CPR - Cédula de Produto Rural
CPR - Cédula de Produto Rural
CPR - Cédula de Produto Rural
Nova Lima
2008
Nova Lima
2008
Prof.
Prof.
Prof.
AGRADECIMENTOS
A todos que colaboraram, das mais variadas formas, para a realizao do presente
trabalho.
RESUMO
Na presente dissertao realizou-se um estudo detido acerca da Cdula de Produto
Rural, importante instrumento para o financiamento do setor produtivo primrio
brasileiro. Tem-se como objetivo analisar esse ttulo de crdito, considerando a
evoluo de nosso ordenamento jurdico, as mudanas do Direito Comercial, desde a
teoria dos atos de comrcio at a teoria da empresa, o entendimento dos tribunais
ptrios, bem como a doutrina sobre a questo. A pesquisa investigou a feio cambiria
da Cdula de Produto Rural, diferenciando-a dos contratos e dos demais ttulos rurais,
e as conseqncias da advindas, alm da anlise das particularidades desta Cdula,
especialmente no tocante s garantias, forma de circulao e de cobrana. O resultado
do trabalho demonstra o grande potencial da Cdula de Produto Rural e a necessidade
de um melhor entendimento sobre o tema, para que a Cdula cumpra os objetivos
almejados pelo legislador, contribuindo para o fortalecimento do agronegcio no Pas.
Palavras-chave: Cdula de Produto Rural; Agronegcio; Produtor Rural.
ABSTRACT
This dissertation presents a detailed study that was carried out about the
Rural Product Note, which is an important financing device used by the
primary productive sector of Brazil. The goal of the study was to analyse
this new kind of bond in view of the evolution of the Brazilian legal system,
considering the changes in Commercial Law, from the theory of commerce acts
to the enterprise theory, as well as the understanding of the countrys
courts and the doctrine regarding this issue. The research has investigated
the exchange aspect of the Rural Product Note, distinguishing it from
contracts and other kinds of rural securities, and also analysing the
particularities of this Note, especially in what regards the guarantees, and
the methods of circulation and charging. The results of this work demonstrate
the potential of the Rural Product Note and the need for a better
understanding of the issue, so that the Note may fulfil the goals intended by
lawmakers,
contributing
to
strengthen
agribusiness
in
Brazil.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
ADCOAS
AI
Ap. Cv.
Ap. Crim.
Art.
Atual.
BACEN
BM&F
Cm. Cv.
Cm. Esp. Cv.
CC
CCom.
CETIP
CMN
CPR
CP
CPC
CR/88
CVM
D.
Ds.
Ds.
DJ
DJU
DL
E. Decl.
j.
L.
LUG
Min.
Prof.
RDM
rel.
Resp
RExt
Rev.
STF
STJ
Sm.
T.
TAMG
TAPR
T.Crim.
TJGO
TJMG
TJMS
TJMT
TJPR
TJRS
Trad.
UFMG
v.g.
10
SUMRIO
RESUMO, 7
LISTA DE FIGURAS, 8
LISTA DE ABREVIATURAS, 9
INTRODUO, 11
1 DA CDULA DE PRODUTO RURAL, 13
1.1 Da Natureza da Cdula de Produto Rural, 15
1.1.1 Dos Princpios dos Contratos - Breve Recordao, 16
1.1.2 Das Normas Gerais de Direito Cambial - Breve Recordao, 17
1.1.3 Natureza Civil x Natureza Cambiria, 20
1.2 Dos Requisitos da Cdula de Produto Rural, 39
2
CONCLUSO, 132
REFERNCIAS, 134
11
INTRODUO
12
Tal mudana tem levado, cada vez mais, ao aumento das somas envolvidas,
especializao da mo-de-obra no campo, que, indubitavelmente, exprimem o carter
empresarial produo rural em larga escala.
RUY DE SOUZA expe que ao se focar o Direito das Empresas, muito mais
abrangente do que o antigo Direito Comercial, no h como se expulsar a atividade
agrcola ou a pecuria do campo desse novo Direito.3
Por tudo isso, mister um estudo, tanto quanto possvel, minucioso dessa
Cdula. Essa a proposta deste trabalho.
CONCEIO, Ricardo Alves. BB CPR Marco de sucesso do agronegcio brasileiro. Disponvel em:
<www.agronegocios-e.com.br>. Acesso em 2/11/2004.
2
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural.
Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 34.
3
SOUZA, Ruy de. Direito das Empresas Atualizao do Direito Comercial. Belo Horizonte: Bernardo
lvares, 1959, p. 252 apud COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de
Comerciante ao Produtor Rural. Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 34.
13
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed. Curitiba: Juru, 2003,
p.16.
5
L. n. 8.929/94, art. 1: Fica instituda a Cdula de Produto Rural CPR, representativa de promessa de
entrega de produtos rurais, com ou sem garantia cedularmente constituda.
14
FRONTINI, Paulo Salvador apud RIZZARDO, Arnaldo. Cdula de produto rural, in RDM 99/122.
Contratos de Crdito Bancrio. So Paulo: Revista dos Tribunais, 6. ed., 2003, p. 242.
7
L. n. 8.929/94, art. 15: Para a cobrana da CPR, cabe a ao de execuo para entrega de coisa
incerta.
8
DL n. 167/67, art 42: Nas vendas a prazo de bens de natureza agrcola, extrativa ou pastoril, quando
efetuadas diretamente por produtores rurais ou por suas cooperativas; nos recebimentos, pelas
cooperativas, de produtos da mesma natureza entregues pelos seus cooperados, e nas entregas de bens
de produo ou de consumo, feitas pelas cooperativas aos seus associados poder ser utilizada, como
ttulo de crdito, a nota promissria rural, nos trmos deste Decreto-lei.
Pargrafo nico. A nota promissria rural emitida pelas cooperativas a favor de seus cooperados, ao
receberem produtos entregues por stes, constitui promessa de pagamento representativa de
adiantamento por conta do preo dos produtos recebidos para venda (sic).
15
similar
ao
da
CPR
criada
em
1994,
mas
diferencia-se
forma,
no
caso
da
CPR
Financeira,
devem
nela
constar,
Viu-se que a CPR um documento que tem por origem a compra e venda de
produto rural, em que o preo pago imediatamente, mas a entrega do produto ocorre
em data futura. Mas, como entender sua natureza?
DL n. 167/67, art 9: A cdula de crdito rural promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com
garantia real cedularmente constituda, sob as seguintes denominaes e modalidades: Omissis.
16
DL n. 167/67, art. 10: A cdula de crdito rural ttulo civil, lquido e certo, exigvel pela soma dela
constante ou do endosso, alm dos juros, da comisso de fiscalizao, se houver, e demais despesas
que o credor fizer para segurana, regularidade e realizao de seu direito creditrio.
11
RIPERT, George. Tratado Elemental de Derecho Comercial. Vol. III, trad. Felipe de Sola Caizares,
com colaborao de Pedro G. San Martin, Buenos Aires: Tipogrfica Editora Argentina, 1954, p. 252.
12
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 5.
13
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil. 10 ed., vol. III, Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 2.
17
14
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil. 10 ed., vol. III, Rio de Janeiro: Forense,
1999, p. 17.
15
Como exemplo de contratos que devem obedecer forma, tm-se os contratos translativos de direitos
reais sobre imveis.
16
CC, art. 423: Quando houver no contrato de adeso clusulas ambguas ou contraditrias, dever-se-
adotar a interpretao mais favorvel ao aderente.
18
17
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro, v. V, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1938, 3. ed., 2 parte, n. 457, p. 47.
18
BORGES, Joo Eunpio. Ttulos de Crdito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 7.
19
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro, v. V, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1938, 3. ed., 2 parte, n. 458, p. 49.
20
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 3.
19
21
VIVANTE, Cesare apud MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. I, 13. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1998, p. 5.
22
CC, art. 887: O ttulo de crdito, documento necessrio ao exerccio do direito literal e autnomo nele
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
23
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Pequeno Dicionrio Brasileiro da Lngua Portuguesa. 11 ed.,
So Paulo: Civilizao Brasileira S/A, 1969, p. 319.
24
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Pequeno Dicionrio Brasileiro da Lngua Portuguesa. 11 ed.,
So Paulo: Civilizao Brasileira S/A, 1969, p. 796.
20
ASCARELLI25 explica que o ttulo de crdito tem como carter constante ser
um documento escrito, submetido a condies de forma, que indique o devedor e sua
assinatura, o credor e a maneira de circulao.
Aps essa breve recordao sobre os elementos comuns aos ttulos de
crdito, hora de voltar-se ateno CPR, importante criao legislativa, destinada ao
setor produtivo primrio brasileiro. Nesse ponto, releva notar que esse documento tem
particularidades e complexidades que requerem um exame detido, no se podendo
analis-lo superficialmente, sob pena de no se ver a realidade, reforando o castelo de
mitologias jurdicas da modernidade26.
25
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Traduo Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, p. 29.
26
GROSSI, Paolo. Mitologias Jurdicas da Modernidade. 2 ed., rev. e ampl., trad. Arno Dal Ri Jnior,
Florianpolis: Boiteux, 2007, p. 14.
27
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed. Curitiba: Juru,
2003, p. 83-84.
21
Apesar dessas opinies, que merecem todo respeito, parece ser diferente o
entendimento mais preciso. Bem se sabe que a compra e venda civil que tem como
objeto imediato a compra para uso e consumo do adquirente , difere da mercantil, em
que o objeto a obteno de ganho, a partir da venda ou aluguel da coisa adquirida.
Pode-se intuir que a CPR estar, se no sempre, em quase todos os casos,
envolvida numa compra e venda mercantil, pois o produtor rural ter o intuito de
produzir para vender, obtendo ganho.
A CPR pode, dessa maneira, ser entendida como um ttulo de crdito
imprprio, assemelhada aos ttulos representativos, v.g., o conhecimento de depsito e
o warrant (D. n. 1.102/190328), que, apesar de no regulados inteiramente pelas regras
cambirias, so considerados ttulos de crdito, regidos, portanto, pelas regras do
direito cambirio, ou com os chamados ttulos de financiamento, v.g., Cdula e Nota de
Crdito Rural (DL. n. 167/67), que no se enquadram perfeitamente no regime
cambirio, por fora de algumas particularidades.
No se pode dizer, outrossim, que o bem objeto do negcio e prometido
entrega, no pode ser considerado oriundo de atividade comercial. Tendo-se em conta
que a compra e venda de produtos agropecurios envolve, freqentemente e, cada vez
mais, dois empresrios, fcil ser perceber que se trata de uma operao mercantil.
Desde o vetusto Cdigo Comercial Brasileiro, de 1850, v-se que, havendo um
comerciante na relao de compra e venda, esta era tida por mercantil29.
BARBI FILHO explica que a venda mercantil aquela em que o vendedor
comerciante regular e aliena com efeito comercial30. Vale dizer: trata-se de empresrio
registrado e com escriturao contbil, que vende o bem profissionalmente, com o
objetivo de lucro.
28
22
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed. Curitiba: Juru,
2003, p. 21.
32
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 5.
23
33
FERRAZ JR., Trcio Sampaio. Introduo ao Estudo do Direito. 5 ed., rev. e ampl., So Paulo: Atlas, p.
83.
34
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural.
Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 15.
35
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural.
Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 174.
36
ROCHA FILHO, Jos Maria. Curso de Direito Comercial, Parte Geral. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2004, p. 34.
24
busca
emprstimos,
insumos
para
desenvolver
sua
atividade
com
37
25
Si se han llenado los mencionados requisitos, el agricultor o silvicultor est facultado, pero no
obligado, a inscribir su empresa (firma) en el Registro de Comercio, adquiriendo as la cualidad de
comerciante para la actividad accesoria. Por ello, se le denomina comerciante facultativo. GIERKE,
Julius von. Derecho Comercial y de la Navegacin. Trad. Juan M. Semon. Buenos Aires: Tipogrfica
Editora Argentina S/A, 1957, p. 81.
41
Cdigo Comercial argentino, art. 452, 3: las ventas que hacen los labradores y hacendados de los
frutos de sus cosechas y ganados. In: COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito
de Comerciante ao Produtor Rural. Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais.
26
42
ROCHA FILHO, Jos Maria. Curso de Direito Comercial, Parte Geral. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey,
2004, p. 211.
43
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural.
Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 251.
27
Do disposto nos arts. 966, caput, e 967, ambos do Cdigo Civil de 200245,
considera-se empresrio quem exerce atividade econmica organizada para a
produo ou a circulao de bens ou de servios, de forma profissional, e que tenha
registro prvio perante a Junta Comercial.
