CRC Go Livro Pericia PDF
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PROCEDIMENTOS PERICIAIS
MEMBROS DO COMIT
1. JOO LUIS AGUIAR - CRC-GO n 8677
Coordenador
2. DANIEL CARVALHO COUTO - CRC-GO n 15382
Subcoordenador
3. MAGNLIA NOGUEIRA DO LAGO - CRC-GO n 10360
4. EDMILSON DE SOUZA - CRC-GO n 10774
5. JLIO CESAR CARLOS - CRC-GO n11400
6. ELIONE CIPRIANO DA SILVA - CRC-GO n12239
7. ELTON ROCHA RAMOS - CRC-GO n 9718
8. HELI APARECIDO BORGES - CRC-GO n 12928/P
9. DEUSDETE CARDOSO BELM - CRC-GO n 15198
INTRODUO
O Contador atua, geralmente, em diversos setores, mas tambm
verdade que cada prossional busca sua realizao naquilo que lhe completa e em
que o ganho nanceiro seja consequncia deste esforo continuado. Nesta rbita,
atuo como perito-contador do juzo nas Justias Estadual e Federal de Gois h
mais de 10 (dez) anos e, hoje, posso armar que esse um dos principais campos de
atuao com que podemos retribuir sociedade aquilo que ela espera de ns aps
nossa diplomao.
A percia contbil sempre me fascinou, na medida em que
deparei com um campo de atuao do Contador que, verdadeiramente,
reconhecia-me prossionalmente. Sua importncia para nossa prosso e
sociedade como um todo levou o Conselho Federal de Contabilidade a editar duas
Resolues importantssimas para regular, tanto a percia em sua essncia como a
atuao do Contador-Perito.
Como prossional atuante, professor e incansvel estudioso da
percia contbil, observo que esta vem merecendo cada vez mais destaque, mesmo
porque, h tempos, nossa sociedade vem sofrendo transformaes para chegar
onde estamos. Como exemplos, cito as principais; vejamos:
1) A CLT, que surgiu com Decreto-Lei n 5.452/1943
sancionado pelo ento presidente Getlio Vargas,
unicando toda legislao trabalhista existente no Brasil.
Objetiva regulamentar as relaes individuais e coletivas do
trabalho urbano e rural;
2) A criao do Conselho Federal de Contabilidade e dos
Conselhos Regionais e, consequentemente, regulamentao
e scalizao da prosso contbil, mediante o DL n
9295/1946, cando assegurado que a percia contbil
judicial ou extrajudicial so privativas do Contador;
Resolues 1.243/09, dene as regras e procedimento da percia contbil;
Resoluo 1.244/09, estabelece procedimentos inerentes atuao do contador na condio de perito
3) Com o advento da Constituio de 1988, o Estado Brasileiro
consolidou a normatizao de seus elementos essenciais:
sistema de normas jurdicas, regulamentao da forma do
Estado, forma de seu governo, o exerccio do poder, o
estabelecimento de seus rgos, os limites de sua ao, as
garantias e o direitos fundamentais do cidado. Sem dvida,
a CF/88 destinada para a completa realizao da cidadania
e o direito ao contraditrio e ampla defesa uma garantia
constitucional que fez emergir num considervel aumento
das demandas judicias;
4) Nesta esteira, sistemas de tribunais justos, imparciais, esto
garantidos na Constituio Federal de 1988, especialmente
no Capitulo III, ao tratar do Poder Judicirio; assim, a
imparcialidade do Judicirio e a segurana do cidado contra
o abuso estatal esto estampados no princpio do juiz
natural, encontradios nos incisos XXXVII e LIII do art. 5
da Constituio. Destarte, juzes independentes e
prossionais constituem a base deste aparelho. Essa
autonomia no sentido de que os Magistrados esto livres
para tomarem decises legais, mesmo que contradigam
interesses de parte envolvida no processo, mesmo que seja o
prprio governo.
5) A CF/88 reservou uma seo especca (Das Funes
Essenciais e Justia) ao Ministrio Pblico que possui a
funo de scalizador da lei incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais
indisponveis. Para tanto, independente dos trs poderes,
com princpios institucionais: a unidade, a indivisibilidade e
a independncia funcional;
6) O Cdigo de Defesa do Consumidor Lei n 8.078/90 ,
sem dvida, um avano considervel de nossa nao, visto
que, dentre outras, garantiu ao comprador informaes
claras e precisas, segurana dos produtos, prazo de conserto
de defeito e, principalmente, a facilitar a defesa dos
consumidores com a inverso do nus da prova e a criao
de rgos administrativos como o PROCON.
Deste modo, observa-se que nossa legislao ptria tem
evoludo ao longo dos anos de forma a possibilitar ao cidado em geral o acesso aos
seus direitos e garantias fundamentais. Frisa-se, nas palavras do Ministro Castro
Meira: pela importncia que a justia tem, cada dia mais, na sociedade, buscando
distribuir, a cada um, o que seu, aplicar a lei de um modo correto, atender s
reivindicaes dos cidados. Neste raciocnio, notrio que a sociedade brasileira
tem buscado cada vez mais os tribunais, para terem resguardados seus direitos e
garantias.
O aumento das demandas judiciais, consequentemente, tem
levado ampliao da estrutura do judicirio, tanto no mbito urbano como no
rural e, por conseguinte, tem ampliado o mercado de trabalho para o Contador,
quando imbudo da funo de perito judicial ou perito-assistente.
Os processos judicias so presididos por um juiz, cabendo a este
tomar todas as providncias de praxe para que a justia seja feita. Vale dizer que,
quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou cientco, o
Magistrado ser assistido por perito, segundo o disposto nos artigos 145 e 421 do
CPC, que dever ser portador do curso de Bacharel em Cincias Contbeis e estar
devidamente habilitado no CRC onde a demanda se processa (DL 9295/46, alnea
c do art. 25 e Resoluo CFC n 1243/09).
Atento a este novo cenrio, na condio de Perito Contador e
Vice-Presidente do CRC-GO, propus ao nosso Presidente, Contador Henrique
Ricardo Batista, que institussemos o Comit de Percia Contbil, que de pronto foi
aceito. Por meio da parceria rmada com a ASPECON (Associao dos Peritos
Contadores do Estado de Gois), foi possvel constituir um grupo de prossionais
que assumiram esta rdua mas graticante tarefa, que foi a de concatenar as
ideias e legislaes que tratam deste tema to atual: a percia contbil. O resultado
desse esforo est descrito no presente trabalho.
A proposta deste Manual de Percia no esgotar o assunto,
mesmo porque, devido a amplitude e importncia do tema, muito ainda h para ser
pesquisado. Esta publicao intenciona proporcionar aos estudantes de
contabilidade de nvel universitrio, aos peritos contadores, aos magistrados e
advogados a legislao pertinente, bem como servir de norteador para o estudo da
matria.
O presente Manual possui contedo atual e voltado para os
principais tpicos inerentes a este ramo do conhecimento, abordando aspectos
histricos da percia, como legislao bsica e comparativo deste com a auditoria.
Traz informaes relevantes acerca da percia judicial, extrajudicial e arbitral e,
como no poderia deixar de ser, discorre sobre assuntos que ajudaro o
pesquisador a ter maiores informaes sobre o perito do juiz, relacionamento deste
com a causa, casos de impedimento e suspeio deste auxiliar da justia, bem como
da escusa e recusa do encargo e aclaramento sobre os quesitos, planejamento da
percia e proposta de honorrios do perito, responsabilidade deste prossional e
denio e modelo de Laudo Pericial.
Num captulo especial, trata da atuao do perito-assistente e,
em outro, apresenta estudo pormenorizado acerca da mediao e arbitragem.
Outro ponto que merece destaque que este Manual de Procedimentos Periciais
apresenta, no nal, 10 (dez) modelos de peas escritas que, costumeiramente, o
perito do juiz ou das partes utiliza no cotidiano.
Por m, com imensa alegria que parabenizo todos aqueles que
participaram da elaborao deste Manual, porque tenho certeza de que ele ser uma
das principais fontes de pesquisa que recomendaremos, visto que esta fonte est na
forma impressa, com tiragem condizente, alm de publicao eletrnica que estar
disponvel no portal do CRC-GO.
A todos, desejo uma tima leitura.
Contador: Elione Cipriano da Silva
Vice-Presidente Administrativo do CRC-GO
SUMRIO
1. FUNDAMENTOS E VISO GERAL DA PERCIA
CONTBIL.............................................................................................11
1.1. Percia ..........................................................................................................11
1.2. Aspecto histrico.......................................................................................12
1.2.1. Objetivo da percia contbil .....................................................................14
1.3. Legislao bsica........................................................................................14
2. SEMELHANAS E DIFERENAS ENTRE AUDITORIA
E PERCIA CONTBIL.....................................................................17
2.1. Auditoria .....................................................................................................17
2.2. Percia ..........................................................................................................17
3. PERCIA JUDICIAL............................................................................21
3.1. Percia semijudicial ....................................................................................22
3.2. Locais de ocorrncia de percia judicial .................................................22
4. PERCIA EXTRAJUDICIAL...................................................25
5. PERCIA ARBITRAL ..............................................................27
5.1. Cmara de mediao e arbitragem..........................................................27
6. NOMEAO DO PERITO.....................................................29
6.1. Perito do Juiz..............................................................................................29
6.2. Relacionamento do perito com a causa .................................................31
6.3. Impedimento e suspeio do perito do juzo........................................32
6.4. Escusa e recusa ..........................................................................................34
6.5. Quesitos ......................................................................................................35
6.5.1. Quesitos suplementares............................................................................35
6.5.2. Quesitos impertinentes.............................................................................36
6.5.3. Quesitos incompletos, insucientes e ausncia
de quesitos ..................................................................................................36
6.5.4. Quesitos de esclarecimentos....................................................................37
7. PERITO ASSISTENTE...........................................................39
7.1. Funes do perito assistente....................................................................39
7.2. Caractersticas e funes do perito do juzo e do perito
assistente .....................................................................................................41
8. PLANEJAMENTO DA PERCIA E PROPOSTA
DE HONORRIOS .................................................................45
8.1. Proposta de honorrios ............................................................................46
8.2. Impugnao de honorrios ......................................................................52
9. RESPONSABILIDADES DO PERITO ..................................53
10. PROVA PERICIAL - ASPECTOS ESSENCIAIS
DA PROVA PERICIAL ............................................................59
10.1. Documentos probantes breve relato......................................................59
10.2. Provas Admitidas na Legislao Brasileira ............................................62
11. LAUDO PERICIAL..................................................................65
12. MEDIAO E ARBITRAGEM...............................................71
12.1. Origem histrica da arbitragem...............................................................71
12.2. Conceito de arbitragem............................................................................71
12.2.1. Caractersticas principais da arbitragem.................................................72
12.2.2. Funcionamento..........................................................................................72
12.2.3. Aceitao.....................................................................................................73
12.3. Disponibilidade do direito .......................................................................75
12.4. Tipos de arbitragem..................................................................................75
12.5. rbitros.......................................................................................................76
12.6. Requisitos para ser rbitro........................................................................77
12.7. Impedimento e suspeio do rbitro......................................................78
12.8. Deveres do rbitro ....................................................................................80
12.9. Honorrios do rbitro...............................................................................81
12.10. Conveno arbitral ....................................................................................82
12.11. Compromisso arbitral ...............................................................................82
12.12. Clusula compromissria .........................................................................83
12.13. Juzo e procedimento arbitral ..................................................................84
12.14. Meios probatrios em arbitragem...........................................................85
12.15. Sentena arbitral ........................................................................................86
12.16. Cmara de mediao e arbitragem..........................................................88
12.17. Mediao.....................................................................................................88
12.18. Quem no pode ser rbitro......................................................................88
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................89
ANEXOS................................................................................................91
Modelo n. 01 - Escusa em percia judicial...........................................................92
Modelo n. 02 - Renncia em percia arbitral.......................................................93
Modelo n. 03 - Renncia em percia extrajudicial ..............................................94
Modelo n. 04 - Renncia indicao em percia judicial ..................................95
Modelo n. 05 - Renncia indicao em percia arbitral ..................................96
Modelo n. 06 - Renncia em assistncia em percia extrajudicial ....................97
Modelo n. 07 - Petio de honorrios periciais..................................................98
Modelo n. 08 - Petio de juntada de laudo pericial contbil e pedido
de levantamento de honorrios..............................................................................100
Modelo n. 09 - Petio de juntada de laudo trabalhista e pedido de
arbitramento de honorrios ....................................................................................101
Modelo n. 10 - Contrato particular de prestao de servios prossionais
de perito-contador assistente..................................................................................102
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
1. FUNDAMENTOS E VISO GERAL
DA PERCIA CONTBIL
1.1. Percia
O conceito de percia contbil est diretamente ligado ao
conceito genrico da percia no que se refere habilidade, ao saber e perspiccia
na busca da prova pericial, visto que a matria pericial recair em rea do
conhecimento humano, o qual ir atuar, como na medicina, administrao,
nanas, engenharia, informtica e, no nosso estudo, o reexo da prova pericial
na rea da cincia contbil.
