A Atualidade Da Teoria Leninista Da Organização Mandel
A Atualidade Da Teoria Leninista Da Organização Mandel
A Atualidade Da Teoria Leninista Da Organização Mandel
A teoria leninista da formao da conscincia de classe proletria comea por explicar que essa
formao representa um processo desigual e descontnuo. Esse processo desigual e descontnuo de
formao da conscincia de classe proletria , em primeiro lugar, o reflexo do processo histrico
desigual e descontnuo da formao do prprio proletariado.
O conjunto dos operrios assalariados, tal como aparecem num dado momento, num determinado
pas, no foi condenado; no mesmo momento, e nas mesmas circunstncias a vender a sua fora de
trabalho. Uns so proletrios industriais, filhos de proletrios industriais, desde h vrias geraes.
Outros, acabaram de ser arrancados sua aldeia natal e agricultura ancestral. Uns, esto marcados
pela vida e disciplinas colectivas da grande fbrica. Outros, sofrem a influncia corporativa da
pequena empresa e do trabalho semi-artesanal. Uns, esto impregnados da civilizao dos grandes
centros urbanos, onde a vida colectiva fora da fbrica prolonga muito naturalmente os impulsos
solitrios derivados do prprio trabalho industrial. Outros, sofrem o duplo efeito alienante da
condio proletria e do habitat semi-rural isolado e atomizante. Uns, so educados, desde a
infncia, nas organizaes operrias. Outros, esto submetidos influncia ideolgica da classe
burguesa transmitida pelas organizaes clericais ou neutras. A diversidade da conscincia do
proletariado, num determinado momento, assim funo duma estratificao que reflecte as origens
histricas e as diferentes condies de vida e trabalho das diversas camadas proletrias.
s razes objectivas dessa estratificao do proletariado juntam-se razes subjectivas no menos
importantes. Cada operrio no sofrer da mesma maneira e no mesmo grau a influncia ideolgica
da classe dominante. Diferenas de experincia, de inteligncia, de temperamento, de carcter, faro
reagir diferentemente diferentes membros duma mesma classe social, submetida s mesmas foras
de explorao e de opresso. Mais cedo ou mais tarde a grande maioria da classe empenhar-se- na
luta mas o facto de uns o fazerem mais depressa que outros, e compreenderem melhor o alcance
geral da luta, tem evidentemente, uma importncia decisiva sobre o comportamento quotidiano de
uns e de outros sobretudo fora dos perodos de grandes lutas. Se a estratificao social do
proletariado tem causas objectivas, a estratificao subjectiva determina em ligao com ela, ao
carcter descontnuo do desenvolvimento da conscincia de classe. Este resulta por seu lado de
uma caracterstica fundamental da sociedade capitalista e da condio proletria, que preciso
lembrar a este propsito.
A classe operria sofre a explorao capitalista no em funo duma qualquer prvia escolha
ideolgica, mas em funo duma obrigao econmica inevitvel qual no pode escapar, em
condies normais. Ela no pode deixar de trabalhar permanentemente, sem se ver condenada a
morrer de fome (nos pases neocapitalistas, de legislao social generosa, as indemnizaes de
desemprego so impiedosamente suprimidas passado um certo tempo, se as autoridades burguesas
chegarem concluso de que o gajo no quer mas trabalhar). Quer dizer: no seu conjunto, a
classe operria no pode estar permanentemente em luta e, fora dos perodos de luta revolucionrias
que pem na ordem do dia o derrubamento do regime capitalista, toda a luta de classe neste
regime desemboca inevitavelmente numa reprivatizao parcial da classe, uma vez
terminado o combate. S os elementos mais conscientes, os mais enrgicos, os mais obstinados,
resistiro a esta tendncia em voltar luta pela existncia, vida privada, que resulta da
prpria estrutura da sociedade e da economia capitalistas.
