Este documento resume o romance "Inocência" de Alfredo d'Escragnolle Taunay, descrevendo seu gênero, autor, enredo e contexto histórico-literário. A obra é um romance regionalista do período romântico que retrata a paixão proibida entre uma jovem e um médico no sertão do Mato Grosso no século XIX.
Este documento resume o romance "Inocência" de Alfredo d'Escragnolle Taunay, descrevendo seu gênero, autor, enredo e contexto histórico-literário. A obra é um romance regionalista do período romântico que retrata a paixão proibida entre uma jovem e um médico no sertão do Mato Grosso no século XIX.
Este documento resume o romance "Inocência" de Alfredo d'Escragnolle Taunay, descrevendo seu gênero, autor, enredo e contexto histórico-literário. A obra é um romance regionalista do período romântico que retrata a paixão proibida entre uma jovem e um médico no sertão do Mato Grosso no século XIX.
Este documento resume o romance "Inocência" de Alfredo d'Escragnolle Taunay, descrevendo seu gênero, autor, enredo e contexto histórico-literário. A obra é um romance regionalista do período romântico que retrata a paixão proibida entre uma jovem e um médico no sertão do Mato Grosso no século XIX.
Baixe no formato PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7
OBRA ANALISADA Inocncia
GNERO Narrativo, romance
AUTOR Alfred d'Escragnolle Taunay - um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a cadeira n 13 cujo patrono Francisco Otaviano. DADOS BIOGRFICOS Nascimento: 22 de fevereiro de 1843, Rio de Janeiro, RJ Morte: 25 de janeiro de 1899, Rio de Janeiro, RJ BIBLIOGRAFIA Nosso autor foi incorporado Expedio de Mato Grosso como ajudante da Comisso de Engenheiros, para trazer ao governo imperial notcias do corpo expedicionrio de Mato Grosso
Trouxe da campanha profunda experincia do pas e inspirao para a maior parte dos seus escritos, a comear do primeiro livro, Cenas de viagem (1868).
O conde dEu o encarregou de redigir o Dirio do Exrcito, cujo contedo foi, em 1870, reproduzido no livro do mesmo nome.
Romances Mocidade de Trajano (1870) - com o pseudnimo de Slvio Dinarte, que usaria na maior parte das suas obras de fico Inocncia (1872) Lgrimas do corao (1873) Ouro sobre azul (1875) O encilhamento (1894) No declnio (1899) Narrativa de campanha A retirada da laguna (1872, edio francesa; (1874) edio brasileira, traduzida pelo autor
Teatro Da mo boca se perde a sopa (1874) Por um triz coronel (1880) Amlia Smith (1886) OBRAS PSTUMAS Reminiscncias (1908) Trechos de minha vida (1911) Viagens de outrora (1921) Vises do serto, descries (1923) Dias de guerra e do serto (1923) Homens e coisas do Imprio (1924)
Em sua bibliografia constam ainda obras de histria, corografia e etnologia brasileira e sobre questes polticas e sociais. COROGRAFIA [cartografia, geografia] descrio ou representao de um pas, regio ou rea geogrfica particular, num mapa ou carta, que explicita visualmente, atravs de cdigo(s), as suas
caractersticas mais notveis
importante citar que tambm foi pintor, restando dele telas dignas de estudo. Era grande apaixonado da msica, tendo deixado vrias composies.
RESENHA Amor fogo que arde sem se v, ferida que di e no se sente, um contentamento descontente, dor que desatina sem doer.
Tal como a lrica de Cames, surge a paixo entre Cirino e Inocncia: Cirino Ferreira de Campos, fsico, tirou a carta de farmcia: se fazia de doutor; experincias adquiridas numa farmcia em Ouro Preto e leitura do manual de Chernoviz. [cap. III] fsico = mdico da corte, na Idade Mdia
Nossa protagonista o prottipo da mulher sertaneja da dcada de 70; uma idealizao romntica de uma jovem sonhadora que deseja ser feliz.
Nocncia ou Inocncia: inocente e plida donzela de 18 anos, tmida, longos e formosos cabelos, grandes e aveludados olhos de fundas olheiras, muita fraqueza. Apesar de ter casamento arranjado com Maneco Doca, ser curada da sezo [malria] febre intermitente ou cclica, est doente de paixo por Cirino. Eis um romance bem ao gosto romntico, com histria de amor e morte.
