Mateus 10 3439 PDF

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Monergismo.

com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9)


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Mateus 10:34-39

William Hendriksen



O fato de que entre os homens haver, de um lado, os que confessam a
Jesus, e, do outro, os que o negam, indica que a vinda de Cristo trouxe diviso
(ver v. 21). Esse pensamento expresso de uma forma concisa nas palavras de
Jesus como so registradas nos versculos 34, 35. No pensem que vim
trazer paz terra. No vim trazer paz, e, sim, espada. Pois vim pr um
homem contra seu pai, uma filha contra sua me e uma nora contra sua
sogra. Temos aqui um mashal; ou seja, um dito paradoxal, que soa de forma
incrvel! Que ele contrrio opinio prevalecente, indica-se por suas palavras
iniciais: No pensem que Cf. 3:9; 5:17; Jo. 5:45. O que Jesus diz aqui leva
a pessoa que ouve ou l a uma chocante surpresa ou descrena. A reao
natural a essa surpreendente afirmao seria: Como possvel isso ser
verdade? Cristo no o Prncipe da paz (Is. 9:6)? No ele aquele que
chama bem-aventurados os pacificadores (Mt. 5:9)? Se ele no veio trazer paz,
como as seguintes passagens seriam verazes: Sl. 72:3, 7; Lc. 1:79; 2:14; 7:50;
8:48; Jo. 14:27; 16:33; 20:19,21; Rm. 5:1; 10:15; 14:17; Ef. 2:14; Cl. 1:20; Hb.
6:20-7:2? Todas elas no proclamam em termos vigorosos a Jesus como o
Portador da paz?
No obstante, mister que nos lembremos de que a caracterstica de
muitos mashal colocar nfase num aspecto da verdade em vez de p-la numa
proposio que universalmente vlida. Ver meus comentrios sobre Mt.
5:34: No jurem de forma alguma. O mrito de tais aforismos que eles
fazem uma pessoa parar e pensar por um instante. Assim tambm aqui. Uma
breve reflexo logo convencer o atento estudante das Escrituras de que h
certo sentido em que a vinda de Cristo a este mundo no s trouxe diviso,
mas continha o propsito de agir assim. Se tal no fora seu propsito
imediato, no estariam todos os homens perdidos (Jo. 3:3,5; Rm. 3:9-18)? No
teriam todos se precipitado na condenao? Alm disso, mesmo na vida dos
que finalmente se salvam, no verdade que por meio demuitas tribulaes devem
eles entrar no reino de Deus (At. 14:22)? No a vida do crente uma vida de
tempestade e tenso? Seguramente, enfimtudo paz, mas, o mesmo Paulo que
exclama: Graas a Deus por meio de Jesus Cristo nosso Senhor, tambm se
queixa: Miservel homem que sou! (Rm. 7:24,25).
Alm do mais, haver amargos oponentes. Aqui na terra, ou seja,
durante esta presente dispensao, os seguidores de Cristo devem esperar a
espada. Essa palavra aqui usada para simbolizar o prprio oposto de paz;
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da, a diviso (Lc. 12:51), resultando em perseguio. assim que se
evidenciar quem est e quem no est do lado do Senhor. E assim que os
pensamentos de muitos coraes se revelaro (Js. 5:13,14; Mt. 21:44; Lc.
2:34,35; 20:18). A entrada de Cristo neste mundo o divide em dois: o parte,
corta emdois, e ao fazer assim pe ou volta uma pessoa contra a outra.
A f no s cria diviso entre uma raa e outra, um povo e outro, uma
igreja e outra; ainda produz diviso na famlia, que na realidade s vezes a
mais aguda das divises. Quanto a isso, Lc. 12:52, 53 menciona cinco
membros da famlia que vivem todos sob o mesmo teto: pai, me, filha
solteira, filho casado e sua esposa (a nora dos pais). Em decorrncia da relao
que esses vrios membros assumem para com Cristo, h intensa tenso entre