So trs os requisitos: atividade econmica organizada para a produo ou a
circulao de bens ou de servios; profissionalidade; registro prvio.
No aspecto subjetivo de quem exerce a empresa, tal como traado pelo art.
2.082, do Cdigo Civil Italiano46, percebe-se que, freqentemente, o produtor rural
exerce sua atividade profissionalmente, assumindo os riscos da empresa, dedicando a
ela todo o tempo necessrio para que obtenha o mximo de resultado, buscando maior
produtividade. No se trata de produo ocasional e/ou para consumo prprio.
Amide, o produtor exerce sua atividade rural, destinada produo e
circulao de bens, de forma organizada, tcnica e economicamente, com empregados
contratados por tempo indeterminado, outros contratados sazonalmente, ou at mesmo
tendo familiares inseridos na atividade. Isso, sem se olvidar o concurso de contadores,
para os registros e formalidades, que, com aqueles outros, formam um ncleo
organizado, unindo os objetivos individuais do produtor rural e os de seus
colaboradores.
Considerando-se a enorme influncia do Cdigo Italiano de 1942 em nossa
atual legislao, vale recordar o que ensina o Prof. WILLE DUARTE COSTA: na Itlia,
o empresrio agrcola empresrio como os demais, com a diferena de que a ele no
44
SZTAJN, Rachel. Teoria Jurdica da Empresa: atividade empresria e mercados. So Paulo: Atlas,
2004, p. 24.
45
CC, art. 966: Considera-se empresrio quem exerce profissionalmente atividade econmica
organizada para a produo ou circulao de bens ou servios.
Art. 967: obrigatria a inscrio do empresrio no Registro Pblico de Empresas Mercantis da
respectiva sede, antes do incio de sua atividade.
46
Cdigo Civil italiano, art. 2.082: E imprenditore chi esercita professionalmente un attivit economica
organizzata (2555, 2565) al fine della produzione o dello scambio di beni o di servizi (2135, 2195). In:
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural. Tese
(doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994.
28
47
29
BORGES, Joo Eunpio. Curso de Direito Comercial Terrestre. 5 ed., 4 tiragem, Rio de Janeiro:
Forense, 1991, p. 174.
49
COSTA, Wille Duarte. A Possibilidade de Aplicao do Conceito de Comerciante ao Produtor Rural.
Tese (doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, p. 71.
30
Sustenta-se a opinio, porque apenas o registro perante a Junta Comercial no confere ao produtor
rural, pelo que exige o Cdigo Civil, a condio de empresrio; e, porque o art. 971, do CC, chama o
produtor rural de empresrio antes mesmo de ele ter aquele registro. Corroborando essa opinio, explica
Maximilianus Cludio Amrico Fhrer, ao tratar do sujeito passivo no processo de falncia, no caso do
art. 4, VII, do revogado DL n. 7.661/45 (devedor que cessou o exerccio do comrcio h mais de dois
anos): a falta de cancelamento do registro na Junta Comercial irrelevante, se ficar provada a cessao
das atividades comerciais h mais de dois anos (RT 388/176, 452/87, 476/97; RF 253/311). Assim como
a baixa na Junta no prevalece contra prova de exerccio posterior ao ato registrado (art. 4, VII, LF), in:
Roteiro das falncias e concordatas. 17. ed., So Paulo: RT, 2000, p. 27-28 e Luiz Tzirulnik, ao explicar
que o empresrio rural s ter a qualidade efetiva de empresrio mediante o exerccio da atividade, j
que o registro, embora seja obrigao legal, no pressuposto para a confirmao da qualidade de
empresrio, in: Empresas e Empresrios, 2. ed., So Paulo: RT, 2005, p. 34.
51
ROCHA FILHO, Jos Maria. Curso de Direito Comercial, Parte Geral. 3. ed., Belo Horizonte: Del Rey,
2004, p. 87.
52
STJ, 2 T., Resp n. 3.664, rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU 9/10/1990.
31
53
VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentrios Lei de Falncias. Vol. I, 4 ed., revista e atualizada. Rio
de Janeiro: Forense, 1999, p. 15.
54
CASTRO, Moema Augusta Soares de. Manual de Direito Empresarial. Rio de Janeiro: Forense, 2007,
p.51.
55
TZIRULNIK, Luiz. Empresas e Empresrios, 2. ed., So Paulo: RT, 2005, p. 34.
56
BARBI FILHO, Celso. A Duplicata Mercantil em Juzo. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 8.
32
57
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 79.
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 39.
59
SARAIVA, Jos A. A Cambial. Vol. 1, Rio de Janeiro: Jos Konfino, 1947, p. 139.
60
SARAIVA, Jos A. A Cambial. Vol. 1, Rio de Janeiro: Jos Konfino, 1947, p. 101.
58
33
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 159.
62
MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. II. Rio de Janeiro; Forense, 1998, p. 253.
63
FIORENTINO, Adriano apud MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. II. Rio de Janeiro; Forense, 1998,
p. 253.
64
Cdigo Civil Italiano: Art 1996 Titoli rappresentativi.
[I]. I titoli rappresentativi di merci attribuiscono al possessore il diritto alla consegna delle merci che sono
in essi specificate, il possesso delle medesime e il potere di disporne mediante trasferimento del titolo..
In: MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. II. Rio de Janeiro; Forense, 1998, p. 253.
65
MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. II. Rio de Janeiro; Forense, 1998, p. 254.
34
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro, v. V, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1938, 3. ed., 2 parte, n. 458, p. 51.
67
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. de Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943.
68
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1, So Paulo: Saraiva, 1998, p. 365.
35
69
69
WHITAKER, Jos Maria. Letra de Cmbio. 2 ed., rev. e augmentada. So Paulo: Livraria Acadmica,
1932, p. 15.
70
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 9.
71
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro, v. V, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1938, 3. ed., 2 parte, n. 459, p. 52.
72
WHITAKER, Jos Maria. Letra de Cmbio. 2 ed., rev. e augmentada. So Paulo: Livraria Acadmica,
1932, p. 18.
36
Alerta o Prof. WILLE DUARTE COSTA que o aval uma garantia tpica
cambiria que no existe fora do ttulo de crdito74, posio bem definida tambm por
AZEREDO SANTOS, ao afirmar que aval e fiana no so sinnimos. O aval est
sempre vinculado a ttulo de crdito.75
Situaes h em que se recorre a institutos do direito comum, mas deve-se
reconhecer que tais institutos, por mais valiosos e teis que sejam, so imperfeitos,
quando o objetivo a circulao do crdito.
E, no pelo fato de constar no art. 10, da Lei n. 8.929/9476, que as normas
de direito cambial se aplicam CPR no que forem cabveis, que esta no um ttulo
de crdito.
Nesse aspecto, oportuna a explicao de ROSA JNIOR, ao tratar de tema
semelhante, no que tange duplicata:
[...] as normas da LUG e do Decreto n. 2.044/1908 s podem ser aplicadas
duplicata e triplicata no que couber (LD, art. 25). Disso resulta que as normas
dos mencionados diplomas legais s se aplicam duplicata e triplicata no
caso de lacuna da Lei n. 5.474/68 e se no contrariarem a feio caracterstica
77
da duplicata [...] .
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil. Vol. III, 4. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1978, p. 457.
74
COSTA, Wille Duarte. Ttulos de Crdito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 199.
75
SANTOS, Thephilo de Azeredo. Manual dos Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Companhia Editora
Americana, 1971, p. 174.
76
L. n. 8.929/94, art. 10: Aplicam-se CPR, no que forem cabveis, as normas de direito cambial, com
as seguintes modificaes: grifo nosso.
77
ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 640.
37
ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 651.
L. n. 10.931/2004, art. 29, 1: A Cdula de Crdito Bancrio ser transfervel mediante endosso em
preto, ao qual se aplicaro, no que couberem, as normas do direito cambirio [...] grifo nosso.
80
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 29.
79
38
Nesse sentido, o referido Autor explica que preciso ter em conta tanto as
exigncias econmicas a que o instituto jurdico deve corresponder, como tambm a
necessidade de se satisfazer tais exigncias com princpios jurdicos precisos. Assim,
obedecendo ao primeiro preceito, ser alcanado um direito vivo e justo; obedecendo
ao segundo, ser possvel torn-lo certo.
Conforme asseverado por WALDEMAR FERREIRA:
Para o homem de negcios, nada de maior utilidade haveria do que obter
certificado ou ttulo que pudesse transferir, com a mesma facilidade que
qualquer bem mvel, e lhe conferisse direito prprio, justificado pela exibio do
ttulo, prestao, nle de qualquer maneira includa, sem necessidade de
fazer descer sua perquirio at o credor primitivo, em cujos direitos se
houvesse investido. Transmissibilidade rpida, penetrao do direito no ttulo e,
por isso mesmo, independncia respectiva de todo portador, doutrinou Edmond
83
Thaller, eis os atributos dos ttulos de crdito, eis o que lhes fez a fortuna (sic).
COSTA, Wille Duarte. Ttulo de Crdito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 36.
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943,
p. 18.
83
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 78.
82
39
84
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 79.
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed. Curitiba: Juru,
2003, p. 198.
86
Tal caracterstica relevante, pois se a CPR fosse ttulo abstrato, o devedor poderia dispor dos
privilgios dessa cambial, mas sem atender aos seus fins particulares. In: ASCARELLI, Tullio. Teoria
Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva, 1943, p. 194/195.
85
40
I)
II)
obrigao pactuada, v.g., data anterior poca da colheita do produto, o que obrigaria
o devedor a entregar um bem ainda inexistente.
No constando a data da entrega do produto na CPR, o portador de boa-f
pode complet-la. Pelo mesmo motivo exposto no exemplo da fixao de data anterior
87
DE SEMO Apud ROSA JR.. Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 114.
ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 477.
89
WHITAKER, Jos Maria. Letra de Cmbio. 2 ed., rev. e aumentada. So Paulo: Livraria Acadmica,
1932, p. 49.
88
41
colheita, entende-se que no se pode considerar a CPR pagvel vista, como ocorre
com a nota promissria, caso falte a data de entrega do produto, principalmente ao se
considerar que a CPR foi criada para que o produtor rural venda sua produo antes
mesmo que essa exista efetivamente.
Outra considerao pertine ao erro na estipulao do vencimento. Caso se
evidencie esse equvoco na cdula, as partes podero alter-la, firmando um aditivo,
conforme autorizao constante no art. 9, da Lei n. 8.929/9490;
III)
identificar o comprador do produto e para que o vendedor saiba a quem deve entregar o
bem, evidenciando que no se admite CPR emitida ao portador. Freqentemente, v-se
como credor os exportadores de produtos primrios e as prprias cooperativas de
produtores
rurais,
mas
qualquer
interessado
poder
figurar
como
credor,
90
L. n. 8.929/94, art. 9: A CPR poder ser aditada, ratificada e retificada por aditivos, que a integram,
datados e assinados pelo emitente e pelo credor, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
91
MENDONA, J.X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro. Vol. V, 2 parte. 3. ed. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1938, n. 489, p. 95.
42
IV)
L. n. 8.929/94, art. 3, 1: Sem carter de requisito essencial, a CPR poder conter outras clusulas
lanadas em seu contexto, as quais podero constar de documento parte, com a assinatura do
emitente, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
93
TJGO, 2 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 54.662-7/188, rel. Des. Aluzio Atades de Sousa, j. 8/5/2001.
43
V)
94
TJRS, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70020028031, rel. Des. Cludio Baldino Maciel, j. 11/10/2007.
Ver CPC, arts. 890 e seguintes.
96
CC, art. 491: No sendo a venda a crdito, o vendedor no obrigado a entregar a coisa antes de
receber o preo.
95
44
VI)
clusula no essencial, pois sua obedincia tem fundamento somente se a CPR for
emitida com garantia real, cedularmente constituda, j que, conforme disposto no art.
1, da Lei n. 8.929/94, a Cdula pode ser emitida sem essa garantia.
Faltando espao na CPR, para a descrio do bem conferido em garantia
real, um documento parte poder ser usado para esse fim100.
97
L. n. 8.929/94, art. 9: A CPR poder ser aditada, ratificada e retificada por aditivos, que a integram,
datados e assinados pelo emitente e pelo credor, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
98
STJ, 4 T., Resp. n. 494.052-RS, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 1/9/2003.