Assim, pelo conceito etimolgico da palavra, pode-se inferir que
a percia uma habilidade que vai se adquirindo no decorrer da vida, atravs do
saber e dos trabalhos realizados, ou seja, a percia consiste numa declarao de
cincia sobre fatos relevantes causa, emitida por pessoa com relevante sabedoria,
tambm chamada de expert, com o objetivo de esclarecer aspectos tcnicos,
mediante exame, vistoria, indagao, investigao, arbitramento, avaliao, com
objetivo exclusivo de fazer prova perante o Magistrado e as partes envolvidas na
discusso.
At aqui, buscou-se um conceito de forma genrica do que
percia, a qual possui um campo extenso a ser pesquisado. Nesse entendimento,
pode-se dizer que o campo de atuao da percia est relacionado a todas as
situaes contraditrias e de desequilbrio que envolver uma discusso na
sociedade.
O termo percia vem do latim peritia, que signica
conhecimento adquirido pela experincia, j utilizado na Roma
Antiga, onde se valorizava o talento de saber (Hoog,
2001).Na linguagem jurdica designa especialmente, em
sentido lato, a diligncia realizada por peritos, a m de se
evidenciar determinados fatos. (MORAIS, 2000, P.29).
A percia, pela ptica mais ampla, pode ser entendida como
qualquer trabalho de natureza especca, cujo rigor na execuo
seja profundo. Dessa maneira pode haver percia em qualquer
rea cientca ou at em determinadas situaes empricas. (...)
11
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Entende-se por percia o trabalho de notria especializao feito
com o objetivo de obter prova ou opinio para orientar uma
autoridade formal no julgamento de um fato, ou desfazer conito
em interesses de pessoas. (MAGALHES, 2004, p.12).
Dessa forma, a denominao dada a esta habilidade ou saber
passou a distinguir a prpria ao ou investigao levada a efeito para o
esclarecimento pretendido. Conforme o Cdigo de Processo Civil, art. 420, a
percia tem como espcie: os exames, as vistorias, as avaliaes. Todas elas,
genericamente, tambm se dizem exames periciais.
Portanto, a percia, segundo princpio da lei processual,
medida que vem mostrar o fato quando no haja meio de prova documental para
mostr-lo, ou quando se quer esclarecer circunstncias a respeito do mesmo que
no se acham perfeitamente denidas.
A percia, por via de regra, importa sempre em exame que
necessite ser feito por prossionais tcnicos, isto , por perito ou pessoas hbeis e
conhecedoras da matria a que se refere, conforme ressalta o Cdigo de Processo
Civil, em seu artigo 145, qual seja:
Art. 145 - Quando a prova do fato depender de conhecimento
tcnico ou cientco, o juiz ser assistido por perito, segundo o
disposto no artigo 421.
1 - Os peritos sero escolhidos entre prossionais de nvel
universitrio, devidamente inscritos no rgo de classe
competente...
2- Os peritos comprovaro suas especialidades na matria
sobre a qual devero opinar, mediante certido do rgo
prossional em que estiverem inscritos.
3 -Nas localidades onde no houver prossionais qualicados
que preencham os requisitos dos pargrafos anteriores, a
indicao dos peritos ser de livre escolha do juiz.
O exame, a diligncia ou qualquer medida que no tenha por
escopo a descoberta de um fato que dependa de habilidade tcnica ou de
conhecimentos tcnicos no constitui, propriamente, uma percia, no rigor do
sentido do vocbulo. (Editora Forense Vocabulrio Jurdico).
1.2. Aspecto histrico
A PERCIA existe desde os mais remotos tempos da
humanidade, quando, reunindo-se em sociedade, iniciou-se o processo
civilizatrio alis, inndvel para caminhar da animalidade racionalidade, pela
experincia ou pelo maior poderio fsico, com que se comandava a sociedade na era
primitiva, ou seja, to antiga quanto contabilidade que foi evoluindo com as
12
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
crescentes mudanas econmicas e a evoluo da humanidade. Nessa poca,
perito, Juiz, legislador eram os que exerciam a lei, ou seja, eram peritos, legisladores,
rbitros e executores ao mesmo tempo. Esse era o germe bsico correspondente ao
exame da situao.
Para uma viso mais detalhada da percia, considerando o
aspecto tempo e espao, o quadro abaixo busca sintetizar a cronologia histrica da
evoluo da percia contbil:
Perodo Principais Acontecimentos
Ano 4000 a.C. Primeiros sinais do uso da contabilidade e primeiros vestgios de percias para
agrimensura.
Ano 1248 a.C. Claras referncias da realizao de percias de levantamento de locais de morte violenta na
obra Si Yuan Lu, do Juiz Song TsEu na China.
Ano 130 d.C. Vestgios de escritas de percia no papiro Abbot, ao tempo do Imperador Adriano Trajano
Augusto. Corresponde a um autntico laudo do mdico Caio Minucio Valeriano, do burgo
de Caranis, a propsito de ferimentos na cabea recebidos por um indivduo chamado
Mysthorion.
Sculo VIII O Imperador Carlos Magno, nas Leis Capitulares, Slicas e Germnicas, exigia a
interferncia de mdicos para analisar ocorrnci as de mortes violentas.
A partir do sculo
XIII
Grande desenvolvimento da percia como instrumento de prova na Grcia, Frana,
Inglaterra e Itlia.
Sculo XIV O papa Gregrio XI, nas Leis Decretais, determinava a realizao de percias mdicas para
a comprovao de casos de impotncia, aborto e leses corporais.
No ano de 1850 A percia surge regulamentada no Brasil pela Lei nmero 556 de 25 de junho de 1850
Cdigo Comercial que estabeleceu o Juzo Arbitral obrigatrio nos casos de abalroao
de navios.
Regulamento nmero 737, de 25 de dezembro de 1850, sobre o funcionamento do perito.
Em matria contbil, escolhido o profissional formado em aula de Comrcio com posse
da Carta de Habilitao.
No ano de 1863 Pela primeira vez, utilizada a arbitragem na chamada Questo Christie, caso que
envolvia a deteno de oficiais da marinha britnica por autoridades policiais brasileiras. A
arbitragem, cujo laudo foi favorvel ao Brasil, foi feita pelo Rei Leopoldo, da Blgica.
No ano de 1866 Revogado o Juzo Arbitral obrigatrio pela Lei nmero 1.350 (o juzo arbitral voluntrio
permaneceu).
No ano de 1911 O governo brasileiro decreta lei sobre peritos contabilistas, estabelecendo suas atribuies.
No ano de 1916 Em 20 de setembro de 1916, aprovado o regulamento pronunciando-se sobre a percia
contbil.
No ano de 1917 Entra em vigor a Lei nmero 3.071, de 1 de janeiro de 1916 Cdigo Civil, que tem
entrado a profisso do contador e, consequentemente, a percia contbil .
No ano de 1939 Entra em vigor o Decreto Lei nmero 1.608, de 18 de setembro de 1939. Definia a
participao do perito nas aes judiciais, mais precisamente no campo do direito civil e
comercial.
No ano de 1946 Entra em vigor o Decreto Lei nmero 9.295 de 27 de maio de 1946, que define as
atribuies do Contador e do Guarda-livros a legalizao da percia contbil.
No ano de 1973 Entra em vigor o Novo Cdigo de Processo Civil, Lei nmero 7.270 de 10 de dezembro
de 1984. Estabeleceu-se que o perito necessi tava de formao universitria.
No final do ano de
2009
O Conselho Federal de Contabilidade aprova as Resolues CFC n 1.243/09, que aprova
a NBC TP 01- Percia Contbil e a Resoluo CFC n 1.244/09, que aprova a NBC PP 01
Perito Contbil.
Quadro n 1: Cronologia Histrica da Percia
O Decreto-Lei n 9.295/46, de 27 de maio de 1946, em seu art.
25, alnea c, atribui:
Percias judiciais ou extrajudiciais, reviso de balanos e de
contas em geral, vericao de haveres, reviso permanente ou
13
peridica de escritas, regulaes judiciais ou extrajudiciais de
avarias grossas ou comuns, assistncia aos Conselhos Fiscais das
sociedades annimas e quaisquer outras atribuies de natureza
conferidas por lei aos prossionais de contabilidade.
Contudo, no primitivo Direito Romano que vamos encontrar
maior clareza da situao, com denies mais objetivas, pois ali j se estabelece a
gura do perito embora no do rbitro quando a deciso de uma questo
dependia da apreciao tcnica de um fato.
Ou seja, tinha o magistrado a faculdade de deferir o juzo da
causa a homens que, segundo circunstncias, melhor pudessem, por seus
conhecimentos tcnicos, pronunciar-se sobre os fatos, e essa pessoa arbiter
constitua-se em verdadeiro Juiz, de modo que era Juiz e perito ao mesmo tempo.
O rbitro que era perito e Juiz ao mesmo tempo detinha o
poder real, feudal, no sistema de castas e privilgios indianos.
H um papiro, contendo tpico de laudo, no qual se descrevem
os estudos e as concluses a que se chegou um prossional indicado para vericar
como e por que um indiano havia falecido por ferimento na cabea.
Deste modo, neste sistema, o laudo (relatrio, parecer etc.) do
perito se constitua na prpria sentena, j que o magistrado a ele estava adstrito.
