Despersonalização
Despersonalização
Despersonalização
Volume 1
Hermlio Santos
Organizador
DEBATES PERTINENTES
para entender a sociedade contempornea
Volume 1
Porto Alegre
2009
EDIPUCRS, 2009
Capa: Deborah Cattani
Diagramao: Stephanie Schmidt Skuratowski
Reviso: Rafael Saraiva
SUMRIO
Apresentao........................................................................................................ 6
Hermlio Santos
Justia social e democracia na modernidade perifrica .................................. 7
Emil Sobottka
Violncia e segurana pblica em uma perspectiva sociolgica .................. 25
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo
Sociedades complexas e polticas pblicas .................................................... 41
Hermlio Santos
Propaganda Poltica, Partidos e Eleies ........................................................ 68
Marcia Ribeiro Dias
Poltica e integrao na Amrica do Sul .......................................................... 88
Maria Izabel Mallmann
Pentecostais
poltica
no
Brasil:
do
apolitismo
ao
ativismo
corporativista.................................................................................................... 112
Ricardo Mariano
Mercado Religioso e a Internet no Brasil ....................................................... 139
Airton Jungblut
Antropologia das instituies e organizaes econmicas......................... 155
Lcia Mller
H limites para a Sociologia do Conhecimento em uma Sociedade do
Conhecimento ? .............................................................................................. 176
Lo Peixoto Rodrigues
Apresentao
Emil A. Sobottka1
O ttulo dado a esta apresentao, sugerido dentro da proposta de debates
pertinentes que ajudem a compreender a sociedade contempornea, foi justia
social e democracia na modernidade perifrica. O subttulo especifica a temtica,
ao apontar para a questo sobre como se distribui a riqueza produzida em
sociedades modernas. Assim, os trs grandes conceitos: justia social,
democracia e modernidade perifrica podem confluir para a questo da
distribuio da riqueza produzida socialmente.
A referncia para refletir sobre a sociedade contempornea a
modernidade clssica, aquele modo de organizar a vida que surgiu em
substituio ao perodo medieval. Trata-se de uma forma de organizar as relaes
sociais que tem entre seus traos mais caractersticos estar constantemente em
mudana. Alguns autores interpretam algumas mudanas particulares como se
elas indicassem a superao desse modelo de sociedade e o surgimento de um
novo tipo; isso tem permitido a esses autores propor que a atualidade seja uma
modernidade tardia, uma ps-modernidade, uma hiper-modernidade. Mas mesmo
esses autores retornam modernidade clssica como sua referncia para
dimensionar as transformaes.
Na questo de como se distribui a riqueza socialmente produzida e como
se estruturam as relaes sociais, tambm eu gostaria de comear com uma
reflexo sobre aquilo que, pelo menos classicamente, se reivindica como a
situao normal dentro da sociedade moderna. Comeo analisando a ideia do
trabalho como a forma central tanto de alocar a riqueza produzida socialmente
como tambm o eixo constitutivo, estruturador central das relaes dentro da
sociedade moderna.
Emil A. Sobottka
indivduo,
permitindo
que
ele
receba
suficiente
para
sustentar
gerao de valor, de riqueza. Mas o poder maior dos proprietrios dos meios de
produo, dos donos da indstria, na hora de barganhar o preo da fora de
trabalho, faz com que eles possam ficar com uma parcela muito maior da riqueza
e pagar uma parcela menor para aqueles que vendem sua fora de trabalho. A
dificuldade que Marx tem nesse contexto encontrar critrios aceitveis para uma
distribuio diferente. Para ser aceitvel, numa sociedade moderna, um critrio
deve satisfazer vrias condies um dos principais no ser aleatrio. Para
diversos autores, como Axel Honneth (2008), os critrios precisam ser internos ao
prprio processo social em questo. Intuitivamente, com base no bom senso,
talvez seja possvel argumentar em favor de uma distribuio mais equitativa. Mas
um critrio aceitvel precisa ser consistente em termos tericos. E Marx tem
dificuldade em apresentar uma boa argumentao que fundamente como deveria
ser a distribuio da riqueza.
A argumentao feita por Hegel pode no ser convincente na atualidade,
mas ela tinha uma importncia para a sociedade do seu tempo: era uma
fundamentao interna ao prprio processo. No momento em que o indivduo
cede algo que ele no precisaria ceder no caso, uma parte da sua liberdade e
se dispe a trabalhar e assim a cooperar com o bem coletivo, ele tem direito a ter
a expectativa de receber dessa coletividade algo em troca. Marx no levou
suficientemente a srio a necessidade de uma fundamentao, mas essa hoje
uma exigncia central em quase toda teoria social. A atividade terica dele tem
sido muito mais produtiva em diagnosticar patologias sociais do que em
apresentar critrios aceitveis com os quais pudessem ser fundamentadas
exigncias de mudana social.
Um autor que trabalhou mais nessa argumentao hegeliana foi Emile
Durkheim (1984). Ele no foi muito explcito nesse sentido, mas no difcil
encontrar nele o parentesco com Hegel atravs daquilo que Max Weber
denominou de afinidades eletivas. Durkheim retoma a ideia do trabalho como um
dos pontos centrais da sociedade moderna em seu estudo sobre a diviso do
trabalho social, e tenta demonstrar como o trabalho cria solidariedade mesmo na
sociedade moderna individualizada e com diviso tcnica do trabalho. Segundo
ele, o trabalho tradicional criava um tipo de solidariedade mecnica, por imitao,
que no correspondia mais aos tempos modernos. Mas ele, tal como Hegel,
10
Emil A. Sobottka
11
12
Emil A. Sobottka
ou
que
ajude
superar
situao
que
mercado
13
Para
assegurar
continuidade
na
satisfao
das
suas
14
Emil A. Sobottka
mais as reas de atuao em que a fora de trabalho passa a ser tratada como
uma commodity. A consequncia que to logo houver uma oferta um pouco
mais barata, ela substituda. A utopia de uma poltica social que decomodifique
o trabalho seria associar no ao trabalho, mas pessoa que o executa o direito
de participar da riqueza da sociedade de tal modo, que ela no dependa direta e
exclusivamente do mercado de trabalho para satisfazer as suas necessidades. A
proposta no que o cio fosse permanente, que a pessoa deixasse de trabalhar;
a ideia que a pessoa tivesse condies de rejeitar ofertas de trabalho
consideradas atentatrias a sua dignidade enquanto pessoa ou indignificantes da
riqueza socialmente produzida porque a contrapartida proposta em forma de
remunerao muito baixa. Portanto, uma poltica social decomodificadora do
trabalho criaria a situao na qual as pessoas poderiam ficar tanto tempo sem
trabalhar at que alguma oferta no mercado de trabalho estivesse altura de sua
dignidade enquanto pessoa e enquanto produtoras de riqueza. No difcil
perceber que essa reivindicao tem um horizonte utpico, ainda relativamente
distante. Mas ao mesmo tempo interessante observar que h pases que se
aproximaram razoavelmente desse tipo de situao.
