, pela adequação ao estilo e linhas dominantes da construção em que a obra se insere.
Através destas relações estabelecidas com a arquitetura se percebe que as diferenças entre a
104
pintura mural e a tradicional pintura de cavalete vão além da uma simples escolha de um
suporte diferenciado, pois a pintura mural constitui, com seu espaço de ambientação, um tipo
de relação simbiótica. O que é bem exemplificado por Parramón:
“[...] a pintura mural es algo que está em función de, es decir, no constituye – como
um dibujo o um quadro – uma obra de arte em si misma, aislada e independiente de otras
obras, sino uma obra aplicada a outra: a um muro que forma parte de uma habitación que por
sua vez forma parte de uma edificación.” (1981, p. 23).
As igrejas da Quarta Colônia, na época das pinturas, ainda mantinham viva a tradição
anterior ao Concílio Vaticano II que refletia a seguinte mentalidade; “[...] já que a pessoa a ser
batizada não pertence à igreja, deve ser o batismo, pelo qual ela entra na igreja, realizado
totalmente ou em sua maior parte fora da igreja, na qual ela entra após o batismo”
(SCHUBERT, 1997, p. 68). Nessas igrejas, a pia batismal era, geralmente, localizada no
espaço interno logo ao lado da porta principal.
Batismo extraía sua ênfase do aspecto relacionado à ação de entrada, por associação ao ritual
de ingresso na vida cristã, é provável que esta segunda temática, geralmente localizada no
espaço logo acima da porta, explore a ação contrária, ou seja, a ação de saída. Pois, devido a
essa localização, os fiéis certamente seriam confrontados com esse tema escatológico ao fim
da celebração, de maneira que o potencial pedagógico moral reforçado pela ameaça objetiva
poderia, então, funcionar como o último apelo que tenderia a se manter vivo no imaginário,
quando estes fiéis retornassem para suas casas.
2.1.2 O coro
O Coro ou a Cantoria como preferem chamar na região, é um espaço situado em um
piso intermediário elevado, próximo à entrada do templo, encontrado praticamente em todas
as igrejas da Quarta Colônia, mesmo nas mais modestas. Os murais pictóricos escolhidos para
as paredes do Coro guardam estrita relação com a finalidade desse espaço, seja através da
decoração executada, por vezes, com formas de instrumentos musicais, ou pelos murais com a
temática de Santa Cecília e a Música Divina. Esta relação, entretanto, não é válida no caso de
algumas das construções que apresentam vitrais neste espaço, como, por exemplo, nas paredes
do coro da Igreja de São José de Dona Francisca, e de Nossa Senhora das Dores em Santa
Maria. Diferença que se deve em parte ao fato de que os vitrais eram executados à distância,
conforme medidas fornecidas, para mais tarde, então, serem finalmente montados no espaço
destinado, ao passo que os murais pictóricos eram executados no local, em melhores
condições para o planejamento e adequação à potencialidade desses espaços.
decorrência disto, mais tarde condenados à morte por seguirem a nova fé. Cecília tendo
recusado oferecer sacrifícios aos deuses romanos, foi condenada a morrer pelo vapor de uma
caldeira sufocante, punição da qual ela se salva miraculosamente. Então, é condenada à
decapitação, mas, por três vezes, a lâmina do carrasco não teria conseguido separar a cabeça
em relação ao tronco da jovem. Como ocorria, que após três tentativas de execução, a lei
romana intervinha em favor do condenado, ela foi, então, deixada durante três dias estendida
na sala de termas, local em que veio a morrer em presença do papa Urbano. Mais tarde, seu
corpo foi sepultado no cemitério Calixto.
180
Cf. Réau (1958, p. 280) : “Pendant qu`on conduisait Cécile, le jour de ses noces, dans la maison de son
fiancé au son des instruments de musique, C`est Dieu seul qu elle invoquait dans son coeur por lui demander la
grâce de conserver son coeur et son corps sans tache”.
108
efetuados pelos novos artistas de diversas academias, isso não impede que a versão do século
XV que considera Santa Cecília como amiga da música, viesse a se proliferar e se tornar
hegemônica nos séculos seguintes.
Fiel à tradição, em Nova Palma Lazzarini representa uma imagem de Santa Cecília
sentada, junto a uma espécie de piano, substituindo uma antiga pintura, na qual a mesma
santa, era representada em pé, portando um handorgel. Na parede do coro, em Faxinal do
soturno, Santa Cecília seria representada em pé, porém, diferentemente da versão anterior
representada em Nova Palma, ela aparece tocando uma espécie de harpa (mural que,
atualmente, se encontra quase totalmente destruído).
181
{Durante esta pesquisa não foi possível localizarmos documentos ou pessoas que pudessem informar algo a
respeito dessa obra.}
109
182
Cf., depoimento da senhora Hildegard Krause (*1917). Entrevista realizada na cidade de Faxinal do Soturno,
RS, em 17 de abril de 1999.
110
construção da Arca da Aliança183. Conforme o texto, devia-se representar dois anjos alados,
em reverência, na tampa deste objeto sacro, por se tratar do local em que Deus se
manifestaria. Isso é enfatizado, através das palavras atribuídas a Deus pelo texto sagrado: -
“Ali me encontrarei contigo, e de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins
colocados sobre a arca da aliança, eu te comunicarei tudo o que deves ordenar aos israelitas”
(Êxodo - 25, 22). Também o Livro dos Reis184 apresenta a descrição de escultura de anjos
em adoração que ornavam o local destinado à Arca. É possível que estas imagens, desde esta
época, se tornassem uma espécie de marco visual, diretamente associado ao local da teofania.
183
Cf., A Bíblia Sagrada. 2 ed. Versão da CNBB, 2002, Êxodo 25, 18 – 20: “Farás dois querubins de ouro polido
nas duas extremidades do propiciatório: um de cada lado, de modo que os dois querubins estejam nos dois
extremos do propiciatório. Os querubins, com as asas estendidas por cima, estarão encobrindo o propiciatório,
um em frente do outro, voltados para o propiciatório”.
184
Cf., A Bíblia Sagrada. Op. cit.,(Reis 6, 23- 28): “No Santíssimo, Salomão mandou instalar dois querubins de
madeira de oliveira de dez côvados de altura. Uma asa de um querubim media dois metros e meio, e a outra asa
também, de modo que eram cinco da ponta de uma asa à ponta da outra. […] colocou os querubins no meio da
parte interior do templo, com as asas estendidas, de modo que a asa exterior de um querubim tocava uma
parede, e a do segundo, a outra parede. As asas interiores tocavam-se no centro”.
111
interpretação da semelhança fonética do nome do país England, com a palavra terra dos anjos:
Angeland185.
Em Nova Palma, o espaço sobre o arco já era ocupado por um alto relevo que
apresenta dois anjos, em torno de um símbolo de Deus que apresenta a forma de um triângulo
com um olho interno. Mesmo assim, Lazzarini decide representar dois anjos simétricos na
parede posterior do presbitério, complementando na parte superior, com dois anjos menores
que se inclinam em direção a um Ostensório. Em Faxinal do Soturno, como o espaço entre os
arcos era muito estreito para comportar qualquer composição com figuras antropomorfas, o
tema dos anjos foi representado na parede posterior ao altar. A associação entre o tema dos
anjos e o espaço vertical do arco triunfal é utilizada, ainda que timidamente, na Igreja Matriz
de Dona Francisca (1956). Nessa igreja, em que a divisão dos espaços não é realizada
propriamente por um arco, mas por uma arquitrave com cantos arredondados, não há espaço
para um motivo central. O tema é, então, restringido apenas às formas de dois pequenos anjos,
reproduzidos simetricamente, nos espaços próximos aos cantos curvos.
185
Cf., RÉAU, Louis. Iconographie de L`Art Chrétien. Ancien Testament,, p. 37. “[...] les anges tiennent une
grande place dans la sculpture anglaise du Moyen – âge qui a eu pour eux une véritable passion, non seulement
parce que leurs ailes éployees meublement à marveille les écoiçons triangulaires des arcades, mais parce que,
suivant un jeu de mots trés populaire, l`Angleteterre se flattait d`être le pays des angles (Engel-land), c`est-à-dire
des anges”.
112
Em Silveira Martins
(1958), em uma igreja cuja
arquitetura proporcionava um
espaço bem mais generoso,
Lazzarini ocupará sua composição,
com dez personagens angelicais
que se projetam em direção ao
centro, no qual se destaca a pomba
simbólica do Espírito Santo
(Figura 107). Apesar da
composição seguir uma
distribuição simétrica de formas,
Figura 107
ela apresenta uma intensa Lazzarini: Arco Triunfal da Igreja de Santo Antônio. Silveira
Martins, RS. Foto: Arquivo de Angelo Lazzarini.
dinâmica, decorrente da variedade
de posições assumidas pelos
corpos dos anjos representados
neste local, qualidade que é
salientada quando comparamos os
personagens representados em um
lado, com os que se encontram na
posição oposta.
Em Santa Maria, na
Igreja de Nossa Senhora das Dores
(1959), sobre o grande arco que se
Figura 108
eleva acima do altar, Lazzarini Lazzarini: Arco Triunfal da Igreja de Nossa Senhora das Dores,
representa a maior composição, 1959. Santa Maria, RS.
em espaço e complexidade, correspondente a este tema (Figura 108). Nas extremidades mais
afastadas, ele coloca anjos portando instrumentos de corda. Logo acima, em ambos os lados,
são representados alguns anjos que carregam oferendas de flores, e na seqüência anjos que
portam trombetas. A parte central é ocupada por dois anjos que incensam um altar, sobre o
qual se situa, o Santíssimo (Ostensório) e o Cordeiro Divino com o estandarte da vitória. No
entorno deste altar, em uma posição deslocada que enfatiza a profundidade de campo, é
acrescentada, ainda, uma legião de anjos em adoração. Essa composição, apesar de ser mais
complexa e de superar em número de personagens a obra anterior de Silveira Martins,
113
consegue manter uma composição harmônica. Mesmo considerando que ela se diferencia da
obra anterior por uma aparente retomada das posições mais hieráticas. Que se repetem, com
maior freqüência, em alguns de seus personagens resultando, no conjunto, em uma cena
menos movimentada que a obra que a antecede.
Na Igreja de Santo Isidoro, no Sítio dos Mellos, em uma obra que tendemos creditar a
Lazzarini, ao ocupar o espaço do arco triunfal, o pintor também repete a composição sobre
fundo neutro, utilizando figuras de anjos com turíbulos, retratados em tons rebaixados com
aparente economia no número de cores. Em Ivorá, apesar de Lazzarini manter a simplicidade
de composição, ele evita a aparência de rebatimento de formas, usando posicionamento
corporal diferenciados para os dois anjos que portam instrumentos de corda e preenchem os
espaços laterais do arco. Esta é a última obra do tema, executada com relativa adequação ao
espaço, pois na Igreja de Santa Catarina, em Santa Maria, encontramos uma obra com figuras
em proporções desajustadas, em cujo espaço central destaca-se o monograma de cristo,
praticamente comprimido pelo exíguo espaço disponível entre o arco e o teto. Já os pequenos
anjos laterais, apresentam tantas repinturas que, dificilmente, poderíamos, ainda ali, encontrar
algum traço de Lazzarini.
com sua composição orientada geralmente em torno de um centro ocupado pela forma de um
Ostensório, guarda estreita relação com o altar logo abaixo. Poderíamos dizer que, entre as
funções litúrgicas deste tipo de representação, está o objetivo de destacar o altar que é
considerado centro de toda celebração cristã. O Ostensório, que guarda evidente relação com
o ritual eucarístico que se realiza no plano inferior, e a figuração de uma corte celeste no
espaço envolvente ao altar, serviriam para conferir dignidade ao local em que conforme a fé
cristã, Deus se tornaria presente. Relação entre imagem e espaço que parece guardar uma
possível reminiscência do espírito das antigas figurações sacras judaicas.
2.1.4 Presbitério
Enquanto o espaço do arco triunfal é o lugar onde a corte de anjos, anuncia a presença
de Deus, que se manifesta através de signos sem figuração antropomorfa, o Presbitério passa a
ser o lugar, onde a arte pretende tornar visível, a presença de Deus, na forma humana. Dois
temas concorrem para este propósito, o primeiro é o tema da Santíssima Trindade que é
encontrado no teto do presbitério de cinco igrejas. O segundo é o tema da Crucifixão de
Cristo, presente no teto do presbitério de quatro igrejas, ao qual soma-se mais uma variante
executada sobre a abside da Matriz de Faxinal do Soturno, de modo que podemos dizer que
estes temas, foram quase equivalentes em importância, na hora da escolha da representação a
ser efetuada nos presbitérios das igrejas analisadas.
É possível que esse espaço fosse considerado mais digno para as representações da
Santíssima Trindade, pois em nenhum caso este tema parece associado a outros locais da
arquitetura religiosa na região. Já o tema da Crucifixão, no entanto, aparece, em uma ocasião,
inserido dentro de um ciclo da vida de cristo, no espaço do teto de uma nave lateral em Nova
Palma. Ao tempo em que o presbitério estava ocupado justamente, com a representação da
Santíssima Trindade. Mas, esta é uma exceção, quando comparada às demais representações
seguintes da Crucifixão, todas normalmente executadas nos tetos dos presbitérios. A relação
entre o tema da Crucifixão e este espaço pode ser em parte explicada, pela função histórica
dos altares, normalmente associados aos sacrifícios rituais e holocaustos religiosos em várias
religiões primitivas. No templo católico, este espaço passa a ser o local em que se celebra um
banquete ritual em memória de Cristo e a sua necessária morte, interpretada como um
sacrifício ao qual ele teria se sujeitado por uma necessidade sobrenatural e por vontade
115
2.1.5 Nave
O preenchimento do espaço das naves das igrejas pintadas por Lazzarini nesta região,
parece seguir, basicamente, dois procedimentos diferentes, em decorrência das dimensões do
espaço disponível. Nas igrejas maiores, o padrão normalmente seguido, é o de preencher todo
o espaço com vários “quadros”, sejam eles estruturados em seqüências cronológicas, ou
seguindo distribuição de temáticas independentes entre si. Em Nova Palma, parte da
distribuição temática segue ciclos organizados. Isso ocorre na nave lateral esquerda, com o
desenvolvimento do ciclo da vida de Cristo, que neste caso inicia com o mural da Natividade
e culmina com A Ressurreição, e se repete na nave lateral direita com o ciclo mariano, que
inicia com A Apresentação da Virgem no Templo e conclui com A Coroação de Maria no
Céu. Na nave central, a distribuição é mais irregular, embora o início do ciclo próximo ao
altar, pareça indicar uma seqüência cronológica que inicia com a Criação do Mundo, seguida
pela Expulsão do Paraíso e A Morte de Abel. Nota-se que o desenvolvimento é interrompido,
pela inserção de um quadro de Moisés e a Lei em posição anterior ao de Abraão e o Sacrifício
de Isaac, o que seria uma inversão temporal, se a cronologia bíblica pudesse ser usada como
parâmetro (Figura 110). Apesar de quase todas as imagens deste conjunto terem sido
inspiradas em episódios bíblicos do Antigo Testamento, esta característica também não pode
ser utilizada para identificar um padrão de regularidade, pois entre estes episódios, foi inserida
uma representação da Parábola do Filho Pródigo, oriunda de uma parábola neotestamentária.
inserção do tema mariano da Assunção de Nossa Senhora, e de um tema moral versando sobre
O Sacramento do Matrimônio (Figura 111). Nota-se que na nave destas igrejas maiores,
apesar da variedade de temas, não parece haver tendência a destacar um determinado assunto
em relação aos demais, pois a proporção da área ocupada em cada um destes quadros
permanece, em grande parte, constante.
Logo após a obra da Igreja Matriz de Dona Francisca, Lazzarini passa a trabalhar em
São João do Polêsine, na Igreja de São João Batista. Nessa construção de médio porte, apesar
da disponibilidade de espaço, nota-se que ao realizar a distribuição temática da nave central,
Lazzarini resume a ocupação do espaço, à apenas um medalhão central, sem qualquer outro
tema nas proximidades (Figura 113). Semelhante tipo de ocupação espacial simplificada, mais
tarde, passaria a ser utilizado apenas nas pequenas capelas, geralmente, encontradas em
comunidades interioranas.
Nas igrejas de pequeno porte, que geralmente não possuem uma nave central muito
alongada, a composição do conjunto de cenas, já não podia ser planejada para atender a uma
distribuição em forma de tríade longitudinal. O espaço mais curto destas naves, cujo espaço
retangular, por vezes se aproxima de um quadrado, não favorecia o acréscimo dos dois
medalhões médios que normalmente eram colocados ao longo do eixo longitudinal, em ambos
os lados do grande medalhão central. Por isso, nesses locais, Lazzarini costuma destacar o
grande medalhão, normalmente reservado à representação dos respectivos padroeiros de cada
117
uma destas igrejas, tomando-os como o principal ponto de interesse. Esse padrão também se
aplica ao caso de Sitio dos Mellos, onde o espaço da nave apresenta apenas o medalhão de
Santo Isidoro isolado de outras cenas, lembrando pela simplicidade desta ocupação espacial, o
padrão utilizado por Lazzarini em São João do Polêsine. A maioria dos medalhões centrais
das igrejas de menor porte, no entanto, apresenta um padrão compositivo um pouco mais
elaborado. Os espaços correspondentes aos cantos dos medalhões centrais são preenchidos
por quatro pequenos medalhões circulares, invariavelmente ligados ao tema dos quatro
evangelistas que, dessa forma, estabelecem uma ligação formal, mais direta, entre espaço
arquitetônico e a temática religiosa. Sistema que pode ser reencontrado nas naves das igrejas
de Vale Veronês (Figura 116), de Sitio Alto (Figura118), e de Ivorá (Figura 119).
A segunda forma utilizada por Lazzarini, para orientar as figuras em tetos planos,
caracteriza-se por uma espécie de inversão do sentido de orientação anterior. Tipo de
direcionamento que ocorre, apenas, com a última série de figuras, normalmente distribuídas
ao largo da ultima faixa transversal ao comprimento da nave, na região próxima ao coro.
Neste local, as figuras normalmente quebram o ritmo determinado pela orientação das dos
murais anteriores que ocupam a maior parte do espaço restante na nave e no presbitério, de
modo que a composição passa a ter sua base orientada para a face interna da parede
correspondente à fachada dessas Igrejas. Em Nova Palma, a inversão ocorre nos dois últimos
quadros da nave central, correspondentes às cenas do Dilúvio Universal e de Davi derrotando
Golias (Figura 110). Isso também é válido para as naves laterais; no lado esquerdo temos a
inversão do mural da Ressurreição que fecha o ciclo da vida de Cristo e, em posição
correspondente na nave direita, essa orientação é seguida pelo mural da Coroação de Maria no
Céu. Esse procedimento também seria utilizado, em Faxinal do Soturno no caso do mural da
Expulsão do Paraíso (Figura 111). Em Silveira Martins, os dois quadros mais próximos do
186
{Na Igreja de São Roque em Faxinal do Soturno, esta orientação é válida, para as imagens da parte central do
teto do presbitério e para os murais que estão dispostos longitudinalmente na parte central da nave, pois devido à
forma abobadada deste teto, as partes intermediárias inclinadas localizadas próximas às paredes laterais, seguem
uma distribuição diferente, onde as cenas são posicionadas verticalmente e em posição ortogonal a esta linha
central.}
119
Figura 110
Esquema de distribuição temática, dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja da Santíssima
Trindade, Nova Palma, RS. Escala: 1: 200.
121
Figura 111
Esquema de distribuição temática, dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja de São Roque,
Faxinal do Soturno, RS. Escala: 1: 200.
122
Figura 112
Esquema de distribuição
temática, dos murais de
Lazzarini, no teto da
Igreja de São José. Dona
Francisca, RS. Escala: 1: 200.
123
Figura 113
Esquema de distribuição temática,
dos murais de Lazzarini, no teto da
Igreja de São João Batista. S. J.
do Polêsine, RS. Escala: 1: 200
124
Figura 114
Esquema de distribuição
temática, dos murais de
Lazzarini, no teto da Igreja de
Santo Antônio. Silveira Martins,
RS. Escala: 1: 200.
