Revista de RRHH Enero - Marzo - 2014
Revista de RRHH Enero - Marzo - 2014
Revista de RRHH Enero - Marzo - 2014
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NUMERO 1
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JAN/MAR 2014
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NUMERO 1
Editores:
Carlos Eduardo M . Tucci
Adilson Pinheiro
Andre Schardong
Cristovao Vicente S. Fernandes
Edson Wendland
Jaime Joaquim da S. P. Cabral
Joel Avruch Goldenfum
Joao Batista Dias de Paiva
Jussara Cabral Cruz
Marcia Maria Rios Ribeiro
Walter Collischonn
lIBR:
Diretoria da ABRH
Presidente: Jussara Cabral Cruz
Vice-presidente: Vladimir Caramori B. de Souza
Diretor de publicaes: Adilson Pinheiro
Diretor de eventos: Cristiano Poleto
Diretor de representaes regionais: Alexandre Moreira Baltar
Diretor de comisses tcnicas: Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Funcionar como frum para apresentao de conhecimento prtico e cientfico dos aspectos de
recursos hdricos;
Publicar inovaes cientficas e tecnolgicas na
rea de recursos hdricos;
Fornecer atravs dos artigos solues aos problemas com base integrada, interdisciplinar e dos
usos mltiplos dos recursos hdricos e sua conservao ambiental.
RBRH: Revista Brasileira de Recursos Hdricos / Associao Brasileira de Recursos Hdricos - Vol.19, n.1 (2014)
Porto Alegre/RS: ABRH, 2007
Trimestral
Substitui a RBE: Revista Brasileira de Engenharia - Caderno de Recursos Hdricos (1982-1995) que substitui a Revista Brasileira
de Hidrologia e Recursos Hdricos (1978-1981).
ISSN 2318-0331
1. Recursos hdricos - peridicos I. Associao Brasileira de Recursos Hdricos
CDU 556 (050)
CDD 551.48
Conselho Editorial
Editor Chefe
Carlos Eduardo Morelli Tucci Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul
Editores Associados
Adilson Pinheiro Fundao Universidade Regional de Blumenau Santa Catarina
Andr Schardong Universidade de So Paulo So Paulo
Cristovo Vicente Scapulatempo Fernandes Universidade Federal do Paran - Paran
Edson Wendland Universidade de So Paulo So Paulo
Jaime Joaquim da Silva Pereira Cabral Universidade Federal de Pernambuco - Pernambuco
Joel Avruch Goldenfum Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul
Joo Batista Dias de Paiva Universidade Federal de Santa Maria Rio Grande do Sul
Jussara Cabral Cruz - Universidade Federal de Santa Maria Rio Grande do Sul
Mrcia Maria Rios Ribeiro Universidade Federal de Campina Grande - Paraba
Walter Collischonn Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul
Revisores
Adilson Pinheiro (5)
07
Uende Aparecida Figueiredo Gomes, Laia Domnech, Joo Luiz Pena, Lo Heller, Luiz Rafael Palmier
17
Daniel Henrique Marco Detzel, Miriam Rita Moro Mine, Marcelo Bessa, Mrcio Bloot
29
Jnior Hiroyuki Ishihara, Lindemberg Lima Fernandes, Andr A.A. Montenegro Duarte,
Ana Rosa C.L.M. Duarte, Marcos Ximenes Ponte, Glauber Epifanio Loureiro
41
51
Haline Depin, Nilza Maria dos Reis Castro, Adilson Pinheiro, Olavo Pedrollo
65
75
87
Alex Bortolon de Matos, Olavo Correa Pedrollo, Nilza Maria dos Reis Castro
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
101
Adilson Pinheiro, Gustavo Antonio Piazza, Thiago Caique Alves, Leandro Mazzuco de Aguida,
Vander Kaufmann, Rafael Gotardo
119
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos
Coqueiros/Gois
131
Maria do Carmo Fonte Boa Souza, Slvia Corra Oliveira, Maricene Menezes de Oliveira Mattos Paixo,
Maria Goretti Haussmann
Hudson Moraes Rocha, Joo Batista Pereira Cabral, Celso Carvalho Braga
143
Renata de Moura Guimares Souto, Juliano Jos Corbi, Giuliano Buz Jacobucci
155
165
177
Jos de Oliveira Melo Neto, Antnio Marciano da Silva, Carlos Rogrio de Mello,
Arisvaldo Vieira Mllo Jnior
189
Marcio Ricardo Salla, Javier Paredes Arquiola, Abel Solera, Joaquin Andreu lvarez,
Carlos Eugnio Pereira, Jos Eduardo Alamy Filho, Andr Luiz de Oliveira
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio
do SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
205
221
Michel Castro Moreira, Demetrius David da Silva, Marcelo dos Santos Lara, Fernando Falco Pruski
229
243
255
Ana Paula Santos Calmon, Joseline Corra Souza, Jos Antonio Tosta dos Reis,
Antonio Srgio Ferreira Mendona
271
Vinicius Eduardo de Correia Carvalho, Klinger Senra Rezende, Brahmani Sidhartha Tibrcio Paes,
Luiza Silva Betim, Eduardo Antonio Gomes Marques
281
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 7-16
RESUMO
A captao de gua de chuva representa uma alternativa importante para suprir as demandas de gua em todo o
mundo. No entanto, observam-se diferenas nas perspectivas de utilizao dessa fonte de gua. As diferenas mais notveis
nesse sentido envolvem os modelos de programas adotados nas reas rurais e as concepes das reas urbanas. O Brasil
destaca-se nesse cenrio uma vez que est em curso no pas um dos maiores programas do mundo de construo de cisternas
para armazenamento de gua de chuva, a partir das quais a gua retirada para consumo humano, tendo sido construdas, at agosto de 2013, 476.040 das 1.186.601 estruturas previstas para serem construdas no Semirido Brasileiro. Nesse
contexto, o presente trabalho discute o programa brasileiro a partir dos aportes das experincias internacionais, como tambm, apresenta uma reviso da literatura concernente ao tema. Para finalizar, o artigo apresenta uma agenda para futuras
pesquisas luz das lacunas identificadas.
Palavras-chave: captao de gua de chuva; cisternas rurais.
INTRODUO
EXPERINCIAS INTERNACIONAIS E
BRASILEIRA DE CAPTAO DE GUA
DE CHUVA PARA CONSUMO HUMANO
Embora esteja em curso no Semirido Brasileiro um dos maiores programas do mundo de abastecimento de gua a partir da captao e armazenamento de gua de chuva, ainda incipiente a
produo acadmica e a insero da produo cientfica local no debate concernente ao tema no cenrio internacional. Nesse contexto, o presente artigo
apresenta e discute o programa brasileiro de captao de gua de chuva para consumo humano, P1MC
Programa de Formao e Mobilizao Social para
Convivncia com o Semirido: Um Milho de Cisternas Rurais a partir de uma reflexo para alm
da fronteira nacional. apresentada uma reviso do
estado da arte que procurou identificar os principais
autores que pesquisam a captao de gua de chuva
no mundo e as pesquisas desenvolvidas no Brasil.
Com base nessa reviso apresentada uma agenda
para discusso da temtica de captao de gua de
chuva no pas.
1-
2-
DC/USA
3
4-
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A PRODUO CIENTFICA
INTERNACIONAL NA REA
Nas reas rurais, a gua de chuva geralmente utilizada para suprir s necessidades bsicas,
compreendendo, essencialmente, o consumo humano, enquanto que nas zonas urbanas este modelo
de captao de gua , geralmente, utilizado como
fonte suplementar, para cobrir demandas secundrias.
Nas reas urbanas, diversos estudos relacionados captao de gua de chuva concentram-se
em estimar a economia potencial de gua distribuda por rede, que pode ser proporcionada por essa
tecnologia (MIKKELSEN et al., 1999; FEWKES,
1999; VILLAREAL e DIXON, 2005). Coombes et al.
(2002) demonstraram que, em uma regio da Austrlia com 450.000 pessoas, a construo de sistemas
de captao de guas pluviais poderia retardar por
34 anos a construo de grandes infraestruturas
hidrulicas. Tambm so destacados na literatura
internacional os efeitos da captao de guas pluviais no controle de inundao, na diminuio da
eroso e no controle da contaminao difusa (VAES
e BERLAMONT, 1999; CHANG et al., 2004). Nesse
contexto, os projetos de captao e armazenamento
de gua de chuva nas reas urbanas so orientados,
de uma maneira geral, pelo uso racional da gua nas
cidades a fim de evitar a utilizao de gua potvel
para fins menos nobres, como irrigao de parques
e jardins, descarga de vasos sanitrios, limpeza domstica e controle de enchentes.
Em contraposio, nas reas rurais, espaos
nos quais a ocupao populacional ocorre de forma
mais dispersa, a captao de gua de chuva e seu
posterior armazenamento em cisternas tem sido
crescentemente a alternativa adotada para ampliar o
acesso da populao gua potvel. Nesses espaos,
a captao de gua de chuva atua como uma opo
alternativa e individual de abastecimento de gua.
Conforme apresentada, a maior experincia brasileira em captar e armazenar gua de chuva acontece
em reas rurais do semirido e se desenvolve no
intuito de ampliar o acesso da populao local, em
situao de vulnerabilidade social, econmica e
hdrica, a um volume de gua suficiente para beber,
cozinhar e escovar os dentes. Diante desse quadro,
realizada, no prximo Item, uma discusso sobre os
desafios para a potabilizao da gua de chuva armazenada em cisternas.
10
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 7-16
natureza qualitativa (ASSIS, 2009; FERREIRA, 2009;
LUCAS e HOFF, 2008; SILVA, 2006a; SANTOS,
2005; DIAS, 2004; GALIZONI e RIBEIRO, 2004;
GALINDO, 2003). Outra perspectiva concentra-se
em estudos quantitativos que abordam aspectos de
qualidade da gua armazenada e atendimento aos
padres de potabilidade, alm de compreenderem
avaliaes em relao quantidade de gua armazenada (XAVIER, 2010; TAVARES, 2009; SCHVARTZMAN e PALMIER, 2007; SILVA, 2006b). Mais
raros so os estudos que avaliam o impacto do P1MC
na sade da populao beneficiada, exceo de
trabalho desenvolvido por Marcynuk (2009). Quanto s pesquisas que avaliam a qualidade da gua
armazenada nas cisternas, os resultados corroboram
as anlises desenvolvidas em outros pases na medida em que evidenciam a presena de contaminao
microbiolgica da gua e ressaltam a dificuldade de
adequao aos parmetros de potabilidade estabelecidos, no Brasil, pela Portaria 518/2004 do Ministrio da Sade (BRASIL, 2004). Por outro lado, o
estudo desenvolvido por Marcynuk (2009), que
comparada a prevalncia de diarreia em indivduos
que moram em domiclios com e sem cisternas em
uma rea rural de Pernambuco, indica que a presena de cisterna no domiclio diminui a prevalncia
de diarreia que, segundo os autores, de 18,3% em
indivduos que no so usurios de sistemas de captao de gua de chuva, proporo que reduz para
11% entre os indivduos usurios desses sistemas.
Diante do exposto, cabe ressaltar que so
grandes as lacunas referentes s demandas por estudos na rea de captao de gua de chuva no Brasil.
Especialmente em reas urbanas, os estudos e a
utilizao de gua de chuva so muito incipientes.
luz do estado da arte internacional e aps
analisar os trabalhos brasileiros sobre captao de
gua de chuva, fez-se uma reflexo sobre quais so
as limitaes e as lacunas da produo cientfica
brasileira sobre a temtica, tanto para o meio urbano quanto para o rural.
Observa-se que a captao de gua de chuva
uma temtica de anlise que se localiza na fronteira de reas disciplinares. Nesse contexto, a interpretao e explicao dos fenmenos e processos observados demanda a articulao de campos tericos
de distintas disciplinas. Pode-se afirmar que o campo
temtico da captao e armazenamento de gua de
chuva para suprir as demandas de gua est localizado no limiar entre o campo tcnico, representado
pelas intervenes em saneamento, via de regra,
objeto de estudos da rea de engenharias, e o campo das polticas pblicas, tema de estudos, comumente, da rea das cincias sociais aplicadas. A arti-
zonas rurais. Assim sendo, fica explicitada a necessidade de investimentos, especialmente em reas rurais dos pases em vias de desenvolvimento, que
proporcionem a ampliao do acesso gua, o que
pode ser alcanado por meio do acrscimo de volume das estruturas de captao e armazenamento
de gua de chuva, notadamente, em situaes de
disperso populacional, como tambm pela ampliao do acesso s redes de abastecimento em espaos
nos quais a ocupao humana ocorreu de forma
menos dispersa, em um processo de diversificao
das fontes de abastecimento a fim de garantir a segurana hdrica das populaes.
11
CONSIDERAES FINAIS
A reduzida produo acadmica brasileira
no tocante captao e armazenamento de gua de
chuva, para fins potveis ou no potveis, contrasta
com a crescente importncia que esta temtica tem
adquirido nos ltimos anos e, consequentemente,
coloca em evidncia o baixo impacto das pesquisas
brasileiras sobre o tema na produo cientfica internacional. Percebe-se que h aspectos relevantes a
serem abordados sobre essa temtica, podendo contribuir sobremaneira para melhorar a qualidade de
vida das populaes brasileiras urbanas e rurais. Por
outro lado, a publicao de pesquisas desenvolvidas
no Brasil que versam sobre esse assunto deve ser
estimulada em veculos de circulao internacional,
a fim de que o Brasil penetre de modo irreversvel
no debate mundial sobre este tema.
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15
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RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 17-28
RESUMO
A modelagem de grandes sistemas hdricos mostra-se desafiadora medida que se aumentam a complexidade e o
nmero de variveis envolvidas. O caminho comumente encontrado empregar simplificaes como, por exemplo, agregao
de reservatrios que operam em uma mesma regio. No entanto, estas simplificaes podem omitir caractersticas importantes
do sistema, tornando-o pouco flexvel e colocando em risco a confiabilidade dos resultados. No presente artigo, apresenta-se
um mtodo alternativo para modelagem de sries de vazes, baseado em formulao autorregressiva com mdias mveis contempornea (CARMA). O modelo aplicado com sucesso s vazes mensais das 146 usinas hidreltricas que compem o
Sistema Interligado Nacional, sendo capaz de reproduzir estatsticas de curto e longo termos, alm de preservar as correlaes
espaciais entre as usinas. Ademais, prope-se a reduo do nmero de sries sintticas geradas pelo modelo estocstico aplicando-se uma tcnica hbrida de classificao de sries e amostragem estratificada no equiprovvel. A inteno viabilizar o
uso das sries sintticas geradas em estudos que exijam maior processamento computacional. Mostra-se que possvel reduzir
o nmero de cenrios sintticos sem distorcer a distribuio de probabilidades obtidas com o modelo estocstico.
Palavras-Chave: modelo contemporneo, sries sintticas mensais, grandes sistemas hdricos, amostragem.
INTRODUO
Modelos estocsticos para gerao de sries
sintticas de vazes tiveram uso crescente a partir do
momento em que se percebeu que a srie histrica
sozinha era insuficiente para o planejamento apropriado de sistemas de recursos hdricos (JACKSON,
1975). Desde os estudos pioneiros de Thomas &
Fiering (1962) e Matalas (1967), diversas tcnicas de
gerao foram desenvolvidas e aplicadas a sries de
vazes de diferentes escalas temporais. Em comum,
a grande maioria se baseia em mtodos clssicos do
tipo Box & Jenkins (ou modelos ARIMA, BOX et al.,
1994), a fim de modelar apropriadamente a estrutura de correlaes inerente s afluncias de um rio.
Encontram-se tambm modelos baseados em redes
neurais artificiais (CAN et al., 2012), inferncia fuzzy
(LUNA et al., 2011), wavelets (WANG et al., 2010;
NIU et al., 2013) e outros mtodos no paramtricos
(SALAS & LEE, 2010; HAO & SINGH, 2011).
17
Cenrios Sintticos de Vazes para Grandes Sistemas Hdricos Atravs de Modelos Contemporneos e Amostragem
em torno de 85% da energia provm de usinas hidreltricas. Pode-se dizer que a gerao de energia
brasileira est sujeita s variaes sazonais de diferentes regies hidrolgicas, agregando elevado grau
de incerteza ao planejamento do sistema e, consequentemente, justificando seu estudo.
Na inteno de contornar o problema da
dimenso e complexidade do SIN, o planejamento
de mdio-longo prazo (horizonte de 60 meses)
feito atravs de uma tcnica de agregao de reservatrios (ARVANITIDIS & ROSING, 1970; CRUZ JR.
& SOARES, 1996), na qual usinas instaladas em uma
mesma regio hidrolgica so representadas por um
reservatrio equivalente de energia (CEPEL, 1999;
SOUZA, et al., 2012). Dessa forma, considera-se o
SIN constitudo por quatro subsistemas: Sudeste/Centro Oeste, Sul, Nordeste e Norte. As vazes
mensais s usinas so tambm agregadas e tratadas
como energias naturais afluentes atravs de um modelo do tipo PAR (SOUZA et al., 2012).
Entende-se que a agregao em sistemas
equivalentes uma simplificao necessria a certos
sistemas para tornar vivel seu planejamento, contudo omite caractersticas individuais das usinas e
peculiaridades hidrolgicas das bacias nas quais elas
operam. Como soluo alternativa, prope-se neste
artigo a modelagem individual das vazes mensais
afluentes s usinas do SIN atravs da formulao
CARMA, ou autorregressiva com mdias mveis
contempornea (SALAS et al., 1980; CAMACHO et
al., 1987b; HIPEL & MCLEOD, 1994). Para manter
a parcimnia do modelo, a sazonalidade e estacionariedade estatstica das sries so tratadas parte.
Adicionalmente, prope-se um mtodo para
amostragem de sries hidrolgicas sintticas geradas
atravs do modelo estocstico, na inteno de reduzir o nmero total de cenrios em estudos que exijam grande processamento computacional. Esta
amostragem realizada em duas etapas: (i) classificao das matrizes de sries sintticas de acordo
com um critrio de similaridade com a matriz de
sries histricas e (ii) seleo das sries de forma
que a amostra final contenha elementos de diferentes probabilidades de ocorrncia na populao,
garantindo assim representatividade de eventos
hidrolgicos diversos.
O restante do artigo est organizado da seguinte forma: o prximo item e seus subitens descrevem o modelo utilizado para gerar as sries, bem
como a tcnica de amostragem proposta. Na sequencia apresentada uma descrio sucinta do
sistema utilizado e suas caractersticas hidrolgicas,
seguido dos resultados e da concluso do artigo.
MATERIAIS E MTODOS
Descrio do modelo de gerao
A gerao dos cenrios sintticos mensais de
vazo se deu atravs de um modelo estocstico linear, no peridico, multivariado do tipo CARMA, ou
autorregressivo com mdias mveis contemporneo.
Sejam os vetores
, ,,
e
, ,,
, definidos para sries temporais
no tempo . O modelo CARMA(p,q) dado, genericamente, pela equao (1):
B
1,2, ,
(1)
o i-simo operador MA de
,,
):
18
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 17-28
tratado tambm em Hipel & McLeod (1994) e Salas
et al. (1980). Aplicaes prticas em hidrologia podem ser conferidas nos trabalhos de Haltiner &
Salas (1988), Rasmussen et al. (1996), Wang (2008)
e Stedinger et al. (1985). Neste ltimo, em particular, os autores comparam o modelo CARMA com
uma tradicional formulao multivariada ARMA,
ambos de primeira ordem, concluindo que a performance dos dois no apresentou diferenas significativas.
Para o ajuste do modelo, aplicou-se transformao logartmica s sries de vazes, suficientes
para estabilizar suas varincias e aproxim-las de
uma distribuio gaussiana (KELMAN et al., 1987).
Ademais, a sazonalidade das sries foi removida
atravs de padronizao individual por mdia e
desvio padro (HIPEL & MCLEOD, 1994). Como
mencionado anteriormente, esse procedimento foi
empregado em detrimento do uso de um modelo
peridico na inteno de manter o modelo final
parcimonioso.
onde
a funo de verossimilhana para
parmetros e o nmero de elementos da srie. A
equao (3) aplicada para todos os modelos candidatos e a formulao escolhida a que apresentar
o mnimo BIC. Para o presente trabalho, cinco modelos foram testados para cada srie: CAR(1),
CAR(2), CARMA(1,1), CARMA(2,1) e CARMA(2,2).
A restrio de ordem mxima dois se deu por ela ser
suficiente para o ajuste de modelos lineares a sries
estacionrias (BOX et al., 1994).
Estimao dos parmetros do modelo
Ao utilizar matrizes diagonais de parmetros
para as pores AR e MA, o modelo contemporneo
permite que sejam estimados parmetros de forma
isolada para cada srie. Dessa maneira, aplicou-se o
mtodo da mxima verossimilhana de forma individual a cada usina, na forma mostrada pelas equaes (4):
ln
Identificao do modelo
ln
ln
,
2
(4)
s.a.
(4a)
(4b)
,
onde a varincia da srie de resduos e
a funo soma dos quadrados dos resduos. A equao (4) a funo de log-verossimilhana tal
qual definida em Box et al. (1994). As restries (4a)
e (4b) so impostas aos parmetros para que sejam
respeitadas as condies de estacionariedade de
invertibilidade do modelo. Aplicou-se otimizao
atravs de Pontos Interiores (BYRD et al., 2000) utilizando estimativas amostrais como valores iniciais
para e .
A gerao do campo especial correlacionado feita atravs da matriz-parmetro , mostrada
na equao (2). Para tanto, pode-se estim-la buscando soluo para a equao (5):
(5)
(3)
19
Cenrios Sintticos de Vazes para Grandes Sistemas Hdricos Atravs de Modelos Contemporneos e Amostragem
se que este procedimento vlido somente para
matrizes
positivo-definidas. Caso essa condio
no seja atendida, recomenda-se consulta ao estudo
de Kuczera (1987).
Validao do modelo
Seguindo recomendaes de Haltiner & Salas (1988), o modelo foi validado em trs etapas: (i)
validao terica, (ii) validao de estatsticas de
curto termo e (iii) validao de estatsticas de longo
termo. A primeira etapa se refere s propriedades
dos resduos obtidos com o modelo ajustado. Foram
feitas inferncias acerca dos pressupostos adotados
para os resduos na teoria de Box & Jenkins: independncia temporal e espacial, homocedasticidade
e distribuio aproximadamente normal.
A segunda e terceira etapas tratam de verificaes comparativas entre as sries histricas e sintticas geradas. Na segunda, a inteno somente
validar a implementao computacional do mtodo,
pois estes valores foram utilizados na construo e
estimao do modelo. Determinaram-se mdias,
varincias, coeficientes de assimetria, autocorrelaes de lags 1 e 2 e a matriz de correlaes espaciais.
Para a terceira etapa, os indicadores escolhidos esto fortemente relacionados com as pocas
de estiagens e acumulao de gua em reservatrios.
Para avaliar os perodos secos, a anlise se baseou na
teoria das corridas (Haltiner & Salas, 1988), na qual
so contados quantos elementos em sequncia esto
abaixo de um valor de corte. Cada conjunto de elementos com essa caracterstica chamado de corrida. Sendo o total de corridas observado em uma
determinada srie, os seguintes dados (equaes
(6) a
(9)) podem ser calculados:
(7)
,
1
(11)
(8)
,,
(9)
(10)
(6)
, ,,
20
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Figura 1 - Usinas utilizadas no estudo e histogramas de vazes mdias mensais para algumas regies
e
o erro amostral esperado. Adotou-se como
nvel de significncia 95%, enquanto que para o
erro amostral foi considerado 2% do valor mdio
populacional, equivalente mdia das mdias das
sries sintticas de cada usina.
(12)
21
Cenrios Sintticos de Vazes para Grandes Sistemas Hdricos Atravs de Modelos Contemporneos e Amostragem
so observadas justamente nas usinas que operam
em regies nas quais a hidrologia no possui pocas
sazonais bem definidas.
A fim de se investigar o diferente desempenho do modelo nestas regies de hidrologia distinta,
montaram-se os grficos da Figura 2. Devido limitao de espao, foram detalhadas as mdias mensais somente para as usinas de Tucuru, na regio
Norte e Machadinho, na regio Sul.
Percebe-se que, apesar de ter as mdias
mensais bem reproduzidas, a usina de Machadinho
apresentou alguns desvios sutis, no observados na
usina de Tucuru. Os resultados para as demais usinas do estudo foram semelhantes nesse aspecto,
mostrando-se mais precisos em usinas que operam
em regies com sazonalidade anual bem definida.
A Figura 3 representa de forma esquemtica
as matrizes de correlaes espaciais histricas e sintticas geradas pelo modelo contemporneo. Adotou-se uma escala cinza, na qual quanto mais escuro
mais o coeficiente se aproxima da correlao perfeita. A escala tem seu mnimo em -0,40, correlao
histrica mais baixa encontrada entre as usinas do
estudo.
Nota-se que, mesmo com o tamanho e complexidade do sistema modelado, as correlaes especiais foram respeitadas apropriadamente. As pequenas ilhas de correlaes elevadas, se referem s
usinas que operam em cascata num mesmo rio. Por
outro lado, a grande faixa de correlaes negativas
aponta o comportamento hidrolgico contrrio
entre usinas localizadas no subsistema Sul e as usinas
que operam nos demais subsistemas. Para um sistema interligado como o SIN, esse comportamento
positivo, visto que pocas de seca com baixa capacidade de gerao hdrica em um subsistema podem
ser complementadas pela gerao de usinas localizadas em outro subsistema. Por esse motivo, a reproduo desta caracterstica pelo modelo estocstico de grande importncia.
A anlise das estatsticas de longo termo
complementa a validao do modelo aqui utilizado.
A Tabela 2 mostra estes ndices para as mesmas oito
usinas selecionadas anteriormente. Da mesma forma
que as estatsticas de curto termo, os resultados foram bem reproduzidos pelo modelo, exceto pelo
mximo dficit acumulado que apresentou alguns
resultados regulares, principalmente para usinas
com afluncias de grande volume. Ainda assim, a
anlise dessas estatsticas permite diferenciar o
comportamento hidrolgico das usinas: no caso das
corridas, por exemplo, a durao mdia semelhante em todas as usinas, contudo a durao mxima
muito maior para usinas do Sul.
Uma simples anlise nos histogramas permite notar a diversidade do comportamento hidrolgico existente do territrio brasileiro. Sries com sazonalidade bem definida no norte do pas contrastam com distribuies mais regulares na regio sul.
As variaes so percebidas tambm em regies
localizadas dentro de um mesmo subsistema, como
no caso do primeiro quarto do ano nas reas 4 a 6.
Ao utilizar tcnicas de gerao que consideram agregao de reservatrios, por exemplo, essas diferenas so ignoradas. justamente nesse ponto que
a modelagem individual se torna atrativa.
As sries histricas de vazes mensais foram
coletadas do Operador Nacional do Sistema Eltrico
(ONS), limitando-se ao perodo entre jan./1931 e
dez./2007 (total de 924 meses) para todas as usinas.
Os registros se referem s afluncias naturalizadas e
se encontram todos consistidos e sem falhas. A nica
anlise realizada sobre as sries foi no tocante sua
condio de estacionariedade estatstica. Em concordncia com o propsito de utilizar um modelo
parcimonioso para a gerao dos cenrios, optou-se
por no utilizar formulaes com sries diferenciadas (modelos ARIMA), por acarretar a necessidade
de estimao de uma carga extra de parmetros.
Todo o conjunto de sries foi submetido a
cinco testes estatsticos (t-Student, Cox-Stuart, Wilcoxon, Spearman e Mann-Kendall) para a deteco
de variaes na mdia e tendncias. Como resultado, 75 das 146 sries apresentaram indcios de no
estacionariedade e foram submetidas a um procedimento de correo. Os detalhes sobre a execuo
dos testes e correo das sries no estacionrias
podem ser conferidos no estudo de Detzel et al.
(2011).
RESULTADOS E DISCUSSES
Resultados do modelo CARMA
Para validar o mtodo utilizado, foram geradas 2000 sries sintticas para cada usina, todas
com o mesmo comprimento da srie histrica. A
primeira fase de verificaes foi referente aos resduos do modelo, obtendo-se resultados positivos
para a grande maioria dos testes.
A Tabela1 exibe resultados comparativos das
estatsticas de curto termo entre as sries histricas e
as mdias das sries sintticas para oito usinas do
estudo. Os nmeros na primeira coluna coincidem
com as regies apontadas na Figura 1. Nota-se que,
de um modo geral, as estatsticas foram muito bem
reproduzidas pelo modelo estocstico. Imprecises
22
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 17-28
Regio Usina
Tipo
[Modelo]
MLT
D. Padro
(m/s)
(m/s)
Assim.
Autocorr.
Autocorr.
Mnimo
Mximo
lag1
lag2
(m/s)
(m/s)
1 Tucuru
SH
11.003
9.241
1,10
0,81
0,44
1.269
51.539
[AR(1)]
SS
11.019
9.276
1,13
0,82
0,45
1.200
51.891
2 Samuel
SH
352
293
0,79
0,80
0,41
16
1.339
[AR(1)]
SS
352
294
0,78
0,81
0,41
20
1.299
3 Sobradinho
SH
2.687
1.976
1,64
0,76
0,41
506
15.676
[AR(1)]
SS
2.693
1.998
1,68
0,79
0,46
484
14.518
4 - Serra da Meas
SH
778
697
2,14
0,69
0,36
97
6.163
[ARMA(1,1)]
SS
777
689
2,11
0,75
0,43
81
5.614
5 - Ilha Solteira
SH
5.588
3.278
1,23
0,77
0,43
1.387
20.314
[ARMA(2,1)]
SS
5.596
3.345
1,50
0,78
0,45
1.405
23.725
6 Camargos
SH
132
84
1,63
0,70
0,39
34
576
[ARMA(2,1)]
SS
132
83
1,72
0,74
0,42
29
622
7 - Salto Osrio
SH
1.188
888
2,39
0,49
0,20
126
8.473
[AR(1)]
SS
1.191
926
3,00
0,50
0,24
101
9.504
8 Machadinho
SH
814
654
2,02
0,48
0,22
57
5.925
[AR(2)]
SS
826
749
3,28
0,48
0,24
48
7.888
Figura 2 - Vazes histricas (SH) e sintticas (SS) mdias mensais para Tucuru (esquerda) e Machadinho (direita)
23
Cenrios Sintticos de Vazes para Grandes Sistemas Hdricos Atravs de Modelos Contemporneos e Amostragem
Corridas
Regio Usina
[Modelo]
Tipo
Dficits Acumulados
Durao
Durao
Vazo Mdia
Vazo Mxima
Mximo
Mdio
Mdia
Mxima
(m/s)
(m/s)
(m/s)
(m/s)
1 Tucuru
SH
77
10
34.113
50.593
155.984
23.243
[AR(1)]
SS
77
11
33.168
56.063
88.401
19.247
2 Samuel
SH
77
963
1.350
1.642
454
[AR(1)]
SS
77
957
1.520
1.659
459
3 Sobradinho
SH
79
11
10.433
16.040
30.631
4.554
[AR(1)]
SS
76
19
10.849
26.733
23.939
4.364
4 - Serra da Meas
SH
79
18
2.720
7.150
10.565
1.608
[ARMA(1,1)]
SS
76
20
2.860
7.487
8.857
1.772
5 - Ilha Solteira
SH
75
20
25.768
55.294
39.572
5.221
[ARMA(2,1)]
SS
76
18
25.944
61.580
32.745
5.058
6 Camargos
SH
76
20
613
1.313
820
125
[ARMA(2,1)]
SS
76
19
611
1.473
936
146
7 - Salto Osrio
SH
99
21
3.554
15.269
10.764
1.976
[AR(1)]
SS
97
24
3.931
15.141
13.182
2.379
8 Machadinho
SH
94
27
2.433
7.964
10.432
2.075
[AR(2)]
SS
96
23
2.563
9.422
10.585
2.064
#
1
2
3
4
5
Total
24
118
368
682
566
266
2000
0,06
0,19
0,34
0,28
0,13
1,00
18
55
102
85
40
300
0,08
0,04
0,07
0,10
0,42
3,8x10-4
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 17-28
1
0.8
0.8
0.6
0.6
FDA
FDA
0.4
0.4
Histrica
Sintticas/Amostragem
Sintticac/Amostragem
0.2
0
0
Histrica
Sintticas/Amostragem
Sintticac/Amostragem
0.2
0
0
1000
2000
Vazes(m/s)
3000
4000
5000
6000
7000
Vazes(m/s)
Figura 4 - Distribuies de probabilidades empricas acumuladas para Sobradinho (esquerda) e Salto Osrio (direita)
CONCLUSES
Analisando as varincias individuais , notase que o quinto estrato apresentou um valor discrepante em relao aos demais. Isso ocorreu por ser
neste estrato que se encontram as distncias com
maior valor absoluto. Em outras palavras, o estrato
cinco reuniu o conjunto de sries mais dissimilares
em relao srie histrica. Ainda assim, a varincia
total da amostra estratificada resultou em um valor
muito baixo, validando o mtodo de estratificao
utilizado.
Uma vez compostas as amostras, elas foram
submetidas s anlises de distribuio emprica de
probabilidades. A Figura 4 mostra a comparao
entre as funes de distribuio de probabilidades
empricas acumuladas (FDA) da srie histrica, sries sintticas sem amostragem (N=2000) e sries
sintticas com amostragem (n=300) para duas usinas: Sobradinho e Salto Osrio. Percebe-se que a
amostragem no afetou significativamente as funes empricas em nenhum dos casos. As maiores
diferenas foram observadas na poro superior,
relativas ao intervalo entre 0,8 e 1,0, no qual as sries amostradas ligeiramente subestimaram as vazes
de maior intensidade. Estes resultados foram tambm verificados para as demais usinas do estudo.
Desta maneira, mostra-se ser possvel a reduo do nmero de cenrios sintticos sem perdas
significativas na representatividade hidrolgica local,
alternativa que pode se mostrar interessante em
estudos relativos a sistemas complexos e de grande
porte. Adicionalmente, esse mtodo torna possvel a
seleo de sries sintticas com caractersticas particulares de perodos de estiagem ou cheias para serem usados em estudos especficos.
25
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study of oruh basin, Turkey. Water and Environment Journal, Vol. 26, N. 4, p. 567576, 2012.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa/trabalho foi possvel graas ao
financiamento da ANEEL atravs do Projeto Estratgico de Pesquisa e Desenvolvimento ANEEL PE6491-0108/2009, Otimizao do Despacho Hidrotrmico, com o apoio das seguintes concessionrias:
COPEL, DUKE, CGTF, CDSA, BAESA, ENERCAN,
CPFL PAULISTA, CPFL, PIRATININGA, RGE, AES
TIET, AES URUGUAIANA, ELETROPAULO,
CEMIG e CESP. Os autores agradecem as contribuies dos revisores annimos.
CASTELLANO-MNDEZ,
M.;
GONZLEZMANTEIGA, W.; FEBRERO-BANDE, M.; PRADASNCHEZ, J. M.; LOZANO-CALDERN, R. Modelling of the monthly and daily behaviour of the runoff of the Xalas river using Box-Jenkins and neural
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27
Cenrios Sintticos de Vazes para Grandes Sistemas Hdricos Atravs de Modelos Contemporneos e Amostragem
SILVA, A. T., PORTELA, M. M. Stochastic Assessment of Reservoir Storage-Yield Relationships in
Portugal. Journal of Hydrologic Engineering, Vol.
18, N. 5, p. 567575, 2013.
ardizing the reliability of results. In this paper, an alternative method is presented for modeling streamflow series
based on the CARMA formulation. The model is successfully applied to monthly streamflow from 146 hydroelectric
plants that comprise the Brazilian Electric System, and is
able to reproduce short and long term statistics and preserve
the spatial correlations among the plants. Furthermore, a
hybrid technique of classification and non-equiprobable
stratification is proposed in order to reduce the number of
synthetic series generated by the stochastic model. The intention is to make it possible to apply the generated series in
studies requiring greater computer processing. It is shown
that it is possible to reduce the number of scenarios without
distorting the probability distribution obtained with the
stochastic model.
Key-words: contemporary model, monthly synthetic series,
large water systems, sampling.
28
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 29-39
SUMMARY
Encompassing 9 countries in South America the Amazon region has the largest hydric potential in the world. The
region is vitally important for the global climate, as well as having rich biodiversity, and relevant economic, social and
environmental aspects. It covers an area of approximately 7.5 million square kilometers, which corresponds to around 7%
of the planets solid surface. This study performs a quantitative and spatial assessment of precipitation occurring in the
Brazilian Amazon over a period of 30 years (1978 to 2007). The treatment was based on a non-parametric Mann-Kendall
test, considering data consistency, density of spatial distribution for the stations, the historical series and climatic phenomena. The results show that in terms of precipitation in the Brazilian Amazon, over the 30-year period there was a trend towards the decreasing rainfall in the southwest quadrants of the region where the arc of deforestation is found, while in the
northern quadrants there was a slight increase that was not significant.
Keywords: Precipitation, Brazilian Amazon, Rainfall data, Climate Trends, El Nio/ La Nia, Isohyets.
INTRODUCTION
At a global level the climate change issue is
noticeably becoming increasingly perceptible in
society (UNFCCC, 1992; CORFEE MORLOT and
HHNE, 2003; TOL et al., 2003;). In this regard,
there has been intensified study by the scientific
community and by society in general, at both the
public/governmental and private level in a search
for solutions to those problems.
In this scenario, the rainfall regime is one of
the major elements of climate, which is essential for
the existence of life on Earth and related to economic, social and environmental issues; since water
obtained from rainfall feeds a multitude of activities,
such as agriculture, ranching hydroelectricity and
others. Additionally, rainfall and air humidity contribute in transferring heat from one region of the
planet to another (MOLION, 1987), a very important natural process, given that the rise in Earth
temperatures is the best-known and most sensitive
climate change.
1
3-
29
Quantitative and Spatial Assessment of Precipitation in the Brazilian Amazon (Legal Amazon) (1978 to 2007)
METHODOLOGY
Collection and treatment of rainfall data.
Data were systematized based on information recorded at the official pluviometric monitoring posts located in the Legal Amazon, made
30
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 29-39
MannKendall Test
Spearman Test
i 1
S sgn (xi x j )
(1)
i 2 j 1
E (S ) 0
rs 1
18
(3)
Var ( S )
n(n 1)(2n 5)
18
tN
(6)
N 2
1 rs2
(7)
Where the value calculated in (7) is compared with the tabulated value, in relation to a level
of significance, allowing the conclusion about the
null hypothesis.
(4)
is given
as:
Z MK
i 1
N3 N
d= XY
6 d i2
i
i the difference in the
Where i
point of the two variables, and N is the number of
elements in the sample.
For large samples, verifying the null hypothesis, the distribution is calculated in t, Detzel et al.
(2011), as:
(2)
q
Var ( S )
S 1
Var ( S ) se S 0
0 se S 0
S 1
se S 0
Var ( S )
(5)
31
Quantitative and Spatial Assessment of Precipitation in the Brazilian Amazon (Legal Amazon) (1978 to 2007)
234 were collected that contained data from the 30year period (1978 to 2007) defined for this study.
It should be noted that of the 234 stations,
177 had to be submitted to correction or filling in of
missing data that varied from months to years. For
stations that presented only monthly corrections of
up to 6 months, the regional weighting with linear
regression method was used, and for periods longer
than that regional weighting was adopted; in both,
three neighboring stations with data consistent with
the correction period were used as references.
Based on isotropic or anisotropic variogram
omnidirectional, chosen by the utility Model, the
theoretical models: exponential, spherical, Gaussian
and power (linear and quadratic) being selected to
adjust the data set, the power (linear). The maps
selected, it was found type geometric anisotropy,
which was more evident direction 45o, as (2).
RESULTS
Before plotting the isohyets using the Ordinary Linear Kriging method, variographic analyses
were made for each one of the years, so that the
variograms with the models best adjusted to the
rainfall data presented were selected.
32
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 29-39
MOLINIER et al. 1995), one may perceive that these
regions have the areas with highest and lowest rainfall in common, with similarities in the values for
water depths in the same areas being observable.
33
Quantitative and Spatial Assessment of Precipitation in the Brazilian Amazon (Legal Amazon) (1978 to 2007)
mum of minimum values of of rainfall and the variability in relation the average largely occurred during periods of El Nio and La Nia, respectively, as
verified in 1983 and 1989 (Table 02).
Table 01 - Average annual depth (mm) per quadrants.
NW
SW
SE
MDIA
2265.8
2092.4
2036.4
1742.4
2141.9
1483.3
2534.4
2696.2
2317.1
1825.3
2585.9
2678.1
2103.4
2142.7
1626.0
2083.9
2451.2
2260.7
2415.3
1885.9
2018.1
2410.5
2614.0
2262.8
2142.0
2127.4
2263.1
2305.4
2355.8
2182.5
2201.7
2562.4
2340.1
2184.6
2372.8
2467.5
2113.7
2587.7
2294.8
2535.8
2187.8
2635.3
2558.4
2387.7
2192.3
2051.6
2745.2
2373.0
2132.1
2473.5
2035.6
2228.4
2601.0
2460.7
2424.2
2437.0
2288.4
2409.8
2459.1
2615.2
2463.0
2387.3
2270.2
2134.2
2062.5
2153.0
2257.1
1888.0
2198.7
2227.8
2200.2
2044.9
2219.9
2216.4
2117.7
2072.8
1980.0
2060.9
2077.1
1984.1
2072.6
2036.8
1910.7
1958.7
1960.0
2200.6
1995.5
2079.8
2031.7
1827.9
2001.2
1963.5
2073.5
1953.8
1873.8
2015.3
1651.7
1795.8
1706.4
1634.5
2062.7
1715.2
1656.5
1878.2
2006.9
1574.8
1756.0
1826.7
1629.8
1874.0
1901.0
1727.2
1776.1
1591.4
1697.9
1885.3
1751.3
1650.9
1729.3
1867.6
1711.6
1795.5
1501.1
1773.3
2269.4
2115.6
2078.2
1996.3
2173.4
1814.3
2237.6
2308.4
2196.0
1937.7
2328.6
2359.3
2051.9
2041.4
1882.6
2144.7
2189.8
2064.9
2171.3
1937.6
1941.0
2168.6
2222.9
2162.6
2062.0
2059.2
2145.0
2076.8
2195.8
2032.3
2112.2
295,19
184,32
115,91
138,26
131,87
0,13
0,08
0,06
0,08
0,06
1212,89
55%
709,62
30%
442,26
21%
487,93
28%
545,03
26%
AverageannualrainfallintheLegalAmazon
2400
2300
1985
1993
1985
1978
1989
Minimum
(mm)
1483.3
2035.6
1501.1
1827.9
1814.3
Year
(+)
(-)
1983
1997
2007
2005
22.46
14.99
16.32
9.49
32.63
14.73
15.35
11.84
1983
11.70
Linear (Average
annualrainfallintheLegal
14.10
NE
2400
NW
2200
SW
2000
SE
Linear(NE)
1800
Linear(NW)
1600
Linear(SW)
1400
Linear(SE)
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2359.3
Year
1900
YEARS
PRECIPITATION(mm)
NE
NW
SE
SW
Total
Area
Maximum
(mm)
2696.2
2745.2
2062.7
2270.2
2000
1700
Variability/ave
rage (%)
Precipitation
2100
1800
2200
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
AVERAGE
STANDARD DEVIATION
COEFFICIENT OF
VARIATION
RANGE
RANGE/AVERAGE
NE
PRECIPITATION (mm)
Years/ Average
depth (mm)
YEARS
Utilizing annual precipitation averages occurring in the Brazilian Amazon through an order 3
moving average, we observe the dry and rainy periods over the last 30 years. In the graph we see that
the dry periods coincide with the strong El Nio
34
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 29-39
When analyzing behavior of rainfall in the
previously established quadrants one may observe
that it in the Northeast and Northwest it has not
significantly increased, while in the quadrants to the
Southeast and Southwest one may observe a marked
decrease in precipitation; however, it is only significant in the southwest. It is highly likely that this
reduction can be correlated to the existence of the
arc of deforestation and an intense alteration in
land use and occupation in those regions. Studies
such as those by Fisch et al. (1998), Costa et al.
(2003), D'Almeida et al. (2006), Costa et al. (2007),
Sampaio et al. (2007), Coe et al. (2009), have concluded, using simulations and modeling, that the
intense deforestation in the Amazon rainforest directly influences environmental imbalance, principally in the hydrological cycle, producing a significant decrease in evapotranspiration and precipitation.
2250
Movingaverage(order
Arithmetic Mean
2200
PRECIPITATION(mm)
2150
2100
2050
Wetperiod
Dryperiod
2000
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
1950
YEARS
el nio
lania el nio
el nio
lania
Authors
Marengo &
Valverde
Publication
year
2007
Precipitation
per
Region
(1978-2007)
Precipitation
Precipitation
Precipitation
Precipitation
Marengo
Test
Regi-
Mann
Spear-
on
Kendall
man
2004
Trend
(ZMK)
(NE)
(SE)
(NW)
(SW)
Total Precipitation in
the Legal Amazon
0.874
-1.338
0.089
0.181
-0.270
0.109
-3.229
-0.580
-0.696
-0.143
no
tendency
no
tendency
Chu et al.
1994
Liebmann
and
Marengo
2001
no
tendency
negative
tendency
no
tendency
The average precipitation in Brazilian Amazon, defined in Table 02 was 2,112.17 mm, corre-
35
Quantitative and Spatial Assessment of Precipitation in the Brazilian Amazon (Legal Amazon) (1978 to 2007)
Mean
(mm day-1)
8.1
5.5
6.2
5.9
7.9
5.0
5.9
5.6
5.9
5.8
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39
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 41-49
RESUMO
Esse trabalho investiga a correlao entre o uso e a ocupao do solo e a qualidade da gua empregando geotecnologias de Sensoriamento Remoto e Sistema de Informaes Geogrficas via modelo estatstico de correlaes cannicas. Para
aplicao do mtodo considerou treze sub-bacias tributrias da bacia hidrogrfica do Rio Itapemirim no Estado do Esprito
Santo durante o perodo de seca. Os resultados indicam que as sub-bacias com um ndice mais elevado de atividade humana
sobre o solo esto associadas com um ndice mais elevado de degradao da qualidade da gua. Alm disso, as atividades
humanas nessas sub-bacias esto relacionadas com atividade de pastagem e solo exposto enquanto que a degradao da
qualidade da gua est associada com a alta concentrao de Nitratos e baixa concentrao do Oxignio Dissolvido provavelmente associada ao material orgnico lanado difusamente devido pecuria bovina sem um manejo adequado.
Palavras chave: Geotecnologias, Qualidade da gua, Estatstica Multivariada, Anlise de Correlaes Cannicas.
ainda, condies e padres de lanamento de efluentes de acordo com a resoluo CONAMA 430, 13
de maio de 2011. Uma bacia no classificada considerada de classe 2 para gua doce e deve ser apropriada para o consumo humano aps tratamento
convencional, a prtica de esportes aquticos, pesca
dentre outros usos previstos. No Estado do Esprito
Santo, a Lei Estadual n 5.818 de 29 de dezembro de
1998, dispe sobre a Poltica Estadual dos Recursos
Hdricos e segue os moldes da Lei Federal.
Sabe-se tambm que a ocorrncia de um fenmeno natural ou qualquer atividade humana nos
limites de uma bacia hidrogrfica pode afetar tanto
a quantidade quanto a qualidade das guas dessa
bacia.
Alguns trabalhos recentemente publicados
tratam da relao entre o uso e a ocupao dos solos
e a qualidade da gua. Fonseca (2006) estudou fatores que mais afetam a qualidade da gua do rio Teles Pires/MT. Usou um modelo de Regresso Mltipla com as variveis: pedologia, vegetao, rea da
sub-bacia, ndice de desmatamento e concluiu que a
pedologia e a vegetao so as principais variveis.
Zeilhofer et al (2006) usaram a Anlise de Correspondncia para estudar a poluio difusa em dez
estaes de monitoramento ao longo do rio Cuiab/MT.Foi identificado um aumento na concentrao de coliformes fecais prximo s reas urbanizadas e um aumento na concentrao de Nitrognio
prximo s reas de intensa atividade de pesca.
INTRODUO
Temas ligados ao meio ambiente e recursos
naturais, sobretudo a respeito de possveis mudanas
climticas, tm sido debatidos em todo o mundo,
relatrio do World Resources Institute (1996). Um
tema em particular de grande importncia e objeto
de intensa investigao cientfica a gua e os recursos hdricos. Isso porque a gua um recurso
natural necessrio em vrios processos de produo
e recebe a descarga de efluentes domsticos e industriais e descargas difusas associadas atividade agropecuria, alm de ser um recurso essencial a todas as
formas de vida na Terra.
No Brasil, a Lei Federal n 9.433 de janeiro
de 1997 institui a Poltica Nacional dos Recursos
Hdricos, estabelece dispositivos legais sobre a gesto dos recursos hdricos, institui a bacia hidrogrfica como unidade de gesto em todo o territrio
nacional. J a Resoluo CONAMA 357, de 17 de
maro de 2005, dispe sobre a classificao dos corpos de gua em classes de 1 a 4 de acordo com os
seus usos preponderantes, as diretrizes ambientais
para o seu enquadramento de acordo com parmetros de qualidade da gua definidos e seus limites
mximos tolerveis para cada classe. Estabelece,
41
(XYY-1YX- kX)ak = 0
(YXX-1XY- kY)bk = 0.
Nesse caso, k o auto-valor k da matriz
X-1XYY-1YX
ou, equivalentemente, k o auto-valor k da matriz
Y-1YXX-1XY.
Os vetores de coeficientes cannicos ak e bk
so os auto-vetores associados ao auto-valor k.
A correlao cannica do par (Uk,Vk) dada
pela raiz quadrada de k.
Cabe observar que, caso os vetores X e Y apresentarem escalas discrepantes para algumas variveis aleatrias componentes, ak e bk e k podem ser
obtidos das equaes anteriores substituindo as matrizes de Varincias-Covarincias de X e Y pelas suas
respectivas matrizes de Correlao, isso equivalente a obter os auto-valores e auto-vetores dos vetores
aleatrios X e Y padronizados, Mingote (2005).
42
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 41-49
Caracterizao Ambiental da Bacia do Rio Itapemirim, GEADES (2004).
Foram cedidas pelo Comit de bacia do Itapemirim informaes sobre a caracterizao ambiental e usos e ocupao das sub-bacias, GEADES
(2004). As Informaes georreferenciadas sobre
municpios, localidades, hidrografia, curvas de nvel
e bacias hidrogrficas foram obtidas no Sistema
Integrado de Bases Georreferenciadas do Estado do
Esprito Santo - GEOBASES e as aerofotos fornecidas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hdricos do Esprito Santo IEMA.
Os ortofotomosaicos cedidos pelo IEMA na
escala de 1:15.000 originadas de vos aerofotogramtricos na escala 1:35.000 de junho de 2007 serviram de base de apoio ao planejamento amostral,
para a localizao dos pontos de coleta de gua,
para definio das sub-bacias de contribuio e,
sobretudo, para gerao dos mapas de uso e ocupao do solo.
As coordenadas dos pontos de coleta de gua foram obtidas utilizando GPS Garmin 12XL
configurado pelo Sistema Geodsico de Referncia
SAD69 (South American Datum 1969) e o Sistema
de Projeo Universal Transversa de Mercador
UTM.
As amostras de gua foram coletadas nos
pontos pr-selecionados entre os dias 01 e 03 de
julho de 2008 e analisadas pelo laboratrio LAFARSOL - Laboratrio de Anlises de Fertilizantes ,
43
Classe 2
(rea
(rea
Classe 4
Classe 5
Classe 6
Classe 7
(Vegetao
(Fragmento
(solo
(Fragmento
edificada)
agrcola)
intermediria)
florestal)
exposto)
rochoso)
2,2
1,7
47,2
23,9
13,6
11,0
0,4
2,2
8,3
36,6
14,9
23,5
8,4
6,1
3-Crrego Salgado
5,1
2,7
46,5
20,4
18,5
3,6
3,2
4-Crrego Itaoca
4,0
1,5
52,5
18,6
7,8
12,7
2,9
0,8
12,4
33,1
12,9
28,2
1,9
10,7
1,1
16,1
29,5
11,2
32,2
2,6
7,3
0,6
9,4
60,9
12,7
10,7
3,8
1,9
2,2
11,4
50,0
13,8
15,7
4,8
2,1
0,9
14,1
29,1
11,4
29,9
3,7
10,9
0,8
4,7
48,6
16,0
18,5
4,6
6,8
4,0
1,6
47,3
17,1
26,3
3,7
0,0
0,5
3,1
54,7
11,0
20,0
1,7
9,0
1,1
5,6
66,0
6,9
15,4
3,6
1,3
Mdia
2,0
7,1
46,4
14,7
20,0
5,1
4,8
Mediana
1,1
5,6
47,3
13,8
18,5
3,7
3,2
Sub-bacia
1-Crrego
Independncia
2-Crrego Poo
D'Anta
5-Ribeiro Estrela
do Norte
6-Ribeiro Floresta
7-Ribeiro So
Joo da Mata
8-Ribeiro Vala
do Souza
9-Ribeiro
Monte Cristo
10-Crrego
Santa Anglica
11-Crrego
Horizonte
12-Crrego
Bosque
13-Crrego
Biquinha
Classe 3
(Pastagem)
44
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 41-49
guas, Minrios, Resduos, Solos e Plantas pertencente ao NEDTEC - Ncleo de Estudos e de Difuso
de Tecnologia em Floresta, Recursos Hdricos e
Agricultura Sustentvel, campus da Universidade
Federal do Esprito Santo, seguindo o padro estabelecido pela AMERICAN PUBLIC HEATH ASSOCIATION APHA - Standard methods for the examination of water and waster water , 1995.