Esta mesma estrutura objectiva reflete-se, igualmente, atravs de uma estrutura mental, ideolgica,
por uma tendncia interiorizao e aceitao quotidiana das relaes de produo
capitalista. At os operrios mais refractrios compram po, pagam rendas e impostos e
reproduzem assim, diariamente, as relaes mercantis que constituem o fundamento do modo de
produo capitalista, sem se apercebem disso. E travaram ao longo de decnios, lutas de classe
ferozes, inclusivamente lutas polticas (como as dos Cartistas britnicos) inclusive insurreies,
(como a dos operrios de Lyon), sem por isso compreenderem que o capitalismo seria impossvel
sem a generalizao das relaes mercantis, sem a transformao da fora de trabalho em
mercadoria, e dos meios de produo em capital.
agitao e de lutas de massa quase ininterruptas de 1918 a 1923) bastaram para assegurar por si
prprias um nvel de conscincia suficientemente elevado s massas operrias alemes que Ihes
permitisse levar a cabo uma revoluo vitoriosa. Como estas lutas esto condenadas ao declnio
peridico, qualquer teoria que v a formao desta conscincia como simples funo duma
experincia de luta descontnua, sem papel acumulador, centralizador de experincias, e memria
colectiva do partido de vanguarda, condena esta formao a um trgico trabalho de Ssifo.
Para prestar justia a Rosa Luxemburgo, necessrio acrescentar que desde 1914, e sobretudo
desde a ecloso da revoluo Alem, ela compreendeu perfeitamente que a diferenciao ideolgica
do proletariado no seria automaticamente ultrapassada pela amplitude das prprias lutas. por isso
que preconizou a organizao autnoma da vanguarda operria, conceito que inclui nos seus
escritos programticos tais como O Que quer a Liga Spartacus?. Pode portanto dizer-se que se
tornou igualmente leninista, no final da sua vida.
7. Quando examinamos a relao vanguarda/massas em perodo revolucionrio, o quadro muda e
as insuficincias dos debates de 1902-1903 aparecem claramente. sobretudo a propsito destas
experincias que Lenine fez importantes correces sua teoria de organizao, depois de 1905, de
Agosto de 1914 e sobretudo em 1917.
A experincia histrica demonstrou, com efeito, que a existncia dum Partido Social-Democrata
organizado (para retomar a terminologia de Lenine dos anos 1902-1903) no de modo nenhum
garantia do papel objectivo que desempenhar na crise revolucionria. A histria ofereceu-nos o
exemplo de numerosos partidos que tendo, durante anos, apregoado as suas convices marxistas,
no momento duma crise revolucionria no s no se esforaram por conduzir esta at conquista
do poder pelo proletariado, como ainda refrearam por todos os meios o ardor revolucionrio desse
mesmo proletariado, ou mesmo tomaram a iniciativa de organizar, deliberadamente, a vitria da
contra-revoluo. O comportamento da social-democracia alem durante a crise revolucionria em
1918-1919 disso o exemplo mais tpico mas no o nico. A chegada ao poder de Hitler no
mais que o resultado final da derrota da revoluo Alem, derrota na qual a responsabilidade
histrica dos Noske, Ebert, Scheidemann foi evidente.
Rosa Luxemburgo e Trotsky pressentiram tal eventualidade mais cedo que Lenine, nos anos 19031906. Por outras palavras, compreenderam que as prprias massas operrias que, nas condies de
funcionamento normal do capitalismo, eram fortemente influenciadas pela ideologia burguesa e
pequeno-burguesa, podiam, em momentos de crise revolucionria, dar provas de uma iniciativa, de
uma combatividade, de uma energia revolucionria que ultrapassava de longe as dos militantes
educados durante anos na teoria marxista.
Quando examinamos o balano histrico das lutas de classe desde 1914, encontramos esta lio no
uma vez ou duas, mas literalmente dezenas de vezes. Enumerar toda a lista de exploses
revolucionrias em que os partidos operrios foram ultrapassados pela actividade revolucionria das
massas, enumerar, praticamente, todas as crises revolucionrias que sucederam nos pases
imperialistas e tambm de uma srie de crises nos pases coloniais e semi-coloniais.
Querer isto dizer que a histria demonstrou que a iniciativa espontnea das massas (inclusivamente
as massas no organizadas) condio suficiente de vitrias revolucionrias e que basta eliminar os
traves organizados para assegurar a queda do capitalismo? De modo nenhum. Porque o balano
histrico duplo a este respeito. Por um lado, as massas revelaram-se em numerosos momentos,
mais revolucionrias que os partidos. Mas essas mesmas massas mostraram-se igualmente
incapazes de assegurar por elas prprias o derrubamento do capitalismo.