As polticas sociais na grande maioria dos pases no ocidente capitalista
seja na Europa, nos EUA ou no Brasil esto vinculadas condio de
trabalhador formal; no Brasil, inclusive, por dcadas muitos direitos relativos
poltica social beneficiavam apenas o trabalhador urbano. Alguns poucos pases,
em especial os escandinavos, orientaram sua poltica social para o cidado, sem
restringi-la ao vendedor da fora de trabalho. Com isso eles criaram espaos mais
amplos de autonomia do cidado para escolher onde ele se inserir no mercado
de trabalho modestos quando comparados aos ideais utpicos de uma
reumanizao plena da mercadoria fora de trabalho, mas uma valorizao do
cidado.
A poltica social coloca na pauta da discusso pblica a questo da
distribuio da riqueza socialmente produzida e, assim, a pergunta pela justia
social. No se pode fazer poltica social sem confrontar-se com a questo sobre o
que aceitvel como socialmente justo, sobre como deve ser distribuda a
riqueza socialmente produzida e como devem ser supridas as necessidades das
pessoas dentro da situao biolgica, cultural e social da sociedade especfica.
15
Cada sociedade se confronta, ademais, com a questo sobre como agir nas
situaes em que a pessoa no tem possibilidade de suprir suas necessidades
autonomamente.
Uma contribuio interessante para essa questo feita por Claus Offe
(2005). Para esse autor existem trs princpios de justia social: ajuda,
previdncia e direito de cidadania. O princpio da ajuda implica em que a pessoa
com necessidade tem direito a receber ajuda, e sua comunidade tem o dever
moral de ajud-la. A tradio de ajuda aos pobres milenar (Geremek, 1991), e
no
Ocidente
ela
esteve
fortemente
vinculada
tradio
crist;
hoje
16
Emil A. Sobottka
17
18
Emil A. Sobottka
prometem
se
instalar
gerar
mais
emprego
riqueza,
assim
19
seria
uma
recomodificao
da
fora
de
trabalho;
no
uma
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Emil A. Sobottka
Referncias
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Emil A. Sobottka
do
sistema,
atravs
de
estratgias
de
descriminalizao
27
sistema
de
controle
jurdico-penal,
embora
sujeitas
28
29
reivindicaes
particularistas,
baseadas
na
tradio
em
prerrogativas
especficas.
Durante o perodo que se estendeu da Baixa Idade Mdia at a Revoluo
Francesa, em que o Estado Moderno se consolidou, desenvolveu-se uma disputa
poltica entre vrios grupos sociais. No processo judicial, destacaram-se duas
tendncias: de um lado, a manuteno de jurisdies particularistas, de carter
local (as justias das aldeias, vilas e cidades) e de carter funcional (justias
especializadas de certas corporaes); de outro lado, a par das disputas entre
juzes letrados e juzes leigos, entre funcionrios ou delegados reais e
representantes de outros poderes locais ou senhoriais, desenvolveu-se uma
definio crescente de regras procedimentais, relativas, inclusive, a provas e
procedimentos de recurso, com o objetivo de racionalizar e uniformizar de tal
modo o sistema judicial que os tribunais centrais pudessem exercer um poder
centralizador (Lima Lopes, 1996, p. 247-248).
O passo seguinte foi dado pelo estabelecimento do Estado liberal, no
sculo XIX. Entre os sculos XVI e XVIII firmam-se os Estados nacionais, mas a
vida social ainda se configura em torno de estamentos e categorias que impedem
a universalizao do direito de julgar uniformemente. O triunfo do Estado liberal
traz consigo a promessa de universalizao da cidadania: todos so iguais
perante a lei, e a lei ser uma s para todos. A partir da, todos os conflitos podem
ser universalmente submetidos a um nico sistema de tribunais, com um nico
sistema de regras procedimentais desenvolvidas pouco a pouco. Do ponto de
vista das instituies, o direito de julgar adquirido pelo Estado desenvolveu a
profissionalizao do direito, pela organizao da burocracia estatal e
especializada e pelo estabelecimento da fora pblica (polcia).
O moderno Estado constitucional pode ento ser visualizado como um
conjunto legalmente constitudo de rgos para a criao, aplicao e
cumprimento das leis. Ocorre a despersonalizao do poder do Estado, que
passa a fundar sua legitimidade no mais no carisma ou na tradio, mas em uma
racionalidade legal, isto , na crena na legalidade de ordenaes estatudas e no
direito de mando dos chamados por essas ordenaes a exercerem a autoridade
(Weber, 1996, p. 172). Nesse tipo de Estado, a legitimidade deriva do fato de
terem as normas sido produzidas de modo formalmente vlido, com a pretenso
30
Sobre este tema, vide o Vol. 2 da obra O Processo Civilizador, de Norbert Elias, sobre a
formao do Estado, em especial o captulo II, Sobre a sociognese do Estado, p. 87-190.
31
divisria entre Estado e sociedade civil comea a se tornar cada vez mais difusa,
aumentando a influncia e a presso sobre as polticas governamentais e as
decises judiciais por diferentes grupos sociais, que se rebelam contra a estrita
observncia de normas processuais e legais.
A renovao das fontes de legitimidade do Estado , ento, buscada na
sua capacidade em promover o desenvolvimento industrial e o crescimento
econmico, vistos como padro necessrio e suficiente para o desempenho de
cada Estado, e na garantia da efetividade dos mecanismos formais de controle
social para a manuteno da ordem, justificando com isso deslocamentos na linha
Estado/Sociedade Civil (Poggi, 1981, p.140). A busca de prosperidade interna,
como um fim em si mesmo, e a manuteno da ordem pblica, tornam-se as
principais justificaes para a existncia do Estado, e a sua fonte de legitimidade,
sobrepondo-se mera racionalidade jurdico-legal.
