Secadi Ciganos Documento Orientador para Sistemas Ensino
Secadi Ciganos Documento Orientador para Sistemas Ensino
Secadi Ciganos Documento Orientador para Sistemas Ensino
MINISTRIO DA EDUCAO
Braslia DF
2014
1
Ministrio da Educao:
SUMRIO:
APRESENTAO
04
1. INTRODUO
05
1.1.
05
QUEM SO OS CIGANOS?
2. CONCEITOS E DEFINIES
07
2.1.
07
2.2.
COMUNIDADE CIGANA
07
08
3.1.
08
3.2.
08
10
4.1.
10
13
5.1.
IDENTIFICAO
13
5.2.
ORIENTAES GERAIS
16
5.2.1. Matrcula
16
5.3.
PROGRAMAS DO MEC
17
17
20
21
5.4.
22
PROGRAMAS FEDERAIS
22
28
5.5.
31
POLTICAS SOCIAIS
31
32
34
35
36
36
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
39
ANEXOS
40
40
44
53
56
3
APRESENTAO
INTRODUO
1
Autor: Jos Ruiter. Traduo em outras lnguas ciganas: Si o dron ua buti baron naka devesla guia
suzieke Chib; Kana te keraves o lungo drom, nastik te phirel korkoro Lovara; O drom si dur... nastik te
djas korkorro... Matchuaia e Horaran; Cana o drom si lungo, naxtis te piras korkorro Calderaxa.
2. CONCEITOS E DEFINIES
indgenas
trabalhadores itinerantes
acampados
Um importante marco legal foi a instituio do dia 24 de maio como Dia Nacional
do Cigano, por meio de Decreto assinado pelo ex-Presidente Lula, em 2006, publicado no
Dirio Oficial da Unio em 26 de maio de 2006, como reconhecimento contribuio das
etnias ciganas na formao da histria e cultura brasileira. Como parte da celebrao do
Dia Nacional dos Ciganos, institudo por decreto presidencial em 26 de maio de 2006, foi
realizado o Brasil Cigano I Encontro Nacional dos Povos Ciganos. O evento que ocorreu
em Braslia de 20 a 24 de maio de 2013, reuniu cerca de 300 pessoas de comunidades
ciganas das diferentes regies do Pas, oriundas de 19 estados e do Distrito Federal.
Neste contexto, o MEC iniciou a elaborao de polticas pblicas que visam
atender s demandas educacionais da populao cigana, tais como:
8
instruo
etc.
de
uma
Constituio Federal de 1988, Art. 5, I, Art. 206, Art. 210, I, 1 do Art. 242,
Art. 215 - O Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s
fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das
manifestaes culturais. 1 O Estado proteger as manifestaes das culturas
populares, indgenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatrio nacional e Art. 216 - Constituem patrimnio cultural brasileiro os
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expresso; II
- os modos de criar, fazer e viver; III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV
- as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s
manifestaes artstico-culturais; V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico,
paisagstico artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico), que
asseguram o direito igualdade de condies de vida e de cidadania, assim como
garantem igual direito s histrias e culturas que compem a nao brasileira, alm do
direito de acesso s diferentes fontes da cultura nacional a todos brasileiros;
Conveno n 169 da Organizao Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos
Indgenas e Tribais, adotada em Genebra, em 27 de junho de 1989, promulgada no Brasil
pelo Decreto n 5.051, de 19 de abril de 2004, Art. 2, Inciso I, que afirma que os
governos devero assumir a responsabilidade de desenvolver, com a participao dos
povos interessados, uma ao coordenada e sistemtica com vistas a proteger os direitos
desses povos e a garantir o respeito pela sua integridade; Art. 27, Inciso I, que define que
os programas e os servios de educao destinados aos povos interessados devero ser
desenvolvidos e aplicados em cooperao com eles a fim de responder s suas
10
de 17 de junho de 2004, Art. 2, 1, que afirma que a Educao das Relaes tnicoRaciais tem por objetivo a produo de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas
e valores que eduquem cidados quanto pluralidade tnico-racial, tornando-os
capazes de interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, respeito
aos direitos legais e valorizao de identidade, na busca da consolidao da democracia
brasileira;
11
institui o Dia Nacional do Cigano, comemorado no dia 24 de maio de cada ano, que
simboliza o reconhecimento, por parte do governo brasileiro, da existncia e da
necessidade de trabalhar pela maior visibilidade dos povos ciganos no Brasil (ver Anexo);
sobre os direitos e deveres dos usurios da sade, e que afirma, no pargrafo nico, do
Art. 4, o princpio da no discriminao na rede de servios de sade;
12
MUNICPIOS
Alagoas
Bahia
Cear
Esprito Santo
Gois
Maranho
14
Mato Grosso
gua Boa.
