Material de Apoio Unidade 1 - A Execução Fiscal No Novo CPC
Material de Apoio Unidade 1 - A Execução Fiscal No Novo CPC
Material de Apoio Unidade 1 - A Execução Fiscal No Novo CPC
RESUMO
A morosidade do Poder Judiciário, aliada a alta taxa de congestionamento das
ações de execução fiscal, vem motivando vários estudos na busca de soluções
efetivas para ambos os problemas. Nesse contexto, foi promulgado o novo Código
de Processo Civil, cujo foco reside simplificação e agilização dos processos no Poder
Judiciário. Este trabalho pretende apontar algumas alterações trazidas na ação de
execução fiscal pela nova Codificação, e demonstrar que todas as alterações que
favoreçam a cobrança de dívidas nos processos de execução em geral, tornando o
procedimento mais célere e eficaz, jamais podem ser interpretadas como não
aplicáveis às execuções fiscais, onde a natureza do crédito executado interessa a
toda a coletividade.
ABSTRACT
The slowness of the Judiciary, coupled with the high congestion rate of tax
enforcement actions, has motivated several studies in the search for effective
solutions to both problems. In this context, the new Civil Procedure Code was
promulgated, whose focus is simplification and streamlining of the processes in the
Judiciary. This work intends to point out some changes brought in the tax
enforcement action by the new Codification, and to demonstrate that all the
changes that favor the collection of debts in the execution processes in general,
making the procedure faster and more efficient, can never be interpreted as not
applicable to tax executions, where the nature of the credit executed interests the
whole society.
1
Procuradora do Estado de Minas Gerais. Coordenadora da 2ª Procuradoria de Dívida Ativa, integrante
do Núcleo Coordenador da Dívida Ativa da AGE/MG. Mestre em Direito Tributário pela UFMG.
Professora no Curso de Especialização em Direito Tributário do CAD – Centro de Atualização em
Direito.
1
SUMÁRIO
1. Introdução.....................................................................................3
2. Competência..................................................................................6
3. Prescrição intercorrente...................................................................7
4. Desconsideração da personalidade jurídica.........................................9
5. Desistência da ação.......................................................................12
6. Seguro-garantia e carta de fiança bancária......................................13
7. Adjudicação..................................................................................17
8. Honorários de sucumbência............................................................19
9. Penhora de veículos automotores ....................................................21
10. Conclusões.................................................................................22
11. Referências bibliográficas..............................................................24
2
1. Introdução
Apesar do avanço no acesso à justiça pela população, inúmeros
percalços ainda persistem no sentido de se garantir os direitos de fato.
Entre estes, insere-se a morosidade do processo judicial, que corrobora a
opinião de Rui Barbosa, traduzida na célebre frase a ele atribuída: “Justiça
tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”.
Essa morosidade, no entanto, não é prejudicial apenas aos cidadãos.
Os entes públicos sofrem em demasia com a crise da Justiça brasileira,
principalmente no que se refere a um tipo especial de ação judicial, que é a
execução fiscal.
O Conselho Nacional de Justiça encomendou ao IPEA uma pesquisa,
publicada em 2014, que contém dados alarmantes.2 Embora a pesquisa
tenha abrangido apenas as execuções fiscais no âmbito federal, muitas de
suas conclusões podem ser transpostas para o âmbito estadual e municipal,
dada a similitude dos problemas encontrados na esfera federal com a
realidade dos Estados-membros e Municípios.
41,4% de todos os processos que tramitam no Judiciário são de
execução fiscal. Esses processos contam com uma taxa de
congestionamento de 91%, o que significa dizer que de cada 100 processos
que foram propostos em 2013 apenas 9 foram baixados. Destes, apenas
33,9% o foram pelo pagamento da dívida, sendo os demais extintos por
outras causas, como a prescrição (17,7%) ou o cancelamento do débito
(17%), por exemplo.
Detectou-se, ainda, que quanto maior a duração do processo, menor
o índice de extinção por adimplemento.
A morosidade da justiça e a crise do Judiciário têm sido objeto de
insistentes tentativas de reforma nas últimas décadas, geralmente baseadas
na alteração das leis que regulam os procedimentos judiciais.
A chamada Reforma do Judiciário, trazida com a EC nº 45/2004, já
atenta ao problema da morosidade, cuidou de garantir “A todos, no âmbito
judicial e administrativo, (...) a razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação.” (art. 5º, LXXVIII, CF)
2
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=
article&id=17951> Acesso em: 08.set.2015.
3
O novo Código de Processo Civil sem dúvida investe no sentido de
obter maior efetividade e celeridade processual, e, em se tratando de
processo de execução, mantém o foco na tentativa de tornar cada vez mais
eficaz a responsabilidade patrimonial do devedor.
Não há, no Brasil, uma legislação única referente ao processo de
execução. Assim, o Código de Processo Civil (CPC) de 1939 já previa uma
execução de título judicial e outra para título extrajudicial, bem como uma
lei específica para o processo de execução fiscal, à época regido pelo
Decreto-Lei nº 960/1938.
Com o advento da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC), os
processos de execução restaram fundidos, criando uma unidade de
execução – desfeita posteriormente pela Lei nº 6.830, de 22 de setembro
de 1980 (Lei de Execuções Fiscais – LEF), cujo objetivo específico foi regular
a execução fiscal, gerando, para esta, algumas garantias diferenciadas da
regra geral.