Sim, porque o final da histria trgico - rejeitado pela moa, Maneco atira queima-roupa em Cirino, que, antes de morrer, perdoa o algoz numa cena carregada de esprito romntico. ESTILO DE POCA Romantismo J em fase final... contm algumas caractersticas naturalistas.
Romance regionalista Retrata os costumes, o ambiente e os hbitos das pessoas do serto do leste sul-matogrossense - Santana do Paranaba.
ESPAO: elemento fundamental num romance regionalista A maior parte da histria de amor de Inocncia e Cirino se passa nas terras de Pereira - lugar distante da cidade ou qualquer forma de povoado, isto , o serto bruto. Uma outra parte, menor, da histria se passar na vila de SantAna da Paranaba no Mato Grosso [descrio cap. I]. Haver tambm referncias s Minas Gerais e a So Paulo. Belssima descrio no cap. XXV A viagem em meio ao transcurso e pensamentos de Cirino. alpendre de palha de buriti, buriti, palmeira rainha dos sertes Inocncia... o meu farol para os cus
De incio, duas citaes de passagens de obras como introduo ou complementao, exemplo, abonao daquilo que o narrador quer dizer: O SERTO E O SERTANEJO Todos vos bem sentis a ao secreta Da natureza em seu governo eterno, E de ntimas camadas subterrneas. Da vida o indicio a superfcie emerge. (Goethe, Fausto, 2 parte)
Ento com passo tranqilo metia-me eu por algum recanto da floresta, algum lugar deserto, onde nada me indicasse a mo do homem, me denunciasse a servido e o domnio; asilo em que pudesse crer ter primeiro entrado, onde nenhum importuno viesse interpor-se entre mim e a natureza. (J. J. Rousseau, O Encanto da Solido)
Ao principiar, cada um dos captulos, duas novas citaes.
HISTRIA + MEMRIA + FICO Observa-se que a obra tem a realidade como sua matria-prima constituinte, uma vez que seu autor colheu material para compor muitas de suas personagens e ambientes enquanto esteve em Campanha no Mato Grosso do Sul.
Campanha? Sim, de expedicionrio, por conta da Retirada da Laguna Corte, no Rio de Janeiro. Narrativa de Campanha: A Retirada da Laguna Constituda pelos principais eventos que envolveram, entre os meses de janeiro e junho de 1867, a coluna expedicionria brasileira durante a misso fronteira do Apa, essa obra foi escrita, basicamente, a partir das reminiscncias do autor, posto a maior parte de suas anotaes de viagem e os desenhos elaborados para o lbum de Vistas, que seu pai lhe entregou quando saiu do Rio de Janeiro, encarregando-o de traz-lo todo cheio de paisagens e dos melhores pontos de vista que fosse encontrando pelo caminho, foram praticamente destrudos pelos paraguaios no ataque vila de Nioac, no baixo Paraguai.
Jacinta Garcia a pessoa que conheceu em suas andanas [...] Jacinta Garcia era uma moa na primeira flor dos anos, e to formosa, to resplandecente de beleza que fiquei pasmado, enleado, positivamente de boca aberta... e com os olhos embelezados, segui todos os gestos daquela excepcional sertaneja, que no se mostrava l muito acanhada... Ouvi do av que ela estava de casamento marcado com um primo...
Quer saber mais de sua biografia? Jacinta Garcia, membro da famlia Garcia Leal e musa inspiradora do autor. Era neta de Joo Garcia Leal, que, por sua vez, provavelmente era sobrinho-neto de Janurio Garcia Leal Sobrinho, pessoas de grande histria e prestgio no lugar.
Nocncia = Inocncia a personagem de fico [...] uma rapariga de 18 anos que pela feio parece
moa de idade, muito arriscadinha de modos, mas bonita e boa deveras... [...] de beleza deslumbrante, do seu rosto irradiava singela expresso de encantadora ingenuidade, realada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os clios sedosos e franjar-lhe as plpebras... Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena e o queixo admiravelmente torneado. [descrio cap. V e VI] Nhor-sim / Nhor-no Viso patriarcal do interior do Mato Grosso: as pessoas ainda viviam de acordo com os costumes feudais e, portanto, o pai era a figura mxima da famlia, o soberano.
