Direitos Das Crianças em Caso de Divórcio Dos Pais
Direitos Das Crianças em Caso de Divórcio Dos Pais
Direitos Das Crianças em Caso de Divórcio Dos Pais
Porto
2012
Porto
2012
pelo
dedicao.
seu
apoio,
disponibilidade
Abreviaturas
APAV Associao de Apoio Vtima
CC Cdigo Civil
CDC Conveno sobre os Direitos das Crianas
CEDH Conveno Europeia dos Direitos Humanos
CEPDLF - Conveno Europeia para a Proteo dos Direitos e Liberdades
Fundamentais
CP Cdigo Penal
CPC Cdigo de Processo Civil
CPP Cdigo de Processo Penal
CRP Constituio da Repblica Portuguesa
DGAI Direo Geral da Administrao Interna
DL Decreto-Lei
DR- Dirio da Repblica
DSM-IV - Manual de Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
DUDH Declarao Universal dos Direitos do Humanos
LPCJP Lei de Proteo de Crianas e Jovens em Perigo
MP Ministrio Pblico
NOW: National Organization for Women Foundation
OMS Organizao Mundial de Sade
OTM Organizao Tutelar de Menores
PIDCP - Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos
PDESC Pacto sobre os Direitos Econmicos, Sociais e Culturais
SMF Sistema de Mediao Familiar
STJ Supremo Tribunal de Justia
TEDH Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
ndice:
Introduo: Sndrome de Alienao Parental, Divrcio e Realidade Social 2
Parte I Regulao do Exerccio das Responsabilidades Parentais nos Casos de Divrcio.. 4
Captulo I Responsabilidades parentais e direitos das crianas. 4
1 - Responsabilidades parentais...
2 - Direitos da criana..
10
11
13
15
19
19
22
24
29
35
Concluso.....................................................................................................................................
39
Bibliografia..................................................................................................................................
40
Com o tempo, alterou-se a conceo tradicional de famlia, que evoluiu de uma famlia patriarcal, de
domnio masculino, em que o homem era o chefe da famlia, para uma famlia, em que os laos de
afetividade substituem o vnculo de autoridade e de hierarquia entre os seus membros. Contudo, sob a
aparncia de uma igualdade formal entre homem e mulher persiste um patriarcado implcito nas relaes
conjugais ou para-conjugais, sistema que continua, apesar de uma maior participao do pai, a atribuir s
mulheres as tarefas domsticas e o cuidado das crianas. Cf. CLARA SOTTOMAYOR, Regulao do
Exerccio das Responsabilidades Parentais em Casos de Divrcio, 5. Edio, Coimbra, 2011, p. 20
2
Servio promovido pelo Ministrio da Justia, criado a partir do Despacho n. 12368/97, de 25/11, DR
(II Srie), 09/12, que instituiu o Gabinete de Mediao Familiar e que funciona j em todo o territrio
nacional (Despacho n. 18778/2007, DR, II Srie, n. 161, de 22-08 de 2007), facultando aos cidados,
gratuitamente, a utilizao de um procedimento informal, dirigido ajuda das partes em controvrsia,
abrangendo as matrias da regulao, alterao e incumprimento do exerccio das responsabilidades
parentais, a reconciliao dos cnjuges separados, a fixao e alterao de alimentos, provisrios ou
definitivos e a atribuio da casa de morada de famlia. Este procedimento promovido pela lei (art.
147.- D n.1 da OTM e art.1774. do CC) e os acordos assim obtidos devem ser objeto de homologao
judicial, nos termos dos arts 177., n.1 e art.174., n. 1 da OTM. Este procedimento, contudo, no obteve
o sucesso necessrio, em virtude de falta de informao s partes pelos seus mandatrios. O resultado da
mediao familiar nos pases com mais experincia do processo tambm no foi muito positivo, pois a
mediao no se revela adequada a casos de desigualdade de poder entre as partes, a situaes de
violncia domstica e maus tratos infantis que tendem a aparecer em contexto de divrcio e que antes da
generalizao do divrcio permaneciam encobertos pela privacidade familiar. Cf. CLARA
SOTTOMAYOR, idem, p. 34-35.
2
muitos anos nos tribunais, com prejuzo para a sade psquica e estabilidade da vida das
crianas, sujeitas ao stress dos pedidos de alterao da guarda/residncia e aos processos
de incumprimento de visitas, em que so tratadas como objetos que um dos pais deve ao
outro.
Nos processos de regulao das responsabilidades parentais fixam-se quatro
aspetos: a residncia da criana e a forma de exerccio das responsabilidades parentais,
o regime de visitas e ainda o montante da prestao de alimentos. Os aspetos mais
litigiosos so as visitas e a penso de alimentos. Mas tratarei, neste trabalho, de analisar
os casos mais raros, mas mais traumatizantes para a criana, em que ambos os pais
lutam judicialmente pela guarda dos filhos menores e em que um deles invoca ser
vtima de alienao parental.
Parte I
Regulao do Exerccio das Responsabilidades Parentais nos Casos de Divrcio
Captulo I: Responsabilidades parentais e direitos das crianas
1. Responsabilidades parentais: Ora, no contexto de disputas judiciais pela
guarda dos menores e na consequente regulao do exerccio das responsabilidades
parentais que adquire maior relevncia a questo do exerccio
conjunto
__
__
se exclusivo, se
progenitores, durante o perodo da menoridade do seu filho, para que cuidem de todos
os aspectos relacionados com a pessoa e os bens3 do mesmo, no seu especfico
interesse.