A Exposição de Motivos nº 223 da lei, então encaminhada pelos
Ministros de Estado da Justiça, da Fazenda e da Desburocratização,
evidenciava a preocupação em não ocupar o magistrado com referida
atribuição dita “burocrática” e, em verdade, buscava deixá-lo livre para a
atividade realmente jurisdicional.
Vale conferir trecho da motivação lançada no então anteprojeto:
[o] anteprojeto, por outro lado, insere-se no Programa Nacional de
Desburocratização, a que se refere o Decreto nº 83.740, de 18 de
julho de 1979, uma vez que simplifica o processo da execução da
dívida ativa, reduz, substancialmente, o número de despachos
interlocutórios do juiz, liberando-o de trabalhos meramente
burocráticos em favor da atividade especificamente judicante,
utiliza os modernos serviços dos Correios para a citação dos
executados, cria condições para a melhor utilização do
processamento de dados na execução fiscal, descongestiona as
vias judiciais, nas duas instâncias, e adota outras medidas, tudo
em consonância com os princípios constitucionais que regem os
direitos e garantias individuais e as funções do Poder Judiciário. 3
3
Apud BARROSO, Frederico Souza. A penhora administrativa e a separação de poderes Disponível em:
<http://esaf.fazenda.gov.br/assuntos/biblioteca/arquivos_monografias/arquivo.2014-08-06.4806140809>
Acesso em: 08.set.2015
4
atividades meramente administrativas (ditas burocráticas) em favor da
atividade eminentemente jurisdicional.
Assim, as alterações procedimentais da LEF em relação aos ritos
executivos buscava maior agilidade e eficiência na percepção do crédito
público, estabelecendo algumas particularidades, como a possibilidade de
citação pelo correio, o despacho inicial integrado (penhora, arresto e
avaliação), as intimações pessoais da Fazenda Pública, e a ordem de
gradação de bens quanto à penhora, colocando em primeiro lugar o
dinheiro.
Muitas dessas inovações, antes características exclusivas do
executivo fiscal, foram sendo incorporadas aos demais processos de
execução por quantia certa por sucessivas alterações na legislação
processual, que culminaram com a entrada em vigor do novo CPC, em
2016.
Neste, a regra também é a citação pelo correio (arts. 246 e 247),
preterida apenas pela citação eletrônica, nos casos previstos em lei (art.
246, §§ 1º e 2º). O despacho inicial também é integrado, importando em
citação, penhora e avaliação (art. 829, § 1º), e as intimações da Fazenda
Pública em qualquer processo passam a ser também pessoais. A ordem de
gradação legal da penhora também coloca em primeiro lugar o dinheiro,
conforme se vê do art. 835 do novo Estatuto.
Isso não significa dizer que restou abolida a Lei de Execução Fiscal.
Há ainda muitos dispositivos especiais na Lei nº 6.830/80 que, exatamente
por regularem exclusivamente a execução da dívida ativa da Fazenda
Pública, não encontram regramento no Estatuto Processual geral.
E é por ser lei especial que suas disposições, acaso divergentes do
regramento do CPC, aplicam-se preferencialmente, sendo a lei processual
civil de aplicação subsidiária, como já fica claro da leitura do art. 1º da LEF.4
Assim é que o novo Código de Processo Civil trouxe alterações
importantes no procedimento executivo fiscal que merecem ser destacadas.
São elas.
4
Art. 1º - A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de
Processo Civil.
5
2. Competência
A Lei nº 6.830/80 contém apenas um dispositivo relativo à
competência para a apreciação da execução fiscal, destacando em seu art.
5º que a competência para julgar a execução da Dívida Ativa da Fazenda
Pública exclui a de qualquer outro juízo, inclusive o da falência, da
concordata, da liquidação, da insolvência ou do inventário.
O CPC/73 previa em seu art. 578 que a Fazenda Pública poderia optar
por propor a execução fiscal no foro do domicílio de qualquer dos
devedores, no foro do lugar onde se praticou o ato ou ocorreu o fato que
deu origem à dívida, ou ainda no foro da situação dos bens, quando a dívida
deles se originar.
Art. 578. A execução fiscal (art. 585, VI) será proposta no foro do
domicílio do réu; se não o tiver, no de sua residência ou no do
lugar onde for encontrado.
Parágrafo único. Na execução fiscal, a Fazenda Pública poderá
escolher o foro de qualquer um dos devedores, quando houver
mais de um, ou o foro de qualquer dos domicílios do réu; a ação
poderá ainda ser proposta no foro do lugar em que se praticou o
ato ou ocorreu o fato que deu origem à dívida, embora nele não
mais resida o réu, ou, ainda, no foro da situação dos bens, quando
a dívida deles se originar.
6
última palavra sobre a interpretação de normas tributárias de ente distinto,
possivelmente até mesmo em benefício próprio – na hipótese, por exemplo,
de sobreposição de interesses fazendários.”5
Caso não seja declarado inconstitucional, é necessário ao menos que
se dê ao dispositivo uma interpretação conforme a Constituição, para que
fique restrito aos limites do território de cada Estado-membro, ou da
Comarca relativa a cada Município, aplicando-se nos casos em que o
devedor não tiver domicílio no local da Fazenda Pública credora a regra
prevista para a execução dos títulos extrajudiciais em geral, no art. 781 do
novo CPC.6
3. Prescrição intercorrente
Como ato que fulmina de morte o próprio crédito tributário, a
prescrição, assim como a decadência, encontra regramento do Código
Tributário Nacional. Prevê o art. 174 do CTN que a ação para a cobrança do
crédito tributário prescreve em 5 anos contados da data da sua constituição
definitiva. Como o tema aqui é alterações trazidas pelo novo CPC no
processo de execução fiscal, não vamos cuidar da polêmica sobre o início da
fluência desse prazo.
