Ernest Mandel - Iniciação À Teoria Econômica Marxista PDF
Ernest Mandel - Iniciação À Teoria Econômica Marxista PDF
Ernest Mandel - Iniciação À Teoria Econômica Marxista PDF
Teoria Econmica
NO TA
DE 1975
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240-8017
23-1483
PREFCIO DA 1. EDIO
N o termo da sua primeira srie,
A F R O N T A M E N T O ,
presta ateno
a uma forma de doutrina que, no tendo entre ns, direito de cidade, suscita,
pela prpria natureza e pelo circunstanciamento arbitrrio que lhe tem sido
referido, tomadas de posio de recusa indocumentada e imvel ou de acei
tao irreflectida e simplista que manifestam a necessidade urgente de um
esforo cuidado de anlise e duma investigao lcida e actualizante.
A o pretender assumir o contraste com as ortodoxias de toda a espcie- a
ortodoxia para Manuel de Dieguez o
(2).
(1) Com o nosso conhecimento smente foi publicado no nosso pas um artigo
de Emest Mandei, Apogeu e porvir do Neo-capitalismo, na Seara N ova n. 1435
( 2) Ed. Julliard, Paris, 1964.
4
I.
O SOBREPRODUTO SOCIAL
Enquanto a produtividade do trabalho for to baixa que o produto do tra
balho dum homem no chegar seno para o seu prprio sustento, no haver
ainda diviso social, no haver diferenciao no interior da sociedade. Todos os
homens so produtores, encontram-se todos ao mesmo nvel de carncia.
Todo o acrscimo da produtividade do trabalho para alm deste nvel mnimo,
cria a possibilidade dum pequeno excedente, e, desde que haja um excedente
de produtos, desde que dois braos produzam-mais do que exige o seu prprio
sustento, a possibilidade de luta pela posse desse excedente pode aparecer.
A partir deste momento, o conjunto do trabalho de uma colectividade deixa
de ser necessriamente destinado ao sustento dos seus produtores. Uma parte deste
trabalho pode ser destinada a libertar uma outra parte da sociedade da necessi
dade de trabalhar para o seu sustento.
Logo que esta possibilidade se concretizar, uma parte da sociedade podie
constituir-se em classe dominante, caracterizada sobretudo pelo facto de se ter
libertado da necessidade de trabalho para se sustentar.
5
de produtos criados com o simples fim de' serem consumidos pelos seus produ
tores, outros produtos destinados a serem trocados, AB MERCADORIAS.
Na sociedade capitalista, a produo para o mercado, a produo de valores
de troca, cnhece a maior extenso. a primeira sociedade da histria humana,
na qual a maior parte da produo composta de mercadorias. Mas no podemos
dizer que toda a sua produo uma produo de mercadorias. H duas categorias
de produtos que continuaram a ter valores de uso simplesmente.
Em primeiro lugar, tudo o que produzido para o autoconsumo dos cam
poneses, tudo o que consumido nas herdades que produzem os produtos. Encon
tramos a produo para autoconsumo dos agricultores mesmo nos pases capita
listas mais avanados como os Estados Unidos, mas onde no constitui seno
uma pequena parte da produo agrcola . total. Quanto mais atrasada estiver
a agricultura de uin pas, maior em geral a fraco da produo agrcola
destinada ao autoconsumo, o que cria grandes dificuldades para calcular de uma
maneira precisa o rendimento nacional destes pases.
Uma segunda categoria de prodatos que so ainda simples valores de uso
e no mercadorias, em regime capitalista, tudo aquilo que produzido nos
trabalhos domsticos. Ainda que necessite do dispndio de grande quantidade
de trabalho, toda a produo de trabalhos domsticos constitui uma produo de
valores de uso e n%,uma produo de mercadorias. Quando se faz a sopa, ou
quando se pregam botes, produz-se, mas no se produz para o mercado.
A apario, depois a regularizao e a generalizao da produo de mer
cadorias, transformou radicalmente
o modo de
trabalho dos homens e o modo
como organizam a sociedade.