Todas as anlises dos dados e das correlaes cannicas amostrais foram realizadas utilizando
o pacote padro do aplicativo computacional estatstico de livre distribuio R 2.7.1. Para mais detalhes
sobre o aplicativo e suas funes e pacotes, consultar
Dalgaard (2002).
Os parmetros de qualidade da gua utilizados foram organizados em um vetor aleatrio 5x1 X
= [X1 X2 X3 X4 X5]T e os parmetros de uso e ocupao do solo foram organizados em um vetor 4x1 Y =
[Y1 Y2 Y3 Y4]T, onde:
45
O que justifica a escolha das variveis relacionadas qualidade das guas a relao dos parmetros de qualidade da gua com as principais
atividades praticadas na regio. J a escolha de 4 das
7 classes de ocupaes justifica pela presena de
multicolinearidade na matriz de correlaes completa (7x7), isto , alguns pares de classes eram
variveis com correlao, em mdulo, prxima de 1
(neste caso, uma varivel do par pode ser escrita
como combinao linear da outra varivel do mesmo par), portanto, a matriz 7x7 de correlaes
singular e no possui inversa impossibilitando o
clculo das variveis e correlaes cannicas. A soluo adotada foi retirar uma das variveis de cada par
(essa escolha foi orientada pelo menor percentual
de ocupao da classe nas sub-bacias).
Aps uma anlise exploratria dos dados
optou-se por trabalhar com as matrizes de Correlaes RX, RY e RXY devido s grandes diferenas de
escala dos vetores observados.
As Tabelas 02, 03 e 04 mostram, respectivamente, as matrizes de auto-vetores normalizados de
RX-1RXYRY-1RYX e RY-1RYXRX-1RXY e o vetor dos autovalores correspondentes.
a2
a3
a4
a5
- 0.793
- 0.685
- 0.035
0.227
- 0.851
- 0.194
0.232
0.109
0.128
- 0.351
- 0.518
0.606
- 0.726
0.502
0.346
- 0.247
0.175
0.469
0.278
- 0.163
0.059
0.279
0.489
- 0.775
b2
b3
b4
0.656
- 0.663
0.296
0.340
0.383
- 0.165
- 0.906
0.408
0.593
0.727
0.265
0.847
-0.267
-0.061
0.141
0.280
0.158
Canonical loadings
R(U1,X)
-0.005
-0.567
0.113
0.240
0.063
- 0.008
b1
0.407
U1 = a1TX* =
= -0,081X1* - 0,851 X2* - 0,351 X3* +0,346 X4* - 0,163
X5*; e,
V1 = b1TY* =
= -0,008Y1* + 0,340 Y2* + 0,408 Y3* + 0,847 Y4*,
0.756
a1
R(V1,Y)
0.188
-0.263
0.294
0.739
-
46
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 41-49
Tabela 06 Valores dos pares de variveis cannicas (scores) para cada sub-bacia
Sub-bacias
(U1,V1)
(0.39, 0.25)
(- 0.49, 0.80)
(- 0.35, - 0.68)
(-1.00, - 0.20)
(- 0.17, - 0.49)
(- 0.03, 0.33)
(0.36, 0.35)
(- 0.57, - 0.62)
(- 0.19, - 0.91)
(1.54, 1.70)
(- 0.69, - 0.67)
(0.10, 0.62)
(1.11, 1.10)
Grfico 01 Disperso das variveis cannicas: ndice de degradao da gua versus ndice de uso do solo.
47
AGRADECIMENTOS
Este trabalho a sntese de uma dissertao
de mestrado desenvolvida no Programa de psgraduao em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Esprito Santo - UFES, e na oportunidade os autores agradecem a CAPES pela concesso da bolsa de pesquisa, ao LAFARSOL pela ajuda
nas campanhas de campo e pelo desenvolvimento
das anlises laboratoriais e aos professores do PPGEA/UFES.
CONSIDERAES FINAIS
H uma correlao positiva de 0,87 entre o
ndice de Degradao da gua (associada a pouco
oxignio dissolvido e alta concentrao de nitratos)
e o ndice de Atividade Humana do Solo (associado
exposio do solo e pastagem).
Pode-se concluir que a principal relao sobre a atividade humana do solo nas sub-bacias investigadas da bacia do rio Itapemirim no perodo de
seca est associada com a o solo exposto e com a
atividade de pastagem que, juntas, correspondem,
em mdia, mais de 50% das reas ocupadas. Isso est
de acordo com as informaes pr-existentes, pois, a
pecuria bovina est entre as principais atividades
nessas localidades.
A qualidade das guas nas sub-bacias com
maiores ndices de Atividade Humana do Solo, em
mdia, apresenta pouco oxignio dissolvido e alta
concentrao de nitratos, provavelmente associada
ao material orgnico lanado difusamente devido
pecuria bovina sem um manejo adequado.
As sub-bacias em piores condies de qualidade da gua so: crrego Itaoca e crrego Independncia. So essas sub-bacias que possuem o maior percentual de rea ocupada com pastagem grande percentual de reas com solo exposto conforme a
Tabela 01 em anexo.
Pesquisas futuras podero ser feitas com o
objetivo de estabelecer os limites desses ndices para
REFERNCIAS
ANDERSON, T.W. An Introduction to Mutivariate
Statistical Analysis, 3rd ed. New York. John Wiley,
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BRASIL. Poltica Nacional de Recursos Hdricos, Lei
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16 maio de 2011.Disponvel< http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>.
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48
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 41-49
niques: A case study of the Fuji river basin, Japan.
Environmental Modelling& Software .Special section: Environmental Risk and Emergency Management.Volume 22, Issue4 2007, pp 464-475.
49
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
RESUMO
A disponibilidade de sries contnuas de chuva pode viabilizar a execuo de muitos estudos que no seriam possveis com sries falhadas, porm estas normalmente fazem parte da realidade dos dados disponveis, devido a dificuldades
tcnicas, operacionais e oramentrios. O objetivo desta pesquisa testar uma metodologia com redes neurais artificiais
(RNAs) para o preenchimento de falhas em sries horrias de dados de precipitao. Utilizou-se uma srie de dados pluviomtricos horrios de nove estaes, em uma bacia de 78 km, localizada na regio noroeste do Rio Grande do Sul, a qual possui
clima temperado com quatro estaes climticas anuais bem definidas. Foram experimentadas trs diferentes alternativas,
com respeito extenso e disposio das sries horrias utilizadas: 1. Sries longas de treinamento e verificao, com aproximadamente 365 dias; 2. Sries curtas de treinamento com aproximadamente 12 a 30 dias, e vrias sries tambm curtas de
verificao, independentes da estao climtica; 3. Sries curtas (tambm de 12 a 30 dias), semelhantemente alternativa
anterior, porm com verificao do preenchimento somente em perodos prximos ao treinamento (menos de 30 dias de diferena). Obteve-se os melhores resultados com a terceira alternativa, cujos coeficientes de Nash-Sutcliffe (NS) foram superiores
a 0,9, tanto no treinamento quanto na verificao, em todos os postos analisados, reproduzindo bem os picos de vero. Isto
demonstra que, mesmo em bacias onde as precipitaes so consideradas homogneas, as relaes entre postos pluviomtricos
no so constantes, requerendo treinamento para cada processo atmosfrico especfico, para preenchimento de falhas em
perodos curtos e sucessivos ao treinamento.
Palavras chave: serie temporal contnua, dados horrios de chuva, treinamento sazonal.
INTRODUO
O conhecimento do regime hdrico em uma
bacia hidrogrfica fundamental nos estudos hidrolgicos que servem como base para projetos de diferentes usos de gua, sendo indispensvel gesto
sustentvel dos recursos hdricos (SANTOS et al.,
2009). Os dados pluviomtricos constituem elemento importante para o planejamento estratgico e a
gesto dos recursos hdricos. A disponibilidade de
sries temporais de precipitao em uma bacia
determinante na estimativa, entre outros, da capacidade de um manancial utilizado para abastecimento
pblico de gua potvel e industrial (CARVALHO,
2007).
2-
51
52
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
Registros
Total
Com dados
Sem dados
Falhas (%)
Pluvigrafos
P13
P23
P34
P37
P40
P41
P42
P43
P51
45.184
26.263
18.921
42
53.901
49.628
4.273
8
81.929
71.434
10.495
13
83.082
71.101
11.981
14
53.408
34.610
18.798
35
21.526
8.209
13.317
62
53.365
27.750
25.615
48
53.371
30.302
23.069
43
60.228
20.889
39.339
65
MATERIAL E MTODOS
rea de estudo
A rea objeto deste estudo a bacia do arroio Taboo, o qual um afluente do rio Potiribu
(CASTRO et al., 2000). A bacia do rio Potiribu,
53
07/2011
01/2011
07/2010
01/2010
P41
07/2009
01/2009
07/2008
01/2008
07/2007
01/2007
07/2006
01/2006
07/2005
01/2005
07/2004
01/2004
07/2003
01/2003
P23
07/2002
01/2002
07/2001
01/2001
07/2000
01/2000
P13
Figura 2 Perodo de funcionamento de cada pluvigrafo durante janeiro de 2000 a junho de 2011.
54
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
da regra delta (WIDROW & HOFF, 1960), aps a
determinao dos erros na(s) camada(s) intermediria(s), pela retropropagao destes a partir da
camada de sada (RUMELHART et al., 1986).
55
II.
III.
que representam aproximadamente 365 dias, sendo os primeiros 70% dos registros
horrios para o treinamento e os seguintes
30% para a verificao.
modelos com sries curtas de treinamento
e verificao compostas por 300 a 800 registros, que representam 12 a 30 dias, sendo a
verificao realizada em diferentes perodos ao longo do mesmo ano independente
da estao sazonal na qual o modelo foi
treinado;
modelos com sries curtas de treinamento
e verificao compostas por 300 a 800 registros, que representam 12 a 30 dias, sendo a
verificao realizada sempre na sequncia
imediata da srie de treinamento, ou seja,
considerando o mesmo perodo sazonal do
mesmo ano em que foi realizado o treinamento.
56
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
mesmo perodo sazonal. No entanto, dificuldades
foram encontradas. Observou-se que a verificao
no teve a eficincia adequada (O NS foi inferior a
0,85). Na Figura 4 so apresentados os dados dirios dos postos 34, 37, 40 e os valores calculados
para as lacunas do posto 40 no intervalo de 09 a 19
de janeiro de 2011. Foram utilizados os dados dos
postos 34 e 37 para anlise da coerncia do valor
calculado do posto 40. No perodo em que se dispunha de dados nos trs postos, de 09 13/01, os
valores observados foram bastante semelhantes. O
resultado calculado pelo modelo foi compatvel
com os valores observados nos postos vizinhos, conforme ocorrido no dia 19/01. Porm, em outros
trs momentos, o resultado calculado pelo modelo
foi muito diferente dos valores observados nos postos vizinhos, pois ora o valor de precipitao simulado era muito alm do observado (16/01), ora
ficava muito abaixo (14/01 e 17/01).
Na segunda alternativa, os modelos foram
treinados por sries curtas (variando de 12 a 30 dias
de dados horrios que constituem de 300 a 800
valores), independente de a estao climatolgica
verificada ter sido a mesma do treinamento. Para os
testes desta segunda alternativa, foram usados os
mesmos postos do treinamento e verificao da
alternativa anterior. Observou-se uma melhora nos
ndices de desempenho da verificao em relao
primeira alternativa (NS superior a 0,9), portanto
suficiente, em termos gerais, para os padres desejados.
Porm, ao analisar-se a Figura 5, na qual
so apresentados os resultados de um pequeno
perodo simulado no vero (de 16 a 19/01/2010),
observa-se que ocorrem diferenas muito grandes
entre os valores calculados para o posto 51 e os
valores observados dos postos vizinhos 37 e 42, que
foram usados como entrada na RNA para o clculo
das chuvas horrias do posto 51 (Figura 5A). Para o
treinamento deste modelo, foram utilizados dados
do perodo compreendido entre 20 de setembro e
09 de outubro de 2009, no sendo o treinamento e
a verificao na mesma estao climatolgica. Observa-se que os valores calculados do posto 51, do
dia 17/01 so muito inferiores aos observados nos
postos 37 e 42.
Na terceira alternativa, alm de sries mais
curtas, levou-se em considerao, para elaborao
do modelo, as estaes do ano em que se encontravam a srie de treinamento e a de verificao, tendo
por objetivo minimizar possveis efeitos dos diferentes perodos sazonais. Observou-se uma melhora
nos ndices de desempenho da verificao em relao primeira alternativa e desempenho igualmen
ndices de desempenho
Para se avaliar o desempenho das RNAs, foram utilizadas duas estatsticas: o coeficiente de
Nash-Sutcliffe (NS), como usado, por exemplo, em
Zhang et al. (1998) e Silva et al. (2008), e o quantil
95% dos erros (E95), como em Dornelles et al.
(2013).
O coeficiente de Nash-Sutcliffe (NS) uma
medida da proporo dos dados de sada que
explicada pelo modelo. O coeficiente NS representa
a capacidade de ajuste da RNA, sendo tambm a
proporo com que o modelo explica os dados
melhor do que estes o seriam adotando-se sistematicamente a mdia da srie como previso. O NS
pode variar de negativo infinito (-) a um, sendo
que valores altos indicam que a rede apresenta
elevada capacidade preditiva, sendo calculado pela
equao 1:
(1)
RESULTADOS E DISCUSSO
Como primeira alternativa, adotou-se um
modelo geral, com sries longas de treinamento e
verificao (com 8.760 dados, que representam
aproximadamente 365 dias) sem que os perodos
de treinamento e verificao pertencessem ao
57
Figura 4 Preenchimento do P40, a partir dos dados das estaes P34 e P37, no perodo de 2010 e 2011.
Precipitao (mm)
P37
Tempo (dias)
P37
Precipitao (mm)
P51 (preenchido)
NS treinamento = 0,91
NS verificao = 0,92
P42
40
35
30
25
20
15
10
5
0
40
35
30
25
20
15
10
5
0
P42
P51 (preenchido)
NS treinamento = 0,96
NS verificao = 0,98
Perodo (dias)
58
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
Tabela 2 Pluvigrafos preenchidos e usados no preenchimento e estatsticas mdias do treinamento e da verificao.
Estatstica de treinamento
Estatstica de verificao
Pluvigrafo
preenchido
Pluvigrafos
utilizados
Nmero
de
modelos
Mn
Mx
Mn
Mx
Mn
Mx
Mn
Mx
13
23,34,37,40,42
41
0,709
1,261
0,97
0,99
0,765
1,004
0,92
0,97
23
12
0,591
0,785
0,99
0,98
0,432
1,083
0,96
0,98
48
0,007
1,076
0,94
0,99
0,002
1,170
0,9
0,99
51
0,03
1,430
0,91
0,99
0,005
1,420
0,9
0,99
55
0,003
1,500
0,93
0,99
0,005
1,260
0,9
0,97
37
0,012
0,582
0,98
0,99
0,094
0,547
0,9
0,99
93
0,990
0,91
0,99
0,002
1,070
0,91
0,99
112
0,014
0,908
0,94
0,99
0,030
1,130
0,9
0,96
106
0,652
0,97
0,99
0,015
0,840
0,91
0,98
34
37
40
41
42
43
51
Er95% (mm)
NS
Er95% (mm)
NS
Er95% - Erro no ultrapassado em 95% das amostras (mnimo e mximo), por aparelho (mm) e NS - coeficiente de Nash-Sutcliffe (mnimo
e mximo) no treinamento e na verificao dos modelos.
59
CONCLUSO
Este trabalho apresentou trs alternativas
de modelos para o preenchimento de falhas das
sries pluviomtricas horrias da bacia do arroio
Taboo RS utilizando Redes Neurais Artificias
(RNAs). A primeira proposio, com utilizao de
modelos com sries longas (mais de 850 valores),
apresentou no perodo de verificao coeficiente de
Nash-Sutcliffe menor que 0,85. A segunda proposio, utilizando sries curtas para treinamento da
RNA (de 300 a 850 valores) com a srie de treinamento e de verificao realizadas em diferentes
perodos sazonais, apresentou um coeficiente de
Nash-Sutcliffe melhor que o da primeira alternativa
(NS > 0,9), porm nem sempre conseguiu reproduzir as chuvas de vero (alta intensidade e curta durao), considerando-se a correspondncia espacial
esperada. A terceira proposio, com sries curtas e
considerando a mesmo perodo sazonal para a srie
de treinamento e de verificao, apresentou, assim
como a segunda, resultados satisfatrios (NS > 0,9).
Alm disso, observou-se visualmente a capacidade
de reproduo dos picos de vero, demonstrando a
capacidade do mtodo em produzir solues regulares e consistentes, com 100% dos testes apresentando coeficientes de Nash-Sutcliffe entre 0,91 e
0,99 para o treinamento dos modelos e 0,90 e 0,99
para a verificao.
Desta forma, consideramos mais prudente,
para o preenchimento de falhas de dados horrios
nesta bacia, a utilizao de modelos que tenham
sido treinados com dados do mesmo perodo sazonal, na sequncia anterior ou posterior ao perodo
a ser preenchido, evitando assim os possveis efeitos
da variao temporal do processo representado
pelo modelo.
Os resultados demonstram que a escolha da
srie de treinamento na mesma estao climtica
que os dados a serem preenchidos foram o fator
mais importante para a reproduo adequada das
chuvas horrias, inclusive dos picos de vero.
Quando o modelo foi treinado no vero, com srie
curta (12 a 30 dias), o preenchimento de falhas
deve ser realizado nesta mesma estao climatolgica, no mesmo ano, na sequncia imediata, anterior
AGRADECIMENTOS
Agradecemos
ao
MCT/FINEP/AO
TRANSVERSAL - Previso de Clima e Tempo
04/2008, convnio 1406/08, projeto 01.08.0568.00
pelo financiamento da pesquisa e ao CNPq pela
bolsa de doutorado do primeiro autor e pela bolsa
de produtividade do terceiro autor.
REFERNCIAS
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62
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 51-63
Filling Hourly Data Gaps In Rainfall Time Series
Using Artificial Neural Networks
ABSTRACT
The availability of continuous rainfall time series can
enable the execution of many studies that were not possible
using series with gaps, but these are usually part of the
reality of the data available due to technical, operational
and budget difficulties. The objective of this research is to
test a methodology with artificial neural networks (ANN)
to fill gaps in hourly series of rainfall data. We used a
series of rainfall data from nine stations in a 78 km
basin, located in the northwestern region of Rio Grande do
Sul, which has a temperate climate with four clearly defined annual seasons. Three different alternatives have
been tried with regard to the length and the arrangement of
the time series used: 1. Long series, with approximately
365 days, for training and verification; 2. Short training
series, with approximately 12 to 30 days, and also several
verification series, each one independent of the weather
station; 3. Short series (also 12-30 days), similarly to the
previous alternative, except that the verification is done
only in periods close to training. The best results were
obtained with the third alternative, whose Nash-Sutcliffe
(NS) coefficients were higher than 0.9, with both the training and verification series. This demonstrates that even in
basins where rainfall is considered homogeneous, relations
between rain gauges are not constant, requiring training
for each specific atmospheric process to fill the gaps in
short, successive periods.
Key-words: continuous time series; rain hourly data;
neural network, seasonal training.
63
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 65-73
RESUMO
O conhecimento dos valores de presses mdias mnimas junto s comportas tipo segmento invertida de extrema
importncia visto que esses dispositivos so usualmente utilizados em eclusas de navegao. As eclusas so estruturas hidrulicas utilizadas por embarcaes para a transposio de desnveis, que podem ser de origem natural ou oriundos de
intervenes humanas. Durante os procedimentos de enchimento e esvaziamento de cmaras de eclusas, quando se d a
passagem de gua pelas comportas de controle de vazo, verifica-se uma velocidade bastante alta, principalmente para pequenas aberturas da comporta, proporcionando a reduo das presses locais, podendo atingir valores crticos para a incipincia de processos de cavitao. O presente trabalho tem por objetivo apresentar o comportamento das presses mdias mnimas em funo de vazes e aberturas de comportas pr-definidas. Por fim, so sugeridos nmeros adimensionais que possibilitem inferir a ocorrncia das presses mdias mnimas que poderiam ser responsveis pelo incio de processos de cavitao,
causando danos s estruturas.
Palavras-chave: comporta segmento invertida, eclusa, presses mdias mnimas.
INTRODUO
Uma comporta pode ser entendida como
um mecanismo que permite o controle da vazo de
gua em reservatrios, condutos e represas. Sua
aplicao atinge diversos campos da Engenharia
Hidrulica, tais como: proteo e manuteno de
equipamentos, controle de nvel, regularizao de
vazes em barragens, instalao em tomadas dgua
para usinas hidreltricas, dentre outros.
Santos (1998) afirma que vrios tipos de vlvulas foram utilizados em eclusas, sendo que at
1950, nas eclusas predominava a aplicao de comportas planas. Contudo j a partir de 1930, devido
ao grande sucesso tcnico e econmico que estava
sendo obtido com a aplicao de comportas segmento (Tainter gates) em descarregadores de superfcie, essas comportas passaram a ser aplicadas nos
sistemas de enchimento e esvaziamento das eclusas.
Investigaes efetuadas no modelo reduzido da
Eclusa de Pickwick demonstraram que grandes
quantidades de ar eram arrastadas para o interior da
65
Distribuio das Presses a Jusante de Comportas tipo Segmento Invertida em Modelo Fsico de Eclusa de Navegao
ocorrncia inferiores a 1% e 0,1%, que ocorrem a
jusante da comporta para diferentes condies de
escoamento (aberturas e vazes ou cargas a
montante). A anlise destas presses mnimas pode
vir a indicar o grau de risco de eroso e/ou de
cavitao na estrutura. Ainda pode-se ressaltar que
tanto a eroso quanto a cavitao so processos
progressivos e cumulativos que podem ocorrer
simultaneamente, sendo de extrema complexidade
reconhecer precisamente qual processo iniciou o
dano nas paredes do conduto.
METODOLOGIA
Os ensaios que subsidiaram o estudo foram
realizados no Laboratrio de Obras Hidrulicas
localizado no Instituto de Pesquisas Hidrulicas da
UFRGS. A bancada de ensaios composta por um
conduto principal de seo quadrada com 0,25m de
lado e 8,9m de comprimento, onde est instalada a
comporta tipo segmento invertida com raio de curvatura de 0,38m.(Figura 2)
As medies de presso foram efetuadas no
trecho logo a jusante da comporta como pode ser
visualizado nas Figuras 3 e 4. Faz parte do sistema,
ainda, uma chamin de equilbrio com altura de
2,50m e um reservatrio de jusante com volume
total de 7,2m, que tem como funo manter a submergncia mnima do escoamento, que definida
pela profundidade mnima da cmera para as embarcaes.
66
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 65-73
a 15cm, sendo mais prximas logo a jusante da
comporta e mais espaadas conforme se afasta da
comporta. Os dados foram adquiridos durante 10
minutos a uma frequncia de 512 Hz. Este tempo e
frequncia so superiores aos recomendados por
Lopardo (1986), ou seja, 1 minuto e 50 Hz e tambm aos sugeridos por Teixeira (2008) para analise
de presses extremas, ou seja 10 minutos e 50 Hz.
Figura 3 - Detalhe da regio de interesse das medies de
presso e variveis relevantes ao estudo.
Foram ensaiadas sete vazes e onze diferentes aberturas da comporta, sendo que todos os ensaios foram realizados com escoamento em regime
permanente. A Figura 5 apresenta a visualizao da
vena contracta durante a realizao de um dos
ensaios, onde foi ejetado em duas tomadas do teto
um traador (tinta nanquim diluda em gua, que
permitiu identificar a regio inferior de escoamento
principal e uma regio superior (azul) de recirculao. Este tipo de visualizao foi feito para todos os
ensaios. Em cada uma das imagens foi medida a
vena contracta e comparada com os resultados obtidos por Battiston et al, (2009) e USACE (1975), apresentando uma boa correlao. Assim optou-se
em utilizar os dados da curva de Battistom et al,
(2009(b)) que foi desenvolvida na mesma estrutura
do presente trabalho.
A Tabela 1 apresenta a composio dos ensaios realizados. As presses foram medidas por
meio de transdutores de presso da marca Sitron
com faixa de operao de -1,5 a 1,5 mca, e preciso
de 0,25% de fundo de escala, estes foram localizados
no eixo central do conduto no teto e na base do
mesmo, logo a jusante da comporta (Figura 6), a
distncia entre as tomadas de presso variou de 5cm
Abertura (%)
10%
15%
20%
25%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
100%
Vazo (l/s)
18 22
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
28
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
32
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
40
60
80
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
67
Distribuio das Presses a Jusante de Comportas tipo Segmento Invertida em Modelo Fsico de Eclusa de Navegao
dio de ensaio. Assim obteve-se um nico valor de
presso para cada uma das condies de ensaio.
RESULTADOS
Para demonstrar o comportamento das
presses mdias a jusante da comporta, apresenta-se
nas Figuras 8 e 9 a distribuio de presses mdias
ao longo da base e do teto do conduto.
Pelas Figuras 8 e 9 pode-se perceber que as
presses aumentam a medida que a abertura da
comporta torna-se maior. Embora o comportamento
da presso para teto e base seja semelhante, as presses no teto se mostram menores. possvel verificar tambm que as menores presses mdias ocorrem numa regio menor que 2D (2 vezes a altura do
conduto), para todas as aberturas e vazes.
Abertura 30%
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
Presses
mdias
mnimas
0,1
0,0
-0,1
18
22
28
32
40
60
80
l/s
l/s
l/s
l/s
l/s
l/s
l/s
-0,2
0
0,5
1
1,5
Distncia da borda da comporta (m)
Os ensaios foram efetuados para uma relao de carga (relao entre a carga cintica do escoamento e a altura do conduto) entre 0,025 e 10,310,
de acordo com a equao 1.
(1)
Onde:
Figura 9 - Distribuio das presses mdias ao longo do
teto do conduto para uma vazo de 32l/s.
Rc relao de carga;
Vc - velocidade mdia do escoamento na vena contracta da comporta em (m/s);
D - altura do conduto no caso de conduto de seo
quadrada (m);
g acelerao da gravidade (m/s)
68
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 65-73
Quando as presses mdias mnimas so apresentadas em funo da abertura da comporta
para as diferentes vazes, verifica-se, que, para todos
os casos, existe uma abertura na qual a presso
igual. Este valor da ordem de 70%, e ocorre tanto
na base quanto no teto. (Figuras 12 e 13). Observase ainda que as maiores vazes originam menores
presses mdias mnimas, porm estas crescem mais
rapidamente a medida que aumenta a abertura da
comporta.
Atravs da anlise dos dados obtidos nos ensaios foi possvel generalizar os resultados de maneira a permitir uma estimativa dos valores das presses
mdias mnimas que podem ocorrer jusante da
comporta para as diferentes condies de contorno.
A Equao 2 apresenta o coeficiente de presso (,
conforme descrito por Dourado, (1987) e Santos
(1998).
69
Distribuio das Presses a Jusante de Comportas tipo Segmento Invertida em Modelo Fsico de Eclusa de Navegao
dro, porm, apresentam valores distintos. Tambm
pode-se verificar que para Am > 480 as presses,
tanto na base como no teto, comeam a se estabilizar, indicando que a partir desta condio a abertura a comporta influencia pouco na presso.
(2)
Onde:
P - presso medida no ponto;
Patm - presso atmosfrica local;
PV - presso de vapor do lquido;
V - a velocidade em termos mdios do escoamento.
No presente trabalho optou-se por utilizar o coeficiente de presso (CP) de forma simplificada, conforme Equao 3.
Pressomdiamnima(mca)
0,6
(3)
0,4
0,2
0,0
0,2
Teto
Base
0,4
0,6
0
500
1000
1500
2000
Am
2500
3000
3500
Onde:
Pm - presso mdia mnima.
Vc - velocidade mdia do escoamento na vena contracta da comporta em (m/s);
Pelas anlises dimensionais efetuadas se verificou que a relao entre a velocidade na vena
contracta (Vc), a abertura da comporta (a) e a relao da dimenso do conduto (D) permitiam a caracterizao do escoamento. A celeridade (C) foi includa como parmetro de adimensionalizao uma vez
que a abertura da comporta se d em regime transiente e as presses dependem das caractersticas da
tubulao e do tempo de abertura ou fechamento
da comporta. O parmetro adimensional resultante
destas anlises o parmetro Am, conforme a Equao 4.
100%
90%
10%
Abertura
80%
(4)
15%
70%
20%
60%
25%
30%
50%
40%
40%
50%
30%
60%
20%
70%
80%
10%
100%
0%
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Am
Onde:
70
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 65-73
(5)
CPteto = 2E-06Am2+0,0012Am-0,2529
(6)
Base
Am > 170
84 < Am < 170
70 < Am < 84
Am < 70
Teto
Am > 350
185 < Am < 350
90 < Am < 185
Am < 90
71
Distribuio das Presses a Jusante de Comportas tipo Segmento Invertida em Modelo Fsico de Eclusa de Navegao
que ocorram presses negativas. Assim classificou-se
a condio do escoamento em funo do parmetro
Am e ocorrncia ou no de presses negativas que
possam vir a danificar a estrutura, conforme
apresentado na Tabela 4.
Este estudo buscou contribuir para a compreenso do comportamento do escoamento a jusante das comportas tipo segmento invertida obtendo assim projetos e estruturas mais seguras.
Procurou-se estabelecer aqui, tambm, alguma contribuio na definio das leis de abertura
das comportas, uma vez que identificado as situaes
em que ocorrem as menores presses, possvel
conceber e utilizar leis de abertura que minimizem
os tempos em que a estrutura estar funcionando
em situaes mais desfavorveis no que diz respeito
a presses mnimas e ao risco de cavitao.
Salienta-se, contudo que h muito ainda a
ser esclarecido de forma a ampliar as concluses
aqui apresentadas. Desta forma, em continuao
pesquisa esto sendo realizadas anlises da presso
com baixas probabilidades de ocorrncia (P1% e
P0,1%), com isso ser possvel uma maior compreenso do comportamento das presses, agora extremas, a jusante de comportas tipo segmento invertida.
Condio
Am > 170
84 < Am < 170
70 < Am <84
Am < 70
CONCLUSES
Este trabalho prope a identificao do
comportamento das presses mnimas jusante de
comportas tipo segmento invertida, em funo dos
adimensionais: Coeficiente de presso (CP) e Am.
Pela anlise efetuada a partir de dados obtidos em um modelo hidrulico de laboratrio, foi
possvel concluir:
AGRADECIMENTOS
equipe de trabalho envolvida no Projeto
de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) intitulado
Anlise do comportamento hidrulico dos sistemas
de enchimento e esgotamento de eclusas de
navegao, que contou com a parceria e o apoio
financeiro da Eletrobrs-Furnas. Os autores tambm
agradecem aos bolsistas do IPH/UFRGS que
trabalharam nas atividades experimentais relativas a
essa pesquisa.
Agradecimento tambm a FINEP e ao
CNPq, que no mbito do CT-Aquavirio, apoia o
projeto "Anlise dos Esforos Hidrodinmicos a
Jusante
de
Vlvulas
de
Sistemas
de
Enchimento/Esvaziamento
de
Eclusas
de
Navegao, desenvolvido em rede entre o
IPH/UFRGS, a UFPel, a UNISINOS e a URI.
REFERNCIAS
BATTISTON, C. C.; SCHETTINI, E. B. C.; CANELLAS, A. V. B.; MARQUES, M. G. Eclusas de Navegao: caracterizao hidrulica do escoamento a jusante
das vlvulas de enchimento esvaziamento. In: SIMPSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HDRICOS,
Am > 170
84 < Am < 170
70 < Am < 84
Am < 70
72
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 65-73
Docente) Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria. Escola Politcnica da Universidade de
So Paulo, So Paulo.
DOURADO, C. L. Aplicaes e uso da medio de presses em modelos de eclusas de navegao. 1987. 116 f.
Dissertao (Mestrado em Engenharia) Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria, Escola
Politcnica da Universidade de So Paulo, SoPaulo.
GONTIJO, N. T.; CAMPOS, R. G. D. Estruturas Hidrulicas Seminrio: eclusas. 2005. 29f. Programa de
Ps-Graduao em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hdricos Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
Distribution Of Pressures Downstream From Reverse Tainter Gates In A Physical Model Of A Navigation Lock
ABSTRACT
73
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
RESUMO
As precipitaes intensas so responsveis pelo transporte de espcies qumicas aos corpos de guas superficiais e
subterrneos. A magnitude dos efeitos destes eventos climticos depende dos atributos fsicos e qumicos do solo e do manejo
agrcola desenvolvido pelos produtores. Na regio sul do Brasil, poucos estudos tm sido desenvolvidos no sentido de quantificar o transporte de compostos de carbono, nitrognio e fsforo pelo escoamento da gua, aps a ocorrncia de precipitaes
intensas, em reas agrcolas. Assim, este estudo tem por objetivo determinar as concentraes e as cargas de carbono, nitrognio e fsforo transportadas pelos escoamentos superficiais e de drenagem em diferentes solos, quando submetidos a condies
extremas de precipitao. Foram utilizados 7 lismetros de drenagem, instalados em quatro bacias hidrogrficas dos estados
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran, tendo sido efetuadas simulaes de chuvas, com intensidades variando
entre 29,6 e 176,9 mm h-1. O nitrognio na forma de nitrato apresentou as maiores concentraes tanto no escoamento superficial quanto no escoamento de drenagem. O nitrognio na forma de amnio e de nitrito, o fosfato e o carbono orgnico
total apresentaram maiores concentraes nas guas do escoamento superficial. As concentraes de carbono foram influenciadas pela estao do ano. As concentraes de nitrato foram influenciadas pela intensidade da precipitao e pelo grau de
mobilizao do solo. As cargas transportadas pelo escoamento superficial e de drenagem no seguiram o mesmo comportamento das concentraes.
Palavras chave: Chuvas intensas, transporte de poluentes, manejo agrcola, qualidade das guas, lismetros.
INTRODUO
As precipitaes intensas que provocam escoamentos superficiais so responsveis pelo transporte de espcies qumicas aos corpos de guas superficiais. A gua que infiltra no perfil do solo, proveniente da precipitao, promove a lixiviao de
espcies qumicas no perfil do solo, podendo degradar as guas subterrneas. A magnitude dos efeitos
destes eventos climticos depende de vrios fatores
naturais, podendo ser alterados pelas intervenes
antrpicas. Em reas rurais, os principais fatores
atuantes so os atributos fsicos e qumicos do solo e
o manejo agrcola desenvolvido pelos produtores.
Entre as espcies qumicas de interesse na
conservao dos solos e na qualidade dos recursos
hdricos tm-se os compostos de carbono, nitrognio e fsforo, os quais se apresentam de diferentes
1
2-
75
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
trs na bacia do ribeiro Concrdia, no municpio
de Lontras, SC, e um na bacia do rio Barigui, no
municpio de Curitiba, PR (Figura 1).
MATERIAIS E MTODOS
rea de estudo
Os dispositivos experimentais foram instalados em quatro bacias hidrogrficas, localizadas nos
estados do Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina
(SC) e Paran (PR), no sul do Brasil, distribudas
entre as latitudes 2526'53,6"S e 2850'11,4"S e longitudes 49 13' 52,6"W e 53 41' 23,1"W. Utilizaramse 7 lismetros, dois na bacia hidrogrfica do rio
Potirib, no municpio de Pejuara, RS, um na bacia
do rio Guapor, no municpio de Arvorezinha, RS,
76
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
Tabela 1 - Manejo do solo nos lismetros, indicando sistema de cultivo, poca de plantio, cultura implantada
e aplicao de adubos qumicos e sua forma de adio.
Lismetro
LCR
LCP
LBP
LPC
LPD
LGT
LCM
LPC lismetro bacia do Potiribu sistema de cultivo convencional; LPD lismetro bacia Potiribu sistema de cultivo direto;
LGT lismetro bacia Guapor Tabaco; LCM lismetro bacia Concrdia Milho; LCR lismetro bacia Concrdia rotao de cultura;
LCP lismetros bacia Concrdia pastagem; LBP lismetro bacia Barigui pastagem.
Simulao de chuvas
As chuvas simuladas foram obtidas utilizando-se um simulador, semelhante ao descrito por
Meyer e Harmon (1979), suspenso por quatro hastes
regulveis para uma altura de 2,45 m acima da superfcie do solo.
77
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
Tabela 2 Caractersticas dos lismetros: Composio granulomtrica, porosidade, massa especfica,
descrio tipo de solo e manejo.
Lismetro
Areia
%
Silte
%
Argila
%
Densidade
g/cm3
Porosidade
Declividade
%
Tipo de solo
LPC
24,59
22,91
52,49
1,09
0,57
2,0
LPD
LGT
32,21
11,60
56,19
1,57
0,53
2,0
13,15
32,75
54,10
1,20
0,56
7,0
LCM
LCR
35,16
49,96
14,89
1,39
0,45
4,0
15,55
59,65
24,89
1,55
0,46
9,0
LCP
9,13
32,73
57,92
1,45
0,44
2,5
LBP
31,00
38,00
31,00
1,35
0,49
3,0
Gleissolo hplico
Manejo do solo
Os ensaios de simulao foram realizados
em sries de 1 a 4 dias consecutivos. Em cada srie
de ensaios adotou-se a sequncia seguinte: primeiro
e segundo ensaios, com as condies iniciais da
superfcie do solo, no final do segundo ensaio, a
superfcie do lismetro com plantio convencional
(LCM, LCR, LGT e LPC) ou plantio de pastagem
perene (LBP) foi revolvida com uma p de corte, at
a profundidade de 20 cm, sendo realizado um bom
destorroamento e regularizao da superfcie. No
lismetro com plantio direto, aps a segunda simulao de chuvas foi criado um sulco, na direo da
curva de nvel, com 0,03 m de largura, profundidade
de 0,02 m, sendo o solo revolvido at a profundidade de 0,07 m. Essas condies de superfcies foram
mantidas para o terceiro e quarto ensaio. No solo
com pastagem perene (LCP), no cultivo mnimo no
perodo de inverno (LGT) e no cultivo de milho no
perodo de desenvolvimento da cultura (LCR e
LCP), no houve revolvimento do solo.
Ao final do primeiro ensaio, foi aplicado o
fertilizante superfosfato triplo (STP), em soluo na
superfcie do solo, com dosagem de 350 kg/ha. O
STP constitudo de 5 N, 20 P e 10 K.
Anlise qumica das amostras de gua
Nas amostras de gua foram determinadas
as concentraes dos nutrientes, amnio (NH4+),
nitrito (NO2-), nitrato (NO3-), fosfato (PO4-3), carbono total dividido em carbono orgnico total (TOC)
e carbono inorgnico (IC).
Para a determinao das concentraes dos
nutrientes foi utilizado um cromatgrafo de troca
78
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
inica, marca DIONEX AG4A. Foi utilizada uma
coluna de separao aninica juntamente com supressora e um detector de condutividade. As condies de injeo da amostra foram: Injeo da amostra: 10 L; Temperatura: 30 C; Taxa de fluxo: 1,2
mL min.-1; Eluente: Na2CO3 4,5mM/NaHCO3 1,4
mM; Condutividade esperada: 19 - 23S Supressor:
aninico auto regenerante; Soluo estoque: NaHCO3 100mM; Corrente aplicada: 31 mA. As curvas de
calibrao foram realizadas com padres certificados, utilizando-se 5 pontos na faixa de 1 a 10 mg L-1
com leitura em quintuplicata. As leituras das amostras foram realizadas em triplicatas.
Para a anlise do carbono orgnico total
(TOC) e carbono inorgnico (IC), as amostras foram analisadas diretamente no Analisador de Carbono, modelo TOC VCPH, marca SHIMADZU, com
curva de calibrao inserida atravs da leitura em
quintuplicata de 6 pontos.
RESULTADOS E DISCUSSO
Na tabela 3 so apresentados os valores das
intensidades da chuva, taxas de escoamento superficial e de drenagem, registrados nas sries de eventos
de simulao de chuva. Nota-se que os valores constantes na tabela esto associados s lminas de guas
medidas durante a realizao do ensaio, de modo
que a variao do teor de gua armazenada no lismetro pode interferir no fechamento do balano de
massa. O maior efeito sobre o escoamento de drenagem que pode ser reduzido ou aumento em determinado ensaio, da srie de simulao de chuva.
A intensidade da chuva variou entre 29,6 e
176,9 mm h-1, as taxas de escoamentos superficiais
entre 0 e 98,6 mm h-1 e de drenagem entre 0,2 e
107,8 mm h-1. As chuvas aplicadas so representativas daquelas registradas nos estados do sul do Brasil,
com baixa e elevada intensidade, conforme pode ser
verificado com as equaes de IDF estabelecidas por
Fendrich (1998), Back (2002), Bazzano et al. (2010)
para estaes pluviomtricas instaladas em locais
prximos dos lismetros. As precipitaes de baixa
intensidade apresentam perodos de retorno da
ordem de 1 ano e as de alta intensidade, da ordem
de 1000 anos.
O escoamento superficial no foi gerado em
15 ensaios, onde a intensidade foram inferiores a
124,0 mm h-1. Este limite mximo foi registrado no
lismetro LCM, em 01/2010, quando o milho encontrava-se em seu estdio mximo de desenvolvimento mximo (75 dias aps o plantio e com 1,65 m
de altura). A no gerao de escoamento superficial
em ensaio de simulao com elevada intensidade de
precipitao pode ser justificada pelo aumento da
capacidade de infiltrao da gua no solo, devido
presena de razes do milho na camada superior do
solo. Todavia, intensidade de precipitao similar
aplicada no ensaio de 11/2009, perodo no qual o
milho encontrava-se no estdio de desenvolvimento
inicial (14 dias aps o plantio e com 12 cm de altura), gerou uma taxa de escoamento superficial de
41,6 mm h-1.
Na Tabela 4 so apresentadas as concentraes mdias para as espcies qumicas transportadas
pelo escoamento superficial e de drenagem. Tambm so apresentados os resultados do teste de Tukey (p 0,05) para comparao das concentraes
mdias das espcies qumicas transportadas pelo
escoamento superficial e de drenagem e, comparadas s concentraes de cada espcie qumica obtidas em cada lismetro. O nitrognio na forma de
nitrato (NO3-) apresentou as menores concentraes
Cargas transportadas
As cargas transportadas pelo escoamento
superficial e de drenagem representam a massa
exportada para o exterior da amostra indeformada
do solo. A carga foi determinada para cada ensaio
de simulao, cuja durao foi de 75 min. Ela foi
calculada pela expresso:
F Ci Qi t
i 1
(1)
onde F o fluxo de massa da espcie qumica considerado no ensaio de simulao de chuva realizado,
Ci a concentrao do composto na amostra i, Qi
a vazo do escoamento de gua durante a coleta da
amostra i e t o intervalo de tempo entre as amostras e n o nmero de amostras coletadas.
Teste estatstico
Foi aplicado o teste de Tukey (p 0,05) para comparao das concentraes mdias das espcies qumicas transportadas pelo escoamento superficial e de drenagem e, tambm, comparadas as
concentraes de cada espcie qumica entre os
lismetros, para as condies de baixa e alta intensidade da chuva e pouca e muita mobilizao do solo.
79
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
Tabela 3 - Intensidades da chuva (P) e taxas de escoamento superficial (Qr) e de drenagem (Qd)
nos ensaios de simulao de chuva (mm h-1)
Lismetro
Primeiro dia
Data
8/09
1/10
7/10
8/09
1/10
7/10
2/10
7/10
1/09
11/09
12/09
1/10
7/10
1/11
1/10
7/10
1/11
12/09
1/10
7/10
1/11
7/09
7/10
LPC
LPD
LGT
LCM
LCR
LCP
LBP
Segundo dia
Terceiro dia
Quarto dia
Qr
Qd
Qr
Qd
Qr
Qd
Qr
Qd
111,7
37,8
38,8
127,5
41,1
39,0
32,8
43,0
140,5
131,1
35,4
36,5
53,7
74,8
37,9
41,3
44,6
45,0
36,0
50,3
37,5
111,5
47,5
25,7
0,0
0,0
27,1
0,1
1,4
0,3
0,7
4,1
59,9
1,1
0,0
0,9
7,4
0,6
22,9
0,0
1,4
11,1
38,3
0,0
13,4
0,6
97,0
27,8
13,3
107,8
44,4
23,0
0,2
24,9
38,6
82,9
15,0
46,9
33,6
34,4
23,1
11,2
37,8
20,0
35,5
14,8
28,3
85,9
43,8
101,8
90,2
43,7
106,6
92,0
41,4
85,9
44,0
124,3
124,1
58,6
44,2
0,0
55,1
11,9
1,2
30,7
1,2
5,2
41,6
20,6
29,6
26,8
73,2
86,6
35,2
18,3
33,8
76,4
84,7
110,2
35,4
36,3
108,9
34,2
35,2
32,0
43,0
101,1
65,9
0,2
0,0
46,9
0,2
1,0
0,5
3,0
4,9
14,3
26,8
16,7
81,4
25,1
26,2
4,5
31,2
96,7
133,9
109,3
30,2
122,5
116,5
29,6
83,6
98,6
52,7
0,0
75,1
29,6
3,1
52,9
16,9
71,0
20,2
58,9
93,8
34,0
20,5
119,5
27,0
81,0
124,0
47,4
63,7
95,2
44,6
44,6
0,0
14,5
2,1
7,0
27,2
0,0
89,1
26,3
61,9
47,2
13,8
39,5
45,4
75,8
0,0
4,7
33,1
67,9
48,7
69,3
0,0
3,6
50,7
79,4
49,6
55,8
0,0
1,0
38,5
51,8
55,5
55,8
0,0
0,9
63,1
43,6
86,4
53,0
54,6
40,9
54,4
65,0
39,3
0,0
9,5
1,2
18,2
32,3
61,6
41,2
53,4
Tabela 4 Concentrao (mg L-1) mdia das espcies qumicas no escoamento de gua nos lismetros.
Lismetro
LPC
LPD
LGT
LCM
LCR
LCP
LBP
Mdia
Escoamento superficial
NH4
ab
3.13
4.8a d
1.13b
4.73a c
4.86a
0.51b d
0.3a b c
2,78
NO2
ac
0.04
0.13a c
0.02a
0.1a c
0.16a c
0.01b c
0.01a c
0,067
NO3
bc
1,35
1,3b c
10.83* b c
20.11* a
48.32* a c
1,4b c
15.85* a c
14,17
Escoamento de drenagem
PO4
-2
TOC
ac
2.18*
10.02* a c
0.54 a c
2.72 b c
19.29* a
0.04a c
0.41a c
5,03
NH4+ NO2-
IC
2,79
3.08* c
8.32* b
8.11* c
12.50* b
6.30* c
14.77* a
7,98
5.86*
5.72* a
2,84 b
2.83* b
2,77 b
2.29* b
1,09 b
3,34
0,39
0,19b
4,44a
1,29a
0,44b
0,25b
0,17b
1,02
ab
0,03
0,03b c
0,09a b
0,09a
0,02b c
0b c
0,03a b
0,04
NO3-
PO4-2
TOC
3,08
2,39c
368,85a
50,02b
64,06a b
1,14c
0,65c
70,03
0,23
0,39b
0,38b
1,05a
0,44a b
0,03b
0,26a b
0,40
2,42
1,81a
11,4a d
5,43c
2,58a
4,43c d
7,09b
5,02
IC
1,4c
1,64c
7,64a
1,47c
2,69a
6,23b
1,81c
3,27
NH4+ - amnio, NO2- - nitrito, NO3- - nitrato, PO4-2 - fosfato, TOC - carbono orgnico total, IC - carbono inorgnico, * diferena
estatsticas (p 0,05) entre o escoamento superficial e de drenagem. Letras iguais, na coluna, representam que as sries possuem semelhana estatstica (p 0,05)
no escoamento superficial comparado ao escoamento de drenagem, exceto no LCP e LBP. Nesses solos
no h revolvimento de solo durante a srie de simulao de chuva, evidenciando que a perturbao
80
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
48,32 mg L-1 (lismetro LCR), com mdia de 14,17
mg L-1 e, no escoamento de drenagem entre 0,65
(lismetro LBP) e 368,85 mg L-1 (LGT), com mdia
de 70,03 mg L-1. As maiores concentraes ocorreram na gua de drenagem nos solos onde realizada fertilizao mineral peridica, nos cultivos de
tabaco, milho e na rotao de cultura, tendo o ltimo as maiores concentraes para o escoamento
superficial. Os lismetros LGT, LCR e LBP apresentaram diferena estatstica nas concentraes de
nitrato no escoamento superficial e no escoamento
de drenagem. Estes valores podem ser comparados
com aqueles estabelecidos pela legislao brasileira
para classificao dos corpos de guas superficiais
(Resoluo CONAMA n. 357/2005) e subterrneos
(Resoluo CONAMA n. 420/2009), cujo padro de
nitrato de 10 mg/L, indicando que a contribuio
do escoamento de gua no solo, na escala estudada
(1 m3), pode ser superior ao limite mximo estabelecido.
As espcies qumicas de amnio (NH4+) e de
nitrito (NO2-) apresentaram comportamento distinto do nitrato. Neste caso, as concentraes mdias
no escoamento superficial foram superiores aquelas
do escoamento de drenagem. No entanto, a anlise
estatstica no demonstrou a existncia de diferena
das concentraes nos dois tipos de escoamentos. A
concentrao mdia do amnio no escoamento
superficial foi de 2,78 mg L-1 e no escoamento de
drenagem foi de 1,02 mg L-1, sendo portanto cerca
de 2,7 maior nas amostras de guas do escoamento
superficial. Para o nitrognio da forma de nitrito, a
relao entre as concentraes mdias nas amostras
de gua do escoamento superficial e de drenagem
foi da ordem de 1,6. Comparando-se estes duas formas de nitrognio com aqueles do nitrato, constatase que este ltimo apresenta maior mobilidade no
perfil do solo. Deste modo, o enriquecimento de
guas subterrneas por nitrato pode ser mais significativa do que nas formas de amnio e nitrito.
Concentraes mais elevadas no escoamento superficial tambm foram obtidas para o fsforo
na forma de fosfato (PO4-2) e carbono na forma de
carbono orgnico total (TOC). A relao entre as
concentraes mdias de fosfato entre os escoamentos superficial e de drenagem foi de 12,7 e, do carbono orgnico total da mesma ordem de grandeza
do nitrito, o qual foi de 1,6. O teste estatstico apresentou resultados distintos para as duas espcies
qumicas. O PO4-2 apresentou diferena estatstica
entre o escoamento superficial e o escoamento de
drenagem em trs lismetros, enquanto o TOC apresentou semelhana em apenas dois lismetros. O
fsforo possui elevada capacidade de adsoro aos
81
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
Tabela 5 Concentraes mdias (mg L-1) de carbono orgnico e inorgnico no escoamento superficial e de drenagem.
Escoamento
superficial
TOC
IC
6,68a*
4,23a*
7,57a*
3,48b*
Estao
Inverno (n = 10)
Vero (n = 9)
Escoamento
de drenagem
TOC
IC
3,39a
2,01a
5,32b
4,45b
Tabela 6 - Intensidade de precipitao (P mm h-1), concentraes de carbono total (CT mg L-1), nitrato (NO3- mg L-1) e
fosfato (PO4-2 mg L-1) no escoamento superficial e de drenagem.