125
Figura 105
Esquema de distribuição
temática dos murais de
Lazzarini, no teto da Igreja
de Nossa Senhora das Dores.
Santa Maria, RS.
Escala: 1: 200.
126
Figura 116
Esquema de distribuição temática, dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja de Nossa
Senhora do Monte Bérico, Vale Veronês, Silveira Martins, RS. Escala: 1: 200.
127
Figura 117
Esquema de distribuição temática, dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja de São Marcos,
Novo Treviso, Faxinal do Soturno, RS. Escala: 1: 200.
128
Figura 118
Esquema de distribuição temática, dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja de Nossa
Senhora do Caravaggio, Sítio alto, Ivorá, RS. Escala: 1: 200.
129
Figura 119
Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini, no teto da Igreja de São José,
Ivorá, RS. Escala: 1: 200.
130
2.3.1 Os suportes
Mesmo ao se considerar que Lazzarini executou várias obras em plano vertical, sobre
o reboco de paredes comuns, pode-se dizer que o suporte por excelência, de seus murais
foram os forros de estuque232. As igrejas desta região, que em sua segunda ou terceira
geração, vieram a substituir as primitivas capelas de madeira, normalmente utilizavam esse
tipo de material para a execução dos forros. A escolha desse revestimento, em período mais
recente, não era devido somente à maior disponibilidade de recursos econômicos e materiais,
mas, também, favorecida pelo fator de durabilidade desse substrato. Pois, ao contrário do que
acontecia em antigas igrejas do nordeste brasileiro, nesse espaço geográfico sulino, onde o
clima regional conjuga períodos secos com temperaturas elevadas, alternados com outros
períodos de intenso frio e alta concentração de umidade, o estuque parecia ser um material
mais apropriado do que a madeira.
Em construções mais antigas, como no caso da Matriz de Nova Palma (1927), o forro
de estuque era assentado sobre uma camada de ripas de coqueiro233, distribuída
regularmente, sobre suportes estruturais de madeira. Conforme descreve Rubin: “Do coqueiro
se obtinham com facilidade ripas muito retas, sem necessidade de serragem. Pregadas em
paralelo, bem próximas umas às outras, serviram de suporte do estuque da nossa segunda
igreja e de muitas igrejas da época” (RUBIN, 1987, p. 33). Mais tarde, o uso de ripas de
coqueiro seria substituído por módulos quadrangulares industrializados, de uma espécie de
tela metálica com fios, de aproximadamente: ∅ 5mm (diâmetro), distribuídos em malha com
espaçamentos de 1,00 cm de intervalo. Sobre essa nova base, no entanto, continuariam a
aplicar o tradicional revestimento de estuque, como no caso da igreja de Ivorá.
Duas igrejas, porém, fugiram à regra e optaram por utilizar materiais mais modernos.
Essa situação ocorreu, na realização do teto da Igreja de São João do Polêsine (c.1950), com
forros de madeira compensada, e na Igreja de Santa Catarina do Bairro Itararé em Santa Maria
232
{Espécie de argamassa, preparada geralmente com gesso cal e areia.}
233
{Coqueiro: planta da família das palmáceas (Coccos romanzoffiana), que produz frutinhos amarelos,
comestíveis, muito freqüente nas matas sul brasileiras.}
131
(c.1955) onde optaram por um forro de cartão compactado234 material que na época da pintura
de Lazzarini (1963), já apresentava problemas devido a infiltrações de umidade. Conforme
Barbieri, nesse caso, a solução encontrada para a realização da pintura do teto, consistia em se
efetuar a colagem de folhas de papel sobre a área danificada, para que então fosse possível,
realizar a pintura dos motivos ornamentais geométricos, sobre essa nova base. Esse tipo de
improvisação, no entanto, era uma atividade que Lazzarini normalmente evitava. Conforme
Orlandi, ele só aceitava iniciar uma nova pintura, quando o teto e as paredes estivessem em
boas condições de regularidade, o que por vezes obrigava mesmo os padres relutantes a
contratarem às pressas os serviços de um pedreiro.
234
Espécie de lâmina de papelão denso, material antecessor, de aspecto similar às lâminas atualmente
comercializadas pela Eucatex. (sem demérito para esta última marca).
132
235
Cf., informações fornecidas por Juventino Barbieri. Entrevista realizada em Dona Francisca em 27 de
novembro de 1999.
133
a) Coletânea de publicações
b) Registros fotográficos
Dos vários registros fotográficos que Lazzarini deixou, ainda restam setenta e sete
reproduções em preto e branco, vinte das quais em grande formato (30 x 40 cm) que trazem
como principal tema, os murais de sua última fase, correspondente à região da Quarta
Colônia. Nenhuma dessas reproduções é datada e poucas trazem indicações do local em que
foram realizados. Uma dessas fotos, que traz a notação “Matriz de Jaguari”, apresenta uma
vista interna geral da obra que conforme os registros paroquiais foi executada em 1933.
Restam, porém, fotos de outras igrejas, provavelmente do mesmo período ou anteriores, entre
elas a da Igreja Matriz de Santiago (RS), e de outras duas capelas, sem qualquer informação
escrita, cuja identificação ou localização não houve possibilidade de ser efetuada no decorrer
dessa pesquisa.
admitir que o contraste não é tão acentuado, quando comparado em relação às fotos das
antigas pinturas executadas por Lazzarini na Igreja Matriz de Jaguari (1933). Embora exista
uma certa probabilidade dessa foto registrar a obra de outro pintor, Kuliska no caso, não
podemos descartar a possibilidade de que, esta foto possa ser o documento de uma antiga
pintura executada pelo próprio Lazzarini, durante uma fase anterior ao amadurecimento de
seu estilo, obra em cujo desenvolvimento podem ter ocorrido algumas intervenções de um
pintor auxiliar. Desse período, no entanto, parecem restar apenas os registros fotográficos,
sobre pinturas das quais não se conservou qualquer documento escrito, e apesar do relato
sobre Lazzarini parecer a princípio, apenas uma fábula divertida, um tanto fantástica para ser
verdade, ela certamente introduz uma dúvida crucial, sobre a autoria do antigo trabalho.
Sobre a foto da antiga pintura sob a legenda de Nova Údine, não encontramos
qualquer outro registro escrito, mas apenas conseguimos depoimentos que confirmam por
vaga lembrança a existência de uma pintura antiga na Igreja de São José de Ivorá (antigo
povoado de Nova Údine). Sem, no entanto, haver possibilidade de qualquer identificação de
autoria. Quanto à foto da antiga pintura mural, encontrada na Igreja de Silveira Martins, o
Diácono Severino Bellinaso (*1913) registra que dois pintores italianos teriam realizado os
primeiros murais, entre 1929 e 1930 236, mas que esses trabalhos teriam sido logo
danificados pela exudação das paredes.
236
{Não existem evidências, pois, o mais antigo documento atualmente conhecido da atividade de Lazzarini no
Brasil, corresponde a um registro do Livro do Tombo n. 1, folha 51, da Paróquia de Jaguari (RS), é datado de
1933, mas isto não invalida a hipótese de que Lazzarini já se encontrasse, havia algum tempo, em nosso país, e
tivesse realizado algumas pinturas no início dos anos 30. Pois, de acordo com o depoimento dos familiares,
Lazzarini retornou da Itália em companhia de outro pintor italiano, mas ambos não teriam permanecido por
muito tempo na Argentina devido à falta de oportunidades para desenvolverem trabalhos em pintura mural
naquele país. Considerando que eles tenham realmente retornado em 1926 para a Argentina e que logo tivessem
imigrado para o Brasil, em algum momento dos primeiros anos seguintes, existe a possibilidade de que eles
pudessem ter passado pela região da Quarta Colônia, ou mesmo que pudessem ter executado obras como as que
foram mencionadas no caso da Igreja Matriz de Silveira Martins, em que o resultado da fusão dos dois estilos já
não permite uma identificação, sem dificuldades, em relação as obras individuais, realizadas por Lazzarini em
período tardio.}
136
Figura 120
Lazzarini junto a uma tela da Santa Ceia. Sem datação. Foto: arquivo da família Lazzarini.
237
{Denominação regionalista dada ao espaço localizada na parte superior, próxima à entrada das igrejas desta
época (coro), constituindo um anexo arquitetônico reservado para os cantores, conforme os ritos anteriores ao
Concílio Vaticano II, quando a participação ativa dos leigos em outras partes da liturgia ainda era bastante
restrita.}
137
Figura 121
Tiepolo: Alegoria da Virtude, Fortaleza, Justiça e Verdade. Villa Loschi, Vicenza. Arquivo de Lazzarini.
c) Referenciais gráficos
238
Cf., L`Opera Completa di Giambatista Tiepolo. Milano: Rizzoli, 1971. Figura 90 F.
138
Transfiguração - Museu do Prado), Van Dyck (A traição de Judas - Museu do Prado), Guido
Reni (Ecce Hommo - Louvre), Rubens (Jesus entrando em Jerusalém - Museu de Dijon),
Poussin (Os cegos de Jericó – Museu do Louvre), Murillo (A Multiplicação dos pães – Museu
de Sevilha), Ribera (Cristo na Tumba – Museu do Louvre) entre outros. Nota-se, no entanto,
que a única pintura desse arquivo, que Lazzarini parece ter utilizado como modelo direto,
verificável, foi a Santa Ceia de Leonardo da Vinci.
As formas pelas quais Lazzarini reunia seu acervo visual eram variadas, conforme
Francisco, seu pai possuía caixas de santinhos, conservadas desde o tempo em que viera da
Itália, além de vários contatos no meio eclesiástico que se encarregavam de fornecer este tipo
de material. Um destes prováveis contatos foi o cônego Librellotto239 que se encontrava em
Santa Maria, e que enviou à Lazzarini uma foto com dedicatória e expressões de amizade, em
1941, na época em que o pintor se encontrava em Garibaldi240.
O Pe. Dorvalino Rubin, da paróquia de São João do Polêsine, comenta que na época
das pinturas de Lazzarini na região, era uma função do vigário local procurar, inclusive junto
às famílias, por determinados “santinhos” que passavam, então, a ser utilizados como modelos
para os murais da igreja. Realmente, em alguns casos, foi possível comparar as figuras
representadas nos murais com algumas reproduções gráficas emolduradas, ainda conservadas
por antigas famílias italianas, como no caso da temática do Destino do Justo e do Destino do
Mau Pecador. Cujos detalhes foram reproduzidos em Faxinal do Soturno, Ivorá e Santa
Maria, assim como o caso do quadro do Anjo da Guarda. Cujo modelo europeu precursor é o
Anjo Guardião (Catedral de Sevilha) de Guido Reni, obra realizada entre 1674 e 1676,
iconografia que, indiretamente, influenciaria os murais realizados em Faxinal do Soturno,
239
Cf., Doc Librelloto. CPG de Nova Palma: O cônego Pascoal Gomes Librelotto (*1901 + 1967), que mais tarde
tornou-se Monsenhor, era Secretário Geral do Bispado de Santa Maria, cargo que assumira a partir de 1937.
240
{Nota-se que nesta época, o costume de se enviar fotos com dedicatória, era um sinal de distinção que se
reservava aos amigos mais próximos ou pessoas das quais se tinha alta consideração.}
241
Cf., depoimento de Orlindo Zamberlan (*1918) gravado em Vale Veronês, em 21 de Agosto de 1999.
139
Quanto à origem dessas figuras religiosas encontradas nos lares italianos da região, o
Padre Luiz Sponchiado242, de Nova Palma, acredita que em grande parte, foram compradas de
antigos mascates que incursionavam na região. Esses tipos de vendedores ambulantes teriam
contribuído no processo de disseminação de várias imagens gráficas, vindas, principalmente,
de Pádua, região italiana de onde também provinham algumas das cópias que eram enviadas e
distribuídas aos colaboradores da Associação Antoniana. Armindo Trevisan acrescenta que,
entre os anos 30 e 50, também era comum que os padres distribuíssem, entre as crianças, os
populares “santinhos”, cujas cópias impressas provinham, principalmente, da gráfica
Mosquermanos de Montevidéo243.
242
Cf., Pe. Luiz Sponchiado (pesquisador do processo de imigração e formação histórica da região da Quarta
Colônia), em resposta à entrevista não estruturada, realizada em Nova Palma em 21 de outubro de 1999.
243
Cf., anotações realizadas pelo autor a partir do comentário de avaliação realizado por Armindo Trevisan,
durante o processo da banca de qualificação de projeto em 28 de setembro de 1999.
140
Ao final deste estudo sobre alguns casos que exemplificam o repertório técnico de
Lazzarini, no que se refere aos sistemas de perspectiva utilizados, pode-se concluir que ele se
limitou à utilização de uma técnica pessoal. Em que ele fez uso, principalmente, de uma
perspectiva não estruturada. Técnica que, em muitos aspectos, se assemelha aos sistemas de
perspectiva utilizados por pintores italianos do século XIV, e das duas primeiras décadas do
século XV, em obras anteriores ao advento das experiências visuais de Brunelleschi, ou dos
244
Cf., Fig. 19 do primeiro capítulo.
142
245
Margarida Maria Alacoque, nasceu em 1647. Mais tarde, ingressou na Ordem Religiosa da Visitação, onde
algum tempo depois viria a ter uma visão, na qual Jesus lhe mostra o coração rodeado de espinhos, com um
chama e a marca da ferida da lança. Surgindo daí a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, crença que naquele
mesmo século ganharia intensa divulgação através de São João Eudes.
143
Nas absides correspondentes ao transepto, ele volta a tratar com unidade todo o espaço
disponível. Ao elaborar o mural de Vicente Pallotti e a Instituição da Sociedade do
Apostolado Católico, com base na imagem tradicional divulgada pelo Diploma de Cooperador
Palotino, Lazzarini defronta-se com uma composição planejada para um espaço retangular,
que parece inadequada e insuficiente para preencher o espaço curvo. Nessa situação, ele
acrescenta dois anjos à composição, solução que parece não resolver suficientemente o
problema dos grandes espaços neutros laterais.
No mural A Morte de São José (Figura 124), da absidíola esquerda, ao contrário das
representações anteriores, em Dona Francisca e Ivorá, Lazzarini já não distribui os
personagens em uma composição compacta como faz, habitualmente, no espaço dos
medalhões localizados em tetos planos. Diante da grande ociosidade do espaço de entorno o
pintor não permanece insensível. A distância entre a cena terrestre e a celeste é aumentada.
246
Cf., Koch (1998, p. 96) esta construção semicircular em forma de concha é derivada da arquitetura romana
sacra e profana.
144
Ao compararmos a cena da
Morte de São José da Igreja de
Nossa Senhora das Dores, com as
representações anteriores que eram
mais fiéis às formas tradicionais,
percebemos que a composição
perdeu parte de sua unidade. Pois,
houve uma dispersão de suas
Figura 124
unidades formais, decorrência da Lazzarini: A Morte de São José (detalhe),1956.
Igreja de Nossa Senhora das Dores. Santa Maria, RS.
ampliação do afastamento entre as
figuras, e da modificação das
proporções dos personagens situados nos planos mais elevados. Essa variação, possivelmente,
deve-se ao fato da incompatibilidade entre a figura do modelo plano quando aplicado a um
espaço curvo, pois Lazzarini, certamente, já não poderia confiar totalmente na transposição
baseada no método de quadrícula, com seus módulos regulares, tendo que distribuir e
representar esses personagens à mão livre, perdendo com isso parte do referencial
proporcional, em relação ao conjunto. Apesar do resultado não ser tão arrojado quanto àqueles
em que o tema é representado em espaço plano, essa dificuldade proporcionada pelo suporte,
certamente levou Lazzarini a inovar na composição e a abandonar parcialmente modelos
compositivos da tradição. Resultando, nesse último trabalho do tema, em uma obra de
sensibilidade, mais simples na caracterização de personagens, mas que apresenta uma
experiência que, de ímpeto, a diferencia da continuidade mantida pelos murais antecedentes,
realizados dentro dessa temática.
celeste com leves nuances azuis, distribuídos horizontalmente, parecem transmitir uma
tranqüilidade contrastante com a agitação dos espíritos que, pesarosos, assistem a morte de
Cristo. Na Igreja de Nossa Senhora das Dores, o tema da Crucifixão ao ser representado em
teto plano, já apresenta um céu mais elaborado, atitude que se repete durante a caracterização
do espaço celeste da cena referente à Deposição, localizada na ampla abside do presbitério.
Apesar dessa composição não admitir a presença de personagens celestes, nem por isso, este
espaço é desprovido de interesse plástico.
247
Cf., ROSENFIELD, Lenora Lerrer. Glossário técnico de conservação e restauração em pintura. Porto
Alegre: UFRGS,1997, p. 98 – Arriccio: segunda camada de reboco usada como suporte em um afresco,
normalmente composta de cal e areia de grão grosso, e que serve de base de fixação para o intonaco.
248
Cf., ROSENFIELD, Lenora Lerrer. Glossário técnico de conservação e restauração em pintura. Porto Alegre:
UFRGS,1997, p. 98. Intonaco: camada superficial do afresco que recebe a cor. “É aplicada sobre o reboco grosso
previamente umidecida no mesmo dia em que a pintura é executada. Compõe-se de areia fina, pó de mármore e
cal”.
146
complemento auxiliar na dinamização de suas figuras. Além disso, esses espaços serviam de
base para interessantes experiências realizadas através do recurso moderno de ampliação,
realizado através da projeção de slides, os quais permitiam deformações convenientes a este
tipo de superfície, além de acentuar os efeitos de perspectiva249.
Lazzarini, no entanto, não parece dispor de tais recursos técnicos, mesmo vivendo em
uma época mais recente, por isso necessita lançar mão de meios mais simples para suprir a
necessidade de adaptação das figuras planas aos tetos curvos, desafio que a princípio ele
pareceu mais propenso a dissimular do que solucionar. No entanto, na última fase de seus
trabalhos em Santa Maria percebemos que houve uma crescente conscientização, e esforço no
sentido de uma qualificação técnica. E se, por vezes, o resultado não chega a impressionar aos
olhos acostumados a produções tecnicamente mais elaboradas, podemos mesmo assim,
reconhecer a importância deste caso como exemplo de situação onde as confrontações com as
exigências do meio, podem, ocasionalmente, levar um pintor com determinadas limitações a
superá-las, adquirindo experiências que podem ser continuamente reelaboradas e adaptadas a
novas situações. No caso de Lazzarini a parte que se refere aos possíveis desdobramentos e
desenvolvimentos técnicos foi interrompida pela sua morte, alguns anos depois, privando-nos
de desenvolver uma análise mais profunda, ou de termos uma visão mais abrangente de sua
obra, amparada em maior disponibilidade de exemplos.
A) Quadrícula
Apesar dos murais pintados em tetos se situarem, geralmente, a uma altura que
introduz certa dificuldade para uma observação mais detalhista dos vestígios das técnicas de
ampliação, aqueles desenvolvidos em superfícies mais próximas ao solo possibilitam, em
alguns pontos, a identificação das marcas quadriculadas executadas a lápis, visíveis através da
camada de pintura. Detalhe que nos permite, por indução, acreditar que esta tradicional
técnica de ampliação fosse utilizada com freqüência por Lazzarini.
Em Nova Palma, em uma parede lateral do presbitério, na pintura correspondente ao
Sermão da Montanha, foi possível aferirmos à dimensão dos módulos utilizados por
249
MOREIRA, Altamir. Pintura Mural: Capela Cristo Redentor – Caemborá. Monografia de graduação em
Desenho e Plástica. UFSM. Santa Maria, 1996. Exemplares disponíveis para consulta na Coordenação do Curso
de Desenho e Plástica em Santa Maria, no CPG, e Biblioteca Municipal de Nova Palma -RS.
147
Lazzarini, durante o trabalho de ampliação. Nesse mural cuja borda inferior em extensão
horizontal corresponde a 1,90 m, em uma grande área ainda são visíveis os quadriculados
executados a lápis, cujos módulos individuais medem 5,0 cm x 5,0 cm.