99
CPC, art. 100: competente o foro:
omissis
IV do lugar:
omissis
d) onde a obrigao deve ser satisfeita, para a ao em que se lhe exigir o cumprimento;
45
VII)
emitida devem constar do ttulo. A data importante para que seja possvel auferir se o
emitente era capaz juridicamente, para assumir obrigaes cambirias ao tempo da
emisso da CPR. E, em havendo pessoa que assine a cambial como mandatrio do
emitente, para se saber se aquele tinha mandato vlido ou poderes especiais101. Da
mesma forma, a data serve como termo inicial da fluncia de juros compensatrios102.
A fixao da data tambm pode ser relevante para verificao de emisso da
CPR por empresrio rural dentro do termo legal da falncia103.
Alm disso, como ensina RIPERT104, a indicao da data determina o
vencimento, caso o ttulo faa meno a um lapso temporal a partir da data de emisso,
para se averiguar o dia do pagamento.
No que tange ao lugar da emisso, conforme o disposto no artigo ora
analisado, se a CPR no o indicar, aquele ser considerado o do domiclio do emitente.
Mutatis mutandis, da mesma forma que a nota promissria e a letra de
cmbio devem conter a indicao da data de sua emisso, sob pena de no serem
entendidas como ttulos de crdito, a CPR sem indicao da data de sua emisso pode
sofrer o mesmo tratamento, no sendo passvel, pois, de ser executada judicialmente.
VIII)
entregar o produto rural descrito no ttulo deve apor sua assinatura em campo
especfico da Cdula.
100
46
L. n. 8.929/94, art. 2: Tm legitimao para emitir CPR o produtor rural e suas associaes, inclusive
cooperativas.
106
LUG, art. 8: Todo aquele que apuser a sua assinatura numa letra, como representante de uma
pessoa, para representar a qual no tinha de fato poderes, fica obrigado em virtude da letra e, se a
pagar, tem os mesmos direitos que o pretendido representado. A mesma regra se aplica ao
representante que tenha excedido os seus poderes.
47
O direito vale tal como declarado no documento, sendo regulado, pois, pelo
ttulo, que tem forma sujeita a regras rgidas. ASCARELLI ensina:
107
Puede ser la prueba de una operacin jurdica de carcter civil o comercial, pero no se aplicar el
derecho cambiario a las relaciones nacidas de esta operacin. RIPERT, George. Tratado Elemental de
Derecho Comercial. Vol. III Trad. de Felipe de Sola Caizares, com colaborao de Pedro G. San Martin,
Buenos Aires: Tipogrfica Editora Argentina, 1954, p. 163.
108
CC, art. 295: Na cesso por ttulo oneroso, o cedente, ainda que no se responsabilize, fica
responsvel ao cessionrio pela existncia do crdito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
responsabilidade lhe cabe nas cesses por ttulo gratuito, se tiver procedido de m-f.
109
MARTINS, Fran. Ttulos de Crdito. Vol. I, 13. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 11.
48
110
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, VIII.
111
Tratando dos requisitos da letra de cmbio, o art. 3, do D. n. 2.044/1908, dispe que esses requisitos
so considerados lanados ao tempo da emisso da letra. A prova em contrrio ser admitida no caso de
m-f do portador.
112
STF, Sm. n. 387: A cambial emitida ou aceita com omisses ou em branco, pode ser completada
pelo credor de boa-f antes da cobrana ou do protesto.
113
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, p. 34.
49
Infere-se dos acrdos que o entendimento era, pelo menos quanto a essas
aes, no sentido de entender a CPR como contrato e, no, como ttulo de crdito, vez
que exigiu-se a assinatura de duas testemunhas, para que fosse entendida como ttulo
executivo extrajudicial, ou at mesmo a instruo da execuo com cpia da CPR, o
que no se coaduna com os ttulos de crdito, que devem ser juntados aos autos,
obrigatoriamente, em original, para garantir sua retirada de circulao.
Com respeito aos que assim pensam, especialmente no que toca s
assinaturas de testemunhas, entende-se que a CPR no necessita disso para se tornar
um ttulo executivo extrajudicial. Da mesma forma que a Cdula de Crdito Rural, a
Cdula de Crdito Bancrio e a Cdula de Crdito Industrial so ttulos executivos
extrajudiciais, independentemente da assinatura de duas testemunhas, apesar de no
estarem expressos no art. 585, do Cdigo de Processo Civil, a CPR tambm o , sem
sombra de dvidas, mesmo sem assinatura de duas testemunhas116.
Felizmente, o entendimento dos julgados acima indicados no prevalece,
como se infere nas seguintes decises, mais recentes, do TRIBUNAL DE JUSTIA DE
MINAS GERAIS:
114
TAMG, 1 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 335.392-8, rel. Juza Vanessa Verdolim Andrade, j. 12/6/2001.
TJMG, 9 Cm. Cv., AI n. 1.0115.05.007940-5/001, rel. Des. Osmando Almeida, j. 24/10/2006.
116
No requisito da cdula de produto rural a presena de duas testemunhas (TJGO, 3 Cm. Cv.,
Ap. Cv. n. 51.518-1/188, rel. Des. Gercino Carlos Alves da Costa, j. 28/3/2000).
115
50
Agravo de instrumento. Execuo por quantia certa. Exceo de prexecutividade. Cdula de Produto Rural. Ttulo que possui legislao
especfica. Desnecessidade da assinatura de duas testemunhas. Nulidade
do ttulo afastada. dispensvel a assinatura de duas testemunhas para que
a cdula de produto rural tenha eficcia de ttulo executivo, a teor do disposto
117
no artigo 3 da Lei n 8.929/94.
Processual civil. Apelao. Ao de execuo. Cdula de Produto Rural.
Ttulo de crdito em fotocpia. Impossibilidade. Honorrios advocatcios.
Fixao. Valor da causa. Recurso no provido. A cdula de produto rural
ttulo de crdito e tem circulao comercial, motivo pelo qual deve ser exibida
em original, ao ajuizar a ao de execuo, salvo situao excepcional. Ante a
inexistncia da excepcionalidade, torna-se inadmissvel lastrear ao de
execuo com ttulo de crdito em fotocpia. Os honorrios advocatcios podem
ser arbitrado por parmetro do valor da causa, desde que guarde sintonia com
o previsto no art. 20, 4, do CPC.118
117
TJMG, 9 Cm. Cv., AI, 1.0620.03.002284-7/001(1), rel. Des. Generoso Filho, j. 15/5/2007.
TJMG, 17 Cm. Cv., Ap. Cv. 1.0003.06.016987-1/001, rel. Des. Mrcia de Paoli Balbino, j.
14/12/2006.
118
51
LUG, art. 17: As pessoas acionadas em virtude de uma letra no podem opor ao portador excees
fundadas sobre as relaes pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos
que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
120
COELHO, Fbio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 16. ed. revista e atualizada de acordo com a
nova Lei de Falncias, So Paulo: Saraiva, 2005, p. 246.
52
TJRS, 19 Cm. Cv., E. Decl. n. 70021204755, rel. Des. Carlos Rafael dos Santos Jnior, j.
18/9/2007.
122
L. n. 8.929/94, art. 3, 1: Sem carter de requisito essencial, a CPR poder conter outras clusulas
lanadas em seu contexto, as quais podero constar de documento parte, com a assinatura do
emitente, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
123
L. n. 8.929/94, art. 3, 2: A descrio dos bens vinculados em garantia pode ser feita em
documento parte, assinado pelo emitente, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
53
124
L. n. 8.929/94, art. 9: A CPR poder ser aditada, ratificada e retificada por aditivos, que a integram,
datados e assinados pelo emitente e pelo credor, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
54
55
estelionato127, nos termos do art. 17, da Lei128, da mesma forma que a pessoa que
dispe do bem oferecido em garantia, sem consentimento do credor:
Apelao criminal Estelionato Defraudao de penhor Pretendida
absolvio Atipicidade da conduta Alegao de que o Apelante no
tinha a posse da coisa, que o produto dado em garantia era referente
safra futura e que no ficou como fiel depositrio do bem Noocorrncia Garantia pignoratcia da Cdula de Produto Rural Alienao
do objeto empenhado sem o consentimento do credor Alegada
insuficincia de provas da colheita Confisso do Ru e depoimentos
testemunhais firmes Conjunto probatrio consistente Dolo
comprovado Condenao mantida Pretendido reconhecimento da
excludente da ilicitude do estado de necessidade Ausncia dos
requisitos Impossibilidade Pedido de aplicao dos princpios da
proporcionalidade e razoabilidade Alegada ausncia de prejuzo
Reconhecimento pelo magistrado na aplicao da pena Recurso no
provido. No h falar em atipicidade da conduta se o ru, devedor pignoratcio,
tendo a posse do objeto empenhado, defrauda, mediante alienao no
consentida pelo credor, a garantia pignoratcia. Assim, restando comprovado
nos autos, por meio da confisso do ru e dos firmes depoimentos
testemunhais, que aquele deu destinao diversa ao bem empenhado daquela
avenada na Cdula de Produto Rural, no h dvidas de que est configurada
a defraudao a garantia pignoratcia, figura tipificada 171, 2, III, do Cdigo
Penal. Ausentes os requisitos, no se pode reconhecer a excludente da ilicitude
do estado de necessidade. A ausncia de prejuzo no tem o condo de elidir a
criminalidade do ato, porquanto o que se pune a prtica da alienao ou
defraudao com a conscincia de que se trata de objeto de penhor. [...] A
clusula de garantia da cdula confiava a entrega do produto a seu destinatrio,
sendo vedado ao devedor dispor do produto para fins alheios. Se o ora apelante
deu destinao diversa quela avenada no titulo, no h dvidas que est
configurada a defraudao da garantia pignoratcia, figura tipificada 171, 2,
III, do Cdigo Penal. [...] O dolo do apelante evidente. Tinha ele pleno
entendimento da ilicitude do ato que praticava, pois sabia que a colheita era
objeto de garantia pignoratcia, tendo em vista que firmou sua assinatura (f. 10
129
e 11), de maneira voluntria e consciente, na cdula de produto rural.
CP, art. 171: Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou
mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena recluso,
de 1 (um) ano a 5 (cinco) anos, e multa.
I - omissis
II vende, permuta, d em pagamento ou em garantia coisa prpria inalienvel, gravada de nus ou
litigiosa, ou imvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestaes, silenciando
sobre qualquer dessas circunstncias;
128
L. n. 8.929/94, art. 17: Pratica crime de estelionato aquele que fizer declaraes falsas ou inexatas
acerca de bens oferecidos em garantia da CPR, inclusive omitir declarao de j estarem eles sujeitos a
outros nus ou responsabilidade de qualquer espcie, at mesmo de natureza fiscal.
129
TJMS, 2 T. Crim., Ap. Crim. n. 2004.000472-9/0000-00 - Rio Brilhante, rel. Des. Jos Augusto de
Souza, j. 5/5/2004.
56
2.1 Hipoteca
L. n. 8.929/94, art. 6, pargrafo nico: Aplicam -se hipoteca cedular os preceitos da legislao
sobre hipoteca, no que no colidirem com esta Lei.
131
L. n. 8.929/94, art. 12, 1: Em caso de hipoteca e penhor, a CPR dever tambm ser averbada na
matrcula do imvel hipotecado e no Cartrio de localizao dos bens apenhados.
132
L. n. 8.929/94, art. 18: Os bens vinculados CPR no sero penhorados ou seqestrados por outras
dvidas do emitente ou do terceiro prestador da garantia real, cumprindo a qualquer deles denunciar a
existncia da cdula s autoridades incumbidas da diligncia, ou a quem a determinou, sob pena de
responderem pelos prejuzos resultantes de sua omisso.
57
Agravo de instrumento - Cdula de Produto Rural - Imvel hipotecado Impenhorabilidade - Art. 18 da lei 8.929/1994 - Voto vencido. O imvel
vinculado cdula de produto rural no passvel de penhora por outras
dvidas do emitente ou do terceiro prestador da garantia real, devendo ser
desconstituda a constrio sobre ele efetivada. Inteligncia do art. 18 da Lei
133
8.929/1994.
2.2 Penhor
No tocante ao penhor, este pode ter como objeto bens suscetveis de penhor
rural e mercantil, alm dos passveis de penhor cedular.
Conforme disposto no art. 1.442, do Cdigo Civil, podem ser objeto de
penhor: mquinas e instrumentos de agricultura; colheitas pendentes, ou em via de
formao; frutos acondicionados ou armazenados; lenha cortada e carvo vegetal;
animais do servio ordinrio de estabelecimento agrcola.