As crianas e os adolescentes no tm capacidade para o exerccio de direitos4, a
qual se traduz na idoneidade para actuar juridicamente, exercendo direitos ou
cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo obrigaes, por ato prprio ou
exclusivo ou mediante um representante voluntrio ou procurador5. Capacidade que,
salvas as restries da lei, s lhes reconhecida com a maioridade ou com a
emancipao, de acordo com o disposto nos arts 129. a 133. do CC. s a partir de
um tal estdio que a ordem jurdica considera que possuem o discernimento necessrio
para reger a sua pessoa e dispor dos seus bens de forma livre e autnoma, j no estando
feridos de uma incapacidade geral de exerccio de direitos.
At maioridade, os menores esto sujeitos s responsabilidades parentais,
mas, com o seu desenvolvimento gradual, os poderes dos pais vo diminuindo e a sua
opinio passa a ter cada vez mais relevncia, assistindo-se, por isso, a uma autonomia
progressiva do menor, como que representando um limite relativamente ao exerccio
daquelas responsabilidades por parte dos pais.
O
art.1878.
do
CC
consagra
expressamente
que
contedo
das
Cf. ROSA MARTINS - Responsabilidades Parentais no Sc.XXI: A Tenso entre o Direito de Participao
da Criana e a Funo Educativa dos Pais - Lex Familiae, Coimbra, Ano 5, n. 10, 2008, p. 36.
4
Os menores esto feridos de incapacidade de exerccio por no terem ainda completado dezoito anos de
idade, como dispe o art.122. do CC.
5
Cf. CARLOS ALBERTO MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, Coimbra, 4. edio, p. 221.
4
poder de administrao dos bens dos filhos menores, ou o prprio dever assistencial
(obrigao de alimentos e de contribuio, de acordo com os recursos prprios, para os
encargos da vida familiar), atos de natureza pessoal, neles se destacando o poder-dever
de os pais cuidarem da sua educao e o de velarem pela sade dos mesmos6.
2. Direitos da criana: Os arts 1877. e seguintes do CC e o art.36. da CRP
acentuam mais os poderes-deveres dos pais do que os direitos das crianas. Contudo,
estas normas devem ser interpretadas de acordo com o documento internacional, a
Conveno sobre os Direitos das Crianas, ratificada pelo Estado Portugus em
1990, que marca a passagem do estatuto da criana como objeto da proteo dos adultos
para sujeito de direitos, com capacidade natural de autodeterminao, de acordo com a
sua maturidade. Criana, segundo o art.1. da CDC, todo o ser humano menor de 18
anos, sendo certo que a menoridade no um bloco monoltico mas um processo de
desenvolvimento, em que a criana passa por vrias etapas, adquirindo capacidades
especficas e revelando necessidades diferentes, consoante a fase de desenvolvimento
em que se encontra7.
As crianas, na CDC, tm, para alm de direitos de proviso e direitos de
proteo, direitos de participao, como o direito expresso livre de opinio nos
processos, em que se discutam questes que lhes dizem respeito, como vem plasmado
nos arts 12. e 13..
As normas desta CDC so materialmente constitucionais, vigorando, dessa
forma, no nosso direito interno, como direitos fundamentais anlogos aos direitos,
liberdades e garantias do cidado (art.17. da CRP), por via do princpio da clusula
aberta ou da no taxatividade dos direitos fundamentais, vinculando todas as entidades
pblicas e privadas nos termos do art.18. da CRP.
A CDC, no art. 9., consagra o direito da criana no separao dos seus pais,
tal como a CRP, no art. 36., n. 6, estipulando que os filhos s podem ser separados
dos pais nos casos previstos pela lei, ou seja, nos casos em que estes no cumpram os
seus deveres fundamentais para com os filhos, e apenas mediante deciso judicial8(arts
6
Alm deste preceito legal, h outros poderes-deveres que se impem aos progenitores, como decorre do
n. 1 do art. 1885. do CC e art. 18., n.1 da CDC.
7
Cf. ROSA MARTINS, Menoridade, (In)capacidade e Cuidado Parental, Centro de Direito da Famlia,
Coimbra, 2008, n.13, p. 172-173 e CLARA SOTTOMAYOR, Autonomia do Direito das Crianas, in
Estudos em Homenagem a Rui Epifnio, Coimbra, 2010, p. 79-88.
8
Cf. O acrdo do TRL, de 30/06/2009, referente a uma situao enquadrada na alnea d) do n. 1 do
art.1978. do CC, em que a criana foi confiada com vista a futura adoo, cortando-se definitivamente os
5
1915. e 1918. do CC). Todavia, estes direitos s podem ser invocados por pais que
cuidam da sade e da educao da criana, que respeitam os seus direitos e a sua
dignidade e que mantm com esta, no dia-a-dia, uma relao afetiva.
3. Exerccio das responsabilidades parentais: A nova lei do divrcio (Lei n.
61/2008, de 31/10) procedeu a uma alterao conceitual nesta matria, alterando a
primitiva designao de poder paternal para responsabilidades parentais,
acentuando, assim, as obrigaes dos pais e no os seus poderes ou direitos. A lei
aproximou-se da conceo dos direitos familiares pessoais dos pais como poderes
funcionais ou funes a exercer por estes, no interesse dos filhos.
A lei introduziu, aps o divrcio, um paradigma de igualdade entre os pais no
exerccio dos poderes-deveres, os quais pertencem a ambos os progenitores9, mas
apenas relativamente s questes de particular importncia para a vida do filho
(art.1906., n. 1 do CC). Apesar de este princpio ser considerado pela lei uma regra
geral, o n. 2 do art.1906. do CC salvaguarda os casos em que o referido exerccio em
comum seja contrrio aos interesses do menor, estatuindo que, nesse caso, o tribunal
dever decidir, fundamentadamente, que as responsabilidades parentais sejam
exercidas por um dos progenitores.