Basta dizer que, assim como dispõe o art. 8º, § 2º da LEF, o novo
CPC diz que a prescrição é interrompida pelo despacho do juiz que ordenar
a citação e que tal interrupção retroagirá à data da propositura da ação.
Não obstante, a Lei nº 11.051/2004 introduziu ao art. 40 da LEF os
parágrafos 4º e 5º, que rezam:
Art. 40, § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver
decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda
Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e
decretá-la de imediato.
5
Inicial da ADIn 5.492-RJ, pp. 15-16. Disponível em: < http://redir.stf.jus.br/estfvisualizadorpub/jsp/
consultarprocessoeletronico/ConsultarProcessoEletronico.jsf?seqobjetoincidente=4959031> Acesso em:
22.maio.2017
6
Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente,
observando-se o seguinte:
I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou,
ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;
II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles;
III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar
onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente;
IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de
qualquer deles, à escolha do exequente;
V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato
que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado.
7
§ 5o A manifestação prévia da Fazenda Pública prevista no §
4o deste artigo será dispensada no caso de cobranças judiciais cujo
valor seja inferior ao mínimo fixado por ato do Ministro de Estado
da Fazenda.
7
Agravo em Recurso Especial n. 217.042-RS, REsp n. 1340553, decisão monocrática proferida em
31/08/2012.
8
E, no que toca às alterações trazidas pelo novo Código de Processo
Civil:
d) A ausência de intimação da Fazenda Pública quanto ao
despacho que determina a suspensão da execução fiscal (art. 40, §
1º), ou o arquivamento (art. 40, § 2º), ou para sua manifestação
antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente (art. 40, §
4º) ilide a decretação da prescrição intercorrente?
8
Art. 924, V – Extingue-se a execução quando ocorrer a prescrição intercorrente.
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Art. 10 O Juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do
qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício.
9
Enunciado 1 do FOREXEC: “Em razão do princípio da especialidade, a sistemática dos parágrafos 4° e
5° do artigo 40 da Lei n° 6.830/1980 permanecerá, em causas de valor inferior ao mínimo fixado por ato
do Ministro da Fazenda, dispensando a oitiva prévia da Fazenda para o decreto de prescrição
intercorrente.” Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/10/
enunciadosforexec2015.pdf> Acesso em 10.maio.2016.
9
CTN, só poderia ser invocada pela Fazenda Pública através da instauração
do incidente previsto no Estatuto Processual.10
A conclusão apressada certamente deriva de uma enorme confusão
entre os conceitos de responsabilidade tributária (prevista nos arts. 128 a
138 do CTN) e responsabilidade patrimonial (prevista no art. 789 do novo
CPC11).
O CTN define o responsável como uma das espécies de sujeito
passivo da obrigação tributária (art. 121), cujo gênero compreende também
o contribuinte, ou seja, aquele que, por ter relação pessoal e direta com o
fato gerador da obrigação, é o sujeito passivo natural do tributo. O
responsável, diz o CTN, seria aquele que, mesmo sem ter praticado o fato
gerador da obrigação, por ter algum vínculo, seja com o fato gerador, seja
com o devedor original do tributo, foi colocado na lei como obrigado ao seu
pagamento.
Tem-se assim que o responsável tributário é devedor! Ele integra o
polo passivo da relação obrigacional tributária, seu nome consta do título
executivo da Fazenda Pública (a CDA), que, além de fazer parte da própria
petição inicial da execução (art. 6º, § 1º da LEF12), goza da presunção de
certeza e liquidez.
A responsabilidade patrimonial, especialmente relevante nas
execuções por quantia certa, é aquela que recai em regra sobre o devedor,
ao determinar que ele responde com todos os seus bens, presentes e
futuros, pelo cumprimento de suas obrigações (art. 789 do CPC/2015).
10
Nesse sentido: BONITO, Raphael Frattari. “A aplicação do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica na execução fiscal: defesa do contraditório e o Novo Código de Processo Civil”, in
Os Impactos do Novo CPC sobre o Processo Judicial Tributário, Coord. HENRIQUES, Guilherme de
Almeida; GODOI, Marciano Seabra; BONITO, Raphael Frattari; e LOBATO, Valter de Souza, 2016,
D’Plácido: Belo Horizonte, pp. 103-126; GRUPENMACHER, Betina Treiger. CAVALCANTE, Denise
Lucena. “A responsabilidade tributária e o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no
novo Código de Processo Civil”, in Novo CPC e o Processo Tributário, Coord. SOUZA JÚNIOR,
Antônio Carlos F.; CUNHA, Leonardo Carneiro da., 2015, Foco Fiscal: São Paulo, pp. 33-49. QUEIROZ,
Mary Elbe. SOUZA JÚNIOR, Antônio Carlos F. de. “O incidente de desconsideração da personalidade
jurídica no CPC-2015 e a responsabilidade tributária: primeiras impressões”, in Novo CPC e o Processo
Tributário, Coord. SOUZA JÚNIOR, Antônio Carlos F.; CUNHA, Leonardo Carneiro da., 2015, Foco
Fiscal: São Paulo, pp. 255-277.
11
Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas
obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.
12
Art. 6º, § 1º. A petição inicial será instruída com a Certidão de Dívida Ativa, que dela fará parte
integrante, como se estivesse transcrita.
