A Literatura e A Vida Praia Editora 2015
A Literatura e A Vida Praia Editora 2015
A Literatura e A Vida Praia Editora 2015
Vitor Cei
Joo Guilherme Dayrell
Michel Mingote Ferreira de Azara
Organizadores
A literatura e a vida:
por que estudar literatura?
(RCG-PRAIA)
Conselho Editorial
Gilberto Medeiros
Flvio Marcelo Pereira
Flvio Borgneth
Tarso Brennand
Vitor Cei
Comit Cientfico
Coordenador
Membros
2015 Os autores
livre a utilizao, duplicao, reproduo e distribuio
desta edio, no todo ou em parte, por todo aquele que
desejar, bastando citar a fonte. Comercializao proibida.
Diagramao LABED (FALE/UFMG), Vitor Cei e Giba
Capa Alemar Rena
Reviso Os autores
Edio Gilberto Medeiros
Fale com a Praia Editora
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email: praiaeditora@gmail.com
twitter: @praiaeditora
L776
SUMRIO
Apresentao
Os organizadores
11
14
85
322
341
369
484
510
APRESENTAO
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Raul Antelo
Luniversit
moderne
devrait
tre sans condition. Par universit
moderne , entendons celle dont le
modle europen, aprs une histoire
mdivale riche et complexe, est
devenu prvalent, cest--dire
classique , depuis deux sicles,
dans des tats de type dmocratique.
Cette universit exige et devrait se
voir reconnatre en principe, outre ce
quon appelle la libert acadmique,
une
libert
inconditionnelle
de
questionnement et de proposition,
voire, plus encore, le droit de dire
publiquement tout ce quexigent une
recherche, un savoir et une pense
de la vrit. Si nigmatique quelle
demeure, la rfrence la vrit,
parat assez fondamentale pour se
trouver, avec la lumire (Lux), sur les
insignes symboliques de plus dune
universit. Luniversit fait profession
de la vrit.1
Ci-git Piron, qui ne fut rien,
Pas mme acadmicien2
1
DERRIDA. LUniversit sans condition, p. 11-12.
2
Epitfio de Alexis Piron (1689-1773)citado por
MANSILLA. Una excursin a los indios ranqueles, p. 241.
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Cito pela traduo ao espanhol: LEGENDRE. El
tajo. Discurso a jvenes estudiantes sobre la ciencia y la
ignorancia, p. 66-67.
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Cito pela traduo ao espanhol: LEGENDRE. El
tajo. Discurso a jvenes estudiantes sobre la ciencia y la
ignorancia, p. 66-67.
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Cito pela traduo ao espanhol: LEGENDRE. El
tajo. Discurso a jvenes estudiantes sobre la ciencia y la
ignorancia, p. 66-67.
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LEGENDRE. El tajo: discurso a jvenes estudiantes
sobre la ciencia y la ignorancia, p. 79-80.
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sistema.15
Atravessamos, portanto, um momento claramente
ps-fundacional. As descries de nosso objeto de
estudo e de reflexo j no o colocam como valor superestrutural, determinado pela acumulao material e o
desenvolvimento das foras produtivas. Nem mesmo a
abordagem histrica pode hoje, em s conscincia, ver
a literatura como um processo meramente racional, cujo
antagonismo teria sido, seno eliminado, certamente
adiado, diferido, at o momento mesmo de sua realizao
teleolgica final. Nem as contradies histricas, nem as
oposies reais do conta da contrariedade insubstituvel
que alimenta o antagonismo do presente, por uma razo
muito simples, porque o antagonismo atual no fruto
de relaes objetivas, mas decorre de relaes que
exibem limites precisos na constituio de toda e qualquer
objetividade.
A questo da pesquisa, na Universidade, deveria
ser pensada ento pela impossibilidade de construir uma
frmula de saber que testemunhe a falta no simblico e,
portanto, essa posio de no-saber deveria nos propor,
estratgicamente, instalar um excesso que, por sua vez,
introduza a prpria falta no simblico. Se no h frmula de
saber, o no-saber consiste apenas numa aventura aleatria
que no se reduz soma de dois termos complementares,
sujeito e objeto de saber, porque o suplemento nomeia, a
rigor, a impossibilidade de considerar ambas as instncias
15
NANCY. La cration du monde ou la
mondialisation, p. 137.
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COPJEC. El sexo y la eutanasia de la razn:
ensayos sobre el amor y la diferencia, p. 94.
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TZARA. Manifeste de Monsieur Aa
lantiphilosophe, p. 22-23.
22
WAJCMAN. El objeto del siglo.
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CANDIDO. Literatura e subdesenvolvimento, p.
140-162.
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28
FOUCAULT. Posfcio a Flaubert (A Tentao de
Santo Anto), p. 79-80.
29
POPOLIZIO. Vida de Mansilla, p. 309-310.
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MANSILLA. Una excursin a los indios ranqueles,
p. 368.
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MANSILLA. Una excursin a los indios ranqueles,
p. 368.
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Na edio Ayacucho se l, erroneamente,
engauchada, o que mostra curioso ato falho de associar o
gauchesco com o demonaco.
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sepultura es lo ms sagrado. No
hay hereja comparable al hecho de
desenterrar un cadver.
Como los hindes, los egipcios y los
pitagricos, creen en la metempsicosis,
que el alma abandona la carne
despus de la muerte, transmigrando
en un tiempo ms o menos largo a
otros pases y dndole vida a otros
cuerpos racionales o irracionales.
Los ricos resucitan generalmente al
sur del Ro Negro, y de all han de
volver, aunque no hay memoria de que
hasta ahora haya vuelto ninguno.35
35
MANSILLA. Uma excursin a los indios ranqueles,
p. 224-225. Para o sentido de gualicho, ver FERNANDEZ
GARAY. Diccionario tehuelche-espaol / ndice espaoltehuelche.
36
BARTHES. Michelet, 1954.
37
No livro III de Adn Buenosayres, em una regin
fronteriza donde la urbe y el desierto se juntan en un abrazo
combativo, tal dos gigantes empeados en singular batalla,
isto , no bairro de Saavedra, a bruxa Tecla tambm distribui
filtros, feitios e gualichos.
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39
Poderamos considerar experincias de teologia
apoftica a de Malvitch ao propor o quadrado preto sobre
fundo preto; a de Duchamp, ao inscrever um urinol como
objeto esttico ou a de Borges, ao marcar a passagem de
algum a ningum, em Outras inquisies.
40
ROSA. Grande serto: veredas, p. 285-286.
41
SARLO. Literatura y poltica; p. 8-11.
42
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42
SARLO. El saber del texto, p. 6-7.
43
SARLO. Poltica, ideologa y figuracin literaria
in BALDERSTON. Ficcin y poltica: la narrativa argentina
durante el proceso militar, p. 30-59.
44
As categorias de Sarlo antecipam o diagnstico
da inviabilidade nacional de Roberto Schwarz. O autor de
Sequncias brasileiras aventa vrias cenas. Uma de que
43
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KABAKOV. Sobre el vaco, p. 23-24; GROYS. El
arte conceptual del comunismo, p. 359-360.
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REFERNCIAS
AGAMBEN, Giorgio. Altissima povert: regole monastiche
e forma di vita. Vicenza: Neri Pozza, 2011.
AGAMBEN, Giorgio. Il sacramento del linguaggio:
archeologia del juramento. Bari: Laterza, 2008.
BARTHES, Roland. Michelet. Paris: Seuil, 1954.
BORGES, Jorge Luis. La forma de la espada. In: ______.
Obras Completas: Buenos Aires: Emec, 1974.
BUCK-MORSS, Susan. Dreamworld and Catastrophe:
The passing of mass utopia in East and West. Cambridge:
MIT Press, 2000.
48
AGAMBEN. Altissima povert: regole monastiche
e forma di vita, p. 126-134. A tese, que como o ltimo
Oswald se questiona acerca do uso, oposto propriedade,
conclui que laltissima povert, col suo uso delle cose, la
forma-di-vita che comincia quando tutte le forme di vita
dellOccidente sono giunte alla loro consumazione storica,
p. 171.
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ESCRITA DE SI E EXPERINCIA DO
MUNDO: NOTAS SOBRE O ECCE HOMO
DE FRIEDRICH NIETZSCHE
Olmpio Pimenta
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enfim.
Assim, para comear interessa cogitar um pouco
sobre o que este livro, o Ecce Homo. O ttulo, uma
dentre tantas brincadeiras do erudito Nietzsche, repete as
palavras de Pilatos ao apresentar Jesus ao povo depois da
flagelao. Trata-se, nos dois casos, da exibio pblica de
algum. Nesse primeiro sentido, tomado enquanto projeto
editorial, o livro consiste em uma autobiografia intelectual
que, mesmo sendo bastante heterodoxa, deveria prestarse para a divulgao de um autor cujas demais obras
comeavam a encontrar repercusso no mundo culto.
Entretanto, a coisa muda de figura ao consider-lo
em sua dimenso filosfico-literria. De imediato, entre os
mais prximos do autor, as impresses de leitura foram
bastante desfavorveis. Recriminou-se o que soava como
ambio desmedida, e tambm a grandiloqncia. A opinio
posterior dos bigrafos tambm reticente, vinculando o
escrito loucura que se manifestaria pouco tempo depois.
Para eles, apreciado luz do esquema vida e obra, o livro
peca por ser pobre em material factual, restando buscar
nele apenas elucidaes psicolgicas sobre os estados
internos do filsofonada que seja dotado de maior apelo
filosfico.
Entre os intrpretes e comentaristas, por sua vez,
nenhum consenso: h quem goste, quem desgoste e
quem lhe seja indiferente. Mas para ns, secundando, por
exemplo, Rosa Dias e Sandro Kobolrespectivamente:
Nietzsche, vida como obra de arte, Civilizao
Brasileira/2011 e Sobre o suposto autor da autobiografia
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REFERNCIAS
DIAS, Rosa Maria. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio
de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2011.