A expresso questes de particular importncia representa, na ordem jurdica
portuguesa, um conceito indeterminado, existindo uma enorme divergncia a respeito
do que com essa expresso quis o legislador definir, afastadas que se considerem
algumas tabulares situaes extremas, como a da submisso das crianas a intervenes
cirrgicas muito delicadas ou da tomada de opo religiosa fundamental contrria
regularmente adotada no ncleo familiar.
Existem orientaes jurisprudenciais afastadas deste tipo de exigncia, porque,
sendo demasiado abrangentes, incluem, no conceito, prticas do dia-a-dia, contribuindo,
assim, ativamente para o prolongamento do desacordo entre os progenitores10.
laos ao progenitor biolgico, que representava um perigo grave para a criana, em virtude de ter sido
condenado por abuso sexual de crianas, ser consumidor de pornografia infantil e de coabitar com outro
indivduo que foi condenado por abusar sexualmente do prprio filho.
9
Sobre a regulao das responsabilidades parentais, em casos de divrcio, vide arts 1905. a 1912. do
CC e arts 174. e ss da OTM.
10
V.g. CLARA SOTTOMAYOR sustentando que a inscrio em estabelecimentos de ensino pblicos ou
privados e as mudanas de residncia dentro do pas, assim como deslocaes da criana ao estrangeiro
para frequncia de cursos e estgios e a inscrio em atividades extracurriculares com durao regular
durante o ano letivo integram situaes da vida corrente do menor, in Regulao (), ob. cit., p. 283.
6
Cf. RITA LOBO XAVIER- Recentes Alteraes ao Regime Jurdico do Divrcio e das Responsabilidades
Parentais - Lei n. 61/2008, de 31 de Outubro - Coimbra, 2010, p. 64.
12
Cf. CONSUELO BAREA, Los Inconvenientes de la Custodia Compartida, Barcelona, Lighting Source,
2012.
7
O que denominado, em Portugal, como clusula do progenitor amistoso e nos EUA como friendly
parent provision.
14
Cf. CLARA SOTTOMAYOR, Regulao (), ob. cit., p. 74.
15
Ibidem, p. 57-61.
8
Para alm da CDC, pelo Protocolo Facultativo CDC, pela CEDH, pela Conveno do Conselho da
Europa, pelo PDCP, pelo PDESC, pelo Comit dos Direitos das Crianas, pela Directiva 2011/92/EU do
Parlamento Europeu e do Conselho, pela OTM e pela CRP.
9
17
Crime que representa 21,4% dos Crimes Contra a Vida em Sociedade, de acordo com as Estatsticas da
APAV e respetivo Relatrio Anual de 2011, p. 25.
18
Cf. CLARA SOTTOMAYOR, Regulao (), ob. cit., p. 135.
19
Cf. O acrdo do STJ, de 23/05/2012, disponvel para consulta em www.dgsi.pt.
10
11
Foram registadas, em Portugal, 28.980 ocorrncias de violncia domstica em 2011, tendo dado origem
ao homicdio de 27 mulheres, s nesse ano. Em 82% dos casos as vtimas so do sexo feminino e 88%dos
agressores so homens. No que diz respeito ao grau de parentesco entre a vtima e o denunciado, em
62% dos casos a vtima era cnjuge ou companheira/o, em 16% dos casos era ex-cnjuge/excompanheira/o. (Dados do Relatrio Anual de Segurana Interna de 2011, da DGAI, 2011, p. 84-87,
disponvel
para
consulta
em
http://www.portugal.gov.pt/media/555724/2012-0330_relat_rio_anual_seguran_a_interna.pdf).
24
O Relatrio Anual sobre as Estatsticas da APAV, referentes ao ano de 2011 concluram que o crime
em anlise representou 85% de todos os crimes registados, p. 22, disponvel para consulta em:
www.apav.pt/estatisticas.
25
Cf. arts 1., 25. e 26. da CRP.
26
O marido/companheiro tem o controlo total das contas bancrias da vtima.
27
Cf. ANA SANI - Vitimao Indirecta de Crianas em Contexto Familiar Anlise Social, Vol.XII
(180), 2006, 849-864.
28
Idem, p. 857.
12
29
ANTUNES VARELA et al., in Manual de Processo Civil, 2. Ed., 1985, p. 72, A prevalncia da equidade
sobre a legalidade estrita, nas providncias que o tribunal tome, no vai obviamente ao ponto de se
permitir a postergao das normas imperativas aplicveis situao.
30
FILIPA RAMOS DE CARVALHO - A (Sndrome de) Alienao Parental e o Exerccio das
Responsabilidades Parentais: Algumas Consideraes - FDUC, Centro de Direito da Famlia, Coimbra,
2011, p. 73-74.
13
14
Este captulo vai ser tratado na Parte I, na medida em que ilustra a pertinncia do
tema que escolhi, pois, conforme se ver, o conceito de Sndrome de Alienao Parental
usado na jurisprudncia como critrio ou meio de prova, citado na fundamentao de
decises judiciais. Logo, apesar de o conceito ser oriundo da psicologia e da psiquiatria
infantil, os juristas tm de se pronunciar sobre a sua validade e sobre a possibilidade de
o conceito ser ou no utilizado pelos Tribunais.