Na ausncia de uma vanguarda organizada que conquiste a hegemonia poltica no seu seio e que
concentre a sua energia em objectivos precisos destruio do aparelho de Estado burgus; tomar
nas mos os meios de produo e a sua organizao num modo de produo socializado; construo
de um novo poder os seus mais corajosos assaltos, as suas mais audaciosas vitrias,
permanecero sem futuro. O exemplo mais trgico e mais convincente a este respeito foi fornecido
pela experincia espanhola de Julho de 1936. Pode-se extrair uma srie de concluses, por
conseguinte deste balano histrico o que permite efectuar uma actualizao da teoria leninista de
organizao actualizao essa que o prprio Lenine efectuou no decurso do perodo 1914-1921.
Antes de mais, claro que a dialctica massas/partidos complica-se e alarga-se, luz do 4 de
Agosto de 1914. Torna-se, assim uma dialctica massas-partidos no seguindo uma linha
revolucionria-partidos revolucionrios. A existncia de partidos no constitui por si s uma
garantia contra a reabsoro da classe operria pela ideologia burguesa e pequeno-burguesa. Pelo
contrrio, pode tornar-se o motor e o veculo desta reabsoro como foi o caso, primeiro, da SocialDemocracia e, seguidamente, de uma srie de PC de massa (em Frana, Itlia, Grcia, etc...). No se
trata j de opor simples e mecanicamente a organizao" espontaneidade", mas de examinar em
que condies tericas e prticas a organizao eleva a conscincia de classe do proletariado,
estimula a sua hostilidade em relao sociedade burguesa no seu conjunto, prepara a sua
interveno massiva nas crises revolucionrias, no sentido do seu aprofundamento e da sua
generalizao, e educa os seus prprios militantes (a vanguarda) para uma interveno nas crises,
com vista sua transformao em revolues socialistas vitoriosas.
Por outro lado, claro que a amplitude da actividade das massas, no momento de crises
revolucionrias, no permite confinar o processo histrico nica relao recproca partidosmassas no organizadas. Toda a crise revolucionria, mesmo num pas mediamente
industrializado, levou, quase sempre, at agora, criao de formas de auto-organizao das
massas (Sovietes, conselhos operrios), embries do futuro poder proletrio e instrumentos
imediatos de uma dualidade de poder de facto. O aspecto profundamente revolucionrio destes
rgos de autor-organizao e de auto-governo das massas, que eles abrangem precisamente o
conjunto do proletariado e dos explorados, incluindo as camadas no organizadas ou inactivas
durante os perodos calmos ou de lutas de classe apenas parciais.
Lenine apreendeu a importncia-chave do fenmeno dos Sovietes com um pouco de atraso
relativamente a Trotsky, que via neles, desde 1906,a forma de organizao geral da futura revoluo
russa vitoriosa, e a forma de organizao universal das revolues proletrias. Mas compreendeu-a
a fundo a no apenas de maneira oportunista, nos momentos revolucionrios como lhe
reprovam crticos contemporneos mal intencionados. E Lenine compreendeu melhor que Trotsky a
dialctica particular Sovietes-partido revolucionrio que este ltimo no assimilou a fundo seno
em 1917: se impossvel uma revoluo num pas industrializado sem organizao de tipo
Sovitico o que no implica evidentemente que a terminologia seja por todo o lado a mesma
do conjunto do proletariado, igualmente impossvel uma revoluo vitoriosa sem que no seio dos
Sovietes uma vanguarda organizada conquiste a hegemonia poltica atravs de um trabalho de
explicao de propaganda e de agitao incansvel, sem a sua aco organizadora, centralizadora,
sobre a imensa energia das massas libertadas no momento da crise revolucionria.