Em outro caso, procedendo por indução, tomamos a pequena figura da Imaculada
Conceição, que com grande probabilidade foi utilizada por Lazzarini para a execução do
mural da Igreja de Nossa Senhora das Dores (Figura 125). Nessa ocasião procedeu-se a
comparação do intervalo que inicia à altura da cabeça da santa, e termina na região um pouco
abaixo da base de seus pés, numa linha de extensão vertical correspondente a 20 cm, cujo
original já se encontrava dividido em módulos de 5,00 cm x 5,00 cm. Na observação in loco,
devido à indisponibilidade de meios técnicos para uma medição direta do mural, tomamos
como base a medida da parede na altura do solo, numa extensão correspondente ao intervalo
entre os pilares que sustentam os arcos que cruzam ortogonalmente à extensão da abóbada.
Esse espaço, que corresponde ao mesmo intervalo do teto em que se situa o mural, foi
utilizado como escala comparativa para a análise de fotos, de forma que este recurso, permitiu
avaliar, aproximadamente, a dimensão real do quadro e da imagem. No mural, a medida
correspondente ao intervalo, em que se situa a imagem de Nossa Senhora das Dores, medida
por meio desse artifício, resulta com grande aproximação a 2,00 m. O que corresponde a uma
ampliação escalar de 1/100, possivelmente, resultante da utilização de módulos de 5,00 cm x
5,00 cm. Cuja identidade de padrões numéricos, em relação ao caso da pintura de do Sermão
da Montanha de Nova Palma, pode ser indício que, este fator de ampliação, tenha se tornado
um procedimento padrão. Ou que, pelo menos, tenha se revelado uma escala confortável,
adequada à execução dos murais de tamanho médio, que constituem a proporção numérica
mais significativa da obra de Lazzarini.
Estes murais, normalmente, distribuídos em diversas posições do espaço arquitetônico,
geralmente, se caracterizam por situações onde fatores como altura do teto, espaço disponível,
e dimensão do modelo, apresentam variações pouco significativas de uma igreja para outra, de
modo que o uso recorrente desta escala em locais diferentes era uma possibilidade que não
ocasionava prejuízos ao aspecto plástico destas pinturas. Porém, certamente existiram
exceções, proporcionadas pela existência de espaços arquitetônicos mais amplos, a serem
preenchidos por uma temática unitária, nos os quais a aplicação de um fator de ampliação pré-
estabelecido, não se revelaria uma boa escolha, e a facilidade técnica de aplicação dessa
escala poderia não compensar os possíveis problemas de adequação visual daí resultantes.
No caso das igrejas maiores, os espaços que apresentam pinturas murais com
dimensões mais amplas, geralmente, resumem-se ao teto do presbitério, absides e arco
triunfal. Uma vez que o extenso espaço correspondente ao teto da nave destas igrejas,
normalmente, apresentava saliências estruturais arquitetônicas que induziam o artista a
fragmentar a pintura em várias cenas, ora compostas com ciclos de eventos interligados ou
então por seqüências de temáticas independentes.
148
Figura 125
Modelo provavelmente utilizado por Lazzarini para realizar a pintura da Imaculada Conceição na
Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria, RS. Imagem: Arquivo da Família Lazzarini.
149
Nas igrejas menores, paradoxalmente, são locias em que, com maior freqüência,
encontra-se os murais mais amplos, geralmente localizados nos tetos das naves. Pois esse
espaço era, normalmente, reservado a um grande medalhão que destacasse a imagem do
padroeiro. Esse é o caso de Ivorá. Juventino Barbieri que trabalhou como ajudante de
Lazzarini nessa igreja lembra que, durante a execução do mural A Morte de São José, o pintor
demarcou intervalos de aproximadamente 10 cm, em posições correspondentes e opostas, a
cada lado do espaço retangular reservado à reprodução da imagem. Depois com o auxílio de
linhas de algodão, que antigamente eram utilizadas para pesca, impregnadas de pó Xadrez
marrom, definiu o quadriculado. Para tal técnica, a linha era mantida retesada e quase em
contato com a superfície, tendo uma das extremidades seguradas por ele (Barbieri) e outra
pelo próprio Lazzarini. A partir desse expediente, o sistema de quadrículas ia sendo formado
pelos batimentos executados através do ato de retesamento rápido da linha, apoiada sob a
unha, seguido do gesto de projeção contra a parede. Movimento que era, então, repetido,
consecutivamente, sobre os pontos de grafite que indicavam as distâncias pré-estabelecidas.
Em Nova Palma, no espaço das paredes laterais que se projetam acima dos arcos da
nave central, foi representada uma série de pequenos medalhões octogonais, hoje bastante
danificados por se encontrarem próximos do coro, ao alcance das mãos de eventuais
150
depredadores. Essas figuras, apesar de não conterem a identificação dos santos, nelas
representados, são de especial interesse no que se refere à apresentação de exemplos dos
esquemas construtivos utilizados por Lazzarini. Tanto o medalhão do lado esquerdo (Figura
126), quanto o do lado direito (Figura 127), apresentam como base uma construção retangular
subdividida em módulos de 7,00 cm x 7,00 cm, os quais em seu conjunto envolvem o espaço
correspondente à cabeça dos personagens. Essas estruturas, à primeira vista, parecem simples
linhas auxiliares de construção, muito utilizadas para determinar a localização de detalhes
como: posição da boca, base do nariz ou a altura da linha dos olhos, no entanto, ao relacioná-
las com a imagem, logo se percebe que esse não parece ser o caso, pois as linhas do
quadriculado não coincidem com aqueles pontos, e os traços do rosto parecem se distribuir
arbitrariamente sobre a base esquemática, o que indica, que apesar de Lazzarini ter
aparentemente desenhado à mão livre os traços restantes do corpo, ele, sem dúvida,
continuava a recorrer ao método da ampliação por quadrícula (agora em módulos de tamanho
intermediário), quando necessitava trabalhar na representação de rostos.
A capacidade de Lazzarini copiar à mão livre, sem esquemas anteriores, é atestada por
alguns depoimentos. Porém, ao compararmos essas informações com as estruturas de algumas
obras analisadas, notamos que em todas estas, ele utiliza esquemas construtivos auxiliares nas
partes mais importantes de suas composições. Executando com maior liberdade apenas os
personagens secundários, isto ocorre, por exemplo, no caso de alguns anjos que preenchem
posições laterais aos eventos principais, além de algumas situações onde por comparação com
as representações anteriores da mesma composição, se torna evidente que houve adaptações
na posição de membros de personagens centrais para se conformarem às novas necessidades
determinadas pelo espaço. Um exemplo de maiores dimensões desse tipo de experiência,
executada sem recursos auxiliares de dimensionamento, é encontrado na composição da
Sagrada Família de Vale Veronês, onde se percebe que ele não utiliza quadriculados em seu
modelo (Figura 128) no espaço correspondente à representação de Deus Pai e do Espírito
Santo, apesar de utilizar o recurso técnico na região de maior área, correspondente à Sagrada
Família Terrena.
151
Figura 128
Modelo provavelmente utilizado por Lazzarini para realizar a pintura da SagradaFamília na Igreja de Nossa
Senhora do Monte Bérico, Vale Veronês. Imagem: Arquivo da Família Lazzarini.
152
A pintura desses módulos era um serviço, geralmente, deixado ao encargo dos pintores
auxiliares que Lazzarini contratava. É necessário destacar que tanto Orlandi quanto
Barbieri252 parecem concordar que a técnica dos moldes perfurados era aplicada
exclusivamente na pintura de formas decorativas, enquanto que a parte referente à execução
de murais com figuras humanas, era a função que Lazzarini reservava para si. Pois esses eram
os locais, em que preferia ocupar-se em trabalhar diretamente, ora à mão livre ou utilizando
preferencialmente o recurso à quadrícula.
250
{Juventino Barbieri (*1945), auxiliar de Lazzarini no período de 1962 a 1964.}
251
{Fiorelo Orlandi (*1934), auxiliar de Lazzarini no período de 1957 a 1958.}
252
{Ambos trabalharam como auxiliares de Lazzarini, em períodos distintos.}
153
2.5 Pintura
2.5.1 O Falso Afresco
Orlandi conta que, no período de 1958, Lazzarini chegou a utilizar para a pintura de
fundo uma tinta à base de cal comercializada em sacos de 5 Kg, sob a marca Turmalina e, que
era encontrada, facilmente, em casas comerciais da região. Conforme Rubin, nesse período
anterior ao advento das tintas plásticas e acrílicas na região, a pintura realizada pela técnica de
cal, pigmentos e cola, era muito utilizada para pinturas residenciais. A cola por vezes podia
ser substituída por outras substâncias, chamadas mordentes. Como exemplo, destaca a pintura
de motivos decorativos, realizada na capela do Colégio das Irmãs Palotinas em Vale Vêneto,
por um pintor chamado Ataliba, no início da década de 40, ocasião em que, junto à cal e os
pigmentos, era utilizado o leite para essa finalidade. Os pigmentos utilizados em pinturas
residenciais eram encontrados à venda “em ferragens e vendas de campanha”255. Porém,
quanto aos pigmentos utilizados por Lazzarini, Barbieri prefere acreditar que fossem
importados.
253
{O mesmo tipo de cola animal utilizado na preparação das tintas coloridas para a execução dos murais.}
254
{Tuna: nome vulgar, dado à cactácea Cereus hildmannianus, encontrada em várias regiões do Rio Grande do
Sul.}
255
Cf., Informações fornecidas pelo Pe. Dorvalino Rubin, em resposta a formulário em 25/06/98.
256
{Antônio dos Santos (*03/05/1942 -) morador de Faxinal do Soturno, que atualmente trabalha no ramo de
pinturas residenciais. É irmão de João Elídio dos Santos, que por sua vez, foi auxiliar de Lazzarini nas igrejas de
Faxinal do Soturno, Dona Francisca e Polêsine. Antônio, gentilmente, forneceu essas informações técnicas, em
entrevista, realizada em 15 de fevereiro de 2000.}
154
coado257, de modo a separar e excluir a parte gordurosa. Após isso o pigmento era misturado e
batido junto com o líquido restante, para depois ser acrescentado à nata de cal hidratada. A
principal desvantagem deste método em relação à pintura à base de cola, é que a quantidade
de tinta preparada necessitava ser utilizada no mesmo dia, pois no caso de uma espera mais
prolongada essa mistura se corromperia, perdendo suas qualidades. Com relação à preparação
da cal que era utilizada tanto nesta técnica à base de leite quanto na técnica à base de cola,
este pintor conta que nos anos 50, ainda não utilizavam a cal industrializada nesta região. Por
isso era comum a compra de pedras desse material, que mais tarde eram colocadas em
buracos escavados no solo. Neste recipiente provisório acrescentavam água (dando início ao
processo químico da hidratação), e deixavam até que a mistura parasse de liberar calor. Após,
recolhiam o substrato que chamavam de “nata de cal”; substância de aspecto leitoso que
servia de base de preparação para maioria das tintas da época.
De acordo com Rubin, a cola utilizada na preparação das tintas era comprada em
caixas, nas quais vinha embalada na forma de lâminas de aspecto vítreo com coloração
levemente marrom e semitransparente. Era muito utilizada por carpinteiros, assim como por
encadernadores. Essa substância quando dissolvida exalava “um forte cheiro de chifre
queimado”, pois era composta a partir de pele de animais. Característica que a assemelha ao
tipo de cola descrito por Ronchetti (1911), em um antigo manual sobre pintura mural, o qual
também menciona algo a respeito de algumas técnicas murais em que se utilizava esta cola
semitransparente e rígida, feita a partir de tecidos orgânicos dissolvidos, tais como,
aponeuroses, cartilagens pele e ossos de animais258.
Na preparação das tintas de Lazzarini, as barras de cola eram cortadas em finas lascas
e deixadas de forma que se dissolvessem em água, de um dia para o outro. Porém, quando não
dispunham de tempo suficiente, a cola era dissolvida na água, através da fervura, em banho-
maria. Mais tarde, eram acrescentados gesso e alvaiade259 para dar consistência à tinta,
características físicas que, conforme Barbieri eram aferidas “com o dedo”, o ponto ideal era
atingido quando esta mistura alcançava uma consistência similar àquela apresentada pelas
tintas plásticas comerciais da atualidade (PVA). A este líquido eram acrescentados os
pigmentos em pó, obtendo-se assim as cores básicas necessárias. As sobras dessa tinta podiam
257
{Parece que se trata de uma variante da técnica de pintura a base de caseína, com a diferença que o leite é
utilizado em seu estado líquido, e não apenas a parte sólida, isolada por processo de coagulação.}
258
Cf., RONCHETTI, Giuseppe. Pittura Murale. Milano: Hoelpli, 1911, p. 196. “[...] Nella fabbricazione della
colla si adoperano tutti i tessiti delle menbrane, delle pelli, delli aponeurosi, dei tendini, delle cartilagini e delle
ossa animali [...]”.
259
{Alvaiade: pó branco utilizado, na época, na preparação de argamassa de rejunte de azulejos, normalmente
composto de carbonato de chumbo e outros pigmentos brancos.}
155
ser reaproveitadas, no dia seguinte, mas muitas vezes necessitavam serem aquecidas
novamente para que recuperassem a fluidez adequada.
260
Cf., Cennino Cennini apud MORA, Paolo. Conservation of Wall Paintings. Techniques from Renaissance to
the present. 1984, p. 142.- “Então se você quer um panejamento branco ou um vermelho, ou amarelo, ou
qualquer que seja, pegue três pequenos pratos. Tome o primeiro deles, e coloque nele qualquer cor que você
tenha escolhido, nos diremos vermelho: tome um pouco de cinábrio e um pouco de cal branco, e deixe isto se
tornar uma cor, bem diluída com água. Faça uma das outras duas cores claras, colocando uma grande quantidade
de cal branco nela. Agora tire e do primeiro prato, e um pouco deste um pouco mais claro, e faça uma cor
intermediária; e você terá três delas. Agora tome um pouco do primeiro, isto é do mais escuro; e preferivelmente
com um pincel de pêlos longo e razoavelmente pontiagudo pinte sobre as dobras de sua figuras na área mais
escura; e não passe além da metade da espessura de sua figura. Então pegue a cor intermediária; coloque-a entre
uma faixa escura e outra, e trabalhe-as juntas, e misture suas dobras na parte acentuada dos escuros. Então
somente usando esta cor intermediária dê forma às partes escuras onde o relevo da figura se acentua, mas sempre
seguindo por fora da forma do nu. Então pegue a terceira, e mais clara das cores e tão exatamente quanto você
deu forma e colocou no curso das dobras o escuro, então você fará agora com o relevo ajustando as dobras
habilmente, com maestria e julgamento. Quando você tiver colocado em duas ou três vezes cada cor, nunca
abandonando a seqüência de cores submetendo ou invadindo o lugar de uma cor por outra, exceto onde elas vão
em conjunção, misture-as e trabalhe-as bem em conjunto. Então em outro prato tome ainda outra cor, mais clara
do que a mais clara destas três; e dê forma a parte mais elevada das dobras, e coloque iluminação. Então pegue
um pouco de branco puro em outro prato, e modele definitivamente todas áreas de relevo. Então passe sobre as
partes escuras, e em volta de alguns contornos, diretamente com cinábrio; e você terá seu panejamento
sistematicamente pronto. Mas você aprender muito melhor vendo isto feito do que lendo”. (Tradução nossa a
partir da versão inglesa de Paolo Mora).
156
mas temos um indício em São Marcos de Novo Treviso, cuja imagem reproduzida
fotograficamente, assim como a gravura modelo medem seis cabeças e meia de altura.
Apesar de Lazzarini quase não ter executado figuras com partes do corpo descobertas,
com exceção de ocasiões inevitáveis como nas cenas da Crucifixão, percebe-se que ele
enfrentava algumas dificuldades, principalmente na representação naturalista das mãos, como
no caso de Davi vencendo Golias, onde a linha dos dedos da mão em primeiro plano, parece
invadir a área correspondente ao dorso palmar. O mesmo ocorre na cena do Primeiro
Fratricídio, quando observamos a forma da mão de Abel que segura as costas de Caim,
detalhe que se evidencia mesmo se considerarmos que o restante da representação dos corpos
desses personagens tende a alcançar um nível razoável de precisão.
Capítulo III
Após se circunscrever o fato, em sua inserção regional, este foi analisado sob uma
perspectiva mais ampla, através das relações estabelecidas com parte da produção mural
artística dos grandes centros da época. Considerando-se, para tanto, as semelhanças e os
contrastes existentes entre as obras dessa região do interior do Rio Grande do Sul e algumas
das criações artísticas já reconhecidas pela história do muralismo moderno. Também é
discutida a questão das variações de estilo características desse ambiente em que se localiza a
maior parte da produção mural de Lazzarini. Uma região passível de ser descrita em função
de seu afastamento dos grandes centros da produção artística, tanto por uma razão espacial
quanto temporal, quando se considera a questão dos padrões estilísticos que ainda eram
utilizados na época. Condição que é, por vezes, interpretada como a manifestação de uma
forma de defasagem cronológica, e que será analisada e discutida no decorrer deste capítulo.
colecionadores”. Fato que decorre em parte do gosto dominante nessa época, pois, os fiéis que
se dirigem às novas igrejas estavam mais propensos a buscar dentro do tradicional
academismo de suas imagens, justamente as formas que servissem como compensação ao
modernismo (PICHARD, 1960, p. 60).
Em 1883 Karl Huysmans publica Art Moderne, obra em que procura defender o
Simbolismo e as formas que se religam a arte medieval, presentes, sobretudo, na obra de
Gustave Moureau, mestre de Matisse e Rouault. Huysmans defende que a nova arte cristã
deverá ter um sentido catequético e simbólico de modo que, perante o povo menos ilustrado,
consiga explicar o catecismo de maneira simples e direta, e aos doutos, de forma simbólica e
mais obscura requerendo o uso das chaves do saber, sem que para isto fosse reduzida apenas
ao símbolo, pois como ele costumava destacar: não era apenas por uma questão simbólica que
Bizâncio havia escolhido os fundos de ouro dos mosaicos (LAURENT, 1959, p.15).
A primeira parte, do período entre guerras, foi marcada pelo surgimento de várias
associações de artistas. Entre essas, alguns grupos dirigidos por artistas cristãos que tinham
uma formação marcada por tendências modernistas. Em 1918, surge a associação denominada
O Arco, e em 1919, Maurice Denis e Georges Desvalliéres organizam o Ateliê de Arte Sacra.
Ainda nessa época, surgem as agremiações dos Artesãos do Altar, e da Sociedade de São
João. Tendência à qual seguida por vários dos ateliês de vitrais modernos que colaboravam
com os construtores das novas igrejas (OCHSÉ, 1959, p. 58). No entanto, estes artistas que
trabalharam entre 1900 e 1920 na construção dos novos edifícios sacros, não se consideravam
precursores, por não terem a consciência de que estavam renovando uma tradição, ou por,
ainda, se sentirem temerosos para ousar transpor as formas presentes nas artes profanas para o
local de culto religioso. Pois, toda vez que irromperam tais ímpetos, procuraram dissimular
sob a evocação de formas antigas as suas inovações (PICHARD, 1960, p. 17).
surge a Igreja de Notre Dame de Raincy. Erigida através de uma inovadora estrutura em
concreto armado que, mais tarde, recebe os afrescos de Maurice Denis. Nesta época, entre as
décadas de 20 e 40, várias outras igrejas foram construídas na França, mas a presença das
novas formas em construções despojadas ainda causava desconforto entre os fiéis que: “[...]
não se adaptavam sem mal estar às construções precárias e incertas de uma arte que já não
pretendia ser eterna [...]”, ou às igrejas, que envelheciam em vinte anos, que caracterizavam o
período entre guerras (OCHSÉ, 1959, p. 64).