A LEI DO VALOR
Uma das consequncias do aparecimento e da generalizao progressiva da
produo de mercadorias que o prprio trabalho comea a tornar-se em qualquer
coisa regular, numa coisa medida, quer dizer que o prprio trabalho deixa de
ser uma actividade integrada nos ritmos da natureza, conforme s ritmos fisio
lgicos prprios do homem.
A t ao sc. X IX e talvez mesmo at ao sc. XX, em certas
Europa Ocidental os camponeses no trabalhavam de maneira regulg
balhavam todos os meses do ano com a mesma intensidade. Em alg
do ano de trabalho tinham um trabalho extremamente intenso. Ma3
ha,via grandes interrupes na actividade, nomeadamente durant|
11
(*)
Traite
dEcononaie
Marxiste,
Em este
13
Mandei,
Julliard,
Paris,
1964
(N.
T .).
arma para uma Comunidade agrcola, esta Comunidade que lhe fornece as
matrias-primas e, D U R A N TE O TEM PO em que ele as trabalha para fabricar
o instrumento, o campons para quem ele o produz trabalha na terra do fer
reiro. Quer dizer, que h uma E Q U IV A L N C IA EM HORAS DE TR A B ALH O
QUE R E G U LA AS TROCAS de um modo perfeitamente claro.
Nas aldeias japonesas da Idade Mdia, h dentro da comunidade da aldeia
uma contabilidade em horas de trabalho no sentido 'exacto do termo. Um habitante
da aldeia tem uma espcie de livro grande em que regista as horas em que os
diferentes aldees trabalham reciprocamente nos campos uns dos outros, pois a
produo agrcola ainda largamente baseada sobre a cooperao do trabalho, e ,
em geral a colheita, a construo de quintas e a criao de animais so feitas
em comum. Calcula-se de maneira extremamente exacta o nmero de horas de
trabalho que os membros de uma famlia tm de fornecer aos membros de uma
outra famlia. Deve haver, no fim do ano, um equilbrio, isto , os membros da
famlia B devem ter fornecido aos membros da famlia A o mesmo nmero de
horas de trabalho. que os membros da famlia A forneceram durante o mesmo
ano aos membros da famlia B. Os japoneses aperfeioaram ainda este clculo
h quase 1000 anos! at ao ponto de ter em conta o facto de as crianas
fornecerem uma quantidade de trabalho menor que os adultos, isto , que uma
hora de trabalho de crianas no vale seno meia-hora de trabalho adulto,
e deste modo se estabelece ainda toda a contabilidade.
Um outro exemplo permite-nos compreender de um modo imediato a gene
ralizao desta contabilidade baseada sobre a teconomia do tempo de trabalho:
a converso da renda feudal. Numa sociedade feuda!
o sobreproduto agrcola
pode ter trs formas diferentes: a renda em trabalho ou COR V E IA a renda
em gneros e ainda a renda em dinheiro.
Quando se passa da corveia para a renda em gneros, efectua-se evidente
mente um processo de converso. E.m vez do campons dar trs dias de trabalho
por semana ao senhor, d-lhe agora em cada poca agrcola uma quantidade
certa de milho, ou de gado, etc. Efectua-se uma segunda converso quando
se passa da renda em gneros para a renda em dinheiro.
As duas converses tm de ser baseadas sobre uma contabilidade de horas
de trabalho muito rigorosa, se uma das partes no quer ser imediatamente lesada
por esta operao. Se no momento em que se faz a primeira converso, quer
dizer, n momento em que, em vez defornecer 150 dias de trabalho por ano ao
senhor feudal o campons lhe entrega uma certa quantidade de milho, e para
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25
II.