Minas Gerais
Par
Paraba
Paran
Ampere,
Apucarama, Arapongas,
Araucria,
Assis
Chateaubriand, Boa Esperana, Cambira, Campo do Tenente,
Campo Largo, Campo Mouro, Cascavel, Cerro Azul, Colombo,
Colorado, Contenda, Cornlio Procpio, Cruzmaltina, Curitiba,
Dois Vizinhos, Fazenda Rio Grande, Goioer, Guara,
Guaraminga, Guarapuava, Irati, Itaguaj, Ivaipor, Janipolis,
Juranda, Lidianpolis, Londrina, Mariluz, Maring, Mato Rico,
Moreira Sales, Ortigueira, Paiandu, Pato Branco, Pira do
Sul, Ponta Grossa, Quarto Centenrio, Rebouas, Santa F,
Santa Izabel do Oeste, Santo Antonio do Sudoeste, So Jos
dos Pinhais, Sengs, Tapejara, Ubirat, Unio da Vitria.
Pernambuco
Piau
15
Rio de Janeiro
Santa Catarina
So Paulo
Sergipe
Tocantins
de
anterior, este dever ser inserido no grupamento correspondente aos seus pares de
idade, mediante diagnstico de suas necessidades de aprendizagem, realizado pela
instituio de ensino que o recebe.
5.3 PROGRAMAS DO MEC
5.3.1 Programa Brasil Alfabetizado
O Programa Brasil Alfabetizado (PBA) a principal iniciativa do Ministrio da
Educao, em regime de colaborao com os entes federados, para a universalizao
do Ensino Fundamental, promovendo apoio a aes de alfabetizao de jovens com 15
anos ou mais, adultos e idosos, realizadas por estados, Distrito Federal e municpios
desde que faam sua adeso ao Programa.
O Programa ocorre em ciclos anuais, iniciados a partir da publicao de
Resoluo especfica. A Resoluo vigente do PBA a FNDE/CD n 52, de 11 de
dezembro de 2013. A flexibilidade do desenho do Programa favorece a adequao
do processo educativo s diferenas tnicas, regionais, culturais, de gnero entre
os segmentos sociais atendidos pelo Programa. O PBA garante recursos, em carter
suplementar,
para
as
seguintes
aes:
formao
dos
alfabetizadores,
prev a integrao das polticas de alfabetizao com as aes do Plano Brasil Sem
Misria, do Projeto Olhar Brasil, do Plano Estratgico para a Educao no Sistema
Prisional, para jovens em cumprimento de medidas socioeducativas e do Programa
Pescando Letras.
Quem pode participar: Os jovens, adultos e idosos ciganos podem participar
do PBA como alfabetizandos/estudantes ou
alfabetizadores/professores. Os
2 passo A pessoa designada pelo EEx como Gestor Local deve acessar o SBA, no
endereo http://brasilalfabetizado.fnde.gov.br, selecionar a opo Solicitar prcadastro e fazer o preenchimento completo das informaes.
19
do
Programa,
os
profissionais
responsveis,
papel
do
professor
23
As aes
e materiais didticos
estudo da temtica de gnero e orientao sexual, das culturas indgena e afrobrasileira entre as disciplinas do ensino fundamental e mdio.