O primeiro acrdo dos Tribunais Superiores a utilizar o conceito foi do TRE, de
27/09/2007, em que o Tribunal manteve a deciso recorrida, especificando que a me
ficaria a exercer sozinha o poder paternal e estabeleceu perodos fixos para as visitas
nos fins-de-semana, frias e pocas festivas, procurando evitar mais controvrsia entre
os progenitores. O Tribunal no aplicou o conceito, pois no inverteu a guarda nem
confiou a criana a terceira pessoa, como recomenda a SAP. Contudo, aderiu ao
significado do conceito, na medida em que, na advertncia feita aos pais, para o caso de
se verificar a continuao daquelas desavenas, avisou-os de que se poderia vir a adotar
a hiptese radical de confiana dos menores a terceira pessoa, fazendo aluso a uma
deciso pioneira na Catalunha, caracterizando, alegadamente, situao concreta de
padecimento de SAP.
Na minha opinio, neste tipo de situaes, no parece sensata a confiana das
crianas a uma terceira pessoa, pois que agravaria ainda mais, atento o dano da
separao, o ambiente de descontrolo emocional que rodeia a famlia, podendo afetar
muito seriamente o desenvolvimento integral da criana.
A advertncia efetuada, parece, pois, desenquadrada dos textos legais, mormente
do art.1918. do CC, e excessivamente permevel teoria da Sndrome da Alienao
Parental, pois aplica a terapia da ameaa. Constituindo, a meu ver, tal advertncia do
juiz, uma intromisso excessiva na vida familiar, em preterio dos arts 147.-A da
OTM e 4. da LPCJP.
No acrdo do TRL, 08/07/2008, o Tribunal revogou a sentena proferida (que
atribuiu a guarda da criana me), mantendo a guarda da menor junto do pai,
demonstrando uma modelar considerao da importncia que deve atribuir-se
perdurao da relao de confiana pr-existente entre a menor de 8 anos (ao tempo da
sentena recorrida) e a sua pessoa de referncia, o pai, no caso concreto, seu
15
Vide o estudo da jurisprudncia espanhola, elaborado pela associao Advogadas pela Igualdade,
demonstrando que, embora existam progenitores masculinos alienadores, as medidas aplicadas pelos
Tribunais no so to drsticas como quando a me a acusada de alienao - CARBAJAL FERNNDEZ
VICTORIA et al., Estudio Jurisprudencial sobre el Impacto del SAP nos Tribunais Asturianos, Instituto
Asturiano de la Mujer, Abogadas para la Igualdad, 2010, p. 219/224.
32
Cf. CLARA SOTTOMAYOR, Exerccio do Poder Paternal, Porto, 2003.
33
Cf. CATARINA RIBEIRO, A Criana na Justia, Trajectrias e Significados do Processo Judicial de
Crianas Vtimas de Abuso Sexual Intrafamiliar, Coimbra, p. 117.
16
situao alguma com aptido para corresponder SAP, porventura manipulao pela
me da criana ou por familiares prximos desta. Note-se, porm, que, o juiz de 1.
instncia no dispunha, ainda, do resultado do processo-crime pendente. Contudo,
mesmo na hiptese de se ter registado arquivamento do inqurito, ou absolvio do
arguido, na deciso penal, com fundamento em no ter praticado os fatos imputados ou
na circunstncia de isso no ter resultado provado, poderia, ainda, justificar-se a aludida
restrio do regime de visitas, por representarem um perigo para o interesse da criana.
18
19
no
dever
confundir-se,
advirta-se
desde
j,
aquela
suposta
Este autor estabeleceu, de fato, trs estdios, como descrito por ANTONIO ESCUDERO et al. ob. cit., p.
47-50, assim enunciados algo arbitrariamente, pois que constituintes, afinal, de um processo contnuo.
Segundo LENORE WALKER et al. A Critical Analisis of Parental Alienation Syndrome and Its
Admissibility in the Family Court - Journal of Child Custody, 2004, p. 51, a diferena entre estes
estdios no estabelecida com critrios rigorosos, pois Gardner usa conceitos muito indeterminados e
com mltiplos sentidos para distinguir os vrios graus de SAP.
20
21
__
em virtude, como
CAROL BRUCH, Parental Alienation Syndrome and Alienated Children: Getting It Wrong in Child
Custody Cases, p. 394.
43
RICHARD GARDNER, Recommendations for Dealing With Parents Who Induce A Parental Alienation
Syndrome In Their Children, Journal of Divorce & Remarriage, 1998, 28 (3/4), p. 1-21, apud ANTONIO
ESCUDERO et al. ob. cit., p. 51.
44
Vide acrdo do TRP, de 03/10/2006, citado pelo acrdo do TRG, de 06/01/2011.
45
Em sentido contrrio, cf. MARIA SALDANHA PINTO RIBEIRO, Amor de Pai - Divrcio, Falso Assdio e
Poder Paternal, Lisboa, 2007, p. 97-106, considerando que a audio da criana serve objetivos
contrrios aos seus interesses, na medida em que est instrumentalizada pelo progenitor alienador.
Contudo, a jurisprudncia dos tribunais superiores no se tem orientado neste sentido, conforme esclarece
CLARA SOTTOMAYOR, Regulao (), ob. cit., p. 155.
46
PATRCIA JARDIM, O Abuso Sexual na Criana. Contributo para a sua caracterizao na perspetiva da
Interveno Mdico-Legal e Forense, Dissertao elaborada no mbito do Mestrado em Cincias
Forenses da Universidade do Porto, 2011, p. 19-21.
22
47
A Newsletter of the NOW Family Law Ad Hoc Advisory Committee, de 2012, p. 7, disponvel para
consulta em http://www.nowfoundation.org/issues/family/, refere estudos que concluram que 11% dessas
crianas tentaram o suicdio, acrescentando ainda que 87% dos progenitores protetores acreditam que os
abusos continuam.
48
CONSUELO BAREA/SONIA VACCARO, ob. cit., p. 202.
49
JOAN S. MEIER refere estudos que demonstram que muitas crianas abusadas continuam a amar os
seus progenitores abusadores e anseiam a sua ateno, in Parental Alienation Syndrome and Parental
Alienation:Research Reviews, 2009, p. 6.