§ 2º. A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único documento, preparado
inclusive por processo eletrônico.
10
Natural que seja o patrimônio do devedor – aquele que tem o seu
nome gravado no título – o que deva responder pela dívida executada. Mas
a legislação processual, tanto a de 1973 (art. 592), como a de 2015 (art.
79013), atribui a mesma responsabilidade patrimonial a terceiros, que não
ostentam a qualidade de legitimados no título.
O art. 790 não é descritivo de legitimidade, mas sim de
responsabilidade patrimonial, que permite a prática de atos expropriatórios
além do patrimônio dos que figuram na execução.
Lendo os incisos do art. 790 vê-se que o patrimônio atingido pela
execução, embora relacionável em princípio a terceiro, confundir-se-ia com
o patrimônio da parte executada, caso nítido do inciso III. Naqueles casos,
o patrimônio do terceiro responde, em suma, porque os bens que o
integram são reconhecidos como se do devedor fossem. É esse o raciocínio
que governa todos os incisos do art. 790, e também o inciso VII,
especialmente relevante no contexto que ora tratamos.
São sujeitos à execução os bens do responsável, nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica. Que responsável é esse? O
mesmo do art. 135 do CTN? O responsável tributário? Claro que não!
A responsabilidade patrimonial do responsável tributário não precisa
ser declarada em nenhum dispositivo do CPC, pois que decorre de sua
legitimidade passiva, de sua qualidade de sujeito passivo da obrigação.
O que ocorre é que o sistema permite o reconhecimento de outro tipo
de responsabilidade, considerada relevante para fins executórios, mas que
não se confunde com a legitimidade passiva. Exemplo é o art. 50 do Código
Civil.14 Ocorre que até o advento do CPC/2015 não havia nenhum
13
Art. 790. São sujeitos à execução os bens:
I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória;
II - do sócio, nos termos da lei;
III - do devedor, ainda que em poder de terceiros;
IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela
dívida;
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação
autônoma, de fraude contra credores;
VII - do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.
14
Código Civil, Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério
Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
11
instrumento processual especificamente voltado à identificação dessa forma
de responsabilização patrimonial, que não se confunde em nada com a
responsabilidade tributária – uma vez reconhecida uma hipótese de
responsabilidade que se subsuma a algum dos dispositivos do CTN, não há
que se falar em desconsideração.
A própria localização topográfica dos artigos que tratam da
desconsideração deixa clara a diferença. O incidente, previsto nos arts. 133
a 137, foi inserido no título que trata das “intervenções de terceiros”,
mostrando que se trata de responsabilização patrimonial de terceiro e não
de redirecionamento executivo. O terceiro não vira parte na execução; tem
sua personalidade jurídica desconsiderada de modo que seus bens
passariam a responder pela dívida como se do devedor fossem.
Para que isso ocorra, é necessário que o terceiro, identificado pelo
art. 790, VII como responsável, seja reconhecido como tal por ato judicial
(art. 136).
Nesse mesmo sentido, entendendo pela inaplicabilidade do incidente
de desconsideração para os casos de responsabilidade tributária previstos
no CTN, são os enunciados do Fórum de Execuções Fiscais do TRF da 2ª
Região já mencionado e da ENFAM – Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados.15
5. Desistência da ação
O art. 26 da LEF prevê um benefício à Fazenda Pública exequente
eximindo-a da condenação nas verbas de sucumbência se, antes da decisão
de primeira instância, a inscrição em Dívida Ativa for a qualquer título
cancelada.16
Ocorre que nos processos de execução – e isso inclui a execução
fiscal – só haverá “decisão” de primeira instância com a sentença que
15
Enunciado 6, FOREXEC - A responsabilidade tributária regulada no art. 135 do CTN não constitui
hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, não se submetendo ao incidente previsto no art.
133 do CPC/2015. Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/10/
enunciadosforexec2015.pdf> Acesso em 10.maio.2016.
Enunciado 53, ENFAM – O redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente prescinde do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no art. 133 do CPC/2015. Disponível em:
<http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERSÃO-DEFINITIVA-.pdf>
Acesso em 16.maio.2016
16
Art. 26 da Lei nº 6.830/80. Se, antes da decisão de primeira instância, a inscrição em Dívida Ativa for,
a qualquer título, cancelada, a execução fiscal será extinta, sem qualquer ônus para as partes.
12
determinar a sua extinção, seja pelo pagamento, seja por alguma outra
causa extintiva.
Apesar da dicção do art. 26, a jurisprudência do STJ acabou se
pacificando no sentido de que “a desistência da execução, após o
oferecimento dos embargos, não exime o exequente dos encargos da
sucumbência” (Súmula 153).
No mesmo sentido, algumas decisões do STJ têm entendido que a
extinção da execução fiscal após a citação também não eximiria a Fazenda
da condenação na sucumbência, ainda que não tenham sido apresentados
embargos à execução ou exceção de pré-executividade!17
Temos defendido que não tendo sido opostos embargos ou exceção
de pré-executividade, deve-se aplicar o art. 26 da LEF, tendo em vista que
a execução não causou prejuízos à Executada e não demandou o trabalho
de advogados.