2 No ensino Superior, as metas previstas visam a incluir os Direitos Humanos, por
meio de diferentes modalidades como disciplinas, linhas de pesquisa, reas de
concentrao,
transversalizao
includa
nos
projetos
acadmicos
dos
comunitrias
nos
programas
de
qualificao
profissional,
tratamento igual
a todas as pessoas e
Direitos Humanos.
Diretriz 20: Reconhecimento da educao no formal como espao de defesa e
promoo dos Direitos Humanos.
Objetivo estratgico II: Resgate da memria por meio da reconstruo da histria dos
movimentos sociais.
Aes programticas:
Promover campanhas e pesquisas sobre a histria dos movimentos de grupos
historicamente vulnerabilizados, tais como o segmento LGBT, movimentos de mulheres,
quebradeiras de coco, castanheiras, ciganos, entre outros.
assento de nascimento gratuito e indispensvel, pois sem ele a pessoa no tem nome,
sobrenome e nacionalidade reconhecidos perante a lei.
O que a Certido de Nascimento - CN? diferente do registro civil de
nascimento - RCN?
A CN o documento de identificao emitido e fornecido pelo cartrio de registro
civil que comprova o registro de nascimento e individualiza a pessoa registrada pelos
dados essenciais de seu nascimento (nome, sobrenome, nacionalidade, naturalidade,
data de nascimento, genitores, avs, observaes importantes). A primeira via da CN
gratuita a todos, e as segundas vias so gratuitas apenas aos reconhecidamente pobres.
28
Certido de casamento;
Um documento de identificao.
2) Se o pai no puder comparecer ao cartrio, deve fazer uma declarao com firma
reconhecida autorizando o registro do filho em seu nome. Mesmo sem essa
declarao, a me pode fazer a certido de nascimento apenas em seu nome.
Depois, o pai deve comparecer ao cartrio para registrar a paternidade,
espontaneamente ou em cumprimento de determinao judicial.
3) Se a criana no nasceu em hospital e no tem a DNV, pai e me devem
comparecer ao cartrio:
Pela internet, se a pessoa fsica possuir ttulo de eleitor, por meio do formulrio
eletrnico.
30
ser dividido pelo nmero de pessoas que vivem na casa, obtendo assim a renda
por pessoa da famlia. As famlias que possuem renda mensal entre R$ 77,00 e R$
154,00, s ingressam no Programa se possurem crianas ou adolescentes de 0 a 17
anos. J as famlias com renda mensal de at R$ 70,00 por pessoa, podem participar
do Programa Bolsa Famlia qualquer que seja a idade dos membros da famlia.
Quem pode participar: Os Estados, os Municpios e Distrito Federal (como
gestores locais) e famlias em situao de pobreza ou extrema pobreza (como
beneficirios). Como participar: A seleo das famlias para o Programa Bolsa
Famlia (PBF) feita com base nas informaes registradas pelo municpio no
Cadastro nico para Programas Sociais (Cadnico), que instrumento de coleta de
dados que tem como objetivo identificar todas as famlias de baixa renda existentes
no Brasil.
Benefcios:
Os benefcios so baseados no perfil da famlia registrado no Cadastro nico.
Entre as informaes consideradas, esto: a renda mensal por pessoa, o nmero de
integrantes, o total de crianas e adolescentes de at 17 anos, alm da existncia de
gestantes.
Benefcio Bsico: R$ 77,00
Concedido apenas a famlias extremamente pobres (renda mensal por pessoa menor
de at R$ 77,00)
Benefcio Varivel de 0 a 15 anos: R$ 35,00
Concedido s famlias com crianas ou adolescentes de 0 a 15 anos de idade.
Benefcio Varivel Gestante: R$ 35,00.
Concedido s famlias que tenham gestantes em sua composio.
Pagamento de nove parcelas consecutivas, a contar da data do incio do pagamento
do benefcio, desde que a gestao tenha sido identificada at o nono ms.
A identificao da gravidez realizada no Sistema Bolsa Famlia na Sade. O Cadastro
nico no permite identificar as gestantes.
Benefcio Varivel Nutriz: R$ 35,00
Concedido s famlias que tenham crianas com idade entre 0 e 6 meses em sua
33
composio.