50
CONSUELO BAREA/SONIA VACCARO, ob. cit., p. 205.
51
Cf. ISABEL SOARES, Relaes de vinculao ao longo do desenvolvimento: Teoria e avaliao, Braga,
2007 e CLARA SOTTOMAYOR, Regulao (), ob. cit., p. 179.
23
25
ser considerados para determinar se uma teoria ou tcnica pode ser qualificada como
conhecimento cientfico: a) A teoria ou tcnica foi baseada em metodologia que pode
ser ou foi testada?; b) A teoria ou tcnica foi sujeita a peer-review e a publicao?; c)
Qual a taxa de erro potencial ou conhecida da teoria?; d) A tcnica goza de aceitao
geral dentro da comunidade cientfica?64.
LENORE WALKER evidencia o fato de a verificao dos critrios de
diagnstico/sintomas apontados por Gardner poderem reflectir, to s, a reao de uma
criana que tenha presenciado maus tratos progenitora ou mesmo sofrido abusos
sexuais ou maus tratos por parte do progenitor que reconhece como sendo violento65.
Tambm CAROL BRUCH aponta mltiplas falhas teoria de Gardner, comeando
por afirmar que o autor confunde a reao normal da criana ao divrcio e um grave
conflito parental (incluindo violncia) com psicose. Neste ponto, surge acompanhada
por RICHARD WARSHAK, que defendeu, isso mesmo, relativamente s crianas que
evidenciam alguns dos sintomas de SAP por um curto perodo de tempo, imediatamente
aps um divrcio, sublinhando que a ansiedade provocada pelo divrcio, pode ser
entendida como consequncia da alienao, referindo, que, Contudo, as crianas
problemticas, difceis e tmidas passam um mau bocado, procurando ajustar o stress
gerado nas suas vidas; concluindo no sentido de que pode parecer que so vtimas de
SAP, no entanto, esto a fazer o seu melhor para lidarem com o stress das suas vidas66.
Prosseguindo na sua anlise crtica, CAROL BRUCH observa que Gardner exagera
na referncia quantidade de casos fabricados em que o menor ou o progenitor com a
guarda alegam falsos abusos, no citando ele, frequentemente, a fonte dos seus pontos
de vista, dizendo a mesma autora que existe bem fivel literatura cientfica que contraria
tal tese67.
A seguir, acusa a mesma teoria de poder desviar as atenes de um progenitor
potencialmente perigoso ou abusivo, centrando as atenes do tribunal no progenitor
que detm a guarda do menor, a me, que na grande maioria dos casos, procurar, a
todo o custo, proteger a criana.
64
26
Cf. JANET JOHNSTON - Children of Divorce Who Refuse Visitation, in Nonresidential Parenting,
1993, 109-135 apud CAROL BRUCH ob. cit., p. 385.
69
Idem, p. 386.
70
Cf. art. 152. n.2 e 6 do CP. O Relatrio Anual de Segurana Interna de 2011 j mencionado
determinou que das denncias de violncia domstica, 41,5% ocorreram na presena de menores, p. 87.
71
Cf. ANA SANI salienta o risco acrescido a que esto sujeitas, apresentando problemas
comportamentais: estados depressivos, baixa auto-estima, comportamento agressivo, in ob. cit., p. 850.
a chamada vitimizao indireta em virtude de ter assistido a fenmenos violentos, como a violncia
domstica.
72
Cf. JUDITH HERMAN defende que o sofrimento dos menores ao assistirem a este tipo de experincias
equiparado ao de sobreviventes de campos de concentrao e de violncia domstica, prisioneiros de
guerra, podendo, de igual modo, vir a sofrer de stress ps-traumtico complexo, in Trauma and Recovery
The Aftermath Of Violence, From Domestic Abuse to Political Terror, New York, 1997, p. 118-122.
73
Cf. LENORE WALKER et al., ob. cit., p. 60-74.
27
deprimida, transtornada ou confusa pelo fato de a vida familiar que conhecia estar
irremediavelmente destruda; poder sentir que o progenitor guardio est em profundo
sofrimento com a separao, aliando-se a ele com a convico de que tal sofrimento tem
origem na sada da casa de morada de famlia do progenitor no guardio,
culpabilizando-o, a curto prazo, pela dissoluo familiar74.
No estudo da autora, em que foram entrevistados filhos de pais divorciados 18
meses, 5 anos, 10 anos e 25 anos aps o divrcio, concluiu-se que aqueles se aliam a um
dos progenitores em virtude do sofrimento provocado pelo divrcio75. manifesta a
opinio de que a explicao do fenmeno proposta pela SAP est marcada por uma
subjetividade ideolgica e sexista, desprovida de qualquer carcter cientfico e que
assenta na diabolizao das mulheres, bem como na negao da violncia de gnero e
do abuso sexual de crianas. Na prtica, a SAP tem funcionado no como uma teoria
mdica, porque como tal nunca foi aceite, mas como uma construo psico-jurdica,
sem base cientfica, para conseguir a guarda dos/as filhos/as para o pai76.
A crtica hoje comumente apontada a Gardner vai, assim, em tese geral, no
sentido de que sem a realizao de um rigoroso estudo multidisciplinar, conducente a
um diagnstico diferencial preciso77 sobre as causas da rejeio da criana em relao
ao progenitor, no poder, desde logo, afirmar tratar-se de uma patologia.
Apesar de tudo quanto j referido, a SAP foi utilizada nos tribunais norteamericanos durante algumas dcadas, com prejuzos inimaginveis para todos os
envolvidos. E expandiu-se, apesar de muitas discusses, para outros pases, na Amrica
e na Europa, onde tem dado lugar a numerosos equvocos.