Esta é a época em que emerge uma renovada arte sacra que já não prescinde da
sincronia temporal que até então separava a produção artística religiosa em relação à, então,
considerada grande arte daquele tempo. Pois, este é o período em que se concretiza o grande
encontro das diversas linguagens artísticas modernas na Igreja de Nossa Senhora de Todas
as Graças, em Assy. Evento que começa com um templo, que havia sido edificado entre 1937
e 1938 e, que tivera sua decoração retardada devido ao conturbado período da Segunda
Guerra. Com a retomada das obras, vários artistas modernos foram convidados a participar do
empreendimento. Léger realiza, entre os anos de 1946 a 1949, um mosaico em cores claras
para a fachada, com o tema da Saudação da Virgem. Lurçat decora a parede de fundo do
presbitério com o tema do Apocalipse, utilizando a técnica de tapeçaria. Os vitrais recebem
formas idealizadas por Rouault, Brianchon, Berçot, Paul Bony, Germaine Bazaine, e pelo
próprio padre Couturier. Marc Chagall, além da concepção de um vitral também realiza um
mosaico com o tema de Moisés e a Passagem do mar Vermelho. Braque cria as formas do
tabernáculo, e Bonnard trabalha as paredes adjacentes às imagens de: São Domingos, e de São
Francisco de Salles, respectivamente. Com relação à pintura deste último santo, conta-se que
a principio, sua execução teria sido reservada a Picasso, mas esta só não acorreu devido a uma
intransigência surgida na negociação entre o contratante e o artista. O abade de Devigny,
designado como cura da igreja de Assy, pede a Picasso para que pinte um São Francisco de
Salles, santo que era da mesma nacionalidade do pintor. Picasso, receoso de que sua obra
fosse inadequada ao gosto do religioso, questiona: - você conhece minha arte? Ao que o abade
teria respondido: “[…] sei somente que tu és o mais ilustre pintor destes tempos”. Então
Picasso, mostrando uma de suas obras, interroga se algo naquele estilo serviria a tal
finalidade. O abade chocado com as formas, responde negativamente. Picasso, entretanto,
comenta ter pensado que ela fosse adequada. A seguir, pega outra obra e pergunta novamente
ao abade: e este, diga-me, você acha que poderia ser a virgem? Seguramente que não
162
“Esta capela é para mim a coroação de toda uma vida de trabalho e a floração de um esforço
enorme, sincero e difícil. Este não é um trabalho que eu escolhi, mas aquele pelo qual eu fui escolhido
pelo destino ao final de minha estrada”. (Matisse apud LAURENT, Marie Celine. Valeur Chrétienne de
L’Art, 1959, p. 84)
sobre o amplo espaço da fachada. Léger e Manessier realizam vitrais com configurações,
incomuns, derivadas a partir das formas de martelos e de pregos, e colaboram, desse modo,
para esse empreendimento que figura entre as primeiras tentativas de desenvolver um
ambiente onde o conjunto de temáticas religiosas prescinde dos modelos dos personagens, e
dos signos tradicionais.
Com relação à Capela de Vence, comenta-se que Picasso ao saber que Matisse estava
pintando uma igreja, ficara desconcertado de tal forma, que passou a atacar o novo
empreendimento daquele pintor com vários comentários sarcásticos. Que, no entanto, mal
conseguiam disfarçar sua profunda preocupação em relação ao trabalho daquele, que apesar
de ser amigo, nunca deixara de ser um eterno rival (CABANNE, 1982, p. 314). Mais tarde,
em 1952, Picasso ainda ressentido que Matisse tivesse conseguido realizar com tão poucos
recursos plásticos uma obra de tal sensibilidade expressiva, decide, também deixar seu legado
em uma igreja. Como motivo ele utiliza a revolta contra a intervenção americana, e os
horrores da Guerra da Coréia iniciada em 1950, a partir do que principia uma fase de intensos
estudos preparatórios, durante a qual executa cerca de 250 esboços para o mural Guerra e
Paz. Obra que foi instalada em 1954, em uma edificação restaurada a partir de uma capela
desconsagrada do século XIV que, então, passou a ser chamar de Templo da Paz262.
Nota-se que Picasso, ao realizar Guerra e paz, opta por trabalhar o suporte distante do
local definitivo, e das intervenções do clero, como normalmente aconteceria, caso se tratasse
de uma pintura executada para uma igreja consagrada. Desta maneira pode, em sua criação,
dispor de toda a liberdade habitual com que realiza seus outros quadros não destinados a
261
Cf. Pichard (1960, p. 64). Durante esta querela, houve um intenso protesto contra o crucifixo que Germaine
Richier havia criado para a Igreja de Assy. Essa obra, de linhas simplificadas e de tendência expressionista, foi
considerada escandalosa aos olhos dos fiéis e, motivou intensas reações que vieram a determinar a remoção
temporária da escultura.
262
Além da obra Guerra e Paz, realizada em seu ateliê, Picasso também desenharia diretamente na abóbada
desta construção, uma figura representando a Guerra, e uma imensa pomba representando a Paz.
164
ambientes religiosos. Talvez, por isso, ele continue a utilizar a mesma variedade de linhas,
contrastes e todo seu arsenal de recursos habituais. Mas, devido ao fato desta obra ter sido
realizado em um ambiente não religioso, e em contexto tão pouco adverso ela não serve como
parâmetro para comparar o nível de expressão moderna, ou como paradigma do que então
ocorria no âmbito geral da pintura mural religiosa.
“ ‘É absolutamente necessário deixar campo livre à arte de nosso tempo quando ela se põe à
serviço dos edifícios e dos ritos sacros, com o respeito e honra que lhes são devidos’ mas não deixa de
acrescentar sua reprovação ‘às essas imagens e estas representações introduzidas recentemente por
alguns, e que parecem uma deformação e uma depravação da arte sã, que repugnam mesmo por vezes
abertamente à dignidade, à modéstia e a piedade cristã, ferindo profundamente o sentido religioso’ ”.
(Instrução do Santo Ofício apud RÈGAMEY, R. Arte Sacra Contemporânea. 1965. Anexos, p. 367).
Também havia numerosos cânones que cerceavam o exercício criativo das artes
sacras, como, por exemplo, o cânon 1164 que ordenava: “Que os ordinários tenham o
cuidado, de avaliar a necessidade de submeter ao conselho de pessoas competentes, de forma
que dentro da construção ou restauração das igrejas, sejam respeitadas as formas recebidas
da tradição cristã, assim como as leis da arte sacra” [Destaque nosso]. Este artigo veiculava
uma orientação comum, na busca de garantir uma seleção criteriosa, e de evitar os problemas
165
“[...] todo desenvolvimento justo e progressivo das boas e veneráveis tradições que durante
tantos séculos de vida cristã, numa total diversidade de ambiente e de condições sociais e técnicas,
deram tantas provas de sua capacidade inesgotável de inspirar formas novas e belas, todas as vezes em
que foram interrogadas ou estudadas à dupla luz do gênio e da fé” (RÈGAMEY, R. Arte Sacra
Contemporânea, 1965. Anexo I - Instrução do Santo Ofício sobre Arte Sacra, p. 367)
263
Valladares (1971). Situa 1943 como o ano de início dos murais de azulejos e da pintura do afresco do altar,
correspondente a São Francisco despojando-se das vestes, e 1945 como o ano em que o pintor teria completado
a série da Via–Crúcis para esta mesma igreja. Durante essa pesquisa, com relação à pintura de São Francisco
despojando-se das vestes, encontramos uma divergência de datação, Conforme: CALLADO, Antônio In:
Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Finambras, 1997, a pintura do batistério teria sido realizada em junho de
1945, data que encontra certo acordo em FABRIS, Annateresa. Cândido Portinari. São Paulo: Edusp, 1999. Que
apresenta o ano de 1945 como a época de conclusão da pintura de São Francisco despojando-se das vestes (sem,
no entanto, mencionar a data de início dessa obra).}
167
264
A França tinha uma parte de seu território ocupada pelas tropas alemãs, desde 1940, e o restante do país era
dirigido por um governo colaboracionista que apoiava as forças de ocupação. Situação que só se reverteria a
partir de 1944, com o desembarque de Tropas Aliadas na Normandia.
168
265
Cf., VALLADARES, (1971) Portinari já teria realizado alguns retábulos para esta capela, entre os anos de
1934 e 1937.
169
Francisco266 conta que, de acordo com uma história repetida pela mãe, Itália Andrizzi,
durante o processo de escolha do pintor destinado a realizar os murais da Igreja da Igreja de
São Pelegrino, de Caxias do Sul, (c. 1951) Lazzarini teria participado da concorrência.
Porém, devido ao valor por ele estipulado em orçamento, teria perdido o trabalho para Aldo
Locatelli pela quantia aproximada de “um conto de réis”. Não sabemos se Lazzarini chegou,
realmente, a ver concluídos os murais: A Criação do Mundo e a Expulsão do Paraíso,
executados pelo concorrente nessa igreja, mas, por coincidência, estes temas também seriam
266
Francisco Lazzarini, Filho de Angelo Lazzarini e Itália Andrizzi Lazzarini que, atualmente, reside em Caxias
do Sul, RS.
170
trabalhados por Lazzarini, entre 1954 e 1956, em Nova Palma e Faxinal do Soturno, únicos
locais em que ele se dedica a temas do Antigo Testamento na região da Quarta Colônia.
Na igreja de Nova Palma, assim como mais tarde em Santa Maria, Lazzarini também
trabalha o tema da Imaculada Conceição, cujo padrão iconográfico que se assemelha à
Assunção de Nossa Senhora, que Locatelli havia representado na Catedral de Imaculada
Conceição (1954) em Santa Maria. Ao se comparar o modo de trabalho nos murais de cada
um desses pintores, se percebe que enquanto Locatelli busca um tipo de representação em que
intervém uma distribuição de formas mais particular, enquanto que Lazzarini, ao trabalhar em
espaços menores, realizar poucas mudanças nos modelos nos quais se inspira. Mesmo assim,
a partir desta comparação, pode-se deduzir que na representação de murais religiosos da
metade dos anos 50, ambos os pintores, guardadas as devidas proporções qualitativas, se
mantinham dentro de uma tradição em que se preservavam modelos herdados da tradição
clássica e do barroco, em execuções nas quais era comum a intervenção da cópia de modelos
europeus. Essa afirmação poderá parecer demasiado ousada, e em princípio tendenciosa a
diminuir o caráter criativo dos murais religiosos de Locatelli, no entanto não é nossa intenção
questionar tal qualidade na obra desse pintor. Mas, apenas demonstrar que a cópia aproximada
ou fidedigna de modelos antigos apesar de abominada pela modernidade laica, ainda era um
procedimento usual, em maior ou menor proporção, conforme a técnica particular dos
pintores, especialmente, no que se refere à pintura mural religiosa.
Figura 136
Locatelli: Coroação de Nossa Senhora, 1949.
Catedral de Pelotas, RS. Foto: Fernando Zago.
Figura 135
Tiepolo: Glória de Santa Teresa (detalhe),
1724 -1725. Igreja dos Scalzi, Veneza Foto: Naya.
Figura 138
Locatelli: Coroação da Virgem, 1954. (detalhe).
Catedral da Imaculada Conceição.
Santa Maria, RS.
Figura 137
Imaculada Conceição, c.1953. Igreja Matriz de
Itajaí. Itajaí, SC.
173
Com relação aos empréstimos formais de figuras nos murais religiosos que Locatelli
realiza na primeira metade dos anos 50, nota-se que estes se limitam, sobretudo, a esses dois
artistas venezianos do século XVIII. Porém, se acrescentarmos referências estilísticas
indiretas, é possível incluir a influência dos titânicos padrões anatômicos das figuras de
Michelangelo, que no caso da obra de Locatelli transparecem, principalmente, na avantajada
largura do tórax apresentada pela figura de Deus Pai, na cena correspondente a Criação do
Mundo da Igreja de São Pelegrino.
267
Aplicamos esta denominação a este personagem por necessidade textual, ressalvando, porém, o caráter
duvidoso e, portanto, provisório de tal identificação iconográfica.
174
estudo de modelos humanos da época. Já em Lazzarini, nos casos em que foi possível
identificar esse procedimento, a cópia é utilizada, principalmente, para os personagens
centrais, e sua contribuição pessoal fica reservada a alterações no ambiente de fundo,
acréscimo de anjos ou formas de nuvens, como é possível observar nas várias vezes em que
ele recorre ao tema da Trindade Horizontal. Nota-se, também, que esse procedimento de
cópia, às vezes passa por um processo de supressão de detalhes, como no caso da Imaculada
Conceição, onde, além da simplificação das cores, constata-se uma redução do número de
anjinhos, quando se compara com a ilustração derivada da obra de Murillo que ele utiliza por
modelo.
268
A mais antiga reprodução deste gênero de gravuras, localizado nesta pesquisa, foi encontrada em LASSERE,
Henry. Les Saints Évangeiles. Paris. 1888, (Coleção Eichemberg, Acervo da Bibioteca Central, UFRGS). Obra
que reproduz a imagem da Multiplicação dos Pães, a qual não apresenta assinatura, mas os créditos registram:
“D`aprés Schnor: Escola Alemã (1794-1872)” Essa mesma imagem foi localizada na edição recente de
BAZAGLIA, Paulo Sérgio. História Sagrada. 2 ed. São Paulo: Paulus,1993. p. 140, livro que reproduz A
Multiplicação dos Pães junto a várias outras gravuras, entre estas, algumas das quais no passado inspiraram
Lazzarini. Hipótese que levantamos a partir da identificação de semelhanças iconográficas que relacionam estas
gravuras a determinadas obras de Lazzarini (Cf., ilustrações indicadas no Capítulo I). Apesar desta edição não
registrar os devidos créditos, a análise de ampliações digitalizadas de algumas gravuras permitiu identificar os
seguintes nomes: Steinbrecher, E. Obermann, Z. Echeckel, A. Gaber Richter, Joch, F. Rensche, Manger, e
Jungtow. Várias destas gravuras também foram reproduzidas em LEHMANN, João Batista. Na Luz Perpétua. 2
ed. Juiz de Fora: Lar Cathólico Vol. I, 1935. Obra cujo exemplar, atualmente, localizado no CPG,
provavelmente, pertencia ao acervo da Paróquia de Nova Palma na época em que Lazzarini inicia seus trabalhos,
na região da Quarta Colônia.
175
269
Amábile Echer Loro (*1942), sobrinha de Itália Andrizzi, residiu com a família Lazzarini em dois períodos:
primeiro durante o ano de 1953 e, mais tarde, entre 1958 e 1964.}
176
“Dia 19 de Fevereiro, o pintor faz entrega ao Rdo (sic) pároco da pintura nova da Igreja
Matriz. A decoração sóbria, mas agradável e os muitos quadros bíblicos dos forros das três naves da
Igreja dão à matriz um aspeto a um tempo piedoso e elegante.
Está de parabéns o decorador Sr. Ângelo Lazzari (sic) e seu ajudante um aprendiz sem
vocação; pela perene recordação que deixou em Nova Palma, de sua habilidade e generosidade. Digo
generosidade porque pintaram 1.629 metros quadrados com a reprodução de 19 quadros grandes nos
forros, 27 quadros pequenos (medalhões) no alto das naves laterais e 14 símbolos pela importância
global de apenas Cr$ 95.000.00 (noventa e cinco mil cruzeiros) preço de propaganda no tempo de sete
meses (Julho 1954 – Fevereiro 1955 ).
Entre o conjunto de pinturas destaca-se o teto do presbitério no qual reproduziu um quadro
célebre da Santíssima Trindade tirado de pinacoteca famosa de Roma.
O povo sempre pronto a cooperar generoso concorreu com suas ofertas para o custeio da
reforma da matriz, destacando-se as ofertas dos quadros cujos nomes ficam gravados no sopé das
pinturas para gratidão do povo no coração de Jesus para recompensa sempiterna”. (Livro do Tombo II,
folhas 35 - 36, Casa Paroquial de Nova Palma, RS).
Neste caso, nota-se uma vívida expressão de contentamento, gerada pelo bom
entendimento em termos de preço, o que parece ter, realmente, se configurado em um bom
negócio para a igreja, principalmente se compararmos com a quantia recebida por Locatelli e
Emílio Sessa, no ano anterior, após efetuarem a pintura da Catedral de Santa Maria270.
“Depois de vários entendimentos com diversos pintores, entendimentos esses que vinham
desde o ano anterior [1953], depois de terem vindo à Santa Maria os pintores italianos Aldo Locatelli e
Emilio Sessa e o pintor austríaco Roman Reisch, em reunião do dia 10 do corrente [janeiro de 1954] a
comissão nomeada pelo Exmo Sr Bispo Diocesano resolveu aceitar a proposta de Aldo Locatelli,
figurista e Emilio Sessa, decorador, num total mais ou menos de 700.000, sendo Cr$ 450.000 para o
decorador e 250.000 para o figurista” (Cf., Livro do Tombo 6, 1951 –1957, folha 43 v. jan.,1954. Casa
Paroquial da Catedral de Nossa Senhora da Conceição, Santa Maria, RS).
É interessante notar, que no caso de Santa Maria, o “figurista” recebe menos do que o
“decorador”, avaliação em que, provavelmente, era contabilizada a área a ser coberta pela
pintura que, certamente, era maior no caso da atividade a ser desenvolvida por Emílio Sessa.
Considerando em que pese a importância dos pintores e o contexto de uma catedral, nota-se
que mesmo assim, unicamente pelo serviço de pintura das imagens, Locatelli recebe mais que
o dobro da quantia que Lazzarini receberia para efetuar ambos os serviços; o de pintura das
figuras e o de decoração na igreja de Nova Palma. Situação que, entre outros aspectos,
evidencia a realidade econômica diferenciada encontrada por pintores que desenvolviam
atividades em centros urbanos, quando comparada à situação enfrentada por um pintor que
desenvolvia seu trabalho, basicamente, em cidades de menor porte.
270
Ainda de acordo com o Livro do Tombo 6, 1951–1957, da Catedral de Nossa Senhora da Conceição de Santa
Maria: A comissão encarregada da concorrência para a pintura foi instaurada em 29 de dezembro de 1953. Em
03 de janeiro de 1954 (folha 50) registra-se o início dos trabalhos preparatórios em estuque efetuados pelo
construtor Wlademir Bartosuck. “Feito o forro de estuque, o decorador Emílio Sessa iniciará os trabalhos de
pintura e mais tarde o figurista Aldo Locatelli”. Em 27 de novembro de 1954, registra-se a retirada dos andaimes
colocados na véspera do natal de 1953 (folha 61v.). E no dia 08 de dezembro de 1954 ocorre a missa de
inauguração da nova pintura (folha 62).
177
No caso de Nova Palma, apesar do aparente baixo preço cobrado, Lazzarini, mesmo
assim, parece corresponder, aceitavelmente, às expectativas do contratante que se compraz em
destacar o empréstimo iconográfico do painel do batistério, derivado de uma obra italiana. É
provável que os demais fiéis compartilhassem de um ponto de vista semelhante, a respeito das
outras obras de Lazzarini, que representavam uma perfeita continuidade visual do “aspecto
piedoso e elegante”, também, presente no cotidiano da região através de quadros de devoção,
costumeiramente expostos nas paredes dos principais cômodos das casas dessa época.
No período seguinte à Nova Palma, Lazzarini trabalha nas igrejas de: São Roque
(1956) de Faxinal do Soturno, São José (1956) de Dona Francisca, e São João Batista de São
João do Polêsine. Porém, nesses locais, não foram localizados documentos escritos, da época,
que tivessem referência direta ou comentários a respeito dos murais por ele realizados.
Registros posteriores são encontrados, a partir de 1958, data em que Lazzarini concorre para a
execução da pintura da Igreja Matriz de Silveira Martins. No Livro do Tombo da igreja, o
Padre João Ferigollo registrou na época:
“Chamei certa concorrência para a pintura interna. Um pintor de Santa Maria pediu 250 mil; o
senhor Ângelo Lazzarini que pintou Nova Palma - Faxinal - Dona Francisca e Polêsine faz, como diz
um trabalho bom por 180 mil. Assim que em Fevereiro vai começar. Queira Deus que todos
compreendam a necessidade da reforma e que tudo saia bem”. (Livro do Tombo, 1956-1986, Folha 12.
Casa Paroquial da Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS)
Através deste excerto, pode-se perceber que, pelo menos neste caso, escolha do pintor
parece ter sido fortemente influenciada, por fatores de ordem econômica, onde a capacidade
de corresponder à exigência de um trabalho de qualidade regular, e a confiabilidade
proporcionada pelo currículo conhecido em nível regional foram determinantes, para a
escolha de Lazzarini.