Depois de uma fase ininterrupta de prosperidade econmica, desde o final
da Segunda Guerra, que consolida o keynesianismo como poltica econmica de
governo nas democracias liberais do Ocidente, o choque do petrleo, nos anos
70, e a crise fiscal da maioria dos Estados industrializados, aprofundou o
predomnio da racionalidade instrumental sobre o iderio iluminista. Num primeiro
momento, a partir do final da dcada de 70, o Estado passa a ser totalmente
dominado pela fora e os interesses da globalizao capitalista. a fase urea do
neoliberalismo, representada pelos governos de Ronald Reagan e Margaret
Thatcher, na qual foi implementada uma ampla reestruturao produtiva nos
principais centros industriais do mundo capitalista. A partir desse momento, em
termos de poltica criminal, se fortalecem e disseminam as tendncias
paleorepressivas de criminalizao e encarceramento, que nos E.U.A. resultaram
em um crescimento geomtrico da populao submetida ao sistema prisional, que
era de 200.000 presos na dcada de 70 e 30 anos depois chega a quase 2
milhes de pessoas, correspondendo a 800 presos para cada 100 mil habitantes.
33
controle de violncia, por uma srie de fatores que tem a ver com a distncia que,
no Brasil, existe tanto entre os diferentes atores sociais que atuam nessa rea
policiais, integrantes do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico , mas tambm
pelo fato de que a Universidade no Brasil, pela sua estrutura, pelos seus
objetivos, pelas suas finalidades, teve sempre uma dificuldade muito grande de
lidar com os problemas que afetam mais diretamente as populaes de baixa
renda. Essa dificuldade vem sendo superada nos ltimos anos pela iniciativa de
alguns pesquisadores da rea da violncia e da segurana pblica, que ao
realizarem suas pesquisas no tm apenas uma preocupao acadmica, tm
tambm uma preocupao em contribuir de alguma forma para o equacionamento
desse problema social, com o incremento de mecanismos de elaborao,
monitoramento e avaliao das polticas pblicas de segurana.
Temos na rea da segurana pblica no Brasil uma situao bastante
paradoxal. Trata-se de uma combinao perversa entre elementos que vm do
medievo o sistema penitencirio e elementos de ps-modernidade. Essa
combinao perversa porque justamente o que caracteriza o que chamo de psmodernidade no mbito penal so algumas propostas que se vinculam s
polticas de tolerncia zero contra a criminalidade, maior interveno punitiva
contra pequenos delitos, a utilizao do direito penal como remdio e soluo
para todos os problemas sociais, com a ampliao dessa interveno pelo
legislativo, abarcando todas as reas nas quais se manifestam problemas sociais:
meio ambiente, trnsito, conflitos interpessoais, relaes de consumo, etc.
Outro elemento desse contexto de ps-modernidade penal o chamado
direito penal do inimigo, a ideia de que para aumentar a eficincia dos
mecanismos de controle penal preciso reduzir garantias dentro do processo
penal. Vale lembrar a velha mxima de que a polcia prende e o judicirio solta,
uma forma de questionar a interveno do judicirio, porque se pretende que o
judicirio tambm adote uma forma de atuao mais repressiva e menos
preocupada com a garantia de direitos fundamentais do acusado.
Observando as taxas de encarceramento no Brasil, verificamos o enorme
crescimento ocorrido na ltima dcada, que faz com que tenhamos hoje nos
crceres brasileiros 460 mil presos (no final dos anos 90 a populao carcerria
no Brasil estava em torno de 150 mil presos). Levando em conta os dados gerais
34
35
36
tendncia
pelo
contrrio,
aumentar
demanda
de
37
38
Referncias Bibliogrficas
39
40
Hermlio Santos *
Introduo
Doutor em Cincia Poltica pela Freie Universitt Berlin, professor do Programa de PsGraduao em Cincias Sociais da PUCRS.
Hermlio Santos
43
44
Hermlio Santos
45
46
Hermlio Santos
pela
socializao
tero
liberdade
de
ao
sem
estarem
47
48
Hermlio Santos
dos
distintos
atores
relativamente
aos
demais
atores
49
Governo e Administrao
Partidos polticos
Sindicatos
Associaes econmicas
Grandes empresas
Figura 1: A rede de polticas pblicas na reforma das telecomunicaes na Alemanha
Fonte: Schneider, 2005: 48
dependeria,
sobretudo,
de
coordenao
cooperao
50
Hermlio Santos
51
52
Hermlio Santos
53
possveis tcnicas que podem ser empregadas pelos grupos para influenciar as
decises, no possuindo qualquer carter de definio.
Apesar de alguns autores concederem aos partidos polticos o mesmo
status dos grupos de interesse, h na verdade uma srie de diferenas entre
ambos. Os grupos de interesse se diferenciam dos partidos, sobretudo, pelo fato
dos primeiros no terem a pretenso de administrar diretamente o aparelho
estatal (Hartmann 1985; Wilson 1992: 80).
Os grupos de interesse podem ser classificados de diversas maneiras,
como, por exemplo, pelo tipo de interesse representado, a intensidade de
organizao do grupo e o campo de ao prioritrio (J. Weber 1977: 75; Heinze
1981: 57). No processo de formulao de poltica industrial o critrio mais
relevante o primeiro deles, ou seja, o tipo de interesse, que pode ser dividido
entre econmicos e no econmicos ou promocionais. Entre os primeiros,
encontram-se aquelas organizaes que colocam em primeiro plano questes
econmicas, como associaes de empresrios ou industriais e sindicatos de
trabalhadores. Organizaes no econmicas so aquelas que aspiram a
objetivos culturais, religiosos, humanitrios ou polticos (J. Weber 1977: 75),
embora possam eventualmente lidar com problemas econmicos.
Por destinatrios entende-se os possveis interlocutores de um grupo de
interesse. Um grupo pode tentar ganhar os mais importantes destinatrios como
interlocutores, como o congresso, o chefe do executivo, a burocracia estatal, os
partidos e a opinio pblica (figura 2). Nem todos os interlocutores tm,
entretanto, a mesma importncia para um mesmo grupo. A relevncia de um
destinatrio depende de muitos fatores, como, por exemplo, do tipo de grupo de
interesse, da estrutura e do papel do destinatrio em um sistema poltico
determinado e os objetivos gerais e especficos perseguidos pelo grupo.