Primeiro ensaio
Segundo ensaio
Terceiro ensaio
Quarto ensaio
Especificao
P
CT
NO3-
PO4-2
CT
NO3-
PO4-2
CT
NO3-
PO4-2
CT
NO3-
PO4-2
Escoamento Superficial
Mdia (n = 23)
60,7
13,0
26,7
0,5
74,4
10,1
8,4
20,0
58,7
9,1
13,5
1,2
81,2
10,0
5,0
3,3
Mxima (n = 23)
140,5
27,2
349,6
1,9
124,3
22,4
66,9
179,6
110,2
20,8
97,3
4,7
133,9
21,0
14,6
15,6
117,1
9,1
16,2
0,3
104,6
8,3
3,8*
0,3*
99,0
9,2
8,6*
0,8
117,6
7,1
7,2
3,7
42,6
13,4
8,5
0,4
49,1
11,1
20,1
48,0
42,6
10,3
23,9
1,6
48,2
12,7
6,7
1,4
63,9
13,0
11,4
0,4
88,8
8,8
10,9*
14,7
59,4
10,3
23,9*
1,1
78,4
8,7
9,4*
3,8
49,7
11,4
4,7
0,3
69,6
9,9
3,8
17,4
56,8
8,6
1,4
1,1
101,7
6,1
2,3
2,7
Alta Intensidade
(n = 5)
Baixa intensidade
(n = 18)
Muita mobilizao
(n = 12)
Pouca mobilizao
(n = 11)
Escoamento de drenagem
Mdia
60,7
5,8
29,6
0,1
74,4
5,6
33,3
0,6
58,7
5,7
47,3
0,5
81,2
5,3
36,3
0,5
Mxima
140,5
14,0
116,3
0,3
124,3
16,2
181,1
4,1
110,2
19,2
159,5
5,6
133,9
14,5
120,8
1,9
Alta intensidade
117,1
3,8
42,9
0,2
104,6
4,8
17,7
15,1*
99,0
5,6
48,4
17,3*
117,6
5,3
15,3*
15,7*
Baixa intensidade
42,6
6,3
28,0
2,9
49,1
6,0
40,4
1,1
42,6
6,8
42,3
0,1
48,2
7,2
58,7
0,2
Muita mobilizao
63,9
4,4
49,8*
0,1
88,8
4,7
40,6*
12,5*
59,4
6,7
67,1*
1,2
78,4
6,2
59,7*
0,6
Pouca mobilizao
49,7
7,9
1,6
0,1
69,6
7,0
1,7
0,2
56,8
5,8
1,8
0,2
101,7
5,9
1,9
0,5
* diferena estatsticas (p 0,05) entre alta e baixa intensidade e entre muita e pouca mobilizao
tidos por Bertol et al. (2007) em parcelas com cultivo de soja, para diferentes manejos do solo. Eles
obtiveram concentraes de fsforo na gua de
escoamento superficial das parcelas com plantio
direto superiores aquelas do plantio convencional.
O fosfato imobilizado na superfcie e/ou utilizado
pela planta para seu crescimento, sendo redisponibilizado na superfcie pelos restos culturais.
No entanto, em termos de semelhana estatstica, os
resultados so divergentes.
Nos lismetros da bacia do ribeiro Concrdia, o uso do solo com plantio de milho (LCM)
gerou concentraes mdias superiores ao uso com
pastagem (LCP), estatisticamente diferentes, exceto
para as formas de carbono no escoamento de drenagem. A concentrao mdia do carbono inorgnico no escoamento de drenagem no lismetro de
pastagem (LCP) foi superior aquela dos lismetros
com milho (LCM) e com rotao de culturas (LCR),
estatisticamente diferentes.
82
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
O perodo sazonal influenciou nas concentraes mdias das formas de carbono, tanto do
escoamento superficial quanto do escoamento de
drenagem. Na tabela 5 so apresentadas as concentraes mdias do carbono orgnico total e do carbono inorgnico. No escoamento de drenagem, as
concentraes mdias do TOC e IC so maiores no
vero. J no escoamento superficial, somente a concentrao do TOC maior no vero, ocorrendo o
inverso para o IC. Este resultado pode ser proveniente dos resduos gerados pelas culturas durante o
seu desenvolvimento e imediatamente aps a sua
colheita. No vero, correspondendo ao perodo
final do desenvolvimento da planta e realizao da
colheita, o estoque de carbono orgnico na superfcie maior, e o seu transporte, no perfil do solo,
proporciona concentraes mais elevadas tanto no
escoamento superficial quanto no escoamento de
drenagem. Por sua vez, o carbono inorgnico proveniente das transformaes bioqumicas que ocorrem no solo. Este processo mais lento, de modo
que, na superfcie, o carbono inorgnico apresenta
maior estoque no inverno. No entanto, no vero, no
escoamento de drenagem, tm-se as contribuies
do carbono inorgnico transportado pela percolao e das transformaes bioqumica do carbono
orgnico, de modo que a sua concentrao seja mais
elevada neste perodo sazonal.
Na tabela 6 so apresentadas as concentraes mdias e mximas de carbono total (orgnico e
inorgnico), de nitrato e de fosfato determinadas
nas amostras de escoamento superficial e de drenagem. Tambm so apresentados os valores mdios
para as intensidades classificadas como alta (superiores a 100 mm h-1) e baixa (inferiores a 75 mm h-1)
e, com pouca e muita mobilizao do solo. A concentrao do carbono total apresentou pouca variao nos valores mdios e mximos para o escoamento superficial e de drenagem. No escoamento superficial, as concentraes de carbono total para todas
as alternativas analisadas (mdia, mxima, alta e
baixa intensidade de chuva, solo com muita e pouca
mobilizao) foram cerca de 1,8 vezes superiores
aquelas do escoamento de drenagem. Comportamento semelhante foi obtido para o fosfato (PO4-2),
com concentraes mais elevadas no escoamento
superficial. No entanto, neste caso, as relaes foram
variveis, sempre superiores a 2 vezes. Isto demonstra que o fosfato menos mvel do que o carbono
do perfil do solo. O fsforo apresentam elevado
potencial de adsoro aos constituintes do solo
(GONALVES et al., 2011), o que reduz a sua movimentao no perfil do solo.
O teste estatstico demonstrou que as concentraes mdias de nitrato (NO3-) foram influenciadas pela intensidade da precipitao e pelo grau
de mobilizao do solo, tanto no escoamento superficial quanto no escoamento de drenagem. Para o
fosfato (PO4-2), diferenas estatsticas significativas
foram obtidas nas concentraes do escoamento de
drenagem, devido a intensidade da chuva e, na segunda srie de ensaios, devido ao grau de mobilizao do solo. Por sua vez, as concentraes de carbono total no apresentaram diferena estatstica em
funo da intensidade da chuva e do grau de mobilizao do solo.
Na tabela 7 so apresentadas as cargas de
amnio, nitrito, nitrato, fosfato, carbono orgnico
total e carbono inorgnico, transportadas pelos
escoamentos nos primeiros ensaios de simulao de
chuva. O escoamento de drenagem transportam
cargas superiores quelas dos escoamentos superficiais em todas as comparaes (concentrao mdia,
mxima, alta e baixa intensidade de chuva, solos
com muita ou pouca mobilizao). A relao entre
as cargas transportadas pelos dois escoamentos variou entre 1,7 para o nitrito e 16,9 para o nitrato. O
nitrito constitui um elemento de transformao
rpida, de modo que durante o seu transporte no
perfil do solo ele pode ser transformado em nitrato
ou em amnio, dependendo das condies qumicas
do meio, justificando deste modo a menor relao
entre as cargas transportadas pelos escoamentos de
drenagem e os escoamentos superficiais.
Estes valores de cargas transportadas mostram o potencial de contribuio dos escoamentos
aos corpos de guas superficiais e subterrneos.
importante notar que o escoamento de drenagem
alimenta os corpos de guas subterrneos, os quais
alimentam os cursos de gua em perodos com ausncia de precipitao. Desta forma, nota-se que as
contribuies de espcies qumicas dos escoamentos
subterrneos aos corpos de gua podem ser significativas.
As cargas foram influenciadas pela intensidade da precipitao simulada. No entanto, o efeito
foi contrrio daquele observado na anlise da concentrao, exceto para o nitrato no escoamento de
drenagem. A carga incorpora a vazo do escoamento e a concentrao da espcie qumica contida na
gua escoada. As vazes dos escoamentos superficiais e de drenagem so influenciadas pela intensidade da precipitao, conforme foi apresentado na
tabela 3. Nas simulaes com alta intensidade, as
vazes dos escoamentos superficiais e de drenagem
so superiores aquelas com baixa intensidade. Deste
83
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
Tabela 7 - Cargas (kg ha-1) transportadas pelos escoamentos na primeira srie de ensaios.
Escoamento superficial
Condio
Mdia
Mximo
Alta intensidade
Baixa intensidade
Pouca mobilizao
Muita mobilizao
NH4
0,028
0,129
0,036
0,023
0,033
NO2
0,003
0,019
0,009
0,001
0,002
0,003
NO3
0,600
11,390
2,358
0,137
0,106
1,018
Escoamento de drenagem
-2
TOC
0,016
0,177
0,061
0,004
0,018
0,015
0,442
3,271
0,844
0,337
0,327
0,540
PO4
IC
NH4
NO2-
NO3-
PO4-2
TOC
IC
0,302
2,174
0,905
0,143
0,324
0,283
0,074
0,626
0,094
0,050
0,094
0,005
0,038
0,009
0,004
0,008
0,003
10,135
78,238
5,394
11,383
7,692
12,202
0,038
0,232
0,064
0,031
0,045
0,032
1,044
3,464
1,577
0,904
0,951
1,123
0,863
4,694
0,977
0,833
1,199
0,578
NH4 - amnio, NO2 - nitrito, NO3 - nitrato, PO4 - fosfato, TOC - carbono orgnico total, IC - carbono inorgnico
CONCLUSES
As simulaes de chuvas intensas efetuadas
em lismetros de drenagem, contendo amostras
indeformadas de solos do sul do Brasil, mostraram
que as concentraes de nitrato nas guas de escoamento superficial e de drenagem so mais elevadas
do que aquelas de amnio, nitrito, fosfato, carbono
orgnico total e carbono inorgnico. As concentraes das espcies qumicas nos lismetros apresentaram valores diferentes.
Os testes estatsticos resultaram em valores
semelhantes para alguns solos e manejos e, diferentes para outros, de modo a dificultar o estabelecimento de resposta padro entre eles.
As concentraes de nitrato apresentaram
diferenas estatsticas tanto entre os escoamentos,
como em relao s intensidades da chuva e do grau
de mobilizao do solo. O carbono apresentou diferena entre os escoamentos e semelhanas com
relao a intensidade da chuva e a mobilizao do
solo. Por outro lado, o carbono orgnico total e o
carbono inorgnico apresentaram diferenas estatsticas para o perodo sazonal vero e inverno.
importante ressaltar as magnitudes das
concentraes e das cargas transportadas pelos escoamentos superficiais e de drenagem nos solos do
sul do Brasil. Os valores podem ser considerados
como referncia na adoo de medidas de conservao dos solos e para a gesto da qualidade dos recursos hdricos, em termos de valores mximos que
84
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 75-86
FENDRICH, R. Chuvas intensas para obras de drenagem no Estado do Paran. Curitiba, Champagnat.
99 p. 1998.
GEBLER, L.; LOUZADA, J. A. S.; BERTOL, I.; RAMOS, R. R.; MIQUELLUTI, D. J.; SCHRAMME, B.
M. Adaptao metodolgica no clculo de cargas
contaminantes de fsforo em bacias hidrogrficas
gachas. Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e
Ambiental., v.16, n.7, p. 769-776, 2012.
AGRADECIMENTOS
Gostaramos de agradecer os proprietrios
das terras onde os lismetros foram instalados, ao
MCT/FINEP/CT-Hidro-CNPq, edital 04/2005 Bacias
Representativas,
convnio
3490/05,
ao
MCT/FINEP/AO TRANSVERSAL, edital 04/
2008 Previso de Clima e Tempo, convnio 1406/
08, projeto 01.08.0568.00, pelos financiamentos de
pesquisa e, ao CNPQ pelas bolsas de doutorado do
primeiro autor e de produtividade de pesquisa do
segundo autor.
REFERNCIAS
BACK, A. J. Chuvas intensas e chuvas de projeto de
drenagem superficial no estado de Santa Catarina.
Epagri Florianpolis SC (Epagri Boletim Tcnico,
123), 2002.
85
Transporte de Compostos de Carbono, Nitrognio e Fsforo pelo Escoamento da gua em Solos Agrcolas na
Regio Sul do Brasil
PDROT, M.; DIA, D.; DAVRANCHE, M.; COZ,
M.B-LE,; HENIN, O.; GRUAU, G. Insights into colloid-mediated trace element release at the soil/water
interface Journal of Colloid and Interface Science,
v.325, p.187197. 2008.
ABSTRACT
86
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
RESUMO
Neste trabalho foi avaliado o efeito do controle de montante em sub-bacias embutidas na previso hidrolgica de
curto prazo, com a investigao conjunta de dois aspectos: variao da rea controlada e a variao da frequncia de aquisio das vazes de entrada do modelo. O local escolhido para essa pesquisa foi a poro da bacia do rio Iju com exutrio no
posto fluviomtrico da Ponte Mstica e as suas sub-bacias embutidas de Santo ngelo, Ponte Nova do Potiribu, Colnia
Mousquer, Passo do Faxinal e Turcato. Os dados de vazo utilizados foram obtidos da Agncia Nacional de guas (ANA) e
do projeto de monitoramento da bacia do Potiribu, enquanto que os dados de precipitao foram obtidos por uma srie histrica de precipitaes mdias de uma grade de chuvas interpoladas a partir dos dados de 65 postos pluviomtricos da regio.
Para este estudo foram utilizados dados de 22/08/1989 01/06/1994 (1.408 dias). Esse perodo foi selecionado por ser o
maior perodo com dados concomitantes em todos os postos fluviomtricos. Os modelos escolhidos para esse estudo foram as
redes neurais artificiais de mltiplas camadas, com utilizao do algoritmo retropropagativo. As entradas nos modelos foram
os dados de precipitao mdia e as vazes mdias dirias da bacia de Ponte Mstica e de suas sub-bacias, e as sadas foram
as vazes mdias dirias de Ponte Mstica um dia frente. Foram apresentadas nove alternativas de controle fsico de montante. Tambm foram aplicadas, para cada uma das alternativas, valores defasados das variveis, com a utilizao dos
dados de vazo com antecedncia de 24h e 48h. A utilizao de vazes horrias do Turcato foi comparada com uma alternativa que contempla o mesmo posto, mas com dados dirios, para investigar se a utilizao de dados com um maior detalhamento temporal pode produzir melhores resultados. Para a anlise do desempenho da rede foi aplicado como estatstica de
qualidade o coeficiente de Nash-Sutcliffe (NS). A avaliao estatstica apresentou bons resultados na previso de vazo para
todas as alternativas de controle, sendo o menor NS de 0,91 e o maior de 0,97. A utilizao de um maior detalhamento
temporal, com aplicao de vazes horrias, provocou uma reduo no desempenho do modelo, com o NS caindo de 0,91
para 0,89. Observou-se tambm que, quanto maior a rea controlada das bacias, melhores so os resultados para a previso
de vazo.
Palavras-chave: Previso hidrolgica de curto prazo; Redes Meurais.
controlada, e quanto maior for esse intervalo, maiores sero as incertezas da previso. No caso especfico das previses hidrolgicas, as informaes desconhecidas so as ocorrncias hdricas neste intervalo,
cujo limite o horizonte de previso.
A previso hidrolgica de curto prazo comumente utilizada na operao de sistemas hidrulicos e no sistema de alerta para ocorrncias de desastres naturais. Na operao de sistemas hidrulicos
ela aplicada para a previso de vazes afluentes a
um reservatrio, de modo a permitir melhores decises quanto operao do mesmo, visando manuteno de um volume necessrio, tanto para o pleno
funcionamento do reservatrio, no atendimento s
condies de aproveitamento hdrico (CASTA-
INTRODUO
As previses de curto prazo so baseadas em
dados de variveis de estado, que so atualizados
continuamente no tempo. Para cada tempo atual,
uma previso emitida para o futuro prximo. Esta
previso costuma ser feita para intervalos pequenos,
desde minutos at alguns dias (LETTENMAIER e
WOOD, 1993), pois o intervalo entre a previso e a
realizao uma regio temporal desconhecida, no
*
Grande do Sul
87
Efeito do Controle de Montante de Sub-bacias Embutidas na Previso Hidrolgica de Curto Prazo com Redes Neurais:
Aplicao Bacia de Ponte Mstica
NHARO e MINE, 2001; COLLISCHON et al. 2005;
BRAVO et al., 2008a; SATARRI et al., 2012), quanto
para a manuteno de um volume de espera, para o
controle de cheias (BRAVO et al., 2008b). As previses tambm podem ser usadas nos sistemas de proteo contra inundao (KOUSSIS et al., 2003; RABUFFETTI e BARBERO, 2005; NAPOLITANO et al.,
2010; ALFIERI et al., 2012), onde as previses de
nveis fluviais so utilizadas para identificao de
reas que sero, consequentemente, inundadas
(TODINI, 1999), possibilitando que posteriormente,
se necessrio, sejam tomadas providncias, como o
fechamento de comportas, alerta de enchentes e
mobilizao da defesa civil. Alm desses usos, a previso de curto prazo tambm j foi utilizada para
controle da irrigao (TUCCI et al., 1987).
As sub-bacias que compe uma bacia hidrogrfica convergem para esta nos respectivos exutrios, os quais, se devidamente monitorados para a
quantificao das afluncias, constituem-se, para um
modelo matemtico de previso que contemple
propagao de vazes, em sees de controle destas
afluncias ao rio principal, no sentido de que todos
os volumes gerados pela respectiva sub-bacia passam
por esta seo. Portanto, a existncia de monitoramento em uma seo fluvial estabelece uma subbacia controlada, a montante desta, e uma regio
no controlada a jusante, entre esta seo e o exutrio da bacia principal. Esta regio no controlada
constitui, ento, uma bacia de contribuio incremental s vazes propagadas a partir da referida
seo de controle.
Uma vez que as vazes resultantes da bacia
de contribuio incremental so de determinao
mais incerta (dependendo, principalmente, das
relaes entre chuva e vazo), importante reduzir
esta rea, estabelecendo sees que controlem maiores reas de sub-bacias. Porm, com a reduo da
bacia de contribuio incremental, o horizonte de
previso tambm diminui, pois o tempo de propagao das vazes entre as sees de controle e o
exutrio principal tambm ser menor. Portanto,
uma soluo de compromisso necessria para a
localizao da seo de controle de afluncias.
Sub-bacias sucessivamente includas, da menor para a maior at a bacia principal, constituem as
bacias embutidas, segundo denominao adotada
em Castro et al. (2000), Girardi et al. (2011) e Cardoso et al. (2012).
Vrios tipos de modelos podem ser usados
para se fazer previso de vazes, entre eles, tradicionalmente, os modelos estocsticos (BENEDITO et
al., 2007) e os modelos de base fsica (BRUN e
TUCCI, 2001).
88
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
quncia de aquisio das vazes de entrada do modelo (dados dirios e horrios). O trabalho foi realizado em 3 etapas, sendo que, em todas elas, foi estimada a vazo diria em um mesmo posto (Ponte
Mstica), utilizando para isso, alm dos dados dirios
de vazo deste posto: a) diferentes alternativas de
postos de controle a montante, com as respectivas
reas de contribuio; b) comparao de dados
dirios e horrios de vazo para a bacia de menor
contribuio; c) investigao do uso, tambm, de
dados de 24h e de 48h anteriores ao dia da previso.
Na sequncia sero apresentados: a) breve descrio
dos conceitos e as aplicaes de Redes Neurais Artificiais; b) descrio dos materiais e mtodos utilizados, que foi subdivida em trs partes:
b1)apresentao da rea de estudo, b2) detalhamento dos dados hidrolgicos utilizados, b3) critrios adotados para a aplicao dos modelos, descrio das alternativas testadas e estatstica de avaliao
do desempenho; c) discusso dos resultados e d)
concluses e recomendaes.
Uma vez que o treinamento tende a favorecer as variveis de maior grandeza, e que as funes
de ativao utilizadas possuem domnio de sada
restrito (neste trabalho, entre 0 e 1), o uso de redes
neurais para a modelagem hidrolgica requer alguma forma de escalonamento, tanto das entradas
(para reduzi-las mesma magnitude) como das
sadas. Considerando-se as funes de escalonamento como parte do modelo, e adotando-se o escalonamento linear, o modelo completo resultante pode
ser representado pela equao 1:
Redes neurais artificiais so modelos matemticos desenvolvidos com inspirao nos neurnios
biolgicos. So, basicamente, compostas por estruturas lgico-matemticas que representam o funcionamento destes, chamadas de neurnios artificiais
(Figura 1). Estes neurnios artificiais executam uma
soma ponderada das entradas (cujos pesos so representados graficamente por conexes), a qual
submetida a uma funo (dita de ativao, geralmente no linear). As operaes de soma ponderada e de submisso funo de ativao ocorrem no
ncleo do neurnio, que o ponto de convergncia
das conexes, na representao grfica. Os neurnios, em uma rede neural artificial, so, geralmente,
dispostos em camadas, de entrada, intermediria e
de sada, o que facilita a construo de algoritmos
de operao e de treinamento.
Modelos com uso de RNAs necessitam ser
testados com uma srie diferente da srie que foi
usada para o treinamento, chamada de srie de
verificao, para que seja garantida a capacidade de
generalizao. Em geral, adota-se uma proporo de
60 a 70% dos dados disponveis para o treinamento
e o restante para a verificao (HECHT-NIELSEN,
1990).
(1)
onde:
xt e yt: Variveis de entrada e de sada, respectivamente;
au e bu: Parmetros de escala e de posio das sadas
do modelo;
ae e be: Parmetros de escala e de posio das entradas do modelo;
RN: Rede neural utilizada.
As redes neurais de mltiplas camadas so
eficientes para aproximao de funes e possuem a
capacidade de distinguir padres complexos. Porm, inicialmente, embora seu potencial fosse sustentado por um teorema de Kolmogorov de 1957, o
qual foi posteriormente enunciado para redes neurais como o teorema de Kolmogorov-Nielsen (HETCH-NIELSEN, 1990), no existia um mtodo para
seu treinamento. Este teorema estabelece que, para
qualquer funo contnua com n entradas e m sadas, existe uma rede neural com apenas uma camada interna de 2n+1 neurnios capaz de aproxim-la.
89
Efeito do Controle de Montante de Sub-bacias Embutidas na Previso Hidrolgica de Curto Prazo com Redes Neurais:
Aplicao Bacia de Ponte Mstica
Figura 2 - Bacia da Ponte Mstica e as sub-bacias embutidas (Adaptado: Oliveira et al., 2012).
O uso de redes neurais disseminou-se a partir do desenvolvimento e apresentao, por Rumelhart et al. (1986), do algoritmo retropropagativo.
Este algoritmo consiste em um mtodo de procura
dos pesos sinpticos (a partir de valores iniciais,
sorteados aleatoriamente) o qual minimiza, em ciclos sucessivos de aplicao srie de registros de
treinamento, a soma do quadrado dos erros em cada
camada, com o uso da chamada regra delta (WIDROW e HOFF, 1960), aps a determinao dos
erros na(s) camada(s) intermediria(s), pela retropropagao destes a partir da camada de sada.
O mtodo consiste de duas etapas, sendo
que, na primeira, as entradas da rede so propagadas em um movimento para frente, camada por
camada, at resultarem as sadas. As sadas calculadas so comparadas com as desejadas, gerando um
erro. Na sequncia, este erro retropropagado, no
sentido da entrada, e os pesos sinpticos da rede so
ajustados conforme a regra de treinamento. A repetio deste processo fornece resultados cada vez
melhores e erros cada vez menores, medida que
repeties (ciclos) do procedimento so aplicadas.
O ponto de parada pr-determinado, ou pelo nmero de ciclos ou por uma preciso estabelecida.
O mtodo de treinamento retropropagativo
inicia com a adoo de pesos sinpticos aleatrios
iniciais. O processo de busca pode resultar em estacionamento prematuro em um timo local da superfcie de desempenho. Para evitar esta ocorrncia,
pode-se executar o treinamento diversas vezes, adotando-se o conjunto de parmetros que apresenta
melhores resultados, de acordo com a recomendao de Hetch-Nielsen (1990). O nmero ideal de
repeties em estudos de modelos hidrolgicos, foi
MATERIAIS E MTODOS
rea de Estudo
A pesquisa foi aplicada em 6 bacias hidrogrficas, sendo a maior delas a bacia da Ponte Mstica, que est localizada no noroeste do estado do Rio
Grande do Sul, entre as coordenadas 2758' e 2904'
de latitude Sul e 5312' e 5448' de longitude Oeste,
com o exutrio localizado no posto fluviomtrico da
90
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
Mstica, foram os objetos das previses. Como entradas nos modelos de previso foram utilizados os
dados de precipitaes dirias, acumuladas entre 9h
(dia t) e 8h (dia t+1); vazes dirias dos postos da
ANA (dia t); vazes dirias do posto do Turcato; e
vazes horrias do posto do Turcato. Portanto, o
horizonte de informaes (limite temporal para as
entradas dos modelos) estende-se, para chuvas mdias na bacia de Ponte Mstica e para vazes do Turcato, at s 8 horas do prprio dia da previso (dia
t+1). Assim sendo, este horrio corresponde, a cada
dia, ao tempo atual, a partir do qual inicia o horizonte de previso. A Figura 3 ilustra os limites temporais utilizados na previso.
Dados Hidrolgicos
Os dados pluviomtricos utilizados neste estudo foram extrados de Silva (2011). O autor utilizou o mtodo do vizinho natural como interpolador
para gerar grades de precipitaes com as quais foi
feito o clculo das precipitaes mdias dirias para
a bacia da Ponte Mstica a partir de dados de 65
postos pluviomtricos e pluviogrficos localizados na
regio no perodo de 22/08/1989 a 31/12/2010. Os
dados observados na bacia foram obtidos por aparelhos pertencentes ANA (Agncia Nacional de guas) e por pluvimetros e pluvigrafos do projeto
de monitoramento da bacia do Potiribu (CASTRO et
al., 2010). Nos pluvimetros pertencentes ao projeto, as leituras foram feitas diariamente s 8h da manh, e esses valores corresponderam precipitao
acumulada nas 24h anteriores a esse horrio (SILVA, 2011).
O posto fluviomtrico de Ponte Mstica foi
definido, neste estudo, como o exutrio da bacia
considerada e est localizado nas coordenadas Latitude 281053 e Longitude 544418. Da mesma
forma, os postos de Santo ngelo, Colnia Mousquer, Ponte Nova do Potiribu, Passo do Faxinal e
Turcato so os exutrios das respectivas sub-bacias.
As sries histricas de vazo dos postos foram obtidas do website Hidroweb da ANA e de lingrafos monitorados desde 1989 (CASTRO et al., 2000). Os
dados fornecidos pela ANA consistem em vazes
mdias dirias, resultantes das mdias das vazes
correspondentes aos dados de nveis coletados duas
vezes ao dia, s 7h e 17h. Para o posto fluviomtrico
da bacia do rio Turcato, foi instalado um lingrafo
em seu exutrio, e as vazes mdias dirias foram
obtidas a partir de nveis resultantes da aquisio
automtica em intervalos de 15 minutos, e da aplicao da curva-chave, com a leitura que corresponde a 1 dia iniciando-se s 9h do dia t e tendo como
tempo final as 8h da manh do dia seguinte. Tambm foram utilizadas vazes horrias para este posto, coincidentes com o mesmo intervalo temporal.
As mdias de vazes, entre 7h e 17h, para
um dia frente (dia t+1), no exutrio de Ponte
1.
91
Efeito do Controle de Montante de Sub-bacias Embutidas na Previso Hidrolgica de Curto Prazo com Redes Neurais:
Aplicao Bacia de Ponte Mstica
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
92
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
Tabela 1 - Alternativas de entradas das redes neurais usadas como controle para estimativa da vazo na Ponte Mstica.
Alternativas
Q Ponte Mstica (t)
Q Santo ngelo (t)
Q Colnia Mousquer (t)
Q Passo do Faxinal (t)
Q Potiribu (t)
Q Turcato dirio (t)
Q Turcato horrio (t)
P Ponte Mstica (t)
rea (km2)
9.450
5.540
2.160
1.940
690
19,5
19,5
9.450
% da rea controlada
58,6
22,9
20,5
7,3
0,2
0,2
-
O tipo de redes neurais utilizado neste estudo foi a rede de mltiplas camadas com treinamento
pelo algoritmo retropropagativo. Foi utilizada apenas uma camada interna na rede neural, composta
por cinco neurnios. Este nmero de neurnios foi
escolhido para atender recomendao do teorema
de Kolmogorov-Nielsen para o modelo mais simples
(somente duas entradas alternativa 1), porm
mantendo o mesmo nmero de neurnios para
todas as alternativas e um mnimo de complexidade
para evitar o superajustamento.
Funes de ativao do tipo sigmoidal (equao 2), foram utilizadas para todos os neurnios,
tanto internos quanto de sada. Os dados de entrada
e de sada foram escalonados linearmente para resultarem no intervalo [0 1].
a
(2)
NS
onde:
a: a sada da funo de ativao;
n: a entrada lquida, que consiste na soma ponderada das entradas.
(3)
onde:
Qoi: o valor observado;
Qpi: o valor estimado pelo modelo;
Qo: o valor mdio dos valores observados no perodo da verificao;
N: o nmero de valores do conjunto de verificao.
RESULTADOS E DISCUSSES
Os resultados dos correlogramas so apresentados na Tabela 2. Foi adotado como critrio
para escolha do nmero de componentes, a ocorrncia de correlaes maiores que 0,60.
Os resultados da eficincia dos modelos de
RNAs so apresentados na Tabela 3, com as nove
93
Efeito do Controle de Montante de Sub-bacias Embutidas na Previso Hidrolgica de Curto Prazo com Redes Neurais:
Aplicao Bacia de Ponte Mstica
Tabela 2 - Resultados dos autocorrelogramas (Ponte Mstica com Ponte Mstica) e dos intercorrelogramas
(Ponte Mstica com postos de controle de montante).
Defasagens
(dias)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Ponte
Mstica
0,90
0,71
0,51
0,35
0,26
0,21
0,18
0,15
0,13
0,12
Colnia
Mousquer
0,87
0,73
0,55
0,38
0,27
0,19
0,15
0,12
0,10
0,09
Santo
ngelo
0,92
0,79
0,59
0,42
0,31
0,24
0,19
0,16
0,13
0,10
Passo do
Faxinal
0,87
0,81
0,59
0,45
0,32
0,24
0,19
0,15
0,13
0,10
Potiribu
Turcato
0,85
0,77
0,59
0,42
0,29
0,22
0,18
0,14
0,11
0,08
0,62
0,67
0,39
0,18
0,14
0,11
0,09
0,08
0,06
0,03
Tabela 3 - Entradas da rede, proporo de rea controlada (%), nmero de registros e ciclos e estatsticas
de desempenho da RNA na previso de vazo.
Alternativas
% de rea
controlada
No de
Ciclos
N de registros
No de
Ciclos
N de registros
No de
Ciclos
NS
1.408
10.000
0,93
1.407
15.000
0,94
1.406
15.000
0,94
58,62
1.408
15.000
0,97
1.407
15.000
0,97
1.406
25.000
0,97
22,9
1.408
10.000
0,95
1.407
15.000
0,96
1.406
20.000
0,95
20,5
1.135
20.000
0,94
1.133
15.000
0,95
1.131
20.000
0,94
6,5
1.408
10.000
0,94
1.407
40.000
0,96
1.406
20.000
0,96
0,2
523
80.000
0,91
304
75.000
0,91
304
15.000
0,94
58,6 e 22,9
1.408
15.000
0,97
1.407
10.000
0,97
1.406
35.000
0,97
20,5 e 7,3
1.135
15.000
0,94
1.133
15.000
0,95
1.131
45.000
0,94
0,2
470
15.000
0,89
94
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
adicional s do tempo atual (dia t) e de um dia atrs
(dia t -1).
Conforme os resultados apresentados, tomando-se como base a alternativa 1, onde o nico
controle seria no prprio exutrio (Ponte Mstica),
e comparando-se com as demais alternativas de controle, que contemplam as sub-bacias embutidas no
seu interior, com reas controladas entre 0,2% e
58,6%, as alternativas de utilizao de postos de
montante apresentaram melhores resultados.
A utilizao dos dados de vazo referentes
bacia de Passo do Faxinal, juntamente com a bacia
do Potiribu (alternativa 8), quando comparadas
com quando se utilizou apenas os dados de vazo da
bacia do Potiribu (alternativa 5), no produziu uma
melhora nos resultados. Igualmente, os resultados
do modelo no melhoraram, quando se comparou o
uso de dados da bacia de Santo ngelo (alternativa
2) com o uso simultneo, alm destes, dos dados da
bacia de Colnia Mousquer (alternativa 7). Isso
ocorre porque, s vezes, uma sub-bacia menor, neste
caso, Potiribu (alternativa 5) e Santo ngelo (alternativa 2), bem representativa, possuindo informaes que so proporcionais s da rea maior. A presena de variveis de estado redundantes pode reduzir a eficincia do modelo, pois os pesos sinpticos internos so influenciados por todas as entradas
e uma varivel desnecessria pode dificultar o procedimento de treinamento, prejudicando a representatividade dos fenmenos modelados.
A Figura 4 apresenta uma relao entre as
propores das reas das sub-bacias embutidas (reas controladas) em relao rea total da bacia de
Ponte Mstica e os coeficientes de eficincia NS encontrados nas alternativas de controle de montante.
Para esta anlise no foram considerados os resultados dos modelos que utilizaram valores defasados
das entradas, porque as sries de dados utilizadas em
cada uma delas so diferentes para cada uma das
alternativas, assim para algumas as informaes dos
dias anteriores so importantes e para outros no.
Tambm no foram consideradas as alternativas que
possuem controle simultneo de dois postos, pois
no se podem considerar duas reas controladas
diferentes como sendo uma nica.
Verificou-se a tendncia de que, quando se
utiliza, no modelo de previso para vazes dirias
para um dia frente, as vazes de bacias a montante
alm das vazes do prprio posto, como dados de
entrada, o modelo consegue uma eficincia que
aumenta com a proporo de rea controlada.
95
Efeito do Controle de Montante de Sub-bacias Embutidas na Previso Hidrolgica de Curto Prazo com Redes Neurais:
Aplicao Bacia de Ponte Mstica
,970
Alt. 2
,960
Alt. 3
NS
,950
,940
Alt. 5
,930
Alt. 4
,920
,910
Alt. 6
,900
1900ral
1900ral
1900ral
1900ral
Proporo de rea controlada (%)
CONCLUSES E RECOMENDAES
AGRADECIMENTOS
CAPES pela bolsa de estudos do 1o autor.
FINEP pelo financiamento do projeto de pesquisa
que produziu boa parte dos dados.
96
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
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ABSTRACT
In this study, the effect of upstream control of two
entrenched sub-basins on the short-term hydrological forecast, with the joint investigation of two aspects: variation
of the area controlled and variation of the frequency of
acquision of model inflows. The site chosen for this study
98
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 87-99
was the portion of the Iju river basin with its outflow at
the rivergaging station of Ponte Mstica, and its entrenched
sub-basins in Santo Angelo, Ponte Nova do Potiribu,
Colnia Mousquer, Passo do Faxinal and Turcato. The
flow data used were obtained from the National Water
Agency (ANA-Agencia Nacional de guas) and from the
Potiribu Basin monitoring project, while the data on precipitation were obtained through a historical series of mean
precipitations from a grid of interpolated rainfalls based on
the data from 65 raingaging stations in the region. For this
study, data from August 22, 1989 to June 1, 1994 (1,408
days) were used. This period was selected because it is the
longest period with concomitant data at all rivergaging
stations. The models chosen for this study were the multiplelayer artificial neural networks, using the retropropagation
algorithm The inputs to the models were the mean precipitation data and the daily mean flows of the Ponte Mistica
basin and their sub-basins, and the otuflows were the daily
mean flows of Ponte Mstica one day ahead. Nine alternatives of upstream physical control were presented. Also, for
each of the alternatives, lagged values of the variables were
applied using the flow data 24h and 48h in advance. The
use of hourly flows from Turcato was compared to an
alternative that covers the same station, but with daily data
to investigate whether the use of data with greater details
regarding time can produce better results. The Nash
Sutcliffe (NS)coefficient was applied as quality statistics to
analyze the network performance. Statistical evaluation
presented good results in the flow forecast for all alternatives of control, and the smallest NS was 0.91 and the
biggest 0.97. The use of greater time details, applying hourly flows, caused a reduction in model performance, with the
NS dropping from 0.91 to 0.89. It was also observed that
the larger the controlled area of the basins, the better the
flow forecasting results.
Key-words: Hydrological forecasting , neural networks.
99
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
Adilson Pinheiro*, Gustavo Antonio Piazza*, Thiago Caique Alves*, Leandro Mazzuco de Aguida*,
Vander Kaufmann*, Rafael Gotardo*
pinheiro@furb.br
Recebido: 04/12/12 - revisado: 11/04/13 - aceito: 30/10/13
RESUMO
O lanamento de resduos por atividades humanas tem refletido na diminuio da qualidade dos ecossistemas aquticos, principalmente naqueles situados em reas urbanas. Este estudo teve como objetivo avaliar concentraes e cargas
de parmetros fsicos e qumicos descritores da qualidade das guas do Ribeiro Garcia, no municpio de Blumenau, Santa
Catarina. O levantamento de uso e ocupao do solo mostrou que 87% do territrio da bacia encontra-se preservado por
fragmentos de Floresta Ombrfila Densa. O monitoramento dos parmetros da qualidade foi realizado em seis sees fluviomtricas ao longo do ribeiro, com uma sonda multiparmetro e posteriormente complementado com anlises laboratoriais.
Foram analisados os parmetros: temperatura da gua, turbidez, slidos totais e condutividade eltrica, pH, salinidade,
oxignio dissolvido, amnia, nitrato, cloretos, carbono, ltio, sdio, potssio, mangans, clcio, acetatos e sulfatos, assim
como presena de hormnios e de antibiticos. Os resultados foram apresentados na forma de concentrao e carga transportada, alm da interpretao por anlises estatsticas multivariadas. Verificou-se que concentraes dos analitos tendem a
uma melhora nos trechos afetados pelo sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitrio, assim como reas preservadas por
vegetao natural. Os valores de carga transportada, entretanto, apresentam-se elevados e de forma crescente ao longo de
todo o curso do ribeiro. Constatou-se tambm a ocorrncia do hormnio Estrona na faixa de concentrao de ng/L. Antibiticos no foram observados em nenhuma seo fluviomtrica. De forma geral as concentraes apresentam oscilaes, porm a
maioria no superou os padres estabelecidos pela resoluo do CONAMA n 357/2005 para rios de classe 2.
Palavras-chave: monitoramento, qualidade da gua, cobertura florestal, cargas transportadas, anlise multivariada.
INTRODUO
Nos ltimos anos, o processo de urbanizao das cidades vem sendo acompanhado por alteraes marcantes no uso e na ocupao do solo. Essa
descaracterizao do meio natural proveniente das
aes antrpicas pode ocasionar impactos ambientais negativos nos recursos hdricos (LUOGON et
al., 2009), sendo este um dos reflexos mais evidentes
da crise ambiental da sociedade contempornea, a
qual est alicerada no desenvolvimento socioeconmico (BUENO et al., 2005), mudana dos hbitos
de consumo (MADRUGA et al., 2008) e na acelerada reduo qualitativa e quantitativa dos recursos
naturais (JUNIOR et al., 2011).
A qualidade da gua de um rio consiste do
efeito combinado de processos antrpicos e naturais
que ocorrem ao longo do seu curso (PETERS E
MEYBECK, 2000), como presena de atividades
*
101
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
MATERIAS E MTODOS
rea de estudo
Este trabalho foi desenvolvido na bacia hidrogrfica do Ribeiro Garcia, tributrio do Rio
102
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
meiramente, foram coletados em campo a partir do
aparelho de GPS (Global Positioning System) Garmin
GPSMAP 76CSX a posio geogrfica de todas as
sees fluviomtricas de amostragem e posicion-las
em uma base cartogrfica. A base utilizada abrange
o municpio de Blumenau e tem uma escala de
1:10.000. Os dados coletados foram espacializados e
manuseados em ambiente SIG (Sistemas de Informao Geogrfica), com o software ArcGIS 10.1.
A classificao da vegetao foi de forma
supervisionada, a partir da imagem de satlite
LANDSAT 5 ETM+, com resoluo espacial de 30 m
e sete bandas espectrais (do azul ao infravermelho
afastado). Inicialmente a imagem foi segmentada no
software eCognition 8. Em seguida, a imagem foi
classificada em duas classes, rea florestada ou rea
no florestada (outros). Apenas para fins de verificao, os polgonos formados na classificao foram
conferidos com as imagens do software Google Earth,
a partir da transformao dos arquivos shape (.shp)
para formato Keylog Markup Language (.kml). Alm
da classificao, foi gerado o modelo numrico de
terreno aplicando o algoritmo de interpolao triangular (triangular irregular network TIN) do ArcMap. A malha triangular foi transformada em raster
com resoluo espacial de 10 m e desta forma foi
possvel gerar o mapa de curvas de nvel.
Itaja-Au, no municpio de Blumenau, Santa Catarina - Brasil. A bacia do Garcia possui uma rea de
158 km e sub-bacia integrante da Bacia do Itaja, a
maior bacia da vertente atlntica do estado (16,5%
da rea territorial). A regio tem uma distribuio
bastante regular e uniforme de precipitao ao longo do ano, no havendo perodo de estiagem definido.
Inserido na rea da bacia, encontra-se a estao de tratamento de gua (ETA III), no curso
superior do Ribeiro Garcia (G1-G2), alm da estao de tratamento de efluentes industriais (G3
indstria txtil) e esgotos sanitrios (G6 - ETE Garcia). A ocupao urbana na bacia se desenvolveu de
jusante para montante, de forma que atualmente
est instalada na regio uma populao de aproximadamente 40.000 habitantes (IBGE, 2010).
Sees fluviomtricas de coleta
A fim de estabelecer pontos de controle, foram escolhidas ao longo do ribeiro seis sees fluviomtricas (figura 1). A seo fluviomtrica G1 a
mais prxima da nascente e fica localizada em uma
regio de margens cobertas por Floresta Ombrfila
Densa preservada, que faz parte do Parque da Serra
do Itaja, na altitude de 308 m acima do nvel do
mar (a.n.m.) e com 8,70 m de largura. A seo fluviomtrica G2 a primeira a sofrer influncia antrpica (inserida na mancha urbana), encontra-se a
uma altitude de 31 m a.n.m. e possui 16,70 m de
largura. A seo fluviomtrica G3 localiza-se a jusante do lanamento de efluente industrial, na altitude
de 21 metros a.n.m. e com 16,80 m de largura. As
sees fluviomtricas G4 e G5 so representativas de
contribuio de esgotos domsticos tratados em
sistemas individuais (tanque sptico e filtro anaerbio), com 14,80 m e 15,60 m de largura, respectivamente. A seo G4 est a 17 m a.n.m. e a G5 a 15 m
a.n.m. Parte das sees fluviomtricas G4 e G5 encontram-se atendidas pelo sistema de coleta de esgoto. A seo fluviomtrica G6 localiza-se na foz, junto
ao Rio Itaja-Au, e responsvel por receber o efluente tratado proveniente do sistema de tratamento
de esgotos sanitrios na bacia do Ribeiro Garcia. A
seo fluviomtrica G6 tem 10,20 m de largura e est
a 14 m a.n.m.
103
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
do de estabilizao so descartadas. Depois de estabilizada a sonda comeou a obter valores de concentrao da seo. Os dados foram extrados para uma
planilha eletrnica e organizados a fim de obter
valores de concentrao de cada parmetro ao longo da seo do rio.
Anlises cromatogrficas
Para verificar a ocorrncia dos analitos (no
identificvel pela sonda utilizada ou que no tem
resposta analtica precisa pela mesma), utilizou-se de
duas tcnicas cromatogrficas para complementar as
anlises. Foi utilizada a Cromatografia Lquida de
Alta Eficincia (CLAE), para determinao de hormnios e antibiticos, e a Cromatografia Inica (IC)
para determinao de ctions e nions. Foi tambm
utilizado o Analisador de Carbono Total para as
formas de carbono total (CT), carbono orgnico
total (COT) e carbono inorgnico total (CIT).
As anlises dos hormnios seguiram a metodologia proposta por Almeida e Nogueira (2006),
ciclinas foram analisadas a partir do mtodo da Dionex #76, Tetracyclines in Pork (DIONEX, 2010a) e
os antibiticos foram analisados em 2 metodologias
distintas, sendo uma seguida por Santos et al. (2007)
para quantificao da Suldimidina e outra por Verbinnem et al. (2010) para o Toltrazuri. Todas as
anlises foram realizadas em um CLAE Dionex Ultimate 3000 DAD e um Cromatgrafo de troca
inica marca DIONEX AG4A, equipado com uma
104
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
coluna de separao aninica ou catinica, uma
supressora e um detector de condutividade.
Os ctions e nions seguiram metodologias
propostas pela DIONEX (2010b) para nions e DIONEX (2010c) para ctions. Nelas determinou-se
nitrato, nitrito, brometo, fosfato, cloreto, acetato,
sulfato, ltio, clcio, magnsio, sdio, amnia e potssio.
As curvas de calibrao das anlises foram
realizadas com padres obtidos junto a DIONEX,
utilizando-se 5 solues na faixa de 1 a 10 mg/L. As
anlises do CLAE foram realizadas com padres
Sgima-Aldrich, utilizando-se 6 solues na faixa de 2
a 500 ng/L. As leituras dos padres foram realizadas
em quintuplicata e das amostras em triplicatas.
A ocorrncia dos analitos foi expressa em
valores de concentrao em todas as sees fluviomtricas de medio. Os cromatogramas dos padres de ons apresentaram adequada resoluo e
limites de deteco e quantificao, conforme
apresentado na figura 2.
Foram utilizados para confeco de eluentes
e reagentes para anlise e curva de calibrao, gua
proveniente do sistema Milli-Q com resistividade de
18 MW, e reagentes Chemis, Merck, e J.T. Baker.
(2)
RESULTADOS E DISCUSSO
Vazo
Na figura 3 so apresentadas as vazes mdias de cada seo fluviomtrica, medidas em todas
as campanhas de campo, alm das vazes com 98 %
de permanncia. As vazes de permanncia permitem comparar as vazes medidas em relao condio de escoamento mnimo, para o qual as cargas
transportadas podem ser transferidas (ZUCCO et
al., 2012). As vazes medidas foram superiores aos
valores calculados para a Q98. As medies apresentaram permanncia de 81% e 45%, para as campanhas 1 e 3, respectivamente.
105
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
representadas por remanescentes florestais em estgio inicial e mdio (que sofreram perturbaes humana e/ou natural). Estas formaes em dcadas
passadas devido ao baixo valor agregado foram suprimidas com o intuito de obter espaos cultivveis
(SEYFERTH, 1974) e nos locais onde estes remanescentes foram parcialmente abandonados surgiram
formaes florestais secundrias.
Ao longo do curso principal, da nascente
at o km 28 (abrangendo a seo G1), o ribeiro
encontra-se em meio a um ecossistema preservado,
pouco fragmentado e com poucas culturas comerciais ao longo das margens. Aps o km 28, entretanto,
o ribeiro passa a sofrer interferncia antrpica,
passando a fazer parte da mancha urbana do municpio (da seo G2 a seo G6).
Verificou-se em campo, que a partir destas
sees fluviomtricas (G2 ao G6), o ribeiro comea
a receber descargas de esgotos, despejos de efluentes, descarte inadequado de resduos slidos, deposio de sedimentos erodidos nas vertentes da bacia,
entre outros.
Na Figura 4 apresentado o mapa temtico
de uso e ocupao do solo da Bacia do Ribeiro
Garcia. Alm do mapa, a partir dos dados de uso e
ocupao do solo (calculado em ambiente SIG),
para cada seo fluviomtrica de coleta confeccionou-se uma tabela de modo a apresentar a evoluo
da mancha urbana e consequentemente o decrscimo de rea florestada (Tabela 1).
106
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
transporte de sedimentos. Ressalta-se ainda o agrupamento entre o carbono orgnico com o Oxignio
Dissolvido (OD), tendo em vista que o elemento OD
necessrio para oxidar a matria orgnica (COT).
No grupo B, a anlise agrupou indicadores
fsico-qumicos de qualidade gua. Nele, esto apresentados os analitos majoritrios do esgoto sanitrio
como fosfato e a srie nitrogenada (MEDEIROS et
al., 2009), assim como o Carbono Inorgnico Total
(CIT).
O Grupo C agrupou analitos de ordem geolgica da bacia, como clcio e magnsio que pelo
escoamento superficial ou pela drenagem alimentam os lenis freticos e o ribeiro. Outro fator
agrupado a condutividade que uma forma de
expressar a quantidade de sais presentes, que por
sua vez proveniente de clcio e magnsio (MOURA et al. 2010), e tambm tem origem antrpica
pelo esgoto (cloreto, por exemplo).
Atravs da anlise de agrupamentos, podese avaliar como cada grupo interfere em parmetros
especficos do rio. Os grupos foram separados de
acordo com suas caractersticas: sedimentos (A),
qualidade (B) e geologia (C). A fim de analisar e
determinar a qualidade do ribeiro adotou-se avaliar
a evoluo dos parmetros do Grupo B nas sees
de monitoramento.
Na figura 6 so apresentadas as evolues
das concentraes dos parmetros do Grupo B,
assim como outros parmetros, alm do desvio padro encontrado em cada seo fluviomtrica.
Nota-se que em alguns casos, o desvio padro relativamente elevado. Este fato acontece
devido s diferenas de concentrao encontradas
entre as campanhas, que podem ser influenciadas
por outros fatores externos no abordados neste
artigo, como regime de precipitao, atividades
antrpicas sazonais da regio, sistemas de tratamento utilizado, entre outros.
De forma geral, os valores de concentrao
dos analitos encontraram-se dentro dos limites estipulados pela resoluo do CONAMA n 357/2005
para rios classe 2, a no ser o Oxignio Dissolvido
(figura 7) que esteve abaixo nas sees G2, G4, G5 e
G6.
Segundo Bueno et al. (2005) baixas concentraes de OD podem estar associadas contribuio de esgotos sanitrios lanados no ribeiro. Verifica-se pela figura 7 que as concentraes de OD
decrescem ao longo das sees. Cunico et al. (2006)
obtiveram resultado similar, no qual a concentrao
de OD apresentava valores mais baixos medida
que se aproximava da foz.
Sees
G1
G2
G3
G4
G5
G6
Floresta
rea (km)
61,95
57,81
5,78
4,37
2,37
4,81
%
99,06
84,42
65,36
67,63
65,26
56,85
Outros
rea (km)
0,59
10,67
3,02
2,21
1,26
3,71
%
0,94
15,57
34,19
34,19
34,71
43,84
De modo geral, possvel relacionar os analitos do Grupo A com processos de eroso do solo e
107
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
15,0
5,5
5,0
12,5
4,5
4,0
10,0
3,5
3,0
7,5
2,5
2,0
5,0
1,5
1,0
2,5
0,5
0,0
0,0
G1
G2
G3
G4
COT
CIT
G5
G6
G1
G3
G4
Potssio
40
Concentrao (MG/L)
G2
CT
G5
Magnsio
G6
Clcio
12
11
35
10
30
9
8
25
20
6
5
15
10
3
2
G1
G2
G3
G4
Sdio
G5
G6
G1
G2
G3
G4
Nitrato
Amnia
G5
G6
Sulfato
0,0014
1,4
0,0012
1,2
0,0010
1,0
0,8
0,0008
0,6
0,0006
0,4
0,0004
0,2
0,0002
0,0
0,0000
G1
G2
G3
Acetato
G4
Nitrito
G5
G6
G1
Fosfato
G2
G3
G4
Ltio
Seo Fluviomtrica
108
G5
G6
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
a formao do Bicarbonato. No Ribeiro, essa situao foi observada, o sulfato nas sees G4 e G5 se
estabiliza possivelmente devido a mineralizao da
matria orgnica (COT), concordando com Mortatti et al. (2006).
Com os valores mdios de concentrao aplicou-se tambm o teste de Fisher a fim de comparar analitos do Grupo B e buscar diferenas significativas entre as sees.