271
Cf., imagens dos textos de Zilá Bern (p. 21) e Armindo Trevisan (p. 81). In: TREVISAN (1998), murais
como: Cristo Morto, A Anunciação e Imaculada Conceição, realizadas na Catedral Diocesana de Santa Maria
constam como obras realizadas em 1958 (época em que Lazzarini realizava os murais de Silveira Martins). No
entanto, como não localizamos qualquer outra fonte documental à respeito de pinturas de Locatelli realizadas
nesta igreja no período supra citado, no decorrer desta pesquisa optamos por utilizar outra datação, mesmo no
que se refere especificamente à pintura da Imaculada Conceição (Figura 124), pois apesar desta realmente ser de
difícil leitura, tendemos a acreditar que ela seja concordante com a data encontrada junto à assinatura do pintor,
localizada na base do mural da Coroação da Virgem na abside do batistério; ou seja 1954. Para tanto
consideramos o fato de que conforme o Livro do Tombo (1951-1957. folha 61v.) em 27 de novembro deste
mesmo ano, os andaimes teriam sido retirados desta Igreja.}
272
Cf., depoimento de Amábile Echer Loro em resposta à entrevista realizada na cidade de Santa Maria em 16 de
Outubro de 1999.
179
“O pintor Sr. Ângelo Lazarini (sic) já iniciou seu trabalho e parece que vai sair bem. É uma
confusão dentro da igreja sujeira, poeira sem fim. Graças a Deus que a madeira do telhado está ainda
perfeita como também parte do estuque.” (Livro do Tombo –1956/1986. Folha 13. Casa Paroquial da
Igreja de Santo Antônio – Silveira Martins)
“A festa não teve aquela arrumação de outras festas, foi improvisada. Pouca propaganda.
Pouco trabalho naturalmente é uma festa secundária já que o padroeiro é Santo Antônio. Não se fez
grandes esforços...Assim mesmo a festa ultrapassou as demais inclusive as de Santo Antônio de anos
passados: 27 mil. Disto se vê que o povo contribui quando se aplica demonstrando onde se gasta o
dinheiro. Assim dá coragem a se reformar e construir”. (Livro do Tombo, 1956 -1986, folha 13. Casa
Paroquial da Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS)
“A igreja já está mais da metade pintada e sabe que sem dinheiro nada se faz na careza de
nossos tempos. Resultado limpo da festa 145. 000, 00 mais uns 5 mil de resto de festa que perfazem
limpos 150 mil cruzeiros. Com este dinheiro tiramos o bastante para pagar o pintor Ângelo Lazarini
(sic): Agradeço aos fiéis e de modo especial aos fabriceiros e festeiros que tanto se empenharam pelo
bem e o ótimo andamento de festa que espiritual que material”. (Livro do Tombo, 1956-1986, folha 16.
Casa Paroquial da Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS)
No dia seguinte à festa, Lazzarini recebe uma parcela que corresponde a pouco menos
da metade do lucro da festa, ou seja, sessenta mil cruzeiros. Sendo que, o restante ele só
recebe no dia 20 de setembro de 1958, data provável da entrega do trabalho no qual o pintor
havia se ocupado por, aproximadamente, oito meses. Dessa época resta um último registro:
180
“Terminou a reforma da igreja por dentro, o pintor recebeu 194 contos por todo seu serviço.
Ficou regular. Não é possível numa igreja como a nossa que a 40 anos se abandonou numa única
reforma, deixar uma igreja como se quer. Mas está a contento de todos.” (Livro do Tombo, 1956 -1986,
folha 17. Casa Paroquial da Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins)
Desse comentário, podemos destacar apenas uma breve avaliação crítica que ao que
parece não é direcionada ao caso específico das pinturas, mas sim ao resultado global das
reformas avaliadas como um serviço “regular”. Não há qualquer comentário mais encomiasta
sobre a qualidade, ou preço das pinturas, como ocorreu no caso de Nova Palma. Isso parece
resultar de uma avaliação que considera que o mais importante, não era preencher igrejas com
obras de arte, mas participar, sem ficar para trás, dentro do processo de renovação pelo qual
passavam a maioria das outras igrejas da região. E para isso se buscava, na medida do
possível, reduzir gastos, resignando-se, se preciso, com o resultado “aceitável”.
273
Cf., anotações do Livro Caixa Matriz 1957 - 1971. Casa Paroquial da Igreja de Santo Antônio – Silveira
Martins (destaque do autor):
29 de Março de 1958: 40.000, 00
23 de Abril de 1958: 450, 00
14 de Junho de 1958: 60.000, 00
20 de Setembro de 1958: 79.550, 00
de quadros pintados: 14.000, 00
vias sacras – portas etc.: 2.000, 00
tintas: 507, 00
181
Após conclusão dos trabalhos na Igreja de Santo Antônio em Silveira Martins, tendo
um currículo de cinco igrejas pintadas na região da Quarta Colônia, Lazzarini seria contratado
para realizar a pintura da Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Santa Maria. É possível
que para a escolha do pintor, fosse providencial a amizade de longa data, mantida entre
Lazzarini e o cônego Librelloto274 de Santa Maria que nesta época se encontrava a serviço da
paróquia de Nossa Senhora das Dores. Em outubro de 1958, Lazzarini provavelmente, já se
encontrava trabalhando em Santa Maria, conforme podemos deduzir do relatório sobre as
condições da igreja, assinado pelo bispo Dom Luiz Victor Sartori, em visita pastoral realizada
em 28 de dezembro de 1958:
“[...] na Igreja Matriz, que está sendo decorada e pintada no interior e [...]* na construção da
fachada, terminamos as alfaias o tabernáculo e a pia batismal encontrando tudo em boa ordem.” *
Palavra ilegível no texto original. (Livro do Tombo, tomo I, folha 81, de 28/12/1958. Casa Paroquial da
Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa Maria, RS).
Mais adiante, no mesmo livro, temos um texto redigido pelo próprio cônego
Librelotto, o qual descreve, aproximadamente, a época de conclusão da obra: “Devido aos
trabalhos de pintura, a festa não se fez em setembro, mas em novembro, quando tudo
estivesse pronto. Dias 12, 13 e 14 houve tríduo preparatório [...]”275 A partir da data de
redação desse texto, pode-se perceber que o tempo decorrido entre o início e o final da
pintura, é de aproximadamente um ano, um dos mais longos, comparado ao tempo de
execução gasto em cada uma das outras igrejas da região. Essa longa permanência de
Lazzarini em Santa Maria pode ser explicada tanto em razão das grandes dimensões dessa
igreja, como também por questão da necessidade de encontrar certa estabilidade familiar. Em
21 de Junho de 1958, havia nascido Leda, o segundo filho de Lazzarini. O pintor, então,
desejando se manter mais próximo dos familiares, decide transferi-los de Caxias do Sul para
Santa Maria. O que ocorre em outubro do mesmo ano.
274
Trata-se da mesma pessoa da qual Lazzarini recebeu uma foto com dedicatória de amizade, em 1941.}
275
Livro do Tombo, tomo I, folha 82, de 15/11/1959. Casa Paroquial da Igreja de Nossa Senhora das Dores,
Santa Maria, RS.
182
Durante a fase final de execução destes murais em Santa Maria, Lazzarini foi
procurado por Orlindo Zamberlan, representante da comunidade de Vale Veronês. Este último
fornece o seguinte relato que ilustra o tipo de relação entre os contratantes e o pintor, nos
casos em que se dispensava a divulgação, e a escolha baseada em orçamentos apresentados
através de uma concorrência.
“- Aquela vez o pessoal dizia, como é que nós vamos pintar? E agora o pintor? Eu disse: mas
olha eu não sei, mas como nós já fomos ver que ele estava pintando já nas Dores, mas digo olha o
Lazzarini é um pintor! [diz ele enfatizando esta qualidade]. Olha! chamemos o Lazzarini! E daí saí de
condução, fui lá, falei com ele. Falei pra ver se ele tinha tempo. Ele me disse: Olha! Venha daqui uns
quinze dias. Daí uns quinze dias, peguei e fui lá de novo e ele disse: - Não, Então eu vou lá! Então ele
veio ver aqui e depois ele veio começar a pintura” (Orlindo Zamberlan (* 14/10/1918). Em depoimento
gravado pelo autor em 21/08/1999 na localidade de Vale Veronês).
Neste caso, também, pode-se notar que, diferentemente de outros locais onde a
escolha era determinada pelo critério do custo financeiro, nesta pequena comunidade, ao
contrário, parece ter sido decorrente por uma espécie de experiência agradável, diante da obra
do pintor. Onde um representante da parte interessada, devido à boa impressão que lhe
causara a observação in loco de uma pintura de Lazzarini, convence o grupo a contratar este
pintor.
Em 1961, Lazzarini decide voltar a Santa Maria, local onde permanece somente nos
dias de folga, pois, dessa vez, ele passa a deslocar-se para jornadas semanais até a cidade de
Novo Treviso, onde inicia a pintura da Igreja de São Marcos. Ao se observar os registros das
contribuições desta última comunidade, para o pagamento da nova pintura da igreja, percebe-
183
se que este gesto além de denotar um grande esforço motivado pela crença religiosa comum,
parece fornecer indícios de uma época de relativa prosperidade econômica do povoado. Que
se torna contrastante quando comparada à atual situação de Novo Treviso, cidade que, desde
então, passou um período de progressivo êxodo e decadência econômica, de modo que hoje
restam apenas poucas famílias, num local com muitos casarões abandonados que, contribuem
para o atual aspecto de cidade fantasma.
Apesar da cena da Santíssima Trindade desta igreja ser datada de 1961, o livro tombo
indica que a inauguração e o pagamento da pintura só se dariam no ano seguinte, em 1962,
conforme a seguinte anotação:
“Aos vinte e nove de abril foi feita a festa de São Marcos, padroeiro da paróquia. O dia foi
belo e os festejos esplêndidos. Na mesma ocasião foi inaugurada e benta a nova pintura da igreja, foram
escolhidos cinco padrinhos, sendo que ocupam o primeiro lugar a Empresa Tritícola de João e Ângelo
Soldera com oferta de cr$ 45.000,00. Em segundo lugar destaca-se a família de Luiz Soldera com oferta
de 40.000,00. Em terceiro lugar veio o Sr. Pio Ceolin e Irmãos com a importância de 21.000,00. Em
quarto lugar, José Ceolin com 15.000,00 e finalmente Antônio Busatto com a oferta de 14.000,00. O
resultado da festa foi consolador, pois entre o lucro e as ofertas dos padrinhos da pintura, obteve-se a
importância de 210.000,00 ( duzentos e dez mil cruzeiros)” (Livro do Tombo 1953/..., folha 27,
24/04/1962. Casa Paroquial da igreja de São Marcos, Novo Treviso, RS)
Através disto, é possível identificar o uso de uma estratégia muito comum para
captação de recursos; o incentivo à competição entre as famílias detentoras de maior poder
econômico na comunidade, de modo que a busca do status social, decorrente do destaque
público concedido ao nome da família, acaba, naturalmente, por incentivar a melhor oferta.
Apesar disso o dinheiro arrecadado não parece ter sido suficiente, e é possível perceber certo
nível de desentendimento entre os padres e o pintor através de outro comentário:
“Acerto do pto. da pintura da igreja com o pintor. A fim de combinar efetivamente o preço da
pintura foi chamado o Sr. Ângelo Lazzarini, o qual reduziu o custo da mesma de 410.000,00 para
trezentos e sessenta mil cruzeiros sobre o total por ele estipulado, o que pareceu demasiado já que a
pintura foi muito simples e por não ter apresentado as notas da compra das tintas, que no dizer dele,
teria gasto mais de 80.000,00, o que não seria verdade”. (Livro do Tombo 1953/..., folha 27,
24/04/1962. Casa Paroquial da igreja de Santo Antônio, Novo Treviso, RS)
Ainda quanto à questão do valor monetário, também pode ser que nesta época,
Lazzarini, já gozando de certo reconhecimento, pelas obras executadas na região, e,
certamente, sentindo-se valorizado por ter executado em período ainda recente a pintura de
uma importante igreja de Santa Maria, ao voltar para a região interiorana tivesse aumentado o
valor dos honorários. Desse modo, pelos lucros de apenas uma festa paroquial os padres já
não poderiam obter o suficiente para pagar todo o período de trabalho do pintor, caso
diferenciado do que acontecera em Silveira Martins. Apesar disso, pode-se notar que
Lazzarini não parece intransigente e reduz o preço em Cr$ 50.000,00, diante do que pode-se
acreditar que o primeiro preço fizesse parte de uma estratégia comum em negociações deste
tipo, onde o preço final é na verdade o valor pretendido em princípio. Mas ao se considerar o
depoimento de Amábile sobre a inaptidão de Lazzarini ao tratar da remuneração do serviço,
existe a possibilidade de que devido ao reconhecimento regional que alcançava, após ter
trabalhado em cidades maiores, somado à ausência de concorrentes do porte de Locatelli na
região, Lazzarini sentira-se, finalmente, com liberdade para aumentar o preço de seu trabalho.
Mas, pressionado pela resistência de seus contratantes em aceitar tal remuneração para o
trabalho de um pintor, teve que reduzir o montante exigido.
Logo após a obra de Novo Treviso, Lazzarini trabalha na Igreja de Nossa Senhora
do Caravaggio, localizada em uma pequena comunidade do interior do município de Ivorá.
Nesse local, onde permanece durante o período de um mês e meio, contrata Juventino
Barbieri como ajudante para as obras da Igreja de São José, localizada na cidade de Ivorá.
Barbieri conta que, durante o período de trabalho na Igreja de Sítio Alto, Lazzarini tivera um
derrame e perdera a visão de um olho. Coincidentemente nesse local encontramos uma obra
executada com linhas bem mais simplificadas, o que pode ser em parte explicado, também,
por causa de um necessário período de adaptação a esta limitação imposta pelas condições
físicas. Logo depois, eles viriam a trabalhar na Igreja Matriz de Ivorá. Neste último local já
encontramos uma obra de qualidade condizente com as demais, anteriormente realizadas em
igrejas de cidades de mesmo porte ou maiores que Ivorá.
O destaque dado ao pintor é repetido em um texto seguinte do mesmo livro que trata
daquilo que acreditamos ser a quantia gasta no total das reformas, entre as quais se inclui o
serviço de pintura. Mesmo assim é uma quantia significativa, e é provável que Lazzarini
realmente tenha cobrado um pouco mais do que o serviço realizado na Igreja de São Marcos
de Novo Treviso; obra de espaço físico semelhante. Mas, nesse caso, não são registradas
críticas ao trabalho do pintor, e, sim, apenas uma constatação dos gastos efetuados:
“Com as grandes reformas da Igreja e toda a nova pintura que está realizando o afamado pintor
italiano Ângelo Lazzarini, já foi entregue uma importância como pagamento de 2.303,720 dois milhões
trezentos e três mil setecentos e vinte cruzeiros, importância que necessitou fazer um empréstimo de
quinhentos e seis mil e seiscentos e nove cruzeiros importância que a igreja ficou devendo este ano.”
(Livro do Tombo, 1960 - 1973, folha 21. Assinado por Padre Benjamin Copetti. Casa Paroquial da
Igreja de São José, Ivorá, RS).
Neste caso é possível acreditar, que o padre se sentisse confortado, por que a vultosa
quantia gasta nas reformas, fosse em parte compensada, pela importância do artista que ele
havia contratado para decorar a igreja de sua comunidade.
“Em Dezembro fica pronta a pintura da Igreja executada pelo Sr. Amadeu (sic) Lazzarini,
custou Cr$ 750.594,00 assim discriminados: mão de obra do artista Cr$ 610.000,00, tintas, materiais e
serviços Cr$ 140. 594,00” (Livro do Tombo I, folha 98, outubro de 1963. Casa Paroquial da Igreja de
Santa Catarina, Bairro Itararé, Santa Maria, RS)
Neste caso, porém, não há parâmetros para julgar se o preço cobrado era realmente
elevado para a época. Pois no caso de Ivorá não se pode ter certeza de qual parcela do preço
mencionado se refere aos gastos com a pintura. Resta, no entanto, o caso anterior da Igreja de
São Marcos, na qual Lazzarini recebeu uma quantia que corresponde a quase metade do valor
recebido neste caso, mas, nesse contexto seria necessário considerar uma diferença de tempo
276
Cf., depoimento espontâneo de Teresinha Borin, moradora do Bairro Itararé, registrado pelo autor em 24 de
novembro de 1999.
186
de aproximadamente dois anos, que pode invalidar a comparação. Mas, considerando que
Lazzarini voltava a executar trabalhos em uma cidade de maior porte, é provável que ele
pudesse cobrar valores mais elevados do que aqueles das cidades menores. Mesmo que, neste
local, ele não fosse tão conhecido (como se pode notar pelo erro na grafia do nome do pintor)
ou considerado tão célebre, quanto havia se tornado nas outras cidades de menor porte, dessa
região.
277
Cf., Pe. Luiz Sponchiado (pesquisador do processo de imigração e formação histórica da região da Quarta
Colônia), em resposta à entrevista não estruturada, realizada em Nova Palma, em 21 de outubro de 1999.
187
278
Ao estudar algumas pequenas cidades interioranas da Itália do século XV, Ginzburg. (1989, p.35) destaca
uma situação que parece guardar algumas semelhanças com nosso caso. Pintores itinerantes que trabalharam no
Vercellese entre 1450 e1470, ao realizar a pintura do oratório de São Bernardo em Gattinara “retomam com
variações mínimas modelos que talvez remontem aos últimos decênios de Trezentos”. O historiador, também,
observa que na situação de autoconsumo artístico daquelas sociedades o incentivo à inovação era praticamente
nulo, de forma que os pintores vercelenses podiam “fazer uso de modelos bastante antigos sem correr o risco de
iludir as expectativas de um público que não tinha a capacidade de confronto” (p. 35).
188
Apesar de Lazzarini ter utilizado o serviço de auxiliares, não se conhece o caso de que
ele tenha exercido atividades pedagógicas, mesmo aquelas não relacionadas ao ensino oficial,
tais como aulas particulares de pintura, de tal maneira que ele não parece ter sido confrontado
com nenhuma situação em que houvesse uma necessidade real para questionamentos ou
279
Fogolaro: Fogão primitivo, comumente, localizado em uma sala construída especificamente para este fim,
constituindo desta forma um ambiente característico da antiga arquitetura da imigração italiana na região. Esse
tipo de construção normalmente se situava num espaço afastado da habitação, com a finalidade preventiva de
evitar incêndios.}
189
reciclagem de sua técnica. Apesar disso, não é verdade que ele desconhecesse as inovações
que começavam a ganhar espaço nas artes religiosas, prova disso são os arquivos que
demonstram parte da literatura especializada e das imagens a que ele teve acesso. Um
exemplo que se pode destacar é uma imagem da Pietá (Figura 139), com linhas fortemente
estilizadas, encontrada na revista Liturgical Arts, de agosto de 1957, localizada em seu
arquivo particular. Mesmo considerando uma possível defasagem de tempo até que Lazzarini
tivesse acesso a essa publicação, nota-se que ele não parece absorver essas influências em um
tema com semelhança iconográfica como A Deposição de Cristo, realizada na Igreja de
Nossa Senhora das Dores, em 1959, ou mesmo em qualquer outra imagem subseqüente. O
que leva a crer que, além da influência do gosto pessoal do artista, moldado pela formação
tradicional e consolidado pelos anos de exercício, que se prolongaram até sua maturidade
artística, também não havia, ainda, de outra parte, um ambiente propício que comportasse tais
experimentalismos.
Com relação às exigências encontradas nesse contexto regional, Lazzarini parece ter
realizado um trabalho que correspondia à expectativa de seus contratantes, com exceção das
críticas registradas, em Bento Gonçalves, onde, mesmo assim, o padre mesmo contrariado
reconhece que a obra teria “agradado em geral”280. Nas cidades menores, o público parecia
confortado em reencontrar na igreja o mesmo padrão dos quadros familiares de devoção com
os quais a maioria dos fiéis havia crescido em convivência cotidiana. Principalmente ao se
considerar que a escolha dos temas era uma tarefa que dependia da decisão do padre e das
famílias que patrocinavam essas pinturas281.