54
Hermlio Santos
Chefe do Executivo
Congresso Nacional
Burocracia
Ministerial
Destinatrios
Partidos Polticos
Informaes
Peties
Contato Pessoal
Pacote de Votos
Doaes
Contato Pessoal
Opinio Pblica
Peties
Apoio (ou
sabotagem)
de Medidas
Contato Pessoal
Conhecimento
especializado
Informaes
Demonstraes
Declaraes
Imprensa Prpria
Instrumentos
Grupos de Interesse
Influncia Imediata
Influncia Intermediria
55
56
Hermlio Santos
aquelas abordagens que veem o fantasma dos grupos de interesse por todos os
lados como controladores monolticos das questes econmicas mais relevantes.
Estudos recentes apontam para a tendncia de se estudar todo o processo
de formulao de polticas. A principal preocupao est na tentativa de oferecer
uma viso geral da participao dos diferentes atores ou da investigao das
relaes entre eles. Essa linha de pesquisa tem se tornado mais frequente desde
meados da dcada de 80 e caracterizada pela anlise das comunidades de
polticas (policy communities) e das redes de polticas (policy networks). Ambas
as expresses so definidas e empregadas de maneiras distintas.
Na definio de Wilks e Wright (1987), uma comunidade de poltica pblica
(policy community) um grupo de atores ou de atores potenciais a partir de
um mesmo universo de polticas pblicas (policy universe). Os componentes de
um universo de polticas compreendem todos os atores com interesse direto ou
indireto em um mesmo foco de polticas (por exemplo, um produto especfico, um
tipo de servio ou tecnologia, um mercado determinado ou ainda tamanho da
empresa multinacional, mdia ou microempresa). Dessa maneira possvel
identificar, descrever e comparar um universo de poltica industrial, um universo
de poltica educacional ou um universo de poltica de sade, entre outros
(Wright 1988: 605). Em cada um desses universos, por exemplo, de poltica
industrial,
podem
ser
identificados
alguns
setores,
como
qumico,
57
58
Hermlio Santos
59
Schmitter
define
neocorporatismo
enquanto
um
sistema
de
60
Hermlio Santos
61
62
Hermlio Santos
Concluso
pblicas
em
sociedades
consideradas
complexas.
Estado
63
Referncias Bibliogrficas
Hermlio Santos
65
66
Hermlio Santos
67
Este captulo uma releitura de um paper apresentado em parceria com Afonso de Albuquerque
no XXVI Encontro Anual da Anpocs. Agradeo a Afonso as contribuies dadas na elaborao
original deste texto.
69
Os principais autores contemplados no estudo de Manin so: Edmund Burke, John Stuart Mill, os
Federalistas, James Madison, Alexander Hamilton e John Jay, e Emmanuel Siys.
71
dessas
instituies
como
intermedirias
da
relao
entre
72
73
74
75
os
cargos
legislativos
so
ocupados
pela
regra
da
76
televiso teve sua origem ainda no incio da dcada de 1960. Naquela poca seu
impacto eleitoral no foi significativo, uma vez que a televiso ainda no se
encontrava disseminada na sociedade brasileira. A partir da instaurao do
regime militar em 1964, teve incio o processo de consolidao de uma
infraestrutura nacional de telecomunicaes; entretanto, tal processo se deu em
um contexto de desvalorizao das eleies na vida poltica nacional. Foi
somente a partir de 1985, com a redemocratizao, que a propaganda poltica na
televiso passou a ser politicamente relevante.
Em linhas gerais, um conjunto de regras para a propaganda eleitoral na
televiso tem se mantido constante: o tempo para a propaganda poltica
Propaganda Poltica, Partidos e Eleies
77
78
denominadas
atravs
das
seguintes
categorias:
campanha,
79
Ver Veiga (2002), sobre a dificuldade do eleitor em definir uma identidade para o PSDB e a
clareza com relao ao PFL.
81
eleies
constituem,
nas
sociedades
democrticas,
momentos
Executivos
Legislativos
correspondentes
so
disputados
82
83
84
Referncias Bibliogrficas
85
86
87
nas
dcadas
precedentes,
quando
vigoraram
polticas
mais
protecionistas. A dcada de 90, pelo menos em sua primeira metade, foi marcada
pelo entusiasmo quanto s potencialidades da integrao econmica e comercial.
Discutiam-se
as
novas
possveis
clivagens
mundiais
que
no
seriam,
Doutora em Cincia Poltica pela Sorbonne, Paris III. Professora do Programa de Ps-graduao
em Cincias Sociais da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Membro
do grupo de pesquisa Relaes e Organizaes Internacionais da PUCRS. E-mail:
izabel.mallmann@pucrs.br
1. Projeto sul-americano
com
algum
carter
identitrio,
comeou
ser
esboada
89
O Grupo do Rio uma instncia diplomtica latino-americana que rene atualmente Argentina,
Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras,
Mxico, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, Repblica Dominicana, Uruguai, Venezuela e
CARICOM (http//pt.wikipedia.og/wiki/Grupo- do-Rio). O Grupo do Rio originou-se do Grupo de
Contadora (Mxico, Colmbia, Venezuela e Panam) e do Grupo de Apoio a Contadora
(Argentina, Brasil, Peru e Uruguai) criados respectivamente em 1983 e 1985 para tratar da crise
centro-americana deflagrada pela situao poltica na Nicargua. Sobre esse assunto, ver
MALLMANN, 2008.
2
A IIRSA um programa de integrao que busca viabilizar a comunicao e os fluxos intra e
extrarregionais. Conforme informaes oficiais (www.iirsa.org), a Iniciativa contempla projetos em
infraestrutura, transportes, energia e comunicaes. A Agenda de Implementao Consensuada
2005-2010 constituda por 31 projetos de integrao aprovados pelos pases em 2004.
90
que teve lugar em Cuzco, Peru, em 2004, respalda a Iniciativa para a Integrao
da Infraestrutura Sul-americana (IIRSA), mas introduz modificaes que tornam o
Estado mais presente na definio e no financiamento dos projetos. Naquela
ocasio, foi lanada a Comunidade de Naes Sul-americanas (CASA) com vistas
a dotar o processo de integrao de um espao poltico apropriado a sua
coordenao. Esse espao teve, contudo, vida curta. Em abril de 2007, durante a
I Cpula Energtica da Amrica Latina, realizada em Ilha Margarita, Venezuela,
foi criada a Unio de Naes Sul-americanas (UNASUL), em substituio a
CASA. Essa mudana reflete a correlao de foras regional de meados da desta
da dcada marcada pela ascenso da Venezuela de Hugo Chvez.