0 CAPITAL E 0 CAPITALISMO
dos
meios
de
produo
certo que, nessas terras, com meios de agricultura muito primitivos, a colheita
mediocre, o nivel de vida extremamente baixo, etc. Contudo, no h fora
material a impelir essa populao a ir trabalhar em minas, em fazendas ou
em fbricas dum colono branco. Noutros termos: se no se mudasse o regime
de propriedade na Africa Equatorial, na Africa Negra, no havia possibilidade
de ali introduzir o modo de produo capitalista. Para o poder introduzir, teve
de se cortar radical e brutalmente, por uma violncia extra-econmica, a massa
da populao negra dos seus meios normais de subsistncia. Quer dizer, teve
de se transformar uma grande parte das terras, dum dia para o outro, em
terras dominais, propriedade do estado colonizador, ou em propriedade privada
de sociedades capitalistas. Teve de se encerrar a populao negra em domnios,
em reservas, Como cmicamente lhes chamaram, numa extenso de terra que era
insuficiente para alimentar todos os seus habitantes. E teve ainda de se impor
uma capitao, isto , um imposto em dinheiro por cada habitante, enquanto a
agricultura primitiva no tra z ia . rendimentos monetrios.
Com estas diferentes presses extra-econmicas criou-se pois para o Africano
uma obrigao de ir trabalhar como assalariado, quando mais no fosse, por
dois, trs meses ao ano,, para ganhar em troca desse, trabalho com que pagar
o imposto e com que comprar o pequeno suplemento de alimentao sem o
qual j no era possvel a subsistncia, dada a insuficincia das terras que ficam
sua disposio.
Em pases como a Africa do Sul, como as Kodsias, como em parte o Congo
ex-Belga, onde o modo de produo capitalista foi introduzido mais larga
escala, estes mtodos foram aplicados mesma escala e uma grande parte da
populao negra foi desenraizada, expulsa, empurrada para fora do seu modo
de trabalho e vida tradicionais.
Mencionando-se entretanto a hipocrisia ideolgica que acompanhou este movi
mento, as queixas das sociedades capitalistas e dos administradores brancos,
segundo as quais os negros seriam uns mandries, visto que no queriam trabalhar,
mesmo quando lhes davam a possibilidade de ganhar 10 vezes mais na mina
ou na fbrica do que ganhavam tradicionalmente nas suas terras. Estas mesmas
queixas j se tinham feito ouvir contra os operrios indianos, chineses ou rabes
50 ou 70 anos antes' Foram tambm ouvidas o que prova bem a igualdade
fundamental de todas as raas humanas com respeito aos operrios europeus,
franceses, belgas, ingleses, alemes, nos sculos X V II ou X V m . Trata-se sim
plesmente da seguinte constante: normalmente, pela sua constituio fsica e
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uma parte do seu capital, e despendido antes de o valor das mercadorias pro
duzidas pelos operrios em questo ser realizado.
Chama-se capital constante, C, a toda a parte do capital que transformado
ein mquinas, em edifcios, em matrias primas, etc., cuja produo no aumenta
o valor, mas simplesmente o conserva. Chama-se capital varivel, V, parte do
capital com que o capitalista compra a fora de trabalho, porque s essa parte
do capital que permite ao capitalista aumentar o seu capital com uma mais-valia.
Qual , ento, a lgica econmica da concorrncia, do impulso para o
aumento da produtividade, do impulso pata o crescimento dos meios mecnicos,
do trabalho das mquinas? A lgica desse impulso, isto , a tendncia fundamental
do regime capitalista, aumentar o peso de C, o peso do capital constante
C
relativamente ao conjunto do capital. Na fraco----- . , C tem tendncia a
C+ V
aumentar, isto , a parte do capital total constitudo por mquinas e matrias
primas, e no por salrios, tem tendncia a aumentar na medida em que o
maquinismo progride cada vez mais e em que a concorrncia obriga o capitalismo
a aumentar cada vez mais a produtividade do trabalho.
C
A esta fraco-------- damos o nome de' composio . orgnica do capital.
C+V
Representa pois a relao entre o capital' constante e o conjunto do capital, e
dizemos que em regime capitalista esta composio orgnica
tem tendncia a
aumentar.
Como que o capitalista pode adquirir novas mquinas? O que quer dizer
que o capital constante aumenta cada vez mais?
A operao fundamental da economia capitalista a produo da mais-valia.