FORNAZARI, Sandro Kobol. Sobre o suposto autor da
autobiografia de Nietzsche: reflexes sobre Ecce Homo.
So Paulo: Discurso, 2004.
HADOT, Pierre. Elogio da filosofia antiga. Traduo de
Flvio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. So Paulo:
Loyola, 2012.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: como algum se
torna o que . Traduo de Paulo Csar de Souza. So
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LISPECTOR. A Paixo segundo GH, p. 5
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LEPECKI. Agotar La danza: performance y poltica
del movimiento, p. 224
51
A partir da sugesto do ttulo Esgotar a vida: cenas
de leitura tomado de emprstimo do livro de LEPECKI.
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Nietzsche
A leitura de Nietzsche um repelo. Submeter a cerviz
ferocidade de sua pata-lngua de fogo doloroso. A cabea
di continuadamente. Ler Nietzsche adoecer esperando
a convalescena: sentir as extremidades frias do corpo
febril, a contrao do estmago, a nusea, a sonolncia
letrgica. Nietzsche nos atinge em cheio no que nos
mais caro: toda a arquitetura dos valores que nos puseram
de p, que levantaram nossa face em direo a um Deus,
valores que nos fizeram humanos: Foi o minuto mais
arrogante e mais enganoso da histria universal; mas
foi apenas um minuto;53 valores, como crosta de poeira,
depositados em nossa pele de tal modo que se fundiram
ao que julgvamos nosso prprio ser. Portanto, no sem
pena que experimentamos, quando o lemos, a esfoladura
da carne viva, sem a proteo que a recobria. E, por isso,
adoecemos. Em ns essa doena fora reativa, uma
derrota dos nervos diante do que nos parece uma absurda
heresia: a destruio de nossos libis.
Nietzsche, por seu lado, tambm adoece. Contudo,
54
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II. Lispector
Ler Clarice com Clarice, como aventurar-se no silncio.
Trata-se de desapego expresso para penetrar no
desconhecido da palavra, metamorfose do leitor na
substncia branca da palavra. Em Paixo segundo GH,
Clarice Lispector afronta ao limite o apego ao individualismo
63
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66
BASTOS. Escatologia e soteriologia no paganismo
mtico-potica e ontoteo-lgico de Eudoro de Sousa, p. 223.
67
LISPECTOR. A paixo segundo GH, p. 108
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LISPECTOR. A paixo segundo GH, p. 109
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III. Mutarelli
Evoco o nome tesarac, a partir da definio do
poeta que cunhou a palavra (Shel Silverstein), no sentido
de vcuo. Um evento to brutal e aterrador que transforma
a vida. O efeito tesarac nos compromete colocando-
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ROSSET. A anti natureza: elementos para uma
filosofia trgica, p. 80.
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Burroughs (aparentemente embriagado, matou
Joan Vollmer com um tiro na cabea no que teria sido uma
tentativa de brincar de Guilherme Tell) disse que o tiro
em Vollmer, no dia 6 de setembro de 1951, foi um evento
crucial na sua vida, e que o provocou a escrever: Eu sou
forado terrvel concluso que eu nunca teria me tornado
um escritor, a no ser pela morte de Joan, e nunca teria uma
compreenso da extenso em que este evento tem motivado
e formulado a minha escrita. Eu vivo com a ameaa
constante de posse, e um constante necessidade de escapar
da posse, do controle. Assim, a morte de Joan trouxe-me
em contato com o invasor, a Alma Suja, e manobrou-me
para uma longa luta na vida, em que no tive escolha a no
ser escrever a minha sada dela. WILLIAM S. Burroughts.
Wikipedia.
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MUTARELLI. A arte de produzir efeito sem causa, p. 62.
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MUTARELLI. A arte de produzir efeito sem causa, p.
119.
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DALI. Sim ou a parania: mtodo crticoparanico e outros textos.
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DALI. Sim ou a parania: mtodo crtico101
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LACAN. Kant com Sade.
87
MUTARELLI. A Arte de produzir efeitos sem causa,
p. 156.
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p. 156.
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V. Final
Quem voc meu hipcrita leitor, meu semelhante, meu
irmo como no verso de Baudelaire? Nietzsche, Clarice,
Loureno sabem que esse leitor no nasceu ainda. E,
nesse sentido, obra deles propedutica: a obra criar
seu prprio leitor.89 Leitor capaz de abandonar o manto de
crenas antigas e, superando o caos inicial momento
de catstrofe , capaz de reescrever a histria da sua
leitura. Aquele que preferir as robustas (alegres) entranhas
s entranhas frigorificadas das rs pensadoras e opuser o
movimento paralisia, e a dana cincia, que souber ler
tendo pedras sob a lngua, quem puder passar pelo sabbat,
escorregar na vertigem tesarac, quem souber danar em
cadeias. Leitor que descarnou a carapaa psicolgica e
transvirou barata, ou se deixou escorrer pelo furo do real
esfolando a superfcie da pele.
Leitor que, segundo Ral Antelo, saber mover-se
com soberana elegncia na medida em que a elegncia
soberana amar a singularidade, ponto extremo em que
elegncia e liberdade civil tornam-se sinnimos, foras
enfrentadas ao totalitarismo...90
Compreenderam-me?
REFERNCIAS
ANTELO, Ral. Maria com Marcel: Duchamp nos trpicos.
89
NIETZCHE. Assim falava Zaratustra, p. 171.
90
ANTELO. Maria com Marcel Duchamp nos
trpicos, p. 16.
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LITERATURA E JUSTIA:
JULIN AXAT E OS DESAPARECIDOS NA
ARGENTINA
Pdua Fernandes
Introduo: literatura,
aspiraes de justia
desaparecimentos
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100
As tradues neste artigo so de minha autoria.
Te espero:/ Padre/ los ruidos causados por la derrota/ no
alcanzan a quebrarnos/ aunque sea por un instante/ esa
increble luz de tus ojos/ esperanza o fulgor de a cada instante
ser grito (PF, p. 67).
101
la muerte que no cierra,/ porque los espero cada
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que se cravam em ns
ou por acaso
os incrustamos
para fazer
a revoluo
salvar
nossos pais
de sua derrota
no sei
realmente
se penso
em salv-los
a eles
ou a ns
mesmos103
sua salvao?104.
O poema no chega a nenhuma resposta, o
que seria fcil demais, e o senhor acaba por vestir-se
e a voltar a sua postura segura.
Em Mdium (potica belli) [M, 2006], as
estratgias da justia de transio esto encenadas
na poesia, e assume-se uma potica inspirada nos
detetives selvagens de Roberto Bolao. O eu lrico
passa a buscar os mortos em ossrios clandestinos.
O problema dos desaparecidos e
dos corpos NN acaba por modificar
o papel do poeta, que se torna
detetive, o que logo evoca o romance
de Bolao Os detetives selvagens.
No romance, cuja histria se passa
principalmente no Mxico, poetas da
linha real-visceralista (personagens
que esto, em sua maioria, margem
da sociedade burguesa) acabam
procurando uma poeta de gerao
anterior, que escreveu pouqussimo,
abandonou o meio literrio, e em
quem reconhecem sua predecessora:
Cesrea Tinajero. A busca, entremeada
a diversas tramas, acaba por lev-la
morte.
No romance, bem como nos contos
de Putas assassinas, a poesia tem
que ver com o desaparecimento e a
morte.105
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y antes de ser/ el fracaso equipo/ de-nosotrosforense/ dejamos los huesos/ escribimos un poema/ nos
devuelve/ la piel viva/ de su voz [N, p. 30].
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Los padres son los huesos/ la ausencia Del hueso y
su bsqueda/ perdido o hallados/ Los padres son los huesos/
donde los hijos/ afilamos nuestros dientes [N, p. 30].
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SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da
memria e guinada subjetiva. Trad. Rosa Freire DAguiar.
So Paulo; Belo Horizonte: Companhia das Letras, Editora
UFMG, 2007, p. 20.
114 Como plantea Beatriz Sarlo, en tanto toda experiencia
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Com efeito, Sarlo critica o conceito de psmemria, afirmando que o que existem so formas de
memria que no podem ser atribudas diretamente a
uma diviso simples entre memria dos que viveram
os fatos e memrias do que so seus filhos115. Se
se reservasse o termo para a memria da primeira
gerao depois dos fatos, a ps-memria tanto
um efeito do discurso como uma relao particular
com os materiais da reconstituio; com os mesmos
materiais se fazem relatos decepcionantes e cheios
de furos ou reconstituies precrias que, no entanto,
sustentam algumas certezas116.
No entanto, a obra de Julin Axat , realmente,
um exerccio de ps-memria? Ele est realmente a
del pasado resulta vicaria (en tanto siempre est mediada por la
interpretacin o un relato), los hij@s viven ese pasado con una
intensidad vicaria mucho mayor que sus padres, en el sentido de una
pos-memoria y la necesidad de narrar la historia. Pos-memoria: como
memoria de la generacin siguiente a la que padeci o protagoniz
los acontecimientos (memoria de los hij@s sobre la memoria de
los padres). Se trata de formas de la memoria que no pueden ser
atribuidas directamente a una divisin sencilla entre la memoria de
quienes vivieron los hechos y la memoria de quienes son sus hij@s,
por supuesto que haber vivido un acontecimiento y reconstruirlo
a travs de informaciones no es lo mismo. AXAT, Julin.
guisa de concluso:
Aps a palestra no SPLIT, Julin Axat publicou
mais dois livros de poesia: Musulmn o biopotica
(City Bell: Livros de la Talita dorada, 2013) e Rimbaud
en la CGT (City Bell: Livros de la Talita dorada, 2014),
e organizou uma antologia de poesia, La Plata Spoon
River (City Bell: Livros de la Talita dorada, 2013), toda
composta de poemas novos, especialmente escritos
para os mortos em grande inundao em La Plata.