eles. Aqui em Mateus, a melhor interpretao poderia ser que a me, por causa
de sua f em Cristo, est recebendo oposio da filha solteira e da nora;
semelhantemente, o pai crente recebe de seu filho.
Alusivo a Miquias 7:6. (ver meu comentrio sobre v. 21), segue-se um
sumrio dos versculos 34, 35 no versculo 36. Os inimigos de um homem
[sero] os membros de sua famlia. Entre as ilustraes bblicas da f que
em certo sentido se torna divisor de famlias esto as seguintes: em cada caso,
o primeiro membro do par o que se ope f. ele o real inimigo pessoal, e
deve, portanto, levar a responsabilidade da diviso: Caim versus seu irmo Abel
(Gn. 4:8; cf. 1Jo. 3:12); Maaca se declarou contra seu filho Asa (1Rs. 15:13); e
Nabal se ops a sua esposa Abigail (1Sm. 25:2,3,10,11,23-31). Nos ltimos
dois exemplos, a histria enfatiza a reao da f, em vez da ao do incrdulo.
Ver tambm 2Sm. 18:33; Sl. 27:10; e 1Co. 7:12-16.
Uma escolha tem de ser feita. E tem de ser uma escolha certa, mesmo
que isso signifique um filho alienar-se de seus pais, ou vice-versa: 37. Quem
ama pai ou me mais do que a mim, no digno de mim; quem ama
filho ou filha mais do que a mim, no digno de mim Pertencer a
Cristo um privilgio to inestimvel, que nenhuma outra relao pode
substitu-lo. um dever to imperativo, que nenhuma outra obrigao mais
obrigatria. Ver Atos 5:29. Se a escolha entre um pai ou Cristo, a vontade do
pai, no importa quo ardente seja, deve ser rejeitada; se entre um filho ou
Cristo, que a vontade do filho, no importa quo veementemente seja, deve
ser sobrepujada. Isso deve ser feito devido predominncia do amor por
Cristo. Os que rejeitam essa suprema lealdade a Jesus no so dignos dele,
ou seja, no merecem pertencer-lhe e ser honrados por ele.
A disposio de se sacrificar por Cristo e sua causa deve ser total.
Portanto, as palavras: Quem ama pai e me filho ou filha mais do que a
mim no digno de mim so imediatamente seguidas pelo versculo 38. E
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quem no toma sua cruz e vai aps mim, no digno de mim. A figura
de linguagem deriva do costume ento prevalecente segundo o qual a pessoa
sentenciada morte de crucifixo era obrigada a carregar sua prpria cruz at
ao lugar da execuo (Jo. 19:17). Levar a cruz aps Jesus tornou-se ento um
smbolo da disposio de suportar a dor, a vergonha e a perseguio por amor
a ele e sua causa. Deve-se enfatizar nessa conexo que o termo, levar a cruz,
no est sendo usado apropriadamente, ou seja, no pleno sentido bblico,
quando se faz referncia de maneira muito geral a algum tipo de aflio que
acaso tenha visitado uma pessoa durante o curso de sua vida terrena; por
exemplo, reumatismo ou perda de audio.
preciso tambm resguardar-se de um erro um pouco semelhante. Ao
falar de se levar a cruz, precisa-se ter cuidado para no privar o sofrimento de
Cristo de seu singular valor e significao. Isso aconteceu amide; por
exemplo, quando se interpretam mal as seguintes linhas, atribudas a Thomas
Sheperd (1665-1739):
Jesus deve levar a cruz sozinho,
E o mundo inteiro ficar isento?
No, h uma cruz para cada um,
E h tambm uma cruz para mim.
Se porventura a explicao disso for que a amarga agonia de Cristo era
simplesmente uma dentre muitas, o que restar da verdade com referncia ao
carter vicrio e valor infinito de seu sacrifcio? luz da plena revelao
bblica, levar a cruz, aplicado ao crente, s pode ter um significado nico, a
saber, levar seu vituprio de forma submissa e cheia de regozijo (Hb. 13:13;
cf. At. 5:41). Isso procede acerca daqueles que, vindo como podem, o seguem