2. Assimetrias sul-americanas
Argentina, Brasil, Bolvia, Chile, Colmbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai
e Venezuela.
91
potencializam
as
esperadas
desconfianas
respeito
do
uso
que
4. Os conflitos sul-americanos
93
historicamente
reprimidas
que,
para
serem
contempladas,
mudam
94
95
5. A dimenso socioeconmica
96
desafios
dos
pases
sul-americanos,
consolidao
de
suas
propriamente
polticos
institucionais
que
repousam
sobre
97
6. Teorias da integrao
O Panorama Social da Amrica Latina 2006, produzido pela Cepal, destaca a irrupo dos povos
indgenas como ativos atores sociais e polticos e o processo de consolidao de normativa
internacional sobre seus direitos e suas conseqncias no que diz respeito a polticas pblicas. O
documento aponta para a complexidade e heterogeneidade das dinmicas da populao
indgena, para a persistente desigualdade que os afeta e para o desafio das democracias do
sculo XXI em matria de reformas estatais e de polticas tendentes a superar as brechas de
aplicao dos direitos individuais e coletivos dos povos indgenas (Cepal, 2006). A
redemocratizao favoreceu a ascenso poltica desses segmentos surgidos antes da
democratizao da dcada de 1980 e da liberalizao dos anos 1990 (Trejo, 2006, p. 265).
98
99
previsibilidade
mtua
dos
comportamentos
das
unidades
100
organizadas
acabariam
por
constituir
instncias
de
paz
101
conduo
de
tais
processos
exclusivamente
por
segmentos
Pfaltzgraff,
2003,
p.
654).
Tambm
essa
ideia
pode
ser
102
ao
que
se
poderia
supor,
em
situaes
de
103
ameaas
oportunidades
econmicas
afeta
grau
de
104
em
alguma
situao
de
interdependncia.
sucesso
nas
manipulaes
de
assimetrias,
prticas
recorrentes
em
situaes
de
105
de integrao, ela tende a ser minimizada face a garantias mtuas quanto ao uso
das vantagens relativas.
Quanto aos custos da interdependncia, eles esto relacionados
sensibilidade a curto prazo e vulnerabilidade a longo prazo dos envolvidos. A
sensibilidade diz respeito importncia e rapidez com que se propagam os
efeitos da dependncia. A vulnerabilidade est relacionada aos custos relativos
de um pas para alterar a estrutura de um sistema de interdependncia, saindo do
sistema ou alterando as regras do jogo. O mais vulnervel o que incorreria em
custos mais elevados nessa operao. O mais sensvel no necessariamente o
mais vulnervel e vice-versa. A vulnerabilidade uma questo de grau, depende
da capacidade de uma sociedade para responder rapidamente mudana e
tambm da disponibilidade de substitutos e/ou de fontes alternativas de
abastecimento (Nye, 2002, p. 229). Uma situao de interdependncia desejvel
para o sucesso de um processo de integrao seria a que combina alto grau de
sensibilidade, com baixa vulnerabilidade das partes. A alta sensibilidade
generalizada, decorrente de elevados ndices de interdependncia, tenderia a
aumentar a responsabilidade de cada um em relao aos demais. Por sua vez, a
baixa vulnerabilidade de cada um suporia a existncia de importantes
capacidades
individuais
que
tornaria
sustentvel
situao
de
interdependncia.
Quanto simetria da interdependncia, diz respeito aos graus de
dependncia mtua. Quanto mais simtrica a interdependncia, mais raras so as
ocorrncias de extremos, caractersticas das situaes assimtricas. Segundo
Nye, a dimenso poltica da interdependncia supe a prtica frequente de
manipulao das assimetrias o que se constitui em fonte de poder. Em casos de
interdependncia envolvendo vrias reas, a manipulao comumente realizada
relacionando as questes, o que pode produzir efeitos significativos dependendo
da intensidade do conflito. Nesse mbito, as instituies internacionais so
frequentemente usadas pelos Estados para estabelecer regras que influenciem o
relacionamento das questes (Nye, 2002). Havendo regimes diferenciados para o
tratamento das principais questes capital, comrcio, meio ambiente, etc as
partes militarmente mais fortes podem atuar no sentido de prejudicar as
negociaes nesses regimes caso venham a ser derrotadas contundentemente
106
estudos
relativos
interdependncia
complexa
levaram
ao
107
Consideraes finais
regionalizao.
As
assimetrias
regionais
que
revelam
significativas
Referncias Bibliogrficas
109
110
111
diversidade
comportamental.
Isso,
interna
nos
por sua
planos
vez,
doutrinrio,
resulta em
organizacional
variegadas
estratgias
113
Atuao poltica
114
Ricardo Mariano
115
116
Ricardo Mariano
117
118
Ricardo Mariano
presidncia
da
Repblica,
fenmeno
notrio
desde
incio
da
119
3
4
http://politica.dgabc.com.br/materia.asp?materia=546212
Folha de S. Paulo, 10/10/2006.
120
Ricardo Mariano
http://www.lulapresidente.org.br/noticia.php?codico=504
Folha de S. Paulo, 18/8/2006.
7
http://www.valoronline.com.br/valoreconomico/285/primeirocaderno/politica/Orfaos+de+Garotinho
+evangelicos+dividem-se+entre+Lula+e+Alckmin, 60,3891265.html
6
121
Avanos e tropeos
122
Ricardo Mariano
123
124
Ricardo Mariano
10
http://www.congressoemfoco.com.br/Noticia.aspx?id=10539
http://www.alcnoticias.org/articulo.asp?artCode=4669&lanCode=3
12
http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=10542
11
125
http://joaocampos.com.br/site?pg=materia.php&id=130.
Sobre a Frente Parlamentar Evanglica e o GAPE, ver Baptista (2007).
15
http://www.joaocampos.com.br/site?pg=materia.php&id=111
16
Concedida a meu ex-bolsista de iniciao cientfica Toty Ypiranga de Souza Dantas.