Verificou-se que a 5% de significncia, o fosfato, como na anlise de comportamento das concentraes, se difere na G3 e G6. Este fato pode ser
explicado pela maior densidade populacional encontrada nas bacias anteriores a estas sees. Por
exemplo, na seo fluviomtrica de montante de G3
(a G2), o fosfato pode ter se acumulado, pois na G2
inicia-se a mancha urbana e inexiste sistema coletivo
de tratamento. Nas sees fluviomtricas a montante
de G6 (a G4 e a G5), no entanto, existe o atendimento parcial do sistema de coleta e tratamento de
esgoto, o que nos leva a considerar que o decaimento nestas sees fluviomtricas coerente. Porm,
com o lanamento do efluente tratado da ETE (a
montante de G6) provocou o aumento da concentrao de fosfato.
A amnia pela mesma anlise estatstica difere-se somente na G4. Segundo Moura et al.
(2010), ocorrncias de amnia esto ligadas principalmente a matria orgnica e nutrientes oriundos
de lanamento de esgotos/resduos slidos diretamente no manancial. Ao observar a ocupao do
solo entre a seo G3 e a G4, nota-se uma proximidade muito grande das residncias no leito do ribeiro. Uma hiptese, que como este trecho no
atendido pelo sistema de coleta de esgotos sanitrios, residncias desse trecho estariam lanando
efluentes diretamente ao corpo hdrico. Situao
que diferente nas sees fluviomtricas a jusante
(G4 - G5- G6), onde residncias se encontram compreendidas pelo sistema de coleta e tratamento,
possuem trechos de mata ciliar e esto afastadas em
relao ao leito do ribeiro.
O nitrato apresenta valores estatisticamente
maiores na seo G4 e se difere seguido pelo trecho
G5-G6 e G1-G2 que so estatisticamente iguais em
seus respectivos trechos. Essas diferenas podem ser
ocasionadas pelo lanamento indevido do efluente
sanitrio no ribeiro, como j citado, oxidando a
amnia presente no nitrato (MEDEIROS et al.,
2009).
Para o nitrito, os valores de Fisher demonstram diferena estatstica na seo G4 e G6, onde a
contribuio pontual do esgoto jusante (G4) e o
lanamento da estao de efluentes (G6) podem ser
109
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
Na G2, o valor encontrado j havia sido muito prximo do limite da metodologia aplicada para sua
anlise. Como a vazo na G4 maior no se atingiu
o limite necessrio para a deteco desta classe de
analitos na seo fluviomtrica.
Para confirmar a presena do analito, correlacionou-se o seu espectro de UV adquirido pelo
CLAE com o de um padro (figura 9). Atravs desta
correlao obteve-se um score (pontuao) de 999,98
em uma escala que vai at 1000 (figura 10).
A estrona est inserida na classe de disruptores endcrinos como um composto orgnico emergente de contaminao. Existem vrios trabalhos sobre a sua ocorrncia em corpos hdricos
(YING et al., 2002; BILA e DEZOTTI, 2007). Esse
hormnio natural excretado por mulheres tanto
pela urina por animais fmeos e em menor quantidade por homens, na forma de conjugados polares
inativos, assim como pelas fezes (na forma livre),
apresentando variaes com relao solubilidade
em gua, taxa de excreo e catabolismo biolgico.
Ying et al. (2002) relatam em sua pesquisa que as
mulheres excretam entre 2,3 e 259 g/L/dia enquanto homens excretam cerca de 1,6 g/L/dia da
estrona.
110
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 101-117
(SILVEIRA et al., 2003; MANSOR, et al., 2006), onde se concentra a parte mais urbanizada da rea de
estudo. Este fato aconteceu na rea em questo
sendo que grande parte das cargas analisadas seguem um fluxo crescente.
Em relao s cargas de fosfato nota-se que
ela segue uma tendncia crescente at a seo G3.
Acredita-se que o fosfato deste trecho proveniente
de esgotos domsticos e de efluente industrial, j
que na bacia so raras atividades agropecurias e, a
nica indstria que se tem conhecimento, de lanamento de efluentes (devido ao relatrio do rgo
ambiental vigente do municpio) encontra-se antes
da G3. A partir da G3 at a G5, esta carga estabilizada e diminui. Este fato pode ser explicado, pois a
partir da G3, a populao comea a ser atendida
pelo sistema de coleta e tratamento de esgotos sanitrios. Porm, na G6 (lanamento do efluente tratado da ETE), a carga de fosfato volta a aumentar,
seguindo a tendncia da G1 e G2.
A fim de analisar a influncia da ocupao
do solo e a carga de fosfato, utilizaram-se os dados
de rea no florestada (ANF) (tabela 1) e cargas
transportadas (figura 11). A seo G1, com 0,59%
de ANF apresentou a menor carga de fosfato (573
kg.d-1). No trecho G2-G3, devido ao aumento de
ANF, de 10,67% e 3,02%, respectivamente, houve
tambm o aumento de carga de transportada (7.616
kg.d-1 para 12.554 kg.d-1). No trecho G4-G5, onde
houve um decrscimo de ANF, de 2,21% e 1,26%,
respectivamente, ocorreu a estabilizao e posterior
reduo da carga transportada de 12.745 kg.d-1 para
10.772 kg.d-1. Na G6 devido ao novo aumento da
ANF (3,71%) houve novamente um aumento de
carga transportada (18.811 kg.d-1).
Observa-se que as cargas de fsforo esto diretamente ligadas a ocupao do solo. Como o sistema de coleta de esgoto ainda no atinge toda a
populao que reside nos bairros h muitos lanamentos de esgotos sanitrios com baixo nvel de
tratamento ao longo do ribeiro. No entanto, importante notar que a carga de fosfato na nascente
(G1) j elevada, porm, esta se potencializa com a
ocupao urbana. Entende-se tambm que se reas
prximas foz (G6) fossem mais florestadas, o fsforo seria mais facilmente retido e utilizado no metabolismo destas plantas, diminuindo sua carga no
corpo hdrico.
111
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
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A primeira seo fluviomtrica G1, localizada em uma rea totalmente protegida no Parque da
Serra do Itaja, apresentou a melhor qualidade (para todos os analitos). As outras sees (G2 G3
G6), entretanto, como fazem parte da mancha urbana e apresentam pouca rea de mata ciliar tiveram
resultados de qualidade baixos para grande parte
dos analitos. As sees G4 e G5, em relao s outras
sees (G2 G3 G6) tiveram resultamos mais adequados devido a maior quantidade de vegetao
ciliar nas margens e pelo fato de j estarem atendidos pelo sistema de coleta e tratamento de esgotos.
As sees fluviomtricas analisadas, entretanto, apresentaram grande parte dos valores de
concentrao dentro dos padres estabelecidos pela
Resoluo CONAMA n. 357/2005 para rios de classe 2.
Por outro lado, mesmo com concentraes
abaixo dos valores estabelecidos pela legislao, as
cargas se mostraram elevadas e crescentes de montante (G1) para jusante (G6).
No foram observadas ocorrncias de antibiticos ao longo do ribeiro. Na seo fluviomtrica G2, porm houve a verificao de ocorrncia de
um analito da srie dos hormnios femininos (Estrona) durante uma das coletas.
necessrio que novas anlises sejam realizadas em outros perodos a fim de caracterizar a
variabilidade interanual de analitos e de regime
hidrolgico do ribeiro. Novas metodologias de
deteco de hormnios necessitam ser aprimoradas
de forma a detectar novos analitos.
Populao
estimada
793
10.540
17.373
17.639
14.907
26.032
87.285
Incremento
de fsforo
9.747
6.834
265
2.731
11.125
30.702
AGRADECIMENTOS
Gostaramos de agradecer a FAPESC, Termo de Outorga 17419/2011-0, pelo suporte financeiro ao desenvolvimento do trabalho, ao CNPq,
processo 302022/2011-2, pela bolsa de produtividade de pesquisa e, a CAPES, programas PROAP e
REPENSA, pela concesso de bolsas de mestrado.
CONCLUSO
REFERNCIAS
A bacia do Ribeiro Garcia encontra-se preservada por Floresta Ombrfila Densa (86,5% da
rea total). Grande parte das reas de vegetao
representada por remanescentes em estgio avanado (prximas a nascente) e em menor quantidade
fragmentos secundrios iniciais e mdios (regies
prximas mancha urbana).
113
Qualidade das guas de uma Bacia Protegida por Floresta Ombrfila Densa
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ABSTRACT
Waste discharges resulting from human activities
have led to decreased quality of aquatic ecosystems, especially those located in urban areas. This study aimed to evaluate concentrations and loads of physical and chemical
parameters of the Garcia River, Blumenau, Santa
Catarina State - Brazil. The land use survey showed that
87% of the Garcia watershed is preserved by fragments of
Rain Forest. The water quality monitoring was carried out
in six sections along the river using a multiparameter
sonde and laboratory analysis. The parameters analyzed
were: water temperature, turbidity, total solids and electrical conductivity, pH, salinity, dissolved oxygen, ammonia,
nitrate, chloride, carbon, lithium, sodium, potassium,
manganese, calcium, sulfates, acetates, as well as the
presence of hormones and antibiotics. The quality results
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were presented in the form of concentration and transported
load, besides interpretation by multivariate statistical analysis. The analyte concentrations tend to improve in the
sections affected by the wastewater treatment system, as well
as areas preserved by natural vegetation. The values of
transported loads, however, were high and tended to increase throughout the river course. Estrone hormone was
also found to occur in a concentration range of ng/L.
Antibiotics were not observed in any monitored section. In
general the concentrations present oscillations but most did
not exceed standards established by CONAMA Resolution
n 357/2005 for class 2 rivers.
Key-words: monitoring, water quality, forest cover, pollution loads, multivariate analysis.
117
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
RESUMO
O sistema Bambu um aqufero com potencial hdrico mdio, localizado na regio do mdio So Francisco em Minas Gerais, que apresenta relativa limitao de disponibilidade de guas superficiais e subterrneas, associada a presses
crescentes. O objetivo principal deste trabalho foi avaliar as guas subterrneas deste sistema nas Sub-bacias do rio Verde
Grande e dos rios Jequita e Pacu, com nfase na qualidade destas guas. Observou-se que o valor do gradiente hidrulico
mdio foi de 0,34 e a condutividade eltrica (CE) variou entre 10 e 8.774 S/cm, havendo predominncia de guas com
CE inferior a 1.500 S/cm. As guas apresentaram, em sua maioria, carter neutro a levemente alcalino, sendo muito
duras. A relao entre os principais ons foi Ca2+ > Mg2+ > Na+ > HCO3- > Cl- > SO42 e as concentraes de Cloreto aumentaram no decorrer do fluxo subterrneo. As guas subterrneas na regio estudada foram inadequadas para fins de consumo humano em 82% dos poos monitorados, sendo que 64% dos poos apresentaram-se inadequados exclusivamente
em funo de parmetros organolpticos.
Palavras-chave: Norte de Minas Gerais, Aqufero Bambu, Qualidade de guas Subterrneas, Sub-bacia rio Verde Grande,
Sub-bacia dos rios Jequita e Pacu.
ado e do Grupo Bambu. A regio apresenta o predomnio de uma morfologia plana a suavemente
ondulada em 69,74% de sua extenso, com pequena presena de cadeias montanhosas, com destaque para a Serra do Jaba e a Serra do Cabral. A
bacia hidrogrfica do rio So Francisco drena quase metade da rea do Estado (cerca de 236.000
km2), incluindo as regies central, oeste, noroeste e
norte. A cobertura vegetal tpica de cerrado e
caatinga (CAMPOS & DARDENNE, 1997; ANA &
IGAM, 2006; SILVA & ROSA, 2009).
Geologicamente, a regio apresenta afloramentos de gnaisses arqueanos, pertencentes ao
embasamento cristalino, rochas carbonticas e
terrgenas que compem o Grupo Bambu, de
idade neoproterozica, arenitos do Grupo Urucuia
(Cretceo) e coberturas recentes. A deposio das
formaes do Grupo Bambu resultado da paleogeografia do embasamento e de processos tectnicos, havendo reas de embasamento em altos estruturais (Alto de Januria) e depocentros locais na
poro sul e leste, onde a espessura do Grupo
Bambu substancialmente maior. A Formao
Sete Lagoas, representada por sucesso plataformal
rasa, constituda por calcrios e dolomitos, aflora,
exclusivamente, na margem esquerda do rio So
INTRODUO
A mesorregio do Norte de Minas, uma das
doze do estado de Minas Gerais, tem rea de
128.454,108 km2 e populao de 1.591.507 habitantes, englobando 89 municpios. As chuvas escassas
(precipitao acumulada inferior a 900 mm/ano) e
as altas temperaturas (mdia anual de 24 0C), tpicos do clima semirido, tornam essa regio muito
suscetvel seca, sendo que 9,84% de seu territrio
encontram-se dentro do polgono das secas (BRASIL, 2005; IBGE, 2010). O Norte de Minas caracteriza-se por duas estaes bem definidas, em termos
de precipitaes: uma chuvosa que vai de outubro a
abril e outra seca que vai de maio a setembro.
A regio, inserida na bacia do mdio So
Francisco, est compreendida nos domnios do
Planalto do So Francisco, Depresso Sanfranciscana e Cristas de Una. A litologia embasada pelas
rochas da Formao Urucuia, Mata da Corda, Are-
1
2-
119
Aspectos Hidrodinmicos e Qualidade das guas Subterrneas do Aqufero Bambu no Norte de Minas Gerais
120
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
(1982). Faixa diferente e ainda mais ampla da
transmissividade no Bambu foi reportada pelo
Cetec (1984), com valores entre 233 m2/dia e 7700
m2/dia. A capacidade especfica , em mdia, 3,6
m3/h/m (ZOBY et al., 2004). O uso da gua subterrnea concentra-se, em Minas Gerais, na bacia do
rio Verde Grande e na bacia do rio Riacho (afluente do Pacu) e em alguns municpios das microrregies administrativas de Una e Montes Claros, e
utilizada principalmente para consumo humano,
irrigao e dessedentao animal (CPRM, 2009). O
principal objetivo deste estudo avaliar a qualidade
do aqufero Bambu nas sub-bacias do rio Verde
Grande (SF10) e dos rios Jequita e Pacu (SF6),
cuja localizao mostrada na Figura 1, correspondente a 35,5% do sistema aqufero Bambu.
Esta avaliao incluiu aspectos relacionados qualidade das guas subterrneas, ao fluxo e a nveis
estticos. Tambm foram analisados os provveis
processos responsveis pelas variaes qualitativas
nas guas e adequabilidade destas guas para diferentes usos.
METODOLOGIA
Os mtodos usados neste estudo incluram
levantamentos de campo e anlises laboratoriais.
Os ensaios de campo contemplaram medies de
nveis de gua estticos quando possvel, medidas
da taxa de descarga usando dados de cada poo,
amostragem de gua subterrnea para anlise de
parmetros fsico-qumicos e anlises de campo
temperatura, Eh, pH, STD e condutividade eltrica
CE.
As amostragens foram feitas em poos de
abastecimento distribudos na rea de estudo, abrangendo a SF6 e a SF10, tendo sido executadas
em 13 campanhas semestrais, de 2005 a 2011. O
nmero de poos e a configurao da rede de monitoramento variaram no decorrer do monitoramento, sendo atualmente 58 poos, com 19 pontos
na SF6 e 39 na SF10. Considerando as 13 campanhas, os poos de monitoramento totalizaram 124 e
foram executadas 9.884 medies. Foram selecionados 28 dos parmetros analisados, a saber: temperatura, pH, CE, STD, Eh, dureza total, turbidez,
Ca2+, Mg2+, Na+, K+, HCO3-, SO42-, Cl-, NO3-, P, Si, Al,
As, Fe, F-, Cu, fenis, Mn, Ni, Pb, Se e Zn. As anlises fsico-qumicas foram executadas pela Fundao
Centro Tecnolgico de Minas Gerais Cetec, de
acordo com o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2005), com
RESULTADOS E DISCUSSO
O aqufero na rea de estudo
As guas subterrneas ocorrem no calcrio
Bambu em zonas caracterizadas com porosidade
secundria, criadas devido a falhas, cavidades e
fraturas, sendo que as caractersticas hidrulicas
exibem ampla variabilidade refletindo a heterogeneidade de comportamento dos aquferos carbonticos.
Em algumas reas os rendimentos so elevados, especialmente quando as cavidades esto
conectadas. A elevao do lenol fretico, tomando
como referncia o nvel do mar, variou de 436 a
928 m. O gradiente hidrulico mdio de 0,34. A
Figura 2 mostra o mapa potenciomtrico obtido a
partir dos nveis estatsticos do lenol fretico na
rea de estudo e os sentidos dos fluxos de guas
subterrneas. possvel observar que o fluxo subterrneo predominante tem sentido de sudoeste
para nordeste. Regionalmente, os sentidos dos
fluxos variam em funo de variaes localizadas
nos gradientes hidrulicos.
121
Aspectos Hidrodinmicos e Qualidade das guas Subterrneas do Aqufero Bambu no Norte de Minas Gerais
Figura 2 - Mapa potenciomtrico obtido a partir dos nveis estatsticos do lenol fretico na rea de estudo e os sentidos
dos fluxos de guas subterrneas as setas na figura indicam as direes do escoamento.
Tabela 1 Estatstica descritiva da composio fsico-qumica das guas subterrneas na rea de estudo.
Varivel
Temperatura (C)
pH
CE (S/cm)
STD (mg/L)
Eh (mV)
Dureza total (mg/L)
Turbidez (NTU)
Al (mg/L)
As (mg/L)
Ca2+ (mg/L)
Cu (mg/L)
Fenis (mg/L)
Fe (mg/L)
F- (mg/L)
Amplitude*
Mdia DP**
22,6 a 32,7
5,1 a 8,6
10,1 a 8774
6,7 a 2169
-155 a 736
8,0 a 1261
0,1 a 477
0,1 a 19,8
0 a 2,029
0,4 a 373,6
0,002 a 0,2
0,0005 a 0,01
0 a 2,3
0,1 a 6,3
26,6 1,5
7,1 0,5
773 594
520,1 360
89,7 112,7
292,4 207,9
8,6 34,1
0,26 1,12
0,0003 0,0017
109,5 67,4
0,004 0,013
0,001 0,0009
0,1 0,2
0,4 0,7
Varivel
HCO3- (mg/L)
K+ (mg/L)
Mg2+ (mg/L)
Mn (mg/L)
Na+ (mg/L)
Ni (mg/L)
SO42- total (mg/L)
Cl- (mg/L)
NO3- (mg/L)
Pb (mg/L)
P total (mg/L)
Se (mg/L)
Si (mg/L)
Zn (mg/L)
122
Amplitude
7,4 a 438,1
0,5 a 28,2
0,5 a 62,2
0 a 5,5
0,6 a 322
0,002 a 0,021
0,5 a 796
0,2 a 801
0 a 41,9
0,002 a 0,481
0 a 2,3
0,0003 a 0,0131
0,5 a 31,5
0,01 a 7,24
Mdia DP
265,6 91,3
2,5 3,0
12,5 11,7
0,1 0,3
32,5 40,2
0,002 0,001
31,3 71,5
61,9 116,1
1,6 3,2
0,005 0,024
0 0,1
0,0006 0,0014
11,4 4,6
0,2 0,5
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
Apenas 6,3% dos poos corresponderam a
guas classificadas como macias, mais especificamente os pontos identificados como FD001, JB003,
MC002, MTC002 e JB021, com medianas de 9,4; 28;
48,1; 56,5; e 51,2 mg/L, respectivamente. Estes
pontos esto distribudos espacialmente na regio
sul (2 poos) e na regio norte (4 poos) da rea
estudada.
Os valores de pH medidos no campo oscilaram de 5,1 a 8,6, isto , as guas do aqufero variam de cidas a alcalinas, havendo predominncia
de guas com carter neutro a levemente alcalino,
pH entre 6,5 e 7,5 (45% dos poos, correspondente
a 39% das amostras), seguidas de guas com carter
alcalino, ou seja com pH acima de 7,5 (34% dos
poos, correspondente a 51% das amostras). Apenas 0,9% das medies correspondentes a medies em um nico poo, codificado como FD001,
estiveram abaixo do limite inferior de pH de 6 para
consumo humano, estabelecido pela Portaria n
2914/2011 do Ministrio da Sade.
Foram identificados cinco tipos de classes,
sendo que 85,5% so guas bicarbonatadas clcicas,
7,3% cloretadas sdicas e 5,6% bicarbonatadas
sdicas. As relaes inicas predominantes, utilizando as unidades de miliequivante-grama por litro
(meq / L), no carste fraturado do Bambu caracterizam-se pela sequncia: Ca2+ > Mg2+ > Na+ > HCO3> Cl- > SO42-.
Para compreender melhor as variaes
qumicas no sistema de guas subterrneas no interior da rea de estudo, foram tomadas seis sees
hidroqumicas ao longo do caminho de fluxo predominante - sudoeste em direo ao nordeste. Uma
comparao entre o comportamento dos nions
mostrada na Figura 5 (b) indica tendncia de aumento gradual nas concentraes do Cloreto com a
linha de fluxo. J o Sulfato e o Bicarbonato no
apresentam nenhuma tendncia de variao com o
fluxo, havendo predomnio do bicarbonato em
relao ao Sulfato em todos os pontos de monitoramento. Quanto evoluo dos ctions analisados
mostrada na Figura 5 (a), nenhum deles apresenta
tendncia de elevao com o fluxo subterrneo
predominante no Bambu, ao longo de toda a rea
estudada, o que se evidencia pela reduo no ponto 5 do grfico. Em toda a rea de estudo, as concentraes de Clcio em meq/L apresentam-se
maiores que os dois outros ctions analisados, Sdio e Magnsio. Provavelmente, o aumento da concentrao de Cloreto no decorrer do fluxo ocorre
em funo da dissoluo deste on do meio rochoso. Por outro lado, provvel explicao para o
comportamento dos demais ons no aqufero, seria
o clima semirido da regio, caracterizado por
123
Aspectos Hidrodinmicos e Qualidade das guas Subterrneas do Aqufero Bambu no Norte de Minas Gerais
Figura 3 - Plumas de isoteores da condutividade eltrica - CE (S/cm) (a) perodos chuvosos e (b) perodos secos.
(a)Perodoschuvosos
(b)Perodossecos
Figura 4 - Plumas de isoteores da dureza total (mg/L) (a) perodos chuvosos e (b) perodos secos.
124
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
(c) Sees hidroqumicas na rea de estudo
(a) Concentraes de ctions
2+
2+
2-
Figura 5 Sees hidroqumicas linhas tracejadas no mapa e respectivos grficos mostrando a evoluo dos ons
principais nas guas subterrneas ao longo da linha de escoamento (baseado nas medianas de cada seo).
indicou erro mdio de 2,69%, com 75% das anlises com erro inferior a 10%. Do total de amostras
de guas, 51% delas guas pertencem s fcies hidroqumicas Ca2+-Mg2+-Na+-HCO3--Cl-; e 30% pertencem s fcies hidroqumicas: Ca2+-Na+-Mg2+HCO3--Cl-. As fcies hidroqumicas Na+-Ca2+-Mg2+-Cl
-HCO3- e Mg2+-Ca2+- Na+-HCO3--Cl- representam cada
uma, apenas 0,8% das guas dos poos analisados.
As relaes entre os ons dissolvidos na gua subterrnea podem indicar certa relao com o litotipo do qual a gua se origina. A predominncia das
guas bicarbonatadas clcicas caracterstica de
aquferos associados ao carste e indica a presena
dos minerais calcita e dolomita nas rochas.
Com relao ao total de medies, 90% delas so adequadas para fins de consumo humano; e
dos 10% que se apresentaram inadequadas, 5,7% o
foram por excederem limites relacionados a questes organolpticas e o restante, 4,3% referem-se a
padres associados a riscos sade. Ainda para o
consumo humano, verificou-se que 23% dos poos
monitorados no perodo de 2005 a 2011 apresentaram guas inadequadas para este fim em funo de
excederem padres relacionados a riscos sade.
125
Aspectos Hidrodinmicos e Qualidade das guas Subterrneas do Aqufero Bambu no Norte de Minas Gerais
Figura 6 - Diagrama trilinear de Piper para as amostras analisadas 124 poos no perodo de 2005-2011.
126
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
RazodeAdsoro
deSdio RAS
(meq/L)1/2
DIAGRAMADEWILCOX
RiscodeSdio
S1:baixo;S2:mdio;
S3:alto;S4:muitoalto.
30
S4
RiscodeSalinidade
C1:baixo;C2:mdio;
C3:alto;C4:muitoalto.
25
S3
20
S2
15
10
S1 5
0
100
C1
250
C2
750
1000
C3
2250
C4
5000
CondutividadeEltrica S/cm(Log)
Figura 7 - Diagrama de Wilcox para as amostras analisadas 124 poos no perodo de 2005-2011.
Dentre estes, os percentuais de poos que excederam limite legal para parmetro individual foram,
respectivamente: 10,5% para Mangans; 5,6% para
Fluoreto; 3,2% para Ferro; 1,6% para Zinco. Cinco
poos (4% deles) excederam padres de Ferro e
Mangans, conjuntamente; dois poos excederam
concentraes de Cloreto e Alumnio; e dois de
Cloreto e Mangans. Outros poos excederam,
individualmente, limites de mais de um parmetro,
a saber: Cobre e Mangans; Fluoreto e Cobre; Fluoreto e Zinco; e Cloreto, Fluoreto, Cobre e Ferro.
A RAS variou de zero a 10,1 (meq/L)1/2,
com mediana de 0,48 (meq/L)1/2. A classificao
das amostras de gua, de acordo com o Diagrama
de Wilcox, apresentada na Figura 7.
A maioria das amostras concentrou-se nos
campos C2-S1 e C3-S1 do diagrama de Wilcox, ou
seja, com risco de salinidade baixo e risco de sdio
moderado; seguido de risco de salinidade baixo e
risco de sdio alto, respectivamente. Um nico
poo (MTC002) apresentou guas com risco de
salinidade alto e risco de sdio moderado campo
C3-S2 e dois poos (EP001 e VD004) tiveram suas
guas no campo C4-S2, com risco de salinidade
muito alto e risco de sdio moderado. Estes pontos
concentram-se mais ao norte da rea estudada (Figura 2).
127
Aspectos Hidrodinmicos e Qualidade das guas Subterrneas do Aqufero Bambu no Norte de Minas Gerais
em:
<http://arquivos.ana.gov.br/planejamento/
planos/pnrh/VF%20
DisponibilidadeDemanda.
pdf>. Acesso em: 18 jul. 2012.
CONCLUSES
De modo geral e em relao ao total de 124
poos monitorados no perodo de 2005 a 2011,
verificou-se que as guas subterrneas na regio
podem ser consideradas inadequadas para fins de
consumo humano, ao se considerar que 82% dos
poos de monitoramento da rea estudada apresentaram violao de padres legais. Todavia, 64%
dos poos apresentaram-se inadequados exclusivamente em funo de parmetros organolpticos, a
maioria em funo de concentraes elevadas de
Ferro, Alumnio e Mangans. Quanto dessedentao animal, 38% dos poos apresentaram guas
inadequadas para este fim. J para a irrigao foram 31% dos poos considerados inadequados,
sendo que o risco por sdio no constitui fator
critico, mas a condutividade eltrica fator limitante, localizadamente.
A grande variabilidade na hidroqumica na
rea estudada do sistema Bambu caracterstica
de ambientes carstificados e pode ser explicada
pelas variaes no comportamento hidrulico e
pelas diferenas nas interaes com os litotipos
advindas de formas de dissoluo crstica (dolinas,
sumidouros, cavernas) associadas s fraturas com
feies bem localizadas, que conferem elevada
anisotropia ao sistema.
As elevadas concentraes de Ferro, Alumnio e Mangans no so resultados esperados
para guas subterrneas em ambientes crsticos e
suspeita-se que o prprio poo de extrao possa
estar contribuindo para estes valores. Conclui-se,
portanto, pela necessidade de avaliaes mais detalhadas, em cada poo, para verificar o excesso destes constituintes que tornam parcela considervel
dos poos inapropriada, inclusive para consumo
humano.
AGRADECIMENTOS
REFERNCIAS
ANA. Agncia Nacional das guas. Disponibilidade e
Demandas de Recursos Hdricos no Brasil. Braslia: ANA,
2005. Cadernos de Recursos Hdricos. Disponvel
128
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 119-129
So Francisco, no Estado de Minas Gerais-Brasil. IN:
SIMPSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO
REMOTO, 14., 2009, Natal, Anais..., Natal: Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, 2009. p. 4393-4400.
IGLESIAS, Mario Iglesias; Uhlein, Alexandre. Estratigrafia do Grupo Bambu e coberturas fanerozicas
no vale do rio So Francisco, norte de Minas Gerais.
Revista Brasileira de Geocincias, So Paulo, v. 39, n. 2,
p. 256-266, Jun. 2009.
ABSTRACT
The Bambu system is a medium potential aquifer, located in the basin of San Francisco river in Minas
Gerais. This aquifer presents limitations on the availability
of surface and groundwater, combined with increasing
pressures. The main objective of this study was to evaluate
the groundwater of this system in the sub-basin of the Verde
Grande river and sub-basin of the rivers Jequita-Pacu,
with emphasis on the quality of these waters. It was observed that the average value of the hydraulic gradient was
0.34 and the electrical conductivity (EC) ranged between
10 and 8774 S/cm, and there was a predominance of
water with EC lower than 1500 S/cm. The waters were
mostly neutral to slightly alkaline, and presented elevated
hardness. The relationship between the major ions was Ca2+
> Mg2+ > Na+ > HCO3- > Cl- > SO42 and chloride concentrations increased during the groundwater flow. The
groundwater in the study area was unsuitable for human
consumption in 82% of monitored wells, also, 64% of the
wells were inadequate solely because of organoleptic aspects.
Key-words: North of Minas Gerais, Bambu Aquifer,
Groundwater Quality, Verde Grande river sub-basin, Rivers Jequita-Pacu sub-basin.
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RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
RESUMO
A construo de empreendimentos hidrulicos interfere profundamente nas propriedades fsicas, qumicas e biolgicas da gua. O presente trabalho teve por objetivo analisar espacial e temporalmente as caractersticas fsicas e qumicas das
guas dos afluentes do reservatrio da Usina Hidreltrica (UHE) Barra dos Coqueiros, no estado de Gois, a fim de identificar fatores que interferem na qualidade da gua. As coletas das guas nos afluentes foram realizadas em intervalos de aproximadamente 30 dias no perodo de um ano. Os parmetros avaliados foram: temperatura da gua, potencial hidrogeninico, total de slidos dissolvido, condutividade eltrica, salinidade, resistividade eltrica, e turbidez. Os resultados mostram que
alguns dos afluentes apresentam inadequabilidade dos parmetros fsicos e qumicos da gua de acordo com a Resoluo
CONAMA N 357/2005.
Palavras-chave: Meio ambiente, Recurso hdrico, Bacia hidrogrfica
INTRODUO
Os ecossistemas aquticos se interrelacionam com as propriedades fsico-geogrficas
(bacia hidrogrfica, geologia, geomorfologia, uso e
ocupao e rede drenagem), que conferem caractersticas prprias a cada ecossistema.
O monitoramento ambiental das guas em
sistemas lticos e lnticos de grande importncia,
pois as medidas dos parmetros fsicos, qumicos e
biolgicos permitem detectar tendncias ou alteraes na qualidade das guas.
A gua, devido s suas propriedades de solvente e sua capacidade de transportar partculas,
incorpora a si diversas impurezas, as quais definem
sua qualidade. Dessa forma, pode-se dizer que a
qualidade da gua determinada em funo do uso
e da ocupao do solo na bacia hidrogrfica.
A gua essencial para a garantia da qualidade de vida, para a produo agropecuria e industrial, para a prestao de servios e para todas as
atividades humanas. Nos diferentes ambientes, a
gua o principal elo entre os componentes, sendo,
por isso, identificadora da qualidade ambiental de
um ecossistema, de uma regio ou bacia hidrogrfica (HERMES & SILVA, 2004).
1-
2-
MATERIAL E MTODOS
Caracterizao da rea de estudo
A bacia hidrogrfica da UHE Barra dos Coqueiros est localizada no baixo curso do rio Claro,
ao Sudoeste do Estado de Gois, entre os municpios
de Cau e Cachoeira Alta, delimitada entre as coordenadas
UTM
E=479338m,
E=509087m
e
N=7923981m, N=7956739m, mapeados pelas folhas
SE-22-Y-B e SE-22-Z-A (IBGE, 1978) (Figura 1).
De acordo com o estudo apresentado por
Rocha (2011), a rea desmatada para o uso antrpico (Pastagem, cultura, centro urbano e reas de
plantio) na bacia da UHE Barra dos Coqueiros de
131
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
Ponto
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Tributrio
Ponte
Branca
Piratininga
Pontezinha
Matriz
C. Esquerdo
Guariroba
C.Direito
Sucuri
Vau
Largura
mdia
(m)
Profundidade
mdia (m)
Vazo
mdia
(m3/s)
6,0
0,41
0,82
3,0
3,5
7,1
0,15
0,62
0,30
0,59
0,40
1,29
5,0
0,47
0,49
1,5
1,0
3,6
1,5
0,38
0,25
0,70
0,25
0,22
0,30
0,99
0,19
Correlao
Perfeita positiva
Forte positiva
Moderada positiva
Fraca positiva
nfima positiva
Nula
nfima negativa
Fraca negativa
Moderada negativa
Forte negativa
Perfeita negativa
RESULTADOS E DISCUSSO
Avaliao qualitativa dos dados de gua
A distribuio temporal dos valores da qualidade de gua, com base nas datas de coleta de
setembro de 2010 a agosto de 2011, demonstrou
132
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
monstram estar muito afastados da neutralidade
que, segundo Paula (2011), para as guas naturais
do Cerrado, se caracterizam como um aspecto positivo qualidade da gua.
No entanto, as medidas de pH do afluente
Vau esto abaixo do valor de pH de referncia estabelecido pela Resoluo CONAMA n 357/2005,
para as guas destinadas ao consumo humano. Em
sua localidade, existe o afloramento de rochas sedimentares da Formao Vale do Rio do Peixe, e solos
pertencentes classe de Argissolos e Neossolos, rico
em quartzo, com alto teor de slica e alumnio. Segundo Esteves (1998), estes solos, devido solubilidade do alumnio na forma Al3+ reage com ons OH, aumentando a acidez da gua.
28
26
24
22
20
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
23-10-10
18
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
7,8
7,4
7,0
pH
30
11-09-10
Temperatura da gua C
Data de Coleta
6,6
6,2
5,8
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
23-10-10
11-09-10
5,4
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
Data de Coleta
133
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
11-09-10
23-10-10
80
70
60
50
40
30
20
10
0
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
Data de Coleta
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
23-10-10
Data de Coleta
70
60
50
40
30
20
10
0
11-09-10
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
Data de Coleta
120
100
80
60
40
20
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
0
23-10-10
11-09-10
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
23-10-10
140
120
100
80
60
40
20
0
11-09-10
Condutividade eltrica
(S/cm)
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
Data de Coleta
134
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
Tabela 1 - Correlaes de Pearson entre as variveis fsicas e qumicas dos afluentes da UHE Barra dos Coqueiros
no Municpio de Cau - Gois. Perodo de estudo de setembro de 2010 a agosto de 2011.
2010
OUT
NOV
DEZ
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
T (C) & pH
T (C) & CE
T (C) & TDS
T (C) & NaCl
T (C) & RE
T (C) & Turbidez
pH & CE
pH &TDS
pH & NaCl
pH & RE
pH & Turbidez
CE & TDS
CE & NaCl
CE & RE
TDS & NaCl
TDS & RE
NaCl & RE
CE & Turbidez
TDS & Turbidez
NaCl & Turbidez
RE & Turbidez
SET
CORRELAO
2011
-0,03
0,64
0,69
0,67
-0,64
0,46
0,47
0,45
0,47
-0,52
0,25
0,99
0,99
-0,70
0,99
-0,73
-0,74
0,75
0,73
0,74
-0,39
-0,77
-0,48
-0,45
-0,45
0,63
-0,56
0,41
0,39
0,39
-0,51
0,34
0,99
0,99
-0,78
0,99
-0,78
-0,76
0,84
0,83
0,82
-0,78
-0,66
-0,56
-0,54
-0,52
0,83
-0,29
0,74
0,73
0,71
-0,82
0,49
0,99
0,99
-0,77
0,99
-0,76
-0,74
0,42
0,42
0,39
-0,61
-0,86
-0,61
-0,59
-0,57
0,79
-0,35
0,63
0,62
0,60
-0,75
0,29
0,99
0,99
-0,76
0,99
-0,75
-0,73
0,76
0,77
0,76
-0,77
-0,62
-0,42
-0,38
-0,40
0,40
-0,45
0,86
0,84
0,84
-0,81
0,66
0,99
0,99
-0,81
0,99
-0,82
-0,78
0,89
0,88
0,91
-0,58
-0,55
-0,32
-0,29
-0,26
0,72
-0,61
0,95
0,95
0,94
-0,89
0,84
0,99
0,99
-0,75
0,99
-0,75
-0,71
0,69
0,69
0,67
-0,85
0,40
-0,16
-0,10
-0,13
0,19
-0,05
0,66
0,69
0,66
-0,68
0,87
0,99
0,99
-0,72
0,99
-0,73
-0,69
0,84
0,85
0,83
-0,77
-0,68
-0,56
-0,51
-0,46
0,59
-0,29
0,88
0,85
0,87
-0,85
0,75
0,97
0,98
-0,80
0,98
-0,87
-0,81
0,77
0,86
0,85
-0,83
-0,32
-0,46
-0,42
-0,42
0,32
0,33
0,82
0,82
0,79
-0,88
0,54
0,99
0,99
-0,71
0,99
-0,71
-0,65
0,47
0,49
0,43
-0,61
-0,33
-0,26
-0,26
0,01
0,08
-0,12
0,81
0,80
0,83
-0,90
0,66
0,99
0,93
-0,69
0,92
-0,66
-0,85
0,53
0,52
0,66
-0,58
-0,06
-0,56
-0,54
-0,53
0,71
-0,58
0,44
0,45
0,43
-0,51
0,51
0,99
0,99
-0,73
0,99
-0,73
-0,69
0,65
0,65
0,64
-0,59
0,15
-0,55
-0,53
-0,54
0,69
0,03
0,06
0,08
0,05
-0,41
0,39
0,99
0,99
-0,74
0,99
-0,74
-0,72
0,52
0,54
0,51
-0,61
Legenda: T (oC) Temperatura da gua; pH - Potencial Hidrogeninico; CE Condutividade Eltrica; TDS Total de slidos dissolvido;
RE Resistividade Eltrica . Valor crtico do coeficiente de correlao de 0,666 significncia para o limite de confiana de 0,05.
chuvas e maiores quantidades de sedimentos carreados para a rede de drenagens pela enxurrada e,
consequentemente, o aumento de material em suspenso no curso.
50
40
30
20
10
12-08-11
18-07-11
26-06-11
14-05-11
25-04-11
18-03-11
11-02-11
12-01-11
18-12-10
20-11-10
23-10-10
0
11-09-10
Turbidez (NTU)
60
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
Data de Coleta
135
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
P1 P4
pH
P2
6,4
y = -0,36x + 15,08
R = 0,75
P3
P1
P6
P7
6,1
P8
P9
5,8
5,5
22,5
23,0
23,5
24,0
24,5
25,0
Temperatura (C)
25,5
26,0
Condutividade eltrica
(S/cm)
150
Total de slido
dissolvido (mg/L)
y = 7,81x - 154,29
R = 0,48
60
P5
45
30
P3
P1
15
0
21,0
P8
P2
P4
P6
P7
P9
22,0
23,0
24,0
Temperatura (C)
25,0
y = 14,50x - 280,03
R = 0,41
125
75
P5
100
P4
75
50
25
0
21,0
P1
P8
P6
P3
P7
P2
P9
22,0
23,0
Temperatura (C)
24,0
25,0
136
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
60
y = 6,25x - 114,47
R = 0,45
P5
45
P8
P7
P2
P9
24,0
23,0
Temperatura (C)
28,0
29,0
P9
22,0
25,0
26,0
27,0
Temperatura (C)
P7
P2
0
21,0
y = -2,33x + 68,41
R = 0,38
P6
P5
P3
P8
P3
P1
15
P1 P4
12
0
23,0
P6
P4
30
15
Turbidez (NTU)
24,0
25,0
Condutividade eltrica
(S/cm)
150
80
y = 13,34x - 297,17
R = 0,69
P9
y = 114,69x - 662,30
R = 0,90
125
75
50
P2
25
5,7
40
20
P2
5,9
6,1
6,3
pH
6,5
6,7
6,9
P7
P1
P4
P5
0
23,0
P6
P3 P4
P
1
P8
P7
P9
60
P5
100
P6
24,0
P8
P3
25,0
26,0
Temperatura (C)
27,0
28,0
Verificou-se que os valores de pH, em relao aos parmetros de TDS e NaCl, apresentaram
respostas semelhante aos obtidos com a CE. O aumento na concentrao de ons em soluo aquosa
reflete diretamente nos teores de pH e no aumento
da CE. Observa-se nos Grficos 15 e 16 que o coeficiente de determinao linear que melhor se ajustou
ao grfico de disperso ocorreu no ms de fevereiro
de 2011, ambos, com mais de 80% dos dados relacionados.
Total de slido
dissolvido (mg/L)
75
y = 56,71x - 326,09
R = 0,89
60
P5
45
P8
30
P7
15
P6
P3 P4
P1
P2
P9
0
5,7
5,9
6,1
6,3
pH
6,5
6,7
6,9
137
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
75
y = 44,38x - 246,51
R = 0,87
60
45
P1
P8
30
P2 P7
P9
15
P5
P6
P4
P3
25
y = 15,98x - 89,54
R = 0,75
0
5,9
6,1
6,3
pH
6,5
6,7
20
6,9
Turbidez (NTU)
5,7
P4
P5
P6
15
P8
10
P2
P9
5,9
45
P2
P1
P8 P3
P7
15
5,9
6,1
6,3
pH
6,5
6,7
6,9
P4
P6
P5
0
5,7
6,3
pH
y = -72,46x + 481,07
R = 0,79
30
6,1
6,5
6,7
75
6,9
y = 0,49x + 0,53
R = 0,99
Total de slido
dissolvido (mg/L)
As correlaes obtidas entre pH e a RE foram classificadas de moderada negativa, acontecendo nos meses de setembro, outubro, maro, julho e
agosto com valores variando entre de r=-0,69 a 0,41.
As correlaes fortes negativas com valores variando
entre r= -0,90 a 0,75 para os restantes dos meses
(Tabela 1). O maior coeficiente de determinao
linear entre os parmetros pH e RE ocorreu no ms
de fevereiro/2011, com 79% dos dados ajustados
linearmente. possvel verificar que os valores mais
dispersos da linha de tendncia entre o pH e a RE
ocorreram nos afluentes Coqueiro da margem esquerda e o Vau. Significa que, quanto menor o valor
de pH, maior o valor de RE em conduzir corrente
eltrica (Grfico 17).
60
P7
P1
5
5,7
75
P3
60
45
P3
P8
30
P2
15
P5
P6
P4
P1
P7
P9
0
0
25
50
75
100
Condutividade eltrica (S/cm)
125
150
138
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
(Grficos 22, 23 e 24). Os valores negativos ocorrem
devido varivel x, que toma valores menores que
os apresentados na varivel y, sendo inversamente
correlacionadas s variveis.
y = 0,44x + 8,37
R = 0,99
75
P1
P5
50
P2
P8
P7
25
P9
P3
P6
100
100
P4
0
0
25
50
75
100
125
Condutividade eltrica (S/cm)
150
175
50
P8
P2
25
P1 P4
P3
25
50
Total de slido dissolvido (mg/L)
75
100
y = -0,79x + 69,36
R = 0,65
P9
P8
P7
P1
P6
P4
P5
0
15
30
Total de slido dissolvido (mg/L)
45
y = -2,93x + 102,84
R = 0,60
P9
75
50
P3
P7
P2
P8
25
P1
P4
P6
P5
0
15
20
25
Cloreto de sdio (mg/L)
30
35
P4
P3
P6
P5
0
0
P3
P1
P2
25
P8
10
75
50
P7
25
100
0
0
P2
P6
P7
P9
50
P5
y = 0,83x + 8,05
R = 0,99
75
75
y = -1,83x + 76,10
R = 0,75
P9
25
50
75
Condutividade eltrica (S/cm)
100
139
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
y = 0,54x - 10,93
R = 0,81
P5
15
30
P1
P2
P6
P8
P4
P3
P7
P9
0
0
25
50
75
Condutividade eltrica (S/cm)
100
Turbidez (NTU)
y = 1,06x - 11,29
R = 0,78
P3
P8
P7
P2
P9
0
25
50
75
Resistividade (cm.M -1)
100
45
CONCLUSES
30
P1
15
P2
P6
P7
P8
P3
P4
P9
0
0
15
30
45
Total de slido dissolvido (mg/L)
60
60
Turbidez (NTU)
P5
y = -0,20x + 14,88
R = 0,72
60
P6 P4
P1
12
Turbidez (NTU)
Turbidez (NTU)
60
y = 1,38x - 23,57
R = 0,83
45
P5
30
P1
P7
15
P9
P2
P8
P6
P3
P4
0
10
20
30
Cloreto de sdio (mg/L)
40
50
140
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 131-142
valores de correlao entre CE e TDS; CE e NaCl;
TDS e NaCl, esto relacionados maior concentrao de ons na gua, possivelmente devido a precipitao na bacia; dissoluo ou intemperizao das
rochas e solos da regio e, agravadas pelas atividades
antrpicas no entorno.
De acordo com anlise espacial e temporal
dos dados, possvel destacar que as variaes esto
relacionadas ao tipo do uso da terra da bacia, e aos
fatores litolgicos, principalmente queles influenciados pela Formao Vale do Rio do Peixe, que
rico em material carbontico em relao s outras
formaes; e a distribuio da precipitao nos 12
meses do ano.
Como perspectiva, espera-se realizar novas
pesquisas no sentido de confirmar as tendncias
encontradas.
AGRADECIMENTOS
REFERNCIAS
AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION
(APHA) -AWWA; WEF. 1998. Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater. 20. ed. Washington. 1085p.
141
Avaliao Espao-Temporal das guas dos Afluentes do Reservatrio da UHE Barra dos Coqueiros/Gois
142
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar os nveis de compostos organoclorados em sedimentos de 35 cursos de gua
pertencentes s bacias hidrogrficas Uberabinha, Araguari e Tijuco. Foram analisadas amostras de invertebrados bentnicos
coletados em crregos que apresentaram maiores concentraes de organoclorados. Dos 19 compostos analisados, 10 foram
detectados em cursos de gua. No foi evidenciada bioacumulao de organoclorados na fauna. No entanto, isso no exclui
outros possveis impactos destes compostos sobre a fauna. Medidas de controle devem ser encorajadas uma vez que o sedimento um dos compartimentos mais importantes no contexto da ciclagem da matria e fluxo de energia.
Palavras-chave: bioacumulao, predadores e poluio.
INTRODUO
A utilizao de agrotxicos constitui uma
das caractersticas fundamentais do padro tecnolgico introduzido na agricultura brasileira desde os
anos sessenta (CARRARO, 1997). Dos compostos
usados em grande escala, destacam-se, inicialmente,
os organoclorados, depois os organofosforados,
carbamatos, piretrides e uma srie de derivados de
triazinas, dentre outros (LARA & BATISTA, 1992).
Os pesticidas organoclorados so substncias orgnicas txicas de origem antrpica que podem ser encontrados em vrios compartimentos
ambientais: gua, solo, ar, sedimento, fauna e flora.
Caracterizam-se por apresentar natureza lipoflica, o
que os torna passveis de serem bioacumulados na
cadeia alimentar (BAIRD, 2002). Uma vez que so
resistentes degradao microbiana, fotoqumica e
trmica (JONES & VOOGT, 1999; VIVES et al.,
2005), possuem grande estabilidade fsico-qumica,
podendo permanecer no ambiente por dcadas.
Os efeitos adversos dos compostos organoclorados na biota so diversos, destacando-se os
1 -
Umuarama, Uberlndia MG
23-
MG
143
MATERIAL E MTODOS
rea Estudada
A bacia do Rio Uberabinha integra a regio
denominada Tringulo Mineiro e abrange parte dos
municpios de Uberlndia, Uberaba, Martinsia e
Tupaciguara, drenando uma rea aproximada de
2.188,3 km2 (FELTRAN FILHO & LIMA, 2007). Ela
integra a bacia do rio Paran, representada pelas
litologias de idade Mesozica: arenitos da Formao
Botucatu, basaltos da Formao Serra Geral e rochas
do Grupo Bauru (NISHIYAMA, 1989). O clima da
regio o tropical e, segundo a classificao climtica de Kppen, tipo Aw, megatrmico, com chuvas
no vero e seca de inverno (EMBRAPA, 1982)
Sedimento
Amostragem
Foram amostrados 35 pontos de coleta,
perfazendo 12 pontos no rio Uberabinha e 18 pontos em afluentes. Trs pontos em riachos integrantes
da Bacia do Rio Araguari e dois da Bacia do Rio
Tijuco (Figura 1, Tabela 1).
144
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
Figura 1 Localizao dos pontos de coleta de sedimentos para anlise de organoclorados. 2011
145
Curso dgua
Localizao
Coordenadas Geogrficas
P1
Rio Uberabinha
Alto Curso
191737S 475419O
P2
Rio Uberabinha
Alto Curso
19166S 475544O
P3
Rio Uberabinha
Alto Curso
185953S 480553O
P4
Alto Curso
19645S 48216O
P5
Alto Curso
185953S 481489O
P6
Alto Curso
18 59 11.54S 48 09 56.17"O
P7
Alto Curso
1858'34''S 4817'18'' O
P8
Crrego Machado
Alto Curso
19187S 475921O
P9
Alto Curso
19643S 48218O
P10
Alto Curso
19627S 481538O
P11
Crrego Rancharia
Alto Curso
1955S 4839O
P12
Crrego do Meio
Alto Curso
19715S 481031O
P13
Crrego da Enxada
Alto Curso
19127S 481555O
P14
Crrego Estiva
Alto Curso
185933S 481029O
P15
Alto Curso
185928S 48646O
P16
Crrego da Arregaada
Alto Curso
185916S 48658O
P17
Crrego da Fortaleza
Alto Curso
185950S 48817O
P18
Alto Curso
185922S 48923O
P19
Rio Uberabinha
Alto Curso
191415S 475645O
P20
Ribeiro do Panga
191051,3S 482342,6O
P21
Crrego da Areia
190539,3S 482149,0O
P22
Crrego Marimbondo
184949,3S 480951,6O
P23
185021S 481139O
P24
Crrego So Jos
185126,4S 481350,2O
P25
Mdio Curso
185232,7S 482035,6O
P26
Crrego do leo
Mdio Curso
185453,5S 481835,7O
P27
Mdio Curso
185816S 481827O
P28
Mdio Curso
1853'33''S 4818'57'' O
P29
Mdio Curso
1852'35''S 4820'12''O
P30
Baixo Curso
184611S 482616O
P31
Baixo Curso
184824S 482322O
P32
Baixo Curso
184116S 483043O
P33
Crrego Gordura
Baixo Curso
184736S 482351O
P34
Baixo Curso
185153S 482013O
P35
Baixo Curso
184751S 482442O
Fauna
Amostragem
A fauna foi coletada utilizando-se rede coletora do tipo D. Ainda em campo foi feita prtriagem dos txons e, em laboratrio, os organismos
146
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
Tabela 2 Composio e abundncia de macroinvertebrados bentnicos coletados em crregos contaminados
por organoclorados, Minas Gerais, Brasil, 2012.
Txons
Pontos amostrais
GT
Crrego
Ponte de
Crrego
Crrego
Gordura
Arame
Marimbondo
do leo
Coleoptera
Elmidae*
Hemiptera*
Odonata
Calopterygidae
Coenagrionidae
197
Gomphidae
465
182
Libellulidae
32
58
Zygoptera Identificada
53
Plecoptera
Perlidae*
Trichoptera
Hydropsychidae*
Megaloptera*
Abundncia Total
469
230
322
RESULTADOS
Sedimentos
Dos dezenove compostos organoclorados
analisados, dez foram detectados nos cursos de gua
estudados (Tabela 3) sendo que os nveis de concentrao variaram de 0 a 12,20 g.kg-1. Entre os
compostos analisados, Aldrin, 4,4- DDE e Endrin
Aldedo foram os mais frequentes e tambm os que
apresentaram as maiores concentraes, considerando-se a porcentagem total dos mesmos em relao aos demais compostos (44,00%, 23,17% e
17,07%, respectivamente). Apesar da baixa frequncia, Metolachlor representou 7,47% das concentraes detectadas. Os compostos Endosulfan 1, 4,4
DDD, Endrin e Heptacloro Epoxi apareceram em
concentraes intermedirias e em baixa frequncia. Os demais compostos 4,4DDT e Gama BHC,
foram os compostos que apresentaram as menores
concentraes em apenas uma amostra.