Quanto ao penhor pecurio, o referido Cdigo dispe que podem ser objeto
os animais que integram a atividade pastoril, agrcola e de laticnios, nos termos de seu
art. 1.444.
Esse tipo de penhor merece ateno, por haver algumas particularidades.
Trata-se de uma subdiviso do penhor rural que engloba tambm o penhor agrcola ,
disciplinado pela Lei n. 492/37, em que a indicao do bem gravado deve obedecer a
certas exigncias.
O art. 10, pargrafo nico, da Lei n. 492/37134, determina expressamente que
a descrio dos animais indicados em garantia deve ser feita com a maior preciso,
significando que se deve indicar a espcie, raa, grau de mestiagem, marca, sinal e
nome, caso o tenha.
133
58
L. n. 8.929/94, art. 7: Podem ser objeto de penhor cedular, nas condies desta lei, os bens
suscetveis de penhor rural e de penhor mercantil, bem como os bens suscetveis de penhor cedular.
1. Salvo se tratar de ttulos de crdito, os bens apenhados continuam na posse imediata do emitente
ou do terceiro prestador da garantia, que responde por sua guarda e conservao como fiel depositrio.
2. Cuidando-se de penhor constitudo por terceiro, o emitente da cdula responder solidariamente
com o empenhador pela guarda e conservao dos bens.
136
CC, art. 265: A solidariedade no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.
59
60
141
61
62
promovendo sua anulao. Alerta-se para a importncia que pode ter a Lei n. 4.829/65,
que institucionalizou o crdito rural no Pas, vez que suas disposies podem ser
aplicadas a questes tratadas, genericamente, na Lei de CPR.
Outro aspecto importante pertine execuo de CPR garantida por penhor. A
execuo da CPR se processa por entrega de coisa incerta, mas, sendo impossvel a
entrega do produto convencionado e, havendo garantia pignoratcia, poderia o credor
intentar medida cautelar de seqestro do bem conferido em garantia, vez que a ao
cautelar de seqestro atua na tutela da execuo para entrega de coisa certa, visando
um bem especfico, litigioso, exatamente o bem sobre cuja posse e domnio se refere a
lide. Veja-se o seguinte julgado:
Embargos do devedor. Execuo para entrega de coisa certa. Cdula de
produto rural. - A cdula de produto rural ttulo de crdito hbil a instruir
execuo para entrega de coisa certa. [...] A cdula de produto rural firmada
pelo agravante tem como modalidade de garantia o penhor cedular (f. 64-68,
TJ), ou seja, penhor especial, espcie de direito real de garantia, que tem por
finalidade garantir o pagamento de uma dvida. Destarte, conforme as doutas
lies de Wille Duarte Costa, a cdula de produto rural de que se valeu a
agravada para ajuizar ao cautelar de seqestro ttulo lquido certo e exigvel
e o bem vinculado garantia real, decerto que poderia ser perseguido pelo
agravado, em face da inadimplncia. 147
147
TJMG, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. 1.0701.05.129191-5/001, rel. Des. Saldanha da Fonseca, j. 11/4/2007.
63
148
TJMG, 3 Cm. Cv., Reexame necessrio n. 1.0329.06.900001-9/001, rel. Des. Kildare Carvalho, j.
26/10/2006.
64
No que tange alienao fiduciria ato que tem por escopo transferir o
domnio da coisa de uma pessoa para outra, em garantia, com a restituio aps o
adimplemento , a no-identificao do bem objeto dela no torna ineficaz a garantia,
que poder recair sobre outros bens do mesmo gnero, qualidade e quantidade, de
propriedade do garante, nos termos do art. 8, da Lei de CPR149.
Quanto s formalidades a serem cumpridas, insta notar que o contrato de
alienao fiduciria deve ser registrado perante o Cartrio de Ttulos e Documentos do
domiclio do credor se bem mvel , ou perante o Cartrio de Imveis da localizao
do imvel em sendo imvel , para que o contrato tenha eficcia erga omnes,
estendendo-se a terceiros.
Caso o credor da CPR tenha que invocar o referido art. 8, visando buscar
outro bem em uma ao judicial, mas tendo apenas o gnero indicado na Cdula, o juiz
dever examinar minuciosamente a base ftico-jurdica apresentada, pois o autor da
ao tentar, em realidade, corrigir um erro, ocorrido no momento da emisso da CPR,
quando no se identificou adequadamente a coisa alienada fiduciariamente. Nesse
caso, a interpretao deve ser feita, no mais das vezes, em favor do prestador da
garantia, emitente da CPR, tendo em vista o disposto no art. 423, do Cdigo Civil150, ao
dispor que, em contrato por adeso, clusula ambgua ou contraditria deve ser
interpretada em favor do aderente.
Embora a hipoteca, o penhor e a alienao fiduciria sejam negcios jurdicos
em garantia, nos dois primeiros, o direito de propriedade continua na esfera jurdicopatrimonial do devedor. Na alienao fiduciria, porm, o direito dominicial alienado e
ingressa na esfera jurdico-patrimonial do credor.
Recorda-se que, a partir do Cdigo Civil de 2002, a alienao ou gravame de
nus real quanto a bens imveis passou a sofrer a limitao da outorga do outro
149
L. n. 8.929/94, art. 8: A no identificao dos bens objeto de alienao fiduciria no retira a eficcia
da garantia, que poder incidir sobre outros do mesmo gnero, qualidade e quantidade, de propriedade
do garante.
150
CC, art. 423: Quando houver no contrato de adeso clusulas ambguas ou contraditrias, dever-se-
adotar a interpretao mais favorvel ao aderente.
65
CC, art. 1.647: Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do
outro, exceto no regime da separao absoluta:
I alienar ou gravar de nus real os bens imveis.
152
TJRS, 16 Cm. Cv., Agravo Interno n. 7002008338, rel. Des. Ergio Roque Menine, j. 21/11/2007.
153
L. n. 8.929/94, art. 6, pargrafo nico: Aplicam-se hipoteca cedular os preceitos da legislao
sobre hipoteca, no que no colidirem com esta lei.
154
L. n. 8.929/94, art. 7, 3: Aplicam-se ao penhor constitudo por CPR, conforme o caso, os preceitos
da legislao sobre penhor, inclusive o mercantil, o rural e o constitudo por meio de cdulas, no que no
colidirem com os desta lei.
66
155
DL 911/67: Art. 3. O proprietrio fiducirio ou credor poder requerer contra o devedor ou terceiro a
busca e apreenso do bem alienado fiduciariamente, a qual ser concedida liminarmente, desde que
comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor.
156
CPC, art. 813: O arresto tem lugar:
I quando o devedor sem domiclio certo intenta ausentar-se ou alienar os bens que possui, ou deixa de
pagar a obrigao no prazo estipulado;
II quando o devedor, que tem domiclio:
a) se ausenta ou tenta ausentar-se furtivamente;
b) caindo em insolvncia, aliena ou tenta alienar bens que possui; contrai ou tenta contrair dvidas
extraordinrias; pe ou tenta pr os seus bens em nome de terceiros; ou comete outro qualquer
artifcio fraudulento, a fim de frustrar a execuo ou lesar credores;
III quando o devedor, que possui bens de raiz, intenta alien-los, hipotec-los ou d-los em anticrese,
sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes s dvidas;
IV nos demais casos expressos em lei.
Art. 814: Para a concesso do arresto essencial:
I prova literal da dvida lquida e certa;
II prova documental ou justificao de algum dos casos mencionados no artigo antecedente.
67
Aos vinte dias do ms de dezembro de 2007, entregarei, por meio desta Cdula de Produto Rural, a
Jos Ribeiro, brasileiro, casado, comerciante, inscrito no CPF/MF sob o n. xxx.xxx.xxx-xx,
domiciliado na fazenda Abaet, Rodovia MG-01, Km 75, no municpio de Caf com Leite/MG, ou
sua ordem, o seguinte produto rural:
PRODUTO
QUANTIDADE
CARACTERSTICAS
Caf arbica, cru, beneficiado, tipo 06, bebida dura, peneira 15 acima.
LOCAL DE FORMAO
DA LAVOURA
68
AVALISTA
69
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambirio. Vol. III, atual. Vilson Rodrigues Alves, Campinas:
Bookseller, 2000, p. 62.
158
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambirio. Vol. III, atual. Vilson Rodrigues Alves, Campinas:
Bookseller, 2000, p. 260.
159
D. n. 2.044/1908, art. 44: Para os efeitos cambiais, so consideradas no escritas:
I a clusula de juros;
160
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambirio. Vol. III, atual. Vilson Rodrigues Alves, Campinas:
Bookseller, 2000, p. 231/232.
70
por cento ao ms, o preo estipulado na cambial foi, em verdade, cinqenta e trs mil
reais. O que a Lei veda : cinqenta e trs mil reais, mais os juros de um por cento ao
ms, se no pagar.
O manifestado acerca dos juros vlido para a conveno de multa,
considerando-se esta no escrita. certo que o DL n. 167/67 e o DL n. 413/69 prevem
multa de 10% (dez por cento), em caso de inadimplemento, mas tais disposies se
referem Cdula de Crdito Rural e Cdula de Crdito Industrial, como apontado por
NEVES161, no se aplicando CPR, vez que, quanto a essa, no h previso naquele
sentido.
Assim, entende-se impossvel a insero de clusula de juros e multa na
CPR, por expressa vedao legal.
161
NEVES, Rubia Carneiro. Cdula de Crdito: doutrina e jurisprudncia. Belo Horizonte: Del Rey, 2002,
p. 87.
71
72
73
de formao do preo e o nome do ndice, nos termos do art. 4-A, I164. importante
que a instituio eleita tenha um bom conceito e credibilidade no mercado,
disponibilizando informaes claras sobre o ndice a ser aplicado, para se mensurar
precisamente o quantum debeatur.
Dispe o art. 4-A, II165, que os indicadores de preos devem ser divulgados
periodicamente e de forma ampla, possibilitando a aferio de um histrico da evoluo
do preo. insuficiente a simples informao disponibilizada em quadro de avisos
internos de entidades negociadoras de produtos agrcolas, pois isso restringiria a
divulgao do preo e indicadores, no preenchendo a exigncia legal de facilidade de
acesso informao.
Mas, o que ocorrer se o indicador eleito na emisso da Crtula deixa,
posteriormente, de ser divulgado, conforme exigido pela Lei n. 8.929/94?
Entende-se que a CPR dever ser adequada s exigncias da Lei, por meio
de um aditivo, permitido pelo art. 9 da Lei, adotando-se novo critrio, sob pena de o
ttulo perder a liqidez necessria sua execuo.
No caso da CPR Financeira indexada, o nus da prova quanto ao ndice para
apurao do valor da CPR, recai sobre o credor, e a ausncia de tal prova poder
determinar a frustrao da execuo, por falta de ttulo lqido, certo e exigvel, com sua
conseqente extino166.
164
L. n. 8.929/94, Art. 4-A, I: que seja explicitado, em seu corpo, os referenciais necessrios clara
identificao do preo ou do ndice de preos a ser utilizado no resgate do ttulo, a instituio responsvel
por sua apurao ou divulgao, a praa ou o mercado de formao do preo e o nome do ndice.
165
Lei n. 8.929/94, art. 4-A., II: que os indicadores de preo de que trata o inciso anterior sejam
apurados por instituies idneas e de credibilidade junto s partes contratantes, tenham divulgao
peridica, preferencialmente diria, a ampla divulgao ou facilidade de acesso, de forma a estarem
facilmente disponveis para as partes contratantes.
166
CPC, art. 618: nula a execuo:
I se o ttulo executivo extrajudicial no corresponder a obrigao certa, lquida e exigvel;
74
Aps a anlise dos requisitos formais da CPR, bem como sugesto de seu
modelo e a diferenciao entre a CPR e a CPR Financeira, h ainda algumas outras
consideraes pertinentes aos direitos e deveres decorrentes da Cdula.
5.1 Da Evico
Evico a perda da coisa, por fora de uma sentena judicial, que a atribui a terceiro, por direito
anterior ao contrato aquisitivo. A sentena se funda em causa anterior ao contrato pelo qual se operou a
aquisio do direito do evicto. Tal responsabilidade cabvel no s na transmisso de direitos reais,
mas, tambm, na de crditos.
168
LUG, art. 54: Quando a apresentao da letra ou o seu protesto no puder fazer-se dentro dos prazos
indicados por motivo insupervel (prescrio legal declarada por um Estado qualquer ou outro caso de
fora maior), esses prazos sero prorrogados.
75
CC, art. 448: Podem as partes, por clusula expressa, reforar, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evico.