Sr. Martinho dos Santos Pereira: sua vontade individual valia mais do que os cdigos sociais: - a hospitalidade em relao aos forasteiros e viajantes [Cirino, zoologista e seu auxiliar] - a preservao da honra familiar [filha] - o dever de obedincia, - o casamento acordado, - a viso da leitura e da escolarizao como ameaa formao da mulher, - o exerccio da vingana individual, - o confronto entre o mundo rural e o urbano, entre o rstico e o civilizado, - o conhecimento ntimo da natureza, - a noo de pequeno proprietrio rural, - traos da escravido no serto, - o valor da palavra empenhada. ATENTE! Muito se aprende neste mundo! [cap. X] Viso de mundo do sertanejo analfabeto, mas com profunda sapincia intuitiva e adquirida sobre a natureza + viso de mundo do homem letrado.
Maneco Doca negociante de gado; homem de cabelinho na venta, h tempos, casamento apalavrado [o valor da palavra empenhada] Descrio completa no cap. XXIV.
palavra de honra, e palavra de mineiro no volta atrs... Minha afilhada pertence tanto a Maneco, como uma garrucha ou um guampo lavrado que Pereira lhe tivesse dado... No h meios e modos de voltar atrs... Eu? .. Casar com o senhor?! Antes uma boa morte!... No quero... no quero... Nunca... Nunca... afirmou Nocncia a Maneco. No ser, o senhor, disse o capataz, que lhe h de dar cabo da pele. afirmou Maneco ao Sr. Pereira. Por qu? negcio que me pertence. O senhor pai.,. eu porm sou noivo. Mangaram com os dois... mas o alamo fica no cho. [cap. XXIX]
Tonico [Tico]: anozinho mudo; co de guarda de Nocncia = encarregado de vigiar os passos da rapariguinha.
Maria Conga: velha negra e criada na casa do Sr. Pereira; cozinha seu teatro da atividade
tio e padrinho de Cirino: cuidou da educao dele em internato religioso; todos os padres pensavam- no riqussimo um dolo - manobra ou artifcio que se inspira em m-f.
Tot Siqueira: o maior credor das dvidas de jogo do Dr. Cirino
Francisco dos Santos Pereira Chiquinho, irmo mais velho - carta de recomendao [cap. X]
Guilherme Tembel Meyer: zoologista (naturalista) saxnio / alemo; no Brasil, sob o patrocnio do governo de seu pas. Para qu? Realizar uma pesquisa sobre a nossa fauna: insetos brasileiros especificamente. Identificar uma borboleta de rara beleza cognominada por ele, mas no catalogada - Papilio Innocentia: uma homenagem a nossa protagonista. [cap. VII / VIII] Tem uma viso naturalista da beleza da mocinha. Jos do Pinho (Juque): auxiliar de Meyer nessa pesquisa.
Antnio Cesrio: padrinho de Inocncia;mora pra l das Parabas, j nos terrenos Gerais... foi o ltimo a ver o doutor estirado por terra [assassinado, queima-roupa, por Maneco]
Reticncias [...] nas falas do Sr. Pereira para demonstrar suas desconfianas e nas do Sr. Meyer, alemo, dificuldades em se expressar para falar com um matuto - Sr. Pereira [cap. XII e XIII]
Predomnio de oraes coordenadas e ponto e vrgula indica a rapidez na observao: Ora a perspectiva dos cerrados, no desses cerrados de arbustos raquticos, mas de garbosas e elevadas rvores [..] ora so campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada, ou de viridente e mimosa grama, toda salpicada de silvestres flores; ora sucesses de luxuriantes capes [...]; ora, enfim, charnecas meio apauladas... Tais so os campos que as chuvas no vm regar. [cap. I]
Diversos trechos separados por ponto e vrgula: Desperta ento o viajante; esfrega os olhos; distende preguiosamente os braos; boceja; bebe um pouco dgua; fica uns instantes sentado, a olhar de um lado para o outro, e corre afinal a buscar o animal... [cap. I]
Musicalidade: Aliterao repetio de fonemas idnticos ou parecidos no incio de vrias palavras na mesma frase ou verso, visando obter efeito estilstico na prosa potica: /s/ = /k/ = /f/ = /R/ = /r/ = /p/ Satisfeita a sede que lhe secara as fauces, e comidas umas colheres de farinha de mandioca ou de milho, adoada com rapadura, estira-se o fio comprido sobre os arreios desdobrados e contempla descuidoso o firmamento azul, as nuvens que se espacejam nos ares, a folhagem lustrosa e os troncos das pindabas, a copa dos ips e as palmas dos buritis a ciciar, a modo de harpas elicas, msicas sem cores com o perpassar da brisa.
