As Igrejas Protestantes e o Golpe 64
As Igrejas Protestantes e o Golpe 64
As Igrejas Protestantes e o Golpe 64
AS IGREJAS PROTESTANTES/EVANGLICAS E O
GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964
THE BRAZILIAN PROTESTANT/EVANGELICAL CHURCHES
AND THE 1964 CIVIL-MILITARY COUP
ZWINGLIO DIAS
(*)
RESUMO
A relao das igrejas protestantes/evanglicas brasileiras com o Estado de exceo que se
estabeleceu no pas a partir de 1964, perdurando por 21 anos, foi de adeso das Igrejas do
chamado Protestantismo de Misso, na maioria dos casos, ou de passiva aceitao do regime
poltico imposto pelas armas. O texto a seguir procura descrever as causas histrico-teolgicas
que levaram a esta postura acrtica da grande maioria das igrejas, salientando com exemplos
concretos os casos de adeso direta assim como as formas de resistncia que se foram formando
ao longo do tempo. Ao mesmo tempo procura assinalar os limites impostos por uma leitura
literal/fundamentalista do texto bblico que privatiza as relaes do indivduo com o Sagrado
ignorando as dimenses sociopolticas que tornam sua existncia possvel.
Palavras-chave: Igrejas protestantes/evanglicas brasileiras. Golpe civil-militar de 1964.
Dimenses sociopolticas.
ABSTRACT
The relationship between the Brazilian protestant/evangelical churches with the military
regime established up 1964, and during 21 years, were either one of agreement and support, in
the majority of the cases, particularly among the so called Missions Protestantism churches or
of passive acceptation of the new political situation. The text try to describe the historicaltheological causes that brought up these churches to this a-critical position showing concrete
examples the cases of direct agreement and support and the forms of resistence that were
build up along the time. At same time try to sign up the limits of a literal/fundamentalist
reading of the biblical text which privatize the relationship between the Holy and the
individual not taking in consideration the sociopolitical dimentions that make its life possible.
INTRODUO
[...] antes mesmo que as armas e o dinheiro tivessem inaugurado o
novo Estado, em 1964, j um processo semelhante acontecia dentro
dos espaos pastorais da religio. Neste sentido no se pode negar
que as igrejas protestantes tenham sido precursoras do futuro.
(Rubem Alves)1
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nao brasileira, a partir da dcada de cinquenta e que alcanou seu auge com o
golpe civil-militar em 1964, tambm se fez presente no interior das igrejas do
protestantismo brasileiro. Muitos protestantes/evanglicos abandonaram suas
comunidades de origem por discordarem das posies assumidas por suas
lideranas eclesisticas. Outros trataram de se organizar internamente para,
ainda que timidamente, expressarem sua desconformidade. Entre os que foram
expulsos de diferentes suas comunidades e considerados hereges por
discordarem do alinhamento poltico de suas instituies, organizaram-se em
agremiaes tanto de carter ecumnico como em entidades confessionais
alternativas e, mesmo, em pequenas comunidades independentes.
Dois exemplos so marcantes desse processo. Em 1965 organizado no
Rio de Janeiro, por pastores e leigos de diferentes igrejas (presbiterianos
metodistas, batistas, congregacionais, anglicanos, entre outros) o Centro
Evanglico de Informaes (CEI) que, anos depois, se transforma no Centro
Ecumnico de Informaes (com a incluso de catlicos romanos), o qual vai
dar origem, na dcada seguinte ao Centro Ecumnico de Documentao e
Informao (CEDI), que veio a constituir-se numa das primeiras e maiores
ONGs do pas, com grande expanso na dcada de oitenta. Com a excluso das
filas da Igreja Presbiteriana do Brasil de vrias regies eclesisticas inteiras e
dezenas de pastores e comunidades locais vai se constituir no final da dcada de
setenta a Federao Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP) que, mais tarde,
se constitui na Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU).
A GUISA DE CONCLUSO
Apesar desses esforos de resistncia adeso das instituies
protestantes ao Estado autoritrio estas persistiram em seu cometido inicial,
fechando-se sobre si mesmas e impedindo o desenvolvimento de novas
alternativas de ser igreja. A reproduo da viso de mundo estabelecida
autoritariamente, o cerceamento da interpretao teolgica dos novos tempos
vividos pelo pas, a demonizao do movimento ecumnico e a imposio de
uma interpretao bblica de corte literal/fundamentalista levaram essas igrejas
perda paulatina de sua identidade histrico/teolgica lanando-as,
especialmente a partir de fins da dcada de oitenta, voragem arrebatadora do
(neo)pentecostalismo.
REFERNCIAS
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Recebido em 09/05/2014
Aprovado em 26/06/2014
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