Superados os tenebrosos tempos da Idade Mdia, com seus
tribunais de inquisio, seus Juzos de Deus e tantos outros barbarismos,
estruturou-se, novamente, renascendo um Direito mais positivo e consentneo
com o novo surto de desenvolvimento ocidental que se seguiu.
1.2.1. Objetivo da percia contbil
Entende-se que o objetivo precpuo da percia contbil de
restabelecer e restaurar a paz social por meio de um processo dialtico, isto ,
mostrando a verdade de um fato a uma ou mais pessoas que a busquem, o que se
materializa atravs do laudo pericial contbil.
O objetivo maior da percia contbil a verdade sobre o objeto
examinado, melhor dizendo, o objetivo maior a transferncia da verdade contbil
para o ordenamento o processo ou outra forma da instncia decisria.
O campo e as situaes em que possvel, a percia contbil
um objetivo difcil de ser alcanado, a no ser que tomemos o caminho das
exemplicaes, pois as situaes que a percia pode atuar so inumerveis,
podendo os objetivos especcos de uma percia contbil assumir variadas formas.
1.3. Legislao bsica
Observamos que toda atividade prossional, dentre outras a da
percia contbil, necessrio se faz que a mesma esteja sujeita s normas legais e
procedimentos especcos.
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
14
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
O Cdigo de Processo Civil (CPC), em sua verso mais antiga
do ano de 1939, j estabelecia algumas regras sobre percia.
Com a criao do Conselho Federal de Contabilidade, atravs
do Decreto-Lei n 9.295/46, imprimiu as primeiras atribuies de cunho legal do
contador, ou seja, parametrizao da percia contbil, conferindo carter privativo
aos contadores diplomados e aos no equiparados legalmente na poca em que se
pode dizer institucionalizada a Percia Contbil no Brasil.
Com o Decreto-Lei n 8.579, de 8/01/1946, signicativas
alteraes foram introduzidas nas normas periciais. Tambm, a
Legislao Falimentar Decreto-lei n 7.661/46, com
alteraes da Lei n 4.983/66, em seu artigo 63, inciso VI;
art. 93 pargrafo nico; art. 169, inciso VI; arts. 211 e 212,
incisos I e II estabeleceu regras de percia contbil, que so
claras ao denirem esta atribuio ao contador (Magalhes,
2004).
Considerando que a percia contbil est em crescente evoluo,
foi, no entanto, com uma nova edio do Cdigo de Processos Civil (CPC), atravs
da lei n 5.869/73, que as percias judicirias foram agasalhadas com tratamento
mais cristalino (HOOG, 2001). Temos, tambm, a legislao trabalhista, o Direito
Comercial (CC/2002), includos no contexto da atividade pericial, da mesma
forma que a jurisprudncia de natureza processual civil. No que diz respeito s
normas de natureza tcnica-contbil, chama-se a ateno para a Resoluo do CFC
n. 1.243/09, que aprovou a NBC TP 01 Percia Contbil, a qual deniu
procedimentos da percia contbil, especicamente aos mencionados nos itens 19
a 30 que se seguem:
Iten
s
Procedimentos da percia contbil
19 O exame a anlise de livros, registros das transaes e documentos.
20 A vistoria a diligncia que objetiva a verificao e a constatao de situao, coisa ou fato, de forma
circunstancial.
21 A indagao a busca de informaes mediante entrevista com conhecedores do objeto ou de fato
relacionado percia.
22 A investigao a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contbil ou parecer pericial contbil o que
est oculto por quaisquer circunstncias.
23 O arbitramento a determinao de valores ou a soluo de controvrsia por critrio tcnico-cientfico.
24 A mensurao o ato de qualificao e quantificao fsica de coisas, bens, direitos e obrigaes.
25 A avaliao o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obrigaes, despesas e receitas.
26 A certificao o ato de atestar a informao trazida ao laudo pericial contbil pelo perito-contador,
conferindo-lhe carter de autenticidade pela f pblica atribuda a este profissional.
27 Concludas as diligncias, o perito-contador apresentar laudo pericial contbil, e o perito-contador
assistente seu parecer pericial contbil, obedecendo aos respectivos prazos.
28 O perito-contador, depois de concludo seu trabalho, fornecer, quando solicitado, cpia do laudo, ao
perito-contador assistente, informando-lhe a data em que o laudo pericial contbil ser protocolizado.
29 O perito-contador assistente no pode firmar o laudo pericial quando o documento tiver sido elaborado
por leigo ou profissional de outra rea, devendo, nesse caso, apresentar um parecer pericial contbil
sobre a matria investigada.
30 O perito-contador assistente, ao apor a assinatura, em conjunto com o perito-contador, em laudo pericial
contbil, no pode emitir parecer pericial contbil contrrio ao laudo.
Quadro n 2: Procedimentos da percia contbil
15
Assim, o servio pericial apresenta o seu ciclo bsico que se
inicia com o pedido de provas pelas partes ou pelo prprio Juiz, ou seja, as percias
requeridas e de ofcio e, em seguida, a nomeao do perito pelo Juiz e termina com a
concluso dos trabalhos, devoluo do processo e a protocolizao do laudo
pericial na justia (Federal ou Estadual).
Aps a solicitao das provas, h um rito normal dos principais
procedimentos na execuo dos trabalhos periciais, qual seja:
Figura n 1: Procedimentos da pericia judicial
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
16
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
2.1 Auditoria
Auditoria o trabalho do auditor. Auditor uma palavra
etimologicamente latina, que vem de auditore, ou aquele que ouve, ouvidor. Fazer
auditoria signica comparar prticas operacionalizadas com procedimentos
normatizados ou previamente estabelecidos.
A auditoria estende ou reduz a extenso da prova em funo da
conabilidade que lhe inspira a estrutura do controle interno.
A realizao do trabalho de auditoria, por via de regra,
permanente, continuado, permitindo ao auditor formar e acumular conhecimento
sobre a entidade auditada. precedida de planejamento, contemplando a avaliao
dos controles internos e o exame acurado da coisa auditada. Normalmente,
multidisciplinar e realizada por equipe de contadores.
A auditoria se desenvolve em duas vertentes: interna e externa.
A auditoria interna objetiva o assessoramento da administrao da entidade e tem a
funo de ser preventiva, j a auditoria externa tem por nalidade a emisso de
opinio sobre a coisa auditada (parecer de auditoria).
2.2 Percia
O trabalho pericial conduzido por meio do exame de
documentos, de dados, informaes, fatos, coisas, depoimentos e inquiries, os
quais, de forma bastante analtica e abrangente, formam o que se denomina prova
pericial. Quando a prova pericial realizada dessa forma, diz-se que ela foi
produzida por pesquisa global.
O trabalho pericial realizado normalmente de forma
individual. Quando o perito tem equipe, esta se limita ao trabalho auxiliar, cando
as provas substanciais e as respostas aos quesitos a cargo do perito.
O trabalho pericial no admite o uso da amostragem, a pesquisa
global.
Ao rmar compromisso com o Juiz e as partes, pela
apresentao da proposta de honorrios, o perito deve conhecer bem o processo.
2. SEMELHANAS E DIFERENAS
ENTRE AUDITORIA E PERCIA
CONTBIL
17
O planejamento do trabalho pericial antecede a apresentao da proposta e a
realizao do trabalho.
Segundo MORAIS (2000), as semelhanas e diferenas
existentes entre percia e auditoria proporcionam, ao estudante e ao prossional,
uma viso da distino e utilidade de ambas. A auditoria no deve ser utilizada
como se fosse percia e esta no deve ser utilizada como se fosse aquela.
A auditoria por meio de relatrio e parecer do auditor reporta-se,
normalmente, a uma parte dos fatos, assumindo que as evidncias e as provas
encontradas representam a universalidade das provas.
A percia, ao contrrio da auditoria, reporta-se a todos os fatos
praticados no perodo determinado. No se utilizam normas geralmente aceitas e,
sim, de norma especca. No se utiliza a conabilidade da estrutura de controles
internos e, sim, da prova pericial encontrada. No entanto, se for percia contbil,
utiliza-se das Normas Brasileiras de Contabilidade Princpios
Fundamentais da Contabilidade. Seu resultado expressa com dedignidade
todos os aspectos envolvidos na prova pericial. Na percia, a prova produzida
absoluta e o exame realizado especco, minucioso, imparcial, global e exato.
Sob qualquer tica, os processos de auditoria e percia
representam sempre o resultado de um considervel conjunto de transaes
complexas, em aspectos sociais, comerciais, econmicos, patrimonial e nanceiro.
Tendo em vista melhorar a compreenso dentre as principais
caractersticas de percia e auditoria, apresenta-se no quadro abaixo uma
comparao adaptada da obra de MORAIS (2005, p. 75):
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
18
Item de comparao Auditoria Percia
Planejamento
Prev o tempo e equipe a serem alocados,
qualificao da equipe, incluindo auditores,
gerentes e scios; a metodologia de
trabalho, extenso e profundidade, produto
final, valor financeiro e forma de
pagamento.
Prev o tempo a ser alocado, a
quantidade de horas, o valor
financeiro, forma de pagamento e a
metodologia a ser utilizada.
Escopo de Trabalho
Os registros contbeis, financeiros e
patrimoniais, normas de controle interno,
documentos e controle operacionalizados e
demonstraes contbeis, normalmente por
amostragem.
A totalidade dos fatos, dos
documentos, das informaes, todo e
quaisquer meios de prova podem ser
utilizados.
Objetivo do trabalho
Emisso de Parecer de auditoria, relatrio
de auditoria, assessoramento, orientao
preventiva e corretiva.
Emisso de laudo pericial
Usurios da informao
Scios, acionistas, administradores,
credores, investidores, rgos fiscalizadores
e pblicos em geral.
As partes e a Justia
Equipe de Trabalho
Auditores gerentes, scios e consultores,
sendo a responsabilidade de gerentes e
scios.
Somente o perito, podendo utilizar
auxiliares sem funo e sem
responsabilidade no processo.
Escopo de trabalho
Constitui prova do auditor, no
necessitando de confirmao junto do
relatrio ou parecer.
Deve acompanhar o laudo pericial
como anexo, para confirmar as
concluses do perito.
Opinio profissional relativa, observa os aspectos mais
relevantes e materiais.
absoluta, necessria, detalhista e
precisa.
Durao do trabalho
continuado. A programao
previamente definida e em perodos
convenientes. repetitivo.
efmero. Tem data prevista para
iniciar e para terminar. No se repete.
Antes de adentrar no contexto da percia judicial, verica-se um
pouco mais a respeito dos objetivos da percia contbil e das qualicaes inerentes
ao perito.
O maior objetivo da percia contbil a verdade sobre o objeto
examinado, a transferncia da verdade contbil para o ordenamento jurdico o
processo ou outra forma da instncia decisria. A percia contbil tem por
objetivo geral a constatao da prova ou demonstrao contbil da verdade real
sobre seu objeto, transferindo-o, atravs de sua materializao o laudo para o
ordenamento da instncia decisria, judicial ou extrajudicial.