O novo CPC veio dispensar a condenação na sucumbência se, antes
de oferecida a contestação, o autor desistir da ação se a questão nela
discutida for idêntica à resolvida no sistema dos recursos repetitivos
(representativo de controvérsia). Em verdade, o art. 1040, § 1º do CPC
possibilita a desistência antes da sentença, independente da anuência do
reú, mas só dispensa do pagamento das custas e honorários de advogado
se ela ocorrer antes da contestação.18
Em se tratando a LEF de lei especial, no caso de desistência da
execução por cancelamento da CDA, não se faz necessário o atendimento
dos requisitos previstos no art. 1040, devendo ser observado o art. 26 da
Lei 6.830/80.
6. Seguro-garantia e carta de fiança bancária
Desde as alterações trazidas pela reforma processual promovida em
2006, o dinheiro passou a figurar em primeiro lugar na ordem de
preferência para a penhora, que se faz, obviamente, em benefício do
17
Nesse sentido: AgRg no REsp 1384284/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 19/11/2013, DJe 29/11/2013; REsp 1237601/MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 22/03/2011, DJe 04/04/2011.
18
Art. 1040, NCPC, § 1º. A parte poderá desistir da ação em curso no primeiro grau de jurisdição, antes
de proferida a sentença, se a questão nela discutida for idêntica à resolvida pelo recurso representativo da
controvérsia.
§ 2o Se a desistência ocorrer antes de oferecida contestação, a parte ficará isenta do pagamento de custas e
de honorários de sucumbência.
13
credor. A partir daí, a jurisprudência inclusive passou a entender pela
desnecessidade do esgotamento das tentativas de localização de bens
penhoráveis a fim de autorizar o bloqueio de ativos financeiros através do
sistema Bacen-Jud (REsp 1.184.765/PA, julgado sob o regime dos recursos
repetitivos).
A questão passou a ser a equiparação dessa forma de garantia à
carta de fiança ou seguro-garantia, equiparação esta feita já na época da
reforma de 2006 para fins de substituição da penhora. Referida equiparação
foi mantida no Código de 2015, que dispõe:
Art. 835, § 1º. É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz,
nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo
com as circunstâncias do caso concreto.
§ 2º. Para fins de substituição da penhora, equipara-se a dinheiro
a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor
não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30%.
19
Art. 15 - Em qualquer fase do processo, será deferida pelo Juiz:
I - ao executado, a substituição da penhora por depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia;
II - à Fazenda Pública, a substituição dos bens penhorados por outros, independentemente da ordem
enumerada no artigo 11, bem como o reforço da penhora insuficiente.
20
Em sentido contrário: ANTUNES, Pedro Henrique Neves. “A equiparação entre dinheiro, fiança
bancária e seguro garantia judicial para fins de substituição da penhora promovida pelo Novo CPC e seus
impactos na execução fiscal”, in Os Impactos do Novo CPC sobre o Processo Judicial Tributário, Coord.
HENRIQUES, Guilherme de Almeida; GODOI, Marciano Seabra; BONITO, Raphael Frattari e
LOBATO, Valter de Souza, 2016, D’Plácido: Belo Horizonte, pp. 201-212.
14
garantia. No entanto, após a inclusão da figura no CPC e na Lei de Execução
Fiscal, a legislação mineira se adaptou à nova realidade, também prevendo
o instituto como forma de garantia do crédito tributário, permitindo
inclusive a substituição de carta de fiança por seguro-garantia, desde que
atendidos os requisitos da legislação.21
O seguro-garantia tem um custo menor para o devedor, que vem
preferindo essa modalidade de cautela, inclusive requerendo a substituição
de cartas de fiança e até mesmo de depósito em dinheiro, pelo seguro.
Quanto ao dinheiro, fica claro que nem o CPC nem a legislação
mineira autorizam a substituição. Além de constar como primeiro bem na
ordem de gradação legal da penhora, a penhora de dinheiro obviamente
confere maior liquidez ao processo executivo, o que consagra o princípio da
maior utilidade da execução para o credor.
Correta a posição do Ministro Luiz Fux ao asseverar que:
(...) o princípio da economicidade não pode superar o da maior
utilidade da execução para o credor, propiciando que a execução
se realize por meios ineficientes à solução do crédito exequendo.
6. Destarte, na execução fiscal, realizada a penhora em dinheiro, é
incabível a sua substituição por outro bem, mesmo por fiança
bancária, nos termos do art. 15, I, da LEF, porquanto a Execução
Fiscal tem o seu regime jurídico próprio com prerrogativa
fazendária pro populo. (...)22
21
Resolução AGE/MG nº 17/2016:
Art. 46. O seguro garantia, nos termos regulados pela Circular da Superintendência
de Seguros Privados (SUSEP) nº 477, de 30 de setembro de 2013, é instrumento
para garantir débitos inscritos em dívida ativa.
Parágrafo único. O seguro garantia poderá ser aceito antes do ajuizamento da
execução fiscal, desde que contemple o pagamento dos honorários advocatícios e
das despesas processuais, vinculando-a ao número do PTA e à futura execução
fiscal.
(...)
Art. 49. O seguro garantia somente poderá ser aceito se sua apresentação ocorrer
antes de depósito ou da efetivação de constrição em dinheiro, decorrente de penhora,
arresto ou outra medida judicial.
Parágrafo único. Excluindo-se o depósito em dinheiro e a efetivação de constrição
em dinheiro, decorrente de penhora, arresto ou outra medida judicial, o Procurador
do Estado poderá aceitar pedido de substituição de garantias por seguro garantia
judicial para execução fiscal, desde que atendidos os requisitos previstos nesta
Resolução.