Art. 449: No obstante a clusula que exclui a garantia contra a evico, se esta se der, tem direito o
evicto a receber o preo que pagou pela coisa evicta, se no soube do risco da evico, ou, dele
informado, no o assumiu.
170
L. n. 8.171/91, art. 2: A poltica agrcola fundamenta-se nos seguintes pressupostos:
omissis.
IV o adequado abastecimento alimentar condio bsica para garantir a tranqilidade social, a ordem
pblica e o processo de desenvolvimento econmico-social.
76
L. n. 8.929/94, art. 9: A CPR poder ser aditada, ratificada e retificada por aditivos, que a integram,
datados e assinados pelo emitente e pelo credor, fazendo-se, na cdula, meno a essa circunstncia.
77
CPR, criando-se uma nova, ele perder a cadeia de endossos e eventuais avalistas que
se obrigaram na Cdula destruda, diminuindo suas opes de cobrana do crdito,
caso o emitente no pague.
Por isso, ressalta-se que tais modificaes somente sero possveis por meio
de acordo entre o devedor e o credor. Se este no quiser a prorrogao, ele poder
exigir o cumprimento da obrigao ou a garantia prestada na Cdula, em caso de
descumprimento.
Para ser eficaz perante terceiros, a CPR deve ser inscrita no Cartrio de
Registro de Imveis do domiclio do emitente, nos termos do caput, do art. 12172, da lei
examinada. Alm disso, esse cuidado serve de obstculo ao produtor rural, para que
no venda sua safra mais de uma vez.
A inscrio da Cdula, ou dos respectivos aditivos, deve ser efetuada no
prazo de trs dias, contados da apresentao do ttulo, sob pena de responsabilidade
funcional do oficial encarregado de promover os atos necessrios, e tem por escopo dar
ao conhecimento pblico que o produtor rural (devedor) vendeu ao credor o produto
indicado na Cdula, na quantidade determinada, para proteo do direito do comprador
contra terceiros que, eventualmente, exeram qualquer tipo de ao envolvendo o bem
alienado.
PAIVA PEREIRA173 critica esse dispositivo, manifestando que pode acontecer
de o emitente da CPR no ser proprietrio de nenhum imvel no seu domiclio, ou ser
proprietrio de imveis na mesma circunscrio imobiliria, o que poderia deixar o
credor confuso quanto realizao do ato de publicizao. Para o aludido autor, mais
apropriado seria se a lei estabelecesse o Registro de Ttulos e Documentos como o
172
L. n. 8.929/94, art. 12: A CPR, para ter eficcia contra terceiros, inscreve-se no Cartrio de Registro
de Imveis do domiclio do emitente.
173
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed. Curitiba: Juru,
2003, p. 91.
78
competente, vez que o objetivo tornar a venda de um bem fungvel (produto rural), de
conhecimento pblico. Tal crtica parece razovel.
Ainda sobre o registro da CPR, esta pode tambm ser registrada em qualquer
instituio de registro autorizada pelo Banco Central, a fim de ser negociada em Bolsa
de valores ou mercado de balco, como ser abordado adiante.
L. n. 8.929/94, art. 13: A entrega do produto antes da data prevista na cdula depende da anuncia
do credor.
175
Os Incoterms so regras de interpretao de clusulas comuns no comrcio internacional,
identificadas por siglas, tais como FOB (Free on Board), posto a bordo; CIF (Cost, Insurance and Freight),
custo, seguro e frete; FAS (Free Along Side Ship), ao lado do navio, etc., dispondo sobre a repartio dos
custos de tradio entre o vendedor e o comprador.
79
80
176
TAPR , 5 Cm. Cv., AI n. 194.100-0, Peabiru AC. 13.898, Juiz Convocado Jurandyr Souza Jnior,
j. 4/9/2002.
177
TJMG, 16 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 2.0000.00.516591-3/000, rel. Des. Batista de Abreu, j. 23/11/2005.
81
Da leitura desse artigo, percebe-se que, alm das caractersticas gerais dos
ttulos de crdito, tais como as pessoas envolvidas, a emisso, o endosso, o aval etc.,
existem algumas particularidades quanto ao ttulo analisado neste trabalho.
importante ter em mente que, na busca por uma teoria dos ttulos de
crdito, no se pode deixar seduzir pela iluso, estendendo normas peculiares de
alguns ttulos de crdito a todos eles, sem uma anlise detida e criteriosa. Quanto
CPR, o alerta vlido em ambos os sentidos: pretender aplicar normas que no se
estendem a ela e, tambm, aplicar suas peculiaridades em outros ttulos cambirios.
Passa-se anlise desses pormenores, especialmente dispostos no aludido art. 10.
82
178
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, p. 10.
179
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, IX.
180
LUG, art. 8: Todo aquele que apuser a sua assinatura numa letra, como representante de uma
pessoa, para representar a qual no tinha de fato poderes, fica obrigado em virtude da letra e, se a
pagar, tem os mesmos direitos que o pretendido representado. A mesma regra se aplica ao
representante que tenha excedido os seus poderes.
181
LUG, art. 16: O detentor de uma letra considerado portador legtimo se justifica o seu direito por
uma sria ininterrupta de endossos, mesmo se o ltimo for em branco.
83
LUG, art. 12, 1 alnea: O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condio a que ele seja
subordinado considera-se como no escrita.
183
LUG, art. 13, 2 alnea: O endosso pode no designar o benefcio, ou consistir simplesmente na
assinatura do endossante (endosso em branco). Neste ltimo caso, o endosso para ser vlido deve ser
escrito no verso da letra ou na folha anexa.
184
LUG, art. 17: As pessoas acionadas em virtude de uma letra no podem opor ao portador excees
fundadas sobre as relaes pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos
que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
185
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro.Vol. V, 2 parte, 3. ed., n.
495, p. 100.
84
toca CPR, ttulo ordem, uma vez emitida, possvel ser o endosso. Mas, a Lei n.
8.929/94 possui algumas disposies particulares, que diferem das relativas a outros
ttulos, sendo uma delas acerca do endosso.
A CPR pode circular por endosso, desde que completo, por expressa
determinao legal. Mas o que se entende por endosso completo?
Na busca por uma resposta a essa indagao, v-se que a doutrina no tem
um entendimento acorde. Segundo CARVALHO DE MENDONA, h duas espcies de
endosso: em preto e em branco. Para esse autor, endosso completo o mesmo que
pleno, que so sinnimos do endosso em preto, ao afirmar que o endosso pde ser em
preto, tambm chamado nominativo, pleno ou completo e em branco186 (sic).
WHITAKER tambm v sinonmia entre os chamados endosso completo e
em preto, ao registrar que h dois typos formaes de endosso: o endosso completo e o
endosso em branco. O primeiro aquelle em que se declara o nome do beneficirio; o
segundo, aquelle em que esta declarao omittida187 (sic).
AZEREDO SANTOS adota o mesmo entendimento: endosso completo ou
em preto, em que o nome do beneficirio (endossatrio) vem especificado ou lanado
no ttulo188. Mas, pouco frente, registra que o endosso imprprio sinnimo de
endosso-mandato, de endosso incompleto189. Dessa ltima manifestao, poder-se-ia
desenvolver o seguinte raciocnio: se o endosso-mandato incompleto, o completo no
seria o em preto, mas sim, o que transfere o direito mencionado no ttulo.
BULGARELLI invoca diferenas entre o endosso completo e o pleno,
afirmando que o completo o que no prestado de forma parcial:
No se confunda, outrossim, o endosso pleno com o endosso completo (no
sentido de no ser parcial, isto , de ter o endossante assumido integralmente a
obrigao que se contm no ttulo), j que o 3, do art. 8, do Decreto
2.044/1908, veda o endosso parcial, e a Lei Uniforme, no seu art. 12, considera
186
85
190
86
TJRS, 16 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70000333377, rel. Des. Helena Cunha Vieira, j. 7/6/2000.
LUG, art. 12, 2 alnea: O endosso parcial nulo.
197
D. n. 2.044/1908, art. 8: O endosso transmite a propriedade do ttulo.
Omissis.
3. vedado o endosso parcial.
198
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 250.
196
87
do credor de ttulo ao portador basta a posse, enquanto que, para legitimao do credor
de ttulo endossado em branco, imperiosa a cadeia ininterrupta de endossos199. Veja-se
o alerta CARVALHO DE MENDONA:
WHITAKER, Jos Maria. Letra de Cmbio. 2 ed., rev. e aum.. So Paulo: Livraria Acadmica, 1932,
p.127.
200
MENDONA, J. X. Carvalho de. Tratado de Direito Commercial Brasileiro. Vol. V, 2 parte, 3. ed. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 1938, n. 690, p. 281.
88
A soluo para essas situaes dever ser proferida caso a caso, aps
anlise dos argumentos e particularidades expostos pelas partes, especialmente em
exceo de pr-executividade ou embargos execuo.
Independentemente disso, insta perguntar: quem pode figurar, na prtica,
como credor da CPR? Veja-se a lio de FRONTINI:
201
TJRS, 2 Cm. Esp. Cv., Ap. Cv. n. 70000667758-Ijui, rel. Des. Marilene Bonzanini Bernardi, j.
30/5/2000.
202
TJRS, 10 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70002201481, Rel. Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana, j.
2/5/2002.
89
Uma vez que a pessoa pode adquirir a qualidade de credor por meio de
endosso, deve-se atentar para o chamado endosso-cauo, em que o portador
transfere o ttulo ao seu credor, como garantia do pagamento da dvida, no se
operando a transferncia da titularidade do crdito mencionado na cambial. E, como
explica BARBI FILHO, este credor, na condio de endossatrio pignoratcio, pode
praticar todos os atos necessrios defesa e conservao dos direitos emergentes do
ttulo sob sua posse204. Pode, pois, protestar o ttulo e execut-lo, mas no pode
transferir a titularidade do crdito205.
Chama-se ateno para tal endosso, considerado imprprio, pois os tribunais
ptrios tm acertadamente considerado que, em seus efeitos, o endosso-cauo se
diferencia do endosso completo e, por isso, vedado pelo art. 10, da Lei n. 8.929/94.
Tal entendimento est correto, pois ante a falta da transmisso da
propriedade do ttulo no endosso-cauo, esse no pode, realmente, ser tido por
completo. E, para que no se confunda, vale lembrar que o endosso-cauo, vedado na
CPR, no o mesmo que o endosso-mandato206.
Em havendo endosso completo, o emitente da CPR deve efetuar o
pagamento em favor do endossatrio, como se v nas seguintes decises:
203
FRONTINI, Paulo Salvador apud PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto
Rural. 2. ed., Curitiba: Juru, p. 30.
204
BARBI FILHO, Celso. A duplicata mercantil em juzo. Atualizada por Otvio Vieira Barbi. Rio de
Janeiro: Forense, 2005, p. 125.
205
LUG, art. 19: Quando o endosso contm a meno valor em garantia. valor em penhor ou
qualquer outra meno que implique uma cauo, o portador pode exercer todos os direitos emergentes
da letra, mas um endosso feito por ele s vale como endosso a ttulo de procurao.
206
Sobre essa distino, ensina BARBI FILHO: Pela regra prevista no art. 18, da LUG, para o endossomandato, os coobrigados s podem invocar contra o endossatrio-mandatrio excees que eram
oponveis ao endossante mandante. No caso do endosso-cauo, diferentemente, o art. 19 determina
que os coobrigados no podem alegar contra o portador-endossatrio as excees oponveis ao
endossante caucionante, salvo se aquele tiver procedido de m-f. BARBI FILHO, Celso. A duplicata
mercantil em juzo. Atualizada por Otvio Vieira Barbi. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 127.
90
TJRS, 5 Cm. Cv., Ap. Civ. n. 70000306647, rel. Des. Srgio Pilla da Silva, j. 25/11/1999.
TJRS, 9 Cm. Cv., AI n. 598300416, rel. Des. Tupinamb Pinto de Azevedo, j. 30/3/1999.
209
TJRS, 6 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70000310284, rel. Des. Joo Pedro Freire, j. 8/11/2000.
208
91
TJRS, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70001994367, rel. Des. Agathe Elsa Schmidt da Silva, j. 5/12/2002.
TJRS, 2 Cm. Esp. Cv., Ap. Cv. n. 70000667675, rel. Des. Breno Pereira Da Costa Vasconcellos, j.
28/6/2001.
212
TJRS, 2 Cm. Esp. Cv., Ap. Cv. n. 70 000 667 758, rel. Des. Marilene Bonzanini Bernardi, j.
30/5/1999.