Este papel dirigente do partido no implica nem o conceito de partido nico (que contradiz pelo
contrrio o conceito de organizao sovitica, pois esta, na medida em que deve ser a organizao
do conjunto dos trabalhadores, h de reflectir inevitavelmente a diversidade dos nveis de
conscincia, de filiao ideolgica e organizacional do prprio proletariado, quer dizer, implica a
inevitvel multiplicidade dos partidos operrios e das tendncias operrias), nem o de uma
hegemonia adquirida por medidas administrativas ou repressivas. A histria da revoluo russa
confirma-o: o emprego de tais medidas esteve sempre na proporo inversa da hegemonia poltica
que detinha o partido bolchevique no seio do proletariado e das mais amplas massas. Durante todo o
tempo em que essa hegemonia esteve garantida adquirida pela superioridade da sua linha poltica
e pela sua capacidade de convencer as massas desta no teve de recorrer a nenhuma medida
repressiva no seio da classe operria e da prpria organizao sovitica (salvo medidas de autodefesa contra aqueles que tinham, no sentido literal do termo, desencadeado a luta armada contra o
poder dos Sovietes). Toda a medida administrativa e repressiva que foi levado a tomar no seio da
classe operria resultou de um declnio prvio da sua influncia poltica no seio de determinados
sectores desta.
Podem-se procurar as causas deste declnio neste ou naquele erro poltico conjuntural cometido
pelos dirigentes bolcheviques, em determinado momento preciso; o debate a este respeito, dura
desde h meio sculo e no terminar to cedo. Mas para quem estude esta poca histrica com um
mnimo de sentido objectivo, evidente que as razes essenciais do isolamento progressivo dos
bolcheviques no seio das massas em 1920-1921 no residem neste ou naquele aspecto secundrio da
situao ou da poltica de Lenine, mas nas condies objectivas que determinavam, por seu turno,
uma passividade crescente das massas. (No extramos daqui, evidentemente, a concluso
menchevique, segundo a qual mais teria valido no tomar o poder num pas atrasado, nem a
concluso apologtica para o estalinismo segundo a qual o socialismo no se podia construir na
Rssia seno com meios brbaros, terroristas. Tudo depende do grau relativo da actividade das
massas; uma poltica correcta do Partido poderia reform-Ia, depois de 1923, poderosamente).
aqui que se pode reconhecer quanto se enganam todos aqueles que, na esteira da Rosa
Luxemburgo de 1903 a de 1918 era j mais prudente! acreditam ainda hoje que o recurso
actividade das massas o nico remdio histrico para os riscos de burocratizao conservadora do
partido. Pelo menos no caso da URSS a passividade crescente das massas precedeu (e numa larga
medida determinou) a burocratizao crescente do partido. E pode reconhecer-se a Lenine este
mrito histrico se se comparar o grau de actividade das massas nos sovietes dirigidos politicamente
pelos bolcheviques e a de outros sovietes, a durao do funcionamento real dos sovietes na Rssia
com a do funcionamento de organismos de tipo sovitico nos pases onde os bolcheviques no
foram nada hegemnicos no seio da classe operria, a existncia e o papel dominante dum partido
revolucionrio de vanguarda de tipo leninista, no somente no podem ser considerados como a
anttese de uma organizao autnoma das massas em organismos de tipo sovitico, mas pelo
contrrio asseguram-lhe uma existncia mais longa e um melhor e mais eficaz funcionamento.
8. evidente, que Lenine subestimou no decurso do debate de 1902-1903, os perigos que para o
movimento operrio podiam surgir do facto de se constituir uma burocracia no seu seio.
Concentrou, nesta poca, o seu fogo sobre a intelligentsia pequeno-burguesa e os tradeunionistas, de horizontes curtos. Como Rosa Luxemburgo assimilou melhor a experincia da
social-democracia alem, que j nesta poca era muito ambgua, pde, melhor do que Lenine,
pressentir que o perigo maior de conservadorismo e de adaptao ao status quo, no surgiria nem
de uma nem de outros, mas do prprio aparelho social-democrata. Instalado nas organizaes de
massa e encostado s migalhas da democracia burguesa, este aparelho tinha na realidade j
realizado o socialismo por sua prpria conta. Ia adoptar uma orientao fundamentalmente
conservadora, racionalizada pela necessidade de defender as conquistas feitas. O revisionismo e o
reformismo encontram a as suas razes materiais e sociais bem como ideolgicas. Esta dialctica
das conquistas parciais foi em seguida estendida pela burocracia estalinista escala mundial.