14
126
Ricardo Mariano
http://www.adelorvieira.com.br/index.php?pag=ver_noticia&codigo=220. Em 21 de maro de
2007, o presidente da Cmara dos Deputados, deputado Arlindo Chinaglia, participou de culto da
Frente Parlamentar Evanglica.
127
Corporativismo
Ricardo Mariano
129
130
Ricardo Mariano
com o candidato oficial. Isso significa que os pastores esto proibidos de apoiar
candidaturas avulsas, no oficiais. Nesse quesito, a Assembleia de Deus procura
seguir os passos da Universal, visando reservar, embora com eficcia muito
inferior, o apoio eleitoral de seus pastores exclusivamente aos candidatos oficiais
da igreja.
Seguem, abaixo, alguns exemplos da atuao poltica corporativista de
parlamentares pentecostais no Congresso Nacional. Antes, porm, cumpre
observar que corporativismo e clientelismo (para no dizer patrimonialismo e
fisiologismo) so prticas polticas tradicionais na cultura poltica brasileira, e no
prerrogativas dos polticos pentecostais (Machado, 2006, p. 46). Contudo,
corporativismo e clientelismo tendem a ser reforados pela adoo, por parte da
Assembleia de Deus, da Universal e de outras igrejas, de representao poltica
acentuadamente corporativista no campo poltico partidrio. Modelo de atuao
poltica que, como vimos, no consensual e enfrenta certa rejeio nesse meio
religioso.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp270120049993.htm
131
http://www.institutojetro.com.br/lendoentrevista.asp
132
Ricardo Mariano
irrefrevel
de
absolutizar
princpio
da
liberdade
religiosa
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/03/31/e310329131.asp
133
134
Ricardo Mariano
Constituio
de
1934,
expressando
fortalecimento
135
136
Ricardo Mariano
Referncias bibliogrficas
137
138
Ricardo Mariano
Segundo Berger, um dos autores que mais se notabilizou por postular que
a secularizao e o desencantamento do mundo tm explicaes no prprio
processo de desenvolvimento da religio ocidental, seria a tradio judaico-crist
que traria consigo o grmem desencadeador desses processos. Isso teria
ocorrido em parte pela transcendentalizao de Deus operada por essa tradio
desde o Antigo Testamento. Ao propor um Deus que est fora do cosmos, o
Antigo Testamento teria criado condies para o desencantamento do mundo e
isso traria consequncias para a valorizao do indivduo como sujeito histrico.
Conforme diz Berger:
manifeste
antecipadamente
aquilo
que
conhecemos
como
individualismo moderno, mas, antes sim, que com ele cria-se um quadro de
referncia religioso para a concepo do indivduo, sua dignidade e sua liberdade
de ao e que isso tem inegvel importncia para a histria do mundo (op. cit.
p. 131/2).
Alm da transcendentalizao de Deus e da consequente historicizao
da ao individual no mundo a ela associada, Berger tambm v no Antigo
Testamento um trao de racionalizao tica. Esses escritos sagrados trariam
em si ensinamentos ticos capazes de impor racionalidade vida e isso, junto
com os fatores anteriores, seria como que o trip que permitiria afirmar que o
desencantamento e a secularizao do mundo encontram-se em estado germinal
na prpria tradio judaico-crist. Falando desse terceiro trao, Berger afirma:
Um elemento de racionalizao estava presente desde o incio,
sobretudo por causa do carter antimgico do javismo. Esse
elemento foi mantido tanto pelo grupo sacerdotal quanto pelo
proftico. A tica sacerdotal (como se v no Deuteronmio, na sua
expresso monumental) era racionalizante ao excluir do culto
qualquer elemento mgico ou orgistico e tambm ao desenvolver
a lei religiosa (torah) como a disciplina fundamental da vida
cotidiana. A tica proftica era racionalizante ao insistir na
totalidade da vida como servio de Deus, impondo, assim, uma
estrutura coesa e, ipso facto, racional a todo o espectro das
atividades cotidianas. (Berger, 1985:132/3)
140
141
142
Mas essa situao tendeu a se consolidar, segundo Berger, para alm das
sociedades cujo denominacionalismo o sistema de relacionamento entre os
diversos grupos religiosos existentes. Ela seria operante em qualquer lugar onde
ex-monoplios religiosos so forados a lidar na definio da realidade com rivais
socialmente poderosos e legalmente tolerados (op. cit. p. 149). O que, em outras
palavras, significa dizer que ocorre onde tenha se consolidado um Estado laico,
ou seja, onde a religio tenha se transformado numa esfera social autnoma em
relao a outras que compem a sociedade. O importante dessa situao em que
o pluralismo torna-se uma realidade a ser administrada pelos diversos grupos
religiosos que ela passa a se fundamentar numa lgica de mercado como
demonstra Berger:
Essa situao, segundo o que mostra Berger, torna a existncia dos grupos
religiosos sujeita a uma srie de clculos mercadolgicos. Uma vez que preciso
disputar fiis, torna-se necessrio, entre outras coisas, uma certa racionalizao
burocrtica para fazer frente s necessidades de manuteno e expanso dos
grupos religiosos. preciso, por exemplo, estar atento s tendncias do mercado
e, nesse exerccio, at mesmo as influncias mundanas tendem a modificar os
contedos dos apelos dos grupos religiosos, pois, em ltima anlise, o que est
143
Weber
no
caso
especfico
do
protestantismo,
conduz
ao
consolidao
dessas
tendncias,
fez
ainda
quebrar
unidade
145
147
149
150
virtuais
possibilitadas
atravs
de
recursos
sncronos
de
151
quer seja em espaos alheio, parecem faz-lo com o intuito muito mais de
divulgarem sua f do que de discutirem intramuros seus fundamentos teolgicos,
litrgicos, etc.
Os espritas, por sua vez, que aparentemente se situam numa faixa etria
que vai dos 20 aos 40 anos, normalmente no manifestam comportamentos
distintos entre o uso que fazem de chats, listas de discusso e sites de
relacionamento (ou, tambm, web-fruns e grupos de notcias). Procuram manter
debates disciplinados com alto nvel de exigncia intelectual dos participantes.
So, mormente, debates orientados, quase que exclusivamente, para questes
referentes s interpretaes dos livros espritas. comum no demonstrarem
interesse por polmicas com integrantes de outras religies ou cosmovises
(ateus, por exemplo). Nos poucos casos em que possvel v-los utilizando-se de
chats veculo em que, em princpio, mais difcil manter debates disciplinados
o fazem usando plataformas que permitem a imposio de atos disciplinadores
(Messenger Groups, por exemplo).