Pagamento de seis parcelas mensais consecutivas, a contar da data do incio do
pagamento do benefcio, desde que a criana tenha sido identificada no Cadastro
nico at o sexto ms de vida.
Observao: Os benefcios variveis acima descritos so limitados a 5 (cinco) por
famlia, mas todos os integrantes da famlia devem ser registrados no Cadastro nico.
Benefcio Varivel Vinculado ao Adolescente: R$ 42,00
Concedido a famlias que tenham adolescentes entre 16 e 17 anos limitado a dois
benefcios por famlia.
Benefcio para Superao da Extrema Pobreza: calculado caso a caso
Transferido s famlias do Programa Bolsa Famlia que continuem em situao de
extrema pobreza (renda mensal por pessoa de at R$ 77,00), mesmo aps o
recebimento dos outros benefcios. Ele calculado para garantir que as famlias
ultrapassem o limite de renda da extrema pobreza.
5.5.3 Direito Sade e Programa Sade da Famlia PSF
Todo cidado brasileiro tem direito ao acesso universal sade, o que quer
dizer que todos os hospitais pblicos e conveniados do Sistema nico de Sade (SUS)
no podero negar atendimento a qualquer pessoa, seja esta de qual- quer etnia,
classe social, sexo, cor, religio, idade e localidade do pas.
O Ministrio da Sade preocupa-se em garantir atendimento sade de
toda populao brasileira, refletidas no acesso da populao a servios de qualidade,
com equidade e em tempo adequado ao atendimento das necessidades de sade,
aprimorando a poltica de ateno bsica e a ateno especializada, articulado com o
SUS, baseado no cuidado integral, observando as prticas de sade e as medicinas
tradicionais, com controle social, garantindo o respeito s especificidades culturais,
implementao de aes de saneamento bsico e sade ambiental, de forma
sustentvel, para a promoo da sade e reduo das desigualdades sociais, com
nfase no Programa de Acelerao do Crescimento (PAC).
A estratgia de Sade da Famlia um projeto dinamizador do SUS,
condicionada pela evoluo histrica e organizao do sistema de sade no Brasil. A
34
ampliao
qualificao
da
Ateno
Especializada
(atravs,
(como beneficirios).
Como participar: O gestor municipal interessado em implantar a equipe de sade
bucal dever apresentar proposta ao Conselho Municipal de Sade e, se aprovada,
encaminhar Comisso Intergestores Bipartite (CIB) do respectivo Estado. O municpio
dever possuir equipe de Sade da Famlia implantada, bem como materiais e
equipamentos adequados ao elenco de aes programadas, de forma a garantir a
resolutividade da Ateno Primria Sade.
5.5.5 Programa Sade na Escola
O Programa Sade na Escola (PSE), poltica intersetorial da Sade e da
Educao, foi institudo em 2007. As polticas de sade e educao voltadas s
crianas, adolescentes, jovens e adultos da educao pblica brasileira se unem para
promover sade e educao integral.
A articulao intersetorial das redes pblicas de sade e de educao e das
demais redes sociais para o desenvolvimento das aes do PSE implica mais do que
ofertas de servios num mesmo territrio, pois deve propiciar a sustentabilidade
das aes a partir da conformao de redes de corresponsabilidade. Implica colocar
em questo: como esses servios esto se relacionando? Qual o padro
comunicacional estabelecido entre as diferentes equipes e servios? Que modelos
de ateno e de gesto esto sendo produzidos nesses servios?
A articulao entre Escola e Rede Bsica de Sade a base do Programa
Sade na Escola. O PSE uma estratgia de integrao da sade e educao para
o desenvolvimento da cidadania e da qualificao das polticas pblicas brasileiras.
A partir de 2013, com a universalizao do Programa Sade na Escola (PSE), todos
os Municpios do Pas esto aptos a participar de suas atividades. Podem participar
todas as equipes de Ateno Bsica e as aes foram expandidas para as creches
e pr- escolas.
da
Seguridade
Social,
sendo administrado
pelo
Ministrio
do
porta de entrada para os servios assistenciais, basta o usurio procurar o CRAS mais
prximo e o financiamento dos benefcios eventuais de competncia dos municpios
e do Distrito Federal, com responsabilidade de cofinanciamento pelos estados.