Faz-se necessrio observar as qualicaes inerentes ao perito,
uma vez que ele um dos mais importantes auxiliares da Justia, pois do seu
trabalho quase sempre emerge a sentena judicial e o expert, no desempenho da sua
tarefa, deve ter a conduta ilibada, no podendo ter nenhuma mcula sobre o seu
comportamento; do contrrio, seu trabalho pode sofrer impugnaes ou
contestaes das partes ou mesmo a desconana do Juiz. No momento em que o
magistrado decide pelo substanciado em laudos periciais e at em pareceres
tcnicos, est o perito assumindo novas responsabilidades junto prosso, ao
judicirio e sociedade.
Uma das marcas distintivas da prosso contbil a sua
responsabilidade para com o pblico.
Para que possa desempenhar as respeitveis atividades das
funes periciais, deve o perito ser portador de vrias qualidades e, entre elas, as dez
seguintes so imprescindveis, quais sejam:
Honestidade; Justia; Diligncia;
Imparcialidade; Independncia;
Pacincia (tolerncia); Respeito; Discrio;
Perspiccia; Competncia.
19
Relacionamento do
trabalho
Com toda a equipe do auditado em que o
trabalho for desenvolvido.
Com o Juiz, as partes (autor e ru) e o
perito assistente e o Juiz.
Divulgao externa do
resultado do trabalho
Na imprensa escrita, normalmente em
jornal de grande circulao.
No divulgado.
Local de realizao do
trabalho
No escritrio do auditado e do auditor. Normalmente no escritrio do perito.
Divulgao interna do
trabalho
Normalmente o auditor faz reunio com a
equipe do auditado ao final do trabalho
para coloc-la a par do resultado da
auditoria, antes da entrega do relatrio e
parecer.
No divulgado. Fica disposio
das partes na justia.
Autoridade No tem autoridade no processo da
entidade.
Tem a autoridade que dispe a lei e
que concedida pelo Juiz.
Quadro n 3: Caractersticas da Auditoria e Percia
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
A percia judicial aquela realizada dentro dos procedimentos
processuais do poder judicirio, por determinao, requerimento ou necessidade
de seus agentes ativos, e se processa segundo regras legais especcas. Essa espcie
de percia subdivide-se, segundo suas nalidades precpuas no processo judicial,
em meio de prova ou de arbitramento. Ou seja, a percia judicial ser prova quando,
no processo de conhecimento ou de liquidao por artigos, tiver por escopo trazer
a verdade real dos fatos, demonstrvel cientca ou tecnicamente, para subsidiar a
formao da convico do julgador, e ser arbitramento quando, determinada no
processo de liquidao de sentena, tiver por objeto quanticar mediante critrio
tcnico a obrigao de dar em que aquela se constituir.
Esta forma de percia envolve o Estado, o poder judicirio,
quando as partes j esto em litgio e no conseguiram outra forma de entrar em
acordo para resolver a lide. Quando a percia solicitada pelas partes, diz-se ser
percia requerida; e quando determinada pelo Juiz, diz-se ser percia de ofcio.
Nesta forma de percia, segundo FHRER (2003, p.17),
necessrio se faz compreender o que so processo e procedimento. Entende-se que
PROCESSO seja uma sequncia de atos independentes, destinados a solucionar
um litgio, com a vinculao do Juiz e das partes a uma srie de direitos e obrigaes;
PROCEDIMENTO o modo pelo qual o processo anda, ou andamento do
processo. Os procedimentos so comuns ou especiais, conforme sigam um padro
geral ou uma variante. O procedimento comum divide-se em ordinrio e sumrio.
Tendo em vista que ao poder judicirio compete a soluo dos
litgios que lhes so apresentados, o Juiz dirige o processo, competindo-lhe
assegurar s partes a igualdade de tratamento, velar pela rpida soluo do litgio e
prevenir ou reprimir qualquer ato contrrio dignidade da justia (art. 125 do
CPC).
Como descrito por FHRER (2000, p.15 e 22), o processo
civil um actumtriumpersonarum, ou seja, uma relao entre trs pessoas em que um
litigante (autor) pede ao Juiz que lhe reconhea ou faa valer um direito contra uma
outra pessoa (ru). (...) Vrias outras pessoas, porm, participam do processo,
algumas necessariamente e outras de modo facultativo. Em primeiro lugar, teremos
ao lado de cada parte o seu respectivo advogado, pois ningum pode estar em juzo
3. PERCIA JUDICIAL
21
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sem procurador legalmente habilitado (salvo no Juizado Especial Cvel). Temos
depois os auxiliares da justia, conforme art. 145 do CPC, no qual se congura a
pessoa do perito.
Normalmente, esta forma de percia requerida na petio
inicial pelos advogados que defendem as partes envolvidas no processo, autora e r,
que solicita provar a sua arguio por todos os meios de prova admitidos em direito,
conforme artigo 282 do CPC, inclusive e/ou em especial a prova pericial contbil.
Podendo ser requerida por uma das partes ou ambas. O Juiz decidir pelo
deferimento ou no da petio. Na circunstncia em que nenhuma das partes
requeira a percia e o Magistrado entender que seja ela necessria para apoio da
sentena, determinada percia de ocio.
3.1 Percia semijudicial
A percia semijudicial, segundo ALBERTO (2002, p.53 e 54):
aquela realizada dentro do aparato institucional do Estado,
porm fora do Poder Judicirio, tendo como nalidade principal
ser meio de prova nos ordenamentos institucionais usurios.
Esta espcie de percia subdivide-se, segundo o aparato estatal
atuante, em policial(nos inquritos), parlamentar (nas comisses
Parlamentares de Inqurito ou especiais), e administrativo-
tributria(na esfera da administrao pblica tributria ou
conselhos de contribuintes).
Quando for necessrio o trabalho de um perito especializado,
no havendo, nos rgos pblicos, especialistas na matria, esses so solicitados
pela comisso. Deveria ser mediante licitao, mas, dada urgncia de alguns casos,
isso no ocorre e devem ser observados os critrios j existentes.
3.2 Locais de ocorrncia de percia judicial
Ressalta MORAIS (2000, p.75) que a percia judicial pode ser
demandada nas instncias FEDERAL e ESTADUAL. Na federal, a percia visa a
produo de prova para auxiliar na resoluo de conitos entre a Unio ou suas
entidades vinculadas e os cidados e demais entidades privadas. No que concerne
percia no mbito da justia estadual, a mesma objetiva produzir prova para
auxiliar na resoluo de conitos entre os estados e municpios ou suas entidades
vinculadas e os cidados e demais entidades privadas. Apresenta-se abaixo, um
resumo desses locais:
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Itens INSTNCIA ESTADUAL Exemplos de fatos geradores
1. Nas Varas Cveis Estaduais Anulatria; Anulao de Ato Jurdico; Apurao de Haveres;
Avaliao de Patrimnio Incorporado; Busca e Apreenso;
Cobrana; Consignao de Pagamentos; Cambiais - aes
Cambirias - notas promissrias; Cautelar Inominada;
Compensao de crditos; Consignao de depsito para
pagamentos; Declaratrias; Desapropriao de bens; Despejo;
Dissoluo de sociedades; Resoluo de sociedades empresrias e
simples; Excluso de scios; Embargos a Execuo; Estima de
bens penhorados; Execuo; Exibio de livros e documentos;
Extravio e dissipao de bens; Falta da entrega de mercadorias;
Fundo de Comrcio ou empresarial; Impugnao de Crditos
fiscais; Indenizao por perdas e danos; Execuo fiscal;
Liquidao de sociedades empresrias e simples Lucros Cessantes;
Medidas cautelares; Monitria; Ordinria de Cobrana; Prestao
de contas; Produo Antecipada de Provas; Repetio de
Indbitos; Rescisria; Revisional.
2. Nas Varas Criminais Crimes contra a ordem econmica e tributria; Fraudes e Vcios
contbeis; Crimes falimentares; Lavagens de dinheiro e sonegao.
3. Nas Varas de Falncia e
Recuperao Judicial
Recuperao Judicial Preventiva e Suspensiva; Falncias;
Impugnao de Crditos falimentares.
4. Nas Varas de Famlia Avaliaes patrimoniais, inventrios; Avaliaes de penses
alimentcias; Prestao de contas de inventariantes; Divrcios e
Separao de Corpos; prestao de contas em geral.
5. INSTNCIA FEDERAL (Na
Justia Federal)
Execuo fiscal (INSS, FGTS, Imposto de Rendas e tributos
federais em geral); reviso de financiamentos do Sistema
Financeiro Habitacional SFH e aes que envolvem a Unio.
6. Nas Varas da Fazenda Pblica
Estadual e Municipal
Percias envolvendo os tributos estaduais e municipais, como
ICMS, ISS, IPTU, ITBI.
7. Justia do Trabalho Indenizatrias em geral, envolvendo empregados e patres.
8. Nas Varas de Precatrias As execues para a cobrana de dvidas da Fazenda Pblica
(Unio, Estados, Municpio, Autarquias e Fundaes de Direito
Pblico).
Quadro n 4: Fato gerador da percia judicial
23
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Entende por percia contbil extrajudicial aquelas que so
praticadas fora do mbito do Estado, voluntariamente, sem formalidades
processuais ou judiciais, mas com capacidade de produzir efeitos jurdicos.
Normalmente, demandada em situao amigvel entre as partes, quando ainda
no h litgio. ajustada por acordo entre as partes, que se comprometem a aceitar
o resultado apresentado pelo perito, o qual, regra geral, contando com conana
recproca, dispensa a contratao de assistente tcnico e as partes se comprometem
a aceitar os resultados apresentados pelo perito.
Podendo, tambm, servir de instruo a petio inicial, ou seja,
antes de ser protocolada nos Tribunais de Justia para a discusso em juzo, como
nos casos de aes revisionais de contratos bancrios.
O perito, nessas condies, normalmente funciona sem
assistentes indicados pelas partes, j que goza de conana irrestrita de ambas.
menos onerosa do que a pericial judicial.
4. PERCIA EXTRAJUDICIAL
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
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Percia arbitral aquela realizada no juzo arbitral na instncia
decisria criada pela vontade das partes no sendo enquadrada em nenhuma das
anteriores por suas caractersticas especialssimas de atuar parcialmente como se
judicial e extrajudicial fosse. Subdivide-se em probante e decisria, segundo se
destine a funcionar como meio de prova do juzo arbitral, como subsidiadora da
convico do rbitro ou ela prpria a arbitragem, ou seja, funciona seu agente
ativo como o prprio rbitro da controvrsia.
A arbitragem ocial no Brasil uma forma de justia ainda em
fase de implantao. Criada por meio da Lei n 9.307, de 23/09/1996, com
nalidade de dirimir controvrsias relativas a direitos patrimoniais disponveis,
garante s partes litigantes o direito de escolher livremente as regras do direito que
sero aplicadas na arbitragem.
5.1 Cmara de mediao e arbitragem
o local que, destinado a instaurao e tramitao de processos,
trata de resoluo de conitos, gerenciado por segmento organizador da sociedade
civil, em que as partes litigantes comparecem para manifestar o desejo de soluo
por via no estatal.
Arbitragem e Mediao, embora integrantes da mesma famlia,
so diferentes na forma de soluo. Independentemente dos mtodos de
negociao para soluo dos conitos, ambas so modalidades de justia privada.