Se fossemos classificar e/ou qualificar de maneira esquemtica as formas
como as principais modalidades religiosas aparecem na Internet brasileira
teramos algo como: Catlicos: presena preponderantemente institucional
(pginas de dioceses, organizaes catlicas, servios de acesso a Internet, etc.);
pouca interatividade individual e de relacionamentos extramuros ( difcil
encontrar pessoas identificadas com o catolicismo em chats ou listas de
discusso, por exemplo). Afro-brasileiros: visibilidade publicitria (a maioria das
pginas na web tm como inteno, por exemplo, informar local e horrio de
atendimento dos mdiuns, mostrar fotos dos estabelecimentos e dos mdiuns,
etc.); comercial (h um bom nmero de pginas de lojas de artigos religiosos afrobrasileiros, tambm editoras e livrarias); praticamente nenhuma interatividade
individual (no se notou nenhuma lista de discusso nem chat importante deste
segmento; a presena de indivduos identificados com essas religies de um
modo geral bastante rara); Espritas: presena institucional bastante marcante
(possuem uma considervel rede de pginas, algumas entre as quais bastante
complexas onde se disponibilizam, por exemplo, livros espritas completos em
formato
digitalizado);
muita
interatividade
individual
de
relacionamentos
152
***
A ttulo de concluso cabem aqui algumas rpidas consideraes. O
monitoramento que o autor vem fazendo, h cerca de dez anos, do uso da
Internet por indivduos e grupos religiosos brasileiros tem levado a percepo de
que so mais eficientes no uso dessa mdia aquelas modalidades que,
primeiramente, tm uma tradio de uso da cultura escrita na forma de
vivenciarem sua f (caso dos espritas, evanglicos e, mais recentemente,
esotricos). Em segundo lugar, destacam-se aqueles grupos e indivduos que
tomam como obrigao religiosa o proselitismo militante. Nesse caso, os
evanglicos esto sozinhos na dianteira, pois, no Brasil atual, empenham-se,
como ningum mais, numa gigantesca mobilizao pela expanso de seu
rebanho e a Internet, como j havia acontecido com o rdio e a TV, se tornou um
front no qual esses religiosos gastam muito de sua energia conversionista.
Diferentemente de outros grupos, eles agem escancaradamente segundo a lgica
do mercado, fazendo com que cada grupo ou indivduo evanglico potencialize,
153
Referncias bibliogrficas:
154
A antropologia econmica
dessas
perspectivas
no
estejam
circunscritas
ele.
Para
156
157
158
159
com
base
na
oposio
primitivas/simples/tradicionais
160
161
162
163
construdas
contextualizados.
164
em
processos
simblicos
historicamente
abordagem
antropolgica
de
temas
econmicos
da
sociedade
165
Sobre esse tema, ver entrevista com Eric Wolf, em Ribeiro (1985).
166
econmicos". De forma mais radical, ela est na base das abordagens que veem
a noo de economia, ela prpria, como sistema de representaes, como em
Dumont (2000) ou, ainda, como conformando um sistema cultural passvel de
uma anlise simblica, como em Sahlins (1979).
Levada s ltimas consequncias, a perspectiva substantivista colocou em
xeque a possibilidade de se pensar em "antropologia econmica" como um
campo especfico, na medida em que dilui o seu objeto em problemticas mais
amplas e diversificadas, mesmo que esses objetos se situem numa sociedade
que se estrutura material e simbolicamente a partir do que chamamos de
economia.
Antropologia da economia
sobre
que
tratam
os
trabalhos
desses
antroplogos,
167
O projeto tem o ttulo de Me d um dinheiro ai? Crdito e incluso financeira sob a tica de
grupos populares. Essa pesquisa contou com financiamento do CNPq.
168
169
170
171
Essa pesquisa est sendo desenvolvida com o auxlio da bolsista de iniciao cientfica da
FAPERGS, Eleonora Frana Teixeira.
172
Concluso
Referncias bibliogrficas
173
174
175
Lo Peixoto Rodrigues1
1. Introduo
Licenciado em Cincias Fsicas e Biolgicas pela Faculdade Porto Alegrense de Cincia e Letras
(FAPA); Licenciado e Bacharel em Cincias Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS); Mestre e Doutor em Sociologia (UFRGS). Atualmente Professor da Universidade
Federal de Pelotas - UFPel.
177
modernidade
e,
portanto,
com
um
sistema
de
significao
completamente distinto.
Assim, o termo sociedade do conhecimento traz em si a necessidade de
maior reflexo e de diferenciao tanto das noes de sociedade, como de
conhecimento e de cincia, alm de vrias outras noes colorarias, forjadas em
diferentes momentos da modernidade, tais como: capital/trabalho, sociedade
industrial, sociedade patriarcal, sociedade burguesa, industrialismo, etc. Nesse
sentido, a prpria modernidade do sculo XX, principalmente a partir da
segunda metade, quem passa a travar um dilogo melhor seria dizer debate
com a sua tradio. Tal dilogo passa a no se constituir como meramente crtico,
numa costura permeada por teses e antteses, sempre mediada pela razo, nos
termos da construo de quase todo o conhecimento Iluminista. O debate que se
tem feito nas ltimas dcadas na chamada contemporaneidade parece
constituir-se mais propriamente numa ruptura de diversos pressupostos
modernos, que num dilogo crtico. Essa ruptura, essa descontinuidade, ou esse
dissenso que se disseminou por diferentes reas do conhecimento moderno, tem
sido amplamente debatido em diferentes setores da sociedade, por diferentes
mdias e recebido, por parte dos intelectuais, diferentes conceituaes. nesse
sentido que se busca, a seguir, identificar a emergncias contemporneas desse
debate, propondo alguns elementos de natureza epistemolgica e sociolgica
sua reflexo.