Observou-se que os pontos localizados no
alto curso do Rio Uberabinha foram os que apresentaram as maiores concentraes dos compostos ana
Extrao e anlise
Para extrao e anlise de organoclorados
na fauna foi utilizada a mesma tcnica aplicada aos
sedimentos, mudando-se apenas a massa amostral.
Assim, foram utilizadas seis amostras de 2,0 g num
primeiro momento e seis de 10,0g em um segundo
momento.
147
Tabela 3 Concentrao de compostos organoclorados nos sedimentos dos cursos de gua estudados.
Os valores encontram-se em g.kg-1. n=2; foram apresentados os maiores valores de cada rplica.
Compostos
Amostras
Compostos
Amostras
Alto curso
P1
P2
P3
P4
P5
P6
Aldrin
4,32
nd
nd
nd
nd
4,4-DDE
12,19*
nd
nd
nd
3,32*
Endosulfan I
nd
nd
nd
nd
1,54*
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
0,026
Endrin
nd
nd
nd
1,43
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
2,9
Endrin Aldedo
nd
nd
nd
nd
nd
1,18
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
12,20
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
7,12
nd
nd
nd
nd
Metolaclor
Alto
P7
P8
P9
P10
nd
0,27
2,76
nd
nd
nd
nd
nd
nd
2,21
nd
nd
nd
120
0,81
0,20
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
2,14*
1,5
P12
P13
P14
P15
P16
P17
P18
B. Rio Tijuco
B. Rio Araguari
P19
P20
P21
P22
P23
P24
P25
P26
P27
P28
P29
P30
P31
P32
P33
P34
P35
Aldrin
5,12
Nd
0,16
nd
nd
0,18
nd
nd
nd
nd
0,06
nd
nd
8,14
12,12
6,56
nd
120
Gama-BHC
nd
nd
nd
0,13
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
4,4-DDD
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
1,43
nd
nd
nd
nd
1,8
4,4-DDE
2,45*
0,12
nd
nd
nd
0,03
nd
0,220
nd
0,58
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
1,5
4,4-DDT
nd
nd
nd
0,59
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
Endosulfan I
1,22*
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
Endrin Aldedo
nd
nd
1,30
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
0,25
1,33
nd
nd
nd
nd
nd
Heptacloro Epoxi
nd
nd
nd
0,43*
nd
nd
nd
1,110*
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
0,02
Metolaclor
nd
nd
nd
nd
Nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
nd
curso
Mdio Curso
P11
Baixo Curso
9,4
0,026
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
as concentraes mximas permitidas (CMP) propostas por Crommentuijn et al., (2000), em conjunto
com o governo holands, que estabeleceram critrios de avaliao de 150 substncias orgnicas, incluindo alguns pesticidas, em solo, gua e sedimento. A
tabela 3 apresenta a CMP de alguns pesticidas em
sedimento. A concentrao mxima permissvel
um risco limite deduzido a partir de informaes
toxicolgicas e ecotoxicolgicas existentes sobre os
pesticidas (CUNHA, 2003).
Tomando como referncia esses valores,
evidencia-se que as concentraes de 4,4DDE e de
Heptacloro Hepoxi esto acima do valor permitido
nos cursos de gua P1, P5, P18 e P19 para o primeiro composto e nos pontos 22 e 26 para Heptacloro
Hepoxi.
O 4,4 DDE um metablito do DDT e
considerado a STP mais persistente em organismos
vivos (BRESSA et al., 1997) J foram relatados efeitos
de inibio da ligao do receptor andrgeno e
testosterona, ocasionando, em ratos machos de laboratrio, a manuteno de mamilos torcicos, atraso na separao do prepcio e diminuio da vescula seminal e prstata (DAMATO et al., 2002 & KELCE et al., 1995)
Em relao espcie humana, Romieu et al.,
2000 analisaram a relao entre o histrico de lactao, nveis plasmticos de DDT e DDE e risco de
cncer de mama, em um estudo conduzido entre
mulheres residentes na Cidade do Mxico entre
1990 e 1995. Foi evidenciado que a presena de
nveis altos de DDE, principalmente entre mulheres
ps-menopausa, pode aumentar os riscos de cncer
de mama. Nas aves o DDE tem sido indicado como
responsvel pela deficincia na formao da casca
dos ovos. Como consequncia, as cascas so frgeis e
no resistem at que ocorra a ecloso natural dos
ovos. Esse efeito diminuiu drasticamente a populao de guias, falces e aores, na dcada de 80, no
ecossistema mundial (SOLOMONS et al., 1989 &
TAN, 1994).
importante destacar que a razo
DDT/DDE pode ser usada como estimativa da entrada de DDT no ambiente ao longo do tempo.
Com o passar dos anos, a partir da ltima data de
aplicao do inseticida, a concentrao de DDE
tende a superar a de DDT, j que um metablito
deste. Neste estudo, em todos os pontos, exceto no
P22, no foi encontrado DDT, indicando que provavelmente este produto no est sendo mais aplicado,
mas no passado foi muito utilizado visto as altas concentraes de 4,4 DDE.
O heptacloro um inseticida considerado
pela Environmental Protection Agency (EPA)
DISCUSSO
Sedimentos
No Brasil no existe uma legislao que
estabelea concentraes limites de organoclorados
no sedimento dos cursos de gua. A despeito disso,
sabe-se que monitorar os nveis de pesticidas em
sedimentos torna-se de suma importncia j que o
sedimento considerado o compartimento mais
importante para o estudo do impacto das substncias txicas persistentes (STP) no meio ambiente,
pois nele que estas apresentam os maiores tempos
de residncia (ALMEIDA et al., 2007).
Neste estudo, tomando como referncia
outros trabalhos realizados no Brasil, os dados apontam que as concentraes dos compostos Aldrin
(12,12 g.kg-1), 4,4- DDE (12,19 g.kg-1) e Endrin
Aldedo (12,20 g.kg-1) esto dentro dos valores
observados por pesquisadores no pas, como no
trabalho de Torres et al., 2002, que avaliando sedimentos de cursos de gua do Rio de Janeiro, detectaram concentraes mximas de 0,2 g.kg-1para
Aldrin e de 20,5 g.kg-1para 4,4DDE. Sousa et al.
(2008) estudando mangues no estado do Rio de
Janeiro encontraram valores mximos de Aldrin e
4,4-DDE de 4,23 e 4,39 g.kg-1, respectivamente. Em
contrapartida, comparando com resultados encontrados por Corbi et al., (2006) no estado de So Paulo (Aldrin: 1787 g.kg-1; 4,4-DDE: 22,9 g.kg-1 e Endrin Aldeido: 82,3 g.kg-1) as concentraes obtidas
foram relativamente baixas.
Para melhor entendimento do cenrio ambiental da Bacia do Rio Uberabinha em relao
concentrao de pesticidas no sedimento e avaliao
da qualidade do mesmo, tomou-se como referncia
149
Fauna
Uma vez que em outros organismos aquticos, como peixes, mexilhes e caranguejos j foi
relatado o evento de bioacumulao (MIRANDA,
2006; GUO et al., 2008; VOLTA et al., 2009; OZKOC
et al., 2007; MENONE et al., 2000) possvel que
ocorra tambm em insetos. Contudo, no presente
estudo, no foram detectados organoclorados na
fauna, possivelmente em decorrncia das baixas
concentraes de organoclorados encontradas nos
sedimentos dos cursos de gua nos quais foram feitas as coletas da fauna. Talvez em ambientes onde as
concentraes de pesticidas sejam maiores no sedimento ocorra a bioacumulao na entomofauna
bentnica. No entanto, para acatar essa hiptese
seria importante analisar insetos coletados em ambientes altamente contaminados por pesticidas clorados, como os cursos de gua estudados por Corbi et
al., 2006.
Ainda que no tenha sido evidenciada bioacumulao, no se pode afirmar a ausncia de impactos (seja ao nvel de indvduo, populacional ou
de comunidades) dos organoclorados sobre essa
fauna, diretamente em contato com sedimentos
contaminados. Efeitos crnicos e agudos so possibilidades, dada a exposio da fauna; para essa avaliao, estudos de toxicidade devem ser incentivados.
CONCLUSES
Nesse estudo detectou-se a presena de dez
tipos de organoclorados nos sedimentos do rio Uberabinha e seus afluentes, sendo que 4,4 DDE e Heptacloro Hepxi foram detectados em concentraes
acima do permitido por legislao em seis pontos
amostrais. No foram detectados organoclorados na
fauna analisada. No entanto, a ocorrncia de efeitos
agudos e crnicos, por exemplo, alteraes na taxa
150
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
BRESSA, G.; SISTI, E.; CIMA, F. PCBs and
organochlorinated pesticides in eel (Anguilla anguilla L.) from the Po delta, Marine Chemistry, v.58, p.
261-266, 1997.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos CAPES pela concesso de
bolsa de doutorado a R. M. G. Souto e FAPEMIG
(Proc. CRA - APQ-02033-10) pelo auxlio financeiro
das anlises de organoclorados; Dra. Maria Olmpia de Oliveira Rezende e Dra. Maria Diva Landgraf
pelo apoio com as anlises de Organoclorados. Ao
DMAE pelo auxlio na localizao e acesso aos pontos de coleta e, finalmente, aos colaboradores Helena M. Guimares, Walter Guimares, Weslley Nazareth e Doca Mastroiano pelo importante apoio nas
coletas da fauna.
CUNHA, M. L. F.; Dissertao de Mestrado, Universidade Federal de Mato Grasso, Brasil, 2003.
D'AMATO, C.; TORRES, J. P.M.; MALM, O. DDT
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conservao dos solos-EPAMIG (Belo Horizonte,
MG). Levantamento de reconhecimento de mdia
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das terras do Tringulo Mineiro. Boletim de pesquisa,
1982, 1, 34.
REFERNCIAS
ALMEIDA, F.V.; CENTENO, A.J.; BISINOTI, M. C.;
JARDIM, W.F. Substncias Txicas Persistentes
(STP) no Brasil, Qumica Nova, v. 30, n.8, p.19761985, 2007.
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KAVLOCK, W. Research needs for the risk assessment of health and environmental effects of endocrine disruptors, Environmental Health Perspectives, v.
104, n.4, p.715-740, 1996.
TAN, K.H. Environmental soil science. New York: United States of America. 1994, 557 p.
TORRES, J.P.M.; MALM, O.; VIEIRA, E.D.R.; JAPENGA, J.; KOOPMANS, G.F. Organic micropollutants on river sediments from Rio de Janeiro, Southeast Brazil, Caderno de Sade Pblica, v. 18, n. 2, p.
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brown trout (Salmo trutta) from a remote high
mountain lake (Red, Pyrenees), Environmental Pollution, v. 133, p. 343-350, 2005.
152
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 143-153
Environmental Diagnosis Of Organochlorine Compounds In Sediment And Benthic Invertebrates Of
Triangulo Mineiro Watersheds, Minas Gerais, Brazil
ABSTRACT
This study aimed to assess the levels of
organochlorine compounds in sediments of 35 watercourses
belonging to the Uberabinha, Araguari and Tijuco watersheds. Samples of benthic invertebrates collected in streams
that showed higher concentrations of organochlorines were
analyzed. Among the nineteen compounds analyzed, ten
were detected in watercourses. The bioaccumulation of
organochlorines was not evident in the fauna. However,
this does not exclude other possible impacts of these compounds on the fauna. Monitoring measures must be encouraged since sediment is one of the most important compartments in the context of the cycling of matter and energy
flow.
Key-words: bioaccumulation, predators, and pollution.
153
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 155-163
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados do ajuste de curvas-chave em estao instvel, sob efeito de remanso, obtidos
pela aplicao de dois mtodos de calibragem de curva-chave: um mtodo simplificado que desconsidera a correo da vazo
pela declividade da linha de gua e o mtodo Boyer ou mtodo do desnvel normal. Os resultados so apresentados em termos
de desvio mdio das curvas ajustadas, amplitude de vazes, hidrogramas gerados e vazo de referncia Q90 e evidenciam a
importncia da escolha do mtodo empregado na consistncia de dados fluviomtricos e seus impactos para a gesto de recursos hdricos.
Palavras-chave: Curva-chave; Regime no permanente.
sos hdricos, utilizando o mtodo do desnvel normal aplicado a um estudo de caso em estao no rio
Gravata, no rio Grande do Sul.
Os dados fluviomtricos da estao Barreirinha foram consistidos com a aplicao de dois
mtodos distintos de calibragem de curvas-chave.
Um dos mtodos denominado simplificado por
desconsiderar as correes relacionadas a variaes
da declividade da linha de gua para a gerao de
vazes, considerando o escoamento permanente. J
o outro mtodo - do desnvel normal - considera a
variao de declividade hidrulica da linha de gua
entre duas estaes, para a gerao de sries de
vazo.
Os resultados da consistncia de dados so
analisados tanto em termos de ajuste de curvaschave, quanto em termos de vazes geradas. Assim,
alm dos desvios mdios das curvas, tambm so
analisados os hidrogramas, a amplitude de vazes
geradas e as vazes de referncia Q90.
A anlise de consistncia de dados da estao Barreirinha constou das metas institucionais da
Agncia Nacional de guas, durante o 2 ciclo de
avaliao institucional, iniciado em 1 de outubro
de 2011 e finalizado em 30 de setembro de 2012 e
se coaduna com recomendaes da 4 Conferncia
Nacional de Cincia, Tecnologia e Inovao para o
Desenvolvimento Sustentvel (BRASIL, 2010).
INTRODUO
A anlise de consistncia de dados a etapa
preliminar em estudos hidrolgicos e envolve o
desenvolvimento de curvas-chave - atividade que
pode ser bastante complexa, especialmente quando
os dados de medies de descarga lquida apresentam distores, como as resultantes de efeitos de
remanso.
Chevallier (2007) ao abordar o traado de
curvas-chave apresenta uma adaptao autorizada
do livro de Jaccon e Cudo (1989). Esses, em captulo
dedicado calibragem de estaes no-unvocas,
apresentam tcnicas para o traado de curvas-chave
de estaes com instabilidade geomtrica e instabilidade hidrulica. Para este ltimo caso, aqueles
autores apresentam mtodos de calibragem de
estaes com uso de uma ou duas rguas, dentre os
quais se destaca neste estudo o do desnvel normal.
Pickbrenner e Germano (2008) abordaram os
efeitos da calibragem de curvas-chave sob influncia
de remanso para a quantificao da disponibilidade
hdrica e para a outorga de direito de uso de recur*
155
MATERIAIS E MTODOS
O mtodo simplificado de ajuste de curvachave considera o escoamento em regime permanente e o fenmeno hidrulico do armazenamento
temporrio, descrito por da Silveira (2007) como
caracterstico de vertedores, e responsvel pelo
abatimento da onda de cheia em bacias hidrogrficas.
Para a aplicao do mtodo simplificado, os
dados da estao Barreirinha foram analisados com
auxlio dos dados da estao auxiliar denominada
Acanau, de cdigo 12850000, localizada no rio
Japur/Caquet.
Para cada medio de descarga lquida da
estao Barreirinha foi calculada a declividade hidrulica da linha de gua, em relao estao
auxiliar, utilizando as cotas mdias dirias observadas na estao auxiliar e as cotas das medies de
descarga lquida da estao Barreirinha.
A escolha da estao auxiliar deve permitir
o clculo de declividades hidrulicas que torne
possvel a avaliao do fenmeno supostamente
relacionado s distores reveladas pelas medies
de descarga lquida da estao em estudo. Assim, a
definio da estao auxiliar passou pela anlise da
2.000
1.500
1.000
500
Cota (cm)
-500
300
250
200
150
100
50
-50
-1.000
Distncia (m)
12870000 - 22/01/95
12870000 - 23/05/96
12870000 - 18/07/97
12870000 - 23/01/98
12870000 - 15/10/99
12870000 - 17/10/00
12870000 - 18/10/2001
12870000 - 19/10/2002
12870000 - 23/10/2003
12870000 - 23/07/2004
12870000 - 27/01/2005
12870000 - 21/08/2007
12870000 - 24/01/2008
12870000 - 04/07/2010
156
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 155-163
base hidrogrfica da bacia, ilustrada na figura 2.
Alm disso, a anlise tambm considerou a hiptese
de remanso no rio Auati-Paran causado por represamento do rio Caquet/Japur, como sendo a
principal causa das instabilidades observadas nas
medies de descarga lquida da estao principal.
Para avaliao da condio de ascenso ou
recesso do hidrograma da estao Barreirinha,
foram considerados os dados de cotas mdias dirias observadas, em anlise de trs dias consecutivos
(d-1, d e d+1). O hidrograma foi considerado em
ascenso quando a mdia das cotas mdias dos dias
d-1 e d resultaram em valor menor do que a mdia
das cotas mdias dos dias d e d+1; o inverso valendo
para validar o hidrograma em recesso.
A aplicao do mtodo do desnvel normal
se difere do mtodo simplificado pela correo
introduzida na obteno da vazo, considerando a
declividade hidrulica da linha de gua obtida pelas
cotas mdias dirias observadas simultaneamente,
tanto na estao principal quanto na auxiliar. O
regime de escoamento , portanto, considerado
no permanente e corrigido pela declividade hidrulica. Para a aplicao do mtodo do desnvel
normal foram seguidos os passos definidos por
Jaccon e Cudo (1989).
Para a comparao de resultados, o ajuste
de curva-chave da estao Barreirinha pelo mtodo
do desnvel normal foi realizado com os mesmos
dados de medies de descarga lquida utilizados
para a aplicao do mtodo simplificado. Alm
disso, tambm foi utilizada a mesma estao auxiliar
estao 12850000 para a aplicao de ambos os
mtodos.
O desnvel geomtrico entre as estaes
principal e auxiliar desconhecido. Mas para a
aplicao do mtodo do desnvel normal so necessrios os desnveis relativos entre duas estaes.
Valendo-se disso, para evitar o trabalho com desnveis relativos negativos entre as duas estaes o
que poderia levar ao falso entendimento de que
ocorreria refluxo no escoamento da estao principal - foram adicionados 700 cm a toda a srie de
cotas observadas e s cotas de todas as medies de
descarga lquida da estao Barreirinha, 12870000,
somente para a aplicao do mtodo do desnvel
normal. Esse valor de acrscimo superior ao valor
absoluto dos desnveis negativos obtidos a partir dos
dados originais das duas estaes.
A declividade hidrulica da linha de gua
foi calculada para toda a srie de cotas da estao
Barreirinha com cotas observadas na estao auxiliar.
RESULTADOS E DISCUSSO
Os pontos de medio de descarga lquida
apresentam elevada disperso no grfico de vazo
versus cota, conforme ilustrao da figura 3.
1.600
1.400
1.200
Cota (cm)
1.000
800
600
400
200
0
0
1.000
2.000
3.000
Vazo (m/s)
4.000
5.000
Medies de descarga lquida realizadas em recesso, com cota da estao auxiliar acima de 850 cm e declividade hidrulica da
linha de gua abaixo de zero.
Demais medies de descarga lquida
157
6.000
1,52
2,01
; 1150
;
1290
1290
(3)
(4)
2,6
;
,
900
; 900
(1)
1150
(2)
158
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 155-163
Solver, da planilha eletrnica Excel (2003), resultando no conjunto de curvas-chave ilustrado nas figuras 9, em escala aritmtica, e 10, em escala logartmica.
Os desvios das medies de descarga lquida em relao curva-chave limite foram ordenados
cronologicamente e, tambm, em relao s cotas
das medies, conforme ilustraes das figuras 11 e
12.
A anlise dos desvios revela ajuste adequado para toda a faixa de cotas e durante todo o perodo de validade para o qual a curva-chave foi ajustada, o que pode indicar estabilidade do controle
hidrulico durante a ausncia de remanso.
1.800
1.600
1.400
1.200
Cota (cm)
1.000
800
600
400
200
0
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
Vazo (m/s)
Medies CC envelope
Cota na auxiliar: de 951 a 1050
Cota na auxiliar: de 1251 a 1350
CC envelope
Cota na auxiliar: de 1051 a 1150
Cota na auxiliar acima de 1350
Cotasemcm.
Figura 8 Resultado do confronto de dados das medies de descarga lquida da estao 12870000 com as
cotas mdias dirias da estao auxiliar.
1.800
1.600
1.400
1.200
Cota (cm)
1.000
800
600
400
200
0
0
1.000
2.000
3.000
Vazo (m/s)
4.000
5.000
Medies CC envelope
CC envelope
de 851 a 950
de 951 a 1050
de 1051 a 1150
1151-1250
1251-1350
ACIMA DE 1350
CC remanso 950-1050
CC remanso 1050-1150
CC remanso 1150-1250
CC remanso 1250-1350
6.000
10.000
Cota (cm)
1400m
1300m
100
100
1.000
Vazo (m/s)
10.000
Medies CC envelope
CC envelope
de 851 a 950
de 951 a 1050
de 1051 a 1150
1151-1250
1251-1350
ACIMA DE 1350
CC remanso 950-1050
CC remanso 1050-1150
CC remanso 1150-1250
CC remanso 1250-1350
159
1.800
1.600
1.400
1.200
Cota (cm)
1.000
800
600
400
200
(5)
0
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
Vazo (m/s)
1,40
1,00
1,40
0,80
1,20
0,60
1,00
Qc/Qn
Q/Qn
1,20
0,40
0,80
0,60
0,20
0,00
0,00
0,40
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
D/Dn
0,20
Figura 13 Curva D/Dn versus Q/Qn, obtida na primeira etapa de ajustes do mtodo do desnvel normal.
0,00
0,00
2,51
1,18
0,13
10
,
0,53
38,63
1300
,
1300
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
D/Dn
A partir dessa curva, foram corrigidos os valores de vazo das medies de descarga lquida da
estao em estudo, o que resultou em significativa
reduo da disperso dos pontos no grfico de vazo versus cota.
As vazes das medies foram corrigidas e
foi procedido o segundo ajuste de curva-chave ao
desnvel normal, resultando nas curvas ilustradas
nas figuras 14 e 15. Neste ponto, a curva-chave ajustada apresentou desvio mdio de 8%. As curvas
correspondentes segunda etapa so as definidas
pelas equaes 6 a 8.
,
0,20
1,18
10
65,05
(9)
950
(10)
(6)
3,78
10
5,38
(7)
0,36
1,61
; 950
0,72
1,86
1284
(8)
160
1284
(11)
(12)
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 155-163
5000
1.800
4500
1.600
4000
3500
1.400
Vazo(m/s)
3000
1.200
Cota (cm)
1.000
2500
2000
1500
800
1000
600
500
03/12/1989
03/11/1989
04/10/1989
04/09/1989
05/08/1989
06/07/1989
06/06/1989
07/05/1989
07/04/1989
08/03/1989
07/01/1989
200
06/02/1989
400
Data
MtodoSimplificado
0
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
Vazo (m/s)
1,40
1,20
Qc/Qn
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
2,00
D/Dn
MtododoDesnvelNormal
7.000
161
(2001) relata que as correes podem ser desprezadas porque resultam em variaes desprezveis no
contexto das demais incertezas intrnsecas ao processo de obteno e consistncia dos dados de medies de descarga lquida.
Santos et al (2001) define requisitos para a
instalao de estaes fluviomtricas, dentre os
quais destaca-se o posicionamento da estao em
trecho retilneo e montante do controle hidrulico. So requisitos que direcionam o posicionamento da estao para seo do rio onde o escoamento
o mais prximo possvel do uniforme e de onde
sero obtidos os dados com menores distores, o
que essencial para a simplificao do estudo de
consistncia de dados fluviomtricos.
Todavia, os resultados demonstram que em
se tratando de estaes com instabilidade hidrulica, essa simplificao no adequada. A escolha do
mtodo para a anlise de consistncia de dados
fluviomtricos de estaes instveis impacta significativamente a gesto de recursos hdricos. A diferena entre as vazes de referncia Q90, obtida das
sries de vazo geradas, revela um possvel comprometimento da promoo dos usos mltiplos das
guas, que base na qual se fundamenta a Poltica
Nacional de Recursos Hdricos.
A instabilidade hidrulica que ocorre na estao Barreirinha poderia ter origem em outro tipo
de represamento, provocado por reservatrios naturais ou artificiais e esse outro aspecto que merece ateno.
ANA (2010) estabelece as condies e os
procedimentos a serem observados para a instalao, operao e manuteno de estaes hidromtricas em aproveitamentos hidreltricos. O controle
hidrolgico requerido nesses empreendimentos
impe a necessidade de instalao de estaes de
monitoramento fluviomtrico de vazes afluentes
aos reservatrios. Essas estaes podem apresentar
instabilidade hidrulica, relacionadas ao remanso
causado pelo reservatrio do aproveitamento hidreltrico, inviabilizando as simplificaes usuais em
estudos de anlise de consistncia de dados.
importante observar que ANA (2010), ao
definir os requisitos do monitoramento hidrolgico
de aproveitamentos hidreltricos, no considerou
explicitamente aspectos de segurana de barragens
estabelecidas posteriormente por Brasil (2010). A
Poltica Nacional de Segurana de Barragens alcana amplo universo de empreendimentos, alm dos
aproveitamentos hidreltricos, e impe a necessidade de regulamentao do monitoramento hidrolgico voltado segurana desses empreendimentos
CONCLUSES
A anlise de consistncia de dados fluviomtricos por mtodo simplificado que desconsidera
a declividade hidrulica resulta em vazo de referncia Q90 superior obtida pelo mtodo do desnvel normal. Em condies similares s do caso estudado, a diferena de valores de vazo de referncia
da ordem de 36%.
A escolha do mtodo de anlise de consistncia de dados fluviomtricos de estaes instveis
pode impactar significativamente a gesto de recursos hdricos, especialmente em locais onde h escassez ou conflito de usos.
REFERNCIAS
AGNCIA NACIONAL DE GUAS (Brasil). Diretrizes e anlises recomendadas para a consistncia
de dados fluviomtricos. Braslia: ANA, 2011. Disponvel em: <http://arquivos.ana.gov.br/infohidro
logicas/ cadastro / Diretrizes_Analises_Recomenda
das_Consistencia_de_Dados_Fluviometricos.pdf>.
Acesso em: 23 ago. 2011.
AGNCIA NACIONAL DE GUAS (Brasil). Resoluo conjunta ANEEL-ANA n 3, de 10 de agosto
de 2010. Braslia: ANA, 2010. Disponvel em:
<http://arquivos.ana.gov.br/resolucoes/2010/32010.pdf>. Acesso em 29 jul. 2013.
AGNCIA NACIONAL DE GUAS (Brasil). Sistema para Gerenciamento de Dados Hidrolgicos.
Verso Hidro 1.2, compilao 1.2.1.274. Braslia:
ANA, [2010]. Disponvel em: <http://hidroweb.
ana.gov.br/baixar/software/Hidro1.2.274.rar>.
Acesso em: 23 ago. 2011.
162
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 155-163
AGNCIA NACIONAL DE GUAS (Brasil). Sistema para Visualizao de Fichas de Campo. Braslia:
ANA, [2010]. Permite acesso a quase dois milhes
de cpias eletrnicas de fontes primrias de registros de sries histricas de dados da rede hidrometeorolgica da ANA. Disponvel em: <http://visuali
zador.ana.gov.br:8080/VisualizadorWebLogic/>.
Acesso em: 23 ago. 2011.
163
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo simular hidrologicamente a bacia do Crrego Barbado, na cidade de Cuiab-MT, por
meio do modelo SWMM (Storm Water Management Model) e avaliar as respostas para diferentes cenrios de impermeabilizao da bacia. A aquisio de dados envolveu trabalhos de monitoramento de chuva e vazo, que permitiram a construo
de uma curva-chave para a seo de monitoramento at a cota 80 cm, extrapolada at a cota 2,60 m. Na modelagem, a
calibrao dos parmetros, realizada manualmente para dois eventos, apresentou valores mdios de coeficiente de determinao mdio de 0,912, de coeficiente de Nash-Sutcliffe de 0,842 e erro de 0,025% entre as vazes de pico observadas e estimadas pelo modelo, portanto considerados satisfatrios. O modelo foi validado para dois outros eventos sendo obtidos ajustes
prximos dos encontrados na calibrao. A simulao dos cenrios para chuvas de retorno de 2 a 100 anos revelaram um
aumento na vazo de pico de 12,6% a 16,9% para o Cenrio 2 e aumento de 11,7% a 22,0% para o Cenrio 3, ambos
comparados com o Cenrio 1 de ocupao atual. Mesmo para perodos de retorno de 2 anos foram verificadas inundaes no
cenrio 1 em um ponto e nos cenrios 2 e 3 em trs pontos. As enchentes so causadas preponderantemente pelo aumento do
Tr, pois a bacia est quase totalmente urbanizada.
Palavras-chave: Drenagem urbana, calibrao, modelo SWMM.
monitoramento hidrolgico para obteno de dados de precipitao, nvel de gua, vazo e curva
chave utilizados no modelo SWMM - Storm Water
Management Model (LEEHS, 2012). Calibrou-se e
validou-se o SWMM, ento simularam-se as respostas
da bacia para perodos de retorno de 5, 10, 20, 50 e
100 anos, para um cenrio atual, outro com a ocupao dos lotes vazios e um terceiro com a homogeneizao da impermeabilizao da regio mais urbanizada da bacia.
INTRODUO
Diante do processo de intensa ocupao urbana tem-se verificado uma busca por solues para
amenizar os efeitos do escoamento superficial nas
reas urbanas durante eventos de precipitao. Estudos do comportamento hidrolgico da rea so
essenciais, acompanhados de estudos urbansticos,
sanitrios e virios para se atingir uma soluo global.
Uma das ferramentas que possibilita a anlise de diferentes solues a modelagem hidrulica
e hidrolgica. Os dados para a modelagem necessitam ser de boa qualidade e origem confivel, o que
ainda escasso no Brasil, pois o monitoramento de
bacias est longe do ideal.
Neste trabalho objetivaram-se caracterizar,
monitorar e modelar a bacia do crrego Barbado,
localizado na cidade de Cuiab-MT. Realizou-se o
1-
2-
165
Parmetro
Valores
rea de drenagem (A)
10,71 km
Permetro da bacia (P)
20,14 km
Comprimento do rio principal (Lp)
7,08 km
ndice de conformao (Kf)
0,21
ndice de compacidade (Kc)
1,72
Densidade de drenagem (Dd)
1,64 km/km
Declividade mdia canal principal (d2)
6,29 m/km
Declividade mdia da bacia (Im)
4,79%
Tempo de concentrao (Picking)
2,06h
Tempo de concentrao (Ven Te Chow) 1,98h
Elevao mxima da bacia
240 m
Elevao mnima da bacia
152 m
166
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
Monitorou-se o nvel de gua por sensor de
nvel e a velocidade por molinete, ADCP e flutuadores, este ltimo com recomendaes de EPA (1997)
e EMBRAPA (2007). Devido s caractersticas locais,
o uso do molinete e ADCP foram inviabilizados. A
seo do crrego do Barbado ilustrada na Figura
4.
MONITORAMENTO HIDROLGICO
O monitoramento da precipitao realizouse com auxlio do pluvigrafo e pluvimetro da
estao Mestre Bombled, no campus da Universidade Federal de Mato Grosso, coordenadas
560338,94 Oeste e 153625,3 Sul, conforme
Figura 3.
Efetuou-se o monitoramento fluviogrfico
junto da passarela sobre o crrego do Barbado denominado posto Tancredo Neves, localizado na
avenida de mesmo nome, entre as ruas Rua A e prolongamento da Rua Amncio Pedroso, coordenadas
56435,15 Oeste e 15376,06 Sul, conforme
indicado na Figura 3.
MODELAGEM DA BACIA
167
ANLISE DE SENSIBILIDADE
Valores
Parmetro
Avaliaram-se as influncias de alguns parmetros do modelo por comparao grfica dos hidrogramas resultantes. Utilizou-se o evento ocorrido
no dia 18 de janeiro de 2011. Admitiu-se um valor
inicial para cada parmetro e a este valor adicionaram-se -90% e +90%, conforme Collischonn (2001).
Os parmetros analisados foram: largura das
sub-bacias (W), porcentagem de reas impermeveis
(AIDC), coeficiente de rugosidade de Manning de
reas impermeveis (ni) e permeveis (np), capacidade de armazenamento de reas impermeveis (di)
e permeveis (dp), porcentagem do escoamento
encaminhado de reas impermeveis para reas
permeveis (AINC), os parmetros de infiltrao de
Horton (I0, Ib e k) e coeficiente de rugosidade de
Manning para condutos (nc).
Mn.
Inicial
Mx.
0,011
0,013
0,024
0,05
0,35
0,80
1,27
1,5
2,54
2,54
4,9
7,62
25,4
28,8
254
0,25
9,4
120,4
4,5
0,030
0,045
0,07
0,020
0,035
0,011
0,013
0,020
Realizou-se somente a calibrao dos parmetros dos quais houve considervel incerteza quanto aos seus valores. A rea e declividade das subbacias no foram calibradas, pois diz respeito aos
aspectos fsicos da bacia que foram medidos. Da
mesma forma, as taxas de impermeabilizao, pois
se obtiveram por levantamento estatstico criterioso
in loco, conforme Faria (2013).
Adotaram-se os valores iniciais dos parmetros calibrados conforme recomendaes do Manual
do Usurio do SWMM 5.0 (LEEHS, 2012) e experincias de trabalhos anteriores de Barbassa (1991) e
Barbassa et al. (2005).
Calibrou-se a largura das sub-bacias com variaes de -20% a +20% sobre os valores iniciais.
Para os demais parmetros adotaram-se variaes
sugeridas pelo Manual do Usurio SWMM 5.0 (LEEHS, 2012). Apresentam-se na Tabela 2 os valores
iniciais e intervalos adotados na calibrao dos parmetros.
A calibrao consistiu no ajuste manual, por
tentativa e erro, assim como fizeram Garcia (2005) e
Barbassa et al. (2005). Verificou-se o ajuste visualmente por sobreposio dos hidrogramas e tambm
pelo clculo das eficincias da calibrao dados
pelos Coeficientes de Determinao (R) e de Eficincia de Nash e Sutcliffe (COE), alm do clculo do
erro da vazo de pico (Ep), conforme as equaes 1,
2 e 3, respectivamente.
concreto abertos
covQo , Qc
R 2
So Sc
(1)
Em que,
cov(Qo,Qc) a covarincia da vazo observada e a
vazo calculada e;
So e Sc so os desvios padres da vazo observada e
calculada respectivamente.
m
(Qobsi Qesti ) 2
COE 1 i 1 m
(Qesti Q) 2
(2)
i 1
Em que,
Qobs a vazo observada;
Qest a vazo estimada pelo modelo;
Q a vazo mdia observada;
168
Qpest Qpobs
100
Qpobs
(3)
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
Em que,
Qpobs a vazo de pico observada;
Qpest a vazo de pico estimada pelo modelo.
VALIDAO
Teve por objetivo avaliar a eficincia da calibrao. Simularam-se eventos diferentes da calibrao com valores de parmetros iguais a mdia
dos obtidos na calibrao. Verificou-se o ajuste por
meio da comparao dos hidrogramas, pelos coeficientes R e COE e erro no clculo da vazo de pico
(Ep). Utilizaram-se os eventos dos dias 19 de janeiro
de 2011 e 26 de maro de 2011.
Subbacia
CENRIOS
Construram-se trs cenrios de urbanizao, um atual e dois futuros com o objetivo de prever o comportamento hidrolgico. A rea da bacia
foi separada em:
(%)
(%)
AI
(%)
CENARIO 2
AIDC AINC
(%)
(%)
AI
(%)
CENARIO 3
AIDC AINC
(%)
(%)
AI
(%)
Os cenrios so:
CENARIO 1
AIDC AINC
1016,453 Tr 0 ,133
t 7,50,739
Em que,
i = intensidade da chuva, em mm/h;
Tr = Tempo de retorno, em anos;
t = durao da chuva, em minutos;
169
(4)
RESULTADOS
As anlises de sensibilidade dos diversos parmetros do modelo SWMM 5.0 so ilustradas pelos
grficos das Figuras 6 a 13.
(5)
Em que,
Q=vazo, em m/s;
H=nvel do rio, em metros.
A curva-chave de Stevens resultou na Equao 6 com coeficiente de determinao igual a 0,99.
Q = 0,0223 H 0,0089 9E-06 H
(6)
Em que,
Q=vazo, em m/s;
H=nvel do rio, em metros.
Figura 7 - Influncia dos parmetros de infiltrao
(I0, Ib e k) no hidrograma de sada na seo do
monitoramento fluviogrfico.
170
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
171
Avaliao
Evento do dia
Evento do dia
Mdia
11/12/2010
01/01/2011
R
0,974
0,850
0,912
COE
0,862
0,822
0,842
Ep (%)
0,051
0,000
0,025
A avaliao da calibrao realizada pelo coeficiente de determinao (R), coeficiente de NashSutcliffe (COE) e pela porcentagem do erro no
clculo da vazo de pico (Ep) resultaram nos valores
apresentados pela Tabela 5.
172
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
com mesmo tempo de retorno so apresentados nas
Figuras 18 a 22.
Avaliao
Evento do dia
Evento do dia
19/01/2011
26/03/2011
R
0,826
0,893
COE
0,744
0,728
Ep (%)
-1,627
-1,066
Constata-se que o ajuste verificado pelo coeficiente de determinao (R) e coeficiente de NashSutcliffe (COE) resultou em valores geralmente
obtidos em estudos semelhantes. Ressalta-se o baixo
erro verificado para o clculo da vazo de pico (Ep).
A diferena verificada entre a vazo de pico observada e estimada permaneceu abaixo de 2% para os
dois eventos analisados.
Figura 20 - Comparao de diferentes cenrios para
chuva com Tr = 20 anos.
173
O aumento dos perodos de retorno da precipitao de 2 para 10, de 10 para 20, de 20 para 50
e de 50 para 100 anos causaram aumentos de vazes
de pico de cerca de 200%, 13%, 17% e 9% respectivamente, considerando todos os cenrios.
Comparando-se os Cenrio 2 e 3 constatouse alteraes muito semelhantes para precipitaes
com tempo de retorno de 50 e 100 anos, sendo registrado uma diferena maior para o evento com
tempo de retorno de 2 anos. Indicam-se na Tabela 6
as diferenas verificadas para a vazo de pico dos
Cenrios 2 e 3 em relao ao Cenrio 1 (de ocupao atual) para precipitao com diferentes tempo
de retorno.
Tempo de
Retorno
2
10
20
50
100
Cenrio 2
Cenrio 3
+ 16,9%
+ 14,9%
+ 14,7%
+ 13,8%
+ 12,6%
+ 22,0%
+ 18,2%
+ 17,9%
+ 14,0%
+ 11,7%
CONCLUSES
As caractersticas fsicas da bacia de estudo,
indicam baixa suscetibilidade inundaes. Contrapondo-se esta indicao, a anlise da impermeabilizao da bacia, a litologia e o tipo de solo raso
174
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 165-176
Recomendam-se para trabalhos futuros na
bacia do crrego Barbado:
REFERNCIAS
BARBASSA, A. P. Simulao do Efeito da Urbanizao sobre a Drenagem Pluvial da Cidade de So
Carlos. 1991. 327 f. Tese (Doutorado emHidrulica
e Saneamento) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 1991.
BARBASSA, A. P. ; PUGLIESE, P. B. ; MOREIRA, J. .
Estudo de enchentes urbanas associando rede de
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Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos, 16., 2005,
Joo Pessoa. Anais... Joo Pessoa, 2005. v. CD-ROM.
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BORDEST, S. M. L. A bacia do crrego Barbado,
Cuiab: Grfica Print, 2003.
CASTRO, A. L. P.; PADILHA, C.; SILVEIRA, A. Curvas Intensidade-Durao-Frequncia das precipitaes extremas para o municpio de Cuiab-MT.
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572p.
COLLISCHONN, W. Simulao hidrolgica de
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Engenharia de Recursos Hdricos e Saneamento
Ambiental) Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porte Alegre, 2001.
COLLODEL, M.G. Aplicao do modelo hidrolgico
SWMM na avaliao de diferentes nveis de detalhamento da bacia hidrogrfica submetida ao processo de transformao chuva-vazo. 2009. 225 f.
Dissertao (Mestrado em Hidrulica e Saneamento) Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So Carlos, 2009.
175
176
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
RESUMO
A modelagem hidrolgica uma ferramenta til para predio do comportamento dinmico da gua em uma bacia
hidrogrfica e, por conseguinte, a estimativa detalhada do balano hdrico uma informao de grande valia para a gesto
dos recursos hdricos. Entretanto, os fenmenos que regem o ciclo hidrolgico apresentam distribuio heterognea tanto no
espao quanto no tempo, o que dificulta a sua estimativa. Dentro dessa perspectiva, o objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho do modelo SWAT (Soil and Water Assessment Tool) na estimativa do escoamento em duas bacias hidrogrficas
com escalas espaciais distintas. O modelo foi aplicado bacia hidrogrfica do Ribeiro Jaguara (BHRJ mesoescala) e na
bacia hidrogrfica do Ribeiro Marcela (BHRM microescala), ambas com predomnio de Latossolos na regio do Alto Rio
Grande. Foram utilizados ndices estatsticos para avaliar a preciso quali-quantitativa do modelo na simulao do escoamento. O SWAT simulou de modo satisfatrio o escoamento para a BHRJ apresentando coeficiente de Nash-Sutcliffe entre
0,58 e 0,71 na fase de calibrao e de 0,46 na fase de validao. Em contrapartida, na microescala o modelo obteve desempenho inadequado com valores dos ndices estatsticos abaixo dos limites recomendados na literatura.
Palavras-chave: estimativa de escoamento, microescala, mesoescala, desempenho de modelo
No processo de modelagem hidrolgica seria de se esperar que os parmetros do modelo mudassem com a escala da bacia, visto que diferentes
processos tendem a ser dominantes nas micro e
macro escalas (FENICIA et al., 2008). Em microbacias, os processos que ocorrem na vertente (fluxos
internos) tendem a controlar a resposta das vazes e
so mais sensveis s oscilaes climticas locais. Em
grandes bacias hidrogrficas a resposta em termos
quantitativos est associada interao entre sistemas aquferos, plancies de inundao e a rede de
drenagem, apresentando resposta mais lenta quando comparadas s microbacias (MENDIONDO &
TUCCI, 1997; MERZ et al., 2009).
Quanto a hierarquizao das bacias hidrogrficas em relao seu tamanho, no existe um
consenso do meio cientifico que defina os limites
dimensionais para o enquadramento das mesmas
em categorias. Calijuri & Bubel (2006) adotam unidades hidrolgicas e ecolgicas para conceitualizarem o termo microbacia hidrogrfica. Para os autores, so reas formadas por canais de 1 e 2 ordem
e, em alguns casos, de 3 ordem, representadas por
reas frgeis e frequentemente ameaadas por perturbaes.
J Tucci (2003) aponta que os processos hidrolgicos podem ser avaliados em cinco nveis es-
INTRODUO
O monitoramento de variveis hidrolgicas
necessita de grandes investimentos a fim de implementar uma infraestrutura capaz de cobrir todas as
regies de interesse, fator este que justifica a escassez de dados observados em diversas reas, especialmente em bacias de pequeno porte. Associado a
isto, os dados observados esto restritos aos locais
onde se encontram os postos de medio, produzindo assim lacunas espaos-temporais na disponibilidade de informaes hidrolgicas.
O emprego de modelos tem sido a alternativa mais explorada no intuito de preencher as lacunas acima citadas. Estas ferramentas tm por finalidade expressar o comportamento do objeto de estudo tomando por base a dinmica dos processos
hidrolgicos no qual so fundamentados e de acordo com diferentes entradas (CIBIN et al., 2013).
1 -
de Lavras, Lavras-MG.
2 -
Politcnica da USP
177
MATERIAL E MTODOS
rea de estudo
Para avaliao de desempenho do SWAT em
representar o escoamento, o processo de simulao
foi aplicado em duas bacias hidrogrficas: a do Ribeiro Jaguara, representando a mesoescala, e a do
Ribeiro Marcela, representando a microescala.
Estas bacias so representativas da regio do
Alto Rio Grande que apresenta importncia estratgica para gerao de energia eltrica no sul de Minas Gerais visto que a principal zona de recarga da
bacia hidrogrfica do Rio Grande.
178
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
de cada bacia registrando tais informaes a cada 30
minutos. O dado de vazo diria foi obtido com a
mdia dos valores registrados ao longo do dia utilizando-se de curvas-chaves determinadas para as
referidas estaes.
Os dados climticos foram obtidos de uma
estao meteorolgica completa localizada em altitude representativa para ambas as bacias, com registro das informaes a cada 30 minutos e posteriormente associadas ao intervalo dirio compondo uma
srie de quatro anos hidrolgicos (2006-2010). Foram monitorados dados de radiao solar, precipitao pluvial, temperatura mxima e mnima do ar,
umidade relativa do ar e velocidade do vento.
179
Em que:
SWt = armazenamento de gua no solo no tempo t
(mm);
SWt-1 = armazenamento de gua no solo no tempo t1 (mm);
t = tempo (dias);
Ri = precipitao (mm);
Qi = escoamento superficial (mm);
ETi = evapotranspirao (mm);
Pi = percolao (mm);
QRi = fluxo de retorno (ascenso capilar) (mm).
(1)
180
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
calibrados para os parmetros so aplicados a um
conjunto de dados independente dos utilizados na
calibrao a fim de verificar a qualidade da simulao.
O SWAT requer informaes para a simulao em trs nveis de escala espacial: bacia hidrogrfica, sub-bacias e Unidades de Resposta Hidrolgica
(URHs). De acordo com Zhang et al. (2009), o
SWAT divide a bacia objeto de estudo em sub-bacias
conectadas pela rede de drenagem e delineia as
URHs com base em combinaes nicas de classes
de solo, declividade e cobertura do solo.
Neitsch et al. (2005) indicam que o SWAT
simula com maior preciso o balano hdrico de
uma bacia hidrogrfica aplicando o conceito de
URHs, pois o modelo calcula os fluxos para cada
URH; em seguida, esses resultados so acumulados
para gerar o balano na sub-bacia; por fim, estes so
direcionados para a rede de drenagem at atingirem
a seo de controle.
No presente estudo, o critrio utilizado para
gerar as URHs foi o da rea de drenagem maior ou
igual a 10 hectares, onde as informaes dominantes
de classe e cobertura do solo e declividade foram
utilizadas para alimentar o modelo.
O perfil do solo foi discretizado em camadas
nas quais foram utilizados dados mdios dos horizontes caractersticos de cada classe de solo com
base em levantamentos realizados nas bacias. Os
Latossolos e Cambissolos foram discretizados em
trs camadas e o Neossolo Flvico em apenas uma
ao longo do perfil do solo.
Foram selecionados os mtodos CurvaNmero (CAO et al., 2011) e Penman-Monteith
(ALLEN et al., 1998) para representao dos processos de escoamento superficial direto e evapotranspirao, respectivamente, pelo modelo.
Tabela 1 Parmetros influentes no processo de simulao de vazo pelo SWAT nas bacias estudadas
Parmetro
Alpha_Bf
Biomix
Blai
CANMX
CH_K2
CH_N2
CN2
EPCO
ESCO
GwQmn
GW_Delay
GW_Revap
Revapmn
Slope
SLSubBSN
Sol_ALB
Sol_AWC
Sol_K
Sol_Z
Surlag
Descrio
Coeficiente de recesso do escoamento de
base (dias)
Eficincia de mistura biolgica do solo
ndice de rea foliar mximo (m2.m-2)
Quantidade de gua mxima interceptada
pela vegetao (mmH20)
Condutividade hidrulica efetiva do canal
(mm.h-1)
Nmero de Manning
Curva-Nmero inicial para umidade II
Coeficiente de absoro de gua pelas
plantas
Coeficiente de compensao de evaporao de gua do solo
Limite de gua no aqufero raso para ocorrncia de fluxo de base (mmH20)
Intervalo de tempo para recarga do aqufero (dias)
Coeficiente de ascenso da gua zona
saturada
Limite de gua no solo para ocorrncia da
ascenso capilar zona saturada (mmH20)
Declividade mdia da sub-bacia (mm)
Comprimento mdio da encosta da subbacia (m)
Albedo do solo
Capacidade de armazenamento de gua no
solo (mmH2O.mmsolo-1)
Condutividade hidrulica saturada do solo
(mm.h-1)
Profundidade da camada de solo (mm)
Coeficiente de retardamento do escoamento superficial (dias)
181
RESULTADOS E DISCUSSO
O SWAT gerou para a BHRJ 1608 URHs
que foram agregadas em 130 sub-bacias, enquanto
que para a BHRM foram geradas 186 URHs, distribudas em 19 sub-bacias.
A anlise de sensibilidade indicou os parmetros apresentados na Tabela 2 como os mais sensveis e estes foram aplicados nas configuraes de
calibrao aqui estudadas. Os parmetros esto listados segundo a ordem de sensibilidade obtida e
com o respectivo valor calibrado.
Tabela 2 Parmetros e respectivos valores calibrados
para a BHRJ e BHRM.
Anlises estatsticas
BHRJ
Para avaliar a qualidade de ajuste do modelo aos dados observados foi utilizado o coeficiente
de eficincia de Nash-Sutcliffe (CNS Equao 2)
(NASH & SUTCLIFFE, 1970) e o percentual de vis
das vazes simuladas em relao s observadas (Pbias
Equao 3) (KUMAR, 2008).
n
QOBSi QSIM i
C NS 1 i n1
QOBSi QOBS
i 1
Pbias
Q
QOBS
SIM
Q
OBS
Parmetro
100
(2)
(3)
Parmetro
Valor
calibrado
Alpha_Bf
1,0
Alpha_Bf
CN2
-25,0%*
Sol_Z
-24,9%*
GwQmn
660,54 mm
GwQmn
680,6 mm
ESCO
0,84
ESCO
0,68
Sol_Z
-25,0%*
CN2
-25,0%*
Sol_AWC
23,2%*
Sol_AWC
25,0%*
CH_N2
0,0
Blai
0,21 m2.m-2
-2
0,99
Blai
0,0 m .m
Gw_Revap
0,029
CANMX
0,98 mm
CANMX
0,0 mm
Gw_Revap
0,036
Slope
24,9%*
Em que:
QOBSi = vazo observada no dia i (m3.s-1);
QSIMi = vazo simulada no dia i (m3.s-1);
3 -1
Q OBS = vazo mdia observada (m .s );
3 -1
Q SIM = vazo mdia dos dados simulados(m .s ).
n = nmero de eventos
Alpha_Bf
0,0
Alpha_Bf
1,0
CN2
-25,0%*
GwQmn
0,0 mm
GwQmn
0,0 mm
ESCO
0,0
ESCO
0,0
CN2
-25,0%*
calibrado
BHRM
Valor
Alpha_Bf
0,0115
Alpha_Bf
0,0115
CN2
-20,0%*
GwQmn
3,0 mm
GwQmn
3,0 mm
ESCO
0,50
ESCO
0,50
CN2
-20,0%*
182
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
Seguindo esse raciocnio, a calibrao manual torna-se eficiente medida que permite ao
hidrlogo inserir seus conhecimentos referentes
rea em estudo e representar as caractersticas fsicas
da bacia de maneira mais acurada. Diante da dificuldade apresentada pelo modelo em fornecer valores condizentes com a realidade geomorfolgica das
bacias nos processos de calibrao automtica dos
parmetros foram utilizados como base para validao os valores dos parmetros do processo de calibrao manual.
O valor ajustado para o parmetro Alpha_Bf
(0,0115) corresponde a 200 dias de recesso. Esse
parmetro foi de difcil calibrao devido caracterstica particular exercida pelo fluxo subterrneo
tanto sobre a BHRJ quanto sobre a BHRM. H ocorrncia de alguns eventos chuvosos de cunho isolado
nestas bacias ao longo dos meses do perodo considerado seco (maio a setembro) que no contribuem
de maneira substancial com a recarga do aqufero
raso, mas dificultam a identificao do perodo de
recesso propriamente dito.
