As Questões de Conhecimento Oficioso
As Questões de Conhecimento Oficioso
As Questões de Conhecimento Oficioso
-se a data inscrita na livrana se deveu a mero lapso da exequente, ou se trata de data
impossvel e, como tal, o ttulo substancialmente nulo;
- se a livrana constitui ttulo executivo, estando vencida a obrigao da avalizada ao tempo
em que foi preenchida a livrana, questo que passa por saber se, nos termos do pacto de
preenchimento sua clusula 16.3 , o exequente poderia preencher o ttulo e d-lo
execuo;
- se existe nulidade do Acrdo por contradio entre os fundamentos e a deciso, por no se
ter extrado qualquer consequncia com base no preenchimento da livrana com data
impossvel;
- se existiu preenchimento abusivo da livrana e abuso do direito por parte do exequente;
- se o oponente, como avalista, tem legitimidade para opor ao exequente o incumprimento do
pacto de preenchimento,
- se o Acrdo nulo por omisso de pronncia ao no apreciar a carta de 25.2.2002
concluso VV) denncia do contrato de financiamento.
Vejamos:
No pondo agora o recorrente como fundamento do recurso a prescrio da obrigao
cambiria que alegara nas instncias, coloca, em primeiro lugar, como questo relevante a de
saber se a data aposta pela exequente na livrana exequenda , como afirma, uma data
impossvel por ser anterior entrega do ttulo e ao acordo firmado pela GG............. e o
Banco, ou se deveu a mero lapso (a exequente afirma que a data da emisso do ttulo,
12.12.1991, se deveu a erro dos seus servios).
Importa, antes de tudo, saber a razo ser da livrana exequenda e as circunstncias que
estiveram na sua origem conveno executiva e quais os acordos de preenchimento e quem
foram os sujeitos cambirios.
Entre a sociedade GG............. e o ora exequente foi celebrado, em 12.12.1991, um
contrato de abertura de crdito I (2) em regime de conta-corrente sendo beneficiria aquela
sociedade de que ao tempo fazia parte, como gerente, o recorrente.
Para garantia do cumprimento das obrigaes emergentes do financiamento, aquela
sociedade emitiu uma livrana em branco, avalizada entre outros pelo ora recorrente,
autorizando o Banco a proceder ao seu preenchimento, pelo valor do saldo que fosse devido
no encerramento da conta, comisses e juros remuneratrios e de mora, fixando o seu
vencimento para a data que pretendesse, bem como a proceder ao seu desconto se nisso
tivesse interesse.
Em 30.9.1997, aquele acordo foi objecto de um aditamento e alterao cujos termos constam
do documento de fls. 39 a 42 da execuo cfr. ponto 7) dos factos provados mantendo-se
para garantia do financiamento data do vencimento inicial de 31.3.1998 e suas prorrogaes
semestrais, uma livrana em branco subscrita e avalizada por EE, FF (...) e pelo ora opoente,
ficando o BIC autorizado a completar o preenchimento do ttulo quando considerasse
oportuno, fixando o seu vencimento para a data que entendesse, e a proceder ao desconto se
a) Cabe ao autor a prova dos factos constitutivos do seu direito: dos momentos
constitutivos do facto jurdico (simples ou complexo) que representa o ttulo ou causa desse
direito;
b) O ru no carece de provar que tais factos no so verdadeiros: reo sufficit vincere per
non ius actoris; actore non protante reus absolvitur.
O que lhe compete a prova dos factos impeditivos ou extintivos do direito do autor; dos
momentos constitutivos dos correspondentes ttulos ou causas impeditivas ou extintivas;
c) Operando com a noo de ttulo ou causa, a repartio do nus da prova continuar por a
adiante entre o autor e o ru.
As instncias deram como provado no item 14) Na data de vencimento constante do
documento referido em I) no foi paga a quantia nela aposta, nem posteriormente.
Mas, como dissemos, o mero facto do no pagamento, face existncia da Clusula 16.3, no
conferia ao Banco a imediata exigibilidade da obrigao vencida (ademais, sempre se dir que
as instncias no deram como provados factos que exprimiriam violao do contrato e, muito
menos, que o exequente deu cumprimento a tal clusula).
Constitua nus da prova do Banco/exequente art. 342, n1, do Cdigo Civil demonstrar
que, aps ter feito a notificao a que se aludiu, a G............. no pagou a quantia devida;
s aps o cumprimento dessa obrigao assumida no pacto de preenchimento a livrana
constituiria ttulo executivo por verificado o requisito da exigibilidade.
Como se sentenciou no Acrdo deste Supremo Tribunal de Justia, de 4.5.2004, Proc.
04A1044, in www.dgsi.pt.
A aco executiva pressupe o incumprimento da obrigao.
Ora, o incumprimento no resulta do prprio ttulo, quando a prestao se apresenta, perante
este, incerta, inexigvel ou, em certos casos, ilquida.
H, ento que a tornar certa, exigvel ou lquida, sem o que a execuo no pode prosseguir
art. 802 do Cdigo de Processo Civil.