Musulmn o biopotica surpreende pelo seu
perfil bipartido: a primeira metade corresponde a
poemas, em versos brancos e livres ou em prosa,
sobre menores pobres em conflito com as instituies;
a segunda parte apresenta os materiais de que os
poemas da primeira foram elaborados: trechos de
processos judiciais, recortes de jornais, falas de
diversas fontes, em uma forma que remete ao Livro
das Passagens de Walter Benjamin. As duas metades
realizam-se igualmente como poesia: a disposio
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dos falecimentos118.
Referncias:
1. Obras poticas de Julin Axat:
Peso formidable. Buenos Aires: Zama, 2003.
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Quest-ce que cest que penser, questce que cest que cette exprience
extraordinaire de la pense?
FOUCAULT. Dbat sur le roman,
1964.
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I
inegvel que a linguagem literria um tema recorrente
nos primeiros textos de Foucault. Entre 1961 e 1970, ou
seja, entre Histria da loucura e A ordem do discurso,
h mais de vinte textos de Foucault sobre escritores
ou entrevistas que abordam temas literrios. preciso
reconhecer, contudo, que a questo da literatura aparece
em diferentes momentos nos textos de Foucault,
com mltiplos significados e servindo a fins diversos.
Como caracterstico em Foucault, ele est sempre
redimensionando suas anlises, sua metodologia, seus
objetos de investigao e seus pressupostos. Mas, ainda
assim, possvel afirmar que o incio dos anos sessenta
o momento de maior proximidade de Foucault com a
literatura.
Apesar de ser visvel nos textos de Foucault
do incio dos anos sessenta uma grande atrao pela
experincia literria, preciso deixar mais claro o que
exatamente interessa Foucault. Mais do que a literatura,
como gnero ou forma de expresso artstica, o que atrai
Foucault a experincia de linguagem, ou, em outras
palavras, as experincias transgressoras de pensamento
que transitam nos limites da linguagem. Essas experincias
no remetem a algo pessoal e privado, inscrito no domnio
da interioridade, mas, ao contrrio, colocam a prpria
unidade do sujeito em questo e o pressionam para fora
140
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
119
120
Ver FOUCAULT. Folie, littrature, socit, p. 982983.
121
Ver FOUCAULT. Michel Foucault et Gilles Deleuze
veulent rendre Nietzsche son vrai visage, p. 580.
142
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
122
123
124
125
Ver FOUCAULT. Prface la transgression (en
hommage Georges Bataille), p. 263-265, 269, 277.
126
Ver FOUCAULT. Prface la transgression (en
hommage Georges Bataille), p. 268, 276.
145
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
127
ver FOUCAULT. La pense du dehors, p. 554, 565
128
ver REVEL. La naissance littraire de la
biopolitique, p. 53.
129
BLANCHOT. Le livre venir, p. 273. (Traduo
minha).
146
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
130
ver PELBART. Da clausura do fora ao fora da
clausura: loucura e desrazo, p. 159-160.
147
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
131
ver LEVY. A experincia do Fora: Blanchot,
Foucault e Deleuze, p. 38-41, 53, 55, 67.
132
ver FOUCAULT. Les mots et les choses: une
148
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
II
A partir dos anos setenta (talvez antes, desde
1968), o tema da linguagem e da experincia literria, que
ocupava um lugar de destaque nas reflexes de Foucault,
praticamente desaparece, ou desloca-se radicalmente,
assumindo um papel bem diverso. Segundo Judith
Revel, o pensamento de Foucault pode ser originalmente
concebido sob o signo da literatura, pois foi ela que lhe
forneceu os meios para romper com a filosofia universitria
dos anos cinqenta, foi ela tambm que fez emergir o
ato da escrita em si mesmo e, em contradio com sua
prpria maneira de pensar, permitiu evitar um fechamento
135
ver FOUCAULT. Les mots et les choses: une
archologie des sciences humaines, p. 316, 394; FOUCAULT.
La pense du dehors , p. 565.
136
ver CASTELO BRANCO. Michel Foucault: a
literatura, a arte de viver, p. 321.
150
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
137
REVEL. Histoire dune disparition: Foucault et la
littrature, p. 65-73. (Traduo minha).
138
ver FOUCAULT. Je perois lintolrable, p. 1071.
151
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
139
ver FOUCAULT. De larchologie la dynastique,
p. 1280-1281.
140
ver FOUCAULT. La fte de lcriture, p. 1602.
152
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
141
ver FOUCAULT. Pouvoir et savoir, p. 414.
142
ver FOUCAULT. Prsentation, in Bataille (G.),
uvres compltes, p. 893-894.
153
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
143
ver FOUCAULT. Foucault, le philosophe, est en
train de parler, p. 1293.
144
ver MACHADO. Foucault, a filosofia e a literatura,
p. 123.
154
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
145
FOUCAULT. Lextension sociale de la norme, p. 77.
(traduo minha).
146
ver REVEL. Michel Foucault: expriences de la
pense, p. 113.
155
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
147
ver KURY. A transgresso da palavra:
consideraes sobre a anlise foucauldiana da linguagem,
p. 257.
156
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
148
149
ver FOUCAULT. La vie des hommes infmes, p.
252-253.
150
ver FOUCAULT. Folie, littrature, socit, p. 985986, 992.
158
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
151
1690.
III
Ao invs da literatura e de seu discurso autoral domesticado
e assimilado, so, sobretudo, os discursos annimos
que passaro a despertar o interesse de Foucault nos
anos setenta. No devemos ver nesse interesse algo
absolutamente novo no pensamento de Foucault, pois,
desde a Histria da loucura (1961), ele analisa certos
discursos annimos (dos leprosos, doentes e loucos).
Contudo, ao menos at As palavras e as coisas (1966),
Foucault ainda atribua certo privilgio transgressivo
linguagem literria e tendia a valer-se desse material
annimo e marginal apenas como base para algumas de
suas pesquisas histricas. inegvel que, a partir de 1970,
Foucault passa a conceder uma importncia bem maior
aos discursos annimos, chegando a promover vrias
publicaes desse tipo de material, comeando por Eu,
Pierre Rivire, que degolei minha me, minha irm e meu
irmo (1973). Posteriormente, ele prope a publicao de
uma antologia de textos que terminou por se tornar uma
coleo, intitulada As vidas paralelas (Les vies parallles),
que inclu o texto de Herculine Barbin, chamada Alexina
152
153
154
ver FOUCAULT. La vie des hommes infmes, p.
239, 243, 250.
155
ver FOUCAULT. Surveiller et punir: naissance de la
prison, p. 79-82; 332, 335.
162
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Concluso
Voltemos ento questo inicial deste estudo: a literatura
capaz de mudas nossas vidas e nossa maneira de
pensar? Podemos atribuir a ela algum poder transgressivo
privilegiado? Seguindo o Foucault dos anos sessenta,
a resposta a essas duas perguntas seria um enftico
sim. Contudo, a partir dos anos setenta, Foucault retira
grande parte do poder antes conferido s experincias
com a linguagem perpetradas no seio da escrita literria.
Talvez a literatura ainda mantenha alguma capacidade
transformadora, crtica, mas no seria mais correto atribuirlhe qualquer tipo de poder transgressivo privilegiado.
Como foi visto, Foucault, ao desenvolver nos
anos setenta uma nova concepo de poder, tendeu
a desinteressar-se pela literatura, que passou a ser
156
Referncias
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164
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
1959.
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166
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
167
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Introduo
Cinema e narrao nem sempre andaram de mos dadas.
Se aproximaes entre filme e narrativa j ocorriam desde
o cinematgrafo Lumire, levou algum tempo at que
essa relao se consumasse. Em seus primeiros anos,
o cinema dependia do circuito de exibio de circos,
vaudevilles e cafs-concerto para ser visto e publicizado.
Transferia esse universo cultural para seus filmes, a fim
de atrair e fidelizar plateias, em sua maior parte advindas
das classes populares. Filmes com histrias contadas j
estavam a presentes, mas no representavam a tendncia
dominante. E no por menos: quela altura, o cinema
estava desincumbido de narrar. Cabia-lhe apresentar
cenas burlescas, performances sensacionais, pornografia
ou truques pticos, preferencialmente num nico plano.
Para alm da prodigiosa mquina de contar histrias em
que mais tarde se converteria, insinuava-se como um novo
e fascinante parque de diverses.
Em fins dos anos 1900, os filmes comearam a
168
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
tomar rumos mais decididamente narrativos. Esforavamse por exibir universos ficcionais autnomos, criados
a partir de um mais estreito gerenciamento de sua
habilidade para contar histrias. Um inteiro novo modo de
narrar com imagens, em suma, emergiu e aperfeioouse na dcada de 1910 para consolidar-se somente na
dcada de 1920, quando se cristalizou no chamado estilo
clssico, consagrado pelos estdios de Hollywood. Essa
nova ordem no se estabeleceu por acaso. Para que se
instalasse, foram necessrias mudanas profundas na
prxis cinematogrfica dos primeiros anos, a comear pelo
modo como os filmes eram vistos e consumidos at ali.
Pelo fim da dcada de 1900, uma srie de variveis
de ordem industrial colaborou para conduzir a uma ruptura
radical com o modo de representao dos primeiros
anos. 157 O cinema expandia-se, e cumpria ampliar a sua
clientela, como convinha aos objetivos da indstria. Ao
pblico das classes populares, j cativo, recomendava
somar-se o das classes mdia e alta. Classes essas
avessas aos ambientes de projeo, por vulgares e
tomados por todo tipo de iniquidades. Aumentar o
nmero de salas no bastava para atrair aos cinemas
esses exigentes segmentos sociais. Tambm era preciso
157
Termo cunhado por Nol Burch para designar
um sistema peculiar de formas flmicas. De maneira
genrica, modo de representao pode ser entendido como
sinnimo de linguagem. A rigor, o termo faz referncia
ao vocabulrio visual posto em prtica pelo cinema em
um momento histrico anterior cristalizao do estilo
clssico.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
I Cinema la Pastrone
Em 1907, o piemonts Giovanni Pastrone andava por
Turim em busca de emprego. Contador, violinista e fluente
em trs idiomas, bateu porta da Carlo Rossi & cia.,
produtora fundada em 1905 por dois scios a princpio
envolvidos na comercializao de um imprestvel sistema
de telegrafia sem fio.158 Com seus filmes j circulando em
mbito internacional, a Carlo Rossi & cia. precisava de um
funcionrio poliglota para o seu setor de correspondncia.