22
PROCESSO CIVIL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. RECURSO ESPECIAL. PENHORA ON
LINE. SUBSTITUIÇÃO POR CARTA DE FIANÇA. EXIGÊNCIA DO ACRÉSCIMO DE 30% DO
DÉBITO IMPOSTO PELO § 2º DO ART. 656 DO CPC. LEI 6.830/80. SUBSTITUIÇÃO EM
DINHEIRO POR FIANÇA. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC.
INOCORRÊNCIA.
1. A substituição da penhora, em sede de execução fiscal, só é admissível, independentemente da
anuência da parte exequente, quando feita por depósito em dinheiro ou fiança bancária, consoante
expressa determinação legal (art. 15, I, da Lei n. 6.830/80). Precedentes: REsp n.º 926.176/RJ, Rel. Min.
Teori Albino Zavascki, DJU de 21/06/2007; REsp n.º 801.871/SP, Rel. Min. Castro Meira, DJU de
15
Já a substituição de fiança bancária por seguro-garantia vem sendo
admitida pelos Tribunais locais, mesmo ante a recusa da Fazenda Pública
credora. Isso porque, embora no rol de preferências à penhora não constem
nem um nem outro instrumento23, a legislação brasileira passou a equiparar
19/10/2006; AgRg no REsp n.º 645.402/PR, Rel. Min Francisco Falcão, DJU de 16/11/2004; REsp n.º
446.028/RS, Rel. Min. Luiz Fux, DJU de 03/02/2003.
2. A execução fiscal, garantida por penhora sobre o dinheiro, inadmite a substituição do bem por
fiança bancária, por aquela conferir maior liquidez ao processo executivo, muito embora a penhora
sobre qualquer outro bem pode ser substituída por dinheiro ou fiança bancária, nos termos do art. 15, I, da
Lei n.º 6.830/80. Precedentes: REsp 1089888/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe
21/05/2009AgRg no REsp 1046930/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe
25/03/2009; REsp 801.550/RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, DJ 08/06/2006 3. É princípio assente que
a lei especial convive com outra da mesma natureza, porquanto a especificidade de seus dispositivos não
ensejam incompatibilidade.
4. A novel redação do art. 656, §2º, do CPC, introduzida pela Lei n.º 11.382/06, estabelece a
possibilidade de substituição da penhora, por fiança bancária, desde que essa nova garantia esteja
acrescida em 30% ao valor do débito, verbis: Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora:
(...) § 2º A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial, em valor não
inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento).
5. O novel dispositivo não afasta a jurisprudência sedimentada nesta Corte, notadamente porque a
execução se opera em prol do exequente e visa a recolocar o credor no estágio de satisfatividade que
se encontrava antes do inadimplemento. Por conseguinte, o princípio da economicidade não pode
superar o da maior utilidade da execução para o credor, propiciando que a execução se realize por
meios ineficientes à solução do crédito exequendo.
6. Destarte, na execução fiscal, realizada a penhora em dinheiro, é incabível a sua substituição por outro
bem, mesmo por fiança bancária, nos termos do art. 15, I, da LEF, porquanto a Execução Fiscal tem o seu
regime jurídico próprio com prerrogativa fazendária pro populo.
7. O art. 557 do CPC e seus parágrafos incide quando da ascensão do recurso de agravo ao tribunal.
Consequentemente, o relator pode, monocraticamente negar seguimento ao recurso ou dar-lhe
provimento, independentemente da oitiva da parte adversa.
8. A decisão monocrática adotável em prol da efetividade e celeridade processuais não exclui o
contraditório postecipado dos recursos, nem infirma essa garantia, porquanto a colegialidade e a fortiori o
duplo grau restaram mantidos pela possibilidade de interposição do agravo regimental. Precedentes:
AgRg no Ag 1112546/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, DJe 15/05/2009; AgRg no REsp
1116150/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 10/09/2009;
9. O acórdão proferido em embargos de declaração que enfrenta explicitamente a questão embargada não
ensejam recurso especial pela violação do artigo 535, II, do CPC.
10. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde
que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão.
11. Recurso especial desprovido. (REsp 1049760/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 01/06/2010, DJe 17/06/2010 – destaques nossos)
Já quanto à substituição de carta de fiança por seguro garantia, têm sido frequentes as decisões que a
determinam, mesmo ante a discordância da Fazenda Pública.
23
CPC/2015, Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em
mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
16
a fiança bancária ao seguro-garantia, para fins de substituição da penhora,
o que levou alguns a entender que ambos estariam, portanto, no mesmo
patamar em matéria de satisfatividade da execução.
Nada mais equivocado. O seguro-garantia é obrigatoriamente emitido
com prazo de validade determinado – e em se tratando de seguro-garantia
para execução fiscal, determina a SUSEP que este prazo é de dois anos. É
notório que em dois anos não se decidem definitivamente os embargos à
execução fiscal (ou qualquer outra ação de conhecimento proposta para
questionar a dívida objeto da execução).
Significa dizer que em pouco tempo a execução fiscal fica sem
qualquer garantia, quando a cautela vem por meio do seguro. Por esta
razão, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que “obrigar o Estado
recorrido a aceitar a substituição de carta de fiança bancária dada em
garantia por seguro garantia com prazo de validade determinado” mostra-
se “inviável, nos termos da jurisprudência desta Corte.”24
7. Adjudicação
Após a reforma do CPC, promovida pela Lei nº 11.382/2006, a
adjudicação passou a ser considerada a forma preferencial de pagamento
17
ao credor no processo executivo, tendência esta que foi mantida no novo
Código de Processo Civil.25
Sobre a fase de expropriação dos bens, limita-se a Lei de Execução
Fiscal a dispor sobre alguns requisitos procedimentais da arrematação em
hasta pública, além de autorizar expressamente a adjudicação.