74
Cf. JUDITH WALLERSTEIN/JOAN KELLY, Surviving the Breakup How Children and Parents Cope,
With Divorce, 1980, p. 45-51.
75
Cf. JUDITH WALLERSTEIN et al. in The Unexpected Legacy Of Divorce A 25 Year Landmark Study,
UK, 2002, p. 233-254.
76
Cf. CLARA SOTTOMAYOR, Regulao (), ob. cit., p. 166.
77
definido por ANTONIO ESCUDERO et al. por Distino entre duas ou mais doenas com sintomas
similares, mediante a comparao sistemtica dos seus sinais e sintomas, ob. cit., p. 47.
28
O Relatrio da Administrao Interna de 2011 concluiu que as denncias deste crime aumentaram
0,8% comparativamente a 2010, sendo que representa 36% dos crimes sexuais ocorridos no ano de 2011.
Acresce ainda o facto de a maioria das denncias (43,9%) se referirem a crianas entre os 8 e 13 anos,
caindo para 20,6% nos casos em que a vtima tem mais de 14 anos e ainda 15,9% se tem entre 4 e 7 anos,
p. 97-100. PATRCIA JARDIM, ob. cit., pp. 37-39, verificou ainda que, no seu estudo, 68.1% dos casos
foram arquivados, sendo que desses, 54.8% foram-no por falta de provas.
79
Expresso utilizada por CELINA MANITA, Quando as portas do medo se abrem, Cuidar da Justia de
Crianas e Jovens, Porto, 2003, pp. 240-242.
80
O dito Protocolo foi adotado em Nova Iorque, a 25/05/2000 e aprovado para ratificao pela
Assembleia da Repblica Portuguesa a 5/12/2002, tendo sido publicado no D.R. n. 54, Srie I-A, de
05/03/2003.
81
Tal dever de denncia tambm est previsto no prembulo (28) e no art.16. da Directiva 2011/92/EU.
29
opinio da criana seja considerada, nas questes referentes aos seus interesses (alnea
c) do n.1)82; o dever de os Estados Partes terem sempre em conta o superior interesse
da criana (n.3),83 e ainda o direito a serem acompanhados por profissionais
especializados nas reas em causa (n.4)84.
Para a realizao de uma boa administrao da justia imprescindvel a
coadjuvao dos vrios profissionais intervenientes, desde logo os peritos mdicos
especializados na rea da sexologia forense, que faro a avaliao forense e
determinaro se efetivamente existe crime, quem foi o agente do mesmo e em que
medida a concluso mdico-legal e forense ir influenciar a deciso a nvel judicial,
nomeadamente em sede de regulao do exerccio das responsabilidades parentais85.
Neste domnio, deve notar-se que o conceito jurdico-civil de abuso sexual
diferente do jurdico-penal (tipo e culpa), bastando, num processo tutelar cvel, que se
prove qualquer perturbao da integridade sexual da criana, mesmo que no se
preencham os critrios mais exigentes do Cdigo Penal ou que no haja culpa penal do
progenitor, por exemplo, este deixou inadvertidamente revistas pornogrficas diante da
criana, cujo contedo a ofendeu profundamente.
O facto de as acusaes de abuso sexual no reunirem prova suficiente no
processo crime no significa que o abuso no se prove no processo tutelar cvel, para
efeitos de guarda e regulamentao de convvios com o progenitor no residente. As
regras quanto ao nus da prova e culpa so distintas entre o processo penal e o cvel,
bem como o objeto dos processos, j que no processo penal, visa-se punir o infractor, e
no processo cvel, proteger a criana contra um perigo, mesmo que no consumado86.
O diagnstico deste tipo de crimes muito complexo, por no existirem, na
maioria das vezes, indcios de leses ou vestgios fsicos ou biolgicos87 do abuso. De
facto, h prticas sexuais abusivas que no acarretam evidentes danos fsicos88. O que
pode resultar, nomeadamente, do uso de pouca violncia fsica, de uma cicatrizao
82
30
rpida das leses, da penetrao por pnis, dedos ou outros objectos, no caso das
crianas mais pequenas, frequentemente no ser completa89, do uso de preservativos ou
lubrificantes, ou do uso de drogas.
Alm disso, o fato de decorrer muito tempo entre o abuso, a revelao e o
posterior exame mdico-legal, pode, desde logo, inviabilizar a recolha de vestgios
biolgicos do agressor.
Por vezes, a nica prova o testemunho/relato da vtima, o que constitui outro
problema, pois s poder ser aceite como prova se tiverem sido observadas todas as
garantias de validade referentes s normas da entrevista forense90/91. Uma correta
recolha de informao em investigao criminal fundamental, tanto para preservar
evidncias como para evitar a vitimizao secundria da vtima92, expresso que, como
define CELINA MANITA, se reporta s situaes em que uma vtima, depois de ter
sofrido um processo de vitimao primria pelo ato criminoso de que foi alvo, acaba por
ser objeto de um novo processo de vitimao no seu contato com as instituies e/ou
profissionais que a deveriam estar a apoiar e proteger93.
A entrevista representa, nas percias forenses, a tcnica preferencial de colheita
de informao94 visto que, como referem TERESA MAGALHES e CATARINA RIBEIRO,
permite recolher um conjunto alargado de dados, provenientes de vrias fontes,
permitindo ainda captar outros tipos de elementos para alm da comunicao verbal
(atitudes, comportamentos, postura, tonalidade emocional, elementos relacionais,
manifestaes exteriores de desconforto psicolgico, entre outros), podendo, tambm,
proporcionar informao altamente significativa e que muito dificilmente se obtm
atravs de outro mtodo95.