158
Com dois anos de atividade, a Carlo Rossi quase
fechou as portas, tendo em vista o comportamento
perdulrio do fundador, Rossi, prdigo em gastar os lucros
da empresa em Paris. Mais detalhes sobre a fundao da
Itala Film, ver USAI. Giovanni Pastrone: gli anni d oro del
cinema a Torino.
172
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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161
Formado em Filosofia e Letras, DAnnunzio foi um
escritor prolfico. Seu trabalho teve impacto na Europa e
influenciou geraes de escritores italianos. Decadentista,
esta obra contm elementos simbolistas e naturalistas e
tambm marcada por um forte nacionalismo. Nos anos
1920, o furor patritico dos escritos de DAnnunzio consistiu
numa das fontes mesmas de inspirao do fascismo.
Mussolini chegou a copiar-lhe o estilo, adotando a saudao
criada pelo escritor, a sua autonomeao como duce (lder),
alm da sua tendncia para replicar a esttica do Imprio
Romano.
175
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
162
O enredo arquitetado por DAnnunzio encerrava
tambm uma forte carga ideolgica, j que a Itlia vinha
de uma guerra imperialista com a Turquia. A vontade
expansionista do pas da bota (mas tambm de outros pases
europeus) figurou entre os motivos para a deflagrao da I
Guerra Mundial.
176
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
163
Snchez Vidal registra o episdio segundo o qual
DAnnunzio teria escrito o verso no lombo de seu cavalo
branco para determinada cena do filme, descartado em face
de o cavalo da cena ser negro. DAnnunzio reagiu recusa
pedindo que rodassem a cena novamente ou que pintassem
o cavalo de branco nos fotogramas. Recebeu como resposta,
porm, a pergunta se no seria melhor simplesmente mudar
seu verso, ao que DAnnunzio ripostou atirando sua pena
contra a parede, deixando para outra ocasio a prola verbal.
(VIDAL. El cine de Chomn, p. 159)
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164
VIDAL. El cine de Chomn, p. 163.
165
Nos anos 1930, a censura de Mussolini vetou a cena
em que a menina Cabria aparece nua e erguida pelos braos
de um sacerdote, tendo o fogaru da esttua de Moloch por
detrs.
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166
167
Termo criado pelo historiador Tom Gunning para
denominar o conjunto de prticas cinematogrficas existente
no perodo anterior emergncia do cinema narrativo, a
partir de 1908. As principais consideraes de Gunning
acerca do cinema de atraes encontram-se no artigo The
cinema of attractions: early film, its spectator and the avantgarde, publicado pela primeira vez na revista Wide Angle
(1986) e republicado, com diversas correes, no livro Early
Cinema: Space, frame, narrative.
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169
NOSENZO. Manuale tecnico per visionari: Segundo
de Chomn in Itlia, p. 47. Do original em italiano: se si pu
falsificare ogni cosa, monti e vulcani compresi, no si pu
falsificare il mare.
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Carrinho, em portugus.
171
NOSENZO. Manuale tecnico per visionari: Segundo
de Chomn in Itlia, p. 70.
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172
TOFETTI. Pastrone em Turn o la pera Lrica en
la poca del automvil, p. 89.
173
VIDAL. El cine de Chomn, p. 176.
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IV Concluso
O que dizer da participao de DAnnunzio em Cabria?
Foi sobretudo til como ferramenta de marketing: Cabria
deveu parte de seu xito nos Estados Unidos assinatura
do vate, cuja fama e amizades no meio artstico colaboraram
185
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Referncias
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CUENCA, Carlos Fernndez. Segundo de Chomn:
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NARRATIVIDADE E TEMPORALIDADE: O
SI-MESMO COMO UM TEXTO
Joo B. Botton
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MUSIL, 2006, p. 55
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ESCREVER X TRABALHAR
No respondi antes, questo de
doena que no mata mas maltrata.
Me obrigaram a ficar imvel, imagine!
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ele sobreviver?
Para os escritores brasileiros ativos ao longo das
dcadas de 1930 a 1950, perodo, no por acaso, em que
a doutrina do realismo socialista est em voga, esse
o dilema fundamental. O segmento, alm de lidar com o
conflito entre a necessidade do ganha-po e o compromisso
com a escrita, v-se ainda premido diante da demanda
de militar tendo a literatura por instrumento, ou fazer da
palavra uma arma. imprescindvel assinalar que, nesse
momento, a nefita literatura brasileira ainda reclama,
com timidez, uma maturidade esttica e, sobretudo, a
consolidao de um carter prprio, que s poder nascer
em uma situao de independncia das presses externas
por explicar e pensar o Brasil, suas contradies e arestas
em nvel histrico, social, poltico e cultural. A bem dizer,
se o pas ainda claudicava na superao do estatuto
colonial, sendo a modernidade ainda um projeto longe da
concluso, como reivindicar uma literatura diferente, isto
, segura e livre? Defendo, por ora, a hiptese de que um
pas jovem, ainda inteiramente por fazer, com identidade
em estado larval, crivado de incoerncias e indefinies,
passava, em tal momento, por uma fase de decisiva
transio, de modo que exigir que a literatura e todo o
dispositivo literrio ostentassem segurana e clareza de
suas feies e de seu papel apresentava-se ainda pouco
razovel. Outra hiptese, a reforar a primeira, pode ser
extrada do pensamento do Machado de Assis crtico, em
seu clebre texto Instinto de nacionalidade. O escritor
denuncia a escassa prtica de gneros como filosofia,
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190
SANTIAGO. A atrao do mundo: polticas de
globalizao e de identidade na moderna cultura brasileira.
p. 30-31. (Grifos meus).
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MICELI. Os intelectuais e a classe dirigente no
Brasil (1920-1945), p. 118.
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SANTIAGO. O intelectual modernsita revisitado,
p. 171.
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LITERATURA INCUMBIDA
Diante da demanda de cooperar com a transformao
social imposta intelectualidade das dcadas de 1930
e 1940, torna-se desafiador e controverso resguardar a
liberdade da forma literria. Os escritores e artista em
geral veem-se sob as chamadas patrulhas ideolgicas,
ou a presso por conformar sua arte em um modelo
consentido de expresso, colocado inteiramente a servio
da propaganda revolucionria socialista e da representao
de novas formas da realidade, em que deveriam tomar
parte ativa, para alm da mera descrio da realidade
presente (realismo).
A esttica do que viria a ser o chamado realismo
socialista tem sua essncia formulada por Fadeiev,
um intelectual ligado ao Estado russo, em 1929. Nela,
estabeleceu-se o princpio de que o artista deveria, a
partir de ento, servir conscientemente causa da
transformao do mundo.194 Foi somente em 1932,
contudo, quando Stalin passa a impor um controle ainda
mais ferrenho sobre a produo artstica, que surge a
expresso realismo socialista para designar a ento
193
AGAMBEN. O que o contemporneo?, p. 59.
(Grifos do original).
194
FERNANDES. O povo arte: as ilustraes em
peridicos do PCB e o realismo socialista no Brasil, p. 1.
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195
FERNANDES. O povo arte: as ilustraes em
peridicos do PCB e o realismo socialista no Brasil, p. 1-3.
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MICELI. Os intelectuais e a classe dirigente no
Brasil (1920-1945), p. 25-26.
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206
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ALVARENGA. Mrio de Andrade-Oneyda
Alvarenga: cartas, p. 182-183.
208
SOUZA. Autofices de Mrio, p. 193
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ALVARENGA. Cartas: Mrio de Andrade-Oneyda
Alvarenga, p. 191.
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232
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210
CONSIDERAES FINAIS
Bastante lcido do que lhe cabe como artista, Mrio faz,
em carta a Drummond a defesa do escritor torre-de-
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
211
ANDRADE; ANDRADE. A licao do amigo: cartas de
Mario de Andrade a Carlos Drummond de Andrade, p.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Referncias
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p. 57.
219
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LIMA. Le contrle de limaginaire et la littrature
compare, p. 18.
242
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221
ISER. O fictcio e o imaginrio: perspectivas de
uma antropologia literria, p. 94.
222
VAIHINGER. A filosofia do como se: sistema das
243
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225
LIMA. Limites da voz: Montaigne, Schlegel, Kafka,
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LIMA. Le contrle de limaginaire et la littrature
compare, p. 7.
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LIMA. Histria. Fico. Literatura, p. 244.
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CEGALLA. Dicionrio de dificuldades da lngua
portuguesa, p. 309-310.
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ISER. O fictcio e o imaginrio: perspectivas de
uma antropologia literria, p. 283.
246
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230
p. 32.
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uma antropologia literria, p. 97.
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A EXPRESSO E A LINGUAGEM
CARNALIZADA DE MAURA LOPES
CANADO EM HOSPCIO DEUS
251
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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DELEUZE; GUATTARI. Mil plats: capitalismo e
esquizofrenia, p. 45-46.
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BRANDO; CASTELLO BRANCO. A mulher
escrita, p. 164.
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HUBIER. Littratures intimes: Les expressions de
moi, de Iautobiographie Iautofiction, p. 125.
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MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepo,
p. 317.
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242
MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepo,
p. 203.
243
MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepo,
p. 251.
260
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
essncia dialgica.
No continuarei. Sairei louca gritando.
At quando haver ptios? Mulheres
nuas, mulheres vestidas mulheres.