Mas, enquanto a mais-valia for simplesmente PRODUZIDA, mantm-se encerrada
em mercadorias, e o capitalista mal a pode utilizar. No se podem transformar
sapatos por vender em
mquinas novas, em maior produtividade. Para poder
comprar novas mquinas, o industrial que possui sapatos deve vender esses
sapatos, e uma parte do produto dessa venda servir-lhe- para a compra de
novas mquinas, de um capital constante suplementar.
Por outras palavras: A R E A LIZA O D A M A IS -V A L IA B A CONDIO
D A ACU M U LAO DO C A P IT A L , que outra coisa no seno a capitalizao
da mais-valia.:.
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A CONCORRNCIA CONDUZ
CONCENTRAO E AOS MONOPLIOS
A concentrao do capital outra lei permanente da sociedade capitalista
e acompanhada da proletarizao duma parte da classe burgueza, da expro
priao dum certo nmero de burgueses por um nmero mais pequeno de burgueses.
E por isso que o Manifesto Comunista de Marx de Engels pe em nfase o
facto de que o capitalismo, que pretende defender a propriedade privada, na
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rncia. Isso no existe. Quer-se dizer simplesmente num capitalismo cujo com
portamento fundamental se tornou diferente, isto , que j no impele a uma
diminuio constante dos preos por um aumento constante da produo, que
utiliza a tcnica da repartio do mercado, da estabilizao das quotas-partes
do mercado. Mas este processo acaba num paradoxo. Porque que os capitalistas
que, a princpio, se faziam mutuamente concorrncia, comeam a concentrar-se
a fim de limitar essa concorrncia, e limitar tambm a produo ? Porque para
eles esta um meio de aumentar os seus benefcios. No o fazem seno no caso
de isso lhes trazer mais lucros. A limitao da produo, permitindo aumentar
os preos, trs mais rendimentos e permite assim acumular mais capitais?
J no se podem investir no mesmo ramo. Porque, investir capitais significa
justamente aumentar a capacidade de produo, por conseguinte aumentar pro
duo, por conseguinte fazer baixar os preos. O capitalismo encontra-se preso
nesta contradio a partir do ltimo quartel do sculo XIX. Adquire ento brus
camente uma qualidade que s Marx tinha previsto e que no foi compreendida
por economistas como Ricardo ou Adm Smith: bruscamente o modo de produo
capitalista faz proselitismo. Comea a. estender-se no mundo inteiro por meio
das EXPORTAES DE C A PITA IS , que permitem estabelecer empresas capita
listas em pases ou sectores em que os monoplios ainda no existem.
A consequncia da monopolizao de certos ramos e da extenso do capi
talismo dos monoplios em certos pases, a reproduo do modo de produo
capitalista em ramos ainda no monopolizados, em pases ainda no capitalistas.
Foi assim que o colonialismo e todos os seus aspectos se expandiram como um
rastilho de plvora, no espao de algumas dezenas de anos, duma pequena parte
do globo a que se tinha limitado dantes o modo de produo capitalista ao
conjunto do mundo, nos comeos do sc. XX. Cada pas do mundo estava assim
transformado em esfera de influncia e campo de investimento do Capital.
uma outra
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4a
III.
O NEO-CAPITALISMO
ORIGENS DO NEO-CAPITALISMO
A grande crise econmica de 1929 modifica primeiro fundamentalmente a
atitude da burguesia e dos seus idelogos para com o Estado; modifica em seguida
a atitude dessa mesma burguesia para com o futuro do seu prprio regime.
H alguns anos, teve lugar nos Estados Unidos um processo escandaloso,
o processo de A lger Hiss, que tinha sido substituto do ministro dos Negcios
Estrangeiros dos Estados Unidos durante a guerra. Nesse processo, um dos amigos
mais ntimos de A lger Hiss, um jornalita da Casa Luce, chamado Chambers,
tinha apresentado o depoimento-chave contra Hiss acusando-o de ter sido comu
nista, de ter roubado documentos do departamento de Estado e de os ter passado
Uhio Sovitica. Este Chambers, que era um homem um pouco nevrtico, e
que, aps ter sido comunista durante os dez primeiros anos da sua vida adulta,
terminou a sua carreira como redactor da pgina religiosa do semanrio TIME,
escreveu um grosso livro intitulado Witness (Testem unha). E nesse livro
h uma passagem que diz aproximadamente isto a propsito do perodo de 1929-1939: N a Europa, os operrios so socialistas e os burgueses so conservadores;
na Amrica, as classes mdias so conservadoras, os operrios so democratas,
e os burgueses so comunistas.