38
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
39
ANEXOS
SAIBA MAIS SOBRE OS CIGANOS - Referncias para estudos indicadas pelo Grupo de
Trabalho:
Referncias para estudos dos trabalhadores em educao:
Livros em Portugus:
de
aula.
os
povos
romani
no
Brasil
em
Disponvel em <www.amsk.org.br/projetokalinka.html>. Em
Educao
Bsica
do
estado
do
Paran.
Disponvel
em
Cigana
do
Paran
APRECI/PR.
Disponvel
em
<http://www.educacao.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=5224>.
3) Mio Vacite e Violino Classe A, desenvolvido pela Associao Unio Cigana do
Brasil, sob a coordenao de Mio Vacite e Jaqueline Vacite desenvolve
importante trabalho de proteo e valorizao da cultura romani (cigana) com a
realizao de palestras, cursos e espetculos de dana e msica cigana em
organismos pblicos da esfera federal, estadual e municipal, e a sociedade em
geral, com atividades de difuso de informao sobre a histria, as tradies e
os costumes dos povos ciganos (romani) do Brasil. Disponvel em
<http://www.miovacite.xpg.com.br/>;
<http://www.youtube.
com/watch?v=xAnbpOF2uyY>.
4) Msica e Danas Ciganas: a Arte-Educao contra o preconceito aos povos
ciganos (romani), desenvolvido pelo Grupo Leshjae Kumpanja, sob a
coordenao de Anne Kellen Cerqueira e Jos Ruiter Cerqueira realiza
importante trabalho de educao popular em sade, formao continuada de
42
Disponvel em
(ciganos).
<http://leshjae.wordpress.com/2013/09/12/sesau- realiza-i-
encontro-dos-povos-ciganos-de-alagoas/).
43
I RELATRIO
Histrico
ratificados pelo Brasil, seja ainda por normas superiores, de natureza constitucional,
que garantem s crianas e adolescentes que vivem em situaes de itinerncia o
direito matrcula escolar. A regulao destes casos, ento, pode ser guiada pelo
preceito constitucional que define o acesso educao como direito fundamental de
toda criana e adolescente.
O art. 6, caput, da Constituio Federal, inserido no Ttulo dos Direitos e Garantias
Fundamentais, qualifica a educao como um direito social, sendo que o art. 7, inciso
XXV, assegura aos trabalhadores urbanos e rurais assistncia gratuita aos filhos e
dependentes, desde o nascimento at 5 (cinco) anos em creches e pr-escolas.
Por sua vez, o dispositivo do art. 208, incisos I, II e IV, entre outros, afirma a
obrigatoriedade da oferta da Educao Bsica, constituindo o acesso a quaisquer de
seus nveis um direito pblico subjetivo. medida que se referem a um direito
fundamental, estas normas devem ser aplicadas de maneira plena, imediata e
integral, independentemente inclusive da existncia de normas infraconstitucionais
que as regulamentem (CF, art. 5, 1).
sabido que o no oferecimento do ensino obrigatrio pelo Poder Pblico, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (CF, art. 208,
2).
As normas incumbem ao poder pblico a responsabilidade e a obrigao de oferecer
vagas na Educao Bsica para todos. O acesso a ela, portanto, deve e pode ser exigido
por qualquer pessoa. Da mesma forma, os pais e/ou responsveis tm o dever legal de
matricular seus filhos, independentemente da profisso que exeram. Esta questo
tambm regulada pelo Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n 8.069/90) que,
em seu art. 55, prescreve:
Os pais ou responsvel tm a obrigao de matricular seus filhos ou pupilos na rede
regular de ensino. A inrcia ou omisso destes em relao regularizao da matrcula
escolar dos seus filhos configura infrao administrativa, sujeita multa de trs a vinte
salrios mnimos (ECA, art. 249).