Na mediao, o trabalho de promover a conciliao e a busca de
alternativas que proporcionem a resoluo amigvel e harmoniosa do conito do
mediador, que poder ser qualquer pessoa capaz, com conhecimento e sabedoria,
escolhido pelas partes e de conana delas.
Na arbitragem, o processo segue um rito muito semelhante ao
processo de Justia do Estado, diferenciado pela celeridade e pela vontade das
partes na escolha deste mtodo de soluo de conitos. Nessa modalidade, o
rbitro e o tribunal conhecem o processo e, nos termos do regulamento da Cmara,
promovem as aes com vistas soluo do conito juntamente com as partes,
submetendo-lhes alternativas de soluo e procurando convenc-las a obter o
consenso.
5. PERCIA ARBITRAL
27
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Esta forma de soluo de conitos, no Brasil, est
regulamentada pela Lei Federal n 9.307/96, conhecida como nossa Lei de
Arbitragem, da qual falaremos com mais detalhes em um capitulo especco sobre
Arbitragem.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
De acordo com o art. 145 do Cdigo de Processo Civil, quando
se busca a prova de um fato, visando esclarecimentos tcnico ou cientco do
mesmo, ou seja, conforme Magalhes e Lunkes, a necessidade de fazer percia se
manifesta nas imperfeies e, em funo disso, o magistrado buscar uma assistncia
de um prossional qualicado na rea de percia, no caso, percia contbil. Diante
dessa necessidade, o perito ser nomeado em consonncia com o art. 421 do
Cdigo de Processo Civil.
O primeiro contato do perito com os autos ocorre aps a
nomeao. Intimado pelo magistrado a apresentar proposta de honorrios,
comparece ao cartrio da vara correspondente e pede carga dos autos.
Essa nomeao do perito ato especco e indelegvel do
magistrado que, na funo de promover a Justia, de forma equnime e
absolutamente isenta, o nomeia para que este produza o laudo pericial que servir
de suporte para auxiliar na deciso do magistrado. Uma vez feita a nomeao, o
expert comunicado por meio do cartrio da vara da Justia correspondente.
No perodo de tempo que lhe for concedida a carga dos autos
normalmente cinco dias deve o perito estudar os mesmos com nalidade de
inteirar-se do seu contedo, avaliar o grau de complexidade, a extenso e tempo
necessrio ao desempenho do mister para, ento, planejar o trabalho pericial e
estimar o valor dos honorrios. Isso feito, o perito comparece ao cartrio da vara e
devolve o processo acompanhado de petio fundamentada com o planejamento e
a proposta de honorrios.
nesta fase de conhecimento dos autos que o perito deve
vericar se est incurso ou no em fatos que lhe impeam ou o torne suspeito pelas
partes para realizar o trabalho.
6.1 Perito do Juiz
O perito um dos mais importantes auxiliares do juzo e, em
muitas percias, imprescindvel para a soluo dos litgios. Tanto assim que o
Cdigo de Processo Civil contemplou este prossional dentre aqueles cujas
atribuies so de grande importncia para auxiliar os juzes nas suas decises.
Assim se manifesta o referido cdigo sobre os auxiliares da Justia:
6. NOMEAO DO PERITO
29
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Art. 139. So Auxiliares do juzo, alm de outros, cujas
atribuies so determinadas pelas normas de organizao
judiciria, o escrivo, o ocial de justia, o perito, o depositrio, o
administrador e o intrprete.
O perito do juzo o expert nomeado por este, que neste ato
determina prazo para a produo da prova pericial e a entrega do respectivo laudo.
Aps a nomeao, o perito oferece proposta de honorrios e planejamento para a
realizao do trabalho pericial. A proposta ento ser submetida s partes para se
pronunciarem e efetuarem o depsito dos honorrios, neste ltimo caso, a parte
autora.
O perito da conana do Juiz, mas a prova pericial s ser
produzida se a parte que solicitar a percia estiver de acordo com os honorrios do
perito. Caso contrrio, ou a percia no ser realizada ou a parte ter que depositar
os honorrios mesmo que com eles no concorde, sob pena de desistncia da prova
pericial.
Contudo, a percia somente ser realizada se o magistrado
estiver de acordo com sua necessidade, pois, caso contrrio, poder indeferir a
petio para produo da prova pericial fundamentada no que preceitua o art. 420
do Cdigo do Processo Civil CPC, conforme segue:
Art. 420 - A prova pericial consiste em exame, vistoria ou
avaliao.
Pargrafo nico. O juiz indeferir a percia quando:
I - a prova do fato no depender de conhecimento especial de
tcnico;
II - for desnecessria em vista de outras provas produzidas;
III - a vericao for Impraticvel.
Se o entendimento do magistrado for no sentido de deferir a
prova pericial, a nomeao ocorrer na forma do art. 421 do CPC:
Art. 421- O juiz nomear o perito, xando de imediato o
prazo para a entrega do laudo.
1 - Incumbe s partes, dentro de cinco dias, contados da
intimao do despacho de nomeao do perito:
I - indicar o assistente tcnico;
II- apresentar quesitos.
2 - Quando a natureza do fato o permitir, a percia poder
consistir apenas na inquirio pelo juiz do perito e dos
assistentes, por ocasio da audincia de instruo e julgamento a
respeito das coisas que houverem informalmente examinado ou
avaliado.
30
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
importante que o perito observe a existncia ou no dos
quesitos do Juiz ou das partes. Caso no haja quesitos formulados, deve ser
vericado o objetivo da discusso desde a inicial e analisado o ato da nomeao,
pois a podem estar implcitos os quesitos ou o direcionamento que o levar
produo da prova pericial.
Uma situao em que frequente a inexistncia de quesitos ou a
existncia de uma abordagem geral substituindo o quesito ocorre em percia de
avaliao patrimonial de empresas. quando os scios dissidentes requerem saber
o valor da empresa, para contestarem ou aceitarem o valor pedido pelos outros
scios.
De acordo como pargrafo 2 do art. 421 do CPC, j transcrito
anteriormente, podemos chamar de percia informal a simples inquirio do perito
e assistentes em audincia, dispensada a apresentao de laudo escrito e
fundamentado. Contudo, embora haja essa previso legal, a situao mais se parece
com um depoimento e no com uma percia, apesar do seu contedo ser tomado a
termo, ou seja, car escrito e assinado pelos peritos. Entretanto, bom esclarecer
que nesse tipo de percia, embora o perito no execute todas as fases de uma percia
formal como vistoria, busca de provas e outros no desobrigam o mesmo de
cumprir todas as formalidades de uma percia formal, como o comportamento
tico, moral, tcnico e tudo o que se espera desse prossional.
6.2. Relacionamento do perito com a causa
O relacionamento do perito com a causa feito por intermdio
do processo. No deve o perito manifestar sua opinio fora dos autos.
Com a Justia, o relacionamento feito por intermdio do
cartrio (secretaria) da vara onde a causa estiver tramitando e, uma vez instalada a
percia, o processo ou os autos cam sob a guarda e responsabilidade do perito.
Assim, o contato do perito com o processo ocorrer em duas oportunidades: a
primeira, para estudo preliminar, visando oferecer planejamento do trabalho e
proposta de honorrios; a segunda, na instalao da percia e que durar at a
entrega do laudo pericial. Aps essas duas ocasies, o relacionamento do perito
com o processo somente ocorrer pelo atendimento de diligncias para
complementao do laudo ou esclarecimento de posicionamentos.
Havendo participao de peritos assistentes, estes s se
manifestaro depois que o perito judicial entregar o laudo ao Juiz, no prazo de dez
dias ou a critrio do perito, durante a realizao do trabalho pericial, se este
entender que h necessidade de trabalho em conjunto.
O perito, para pedir vistas dos autos ou pedir carga do processo
antes de qualquer manifestao das partes sobre sua proposta de honorrios,
dever observar os artigos 134, 135 e 138 do CPC. Esta observao de suma
importncia, pois evitar que seja destitudo do processo ou tenha que renunciar ao
mesmo j em fase adiantada da sua execuo pericial.
31
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
6.3 Impedimento e suspeio do perito do juzo
O impedimento e ou suspeio para aceitao de trabalho
pericial, disciplinado pelos artigos 134, 135 e 138 do CPC, devem obrigatoriamente
ser observados pelo perito. Se de sua inobservao resultar realizao de trabalho
pericial e, principalmente, se uma das partes sentir-se prejudicada, o perito corre o
risco de ver seu trabalho impugnado e seguramente ter cometido atentado contra
o cdigo de tica de sua prosso e isso certamente ser passvel de punio penal,
civil e prossional.
Nos termos do Cdigo do Processo Civil, o perito est
impedido de realizar trabalho pericial quando se encontrar em qualquer das
situaes seguintes:
Art. 134. defeso ao juiz exerceras suas funes no processo
contencioso ou voluntrio:
I - de que for parte;
II - em que interveio como mandatrio da parte, ociou como
perito, funcionou como rgo do Ministrio Pblico, ou prestou
depoimento como testemunha;
III - que conheceu em primeiro grau de jurisdio, tendo-lhe
proferido sentena ou deciso;
IV- quando nele estiver postulando como advogado da parte, o
seu cnjuge ou qualquer parente seu, consanguneo ou am, em
linha reta; ou, na linha colateral at o segundo grau;
V - quando cnjuge, parente, consangneo ou am, de alguma
das partes, em linha reta ou na colateral, at o terceiro grau:
VI - quando for rgo de direo ou de administrao de pessoa
jurdica., parte na causa.
suspeito para realizar trabalho pericial, o perito que se encontre
em qualquer das situaes seguintes:
Art. 135. Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade do
Juiz quando:
I - amigo intimo ou inimigo capital de qualquer das partes;
II - alguma das partes for credora ou devedora do juiz, e seu
cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral at o
terceiro grau;
III - herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador de alguma
das partes;
IV receber ddivas antes ou depois de iniciado o
processo; aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa, ou subministrar meios, para atender
s despesas do litgio;
V - interessado no julgamento da causa em favor de
uma das partes;
32
Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Pargrafo nico. Poder ainda o juiz declarar-se suspeito por
motivo ntimo;
Art. 138. Aplicam-se tambm os motivos de impedimento e de
suspeio:
I- ao rgo do Ministrio Pblico, quando no for parte, e, sendo
0
parte, nos casos previstos nos n s I a IV do art. 135;
II - ao serventurio da justia;
III- ao perito;
IV - ao intrprete
0
1 -A parte interessada dever argir o impedimento ou a
suspeio, em petio fundamentada e devidamente instruda, na
primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos; o juiz
mandar processar o incidente em separado e sem suspenso da
causa, ouvindo o arguido no prazo de 5(cinco) dias, facultando a
prova quando necessria e julgando o pedido.
2 - Nos tribunais caber ao relator processar e julgar o
incidente.
O Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resoluo
CFC 1.244/09, que aprovou a NBC PP 01 Perito Contbil nos itens 16 a 19
trata-se do impedimento e suspeio do Perito Contador quando investido da
funo de perito. Conforme segue transcrito:
16. So situaes fticas ou circunstanciais que impossibilitam o
perito de exercer, regularmente, suas funes ou realizar
atividade pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive
arbitral. Os itens previstos nesta Norma explicitam os conitos
de interesse motivadores dos impedimentos e das suspeies a que
est sujeito o perito nos termos da legislao vigente e do Cdigo
de tica Prossional do Contabilista.