178
Lo Peixoto Rodrigues
Daniel Bell antev com bastante acuidade aquilo que anos mais tarde
passaria a ser chamado de sociedade do conhecimento, por diferentes autores.
importante levar em conta que a sua predio anterior massificao da
utilizao do computador pessoal, o chamado PC (personal computer), mesmo
nos Estados Unidos 4. As tecnologias informacionais desenvolvidas a partir de
1970 aceleraram de forma surpreendente a mudana de uma economia de bens
para uma economia de servios, embora essa mudana j acontecesse,
principalmente nos Estados Unidos, mesmo antes da dcada de 50. Esse
deslocamento da economia de bens exigiu, igualmente, o deslocamento
ocupacional, mudando de forma estrutural o mundo do trabalho, tornando-o mais
complexo, menos repetitivo (no caso do humano), exigindo, por consequncia,
maior qualificao dos trabalhadores. De fato, com o desenvolvimento da
ciberntica, que deu origem a uma bem formalizada teoria da informao e da
comunicao, cuja informtica apenas uma de suas variantes, as possibilidades
de interconexes tericas e prticas, isto , o desenvolvimento de tecnologias
tecnologia como o uso do conhecimento cientfico para especificar as maneiras
179
de fazer as coisas de um modo reprodutvel 5 deslocaram boa parte do saberfazer de uma dimenso meramente prtica, para uma dimenso terica, de
inovao, de criatividade. Essa a centralidade do conhecimento terico como
fonte (stock), de inovao e de formulao poltica para a sociedade a que se
refere Bell (1977, p. 31-32), quando afirma que a sociedade industrial representa
a coordenao das mquinas e dos homens para a produo dos bens. A
Sociedade ps-industrial organiza-se em torno do conhecimento, a fim de exercer
o controle social e a direo das inovaes e mudanas.
As transformaes apresentadas por Bell, em 1973 e que de certa forma
tm se confirmado e em muitos aspectos surpreendido, dada a sua radicalidade
, quando vistas de uma perspectiva do debate moderno/contemporneo, no
parece tratar-se simplesmente da adoo de um ou de outro enfoque crtico sobre
teorias concorrentes, mtodos de abordagens, ou da escolha ou no de um
determinado objeto emprico. Trata-se, mais adequadamente, de esgotamento de
uma epistm, no sentido foucaultiano, ou da mudana de um paradigma no
sentido kuhniano. Com essa mudana paradigmtica, assiste-se a impossibilidade
de teorias universalizantes em darem conta in totum da realidade social, como
aquelas propostas pelos clssicos da sociologia com Marx, a possibilidade
emancipatria, via proletariado, e o fim do sistema capitalista; com Durkheim, a
coalescncia, pela via do consenso; e, com Weber, a igualdade e racionalidade
organizacional e social, atravs do processo de burocratizao.
A noo de sociedade do conhecimento est presente em diferentes
nomenclaturas que se esforam por caracterizar as marcantes e aceleradas
transformaes que se seguiram principalmente a partir dos anos 60 do sculo
XX.
Essas
nomenclaturas,
tais
como
ps-fordismo,
ps-industrialismo,
Nesse sentido reproduzo a definio de tecnologia proposta por Harvey Brooks (1971), utilizada
e citada tanto por Daniel Bell (1977, p. 44), como por Manuel Castells (1999, p.49).
180
Lo Peixoto Rodrigues
snteses
suficientemente
bem
caracterizadas.
Os
diferentes
planos
(social,
poltico,
econmico,
cultural)
das
sociedades
modernas.
Isso
coloca
em
questo
aspectos
fundamentais
Chamamos aqui de objetos do mundo tudo aquilo que produzido pelo conhecimento, seja ele
de que natureza for: filosfico, cientfico, literrio, artstico, tecnolgico, religioso, ou de senso
comum. A natureza desses objetos tambm pode ser real concreta, real abstrata, real virtual.
Chamo, aqui, de real toda e qualquer experincia compartilhada por grupos sociais,
independentes do tempo e do espao.
181
portanto,
essa
contemporaneidade,
mais
um
desses
182
Lo Peixoto Rodrigues
183
de
forma
que
abarcasse
toda
dimenso
cultural
184
Lo Peixoto Rodrigues
A indicao de uma crise por vezes mais que isso, um fim para a
modernidade, nos termos em que tem sido proposta por alguns tericos, no
pode nem deve ser buscada na superfcie dos acontecimentos sociais, culturais,
ou cientficos, no olhar de senso comum. A noo de crise, descontinuidade ou
at mesmo fim, deve ser buscada, centralmente, em nvel de uma episteme, ou
axiomtico, ou paradigmtico; em nveis que do sustentao s diferentes
prticas discursivas dessa contemporaneidade. Mesmo porque as prprias
prticas
discursivas
emergentes
nessa
contemporaneidade
indicam
que
qual
episteme
que
est
se
constituindo
nessa
185
186
Lo Peixoto Rodrigues
verdade
universal,
mas
seletividade
de
incontveis
possibilidades
187
combinatria entre os diferentes objetos do mundo, nos seus distintos nveis (ou
dimenses) de apreenso cognitiva. A Cincia que buscava uma realidade
finita e estvel foi lanada num mar de infinitas realidades (possibilidades) que
podem ser acessadas circunstancialmente, contingencialmente e, na maior parte
das vezes, de forma precria. Dessa forma, o conhecimento, como um mero
processo de diferenciao entre os mltiplos objetos do mundo, ocorre de forma
exponencial: quanto maior o conhecimento, maior a diferena dos objetos
postos no mundo, portanto, mais diferenciao produzida, e assim por diante.
Como esse processo ocorre no apenas de forma quantitativa, mas qualitativa e
como
contingncia
precariedade
fazem-se
sempre
presentes,
188
Lo Peixoto Rodrigues
filosfico moderno ruiu; ruiu tambm a unidade constitutiva dos principais axiomas
da cincia moderna, a unidade do seu mtodo. Ento, o que restou?
A resistncia a uma noo ps-moderna compara-se a inconformidade
frente ao sentimento de orfandade: parece ter restado muito pouco alm de
espumas. O corredor bem iluminado pela luz do logos agora tem suas paredes
arredadas, transformou-se num grande trio com numerosos objetos, fazendo
com que a luz que outrora iluminadora provoque apenas penumbra. Essa a
complexidade quando enfocada de um ponto de vista epistemolgico, terico
heurstico e metodolgico no que se refere ao conhecimento contemporneo. A
ruptura, a descontinuidade, objeto de tantas disputas acadmicas, quando o tema
a modernidade/ps-modernidade, est no fato de no dispormos mais da
eficincia das ferramentas que antes dispnhamos para a apreenso da
totalidade, para a construo da certeza para a fundamentao da verdade.
4. Consideraes
189
5. Referncias
Lo Peixoto Rodrigues