280
Cf., Livro do Tombo I, folha 71 v. e folha 72, s.d. [1945], localizado na Casa Paroquial do Santuário de Santo
Antônio, Bento Gonçalves, RS: "Em fins do ano de quarenta e quatro iniciou-se os trabalhos de pintura da
matriz pelo pintor Ângelo Lazzarini, concluindo os trabalhos em princípios de outubro deste ano. Os trabalhos
agradaram em geral, porém os críticos sempre encontram o que contradizer". Em registro efetuado pelo vigário
Adolfo Luiz Pedrizzi.
281
Severino Bellinaso, atual diácono da paróquia de Ivorá, cuja família abrigou Lazzarini durante a realização da
pintura da igreja matriz, diz que “as pinturas eram estudadas em comum” pelo padre e o pintor, mas cabia ao
padre “dar as orientações sobre o tipo de pintura que queria para a igreja”(entrevista realizada em 08/08/1998).
Dorvalino Rubin (sacerdote atuante durante a época das pinturas de Lazzarini na região) diz que era função do
padre localizar os modelos das pinturas que queria para sua igreja, e que este procurava por santinhos inclusive
“junto às famílias da comunidade” (entrevista realizada em 26 de junho de 1998). Fiorello Orlandi (auxiliar de
Lazzarini no período de 1957 a 1958) diz, definitivamente, que “Lazzarini não escolhia os santos” (entrevista
realizada em junho de 1998).}
190
282
Cf. Ginzburg (1989, p. 34), este foi o caso de Perugino, que após participar de uma concorrência em Florença
por volta de 1505, devido às críticas exercidas pelos novos pintores colegas e rivais, decide transferir-se para o
condado da Úmbria. Pois “[…] é na periferia que o pintor é obrigado a refugiar-se para poder continuar a
trabalhar e a receber encomendas para uma produção que no centro deixou de satisfazer” (p. 34).
192
Mundial. Depois disso, houve um período de experiências modernistas mais intensas, que
foram divulgadas a partir dos anos 50, sendo que, no Brasil, a aceitação das novas formas
artísticas só ocorre nos últimos anos dessa mesma década. Fase a partir do qual se pode,
finalmente, caracterizar o retardamento efetivo da produção de Lazzarini em relação a ao
muralismo religioso de outros pintores brasileiros atuantes no período. Pois, nota-se que esse
pintor mesmo tomando conhecimento das inovações que ocorriam, por diversos motivos ora
pessoais, ora ligados ao contexto, permanece, relativamente, alheio às experiências
modernistas na prática da pintura, até o final da produção muralista, em 1964.
Certamente, não se pode prever qual o encaminhamento que Lazzarini daria a sua
figuração caso sobrevivesse após o Concílio Vaticano II. Mas, suas ultimas obras realizadas,
na Igreja de Santa Catarina, em Santa Maria (1963) e na Catedral do Divino Espírito Santo,
em Cruz Alta (1964), apontam uma contínua redução de importância das figuras, que tendem
à monocromia, em contrapartida a uma reforçada valorização dos motivos simbólicos e dos
padrões decorativos geométricos que passaram a preencher a maior parte dos espaços da
igreja (Figura 140).
Para este intento, tomamos como base uma definição aproximada do que neste caso,
entendemos por estilo. Apesar desta palavra evocar sentidos diversos, em decorrência dos
diferentes campos epistemológicos em que é utilizada. Servindo por vezes no vocabulário de
alguns críticos como termo valorativo da qualidade de determinado pintor (para afirmar que
determinado artista têm ou não estilo), ou como o padrão característico de objetos artísticos,
que permite um arqueólogo estabelecer relações entre uma obra e a cultura de um
determinado período. Entre outras atribuições possíveis ao termo, foi selecionada uma das
interpretações fornecidas por Schapiro:
193
“Para o historiador da arte, o estilo é um objeto essencial de investigação. Estuda aquele, suas
correspondências internas, sua formação e mudança. O emprega também como critério para determinar
o tempo e lugar de origem das obras, e como meio de estabelecer relações entre escolas de arte”.
(SCHAPIRO, Meyer. Estilo. Buenos Aires: Ediciones 3, 1962, p. 08.)
Apesar deste historiador afirmar que não existe em relação ao estilo um sistema de
análise estabelecido, uma vez que os autores em função do ponto de vista que adotam, optam
ora por enfatizar um ou outro aspecto da arte, no geral as análises geralmente recaem sobre
três aspectos, que podem ser resumidos como: Elementos das formas, nos quais se destacam
aspectos do tema, do material e da técnica. Relações das formas, que abrangem características
dos traços formais e as diferentes combinações desses elementos, e as Qualidades, entre as
quais se inserem características da linguagem e expressão. Considerando que no capítulo
precedente, deste estudo, já foram analisados alguns itens da técnica, e diante da
impossibilidade de se executar uma análise que abrangesse todos os caracteres mais comuns
de uma análise de estilo, optou-se pela seleção de alguns aspectos deste conjunto que buscam
enfatizar características resumidas sob os termos: Tema, Forma e Expressão.
3.7.1 Tema
Como complemento à série de pequenas análises desenvolvidas no decorrer do
primeiro capítulo, neste ponto passa-se a destacar, em uma macro-análise, algumas
características dos motivos temáticos trabalhados por Lazzarini. Além do que, tenta-se
esclarecer algumas das situações decorrentes dos aspectos culturais da sociedade em que esta
obra foi desenvolvida, no intento de fornecer algumas pistas que possam ajudar na
compreensão de algumas das imagens e narrativas mais freqüentes da obra deste pintor.
“[…] esta onipresença da mãe dentro de casa espelha-se na vivência religiosa. É possível
aceitar que la mamma reproduz a figura da Virgem Maria, la madonna; o papel desempenhado por
Maria nas práticas e devoções religiosas parece estar encarnado pela “mamma” no convívio familiar.”
(SANTIN, Silvino. In: Silveira Martins: Patrimônio Histórico Cultural. Porto Alegre: Escola Superior
de Teologia e Espiritualidade Franciscana, 1990, p.16)
A partir disso, é possível de se admitir que também o contrário, pelo menos em parte,
ocorresse, e que estas pessoas tivessem com relação à figura de Maria, uma atitude religiosa
pautada numa relação de afetividade semelhante àquela que dedicavam à figura da mãe em
suas famílias.
Estes aspectos sociológicos podem lançar luzes também sobre o fato da recorrência do
tema da Sagrada Família, nas representações de Lazzarini. A família, como se sabe
representava um valor de suma importância para o imigrante italiano. Conforme Santin
existem duas versões que explicariam o apego característico a este tipo de instituição social.
Uma delas busca explicação em uma histórica busca de reconhecimento. Na Idade Média, o
território correspondente à atual Itália, era repartido entre famílias de nobres; os signori,
naquela época pertencer a uma família era essencial para alcançar o reconhecimento. “Os
escravos não eram ninguém, os camponeses na medida em que conseguiam formar família,
davam um passo para sua própria identificação e reconhecimento social”. Quanto à segunda
explicação para a exacerbada valorização da família: “[...] vincula-se aos ensinamentos
doutrinários do cristianismo católico, baseados na indissolubilidade do matrimônio ou no
culto à Sagrada Família de Nazaré” (SANTIN, 1990, p. 15-16). No caso do atual estudo,
pode-se considerar que ambas as explicações são complementares, enquanto auxílio à
compreensão da popularidade das representações da Sagrada Família, tema religioso
freqüente nos quadros com reproduções gráficas conservadas no ambiente familiar e nas
pinturas murais de igrejas da região.
195
B) Devoções recentes
Além dos temas seculares da iconografia Cristã, a obra de Lazzarini parece conter
parte representativa das devoções recentes do século XX, as quais ele procura conciliar ou
igualar em importância aos temas tradicionais. Isso ocorre no caso das figurações de Vicente
Palloti que fora beatificado, em 1950, e de Santa Teresinha de Lisieux283, canonizada em
1923. Cuja representação, em pose tradicional, com atributos das rosas e do crucifixo é
encontrada em um medalhão, da Igreja da Santíssima Trindade, em Nova Palma, e em um
mural lateral da Igreja de Santo Isidoro de Sítio dos Mellos, (c. 1938).
Um fato que, provavelmente, contribuiu para esta última devoção foram as revelações
revestidas pela aura do segredo. Conforme Tavard, no caso das aparições: “A comunicação de
segredos a serem divulgados mais tarde parece ser um acréscimo do século XX. Começou em
Fátima e foi utilizada em grande escala nas visões das décadas de 80 e 90”284. Algumas destas
mensagens, de teor anticomunista, certamente vinham de encontro aos interesses da igreja
neste período logo, após os anos 50. No qual a crescente divulgação das teorias socialistas que
favoreciam o ateísmo representavam um inimigo potencial cujas forças não podiam ser
subestimadas. Isso é comprovado através dos vários textos de orientações dirigidas aos
católicos, publicados na revista Rainha dos Apóstolos, de Santa Maria. Nesse período anterior
a 1959, a linha de frente da igreja parece bastante empenhada em combater o Espiritismo, o
283
Uma antiga representação de Santa Teresinha, com padrão estilístico semelhante ao do mural de Sítio dos
Mellos é encontrada, também, na Igreja de Nossa Senhora do Monte Bérico (Chapadão – Jaguari, RS).
284
George H. Tavard, autor de As Múltiplas faces da Virgem Maria (1999), é membro da Congregação dos
Agostinianos de Assunção, professor emérito de Teologia na Methodist Theological School de Ohio, e atuou
como perito no Concílio Vaticano II, dedicando-se à preparação do decreto sobre o ecumenismo. Nesse ensaio
ele analisa numa visão crítica e ecumênica as imagens de Maria nos dogmas católicos, na crítica protestante, na
piedade popular, e no Islamismo.
196
3.7.2 Forma
A forma, neste caso, não entendida ou reduzida à simples configuração espacial
independente do sentido, mas sim como modelo ou padrão figurativo, é analisada na obra de
Lazzarini, em função do tipo de fonte a partir das quais estas formas foram de modo mais
freqüente derivadas. Destacando com isso, as características e o nível de interpretação de do
pintor, no que se refere à oscilação entre o que seria a caracterização de cópia e a de recriação.
A) Fusão
B) Simplificação
Esta é uma característica constante na obra de Lazzarini, a qual pode ser dissociada
daquilo é, apressadamente, identificado como simples falha qualitativa na interpretação de
estruturas complexas. Neste caso, acredita-se que indiferente ao estatuto qualitativo do nível
técnico, a simplificação pode ser também um detalhe importante de caracterização do que
seria o estilo de Lazzarini. Nota-se que muitas vezes essa ocorre por uma necessidade de
adaptação entre a linguagem do modelo original e a técnica da pintura mural. Este é o caso
das gravuras hachuradas, a partir das quais Lazzarini realiza um procedimento de limpeza de
detalhes o que seria, até certo ponto, uma necessidade decorrente da interpretação pictórica de
uma ilustração que na origem tinha um valor expressivo que dependia, exclusivamente, da
linha.
É verdade que no caso das absides, o preenchimento parcial, por vezes, indica a
ocorrência, provável, de dificuldades no tratamento do espaço curvo. Mas, não se pode
ignorar que a supressão de detalhes é também decorrente de uma valorização exacerbada da
figuração humana que leva o pintor em algumas composições a simplificar, extremamente, as
formas de fundo, deixando grandes áreas neutras. Apesar de algumas vezes Lazzarini
demonstrar ser capaz de descrever paisagens com relativa riqueza de detalhes, na maior parte
das situações, a atenção dedicada aos personagens não é compartilhada com as formas de
fundo. O que resulta, freqüentemente, em um trabalho formalmente sóbrio em detalhes, o qual
se ressalta pelo contraste em relação à saturação de formas orgânicas e geométricas, que,
normalmente, estruturam os frisos decorativos que unificam o conjunto da obra mural
figurativa.
C) Fragmentação de conjuntos
Por um longo período, após 1964, a pintura de Lazzarini parece ter passado incógnita,
perante o olhar de críticos ou historiadores, e só na metade dos anos 80 se encontra um
comentário do Pe. Dorvalino Rubin, em um livro sobre a história da Paróquia de Faxinal do
198
Soturno. Nesse texto, se destaca uma breve crítica referente ao conjunto dos murais efetuados
por Lazzarini, na Igreja de São Roque:
“Este [pintor] com técnica despretensiosa, além de elementos decorativos, reproduziu nas
paredes e nas abóbadas, em proporção maior, estampas e quadros. A disposição, a técnica, o número de
quadros demasiado, a falta de unidade comprometem muito a harmonia do todo. Por sua amplitude, é
de grande efeito a cena da crucificação de Jesus, que ocupa toda a extensão da abóbada da abside”.
(RUBIN, Dorvalino Pe. Faxinal do Soturno e os 50 anos de sua igreja. Santa Maria: Pallotti, 1987, p.
14)
Neste caso, nota-se um juízo pessoal que identifica uma situação problemática na obra
de Lazzarini cuja causa ele atribui à saturação de quadros temáticos e a falta de uma
cronologia que evidenciasse a existência de planejamento coerente para o conjunto de cenas
representadas. Esse ponto de vista, característico de um posicionamento mais contemporâneo
em relação à obra de Lazzarini, coloca em discussão dois elementos qualitativos da produção
visual desse pintor, a partir dos quais daremos um breve prosseguimento crítico.
A) cor
Para José Guilherme Merchior o Kitsch é uma expressão que se identifica com a arte
de massa, que se dissemina, a partir da revolução industrial, e que divulga o gosto típico da
burguesia ascendente, do século XIX. Essa nova classe não tendo a cultura da antiga
aristocracia, passa a simular a nobreza, ao privilegiar um tipo de expressão que apenas imita
os efeitos da arte, através de um estilo agradável e comercial. Na visão do autor brasileiro,
essa forma de expressão, é um tipo de anti-arte presente, inclusive, em certas produções
modernas de vanguarda. Sendo, portanto, nociva para as expressões da alta cultura, e também
para a arte popular. O Kitsch, de certa forma, automatizaria a experiência artística
transformando-a numa espécie de honesta distração, que atuaria, como um instrumento
alienante a serviço de uma cultura repressiva interessada, em reduzir o indivíduo ao nível de
simples participante de jogos sociais (Passim MERQUIOR, 1974).
Numa visão, bem menos pessimista, Moles não chega a formalizar um conceito sobre
Kitsch, tratando-o como um “[...] fenômeno de captação difícil, cuja teoria não está feita”
(MOLES, 1986, p.45), mesmo assim através de sua análise, realizada a partir de vários
objetos concretos, ele vem a reconhecer, no kitsch, o caráter de fenômeno social universal,
constantemente presente em vários setores da produção artística. Porém, sem reduzir a
presença desta expressão à materialidade dos objetos em que ela se manifesta, procurando
destacar a contraparte fenomenológica que se encontra no espírito espectador, ou seja; “a
201
maneira Kitsch de olhar os objetos”. Atitude que, por sua vez, parece decorrente de uma
aspiração humana natural, a busca de felicidade. Moles, retoma uma expressão de Broch
segundo o qual “há uma gota de Kitsch em toda a arte” (MOLES, 1986, p.10). Em vez de
culpar o Kitsch pela decadência da arte, destaca a função pedagógica desse tipo de expressão,
quando atua como fundo contra o qual o bom gosto se desenvolve. O Kitsch em si, não seria
instrumento de alienação, “[...] embora a alienação na sociedade de consumo, muitas vezes,
recorra ao Kitsch” (MOLES, 1986, p. 40). Embora seja constantemente associado ao triunfo
da classe média, esse tipo de expressão seria universal e permanente, identificando-se com o
modo estético cotidiano das pessoas comuns (MOLES,1986, p. 223).
consumo, onde crianças desde a infância são acostumadas às estampas Kitsch, distribuídas
pelos beatos e professores em situações como as aulas de religião.
Pawek conclui que mesmo a alta hierarquia eclesiástica seria responsável, por esta
situação, ao participar do fenômeno Kitsch em várias instâncias tais como, através de
ornamentos sagrados com estilos extraídos de outras épocas culturais. Apesar da crítica
contundente ao Kitsch cultivado por certos religiosos, Pawek destaca, como exceção o papel
desempenhado pelos preclaros padres Règamey e Couturier, no intento de recuperar a
dignidade da arte sacra (Passim PAWEK. In: DORFLES, 1973, p. 141 -150).
Neste estudo, pretende-se abordar o termo sob uma perspectiva conciliatória, entre os
conceitos ora expostos por estes autores. Desse modo, reconhece-se a universalidade do
fenômeno, em sua extensão concreta e subjetiva, sem, porém, superestimar sua dimensão de
juízo valorativo da qualidade de uma obra de arte, mas tomando como um fenômeno com
certas características identificáveis. Que, em maior ou menor grau, atinge quase a totalidade
da produção cultural estética, realizada com declarada finalidade artística ou com finalidades
não evidentes. Fenômeno que como tal, merece ser diagnosticado na medida em que se
salienta em uma obra, buscando compreender sua gênese, para fins de esclarecer as situações
específicas e significativas que podem ter contribuído para o resultado singular de cada obra
em estudo. Esta será a forma com que tentaremos utilizar o conceito de Kitsch, na análise de
algumas situações da obra mural de Lazzarini.
mantenha a configuração dos personagens principais, nos casos em que foi possível comparar
o modelo e o resultado na pintura, percebeu-se que Lazzarini dificilmente permanecia em
nível da cópia pura e simples, pois, durante a pintura, sempre intervieram processos de
diferenciação. Isso é evidente no caso da escolha da cor de preenchimento das vestes dos
personagens, e do tratamento dos detalhes de fundo. Em outras situações podemos notar que
essa intervenção se estende aos personagens secundários. Isso ocorre, por exemplo, na cena
da Morte de São José (Ivorá), onde se percebe que há uma mudança de posição das figuras,
num esforço consciente de adaptação ao espaço compositivo. A supressão ou eventual
acréscimo de um personagem, portanto, parecem ser alguns dos expedientes a que ele
recorria, principalmente, no caso daquelas representações que envolviam formas de anjos
como figurantes complementares.
É preciso reconhecer, entretanto, que os modelos utilizados por Lazzarini, são típicos
exemplos do processo de divulgação da cultura de massa, pois se tratam de cópias gráficas
com reduzidas dimensões reproduzidas em série. Essas mesmo apresentando obras de artistas
reconhecidos, nunca resultam imunes à intervenção mecânica que diminui o impacto
expressivo e altera sutilezas de expressão, de modo a contribuir para a divulgação de uma
idéia, até certo ponto, falsa em relação à obra original. Esses modelos gráficos já configuram
em si, uma intensa expressão do caráter kitsch que por sua vez foi transmitido à obra de
Lazzarini, em maior ou menor intensidade, na medida proporcional em que o pintor se
manteve atrelado a eles.
Outro aspecto, caracterizante do kitsch, relaciona-se ao uso da cor que neste tipo
expressão, por vezes, tende ao contraste de cores complementares puras, nos quais se tenta
abranger quase a totalidade das cores do arco-íris (MOLES, 1986, p. 55). Mas que em outros
casos, também, evidencia-se por características situadas no outro extremo, tais como o uso
demasiado de matizes suaves ou “adocicados”. No caso de Lazzarini, o uso de altos contrastes
é muito raro, mas pode ser encontrado na pintura da Santíssima Trindade de São João do
Polêsine (1957). Quanto à presença de cores suaves, podemos constatar que é uma
característica bem mais abrangente na obra de Lazzarini, pois sua técnica inclui o constante de
cores com tonalidade suavizadas pelo branco. Apesar disso, é necessário reconhecer que essa
característica não chega a atinge o nível do excesso. Pois, a técnica de harmonização
cromática derivada do exercício de pintura de frisos decorativos, parece ter contribuído no
caso dos murais figurativos, no sentido de limitar o número de cores em cada cena. De modo
que esses murais, geralmente, conseguem atingir uma harmonia razoável, em composições
nas quais por via de regra dominam as tonalidades frias, derivadas de matizes verdes ou azuis.