luz da experincia histrica, Lenine aprendeu muito melhor, a partir de 1914, o papel-chave que a
burocracia das organizaes operrias pode desempenhar na transformao destas, de instrumento
para impulsionar revolues socialistas, em instrumentos de defesa do status quo social. Na sua
luta contra a social-democracia internacional, deu uma importncia essencial anlise da sua
burocratizao. A partir de 1918, apreendeu, profundamente, o perigo de burocratizao do primeiro
Estado operrio, e consagrou uma boa parte dos ltimos anos da sua vida a um combate contra este
perigo.
Ao faz-lo, Lenine elevou alis o problema do domnio ideolgico e psicolgico (os hbitos
burocrticos, os mtodos burocrticos, a mentalidade burocrtica) ao nvel social. Para ele a
burocracia uma camada social que defende interesses sociais determinados (essencialmente no
domnio da retribuio, do modo de vida, dos rendimentos. por isso que no uma classe social,
no ocupa um lugar particular e historicamente necessrio no processo de produo, coisa que
fizeram, pelo menos numa poca determinada da sua histria, todas as classes sociais). E desde
1918, transfere uma boa parte deste raciocnio para o domnio do Estado sovitico e para a luta
contra a deformao burocrtica deste.
Brandiu-se contra Lenine o argumento de que o modelo de organizao do partido que defendia
teria facilitado o processo de burocratizao na URSS. Como esta crtica lhe foi efectivamente
dirigida desde 1902-1903, aparece com a aureola de anlise proftica. Respondemos j mais atrs
objeco segundo a qual Lenine teria proposto um modelo de organizao no-democrtico. Porm,
a questo do modelo de organizao possvel dos partidos operrios merece uma anlise mais
detalhada.
Na medida em que se rejeite o clube de discusso ou a reunio informal e descontnua de
indivduos, a histria forneceu-nos dois modelos essenciais de organizao dos partidos operrios:
modelo baseado na seleco individual de militantes, a partir do seu nvel de conscincia individual
e da sua actividade; e o das seces baseadas na circunscrio eleitoral, agrupando todos aqueles
que afirmam a sua adeso aos princpios socialistas. Estes dois modelos, um restrito, o outro
lato, mostram bastante bem a diviso da social-democracia russa em bolcheviques e
mencheviques.
Qual dos dois modelos se revelou mais democrtico? Diremos luz da experincia histrica, que o
segundo se burocratizou mais rapidamente que o primeiro e que ao burocratizar-se, se
reconverteu, alis fundamentalmente, no segundo modelo.
No difcil compreender que o agrupamento de grande nmero de membros passivos
geralmente ausentes s reunies sem nvel de conscincia e comprometimento elevados,
bem mais facilmente manipulvel por um aparelho ou por demagogos individuais, do que uma
comunidade de activistas comprometidos toda a sua vida na luta por uma mesma causa, que julga a
eficcia de cada um luz da contribuio que ele traz para a defesa desta causa. Quantos mais
elementos passivos um partido lato tiver, mais fcil se torna a burocratizao. Quanto mais um
partido de vanguarda fr composto exclusivamente de militantes activos, maior a garantia contra
a burocratizao. Foi, alis afogando os elementos activos e conscientes num grande nmero de
aderentes passivos, que Estaline facilitou grandemente a burocratizao do partido bolchevique,
depois da morte de Lenine , Lenine exprimira j tal receio no seu famoso Testamento.
O problema da burocratizao do partido operrio fenmeno social facilitado ou entravado por
um determinado modelo de organizao, mas de modo nenhum causado por este est
estreitamente ligado ao da democracia operria, isto , possibilidade de controle dos membros
sobre o aparelho, e da elaborao da linha poltica em funo dos interesses de classe a defender (e
no, tendo em vista interesses sectoriais, ou pior ainda, tendo em vista a auto-justificao, perigo
que ameaa qualquer organizao numa sociedade baseada na produo mercantil e na diviso
social do trabalho). A este respeito, o balano histrico tambm claro. No tempo de Lenine, o
partido bolchevique foi um partido vivo e democrtico, atravessando periodicamente debates de
tendncia apaixonados, permitindo a expresso de opinio em desacordo com as da direco (ou da
sua maioria) no excomungando nenhuma das posies oposicionistas, permitindo que a
experincia resolvesse as divergncias tcticas. Pode afirmar-se, sem cair em erro, que este partido
foi mais democrtico, e permitiu debates de tendncia mais sistemticos, do que qualquer partido
operrio importante na histria e certamente do que os partidos social-democratas.