211
92
2
Cooperativa
CPR
ENDOSSO-CAUO
Quitao
PROTESTO
Importadora XYZ
3
Figura 2: Organograma sobre Endosso-Cauo
213
CC, art. 292: Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cesso, paga ao credor
primitivo, ou que, no caso de mais de uma cesso notificada, paga ao cessionrio que lhe apresenta,
com o ttulo de cesso, o da obrigao cedida; quando o crdito constar de escritura pblica, prevalecer
a prioridade da notificao.
93
da cesso, paga ao primitivo credor, fica desobrigado. Veja-se o seguinte julgado sobre
a questo:
Apelaes Cveis. Ao Ordinria. Ao Cautelar de Sustao de Protesto.
Cdula de Produto Rural. Endosso em preto. Entrega do ttulo em garantia
de cumprimento de contrato entre a endossante e endossatria.
Notificao do devedor. Indispensabilidade. Se o endosso feito pela credora
foi em cumprimento de clusula contratual que previa a entrega dos ttulos
como garantia de cumprimento do pacto, era imprescindvel a intimao do
devedor, nos termos dos arts. 792, II, e 794, ambos do CCB. Alm disso,
prevendo o ttulo o local e a quem o produto seria entregue, no tendo tal
clusula sido alterada e nem tendo sido notificado o devedor pela endossatria,
de se ter que a endossante recebeu o produto como mandatria e por conta
da credora e endossatria. Assim, a quitao fornecida pela endossante
vlida. O protesto feito pela endossatria indevido e injusto. Dano moral
214
reconhecido. Perdas e danos no especificadas que no se reconhece.
TJRS, 1 Cm. Esp. Cv., Ap. Cv. n. 70000653030 Iju, rel. Des. Luis augusto Coelho Braga, j.
23/5/2001.
215
CC, art. 290: A cesso do crdito no tem eficcia em relao ao devedor, seno quando a este
notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito pblico ou particular, se declarou ciente
da cesso feita.
94
tal forma que, quem tinha defesa contra o direito do possuidor anterior, continua
tendo a mesma defesa contra o possuidor a quem o ttulo foi transmitido nessas
216
circunstncias.
II - os endossantes no respondem pela entrega do produto, mas, tosomente, pela existncia da obrigao
Segundo as normas cambirias217, o endossante garante o pagamento do
ttulo, salvo clusula em contrrio. Trata-se de uma promessa indireta de pagamento,
vez que o portador somente poder exigir o crdito do endossante se comprovado o
protesto, indicando que o ttulo fora apresentado pessoa designada pela lei (devedor
principal) e este no efetuou o pagamento na data avenada.
O endosso faz com que o endossante passe condio de obrigado indireto,
tambm responsvel pelo pagamento do ttulo. PONTES DE MIRANDA ensina que
com a posse por outrem, o endosso, que se tornou irrevogvel pelo endossante sem
posse, pe o endossante na situao de devedor de regresso.218.
Nesse ponto, no se pode ignorar o antagonismo existente entre o disposto
no art. 914, caput, e seu 1, do Cdigo Civil219, e o art. 15 da LUG.
216
COSTA, Wille Duarte. Ttulos de Crdito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p.190.
LUG, art. 15: O endossante, salvo clusula em contrrio, garante tanto da aceitao como do
pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste caso, no garante o
pagamento s pessoas a quem a letra for posteriormente endossada.
218
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambirio. Vol. I, atual. Vilson Rodrigues Alves, Campinas:
Bookseller, 2000. p. 319.
219
CC, art. 914: Ressalvada clusula expressa em contrrio, constante do endosso, no responde o
endossante pelo cumprimento da prestao constante do ttulo.
1 Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidrio.
217
95
O disposto no Cdigo Civil o oposto ao que consta nas leis cambirias, pois,
da leitura do art. 914, infere-se que o endossante no responsvel pelo pagamento do
ttulo, salvo clusula em contrrio. O Prof. WILLE DUARTE COSTA220 recorda que, na
histria dos ttulos de crdito, desde as modificaes ocorridas no chamado perodo
francs, no sculo XVII, a partir da clusula ordem, o endosso implica
responsabilidade solidria do endossante.
Mas, nem sempre essa a regra, conforme ensinado por ASCARELLI:
esse um efeito do endosso, que, por unnime consenso da doutrina, no
peculiar de todos os ttulos ordem, mas smente daqueles a cujo respeito a lei
o admite, podendo na prpria cambial, ser excludo, pelo endossador, com a
221
aposio da clusula sem garantia. (sic).
220
COSTA, Wille Duarte. Ttulos de Crdito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p.192.
ASCARELLI, Tullio. Teoria Geral dos Ttulos de Crdito. Trad. Nicolau Nazo, So Paulo: Saraiva,
1943, p. 239.
222
CC, art. 903: Salvo disposio diversa em lei especial, regem-se os ttulos de crdito pelo disposto
neste Cdigo.
221
96
TJRS, 6 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70000310284, rel. Des. Joo Pedro Freire, j. 8/11/2000.
97
15, da LUG, no se aplica CPR, face disposio contrria na lei que a regula, o que
parece ser uma medida de favorecimento da circulao da CPR e, no, o contrrio,
como poderia parecer.
Mas, como interveniente, deve o endossante responder por algo: pela
existncia da obrigao de entregar o produto, na quantidade e qualidade
estabelecidas, ou determinada quantia. Resta saber o que isso significa. Ser que a
nica obrigao do endossante a de assegurar que a CPR no simulada e que
houve uma compra e venda de produto rural efetivamente?
Buscando melhor entendimento sobre o tema, recorreu-se aos artigos que
tratam da cesso de crdito, no Cdigo Civil, e viu-se que a obrigao do endossatrio
da CPR se aproxima da obrigao do cedente, na cesso civil. Veja-se o que dispem
os arts. 295 e 296, do Cdigo Civil, in verbis:
Art. 295. Na cesso por ttulo oneroso, o cedente, ainda que no se
responsabilize, fica responsvel ao cessionrio pela existncia do crdito ao
tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cesses por
ttulo gratuito, se tiver procedido de m-f.
Art. 296. Salvo estipulao em contrrio, o cedente no responde pela
solvncia do devedor.
224
Si el endoso fuese solamente uma manera de ceder el crdito, el endosante sera garante de la
existencia del crdito, pero no de la solvencia del deudor. RIPERT, George. Tratado Elemental de
Derecho Comercial. Vol. III Trad. Felipe de Sola Caizares, com colaborao de Pedro G. San Martin,
Buenos Aires: Tipogrfica Editora Argentina, 1954, p. 214.
225
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil. Vol. III, 4. ed., Rio de Janeiro: Forense,
1978, p. 492.
98
perante o cessionrio, apenas pela existncia do crdito ao tempo em que lhe cedeu.
Ademais, dispe o art. 296, daquele Diploma legal227, que, salvo disposio em
contrrio, o cedente no responde pela solvncia do devedor. Com esse pensamento e,
conforme disposto na Lei de CPR, o endossante responsvel pela realidade da
dvida, pela existncia do crdito ao tempo do endosso.
Isso no significa que um novo endossatrio ter direito derivado, igual ao de
seu endossante, como ocorre com a cesso. Afinal, cesso de crdito no h. No
endosso h cesso do ttulo e, no, do direito. Assim, o endossatrio no sofrer os
efeitos das excees que o devedor tenha contra o endossante. Isso, porque o
endossatrio tem direito prprio em face do devedor. Se o endossatrio no tivesse
direito prprio, haveria uma infinidade de excees, originadas nos endossos
efetivados, bastando ao devedor encontrar uma pessoa anterior a ele na relao, que
lhe possibilitasse alguma razo para no pagar.
Dessa forma, apesar da falta de solidariedade do endossante, no se pode
afirmar que, ao se alongar a cadeia de endossos na CPR, haver diminuio da
segurana do adquirente do ttulo, como ocorreria no caso de uma cesso comum. O
adquirente permanecer imune s excees pessoais dos portadores anteriores,
apenas no se ampliar o nmero de devedores solidrios.
Para que no pairem dvidas, se o endossante for o beneficirio originrio,
aconselha-se que ele assegure ao endossatrio, atravs de prova idnea do efetivo
cumprimento de sua obrigao junto ao emitente da CPR. Afinal, a CPR ttulo causal,
e tem como origem, justamente, a compra e venda de produto rural. Sobre isso, veja-se
o alerta de PAIVA PEREIRA:
Muito cuidado dever o endossatrio emprestar, relativamente prova em
questo, ou seja, da efetiva compra e venda, visto que muitas Cdulas tm
circulado em desconformidade com sua prpria juridicidade. Com efeito, ao
invs de representar e materializar uma compra e venda de produto rural, tais
ttulos tm sido firmados somente com o objetivo de garantir uma outra
operao, o que no o seu propsito. Sendo o caso de ser emitida uma CPR
simplesmente para garantir o cumprimento de uma outra obrigao do devedor
para com o credor, obviamente que o credor da crtula nada pagou ao devedor
226
CC, art. 295: Na cesso por ttulo oneroso, o cedente, ainda que no se responsabilize, fica
responsvel ao cessionrio pela existncia do crdito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
responsabilidade lhe cabe nas cesses por ttulo gratuito, se tiver procedido de m-f.
227
CC, art. 296: Salvo estipulao em contrrio, o cedente no responde pela solvncia do devedor.
99
88.
PEREIRA, Lutero de Paiva. Comentrios Lei de Cdula de Produto Rural. 2. ed., Curitiba: Juru, p.
100
101
230
CP, art. 172: Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que no corresponda mercadoria vendida,
em quantidade ou qualidade, ou ao servio prestado.
Pena deteno, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pargrafo nico. Nas mesmas penas incorrer aquele que falsificar ou adulterar a escriturao do Livro
de Registro de Duplicatas.
231
BRUNO, Anbal. Direito Penal. T. I, 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967, p. 222-225.
232
CP, art. 1: No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal.
233
Lei n. 8.929/94, art. 17: Pratica crime de estelionato aquele que fizer declaraes falsas ou inexatas
acerca de bens oferecidos em garantia da CPR, inclusive omitir declarao de j estarem eles sujeitos a
outros nus ou responsabilidade de qualquer espcie, at mesmo de natureza fiscal.
102
Assim, caso algum preste aval nas mesmas condies do emitente da CPR,
o avalista se obriga, na inadimplncia daquele, a entregar, no vencimento do ttulo,
igual quantidade e qualidade do produto especificado na crtula, ou dinheiro, em se
tratando de CPR Financeira. Afinal, o avalista assume uma obrigao cambiria
autnoma e incondicional de garantir o pagamento do ttulo, nas condies
estabelecidas, ao legtimo portador. O avalista da CPR garante, pois, o pagamento do
ttulo, diferentemente do que ocorre com o endossante.
Mas, se o aval for prestado em relao a um endossante, aplica-se, nesse
caso, o disposto no inciso II, do artigo ora examinado. Vale dizer: o avalista no
garantir o pagamento, mas to-somente a existncia da obrigao.
Considerando a seguinte afirmao de SARAIVA, autor do projeto que, com
pequenas modificaes, originou o D. 2.044/1908, fica mais fcil perceber o que foi
afirmado anteriormente:
Por haver subscrito o saque, o avalista fica vinculado como sacador e
equiparado ao co-sacador; por haver subscrito o endsso, o avalista fica
vinculado como endossador e equiparado ao co-endossador; por haver
234
235
LUG, art. 32: O dador de aval responsvel da mesma maneira que a pessoa por ele afianada.
NETO, Alfredo de Assis Gonalves. Aval. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 90.
103
SARAIVA, Jos Antnio. A Cambial. Rev., atual. e ampl. por Osny Duarte Pereira. Vol. 1, Rio de
Janeiro: Jos Konfino, 1947, p. 311-312.
237
CC, art. 1.647: Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cnjuges pode, sem autorizao do
outro, exceto no regime da separao absoluta:
omissis.
III prestar fiana ou aval;
238
COSTA, Wille Duarte. Ttulos de Crdito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 202.
104
BARBI FILHO, Celso. A Duplicata Mercantil em Juzo. Atualizada por Otvio Vieira Barbi. Rio de
Janeiro: Forense, 2005, p. 87.
240
SARAIVA, Jos A. A Cambial. Rev., atual. e ampl. por Osny Duarte Pereira. Vol. 1, Rio de Janeiro:
Jos Konfino, 1947, p. 369.
241
WHITAKER, Jos Maria. Letra de Cmbio. 2 ed., rev. e augmentada. So Paulo: Livraria Acadmica,
1932, p. 178.