17. Para que o perito possa exercer suas atividades com iseno,
fator determinante que ele se declare impedido, aps, nomeado,
contratado, escolhido ou indicado quando ocorrerem as situaes
previstas nesta Norma, nos itens abaixo.
18. Quando nomeado em juzo, o perito deve dirigir petio, no
prazo legal, justicando a escusa ou o motivo do impedimento.
19. Quando indicado pela parte e no aceitando o encargo, o
perito-contador assistente deve comunicar a ela sua recusa, devi-
damente justicada por escrito, com cpia ao juzo.
Tambm ressaltamos que a Resoluo n 1.244/09, de 10 de
dezembro de 2009, que aprova a NBC PP 01 Perito Contbil, item 16, estabelece
o impedimento e suspeio, ou seja, so situaes fticas ou circunstanciais que
impossibilitam o perito de exercer, regularmente suas funes ou realizar atividade
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive arbitral.
Esses impedimentos e suspeies esto explicitados nos itens
20 a 24, que estabelecem o impedimento legal, impedimento tcnico-
cientco e a suspeio, conforme caracterizado no quadro que se segue:
Im p e d im e n t o s e
s u s p e i o
Prin c ip ais c au s as
Impedimento legal For parte do processo; tiver atuado como perito contratado ou testemunha do processo; tiver atuado como
perito contratado ou testemunha do processo; tiver mantido nos ltimos dois anos relao de trabalho; tiver
interesse, direto ou indireto na lide; exercer cargo incompatvel de perito-contador; receber ddivas;
subministrar despesas no litgio; receber valores ou benefcios.
Impedimento tcnico-
cientfico
No ser sua especialidade a matria em litgio; falta de recursos humanos e materiais; j ter atuado na lide
para a outra parte.
Suspeio Ser amigo ntimo das partes; ser inimigo capital das partes; ser devedor ou credor das partes ou parentes at
terceiro grau; ser herdeiro de alguma das partes; ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;
aconselhar, de alguma forma, parte envolvida na lide; houver qualquer interesse em favor de alguma das
partes e, por fim, o perito pode declarar-se suspeito por motivo ntimo.
Quadro n 5: Principais causas de impedimento e suspeio
6.4 Escusa e recusa
Ao ser nomeado em processo judicial, o perito no poder
escusar-se, a no ser sob alegao de motivo legtimo, como determina o art. 146 do
CPC.
Art. 146 - perito tem o dever de cumprir o ocio, no prazo que
lhe assina a lei, empregando toda a sua diligncia; pode, todavia,
escusar-se do encargo alegando motivo legtimo.
Pargrafo nico. A escusa ser apresentada dentro de cinco dias,
contados da intimao ou do impedimento superveniente sob
pena de se reputar renunciado o direito de aleg-la.
Cabe aqui uma i mpor t ant e obser vao quant o
tempestividade. A nomeao ato indelegvel do Juiz e a lei faculta ao perito o
direito de escusar-se alegando e provando um motivo legtimo, mas somente no
prazo de 5 (cinco) dias a partir da cincia de sua nomeao. Intempestividade de
manifestao dos peritos, especialmente quando vo ao processo requerer
destituio, tem levado muitos juzes a denunciarem os peritos nos respectivos
conselhos prossionais.
A lei processual faculta parte o direito de recusar a indicao
do perito conforme disposto no 1 do art. 138.
Art. 138 1 - A parte interessada dever argir o
impedimento ou a suspeio em petio fundamentada e
devidamente instruda, na primeira oportunidade em que lhe
couber falar nos autos; o juiz mandar processar o incidente em
separado e sem suspenso da causa, ouvindo o argido no prazo
de cinco dias, facultando a prova quando necessria e julgando o
pedido.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Entretanto, de interesse que o perito entenda que escusar-se
um direito, desde que devidamente comprovado o motivo. E recusar-se outro
direito, porm das partes, em no aceitarem a participao do perito no processo. A
recusa nunca pode ocorrer por parte do perito. A lei processual, no seu artigo 339,
dispe sobre o assunto da seguinte maneira:
Art. 339 - Ningum se exime do dever de colaborar com o
Poder Judicirio para o descobrimento da verdade.
aconselhvel que o perito conhea as leis processuais, penais e
outras, atinentes atividade pericial.
6.5 Quesitos
A extenso e profundidade das perguntas podem car limitadas
ao ponto controvertido xado em audincia pelo douto Magistrado ou ilimitadas
se o Juiz no restringir o objeto da prova pericial.
Quesitos so perguntas, inquiries, questionamentos ou
arguies formuladas ou elaboradas pelo Juiz e pelas partes, a serem respondidas
pelo perito sobre questes tidas como obscuras no processo. atravs dos quesitos
que o perito poder realizar a busca de provas e, essas provas, normalmente, so
apresentadas na exordial da ao, conforme o art. 282, do Cdigo de Processo
Civil, mas quando so insucientes ao deslinde da causa, segundo MORAIS (2000,
p.129):
Toda ateno do perito deve estar voltada ao contedo dos
quesitos, pois a resposta a eles signica o porqu da realizao do
trabalho pericial. O normal que os quesitos sejam apresentados
e deferidos antes da proposta de honorrios, para que o doutro
perito possa mensurar o nmero de horas a serem gastas. Mas
possvel que os quesitos sejam apresentados a qualquer tempo.
Portanto, interessante solicitar ao Exmo. Juiz que sejam
apresentados antes da proposta de honorrios. Durante a
diligncia, as partes podem apresentar quesitos suplementares
(CPC, art. 425), porm, somente antes da apresentao do
laudo, no podendo os mesmos ampliarem o objetivo da percia.
6.5.1 Quesitos suplementares
Segundo MORAIS (2000, p.130), quesitos suplementares so
arguies efetuadas pelas partes ao perito, durante a feitura de um laudo pericial.
O Cdigo de Processo Civil, em seu artigo 425, prev a
apresentao de quesitos suplementares, conforme segue:
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Art. 425 - Podero as partes apresentar, durante a diligncia,
quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dar
o escrivo cincia parte contrria.
Dessa forma, aps a entrega da prova pericial contbil, o Juiz
abre s partes vista do mesmo. Nesse momento processual, as partes podem
necessitar de complementar o laudo, atravs de novos exames pertinentes.
Compete ao Juiz acatar ou indeferir a solicitao das partes dos quesitos
suplementares.
Caso seja deferido, o perito vai realizar seu trabalho com base
nos quesitos complementares devendo observar e ter cuidado no que diz respeito
coerncia entre o primeiro laudo e o suplementar. Podendo, tambm, serem
efetuados durante a execuo do laudo pericial, que podem servir
complementao dos quesitos preliminares.
A parte que no zer quesitos na fase inicial, ou seja, no
momento determinado pelo Juiz, de acordo com art. 421 do CPC, no mais poder
efetuar perguntas durante a fase das diligncias, o que bastante lgico, pois trata-
se agora de complementao de perguntas. Se no fez antes, no h por que falar
em completar questionamentos preliminares que, na verdade, no efetuou.
6.5.2 Quesitos impertinentes
So questionamentos efetuados pelas partes ao perito que, de
alguma forma, so inoportunos para aquele momento processual, cujas
respostas sempre sero alheias aos propsitos dos litigantes ou da justia. Neste
caso, poder a resposta car prejudicada, ou seja, fora do objeto da prova
pericial.
No art. 426 do Cdigo de Processo Civil, assim dene sobre o
assunto, Art. 426 - Compete ao Juiz: I - indeferir quesitos impertinentes; II -
formular os que entender necessrios ao esclarecimento da causa.
Responder quesito que nada tem a ver com o litgio ou com
despropsito pelo qual foi nomeado pelo Juiz, apenas sob o amparo de que
perguntas efetuadas devem ser respondidas assumir riscos desnecessrios, alm
de ter que responder por outros danos causados, como o de induzir o Juiz a erro.
6.5.3 Quesitos incompletos, insucientes e ausncia de
quesitos
comum, no labor da percia contbil, existirem alguns
quesitos mal formulados ou tendenciosos que podem comprometer o resultado de
uma percia, por motivo da falta de conhecimento tcnico contbil de certos
arguidores. Por isso, formulam suas perguntas de maneira supercial, recheada de
doutrinas e jurisprudncias, ou outros fatos alheios a discusso, acarretando, assim,
interpretaes dbias por parte do perito judicial e, consequentemente, dos leitores
dos laudos tcnicos.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Normalmente, quando os quesitos so formulados com auxlio
dos peritos contadores assistentes, emergem com uma sequncia lgica de
perguntas.
O perito deve car atendo veracidade dos fatos e s respostas
oferecidas a qualquer quesito, mesmo quelas que chamamos de reaproveitamento
de perguntas, pois tem grande responsabilidade sobre aquilo que informar nos
autos do processo.
Neste entendimento, o Cdigo de Processo Civil, no seu artigo
339, disciplina no que se refere busca da prova pericial para responder quesitos,
assim transcrito: Art. 339 - Ningum se exime do dever de colaborar com o Poder
Judicirio para o descobrimento da verdade.
A est a gura inconteste do perito conhecedor do seu mister
como responsvel por encontrar a verdade dos fatos em litgio, quando da busca
da prova pericial contbil.
Na eventual ausncia de quesitos, o perito oferecer respostas
aos assuntos controvertidos observando o objeto da lide em discusso, o que
ajudar a expor com mincias e a apresentar o resultado na forma de concluso.
Nesses casos, ele mesmo delimitar o campo da investigao pericial. sempre
importante que o perito entenda muito bem o que est sendo pleiteado na ao e,
no caso de falta de quesitos, este entendimento assume relevncia maior.
6.5.4 Quesitos de esclarecimentos
O art. 435 do CPC disciplina que as perguntas devem sempre
surgir na forma de quesitos e que devero ser comunicadas ao perito judicial no
prazo de 5 (cinco) dias teis antes da audincia.
Art. 435. A parte, que desejar esclarecimento do perito e do
assistente tcnico, requerer ao juiz que mande intim-lo a
comparecer audincia, formulando desde logo as perguntas, sob
forma de quesitos.
Pargrafo nico. O perito e o assistente tcnico s estaro
obrigados a prestar os esclarecimentos a que se refere este artigo,
quando intimados 5 (cinco) dias antes da audincia.
Portanto, quesitos de esclarecimentos so perguntas ou
questionamentos efetuados pelo Juiz ou pelas partes por ocasio das arguies
principais ou suplementares. Esses esclarecimentos so prestados pelo perito em
audincia ou atravs de mandado de intimao. Neste caso, o perito ca, ento,
obrigado a esclarecer o que lhe for perguntado sobre o laudo que produziu e
protocolado no Tribunal de Justia da Comarca em que est sendo realizada a
percia contbil.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
"O perito assistente, segundo o Cdigo de Processo Civil, o
prossional que atua no processo, em defesa dos interesses do seu cliente,
conforme disciplinado no art. 421, inciso I."