Outro aspecto que pode ser inquirido é o anacronismo, ou seja, o uso de elementos
formais deslocados de sua época de origem. Quanto a esta característica, conforme
204
anteriormente discutido, acreditamos ser válido apenas em certa medida, ou seja, quando
compararmos com os padrões de arte que se impunham em outras áreas. Ao se considerar o
campo específico da pintura mural religiosa, esta caracterização talvez só pudesse ser aplicada
com justiça, a uma parte restrita que corresponde aos últimos trabalhos deste pintor. Antes
disso, apesar de tais padrões parecerem ultrapassados em outras áreas da produção artística,
não seria adequado atribuir tal conceito a uma arte que seguia padrões que ainda podiam ser
considerados manifestações de uma arte viva. Ainda praticados por grande parte dos
muralistas, pelo menos no que se restringe ao espaço religioso. E por mais questionável que
sejam tais modelos, eles fazem parte disso que poderíamos chamar de “dilatação do tempo
histórico de um estilo”, no qual ocorria em um período de transição, em que as experiências
modernas ainda se encontravam numa fase inicial de experimentações, devido às inúmeras
adversidades encontradas nesse meio.
Conclusão
Ao final de tudo, resta-nos expressar a esperança de que este trabalho contribua para o
conhecimento de como estas manifestações culturais, aparentemente simples e por isto,
talvez, esquecidas, são elementos de ligação com uma estrutura ontológica mais ampla. Que
nos permitem explorar, além da dimensão artística, também os outros campos do
conhecimento onde se fundamentam aqueles aspectos históricos que nos conferem uma
identidade regional. E, por esse meio, uma vez nos conhecendo melhor, talvez seja possível
direcionar nossos atos da contemplação passiva para a dimensão prática de valorização da
nossa cultura: colaborando na preservação, e evitando que o patrimônio histórico, tanto desta
região quanto de muitos outros municípios interiorano, seja irremediavelmente, perdido ou
negado a gerações posteriores.
208
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CONVENÇÕES:
F. A. : Foto realizada pelo autor (arquivo visual para sistematização de obras desenvolvido durante a pesquisa).
CAPA INTERNA
A Glória da Santíssima Trindade - 1955
(teto do presbitério da Igreja da Santíssima Trindade de Nova Palma)
Foto: Arquivo da Família Lazzarini.
CAPÍTULO I
Fig. 01 - Lazzarini: A Criação do Mundo, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 02 - Rafael: A Criação do Mundo, 1516 - 1518 (Lojas do Vaticano), Foto: Braun. In: GAMBA, Carlo. Raphael. Paris:
G. Gres, 1932, p. 96.
Fig. 03 - Tintoretto: Criação dos Animais. (Galeria da Academia de Veneza) In: HAUSER, Arnold. Il Manierismo. La
Crisi del Rinascimento e L`origine dell`arte moderno. 1965. 2 ed. Torino: Einaudi. Página não numerada,
figura 146.
Fig. 04 - Lazzarini: A Criação do Mundo, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 05 - Lazzarini: A Expulsão do Paraíso, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 06 - Fig. 06 – Lazzarini: Expulsão de Adão e Eva, 1956 (Igreja de São Roque Faxinal do Soturno, RS). Foto: Roque
Della Méa / Foto Carmen.
Fig. 07 - Lazzarini: Paraíso Terrestre, 1956, (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F.A.
Fig. 08 - Lazzarini: A Morte de Abel, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 09 - Caim mata Abel. Iluminura do século XII. Saltério de Huntingfield, fol. 8. Nova York, Pierpoint Morgan Library:
Ms. 43. In: SCHAPIRO, Meyer. Estudios sobre el arte de la Antigüedad Tardía el Cristianismo primitivo Y
la Edad Media. Madrid: Alianza, 1987. p. 226
Fig. 10 - A Morte de Abel. Atribuição provável: Escola Alemã (1794 - 1872) reproduzida In: BAZAGLIA, Paulo Sérgio.
História Sagrada. 2 ed. São Paulo: Paulus,1993, p. 15.
Fig. 11 - Lazzarini: Moisés e o Decálogo, 1955, (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 12 - Lazzarini: Moisés e as primeiras Tábuas da Lei, 1956, (Igreja de São Roque Faxinal do Soturno, RS) Foto:
Roque Della Méa/ Foto Carmen.
Fig. 13 - Gustave Doré: Moisés e a Lei, 1866, Gravura reproduzida in: A BIBLIA por Gustave Doré. Rio de Janeiro:
Tecnoprint, 1988, p. 42.
Fig. 14 - Lazzarini: Apresentação da Virgem no Templo, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
213
Fig. 15 - Tintoretto: Apresentação de Maria no Templo. (Veneza – Santa Maria dell`Orto) In: HAUSER,
Arnold. Il Manierismo: La Crisi Del Rinascimento e L`origine dell`arte moderno. 1965. 2 ed. Torino:
Einaudi. Página não numerada, figura 147.
Fig. 16 - Ticiano: Apresentação da Virgem, 1534 - 1538 (Academia de Veneza). afresco, 345x295 cm. aprox. 1534 - 1538.
- In: TIETZE, Hans. Titien: Peintres et dessins. Londres: Phaidon, p. 108.
Fig. 17 - Lazzarini: A Anunciação , 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 18 - F. Rensche: Anunciação de Nossa Senhora. (origem provável: Escola Alemã, 1794 -1872) gravura reproduzida
In: LEHMANN, João Batista. Na Luz Perpétua. 2 ed. Juiz de Fora: Lar Cathólico. 1935. Vol. I. p. 233.
Fig. 19 - Lazzarini: A Anunciação, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno RS), F. A.
Fig. 20 - Reni: A Anunciação, 1609 - 1611 (Igreja da Anunciação, Palácio Quirinal, Roma). In: MÂLE, Émile. L`Art
Religieux de la Fin du XVIe. Siècle, du XVII Siècle et du XVIII Siècle. Paris: Armand Colin, 1951. Fig. 130,
p. 241 Foto: Alinari.
Fig. 21 - Lazzarini: A Anunciação, 1959 (Igreja Nossa Senhora das Dores, Santa Maria, RS), F. A.
Fig. 22 - Giovanni Cima da Conegliano: Anunciação, 1492 (Museu Hermitage São Petersburgo, Rússia). In: GRUBB,
Nancy. Anjos na Arte. São Paulo: Ática, 1997. Tomo I, p. 64.
Fig. 23 - Lazzarini: A Visitação, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 24 - Lazzarini: Maria visita Isabel, 1956 (Igreja de São Roque Faxinal do Soturno, RS) F.A.
Fig. 25 - Lazzarini: Imaculada Conceição, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma – RS), F. A.
Fig. 26 - Imaculada Conceição. Pintura sobre papel (autoria e datação duvidosa). Hospital Nossa Senhora da Piedade, Nova
Palma, RS, F. A.
Fig. 27 - Lazzarini: Imaculada Conceição, 1959 (Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa Maria – RS), F. A.
Fig. 28 - Lazzarini: Nossa Senhora Mãe Rainha, Três Vezes Admirável, 1956 (Igreja de São José, Dona Francisca, RS), F.
A.
Fig. 29 - Lazzarini: Nossa Senhora Mãe Rainha , Três Vezes Admirável, 1959 (Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa
Maria, RS), F. A.
Fig. 30 - Lazzarini: Natividade, 1955, (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 31 - Lazzarini: O Nascimento de Cristo, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno – RS), F. A.
Fig. 32 - Lazzarini: O Nascimento de Cristo, 1956 (Igreja de São José, Dona Francisca, RS), F. A.
Fig. 33 - Lazzarini: O Nascimento de Cristo. (Igreja Nossa Senhora das Dores, Santa Maria, RS), F. A.
Fig. 34 - Lazzarini: A Sagrada Família, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 35 - Lazzarini: A Sagrada Família, 1956 (Igreja de São Roque Faxinal do Soturno, RS) F.A.
Fig. 36 - Lazzarini: A Sagrada Família – c.1960 (Capela de Nossa Senhora do Monte Bérico, Val Veronês, Silveira
Martins, RS), F. A.
Fig. 37 - Murillo: A Sagrada Família.- Galeria Heinemann – Munique in: MÂLE, Émile. L`Art Religieux de la Fin du
XVIe. Siècle, du XVII Siècle et du XVIII Siècle. Paris: Armand Colin, 1951, p. 312.
Fig. 38 - Lazzarini: A Sagrada Família, 1961 (Igreja de São Marcos, Novo Treviso Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 39 - Lazzarini: A Sagrada Família, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 40 - Lazzarini: Reencontro no Templo, 1963 (Igreja São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 41 - Lazzarini: A Glória da Santíssima Trindade – 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
214
Fig. 42 - Pietro de Cortona: A Glorificação do papado de Urbano VIII, 1633 – 1639 (detalhe). Palácio Barberini. In:
JUNQUEIRA, Juan José (org). Historia Universal del Arte: El Barroco. Madrid: Espasa Calpe,1996,
ilustração, p. 39.
Fig. 43 - Rubens: A Santíssima Trindade, 1616, (Antiga Pinacoteca de Munique), Foto: Franz Hanfstaengl. In: Rubens:
L`Oeuvre du Maitre. Paris: Hachette, 1912.
Fig. 44 - José Benedito da Cruz: A Santíssima Trindade –1926, Óleo sobre cartão, (Guararema – SP). In: ETZEL:
Eduardo. J. B. C. Um Singular Artista Sacro Popular; A obra transcende o homem. São Paulo: CESP, 1978.
Anexos: ilustração - 15.
Fig. 45 - Interior da Igreja da Santíssima Trindade de Nova Palma, ainda com o antigo mural da Trindade que foi destruído
em 1955 para dar lugar à nova pintura de Angelo Lazzarini. Foto: Arquivo da Família Lazzarini.
Fig. 46 - Reconstituição aproximada da antiga composição da Trindade, outrora existente no presbitério da Igreja da
Santíssima Trindade de Nova Palma. D.A.
Fig. 47 - Lazzarini: Santíssima Trindade, 1957 (Igreja de São João Batista, São João do Polêsine, RS), F. A.
Fig. 48 - Lazzarini: Santíssima Trindade, 1960 (detalhe restante do mural danificado). Igreja de Nossa Senhora do Monte
Bérico, Vale Veronês, Silveira Martins, RS, F. A.
Fig. 49 - Lazzarini: Santíssima Trindade, 1961 (Igreja de São Marcos, Novo Treviso, RS), F. A.
Fig. 50 - Lazzarini: Santíssima Trindade, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 51 - O Batismo de Cristo, Impressão gráfica (Capela de São José, Linha Cinco, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 52 - Kuliska: O Batismo de Cristo, Cópia – óleo sobre madeira (Igreja de São Marcos Novo Treviso. Faxinal do
Soturno, RS), F. A.
Fig. 53 - José Benedito da Cruz: O Batismo de Cristo –1919 (Igreja de São Sebastião Taiaçupeba, SP). In: ETZEL:
Eduardo. J. B. C. Um Singular Artista Sacro Popular; A obra transcende o homem. São Paulo: CESP,1978.
Anexos: ilustração - 75
Fig. 54 - Lazzarini: O Batismo de Cristo, 1962 (Igreja de São Marcos, Novo Treviso, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 55 - Lazzarini: O Batismo de Cristo, 1963 (Igreja de São José, Ivorá – RS), F. A.
Fig. 56 - Lazzarini: Agonia no Horto (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 57 - Lazzarini: Agonia no Horto,1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 58 - Ticiano: Cristo no Monte das Oliveiras, 165x172 cm. - c.1565 (Escorial, Monastério de São Laurêncio). In:
TIETZE, Hans. Titien: Peintres et dessins. Londres: Phaidon, p. 262.
Fig. 59 - Lazzarini: Crucifixão de Cristo, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma), F. A.
Fig. 60 - Lazzarini: Crucifixão – 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 61 - Lazzarini: Crucifixão, 1956 (Igreja de São José, Dona Francisca, RS), F. A.
Fig. 62 - Lazzarini: Crucifixão, 1958 (Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS), F. A.
Fig. 63 - Rubens: A Crucifixão com a Virgem, São João e Maria Madalena, 1615 (Museu do Louvre Paris) Foto: Alinari.
In: MÂLE, Émile. L`Art Religieux de la fin du XVIe. Siècle, du XVII Siècle et du XVIII Siècle. Paris:
Armand Colin, 1951, p. 277.
Fig. 64 - Lazzarini: Crucifixão, 1959 (Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa
Maria, RS), F. A.
Fig. 65 - Lazzarini: Crucifixão – 1962 (Igreja de Nossa Senhora do Caravaggio, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 66 - Lazzarini: Ressurreição de Cristo, 1955 (Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma, RS), F. A.
Fig. 67 - Lazzarini: Ressurreição de Cristo – 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F.A.
215
Fig. 68 - Iungtow: Ressurreição de Jesus. (origem provável: Escola Alemã, 1794 -1872). Reproduzida in: BAZAGLIA,
Paulo Sérgio. História Sagrada. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1993, p. 170.
Fig. 69 - Lazzarini: Santo Antônio – 1958 (Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS), F.A.
Fig. 70 - Murillo: Santo Antônio de Pádua contemplando a aparição do Menino Jesus, 1656 (Catedral de Sevilha). Foto:
Anderson In: MÂLE, Émile. L`Art Religieux de la fin du XVIe. Siécle, du XVII Siécle et du XVIII Siécle.
Paris: Armand Colin, 1951, p. 180
Fig. 71 - Lazzarini: Santo Isidoro – c. 1938 (Igreja de Santo Isidoro, Sitio dos Mellos, Faxinal do Soturno – RS), F. A.
Fig. 72 - Lazzarini: Santo Isidoro – 1958 (Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins, RS), F. A.
Fig. 73 - Trevisani: A Morte de São José – 1625 (Igreja de Santo Inácio, Roma) Foto: Anderson. MÂLE, Émile. L`Art
Religieux de la fin du XVIe. Siècle, du XVII Siècle et du XVIII Siècle. Paris: Armand Colin, 1951, p. 323.
Fig. 74 - Lazzarini: A Morte de São José – 1956 (Igreja de São José, Dona Francisca, RS), F. A.
Fig. 75 - Lazzarini: A Morte de São José, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 76 - Lazzarini: São Roque Penitente, 1955 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 77 - Sarraceni: São Roque cuidado por um anjo, primeira metade do século XVII (Galeria Dora Pamphili – Roma). In:
CHASTEL, André. A Arte Italiana. São Paulo: Martins Fontes, 1991, ilustração - p. 559.
Fig. 78 - São Roque. Origem provável: Escola Alemã (1794 – 1872). Gravura reproduzida in: LEHMANN, João Batista.
Na Luz Perpétua. 2 ed. Juiz de Fora: Lar Cathólico. 1935. Vol. I, p.144.
Fig. 79 - Lazzarini: São Vicente Pallotti, 1956 (Igreja de São José, Dona Francisca, RS), F. A.
Fig. 80 - Lazzarini: São Vicente Pallotti, 1959 (Igreja de Nossa senhora das Dores, Santa
Maria, RS), F. A.
Fig. 81 - Lazzarini: A Vinda do Espírito Santo, 1957 (Igreja de São João, São João do Polêsine, RS), F. A.
Fig. 82 - Lazzarini: São Marcos - 1961 (Igreja de São Marcos, Novo Treviso – Faxinal do Soturno - RS), F. A.
Fig. 83 - São Marcos, Evangelista. Origem provável: Escola Alemã (1794–1872). Gravura reproduzida in: LEHMANN,
João Batista. Na Luz Perpétua. 2 ed. Juiz de Fora: Lar Cathólico. 1935. Vol. I. p. 325.
Fig. 84 - Lazzarini: São Mateus, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 85 - Lazzarini: Profeta Isaías (?) (identificação iconográfica duvidosa), 1959, (Igreja Nossa Senhora das Dores, Santa
Maria, RS), F.A.
Fig. 86 - Michelangelo: Profeta Isaías. (Detalhe, Capela Sistina). In: CARRENHO, Elza Aparecida de Andrade. O Juízo
Final no Espaço Sagrado da Capela Scrovegni e Capela Sistina. Bauru: Edusc, 1998. Figura 17
Fig. 87 - Lazzarini: São Lucas, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 88 - Lazzarini: São João – 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
Fig. 89 - Lazzarini: Entrega das Chaves a São Pedro, 1955, (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 90 - Perugino: Jesus entregando as chaves a São Pedro (detalhe), Capela Sistina, Foto: Alinari. In: MORTIER, P. D.
Saint Pierre de Rome; Histoire de la Basilique Vaticane. Tours: Alfred Mame et Fils, 1900. Ilustração - p. 27.
Fig. 91 - Kuliska: São Pedro recebendo as chaves de Cristo – 1928 (Capela de São Pedro, Linha Onze, Nova Palma, RS),
F. A.
Fig. 92 - Lazzarini: O Anjo da Guarda, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 93 - Lazzarini: O Anjo da Guarda, 1961 (Igreja de São Marcos, Novo Treviso, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 94 - Lazzarini: São Miguel vencendo o Demônio, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
216
Fig. 95 - Guido Reni: São Miguel Arcanjo,1635 (Igreja dos Capuchinhos, Roma). Foto: Anderson. In: MÂLE, Émile.
L`Art Religieux de la fin du XVIe. Siècle, du XVII Siècle et du XVIII Siècle. Paris: Armand Colin, 1951, p.
491.
Fig. 96 - O Inferno. Ilustração. In: Teu Catecismo. Primeiro Ano. 5 ed. São Paulo: LDC, [1959], p. 20
Fig. 97 - O Destino do Justo. Impressão gráfica, sem datação. Cópia conservada pela Família de Valdir Bataglin - Linha
Onze, Nova Palma, RS, F.A.
Fig. 98 - O Destino do Mau Pecador, Impressão gráfica - sem datação, cópia conservada pela família de Fiorindo
Stefanello, Gramado, Nova Palma, RS, F. A.
Fig. 99 - Lazzarini: O Destino do Mau Pecador, 1944, Santuário de Santo Antônio, Bento Gonçalves, RS. Foto: Arquivo
Paroquial (estágio anterior à repintura ocorrida nos anos 80).
Fig. 100 - Lazzarini: O Destino do Justo, 1944, Santuário de Santo Antônio, Bento Gonçalves, RS. Foto: Arquivo Paroquial
(estagio anterior à repintura ocorrida nos anos 80).
Fig. 101 - Lazzarini: O Destino do Justo, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 102 - Lazzarini - O Destino do Mau Pecador, 1956 (Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno, RS), F. A.
Fig. 103 - Lazzarini: O Destino do Justo, 1959, (Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa Maria, RS), F. A.
Fig. 104 - Lazzarini: O Destino do Mau Pecador, 1959 (Igreja de Nossa Senhora das Dores, Santa Maria, RS), F. A.
Fig. 105 - Lazzarini: O Destino do Bom e do Mau Pecador, 1963 (Igreja de São José, Ivorá, RS), F. A.
CAPÍTULO II
Fig. 106 - Santa Cecília (Autoria duvidosa). Data provável: 1930 -1940 (Igreja de Nossa Senhora de Pompéia, Silveira
Martins, RS), F. A.
Fig. 107 - Lazzarini: Arco Triunfal da Igreja de Santo Antônio - Silveira Martins, RS. Foto: Arquivo de Angelo Lazzarini.
Fig. 108 - Lazzarini: Arco Triunfal da Igreja de Nossa Senhora das Dores, 1959. Santa Maria, RS.
Fig. 109 - Lazzarini: Arco Triunfal da Igreja de São Marcos, 1961. Novo Treviso, Faxinal do Soturno, RS.
Fig. 110 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma,
RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 111 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de São Roque, Faxinal do Soturno,
RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 112 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de São José, Dona Francisca,
RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 113 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de São João Batista, S. J. do
Polêsine, RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 114 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de Santo Antônio, Silveira Martins,
RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 115 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de Nossa Senhora das Dores,
Santa Maria, RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 116 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de Nossa Senhora do Monte Bérico,
Vale Veronês, Silveira Martins, RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 117 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de São Marcos, Novo Treviso,
Faxinal do Soturno, RS. Escala: 1: 200. D. A.
217
Fig. 118 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de Nossa Senhora do Caravaggio,
Sítio alto, Ivorá, RS. Escala: 1: 200. D. A.