15 evidentemente absurdo apresentar as coisas desta maneira exagerada.
Mas no h dvida que o ano de 1929 e o perodo que se seguiu grande crise
de 1929-1932 foram uma experincia traumtica para a burguesia americana,
burguesia que, de toda a classe capitalista mundial, era a nica imbuda duma
confiana total, cega, no futuro do regime da livre empresa. Recebeu um
choque terrvel durante essa crise de 1929-1932, que foi verdadeiramente para
49
Ncr quero polemicar aqui com esta tese, que considero alis inaceitvel;
quero simplesmente sublinhar que ela confirma, mesmo de maneira absolutamente
extremista, que a maioria das revolues tecnolgicas que continuamos a viver
no domnio da indstria e da tcnica produtiva em geral so subprodutos das
revolues tcnicas no domnio militar.
N a medida em que estamos instalados numa guerra, fria permanente, que
caracterizada por uma procura permanente duma transformao tcnica no
domnio dos armamentos, h a um factor novo, uma fonte por assim dizer
extra-econmica, que alimenta as transformaes constantes da tcnica produtiva.
N o passado, quando no havia esta autonomia da pesquisa tecnolgica, quando
a pesquisa tecnolgica foi essencialmente obra de firmas industriais, havia uma
razo maior para determinar ma marcha cclica dessa pesquisa. Diziam:
preciso afrouxar agora as inovaes, porque temos instalaes extremamentes
custosas, e preciso comear por amortizar essas instalaes. preciso que
elas se tomem rentveis que os seus encargos de instalao sejam cobertos,
antes de nos lanarmos numa nova fase d transformao tecnolgica.
A tal ponto isto verdade, que economistas como por exemplo Schumpeter
tomaram mesmo este ritmo cclico das revolues tcnicas como explicao de
base para a sucesso das vagas a longo prazo expansivas, ou das vagas a longo
prazo de estagnao.
Hoje em dia esse motivo econmico j no funciona da mesma maneira.
No plano militar, no h motivos vlidos para suspender a pesquisa de novas
armas. H pelo contrrio sempre o perigo de qe o adversrio encontre uma
nova arma antes de o prprio a encontrar. H por conseguinte um verdadeiro
estimulante duma pesquisa permanente, sem interrupo e prticamente sem consi
derao econmica (ao menos para os Estados Unidos), o que faz que agora
esse rio corra de maneira ininterrupta. O que quer dizer que ns vivemos uma
verdadeira poca de transformao tecnolgica Ininterrupta no domnio da pro
duo. Basta que nos lembremos de tudo o que se produziu no decurso dos
ltimos 10-15 anos, a partir da libertao da energia nuclear, atravs da auto
mao, do desenvolvimento das mquinas de calcular electrnicas, da mimaturlzao,
do L A S E R , e de toda uma srie doutros fenmenos, para registarmos esta
transformao, esta revoluo tecnolgica ininterrupta.
Ora, quem diz revoluo tecnolgica ininterrupta diz encurtamento, reduo
do perodo de renovamento do capital fixo. Isto explica ao mesmo tempo a
expanso escala mundial, que como toda a expanso a longo prazo no regime
a longo prazo do
capitalismo,
perodo queeu creio
limitadono
tempo, co
perodos anlogos do passado (no creio de modo nenhum que este perodo
de
expanso v durar eternamente e que o capitalismo tenha encontrado agora a
pedra filosofal que lhe permitiria evitar no somente as crises mais ainda a
sucesso de ciclos a longo prazo de expanso e de estagnao relativa), mas que
confronta de momento o. movimento operrio da Europa ocidental com os pro
blemas particulares desta expanso.