Estando no ptio no faz diferena. Mas
esta mulher, rasgada, muda, estranha,
um dia teria sido beijada. Talvez um
beb lhe sorrisse e ela o tomasse no
colo, por que no? No aceito nem
compreendo a loucura. Parece-me
que toda a humanidade responsvel
pela doena mental de cada indivduo.
S a humanidade toda evitaria a
loucura de cada um. Que fazer para
que todos lutem contra isto? No acho
que os mdicos devam conservar
ocultos os ptios dos hospcios. Opto
pelo contrrio; s assim as pessoas
conheceriam a realidade lutando
contra ela. ENTRADA FRANCA AOS
VISITANTES: no ter voc, com seu
egosmo, colaborado para isto? Ou
voc, na sua intransigncia? Ou na
sua maldade mesmo?244
244
sentir exterior:
Estou de novo aqui, e isto ______
Por que no dizer? Di. Ser por isto
que venho? Estou no Hospcio,
deus. E hospcio este branco sem
fim, onde nos arrancam o corao a
cada instante, trazem-no de volta, e
o recebemos: trmulo, exangue e
sempre outro. Hospcio so as flores
frias que se colam em nossas cabeas
perdidas em escadarias de mrmore
antigo, subitamente futuro como
oque ainda no se pode compreender.
So mos longas levando-nos para
no sei onde paradas bruscas,
corpos sacudidos se elevando
incomensurveis: Hospcio no se
sabe o qu, porque Hospcio deus.245
245
246
CANADO. Hospcio Deus: dirio I, p. 32.
247
MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepo,
p. 553.
263
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
248
MERLEAU-PONTY. Fenomenologia da percepo,
p. 554.
264
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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CANADO. Hospcio Deus: dirio I, p. 32.
250
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alteridade em Merleau-Ponty, p. 102.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
A MULTIPLICIDADE NA OBRA
COSMOCOCA - PROGRAMA
IN PROGRESS
268
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
269
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
251
CARNEIRO. Cosmococa - programa in progress:
heterotopia de guerra.
252
AGAMBEN. Infncia e histria: destruio da
experincia e origem da histria.
270
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
253
CERA. EvangHlio.
271
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
254
CARNEIRO. Cosmococa - programa in progress:
heterotopia de guerra.
255
DISCOVERY. Tempo O eterno movimento.
272
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
256
AGAMBEN. Il tempo che resta: Un commento alla
Lettera ai Romani, p. 26. Traduo nossa. No original:
attraverso la versione luterana di un temine che significava
in origine soltanto la vocazione che Dio o il messia rivolgono
a un uomo, acquista, infatti, il significato moderno di
professione.
257 Em alemo, profisso.
258
Traduo nossa de: In quanto descrive ques
immobile dialetica, questo movimento sur place, la klsis
pu confondersi con la condizione fattizia e con lo stato e
significare tanto vocazione che Beruf. In: AGAMBEN. Il
tempo che resta: Un commento alla Lettera ai Romani, p. 28.
273
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
274
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
259
AGAMBEN. Infncia e histria: destruio da
experincia e origem da histria, p. 82-84.
260
AGAMBEN. Infncia e histria: destruio da
experincia e origem da histria, p. 84.
275
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
eminentemente histrica.
Aquilo que o brinquedo conserva do
seu modelo sagrado ou econmico,
aquilo que deste sobrevive aps o
desmembramento ou miniaturizao,
nada mais que a temporalidade
humana que a estava contida, na sua
pura essncia histrica.261
261
AGAMBEN. Infncia e histria: destruio da
experincia e origem da histria, p. 87.
262
AGAMBEN. Infncia e histria: destruio da
experincia e origem da histria, p. 87-88.
276
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
263
CARNEIRO. Cosmococa - programa in progress:
heterotopia de guerra.
277
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Hlio.264
O descompasso sugerido pelas aes da CC em
relao nossa usual relao com o tempo propiciado,
como vimos, pelas sequncias de slides no-narrativas:
os quasi-cinema e a resistncia linearidade discursiva
qual alude o advrbio quase seria, para Oiticica, parte de
uma inveno:
Criar, segundo Oiticica, obedece a
um impulso naturalista de realizar
formas originrias, que prescinde da
experincia. Por outro lado, inventar
decorre da experimentao e de
estudo, no surge espontaneamente,
mas resulta de necessidades sentidas,
de exigncias postas pelo percurso e
vivncia do inventor ou de seu grupo
social.265
264
CARNEIRO. Cosmococa - programa in progress:
heterotopia de guerra.
265
CARNEIRO. Cosmococa - programa in progress:
heterotopia de guerra.
278
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba.
282
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
267
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba, p. 142.
283
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
268
BARBA. A Arte Secreta do Ator: um dicionrio de
antropologia teatral.
284
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
REVOLUES NA CENA
Os anos 1960/1970 abriram trilha para um fazer teatral
outro, cujas bases no esto na imitao, tampouco em
universos fictcios fechados.269 As revolues sociais
e tecnolgicas instauradas a partir desse perodo
possibilitaram o surgimento do chamado teatro psdramtico. O alemo Hans-Thies Lehmann concedeu
ampla visibilidade expresso, definindo-a como um
conjunto de prticas nas quais desaparecem os princpios
de narrao e figurao e o ordenamento de uma fbula,
alcanando-se uma autonomia da linguagem.270
De acordo com o autor, [...] cego qualquer
questionamento teatral que no reconhea na prtica
artstica do teatro a reflexo sobre as normas de percepo
e comportamentos sociais.271 Lehmann, entretanto,
pondera que as vanguardas histricas em torno de 1900 j
empregavam recursos de encenao abstratos, tidos como
estranhos e que ressaltavam a insuficincia da palavra,
embora somente a partir das dcadas mencionadas invada
a cena um modo diferente de utilizao dos signos teatrais,
capaz de justificar o emprego do termo ps-dramtico.
269
BOND. O ator-autor: a questo da autoria nas
formas teatrais contemporneas.
270
LEHMANN. Teatro ps-dramtico.
271
LEHMANN. Teatro ps-dramtico, p. 21.
285
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
272
FERNANDES. Teatralidades contemporneas, p.
51.
273
BOND. O ator-autor: a questo da autoria nas
formas teatrais contemporneas.
286
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
EVOLUO DO PAPEL
Ao longo das tumultuadas dcadas do sculo XX e das
primeiras do sculo XXI, o ator percorreu incontveis
estaes. No mais estacionado em uma inteno exterior
(do texto ou do diretor), o homem da cena assumiu a
coautoria da mensagem, legvel ou no legvel, a ser
levada aos espectadores.274 Outra funo no processo de
criao comea, ento, a associar-se ao ator, que possui
como procedimentos disparadores de trabalho as palavras,
as aes, as relaes, a atualidade. Ele passa a ocupar,
portanto, a posio de mediador no jogo entre as diversas
camadas de atuao, permitindo distintas interpretaes.
O tratamento contemporneo dado aos signos
teatrais aproxima o teatro da arte performtica (numa
referncia Performance Art, assim denominada a partir
dos anos 1970), na qual o ato ocupa o lugar da totalidade.275
A mimsis aristotlica, como compreendida de forma geral
(e superficial), cede espao para a autorrepresentao
na medida em que os limites entre teatro e performance
esmorecem. O papel deixa de ser a nica trilha do ator
sobre o palco ou qualquer outro local de encenao. A
simples presena do ator, dessa maneira, capaz de se
comunicar com a plateia de modo potico.
274
BOND. O ator-autor: a questo da autoria nas
formas teatrais contemporneas.
275
BOND. O ator-autor: a questo da autoria nas
formas teatrais contemporneas.
287
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
OS ACTANTES E O ATOR-COMPOSITOR
Para refletir acerca da atuao e do texto, Bonfitto (2009)
apresenta a ideia de seres ficcionais cuja construo
pode estar acoplada a diferentes matrizes e opta por
estud-la a partir da variante texto dramtico.
De acordo com o autor, certos textos concatenam
palavras e sentidos de tal forma a levar o leitor
percepo de um discurso e de um eu especfico. Nesse
caso, a personagem vista como um indivduo, que se
acentua por meio do corpo e da voz do ator (personagemindivduo). Outros textos, porm, no se atm aos conflitos
individuais, embora preservem uma situao reconhecvel.
276
277
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba, p. 132.
278
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba, p. 134.
279
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
289
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
actante-estado e do actante-texto,
existe uma conexo entre corporeidade
e sentido. A unidade do actante-estado
e do actante-texto, assim, encontra-se
no na coerncia psicolgica, mas na
partitura das aes.281
281
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba, p. 141.
291
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
A POESIA E O TEATRO
282
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba, p. 140.
292
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
283
GUINSBURG; FARIA; LIMA. Dicionrio do teatro
brasileiro: temas, formas e conceitos.
293
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
284
287
LECOQ. O corpo potico: uma pedagogia da
criao teatral, p. 82.
296
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
288
BONFITTO. O ator-compositor: as aes fsicas
como eixo: de Stanislavski a Barba.
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301
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
290
Este artigo foi concebido a partir da dissertao
de mestrado defendidapelo autor no 1semestre de
2011, dentro do Programa de Ps-Graduao em Estudos
Literrios, na rea de concentrao de Estudos Clssicos,
da Faculdade de Letras da UFMG, intitulada Sobre o
estilo de Demtrio: um olhar crtico sobre a literatura
grega (traduo e estudo introdutrio do tratado), sob a
orientao do Prof.Dr. Jacyntho Jos Lins Brando.
291
Para uma melhor apreciao acerca dessa
questo cf. CHIRON. Un rhteur mconnu: Dmtrios,
p. 311-370; CHIRON. Dmtrios. Du style, XIII-XL;
INNES. Demetrius. On style (in Aristotle, v. XXIII, p.