Fig. 119 - Esquema de distribuição temática dos murais de Lazzarini no teto da Igreja de São José, Ivorá, RS. Escala: 1:
200. D. A
Fig. 120 - Lazzarini pintando uma tela. Sem datação. Foto: Arquivos da família Lazzarini.
Fig. 121 - Tiepolo: Alegoria da Virtude Fortaleza, Justiça e Verdade.(Villa Loschi –Vicenza). Cf. L`Opera Completa di
Giambatista Tiepolo. Milano: Rizzoli. 1971, figura 90 F. Cópia conservada nos arquivos de Lazzarini.
Fig. 122 - Esquema de direcionamento das linhas de fuga na obra: Apresentação de Cristo no Templo, 1955 (Igreja da
Santíssima Trindade Nova Palma, RS). Desenho sobre F. A.
Fig. 123 - Lazzarini: Santa Margarida e a visão do Sagrado Coração de Jesus, 1956. (Igreja de São Roque Faxinal do
Soturno, RS), F.A.
Fig. 124 - Lazzarini: A Morte de São José, 1956 (Igreja de Nossa Senhora das Dores Santa Maria, RS), F.A.
Fig. 125 - Modelo provavelmente utilizado por Lazzarini, para realizar a pintura da Imaculada Conceição na Igreja de nossa
Senhora das Dores, Santa Maria. Imagem: Arquivo da Família Lazzarini.
Fig. 126 - Reprodução do sistema de módulos utilizado por Lazzarini. S/escala. Igreja da Santíssima Trindade. Nova
Palma, RS, D. A.
Fig. 127 - Reprodução do sistema de quadrícula utilizado por Lazzarini. S/escala. Igreja da Santíssima Trindade. Nova
Palma, RS, D.A.
Fig. 128 - Modelo provavelmente utilizado por Lazzarini, para realizar a pintura da Sagrada Família na Igreja de Monte
Bérico, Vale Veronês. Imagem: Arquivos da Família Lazzarini.
CAPÍTULO III
Fig. 129 - Murais de Henry Matisse na Capela do Rosário – 1952 (Vence – França) In: GUADAGNINI, Walter. La Vida y
la Obra: Matisse. Barcelona: Grijalbo, 1993, p. 243. Foto: Arquivo Mandadori.
Fig. 130 - Portinari: Santo Antônio – 1941 (Capela dos Portinari Brodósqui –SP) In: CALLADO, Antônio. Cândido
Portinari. Rio de janeiro: Finambras,1997, p. 225.
Fig. 131 - Portinari: São João Crisóstomo – 1944 (Capela Mayrink – RJ) In: Portinari. (catálogo) textos de Antônio Bento
Rio de Janeiro: s.n., 1980. p. 34. Foto: Cristiano Teixeira.
Fig. 132 - Portinari: Estudo de Cristo para a via-crúcis da Igreja de Batatais, 1953, SP. In: CALLADO, Antônio. Retrato de
Portinari. RJ: Paz e Terra, 1978, p. 71.
Fig. 133 - Piazzeta: Glória de São Domingos (detalhe), 1727 (Capela do Rosário - Veneza). In: CHASTEL, André. A Arte
Italiana. São Paulo: Martins Fontes,1991, p. 599. Foto: Anderson-Giraudon.
Fig. 134 - Locatelli: Imaculada Conceição – 1954 (Catedral Metropolitana de Santa Maria, RS). In: ZATTERA, Véra
Beatriz Stédile. Aldo Locatelli. Porto Alegre: Palllotti, 1990. Foto: créditos pertencentes a Hugo Domingos
Zattera, Joel Jordani e Vera S. Zattera.
Fig. 135 - Tiepolo: Glória de Santa Teresa (detalhe) 1724 – 1725. (Igreja dos Scalzi, Veneza). In: POIRIER, Pierre. La
Peiture Vénitienne. Paris: Albin Michel, 1953. Foto: Naya.
Fig. 136 - Locatelli: Coroação de Nossa Senhora – 1949. (Catedral de Pelotas – RS). In: ALDO Locatelli; O Mago
das Cores. Porto Alegre: Marpron/ CEEE, 1998. Foto: Fernando Zago.
Fig. 137 - Locatelli - Imaculada Conceição – c.1953 (Igreja de São Luiz – Novo Hamburgo, RS). In: ZATTERA, Véra
Beatriz Stédile. Aldo Locatelli. Porto Alegre: Palllotti, 1990. Foto: créditos pertencentes a Hugo Domingos
Zattera, Joel Jordani e Vera S. Zattera.
Fig.138 - Locatelli: Coroação da Virgem (detalhe) – 1954 (Catedral da Imaculada Conceição, Santa Maria, RS) In: ALDO
Locatelli; O Mago das Cores. Porto Alegre: Marpron/ CEEE, 1998. Foto: Fernando Zago.
218
Fig. 139 - Alfredo Faggi: Pietá (Weye Gallery - c. 1957) In: Liturgical Arts. Agosto de 1957, n. 4. v. 25, p. 103.
Publicação localizada nos arquivos de Lazzarini.
Fig. 140 - Detalhe de decoração mural da parede lateral direita do batistério – 1964 (Catedral do Divino Espírito Santo, Cruz
Alta, RS), F. A.
ANEXOS
Fig. A-01 - Angelo Lazzarini. Foto: Arquivo da Família Lazzarini.
Fig. A-02 - Angelo Lazzarini (c. 1950) Foto: Arquivo da Família Lazzarini.
Fig. A-03 - Fiorello Orlandi e Angelo Lazzarini (1958) Foto: álbum particular de Amábile Echer Loro.
Fig. A-05 - Família Lazzarini, em férias, no verão de 1963. Foto: álbum particular de Amábile Echer Loro
Fig. A-06 - Mapa ilustrativo da Região da Quarta Colônia - 2000, com indicação da cronologia e localização das obras
murais de Lazzarini. D. A.
Fig. A-07 - Capela de Santo Isidoro (Sítio dos Mellos - Faxinal do Soturno – RS), F. A.
Fig. A-14 - Capela de Nossa Senhora de Pompéia (Linha Quarta Sul, Silveira Martins - RS), F. A.
Fig. A-18 - Igreja de São João Batista (São João do Polêsine - RS), F. A.
Fig. A-20 - Igreja de Nossa Senhora das Dores (Bairro Dores, Santa Maria - RS), F.A.
Fig. A-21 - Igreja de Nossa Senhora do Monte Bérico (Vale Veronês, Silveira Martins - RS), F.A.
Fig. A-22 - Igreja de São Marcos (Novo Treviso, Faxinal do Soturno - RS), F. A.
Fig. A-23 - Igreja de Nossa Senhora do Caravaggio (Sítio Alto, Ivorá - RS), F. A.
Fig. A-25 - Igreja de Santa Catarina (Bairro Itararé, Santa Maria - RS), F. A.
Total: 165 figuras formato Jpeg com resolução média de 150 dpi.
219
Altamir Moreira
Angelo Lazzarini: O Sermão da Montanha, 1955. Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma
ANEXOS
Angelo Lazzarini
(*16-01-1899 - †10-11-1964)
1899
Angel Jose Lazzarini, filho de imigrantes
italianos, nasce em 16 de janeiro em
Venado Tuerto, na Província de Santa Fé,
Argentina.
1909
Aos 10 anos viaja para a Itália junto com
os pais: Francisco e Henriqueta Lazzarini.
Permanecem neste país por 17 anos,
residindo os primeiros anos em Veneza e,
mais tarde, em Bolonha.
1912
Morre a mãe de Angelo. A família passa
por dificuldades financeiras, e ele começa a
trabalhar na rua, fazendo pequenas
projeções cinematográficas com caixa
escura, em troca de modesto pagamento em
princípio efetuado por amigos. Com o
desenvolvimento dessa atividade, mais
tarde consegue custear parte dos estudos de
pintura, na Academia de Bolonha.
1926
Retorna à Argentina junto com outro pintor
italiano (não identificado no decorrer da
pesquisa). Como não encontram um bom
campo de trabalho naquele país, divergem Figura 00
de opinião quanto a direção a ser seguida, Angelo Lazzarini (Angel José Lazzarini)
hesitam entre retornar à Itália ou emigrar Foto: arquivo da Família Lazzarini
para o Brasil. A decisão é finalmente,
tomada após um sorteio realizado com uma
moeda, e resulta na confirmação da viajem,
de ambos, para o Brasil, país no qual
ingressaram clandestinamente.
1933
221
Nesse período, o pintor compra dois terrenos e se estabelece na cidade, onde passa a realizar
trabalhos de pintura em vasos de cerâmica. Participa, também, de uma sociedade comercial,
que inaugura uma pequena sala de cinema, na qual são projetadas películas do cinema mudo,
em sessões acompanhadas por música de piano.
1936
Após uma desilusão amorosa, parte de Jaguari para local ignorado, sem avisar seus sócios ou
amigos. Conforme registros posteriores, é provável que ele tenha se deslocado para a região
da serra gaúcha, em busca de novo campo de trabalho.
1937
222
1941
Recebe em Bento Gonçalves, uma correspondência do Cônego Pascoal Librelotto, Secretário
Geral do Bispado de Santa Maria. O qual, possivelmente, desempenhou o papel de contato
para futuras pinturas na região, ou mesmo durante a primeira fase, no final dos anos trinta.
223
1945
Em 19 de outubro, Lazzarini vai até o Consulado da Argentina, localizado em Porto Alegre, e
solicita uma confirmação da regularidade de sua situação militar, para que possa viajar para à
Argentina.
1950
Retira um passaporte no Consulado da Argentina em Porto Alegre.
1951
Em 09 de abril inicia a pintura dos murais da Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus, no
município de Carlos Barbosa.
É do conhecimento familiar, que Lazzarini tenha participado, ainda nesse ano, da
concorrência para a pintura da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, onde perde o
serviço para Aldo Locatelli.
1952
Em 10 de novembro, nasce o primeiro filho, da união de Lazzarini com Itália Andrizzi, esse
recebe o mesmo nome do avô: Francisco Lazzarini.
1953
A principal informante desta biografia de Lazzarini, Amábile Echer, sobrinha de Itália, passa
a morar com a família Lazzarini auxiliando a cuidar do filho do casal, durante os períodos em
que o pintor se afasta para tratar de seu trabalho.
1954
É solicitado a trabalhar na nova pintura da Igreja da Santíssima Trindade em Nova Palma,
viaja sozinho em princípio, mas logo mais tarde busca também a família, com a qual passa a
morar temporariamente nesta cidade. Durante este período, contrata Eduardo Barrachini para
auxiliá-lo.
1955
Conclui a pintura da Igreja Matriz de Nova Palma, e é provável que ainda neste ano ele tenha
iniciado a pintura da Igreja Matriz de Faxinal do Soturno.
224
1956
Conclui a pintura da Igreja de São Roque, em Faxinal do
Soturno, e neste mesmo ano, ainda executa a pintura da
Igreja de São José, em Dona Francisca.
1957
Pinta a Igreja de São João Batista em São João do Polêsine.
É auxiliado por João Elídio dos Santos, o qual o acompanha
desde os serviços da Igreja de Faxinal do Soturno.
1958
Pinta a Igreja de Santo Antônio em Silveira Martins, e Figura A-04
Juventino Barbieri (foto:1999).
Fiorello Orlandi passa a ser o novo auxiliar. Após esse
serviço, a família de Lazzarini volta para Caxias do Sul.
Nesse período nasce a filha; Leda Lazzarini. No final do ano
a família muda-se para Santa Maria, onde Lazzarini passa a
se dedicar à pintura da Igreja do Bairro Dores.
1959
Ano de conclusão da Pintura da Igreja de Nossa Senhora
das Dores, em Santa Maria, e período no qual o casal Angelo
e Itália oficializa seu matrimônio no rito religioso.
1960
Pinta a Capela de Nossa Senhora do Monte Bérico,
provavelmente no início deste ano, após isto é convidado
pelo Padre Antônio Soldera (antigo pároco da Matriz de
Dona Francisca), e viaja para executar a pintura da Igreja
Matriz da cidade de Getúlio Vargas. Durante este período Figura A-04
teria pintado pequenos quadros de cavalete com motivos de Juventino Barbieri (foto:1999).
paisagens e flores, os quais foram vendidos a uma família
daquela cidade.
1961
Volta a morar em Santa Maria, deslocando-se desta cidade, semanalmente, para trabalhar na
pintura da Igreja de São Marcos em Novo Treviso.
1962
Executa a pintura da Capela de Nossa Senhora do Caravaggio, na comunidade de Sítio Alto
em Ivorá.
1963
Conclui a pintura da Igreja de São José, em Ivorá. Sendo auxiliado por Juventino Barbieri.
Ainda nesse ano, pinta a Igreja de Santa Catarina no Bairro Itararé em Santa Maria.
225
1964
Pinta a Catedral do Divino Espírito Santo em Cruz Alta. Seu auxiliar Juventino, afasta-se logo
no início da obra devido a exigências do serviço militar. Lazzarini, aos 65 anos, sofre por quatro
meses em decorrência de uma intoxicação causada pelas tintas, vindo a falecer no dia 10 de
novembro, por insuficiência respiratória. Como não conseguiu concluir a última parte da pintura
especificada pelo contrato, a família tem problemas em receber o pagamento, de forma que o
advogado de Itália determina que os familiares concluam o trabalho dentro de suas possibilidades
para que então pudessem receber o pagamento. Dessa forma, Francisco e sua mãe, utilizando os
moldes decorativos deixados por seu pai pintam a parede posterior do presbitério, concluindo o
serviço e, encerrando a difícil negociação.
Fig. A-05
Família Lazzarini em férias no verão de 1963. Foto: álbum particular de Amábile Echer Loro
226
Anexo B - Cronologia
Cronologia das pinturas murais de Angelo Lazzarini
01) Capela de Nossa Senhora de Pompéia, (Linha Quarta Sul) Silveira Martins
c. 1929 – 1940. (atribuição duvidosa).
06) Capela de Santo Isidoro (Sítio dos Mellos) Faxinal do Soturno, c. 1938. (atribuição duvidosa)
14) Igreja de Nossa Senhora das Dores, (Bairro Dores), Santa Maria , 1959.
15) Capela de Nossa Senhora do Monte Bérico , (Vale Veronês), Silveira Martins, c. 1960.
17) Capela de Nossa Senhora do Caravaggio, (Sítio Alto), Faxinal do Soturno, 1962.
20) Catedral do Divino Espírito Santo, Cruz Alta, 1964. (Obra não completada)
227
Anexo C - Localização
Fig. A - 06
228
Anexo D - Documentos
Anexo D
Documentos
Anexo D - Documentos
Passaporte de Angelo Lazzarini
Anexo D - Documentos
DOCUMENTO – 02
Atestado do Exército Argentino
Figura A -11
231
Anexo D - Documentos
Documento 03
Figura A-12
232
117
Cf., SPONCHIADO, Breno Luis. Imigração e Quarta Colônia: Nova Palma e Pe. Luizinho. Santa Maria:
Pallotti, 1996. p. 83 - 101
118
No altar desta igreja foi colocado um quadro com uma reprodução gráfica da Santíssima Trindade, baseada
em um clássico quadro de Rubens, no qual as três formas divinas eram representadas com a configuração de uma
Trindade Horizontal. Mais tarde, em 1904, esta imagem viria a ser substituída por um novo quadro trazido da
Alemanha, pelo padre Kuggelmann, obra realizada na técnica óleo sobre metal, que apresenta a configuração
conhecida como Trindade Vertical.
235
119
Juventino Barbieri; auxiliar de Lazzarini no período de 1962 a 1964, relata comentários de Lazzarini sobre
esta antiga pintura da Igreja da Santísima Trindade. Cf., entrevista realizada em Dona Francisca em 27 de
novembro de 1999.
120
Cf., Livro do Tombo II. Folhas 35 – 36. Casa Paroquial da Igreja da Santíssima Trindade, Nova Palma - RS.
121
Cf., RUBIN, Pe. Dorvalino. Faxinal do Soturno e os 50 anos de sua Igreja. Santa Maria: Pallotti. 1987. p. 14.
236
122
Cf., SPONCHIADO, Breno Luis. Imigração e Quarta Colônia; Nova Palma e Pe. Luizinho. Santa Maria:
Pallotti, 1996. p. 63. Em 1900 já haviam 85 famílias italianas e 10 famílias alemãs, instaladas nesta localidade.
123
BONFADA, Genésio. Os Palotinos no Rio Grande do Sul; 1886 a 1919 – Fim da Província Americana.
Santa Maria: Pallotti (Série Rainha 5), 1991. p. 131.
237
124
RUBIN, Pe. Dorvalino (Comp.). Da Crônica Interna do Seminário Vicente Pallotti de Polêsine: as igrejas de
Polêsine. Folheto disponível para consulta, na Casa paroquial da Igreja de São João Batista. S. J. do Polêsine –
RS.
238
125
RUBERT, Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul. Vol. II (Coleção Teologia), Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1998. p. 287.
126
BONFADA, Genésio. Op. Cit. p. 131
127
GOULART, Antônio. Almanaque Gaúcho, túnel do tempo, Atração Turística: Silveira Martins. In Zero
Hora, 12 de abril de 2000. p. 66.
128
Passim SANTIN, Silvino, ISAÍA, Antônio. Silveira Martins: Patrimônio Histórico Cultural. Porto Alegre:
ESTF, 1990.
129
Cf., entrevista realizada com Severini Bellinaso, morador de Ivorá, em 08 de agosto de 1998.
239
130
Cf., MACHADO, Ana Luiza Oliveira. A Igreja Nossa Senhora das Dores: história e arquitetura. Santa
Maria, 1996. Trabalho realizado para a disciplina de Fundamentos da Arte II do Curso de Desenho e Plástica da
UFSM, cópia localizada na Casa Paroquial da Igreja de Nossa Senhora das Dores.
240
131
MARCUZZO, Pe. Clementino. Centenário de Vale Veronês. Santa Maria: Pallotti, 1982. p. 23.
241
132
Cf., avaliação do Pe. Daniel Cargnin. Entrevista realizada em Novo Treviso em 17 de Abril de 1999.
242
Anexo F - Entrevistas
Adão Germano Bus - (*11/10/1919) - Jaguari - 16 de Fevereiro de 2000 (entrevista não estruturada).
Fiorello Orlandi (*1934 -) auxiliar de Lazzarini no período de 1957 a 1958. Faxinal do Soturno –
Junho de 1998 (gravação e formulário).
Marieta Ribeiro Mann em – Jaguari -16 de Fevereiro de 2000 - (entrevista não estruturada).
Nélio Pedro Meneghetti - Sítio dos Mellos - Faxinal do Soturno - Junho de 1998 (formulário).
Oldair Santi – Jaguari (entrevista não estruturada).
Orlindo Zamberlan (*1918 - ) Vale Veronês -21 de Agosto de 1999. (gravação e formulário).
Pe. Daniel Cargnin - Novo Treviso – 17 de abril de 1999. (entrevista não estruturada).
Pe. Clésio Facco - Vale Vêneto - São João do Polêsine - 22 de novembro de 1999. (entrevista não
estruturada).
Quirino Marco dos Santos (irmão do ex-auxiliar de Lazzzarini) Sitio dos Mellos – Faxinal do
Soturno - 30 de dezembro de 1999. (formulário).
Anexo G – Formulário
MODELO
FormulárioNº:
Data: ___ ___ ________
Local: _______________________________________________________
Entrevistado:_________________________________________________
Data de Nascimento: ____ ____--_________
Histórico - sociais:
10 - Havia pinturas anteriores na igreja?
11 - Quais as pessoas que tiveram convivência com o pintor?
12 - Quem patrocinava as pinturas -descrição de perfil sócio- econômico?
13 - Os patrocinadores interviam na escolha e localização da temática?
14 - Havia lugares previlegiados para pinturas patrocinadas por detentores de maior contribuição econômica?
15 - Quem escolhia o tema?
16 - Em que referências visuais eram baseados?
17 - Que imagens sacras eram mais comuns nos lares católicos da região?
17 - As iamgens apresentadas pelas pinturas correspondiam aos santos de devoção familiar ou eram estanhas aos
fiéis?
19 - idioma das homilias da época - havia referências constantes às imagens como auxílio ao discurso?
20 - Que imagem(s) da pintura mural você considera mais importante?– motivo?