No intuito de matricular seus filhos em instituies de Educao Bsica, trabalhadores
de circo, por exemplo, tm se utilizado do art. 29 da Lei n 6.533, de 24 de maio de
1978, que dispe sobre a regulamentao das profisses de artistas e de tcnico em
espetculos de diverses:
45
Art. 29 Os filhos dos profissionais de que trata esta Lei, cuja atividade seja itinerante,
tero asseguradas a transferncia da matrcula e consequente vaga nas escolas
pblicas locais, e autorizada nas escolas particulares, mediante apresentao de
certificado da escola de origem.
Desse modo, no se pode admitir a existncia de qualquer forma de distino ou
discriminao que embarace ou impea o acesso Educao Bsica de crianas,
adolescentes ou jovens itinerantes, filhos ou no de trabalhador circense. [bem como
de ciganos e outras populaes em situao de itinerncia]
O Plano Nacional de Educao em Direitos Humanos de 2006 reconhece a educao
como um direito humano e ao mesmo tempo um meio privilegiado na promoo dos
direitos humanos, sendo, portanto, a garantia desse direito fundamental para a
prpria dignidade humana.
Cabe destacar que o Brasil signatrio da Conveno 169, da Organizao
Internacional do Trabalho, cujo art. 14, item 1, faz meno aos povos nmades e
agricultores itinerantes.
De acordo com o art. 27, item 1, do referido Tratado internacional, os programas e
servios de educao destinados aos povos interessados devero ser desenvolvidos e
aplicados em cooperao com eles, a fim de responder s suas necessidades
particulares.
Dessa forma, a escola dever estabelecer dilogo com estes coletivos sociais, ouvi-los
e decidir conjuntamente estratgias para o melhor atendimento dos seus filhos. Este
o papel de uma escola democrtica que constri sua prtica a partir da realidade da
comunidade atendida e no em detrimento da mesma.
Como pode ser observado, o tema da consulta instiga a uma reflexo sobre a
diversidade cultural, social e econmica do nosso Pas. No caso de a populao
circense necessrio lembrar que estes fazem parte de um segmento profissional da
mais alta relevncia para a cultura brasileira: a arte circense. Portanto, dada a sua
especificidade, uma das caractersticas dos(as) trabalhadores(as) circenses refere-se
aos deslocamentos geogrficos, fato este que os impede de possuir domiclio com
nimo definitivo, conforme dico do art. 70 do Cdigo Civil brasileiro.3
3
O domiclio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece a sua residncia com
nimo definitivo. CC, art. 70.
46
Exemplo de condio desta natureza pode ser encontrado no art. 55, III, do Cdigo
Eleitoral, que exige para a transferncia de domiclio eleitoral residncia mnima de
3 (trs) meses no novo domiclio, atestada pela autoridade policial ou provada por
outros meios convincentes.
47
itinerantes na Conveno sobre os Direitos da Criana, ratificada pelo Brasil, por meio
do Decreto n 99.710, de 21 de novembro de 1990, que no art. 2, item 2, estabelece:
Art. 2 - 2 - Os Estados Partes tomaro todas as medidas apropriadas para assegurar a
proteo da criana contra toda forma de discriminao ou castigo por causa da
condio, das atividades, das opinies manifestadas ou das crenas de seus pais,
representantes legais ou familiares.
Neste mesmo sentido, posiciona-se o Estatuto da Criana e do Adolescente:
Art. 5 - Nenhuma criana ou adolescente ser objeto de qualquer forma de
negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ao ou omisso, aos seus direitos fundamentais.
Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade fsica, psquica
e moral da criana e do adolescente, abrangendo a preservao da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenas, dos espaos e objetos
pessoais.
II VOTO DAS RELATORAS
Nos termos deste Parecer, reafirmamos que o direito educao de estudantes em
situao de itinerncia deve ser garantido, entendendo que cabe ao poder pblico
uma dupla obrigao positiva:
I assegurar ao estudante itinerante matrcula, com permanncia e concluso de
estudos, na Educao Bsica, respeitando suas necessidades particulares;
II proteger o estudante itinerante contra qualquer forma de discriminao que
coloque em risco a garantia dos seus direitos fundamentais.