O parmetro ESCO surge no modelo para
corrigir uma deficincia conceitual em sua formulao. O SWAT admite que no primeiro centmetro
50% da demanda evaporativa atendida e que aos
10 centmetros 95% dessa demanda suprida. Esse
conceito afeta o modelo gerando uma reduo da
evapotranspirao real haja vista que a demanda de
gua pela atmosfera no era atendida. O valor calibrado (0,50) indica que pelo menos 50% da demanda evaporativa do solo atendida pelos centmetros superiores da camada, sendo o restante fornecido por camadas inferiores do solo.
O parmetro GwQmn representa o limite
inferior onde abaixo do qual no h escoamento
base. O valor de trs milmetros calibrado para ambas as bacias foi considerado representativo, visto
que ele permite uma maior movimentao de gua
no perfil do solo e, consequentemente, maior contribuio para o fluxo de base. Esse parmetro foi de
difcil calibrao devido falta de indicaes diretas
nas bacias.
O parmetro CN2 apresentou alta sensibilidade durante o processo de calibrao manual nas
duas bacias hidrogrficas, tendo os seus valores iniciais reduzidos em 20%. O valor calibrado para a
BHRJ variou entre 44 e 70 com valor mdio representativo da bacia de 57, j para BHRM a faixa de
variao foi a mesma, porm com mdia de 56. Por
se tratarem de bacias estritamente agrcolas os valores so considerados adequados, entretanto, percebeu-se que quanto maior a discretizao das bacias
em subunidades a representao deste parmetro
Dos parmetros indicados como mais sensveis pelo modelo para ambas as bacias, a maioria
representa o comportamento da gua no solo, a
exceo dos parmetros CN2 e CH_N2 que esto
diretamente ligados ao escoamento superficial direto e dos parmetros ESCO, Blai e CANMX os quais
referem-se evapotranspirao.
Esses parmetros foram identificados como
os mais sensveis em diversos trabalhos cientficos
que verificaram o desempenho do modelo SWAT na
simulao hidrolgica em bacias hidrogrficas brasileiras, destacando-se os de Dures et al. (2011), Lelis
et al. (2012), Andrade et al. (2013) e Pinto et al.
(2013) no Estado de Minas Gerais. Conforme Neitsch et al. (2005), em se tratando da calibrao do
SWAT, os parmetros CN2, ESCO e Alpha_Bf so de
ajuste prioritrio em se tratando da simulao do
escoamento pelo modelo.
Percebe-se que os valores calibrados no processo manual so distintos dos obtidos pelo mtodo
automtico em ambas as bacias. Isso ocorre pelo fato
de que o algoritmo empregado pelo modelo busca
uma otimizao global da varivel resposta estudada
(escoamento) com base em uma funo-objetivo
que avalia o efeito de cada parmetro no processo
de simulao. Dessa forma, a seleo incoerente de
um determinado valor para o parmetro pode ser
compensada pelo valor de outro parmetro, provocando assim um efeito cascata de valores incoerentes
em relao realidade fsica das bacias (GREEN &
GRIENSVEN, 2008). Esta situao foi observada
principalmente para os parmetros Alpha_Bf e
GwQmn nas configuraes das calibraes automticas em ambas as bacias.
Vale ressaltar tambm que apesar de ser
descrito como um modelo hidrolgico distribudo, o
SWAT no permite que informaes associadas
principalmente aos atributos fsicos do solo, sejam
inseridas no modelo em carter distribudo e sim
sob a forma de valores mdios, fato que afeta substancialmente a simulao do escoamento e, por
conseguinte, do balano hdrico nas bacias hidrogrficas.
A afirmao anterior comprovada medida que o modelo indica o aumento ou reduo dos
valores dos parmetros que representam caractersticas reais da bacia, tais como declividade (Slope),
profundidade das camadas de solo (Sol_Z), condutividade hidrulica do solo (Sol_K) e armazenamento
de gua no solo (Sol_AWC). Tal situao admitida
quando no se tem informaes da rea objeto de
estudo ou em bacias no instrumentadas como explicitado por Cibin et al. (2013).
183
desempenho do ndice Pbias que apresentou resultados melhores em comparao com o CNS.
Sexton et al. (2010) encontrou valores de
CNS variando entre 0,42 e 0,58 na fase de calibrao
e de 0,54 a 0,76 na fase de validao para uma bacia
com aproximadamente 50km2 nos Estados Unidos
empregando dados de radar e estaes convencionais para simulao do escoamento. Lelis et al.
(2012) tambm obtiveram resultados satisfatrios na
simulao do escoamento em uma bacia de mesoescala com valores de CNS entre 0,85 e 1,00.
O desempenho satisfatrio verificado na
mesoescala no foi observado na simulao do escoamento na microescala. A BHRM apresentou valores
de CNS satisfatrios para as calibraes automticas,
no entanto, os valores dos parmetros no representam a realidade da bacia. Contudo, a calibrao
manual e a validao apresentaram desempenho
inadequado. O ndice Pbias indicou uma simulao
satisfatria no perodo de calibrao, porm inadequado para a fase de validao.
Na Figura 6 esto apresentados os hidrogramas observado e simulado alm do hietograma
para a BHRM. possvel observar forte superestimativa no perodo de recesso e de vrios eventos de
pico ao longo da srie. Outro ponto a ser destacado
a magnitude das vazes observadas no ano hidrolgico 07/08 que no apresentaram picos equivalentes aos outros anos da srie. Nesse perodo as precipitaes ficaram dentro da mdia, porm a sua distribuio foi mais uniforme, afetando vazes mximas extremas.
Os resultados obtidos para a BHRM confrontam os resultados obtidos por Pinto et al. (2013)
que ao trabalhar em uma microbacia de cabeceira
obtiveram CNS de 0,81 e 0,79 para as fases de calibrao e validao, respectivamente; e Green & Griensven (2008) que avaliaram o desempenho do SWAT
em 6 microbacias e encontraram um CNS variando
entre 0,79 a 0,86 no processo de calibrao automtica e manual.
O SWAT foi desenvolvido com o propsito
de representar o escoamento em bacias de mdio e
grande portes no instrumentadas. Em grandes
bacias h uma amortizao dos fenmenos hidrolgicos associados dinmica da gua no solo e so
mais destacados os fenmenos de propagao do
escoamento sobre a superfcie e na rede de drenagem. Nas microbacias os fenmenos se processam
de maneira mais instantnea com uma dinmica
maior, fato que pode ter provocado a instabilidade
do modelo em representar o escoamento na BHRM.
Um dos fatores que contriburam para o desempenho no satisfatrio do SWAT na simulao do es-
BHRM
Fase
AC10
AC4
Manual
Validao
AC10
AC4
Manual
Validao
CNS
0,71
0,54
0,58
0,46
0,53
0,39
0,25
-1,37
Pbias
-18,52
-49,50
9,41
-7,73
-13,58
18,61
19,73
28,12
184
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
Figura 5 Hidrogramas observado e simulado a partir dos parmetros da calibrao manual e hietograma para a BHRJ.
Figura 6 Hidrogramas observado e simulado a partir dos parmetros da calibrao manual e hietograma para a BHRM.
185
CAO, H.; VERVOORT, R. W.; DABNEY, S. M. Variation in curve numbers derived from plot runoff data
for New South Wales (Australia). Hydrological Processes, v.25, p. 3774-3789, 2011.
CONCLUSES
O modelo hidrolgico SWAT representou
de forma satisfatria o escoamento para a bacia
hidrogrfica do Ribeiro Jaguara conforme expressaram os ndices estatsticos aplicados na anlise de
desempenho do modelo.
Em contrapartida, o SWAT no apresentou
o mesmo desempenho expresso na mesoescala para
a microescala. O modelo demonstrou-se deficiente
na simulao do escoamento na microbacia hidrogrfica do Ribeiro Marcela promovendo grandes
desvios entre os dados observados e simulados.
REFERNCIAS
DURES, M. F.; MELLO, C. R.; NAGHETTINI, M.
Applicability of the SWAT model for hydrologic
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186
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 177-188
KUMAR, S. Studying the effect of spatial scaling on hydrologic model calibration using soil and water assessment tool
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solos, uso atual e aptido agrcola das terras de microbacia
piloto na regio sob influncia do reservatrio da hidreltrica de Itutinga/Carmargos-MG. Lavras: UFLA/CEMIG,
2001. 51 p.
ABSTRACT
Hydrological modeling is a useful tool for predicting water dynamic behavior in a given basin and therefore
187
a detailed estimate of the water balance is valuable information for water resources management. However, the
phenomena governing the water cycle exhibit heterogeneous
distribution, both in space and in time, which complicates
their estimation. From this perspective, the purpose of this
study was to evaluate the performance of the SWAT (Soil
and Water Assessment Tool) model in the runoff estimated
in two basins with different spatial scales. The model was
applied to Jaguara Creek Watershed (JCW - mesoscale) and
Marcela Creek Watershed (MCW - microscale), both with
Latosols predominating in the region of Alto Rio Grande.
Statistical indices were applied to evaluate the qualitative
and quantitative accuracy of the model in the runoff simulation. The SWAT simulated the runoff for JCW satisfactorily presenting a Nash-Sutcliffe coefficient between 0.58
and 0.71 in the calibration phase and 0.46 in the validation phase. In contrast, the performance of the microscale
model was inadequate, with statistical index values below
the limits recommended in the literature.
Key-words: estimated flow, microscale, mesoscale, performance model.
188
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
RESUMO
A quantidade e qualidade da gua tornaram-se um problema comum em muitas bacias hidrogrficas localizadas
em pases com rpido desenvolvimento. Lidar com este problema requer a utilizao de sofisticadas ferramentas de planejamento de recursos hdricos. O aumento populacional e industrial no municpio de Uberlndia (Minas Gerais) tem gerado
conflitos de interesse pessoal e coletivo no uso mltiplo da gua no Rio Uberabinha, que resulta na necessidade de um gerenciamento integrado de quantidade e qualidade da gua. Este artigo explica o desenvolvimento do sistema de suporte deciso AQUATOOL na bacia hidrogrfica do Rio Uberabinha, para o planejamento e gerenciamento, incluindo modelo de
quantidade e qualidade. A parte quantitativa consistiu na modelagem hidrolgica chuva-vazo e, na sequncia, no desenvolvimento de uma modelagem quantitativa atravs do mdulo SIMGES para o perodo de outubro de 2006 at setembro de
2011. A modelagem de qualidade da gua foi realizada atravs do mdulo GESCAL, o qual est conectado com o mdulo
SIMGES. Os parmetros estudados foram oxignio dissolvido, demanda bioqumica de oxignio, nitrognio orgnico, amnia, nitrato e fsforo total. Os cenrios de intervenes evidenciam a necessidade de escolha de novos locais, fora da bacia
hidrogrfica do Rio Uberabinha, para captaes de gua utilizadas no abastecimento pblico na cidade de Uberlndia. O
desacordo com a DN COPAM-CERH 01:2008 dos parmetros demanda bioqumica de oxignio e fsforo total, nos meses
menos chuvosos, tambm evidenciam a necessidade de escolha de novos locais para lanamentos pontuais de cargas poluidoras adicionais advindas da principal Estao de Tratamento de Efluente do municpio.
Palavras-chave: Modelagem de quantidade e qualidade da gua, Sistema de suporte deciso AQUATOOL, Mdulo
SIMGES, Mdulo GESCAL, Rio Uberabinha
INTRODUO
A existncia ou no da gesto adequada dos
recursos hdricos na escala da bacia hidrogrfica
um indicativo real do grau de desenvolvimento econmico e scio-ambiental de uma regio ou pas.
Neste contexto, os maiores conflitos de uso mltiplo
da gua ocorrem em bacias hidrogrficas com elevadas densidades populacionais, nas quais as elevadas demandas consuntivas, os efluentes lanados
pontualmente com eficincia insuficiente de reduo da carga poluidora e os defensivos agrcolas e
fertilizantes carreados superficialmente de forma
difusa, comprometem a capacidade de
1-
lndia
2-
189
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
MATERIAL E MTODOS
SSD AQUATOOL
Existem poucas ferramentas ou modelos
computacionais que simulam a qualidade de gua
(mdulo GESCAL) vinculada quantidade (mdulo
SIMGES) na escala da bacia hidrogrfica. Andreu et
al. (1996) desenvolveram o SSD denominado AQUATOOL, que uma interface para a edio,
simulao, reviso e anlise de modelo de simulao
de gesto de bacias hidrogrficas, incluindo o mdulo de simulao da qualidade da gua em ambientes
lnticos e lticos, muito til na Europa, frica, sia
e Amrica Latina (PAREDES-ARQUIOLA et al.,
2010a e 2010b; NAKAMURA, 2010; SULIS & SECHI,
2013).
Mdulo SIMGES
utilizado na simulao da vazo em rios,
crregos e reservatrios na escala da bacia hidrogrfica, a partir da definio espacial e quantitativa das
descargas (retiradas pontuais para irrigao, indstria, mineradora, consumo humano, entre outros),
das recargas (afluentes pontuais e difusos superfici-
190
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
de primeira ordem e da sedimentao da frao
particulada.
As principais caractersticas admitidas pelo
mdulo GESCAL foram:
ais e subterrneos) e dos requisitos ambientais definidos pelos rgos ambientais. Este mdulo permite: simular quantitativamente qualquer bacia hidrogrfica que possua regra de gesto definida por
Comit de Bacia Hidrogrfica; definir as prioridades
de demanda para garantir a vazo ecolgica mnima
e a qualidade de gua mnima em respeito classificao do curso de gua (Resoluo CONAMA
357:2005 para o territrio nacional e Deliberao
Normativa Conjunta COPAM-CERH 01:2008 para o
Estado de Minas Gerais); definir as vantagens e desvantagens das variaes da vazo frente a um ou
mais usos prioritrios; simular a capacidade de
bombeamento para dada demanda frente aos requisitos mnimos de reservao.
As simulaes so executadas atravs de um
algoritmo de otimizao de rede de fluxo, que controla a vazo superficial dentro da bacia hidrogrfica
objetivando, ao mesmo tempo, minimizar os dficits
e maximizar os nveis lquidos nos reservatrios para
demandas como irrigao, consumo humano, produo hidreltrica, etc. Para isso, algumas caractersticas so admitidas pelo mdulo, tais como: clculo
das descargas e recargas simplesmente pelo balano
de massa; com relao aos aqferos, a vazo pode
ser simulada por modelos simples, multicelulares e
lineares distribudos; considera as perdas por evaporao e infiltrao em reservatrios de acumulao e
leitos de rio, alm das interaes existentes entre
guas superficiais e subterrneas.
De uma forma geral e independente do parmetro estudado, atravs do balano de massa dentro de um trecho de rio, chega-se na equao diferencial de simulao, conforme equao (1).
Mdulo GESCAL
Com o propsito de simular a qualidade da
gua vinculada ao gerenciamento quantitativo em
ambientes lnticos e lticos previamente definidos
no mdulo SIMGES, Paredes et al. (2009) desenvolveram o mdulo de qualidade da gua GESCAL,
que permite simular a qualidade da gua em diferentes condies quantitativas. Os parmetros de
qualidade que o mdulo permite simular incluem
temperatura, slidos suspensos, oxignio dissolvido,
matria orgnica carboncea, nitrognio orgnico,
amnia, nitrato, fsforo total e fitoplncton clorofila a. No processo de modelagem adotado neste
artigo, foi considerada a relao do ciclo do nitrognio e da matria orgnica carboncea entre si e o
efeito sobre o oxignio dissolvido, alm do fsforo
total como um parmetro no qual o processo de
degradao foi modelado atravs de uma cintica
0=
d dC d u .C Sd C e .qe C s .q s Wi
(1)
E.
dx dx
dx
V
191
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
um determinado parmetro na massa lquida, dependente da degradao, da sedimentao, reaerao, nitrificao, crescimento e respirao de fitoplncton e adsoro.
rea de estudo
A bacia hidrogrfica do Rio Uberabinha est
localizada na regio oeste do Estado de Minas Gerais, entre as coordenadas 183349" e 192433" de
latitude Sul e 475030" e 484018" de longitude
Oeste (Figura 1). A nascente encontra-se no municpio de Uberaba e percorre aproximadamente 140
km at a sua foz no rio Araguari. Possui uma rea de
aproximadamente 22 mil km2, com cotas altimtricas entre 550 m e 1000 m e precipitaes mdias
anuais entre 1248 a 1869 mm (para os anos de 2006
a 2011). Integram a bacia hidrogrfica os municpios de Uberaba, Uberlndia e Tupaciguara. A populao residente de aproximadamente 650 mil
habitantes, distribuda no municpio de Uberlndia
e no distrito de Martinsia. Das trs Estaes de
Tratamento de Esgoto - ETE existentes no municpio de Uberlndia, 95% da carga poluidora tratada na ETE Uberabinha, a qual lana pontualmente
seu efluente no baixo curso do Rio Uberabinha.
A bacia hidrogrfica possui duas Pequenas
Centrais Hidreltricas tipo fio de gua a jusante do
lanamento pontual da ETE - Uberabinha (PCH
Martins e PCH Malagone, na sequncia).
Os principais usos das guas do Rio Uberabinha esto vinculados ao consumo humano, dessedentao de animais, irrigao (cana-de-acar, soja
e milho), indstrias alimentcias e gerao de energia eltrica (ROSOLEN et al., 2009). As demandas
superficial e subterrnea de gua outorgadas para
consumo humano, irrigao, indstria e dessedentao de animais em 2006 foram de 17,07 e 1,61
Modelagem quantitativa
O procedimento inicial foi definir a topologia do modelo dentro da ferramenta AQUATOOL,
que refere-se basicamente ao esquema situacional da
bacia hidrogrfica do Rio Uberabinha, no qual esto
includos, sem escala, os elementos do modelo (Figura 2). Para otimizar a visualizao desta figura,
foram retirados os elementos que representam a
distribuio difusa ao longo do trecho de rio.
Neste estudo, o Rio Uberabinha foi dividido
em 3 trechos, no qual cada trecho identificado por
192
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
um ponto numerado a montante e outro a jusante.
(Figura 2). As simulaes quantitativas, no perodo
de outubro de 2006 at setembro de 2011, foram
realizadas atravs do mdulo SIMGES aps o traado do esquema do modelo e a alimentao de dados
quantitativos de entrada solicitados, tais como afluentes rurais e urbanos, descargas difusas rurais e
urbanas, ETE - Uberabinha e demandas consuntivas.
Dados de entrada
Afluentes
Os dados fluviomtricos existentes no alto
curso do Rio Uberabinha (cdigo 60381000 - ponto
1 - Figura 1) foram utilizados diretamente como
dados de entrada na simulao quantitativa. As vazes difusas e pontuais dos afluentes rurais e urbanos foram estimadas atravs de modelos hidrolgicos chuva-vazo.
Foi utilizado no estudo o mtodo do nmero da curva CN, desenvolvido pelo Soil Conservation
Service, para as sub-bacias urbanas. Trata-se de um
modelo distribudo, com elevada aceitao mundial
devido ao reduzido nmero de parmetros e relao
destes com as caractersticas fsicas da bacia (REZENDE, 2012). Em uma mesma sub-bacia urbana,
existem reas permeveis e impermeveis com diferentes tipos de ocupao do solo. Este mtodo estima o nmero CN resultante em cada sub-bacia urbana considerando essas diferentes reas (rural,
urbana e industrial). As diferentes reas foram obtidas atravs de uma ferramenta GIS, diretamente na
plataforma GoogleEarth atravs do traado perimetral.
Nas sub-bacias rurais foi utilizado o modelo
HBV, desenvolvido por Bergstrm (1995). Trata-se
de um modelo semi-distribudo conceitual, que
utiliza os processos mais importantes integrantes do
escoamento superficial, atravs de uma estrutura
simples e com reduzido nmero de parmetros.
Trabalha com escala temporal diria ou mensal e
utiliza como dados de entrada as sries de precipitao, temperatura atmosfrica e evapotranspirao
mdia mensal (HUNDECHA & BRDOSSY, 2004).
As descries detalhadas das equaes de estado, das
equaes que regulam os processos de transferncia
hdrica e do restante do ciclo hidrolgico utilizadas
no modelo HBV podem ser obtidas em ParedesArquiola et al. (2011).
Os parmetros do modelo HBV foram calibrados atravs do algoritmo evolutivo de calibrao
SCE-UA (Shuffled Complex Evolution method, University
of Arizona). Para isso, os resultados das sries tempo-
ETE - Uberabinha
As vazes da ETE - Uberabinha foram calculadas atravs da equao da vazo de distribuio de
gua para consumo multiplicada pelo coeficiente de
retorno que, de acordo com a NBR ABNT
9649:1986 e 14486:2000, fixado em 0,80 quando
no existem dados locais comprovados e oriundos
de pesquisas.
Demandas pontuais consuntivas
Os dados referentes s demandas superficiais outorgadas e georreferenciadas para consumo
humano, irrigao, indstria e dessedentao de
animais foram obtidos junto Agncia de Bacia
Hidrogrfica do Rio Araguari, a partir de dados
cadastrados no ano de 2006. As duas maiores demandas consuntivas esto relacionadas s captaes
superficiais para abastecimento pblico de Uberln-
193
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
dia, a primeira a montante de ponto 1 (estao cdigo 60381000) e a segunda no Ribeiro Bom Jardim, com demandas respectivas de 11,617 e 5,897
hm3/ms. Para os demais afluentes rurais e os urbanos, a demanda variou entre 0,002 a 0,419 hm3/ms.
A demanda consuntiva difusa total foi de 0,011
hm3/ms.
Modelagem qualitativa
A modelagem de qualidade da gua e calibrao dos coeficientes de reaes bioqumicas e
velocidades de sedimentao foram realizadas no
perodo de outubro de 2006 at setembro de 2011.
Neste perodo, a PCH Martins ainda no havia iniciado o processo de enchimento do reservatrio de
acumulao, o que fez com que esta regio fosse
considerada como trecho de rio no processo de
modelagem qualitativa da gua.
Os parmetros de qualidade da gua
simulados foram: oxignio dissolvido (OD), demanda bioqumica de oxignio (DBO5), nitrognio orgnico (NO), nitrognio amoniacal (NH4+), nitrato
(NO3-) e fsforo total (PTotal). Dentro da ferramenta
AQUATOOL, a modelagem qualitativa atravs do
mdulo GESCAL posterior modelagem quantitativa, cujas simulaes foram realizadas aps a alimentao dos dados de qualidade dos afluentes e da
ETE - Uberabinha em arquivo tipo bloco de notas.
Os dados de qualidade da gua do ponto 1 (Figuras
1 e 2) foram obtidos junto ao Instituto de Gesto das
guas Mineiras - IGAM e da ETE - Uberabinha foram fornecidos pela Superintendncia Regional de
Regularizao Ambiental do Alto Paranaba e Tringulo Mineiro (SUPRAM). Os dados de qualidade
da gua dos crregos rurais foram estimados como
similares aos dados do ponto 1, em funo da similaridade de uso do solo nessas sub-bacias. J os dados de qualidade da gua dos crregos urbanos
foram estimados como similares aos encontrados
por Salla et al. (2011) nos crregos do leo e do
Liso (respectivamente, afluentes 12 e 13 das Figuras
2 e 3). A Tabela 1 ilustra os dados de entrada de
qualidade da gua utilizados na modelagem.
Diante da limitao deste estudo com relao falta de monitoramento de qualidade da gua
nos crregos rurais e urbanos, realizou-se uma anlise de sensibilidade na qualidade final da gua nos
pontos 2, 3 e 4, diante das variaes dos parmetros
de qualidade da gua nestes crregos. Nesta anlise
considerou-se, como situao mais crtica, aquela em
Parm.
OD
Unid.
mgO.L-1
Crregos
Crregos
rurais
urbanos
Uberabinha
7,370,34a
6,520,52a
0,00,0a
6,6-8,2b
3,8-8,4b
0,0-0,0b
DBO5
mgO.L-1
NO
mgN.L-1
2,50,95
2,0-12,0
4,683,05
0,160,08a
b
0,10-0,50
mgNH4+.L-1
mgNO3-.L-1
PTotal
mgP.L-1
mnimo - mximo
0,140,05a
b
0,10-0,53
19,00,0a
19,0-19,0b
0,110,02
0,390,31
46,6014,95a
0,10-0,20b
0,02-2,8b
25,0-87,0b
Nitrato
134,4059,70a
63,25-293,00b
2,0-30,0
Amnia
ETE -
0,070,04
0,050,00
0,490,43a
0,01-0,18
0,05-0,05
0,01-1,40b
0,0160,008a
0,250,11a
6,372,56a
0,01-0,05
0,09-1,40
0,50-22,0b
194
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
Cenrios
Finalizadas a calibrao e a anlise da
sensibilidade, quatro cenrios com intervenes de
carter qualitativo e quantitativo foram avaliados.
No Cenrio 1 avaliou-se a proporo necessria de
melhoria na eficincia da ETE - Uberabinha a fim
de atender aos requisitos mnimos da Deliberao
Normativa Conjunta COPAM/CERH 01:2008. Nos
outros cenrios foram avaliados os impactos na autodepurao do rio Uberabinha devido s variadas
intervenes quantitativas: o Cenrio 2 considerou a
no captao de gua superficial no alto curso do
Rio Uberabinha e Ribeiro Bom Jardim para o abastecimento urbano do municpio de Uberlndia e a
manuteno das demais demandas consuntivas outorgadas; o Cenrio 3 considerou a retirada mxima
de demanda consuntiva permitida pela Portaria
IGAM n 49/2010, que de 30% da vazo crtica
Q7,10, em todos os afluentes rurais e manuteno das
demandas urbanas j cadastradas; o Cenrio 4, a
partir da situao mais crtica possvel, considerou
vazo crtica Q7,10 em toda a bacia hidrogrfica e
retirada de demanda mxima permitida para os
afluentes rurais (30% de Q7,10). Nos Cenrios 2, 3 e
4, a fim de adequar os parmetros de qualidade
DN COPAM/CERH 01:2008 ao longo do trecho
estudado, algumas propostas para reduo da carga
orgnica lanada pontualmente pela ETE - Uberabinha so apresentadas.
195
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
Figura 4 - Modelagem hidrolgica do alto curso do Rio Uberabinha, no qual: (a) perfil dos dados observados
e simulados entre 1997 e 2011; (b) vazo total anual observada e simulada entre 2001 e 2011;
(c) vazo mdia mensal observada e simulada
Figura 5 - (a) variao da vazo simulada nos quatro pontos definidos na bacia hidrogrfica;
(b) perfil longitudinal das vazes simuladas nos meses menos e mais chuvosos juntamente com valores de vazes mdias,
mximas e mnimas observadas
196
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
regos urbanos similares aos dados encontrados por
Salla et al. (2011). Por meio da anlise da sensibilidade constatou-se como mxima variao obtida,
respectivamente, nos pontos 2, 3 e 4: a diminuio
de 8,3%, 8,6% e 10,8% para o OD; aumento de
23,8%, 11,5% e 12,3% para a DBO5; aumento de
20,6%, 3,8% e 4,6% para o nitrognio orgnico;
aumento de 23,6%, 4,5% e 9,6% para a amnia;
aumento de 19,6%, 14,7% e 14,4% para o nitrato;
aumento de 37,1%, 15,7% e 15,6% para o fsforo.
Esta anlise de sensibilidade enfatiza ainda mais a
importncia do freqente monitoramento da quantidade e qualidade da gua em cursos de gua menores, como subsdio para adequada calibrao de
modelo.
A classificao dos corpos de gua no territrio brasileiro definida pela Resoluo CONAMA
357:2005. Alm desta resoluo, o Estado de Minas
Gerais possui uma Deliberao Normativa prpria
(DN COPAM-CERH 01:2008), similar Resoluo
CONAMA 357:2005 com relao aos parmetros de
qualidade estudados. De acordo com a DN COPAMCERH 01:2008, o Rio Uberabinha est enquadrado
na Classe 2, na qual deve-se respeitar os seguintes
limites: oxignio dissolvido 5,0 mgO/L; DBO5
5,0 mgO/L; amnia 3,7 mgNH4+/L;
nitrato
10,0 mgNO3-/L; fsforo (ambiente ltico) 0,1
mgP/L.
Todavia, diante de uma anlise geral dos
perfis longitudinais dos parmetros de qualidade
simulados nos meses mais e menos chuvosos (Figura
6), observam-se desacordos com relao aos parmetros DBO5 e fsforo total. No baixo curso do Rio
Uberabinha, desde a confluncia da ETE - Uberabinha com o rio principal at o ponto 4 (trechos nomeados como Uberabinha 2 e 3), os parmetros
DBO5 e fsforo total comportam-se como classe 3. A
DBO5 manteve-se entre 5,1 a 6,8 mgO/L no ms
mais chuvoso e entre 6,2 a 9,1 mgO/L no ms menos chuvoso. Com relao ao parmetro fsforo
total para ambiente ltico, este manteve-se entre
0,10 a 0,14 mgP/L no ms mais chuvoso e entre 0,17
a 0,28 mgP/L no ms menos chuvoso. As maiores
concentraes de DBO5 e fsforo total no ms menos chuvoso esto associadas diminuio da capacidade de autodepurao natural e de diluio de
poluentes para vazes reduzidas.
A anlise geral das sries temporais dos valores observados dos parmetros de qualidade (Figura 6) mostra um comportamento em desacordo
com as preconizaes da DN COPAM-CERH
01:2008 apenas em datas isoladas nos quatro pontos
RESULTADOS
Modelagem quantitativa
Com relao ao modelo hidrolgico para as
bacias rurais utilizou-se o modelo HBV, a partir dos
dados observados no ponto 1 (estao 60381000).
De acordo com a Figura 4(a), observa-se que a aplicao deste modelo na sub-bacia do alto curso do
Rio Uberabinha forneceu resultados aceitveis, na
qual a calibrao realizada, por meio do algoritmo
evolutivo SCE-UA, alcanou 0,67 como valor mdio
para a funo objetivo. A modelagem hidrolgica
em rea rural favoreceu na simulao de qualidade
da gua, devido ao satisfatrio ajuste entre dados
observados e simulados para a vazo mdia mensal
obtido no perodo de poucas chuvas, conforme
ilustra a Figura 5(c).
J a modelagem hidrolgica em rea urbana, por meio do mtodo da curva CN, forneceu
comportamento perene para todos os afluentes
urbanos, exceo feita s descargas difusas no perodo sem chuva. As maiores vazes dos afluentes
urbanos foram obtidas em dezembro de 2006, alcanando 3,32 m3/s no Afluente 8, 5,92 m3/s no
Afluente 11, 3,15 m3/s no afluente 12 e 8,29 m3/s
para a descarga difusa urbana.
Os resultados das simulaes hidrolgicas
urbanas e rurais foram utilizados como dados de
entrada para as simulaes quantitativas no mdulo
SIMGES, no perodo de outubro de 2006 at setembro de 2011. As simulaes forneceram resultados
satisfatrios e que traduzem bem a realidade hdrica
na bacia hidrogrfica. De acordo com a Figura 5(a),
a vazo simulada no ponto 1 variou entre 10,2 a
152,7 hm3/ms, no ponto 2 houve aumento significativo em funo da confluncia com o Ribeiro
Bom Jardim, variando entre 29,5 a 235,9 hm3/ms,
enquanto que nos pontos 3 e 4 manteve-se entre
31,5 a 243,0 hm3/ms e 37,1 a 259,5 hm3/ms, respectivamente. J a Figura 5(b) ilustra os perfis longitudinais das vazes simuladas em meses menos e
mais chuvosos, juntamente com o valores das vazes
mdia, mxima e mnima observadas no ponto 1.
Devido rea impermeabilizada existente na rea
urbana, nota-se maior variao de vazo superficial
por km entre os afluentes 7 e 11 (entre os kilmetros 13 e 31).
Modelagem qualitativa
Conforme j mencionado anteriormente, os
dados de qualidade dos crregos rurais foram considerados similares aos dados do ponto 1 e dos cr-
197
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
Figura 6 - Perfil longitudinal dos parmetros de qualidade simulados nos meses mais e menos chuvosos
e valores observados no rio Uberabinha
198
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
Comprimento
Ka
Kd
VSd
KNoa
VSNo
KNai
Kfosf.
VSfosf.
pontos
(km)
(dia-1)
(dia-1)
(m.dia-1)
(dia-1)
(m.dia-1)
(dia-1)
(dia-1)
(m.dia-1)
Uberabinha 1
1-2
27,06
-1; 0,05
0,02
0,01
0,2
0,001
0,1; 0,2
0,01
0,001
Uberabinha 2
2-3
3,15
0,04; 0,08
0,04; 0,06
0,01
0,2; 0,4
0,001; 0,01
0,1
0,01
0,001
Uberabinha 3
3-4
17,94
0,04
0,06
0,01
0,4
0,01
0,01
0,01
0,001
Trecho
nos primeiros 11,4 km no alto curso do Rio Uberabinha, desde o ponto inicial da modelagem (cdigo
ANA 60381000) at a confluncia com o Ribeiro
Bom Jardim (Afluente 5 - Figuras 2 e 3), o mtodo
de Covar apresentou bons ajustes entre dados observados e simulados para OD. As relaes hidrulicas
utilizadas foram: u = 0,240.Q0,391, h = 0,214.Q0,580 e b =
19,496.Q0,029, no qual Q a vazo mdia, u a velocidade mdia, h a profundidade lquida mdia e b
a largura da superfcie lquida.
Os valores de Ka = 0,04 dia-1 e Kd = 0,06 dia-1
no trecho Uberabinha 2 esto relacionados ao lanamento pontual de carga poluidora da ETE - Uberabinha.
As sries das simulaes e dados observados
dos parmetros de qualidade da gua nos trs pontos apresentaram bons ajustes, conforme ilustra a
Figura 7. A calibrao alcanou resultado considerado satisfatrio para os parmetros OD, DBO5,
amnia, nitrato e fsforo total, apesar da existncia
de alguns dados observados dispersos, principalmente do ano de 2010. A ausncia de dados observados de nitrognio orgnico prejudicou o ajuste
das simulaes nos trechos Uberabinha 1 e 2. Todavia, no trecho Uberabinha 3, apesar da existncia de
dados observados, a Figura 7(c) mostra que o ajuste
de nitrognio orgnico no foi satisfatrio.
Neste artigo realizou-se a anlise de sensibilidade s alteraes de +10% e -10% nos valores de
Ka, Kd, KNoa e KNai. De uma forma geral, as variaes
dos coeficientes geraram poucas mudanas nos resultados previamente calibrados, cujas maiores amplitudes foram detectadas nos trechos Uberabinha 2
e 3. Nestes trechos, o valor calibrado de OD variou
0,8% pela alterao de Kd. O parmetro DBO5 apresentou sensibilidades de
0,3% devido alterao de Kd. O nitrognio orgnico variou 2,1%
devido s variaes de KNoa. A amnia variou 0,7%
e 0,09% devido ao KNoa e KNai, respectivamente. J
o nitrato apresentou 3,2% de variao devido ao
KNai.
Cenrios
Os quatro cenrios tiveram o propsito de
avaliar a capacidade de autodepurao natural do
Rio Uberabinha principalmente no seu baixo curso,
a jusante do lanamento pontual de carga poluidora
da ETE - Uberabinha, a partir de intervenes
qualitativas e quantitativas, cujos resultados esto
apresentados na Figura 8. No Cenrio 1 observa-se
que os parmetros fsforo total e DBO5 passam a
atender aos requisitos mnimos da Deliberao
Normativa Conjunta COPAM/CERH 01:2008 aps a
reduo, respectivamente, de 93,6% e 65,6% das
cargas poluidoras lanadas pontualmente pela ETE,
que corresponde a uma reduo mdia de 429,9
168,9 Kg/dia para o fsforo total e 6,1.103 2,3.103
Kg/dia para a DBO5.
No Cenrio 2, a no captao de gua superficial no alto curso do Rio Uberabinha e no Ribeiro Bom Jardim para o abastecimento pblico no
municpio de Uberlndia, aumentou consideravelmente a capacidade de diluio no mdio e baixo
curso diante do aumento de 33,7% na vazo.
Todavia, de acordo com a Figura 8, os parmetros DBO5 e fsforo total ainda mantiveram-se
em desacordo com a DN COPAM/CERH 01:2008,
no trecho desde a zona de mistura do efluente tratado com o Rio Uberabinha at o ponto 4, mantendo-se entre 6,92 a 7,65 mg/L para DBO5 e 0,20 a
0,23 mg/L para fsforo total. As redues de 84,7%
(mdia de 389,0 152,8 kg/dia) e 53,2% (mdia de
4,9.103 1,8.103 kg/dia) das cargas orgnicas para o
fsforo total e DBO5, respectivamente, seriam suficientes para as adequaes dos parmetros frente
DN COPAM/CERH 01:2008. A similaridade dos
resultados obtidos nos Cenrios 2 e 3 mostra que as
outorgas superficiais na bacia hidrogrfica do Rio
Uberabinha esto muito prximas da saturao de
30% da vazo crtica Q7,10 permitida pela Portaria
IGAM n 49/2010.
199
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
Figura 7 - Sries temporais das simulaes e dados observados: (a) ponto 2; (b) ponto 3; (c) ponto 4
200
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
de 8,9.103 818,9 kg/dia) para DBO5 e 97,7% (mdia de 449,1 122,6 kg/dia) para fsforo total.
CONCLUSES
O municpio de Uberlndia possui uma
densidade populacional muito superior mdia do
Estado de Minas Gerais, no qual o aumento populacional acentuado acarreta a deteriorao do principal curso de gua natural que atravessa o municpio.
Esta problemtica gerou a necessidade de realizao
de um diagnstico e posterior prognstico integrado de quantidade e qualidade de gua na bacia hidrogrfica do Rio Uberabinha. Para isso, foi utilizado no estudo o programa para gesto quantitativa
(mdulo SIMGES) e o programa para modelagem
qualitativa (mdulo GESCAL), ambos integrados ao
SSD AQUATOOL. Os parmetros de qualidade
considerados foram OD, DBO5, nitrognio orgnico, amnia, nitrato e fsforo total. O perodo para
calibrao do modelo de qualidade foi de outubro
de 2006 at setembro de 2011.
O modelo hidrolgico chuva-vazo aplicado
na rea rural apresentou o melhor ajuste entre dados observados e simulados no perodo de poucas
201
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
chuvas. Atravs da modelagem quantitativa no mdulo SIMGES, nota-se claramente a maior variao
da vazo superficial por km ao longo da rea impermeabilizada do permetro urbano.
A qualidade da gua estimada para os crregos menores no ocasionou alteraes significantes na qualidade da gua no rio Uberabinha, principalmente no baixo curso deste rio, como foi constatado atravs da anlise de sensibilidade realizada.
Todavia, no deve ser descartada a importncia do
freqente monitoramento em cursos de gua menores, como subsdio adequada calibrao do modelo.
No baixo curso do Rio Uberabinha, a jusante da ETE - Uberabinha, os perfis longitudinais no
ms menos chuvoso dos parmetros DBO5 e fsforo
total comportam-se como classe 3 (de acordo com a
DN COPAM/CERH 01:2008 e Resoluo CONAMA
357:2005), como conseqncia da diminuio da
capacidade de autodepurao natural e de diluio
de poluentes para vazes reduzidas. A calibrao dos
coeficientes de reaes bioqumicas e das velocidades de sedimentao alcanou satisfatrio ajuste
entres dados observados e simulados para os parmetros OD, DBO5, amnia, nitrato e fsforo total,
com valores dentro de limites definidos na literatura. A ausncia de dados observados para nitrognio
orgnico prejudicou o ajuste das simulaes para
este parmetro. As anlises das sensibilidades s
alteraes de +10% e -10% nos valores de Ka, Kd,
KNoa e KNai geraram poucas interferncias nos resultados previamente calibrados.
Os cenrios analisados tiveram o propsito
de prognosticar a capacidade de autodepurao
natural do Rio Uberabinha, principalmente a
jusante da ETE - Uberabinha, a partir de
intervenes qualitativas e quantitativas. Apenas com
a interveno na eficincia da ETE existente, no
Cenrio 1 prognosticou-se a necessidade acentuada
de melhoria na eficincia de reduo de DBO5 e
fsforo total. Melhoria esta talvez superior
capacidade de um tratamento tercirio, que
acarretaria na necessidade de lanamento de cargas
orgnicas adicionais em bacia hidrogrfica vizinha.
O Cenrio 2 mostra que, apesar do aumento
considervel na capacidade de diluio no mdio e
baixo curso do Rio Uberabinha, diante da no
captao superficial para consumo humano no alto
curso, ainda os parmetros DBO5 e fsforo total
mantiveram-se em desacordo com a DN COPAM/CERH 01:2008. Isso enfatiza ainda mais a
necessidade de melhoria na eficincia de tratamento
na ETE - Uberabinha. Tambm, a similaridade dos
prognsticos alcanados nos Cenrios 2 e 3 mostra
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pelo apoio ao processo n 1304/12-7.
REFERNCIAS
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202
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 189-204
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203
Sistema de Suporte Deciso em Recursos Hdricos na Bacia Hidrogrfica do Rio Uberabinha, Minas Gerais
ABSTRACT
Water supply and quality is becoming a common
problem in many river basins located in rapidly developing
countries. Dealing with the human water supply of cities
located in these basins requires sophisticated water planning processes. The increase in population and industry in
the city of Uberlandia (Minas Gerais) has generated private and collective conflicts of interest in the multiple use of
water in the Uberabinha River, thus requiring integrated
management of quantity and quality. This paper explains
the development of decision support system AQUATOOL in
the Uberabinha River Basin for water planning and management including water quantity and quality modeling.
The quantitative part consists of hydrological rain-flow
modeling and a subsequent water management model
developed with the SIMGES module for the period from
October 2006 to September 2011. The water quality model
was performed using the GESCAL module that is connected
with the SIMGES module. The parameters studied were
dissolved oxygen, biochemical oxygen demand, organic
nitrogen, ammonia, nitrate and total phosphorus. The
future scenarios simulated show the need to choose new
locations, outside the Uberabinha river basin, for the abstraction of water used in public water supply in
Uberlndia. The disagreement with the DN COPAMCERH 01:2008 regarding biochemical oxygen demand
and total phosphorus, in the months with less rain also
shows the need to choose new locations to discharge additional pollution loads coming from the main wastewater
treatment plant of the city.
Key-words: Water quantity and quality modeling, Decision
support system AQUATOOL, SIMGES module, GESCAL
module, Uberabinha river.
204
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por
meio do SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
Patrcia Kazue Uda*, Cludia Weber Corseuil*, Masato Kobiyama*
patricia.kazue@posgrad.ufsc.br; cwcorseuil@hotmail.com; masato.kobiyama@ufrgs.br
Recebido: 11/07/13 - revisado: 31/07/13 - aceito: 05/09/13
RESUMO
Informaes espaciais de evapotranspirao real podem ajudar a relacionar uso do solo e uso da gua, bem como,
auxiliar a compreenso das demandas hdricas em uma bacia hidrogrfica. O Surface Energy Balance Algorithm for Land
(SEBAL) um modelo que estima a evapotranspirao real distribuda pelo balano de energia superfcie, utilizando tcnicas de sensoriamento remoto. A bacia do alto Rio Negro (BARN) possui 3454 km2, localiza-se no Planalto Norte Catarinense
e no Primeiro Planalto Paranaense, com quase metade de sua rea coberta por Floresta Ombrfila Mista (FOM). A FOM
pertence ao bioma mata atlntica, que abriga de 1 a 8% do total de espcies de fauna e flora do planeta e tem, atualmente,
11,7% de sua rea original. Os objetivos deste estudo foram (i) estimar a evapotranspirao real na BARN por meio do
SEBAL e de imagens do sensor Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer (ASTER) em diferentes
usos e coberturas do solo; e (ii) avaliar e comparar as estimativas do SEBAL com dados obtidos pelo balano hdrico sazonal.
Para a aplicao do SEBAL foram utilizadas imagens ASTER de abril de 2006 e dados meteorolgicos. Foram observados os
menores valores mdios de evapotranspirao para as reas com maior interferncia antrpica, como solo exposto e reas
urbanas e os maiores para as reas mais conservadas, como florestas e gua. Solo exposto claro e rea urbana apresentaram
as menores mdias (2,2 e 2,4 mm dia-1, respectivamente). Para FOM, reflorestamentos de Pinus sp e gua, os valores observados foram de 4,1 mm dia-1, 4,3 mm dia-1 e 5,0 mm dia-1, respectivamente. As reas de floresta (abrangem 71% da bacia)
so as que mais contribuem para a perda de gua da bacia do alto Rio Negro e apresentam altas taxas evapotranspirativas.
Destaca-se a importncia de estudos relacionados ao papel da FOM e dos reflorestamentos no balano hdrico da bacia. Em
escala mensal, o SEBAL simula o comportamento sazonal da evapotranspirao em funo das condies climticas.
Palavras-chave: evapotranspirao real, SEBAL, ASTER, balano hdrico sazonal, bacia do alto Rio Negro.
INTRODUO
No mbito de bacias hidrogrficas, informaes quantitativas das ofertas e demandas hdricas
so indispensveis para o manejo adequado dos
recursos hdricos. Especificamente, a perda de gua
por evapotranspirao, constitui importante fase do
ciclo hidrolgico e sua quantificao pode ser utilizada na resoluo de questes que envolvem o manejo de gua, como o planejamento de reas de
cultivo irrigado, a determinao de nveis seguros de
aquferos, o planejamento de reservatrios de conteno para o controle de enchentes em reas urbanas e o projeto e otimizao de reservatrios de
gua para abastecimento pblico e industrial e gerao de energia (BRUTASERT, 1982; WARD &
TRIMBLE, 2004; TUCCI, 2007).
*
205
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio do SEBAL
(Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
485607O e as latitudes 264214S e 255532S
(Figura 1).
REA DE ESTUDO
A bacia hidrogrfica do alto Rio Negro
(BARN) possui rea de aproximadamente 3454 km2
e localiza-se entre as longitudes 495527O e
206
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
Tabela 1 - Principais caractersticas climticas da zona
agroecolgica 3B.
Temperatura (oC)
Mdia Mx. Mn.
15,5 a 26,6 a 10,8 a
17,0
24,0 11,8
Chuva
(mm ano-1)
1360 a 1670
Dias
Umidade
chuva
relativa
(soma)
(%)
138 a
80,0 a
164
86,2
Insolao
(h ano-1)
1413 a 1613
Classe
gua
rea
rea
(km2)
(%)
22
Classe
rea
rea
(km2)
(%)
0,7
Reflorestamento 594
14,5
Agricultura
154
4,4
rea urbana 61
1,8
Pastagem
95
2,8
Mata nativa
53,7
Nuvem
171
4,9
1853
17,2
MATERIAIS E MTODOS
Dados Monitorados
Os dados meteorolgicos para a implementao do SEBAL referem-se radiao solar, velocidade do vento, umidade relativa e temperatura do
ar, adquiridos em escala horria na estao Lapa
(latitude de 25o4700S e longitude de 49o4558O).
Os dados de vazo e precipitao, necessrios para a
aplicao do balano hdrico sazonal, foram obtidos
nas estaes de monitoramento listadas na Tabela 3.
A localizao das estaes pode ser visualizada na
Figura 1.
207
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio do SEBAL
(Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
Tabela 3 - Estaes fluviomtrica, meteorolgica e pluviomtricas utilizadas no estudo.
Cdigo
Nome
65100000
2549104
2649065
2649061
2649057
2549076
2649055
2649013
2649018
2649056
2649054
2548020
2649060
2549003
2649015
2649006
2649016
Rio Negro
260635 S
Lapa
25o4700 S
Barra do Avencal
26o3408 S
Barragem Norte
26o2526 S
Campo Alegre
26o1111 S
Campo do Tenente
25o5900 S
Corredeira
26o2510 S
Corup
26o2526 S
Fragosos
260859 S
Itaipolis
26o1958 S
Moema
26o3150 S
Pedra Branca do Araraquara 25o5900 S
Primeiro Salto do Cubato 26o1257 S
Rio da Vrzea dos Lima
25o5700 S
Rio Negrinho
261452' S
Rio Negro
26o0600 S
Rio Preto do Sul
26o1258 S
F = Fluviomtrico
Latitude
M = Meteorolgico
Longitude
494804 O
49o4600 O
49o2930 O
49o1733 O
49o1624 O
49o4100 O
49o3423 O
49o1733 O
492259 O
49o5538 O
49o5037 O
48o5300 O
49o0450 O
49o2335 O
493448' O
49o4759 O
49o3612 O
766
910
650
200
870
780
750
200
790
990
950
150
790
810
869
766
780
F
M
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
Diria
Horria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Diria
Responsvel
COPEL
SIMEPAR
ANA
ANA
ANA
ANA
ANA
ANA
COPEL
ANA
ANA
SUDERHSA
ANA
ANA
EPAGRI
COPEL
ANA
P = Pluviomtrico
Imagens de Satlite
Para a implementao do SEBAL foram adquiridas cinco imagens do sensor ASTER para cobrir
toda a rea da BARN. Trs foram obtidas no dia 13
de abril de 2006 e duas no dia 22 de abril de 2006
correspondendo s mais recentes e com mnima
cobertura de nuvens. As cenas foram adquiridas em
nvel de processamento L1B, com pixels em valores
de radincia. Em adio, foram adquiridas imagens
de temperatura da superfcie atravs da plataforma
de dados online da NASA Land Processes Distributed
Active Archive Center (LP DAAC), USGS/Earth Resources Observation and Science (EROS) Center, Sioux Falls,
South Dakota. A etapa de pr-processamento das
imagens, realizada antes da aplicao do SEBAL e
composta pelo georreferenciamento, calibrao
radiomtrica e correo atmosfrica, descrita em
Uda et al. (2013).
Aplicao do SEBAL
O SEBAL foi aplicado separadamente para
mosaicos das imagens do dia 13 e 22 de abril de
2006, com os dados apresentados na Tabela 4:
Como uma imagem de satlite fornece informaes somente para o momento de passagem
do satlite, o SEBAL calcula o fluxo de evapotranspirao pixel a pixel, para o momento prximo ao de
aquisio da imagem, atravs do balano de energia
(BASTIAANSSEN et al., 1998; ALLEN et al., 2000;
ALLEN et al., 2002):
(1)
Cartas Topogrficas Digitais
o
onde
o fluxo de calor latente (W m-2);
saldo de radiao superfcie (W m-2); o fluxo
de calor no solo (W m-2); e o fluxo de calor sensvel no ar (W m-2).
208
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
Tabela 4 - Informaes da estao meteorolgica e do
arquivo de cabealho das imagens.
Data
(4)
a densidade do ar (kg m-3);
o calor
onde
especfico do ar (1004 J kg-1 K-1);
a diferena de
) entre duas alturas (
); e
temperatura (
a resistncia aerodinmica ao transporte de
calor (s m-1).
O valor de foi calculado por um processo
iterativo (Figura 3). Primeiramente,
foi considerado para a condio de estabilidade neutra da atmosfera. Portanto, para a estao meteorolgica, foi
de
estimada a velocidade do vento ( ) na altura
medio, o comprimento da rugosidade da superf), a velocidade de frico ( ) e do vento a
cie (
). Aps, foi estimada a veloci200 m de altura (
,
e um
inicial para
dade de frico ( ),
cada pixel na imagem. Um ponto chave a escolha
dos pixels ncoras (quente e frio) para a estimativa
de
. Foi escolhido o pixel quente em rea de solo
exposto e o pixel frio na superfcie de gua. Em seguida, foi determinada a condio de estabilidade
da atmosfera pelo comprimento de Monin-Obukhov
,
( ) e calculou-se os parmetros de correo
,
. Esses parmetros foram usados para
,
. J
tambm
estimar novos valores de e
, para os pixels quenmodificado pela correo de
e
, estima-se um novo
te e frio. Corrigidos ,
valor de . Continua-se o processo iterativo calculando e os demais passos corrigindo os efeitos de
estabilizar.
flutuabilidade, at o valor de
Em seguida, a evapotranspirao diria foi
calculada com base em Bastiaanssen (2000):
13/04/2006 22/04/2006
Informao
ngulo de elevao solar (o)
Temperatura do ar no horrio prximo ao de
passagem do satlite (oC)
46,09217
43,30798
21,0
17,7
11,2
11,4
26,2
23,1
39
31
100
100
0,6
1,3
594
617
235
229
calculado por
O saldo de radiao (
meio do balano de radiao superfcie:
1
(2)
(5)
a evapotranspirao diria (mm dia-1);
onde
(3)
o
onde a temperatura da superfcie (oC);
albedo da superfcie e
o ndice de vegetao
da diferena normalizada. Conforme Allen et al.
(2002), para pixels com
< 0, considerados como representativos de gua, foi utilizada a relao
0,5.
O fluxo de calor sensvel ( ) foi calculado
por (BASTIAANSSEN et al., 1998):
209
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio do SEBAL
(Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
Estao
Meteorol.