105
106
responsabilidade cambial, pode ser tudo que quiserem, menos interpretao: com
semelhante critrio, que de impiedosa mutilao, tudo se pode extrair de qualquer
dispositivo de lei.246
Exigir simplesmente o protesto cambial, para assegurar o direito de regresso
contra avalista de devedor indireto de uma CPR, furtar-se ao debate acerca de tal
particularidade da CPR ou, qui, prender-se comodamente a uma regra cambiria,
mas que, no obstante, inaplicvel ao ttulo ora analisado.
Deve-se fazer uma interpretao teleolgica da lei, para entender seu
sentido, e, no, pretender amold-la a compreenses j existentes, tal como um
dogma. Por isso, afirma-se no ser necessrio o protesto cambial para cobrana de
quaisquer dos avalistas de uma CPR. No se quer sustentar, contudo, que tal
disposio legal perfeita ou no se pode debat-la e aprimor-la, se for o caso;
apenas se quer evidenciar qual o sentido da Lei n. 8.929/94.
Seguindo o raciocnio literal da Lei n. 8.929/94, o avalista poder ver-se em
situao mais grave que a do avalizado, caso este seja devedor indireto. Afinal, no
diligenciado o protesto oportunamente, o credor perderia o direito de cobrar do devedor
indireto, mas continuaria podendo cobrar do avalista desse devedor indireto.
Ao se considerar que o avalista estranho causa da obrigao assumida
pelo avalizado, obrigando-se pela simples razo de querer se obrigar, como ensinado
por WALDEMAR FERREIRA247, possvel o entendimento acima exposto. Corroborando
isso, no se olvide que, se acionado judicialmente para pagar, ao avalista restar
somente alegar direito prprio contra o credor, salvo em caso de vcio formal no ttulo.
Mas, dessa forma, apresentar-se-ia a esdrxula situao de prescrio do
direito de cobrana contra o avalizado, mas permanncia do direito frente ao respectivo
avalista. como se vigorasse a clusula sem despesas ou sem protesto248
implicitamente, quanto a todos os avalistas.
Conforme registrado por GONALVES NETO, deve-se ter em conta que:
246
BORGES, Joo Eunpio. Do aval. 3. ed. Rio de Janeiro; Forense. 1960, p. 164.
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 212.
248
LUG, art. 46: O sacador, um endossante ou um avalista pode, pela clusula sem despesas, sem
protesto, ou outra clusula equivalente, dispensar o portador de fazer um protesto por falta de aceite ou
falta de pagamento, para poder exercer os seus direitos de ao.
247
107
249
GONALVES NETO, Alfredo de Assis. Aval, alcance da responsabilidade do avalista. So Paulo: RT,
1987, p. 113.
250
FERREIRA, Waldemar. Tratado de Direito Comercial, vol. VIII, So Paulo: Saraiva, 1962, p. 146.
251
LUG, art. 32, 3 alnea: Se o dador do aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da
letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da
letra.
252
Joo Eunpio Borges, ao tempo do D. n. 2.044/1908, ensinava que as relaes entre o avalista e o
avalizado no tinham carter cambial, sendo regidas pelas normas do Direito comum, considerando-os
do mesmo grau: entre coobrigados do mesmo grau, no cabe a ao cambial, regendo-se as relaes
entre eles pelas normas comuns relativas s obrigaes solidrias. In BORGES, Joo Eunpio. Ttulos
de Crdito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. p. 95.
108
253
ROSA JNIOR, Luiz Emygdio F. da. Ttulos de Crdito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 311-312.
VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentrios Lei de Falncias. 4 ed., rev. e atual. por J. A. Penalva
Santos e Paulo Penalva Santos. Vol. I, Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 164.
255
TJMG, 8 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 1.0024.05.740066-5/001, rel. Des. Fernando Brulio, j. 12/4/2007.
256
STJ, 3 T., Resp n. 211039-RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 24/11/2003, p. 00298.
254
109
CPR
Emitente
Credor originrio
1 Endossante
Endosso
2 Endossante
Endosso
Avalista 1
Avalista 2
Portador
Endossantes
REQUIO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. II. So Paulo: Saraiva, 2003, p. 612.
CC, art. 890: Consideram-se no escritas no ttulo a clusula de juros, a proibitiva de endosso, a
excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observncia de
termos e formalidade prescritas, e a que, alm dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e
obrigaes.
259
CC, art. 903: Salvo disposio diversa em lei especial, regem-se os ttulos de crdito pelo disposto
neste Cdigo.
258
110
Mas, contra o Emitente e seu respectivo avalista (Avalista 1), o Portador ter
direito ao cambiria, pois so devedores diretos:
CPR vencida e no protestada
Portador
Ao Cambiria
Emitente
Avalista 1
260
SARAIVA, Jos A. A Cambial. Rev., atual. e ampl. por Osny Duarte Pereira. Vol. 1, Rio de Janeiro:
Jos Konfino, 1947, p. 389.
261
BORGES, Joo Eunpio. Do Aval. 3. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1960, p. 148.
111
proposta, o protesto no foi tirado, o que, a priori, liberaria os avalistas das obrigaes
decorrentes do ttulo262.
Mas, bom notar que, por se tratar de obrigao autnoma, no se pode
entender que a obrigao do avalista s exigvel a partir do momento em que o
avalizado descumpra sua obrigao. Prestado validamente o aval, o avalista responde
diretamente pelo adimplemento, sem que o avalizado precise ser acionado. Haja vista a
hiptese de prorrogao do vencimento da cambial, ajustada entre o portador e um s
dos obrigados, que produz efeitos apenas em relao ao signatrio, sendo certo que o
avalista poder ser acionado no vencimento do ttulo. Seno, veja-se:
Nota promissria Vencimento Prorrogao Avalista. A prorrogao do
prazo de vencimento da crtula, em avenca autnoma entre o credor e o
263
emitente, no exclui a possibilidade de execuo contra o avalista.
E o inciso III, sob exame, dispensa o protesto em face dos avalistas, sem
mencionar nenhuma exceo.
No demais lembrar que, conforme disposto no caput, do art. 10, da Lei n.
8.929/94, as normas de direito cambial se aplicam CPR no que forem cabveis, mas
com as alteraes previstas nos incisos I, II e III. Implica dizer que as normas da LUG e
do D. n. 2.044/1908 s podem ser aplicadas CPR no que couberem, em havendo
lacuna na Lei n. 8.929/94, e se no contrariarem a feio caracterstica da CPR.
Dessa forma, lgico pensar que o Portador tem garantido o seu direito de
regresso tambm contra os Avalistas 2 e 3, mesmo sem ter diligenciado o protesto,
concluindo-se, ento, que na CPR, para se ter direito de regresso contra todos os
avalistas, o Portador no precisa do protesto cambial.
A falta do protesto no opera decadncia, em se tratando de avalista na
posio de devedor indireto, pois se a lei no distingiu, a ningum dado distinguir264.
262
112
Portador
Perda dos direitos cambirios
Endossante 1
Endossante 2
Sabe-se que a norma deve ser vlida, vigente, e ter eficcia. No caso da
CPR, para se garantir eficcia, para que a Lei n. 8.929/94 produza seus efeitos, devese entender o dispositivo analisado dessa maneira. A partir disso, surge mais uma
questo: qual o prazo prescricional para cobrana dos avalistas?
H diferenciao entre os prazos prescricionais para cobrana do devedor
principal e seus avalistas, e dos devedores indiretos, endossantes e seus avalistas.
Entende-se que devem ser respeitados os prazos de trs anos, a contar do
vencimento, para cobrana de avalista que se obrigou da mesma maneira que o
devedor principal, e de um ano, contados do protesto ou do vencimento, caso no haja
sido implementado o protesto, para cobrana dos demais avalistas, pois a diferena
est apenas na desnecessidade do protesto em face destes, no se alterando, contudo,
os prazos prescricionais265.
265
LUG, art. 70: Todas as aes contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (trs) anos a
contar do seu vencimento.
113
114
clusulas que afrontam o direito do emitente. Sobre isso, veja-se o item 1.2, do captulo
1, sobre as clusulas no essenciais.
Dessa maneira, o descumprimento pelo emitente de clusulas inoperantes
tais como a que estipula juros, a que exclui a ao cambiria ou a que altere o prazo
prescricional270 , no caracteriza sua inadimplncia, por serem consideradas noescritas, no cabendo, pois, a aplicao do disposto no art. 14.
Mas, caso a inadimplncia se refira a uma clusula lcita, certo que o credor
poder considerar a Cdula vencida antecipadamente.
Na antecipao do vencimento, surge uma questo importante. O produto
rural pode no estar totalmente colhido, o que constituir um obstculo intransponvel
ao emitente, na existncia de uma execuo do ttulo, visando entrega do produto
prometido.
Em recente julgado, o TRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE MINAS
GERAIS assim tratou o tema, afastando a possibilidade de ocorrncia de dano moral ao
emitente, pela cobrana antecipada:
Civil - Apelao - Indenizao por Dano Moral - Notificao - Art. 11 do
Decreto 167/67 - Antecipao de vencimento da obrigao - Alegao de
cobrana vexatria de dvida - Inocorrncia - Dano Moral no configurado Exerccio regular de direito - Recurso no provido. A notificao, e possvel
cobrana de dvida, sem que o credor exponha o devedor a vexame, no
enseja dano moral. O vencimento antecipado da dvida por descumprimento de
clusula contratual tem respaldo no artigo 11 do Decreto 167/67. O exerccio
regular de direito excludente da responsabilidade civil de indenizar. Recurso
no provido. [...] Como se observa dos autos, a apelada agiu em exerccio
regular de direito, no incorrendo, sua gerente ou outro preposto, em conduta
ilcita, j que o possvel vencimento da dvida por inadimplncia, a fiscalizao,
e o alerta do banco aos garantes e ao prprio devedor, tem respaldo no artigo
11 do Decreto 167/67 que dispe: "Art 11. Importa vencimento de cdula de
crdito rural independentemente de aviso ou interpelao judicial ou
extrajudicial, a inadimplncia de qualquer obrigao convencional ou legal do
emitente do ttulo ou, sendo o caso, do terceiro prestante da garantia real.
Pargrafo nico. Verificado o inadimplemento, poder ainda o credor considerar
vencidos antecipadamente todos os financiamentos rurais concedidos ao
emitente e dos quais seja credor".
No houve conduta abusiva da apelada nem cobrana vexatria. Isto o que
se colhe da prova testemunhal produzida.
Testemunha Dlcio Aparecido Gomes s fl. 105/106:
"Que em outubro foi informado via telefone pela Gerente do Banco do Brasil
que possivelmente a dvida seria cobrada por antecipao porque atravs de
270
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Cambirio. Vol. I, atual. Vilson Rodrigues Alves, Campinas:
Bookseller, p.204.
115
uma vistoria foi constatado que o caf existente no daria para pagar a dvida,
sendo que esta no lhe pediu para entrar em contato com o devedor principal,
pois estava sendo avisado do resultado da vistoria; [...] Que inclusive avisou
que a vistoria teria sido realizada onde foi constatada a venda de parte do caf;
que nas ligaes posteriores a gerente do banco informou que como no estava
conseguindo contato com o devedor principal pedia que o depoente o
contatasse, sendo que entretanto todas essas ligaes foram aps o
vencimento da dvida" [...] A notificao, e possvel cobrana de dvida, sem que
o credor exponha o devedor a vexame, no enseja dano moral. [...] Assim, o
mero fato de ter sido notificado da antecipao da dvida, embora possa
evidentemente causar-lhe dissabores e transtornos, no constitui ilcito, no se
271
configurando como fato capaz de gerar, por si s, danos morais indenizveis.
TJMG, 17 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 1.0325.06.002543-5/001, rel. Des. Mrcia de Paoli Balbino, j.
1/11/2007.
116
Outra questo interessante se refere aos meios utilizados pelo credor para
recebimento de seu crdito. Veja-se a deciso abaixo, acerca de conduta ilcita do
credor:
Agravo de Instrumento - Inadimplncia de Cdula de Produto Rural (CPR) Ao Cautelar - Ilegalidade de bloqueio de conta corrente sem interveno
judicial - Astreinte - Excessividade - Inocorrncia. abusivo o bloqueio de
errio na conta corrente de cliente que se encontra em dbito com o banco,
sem a devida autorizao judicial, ainda que autorizado por clusula contratual.