Os estabelecimentos de ensino pblicos ou privados de Educao Bsica, por sua vez,
devero assegurar a matrcula desse estudante sem a imposio de qualquer forma
de embarao, pois se trata de direito fundamental.
Reconhecendo a complexidade do tema, preciso, portanto, que haja um conjunto de
esforos coletivos para possibilitar que o estudante pertencente a comunidades
itinerantes tenha acesso educao escolar.
Visando garantia do direito desse estudante, algumas orientaes devero ser
seguidas:
I quanto ao poder pblico:
48
estratgias
pedaggicas
adequadas
suas
necessidades
de
aprendizagem.
IV quanto ao Ministrio da Educao e aos sistemas de ensino:
a) devero ser criados, no mbito do Ministrio da Educao e das Secretarias de
Educao, programas especiais destinados escolarizao e profissionalizao da
populao itinerante, prevendo, inclusive, a construo de escolas itinerantes como,
por exemplo, as escolas de acampamento;
b) dever do Estado e dos sistemas de ensino o levantamento e a anlise de dados
relativos especificidade dos estudantes em situao de itinerncia;
c) o Ministrio da Educao e os sistemas de ensino devero orientar as escolas
quanto a sua obrigao de garantir no s a matrcula, mas, tambm, a permanncia e
concluso dos estudos populao em situao de itinerncia, independente do
perodo regular da matrcula e do ano letivo;
51
d) Os sistemas de ensino, por meio de seus diferentes rgos, devero definir normas
complementares para o ingresso, permanncia e concluso de estudos de crianas,
adolescentes e jovens em situao de itinerncia.
V quanto formao de professores:
a) dever das instituies de Educao Superior que ofertam cursos de formao
inicial e continuada de professores proporcionarem aos docentes o conhecimento de
estratgias pedaggicas, materiais didticos e de apoio pedaggico, bem como
procedimentos de avaliao que considerem a realidade cultural, social e profissional
das crianas e adolescentes circenses, assim como de outros coletivos em situao de
itinerncia, [como os ciganos] e de seus pais, mes e/ou responsveis como parte do
cumprimento do direito educao.
Nos termos deste Parecer e do anexo Projeto de Resoluo, responda-se ao presidente
do Conselho Municipal de Educao de Canguu, RS, e aos demais citados.
Braslia, (DF), 7 de dezembro de 2011.
III DECISO DA CMARA
A Cmara de Educao Bsica aprova por unanimidade o voto das Relatoras.
Sala das Sesses, em 7 de dezembro de 2011.
Memria que descreve cumulativamente o percurso escolar do estudante ou registros
cumulativos da vida de cada estudante, do ponto de vista quantitativo (rendimentos,
notas ou conceitos de avaliao) e, principalmente, do ponto de vista qualitativo, isto
, presena em sala de aula, participao nas atividades pedaggicas, culturais e
socioeducativas.
Conselheiro Francisco Aparecido Cordo Presidente
Conselheiro Adeum Hilrio Sauer Vice-Presidente
52
54
55
Presidncia da Repblica
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurdicos
DECRETO DE 25 DE MAIO DE 2006.
Institui o Dia Nacional do Cigano.
O PRESIDENTE DA REPBLICA, no uso da atribuio que lhe confere o art. 84,
inciso II, da Constituio,
DECRETA:
Art. 1o Fica institudo o Dia Nacional do Cigano, a ser comemorado no dia 24 de
maio de cada ano.
Art. 2o As Secretarias Especiais de Polticas de Promoo da Igualdade Racial e
dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica apoiaro as medidas a serem
adotadas para comemorao do Dia Nacional do Cigano.
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicao.
Braslia, 25 de maio de 2006; 185o da Independncia e 118o da Repblica.
LUIZ INCIO LULA DA SILVA
Dilma
Rousseff
Este texto no substitui o publicado no D.O.U. de 26.5.2006
56