312-321. Como se nota, os estudos mais recentes tendem
a uma datao anterior ao sc. I d.C., sugerida por
Roberts, embora, de fato, ele no tenha desconsiderado
a possibilidade do sc.I a.C. (ROBERTS. Demetrius on
style, p. 64.). Entre as datas propostas pelos estudos mais
recentes, destacam-se: 270 a.C. (GRUBE. A Greek critic:
Demetrius on style, p. 56.); sc. I d.C., mas refletindo o
segundo ou o primeiro sculo a.C. (SCHENKEVELD. The
intended public of Demetriuss on style: the place of the
302
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
299
SCHENKEVELD, The intended public of
Demetriuss on style: the place of the treatise in the
hellenistic educacional system, p. 47. Para uma percepo
mais ampla acerca do ensino literrio e a questo da mimese
cf. BOMPAIRE, 2000, p. 33-97.
300
SCHENKEVELD, The intended public of
Demetriuss on style: the place of the treatise in the hellenistic
educacional system, p. 47
301
Cf. SCHENKEVELD, The intended public of
307
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
304
Os metros na poesia, por exemplo. Tampouco seria
necessria uma definio sobre certos termos tcnicos
como as figuras. Ou, ainda, no que concerne s passagens
extradas dos autores clssicos, algumas teriam de ser citadas
na ntegra, enquanto outras no teriam igual necessidade
(SCHENKEVELD, The intended public of Demetriuss on
style: the place of the treatise in the hellenistic educacional
system, p. 40).
305
Cf. BOMPAIRE, Lucien crivain: Imitation et
cration, p. 36.
309
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
306
Homero lembrado em quarenta e duas ocasies
(acerca das citaes extradas da Ilada, cf. 7, 25, 48, 54, 56,
57, 61, 64, 79, 81, 82, 83, 94, 105, 111, 124, 189, 200, 209, 210,
219, 220, 255, 257; Odisseia, cf. 52, 57, 60, 72, 94, 107, 113,
129, 130, 133, 152, 164, 219, 262. Outras menes ao poeta:
5, 12, 36, 150). Para um panorama acerca do nmero de
menes a autores e citaes, cf. ainda CHIRON, 2001, p.
383-389.
310
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
307
at lion.308
At mesmo determinados procedimentos que, a
princpio, consideraramos opostos, so aludidos como
fatores de grandeza em Homero; o caso do emprego
das partculas de ligao (syndesmo). Em dado momento,
a supresso delas, tambm chamada de disjuno
(dilysis), apresentada como um fator de elevao do
estilo, fenmeno observado nos mesmos versos da Ilada
(II, 271-273) supracitados. Porm, no pargrafo 54, o autor
afirma que seria, justamente, a sucesso de partculas, ou
seja, o excesso delas, que promoveria a grandeza das
cidades becias nomeadas na Ilada, II, 497: E Esqueno,
e Escolo, e montanhosa Esteono.
Apesar da evidente oposio, h algo de comum
entre os dois procedimentos: ambos fogem ao uso
corrente, isto , quilo que prprio do costume. E
justamente o costume (t snthes) concebido por
Demtrio como adequado para questes menores,
conforme afirma no pargrafo 60: Tudo o que costumeiro
prprio de questes menos relevantes e, por isso,
tambm nada admirvel. Passagem que, alis, precede o
desenvolvimento acerca da disjuno acima mencionado.
Em outras palavras, o fato de escaparem ao
uso corriqueiro parece justificar, pelo menos em parte,
o emprego de ambos os procedimentos primeira
vista, opostos para se atingir a grandeza nos versos
supracitados.
Mas os comentrios de Demtrio acerca da obra
308
61.
312
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
309
Embora isso represente uma contradio com a
forma adequada de tratar questes irrelevantes de modo
irrelevante e as grandiosas com grandiosidade, expressa no
pargrafo 120 (cf. FREITAS, Sobre o estilo de Demtrio: um
olhar crtico sobre a Literatura Grega, cap. 2).
313
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310
219.
315
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
despertar.
A temtica graciosa , pois, notada, nesses versos,
na presena do rouxinol e da primavera, mas, alm disso,
Demtrio salienta que muito adorno acrescido quando
se aplicam os termos menina de Pandreo a um pssaro
ou pelo emprego do adjetivo khlrs (do verdor da
mata), palavra de destacada beleza, dada a sua raridade,
conforme se nota mais a frente, no pargrafo 164.
Alis, nesse mesmo pargrafo, podemos ainda
perceber outra faceta do poeta revelada pela crtica de
Demtrio. Nessa oportunidade, as chamadas belas
palavras (kal onmata), apresentadas como as principais
responsveis pela graciosidade do estilo e que tm como
exemplo a acima mencionada, contrapem-se s ditas
comuns e mais conhecidas (eutel ka kointera), as
quais, por sua vez, esto ligadas diretamente ao cmico,
o que, ao certo, constitui um exemplo da contraposio
sinalizada no pargrafo anterior entre o elemento risvel
(t gloion) e o gracioso (t ekhari). A este, ento,
teramos associados assuntos como os jardins das ninfas,
amores, enfim, aqueles sobre os quais no se ri, mas ao
primeiro (ao cmico) se associariam de forma exemplar
duas personagens, justamente, da obra de Homero:
Iro e Tersites. E, assim, a versatilidade do poeta se faz
notar em sua capacidade de, ao lado de temas de inteira
graciosidade, retratar de forma cmica o ridculo.
Mas alm dessa graciosidade e, por vezes, do
trao cmico presente em alguns momentos de sua obra,
Homero tambm reconhecido pela simplicidade. Nos
316
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
311
Acerca da cacofonia nesses versos, cf. FREITAS,
Sobre o estilo de Demtrio: um olhar crtico sobre a
Literatura Grega, no tpico 3.4.1.1.
317
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312
313
259-262.
Odisseia, IX, 369-370.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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FREITAS, Gustavo Arajo de. Sobre o estilo de Demtrio:
um olhar crtico sobre a Literatura Grega (traduo e
estudo introdutrio do tratado). 2011. 177 f. Dissertao
(Mestrado em Crtica Literria) - Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
314
A questo do aspecto cmico da passagem
levantado por Demtrio mais amplamente discutida por
mim no artigo Horror e humor no canto IX da Odisseia:
uma leitura do episdio do Ciclope proposta por Demtrio
no tratado Sobre o estilo.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
TRAUMA
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LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 51.
322
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316
LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 56.
317
LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p, 56.
318
GARCIA. Actualidad del trauma, p. 37.
319
LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 57.
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320
321
VIOLA, 2009.
VIOLA, 2005.
324
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
322
FREUD. A interpretao dos sonhos (segunda
parte) e sobre os sonhos, p. 468.
323
LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 60.
324
LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 60.
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LACAN. O seminrio: os quatro conceitos
fundamentais da psicanlise, p. 61.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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327
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Introduo
Mesmo com a morte do autor, nos termos de Barthes327,
que realiza um esvaziamento da figura do autor, priorizando
a escritura e a imanncia do texto, afirmando que a figura
do autor um construto histrico, acreditamos que sua
imagem permanece vinculada sua vida e passvel de
ser resgatado em sua obra.
Vemos que a identidade de Flaubert compsita.
Ela inclui, dentre vrios dados, os biolgicos, os biogrficos,
os psicolgicos e os sociais construdos no s pelo
prprio Flaubert mas tambm por aqueles que discorrem
sobre sua vida e sua obra.
As identidades de Flaubert sujeito-cidado e sujeitoautor consistem, desse modo, em uma combinao de
dados de sua vida, de comportamentos e traos deixados
em sua obra que se juntam, por sua vez, aos de outrem
sobre essa combinao e que levam as pessoas, entre
outras coisas, a reconhecer, reiterar, recriar, reforar,
legitimar, reconstruir, mascarar e/ou deslocar essas
327
Anlise
Ao contrrio do que pensam alguns bigrafos, certos
crticos partem do princpio de que mais importante do que
se debruar sobre a vida privada de um autor, conheclo no seu fazer literrio, nas suas relaes com a escrita.
Para esses crticos, deve haver primazia dos aspectos
literrios em detrimento dos extraliterrios, ainda que
ambos se complementem e confluam para o entendimento
da imagem do autor. Flaubert parece concordar com esses
crticos ao afirmar: je naime pas intresser le public avec
ma personne328. Lemos, nesse fragmento, o seu oposto
ali implcito, ou seja, Flaubert quer interessar o pblico
com seu trabalho de autor. Dito de outra maneira, Flaubert
prefere ser lembrado enquanto autor e no enquanto
cidado.
Para Poyet, Flaubert, antes mesmo de ser um
romancista, um filsofo da literatura, imagem que
pode ser apreendida em sua Correspondance. Esse
posicionamento coincide com nossa leitura segundo a qual
a identidade de Flaubert pode ser mostrada, dita e efetivada
por sua funo autor, pensador, intelectual, algum que
possui uma viso particular da Literatura, de uma maneira
geral, e da sua prpria escritura, em particular. Na esteira
do que foi mencionado no fragmento acima, at mesmo
328
329
330
331
332
333
autor.
334
autor.
335
336
autor.
FLAUBERT. Correspondance, p. 5.
FLAUBERT. Correspondance, p. 140. Grifos do
FLAUBERT. Correspondance, p. 156. Grifos do
FLAUBERT. Correspondance, p. 159-160
FLAUBERT. Correspondance, p. 301. Grifos do
331
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343
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Consideraes finais
Nossa proposta aqui foi o de retirar, ainda que parcialmente,
essa mscara e revelar, ao menos parcialmente, sua
identidade.
Ressaltamos o carter plural, multifacetado e
at mesmo, por vezes, contraditrio de Flaubert: crtico,
doente, melanclico, produtivo, pessimista, romntico,
mas tambm realista, revoltado, incompreendido... eis
algumas imagens que espelham Flaubert, imagens que
ecoam suas mltiplas identidades.
345
PINGAUD,1980, p. 1
335
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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FLAUBERT, G. uvres Compltes - Madame Bovary.