Reza o art. 24 da LEF:
Art. 24 - A Fazenda Pública poderá adjudicar os bens penhorados:
I - antes do leilão, pelo preço da avaliação, se a execução não for
embargada ou se rejeitados os embargos;
II - findo o leilão:
a) se não houver licitante, pelo preço da avaliação;
b) havendo licitantes, com preferência, em igualdade de condições
com a melhor oferta, no prazo de 30 (trinta) dias.
Parágrafo Único - Se o preço da avaliação ou o valor da melhor
oferta for superior ao dos créditos da Fazenda Pública, a
adjudicação somente será deferida pelo Juiz se a diferença for
depositada, pela exeqüente, à ordem do Juízo, no prazo de 30
(trinta) dias.
25
Art. 824. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas
as execuções especiais.
Art. 825. A expropriação consiste em:
I - adjudicação;
II - alienação;
III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.
A localização topográfica da adjudicação como o primeiro item do rol dos atos expropriatórios, indica a
preferência do legislador por essa forma de pagamento do credor.
26
Enunciado 9, FOREXEC - O prazo de que dispõe a Fazenda, como exequente, para depositar o valor da
diferença em caso de adjudicação de bem de valor superior ao crédito é de 30 dias conforme art. 24,
parágrafo único, da LEF, e não de imediato conforme a previsão do art. 876, § 4º do Novo Código de
Processo Civil.
Enunciado 11, FOREXEC - A preferência da Fazenda para a adjudicação prevista no art. 24, II, b, da LEF
prevalece sobre a do cônjuge/companheiro, descendente ou ascendente prevista no art. 876, § 6º, do
NCPC.
18
Mesmo considerando o Código de Processo Civil de 1973, que não
contemplava previsão expressa a esse respeito, a doutrina processualista
vinha admitindo “a adjudicação por preço inferior ao da avaliação, desde
que não seja vil, quando já frustradas as tentativas de alienação do bem –
por iniciativa particular ou hasta pública – porque nesse caso estará
concretamente comprovado que não existem interessados na aquisição do
27
bem.”
O novel CPC encerra qualquer possibilidade de discussão sobre o
assunto, ao prever expressamente que “frustradas as tentativas de
alienação do bem, será reaberta oportunidade para requerimento de
adjudicação, caso em que também se poderá pleitear a realização de nova
avaliação” (art. 878).
8. Honorários de sucumbência
Em matéria de execução, o CPC determina, em seu art. 827 que o
juiz, ao despachar a inicial fixará de plano os honorários advocatícios de
10% a serem pagos pelo executado. Em seus parágrafos, o dispositivo
prevê a redução da verba pela metade, caso haja pagamento integral da
dívida no prazo de 3 dias (§ 2º), sendo possível, ainda, a sua majoração até
20%, quando rejeitados os embargos à execução.
Isso significa dizer que na execução as peculiaridades na fixação dos
honorários afastam a regra do art. 85, § 3º, dispositivo que cuida dos
honorários fixados em sentença nas causas em que a Fazenda Pública for
parte. Na execução fiscal, os honorários não são fixados na sentença, mas
sim logo no despacho inicial que determina a citação.
No entanto, alguns magistrados, logo no despacho inicial que
determina a citação da empresa executada e fixa os honorários para a
hipótese de pronto pagamento, têm seguido o entendimento de que, face à
especialidade da Lei de Execuções Fiscais, inaplicável seria o art. 827 do
CPC28, o que remeteria, portanto, à regra geral das ações em que for parte
a Fazenda Pública, prevista no art. 85, § 3º.
27
DIDIER JR., Freddie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno.; OLIVEIRA,
Rafael. Curso de Direito Processual Civil. Execução. Vol. 5. 2. ed. Bahia: Jus PODIVM, 2010, p. 620.
28
Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a
serem pagos pelo executado.
§ 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será
reduzido pela metade.
19
De fato, a execução fiscal é regulada por lei especial (Lei
6.830/1980), cujo art. 1º estabelece a aplicação subsidiária do CPC. E
também é fato que a lei especial não contém regramento acerca dos
honorários advocatícios.
A controvérsia passa a ser qual dispositivo aplicar: o art. 827, que
trata das execuções em geral, ou o art. 85, § 3º, que cuida da condenação
nos honorários de sucumbência naquelas ações em que for parte a Fazenda
Pública?29
Da leitura do art. 85, § 3º, do CPC observa-se a referência expressa
ao parágrafo anterior, que estabelece os critérios para a condenação nos
honorários de sucumbência, que deve levar em conta, dentre outros
aspectos, o grau de zelo do profissional, o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço.30
Ora, fica claro que tais critérios se amoldam melhor para a análise
dos honorários posteriormente ao transcurso de um período razoável de
tempo, o que só ocorre após a fase de conhecimento de um processo,
sendo impensável fixar honorários advocatícios numa decisão inicial com
base nestes parâmetros.
§ 2o O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à
execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento
executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente.
29
Art. 85, § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os
critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2 o e os seguintes percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico
obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a
serem pagos pelo executado.
§ 1o No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será
reduzido pela metade.
§ 2o O valor dos honorários poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à
execução, podendo a majoração, caso não opostos os embargos, ocorrer ao final do procedimento
executivo, levando-se em conta o trabalho realizado pelo advogado do exequente.