,
,
Velocidade do vento
a 200 metros
Velocidade de
frico para cada
pixel
200
Pixel Frio
200
Pixel Quente
H para cada
pixel
200
(6)
foi calcula-
110
(7)
onde
a radiao de ondas curtas incidente
(W m-2), obtida pela mdia da radiao medida na
estao meteorolgica; e a transmissividade da
atmosfera. O parmetro a razo entre a radiao
solar global diria (radiao mdia de ondas curtas
que chega superfcie, medida na estao) e a radiao solar no topo da atmosfera, e foi estimada pela
Lei de Lambert:
37,586
sensen
coscossen
(8)
(9)
onde
a evapotranspirao real do per
odo em mm ms-1 ou mm ano-1, calculada conforme
o mtodo FAO Penman-Monteith (ALLEN et al.,
1998); a frao de evaporao, considerada co-
210
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
a vazo mdia sazonal (mm dia-1); e
e so,
respectivamente, o armazenamento final e inicial
(mm), referentes ao intervalo de tempo .
Por fim, foram obtidos valores mensais de
evapotranspirao pelas mdias ponderadas relativas
ao nmero de dias de cada perodo .
(15)
onde
a evapotranspirao mdia do ms i;
,
e
so as estimativas sazonais sobre os perodos situados esquerda, ao centro e direita dos
limites do ms i, cujos comprimentos totais de cada
so
,
e
e os termos ,
e
so os
comprimentos em dias dentro do ms de ocorrncia
de
,
e
, respectivamente (Figura 4).
(10)
Para uma relao no linear, a Equao (10)
torna-se a Equao (11)
(11)
Ento, rearranjando a Equao (11), tem-se
que o armazenamento funo da vazo:
(12)
Como o comportamento linear comumente aceito por simplicidade e facilidade de clculos,
considerou-se que
1 e que seja igual ao inverso
do tempo de recesso ( = 1/ ). O valor de foi
encontrado por:
(13)
RESULTADOS E DISCUSSO
onde o ngulo da inclinao da envoltria superior do grfico
versus
, determinado
pelo mtodo da correlao; e igual a 1 dia.
Determinados os parmetros e e o ltimo dia de cada perodo de recesso (e, consequentemente, o valor da vazo nesse dia), estimou-se o
armazenamento de gua do ltimo dia de recesso
pela Equao (12).
Para cada perodo do hidrograma calculouse as mdias de precipitao e de vazo e, juntamente com os dados de armazenamento, foi calculada a
evapotranspirao mdia sazonal, com a equao do
balano hdrico:
onde
dia-1);
(14)
211
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio do SEBAL
(Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
a 4,2 mm dia-1 (floresta nativa) e 4,3 mm dia-1 (reflorestamento).
Mnimo
Mediana
CV
2,0
0,4
Escuro
Mdia
Mximo
5,0
5,1
4,0
2,2
2,2
27
4,8
3,5
3,6
17
rea Urbana
0,02
4,3
2,4
2,5
25
Floresta Nativa
1,7
4,9
4,1
4,2
Reflorestamento
1,0
5,1
4,3
4,3
Agricultura
0,02
4,6
2,9
2,9
21
Pastagem
0,7
4,2
2,9
2,9
21
Nmero de pixels
1400000
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0,1
0,5
0,9
1,3
1,7
2,1
2,5
2,9
3,3
3,7
4,1
4,5
4,9
5,3
212
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
obtidas
Santos ET
Giongo
Paiva ET
Cabral et al.
al. (2010)
(2011)
al. (2011)
(2010)
Amplitude
Mdia
Amplitude
Amplitude
(mm dia-1)
(mm dia-1)
(mm dia-1)
(mm dia-1)
Uso e cobertura
< 3,96
< 3,96
Pastagem
3,97a 5,8
120
18
100
15
80
13
60
10
40
20
0
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
3,0 a 4,5
0 a 3,2
Agricultura
20
3,0 a 4,5
Reflorestamento
140
rea Urbana
Floresta Nativa
160
23
Ms
Temperatura mdia mensal
Radiao solar mdia mensal
Evapotranspirao mdia mensal
gua
Solo Exp. Claro
25
2 a 3 e 2,38
A partir da extrapolao da evapotranspirao da BARN para cada dia do ano de 2006, foi gerada a evapotranspirao mensal, atravs do acumulado dirio (Figura 7). Com os dados de mdias
mensais de evapotranspirao real, de radiao solar
e de temperatura do ar para o ano de 2006, verificou-se o comportamento sazonal da evapotranspirao em funo das condies climticas. As maiores
taxas evapotranspirativas foram observadas nos meses de vero (dezembro, janeiro e fevereiro) e pri-
213
Evapotranspirao Real da Bacia do Alto Rio Negro, Regio Sul Brasileira, por meio do SEBAL
(Surface Energy Balance Algorithm for Land) e Balano Hdrico
balano esto coerentes e, que podem ser comparadas aos resultados mensais gerados pelo SEBAL.
A Tabela 7 e a Figura 9 mostram os dados
de evapotranspirao obtidos pelo BHS e SEBAL.
Pela Tabela 7, atravs do clculo das diferenas relativas, verificou-se que os valores obtidos pelo SEBAL
esto superestimados em relao aos do BHS, em
quase todos os meses. As maiores discrepncias foram observadas nos meses com menores ndices
pluviomtricos, ou seja, abril, maio, junho e julho,
com diferena relativa de 107, 127, 180 e 131%,
respectivamente.
160
140
120
100
80
60
40
Evapotranspirao (mm.ms-1)
Evapotranspirao (mm.ms-1)
20
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Ms
gua
Solo Exposto Escuro
Reflorestamento
Agricultura
Figura 8 - Evapotranspirao real mensal para os diferentes usos e coberturas do solo da BARN.
140
120
100
80
60
40
20
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Ms
Tabela 7 - Comparao dos resultados de evapotranspirao obtidos pelo BHS e pelo SEBAL para 2006.
Evapotranspirao (mm ms-1)
Ms
Diferena
SEBAL
janeiro
95
137
44
fevereiro
95
106
11
maro
74
98
33
abril
40
83
107
maio
27
62
127
junho
17
49
180
julho
31
72
131
agosto
71
89
25
setembro
107
82
-23
outubro
79
93
18
novembro
99
102
dezembro
123
116
-6
1088
29
SEBAL
Relativa
BHS
(%)
Pelo mtodo do Balano Hdrico Simplificado foi obtida a evapotranspirao real mensal para
a BARN. Este mtodo foi considerado validado, visto
que a evapotranspirao anual (841 mm ano-1), teve
uma diferena de apenas 5% em relao estimativa
por Balano Hdrico Simplificado (801 mm ano-1).
Considera-se que as estimativas realizadas por esse
214
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
de gua da BARN. Desta maneira, pode-se verificar a
importncia de estudos relacionados ao papel da
Floresta Ombrfila Mista e de reflorestamentos com
Pinus sp. no balano hdrico da bacia do alto Rio
Negro.
po utilizada (por exemplo, sazonal, anual) h a necessidade de se determinar uma frao de evaporao para diferentes perodos dentro do intervalo
analisado. Folhes et al. (2009) comentam que quanto maior o perodo de tempo utilizado para extrapolao da evapotranspirao, com apenas uma imagem de frao de evaporao, maior o erro na estimativa da mesma. A radiao solar, na forma de
radiao lquida, dentre outros fatores, tem influncia na frao de evaporao (CRAGO et al., 1996;
GENTINE et al., 2007). Assim, a utilizao de apenas
uma imagem de frao de evaporao pode ter acarretado erros na estimativa da evaporanspirao
mensal e anual, visto que a radiao solar incidente
tem considervel variao nos diferentes meses do
ano.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) pela concesso da bolsa de estudos, ao Instituto Agronmico do Paran (IAPAR), pelo fornecimento dos dados meteorolgicos, Empresa de
Pesquisa Agropecuria e Extenso Rural de Santa
Catarina (EPAGRI), pelas cartas topogrficas digitais
e ao Earth Resources Observation and Science (EROS)
Center, Sioux Falls, South Dakota, pelo fornecimento
das imagens ASTER. Em adio, agradecem ao Projeto Estudo de Mudanas Climticas na Regio Sul
do Brasil CLIMASUL, Convnio FINEP:
01.08.0568.00, referncia: 1406/08.
CONCLUSES
Em se tratando da bacia do alto Rio Negro,
o SEBAL estimou adequadamente a evapotranspirao real diria, em comparao com estudos semelhantes, a partir de um mosaico de imagens ASTER
de abril de 2006. As reas com maior interferncia
antrpica apresentaram os menores valores mdios
de evapotranspirao real diria (2,2 e 2,4 mm dia-1
para solo exposto claro e rea urbana, respectivamente). A vegetao nativa e o reflorestamento apresentaram valores elevados (4,3 e 4,1 mm dia-1,
respectivamente), sendo as reas com menor interferncia antrpica e de maior predominncia na
bacia do alto Rio Negro (aproximadamente 71%).
A utilizao de um modelo de balano de
energia superfcie, integrado a tcnicas de sensoriamento remoto, como o SEBAL, possibilitou a estimativa e a anlise da evapotranspirao com suficiente detalhamento espacial, bem como sua avaliao
em funo dos diferentes usos e coberturas do solo.
Isso evidencia a potencialidade deste mtodo para
estudos que envolvam manejo do uso do solo e dos
recursos hdricos em bacias hidrogrficas.
Os valores de evapotranspirao real, em
sua maioria, foram superestimados em comparao
aos obtidos pelo mtodo de BHS. Para melhorar o
desempenho do modelo SEBAL, seria necessria a
aquisio de imagens em diferentes pocas do ano
que representassem a variao sazonal das variveis
climticas.
Foram observadas taxas de evapotranspirao mais elevadas nas reas com maior porcentagem
de cobertura na bacia, ou seja, florestas, mostrando
que estas so as que mais contribuem para a perda
REFERNCIAS
ALLEN, R.G.; MORSE, A.; TASUMI, T.;
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216
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 205-217
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ABSTRACT
Actual evapotranspiration spatial information
helps understand water demands and also allows relating
land use to water use in a watershed. The Surface Energy
Balance Algorithm for Land (SEBAL) is a semi-empirical
model that estimates the distributed actual evapotranspiration as the residual of the surface energy balance, using
remote sensing techniques. The upper Rio Negro watershed BARN (3454 km2) is located in the Northern Plateau of
Santa Catarina state and the First Plateau of Paran state
and nearly half of its area is covered by Mixed
Ombrophilous Forest (FOM). The FOM is part of the Atlantic Forest biome which supports 1-8% of the planets
flora and fauna species. Currently only 11.7% of its original area remain. The objectives of this study were (i) to
estimate the actual evapotranspiration in BARN through
SEBAL and Advanced Spaceborne Thermal Emission and
Reflection Radiometer (ASTER) images on different land
uses, and (ii) to evaluate and compare the SEBAL estimates with the seasonal water balance estimates. For the
SEBAL application five ASTER images acquired in April
2006 and meteorological data were used. The results
showed lower actual evapotranspiration values for areas
with greater human interference, such as bare soil and
urban areas, and the larger values for preserved areas,
such as forests and water. The values for bare soil and
urban area had the lower averages (2.2 mm day-1 and 2.4
mm day-1, respectively). For FOM, Pinus sp reforestation
and water averages of 4.1 mm day-1, 4.3 mm day-1 and
5.0 mm day-1, respectively were found. The Study indicates
that the water loss from the upper Rio Negro watershed is
greatly affected by the forested areas (approximately 71% of
the basin land surface), which has high evapotranspiration
rates. Thus, we highlight the importance of studies related
to the role of FOM and Pinus sp in the water balance of the
upper Rio Negro watershed. On a monthly scale, it was
found that SEBAL simulates the evapotranspiration seasonal variation according to climatic conditions.
Key-words: actual evapotranspiration, SEBAL, ASTER,
upper Rio Negro watershed.
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217
NOTA TCNICA
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 221-228
RESUMO
Na bacia do ribeiro Entre Ribeiros, sub-bacia do rio Paracatu, a disponibilidade hdrica tem sido fator limitante
para o desenvolvimento da agricultura irrigada, fato que tem gerado diversos conflitos pelo uso da gua. Contudo, tais
conflitos no so adequadamente quantificados, o que impede a avaliao de suas diferenas regionais, a partir das variaes espaciais de disponibilidade e demanda hdrica. Visando identificar os segmentos de rios com potenciais conflitos pelo
uso da gua e fornecer, dessa forma, subsdios para as aes de gesto e planejamento dos recursos hdricos, o presente trabalho teve por objetivo analisar os valores do ndice de conflito pelo uso da gua na gesto dos recursos hdricos (icg) e o ndice
de conflito pelo uso da gua no planejamento dos recursos hdricos (icp) aplicados bacia do ribeiro Entre Ribeiros. Foram
utilizados para o clculo dos ndices a vazo mnima com sete dias de durao e perodo de retorno de 10 anos (Q7,10), a
vazo mdia de longa durao (Qmld), as vazes outorgadas (Qout), o modelo digital de elevao e a hidrografia da bacia. A
anlise dos valores de icg e icp permitiu verificar que a bacia do ribeiro Entre Ribeiros apresenta segmentos com potenciais
conflitos pelo uso da gua, uma vez que possui vazes outorgadas superiores s permissveis pela legislao. Pela anlise do
icp verificou-se que os potenciais conflitos pelo uso da gua evidenciados podem ser minimizados com adoo de um adequado
programa de gesto e planejamento dos recursos hdricos.
Palavras-chave: conflito pelo uso da gua, outorga, disponibilidade hdrica.
INTRODUO
A bacia do ribeiro Entre Ribeiros, com rea
de drenagem de 3.973 km2, uma das principais
sub-bacias do rio Paracatu. Destaca-se na bacia a
agricultura irrigada, sobretudo de hortalias e plantas frutferas, sendo evidenciados diversos barramentos para fornecimento de gua para a irrigao. As
reas de nascente encontram-se comprometidas,
pois a regio excessivamente utilizada para o desenvolvimento das atividades agrcolas (IGAM,
2006).
Diversos autores evidenciaram problemas de
conflitos pelo uso da gua nesta regio. ANA
(2005b) em estudo que apresenta a relao entre a
demanda e a disponibilidade hdrica de vrias bacias
do pas, classifica a situao dessa bacia como Preo-
221
icg > 1
Visando uma representao grfica dos valores de icg por meio da elaborao de mapas, na
situao em que as vazes outorgadas a montante da
foz do segmento em estudo esto dentro dos limites
legais (0 icg 1), Moreira et al. (2012) propuseram
uma estratificao para caracterizao das faixas de
vazo ainda permissveis de serem outorgadas:
MATERIAIS E MTODOS
O ndice de conflito pelo uso da gua na
gesto dos recursos hdricos (icg) e o ndice de conflito pelo uso da gua no planejamento dos recursos
hdricos (icp), como preconizam Moreira et al.
(2012), devem ser adotados tendo o segmento1 de
um rio como unidade de estudo, sendo que para o
clculo dos mesmos so considerados unicamente os
recursos hdricos de superfcie.
O valor de icg dado por:
icg =
Q out
xQ mr
(1)
em que
icg
Qout
Qmr
Para caracterizar a condio em que as vazes outorgadas superam os limites previstos pela
legislao (icg > 1), Moreira et al. (2012) utilizaram
uma estratificao do intervalo em duas classes. Dado que o limite legal j foi ultrapassado, para este
caso as faixas adotadas de valores de icg tero como
referncia a Qmr em substituio a xQmr. Para tanto,
basta multiplicar o valor de icg pelo percentual da
Qmr passvel de ser outorgada (x). Desta forma, o
limiar para estratificao da condio em que as
outorgas emitidas superam a vazo permissvel de
ser outorgada dada por x*icg.
Neste caso, considerando a situao em que
o valor de Qout superior a xQmr, a variao dos valores de icg est entre os respectivos intervalos:
x*icg 1
x*icg > 1
222
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 221-228
Para esta condio utiliza-se o seguinte simbolismo:
Os dados utilizados, necessrios para o clculo do icg e icp para cada segmento de curso dgua
da bacia do ribeiro Entre Ribeiros (Figura 1), foram: a vazo mnima com sete dias de durao e
perodo de retorno de 10 anos (Q7,10), uma vez que
a vazo mnima de referncia adotada pelo rgo
gestor da bacia (Instituto Mineiro de Gesto das
guas IGAM); a vazo mdia de longa durao
(Qmld); as vazes outorgadas na bacia em estudo
(Qout); o modelo digital de elevao e a hidrografia
da bacia.
Os valores de Q7,10 e Qmld para a foz de cada
segmento da bacia em estudo foram obtidos a partir
do procedimento de regionalizao de vazes, sendo utilizado o mtodo Tradicional (ELETROBRAS,
1985). Esse mtodo consiste na identificao de
regies hidrologicamente homogneas e no ajuste
de equaes de regresso entre as diferentes variveis a serem regionalizadas e as caractersticas fsicas
e climticas das bacias de drenagem para cada regio homognea.
As equaes de regionalizao para a estimativa dos valores de Q7,10 e Qmld (em m3s-1) foram
obtidas do trabalho de Moreira (2006), conforme
seguem:
Q out
Q mld
(2)
em que
icp
Qmld
A utilizao da Qmld para o clculo do icp deve-se ao fato de a vazo mdia corresponder vazo
mxima possvel de ser regularizada, abstraindo-se as
perdas por evaporao e infiltrao. Dessa maneira,
a utilizao da Qmld visa verificar se, caso haja conflito pelo uso da gua, este pode ser minimizado com
a adoo de medidas estruturais como a construo
de barramentos (MOREIRA et al., 2012).
A partir dos valores de icg e icp de um segmento da bacia, a fim de possibilitar uma representao visual da situao, utilizam-se cores para simbolizar as faixas de vazo ainda permissveis de serem outorgadas segundo a norma legal vigente e as
situaes nas quais existindo o conflito pelo uso da
gua, existe a possibilidade de contorn-los com a
adoo de medidas estruturais e no estruturais,
como a construo de barragens de regularizao
ou alterao das polticas pblicas de uso da gua.
No caso do icp, foram adotadas as seguintes
convenes para a representao grfica dos segmentos:
(3)
(4)
(icp = 0), ou seja, situao na qual no existem vazes outorgadas a montante da foz
do segmento analisado;
(0 < icp 1), ou seja, situao na qual existindo o conflito pelo uso da gua, ainda se
pode contorn-lo com a adoo de medidas estruturais; e
223
Figura 1 Mapa de localizao, rea de drenagem e hidrografia da bacia do ribeiro Entre Ribeiros.
RESULTADOS E DISCUSSO
Na Figura 2 apresenta-se o mapa da bacia do
ribeiro Entre Ribeiros com as suas respectivas outorgas vigentes no ms de julho de 2008. Foram
identificadas, para o ms em anlise, 119 outorgas
superficiais vigentes, das quais 111 possuem como
finalidade a irrigao, quatro o consumo humano e
224
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 221-228
sena de outorgas pelo uso da gua. As faixas de
valores representadas pelas cores verde, amarelo e
laranja correspondem situao de segmentos que
possuem outorgas vigentes em julho de 2008 e ainda
possuem vazes passveis de serem outorgadas, segundo a legislao vigente. Verifica-se que em 68,6%
dos segmentos de cursos dgua da bacia as outorgas
emitidas se encontram dentro dos limites legais
previstos pela legislao, a qual na bacia do ribeiro
Entre Ribeiros corresponde a 30% da Q7,10.
Faixa
valor
de
Cor
icg = 0
0 < icg 0,7
0,7 < icg 0,9
0,9 < icg 1
x*icg 1
x*icg > 1
Total
Nmero de
segmentos
265
18
5
2
83
50
423
%
em
relao
bacia
62,6
4,3
1,2
0,5
19,6
11,8
Por outro lado, observa-se que em 83 segmentos (19,6%) a vazo outorgada representa mais
de 30% da Q7,10, enquanto que em 50 segmentos da
bacia (11,8%) so verificadas vazes outorgadas
superiores ao valor da Q7,10.
225
Dessa forma, observa-se que em 133 segmentos (31,4%) da bacia do ribeiro Entre Ribeiros
foram outorgadas vazes superiores aos limites previstos pela legislao, implicando na necessidade de
adoo de um maior controle no processo de concesso de novas outorgas ou de reviso dos limites
previstos pela legislao.
Assim, o icg permite verificar o desatendimento a uma norma legal previamente estabelecida.
H casos, no entanto, que a norma legal desrespeitada e no h conflito pelo uso da gua, tendo em
vista o conservadorismo dos limites de vazo definidos para a concesso de outorga. Por outro lado,
tambm h casos de existncia de conflitos pelo uso
da gua mesmo com respeito s normas vigentes, em
razo da existncia de usurios irregulares, de descumprimento de condies de outorga ou de falhas
nos sistemas de controle de usos da gua
Na Figura 3 apresenta-se o mapa da bacia do
ribeiro Entre Ribeiros com a espacializao do icg.
Verifica-se na figura que em algumas regies, notadamente nos cursos dos ribeires da Aldeia, Barra
da gua, So Pedro e Entre Ribeiros, a existncia de
segmentos com vazes outorgadas superiores a 30%
da Q7,10, os quais so representados pela colorao
vermelha e roxa no mapa.
A vazo outorgada superior ao valor da Q7,10
no implica, necessariamente, na eliminao total
da vazo no curso dgua, uma vez que a Q7,10 corresponde a um ndice probabilstico relacionado ao
risco de ocorrncia de um evento a cada dez anos.
Alm disso, o valor da vazo outorgada corresponde
ao somatrio das outorgas, o que no implica na
retirada simultnea dessas vazes.
Em entrevista com tcnicos do IGAM, no
entanto, foi afirmado que na bacia do ribeiro Entre
Ribeiros existem sees em que foram observadas
vazes nulas, fato que tem levado esse rgo a tomar
medidas no sentido de minimizar esse problema,
como a adoo de outorgas coletivas.
Apesar de 133 segmentos da bacia apresentarem as coloraes vermelha e roxa no mapa, a
maioria dos segmentos no apresenta outorgas pelo
uso da gua.
Tais constataes levam a necessidade de
anlise do ndice de conflito pelo uso da gua no
planejamento dos recursos hdricos, a fim de verificar a possibilidade de mitigao dos conflitos evidenciados a partir de aes de gesto e planejamento na bacia.
Na Tabela 2 apresentam-se as faixas de valores para classificao do ndice de conflito pelo uso
da gua no planejamento dos recursos hdricos (icp),
o nmero de segmentos enquadrados em cada uma
das faixas e seu valor percentual em relao ao nmero de segmentos da bacia do ribeiro Entre Ribeiros.
Faixa de
valor
Cor
icp = 0
0 < icp
1
icp > 1
Nmero de
segmentos
265
152
Total
6
423
% em
relao
bacia
62,6
35,9
1,4
Da mesma forma como evidenciado na anlise do icg, verifica-se que 62,6% dos segmentos da
bacia do ribeiro Entre Ribeiros no possuem outorgas pelo uso da gua. Observa-se ainda que em
152 segmentos da bacia (35,9%) a vazo outorgada
corresponde a um valor inferior a vazo mdia de
longa durao (0 < icp 1).
Tal constatao permite afirmar que os conflitos pelo uso da gua existentes podem ser contornados com aes estruturais, como a construo de
reservatrios de regularizao. IGAM (2006), no
entanto, afirma que na regio so evidenciados diversos barramentos, fato que dificultaria a constru-
Figura 4 ndice de conflito pelo uso da gua no planejamento dos recursos hdricos da bacia do ribeiro Entre
Ribeiros.
Considerando que o instrumento de outorga concede por um perodo preestabelecido o direito de uso de determinada quantidade de gua, asse-
226
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 221-228
gurado no ato de concesso, e o fato de terem sido
verificadas vazes outorgadas superiores a vazo
mdia (icp > 1) faz-se necessrio um maior controle
no processo de concesso de novas outorgas, bem
como uma nova anlise das outorgas em alguns
segmentos, principalmente no crrego Boa Esperana.
Pela anlise do icg nota-se que algumas partes da bacia se encontram com outorgas superiores
aos limites permissveis pela legislao (30% da
Q7,10). Este fato, como evidenciado por IGAM
(2006), remete necessidade de se avaliar o uso
atual, por meio de cadastro de usurios, e o uso
futuro, por meio de polticas de racionamento e
distribuio do uso.
A constatao de vazes outorgadas superiores ao limite legal de disponibilidade hdrica do
Estado de Minas Gerais deve-se, em partes, ao fato
de que o critrio de 30% da Q7,10, para a bacia do rio
Paracatu ser muito restritivo. Segundo Johnson e
Lopes (2003) este critrio no representa, com exatido, o potencial hdrico da regio. O prprio IGAM, em questionrio encaminhado ANA (ANA,
2005a), salienta a necessidade da definio de diferentes critrios de outorga conforme as particularidades de cada regio do Estado.
Outra importante constatao o fato de
que as emisses de outorgas se do a partir do estabelecimento de vazes mximas de captao, sem
considerar a sua variabilidade temporal. Assim, restringe-se o uso da gua a uma situao crtica que
somente ocorrer, estatisticamente, durante sete
dias uma vez a cada 10 anos.
Dessa forma, assim como verificado por outros autores, observa-se em vrias partes da bacia
conflitos pelo uso da gua, os quais remetem, dada a
magnitude do problema em alguns segmentos
(icp > 1), a necessidade de maior controle no uso da
gua e a adoo de mtodos alternativos para a concesso de outorga, como a outorga coletiva ou a
outorga sazonal.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico CNPq, pelo apoio financeiro, e aos revisores, que atravs de minuciosa leitura teceram crticas e sugestes, as quais permitiram a melhoria do trabalho.
REFERNCIAS
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CONCLUSES
227
228
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 229-242
RESUMO
A Amaznia, ironicamente conhecida como reserva de recursos hdricos, tambm refm da falta de acesso gua
potvel. O abastecimento de gua nas ilhas de Belm deficitrio e a proposio de alternativas que venham garantir o
acesso digno gua de qualidade um grande desafio. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho divulgar o panorama geral
das experincias de aproveitamento da gua da chuva em regies insulares da cidade de Belm. Para isso, realizou-se o mapeamento das iniciativas de aproveitamento da gua da chuva nas ilhas prximas capital. Perceberam-se casos variados
de aplicao da tcnica: avanados ou rudimentares, em operao ou inoperantes, mostrando que apesar de improvvel,
devido abundncia de gua na regio, a busca por escolhas de abastecimento potvel incisiva por parte dos ribeiros, que
almejam o fornecimento sustentvel de gua. Apesar de escassos, os estudos sobre a temtica na regio vm contribuindo
para o aperfeioamento da prtica. Espera-se que este estudo contribua com pesquisas futuras acerca da temtica.
Palavras-chave: Aproveitamento da gua chuva, Belm, Amaznia.
INTRODUO
O aproveitamento da gua da chuva uma
tcnica bastante difundida em regies com srios
problemas de escassez de gua. Em ilhas, se torna
uma alternativa complementar em situaes de ineficincia ou ausncia de servio de abastecimento.
Neste contexto, destaca-se o exemplo do arquiplago de Fernando de Noronha que, desde 1949, conta
com um sistema de captao e armazenamento de
gua de chuva que fora construdo pelas foras norte-americanas (MAY, 2004).
O abastecimento de gua via recursos pluviais em regies insulares da Amaznia paradoxal.
inconcebvel que uma localidade, reconhecida
mundialmente como a maior reserva superficial de
gua doce, sofra com problemas relacionados ao
fornecimento de gua.
No cenrio paraense o aproveitamento da
gua da chuva se configura como forma de sanar a
carncia do abastecimento das regies insulares.
Segundo recente levantamento da Agncia Nacional
das guas ANA (ANA, 2010), cerca de 60% dos
municpios paraenses so desprovidos de ampla
229
230
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 229-242
O Anurio Estatstico de Belm de 2012 apresentou como modalidades de abastecimento de
gua na regio insular de Belm, alm do fornecimento pela rede geral, que presente massivamente
na regio urbana das ilhas, o abastecimento por
poos ou nascentes, dentro e fora da propriedade;
consumo do rio, igaraps e audes; utilizao da
gua da chuva e outros.
As Ilhas de Mosqueiro, Outeiro e Cotijuba
contam com sistemas pblicos de abastecimento de
gua por poos subterrneos (VELOSO, 2006). As
Ilhas Jutuba e Paquet so abastecidas por gua
captada na Ilha de Cotijuba (SILVA, p. 83-84, 2010).
A maior limitao dessa fonte de captao
a qualidade da gua. Vrios estudos j apontaram os
altos ndices de Ferro nos aquferos da regio de
Belm (PICANO et al., (2002); ALMEIDA et al.,
(2004); BANDEIRA et al., (2004); ANA (2007).
231
FERNANDES, 2010). Alguns fatores podem ser apontados como entraves extenso de sistemas tradicionais de abastecimento para alm do territrio
continental, entre eles destacam-se baixa densidade
demogrfica das ilhas, custos dos investimentos,
infraestrutura necessria para implantao e manuteno de sistemas, sejam eles centralizados ou descentralizados.
Tal situao coloca as comunidades ribeirinhas refns do consumo de gua inadequada, que
no possuindo perfil financeiro suficiente para aquisio de outras possibilidades, como por exemplo, a
compra de gua mineral, recorrem s opes insustentveis, que acarretam severos danos sociais, como
a proliferao de doenas de veiculao hdrica
(VELOSO, 2012).
Devido s especificidades das reas insulares, nem todas as formas de abastecimento de gua
so viveis. Segundo Pdua (2006), solues alternativas de abastecimento de gua para consumo
humano, jamais devem ser entendidas como solues improvisadas ou destinadas apenas para a populao de baixa renda e sim compreendida como
mais uma opo de projeto.
Nesse contexto, vlido destacar as tecnologias alternativas de abastecimento de gua que so
utilizadas nas ilhas de Belm, com o emprego dos
recursos pluviais.
232
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 229-242
gua, sendo que em 2.619 no h canalizao do
recurso (BELM,2012).
Diante dos impasses que a regio enfrenta,
h a necessidade de busca por opes de abastecimento que contemplem todos moradores, que ao
mesmo tempo em que fornea gua em quantidade
suficiente demanda, apresente padres de qualidade requeridos para sua ingesto, com custos compatveis ao perfil econmico dos seus usurios e de
acesso facilitado.
Com isso, interessante explorar as potencialidades locais. Uma delas o grande ndice pluviomtrico que a Amaznia possui. Nos seus estudos,
Lima et al. (2011) constatou que atravs do aproveitamento da gua da chuva, a mdia do potencial de
economia de gua potvel estimado para as 40 cidades amaznicas pesquisadas de 76%.
Segundo dados do INMET, obtidos a partir
da srie histrica do perodo 1961 a 1990, da estao
pluviomtrica nmero 82191, localizada na cidade
de Belm, a precipitao pluviomtrica foi
2893,1mm/ano, um bom ndice para o aproveitamento da gua da chuva.
Jutuba
Nova
Urubuoca
Sede urbana
Murutucu
Belm
Comb
Grande
N hab.
985
Amostra
100%
Grande
288
79%
Murutucu
529
87%
Jutuba
Nova
Urubuoca
182
45
136
100%
100%
100%
Fonte
Dergan
(2006)
Veloso
(2012)
Veloso
(2012)
Souza (2012)
Souza (2012)
Souza (2012)
233
Instituies de ensino como o Instituto Federal de Cincia e Tecnologia IFPA e a Universidade da Amaznia UNAMA, nos perodos 2008 a
2011 e 2010 a 2011, respectivamente, atuaram como
parceiras da CAMEBE no desenvolvimento e acompanhamento das atividades nas ilhas, por meio do
projeto Sistema de captao e tratamento da gua
de chuva para atendimento de populaes tradicionais em ilhas de Belm: avaliao de impactos decorrentes. O estudo fora financiado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq e teve seu relatrio final divulgado em
2012.
Atravs desse, forneceram apoio cientfico
atravs de eixos de pesquisas focados no desenvolvimento de tecnologias, na avaliao dos impactos
sobre a sade dos moradores, aspectos epidemiolgicos, em estudos antropolgicos e reflexos econmicos sobre a populao.
pertinente comentar acerca de algumas
das concluses do relatrio do projeto. Uma delas
a recomendao de incluso de barreiras sanitrias
do sistema, que atualmente no conta com o descarte do primeiro fluxo de gua.
A postura possui semelhanas com estudos
de caso desenvolvidos no semirido, que evidenciam
que a incluso de dispositivos automticos de desvio
determinante na melhoria da qualidade da gua
O projeto inicialmente foi instalado nas Ilhas de Jutuba e Urubuoca e posteriormente expandido para Ilha Nova, que possui 100% de suas residncias atendidas pelo sistema de aproveitamento
da gua pluvial. Nas trs ilhas, cerca de 370 moradores foram beneficiados, segundo Souza (2012).
Nessa iniciativa, a alternativa utilizada para a
desinfeco da gua foi o Sistema de Desinfeco
Solar SODIS, que possui uma lgica simples sendo
apontada como tecnologia social til como mecanismo desinfetante da gua, em reas rurais (DANIEL, 2001; TAVARES et al., 2011; BERTHOLINI &
BELLO, 2011). um mtodo que vem se mostrando
234
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 229-242
comunidades ribeirinhas amaznicas a gua potvel
(OLIVEIRA, 2009).
O projeto, ainda em andamento, financiado pela Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado
do Par FAPESPA e pelo CNPq e tem atuao nas
Ilhas Grande, Murutucu. Em breve sofrer expanso
de suas atividades para as ilhas Comb e Maracuj
(OLIVEIRA, 2009). Tal inciativa estimulou a criao
do Grupo de Pesquisa Aproveitamento da gua da
Chuva na Amaznia, com pesquisadores da UFPA,
IFPA, Secretaria Estadual de Meio Ambiente SEMA.
Reservatrios de autolimpeza
Caixa dgua superior
Filtro
235
Reservatrios de autolimpeza
Filtro
CONCLUSES
Com esse levantamento foi possvel perceber que a regio insular belenense apresenta variadas formas de abastecimento de gua: extrao em
poos, o consumo de rios e igaraps, a compra de
gua, a busca em outros municpios e na orla de
Belm.
Como alternativa de abastecimento, h inmeras formas de aproveitamento da gua pluvial.
Avanadas ou rudimentares, em operao ou inoperantes, mas sempre buscando a potabilidade, mostrando, inclusive, que h urgncia no provimento de
solues que viabilizem o fornecimento de gua
com qualidade aos ribeirinhos.
236
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 229-242
Quadro 2 Produo acadmica e cientfica sobre aproveitamento da gua pluvial em ilhas de Belm.
Ttulo
gua da chuva e desenvolvimento local: O
caso do abastecimento das ilhas de Belm
Aproveitamento de guas pluviais para
abastecimento em rea rural na
Amaznia. Estudo de caso: ilhas Grande e
Murutucu, Belm-PA.
Sistema de captao e tratamento da gua
de chuva para atendimento de populaes
tradicionais em ilhas de Belm: avaliao
de impactos decorrentes
Abastecimento de gua em comunidades
ribeirinhas da
Amaznia brasileira e promoo da sade:
anlise de modelo de interveno e de
gesto.
Influncia do tempo de armazenamento
na qualidade da gua de chuva para
consumo humano.
Influncia dos tipos de telhados na
qualidade da gua do sistema do
abastecimento de gua pluvial localizados
na regio insular de Belm
Avaliao da qualidade da gua em sistema de captao de gua de chuva para
atendimento a populaes tradicionais em
ilhas do municpio de Belm.
Elaborao de manual de operao de
autogesto do sistema de captao e tratamento de gua da chuva para populaes das ilhas do municpio de Belm.
Anlise estatstica dos parmetros fsicos,
qumicos e bacteriolgicos em um sistema
alternativo de abastecimento com gua
pluvial nas ilhas Jutuba, Nova e UrubuocaBelm-PA.
Indicadores de sustentabilidade para sistemas de aproveitamento de gua da chuva em comunidades insulares.
Autor (es)
VELOSO (2012)
Especificao
Dissertao
de
do/NUMA UFPA
Dissertao
de
do/ITEC UFPA
GONALVES
(2012)
SOUZA (2012)
SOUZA
(2012)
et.
MestraMestra-
al
FIALHO (2010)
FERREIRA
&
NASCIMENTO
(2010)
MARQUES
&
CUNHA (2010)
TRINDADE
&
BARROS (2012)
AZEVEDO
ASSUNO
(2012)
&
Dissertao
de
do/NUMA UFPA
Mestra-
inteligente de gesto local. Alguns fatores evidenciam a potencialidade do modelo: ausncia de servio
pblico de abastecimento, disposio geogrfica, os
altos ndices pluviomtricos, pr-disposio dos moradores em buscar solues, simplicidade de operao e manuteno do sistema, acessibilidade, entre
outros.
Ao correlacionar a situao das ilhas belenenses com as de outros locais do mundo, verifica-se
que tecnicamente as solues so semelhantes. To-
Outro fator importante observado na pesquisa a constatao de iniciativas de aproveitamento da gua da chuva por vrios atores sociais: entes
pblicos, organizaes no governamentais, associao de moradores, instituies de ensino e at mesmo individualmente, com o improviso de alguns
moradores.
Verifica-se ainda que a utilizao da gua
chuva em ilhas amaznicas, como sistema alternativo
de abastecimento de gua, se mostra uma estratgia
237
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq (processo n 556232/2009-7), e
Fundao de Amparo a Pesquisa do Par (FAPESPA) (TERMO DE OUTORGA E ACEITAO DE
AUXLIO N 141/2008) pelo apoio financeiro que
deram condies ao desenvolvimento destas pesquisas de mestrado do primeiro autor.
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ABSTRACT
241
242
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 243-254
RESUMO
A modelagem hidrolgica uma ferramenta extremamente til para a realizao de avaliaes e apoio tomada de
deciso em questes relacionadas ao uso correto de recursos hdricos. Os modelos hidrolgicos do tipo distribudo so capazes
de representar o comportamento de uma bacia hidrogrfica de forma complexa, permitindo anlises e estudos detalhados a
partir de seus resultados. Um dos requisitos bsicos para o uso destes modelos distribudos a descrio fisiogrfica detalhada
da bacia estudada, obtida atravs do uso de plataformas de Sistemas de Informao Geogrfica (SIG). Visando potencializar
o uso da simulao hidrolgica e o desenvolvimento de solues para o correto gerenciamento de recursos hdricos, o presente
trabalho apresenta a concepo de um acoplamento do tipo rgido entre a plataforma de SIG MapWindow GIS e o modelo
hidrolgico MGB-IPH. A ferramenta concebida foi testada com sucesso na modelagem da bacia hidrogrfica do rio Iju. A
aplicao demonstrou que um grau elevado de integrao entre o modelo hidrolgico e o SIG foi obtido. Foram criadas ferramentas teis para manipulao e representao simplificada dos dados de entrada no ambiente SIG, e para psprocessamento e anlise dos resultados do modelo hidrolgico.
Palavras-chave: modelo hidrolgico, sistema de informao geogrfica, MGB-IPH
INTRODUO
243
II.
III.
Nyerges (1991) e Sui e Maggio (1999) sugerem que os SIG e os modelos hidrolgicos podem
ser integrados em trs nveis de acoplamento, com
diferentes estratgias de integrao:
I.
II.
III.
Acoplamento livre: O modelo funciona desvinculado ao SIG, que usado apenas para
pr, ps-processamento e visualizao de feies espaciais e/ou resultados.
Acoplamento prximo ou rgido: O modelo
funciona junto ao SIG, com todas as funes
de gerao, processamento e visualizao funcionando atravs do SIG. Porm, a modelagem funciona de forma paralela, sendo o SIG
necessrio para que ela seja ativada (a interface do modelo o SIG).
Acoplamento Pleno: As equaes de modelagem hidrolgica so programadas dentro do
cdigo do prprio SIG, ou uma estrutura de
SIG programada dentro do prprio modelo
hidrolgico. Esta forma de acoplamento possui, portanto, duas subdivises.
244
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 243-254
automtica (LIAO e TIM, 1997; SUI e MAGGIO,
1999; MARTIN et al., 2005).
Independentemente da forma de utilizao
dos SIG, consenso que nos padres atuais de modelagem hidrolgica impossvel a utilizao de um
modelo distribudo sem que exista algum tipo de
acoplamento a uma plataforma deste gnero.
Desta forma, visando potencializar o uso da
simulao hidrolgica, aprimorar a integrao entre
modelagem e as tecnologias SIG e promover desenvolvimento neste campo de estudo, o presente trabalho apresenta a concepo de um acoplamento entre a plataforma de SIG MapWindow GIS (AMES,
2006; AMES et al., 2008) e o modelo hidrolgico
MGB-IPH (COLLISCHONN e TUCCI, 2001).
Acoplamento pleno
O acoplamento pleno a mais sofisticada
forma de integrao entre SIG e modelos hidrolgicos. Ele baseado na incorporao dos componentes funcionais de um sistema no outro, eliminando a
necessidade de transferncias intermedirias entre
os softwares (LIAO e TIM, 1997).
O acoplamento pode consistir tanto na incorporao do SIG ao modelo hidrolgico, como do
modelo hidrolgico ao SIG.
O grande inconveniente do primeiro enfoque que as funcionalidades de gerenciamento de dados e visualizao dos
softwares de modelagem hidrolgica no so em
absoluto comparveis com os as capacidades disponveis nos pacotes de softwares de SIG comerciais,
alm dos esforos de programao tenderem a ser
intensos e muitas vezes redundantes (SUI e MAGGIO, 1999).
No segundo caso, o modelo hidrolgico opera internamente ao software SIG, aproveitando as
funcionalidades do mesmo para sobreposio de
camadas de informao e gerenciamento espacial de
variveis. Devido relativa complexidade envolvida
no desenvolvimento destes sistemas, comumente os
sistemas plenamente integrados utilizam equacionamentos simplificados e possuem funcionalidades
limitadas em relao a operaes como calibrao
O modelo MGB-IPH
O Modelo Hidrolgico de Grandes Bacias,
MGB-IPH, foi desenvolvido para simular o processo
de transformao da chuva em vazo em grandes
bacias hidrogrficas (COLLISCHONN e TUCCI,
2001; COLLISCHONN et al., 2007). A verso original do modelo adotava uma subdiviso da bacia
hidrogrfica em elementos regulares (clulas quadradas), de cerca de 10 x 10 km. Atualmente, adotada no MGB-IPH uma discretizao da bacia em
unidades irregulares, definidas a partir de dados do
relevo de um Modelo Digital de Elevao (MDE), e
denominadas minibacias (GETIRANA et al., 2010;
PEREIRA, 2010).
245
Dados de Vazo
Dados de Clima
Descrio
Precipitao diria em pontos da
bacia hidrogrfica em milmetros de chuva.
Informaes dirias de vazo
provindas de estaes fluviomtricas na bacia hidrogrfica.
Mdias climticas mensais dos
parmetros Temperatura, Vento,
Umidade Relativa, Insolao e
Presso da regio de estudo.
Adicionalmente, podem ser
utilizados dados dirios.
246
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 243-254
Os plugins adicionados ao software de SIG
desta forma podem interagir com as propriedades,
funes, e objetos geogrficos do MapWindow
GIS, permitindo que funes de geoprocessamento sejam programadas de maneira dinmica e tendo
disponvel todas as funcionalidades do software, por
exemplo as ferramentas de visualizao, como zoom
e pan, e as ferramentas de edio de legendas e
alterao da simbologia.
Esta capacidade da plataforma SIG foi utilizada para o desenvolvimento deste trabalho, onde
foi construda a integrao entre o modelo hidrolgico e o SIG atravs de um plugin adicionado ao
MapWindow GIS.
Para a gerao de grficos dentro do MapWindow GIS foi utilizado o plugin de uso livre
ZedGraph (STEINER et al., 2005).
APLICAO
A Figura 01 apresenta um fluxograma geral
das principais etapas de uma aplicao do modelo
hidrolgico MGB-IPH, destacando as partes onde a
integrao com SIG desenvolvida utilizada (Interface MGB-IPH), que so as etapas de processamento
de dados de entrada e ps-processamento.
A seguir, a ferramenta de integrao desenvolvida apresentada simultaneamente ao desenvolvimento do estudo de caso na bacia do rio Iju, no
estado do Rio Grande do Sul, Brasil, onde as funcionalidades do trabalho desenvolvido so comentadas e demonstradas.
247
O prximo passo para a aplicao do modelo consistiu na obteno, anlise e preparao dos
dados de chuva e vazo do modelo hidrolgico. Para
a aplicao na bacia do rio Iju, todos os dados de
vazo utilizados para a modelagem foram obtidos no
sistema Hidroweb da Agncia Nacional de guas
(ANA). Para isto, foi desenvolvida uma ferramenta
de importao de dados hidrolgicos que permite
incorporar estes dados do sistema Hidroweb da
ANA. Para a bacia do rio Iju, foram obtidos os dados de vazo de quatorze postos fluviomtricos e de
trinta e seis postos pluviomtricos.
Dentro da interface desenvolvida, estes dados de vazo e precipitao so analisados utilizan-
Aps a preparao das informaes espaciais de entrada do MGB-IPH, todos os arquivos foram
sumarizados e compilados em um nico arquivo de
entrada do modelo hidrolgico (denominado MINI.MGB), atravs de um programa denominado
PrePro_MGB, que faz parte do conjunto de ferramentas de aplicao do modelo (FAN et al., 2010b).
Este arquivo gerado pelo PrePro_MGB consiste em
uma tabela de atributos das minibacias que compem a bacia hidrogrfica. Entre estes atributos
destacam-se a rea de drenagem, as coordenadas
dos centroides (calculadas atravs de um processo
de clculo de centro de massa para figuras planas),
248
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 243-254
do, respectivamente, as ferramentas "Vazo" e Precipitao. Estas duas ferramentas so apresentadas
nas Figuras 06 e 07, a seguir.
possvel ainda, atravs das ferramentas desenvolvidas, acessar o hidrograma e a curva de permanncia dos postos fluviomtricos, e o pluviograma dos postos pluviomtricos.
A partir da anlise da disponibilidade temporal e espacial dos dados de chuva e vazo, so
definidos quais postos de medio devem ser utilizados. Neste estudo o perodo para a realizao da
simulao foi escolhido como de 1980 a 2009, e
foram gerados os respectivos arquivos de entrada do
MGB-IPH.
A etapa posterior de aplicao do modelo
MGB-IPH a preparao dos dados climticos de
entrada do modelo. Para a manipulao e verificao da disponibilidade de dados de clima, que tambm podem ser utilizados diretamente a partir do
sistema HidroWeb, utilizada a ferramenta "Clima", apresentada na Figura 09.
249
250
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 243-254
da, uma ferramenta para a preparao das informaes de calibrao automtica tambm foi criada.
DISCUSSO
Ferramentas adicionais
Alm das ferramentas apresentadas no estudo de caso na bacia Iju, outras ferramentas foram
desenvolvidas para auxiliar a aplicao do modelo
MGB-IPH e para a interpretao dos seus dados de
entrada e de sada.
Uma das ferramentas desenvolvidas consiste
em um filtro para a determinao do escoamento de
base a partir dos dados de postos fluviomtricos.
Este filtro tambm acessado via interface SIG. A
Figura 15, abaixo, apresenta um exemplo de separao de escoamento gerado via interface.
I.
251
II.
III.
IV.
V.
AGRADECIMENTOS
Os autores deste artigo agradecem aos revisores annimos que deram importantes contribuies para a qualidade do trabalho.
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ABSTRACT
Problems involving efficient use of water resources
are major challenges to be faced by humanity in the coming
decades. In this context, hydrological modeling application
is an extremely useful tool to develop assessments and to
support
decision-making.
The
distributed
type
hydrologicalal models can represent the behavior of a watershed in a complex manner, allowing detailed analysis and
studies based on their results. One of the essential requirements for the use of distributed models is the detailed physiographic description of the studied basin, obtained by using
Geographic Information Systems (GIS) platforms. Aiming
to enhance the use of hydrological simulation and to develop solutions for proper water resources management, this
paper presents the design of a coupling between the
MapWindow GIS platform and the MGB-IPH hydrological model. The developed integration can be considered a
close coupling, due to the internal data transfer characteristics developed. The designed tool was successfully tested for
the modeling of the Iju River basin (Southern Brazil). The
application showed that a high degree of integration was
obtained between the GIS and the hydrological model. Useful tools were created for input data handling and representation in the GIS environment, and for post-processing
and analysis of the hydrological model results.
Key-words: hydrological model, geographic information
system , MGB-IPH.
SUI D. Z.; MAGGIO R. C. Integrating GIS with hydrological modeling: practices, problems, and prospects. Computers, Environment and Urban Systems. p. 35-51, 1999.
TARBOTON, D. G. 2002. "Terrain Analysis Using
Digital Elevation Models (Taudem),"Utah Water
Research Laboratory, Utah State University. Acessado em Maio de 2013: http://www.engineering. usu.edu/dtarb.
TIM, U.S., S. MOSTAGHIMI, e V.O. SHANHOLTZ,
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HEC-GeoHMS users manual. U.S. Army Corps of
Engineers, Hydrologic Engineering Center, Report
CPD-77, 2009.
254
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
RESUMO
Considerando a relevncia do enquadramento como instrumento de gesto, o presente trabalho tem como objetivo
avaliar cenrios de enquadramento para a bacia hidrogrfica do rio Itapemirim, considerando o setor de esgotamento sanitrio como nica fonte de cargas poluidoras. Para composio dos diferentes cenrios de enquadramento foram estabelecidos
quatro panoramas de tratamento de esgotos associados com distintas eficincias de remoo de Demanda Bioqumica de
Oxignio (DBO5,20), para diferentes horizontes de avaliao (2012, 2020 e 2030). A bacia hidrogrfica do rio Itapemirim
foi dividida em nove sub-bacias, para as quais a disponibilidade hdrica foi determinada por meio de curvas de permanncia
regionalizadas. A partir das referidas curvas foram produzidas curvas de permanncia de qualidade, correspondentes s
mximas cargas de DBO5,20 associadas s Classes de enquadramento 1, 2 e 3. A sobreposio das curvas de permanncia de
qualidade e de cargas remanescentes totais correspondentes aos diferentes cenrios propiciou a apropriao do percentual de
tempo em que cada sub-bacia apresentaria qualidade compatvel com a estabelecida para cada classe de enquadramento.
Para a conduo do estudo assumiu-se cursos dgua funcionando em regime permanente; adicionalmente, no foram includos, a favor da segurana, os diferentes processos que do forma ao fenmeno de autodepurao que, em alguma medida,
imporiam o abatimento de parcela da carga orgnica disposta nos rios. Os resultados permitiram associar diferentes possveis
cenrios de enquadramento dos cursos dgua da bacia do rio Itapemirim com diferentes nveis de cobertura de tratamento de
esgoto, alm de sugerirem que a metodologia considerada para a conduo do presente trabalho pode ser utilizada para subsidiar, em geral, decises acerca do enquadramento de cursos dgua superficiais, alm de possibilitar o acompanhamento da
evoluo do atendimento de metas intermedirias estabelecidas no momento de implementao deste instrumento de gesto.
Palavras-chave: Enquadramento, esgoto domstico, rio Itapemirim.
INTRODUO
O crescente desenvolvimento urbano tem
propiciado relevante destaque ao gerenciamento
dos recursos hdricos, em virtude da crescente demanda por este recurso, alm da disponibilidade
dgua se constituir em fator essencial para o desenvolvimento socioeconmico e cultural de uma regio (BRITES, 2010).
A Lei N 9.433, de 08 de janeiro de 1997,
que instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos (PNRH) e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (SNGRH), estabelece
que a gesto dos recursos hdricos deve proporcio*-
do Esprito
255
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
beneficiamento mineral (mrmores, granitos e moagem de calcrio), atividades de pesca, agropecuria, produo cimento, calados, laticnios, acar e
lcool (INCAPER, 2009; AQUACONSULT, 2011).
Esgoto sanitrio bruto ou sem tratamento
adequado responsvel pela quase totalidade da
carga orgnica lanada em corpos d'gua da bacia
do rio Itapemirim. Efluentes orgnicos industriais,
gerados por limitado nmero de empreendimentos,
geralmente passam por sistemas de tratamento nos
quais cargas so reduzidas antes de lanamento.
MATERIAIS E MTODOS
REA DE ESTUDO
Os procedimentos adotados nessa pesquisa
foram adaptados do trabalho desenvolvido por Garcia et al. (2012). As diferentes etapas que deram
forma ao trabalho sero sumariamente descritas nos
itens subseqentes.
O trabalho foi desenvolvido na bacia hidrogrfica do rio Itapemirim (Figura (01)), importante
bacia da poro sul do estado do Esprito Santo,
localizada entre os meridianos 4048' e 4152' de
Longitude Oeste e entre os paralelos 2010' e 2115'
de Latitude Sul.