O perito assistente contratado pelas partes, autora e r, dentro
do prazo processual. A funo desse perito assistir o perito do juzo durante a
elaborao do trabalho pericial e manifestar-se, caso necessrio, sobre o laudo
pericial apresentado, podendo com ele concordar ou dele discordar.
7.1 Funes do perito assistente
A funo principal do perito assistente proteger o interesse da
parte que o contratou, no sentido de que haja imparcialidade nas concluses do
perito do juzo sobre a resposta de cada quesito. Sua participao tambm est
disciplinada no art. 145 do Cdigo de Processo Civil, conforme segue:
Art. 145 - Quando a prova do fato depender de conhecimento
tcnico ou cientco, o juiz ser assistido por perito, segundo o
disposto no artigo 421.
1 - Os peritos sero escolhidos entre prossionais de nvel
universitrio, devidamente inscritos no rgo de classe
competente...
2- Os peritos comprovaro suas especialidades na matria
sobre a qual devero opinar, mediante certido do rgo
prossional em que estiverem inscritos.
3 - Nas localidades onde no houver prossionais
qualicados que preencham os requisitos dos pargrafos
anteriores, a indicao dos peritos ser de livre escolha do juiz.
H controvrsias a respeito de o perito assistente ser
considerado perito ou no no processo. Se analisado pelo contedo do art. 421,
cam as perguntas: o que considerado perito para a lei? Somente aquele da
conana do Juiz? E os outros tidos como da conana das partes? muito
importante que analise o fato pelo seguinte prisma:
7. PERITO ASSISTENTE
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Uma das funes do perito assistente proteger o patrimnio
do seu cliente, acompanhando os passos do perito ocial. Surgem a dois pontos
importantes que merecem destaque: primeiro - emergindo desse trabalho alguma
prova contrria ao laudo pericial, seu dever junt-la aos autos e contestar o
trabalho do perito ocial, pois sabe-se que aquele prossional da conana da
parte que o indicou e exerce o mister no interesse do seu cliente; segundo existe,
no Judicirio brasileiro, entendimento de que o trabalho do perito assistente igual
ao do advogado da parte e no queremos discordar disso. Entretanto, o que se quer
demonstrar que a contestao do assistente tcnico por meio do seu parecer pode
trazer a prova aos autos que o perito ocial no encontrou e o Juiz amparado na lei,
querendo, at pode decidir favoravelmente, consubstanciado nesta prova, pois o
magistrado no est adstrito ao laudo ocial. Vejamos o que disciplina o art. 427 do
CPC.
Art. 427. O juiz poder dispensar prova pericial quando as
partes, na inicial e na contestao, apresentarem sobre as
questes de fato pareceres tcnicos ou documentos elucidativos
que considerar sucientes.
O perito assistente tem o mesmo poder delegado por lei ao
perito ocial de diligenciar, contestar, contrariar provas, discutir nos autos e at em
audincia de instruo e julgamento, o trabalho ocial do perito, e isso nos leva a
armar que o trabalho deve ser exercido com todo o cuidado possvel, pois s pode
executar os servios acima quem conhece tcnica e cienticamente os fatos.
Concluindo, ca claro que o perito assistente deve ser um prossional com todos
os atributos e conhecimentos do perito ocial, exceto apenas no que tange ao
impedimento, suspeio e imparcialidade.
Sobre este assunto, o Conselho Federal de Contabilidade, por
meio da Resoluo 1.244/09, que aprova a NBC PP 01 Perito Contbil, que nos
diz:
Competncia tcnico-cientca pressupe ao perito manter
adequado nvel de conhecimento da cincia contbil, das
Normas Brasileiras de Contabilidade, das tcnicas contbeis,
da legislao relativa prosso contbil e aquelas aplicveis
atividade pericial, atualizando-se, permanentemente, mediante
programas de capacitao, treinamento, educao continuada e
especializao.
No nos parece salutar para o processo, nem para as partes, um
leigo discutir matrias de to grande relevncia sem, contudo, possuir
conhecimento paralelo ao do perito ocial.
O papel do perito assistente se destaca no momento em que ele
conhece as suas obrigaes junto parte, especialmente a partir da inicial, quando
na elaborao do parecer tcnico, na elaborao dos quesitos e a manifestao
sobre o laudo do perito ocial.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
O parecer tcnico aqui tratado to somente a posio de um
prossional conhecedor do assunto sobre as controvrsias da causa, que servir de
instrumento para que o Juiz dera ou no a realizao da prova pericial, como
dene o art. 282 do CPC.
Art. 282. A petio inicial conter:
1- (omissis).
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade
dos fatos alegados.
tambm importante que os peritos observem que devem
comprovar sua regularidade como prossionais, ou seja, aptos realizao do
trabalho pericial, com a apresentao de certido passada pelo rgo regulador do
exerccio da sua prosso.
O Conselho Federal de Contabilidade, por meio da NBC PP 01,
no item da Habilitao Prossional, j disciplinou que peritos so todos os
contadores atuando no processo, quer na condio de peritos ociais, quer na de
peritos das partes. Assim, determinou que o contador, quando investido na funo
de perito, deve comprovar estar apto a exercer as atividades periciais. Entende o
CFC que, agindo dessa forma, evita que pessoas portadoras de registros baixados,
suspensos ou de qualquer forma impedidos, executem tarefas periciais contbeis.
Vejamos o que diz a NBC PP 01 Perito Contbil sobre o assunto:
O perito deve comprovar sua habilitao prossional por
intermdio da Declarao de Habilitao Prossional - DHP,
de que trata a Resoluo CFC n. 871/00. permitida a
utilizao da certicao digital, em consonncia com a
legislao vigente e as normas estabelecidas pela Infra-Estrutura
de Chaves Pblicas Brasileiras - ICP-Brasil.
Hoje, j est regulamentado este tipo de certido por meio da
Resoluo CFC n. 1.244 que, atravs dos itens 7 a 13, trata-se da Habilitao
Prossional que o perito deve comprovar atravs da Declarao de Habilitao
Prossional - DHP, eletrnica, devendo ser colocada na primeira folha, aps a
assinatura de cada prossional, no laudo pericial contbil ou no parecer pericial
contbil.
7.2. Caractersticas e funes do perito do juzo e do perito
assistente
O perito do juzo e o perito assistente tm funes distintas
nos autos, embora devam trabalhar para o esclarecimento da verdade. A distino
de funes consiste em que o perito do juzo trabalha somente para a causa, no se
importando a qual das partes assiste a razo e sempre se reportando ao Juiz. J o
perito assistente reporta-se fora dos autos parte que o contratou e dentro dos
autos ao Juiz, contestando ou concordando com a posio do perito do juzo.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
PERITO DO JUZO PERITO ASSISTENTE
Nomeado pelo Juiz Indicado pela parte
Confiana do Juiz De confiana da parte
Sujeita-se s regras de impedimento e suspeio No est sujeito s regras de impedimento e
suspeio
A seu critrio poder ou no trabalhar em conjunto
com o perito assistente
Aguardar posicionamento do perito do Juiz
para realizao de trabalho conjunto
Emite laudo pericial art. 433 do CPC Emite o parecer sobre o laudo do perito do
juzo CPC art. 433, pargrafo nico.
Substitudo por deciso do Juiz Substitudo pela parte que o contratou
Honorrio homologado pelo Juiz Honorrio contratado diretamente pela parte
Compromisso com a causa, no se importando a
quem assiste a razo.
Compromisso com a causa, mas se reporta
diretamente parte que o contratou.
Quadro n 6: Perito do juzo e assistente tcnico
Em Percia Contbil, o Conselho Federal de Contabilidade
preconiza por meio da Resoluo CFC 1243/09, que aprova a NBC TP 01 Percia
Contbil, que:
6. O perito-contador assistente pode, to logo tenha conhe-
cimento da percia, manter contato com o perito-contador, pondo-
se disposio para o planejamento, para o fornecimento de
documentos em poder da parte que o contratou e ainda para a
execuo conjunta da percia. Uma vez recusada a participao,
o perito-contador pode permitir ao assistente tcnico acesso aos
autos e aos elementos de prova arrecadados durante a percia,
indicando local e hora para exame pelo assistente tcnico.
Quanto elaborao do laudo pericial contbil, diz o CFC:
58. O laudo pericial contbil e o parecer pericial contbil so
documentos escritos, nos quais os peritos devem registrar, de
forma abrangente, o contedo da percia e particularizar os
aspectos e as minudncias que envolvam o seu objeto e as buscas
de elementos de prova necessrios para a concluso do seu
trabalho.
Nem sempre possvel ou conveniente ao perito assistente
participar da elaborao do laudo pericial conjuntamente com o perito do juzo.
Essa impossibilidade ou inconvenincia est em funo de algumas variveis,
como:
a) incompatibilidade do grau de imparcialidade do perito
assistente com o perito do juzo;
b) pontos de vista diferentes sobre matrias da prova pericial;
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
c) diculdades de relacionamento entre ambos;
d) conhecimento antecipado pelas partes sobre o contedo do
laudo pericial.
Em que pesem as impossibilidades ou inconvenincias citadas, a
realizao do trabalho em conjunto, quando possvel, poder trazer algumas
vantagens, conforme a seguir demonstradas:
a) discusso e esclarecimentos de pontos polmicos da prova
pericial;
b) eliminao de divergncias sobre matrias da prova pericial;
c) celeridade do processo;
d) cooperao na realizao de diligncias.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
O planejamento tem como objetivo principal identicar o
objeto da percia e denir o escopo e os procedimentos do trabalho a ser executado
na busca da prova pericial, servindo de base para fundamentao da proposta de
honorrios para demonstrar, com clareza, ao MM. Juzo a complexidade, o tempo
necessrio, as diligncias, a equipe tcnica, os custos diretos e indiretos para manter
a estrutura do escritrio etc., justicando-se, assim, o quanto e o porqu dos custos,
desde a leitura dos autos e coleta das informaes iniciais at a produo do laudo
pericial. Um planejamento bem elaborado evita que o Juiz, por falta de
legitimidade, acabe arbitrando um valor que no seja suciente para cobrir os
custos diretos e indiretos do trabalho pericial.
O planejamento um guia a ser seguido que consiste na
quanticao do tempo necessrio realizao de cada etapa da percia, na
estimativa do valor dos honorrios de uma forma organizada com as reexes
necessrias e as medidas que devem ser tomadas em cada quesito ou questo; na
falta destes, a anlise feita atravs do objeto da lide.
Inicialmente, para se planejar com eccia, preciso seguir
etapas que, dependendo da percia a ser realizada, necessrio um plano que
depende:
a. Pleno conhecimento do processo, se for judicial, e o
direcionamento dos objetivos;
b. Conhecimento de todos os fatos que motivam percia,
inclusive a identicao do local de realizao da percia;
c. Levantamento prvio dos recursos disponveis para o exame;
d. Do prazo de execuo das atividades em entregar o laudo ou
parecer;
e. Acessibilidade aos dados, atravs de diligncias;
f. Conhecer os peritos assistentes;
g. Vericar a relevncia e o valor da causa;
h. Vericar o planejamento das horas despendidas para a
execuo do trabalho pericial.
Pensar que o elenco de quesitos j um guia suciente para a
realizao das atividades periciais um ledo engano; questionamentos, ou seja, o
8. PLANEJAMENTO DA PERCIA E
PROPOSTA DE HONORRIOS
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
que as partes desejam saber apenas mais um detalhe a ser observado pelo perito.