A importncia da entrevista decorre da normal inexistncia de vestgios fsicos
do abuso, devendo ponderar-se, nestes casos, o custo-benefcio da realizao do exame
89
31
96
Como defendem RICHARD GARDNER, idem, p. 443/446 e 697 e MARIA SALDANHA PINTO RIBEIRO, ob.
cit., p. 76. A Directiva 2011/92/EU probe expressamente tal confrontao no art.20. n.4.
97
PAULE SOMERS/DAMIEN VANDERMEERSCH - O Registo das Audies dos Menores Vtimas de Abusos
Sexuais: Primeiros Indicadores de Avaliao da Experincia de Bruxelas, Infncia e Juventude, 1998,
n. 1, p.114.
32
PATRCIA JARDIM verificou que a taxa de condenao98 mais elevada nos casos
em que a vtima tem idade escolar, em oposio ao crescente nmero de arquivamentos
verificados nos casos em que as vtimas tm menos de 5 anos. De facto, as capacidades
de reteno de informao, de organizao do pensamento e de produo narrativa so
mais limitadas nas crianas de idade pr-escolar99.
Desta forma, se demonstra a importncia do relato da criana para se determinar
a existncia ou no de efetivo abuso, devendo, ser consideradas juridicamente
testemunhas vulnerveis100 j que geralmente so as nicas testemunhas de um crime
pblico que ocorre numa esfera extremamente privada101.
Na literatura especfica sobre a matria existe consenso, quanto ao conjunto de
indicadores clnicos apresentados pela maioria das vtimas sexualmente abusadas,
incluindo as crianas, apontando os seguintes: alteraes profundas ao nvel
emocional, caracterizadas sobretudo pela emergncia de angstia, medo e raiva, bem
como manifestaes de instabilidade afetiva, de perturbaes do humor e indicadores
clnicos de ansiedade, depresso e alteraes comportamentais102. Quanto aos
indicadores fsicos103, as crianas abusadas podem apresentar leses genitais ou anais,
ocorrncia de pequenas hemorragias, dor ou prurido genital persistente,
emergncia de queixas corporais novas e persistentes, sobretudo dores de cabea ou
queixas gastrointestinais, entre outras. Em relao aos indicadores verificados ao nvel
do comportamento sexual104, frequente a existncia de linguagem, de conhecimentos
ou comportamentos sexuais inadequados para a idade ou, por outro lado, surge o
medo ou vergonha face nudez.
As mesmas autoras chamam a ateno, contudo, para o fato de um grande
nmero de vtimas sofrerem de um impacto psico-emocional negativo, isto , apesar de
terem sido efetivamente vtimas de um evento traumtico, no exteriorizam
sintomatologia da decorrente105.
98
A taxa de condenao mais elevada nos casos em que as prticas abusivas so reiteradas e ainda se os
exames mdico-legais demonstram a existncia de um perfil gentico diferente do da vtima, PATRCIA
JARDIM, ob. cit., p. 41/42.
99
CATARINA RIBEIRO/CELINA MANITA, ob. cit., p. 60.
100
Nos termos da j referida Lei n. 93/99, de 14/06.
101
Idem, p. 58.
102
TERESA MAGALHES/CATARINA RIBEIRO, ob. cit., p. 442.
103
Sinais e sintomas ao nvel de indicadores fsicos exibidos por crianas vtimas de abuso sexual,
referidos no texto de CELINA MANITA, ob. cit., p. 247.
104
Idem, p. 248.
105
TERESA MAGALHES/CATARINA RIBEIRO, ob. cit., p. 440. E JOAN S. MEIER, ob. cit., p. 6.
33
106
34
PATRCIA JARDIM, apontou que 69% dos casos denunciados ao MP foram arquivados ou determinada a
suspenso provisria do processo, ob. cit., p. 49.
113
STEPHANIE DALLAM, Dr. Richard Gardner: A Review of His Theories and Opinions on Atypical
Sexuality, Pedophilia, and Treatment Issues, Treating Abuse Today, 8(1), 1998, p. 16.
114
Ibidem.
115
RICHARD GARDNER desenvolveu, em 1992, uma escala que denominava por Sexual Abuse
Legitimacy Scale (SALS), para que servisse de critrio para determinar se a alegao de abuso sexual
35
124
Idem, p. 159.
Idem, p. 160.
126
Idem, p. 159.
127
MERRILYN MCDONALD, p. 15.
128
Idem, p. 16. JUDITH HERMAN observa que Por vezes a criana silenciada com violncia ou com uma
ameaa directa de morte; muitas vezes os sobreviventes relatam ameaas de que a resistncia ou a
divulgao resultaro na morte de algum da famlia, ob. cit., p. 98.
129
MERRILYN MCDONALD, idem.
130
NANCY THOENNES/PATRICIA TJADEN, ob. cit., p. 154.
125
37
131
Ibidem.
Idem, p. 156.
133
EDUARDO S/FERNANDO SILVA, Alienao Parental, Coimbra, 2011, p. 13, SANDRA FERREIRA
FEITOR, A Sndrome de Alienao Parental e o Seu Tratamento Luz do Direito de Menores, 2012 e
MARIA SALDANHA PINTO RIBEIRO, ob. cit.
134
STEPHANIE DALLAM - Dr. Richard Gardner (), p. 15.
132
38
Concluso
Perante o exposto, justifica-se que a Sndrome de Alienao Parental no deva
ser admitida nos tribunais portugueses, como critrio de deciso ou como meio de
prova, nos processos de regulao das responsabilidades parentais.