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CANFIELD. Borges: del minotauro al signo
laberntico.
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350
351
352
353
CALVINO. Assunto encerrado: discurso sobre
literatura e sociedade.
354
CALVINO. As cidades invisveis.
355
CALVINO. Se um viajante numa noite de inverno.
356
CALVINO. La foresta-radice-labirinto.
357
CALVINO. . O conde de Montecristo.
344
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
358
CALVINO. Cibernetica e fantasmas (Notas sobre a
narrativa como processo combinatrio), p. 214-215.
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363
364
365
366
BORGES. Elogio da sombra, p. 35.
367
ENZENSBERGER apud CALVINO. Cibernetica
e fantasmas (Notas sobre a narrativa como processo
combinatrio), p. 213-214.
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CALVINO. O desafio ao labirinto, p. 116. Grifos
do autor.
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373
POZENATO. O regional e o universal na literatura
gacha, p. 26.
357
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brasileiros374.
Naquele
momento,
Machado
verificava
com
374
CURY. Des crivains latino-amricains et la
tradition: Machado de Assis, Jorge Luis Borges et Ricardo
Piglia, p 75. Traduo nossa.
375
ASSIS. Notcia da atual literatura brasileira:
instinto de nacionalidade, p. 1204. Grifo nosso.
376
ASSIS. Notcia da atual literatura brasileira: instinto
de nacionalidade, p. 1204.
358
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
377
WEBER. A nao e o paraso: a construo da
nacionalidade na historiografia literria brasileira, p. 33.
378
WEBER. A nao e o paraso: a construo da
nacionalidade na historiografia literria brasileira, p. 33.
359
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
379
DENIS apud WEBER. A nao e o paraso: a
construo da nacionalidade na historiografia literria
brasileira, p. 34.
380
ARENDT. Do nacionalismo romntico literatura
regional: a regio como ptria, p. 187, 189, 192.
381
DENIS apud WEBER. A nao e o paraso: a
construo da nacionalidade na historiografia literria
brasileira, p. 34.
360
A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
382
WEBER. A nao e o paraso: a construo da
nacionalidade na historiografia literria brasileira, p. 35.
383
CASANOVA. La Rpublique mondiale des Lettres,
p. 165.
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POZENATO. O regional e o universal na literatura
gacha, p. 155.
362
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385
CASANOVA. La Rpublique mondiale des Lettres,
p. 4156.
386
Cf. BOURDIEU. O poder simblico, cap. I e II.
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387
ANDRADE apud CHIAPPINI. Velha praga?
Regionalismo literrio brasileiro, p. 669.
388
CHIAPPINI. Do beco ao belo: dez teses sobre o
regionalismo na literatura, p. 158.
365
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389
RIBEIRO. Da nacionalidade da literatura
brasileira, p. 39.
390
LAJOLO. Regionalismo e histria da literatura:
quem o vilo da histria, p. 327.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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em: <http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/rev/article/
viewFile/164/177> Acesso em: 02 ago. 2010.
ASSIS, Machado de. Notcia da atual literatura brasileira:
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ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008, p. 1203 1211.
BOURDIEU, Pierre. O poder simblico. 14. ed. Traduo
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2005, p. 327
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DESLOCAMENTOS E ANACRONIAS EM
TERRA ESTRANGEIRA
Pedro Vaz Perez
Introduo
O filme Terra estrangeira (Brasil; Portugal, 1995), de
Walter Salles e Daniela Thomas um dos marcos daquele
perodo que se convencionou chamar de forma polmica
de retomada do cinema nacional, realizado e lanado
num momento bastante delicado do Brasil. Seu enredo
remonta aos dias que antecederam e sucederam a posse
de Fernando Collor de Melo, o primeiro presidente eleito
diretamente pelo povo aps o golpe militar de 1964. A partir
de uma narrativa aparentemente genrica, o filme envolve
acontecimentos histricos e atravessa, pelo flmico, o
poltico, o social e o cultural. Filiando-se a uma estirpe de
cinema reflexivo, indo alm do simples registro do evento
histrico, parece colocar em cheque as prprias noes
de histria e temporalidade. Ao envolver, como numa
teia, na superfcie da imagem cinematogrfica, signos
heterogneos que compem os imaginrios brasileiros e
lusitanos, recria assim uma memria que incorpora fatos
histricos e mitos culturais para, a partir dessa matria
sensvel e anacrnica, inscrever uma viso crtica de
mundo, perpassando pelos dilemas da identidade e do
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392
MOTA. A pica eletrnica de Glauber: um estudo
sobre cinema e TV, p. 23.
393
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394
MOTA. A pica eletrnica de Glauber: um estudo
sobre cinema e TV, p. 22-24.
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XAVIER. O Discurso cinematogrfico: a opacidade
e a transparncia, p. 14.
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VARELA. O heterologos em lngua portuguesa:
elementos para uma antropologia filosfica situada, p. 55.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
Rosa.
Lanar-se s grandes navegaes errantes, por
mares nunca antes navegados, parece ter sido inevitvel
para habitantes de uma terra martima, naturalmente
lanada ao mar. Configurar-se-ia, assim, uma razo
teleolgica necessariamente vinculada travessia. Nesta
querela, o epos (viagem) figura, para Varela, como uma
das coordenadas simblicas desta razo outra portuguesa,
associado a um dos elementos nticos deste heterologos,
que a razo nmade, e por isso, tambm indissocivel
do que caracteriza como esprito de lugar, uma vez
que a viagem, o deslocamento, se d necessariamente
no espao, e as motivaes do movimento so tambm
advindas do espao: Varela escreve, com a literatura,
uma geofilosofia. Alm disso, a linguagem se mostra
condicionante da ao humana.
No Brasil, prope a autora, aps as fortes influncias
da colonizao portuguesa e jesuta, o heterologos foi
absorvido e apropriado, e suas expresses, enriquecidas.
Aqui se mantiveram o epos e o mythos, articulaes
mitopoticas da razo nmade. Nessa genealogia do
povo brasileiro, o heterologos tambm abertura
transcendncia, mas o mar teria cedido espao ao ambiente
telrico, de modo que Varela pode ver, nas expresses
literrias do brasileiro errante, um homem apegado s
razes matriciais da terra. Se compreendermos a figura
da me enquanto signo de terra, a morte dessa figura,
em Terra Estrangeira, o prprio rompimento com essas
razes. No espanta, portanto, que seja esse o evento que
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GOETHE apud BERNSTEIN et al. Terra
estrangeira: roteiro, p. 7.
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Consideraes finais
Terra estrangeira um peculiar road movie luso-brasileiro,
que busca registrar, atravs da fico, um contexto
402
FOUCAULT. Esttica: literatura e pintura, msica e
cinema, p. 415.
403
FOUCAULT. Esttica: literatura e pintura, msica e
cinema, p. 418.
404
FOUCAULT. Esttica: literatura e pintura, msica e
cinema, p. 421.
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BAKHTIN. A cultura popular na Idade Mdia e no
Renascimento: O contexto de Franois Rabelais, p. 35.
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e namorou a esperana
com todo direito e lei.
Deu um pulo mais pra frente,
viu novas terras e cu,
conheceu coisas e gente,
parou, tirou o chapu,
traou as gringas no dente
pulando de du em du427.
Nessa estrofe aparece a face sedutora do Saci.
Aps tantas peripcias ao longo do poema, ele vai a
Frana amar a filha do rei. E ainda pulando de du em
du continuou seduzindo e traando muitas gringas em
outras terras por a afora. O poeta se serve dos recursos da
literatura de cordel e traz para o poema um vasto glossrio
do vocabulrio popular. Mais um elemento de seduo
que pode ser observado nos versos. A linguagem, observa
Leyla Perrone-Moiss (1998), no s meio de seduo,
ela o prprio lugar da seduo. No poema Camongo
podemos observar que o Saci apresenta comportamentos
que o aproxima das imagens dionisacas, ele seduz e
trapaceia por meio da linguagem. Retomando a outro
atributo de Dionsio, o temos tambm como o deus da vida
e da desmedida. Tambm o Saci possui essa intensidade
para vida. Para Brunel (1997), a seduo em Dionsio passa
por aspectos da fertilidade e da fecundidade atribudas ao
mito. Segundo ele o mito apresenta muitas afinidades com
o elemento mido, fator universal de fertilidade, pois seu
poder de deus fecundo no se limita s plantas.
possvel encontrar poemas de retomada s
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grimpas,
entre as galharadas verdes,
reduzindo a cinzas os ninhos
balouantes do sabi nativo,
[...]430.
A partir do poema observa-se informaes de
natureza sociolgica do povo goiano. O poema retoma
o carter de apresentao e mapeamento de Gois e
ao mesmo tempo conduz o leitor a outras dimenses. E
traz a imagem do incndio que mata bichos e florestas,
reduzindo a cinzas os ninhos do sabi nativo. A voz
potica dos versos, atribuda ao saci-poeta apresenta
uma dimenso da personalidade do Saci em forma de
denncia e proteo das matas. Assim emerge a figura
perturbadora do Saci para expressar a crtica social que
decorre no poema. Esse fenmeno decodificado por
Bakhtin (1996) para enfatizar o universo que est alm
das aparncias. Os mitos servem para enunciar algo
que no se expressa e no est limitado ao espao da
realidade visvel. uma espcie de carnavalizao, pois
subverte a ordem estabelecida e a vida se revela em seu
processo ambivalente, interiormente contraditrio. No
h nada perfeito, nem completo, a quintessncia da
incompletude431.
Mesmo transfigurado ora em ativista
social, o saci-poeta no se inocenta, e nem se redime.
Conforme postula Georges Bataille (1989) em A literatura
e o mal, em uma das assertivas sobre a significao do
430
TELES. Saciologia goiana, p. 173.
431
BAKHTIN. A cultura popular na Idade Mdia e no
Renascimento: O contexto de Franois Rabelais, p. 23.