Ter pleno conhecimento dos fatos base necessria para a
realizao do trabalho tcnico. Nesse sentido, no basta uma simples leitura
dinmica dos autos, e, sim, uma anlise minuciosa e interpretativa, o que demanda
tempo e custo para a busca da prova pericial. Entretanto, para se planejar com
ecincia os honorrios, fundamental que o perito conhea com profundidade o
objeto da percia. Esse conhecimento, somado experincia do especialista a uma
leitura minuciosa dos autos e, principalmente, dos quesitos, possibilitar prever
com preciso os procedimentos que devero ser adotados para obteno da prova
pericial e, consequentemente, apresentar uma proposta de honorrios que
contemple todos os gastos futuros.
8.1 Proposta de honorrios
O Cdigo de Processo Civil ou mesmo os conselhos
prossionais no conceituaram honorrios prossionais. O CPC introduziu, em
alguns artigos, o seu disciplinamento e os conselhos prossionais apenas se
limitaram normatizao para os prossionais que atuam na atividade pericial.
Art. 20 do CPCA sentena condenar o vencido a pagar ao
vencedor as despesas que antecipou e os honorrios advocatcios.
Essa verba honorria ser devida, tambm, nos casos em que o
advogado funcionar em causa prpria.
Pargrafo primeiro O Juiz, ao decidir qualquer incidente ou
recurso, condenar nas despesas o vencido.
Pargrafo segundo - As despesas abrangem no s as custas dos
atos do processo, como tambm a indenizao de viagem, diria
de testemunha e remunerao ao assistente tcnico.
Pargrafo terceiro Os honorrios sero xados entre o mnimo
de dez por cento (10%) e o mximo de vinte por cento (20%)
sobre o valor da condenao, atendidos:
a) O grau de zelo do prossional;
b) O lugar de prestao de servios;
c) A natureza e importncia da causa, o trabalho realizado pelo
advogada e o tempo exigido para o seu servio
Pargrafo quarto- Nas causas de pequeno valor (...) *redao
dada pela Lei n 8952, de 13/12/1994).
Pargrafo quinto Nas naes de indenizaes por ato poltico
contra pessoa, (...)
Um dos maiores problemas encontrados pelo perito, j no incio
das atividades periciais, o de planejar e oferecer seus honorrios por meios de
proposta clara, com planejamento das horas e que venha atender s partes no
litgio.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
No esboo da proposta de honorrios, o perito deve obedecer
s normas de sua prosso que dispuserem sobre o assunto. Se for contador, deve
esboar um planejamento para a realizao do trabalho pericial, assim como uma
proposta de honorrios compatvel, considerando vrios parmetros e levando em
conta os fatores especicados nas Normas Brasileiras de Contabilidade,
denominadas Normas Prossionais do Perito, conforme segue:
Segundo a Resoluo n 1.243/2009, que aprova a NBC TP 01
Percia Contbil:
31. O planejamento da percia a etapa do trabalho pericial,
que antecede as diligncias, pesquisas, clculos e respostas aos
quesitos, na qual o perito estabelece os procedimentos gerais dos
exames a serem executados no mbito judicial, extrajudicial
para o qual foi nomeado, indicado ou contratado, elaborando-o a
partir do exame do objeto da percia.
32. Enquanto o planejamento da percia um procedimento
prvio abrangente que se prope a estabelecer todas as etapas da
percia, o programa de trabalho a especicao de cada etapa a
ser realizada que deve ser elaborada com base nos quesitos e/ou
no objeto da percia.
Objetivos
33. Os objetivos do planejamento da percia so:
(a) conhecer o objeto da percia, a m de permitir a adoo de
procedimentos que conduzam revelao da verdade, a qual sub-
sidiar o juzo, o rbitro ou o interessado a tomar a deciso a
respeito da lide;
(b) denir a natureza, a oportunidade e a extenso dos exames a
serem realizados, em consonncia com o objeto da percia, os
termos constantes da nomeao, dos quesitos ou da proposta de
honorrios oferecida pelo perito;
(c) estabelecer condies para que o trabalho seja cumprido no
prazo estabelecido;
(d) identicar potenciais problemas e riscos que possam vir a
ocorrer no andamento da percia;
(e) identicar fatos que possam vir a ser importantes para a
soluo da demanda de forma que no passem despercebidos ou
no recebam a ateno necessria;
(f) identicar a legislao aplicvel ao objeto da percia;
(g) estabelecer como ocorrer a diviso das tarefas entre os
membros da equipe de trabalho, sempre que o perito necessitar de
auxiliares;
(h) facilitar a execuo e a reviso dos trabalhos.
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Manual de Procedimentos Periciais CRC-GO/ASPECON-GO
Desenvolvimento
34. Os documentos dos autos servem como suporte para ob-
teno das informaes necessrias elaborao do planejamento
da percia.
35. Em caso de ser identicada a necessidade de realizao de
diligncias, na etapa de elaborao do planejamento, devem ser
considerados, se no declarada a precluso de prova documental,
a legislao aplicvel, documentos, registros, livros contbeis,
scais e societrios, laudos e pareceres j realizados e outras
informaes que forem identicadas como pertinentes para
determinar a natureza do trabalho a ser executado.
36. O planejamento da percia deve ser mantido por qualquer
meio de registro que facilite o entendimento dos procedimentos a
serem adotados e sirva de orientao adequada execuo do tra-
balho.
37. O planejamento deve ser revisado e atualizado sempre que
fatos novos surjam no decorrer da percia.
38. O planejamento deve ser realizado pelo perito-contador,
ainda que o trabalho venha a ser realizado de forma conjunta
com o perito-contador assistente, podendo este orientar-se no
referido planejamento.
Riscos e custos
39. O perito, na fase de elaborao do planejamento, com vistas
a elaborar a proposta de honorrios, deve avaliar os riscos
decorrentes de responsabilidade civil, despesas com pessoal e
encargos sociais, depreciao de equipamentos e despesas com ma-
nuteno do escritrio.
Equipe tcnica
40. Quando a percia exigir a necessidade de utilizao de
trabalho de terceiros (equipe de apoio, trabalho de especialistas
ou prossionais de outras reas de conhecimento), o
planejamento deve prever a orientao e a superviso do perito,
que assumir responsabilidade pelos trabalhos executados
exclusivamente por sua equipe de apoio.
41. Quando a percia exigir a utilizao de percias inter-
disciplinares ou trabalho de especialistas, estes devem estar devi-
damente registrados em seus conselhos prossionais, quando
aplicvel, devendo o planejamento contemplar tal necessidade.
Cronograma
42. O perito-contador deve levar em considerao que o pla-
nejamento da percia, quando for o caso, inicia-se antes da
elaborao da proposta de honorrios, considerando-se que, para
apresent-la ao juzo, rbitro ou s partes no caso de percia
extrajudicial, h necessidade de se especicar as etapas do
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trabalho a serem realizadas. Isto implica que o perito-contador
deve ter conhecimento prvio de todas as etapas, salvo aquelas
que somente sero identicadas quando da execuo da percia,
inclusive a possibilidade da apresentao de quesitos
suplementares, o que ser objeto do ajuste no planejamento.
43. O planejamento da percia deve evidenciar as etapas e as
pocas em que sero executados os trabalhos, em conformidade
com o contedo da proposta de honorrios a ser apresentada,
incluindo-se a superviso e a reviso do prprio planejamento, os
programas de trabalho quando aplicveis, at a entrega do
laudo.
44. No cronograma de trabalho, devem car evidenciados,
quando aplicveis, todos os itens necessrios execuo da
percia, tais como: diligncias a serem realizadas, deslocamentos,
necessidade de trabalho de terceiros, pesquisas que sero feitas,
elaborao de clculos e planilhas, respostas aos quesitos, prazo
para entrega do laudo e outros, de forma a assegurar que todas as
etapas necessrias realizao da percia sejam cumpridas.
45. Para cumprir o prazo determinado ou contratado para
realizao dos trabalhos de percia, o perito deve considerar em
seus planejamentos, quando aplicveis, entre outros, os seguintes
itens:
(a) o contedo da proposta de honorrios apresentada pelo
perito-contador e aceita pelo juzo, pelo rbitro ou pelas partes no
caso de percia extrajudicial ou pelo perito-contador assistente;
(b) o prazo suciente para solicitar e receber os documentos, bem
como para a execuo e a entrega do trabalho;
(c) a programao de viagens, quando necessrias.
Concluso
46. A concluso do planejamento da percia ocorre quando o
perito-contador completar as anlises preliminares, dando
origem, quando for o caso, proposta de honorrios (nos casos
em que o juzo ou o rbitro no tenha xado, previamente,
honorrios denitivos), aos termos de diligncias e aos
programas de trabalho. Um modelo de planejamento para
percia judicial encontra-se em anexo ao nal desta Norma.
O perito do juzo e o perito assistente devem estabelecer
previamente seus honorrios, mediante avaliao dos servios, considerando-se,
entre outros, os seguintes fatores:
a) a relevncia, o vulto, o risco e complexidade dos servios a
executar;
b) as horas estimadas para realizao de cada fase do trabalho;
c) a qualicao do pessoal tcnico que ir participar da
execuo dos servios;
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d) o prazo xado, quando indicado ou escolhido, e o prazo
mdio habitual de liquidao, se nomeado pelo Juiz;
e) a forma de reajuste e de parcelamento, se houver;
f) os laudos interprossionais e outros inerentes ao trabalho;
g) no caso do perito contador assistente, o resultado que, para o
contratante, advir com o servio prestado, se houver.
Para melhor compreenso deste estudo, apresentamos sugesto
ilustrativa de planejamento (quantidade de horas, valor unitrio e total) que poder
ser til em todas as percias de que estamos tratando:
HONORRIOS PERICIAIS
CUSTO DA PERCIA HORAS TOTAL
ESPECIFICAO DO TRABALHO Previstas R$/Hora R$
1. Planejamento do trabalho pericial. 05 100,00 500,00
2. Estudo, manuseio e interpretao do processo. 22 100,00 2.200,00
3. Pesquisas e anlise de livros e documentos contbeis (2003 a 2004). 12 100,00 1.200,00
4. Pesquisas e anlise de livros e documentos fiscais (2003 a 2004). 12 100,00 1.200,00
5. Responder quesitos da Requerida. 16 100,00 1.600,00
6. Responder quesitos da Requerente. 20 100,00 2.000,00
7. Elaborao do laudo pericial. 42 100,00 4.200,00
8. Reviso final. 07 100,00 700,00
SOMA 136 100,00 13.600,00
Tabela n 1: Especicao dos honorrios periciais
Magalhes (2004, p.82) segue um modelo de planejamento
semelhante. Deve-se observar, no modelo de petio de estimativa dos honorrios
periciais apresentado abaixo, o item "4", em que menciona demonstrativo anexo
contendo as horas prossionais estimadas nas vrias fases do trabalho pericial:
EXMO. SR JUIZ DE DIREITO DA (...) VARA CVEL DA
COMARCA DE (...).
() espao, aproximadamente cinco espaos duplos
nmero do processo
tipo de ao
nome autor
nome do ru