por onde quer que ele v, confiam em seu sangue remidor, refletem sua mente
(Jo. 13:15; 2Co. 8:7,9; Ef. 4:32-5:2; Fp. 2:5; 1Pe. 2:21); e o proclamam. Quanto
a no digno de mim, ver sobre o versculo precedente.
Com base no dito de Cristo como se acha registrado aqui no versculo
38, os discpulos, por esse tempo, entendiam que Jesus ia ser crucificado
literalmente? Provavelmente no; pois, a. essa passagem estabelece um
princpio, ensina uma lio que possui sentido mesmo parte da antecipao
da cruz do Calvrio; e b. se mesmo as claras predies posteriores de Cristo
acerca de sua prpria morte na cruz que se avizinhava (16:21; 17:22,23; 20:17-
19; e passagens paralelas nos outros Evangelhos) eles no entendiam (ver
supra, sobre o v. 27), de todo provvel que nesse estgio preliminar tenham
interpretado o que est registrado no versculo 38 como, em algum sentido,
uma referncia ao Calvrio? Para ns, a revelao ao Calvrio clara.
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A pessoa que recusa levar a srio a lio do versculo 38 sofrer perda
total. Para o outro tipo de pessoa, h um rico galardo: versculo 39. Quem
achar a vida, a perder; e quem perder sua vida por amor de mim, a
achar. O que sua vida significa nessa conexo? Com toda probabilidade,
pela influncia do uso idiomtico hebreu, significa simplesmente a prpria
pessoa. Isso se faz evidente luz de passagens em que os dois termos vida e
si mesmo so usados intercambiavelmente: O Filho do homem veio para
dar sua vida em resgate de muitos (Mt. 20:28; Mc. 10:45; ver tambm Is. 53:12
e Jo. 10:11). Agora compare que deu a si mesmo em resgate de muitos
(1Tm. 2:6). Melhor ainda, pois est prximo do pensamento de Mateus 10:39,
Lucas 9:23,24: Se algum quer vir aps mim, a si mesmo se negue, tome
diariamente sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida, a perder; e
quem perder sua vida por amor de mim, a salvar.
Conseqentemente, e tambm luz de passagens paralelas, as palavras
de Cristo podem ser parafraseadas assim: A pessoa que, quando a questo
entre mim e o que ela considera de seu prprio interesse, escolhe o ltimo,
crendo que ao fazer assim est achando a si prpria, ou seja, est
encontrando uma posio mais firme para sua vida plena, ser amargamente
decepcionada. Ela perder em vez de ganhar. Sua felicidade e utilidade
diminuiro e murcharo em vez de aumentar. Por fim perecer eternamente.
Em contrapartida, aquele que, confrontado com a escolha, entrega a si
mesmo, ou seja, nega a si mesmo por lealdade a mim, dispondo-se, se
necessrio for, a pagar com um sacrifcio supremo, alcanar uma auto-
realizao completa. Ter vida, e a ter da forma mais plena, at que,
finalmente, participe comigo da glria e da minha segunda vinda e do novo
cu e nova terra. Entre as passagens em que o mesmo ou semelhante
pensamento se expressa, e que derramam luz obre o significado de Mateus
10:39, esto (alm de Lc. 9:23-24) Mt. 16:26; Mc. 8:34-38; Lc. 17:32,33; Jo.
12:25,26.
Ilustrando as duas dispensaes contrastadas no versculo 39: a. o lago
ou mar que tem uma entrada para a gua, mas no uma via de escape, em
contraste com aquele que tem ambas; b. a furiosa corrente antes de ser
canalizada, em contraste com a mesma corrente depois de haver sido
canalizada uma parte dela e haver construdo um dique para transform-la
num lago muito til com seus canais de irrigao.


Fonte: Extrado de Mateus, William Hendriksen,
Editora Cultura Crist, 2001, Vol. 1, pp. 671-6.

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