Resenha Faraco - Livro Medviédev
Resenha Faraco - Livro Medviédev
Resenha Faraco - Livro Medviédev
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1911 a 1937.
Beth Brait, em sua Apresentao, d destaque importncia do livro seja em seu
prprio tempo, seja para os leitores de hoje. uma obra que responde a importantes
pensadores
da
linguagem,
cujos
traos
fundamentais
so
recuperados
problematizados a partir de uma nova viso sobre o tema (p.14). Dentre os muitos
pontos abordados no livro, Beth Brait chama nossa ateno especialmente para a fina e
sofisticada discusso terica e metodolgica que o autor desenvolve sobre os gneros do
discurso.
Em seu Prefcio, Sheila C. Grillo apresenta o livro e a traduo, e analisa o
espinhoso problema da autoria do livro. Pessoalmente, considero esse problema
altamente irrelevante. Reconheo a autoria pela assinatura. Assim, no tenho dvidas de
que Pvel N. Medvidev o autor deste livro. Isso tem sido heuristicamente muito
produtivo porque facilita a percepo das muitas semelhanas, mas tambm das
diferenas que h entre as vrias obras dessa coletividade de pensadores (para usar a
expresso de Iuri P. Medvidev na Nota Biogrfica, p.249) que conviveram na dcada
de 1920 e que, por vicissitudes da histria de sua recepo posterior, foram agrupados
sob o rtulo de Crculo de Bakhtin.
No entanto, como todos bem sabemos, h uma espcie de indstria acadmica
que vive de explorar o problema da autoria e, nesse af, chega, muitas vezes, aos limites
do escndalo e do nonsense. Sheila Grillo no podia, portanto, escapar de tratar do
assunto. E o fez exemplarmente: buscou informaes em mltiplas fontes e escreveu
uma exposio desapaixonada, ou seja, tica e academicamente responsvel.
Na Nota Biogrfica, Iuri P. Medvidev traa um retrato de seu pai que nos
permite conhecer mais de perto a vida de um intelectual ativo e apaixonado por seu
trabalho naqueles anos fatdicos em que a cultura russa alcanou nveis altssimos de
efervescncia e criatividade para, logo em seguida, ser sufocada pela mesmice
mediocrizante imposta pelo terror totalitrio. Nesse curto espao de tempo, vemos o
brilhante intelectual que nos legou uma obra instigante e que participou ativamente da
efervescncia de seu tempo ser declarado inimigo do povo e fuzilado em 1938.
Indo agora ao texto de P. N. Medvidev, cabe mencionar que ele tem quatro
partes e nove captulos, alm de uma Concluso. Na Primeira Parte (Objeto e tarefas
dos estudos literrios marxistas), acompanhamos a formulao dos fundamentos do que
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do
outro
criticamente,
mas
primeiro
apresenta-o
demorada
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literatura.
Na discusso crtica da teoria formalista da linguagem potica, Medvidev
revisita a concepo de linguagem que ele, Bakhtin e Voloshinov vinham construindo
ao longo da dcada de 1920. Mais do que isso: nesta discusso que se reiteram
tambm as bases da esttica geral elaborada por esta coletividade de pensadores.
Precisamente por isso que este livro tem de ser lido juntamente com dois textos
assinados por Bakhtin: O autor e o heri na atividade esttica e O problema do
contedo, do material e da forma na arte verbal (conforme j sugeri em FARACO,
2009). esse conjunto de textos que explicita a teoria esttica desse grupo de
pensadores.
A primeira observao que se pode fazer sobre essa esttica que ela muito
afinada com as discusses estticas prprias do incio do sculo 20. Como nos mostra
Medvidev, na Segunda Parte desse seu livro (p.87-127), o discurso terico sobre a arte
que vivia sob o impacto das transformaes do fazer artstico que ocorreram nos fins
do sculo 19 e incio do 20 comeou a assumir o carter construtivo da arte em
detrimento das concepes da arte como imitao, representao ou expresso. Punhase, ento, como tarefa para o estudioso revelar a unidade construtiva da obra e as
funes puramente construtivas de cada um de seus elementos.
precisamente nessa direo que vai o discurso bakhtiniano. Em seu texto O
autor e o heri na atividade esttica, Bakhtin (1990, p.9) critica, entre outras, as
abordagens biogrficas e sociolgicas da arte. Ele diz que falta a elas a compreenso
esttico-formal do princpio criativo fundamental da relao do autor com o heri. Seu
foco de ateno , portanto, declaradamente o esttico-formal.
Nesse sentido, ele se afina com as concepes formais, construtivistas da arte,
que Medvidev vai resumir no captulo primeiro da Segunda Parte desse seu livro
resumo que se conclui com a afirmao (p.101) de que o problema formulado por essas
concepes (ou seja, a ateno que despertaram para o carter construtivo da atividade
esttica) e as tendncias fundamentais em direo sua soluo eram, no geral,
aceitveis para ele e seus pares. Acrescenta, porm, a observao: O que resulta
inadmissvel somente o terreno filosfico no qual se d sua soluo concreta (p. 101).
No correr do livro, Medvidev vai explicitando esse terreno filosfico a que ele
se refere de modo crtico. Bakhtin e seus pares no podiam concordar, basicamente,
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Recebido em 12/09/2012
Aprovado em 30/10/2012
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