30
Art. 85, 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o
valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor
atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
20
Ademais o caput do art. 85 refere-se à sentença, tanto que o
dispositivo apresenta o valor da condenação como base de cálculo para
incidência dos percentuais, sendo certo que, nos processos de execução a
sentença só é proferida ao final, com a satisfação do crédito ou a
constatação de alguma outra causa extintiva, não havendo que se falar em
condenação.
Assim, fica claro que os honorários advocatícios para a hipótese de
execução fiscal fixados no despacho do juiz que determina citação
apresentam maior compatibilidade com o art. 827 do CPC, e não com o art.
85, § 3º.
Nesse sentido, tem decidido o Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS EM CASO DE PRONTO PAGAMENTO - LEF -
AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL - APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO
CPC - ART. 85, §3º,I DO CPC - IN LIMINE - IMPOSSIBILIDADE -
ART. 827 DO CPC - POSSIBILIDADE.
- Ante o vácuo normativo da LEF, aplica-se o CPC para a fixação
de honorários advocatícios na execução fiscal.
- O art. 85, §3º, I do CPC não pode ser interpretado isoladamente
em relação aos demais dispositivos do mesmo diploma legal para o
regramento dos honorários advocatícios para a Fazenda Pública na
execução fiscal.
- O art. 827 do CPC, no tanto que se mostra compatível com a
LEF, deve ser observado para a fixação dos honorários
advocatícios, não podendo ter aplicação no que a lei especial
regula de forma diversa.31
21
matrícula foi estendida aos veículos automotores, caso em que é suficiente
que seja apresentada certidão que ateste a sua existência. Com isto, o § 2º,
ao disciplinar a viabilidade de penhora de bens por carta precatória,
pressupõe não só a inexistência de bens no foro da causa, mas a
impossibilidade de realização da penhora em consonância com o § 1º.32
Sem dúvida, a medida facilita a constrição, bem como viabiliza a
restrição à alienação do bem nos órgãos de registro automobilístico,
evitando as medidas daquele devedor que “esconde” o bem com forma de
se furtar à execução.
10. Conclusões
Desde a promulgação da Lei nº 13.105/2015, que encarta o novo
Código de Processo Civil brasileiro, amplos debates têm sido travados
acerca das inovações e objetivos almejados pelo legislador.
O novo Código de Processo Civil sem dúvida investe no sentido de
obter maior efetividade e celeridade processual, e, em se tratando de
processo de execução, mantém o foco na tentativa de tornar cada vez mais
eficaz a responsabilidade patrimonial do devedor.
A Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80), em sua origem,
propunha trazer um instrumento efetivo de cobrança dos créditos do
Estado, criando instrumentos para que a cobrança promovida pelas
Fazendas Públicas fosse mais célere e eficaz que as execuções comuns,
dada a importante função de recuperação de créditos pertencentes à
sociedade.
No entanto, ao longo dos seus quase quarenta anos de vigência,
outros instrumentos processuais foram instituídos para as execuções em
geral, exatamente na busca de maior efetividade ao processo executivo, o
que acabou fazendo com que muitas das inovações, antes exclusivas das
execuções de títulos da Fazenda Pública (as chamadas Certidões de Dívida
32
Art. 845. Efetuar-se-á a penhora onde se encontrem os bens, ainda que sob a posse, a detenção ou a
guarda de terceiros.
§ 1o A penhora de imóveis, independentemente de onde se localizem, quando apresentada certidão da
respectiva matrícula, e a penhora de veículos automotores, quando apresentada certidão que ateste a sua
existência, serão realizadas por termo nos autos.
§ 2o Se o executado não tiver bens no foro do processo, não sendo possível a realização da penhora nos
termos do § 1o, a execução será feita por carta, penhorando-se, avaliando-se e alienando-se os bens no
foro da situação.
22
Ativa), fossem incorporadas a todo e qualquer processo de execução por
quantia certa.
Isso não significa dizer que restou abolida a Lei de Execução Fiscal.
Há ainda muitos dispositivos especiais na Lei nº 6.830/80 que, exatamente
por regularem exclusivamente a execução da dívida ativa da Fazenda
Pública, não encontram regramento no Estatuto Processual geral. Contudo,
alterações que favoreçam a cobrança de dívidas nos processos de execução
em geral, tornando o procedimento mais célere e eficaz, jamais podem ser
interpretadas como não aplicáveis às execuções fiscais, onde a natureza do
crédito executado interessa a toda a coletividade.
Assim, a interpretação conjunta do Código de Processo Civil e da LEF
deve sempre estar imbuída do espírito de que é necessário buscar maior
agilidade e eficiência na percepção do crédito público, em face dos
princípios da supremacia do interesse público, da solidariedade social e da
efetiva distribuição de rendas, princípios estes que, embora devidamente
valorizados na Constituição Federal de 1988, na prática, foram e são
sempre tão descuidados em nosso País.
23
11. Referências bibliográficas
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bancária e seguro garantia judicial para fins de substituição da penhora
promovida pelo Novo CPC e seus impactos na execução fiscal”, in Os
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da personalidade jurídica na execução fiscal: defesa do contraditório e o
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24
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de desconsideração da personalidade jurídica no CPC-2015 e a
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Processo Tributário, Coord. SOUZA JÚNIOR, Antônio Carlos F.; CUNHA,
Leonardo Carneiro da., 2015, Foco Fiscal: São Paulo.
25