Texto do pequeno filme exibido na RTP, acerca do facto mais relevante de 1964, integrado na série "50 anos, 50 notícias".
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Invenção da
minissaia (1964) INFORMAÇÃO IMPORTANTE
O texto que se segue é uma reprodução escrita,
com pequenas adaptações e esclarecimentos, do programa exibido pela Rádio e Televisão de Portugal, “1964 – Invenção da minissaia” integrado na série “50 Anos 50 Notícias”, de 2007. Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação constante deste documento foi apresentada pela citada estação de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário referido. Resta-me recordar, em último lugar, que no ano de 2007 a Rádio e Televisão de Portugal celebrou o seu quinquagésimo aniversário. INVENÇÃO DA MINISSAIA (1964)
Durante o ano de 1964, as televisões
entusiasmaram-se com as imagens de uma moda que tomara conta das ruas de Londres. A História registou-a como uma invenção de Mary Quant, mas a estilista confessou que foi a rua que criou a minissaia. A música dos Beatles e o furor das jovens adolescentes inglesas, vestindo roupas ousadas, marcaram o início de uma revolução de costumes que contagiou toda a Europa. (Lídia Jorge, escritora) “A coisa foi mais complicada dentro das cabeças, mas por fora acho que as pessoas aderiam. Em 1964, vim para a Faculdade de Letras e lembro-me muito bem que não havia diferença entre nós e uma rapariguinha francesa, do ponto de vista do aspecto. Também usávamos uma saia curta, bastante curta, também começamos a pintar os olhos daquela forma muito intensa.” Os jovens foram, realmente, os protagonistas dos anos 60. Os modelos de ar adolescente substituíram as curvas avantajadas das mulheres dos anos 50. (Vasco Hogan Teves, jornalista da RTP em 1964) “Nós fomos dando algumas coisas, até um dia em que passámos no Telejornal umas imagens dum desfile de moda de lingerie de senhora. Deve ter “caído o Carmo e a Trindade”, porque, no dia seguinte, fomos todos convocados à Administração para justificar porque é que se tinha metido uma passagem de modelos de lingerie feminina no Telejornal.” É porque, em Portugal, vigorava a defesa da moral e dos bons costumes, o que passava pela propaganda da mulher tradicional. A televisão, na generalidade dos programas, cuidava desta imagem da mulher doméstica, boa mãe de família. (Francisco Martins Rodrigues, militante anti- fascista em 1964) “É difícil fazer-se ideia do ambiente em que éramos criados e educados. A televisão ajudou a derrubar isso tudo.” Era, realmente, difícil esconder a moda nas imagens e isso tinha um efeito contagiante. (Lídia Jorge) “Imitava-se muito o que acontecia lá fora. Lembro-me muito bem de nós irmos à modista, levávamos um boneco, uma folha, e pedíamos que nos fizesse assim, bastante curto. Não era fácil andar na rua com uma saia muito curta.” As novas modas ajudaram a criar um fosso entre gerações. O regime cuidava das mensagens políticas e não percebeu que a censura às formas de vestir e aos comportamentos liberais não tinham nenhum efeito nos jovens, especialmente os universitários da classe média/alta. A televisão não mostrou estas imagens das discotecas, mas elas provam que os jovens de Lisboa aspiravam a uma modernidade que o regime de Salazar se recusava a dar-lhes. (Lídia Jorge) “E nós sentíamos que eram caretas, que eram pessoas antigas, que aquilo não prestava, que rapidamente aquilo ia mudar. É a altura em que as mulheres começam a tomar a pílula.” A minissaia foi um prenúncio da emancipação sexual, dos hippies e dos movimentos estudantis que contestavam a Guerra, a Política ou qualquer forma de sistema dominante em defesa da proibição de proibir.