A multidisciplinariedade, no processo de aplicao do Direito, no dispensa o
esprito crtico do intrprete em relao aos pareceres da psicologia ou da psiquiatria e
em relao s doutrinas provenientes das outras cincias sociais. A regra fundamental,
neste domnio, a de que o juiz, a quem compete de acordo com a Constituio proteger
os direitos, liberdades e garantias do cidado, no deve delegar a sua funo de decidir
nos peritos nem aceitar teorias que no renam consenso na comunidade cientfica da
rea do saber a que pertencem.
Os critrios diagnstico de SAP usam uma linguagem muito imprecisa, que no
se adapta segurana jurdica que o Direito pretende promover e que abre a porta
subjetividade do julgador. A sua aplicao prtica, implicando medidas teraputicas
para tratar doenas mentais no reconhecidas pelas entidades competentes e a
institucionalizao ou a transferncia de guarda para o progenitor rejeitado, representa
uma interveno excessiva do Estado na famlia e restries dos direitos fundamentais
das crianas liberdade de expresso e autonomia. Nos casos de violncia domestica,
maus tratos ou abusos sexuais intra-familiares, a aplicao das recomendaes da SAP
tem por consequncia o agravamento do trauma da criana e a continuao da
vitimao, consequncia que traduz um incumprimento do dever do Estado de proteco
das crianas, segundo o art. 69. da CRP.
39
Bibliografia
BAREA, Consuelo - Backlash: Resistencia a la Igualdad, Aequalitas, Revista Juridica
de Igualdad de Oportunidades Entre Mujeres y Hombres, n 25, 2009, p. 68.
BAREA, Consuelo - Los Inconvenientes de la Custodia Compartida, Barcelona, Lighting
Source, 2012.
BAREA, Consuelo /VACCARO, Sonia - El Pretendido Sndrome de Alienacin Parental,
Fundamentos de las Crticas al Pretendido Sndrome de Alienacin Parental, Editorial
Descle, 2009.
BRUCH, Carol Parental Alienation Syndrome and Alienated Children: Getting It Wrong
in Child Custody Case, Child and Family Law Quarterly, vol. 14, n. 4, 2002, p. 381400.
CINTRA, Pedro/SALAVESSA, Manuel/ PEREIRA, Bruno/ JORGE, Magda/VIEIRA, Fernando Sndrome de Alienao Parental: Realidade Mdico-Psicolgica ou Jurdica?, Revista
Julgar, n. 7, 2009, p. 197-205.
DALLAM, Stephanie - Dr. Richard Gardner: A Review of His Theories and Opinions on
Atypical Sexuality, Pedophilia, and Treatment Issues, Treating Abuse Today, 8(1),
1998, disponvel para consulta in http://www.leadershipcouncil.org/1/res/dallam/2.html,
p. 15-23.
DALLAM, Stephanie - The Parental Alienation Syndrome: Is It Scientific?, In St.
Charles & L. Crook (Eds), The Failure of Family Courts to Protect Children from
Abuse
in
Custody
Disputes,
1999,
disponvel
para
consulta
in
http://www.leadershipcouncil.org/1/res/dallam/3.html, p. 1-19.
ESCUDERO, Antonio/ REDORTA, Lola Aguilar/ LA CRUZ LEIVA, Julia de - La
Construccin Terica del Sndrome de Alienacin Parental de Gardner (SAP) como
base para Cmbios Judiciales de Custodia de Menores. Anlisis sobre su suporte
cientfico y riesgos de su aplicacin, Asociacin Espaola de Neuropsiquiatra,
40
Madrid,
2008,
disponvel
para
consulta
in
http://www.aen.es/biblioteca-y-
documentacion/documentos-e-informes-de-la-aen/doc_details/52-la-construccionteorica-del-sindrome-de-alienacion-parental-de-gardner-sap, p.1-62.
FERNNDEZ VICTORIA, Carbajal/ MARTN GONZLEZ, Mara/ MORI BLANCO, Sandra/
OCEJO LVAREZ, Elena/ Prez Gonzlez, Mara - Estudio Jurisprudencial sobre el
Impacto del SAP nos Tribunais Asturianos, Instituto Asturiano de la Mujer, Abogadas
para la Igualdad, 2010.
FERREIRA FEITOR, Sandra - A Sndrome de Alienao Parental e o Seu Tratamento
Luz do Direito de Menores, Coimbra Editora, 2012.
GARDNER, Richard - Recommendations for Dealing With Parents Who Induce A
Parental Alienation Syndrome In Their Children, Journal of Divorce & Remarriage,
1998, 28 (3/4), p. 1-21.
GARDNER, Richard - True and False Accusations of Child Sex Abuse, Creative
Therapeutics, 1992.
HERMAN, Judith - Trauma and Recovery The Aftermath Of Violence From Domestic
Abuse to Political Terror, MD, Basic Books, New York, 1997.
JARDIM/ Patrcia - O Abuso Sexual na Criana. Contributo para a sua caracterizao na
perspetiva da Interveno Mdico-Legal e Forense, Dissertao elaborada no mbito do
Mestrado em Cincias Forenses da Universidade do Porto, 2011.
JOHNSTON, Janet - Children of Divorce Who Refuse Visitation, in Nonresidential
Parenting: New Vistas in Family Living, Depner and Bray eds, 1993, p. 109-135.
LOBO XAVIER, Rita - Recentes Alteraes ao Regime Jurdico do Divrcio e das
Responsabilidades Parentais - Lei n. 61/2008, de 31 de outubro - Almedina, Coimbra,
2010.
41
DA
2008.
MARTINS, Rosa - Menoridade, (In)capacidade e Cuidado Parental, Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, Centro de Direito da Famlia, Coimbra Editora,
Coimbra, n.13, 2008.
42
43
44
45