verdade que no momento em que foi maior o isolamento dos bolcheviques, no momento da
introduo da NEP, Lenine props e conseguiu que se aprovasse a interdio das fraces no
partido. De resto, s props isso por razes conjunturais e como medida passageira, e nunca como
questo de princpio. Pode pensar-se que esta deciso foi errada e luz da histria pensamos que
o foi efectivamente, porque permitiu a Estaline asfixiar progressivamente o direito de tendncia, e
deste modo toda a democracia no interior do partido.
Mas aqueles que citam triunfalmente este pecado de Lenine como a confirmao do seu pecado
original pretensamente anti-democrtico esquecem, com demasiada facilidade, que no prprio
momento em que Lenine se comprometeu a favor da supresso do direito de fraco, confirmou
solenemente o direito do oposicionista Chliapnikov imprimir os seus pontos de vista oposicionais e
de os distribuir, pagos pelo partido, a todos os membros do partido, em centenas de milhares de
exemplares: que nos mostrem um nico partido social-democrata em que isto tenha sido praticado,
no dizemos sistematicamente, mas mesmo, s ocasionalmente!
E at no X Congresso do PCR, em que foi tomada a deciso de proibir as fraces, Lenine tornou a
confirmar, no menos solenemente, o direito de tendncia, opondo-se a uma emenda de Riazanov
que quis impedir que se elegesse no futuro o comit central segundo as plataformas de tendncias.
Se surgem divergncias fundamentais, no se pode impedir que elas sejam resolvidas perante o
conjunto do partido, exclamou ele (Obras Completas, tomo 32, pgina 267 da edio alem,
Dietz Verlag, Berlim 1961). Foi a partir do momento em que a burocracia impediu tais discusses, e
este direito de tendncia, que o partido cessou de ser o instrumento revolucionrio forjado por
Lenine. Um outro argumento tem ainda sido citado para justificar a tendncia burocrtica
inerente s concepes bolcheviques de organizao que o prprio Lenine se teve que opor ao seu
prprio aparelho cada vez que esboou uma viragem para o movimento revolucionrio de
massas, principalmente em Abril de 1917. Aqueles que defendem esta concepo esquecem um
pequeno detalhe: que neste drama histrico no havia apenas trs personagens principais: o heri
positivo as massas revolucionrias; o traidor o aparelho central do partido; e Lenine,
oscilando entre uns e outros. Havia ainda milhares de operrios bolcheviques militantes de base. Foi
o empenhamento resoluto destes trabalhadores de vanguarda que permitiu que as Teses de Abril
de Lenine triunfassem to rapidamente sobre a resistncia da maioria do comit central, no incio da
revoluo russa. Foi a ausncia desta camada mediadora decisiva que impediu Lenine de realizar o
mesmo sucesso em 1922-1923, no decurso do seu ltimo combate contra Estaline.
Eis-nos, portanto, chegados a uma categoria sociolgica, em lugar de consideraes psicolgicas e
puramente ideolgicas. esta categoria de trabalhadores de vanguarda, que incarnam a conscincia
de classe do proletariado, quase ss nas fases de recuo ou de estagnao do movimento de massas,
em comunho intima com a maioria da sua classe quando este mesmo movimento de massas atinge
o seu nvel mais elevado, que constitui o elo central da concepo leninista de organizao.
Resumiremos esta concepo afirmando que ela consegue efectuar a unio dos elementos de
continuidade e de descontinuidade, de pedagogia e de aprendizagem permanente dos educadores, de
centralizao e de democracia, inerentes luta proletria. Incarna, assim, a tradio humanista e
revolucionria da histria contempornea.
Incio da pgina
Este texto foi uma colaborao
Incluso
12/07/2009
ltima alterao 09/12/2011