Quais so agora as caractersticasfundamentais dessa
interveno dos
poderes pblicos na economia capitalista?
68
H que reconhecer que at aqui isso nunca foi realizado em grande escala
em regime capitalista, e preciso mesmo pr-se a questo de saber se essa
realizao possvel sem provocar uma reaco capitalista que acarretaria rpi
damente um perodo de crise revolucionria. E um facto que as experincias mais
interessantes de Segurana Social, como a que foi realizada
em Frana aps 1944,
ou sobretudo o Servio Nacional de Sade na Gr-Bretanha aps 1945, foram
financiadas muito mais por uma T A X A O DOS PRPRIOS TR AB ALH AD O RE S
(sobretudo pelo aumento dos impostos indirectos e pelo agravamento da fiscalidade
directa que atingia os salrios mesmo modestos, como por exemplo na Blgica)
do que pela taxao da burguesia. por isso que em regime capitalista, nunca
se assistiu a uma verdadeira e radical redistribuio do rendimento nacional pelo
imposto, um dos grandes m itos do reformismo.
H ainda um outro aspecto da importncia crescente do salrio diferido,
dos seguros sociais, no rendimento nacional dos pases capitalistas industrializados:
precisamente O SEU CARAC TER A NTI-CCLIC O . Encontramos aqui uma outra
razo pela qual o Estado burgus, oneo-capitalismo, tem interesse
em ampliar
o volume desse salrio diferido. E que este desempenha o papel de almofada
amortecedora
que impede uma quedademasiado brusca e demasiado forte
do
rendimento nacional em caso de crise.
Outrora, quando um operrio perdia o emprego, o seu rendimento caa a
zero. quando
um quarto da mo-de-obra dum pas estava desempregada,
os
rendimentos dos assalariados baixavam automticamente de um quarto. Muitas
vezes foram descritas as consequncias terrveis desta baixa de rendimentos, desta
baixa da procura
total, para o conjunto da economia capitalista
o aspecto
duma reaco' em
cadeia que progredia com uma lgica e uma
fatalidade
terrificantes.
Suponhamos que a crise rebenta no sector que fabrica bens de equipa
mento, e que este sector obrigado a fechar empresas e a despedir os seus
trabalhadores. A perda de rendimentos que estes sofrem reduz radicalmente as
suas compras
de bens de consumo.
Em consequncia disso, h rpidamente
superproduo
no sector que fabrica bens de consumo, que por seu turno se
v obrigado a fechar empresas e a despedir pessoal. Assim, as vendas de bens
de consumo baixaro uma vez mais, e as mercadorias em armazm sem compradores
acumular-se-o. Ao mesmo
tempo, as fbricas
de bens de consumoao serem
fortemente atingidas, reduziro ou suprimiro as suas encomendas de bens de
59
62
mente ligado quela fase de extenso a longo prazo de que falavamos atrs,
porque, devemos reconhec-lo honestamente, no podemos predizer a evoluo
dos preos dos bens de consumo durveis quando esse perodo de expanso
a longo prazo chegar ao fim.
No se exclui que, quando na indstria automvel a capacidade de produo
excedentria se ampliar, isso levar a uma nova luta de concorrncia nos preos
e a baixas espectaculares. Poder-se-ia defender a tese de que, a famosa crise
do automvel que se espera na segunda metade dos anos 60 (1965, 1966, 1967)
poderia ser reabsorvida de maneira relativamente fcil na Europa ocidental, se
o preo de venda dos carros pequenos fosse baixado em metade, isto , no dia
em que um 4 C V ou um 2 OV fossem vendidos por 200.000 on 250.000 antigos
francos. Haveria ento uma tal extenso da procura que, provvelmente, essa
capacidade excedentria desapareceria normalmente. No quadro dos acordos
actuais isso no parece impossvel; mas se se passar por um longo perodo
de 5-6 anos de luta de Concorrncia desenfreada (coisa que inteiramente pos
svel na indstria automvel na Europa) uma eventualidade que se no deve
excluir. Acrescentamos desde j que h uma eventualidade mais provvel, a
da capacidade de produo excedentria ser suprimida pelo encerramento e
desapario de toda uma srie de firmas, impedindo ento o desaparecimento
dessa capacidade excedentria toda a baixa importante dos preos. Essa a
reaco normal diante de semelhante situao no regime capitalista dos mono
plios. No deve excluir-se totalmente a outra reaco, mas de momento ainda
no conhecemos isso em nenhum domnio; e por exemplo, para o petrleo, h
um fenmeno de super-produo potencial que dura desde h 6 anos, mas as
baixas de preo consentidas pelos grandes trusts. que fazem taxas de lucros
de 100 % e de 150 % so absolutamente andinas. So baixas de preo de 5 %
ou 6 %. quando eles podiam reduzir o preo da gasolina em metade que se o
quisessem.