A astreinte no visa o empobrecimento da parte, mas, to-somente, estimular o
cumprimento da deciso. [...] Dirige-se o inconformismo deciso que deferiu o
pedido liminar, obrigando o agravante a restituir conta do agravado a quantia
de R$ 124.547,75, fixando multa diria no valor de R$ 1.000,00 pelo
descumprimento da deciso. Ao que consta dos autos, a referida quantia teria
sido bloqueada em razo de inadimplncia do agravado, que no honrou
compromisso assumido em CPR (Cdula de Produto Rural) firmada com o
BANCO DO BRASIL S/A, pela qual se obrigou a entregar, no dia 10.12.2004,
500 sacas de "caf arbica beneficiado" empresa MARCELLINO MARTINS &
E. JOHNSTON. Vencido o ttulo, ante o no cumprimento da obrigao, o
agravante, na qualidade de avalista da CPR, quitou a obrigao, pagando
referida empresa a quantia de R$ 170.000,00, em 27.07.2005. Na deciso da
liminar, fundamentou o il. Magistrado que estava caracterizado o fumus boni
iuris, "uma vez que o Banco, ao agir como agiu, promoveu execuo por mo
prpria, prescindindo da via judicial, colocando-se em posio de privilgio em
relao queles credores que, mesmo possuindo um ttulo executivo judicial ou
extrajudicial, no ficam dispensados de recorrem ao Judicirio para que possam
ver seus crditos satisfeitos". (fl. 28 - TJ). Argumentou, ainda, que, como no
havia autorizao expressa para dbito em conta, no caso de inadimplncia, a
atitude do Banco evidenciava um abuso de direito. Por fim, se valeu do Art. 5,
LIV, da CF/88, lembrando ser imprescindvel o devido processo legal para a
perda da propriedade de qualquer bem, a fim de satisfao de credores. [...]
Aps analisar detidamente as razes do recurso, entendo que a deciso ora
272
TJRS, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70021205539, rel. Des. Cludio Baldino Maciel, j. 25/10/2007.
117
certo que o credor tem direito de buscar o recebimento de seu crdito, mas
no atravs de medidas unilaterais. Afinal, havendo conflito entre duas pessoas, tal
como o acima caracterizado, mister a presena do Estado-juiz, para que prolate deciso
acorde com o ordenamento jurdico. No se pode ignorar tal fato e buscar, por sua
prpria fora, a satisfao pretendida274.
7.1 Da Ao Cambiria
A CPR, como ttulo de crdito que , est inserida no rol dos ttulos
executivos extrajudiciais (CPC, art. 585, I).
Assim, se aps o seu vencimento, a CPR no for paga, o credor poder
promover a execuo judicial de seu crdito, contra qualquer devedor cambial, desde
que observadas as condies de exigibilidade j mencionadas, por meio da chamada
ao cambial.
O produto rural prometido entrega, na emisso de uma CPR, qualifica-se
como fungvel. Assim, no mbito do processo civil, o credor dever adotar o
273
TJMG, 14 Cm. Cv., AI n. 1.0123.05.013145-7/001, rel. Des. Renato Martins Jacob, j. 16/3/2006.
ARAJO CINTRA, Antnio Carlos de. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cndido Rangel.
Teoria Geral do Processo, 15 ed., rev. e atual., So Paulo: Malheiros, p. 20.
274
118
L. n. 8.929/94, art 15: Para cobrana da CPR, cabe a ao de execuo para entrega de coisa
incerta.
276
TAPR, 5 Cm. Cv., AI n. 194.100-0, Peabiru, juiz convocado Jurandyr Souza Jnior, j. 4/9/2002.
277
TAMG, 5 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 381.578-7, rel. Juza Marin da Cunha, j. 6/2/2003.
119
bolsa oficial, do dia a ser efetuado o pagamento que se prova por meio de
publicaes ou fornecimento de listagem de preos por instituio que atua no setor ,
ou do vencimento da CPR, momento em que o pagamento deveria ter sido efetivado?
Veja-se a seguinte deciso, a esclarecer a questo:
Frustrada a busca e apreenso por inexistncia da coisa, a execuo se
converte em execuo por quantia certa (CPC, art. 627, 1). O valor da coisa
278
o do dia do pagamento.
TJGO, 2 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 54.662-7/188 Rio Verde, rel. Des. Aluzio Atades de Sousa, j.
8/5/2001.
279
TAMG, 1 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 369.105-0, rel. Des. Eduardo Brum, j. 22/10/2002: "A cdula de
produto rural do tipo financeira permite a ao de cobrana forada por quantia certa, por ter sido emitida
com a possibilidade de liquidao e com a fixao monetria do valor do dbito".
280
L. n. 8.929/94, art. 4-A: Fica permitida a liqui dao financeira da CPR de que trata esta lei, desde
que observadas as seguintes condies: omissis.
120
TJRS, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 70021873880, rel. Des. Cludio Baldino Maciel, j. 22/11/2007.
PEREIRA, Caio Maria da Silva. Instituies de Direito Civil. Vol. III, 13 ed., Rio de Janeiro: Forense,
2001, p. 39.
282
121
283
TJMG, 15 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 1.0518.07.111260-2/001, rel. Des. Bitencourt Marcondes, j.
9/11/2007.
284
A CETIP, criada pelas instituies financeiras e pelo Banco Central do Brasil, em 1984, uma Cmara
de Custdia e Liqidao que tem por fim garantir maior segurana e agilidade s operaes do mercado
financeiro brasileiro, alm de oferecer suporte a toda a cadeia de operaes, prestando servios
integrados de custdia, negociao eletrnica, registro de negcios e liqidao financeira, mediante
aceitao do registro de negcios celebrados entre seus participantes, com o acesso aos sistemas
permitido somente aps a checagem do cdigo de acesso e senha. O registro exige duplo comando: um
do comprador e outro do vendedor. As operaes registradas so aceitas se os ttulos envolvidos
estiverem disponveis na conta de custdia do vendedor, sendo finalizadas na liqidao financeira, com
o pagamento do comprador, no conceito Delivery versus Payment (entrega contra pagamento).
Disponvel em: <http://www.cetip.com.br/>. Acesso em 21 de fevereiro de 2008.
285
STF, Sm. 188: O segurador tem ao regressiva contra o causador do dano, pelo que efetivamente
pagou, at o limite previsto no contrato de seguro.
286
CC, art. 346: A sub-rogao opera-se, de pleno direito, em favor:
omissis.
III do terceiro interessado, que paga a dvida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.
122
123
TJMG, 12 Cm. Cv., Ap. Cv. n. 1.0480.02.035175-9/001, rel. Des. Alvimar de vila, rel. do acrdo
Des. Saldanha da Fonseca, j. 6/6/2007.
288
Cobrana - Seguradora - Cdula de Produto Rural - Inadimplemento do emitente - Sub-rogao Dvida de valor - Possibilidade de ajuizamento de ao de cobrana. A Seguradora que efetua o
pagamento de dbito oriundo de cdula rural pignoratcia sub-roga-se, de pleno direito, no crdito,
passando a ser credora de dvida de valor, sendo perfeitamente possvel o ajuizamento de ao de
cobrana. [...] Insta salientar, que a sub-rogao consiste na substituio judicial de uma pessoa ou coisa
por outra, na mesma relao jurdica, ou ainda, na transferncia dos direitos do credor para aquele que
solveu a obrigao ou emprestou o necessrio para solv-la. No presente caso, houve sub-rogao a
autorizar o regresso da seguradora apelada contra o apelante, nos exatos termos do art. 985, III do
Cdigo Civil de 1916, reproduzido pelo art. 346, III do diploma civil de 2002. No tendo sido devolvida
nenhuma outra questo instncia superior, impe-se a manuteno da sentena. (TJMG, 9 Cm. Cv.,
Ap. Cv. n. 1.0694.02.006982-9/001, rel. Des. Pedro Bernardes, j. 10/1/2006). Ver tambm: TJMG, Ap.
Cv. n. 460.591-2, Rel. Des. Fernando Caldeira Brant; TAMG, Ap. Cv. n. 033.8755-7, rel. Juiz
Nepomuceno Silva, j. 14/8/2001).
124
289
125
291
D. n. 2.044/1908, art. 28, pargrafo nico: O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para o
aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domiclio que no o do
sacado, naquele domiclio deve ser tirado o protesto.
292
TJSP, 4 Cm. Civil. Boletim de Jurisprudncia ADCOAS, n. 24.015/74. in: BARBI FILHO, Celso. A
Duplicata Mercantil em Juzo. Atualizada por Otvio Vieira Barbi. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 152.
293
BARBI FILHO, Celso. A Duplicata Mercantil em Juzo. Atualizada por Otvio Vieira Barbi. Rio de
Janeiro: Forense, 2005, p. 152.
294
VALVERDE. Trajano de Miranda. Comentrios Lei de Falncias. Vol. I, 4 ed., rev. e atual. J. A.
Penalva Santos e Paulo Penalva Santos, Rio de Janeiro: Forense, p. 163.
295
STJ, 4 T., Resp n. 50827/GO, rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, j. 27/5/96, DJU 10/6/96.
126
principal
estabelecimento
do
devedor296,
recordando-se
que
principal
296
127
297
128
129
130
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 3, 7 ed., rev. e atual., So Paulo: Saraiva,
2007, p. 161.
303
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 3, 7 ed., rev. e atual., So Paulo: Saraiva,
2007, p. 161.
304
COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 3, 7 ed., rev. e atual., So Paulo: Saraiva,
2007, p. 162.
305
Expresso que significa proteger. Operao conjunta, que tem por fim a cobertura contra riscos de
variaes e oscilaes dos preos, salvaguardando uma posio de risco por outra equivalente, mas em
sentido contrrio, muito utilizada em operaes envolvendo commodities. In: BULGARELLI, Waldirio.
Contratos Mercantis. 12 ed., So Paulo: Atlas, 2000, p. 269/270.
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protege o produtor rural. Com isso, o lucro obtido no contrato futuro compensa a queda
nas cotaes da mercadoria no mercado a vista, permitindo assim que o preo final
obtido seja mais ou menos igual s cotaes na poca em que o fazendeiro vendeu no
mercado futuro.306.
Aqui tambm se v a importncia da CPR para o desenvolvimento nacional.
Conforme ensinado por ASCARELLI:
assim que encontramos os ttulos de crdito presos histria e s
transformaes da vida moderna e podemos ento voltar a repetir a afirmativa
de que constituem um instituto tpico da economia moderna, a que se acha
unido, nas suas transformaes e nos seus problemas, nos progressos j
307
alcanados e nas perguntas que formulamos a respeito do futuro.
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CONCLUSO
Nos menos de quinze anos de vida desse novo ttulo de crdito, pode-se
afirmar que a Cdula de Produto Rural se evidencia como um instrumento confivel aos
produtores rurais brasileiros para obteno de recursos complementares no mercado. A
CPR se apresenta, pois, como a moeda forte no campo, por sua simplicidade de
aquisio e negociao, favorecendo o crescimento do setor produtivo primrio
brasileiro, apesar da falta de apoio Governamental.
Aps seu surgimento, em 1994, em que se previu apenas a entrega de
produto rural, esta Cdula evoluiu, com a criao da CPR Financeira, o que
impulsionou o agronegcio e possibilitou a movimentao de maiores cifras, com a
entrada de instituies financeiras na negociao de tais ttulos. Essa evoluo
possibilitou a obteno de maiores recursos complementares pelos produtores rurais no
Brasil, diminuindo a dependncia de muitos frente ao Governo, o que, s por isso, j
digna de aplausos.
O escopo do presente trabalho evidenciar, justamente, que a Cdula de
Produto Rural, para cumprir adequadamente seus objetivos, deve ser entendida como
ttulo de crdito, sendo regulada pelas normas de direito cambial, salvo no que for
expressamente disposto na Lei n. 8.929/94, intimamente vinculado ao futuro do
agronegcio em nosso pas.
Juntamente a essas questes econmicas, registra-se que no se deve
vincular o uso da CPR a agresses ambientais, que devem ser reprimidas em todos os
mbitos de nossa sociedade. Viu-se que a CPR se presta ao pequeno, ao mdio ao
grande produtor rural; mas, todos eles, devem buscar a excelncia de sua empresa,
no somente no que tange ampliao de lucros a qualquer custo, mas pautada pelo
desenvolvimento sustentvel, atravs de tecnologias ecologicamente adequadas, que
apesar de poderem se revelar mais dispendiosas no presente, favorecero o meio
ambiente e garantiro maiores lucros ao produtor no futuro, sem agredir o solo, o clima,
o ecossistema, o planeta.
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309
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REFERNCIAS
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