[cap. I]
Eufemismo dormir o sono da eternidade = morrer [eplogo]
Linguagem regional zabel ornitologia. Regionalismo: Bahia, Esprito Santo. ja (Crypturellus noctivagus) Etimologia segundo Teodoro Sampaio, voz espria ou onomatopaica, j que, completa Nascentes, o tupi no tem os fonemas /l/ nem/z/
sestear [sesta + -ear] = fazer a sesta
Vassunc no credita! [alterao de vossemec] =voc
Abrenncio = credo; sai, demnio; Deus me livre!
maleita = maledicta febre = 'maldita febre'
mo + -z- + -ada de folhas de laranjeira da terra quantidade de coisas que podem caber numa das mos
malmente [adv.] mal + -mente = escassamente
ter preciso = necessidade imediata
pachouchada = dito tolo ou impensado; asneira, tolice [ cap. XII]
tartamudear = falar com dificuldade, gaguejando, repetindo (palavras, slabas): -Ah! ... Estou pronto... Sou pobre, muito pobre... [cap. XVI]
grande dor na boca do estmbago [...] o que me aflege mais que h comidas ento que no me passam a goela... um fastio dos meus pecados... [cap. XXII]
TEMPO CRONOLGICO No dia seguinte... Daqui a trs horas... O dia 15 de julho de 1860... Inclina-se no horizonte o Sol, e a brisa da tarde j vinha soprando do lado do poente... Tambm aos domingos, hora da missa... Passavam-se segundos, minutos e horas. dia 18 de agosto de 1863 [eplogo, sesso extraordinria e solene da Sociedade Geral Entomolgica condecorado Meyer por imensa e preciosssima coleo trazida de suas viagens; destaque para uma borboleta, gnero completamente novo e de esplendor acima de qualquer concepo. a Papilo Innocentia... nome dado pelo eminente naturalista quele soberbo espcime - graciosa homenagem beleza de uma donzela (Mdchen) dos desertos da Provncia de Mato Grosso (Brasil), criatura de fascinadora formosura.]
INTERTEXTUALIDADE Lanada inicialmente em folhetim, foi publicada em livro em 1872. Virou pera, teatro e teve trs adaptaes cinematogrficas.
filme brasileiro de 1983, dirigido por Walter Lima Jr.
"Inocncia", pea dirigida por Rodolfo Garca Vzquez - prmio Shell de melhor diretor em 2005. H intertextualidade ou pardia entre o assunto narrado e as citaes apresentadas - de autores estrangeiros - marca a posio de homem de grande leitura por parte do escritor. Desta forma, insere o seu leitor nesse universo rico da literatura universal.
Lucola, de Jos de Alencar Com longas metforas e seu modo de escrever peculiar, nosso autor, nessa obra, critica o Rio de Janeiro imperial e os costumes da sociedade brasileira. Maria da Glria, Lcia ou Lucola: redeno alcanada: seu erro no pode ser esquecido; a sociedade no perdoa; acompanhada de castigo e autopunio; vtima inocente das distores dessa mesma sociedade A capacidade de a Lcia estar entre a seduo e a inocncia; de mostrar-se ora como prostituta maliciosa e sensual, denunciando erotismo; noutras vezes apresentar-se, adversamente, como donzela pura e casta. Na realidade, o que pretendeu com essa metfora foi mostrar a VOC, leitor que, embora ela comercializasse o seu prprio corpo - situao exterior - ainda preservava, dentro de si, um estado de inocncia que ela prpria, por foras das circunstncias, fora obrigada a adormecer.
VISO CRTICA Com um estilo simples e agradvel, Visconde de Taunay se impe como um observador ao descrever as paisagens e personagens e ao desenvolver seus enredos.
Nele, Taunay consegue aliar a inocncia, a pureza e a beleza da mulher romntica, encarnada na personagem "Inocncia", a uma descrio minuciosa da realidade, da vida cotidiana do sertanejo.
Ao narrar a vida do povo do serto matogrossense, mais especificadamente de Santana do Paranaba, o autor transpe para a fico pessoas e lugares, por isso, essa obra essencialmente o romance da terra paranaibense, pois o autor no s colheu as diversas personagens ao longo do serto santanense, como tambm locou o romance na vila de Santana e nas suas proximidades.
Esta obra, em verdade, no apenas uma obra de fico, mas tambm, a histria verdadeira de algumas pessoas que serviram de prottipo, de usos e costumes, tendo o Mato Grosso como cenrio, urdida com fios de fico (nisto o autor foi sumamente feliz), o que d obra este toque de perene atrao e magia.