A prestao exigvel quando a obrigao se encontra vencida ou o seu vencimento depende,
de acordo com estipulao expressa ou com a norma geral supletiva do art. 777, n1, do
Cdigo Civil, de simples interpelao ao devedor []. (sublinhmos)
Esta questo tem a ver com aqueloutra suscitada pela recorrente, qual seja a de saber se o
recorrente, como avalista da subscritora, pode invocar o incumprimento da referida clusula
inserta no pacto e preenchimento onde interveio como avalista.
O aval o acto pelo qual uma pessoa estranha ao ttulo cambirio, ou mesmo um signatrio
art. 30 da LULL garante, por algum dos co-obrigados no ttulo, o pagamento da obrigao
pecuniria que este incorpora.
O aval , pois, uma garantia dada pelo avalista obrigao cambiria e no relao
extracartular.
O aval pode ser prestado a favor de qualquer signatrio da letra.
Porm, se o dador do aval no indicou a pessoa por conta de quem prestou o aval, considerase como dado ao sacador, sem que seja admissvel a prova de que foi dado a outro obrigado
Lei Uniforme Sobre Letras e Livranas-Anotada 6 edio, pg. 177, do Conselheiro Dr.
Abel Pereira Delgado.
O aval uma garantia autnoma (no uma fiana): a obrigao do avalista , por um lado,
subsidiria ou acessria de outra obrigao cambiria ou da obrigao de outro signatrio; no
entanto, o aval tambm um verdadeiro negcio cambirio, origem de uma obrigao
autnoma; o dador de aval no se limita a responsabilizar-se pela pessoa por quem d o aval,
mas assume a responsabilidade do pagamento da letra.
O avalista no detm uma posio acessria em relao obrigao garantida, tanto assim
que a sua vinculao como garante se mantm ainda que seja nula a obrigao garantida
art. 32 II da LULL por qualquer motivo que no seja um vcio de forma.
Tendo o avalista intervindo no pacto de preenchimento pode ele opor ao portador as
excepes que competiam ao avalizado se o ttulo cambirio estiver no domnio das relaes
imediatas cfr. Acrdo deste Supremo Tribunal de Justia, de 14.12.2006, in www.dgsi.pt.
A qualidade de mero avalista no legitima a oponibilidade da excepo de preenchimento
abusivo, se no subscreveu o pacto de preenchimento. Isto porque a prestao do aval estar
ento condicionada ao conhecimento e aceitao pelo avalista do montante a avalizar e data
de vencimento
No pode, em consequncia, excepcionar o preenchimento abusivo, cujo onus probandi
cabe ao obrigado cambirio (artigo 342., n. 2 do Cdigo Civil) j que integra um facto
modificativo ou extintivo do direito emergente do ttulo de crdito. (cfr., inter alia, os
Acrdos do Supremo Tribunal de Justia de 6 de Maro de 2007 07 A205 e, desta
Conferncia de 14 de Dezembro de 2006 06 A2589), salvo se tambm tiver subscrito o
pacto de preenchimento. Acrdo deste Supremo Tribunal de Justia, de 22.2.2011, Proc.
31/05-4TBVVD-B.G1.S1, in www.dgsi.pt.
Tambm neste sentido, que corresponde a jurisprudncia prevalente neste Tribunal, decidiu
o Acrdo de 23.9.2010 Proc. 4688-B/2000.L1.S1 acessvel na referida base de dados:
1. Em execuo fundada em ttulo de crdito, invocado pelo exequente como modo de
demonstrao da respectiva relao cambiria, literal e abstracta, que constitui verdadeira
causa de pedir da aco executiva e mostrando-se respeitados os pressupostos e condies
de que a respectiva lei uniforme faz depender o exerccio dos direitos que confere ao seu
titular ou portador legtimo, no carece o exequente de alegar complementarmente, no
requerimento executivo, os factos atinentes relao causal ou subjacente emisso
daquele ttulo cambirio, sendo, porm, lcito ao executado/embargante opor ao
exequente/embargado excepes fundadas nesta relao, desde que nos situemos no
plano das relaes imediatas.
2.Sendo a execuo instaurada pelo beneficirio de letra subscrita e avalizada em branco, e
tendo a avalista intervindo na celebrao do pacto de preenchimento, tal como o sacador,
-lhe possvel opor ao beneficirio a excepo material de preenchimento abusivo do ttulo,
cabendo-lhe, porm, o nus da prova dos factos constitutivos dessa excepo.
o que sucede no caso em apreo, a livrana est no domnio das relaes imediatas
subscritor/tomador e no pacto de preenchimento interveio o avalista da subscritora, ora
recorrente.
Neste entendimento tem de ser julgada procedente a invocao do preenchimento abusivo do
pacto, na medida em que a obrigao cambiria s seria exigvel aps a exequente dar
integral cumprimento Clusula 16.3.
Assim, no estando o documento invocado como ttulo executivo provido dessa caracterstica,