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BATAILLE, 1989, p. 27
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CONFIGURAES DO RISO
CARNAVALESCO EM SERAFIM PONTE
GRANDE
Viviane Rodrigues
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439
BAKHTIN. A cultura popular na Idade Mdia e no
Renascimento: o contexto de Franois Rabelais, p. 7.
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ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 50. Grifo do
autor.
440
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441
ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 91. Grifo do
autor.
441
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ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 92-93. Grifo
do autor.
443
ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 93.
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ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 94. Grifo do
autor.
446
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BAKHTIN. A cultura popular na Idade Mdia e no
Renascimento: o contexto de Franois Rabelais, p. 9-10.
452
ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 75.
453
ANDRADE. Serafim Ponte Grande, p. 97.
451
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Consideraes Iniciais
Em seu itinerrio potico, Henriqueta Lisboa (1901- 1985)
preocupou-se com questes que sondam o significado
da vida de maneira profunda. A prpria autora reconhece
o tratamento dado problemtica existencial em seus
textos, conforme afirma em entrevista concedida ao jornal
O Estado de S. Paulo, em 1984: [...] tenho visado de
modo constante a essncia do ser, a substncia do vital,
a ansiedade humana em busca de perfeio e infinito, os
mistrios da natureza, o relacionamento entre a alma e
Deus.454.
Ao nos debruarmos sobre os poemas de
Flor da morte (1949), deparamo-nos com importantes
questionamentos e reflexes existenciais realizados
pelo sujeito potico. Nessa perspectiva, a poesia se
454
LISBOA. Henriqueta Lisboa: unida aos homens e a
Deus pela poesia, p. 4.
453
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455
LISBOA, apud DUARTE. Remate de males.
Correspondncia de Carlos Drummond de Andrade e
Henriqueta Lisboa, p. 26.
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166.
bronze
ressoante, ou como a estrela
infiel,
rompera as linhas do horizonte,
despedaara-me em reflexos.
Flocos de espuma, tenras nuvens
descendo o rio, voando na alba,
dulor areo dos dilculos,
azul, fluidez, vago lunar,
levai-me fora de meus mbitos,
amortecei-me com propcios
blsamos, leos e suspiros,
at a apario da lgrima457.
A avidez pela transformao se elucida nessas trs
ltimas estrofes: o medo da morte ou da perda, a resistncia
e as prprias limitaes precisam ser trabalhados em um
processo rduo para que, ao final, adquirindo a ressonncia
do bronze, o reflexo da estrela, a tenacidade da nuvem ou
da espuma, com fluidez e naturalidade, o eu potico esteja
preparado para encar-la.
Amortecido com blsamos e leos, pronto para a
apario da morte, o eu lrico sugere uma preparao do
corpo para o sepultamento. Alm disso, vale-se do apelo
fortemente auditivo e visual para nos imergir na cena
apresentada, na tentativa de recuperar a essncia das
coisas, tirar do homem o peso do corpo, fazer com que a
matria se desagregue at mais nada restar.
457
Flor enjaulada
457
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196.
e cerceamento das pequenas e grandes angstias balbucios ou vascas; a vida como uma jaula, enfocada com
suas mazelas. Desde o nascimento, o bero, minscula
jaula, at a cela, a varanda, a casa, o jardim, a cidade, o
cu e o prprio crebro.
Fica clara a percepo da impossibilidade de o ser
humano se libertar, j que as aparentes transformaes
comuns a todos os indivduos ao longo de sua existncia
se resumem s mudanas de uma para outra jaula. A
referncia ao crebro como sendo tambm uma jaula
demonstra que as limitaes humanas no so apenas
fsicas: o ser humano prisioneiro de si mesmo, de suas
ideias e pensamentos. O crebro, ento, arquiteto e jaula
de si prprio, j que paradoxalmente, constri e aprisiona
o ser humano: por meio do crebro que nos edifica,
estabelecemos nosso prprio crcere, o que configura
uma existncia permeada pela angstia de viver.
Para o filsofo alemo Martin Heidegger, a angstia
um fenmeno existencial da finitude humana; ela tida
e como a disposio fundamental de nossa existncia, a
verdadeira possibilidade de virada da existncia humana,
a possibilidade de o homem sair da inautenticidade, na
qual ele geralmente vive, e assumir a autenticidade: S
na angstia subsiste a possibilidade de uma abertura
privilegiada na medida em que ela singulariza. Essa
singularizao retira o ser-a de sua decadncia, e lhe revela
a autenticidade e inautenticidade como possibilidades de
seu ser459.
459
Vida de mordaas
Alm de dialogar com Jaulas, o texto Diante da Morte
estabelece tambm uma relao com o poema Perspectiva,
a respeito da imagem da morte como libertadora da
angstia de viver.
Neste poema, a vivncia aparece baseada no
aguardo do porvir, da o ttulo Perspectiva. A vida vista
como um longo exerccio de pacincia, em que o eu lrico
tece a rede da vida, fio a fio, dia a dia, na expectativa de
desvendar seu mistrio, na esperana de esgotar o arcano
que revelado com e na morte:
Exerccio de pacincia
nos esconsos.
J se viu tamanho arcano
gota a gota!
Cegueira tece uma rede
que no acaba.
Muitas mos, at que o tempo
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amadurea, juntando
fio a outro fio.
Conquista de palmo a palmo
com cem anos
de lastro.
Sombra se desdobra
em sombra
a cada vencido
passo.
Passo vencido no conta
e exerccio de pacincia
no se esgota.
Das subterrneas jazidas
suspira fundo
o mistrio.
Volio por onde queira
solapa na espessura
vai abrindo seus
tneis.
Vida de mordaas, frrea
vida de masmorras, bronzes.
Vida nas sagradas
fontes
para depois - o que vier460.
Vida, morte e poesia se fundem para comungar o
mistrio. Persiste o silncio de uma vida amordaada, rico
em significaes, alegrias e tristezas que escondem em
seu mago desejos e frustraes, vividas intensamente
por meio da poesia entre a dor recndida e o riso leve,
termo usado por Mrio de Andrade ao tratar da forma de
expresso usada por sua amiga Henriqueta Lisboa.
460
199.
461
462
MOTTA. Algumas opinies sobre a poesia de
Henriqueta Lisboa, p. 562.
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Consideraes finais
Neste estudo, elegemos os poemas Diante da Morte,
Jaulas e Perspectiva para ilustrar que vida e morte na
poesia henriquetiana imbricam-se de modo inexorvel.
Ainda que os referidos textos tenham se construdo em
torno de elementos que figuram o sofrimento e o peso da
vida terrena, caracterizando certo mal-estar do eu lrico, o
poder transformador da linguagem serve de artifcio para
criar tons de leveza ao tratar do inevitvel peso de existir.
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Eu sou um eu.
Quem voc? (sic) perguntou
trmula.
Vim de Saturno para amar
voc.
Mas eu no estou vendo
ningum! (sic) gritou.
O que importa que voc est
me sentindo.
E sentia-o mesmo. Teve um
frisson eletrnico.473
H uma relao sutil com a temtica do erotismo,
pois, no conto, Miss Algrave vai deixando seu corpo ser
desfrutado pelo Ixtlan, usufruindo o prazer e liberando
seus desejos e fantasias sexuais. At ento, era uma
mulher conservadora, no lhe cabia vivenciar aes
erticas, deixou-se dominar pela parte masculina, ativa.
Ela nunca tinha sentido o que sentiu. Era bom demais474.
Suavemente, vai-se fazendo a fuso dos corpos para a
completude, alcanando o sentido da existncia, por meio
do desconhecido, como era bom viver475. O leitor vai
adentrando na cena ertica, que materializada atravs
da celebrao ao prazer:
Comeou a suspirar e disse para
Ixtlan:
Eu te amo, meu amor!(sic) meu
grande amor!
E (sic) , sim. Aconteceu. Ela
473
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Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1982. p. 29-38.
CABEZA DE VACA, lvar Nez Cabeza de. Naufrgios
& Comentrios. Traduo de Jurandir dos Santos. Porto
Alegre: L&PM, 2007.
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
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A literatura e a vida: por que estudar literatura? - Praia Editora
CARTA DO EDITOR
A literatura e a vida: por que estudar literatura? encerra
de maneira solar nosso primeiro ano de publicaes.
Chegamos at aqui com mais de 25 mil cpias de nossos
livros distribudas gratuitamente aos leitores. Esse nmero
espetacular para livros acadmicos foi alcanado em
apenas seis meses por nossos trs primeiros livros: ltimas
notcias: histrias do webjornalismo no Sculo 20, Brasil
em Crise: o legado das jornadas de junho e Balo Mgico:
movimento estudantil e a formao em comunicao
social, todos disponveis no blog da editora, que pode ser
acessado em www.praiaeditora.blogspot.com.br.
Parte desse sucesso deve-se opo que fizemos para
circular nossas publicaes e fazer chegar aos leitores a
produo cientfica. Adotamos nosso modelo de economia,
ao mesmo tempo simbolizado pela expresso e realizado
por meio do ato: #DownloadLivre. Utilizamos livre em
vez de grtis, pois o conceito vai alm de prescindir o
dinheiro: tambm no exigimos cadastro e no chupamos
dados e metadados enquanto o leitor baixa nossos livros.
Diversas so as motivaes para empregar trabalho,
tempo, dinheiro e ocupar amigos que assumiram a ideia
para produzir livros que custam dinheiro, mas que no so
vendidos aos leitores, so distribudos pela Internet. Uma
que a ideia no nova, somos tributrios do Fanzine
Ao Vivo, produzido por mim nos anos 1990 e distribudo
tambm em suas verses impressas e digitais. Outra
abrir um canal para que levar aos estudiosos a produo
acadmica dos alunos e professores das universidades
pblicas. Acreditamos ser esta uma maneira de devolver
em produo o investimento da sociedade em comunidades
acadmicas. E que venham novos autores e novos leitores!
Gilberto Medeiros, Editor
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