A bacia do rio Itapemirim abrange um municpio de Minas Gerais (Lajinha) e dezessete municpios do Esprito Santo (Alegre, Atlio Vivcqua,
Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Conceio do
Castelo, Ibitirama, Jernimo Monteiro, Muniz Freire
e Venda Nova do Imigrante, em suas totalidades; e,
parcialmente inseridos na bacia, Ibatiba, Irupi, Itapemirim, Ina, Maratazes, Muqui, Presidente Kennedy e Vargem Alta).
A bacia, localizada majoritariamente no territrio do estado do Esprito Santo, possui rea de
5.913,68 km, abrigando uma populao de cerca de
461.669 habitantes (IBGE, 2011). As principais atividades econmicas esto associadas ao extrativismo e
256
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
selecionadas, utilizou-se a ferramenta Disponibilidade de Dados do Sistema Computacional para
Anlise Hidrolgica (SisCAH 1.0), programa desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Recursos Hdricos (GPRH), do Departamento de Engenharia Agrcola da Universidade Federal de Viosa. A seleo
das estaes fluviomtricas e respectivas sries histricas de vazes envolveram os seguintes critrios:
Sigla
SB1
SB2
SB3
SB4
SB5
SB6
SB7
SB8
SB9
rea de
drenagem (km2)
509,96
573,59
333,52
1432,73
1481,89
3086,43
5882,85
683,9
5913,68
Coordenadas
Nome da
drena-
Rio
estao
gem
Principal
(Km2)
Usina
Fortaleza
geogrficas
Latitude
Longitude
Esquerdo
-202217
-412425
Pardo
-202549
-413010
-203142
-413041
Brao Norte
192
Terra
Corrida
544
Brao Norte
Itaici
1020
Esquerdo
Brao Norte
Ibitirama
337
Direito
-203226
-413956
Rive
2220
Itapemirim
-204449
-412758
Miguel
1450
Castelo
-204209
-411025
Coutinho
4600
Itapemirim
-204530
-411025
5170
Itapemirim
-205709
-405710
Usina So
Usina
Paineiras
257
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
drenagem das bacias (varivel independente da
funo regional) e c e d parmetros ajustados por
meio de anlise de regresso.
A verificao da homogeneidade hidrolgica da regio de estudo foi realizada por meio da
anlise da qualidade do ajuste do modelo de regresso de vazes especficas (Q50 e Q95). Essa anlise foi
baseada nos valores do coeficiente de determinao
(R2) da equao de regresso (no se aceitando
coeficientes de determinao inferiores a 80%) e no
desvio percentual entre os valores das vazes observadas e estimadas pelo modelo de regresso (acolhendo-se desvios de, no mximo, 20%).
Q R e a . P b
(01)
Q
ln 50 R
Q
a 95R
0,45
b ln Q 50 R 0 ,5.a
(02)
(03)
Nas
duas
ltimas
expresses
Q50R(m3/s)representa a vazo regionalizada com
permanncia de 50% e Q95R(m3/s) a vazo regionalizada com permanncia de 95%.
Para o estabelecimento das funes regionais para apropriao das vazes Q50R e Q95R foram
estabelecidas, por anlise de regresso, curvas que
relacionassem as vazes Q50 e Q95 das estaes fluviomtricas estudadas com reas de drenagem. As
referidas funes assumiram a forma de uma equao do tipo potncia, conforme Equao (04).
Q PR c.A d
(04)
258
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
foi aplicada sobre a populao da rea de estudo
obtida no Censo demogrfico de 2010.
A determinao da populao contida em
cada sub-bacia foi realizada utilizando-se a sobreposio das imagens correspondentes aos limites das
sub-bacias e dos limites dos setores censitrios utilizados para levantamento das informaes do Censo
demogrfico de 2010. Os arquivos dessas imagens,
em formato shapefile, foram manipulados no ArcMap, uma das ferramentas do pacote ArcGIS 9.3 da
empresa Environmental Systems ResearchInstitute.
Os setores censitrios foram considerados integralmente em uma dada sub-bacia quando
95% ou mais de sua rea estavam nela contido. Neste caso, toda a populao do setor censitrio foi
ento associada sub-bacia qual ele foi vinculado.
Para os casos em que a frao de rea do setor censitrio contida na sub-bacia foi inferior a 95%, a populao associada foi obtida pela Equao (05).
2.
(05)
Na ltima expresso PSub representa a populao do setor censitrio contida na sub-bacia e PSet a
populao do setor censitrio.
As populaes dos setores censitrios foram
estabelecidas com base na varivel Populao Residente, considerando-se a classificao adotada pelo
IBGE(populaes urbana e rural).
relevante registrar que, uma vez que as
concessionrias que prestam servio de esgotamento
sanitrio atuam no mbito dos municpios, as cargas
estimadas de DBO5,20 associadas populao urbanaforam alocadas nas sub-bacias onde a populao
urbana de cada municpio est contida, tendo em
vista que existem municpios cujas reas esto distribudas por mais de uma sub-bacia. Por outro lado,
considerou-se que o esgoto domstico gerado pela
populao rural no coletado e tratado, sendo o
mesmo disposto na prpria regio onde a populao
reside. Assim, para o clculo da carga de DBO5,20
associada populao rural, foi utilizada a populao contida em cada sub-bacia.
259
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
Ia
N l .TOC .100
Pu r
(06)
A vazo domstica mdia de esgotos da populao urbana e rural foi calculada por meio das
Equaes (08) e (09), respectivamente, baseadas em
Von Sperling (2005).
(09)
(11)
Q r Pr .Q PC .R
Nas
expresses
anteriores
CDuD(mg/d)indica a Carga direta de DBO5,20 domstica, relativa populao urbana no atendida com
esgotamento sanitrio; CduDBO(mg/d)a Carga direta
de DBO5,20 domstica, relativa populao rural; e
CbDBO(mg/L)a Concentrao de DBO5,20 domstica
de esgoto bruto. Neste estudo adotou-se o valor de
400 mg/L para a concentrao de DBO5,20 presente
no esgoto domstico bruto. Esse valor corresponde
ao limite superior da faixa de concentrao de
DBO5,20 caracterstica de esgoto domstico bruto,
conforme sugerem Von Sperling (2005) e Jordo e
Pessa (2009).
Na ltima expresso, %Efa indica o percentual efetivo de atendimento populao com servio de coleta e tratamento de esgoto e %EsgCt o percentual do esgoto coletado.
Nas localidades urbanas sem tratamento de
esgoto e para populao rural esse percentual foi
considerado igual zero.
(08)
(10)
BO
(07)
Q u Pu .Q PC .R
Q . %E . Ct
(12)
260
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
CRu P ,
Q . Cb
. 1
%Er
A apropriao das cargas totais remanescentes exigiu a definio da origem (sub-bacias contribuintes) e do destino (sub-bacias de lanamento) do
esgoto domstico produzido nas nove sub-bacias
estudadas (Quadro (02)).
(13)
Quadro (02) - Origem e destino das cargas totais remanescentes de DBO5,20 nas sub-bacias
Concentrao de
tratamento de esgoto
DBO5,20 (mg/L)
50-80
40-80
40-80
15-40
30-60
15-35
CRT P ,
CDr
CDr
CRu P ,
CRu P
,
SB1
SB1
SB2
SB2
SB3
SB3
SB4
SB5
SB5
SB6
SB7
SB8
SB8
SB9
A carga remanescente total de DBO domstica em cada sub-bacia foi determinada por meio das
Equaes(13) (panorama 1) e (14) (panoramas 2, 3
e 4).
CDu
Destino
CRT P
Origem
(14)
(15)
Nas
duas
ltimas
equaes,
CRT(P1)DBO(mg/d) representa a carga remanescente total de DBO5,20 domstica nas sub-bacias, relativa
ao panorama 1; e CRT(P2,3,4)DBO(mg/d)a carga remanescente total de DBO5,20 domstica na sub-bacia,
relativa aos panoramas 2, 3 ou 4.
relevante observar que no clculo das cargas remanescentes totais de DBO5,20 domstica, relativas aos panoramas 2, 3 e 4, no foi inserida a carga
direta de DBO5,20 associada populao no atendida, tendo em vista que, nesses panoramas, foi considerado que toda populao urbana seria atendida
com servios de esgotamento sanitrio.
261
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
te. Ambas as equaes apresentaram coeficiente de
correlao muito prximos da unidade, com R
igual a 0,9879 para a vazo Q50 e igual a 0,9922 para
a vazo Q95.
c) No foi considerado o processo de autodepurao nos corpos dgua, reproduzindose condies de avaliao estabelecidas por
Garcia et al. (2012);
d) A carga gerada em uma sub-bacia contribuinte encaminhada para a sub-bacia situada
jusante (sub-bacia de lanamento), sendo
somada carga gerada nesta ltima. Tal
processo se d continuamente at que se atinja o exutrio da bacia.
Q 50 R 0,0409.A 0,8338
(16)
(17)
As Tabelas (03) e (04) apresentam os valores observados e estimados com auxlio das funes
regionais das vazes com permanncia de 50% (Tabela (02)) e 95% (Tabela (03)). Estas tabelas apresentam, adicionalmente, os desvios percentuais entre os valores reais e estimados das referidas vazes.
Q50R
Desvios
(Observada,
(Estimada,
Percentuais
m/s)
m/s)
( %)
6,48
5,06
-19,19
Usina So Miguel
9,57
12,28
15,61
Usina Fortaleza
3,04
3,16
7,95
Terra Corrida
7,36
7,55
6,12
Rive
26,80
24,52
-5,86
Coutinho
19,16
20,02
4,46
Itaici
12,65
12,78
4,31
Usina Paineiras
49,00
45,13
0,63
Nome da Estao
Ibitirama
Nome da Estao
Ibitirama
DISCUSSO E RESULTADOS
Q95
Q95R
Desvios
(Observada,
(Estimada,
Percentuais
m/s)
m/s)
( %)
2,37
2,21
-6,84
16,01
Usina So Miguel
6,52
7,56
Usina Fortaleza
1,28
1,37
7,54
Terra Corrida
3,62
3,31
-8,64
Rive
11,98
10,83
-9,61
Coutinho
15,30
17,16
-5,48
Itaici
5,37
5,62
4,67
Usina Paineiras
22,80
22,09
-3,14
262
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
As equaes empricas obtidas para construo das curvas de permanncia de vazes regionalizadas entre 50% e 95% esto apresentadas na Tabela (05).
A Figura (03) apresenta uma comparao
entre a curva de permanncia de vazes reais e a de
vazes regionalizadas (entre 50% e 95% de permanncia) para a estao Terra Corrida - Montante.
Grficos semelhantes foram produzidos para as demais estaes fluviomtricas consideradas neste estudo.
Tabela (06) - Vazes estimadas (Q50R e Q95R) para os exutrios das sub-bacias consideradas
Nome da Estao
Usina Fortaleza
QR = e(-1,93.P + 2,15)
Terra Corrida
QR = e(-1,91.P + 3,01)
Itaici
QR = e(-1,90.P + 3,53)
Ibitirama
QR = e(-1,92.P + 2,62)
Rive
QR = e(-1,88.P + 4,17)
Usina So Miguel
QR = e(-1,89.P + 3,82)
Coutinho
QR = e(-1,86.P + 4,77)
Usina Paineiras
QR = e(-1,86.P + 4,86)
Q50R
Q95R
(m/s)
(m/s)
SB1
7,40
3,13
Pardinho
SB2
8,16
3,46
SB3
5,19
2,19
Lambari Frio
SB4
17,51
7,48
Castelo
SB5
18,01
7,70
Vala do Souza
SB6
33,21
14,30
Coqueiro
SB7
56,86
24,63
Muqui do Norte
SB8
9,45
4,01
Itapemirim
SB9
57,11
24,74
Nome da Sub-bacia
Sigla
curvas de permanncia de
Nome da Sub-bacia
Sigla
SB1
QP = e(-1,91.P + 2,96)
Pardinho
SB2
QP = e(-1,91.P + 3,05)
SB3
QP = e(-1,92.P + 2,61)
Lambari Frio
SB4
QP = e(-1,89.P + 3,81)
Castelo
SB5
QP = e(-1,89.P + 3,84)
Vala do Souza
SB6
QP = e(-1,87.P + 4,44)
Coqueiro
SB7
QP = e(-1,86.P + 4,97)
Muqui do Norte
SB8
QP = e(-1,91.P + 3,20)
Itapemirim
SB9
QP = e(-1,86.P + 4,97)
vazes regionalizadas(m/s)
263
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
Tabela (08) - Cargas totais remanescentes associadas s sub-bacias avaliadas considerando o panorama 1
Cargas totais remanescentes (t DBO/dia)
Sub-bacia
Direta
Direta
Remanescente
Total
Direta
Direta
Remanescente
Total
Direta
Direta
Remanescente
Total
rural
urbana do tratamento
2012
rural
urbana
do tratamento
2020
rural
urbana
do tratamento
2030
SB1
0,40
0,09
0,02
0,50
0,44
0,11
0,02
0,57
0,50
0,15
0,02
0,67
SB2
1,04
1,64
0,00
2,68
1,15
1,81
0,00
2,96
1,31
2,06
0,00
3,36
SB3
0,29
0,38
0,00
0,68
0,32
0,43
0,00
0,75
0,37
0,49
0,00
0,86
SB4
1,59
2,10
0,00
3,69
1,76
2,32
0,00
4,08
2,00
2,64
0,00
4,64
SB5
1,57
1,06
0,33
2,95
1,73
1,30
0,33
3,36
1,97
1,65
0,33
3,94
SB6
2,71
3,41
0,06
6,18
3,00
3,83
0,06
6,88
3,40
4,40
0,06
7,86
SB7
5,64
6,68
1,09
13,40
6,24
8,31
1,09
15,64
7,08
10,60
1,09
18,76
SB8
0,61
0,83
0,00
1,44
0,67
0,92
0,00
1,59
0,76
1,05
0,00
1,81
SB9
5,65
7,33
1,29
14,27
6,25
9,15
1,29
16,69
7,09
11,69
1,29
20,07
Tabela (09) - Cargas totais remanescentes associadas s sub-bacias avaliadas, considerando o panorama 2
Cargas totais remanescentes (t DBO/dia)
Sub-bacia
Direta
Remanescente
SB1
0,40
0,24
SB2
1,04
SB3
Total
Direta
Remanescente
0,63
0,44
0,26
1,64
2,68
1,15
0,29
0,40
0,70
SB4
1,59
2,12
SB5
1,57
SB6
2,71
SB7
Total
Total
Direta
Remanescente
0,70
0,50
0,30
0,79
1,81
2,96
1,31
2,06
3,36
0,32
0,45
0,77
0,37
0,51
0,87
3,71
1,76
2,34
4,10
2,00
2,66
4,65
2,31
3,88
1,73
2,56
4,29
1,97
2,90
4,87
3,88
6,60
3,00
4,30
7,30
3,40
4,87
8,28
5,64
15,38
21,02
6,24
17,01
23,25
7,08
19,30
26,38
SB8
0,61
0,83
1,44
0,67
0,92
1,59
0,76
1,05
1,81
SB9
5,65
17,08
22,73
6,25
18,89
25,14
7,09
21,43
28,52
2012
2020
2030
Tabela (10) - Cargas totais remanescentes associadas s sub-bacias avaliadas considerando o panorama 3
Cargas totais remanescentes (t DBO/dia)
Sub-bacia
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2012
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2020
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2030
SB1
0,40
0,07
0,47
0,44
0,08
0,52
0,50
0,09
0,59
SB2
1,04
0,49
1,53
1,15
0,54
1,70
1,31
0,62
1,92
SB3
0,29
0,12
0,41
0,32
0,13
0,46
0,37
0,15
0,52
SB4
1,59
0,64
2,23
1,76
0,70
2,46
2,00
0,80
2,79
SB5
1,57
0,69
2,26
1,73
0,77
2,50
1,97
0,87
2,84
SB6
2,71
1,17
3,88
3,00
1,29
4,29
3,40
1,46
4,87
SB7
5,64
4,61
10,25
6,24
5,10
11,34
7,08
5,79
12,87
SB8
0,61
0,25
0,86
0,67
0,28
0,95
0,76
0,31
1,08
SB9
5,65
5,12
10,77
6,25
5,67
11,92
7,09
6,43
13,52
264
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
Tabela (11) - Cargas totais remanescentes associadas s sub-bacias avaliadas considerando o panorama 4
Cargas totais remanescentes (t DBO/dia)
Sub-bacia
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2012
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2020
Direta
Remanescente
Total
do tratamento
2030
SB1
0,40
0,04
0,43
0,44
0,04
0,48
0,50
0,04
0,54
SB2
1,04
0,25
1,29
1,15
0,27
1,42
1,31
0,31
1,62
SB3
0,29
0,06
0,35
0,32
0,07
0,39
0,37
0,08
0,44
SB4
1,59
0,32
1,91
1,76
0,35
2,11
2,00
0,40
2,40
SB5
1,57
0,35
1,91
1,73
0,38
2,12
1,97
0,44
2,40
SB6
2,71
0,58
3,29
3,00
0,64
3,64
3,40
0,73
4,13
SB7
5,64
2,31
7,94
6,24
2,55
8,79
7,08
2,90
9,97
SB8
0,61
0,12
0,73
0,67
0,14
0,81
0,76
0,16
0,92
SB9
5,65
2,56
8,21
6,25
2,83
9,08
7,09
3,22
10,30
Tabela (12) - Probabilidade de compatibilidade com as diferentes classes de enquadramento para as diferentes sub-bacias,
horizontes e panoramas considerados
Sub-bacia
SB1
SB2
SB3
SB4
SB5
SB6
SB7
SB8
SB9
Ano
Panorama 1 (%)
Panorama 2 (%)
Panorama 3 (%)
Panorama 4 (%)
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 1
Classe 2
Classe 3
Classe 1
Classe 2
Classe 3
2012
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2030
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2012
< 50
64,38
> 95
< 50
64,38
> 95
66,89
93,65
> 95
76,05
> 95
> 95
2020
< 50
59,09
> 95
< 50
59,09
> 95
61,6
88,36
> 95
70,76
> 95
> 95
2030
< 50
52,47
88,79
< 50
52,47
88,79
54,99
81,75
> 95
64,15
90,91
> 95
2012
85,69
> 95
> 95
84
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
80,3
> 95
> 95
79,06
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2030
73,58
> 95
> 95
72,49
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2012
60,97
88,01
> 95
60,71
87,74
> 95
87,71
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
55,6
82,64
> 95
55,36
82,4
> 95
82,37
> 95
> 95
90,52
> 95
> 95
> 95
2030
< 50
75,93
> 95
< 50
75,72
> 95
75,69
> 95
> 95
83,84
> 95
2012
74,31
95
> 95
59,79
86,84
> 95
88,39
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
67,38
94,43
> 95
54,44
81,49
> 95
83,04
> 95
> 95
91,86
> 95
> 95
2030
58,99
86,04
> 95
< 50
74,81
> 95
76,36
> 95
> 95
85,18
> 95
> 95
2012
67,67
94,94
> 95
64,21
91,49
> 95
92,59
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
61,94
89,21
> 95
58,82
86,1
> 95
87,2
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2030
54,82
82,1
> 95
52,08
79,36
> 95
80,46
> 95
> 95
89,15
> 95
> 95
2012
55,11
82,58
> 95
< 50
58,39
> 95
69,52
> 95
> 95
83,24
> 95
> 95
2020
< 50
74,3
> 95
< 50
52,96
90,24
64,09
91,57
> 95
77,81
> 95
> 95
2030
< 50
64,49
> 95
< 50
< 50
83,45
57,31
84,78
> 95
71,02
> 95
> 95
2012
77,9
> 95
> 95
77,9
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2020
72,59
> 95
> 95
72,59
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2030
65,97
92,78
> 95
65,97
92,78
> 95
93,2
> 95
> 95
> 95
> 95
> 95
2012
51,96
79,43
> 95
< 50
54,42
91,7
67,1
94,58
> 95
81,71
> 95
> 95
2020
< 50
71,03
> 95
< 50
50
86,27
61,67
89,15
> 95
76,28
> 95
> 95
2030
< 50
61,1
> 95
< 50
50
79,48
54,88
82,36
> 95
69,49
> 95
> 95
265
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
considerados, foi produzida a Tabela 12, que apresenta os percentuais de permanncia nas diferentes
classes de enquadramento. Para todos os casos, a
tabela apresenta, em destaque, a classe na qual cada
sub-bacia apresenta maior percentual de permanncia. Quando diferentes classes apresentaram mesmo
percentual de permanncia, foi destacada a classe
de usos mais nobres.
Nas situaes em que os percentuais de
permanncia se encontram fora do intervalo de
anlise, a permanncia correspondente representada por < 50%, (quando se trata de valor inferior a
50% da permanncia), ou por > 95%, (quando o
valor supera a permanncia de 95%).
A Tabela (12) permite observar que, de
modo geral, a situao atual da bacia (panorama 1)
aproxima-se da condio associada ao panorama 2.
Outro aspecto que merece destaque o fato de que
a perspectiva estabelecida pelo panorama 3 (tratamento com 70% de eficincia para 100% da populao urbana) suficiente para que seis das nove
sub-bacias apresentem condies compatveis com a
perspectiva de enquadramento na Classe 2 ou superior. Quando se aumenta a eficincia do tratamento
para 85%, conforme proposto por meio do panorama 4, observa-se que praticamente todas as subbacias, independentemente do cenrio considerado,
estabeleceriam condies de qualidade compatveis
com aquelas esperadas para cursos dgua Classe 2,
apresentando-se como nica exceo a sub-bacia
SB2 para o cenrio associado ao ano de 2030, que
permaneceria na Classe 3.
266
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
Figura (05) - Capacidades de diluio do corpo dgua e parcela das cargas a serem
tratadas para qualidade compatvel com a Classe 2 no ano de 2012.
267
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
Figura (06) - Nvel de estresse das sub-bacias para o panorama 1, Classe 2 e ano 2012
CONCLUSES
A partir das estimativas das cargas produzidas em cada sub-bacia, observou-se que nas subbacias SB5, SB7 e SB2 seriam geradas as maiores
cargas remanescentes de DBO5,20 decorrentes do
aporte de esgotos de origem domstica, considerado
o cenrio de enquadramentoassociado atual condio de tratamento de esgotos. Os percentuais
relativos s cargas geradas nas subabacias SB5, SB7 e
SB2 foram, respectivamente, 21, 20 e 19% de toda
carga remanescente produzida na bacia hidrogrfica
do rio Itapemirim (14,3 t DBO5,20/d).
As maiores cargas remanescentes totais de
DBO5,20 foram associadas s sub-bacias SB9, SB7, SB6
e SB4, nessa ordem. Cabe ressaltar que estas subbacias recebem cargas provenientes de sub-bacias
localizadas montante.
Na maior parte das situaes analisadas neste estudo, a permanncia nas diferentes classes de
uso no panorama 1 aproxima-se do percentual associado s mesmas classes no panorama 2, sugerindo a
existncia de baixos nveis de cobertura para o servio de tratamento de esgotos.
268
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 255-270
ANA - AGNCIA NACIONAL DE GUAS. (2009).
Caderno de Recursos Hdricos 6: Implantao do
enquadramento em Bacias Hidrogrficas. Braslia:
ANA. 145 p.
AGRADECIMENTOS
empresa Foz do Brasil, Companhia Esprito Santense de Saneamento e aos Servios Autnomos de gua e Esgoto dos municpios de Alegre,
Ibitirama, Itapemirim, Jernimo Monteiro e Vargem
Alta pela disponibilizao de informaes utilizadas
na conduo do presente estudo.
REFERNCIAS
Aquaconsult Consultoria e Projetos de Engenharia
Ltda. (2011). Plano Municipal de gua e Esgoto de
Cachoeiro de Itapemirim. Vitria: Aquaconsult.
269
Subsdios para o Enquadramento dos Cursos de gua da Bacia Hidrogrfica do Rio Itapemirim Considerando
Aportes de Esgotos Sanitrios
Planejamento e Programao de Aes. Vitria:
Incaper.
ABSTRACT
Considering the relevance of the selection of
CONAMA(Brazilian Environment Council) water quality
classes for watercourse reaches as a management tool, the
study aimed to evaluate classification scenarios for
Itapemirim watershed by considering the sanitation sector
as the only source of pollutant loads. In order to compose
different scenarios, classification scenarios were established
considering four sewage treatment conditions presenting
different Biochemical Oxygen Demand (BOD5,20) removal
efficiencies for three different time horizons (2012, 2020
and 2030). Itapemirim watershed was divided into nine
sub-basins, for which water availability was determined by
flow duration regionalization procedures. Water quality
duration curves corresponding to the maximum
BOD5,20loads associated with the CONAMA 357/205
water quality classes 1, 2 and 3 were produced from regionalization curves. The overlapping duration curves and
remaining total pollution loads corresponding to different
scenarios, led to the appropriation of the percentage of time
that each sub-basin would present quality compatible with
the established water quality classes. The results allowed to
associate different Itapemirim river watercourse classes
scenarios with different sewage treatment cover conditions.
They also suggest that the methodology adopted for the
development of this study can be used generally to support
decisions about the definition of water quality classes of
watercourses reaches.
Key-words: Water quality class, sewage, Itapemirim river.
270
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 271-280
RESUMO
O consumo das guas subterrneas tem crescido continuamente no Brasil, aumentando a necessidade de proteo e
uso sustentvel destes recursos. Uma ferramenta importante para a gesto desses recursos o estudo da estimativa de recarga
de aquferos. Visando gerar informaes que permitam melhorar a gesto da gua na regio, este trabalho consistiu na aplicao do mtodo da variao do nvel dgua (VNA) para se estimar a recarga em cinco poos de uma sub-bacia hidrogrfica
rural, localizada no municpio de Viosa, Zona da Mata Mineira. Para isso, foram realizados slug tests e o monitoramento
semanal durante um ano hidrolgico da superfcie fretica nos poos. A recarga mdia anual dos poos foi de 270,6 mm, o
que corresponde a uma taxa de recarga mdia anual de 17,4% para o perodo monitorado ao longo do qual ocorreu uma
precipitao total anual quase 15% acima da mdia dos ltimos anos. Os poos apresentaram recarga semelhantes, com
exceo do poo 5 que apresentou quase o dobro da recarga dos outros poos devido, provavelmente, existncia de nascentes
em seu entorno. O uso do mtodo se mostrou satisfatrio e o resultado obtido semelhante recarga encontrada em outro
trabalho realizado na mesma regio.
Palavras-chave: mtodo VNA; estimativa da recarga; guas subterrneas.
INTRODUO
O uso das guas subterrneas est aumentando continuamente no pas. As causas dessa tendncia so o crescimento do consumo, a degradao
dos corpos dgua superficiais e uma maior e melhor compreenso da dinmica dos aquferos, bem
como as melhorias tecnolgicas na perfurao de
poos (CABRAL et al., 2006). Estima-se que 35% da
populao do pas servida por essas guas. No
estado de So Paulo, 70% dos municpios utilizam
somente ou parcialmente mananciais subterrneos
para fins de abastecimento pblico (TEIXEIRA et
al., 2009).
Entretanto, existem alguns problemas associados ao uso destas guas, com destaque para a
explotao excessiva e a contaminao dos reservatrios subterrneos. A extrao intensa de grandes
volumes de gua por bombeamento do subsolo, sem
considerar aspectos como a disponibilidade e recar
*
Viosa
271
Estimativa da Recarga em uma Sub-bacia Hidrogrfica Rural Atravs do Mtodo da Variao do Nvel Dgua (VNA)
cados na determinao da recarga. Isso ocorre devido a facilidade em se estimar a recarga atravs das
variaes temporais ou padres espaciais de leituras
dos nveis freticos (HEALY & COOK, 2002).
Recarga
A recarga de um aqufero pode ser definida
como o processo em que a gua presente na superfcie terrestre infiltra no solo, atravessando seu perfil
at que atinge a superfcie fretica do aqufero (camada saturada do solo), assim contribuindo para o
aumento do volume de gua disponvel no reservatrio subterrneo. Pode ocorrer de modo natural
(precipitao) ou artificial (irrigao). Alguns fatores que interferem nesse processo so: a condutividade hidrulica vertical do meio, a transmissividade
do aqufero e a capacidade de infiltrao de gua no
solo (POEHLS & SMITH, 2009).
Porm, nem sempre a gua que infiltra no
solo atinge o nvel dgua. No perfil do solo podem
existir camadas com baixa condutividade hidrulica,
conduzindo assim o fluxo para depresses prximas
onde a gua escoa superficialmente ou evapora, no
chegando assim ao aqufero (VRIES & SIMMERS,
2002). Alm disso, a gua tambm pode ser captada
pelas razes da vegetao local, ficar retida nos microporos do solo ou evaporar antes de chegar ao
aqufero.
METODOLOGIA
Existem diversos mtodos para se estimar a
recarga, entretanto a escolha da melhor tcnica
nem sempre fcil. Algumas consideraes so importantes como a escala de tempo ou espao utilizada, o alcance e a confiabilidade da recarga estimada
baseadas em diferentes tcnicas, alm de outros
fatores que podem limitar o uso de algumas dessas
tcnicas (SCANLON et al., 2002).
Scanlon et al. (2002) organizam as tcnicas
de estimativa de recarga com base em trs diferentes
zonas do solo, de acordo com a fonte em que os
dados so obtidos: zonas superficial, insaturada e
saturada. Para cada uma as tcnicas so classificadas
em fsicas, qumicas (uso de traadores) ou modelos
numricos.
As tcnicas baseadas na leitura de nveis
dgua em poos esto entre os mtodos mais apli-
R Sy
dh
h
Sy
dt
t
(1)
272
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 271-280
va de reteno da gua no solo ou em campo por
meio de teste de bombeamento de poo (Aquifer
Tests) que consiste no bombeamento de um poo
durante horas ou dias e na observao do lenol
fretico em poos de observao prximos ao poo
bombeado coletando-se dados de rebaixamento
versus tempo, que so utilizados na gerao de um
grfico em escala logartmica para comparao com
grficos (curvas) tericos, escolhendo-se um ponto
que ter seus valores de rebaixamento e tempo utilizados para o clculo do Sy. Outra opo de clculo
a utilizao do mtodo do balano de volume (Volume Balance Method) que consiste na combinao do
teste de bombeamento com o balano hdrico do
cone de rebaixamento originado pelo bombeamento do poo. Segundo este mtodo, o parmetro
obtido atravs da equao 3 (HEALY & COOK,
2002).
Sy
Vb
Vc
(3)
Em que: Sy = rendimento especfico, Vb = volume de gua bombeada do poo em um determinado tempo e Vc = volume do cone de rebaixamento
do poo (regio compreendida entre o nvel dgua
inicial e o nvel dgua final do teste) (HEALY &
COOK, 2002).
Caractersticas da rea de estudo
Figura 1 - Determinao do h /
Fonte: Adaptado de Healy & Cook, 2002.
A rea de interesse uma sub-bacia hidrogrfica rural, a qual apresenta cerca de 70% da rea
da bacia do Crrego Palmital, importante afluente
do Ribeiro So Bartolomeu, manancial que abastece o municpio de Viosa, localizado na Zona da
Mata de Minas Gerais. A sub-bacia fica compreendida entre as coordenadas UTM 7695900 m e
7697400 m Norte e entre as coordenadas UTM
723100 m e 724400 m Leste, Datum SAD 69 Zona
23S (CARVALHO, 2013).
A sub-bacia apresenta relevo fortemente
ondulado e montanhoso, tpico da regio, denominado de Mar de Morros. Apresenta encostas com
perfil convexo-cncavo associadas a vales com fundo
chato, os quais so formados por terraos e leitos
maiores, locais em que movimentam pequenos cursos dgua (CRREA, 1984). A altitude da rea de
estudo varia entre 715 e 855 metros e possui uma
rea de 125 hectares (CARVALHO, 2013). A pastagem o uso preponderante do solo da bacia com
cerca de 65% da rea, seguido pela mata (15%)
(ANDRADE, 2010).
S y n Sr
(2)
273
Estimativa da Recarga em uma Sub-bacia Hidrogrfica Rural Atravs do Mtodo da Variao do Nvel Dgua (VNA)
A geologia da sub-bacia homognea, tendo o gnaisse como rocha principal, sendo encontrada em diversos nveis de alterao, sendo os mais
alterados predominantes na rea (ANDRADE,
2010). Sob um enfoque geolgico-geotcnico a subbacia apresenta solos residuais de gnaisse jovens e
maduros oriundos de intemperismo, recobertos por
colvios. Ocorrem tambm materiais aluvionares de
pequena espessura nos terraos e leitos dos crregos
rasos e estreitos da sub-bacia. (CARVALHO, 2013).
A hidrogeologia da rea representada por
um aqufero fretico poroso formado por depsitos
aluvionares do Quaternrio e solos de alterao das
rochas metamrficas do Pr-Cambriano Inferior ou
Indiviso. Este aqufero apresenta o nvel fretico
prximo superfcie do terreno sendo assim caracterizado como raso e livre (CARVALHO, 2013).
Poos de monitoramento do nvel dgua
Foram alocados na sub-bacia 6 poos para o
monitoramento semanal da superfcie fretica do
274
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 271-280
O perodo de observao contabilizou um
ano hidrolgico, iniciando-se em outubro de 2011 e
finalizando-se em setembro de 2012. As coordenadas
dos poos foram coletadas em um GPS de navegao e so apresentados na Tabela 1.
Os poos foram alocados na sub-bacia visando abarcar toda a rea do aqufero raso e livre e
assim se monitorar as variaes sazonais de sua superfcie fretica. Todos os poos so rasos, com profundidades variando de 3,8 m (poo 1) at 6,2 m
(poo 3). Apresentam na poro mais prxima da
superfcie uma camada de solo residual maduro de
gnaisse, com espessura variando de 1,00 m (poo 2)
at 3,80 m (poo 1). Abaixo desta camada ocorre o
solo residual jovem de gnaisse at o fim de cada
poo.
RESULTADOS E DISCUSSES
Pluviometria
Poo
Poo 1
Poo 2
Poo 3
Poo 4
Poo 5
Poo 6
*
Longitude
UTM-L (m)*
723352
723592
723525
723816
723945
723949
Latitude
UTM-N(m)*
7696763
7696762
7696325
7696488
7696773
7696447
Rendimento especfico
A estimativa do rendimento especfico considerou o clculo da condutividade hidrulica (K)
atravs de uma frmula emprica que relaciona esses
parmetros, usada em Maziero (2008), denominada
de equao de Biecinski (4) (PAZDRO, 1983, In:
ALVAREs e NIEDZIELSKI, 1996).
S y 0,117 7 K
(4)
Condutividade hidrulica
275
Estimativa da Recarga em uma Sub-bacia Hidrogrfica Rural Atravs do Mtodo da Variao do Nvel Dgua (VNA)
precipitaes se tornam escassas, ocorrendo declnios e elevaes das leituras no poo na parte central do grfico, at uma queda gradual e constante
durante o perodo seco do ano (lado direito do
grfico).
Poo
Poo 1
Poo 2
Poo 3
Poo 4
Poo 5
K
(mdia-1)
0,133
0,042
0,029
0,222
0,134
Sy = 0,117*K1/7
0,09
0,07
0,07
0,09
0,09
Os valores de condutividade hidrulica encontrados so semelhantes entre si (ordem de grandeza prximas) e compatveis com os dados de condutividade hidrulica obtidos por Betim (2013) que
realizou ensaios de laboratrio nos solos da mesma
sub-bacia.
Monitoramento da superfcie fretica
276
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 271-280
R Sy
h
t
Todos os poos, com exceo do poo 5, apresentaram valores de recarga prximos, entre 14 e
16,3% da chuva anual monitorada.
O poo 5 apresentou um valor de recarga
quase duas vezes superior ao dos outros poos. Provveis explicaes residem no fato do poo estar
localizado prximo a nascentes.
(5)
277
Estimativa da Recarga em uma Sub-bacia Hidrogrfica Rural Atravs do Mtodo da Variao do Nvel Dgua (VNA)
Poo
Poo 1
Poo 2
Poo 3
Poo 4
Poo 5
h
(m)
2,49
3,01
3,32
2,70
4,80
R
(mm)
218,8
223,5
234,7
254,6
421,3
CONCLUSES
r
(%)
14,0
14,3
15,1
16,3
27,0
Discusses
A estimativa da recarga pelo mtodo VNA
coloca grande importncia nos parmetros Sy e h,
motivo pelo qual suas estimativas devem ser necessariamente as mais apuradas possveis para garantir
uma recarga condizente com a real. Porm, a determinao do parmetro h j oferece em si um
certo grau de subjetividade e incerteza devido ao
fato de sua estimativa se basear em um traado subjetivo de uma curva de recesso. Alguns autores
optam por utilizar equaes na determinao enquanto outros tendem a traar graficamente esta
curva, baseando-se no comportamento do traado
do hidrograma, como feito no presente estudo.
Os valores de recarga dos poos, com exceo do poo 5, so semelhantes. Este fato provavelmente se deve proximidade dos poos, e ao tamanho, reduzido, da bacia estudada.
O maior valor de recarga calculado para o
poo 5 se deve, muito provavelmente, ao fato de que
o mesmo encontra-se em rea com diversas nascentes.
A recarga mdia encontrada serve como referncia para estudos na regio com bacias com
caractersticas fsicas semelhantes, tendo sido inclusive utilizada em um modelo hidrogeolgico desenvolvido nesta sub-bacia (CARVALHO, 2013). Alm
disso, pode servir de comparao com outras metodologias de estimativa de recarga realizadas na
mesma rea de estudo ou adjacncias, como o realizado por Paiva (2006), que encontrou para uma subbacia rural no municpio de Paula Cndido, limtrofe a Viosa, uma recarga de 183,3 mm pelo mtodo
VNA. Este valor relativamente prximo dos valores
encontrados para os poos 1, 2 e 3, indicando que o
estudo se encontra dentro do esperado para a estimativa da recarga na regio. Porm como se trata de
pocas diferentes e no se sabe a precipitao total
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem Capes pela concesso de bolsas de estudos para a realizao desta pesquisa e FAPEMIG e ao CNPq, pelo apoio financeiro ao projeto. Agradecem tambm as crticas e sugestes dos revisores.
REFERNCIAS
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fsico e das atividades antrpicas na qualidade da
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ABSTRACT
Groundwater consumption has grown continuously in Brazil, increasing the need for protection and
sustainable use of these resources. An important tool for the
management of these resources is the study of estimated
groundwater recharge. Seeking to produce information to
improve water management in the region, this study ap-
279
Estimativa da Recarga em uma Sub-bacia Hidrogrfica Rural Atravs do Mtodo da Variao do Nvel Dgua (VNA)
280
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 281-291
RESUMO
Este artigo apresenta estudos elaborados quanto utilizao de modelos de previso atmosfrica e hidrolgicos para
previso de vazes, tendo em vista a segurana de barragens. Isso porque esses dois modelos so importantes dentro de um
sistema de previso de acidentes por meio da interao com os modelos hidrulicos e digitais de terreno tendo em vista a produo de relatrios de impacto e mapas de inundao. Os modelos estudados foram o atmosfrico Eta, operado pelo Centro de
Previso de Tempo e Estudos Climticos do Instituto de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) e o hidrolgico SMAP. A avaliao foi realizada nas bacias dos rios Pardo e Mogi Guau, sendo realizada em trs etapas: na primeira foi realizada a
comparao direta entre os dados de previso de precipitao, para um e cinco dias, e os observados nos postos pluviomtricos
do DAEE; na segunda, a comparao foi realizada de forma semelhante a anterior considerando mdia de um perodo de
cinco dias e na terceira, confrontou-se as vazes resultantes das previses de precipitao e dos dados pluviomtricos e fluviomtricos observados. Os resultados obtidos por meio dessas avaliaes mostram que os dados de previso de precipitao no
so adequados utilizao de previso vazes voltada para a rea de segurana de barragens nas bacias analisadas.
Palavras-chave: Modelos Eta e SMAP, segurana de barragem, modelagem matemtica.
INTRODUO
A preocupao com a segurana das barragens tem crescido de forma geral tanto em funo
do nmero de acidentes registrados como pela
magnitude dos impactos e prejuzos a eles associados (BALBI, 2008). Esta ateno deve-se, em parte,
maior cobertura dos rgos de imprensa, mas principalmente pelo aperfeioamento das instituies e
pelo avano da sociedade nas questes relacionadas
ao risco de desastres e preservao. No Brasil, a
recente legislao aprovada na rea de segurana de
barragens tem chamado a ateno dos tcnicos para
o tema, motivando grandes progressos em termos de
desenvolvimento de tecnologias e procedimentos.
Em setembro de 2010, a lei n 12.334 (BRASIL,
2010) estabeleceu a Poltica Nacional de Segurana
de Barragens (PNSB) e criou o Sistema Nacional de
Segurana de Barragens (SNSB), configurando-se
como marco institucional do setor. Na esteira deste
instrumento, surgiram as regulamentaes voltadas
*
281
Avaliao da Previso de Precipitao Utilizada na Determinao das Vazes Afluentes em Reservatrios como
Ferramenta de um Sistema de Gesto de Emergncias em Barragens
Essa organizao de modelos foi empregada
em um estudo de caso composto por quatro barragens nos rios Pardo e Mogi Guau, localizados no
Estado de So Paulo, e constitui o prottipo de um
sistema de gesto de emergncias em barragens
(MACEDO et al, 2013; CASTRO et al 2013).
Para verificao deste prottipo, que o sistema formado pelo conjunto de modelos, optou-se
por avaliar a componente de previso de precipitao (Modelo Eta) e vazo (Modelo SMAP - Soil
Moisture Accounting Procedure). Essa avaliao
importante, sendo realizada em outros estudos
(KITZMILLER et al., 2013) (MOBLEY et al., 2012) e
(GOLDING, 2000).
Tal avaliao foi realizada de trs formas:
comparao direta dos dados previstos, com 1 e 5
dias de antecedncia, com os dados observados;
comparao da mdia dos dados previstos, com 1 e 5
dias de antecedncia, com dados observados e comparao das vazes observadas com as calculadas por
meio da utilizao dos dados de precipitao previstos e observados nos postos pluviomtricos. Os dados observados foram coletados durante uma estao de cheia.
PREVISO DE PRECIPITAO
Considerando-se o sistema de modelos utilizados, a previso de precipitao o dado que d
incio simulao. Para melhor entender como essa
simulao ocorre, apresenta-se, por meio do esquema na Figura 1 a seguir, como os modelos se relacionam.
282
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 281-291
menta o modelo hidrodinmico Cliv+ (FCTH,
2004). Como este estudo tem foco na previso de
precipitao e nos possveis impactos que seus erros
podem causar nos valores de vazo de contribuio,
sero detalhados apenas os modelos Eta e SMAP.
O Centro de Previso de Tempo e Estudos
Climticos do Instituto de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) utiliza o modelo Eta para gerar as previses de precipitao diria desde 1996 com o objetivo de complementar as previses realizadas pelo
modelo de circulao atmosfrica. Sua rea de abrangncia contempla grande parte da Amrica do
Sul e os oceanos adjacentes. As previses utilizadas
so fornecidas com uma resoluo horizontal de 40
x 40 km, estendendo-se at 120 horas, ou seja, esto
disponveis as previses de at 5 dias.
O equacionamento utilizado (eq.1) aplicado sobre a grade E de Arakawa (ARAKAWA;
LAMB, 1977 apud BLACK, 1994). Trata-se de um
sistema de coordenadas que sofre uma rotao e
translao para que a interseo do Equador com o
meridiano de 0 coincida com o centro do domnio.
Essa configurao melhor entendida por meio da
anlise da Figura 2 que mostra uma representao
da grade E.
p pt pref Z s pt
ps pt pref 0 pt
(1)
Na ilustrao as variveis de massa so representadas pela letra H, como temperatura e umidade, e as componentes horizontais do vento so
283
Avaliao da Previso de Precipitao Utilizada na Determinao das Vazes Afluentes em Reservatrios como
Ferramenta de um Sistema de Gesto de Emergncias em Barragens
RPSAS (Regional Physical Space Analysis System)
(ESPINOZA, et al., 2002). Os erros entre as estimativas e os valores calculados so minimizados utilizando-se interpolao estatstica. Alm disso, o modelo
alimentado com as previses do modelo global,
sendo que nos contornos, a atualizao do modelo
global ocorre a cada 6 horas.
Para a comparao direta entre os dados de
previso provenientes do Eta e os dados observados,
foram tomadas quadrculas de precipitao homlogas aos postos pluviomtricos. Com relao ao
horizonte de previso dos dados analisados, foram
avaliadas as previses com antecedncia de 1 e 5
dias.
Na avaliao do prottipo, foram considerados os dados observados dos postos C4-033, C4043 e C4-075, operados pelo Departamento de guas e Energia Eltrica do Estado de So Paulo
(DAEE) (SIGRH, 2011). A localizao destes postos
demonstrada na Figura 5.
284
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 281-291
viso de 1 dia, 75% dos valores apresentam diferenas de at 16 mm e, para previso de 5 dias, este
valor de 17 mm.
Uma tentativa para verificar se haveria possibilidade de melhora na resposta de modelo para a
regio estudada foi considerar o valor mdio de 5
dias de previso de 1 e de 5 dias de antecedncia. O
procedimento realizado foi de comparar a mdia
destes dias com a mdia os valores observados para
os mesmos dias. Os resultados da comparao entre
os valores assim tratados so apresentados nos grficos das Figuras 9, 10 e 11.
O perodo analisado corresponde ao intervalo dezembro de 2012 a fevereiro de 2013, representativo do perodo de chuvas para regio, por isso
com maior interesse para o uso de previses de curtssimo prazo como proposto no presente artigo. A
comparao direta dos dados resultou nos grficos
das Figuras 6, 7 e 8:
285
Avaliao da Previso de Precipitao Utilizada na Determinao das Vazes Afluentes em Reservatrios como
Ferramenta de um Sistema de Gesto de Emergncias em Barragens
pode ser aplicado rede de fluxo que representa a
bacia.
PREVISO DE VAZES
O modelo SMAP (LOPES et. al., 1982) um
modelo hidrolgico determinstico que considera as
diferentes fases do ciclo hidrolgico atravs de reservatrios representados por meio de equaes
caractersticas. O modelo tem sido utilizado em
diferentes estudos onde existe o interesse na previso de vazes afluentes a partir de estimativas de
precipitao obtidas de diversas fontes, como visto
em (FADIGA et al, 2008). Desta forma, ao se realizar
a calibrao do modelo, na verdade determina-se o
tamanho dos reservatrios e os coeficientes relacionados passagem do volume de um reservatrio
para o outro. O encadeamento entre os reservatrios e a separao dos escoamentos podem ser melhor entendidos analisando-se a Figura 12 a seguir.
Assim, a partir da previso de precipitao
no incio da simulao podem ser obtidas as vazes
de contribuio da bacia. Para calibrao e verificao, os valores calculados so comparados diretamente com as vazes observadas nos postos fluviomtricos de referncia. Em caso de composio de
escoamentos de diferentes sub-bacias, o modelo
286
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 281-291
dia, que 90% dos erros encontraram-se abaixo de
210% e, para a previso de 5 dias, esse valor cresce
para 270%, sendo esses valores muito superiores se
comparados com o resultado de 40% obtido para os
dados observados no posto pluviomtrico. Com
relao ao erro mdio quadrtico, o resultado encontrado quando se utiliza as previses de 1 dia de
215,37 m/s e de 5 dias de 391,09 m/s.
Os dados de previso de precipitao provenientes do modelo Eta foram tomados a partir das
quadrculas que se superpem aos postos C4-043 e
C4-075. A esses valores de previso foram aplicados
os mesmos valores de ponderao utilizados em seus
respectivos postos, para sua posterior utilizao como entrada na simulao chuva vazo.
Na Figura 14 so apresentadas as vazes
observadas no posto fluviomtrico 4C-001 e as trs
diferentes vazes calculadas, sendo que a primeira
utiliza os dados de precipitao observados nos postos pluviomtricos, a segunda utiliza as previses de
precipitao com 1 dia de antecedncia e a terceira
utiliza as previses de precipitao com 5 dias de
antecedncia, conforme apresentado a seguir:
Figura 15 Comparao entre vazes observadas e calculadas pelo modelo SMAP com dados de precipitao observados nos postos pluviomtricos.
Figura 14 Comparao dos valores de vazo calculados e
observados para o posto 4C-001.
287
Avaliao da Previso de Precipitao Utilizada na Determinao das Vazes Afluentes em Reservatrios como
Ferramenta de um Sistema de Gesto de Emergncias em Barragens
Da mesma foram as discrepncias observadas na previso de vazes que podem ser atribudas
baixa resoluo das informaes de chuva contempladas tanto na calibrao do modelo, no caso
foram usadas apenas duas estaes de terra para
uma bacia de aproximadamente 6500km, totalizando uma mdia de uma estao para cada 3250 km,
e ao perodo empregado para ajuste do modelo, de
apenas dois anos para a calibrao e um para verificao.
Entretanto, considerando que estas ferramentas usuais so disponveis atravs dos servios de
previso de tempo e clima, e desta forma so acessveis aos mais diferentes tipos de usurios, ainda assim possvel e interessante seu uso considerando
que aos resultados da previso podem ser agregadas
faixas de variao. Esse esquema se daria por meio
da criao de cenrios, ou seja, uma vez previsto o
valor de precipitao, aplica-se um fator de correo
correspondente ao desvio mais frequente observado
na serie utilizada.
Figura 16 Comparao entre vazes observadas e calculadas pelo SMAP com dados de previso de precipitao
de 1 dia fornecido pelo CPTEC.
Figura 18 - Comparao entre vazes observadas e calculadas pelo SMAP com reduo de 45% utilizando previses de precipitao com 1 dia de antecedncia.
Realizando esse procedimento para a amostra em questo, percebe-se que, para a previso com
1 dia de antecedncia, a diferena modal entre a
vazo observada e a calculada situa-se nas faixas de
40% a 50% . Para a previso com 5 dias de antecedncia, a faixa de diferena com maior frequncia
de 60% a 70%. Aplicando-se essas correes nos
Figura 17 Comparao entre vazes observadas e calculadas pelo SMAP com dados de previso de precipitao
de 5 dias fornecido pelo CPTEC.
288
RBRH Revista Brasileira de Recursos Hdricos Volume 19 n.1 Jan/Mar 2014, 281-291
como a utilizao de outras tecnologias de modelagem, baseadas em observaes de satlite, radar e
estaes de terra. Anlises estatsticas de bancos de
dados de previses especficas para as bacias e sua
correlao com as vazes geradas pelo modelo chuva-vazo permitem a identificao de tendncias do
modelo, de maneira que, realizando ajustes nos
resultados, essas informaes se mostram mais confiveis, de forma a repassar informaes mais adequadas ao tomador de deciso.
Considerando que a melhora da qualidade
da previso de afluncias depende de avanos tanto
na previso de precipitao como na modelagem
chuva-vazo, devem ser consideradas futuras pesquisas com o aumento da resoluo espacial horizontal
e a incorporao de resultados de modelos baseados
em observaes em tempo real a partir de radares
meteorolgicos. Neste caso, o modelo chuva-vazo
dever tambm ser adaptado para processamento de
informaes com resoluo temporal maior, uma
vez ser esta a caracterstica deste tipo de observao
atmosfrica.
AGRADECIMENTOS
Figura 19 - Comparao entre vazes observadas e calculadas pelo SMAP com reduo de 65% utilizando previses de precipitao com 5 dias de antecedncia.
Os autores agradecem ao Programa de PsGraduao em Engenharia Civil da Escola Politcnica da USP, CAPES pelo apoio financeiro e pela
concesso de bolsa e ao Laboratrio de Hidrulica e
Recursos Hdricos da Escola Politcnica da USP Fundao Centro Tecnolgico de Hidrulica por
propiciarem as condies para o desenvolvimento
deste estudo.
REFERNCIAS
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CONCLUSES
A avaliao dos dados de previso de precipitao mostrou grandes diferenas quando comparadas aos dados observados. Essa diferena propagase e se combina com as variaes apresentadas pelo
modelo de transformao chuva-vazo, amplificando
as incertezas com relao s previses de afluncias.
Desta forma, so necessrias melhorias tanto na
previso da precipitao, com o uso conjunto de
tcnicas que permitam melhorar os modelos atuais,
289
Avaliao da Previso de Precipitao Utilizada na Determinao das Vazes Afluentes em Reservatrios como
Ferramenta de um Sistema de Gesto de Emergncias em Barragens
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291
APRESENTAO DE ARTIGOS
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