A PROGAMAO ECONMICA
A outra face da medalha do neo-capitalismo o conjunto dos fenmenos
que foram sumriamente resumidos sob a etiqueta de economia concertada,
programao econmica, ou ainda planificao indicativa. E uma outra forma
de interveno consciente na economia, contrria ao esprito clssico do capitalismo.
63
subsdios, pela reduo dos impostos, pela oferta de crdito a juros reduzidos,
tcnicas, de que resulta sempre em ltima anlise uma subida da taxa do lucro,
o que no quadro duma economia capitalista funcionando normalmente, sobretudo
numa fase de expanso a longo prazo, estimula evidentemente os investimentos'
e actua no sentido previsto pelos autores daqueles projectos.
Ou nos colocamos de um modo completamente lgico e coerente no quadro
do regime capitalista, e ento ser preciso que exista apenas um meio de
assegurar um aumento constante dos investimentos, um reajustamento industrial
baseado no aumento dos investimentos privados,-o que significar o aumento
da taxa de lucro.
Ou ento recusamo-nos, com socialistas, a actuar no sentido do aumento
da taxa de lucro, e, ento, no existe seno um processo de se sair daqui, que
ser o desenvolvimento dum poderoso sector pblico na indstria, ao lado do
sector privado, ou na prtica sair do quadro capitalista e da lgica capitalista
e passar ao que entre ns se chama reforma de estruturas anticapitalistas.
iNa histria do movimento operrio belga nos ltimos anos, ns presenciamos
este conflito de orientao que vos espera em Frana nos anos prximos, no
momento em que sentiram uma primeira amostra de desemprego.
Alguns dirigentes socialistas dos quais em nada quero pr em dvida a.
honestidade pessoal, foram ao ponto de dizer duma maneira to brutal e to
cnica como o fiz h um instante: Se quiserem extinguir o desemprego a curto
prazo no quadro do regime existente, no existe outro processo de o fazer seno
aumentando a taxa de lucro. Eles no acrescentaram, mas como se o tivessem
dito, qe isso implica uma redistribuio do rendimento nacional custa dos
assalariados. Quer isto dizer que no podemos, sem enganar as pessoas, defender
ao mesmo tempo uma expanso econmica mais rpida, qe em regime capitalista
implica uma subida dos investimentos privados, e uma redistribuio do rendi
mento nacional em proveito dos assalariados. N o regime capitalista, estes dois
objectivos so absolutamente incompatveis, pelo menos a curto e mdio prazo.
O movimento operrio encontra-se pois em face da oposio fundamental
entre uma poltica de reformas de estrutra N E O -C A PIT A LIST A S , o que implica
a integrao dos 'sindicatos no regime capitalista, e a sua transformao em
polcias, em prol da manuteno da paz social durante a fase de amortizao do
capital fixo, e uma poltica fundamental A N T IC A P X T A L IS T A com o desenvolvimento
72
Prefcio da 1. edio
A T E O R IA DO V A L O R E D A M A IS -V A L IA
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
5
7
9
11
15
17
21
22
I I O C A P IT A L E O C A PITA LIS M O
1.
2.
3.
4.
6.
7.
8.
26
28
31
34
40
42
47
49
52
55
51
61
63
67